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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATASTrabalho de FormaturaCurso de Graduação em ENGENHARIA AMBIENTALBIOMA CERRADO: UM ESTUDO DE VALORAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS RECURSOS NATURAISLeandro Antonelli CorreaRio Claro (SP) 2011
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS
Trabalho de Formatura
Curso de Graduação em ENGENHARIA AMBIENTAL
BIOMA CERRADO: UM ESTUDO DE VALORAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS RECURSOS NATURAIS
Leandro Antonelli Correa
Rio Claro (SP)
2011
Campus de Rio Claro
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Curso de Graduação em Engenharia Ambiental
LEANDRO ANTONELLI CORREA
BIOMA CERRADO: UM ESTUDO DE VALORAÇÃO E
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS
RECURSOS NATURAIS
Trabalho de Formatura apresentado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Campus de Rio
Claro (SP), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do grau
de Engenheiro Ambiental.
Orientadora: Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimarães
Rio Claro (SP)
2011
Correa, Leandro Antonelli Bioma Cerrado: um estudo de valoração e conservação dabiodiversidade e dos recursos naturais / Leandro AntonelliCorrea - Rio Claro : [s.n.], 2011 80 f. : il., figs., tabs., quadros, mapas
Trabalho de conclusão de curso (bacharelado - EngenhariaAmbiental) - Universidade Estadual Paulista, Instituto deGeociências e Ciências Exatas Orientador: Solange T. de Lima Guimarães
1. Ecologia. 2. Síntese Cerrado. 3. Impactos ambientais. 4.Ocupação irregular. 5. Valoração ambiental. 6. Área Hotspot. I. Título.
574.5C824b
Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESPCampus de Rio Claro/SP
Campus de Rio Claro
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Curso de Graduação em Engenharia Ambiental
LEANDRO ANTONELLI CORREA
BIOMA CERRADO: UM ESTUDO DE VALORAÇÃO E
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS RECURSOS
NATURAIS
Trabalho de Formatura apresentado ao Instituto
de Geociências e Ciências Exatas, Campus de Rio Claro (SP), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do grau
de Engenheiro Ambiental.
Comissão Examinadora Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimarães (orientador)
Eng. Jorge Maurício Sanabria Eng. Natália Zanetti
Rio Claro, 22 de novembro de 2011.
_____________________ __________________________________
Leandro Antonelli Correa Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimarães
À Leise Campos Antonelli Correa,
Valter de Oliveira Correa e Lair Antonelli.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por minha vida, por minha família e por todas as
oportunidades e vivências.
À minha família por todo o amor, carinho, confiança, apoio e ensinamentos. Em
especial, aos meus pais, Leise e Valter, amo vocês.
Aos amigos e colegas que conheci e com os quais convivi nestes 25 anos de vida e de
muitas mudanças.
À minha orientadora, Sol, pela paciência, por todo o apoio, ensinamentos e amizade.
Muito obrigado.
“Não se pode enxergar plenamente o Cerrado com os olhos do corpo
porque sua essência é visível apenas aos olhos da alma”
João Caetano
RESUMO
A região de domínio do bioma Cerrado está ameaçada devido à substituição de suas áreas nativas para expansão da agricultura e da pecuária. Essa ocupação é responsável pela perda de cerca de 50% dos dois milhões de quilômetros quadrados originais de cerrado nativo. O uso
da terra, sem controle ou zoneamento, tem causado sérios prejuízos aos recursos naturais desse bioma, considerado como uma das áreas hotspots internacionais. Em decorrência,
alguns problemas gerados pelos desequilíbrios ecológicos já atingem os ambientes urbanos e rurais, tais como extinção de espécies, escassez de água e desertificação. Qualquer ocupação neste bioma deve ser avaliada com cautela, pois essa região, além de ser considerada uma das
mais produtivas do país, é também riquíssima em biodiversidade e recursos hídricos. A compreensão sobre a importância do bioma Cerrado e de suas áreas remanescentes, possibilita
a elaboração de estudos aprofundados sobre valoração ambiental, sendo esta, essencial para o desenvolvimento de políticas de conservação, evitando assim, impactos ambientais ainda maiores. Pra suprir a crescente demanda de alimentos, é possível aumentar a produtividade
através de sistemas agroflorestais, por exemplo, e, para preservar as áreas remanescentes, pode-se criar novas unidades de conservação e a adequar as unidades existentes.
Palavras-chave: Síntese Cerrado. Impactos Ambientais. Ocupação Irregular. Valoração Ambiental. Área Hotspot.
ABSTRACT
The region of the biome Cerrado is under threat due to the replacement of their native areas for expansion of agriculture and livestock. This occupation is responsible for the loss of about 50% of two million square kilometers of original native savannah. The land use, without
control or zoning, has caused serious damage to natural resources of this biome, considered as an international hotspot area. As a result, some problems caused by ecological imbalances
already topping the urban and rural environments, such as species extinction, water scarcity and desertification. Any occupation in this biome should be evaluated with caution, because this region, besides being considered one of the most productive of Brazil, is also rich in
biodiversity and water resources. The understanding of the importance of the Cerrado biome and its remaining areas, allows the preparation of detailed studies of environmental valuation,
which is essential for the development of conservation policies, avoiding even greater environmental impacts. To meet the growing demand for food, you can increase productivity through agroforestry, for example, and to preserve the remaining areas, you can create new
protected areas and tailor existing units.
Keywords : Synthesis Cerrado. Environmental Impacts. Irregular occupation. Environmental Valuation. Hotspot area.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Área de domínio do Bioma Cerrado no Brasil ........................................................ 10
Figura 2 – Paisagem de Cerrado ............................................................................................... 13
Figura 3 – Hidrografia e fronteiras do bioma Cerrado ............................................................. 14
Figura 4 - Área de distribuição original do Cerrado e os principais blocos remanescentes de
vegetação nativa em 2002......................................................................................................... 16
Figura 5 - Área de domínio do Cerrado e distribuição espacial das classes de uso do solo, no
ano de 2002. .............................................................................................................................. 24
Figura 6 – Os 34 hotspots da biodiversidade ............................................................................ 27
Figura 7 – Mapa temático com Unidades de Conservação de uso sustentável e de proteção
integral, municipais, estaduais e federais, com detalhe para o bioma Cerrado ........................ 40
Figura 8 – Mapa temático com Unidades de Conservação de uso sustentável e de proteção
integral, municipais, estaduais e federais, do Brasil ................................................................. 41
Figura 9 - As doze regiões hidrográficas brasileiras ................................................................ 43
Figura 10 – Áreas suscetíveis e áreas afetadas por processos de desertificação no Brasil, com
detalhe para o bioma Cerrado ................................................................................................... 49
Figura 11 – Áreas com risco de desertificação no Estado de Minas Gerais ............................. 50
Figura 12 – Incêndio em área de Cerrado................................................................................. 53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Área (km²) ocupada pelos principais domínios de vegetação nos estados
brasileiros.................................................................................................................................. 11
Tabela 2 - Espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, por bioma .............................. 34
Tabela 3 - Área (km²) aproximada de domínio dos biomas do Brasil...................................... 36
Tabela 4 - Área (ha) das unidades de conservação federais e estaduais, por bioma, em 2010 ....
.................................................................................................................................................. 36
Tabela 5 - Área (ha) das unidades de conservação federais e estaduais, por bioma, em 2010.....
................................................................................................................................................ ..37
Tabela 6 – Dados estatísticos do bioma Cerrado, em 2009 ...................................................... 39
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO. ..................................................................................... 10
2. OBJETIVOS ........................................................................................... 17
3. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................... 18
4. METODOLOGIA ................................................................................... 22
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................. 23
5.1 Hotspots da biodiversidade................................................................. 26
5.2 Biodiversidade da flora do Cerrado ................................................... 27
5.3 Biodiversidade da fauna do Cerrado ................................................. 29
5.4 Ameaça de extinção............................................................................ 33
5.5 Unidades de conservação (UC)........................................................... 35
5.6 Recursos hídricos ............................................................................... 42
5.6.1 Recursos hídricos do Cerrado......................................................... 42
5.6.2 Dependência das águas do Cerrado ................................................ 44
5.6.3 Qualidade das águas do Cerrado .................................................... 47
5.7 Desertificação ..................................................................................... 48
5.8 Carbono ............................................................................................. 50
5.9 Alternativas........................................................................................ 54
5.9.1 Agropecuária empresarial .............................................................. 55
5.9.2 Pequenos produtores ...................................................................... 58
5.9.3 Diminuição de perdas e desperdícios .............................................. 59
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................... 62
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 66
ANEXO A – Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de
Extinção pertencentes ao bioma Cerrado e áreas de transição entre o
Cerrado e outros biomas ............................................................................ 74
ANEXO B - Fitofisionomias do bioma Cerrado ......................................... 78
10
1 INTRODUÇÃO
Com pouco mais de dois milhões de quilômetros quadrados, abrangendo diferentes
áreas de dez estados brasileiros (Tabela 1): Paraná (PR), São Paulo (SP), Minas Gerais (MG),
Mato Grosso do Sul (MS), Mato Grosso (MT), Bahia (BA), Goiás (GO), Maranhão (MA),
Piauí (PI), Tocantins (TO), o cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira, cobrindo
cerca de 24% do território brasileiro, com área de domínio menor apenas que a da Floresta
Amazônica. Nessa extensa região do Brasil (Figura 1), existem tipos de vegetação, solo, clima
e topografia bastante heterogêneos, resultando em uma das maiores biodiversidades do
planeta. (ASSIS et al., 1994, p. 12).
Figura 1 – Área de domínio do Bioma Cerrado no Brasil.
Fonte: WWF Brasil (2011a, p. 1).
11 Tabela 1 - Área (km²) ocupada pelos principais domínios de vegetação nos estados brasileiros.
Fonte: Machado et al. (2004, p. 21).
O Cerrado possui diferentes fisionomias paisagísticas. Para Barreto (2007, p. 221), são
quatro as fisionomias do bioma: os campos limpos, onde predominam as gramíneas, que
formam uma cobertura verde contínua, com poucas plantas mais desenvolvidas; os campos
sujos, com a presença mais frequente de pequenos arbustos em meio às gramíneas e outras
ervas; os campos cerrados, com arbustos mais numerosos e pequenas árvores esparsas; os
cerrados propriamente ditos, com cobertura herbácea contínua, composta pelas mesmas
espécies dos campos limpos, sujos e cerrados, entremeadas, com mais frequência, por
subarbustos, arbustos e árvores que podem alcançar mais de 10m de altura (formações típicas
do Brasil Central); e os cerradões, com formações tipicamente florestais, com espécies
arbóreas que alcançam mais de 15m de altura, formando um dossel que abriga, à sua sombra,
pequenas árvores e arbustos, sendo que as ervas, prejudicadas pela falta de luz solar direta,
são raras.
12
A água no Cerrado não é um fator limitante ao desenvolvimento da vegetação, sendo as
características do solo o determinante para o desenvolvimento das espécies vegetais típicas do
bioma. Assis et al. (1994, p. 23) esclarece que a pobreza em nutrientes disponíveis para as
plantas e, principalmente, as altas concentrações de alumínio, limitam o crescimento e
desenvolvimento da vegetação e a diversidade de tipos de formações vegetais se deve às
variações das concentrações de alumínio e de nutrientes.
Nos solos mais pobres em nutrientes e muito tóxicos devido à concentração de
alumínio, só se desenvolvem espécies vegetais de pequeno porte, como as gramíneas dos
campos limpos. Já nos solos que apresentam maiores níveis de fertilidade e menor índice de
toxidez, crescem as espécies típicas dos cerradões. (BARRETO, 2007, p. 244).
De um modo geral, as espécies que crescem no Cerrado possuem maior tolerância ao
alumínio, o que as torna especialmente aptas a sobreviver nesse meio. Para Assis et al. (1994,
p. 23), a baixa disponibilidade de nutrientes é determinante para o desenvolvimento
diferenciado da vegetação, com galhos e troncos retorcidos, cascas espessas, folhas rígidas e
cutículas grossas.
Assis et al. (1994, p. 24) acrescenta que, “com relação ao relevo, grande parte dos
cerrados brasileiros apresentam terrenos com altitudes superiores a 700m e, em sua maioria,
planos e pouco ondulados” (Figura 2). A vegetação do Cerrado também se desenvolve em
planícies e mesmo em pequenas manchas sobre as serras, como em Minas Gerais e na Bahia.
Nessas áreas os “solos apresentam grande diversidade, variando formação, textura,
permeabilidade à água e susceptibilidade à erosão”.
O Cerrado tem um clima tropical com duas estações climáticas mais nítidas, o período
das chuvas e o período das secas. Elas são bem definidas sendo que, de outubro a abril,
concentram-se praticamente 90% das chuvas, numa média de 1600 mm. De maio a setembro
tem-se a seca, mais acentuada entre junho e agosto, também o período mais frio do ano,
quando as temperaturas médias giram em torno de 17ºC. (PAGOTTO; SOUZA, 2006, p. 91).
Nos períodos mais secos do ano, com pouca ou nenhuma chuva, as árvores e arbustos
com sistemas subterrâneos bem desenvolvidos, conseguem aproveitar a água que “se acumula
sob o solo, nos lençóis freáticos, a mais de 15 m de profundidade”. Apenas as plantas
herbáceas e a vegetação com sistema subterrâneo pouco profundo é que realmente sofrem
com a falta de água nos períodos de seca. (BARRETO, 2007, p. 246).
13
Figura 2 – Paisagem de Cerrado.
Fonte: Machado et al. (2004, p. 1).
Por ser cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul –
Tocantins, São Francisco e Prata – e fazer fronteira com os biomas Floresta Amazônica, Mata
Atlântica, Pantanal e Caatinga (Figura 3), o Cerrado mantém uma biodiversidade riquíssima,
segundo Machado et al. (2004, p. 12). Entretanto, mesmo com toda esta biodiversidade, os
Cerrados brasileiros estão sendo substituídos por áreas de pastagens e, com a crescente
demanda por alimentos e por biocombustíveis, são substituídos também por áreas de cultivo
de grandes monoculturas associadas aos sistemas agroindustriais, destacando-se a canavieira.
Assis et al. (1994, p. 19) afirma que “a expansão agropecuária no Cerrado da região
Centro-Oeste foi intensificada a partir da década de 1970” e, com a construção de Brasília, no
final da década de 1950, surgiram os “primeiros projetos de ocupação urbana e rural dessas
terras”, visando “integrar a nova capital às demais regiões do país”. No eixo sudeste-sul, onde
os Cerrados já haviam sido praticamente substituídos pela agricultura, as terras férteis
tornaram-se escassas, o que levou agricultores e criadores de gado a se transferirem para os
Cerrados do Brasil Central, “incentivados por projetos agropastoris criados pelo governo”.
14
A vegetação, que é em boa parte rasteira e de pequeno porte, favorece a formação de
pastos para a pecuária extensiva e a topografia da região, que varia entre plana e suavemente
ondulada, favorece a agricultura mecanizada e a irrigação, mas os solos, pobres e ácidos, só se
tornam produtivos com a correção da acidez e com constantes adubações. (MACHADO et al.,
2004, p. 15).
Figura 3 – Hidrografia e fronteiras do bioma Cerrado.
Fonte: Brasil (2011).
Com o estabelecimento de grandes monoculturas atreladas aos complexos
agroindustriais como: soja, cana-de-açúcar, trigo, milho e arroz, os nutrientes já escassos do
solo se esgotam rapidamente, aumentando a “suscetibilidade das culturas às pragas e
aumentando a vulnerabilidade do solo à erosão, podendo acarretar, ravinamentos, voçorocas e
assoreamento de corpos d’água”. (EMBRAPA, 2011a, p. 22).
Além disso, a prática das queimadas em grande escala, para renovação dos pastos, tem
contribuído para o empobrecimento dos solos, que “perdem seus nutrientes através da
15
fumaça”, e contribuído principalmente para o “agravamento do processo de aquecimento
global”. (EMBRAPA, 2011b, p. 2).
Outra utilização dos Cerrados, que leva até mesmo à extinção de espécies e impactos
ambientais adversos, é o aproveitamento de suas madeiras para a produção de carvão vegetal.
O Estado de Minas Gerais tem destaque neste contexto, segundo a EMBRAPA (2011a, p. 24).
Estudos recentes indicam que menos de 50% do Cerrado ainda possui a vegetação
nativa ou em estado relativamente intacto (Figura 4). A intensa e acelerada degradação de sua
diversidade de flora caracterizam o bioma como um dos hotspots mundiais, isto é, uma das
regiões mais ricas (em biodiversidade), porém, simultaneamente das mais ameaçadas do
planeta.
Diante da pressão exercida pela crescente demanda por alimentos e por
biocombustíveis, em escala nacional e global, é inevitável a continuidade da expansão da
agropecuária no Brasil, e, neste contexto, as análises pertinentes aos cenários futuros das áreas
remanescentes de Cerrado, indicam grande risco de desaparecimento destas áreas, ou
deterioração acentuada de sua capacidade de suporte e/ou resiliência diante de impactos
ambientais adversos.
No que tange às necessidades de suprimento das demandas de alimentos, considerando
que a população mundial alcançou a marca dos 7 bilhões de habitantes em 31 de outubro de
2011, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2011), e que a projeção é de 10,1
bilhões de pessoas no planeta em 2100, espera-se um enorme crescimento nesta demanda
durante este século. Diante destes contextos, um dos grandes desafios é buscar e desenvolver
alternativas de compatibilização do uso do Cerrado com sua proteção e aumentar a produção
de alimentos e de biocombustíveis sem expandir as fronteiras agrícolas, evitando maiores
desmatamentos nas áreas de cerrados.
16 Figura 4 - Área de distribuição original do Cerrado e os principais blocos remanescentes de vegetação
nativa em 2002.
Fonte: Conservação Internacional Brasil (2011c).
17
2 OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho são:
Analisar, a partir da revisão de fontes de literatura específica, alguns dos principais
impactos ambientais adversos no bioma Cerrado, decorrentes da expansão das áreas de
grandes monoculturas e de pecuária extensiva, e que ameaçam sua biodiversidade;
Fornecer subsídios para discussões sobre as alternativas para o desenvolvimento
sustentável e para a preservação do bioma, visando análises valorativas quanto à
degradação atual deste bioma e ao potencial de exploração econômica e manejo
sustentáveis.
18
3 REVISÃO DA LITERATURA
Os primeiros estudos relacionados ao bioma Cerrado foram desenvolvidos na década de
1940. Um dos pioneiros foi o botânico paulista Prof. Dr. Mário Guimarães Ferri, da
Universidade de São Paulo. Desde então, foram realizados inúmeros estudos e pesquisas,
envolvendo a biodiversidade, os recursos naturais e os impactos ambientais adversos nas áreas
de cerrados. Neste capítulo, é apresentada uma breve revisão da literatura envolvendo o tema
desde trabalho. Outras literaturas são citadas ao longo do texto no capítulo 5 “Resultados e
Discussão”.
Um dos primeiros trabalhos experimentais envolvendo o Cerrado foi realizado por
Rawitscher, Ferri e Rachid (1943) no distrito de Emas, localizado no município de
Pirassununga, estado de São Paulo (SP). Esses pesquisadores estudaram a profundidade do
solo e a quantidade de água armazenada pela vegetação, analisando a evapotranspiração de
algumas espécies e buscando entender como as plantas conseguiam resistir aos períodos de
seca. Na década de 1950, Ferri participou diretamente da elaboração de diversos estudos
envolvendo as vegetações dos cerrados. Boa parte destes estudos tinha como objetivo analisar
os mecanismos de acúmulo e manutenção de água pelas plantas.
No início da década de 1960, Borgonovi e Chiarini (1962), realizaram um mapeamento
da vegetação de SP, utilizando fotografias aéreas para o levantamento das áreas de cerrado.
Estes autores estabeleceram uma relação entre os grandes grupos de solos e os padrões
fotográficos, subdividindo o bioma em: cerrado, cerradão e campo. No mesmo ano,
Ab’Saber (1962) constatou que as três formações ocupavam formas topográficas planas e
maciças, nos interflúvios dos chapadões, e possuíam solos pobres em nutrientes (latossolos e
lateritas).
Goodland (1969) verificou que todos os teores de nutrientes aumentavam desde as áreas
de vegetação rasteira até as áreas de vegetação arbórea, exceção feita ao alumínio. Os campos
apresentavam pH mais baixo, com menos matéria orgânica e nutrientes, o cerrado
apresentava condições intermediárias, e o cerradão possuía as melhores condições para
desenvolvimento da vegetação. Deste modo, subdividiu o bioma em gradientes de biomassa:
o campo sujo, com árvores de até 3 metros; o campo cerrado, com árvores atingindo até 4
metros e ocorrendo em maior número; o cerrado, com árvores até 6 metros e o cerradão, com
árvores até 9 metros.
19
Já na década de 1970, Ferri (1975) sugeriu nova subdivisão dos cerrados em: campo
sujo de cerrado, campo cerrado, cerrado e cerradão, afirmando que estas quatro fisionomias
possuíam semelhanças, apresentando famílias, gêneros e espécies comuns. Ferri (1977)
também constatou que as raízes profundas, características das plantas do cerrado, além de
auxiliarem na estruturação do solo, compensavam a deficiência hídrica dos períodos de seca,
pelo abastecimento de água reservada no solo.
Na década de 1980, ao mesmo tempo em que ocorria a expansão dos sistemas
agroindustriais e da agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, iniciaram-se
questionamentos envolvendo temas ambientais. Marouelli (2003, p. 1) descreve que :
Os impactos adversos da agricultura moderna, a destruição das florestas tropicais, as chuvas ácidas, a destruição da camada atmosférica de ozônio, o aquecimento global e o efeito estufa” tornavam-se temas importantes para a opinião pública, principalmente, nos países desenvolvidos.
A partir da década de 1990, com a propagação das ideologias envolvendo meio
ambiente e sustentabilidade, começaram a ser desenvolvidos trabalhos que evidenciavam a
preocupação em relação aos impactos ambientais adversos nas áreas de Cerrado. Vianna
(1990, p. 113) estudou a fragmentação de ecossistemas florestais e chamou a atenção para “a
significativa diminuição do fluxo de animais, pólen e sementes devido às atividades
antrópicas ou naturais”, relacionando com o tamanho dos fragmentos. Assis et al. (1994, p.
47) constatou, ao viajar por estradas através do cerrado, a expansão agropecuária sobre o
bioma e os impactos provenientes dessa expansão:
Os cerrados brasileiros sempre foram utilizados como áreas naturais de pastagens, porém, com a crescente demanda de alimentos, estas áreas viram-se ocupadas pela agricultura, que de suas terras retira grande quantidade de grãos e cereais, como soja, trigo, milho e arroz.
Nos anos seguintes, a preocupação com o bioma Cerrado aumentou significativamente.
No final da década de 1990, a própria Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
reconheceu a ineficiência das unidades de conservação existentes à época e ressaltou a
importância da realização de mapeamentos para definição de áreas críticas. Essas áreas seriam
prioritárias para ações visando a conservação da biodiversidade, a recuperação de áreas
degradadas, a contenção de incêndios e dos efeitos de borda e a formação de corredores
20
ecológicos para recuperação e reintrodução da fauna original (SÃO PAULO, 1996; 1997;
1998).
Neste mesmo período, intensificaram-se também os estudos envolvendo a temática de
valoração ambiental do Cerrado. Fonseca (1996) ressaltou a importância do bioma, em
relação ao expressivo grau de endemismo de espécies da fauna e, principalmente, da flora.
Para o autor, a consideração deste único fator já seria suficiente para se promover ações de
preservação nas áreas de cerrados, tendo em vista seu valor intrínseco e extrínseco.
Já no século XXI, com a ideologia do desenvolvimento sustentável enraizada, Pagotto e
Souza (2006) alertaram sobre a acentuada degradação sofrida pelo Cerrado e recomendaram o
manejo das espécies da flora e da fauna para contribuir com a preservação do bioma, citando a
criação de emas como exemplo, considerando uma atividade ambientalmente correta e
sustentável. Os autores ressaltaram que “a riqueza econômica e tecnológica do agronegócio há
muito contrasta com a pobreza de recursos e de conhecimento sobre o bioma” Cerrado e que
“a conservação tem de ser vista como uma atividade produtiva também” (PAGOTTO;
SOUZA, 2006, p. 264).
Mais recentemente, Barreto (2007, p. 312) afirmou que as riquezas guardadas na
biodiversidade do Cerrado são superiores às riquezas geradas pela agricultura. O autor
ressaltou que “o Cerrado é um dos maiores laboratórios de prospecção de genes do mundo”,
com “inúmeras espécies animais e vegetais que sequer foram identificadas e tantas outras que
ainda não foram estudadas” (BARRETO, 2007, p. 315). Enalteceu ainda o “potencial
farmacológico das plantas medicinais e os serviços ambientais [ecossistêmicos] prestados
pelo bioma como um todo: estocagem de carbono, controle climático, controle de erosão,
produção de água e outros fatores cruciais para a agricultura” (BARRETO, 2007, p. 318).
Diniz et al. (2010, p. 402) declarou que “conservar a diversidade biológica representa
hoje um dos maiores desafios da nossa sociedade”:
Espécies de animais e plantas que evoluíram durante milênios estão hoje sob intensa pressão provocada pela eliminação de seus hábitats naturais, fragmentação de ecossistemas, introdução de espécies exóticas, sobrexplotação de suas populações e pelas mudanças climáticas. Todas essas
ameaças estão presentes no Cerrado brasileiro. (DINIZ et al., 2010, p.
403).
21
Atualmente os conceitos de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável estão
presentes em todos os segmentos e em todas as discussões, sendo por vezes até banalizados
ou tomados de forma equivocada. É tempo de desenvolver ações e políticas de planejamento
ambiental visando a conservação do patrimônio natural, que sejam realmente importantes na
contribuição de uma gestão participativa tendo em vista a proteção do bioma Cerrado.
22
4 METODOLOGIA
Para atingir os objetivos pretendidos, foram adotados os seguintes procedimentos de
pesquisa:
Levantamento bibliográfico a respeito das características do bioma Cerrado, com
ênfase na biodiversidade e recursos naturais;
Levantamento bibliográfico a respeito dos impactos ambientais adversos sofridos
pelo bioma, com ênfase nos decorrentes da expansão da agropecuária;
Levantamento bibliográfico a respeito de alternativas de exploração econômica
sustentável e manejo dos recursos naturais do bioma;
Acompanhamento de estudos recentes, relacionados ao tema deste trabalho.
23
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ocupação do Cerrado iniciou-se principalmente pela atividade de pecuária extensiva
e, a partir da década de 1970, iniciou-se uma ocupação intensa, motivada, em grande parte,
pela atuação dos órgãos de pesquisa e fomento. De acordo com Braga Júnior e Domingues
(2008), essa atuação foi traduzida na importação de gramíneas exóticas, facilmente
adaptáveis, como a braquiária africana; na criação de variedades de soja e arroz adequadas ao
bioma; na migração do café do Paraná e de São Paulo para o Cerrado de Minas Gerais e da
Bahia; e na ampliação das áreas de cultivo da cana-de-açúcar.
Essa ocupação da região central do Brasil só ocorreu devido aos avanços das
tecnologias e das metodologias, nos diversos setores produtivos. Para a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2009) foi o uso de fertilizantes e corretivos agrícolas
que possibilitou a ocupação dos solos ácidos e pobres em minerais do Cerrado, permitindo
que monoculturas de soja, cana-de-açúcar, milho, eucalipto e outras, se instalassem na região.
Atualmente, o Cerrado possui destaque significativo no cenário agrícola (Figura 5). De acordo
com a EMBRAPA (2009, p. 45), “são 61 milhões de hectares de pastagens cultivadas, 14
milhões de hectares de culturas anuais, 3,5 milhões de hectares de culturas perenes e
florestais, além de ser responsável por 55% da produção nacional de carne bovina. ”
Causando extensos desmatamentos a cada ano, as grandes monoculturas e a pecuária
extensiva se tornaram os principais problemas para a conservação das áreas de Cerrado e,
além disso, o bioma ainda sofre com os incêndios naturais e queimadas de origem antrópica,
que ocorrem nos períodos secos sazonais. Ab’Sáber (2005, p. 133) assim define essa situação:
Além de conviver com alguns dos piores solos do Brasil intertropical, a vegetação dos cerrados conseguiu a façanha ecológica de resistir às queimadas, renascendo das cinzas, como uma espécie de fênix dos ecossistemas brasileiros. Não resiste, porém, aos violentos artifícios tecnológicos inventados pelos homens ditos civilizados.
Tem-se uma grande divergência quanto aos índices relacionados ao Cerrado referentes à
área que ocupava inicialmente, a área atual, e a área já desmatada e a taxa de desmatamento
anual, pois não temos números exatos e consensuais nos diversos estudos, pesquisas e
trabalhos recentes, representando um agravante problema quanto à gestão ambiental destas
áreas.
24
Figura 5 - Área de domínio do Cerrado e distribuição espacial das classes de uso do solo, no ano de
2002.
Fonte: Sano et al. (2008, p. 156).
Diversos autores e cientistas consideram que o bioma já perdeu de 40% a 80% de sua
área total. Essa grande divergência se dá, principalmente, devido à consideração ou não das
áreas de cerrados que sofreram pequenas intervenções ou alterações. Para alguns, essas áreas
já não podem ser consideradas como áreas nativas ou remanescentes de Cerrado. Já os mais
conservadores garantem que, no ritmo de desmatamento atual, até 2030 o bioma estará
praticamente erradicado, restando apenas fragmentos nas Unidades de Conservação. Neste
cenário, tanto espécies de flora como de fauna seriam extintas em escalas inestimáveis, pois
muitas ainda sequer foram identificadas, representando uma grande perda efetiva e potencial,
e interferindo direta e indiretamente sobre a valoração ambiental destes biomas.
25
Em sua pesquisa "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável", referente ao ano de
2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) divulgou dados de uma
pesquisa revelando que a cobertura original do Cerrado foi reduzida praticamente à metade no
País, de 2.038.953 km² (cobertura original) para 1.052.708 km², com área total desmatada de
986.247 km² (48,37%) até 2008. Somente entre 2002 e 2008, teriam sido destruídos 85.074
km² (4,18% da cobertura original).
Moreira (2006), com base em dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos do Estado de Goiás e com o uso de imagens de satélite, para visualizar as
regiões mais devastadas do Cerrado, afirmou que metade dos municípios goianos (132 de um
total de 246) possui menos de 20% de cobertura nativa do Cerrado. Este percentual de
devastação é considerado crítico tornando-se quase impossível reverter o quadro de perda da
diversidade de espécies animais e vegetais, sendo que, em Goiás (GO), apenas seis
municípios ainda possuem mais de 80% de suas áreas preservadas.
Mesmo com as divergências correlacionadas aos números, uma constatação presente na
grande maioria dos estudos sobre o Cerrado é a de que o bioma esta perdendo sua rica
biodiversidade, ainda pouco conhecida, a taxas preocupantes.
Atualmente, o bioma Cerrado é considerado um hotspot – conceito criado em 1988,
pelo ecólogo inglês Norman Myers, para representar as áreas mais importantes para preservar
a biodiversidade no planeta Terra – e esta sendo severamente castigado pela expansão das
fronteiras do agronegócio. Muitas riquezas naturais e oportunidades de desenvolvimento
sustentável local e regional estão se perdendo, com reflexos para todas as regiões do país,
considerando-se as interfaces do cerrado com outras áreas florestais.
A valoração dos seus recursos naturais e a criação de mecanismos de desenvolvimento
sustentável, nas áreas de Cerrado, podem não apenas contribuir com a preservação do bioma e
garantir a sobrevivência de milhares de espécies animais e vegetais, como também possibilitar
estudos aprofundados e fortalecer as diversas comunidades e culturas da região central do
Brasil, incluindo-se as populações tradicionais .
Para subsidiar futuros estudos de valoração ambiental das áreas de cerrados, este
trabalho apresenta, a seguir, alguns dos principais temas que devem ser levados em
consideração e analisados com maior profundidade para o desenvolvimento de avaliações
multicriteriosas e multidisciplinares.
26
5.1 Hotspots da biodiversidade
O primeiro a usar o conceito de hotspots foi o ecólogo inglês Norman Myers, em 1988.
Ao observar que a biodiversidade não é igualmente distribuída no planeta, Myers procurou
identificar quais as regiões que concentram os mais altos níveis de biodiversidade e onde as
ações de conservação são mais urgentes. Na época, o pesquisador apontou 10 áreas
prioritárias para a conservação em todo o mundo denominando-as Hotspots. Doze anos
depois, em 2000, a entidade ambientalista Conservation International (2011) divulgou os
estudos de mais de uma centena de cientistas, de 40 países, que identificaram mais 15
hotspots, totalizando 25.
As principais informações disponíveis, sobre as espécies e ecossistemas dessas 25 áreas,
foram resumidas num livro de 430 páginas ilustradas por 350 fotos, 30 mapas e 50 tabelas. O
objetivo era ajudar as autoridades de cada país a desenhar uma estratégia mais precisa de
conservação da biodiversidade, destinando recursos às ações mais urgentes.
Em 2005, a Conservation International (2011) ampliou para 34 (Figura 6), as regiões
consideradas hotspots. Somados, os remanescentes ainda intactos dos 34 hotspots, ocupam
2,3% da superfície terrestre (3,3 milhões de km2) e abrigam 50% das espécies de plantas e
75% dos animais vertebrados ameaçados de extinção. Um total de 6.689 espécies de peixes,
ou 55% do total mundial conhecido, vive nos 34 hotspots, sendo que 3.418 delas são
endêmicas.
A Conservação Internacional Brasil (2011a) afirma que os hotspots abrigam pelo menos
30% das espécies de invertebrados conhecidas. Apesar de sua importância e riqueza de
espécies, 95% das áreas consideradas como hotspots não contam com nenhum tipo de
proteção, sendo apenas 5% de áreas em parques ou reservas. Cerca de 313 milhões de pessoas
vivem a menos de 10 km das áreas protegidas dentro dos hotspots e dois bilhões vivem nas
áreas originalmente ocupadas pelos ecossistemas que os compõem.
Dois biomas brasileiros figuram entre os 34 hotspots mundiais: a Mata Atlântica e o
Cerrado. Embora abriguem grande biodiversidade, os b iomas Amazônia e Pantanal não
figuram na lista por ainda estarem significativamente preservados.
27
Dois biomas brasileiros figuram entre os 34 hotspots mundiais a Mata Atlântica e o
Cerrado. Embora abriguem grande biodiversidade, os biomas Amazônia e Pantanal não
figuram na lista por ainda estarem significativamente preservados.
Figura 6 – Os 34 hotspots da biodiversidade.
Fonte: Conservação Internacional Brasil. (2011b, p. 1).
5.2 Biodiversidade da flora do Cerrado
Considerados por alguns como uma variedade de savana, o Cerrado é na verdade um
bioma extremamente complexo e diverso, reunindo de acordo com a Organização Não
Governamental WWF-Brasil (2011b): campos naturais, florestas, veredas e savanas
entrecortadas por lagoas, rios e córregos com água em grande quantidade e muitas vezes
cristalina. Por situar-se em uma posição central no território brasileiro, oferecendo uma
espécie de ponte entre a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica, o Cerrado
compartilha animais e vegetais com todos esses biomas, sem deixar de abrigar exemplares
únicos da biodiversidade brasileira.
28
A grande heterogeneidade espacial do Cerrado, onde diversas fitofisionomias alternam-
se na paisagem, está bastante ligada à variação dos solos e de suas características (composição
química, profundidade, tipo de drenagem), segundo Lopes e Cox (1977). Fatores ligados à
geomorfologia e evolução do relevo determinam fortemente os tipos de solos e terrenos do
Cerrado, favorecendo a diversidade de paisagens e ambientes.
De modo geral, a região do Cerrado pode ser definida como um domínio de planaltos antigos, com topografia suave ou levemente ondulada, em geral acima dos 500 metros, entrecortados por depressões periféricas, lentamente erodidas pelas principais drenagens do Brasil Central, como a alta Bacia Platina, o complexo Tocantins-Araguaia e o alto curso da Bacia do Parnaíba. (LOPES; COX, 1977, p. 829).
Embora o número de fitofisionomias varie bastante, de acordo com um ou outro autor,
são reconhecidos três grandes grupos de formações (ANEXO B):
florestal: cerradão, mata seca, mata de galeria e mata ciliar;
savânicas: cerrado denso, cerrado típico, cerrado ralo, parque de cerrado, palmeiral, vereda e cerrado rupestre;
campestres: campo rupestre, campo sujo e campo limpo.
Essa classificação (EITEN, 1994; RIBEIRO; WALTER, 1998) pode ser observada em
escalas locais, mas em escalas regionais, o bioma apresenta outros padrões moldados pela
variação local dos ambientes e por condicionantes regionais, como proximidade ou
isolamento em relação a domínios vizinhos. Para Machado et al. (2008, p. 289), de modo
geral, os terrenos mais antigos, de planaltos mais elevados, são dominados por formações
vegetais campestres, “entrecortados por veredas esparsas e florestas ripárias restritas às
margens de cursos d’água”. Já nas áreas mais baixas abrigam maiores extensões de ambientes
florestais, “incluindo matas decíduas e semidecíduas de interflúvio, além de florestas ripárias
mais desenvolvidas”.
Castro (1994, p. 16) sugere a existência de três grandes supercentros de biodiversidade:
cerrados do Sudeste Meridional, cerrados do Planalto Central e cerrados do Nordeste. A
discriminação desses supercentros ocorreria devido a, principalmente, duas barreiras
climáticas: uma em torno do paralelo de 20ºS, que diz respeito ao polígono das geadas, e
outra a partir de 15ºS e 45ºW, que diz respeito ao polígono das secas. Ou seja, o padrão da
distribuição das espécies vegetais é determinado por variações na altitude e latitude.
29
Os supercentros de biodiversidade de cerrados são 8 grupos distintos, sendo 2 em São Paulo e sul de Minas Gerais (cerrados do Sudeste Meridional), 3 grupos de cerrados do Planalto Central (cerrados do Brasil Central), 1 grupo do Nordeste (cerrados do Piauí e Maranhão), 1 grupo do Pantanal (cerrados do Brasil Central localizados na região do Pantanal) e por fim 1 grupo de cerrados do Litoral (cerrados associados a Tabuleiros Litorâneos em sua maioria).
Um estudo semelhante foi realizado por Ratter et al. (2003), que identificou oito regiões
com flora similar (do sul para o norte): São Paulo, centro-oeste de Minas Gerais, leste de
Goiás e Triângulo Mineiro, centro-oeste do Cerrado (incluindo sul do Tocantins), Rondônia,
oeste da Bahia e norte do Cerrado (Piauí, Maranhão e norte do Tocantins) e as demais áreas
disjuntas nas savanas amazônicas.
Independentemente da forma de abordagem, existe uma significativa concordância de
que a flora do Cerrado é bastante diversificada. De acordo com Scolforo (2008, p. 542), o
Cerrado é “a savana mais rica do mundo em biodiversidade, devido à sua riquíssima flora
com mais de 10 mil espécies de plantas, sendo 4.400 endêmicas”. Para a WWF-Brasil (2011a)
os números são ainda maiores, informando que foram identificados mais de 11,6 mil tipos de
plantas na região, sendo que mais de 5 mil vivem apenas nos limites do bioma (endêmicas).
Algumas espécies vegetais são típicas do Cerrado. A WWF-Brasil (2011a) menciona
algumas:
O pequi (Caryocar brasiliense), o jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), o dedaleiro (Lafoensia pacari), a mamonarana (Pseudobombax longiflorum) e maracujás silvestres. Destacam-se também o buriti (Mauritia flexuosa), o cajueiro-do-campo (Anacardium humile), a canela-de-ema (Vellozia flavicans), a cagaita (Eugenia dysenterica), o sombreiro e o chuveirinho (Paepalanthus sp), a mangaba (Hancornia speciosa), a sucupira (Pterodon pubescens), a lobeira (Solanum lycocarpum), o angelim (Andira vermifuga), o ipê-amarelo (Tabebuia ochracea), a gritadeira (Palicourea rigida), o baruzeiro (Dipteryx alata) e a flor-do-Cerrado (Calliandra dysantha), além de variadas espécies de orquídeas, cactos, árvores, arbustos e gramíneas.
5.3 Biodiversidade da fauna do Cerrado
De acordo com Scolforo (2008, p. 542), a fauna do Cerrado apresenta 837 espécies de
aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies e 19 endêmicas; 150 espécies de
anfíbios, das quais 45 endêmicas e 120 espécies de répteis, das quais 45 encontradas so mente
30
no Cerrado. O autor afirma ainda que, apenas no Distrito Federal, há 90 espécies de cupins,
1.000 espécies de borboletas e 500 espécies de abelhas e vespas.
A WWF-Brasil (2011a), informa que foram identificadas 120 espécies de répteis, 150
de anfíbios, 1.200 de peixes, 837 de aves e cerca de 90 mil espécies de insetos, sendo 13% das
borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos.
Alguns animais se apresentam como espécies representativas do Cerrado, tais como o
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o
tatu-canastra (Priodontes Giganteusso), o papagaio-galego (Amazona xanthops), a ema (Rhea
americana), a seriema (Cariama cristata), o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), a arara-
canindé (Ara ararauna), o pica-pau-do-campo (Colaptes campestris), o tiê-do-Cerrado
(Neothraupis fasciata), o calango (Tropidurus sp) e o teiu (Tupinambis sp). (WWF-BRASIL,
2011a).
Em relação ao grupo das aves, a concentração de espécies no Cerrado é bastante
expressiva. De acordo com Machado et al. (2008, p. 292) , “praticamente a metade das
espécies registradas no Brasil ocorre no bioma”. Em uma das primeiras grandes revisões da
avifauna do Cerrado, Silva (1995, p. 81) indicou a existência de 837 espécies no domínio,
sendo que a maior parte delas (82 %) apresenta algum grau de dependência de ambientes
florestais. Por esse motivo, o autor sugeriu que a riqueza de espécies de aves no Cerrado seja
fruto de intensos intercâmbios ocorridos no passado com os biomas florestais vizinhos
(Amazônia e Mata Atlântica).
Silva e Bates (2002, p. 228) sugerem que os padrões de distribuição das aves seguem a
dinâmica de diversificação dos ambientes do Cerrado. Os autores identificaram um grupo de
espécies mais antigo, ligado às formações campestres e savânicas, e um grupo mais recente,
associado com as formações florestais do Cerrado. Em consequência, os autores sugerem a
existência de pelo menos três centros de endemismo para o domínio: “a Cadeia do Espinhaço
(Minas Gerais e Bahia), o Vão do Paranã (Goiás e Tocantins) e o Vale do Araguaia (Mato
Grosso, Tocantins e leste do Pará)”. Além desses três centros, Simon e Proença (2000, p. 286)
identificaram também “a região da Chapada dos Veadeiros (norte de Goiás) e a região de
Cristalina (sul do Distrito Federal)”.
Em relação à herpetofauna (répteis e anfíbios), o número de espécies (cerca de 270)
pode estar ainda muito subestimado, pois novas espécies têm sido descritas nas regiões ainda
31
pouco estudadas, requerendo análises mais complexas (NOGUEIRA; RODRIGUES, 2006;
RODRIGUES et al., 2007), e ainda há a carência por sínteses sobre diversidade de anfíbios.
A ocorrência e o endemismo de répteis no Cerrado foram avaliados por Colli e Bastos
(2002) e Nogueira (2006). Quando expressa proporcionalmente ao tamanho dos domínios, a
riqueza de espécies de répteis existente no Cerrado é tão expressiva quanto à da Amazônia, já
que o Cerrado possui menos da metade da área amazônica. Para Ratter et al. (2003, p. 92), “os
padrões de distribuição de lagartos são determinados de modo significativo por uma interação
entre posição geográfica, altitude, clima e topografia”, determinando quatro grandes sub-
regiões faunísticas no Cerrado: “a alta Bacia Platina, o Vale do Tocantins, a Cadeia do
Espinhaço e a região oeste do Cerrado”.
Um projeto desenvolvido atualmente pela Universidade de São Paulo (USP), intitulado
“Répteis Squamata do Cerrado”, e que visa fornecer um inventário de répteis Squamata
(lagartos, serpentes e anfisbenas) da região do Cerrado, tem fornecido números interessantes:
O Cerrado apresenta riqueza de répteis Squamata muito maior do que apontam os trabalhos disponíveis na literatura científica. Os resultados preliminares do presente projeto (somados a dados de coleções científicas e literatura) permitem listar, para todo o domínio do Cerrado, cerca de 200 espécies de Squamata. Dentre estas estão incluídas pelo menos 59 espécies de lagartos (em 10 famílias), 115 serpentes (oito famílias) e 25 anfisbenas (uma família, 5 gêneros). Algumas estimativas anteriores citavam, para todo o Cerrado, 120 espécies de répteis (incluindo quelõnios e crocodilianos), valor muito abaixo da riqueza de Squamata inventariada neste projeto. Só na região de Brasília (cerca de 30.000 km quadrados), tomada como exemplo por representar uma das localidades mais bem amostradas no Cerrado, cerca de 90 espécies de Squamata (ao menos 61 espécies de serpentes, 25 de lagartos e cinco de anfisbenas) foram registradas, sendo esperados valores de riqueza similares ou maiores em outras localidades da região nuclear do Cerrado, especialmente aquelas com áreas extensas bem preservadas, englobando grandes variações topográficas e, em conseqüência, grande diversidade de tipos de vegetação. Coletas de espécies não-descritas e registros de ampliação da distribuição geográfica de espécies já conhecidas foram bastante comuns, evidenciando a falta de informações básicas sobre quantas e quais espécies de lagartos, serpentes e anfisbenas ocorrem no Cerrado. Novas localidades estão sendo estudadas, e o inventário nas principais coleções herpetológicas brasileiras está em andamento, o que garantirá mais dados a serem disponibilizados no futuro. (NOGUEIRA; HULLE, 2011, p.1).
32
Revisões semelhantes à realizada com os répteis têm sido feitas com outros grupos
taxonômicos como os morcegos (AGUIAR, 2000) e outros pequenos mamíferos
(CARMIGNOTTO, 2004) ou para todas as ordens (MARINHO FILHO et al., 2002).
De acordo com Carmignotto (2004), são 194 espécies de pequenos mamíferos
registradas para o domínio, sendo que o padrão de distribuição segue aquilo que é proposto
para as plantas e répteis, existindo cinco regiões faunísticas e, assim como no grupo dos
lagartos, a maior parcela da riqueza de pequenos mamíferos (incluindo boa parte dos
endêmicos) está concentrada em ambientes abertos, contrariando interpretações anteriores,
que citavam maior riqueza em ambientes florestados, como matas de galeria.
Como resultado de poucos investimentos públicos no levantamento da biodiversidade
do Cerrado ao longo do tempo, diversos grupos taxonômicos permanecem ainda bastante
desconhecidos. Machado et al. (2008, p. 294) esclarece que “sínteses sobre riqueza e
endemismo dos grupos de vertebrados, como anfíbios e peixes, são ainda raras para o
Cerrado”.
Para um grande número de espécies, as informações disponíveis na literatura especializada resumem-se, na grande maioria das vezes, às informações contidas no trabalho original de descrição taxonômica, com pouca informação sobre uso de ambiente, abundância e distribuição geográfica das espécies.
A falta de informações e a ausência de estudos aprofundados causaram a precipitada
impressão de que o Cerrado possuía uma biodiversidade pouco significativa, pouco
diversificada e com baixo grau de endemismo. Atualmente há muitos estudos que
demonstram justamente o contrário e evidenciam que informações básicas, sobre a
composição e a distribuição da biodiversidade, são essenciais para a valoração ambiental e
para a conservação do Cerrado.
À medida que novas informações sobre o Cerrado vão sendo divulgadas, torna-se
possível ter uma melhor noção em relação à representatividade e valor de seu patrimônio
genético. De acordo com Machado et al. (2008, p. 295), de 1988 a 2008, 340 novas espécies
de vertebrados foram descritas, incluindo 222 peixes, 40 anfíbios, 57 répteis, 20 mamíferos e
1 ave.
Esse total representa cerca de um quarto das cerca de 1.300 espécies de vertebrados descritas no mesmo período em todo o Brasil, demonstrando que
33
as últimas décadas foram de intenso acúmulo de conhecimento básico sobre diversidade zoológica no Cerrado.
Para Diniz Filho et al. (2005, p. 472), há uma tendência de que as novas espécies
descritas no Cerrado possuam alto grau de endemismos, ou mesmo formas de distribuição
restrita. Confirmando-se essa tendência, pode-se esperar que boa parte das espécies de
vertebrados, descobertas recentemente no Cerrado, já esteja sofrendo os efeitos adversos da
perda de hábitat e esteja correndo risco de extinção.
Para Machado et al. (2008, p. 296), “o conhecimento científico existente sobre o
Cerrado está, de forma geral, concentrado no entorno de alguns centros urbanos e de
pesquisa”. Muitas das localidades, com grande número de estudos e informações sobre a
diversidade da fauna, são sítios de instalação de hidrelétricas ou outras grandes obras, “tais
como as regiões de Manso-MT, Serra da Mesa-GO, Lajeado-TO”. Em contrapartida, são
poucas as áreas protegidas e bem diagnosticadas em relação à biodiversidade, “tais como o
Parque Nacional de Emas e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros”.
Para promover ações efetivas de preservação da fauna, torna-se necessário intensificar
os estudos em áreas remanescentes e protegidas do Cerrado.
5.4 Ameaça de extinção
A Instrução Normativa nº 06, de 23 de setembro de 2008, do Ministério do Meio
Ambiente (MMA), reconhece as espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção e as
espécies da flora brasileira com deficiência de dados (BRASIL, 2008, p. 1).
Art. 3º Entende-se por espécies: I - ameaçadas de extinção: aquelas com alto risco de desaparecimento na natureza em futuro próximo, assim reconhecidas pelo Ministério do Meio Ambiente, com base em documentação científica disponível;” II - com deficiência de dados: aquelas cujas informações (distribuição geográfica, ameaças/impactos e usos, entre outras) são ainda deficientes, não permitindo enquadrá-las com segurança na condição de ameaçadas;
De acordo com o Art. 5º, “para as espécies consideradas ameaçadas de extinção [...]
deverão ser desenvolvidos planos de ação, com vistas à futura retirada de espécies da lista,
[...] em prazo máximo de cinco anos, a contar da publicação desta Instrução Normativa”.
34
Parágrafo único. As espécies [ameaçadas de extinção] são consideradas prioritárias para efeito de concessão de apoio financeiro à conservação pelo Governo Federal e deverão receber atenção especial no contexto da expansão e gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC [...]. (BRASIL, 2008, p. 1).
Na lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção constam 474
espécies, conforme a Tabela 2.
Tabela 2 - Espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, por bioma.
Bioma Qtd.
Amazônia 23
Amazônia / Mata Atlântica 1
Caatinga 35
Caatinga / Cerrado 4
Caatinga / Mata Atlântica 5
Cerrado 118
Cerrado / Caatinga 3
Cerrado / Mata Atlântica 6
Cerrado / Pantanal 1
Mata Atlântica 254
Mata Atlântica / Pampa 6
Pampa 15
Pampa / Mata Atlântica 2
Pantal 1
Total 474 Fonte: Brasil (2008, p. 3-23), adaptação nossa.
Das 474 espécies na lista da flora brasileira ameaçada de extinção, 118 (25%) são
encontradas unicamente nas áreas de Cerrado e outras 14 espécies encontram-se em áreas de
transição entre o Cerrado e outros biomas (ANEXO A). A Mata Atlântica tem 254 (54%)
espécies ameaçadas em sua área de domínio e 20 em áreas de transição. A Amazônia tem 23
(5%) espécies ameaçadas em sua área de domínio e 1 em áreas de transição.
Para a fauna brasileira ameaçada de extinção, a primeira lista oficial foi a Portaria do
IBAMA nº 1.522, de 19 de dezembro de 1.989. Esta lista contém 206 espécies, sendo: 58
espécies de mamíferos; 108 espécies de aves; 9 espécies de répteis; 1 espécie de anfíbio; 29
espécies de insetos; 1 espécie de artrópode; e 1 espécie de cnidário.
35
A Portaria nº 45-N, de 27 de abril de 1.992, incluiu mais uma espécie de mamífero, já a
Portaria nº 062, de 17 de junho de 1.997, incluiu 9 espécies de mamíferos e 1 espécie de ave e
a Portaria nº 28, de 12 de março de 1.998, incluiu 1 espécie de peixe e 1 espécie de crustáceo.
Assim, até 2002 tinha-se uma lista oficial com 219 espécies da fauna brasileira ameaçadas de
extinção.
A Instrução Normativa MMA nº 03, de 27 de maio de 2003, apresentou uma nova lista
oficial, considerando apenas os seguintes grupos de animais: anfíbios, aves, invertebrados
terrestres, mamíferos e répteis. A Instrução Normativa MMA nº 05, de 21 de maio de 2004,
apresentou outras duas listas, uma para invertebrados aquáticos e peixes ameaçados de
extinção e outra para invertebrados aquáticos e peixes sobreexplotados ou ameaçados de
sobreextplotação. A atualização mais recente se deu com a Instrução Normativa MMA nº 52,
de 08 de novembro de 2005, que alterou as duas listas da Instrução Normativa MMA nº 05, de
21 de maio de 2004.
As listas da fauna ameaçada de extinção, ao contrário da lista da flora, não especificam
os biomas das espécies ameaçadas de extinção. De acordo com a WWF-Brasil (2011a), são
627 espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção, sendo que 137 (22%) são do Cerrado.
Considerando os 25% de espécies da flora do Cerrado ameaçada, tem-se que, em cada quatro
espécies ameaçadas de extinção no Brasil, em média, uma pertence às áreas de Cerrado.
5.5 Unidades de conservação (UC)
A Lei Federal nº 9.985, de 18 de Julho de 2000, instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), estabelecendo critérios e normas para a
criação, implantação e gestão das unidades de conservação no território brasileiro. (Tabelas 3
e 4)
A mesma lei definiu Unidade de Conservação como:
Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção. (BRASIL, 2000, p. 1).
36
As Unidades de Conservação cobrem cerca de 15% do território brasileiro (Tabelas 4 e
5), sendo que 75% de toda área protegida por UC está na região Amazônica e apenas 11% na
região de Cerrado.
Tabela 3 - Área (km²) aproximada de domínio dos biomas do Brasil.
Fonte: (SNIF, 2011a, p1).
Tabela 4 - Área (ha) das unidades de conservação federais e estaduais, por bioma, em 2010.
Fonte: (SNIF, 2011b, p. 1).
A Lei Federal nº 9.985 define Proteção Integral como “manutenção dos ecossistemas
livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos
seus atributos naturais” e Uso Sustentável como “exploração do ambiente de maneira a
37
garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos,
mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e
economicamente viável”. (BRASIL, 2000).
Tabela 5 - Área (ha) das unidades de conservação federais e estaduais, por bioma, em 2010.
Fonte: (SNIF, 2011b, p. 1).
Funções da categoria de Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral:
Estação Ecológica - preservação da natureza e realização de pesquisas
científicas;
Reserva Biológica - preservação integral da biota e demais atributos naturais
existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais,
excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo
necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os
processos ecológicos naturais;
Parque Nacional - preservação de ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o
38
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em
contato com a natureza e de turismo ecológico;
Monumento Natural - preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande
beleza cênica;
Refúgio de Vida Silvestre - proteger ambientes naturais onde se asseguram
condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da
fauna residente ou migratória. (BRASIL, 2000).
Funções da categoria de Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável:
Área de Proteção Ambiental - área em geral extensa, com certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente
importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como
objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais;
Área de Relevante Interesse Ecológico - área em geral de pequena extensão, com
pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que
abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas
naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a
compatibilizá- lo com os objetivos de conservação da natureza;
Floresta Nacional - área com cobertura florestal de espécies predominantemente
nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a
pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas;
Reserva Extrativista - área utilizada por populações extrativistas tradicionais,
cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de
subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger
os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos
naturais da unidade;
39
Reserva de Fauna - área natural com populações animais de espécies nativas,
terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos
sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos;
Reserva de Desenvolvimento Sustentável - área natural que abriga populações
tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos
naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que
desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade
biológica;
Reserva Particular do Patrimônio Natural - área privada, gravada com
perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica; é exceção das categorias
do SNUC, pois é a única categoria de UC que continua sendo de propriedade privada após sua
criação. (BRASIL, 2000).
De acordo com dados do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), um
banco de dados com informações oficiais do SNUC, apenas 6,4% da área de Cerrado se
encontra legalmente protegida (Tabela 6).
Tabela 6 – Dados estatísticos do bioma Cerrado, em 2009.
Fonte: (SNIF, 2011a, p. 1).
Esses 6,4% tornam-se menos representativos ao analisarmos a quantidade de Unidades
de Conservação com Proteção Integral e a localização das mesmas (Figura 7). Isso sem
mencionar a gestão e proteção efetivas dessas unidades. A Figura 8 evidencia as áreas de
40
proteção da Amazônia, significativamente maiores, em extensão e em quantidade, que as
áreas do Cerrado.
Figura 7 – Mapa temático com Unidades de Conservação de uso sustentável e de proteção integral,
municipais, estaduais e federais, com detalhe para o bioma Cerrado.
Fonte: Brasil (2011).
Além da pequena parcela de áreas efetivamente protegidas na região dos cerrados, a
WWW-Brasil (2011b) estima que 20% das espécies ameaçadas ou endêmicas não ocorram
nessas áreas, ressaltando que uma, em cada cinco espécies exclusivas do Cerrado, não
sobrevive em Unidades de Conservação. Neste contexto, fica evidente a necessidade de
adequação das UCs existentes e de criação de novas áreas de proteção, que abriguem áreas
prioritárias para a conservação e a biodiversidade ameaçada.
Considerando a ideologia de desenvolvimento sustentável, a implementação efetiva de
unidades de conservação e o aproveitamento do potencial econômico dessas áreas pode gerar
fundos para a fiscalização e manutenção das UCs e para investimentos no desenvolvimento
regional e em pesquisas científicas.
41
Figura 8 – Mapa temático com Unidades de Conservação de uso sustentável e de proteção integral,
municipais, estaduais e federais, do Brasil.
Fonte: Brasil (2011).
Considerando o potencial econômico de cinco bens e serviços proporcionados pelas
unidades de conservação: produtos florestais, uso público das áreas – principalmente o
turismo –, estoque de carbono conservado, água e repartição de receitas tributárias, o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2011) afirma que as UCs brasileiras podem gerar
pelo menos R$ 5,77 bilhões por ano, considerando um cenário conservador.
A conservação deve ser vista como um setor da economia do país e é preciso considerar principalmente as estimativas de aumento da exploração turística de 67 parques nacionais e o potencial multiplicador do turismo nas economias locais. O Brasil tem potencial para gerar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão por ano, considerando as estimativas de fluxo de turistas projetadas para o país até 2016, ano das Olimpíadas. Em 2016, a renda movimentada pelo turismo nos parques pode chegar a R$ 2,2 bilhões. Já o cálculo do potencial econômico do carbono estocado com a preservação das florestas em unidades de conservação considera que a criação dessas áreas evitou a emissão de pelo menos 2,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera. Esses créditos renderiam por ano, entre R$ 2,9 bilhões e R$ 5,8 bilhões. Estados que ainda não têm legislação de ICMS Ecológico poderiam arrecadar até R$ 14,9 milhões com a adoção do mecanismo, que compensa os municípios pela existência de UCs em seus territórios. (IPEA, 2011)
42
Estudos de valoração ambiental, com cálculos que levem em consideração o potencial
econômico das unidades de conservação, podem garantir investimentos para a efetiva
implementação e para a adequada gestão dessas áreas:
Tradicionalmente os custos com conservação são vistos como gastos e não como oportunidades. Muitos setores assumem que a contribuição dos investimentos em conservação tem impacto zero na economia. Um grande problema é a ineficiência na implementação e gestão das UCs. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação recebe cerca de R$ 450 milhões por ano, metade do mínimo necessário para a gestão e o funcionamento básico das unidades. Além desse custeio mínimo, calcula-se em R$ 1,8 bilhão o aporte necessário, em infraestrutura e planejamento, para que o potencial econômico das UCs seja aproveitado ao máximo. (IPEA, 2011)
5.6 Recursos hídricos
Inicialmente, é importante mencionar que:
Cerca de 97% de toda água de nosso planeta está concentrada nos oceanos, ou seja, é de água salgada. Portanto, sem levar em consideração a dessalinização, restam apenas 3% com potencial de uso pelos seres humanos. Desses 3%, aproximadamente, 2% estão armazenados sob a forma de gelo nas geleiras. Enfim, apenas 1% da água em nosso planeta está disponível para consumo humano através de reservas subterrâneas ou superficiais. O Brasil possui 12% de toda água doce superficial disponível no mundo, conferindo-lhe uma posição de destaque quanto à disponibilidade de recursos hídricos. (EMBRAPA, 2009, p. 44).
Embora a disponibilidade de água no Brasil seja uma das maiores do mundo, é
necessário garantir quantidade e qualidade para satisfazer as necessidades da geração
presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de satisfazer as suas
necessidades.
5.6.1 Recursos hídricos do Cerrado
Em relação aos recursos hídricos, o Cerrado é considerado por muitos como “berço das
águas” e como “caixa d’água” do Brasil. O primeiro termo se deve ao fato do Cerrado possuir
quase 20 mil nascentes, sendo que os principais rios brasileiros – com exceção do rio
Amazonas, que nasce no Peru – têm suas nascentes em áreas de Cerrado. Muitos consideram
o bioma como “caixa d’água” porque a região é responsável pela recarga dos aqüíferos
43
Bambuí, Urucuia e Guarani, e seis das oito maiores bacias hidrográficas nacionais (Figura 9)
– Amazônica, Tocantins-Araguaia, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste,
Paraná/Paraguai. (WWF-BRASIL, 2011a).
A região é cortada por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul –
Tocantins, São Francisco e Prata (rios Paraná, Paraguai e Uruguai). Segundo a Embrapa
(2009, p. 45), a bacia do rio São Francisco deve 94% da vazão em sua foz ao bioma Cerrado
enquanto a região hidrográfica Tocantins-Araguaia deve quase 71% da vazão que flui em seus
rios.
Figura 9 - As doze regiões hidrográficas brasileiras.
Fonte: Brasil (2011).
Há situações em que a participação desse bioma corresponde a mais de 100% do
volume total gerado na bacia, sendo o que ocorre na bacia do Paraguai, que engloba a região
do Pantanal, com 136%. A Embrapa (2009, p. 44) afirma que passa mais água dos rios do
Cerrado para o Pantanal do que o montante que o Pantanal transfere ao rio Paraguai e além
das bacias do Paraguai e do São Francisco, outras regiões hidrográficas possuem grande parte
44
de sua vazão gerada em área de Cerrado, como a do Parnaíba (106%), a do
Tocantins/Araguaia (70%) e a do Paraná (50%).
Toda essa riqueza do Cerrado, em relação aos recursos hídricos, se deve ao solo que, em
função do complexo sistema radicular da vegetação, é responsável pela absorção de até 80%
das águas pluviais da região, segundo a Embrapa (2004b, p. 11), que infiltram e formam três
dos maiores aquíferos subterrâneos do mundo – o Guarani, o Urucuia e o Bambuí. Eles se
encontram no coração do Cerrado e garantem fornecimento hídrico a milhões de pessoas.
Assim, importantes cidades dependem integral ou parcialmente dessas águas subterrâneas
para abastecimento público, como é o caso de Ribeirão Preto, no interior do Estado de São
Paulo.
5.6.2 Dependência das águas do Cerrado
Quanto aos recursos hídricos brasileiros, o Pantanal Matogrossense é o melhor exemplo
para caracterizar a importância do bioma Cerrado. “A exuberância natural, a alta
biodiversidade e a imensa planície de áreas alagáveis do Pantanal" dependem diretamente dos
recursos hídricos do Cerrado e estão ameaçadas pelos impactos ambientais adversos sofridos
pelo bioma, segundo a Embrapa (2009, p. 44). Isto porque os principais rios do Pantanal
nascem nos planaltos e nas chapadas do Cerrado.
O Cerrado contribui com a vazão que flui em oito das doze regiões hidrográficas
brasileiras, sendo fundamental para os rios Paraguai, Parnaíba, São Francisco e Tocantins-
Araguaia. De acordo com Embrapa (2009, p. 44), a área de domínio do Pantanal
Matogrossense está totalmente inserida na porção brasileira da região hidrográfica do rio
Paraguai, sendo que essa região também abriga áreas de domínio do Cerrado, cerca de 62%.
Ainda segundo a Embrapa (2009, p. 44), o Cerrado responde por quase 136% da vazão
produzida na região hidrográfica do rio Paraguai e, com esta estimativa, fica evidente a
dependência do Pantanal em relação aos recursos hídricos gerados no Cerrado. Isto porque a
vazão que cruza os limites do Cerrado em direção ao Pantanal, é aproximadamente 35%
maior do que a vazão que deixa o Brasil pelo rio Paraguai.
45
A EMBRAPA (2009, p. 44) esclarece que:
O balanço hídrico do Pantanal é negativo em relação à geração de vazão, sendo que a evapotranspiração (total de água perdida para a atmosfera) em sua área é superior a precipitação, provocando inclusive, o consumo de parte dos recursos hídricos superficiais provenientes do bioma Cerrado. Ou seja, no restante da bacia hidrográfica, não ocupada por Cerrado, a evapotranspiração é muito superior ao total precipitado na forma de chuva, provocando um grande déficit hídrico. É como se toda a precipitação nessa área fosse “consumida” pela evapotranspiração e, ainda, necessitasse de 35% a mais dos recursos hídricos superficiais vindos do Cerrado para suprir essa deficiência. Dessa forma, o Pantanal, que fica na parte mais baixa da região hidrográfica do Paraguai, funciona como um vasto reservatório raso e como grande espelho d’água, contribuindo de maneira significativa com a “perda” de água para a atmosfera por evaporação.
A região hidrográfica do rio Paraguai não é a única que depende diretamente dos
recursos hídricos do Cerrado e o déficit hídrico do Pantanal também ocorre na Caatinga, na
região hidrográfica do rio Parnaíba. Nessa região, o Cerrado está presente em
aproximadamente 66% de sua área e gera cerca de 106% da vazão média que o rio Parnaíba
lança no oceano, segundo a Embrapa (2009, p. 45).
Esses déficits hídricos ou balanços hídricos negativos ocorrem em função do total de
água pluvial precipitada, nas áreas não ocupadas pelo Cerrado, mas abastecidas por seus
recursos hídricos, ser inferior ao total de água evapotranspirada. Isso acontece basicamente
porque a região do Pantanal é muito plana e quente, e a região da Caatinga possui clima semi-
árido, fatores que favorecem a grande perda de água por evapotranspiração.
Ainda segundo EMBRAPA (2009, p. 45), na bacia do rio São Francisco, o Cerrado
contribui com 94% da vazão e, na região hidrográfica Tocantins-Araguaia, com quase 71% da
vazão que flui em seus rios.
A dependência dos recursos hídricos do Cerrado também afeta os outros quatro biomas
brasileiros, além do Pantanal e da Caatinga. Os Pampas gaúchos, a Floresta Amazônica e a
Mata Atlântica recebem ao menos uma fração de água originária de nascentes localizadas na
região do Cerrado e, conforme Sousa (1990), a existência desses cursos d’água, que ligam os
biomas, pode ter contribuído para a grande riqueza e endemismo observados no Cerrado. O
autor esclarece que “através dos rios, vários organismos dos mais variados biomas podem ter
encontrado caminho para migrar e colonizar as regiões mais centrais do nosso território”.
(SOUSA, 1990, p. 186).
46
Com grandes bacias e regiões dependentes dos recursos hídricos do Cerrado, fica a
impressão de que o bioma possui diversos rios de grande porte, o que não é verdade. Souza
(1990, p. 188) explica que o fato de ser uma região divisora de bacias traz como desvantagem
a escassez de rios de grande porte. O autor menciona o Planalto Central brasileiro que, por se
tratar de uma região de altitude elevada, quando comparado com o restante do país, apresenta
grande quantidade de nascentes e corpos hídricos de tamanho pequeno e intermediário.
Mesmo sem rios de grande porte, o Cerrado tem um considerável potencial turístico de
exploração de seus recursos hídricos. Souza (1990, p. 189) destaca que, “devido às
características de rios de planalto, é típica a ocorrência de perfis escalonados por zonas de
rápidas corredeiras, ou mesmo grandes quedas, formando as belíssimas cachoeiras que
despontam no Cerrado”. As condições favoráveis do solo, da topografia e do clima, fazem
com que a grande maioria dos cursos d’água tenha regime perene, o que também contribui
para o turismo e o lazer, como é o caso do rio Araguaia – um dos principais cursos d’água do
Cerrado brasileiro – que possui destinação turística nos quatro estados por ele banhados:
Goiás (GO), Mato Grosso (MT), Tocantins (TO) e Pará (PA). (SOUSA, 1990, p. 189).
Em síntese, os recursos hídricos do Cerrado são importantes para o abastecimento
público, para a agricultura e pecuária, para as indústrias, para o turismo, e também para a
geração de energia.
Com relação à geração de energia, o pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Enoch
Furquim Werneck Lima, estima que mais de 90% da população brasileira depende da energia
elétrica gerada, pelo menos em parte, com águas que se originam ou cortam o Cerrado
(CALDAS, 2009). O pesquisador afirma que importantes usinas hidrelétricas do País recebem
água do Cerrado, sendo que 70% das águas que passam nas turbinas de Tucuruí e a metade da
água que passa em Itaipu vêm do bioma e, no caso da usina hidrelétrica de Sobradinho – com
um dos maiores reservatórios do mundo – esse valor chega a quase 100%.
Substituir o Cerrado, por grandes monoculturas e áreas de pastagem, significa diminuir
diretamente a disponibilidade de água, para os mais variados fins, em quase todas as regiões
do país, sendo que, de acordo com Braga Júnior e Domingues (2008, p. 402), a agricultura é o
setor que mais consome água no Brasil (cerca de 70%).
47
5.6.3 Qualidade das águas do Cerrado
A agricultura praticada no Brasil, além de consumir grandes volumes de água, ainda
tem uma forte dependência da utilização de agrotóxicos, com a finalidade de controlar pragas
e doenças, garantindo taxas mais elevadas de produtividade e, consequentemente, maior
retorno econômico da atividade agrícola. Para a EMBRAPA (2009), no entanto, os
agrotóxicos podem apresentar alto grau de toxidade para os diversos organismos não-alvo,
incluindo os seres humanos. “Os agrotóxicos são aplicados diretamente nas plantas ou no
solo, mas estudos da Embrapa têm mostrado que, mesmo aqueles aplicados diretamente nas
plantas, têm como destino final o solo, sendo lavados das folhas através da ação da chuva ou
da água de irrigação”. (EMBRAPA, 2009, p. 43).
Após chegarem ao solo, produtos infiltram até as camadas mais profundas podendo atingir o lençol freático (reserva de água subterrânea). Este tipo de transporte dos agrotóxicos denomina-se de lixiviação. Outro tipo importante de transporte ocorre quando este ocorre na superfície do solo juntamente com a água das enxurradas, sendo denominado de escoamento superficial. Esses dois tipos de transporte podem levar à contaminação dos recursos hídricos por resíduos de agrotóxicos. A lixiviação é a principal forma de contaminação das águas subterrâneas, enquanto o escoamento superficial tem papel fundamental na contaminação das águas superficiais (rios, lagos, córregos, açudes, etc.). O uso de agrotóxicos sem afetar a qualidade dos recursos hídricos é um grande desafio, ainda mais quando se tem escassez de água potável. (EMBRAPA, 2009, p. 43-44).
Já em 1990, Rocha (1990) constatou o comprometimento parcial das águas superficiais
do Distrito Federal que, em termos de drenagem, não são abundantes. Naquela época era
grande a procura por águas subterrâneas, para suprir a demanda de água, contudo, “devido a
características hidrogeológicas da região, caracterizada pelo predomínio de rochas
metamórficas com fissuras estreitas”, o volume de água armazenada demonstrou-se pouco
significativo para o aproveitamento sistemático de aqüíferos. (ROCHA,1990, p. 461).
Outras áreas do Brasil central já sofrem as consequências dos impactos ambientais
adversos, com escassez de água e contaminação das águas superficiais e subterrâneas. Cabe
aqui ressaltar a importância de garantir água em quantidade e qualidade suficientes para
satisfazer as necessidades das gerações futuras.
48
5.7 Desertificação
Além do comprometimento na disponibilidade de água no Brasil, tanto em qualidade
quanto em quantidade, outro impacto ambiental adverso da destruição do Cerrado diz respeito
à desertificação.
Cabe salientar que os desertos naturais são ecossistemas que apresentam equilíbrio
ecológico e, mesmo que com baixa biodiversidade, são ambientes vivos. Já as áreas
desertificadas, ou seja, que sofreram o processo de desertificação por completo, são diferentes
dos desertos naturais porque passaram por um acentuado declínio de biodiversidade até se
tornarem ambientes que apresentam acentuadas condições de aridez e até mesmo extinção de
espécies de flora e fauna.
Algumas áreas sob domínio do Cerrado são suscetíveis aos processos de desertificação
(Figura 10) porque, depois de desmatados, os solos do Cerrado – ácidos e pobres em minerais
utilizáveis pelas plantas, com baixa fertilidade e altas concentrações de alumínio e ferro – sem
receber grandes investimentos em fertilizantes e corretivos agrícolas, se tornam estéreis, não
servindo para a agricultura e tão pouco para sustentar a vegetação nativa, devido aos impactos
ambientais adversos, de origem antrópica, que interferem intensamente na capacidade de
suporte destes ecossistemas.
Em estudo solicitado pelo Ministério do Meio Ambiente ao governo mineiro, concluído
em março de 2011, Veleda (2011, p. 2) ressalta que o desmatamento, a monocultura e a
pecuária intensiva, somados a condições climáticas adversas, empobreceram o solo de 142
municípios do Estado de Minas Gerais, existindo a possibilidade de um terço do território do
Estado (Figura 11) virar deserto em 20 anos. Se nada for feito para reverter o processo, de
acordo com o estudo, essas terras não terão mais uso econômico ou social, o que vai afetar
20% da população mineira. Neste cenário, cerca de 2,2 milhões de pessoas terão que deixar a
região norte do Estado e os vales do Mucuri e do Jequitinhonha.
49 Figura 10 – Áreas suscetíveis e áreas afetadas por processos de desertificação no Brasil, com detalhe
para o bioma Cerrado.
Fonte: Brasil (2011).
Segundo Veleda (2011, p. 2), o Governo do Estado de Minas Gerais afirma que é
preciso investir R$ 1,3 bilhão nas próximas décadas para frear o processo, que já causa danos
no semi-árido mineiro. Nesta região estão 88 das 142 cidades mineiras consideradas como
suscetíveis à desertificação. Para reduzir este fenômeno, é preciso aumentar as reservas
naturais de vegetação e recuperar os recursos hídricos.
50
Figura 11 – Áreas com risco de desertificação no Estado de Minas Gerais.
Fonte: Veleda (2011, p. 2)
5.8 Carbono
Outro importante recurso natural dos Cerrados é a biomassa e a grande reserva de
carbono, mantida pela mesma. As queimadas e a própria destruição dos cerrados resulta na
liberação do carbono contido na biomassa da vegetação o que pode ser relacionado com os
fenômenos Efeito Estufa e Aquecimento Global.
51
A maior parte da biomassa do Cerrado está no subsolo, sendo até 70%, dependendo da
vegetação dominante, segundo Castro e Kauffmann (1998, p. 272). Considerando as extensas
alterações nas paisagens do bioma, é esperado que tenham ocorrido alterações equivalentes no
estoque regional de carbono. Para Silva et al. (2004, p. 360), pastos plantados podem
acumular carbono se forem bem manejados mas, ao considerar a grande extensão das
pastagens degradadas, é possível que esse ambiente já não sirva mais como seqüestrador de
carbono atmosférico. Varella et al. (2004, p. 226) acrescenta que os fluxos de carbono dos
pastos plantados para a atmosfera são mais rápidos e sazonalmente mais variáveis do que
aqueles do Cerrado nativo.
Em geral, todo desmatamento de vegetação nativa provoca emissões de gases de efeito
estufa que poderiam ser evitadas a baixo custo. Para reduzir o desmatamento na Amazônia,
por exemplo, existem diversos programas e políticas, que são respostas à forte preocupação
nacional e, principalmente, internacional, em relação ao fenômeno Aquecimento Global.
No Cerrado, por outro lado, o desmatamento anual pode ser duas ou até três vezes maior
que na Amazônia, dependendo da referência. Em uma área total aproximadamente de
2.000.000 km², a média histórica de desmatamento de 1,5% ao ano, considerada por Machado
et al. (2004, p. 6), correspondendo a 30.000 km² desmatados por ano. Mesmo usando uma
taxa de 1,1% ao ano, considerada pela EMBRAPA (2011c), o total anual corresponde a cerca
de 22.000 km², ou seja, o dobro do desmatamento médio anual na Amazônia.
De acordo com as estimativas de Sano (2007), o total acumulado de desmatamento no
Cerrado é de cerca de 800.000 km² (39% da área total do bioma), número muito maior que o
total acumulado de desmatamento na Amazônia, tanto em termos absolutos quanto
proporcionais. Segundo Sawyer (2009, p. 150), o total acumulado do desmatamento na
Amazônia é de pouco mais de 700.000 km², cerca de 20% dos 3,6 milhões de km² do bioma.
Segundo o inventário brasileiro de gases de efeito estufa, entre 1988 e 1994 a Amazônia
deu origem a 151,7 TgC/ano, ou 60,5% das emissões brasileiras de carbono, por conversão de
florestas (BRASIL, 2004, p. 38). Cerca de 75% do total de emissões brasileiras era
consequência das mudanças no uso da terra, em todo território nacional.
Em 2007, em função da redução do desmatamento, Sawyer (2008) estima que a emissão
na Amazônia tenha diminuído para 111,7 TgC/ano e no Cerrado a emissão decorrente do
desmatamento de 22.000 km² seria de 99,9 TgC/ ano, cerca de 10% menor que na Amazônia.
52
Estes cálculos, no entanto, consideram apenas o carbono na biomassa aérea. Enquanto na
Amazônia, aproximadamente 21% da biomassa total é subterrânea (BRASIL, 2004, p. 25), no
Cerrado esta proporção é muito maior, da ordem de 70%, devido às raízes profundas (LAL,
2008). Assim, as emissões totais decorrentes do desmatamento do Cerrado certamente são
maiores que as emissões da Amazônia.
O sequestro de carbono na Amazônia, decorrente da regeneração da floresta, seria de
34,9 TgC/ano em 13.717 km²/ano, no período 1988-1994 (BRASIL, 2004, p. 38). No
Cerrado, segundo Sawyer (2009, p. 152), o sequestro natural seria de 2 t/ha/ano ou 200
t/km²/ano e, considerando uma área remanescente de 1 milhão de km², a taxa de sequestro de
carbono chegaria a 200 TgC/ano, sendo que essa taxa pode ser equiparada à taxa anual de
emissão de carbono por desmatamento dos dois biomas juntos.
A idéia não é desvalorizar a Floresta Amazônica, tão pouco menosprezar o valor
ambiental de sua imensa riqueza em biodiversidade e recursos naturais, ao contrário,
considera-se necessário proteger cada vez mais a Amazônia e seu patrimônio natural, porém,
não se pode ignorar as riquezas e o valor do bioma Cerrado.
O grande potencial de sequestro de carbono do Cerrado é limitado pe los incêndios e
queimadas frequentes. Segundo Sawyer (2009), o sequestro espontâneo seria maximizado se
as espécies lenhosas atingissem a idade adulta, mas muitas acabam sendo mortas pelo fogo
nos primeiros anos de vida. “Em sistemas tradicionais, o fogo é utilizado para manejo de
pasto e os freqüentes incêndios que escapam ao controle significam queimadas quase anuais
em grande parte do Cerrado”. (SAWYER, 2009, p. 152).
Em relação às queimadas, Barcellos (1996) chama a atenção para o fato de que, para a
formação das pastagens, “os cerrados são inicialmente limpos e queimados e, então, semeados
com gramíneas africanas, como Andropogon gayanus, Brachiaria brizantha, B. decumbens,
Hyparrhenia rufa e Melinis minutiflora”. (BARCELLOS, 1996, p. 132). As gramíneas
africanas são grandes agentes nas mudanças no Cerrado e uma das variedades mais utilizadas
é o capim-gordura (Melinis minutiflora) que, de acordo com Mack et al. (2000, p. 693), é
“altamente impactante para a biodiversidade e para o funcionamento dos ecossistemas”. A
substituição da vegetação rasteira dos cerrados, pelas gramíneas africanas, ocorre em função
de sua maior produtividade na formação de pastos e, nas áreas onde o capim-gordura se torna
abundante, a flora local é consideravelmente impactada.
53
De acordo com Berardi (1994, p. 97), essas gramíneas podem alcançar biomassas
extremamente elevadas e, quando secas, são altamente inflamáveis (Figura 12), iniciando uma
“interação gramíneas-fogo capaz de impedir o brotamento da vegetação nativa”.
Figura 12 – Incêndio em área de Cerrado.
Fonte: Pivello (2009, p. 2)
Incêndios em áreas dominadas pelo capim-gordura são “mais quentes, mais prolongados
e possuem chamas altas que podem alcançar o dossel das árvores”, segundo Klink e Machado
(2005, p. 151), sendo que “essas condições alteram a sucessão na superfície do solo e são
mais danosas para a fauna do solo e espécies fossoriais do que incêndios típicos da vegetação
do Cerrado”.
O fogo é geralmente usado para limpar terrenos e Klink e Machado (2005, p. 151)
estimaram que 67% da área queimada no Brasil, em 2000, era de Cerrado. Os incêndios e as
queimadas freqüentes afetam negativamente o estabelecimento e crescimento das árvores e
arbustos, além de liberar para a atmosfera dióxido de carbono (CO2) e outros ga ses
causadores do efeito estufa.
Em síntese, o Cerrado constitui uma reserva de carbono globalmente significativa e
Sawyer (2002, p. 286) ressalta “o fato de que os benefícios deste seqüestro são globais” e na
medida em que atenuam o efeito estufa, surgem oportunidades de “obtenção de créditos
internacionais dos países desenvolvidos, que encontram dificuldade para diminuir suas
emissões” de carbono.
54
Para isso, o Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, estabeleceu mecanismos de
desenvolvimento limpo (MDL) por meio dos quais os países em desenvolvimento – caso do
Brasil – podem receber créditos comercializáveis pelo seqüestro de carbono, desde que o
volume seja claramente quantificado. Sawyer (2002, p. 286) acrescenta que “trata-se de
transferências potenciais de bilhões de dólares” através da preservação do bioma Cerrado e
diminuição significativa e quantificada do desmatamento.
5.9 Alternativas
Nos tópicos anteriores já foram citadas algumas alternativas para o desenvolvimento
sustentável e preservação do bioma Cerrado, dentre elas, implementação de atividades nos
diferentes segmentos turísticos, criação de unidades de conservação e os créditos de carbono.
Todas essas alternativas, se bem desenvolvidas, podem gerar recursos em patamares bastante
significativos, podendo inclusive ser tratadas em conjunto, através de políticas estaduais e
nacionais, no que tange à gestão ambiental participativa.
Entre as Unidades de Conservação, seria estratégico constituir mosaicos contínuos de
áreas conservadas, constituídos por corredores ecológicos, interconectando manchas e
fragmentos de vegetação, de modo que assegurasse efetivamente a conexão entre elas, tendo o
turismo como fonte de recursos socioeconômicos e culturais, além de fator contribuinte para o
desenvolvimento local e regional, necessários para a fiscalização e a manutenção das UCs,
além de investimentos em desenvolvimento regional e pesquisas científicas.
Sawyer (2002, p. 285) faz a ressalva de que, “mesmo a conservação de 10% de um
bioma em áreas protegidas pontuais não resolveria os problemas de perda da biodiversidade e
muito menos os problemas dos recursos hídricos”. É preciso considerar áreas prioritárias para
a conservação e interligá-las, considerando também as Reservas Legais das propriedades
rurais e as Áreas de Preservação Permanente (margens de cursos d’água, encostas e topos de
morro), definidas no atual Código Florestal (BRASIL, 1965), assim como as Reservas
Indígenas.
Alternativas para gerar recursos mantendo o Cerrado preservado existem, mas como
preservar o bioma e, ao mesmo tempo, aumentar a produção de alimentos para de suprir a
crescente demanda regional, nacional e mundial?
55
5.9.1 Agropecuária empresarial
Para a produção agropecuária empresarial, a diretriz básica seria estimular a
sustentabilidade e desestimular a expansão da fronteira agrícola, aumentando a produtividade
das áreas já abertas. Segundo Sawyer (2002, p. 288), “a agropecuária intensiva gera os
recursos que podem ser utilizados para mitigar seus impactos de erosão, assoreamento e
poluição com agrotóxicos por meio de tecnologias específicas. Também deve haver
recuperação de áreas degradadas, conforme previsto no atual Código Florestal”.
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs), aliados ao Sistema de Plantio Direto (SPD), se
destacam entre as tecnologias com alto potencial produtivo agropecuário. De acordo com
Machado et al. (2009, p. 3), consistem “na integração de culturas com animais que buscam
aumentar a eficiência de uso da terra, diversificar a produção agrícola e melhorar a utilização
do solo, da água e do ambiente”. Esses sistemas, ainda segundo o autor, possibilitam “agregar
valor às áreas de produção e buscam o melhor equilíbrio entre os componentes
solo/planta/animal”. (MACHADO et al., p. 3).
O sistema silvipastoril é a associação de árvores, pastagem e/ou animais em uma mesma
área, manejados ao mesmo tempo. Machado et al. (2009, p. 5) explica que “a distribuição de
árvores na pastagem reduz a erosão, melhora a conservação de rios, córregos e nascentes,
captura e fixa carbono e nitrogênio, melhora a qualidade do pasto e proporciona conforto
térmico aos animais, com melhorias na produção de carne e leite”.
Nas pastagens com pouca ou nenhuma presença de árvores, os bovinos, principalmente os de origem européia e seus mestiços, apresentam desconforto térmico evidente e redução no tempo de pastejo durante o dia, principalmente em regiões quentes como a Norte Mineira. Dessa forma, as árvores, ao proporcionar em sombra, quebra-vento e abrigo, diminuem o estresse climático, com aumento na produção animal. A presença dos animais em sub-bosque de florestas plantadas é proposta como alternativa para controle de plantas daninhas, com baixo custo de utilização, quando comparado aos demais métodos de controle. É capaz de minimizar a competição dessas espécies com o componente arbóreo de interesse. Além dessa contribuição, os animais apresentam papel importante no processo de ciclagem de nutrientes no sistema, pois grande parte da biomassa que consomem retorna como fezes e urina ao solo, favorecendo a ciclagem de nutrientes. (MACHADO et al., 2009, p. 5).
O sistema agrossilvipastoril ou integração lavoura-pecuária-silvicultura consiste da
associação entre espécies arbóreas, culturas agrícolas e pastagem e/ou animais, com maior
56
aproveitamento da propriedade. Machado et al. (2009, p. 6) explica que o sistema possui
algumas tecnologias básicas a serem seguidas: “o sistema de plantio direto (SPD), a rotação
de cultivos, o uso de insumos e genótipos melhorados, o manejo correto das pastagens, a
escolha correta da espécie florestal, da cultura anual e a produção animal intensiva em
pastejo”.
Há, porém, muitas variações possíveis, dependendo do interesse de cada proprietário, podendo ser aplicadas para produção de leite ou carne, apenas para engorda ou para recria e produção de madeira e ser utilizado em pequenas, médias ou grandes propriedades. As razões para adoção do SPD são: controle da erosão; ganho de tempo para semeadura; economia de combustível; mão-de-obra em máquinas e implementos; melhor estabelecimento da cultura e maior retenção de água no solo. (MACHADO et al., 2009, p. 6).
O sistema de plantio direto (SPD) é um processo de “semeadura em solo não revolvido,
no qual a semente é colocada em sulco, ou covas, com largura e profundidade suficiente para
obter uma adequada cobertura e um adequado contato da semente com a terra”, relatam
Hernani e Melo Filho (2009, p. 9). Para os autores:
Os controles de pragas, doenças e ervas daninha são geralmente feitos por meio de métodos químicos, combinados ou não com práticas mecânicas e culturas específicas. Esse plantio é caracterizado pela semeadura realizada diretamente sobre os restos culturais do cultivo anterior, sem nenhum preparo do solo (aração e gradagem). Existe, portanto, maior permanência dos resíduos vegetais na superfície do solo, protegendo-o contra o processo erosivo no período entre dois cultivos. Além disso, quando o solo é manejado sob o plantio de forma adequada, ocorre acumulação de nutrientes e resíduos vegetais nas camadas mais superficiais, ocasionando, portanto, maior fertilidade do solo. Os benefícios estão na conservação dos recursos naturais, diminuindo significativamente a erosão, o assoreamento e a poluição de rios e represas. Com isso, preserva-se a biodiversidade do solo, da água e da superfície terrestre, condiciona-se o ambiente para a manutenção e, muitas vezes, para o aumento da produtividade agropecuária. (HERNANI; MELO FILHO, 2009, p. 13).
O sistema de rotação de culturas compreende o “cultivo planejado, em seqüência
cronológica, de diferentes espécies de plantas” e “implica na divisão da propriedade rural em
talhões e na diversificação de atividades”, segundo Hernani e Melo Filho (2009, p. 15).
Significa a possibilidade de ter-se, em uma mesma safra, pelo menos “duas culturas diferentes
no campo” e na “exigência de um período mínimo para retorno da mesma cultura a um dado
talhão/local”.
57
Devido aos seus efeitos sobre a qualidade ambiental, especialmente ao solo e à água, na diminuição da utilização de insumos agrícolas e de custos de produção, esta prática é a base sobre a qual se fundamenta o Sistema Plantio Direto – SPD. Através da rotação de culturas o SPD tem sua adoção e continuidade viabilizadas. Com a implantação de uma seqüência organizada de espécies vegetais, espera-se minimizar a infestação de pragas, plantas daninhas ou doenças, bem como os custos para seu controle, e maximizar receitas, diminuindo prejuízos decorrentes do monocultivo. Com a rotação é possível quebrar o ciclo de várias pragas e doenças, diminuindo assim os riscos de incidência desses organismos e conseqüentes danos às culturas. A diversificação de plantas com diferentes sistemas radiculares, capazes de explorar diferentes profundidades solo, com absorção e capacidade de reciclagem de elementos diversificadas, proporciona melhor equilíbrio dos nutrientes e incremento na qualidade e na atividade biológica do solo. A rotação permite, ainda, que através da reciclagem os resíduos de determinado cultivo que permanecem no solo beneficiem o desenvolvimento e o rendimento de cultivos posteriores, como exemplo: aveia e milho antes da soja; ervilha, nabo forrageiro ou mesmo a própria soja antes do milho; etc. (HERNANI; MELO FILHO, 2009, p. 16).
Outro sistema de produção que pode ser conduzido em Plantio Direto é conjugação da
lavoura com a pecuária. Havendo condições prévias pode-se, sem revolvimento do solo,
realizar a integração agricultura-pecuária, beneficiando a ambas as atividades. Hernani e Melo
Filho (2009, p. 15) esclarecem que “a palha que a pastagem bem manejada proporciona ao
sistema pode viabilizar o cultivo de lavouras em Plantio Direto em regiões onde o cultivo de
espécies anuais para a formação da palha é difícil”.
A pastagem proporciona um sistema radicular abundante, que melhora a estrutura do solo, e grande quantidade de resíduo de material orgânico que é mantido sobre a superfície. Estes, além dos efeitos na proteção do solo contra as intempéries (diminui o impacto das gotas da chuva e a incidência da radiação solar), se transformarão, com o processo de decomposição, em matéria orgânica do solo. Por sua vez, uma lavoura, principalmente de leguminosas, tem condições de incorporar ao solo o nitrogênio existente no ar, beneficiando, com isso, as pastagens subseqüentes. (HERNANI; MELO FILHO, 2009, p. 17).
Com relação à demanda por madeira, para os diversos usos, que é uma realidade em
grande parte do Brasil, Machado et al. (2009, p. 4) ressalta que plantios florestais, das
diversas espécies cultiváveis, são uma boa alternativa de renda para produtores rurais e faz a
seguinte ressalva:
Tendo em vista o caráter de longo prazo da atividade florestal, o cultivo de árvores em sistema de monocultura pode se tornar uma opção pouco viável do ponto de vista socioeconômico, quando comparado com outras atividades agrícolas que oferecem retornos em curto prazo.
58
A agrossilvicultura aparece como alternativa para o desenvolvimento florestal sustentável, uma vez que proporciona a diversificação da produção, possibilidade de obtenção de renda com o cultivo de espécies agrícolas durante o período de crescimento da floresta na mesma unidade de área e geração de empregos no campo. Adicionalmente, traz benefícios ambientais, como maior proteção do solo, regulação do regime hídrico e aumento da diversidade de espécies. Um exemplo de sistema agrossilvicultural é o cultivo do café orgânico sombreado, onde as árvores contribuem para melhoria da fertilidade do solo e a retenção de umidade ocasionada pela deposição da serrapilheira. Em cafezais algumas espécies podem ser utilizadas com alto potencial, como o coqueiro-da-Bahia (Cocos nucifera), o abacateiro (Persea americana), o sobraji (Colubrina sp.), o louro-pardo (Cordia tricotoma), a gliricídia (Gliricidia sepium), os ingás (Inga spp.), o jenipapo (Genipa americana), além de outras como pupunha (Bactris gasipaes), cacau, o palmiteiro ou juçara (Euterpe edulis), o açaizeiro (Euterpe oleraceae) e madeiras de lei, como o mogno (Swietenia macrophylla) e freijós (Cordia alliodora, Cordia
goeldiana). (MACHADO et al., 2009, p. 4).
5.9.2 Pequenos produtores
Para os pequenos produtores, Sawyer (2002, p. 289) afirma que os meios de vida
sustentáveis devem combinar agricultura e extrativismo, ou seja, uso sustentável da
biodiversidade, tanto flora quanto fauna, em especial quando a fauna se alimenta da flora
nativa.
O extrativismo pode parecer arcaico, seja porque pode ser destrutivo, quando esgota os recursos naturais, seja porque a baixa produtividade implica renda reduzida. Esta percepção precisa ser revista à luz do desenvolvimento sustentável. A atividade extrativista tem racionalidade econômica em terras marginais ou protegidas. Nos meios de vida sustentáveis, não se trata de ocupação extrativista, como era o caso do seringueiro clássico, totalmente especializado, mas de uma atividade complementar dentro de sistemas de produção familiares principalmente agrícolas, com baixo investimento. A diversificação é fundamental, para que se possa trabalhar com a biodiversidade, não contra. (SAWYER, 2002, p. 289).
Ainda segundo o autor, “os meios de vida sustentáveis fazem parte de sistemas
agroambientais integrados (SAI), que combinam atividades agrosilvopastoris e extrativas”.
(SAWYER, 2002, p. 289). Entre os exemplos de produtos desses sistemas, no Cerrado, o
autor destaca os seguintes:
59
Frutas: “consumidas frescas ou na forma de frutas secas, polpas congeladas, doces e licores. São inúmeras espécies frutíferas nativas, tais como araticum, cagaita, cajuzinho, mangaba, murici e pequi”;
Plantas medicinais : “as plantas medicinais nativas incluem angico, arnica, barbatimão, catuaba, copaíba, faveira e sucupira, entre outras. Além de serem importantes para o consumo local, contam com mercado nacional muito expressivo”.
Outras plantas: “plantas nativas do Cerrado podem ser aproveitadas para condimentos, corantes, pigmentos, óleos, repelentes, cosméticos, perfumes e produtos de higiene pessoal, entre outros usos possíveis. Estes produtos, inclusive, apresentam potencial para exportação para países desenvolvidos”.
Criação de animais silvestres: “as principais espécies no Cerrado são cateto, queixada, capivara, ema, tartaruga e jacaré. A criação semi-extensiva, em que os animais se alimentam da biodiversidade nativa, com ração apenas complementar, é uma das formas mais viáveis de criação, que também permite manter o Cerrado em pé”.
Apicultura: “a criação de abelhas oferece oportunidades de geração de renda com benefícios ecossistêmicos, uma vez que o mercado de mel está estabelecido e as abelhas precisam de flora variada e água limpa e não toleram queimadas”.
5.9.3 Diminuição de perdas e desperdícios
Mesmo com alternativas de geração de renda e de aumento na produção de alimentos,
sem aumentar as áreas desmatadas no Cerrado, a questão em relação à capacidade de suprir a
demanda futura de alimentos fica em aberto. Para suprir essa demanda torna-se necessário que
as ações e políticas também levem em consideração a diminuição das perdas e dos
desperdícios em todas as etapas, desde o preparo de solo para o cultivo, até a preparação dos
alimentos pela população.
O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo e, segundo
Carvalho (2009, p. 50), cerca de 35% de toda a produção agrícola do país vai para o lixo.
“Isso significa que mais de 10 milhões de toneladas de alimentos poderiam estar na mesa dos
54 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza”. O autor ainda afirma que
“em todo o mundo, são R$ 12 bilhões em alimentos jogados fora diariamente, uma quantidade
suficiente para garantir café da manhã, almoço e jantar para 39 milhões de pessoas”,
(CARVALHO, 2009, p. 50):
60
Uma família brasileira desperdiça, em média, 20% dos alimentos que compra no período de uma semana. Em valores, isso representa US$ 1 bilhão, dinheiro suficiente para alimentar 500 mil famílias. Além das pessoas que poderiam ser alimentadas com o que vai para o lixo, desperdiçar significa prejuízo financeiro. Todos os alimentos não aproveitados ao longo da cadeia produtiva representam 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, um rombo de R$ 17,25 bilhões de reais no faturamento do setor agropecuário. (CARVALHO, 2009, p. 50).
Carvalho (2009, p. 50) lembra que, em 2005, o IBGE analisou os índices de perdas do
plantio à pré-colheita dos principais grãos cultivados no país, entre 1996 e 2002, tais como
arroz, feijão, milho, soja e trigo. Tal pesquisa (IBGE, 2005) apontou estimativa feita pela
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de que as perdas de grãos giravam em torno
de 10% da produção, o equivalente a 9,8 milhões de toneladas, considerando números da safra
2000/2001. A Conab indicou como alternativa o financiamento de armazéns nas próprias
fazendas – muito comum nos países desenvolvidos – reduzindo a manipulação do produto,
que passa a ser transportado apenas uma vez, para a indústria de beneficiamento ou para o
varejo.
A “falta de qualificação e tecnificação no campo” foi outra realidade apontada pela
pesquisa do IBGE (2005), sendo que “o prejuízo começa muito antes da perda física,
relacionada ao produto que fica pelo caminho antes da comercialização ”. No plantio, por
exemplo, foi verificado que o “uso de sementes de baixa qualidade” ou a “escolha de
variedades não recomendadas para as condições de clima da região ” e a “falta de preparo
correto do solo” representam grandes perdas nas lavouras, antes e depois da colheita dos
produtos.
Já na fase de colheita, ocorrem as maiores perdas, sendo que e os motivos são diversos,
segundo o IBGE (2005). Como exemplo, a “falta de regulação, operação e manutenção
adequadas das colheitadeiras” ou “equívocos na identificação do grau de maturação do
produto”.
Para Carvalho (2009, p. 51), as dificuldades se repetem na pós-colheita devido à “falta
infraestrutura na rede de armazenagem e no transporte da produção brasileira”, sendo que,
nessa fase, “os estragos podem ocorrer tanto do ponto de vista físico, como da qualidade do
produto”.
61
Havendo uma significativa redução das perdas, nas diversas etapas de produção e
transporte, e investimentos na conscientização e na educação da população, para o consumo
racional e aproveitamento máximo dos alimentos, será possível oferecer mais produtos para o
mercado interno, barateando os preços, e também exportar mais.
.
62
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Todas as transformações ocorridas nas áreas de cerrados, causadas pela expansão das
fronteiras do agronegócio, acarretaram impactos ambientais adversos, tais como: degradação
e fragmentação de ecossistemas; desencadeamento de processos de desertificação em algumas
áreas; extinção de espécies nativas e invasão de espécies exóticas; erosão dos solos e poluição
de aqüíferos e de corpos d’água; e alteração no regime natural de incêndios e desequilíbrios
no ciclo do carbono.
A população mundial já atingiu a casa dos 7 bilhões e as estimativas são de crescimento
contínuo nos próximos 80-90 anos (ONU, 2011). Diante da grande pressão exercida pela
demanda por alimentos e também por biocombustíveis, o aumento da produção agrícola no
Brasil se torna tanto inevitável quanto necessário. E não há dúvidas que o desenvolvimento
social e econômico do Cerrado é importante para o país, haja vista que a região contribui com
nada menos do que 25% do Produto Interno Bruto-PIB do Brasil, segundo Diniz et al. (2010,
p. 9).
A questão chave é: como será obtido o aumento necessário da produção agrícola nas
áreas de cerrado do Brasil?
Sendo simplesmente através do aumento da área produtiva, os impactos nos
ecossistemas naturais e no ciclo hidrológico do Cerrado serão devastadores. É preciso buscar
alternativas de compatibilização do uso do Cerrado com sua conservação, garantindo o uso
racional e sustentável e a preservação de seus recursos naturais, otimizando os processos
agrícolas, investindo em novas tecnologias e metodologias, minimizando as perdas e
desperdícios, e reeducando a população.
Para conservar e preservar o patrimônio natural do Cerrado é necessário identificar e
divulgar a riqueza de sua biota, de seus ecossistemas nas diferentes regiões e de seus recursos
naturais. Para isso, é preciso analisar o bioma através de uma visão holística e
multidisciplinar, levando em consideração a biodiversidade, os recursos hídricos, o clima, as
interdependências com outros biomas, além de toda dinâmica socioeconômica.
É preciso basear-se não apenas nos dados quantitativos das pesquisas, mas também nos
princípios éticos presentes na relação sociedade/natureza. Muitos autores procuram na ética
ambiental, novos fundamentos em favor da preservação das espécies e da conservação de seus
63
respectivos biomas. Ehrenfeld (1997, p. 271) afirma que “o valor é uma qualidade intrínseca
da diversidade, não dependendo das propriedades das espécies em questão, ou dos usos
particulares que delas se façam ou não se façam, mas do seu papel fundamental no equilíbrio
dos ecossistemas”
As pesquisas, trabalhos e estudos sobre valoração econômica dos recursos ambientais
vêm recebendo crescente atenção na literatura sobre economia ecológica e economia
ambiental e dos recursos naturais. Segundo a EMBRAPA (2011d, p. 1):
Dentre as razões fundamentais para o crescimento desta área de investigação destaca-se o fato de que a valoração, ao contribuir para o processo de tomada de decisão dos agentes econômicos e políticos, permite identificar os custos e benefícios, econômicos e sociais, individuais e coletivos relativos ao uso do recurso ambiental. Contribui, desta forma, como mais uma variável auxiliar para o processo de tomada de decisão quanto ao manejo adequado dos bens e serviços ambientais.
A EMBRAPA (2011d, p. 1) afirma ainda que “a valoração econômica dos recursos
naturais, dos custos e benefícios da preservação e da conservação ambiental podem ser úteis
para diferentes níveis de gestão ambiental”.
Um estudo recente sobre valoração ambiental do Cerrado foi realizado por Romacheli e
Spinola (2011). Os autores, ao analisarem o cerrado goiano e especificamente a formação
Cerrado Típico, afirmaram:
Considerando todos os custos estimados para as atividades operacionais, insumos e técnicos, a recuperação/restauração da formação de Cerrado Típico, tem-se um valor total de R$ 7.037,58 (sete mil e trinta e sete reais e cinquenta e oito centavos) por hectare. Deve-se considerar ainda, que a vegetação, conforme seu estabelecimento e crescimento fornecerão as condições de regulação similares ao que era ofertado pela natureza antes da intervenção humana. Os serviços ambientais como: a purificação do ar, o controle da erosão e enchentes, a oferta de água, os habitats, dentre outros, serão restabelecidos, claro que parcialmente, já que o meio não volta mais as condições originais. Observando a situação de preservação/degradação da área, estima-se que esta nova vegetação reposta, demoraria certo tempo para oferecer serviços ambientais similares aos atuais. Isso implica em uma redução do bem-estar, que também deve ser compensada e compõe o valor de uso indireto do bem. (ROMACHELI; SPINOLA, 2011, p. 8).
Os mesmos autores, com relação aos “serviços de regulação prestados pelo bioma”
(ROMACHELI; SPINOLA, 2011, p. 9), afirmaram ainda:
64
Considerando a área de um hectare, e a cotação do dólar comercial a R$ 1,566, em 20 de julho de 2011 (Banco Central do Brasil), a área de Cerrado estudada, deixará de oferecer, até o sétimo ano, o valor de R$ 3.961,12 (três mil, novecentos e sessenta e um reais e doze centavos). Somando então, todos os valores apurados neste artigo, entende-se que o valor estimado do Cerrado Típico é de R$ 10.998,70 (dez mil, novecentos e noventa e oito reais e setenta centavos) por hectare. (ROMACHELI; SPINOLA, 2011, p. 9).
Romacheli e Spinola (2011) concluem que:
Calcular o valor do serviço prestado pelo meio ambiente é uma tarefa de extrema importância quando se trata de decisões públicas [...]. O valor estimado [...] possibilita que o agente público tenha uma base de referência, para instituir valores a serem pagos pelo uso do bem (multas por crimes ambientais ou pagamento de compensação ambiental), e ainda permite analisar os benefícios financeiros da preservação em relação ao custo da degradação, contribuindo para decisões sobre instalações de novos projetos ou a criação de áreas protegidas. [...] a utilização das ferramentas da economia em cálculos do valor do bem ambiental promove um aprimoramento da ética e a proposição de decisões mais adequadas em relação ao uso do serviço prestado pela natureza. (ROMACHELI; SPINOLA, 2011, p. 9).
Também deve-se levar em consideração que a biodiversidade não tem apenas valor
biológico e material, e as espécies não podem ser vistas como objetos. E a ciência ainda não
revelou todo o potencial existente neste bioma, mas os poucos dados disponíveis já indicam
significativo potencial futuro para algumas espécies, além da importância no equilíbrio do
bioma.
Considera-se ainda que frear totalmente o processo de expansão do agronegócio, para
garantir a total integridade e preservação do bioma Cerrado, é inviável, do ponto de vista
socioeconômico. Entretanto, com políticas públicas e governamentais, seria possível a
ocupação plena, intensiva e racional da região dos cerrados brasileiros, aumentando
significativamente a produção atual, sem aumentar a área desmatada. Para isso, necessita-se
de suprimento adequado de insumos básicos, mão-de-obra especializada, maquinário, crédito,
bem como facilidades maiores de armazenamento e escoamento das safras.
As Unidades de Conservação, o turismo e o mercado de créditos de carbono, se bem
desenvolvidos e de forma conjunta, podem gerar os recursos necessários para grandes
investimentos no aumento da produtividade das áreas de Cerrado já ocupadas pela
agropecuária.
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Primeiramente, recomenda-se a elaboração de novos estudos e pesquisas focados na
preservação das áreas de cerrado. Ainda não há estudos completos de valoração ambiental do
bioma, que considerem todos os temas abordados neste trabalho e outras questões
importantes. Apenas com estudos aprofundados e bem embasados poderão ocorrer as
mobilizações necessárias para que a situação atual não tenha continuidade.
Recomenda-se a criação de novas unidades de conservação e a adequação das unidades
existentes nas áreas de cerrados, sobretudo nas áreas prioritárias para conservação da
biodiversidade, com atenção especial para a formação de corredores ecológicos, considerando
as relações de interface do Cerrado com outros biomas. O próprio Ministério do Meio
Ambiente, no relatório sobre a biodiversidade brasileira de 2002, reconhece que “as Unidades
de Conservação do Cerrado são mal distribuídas quanto às categorias de manejo, à
representação geográfica das regiões e dos estados, quanto ao tamanho das unidades e à
representatividade da enorme heterogeneidade regional do bioma”. (BRASIL, 2002, p. 201).
Recomenda-se também que haja maiores investimentos em pesquisas que indiquem
caminhos sustentáveis para os modelos de crescimento agrícola e populacional, com possíveis
medidas de políticas públicas, para conservar e preservar os sistemas naturais em níveis
compatíveis com a sustentabilidade econômica e social.
Assim, procurando entender o complexo equilíbrio entre desenvolvimento e
sustentabilidade ambiental, tem-se o desafio de debater e encontrar soluções, a curto, médio e
longo prazo, que resultem em práticas e ações efetivas, para garantir a conservação e a
preservação da biodiversidade e dos recursos naturais dos cerrados.
66
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ANEXO A – Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de
Extinção pertencentes ao bioma Cerrado e áreas de transição entre o
Cerrado e outros biomas.
Qtd. Família Espécie Unidades da
Federação
Bioma
1 Acanthaceae Staurogyne veronicifolia MG Cerrado
2 Acanthaceae Staurogyne warmingiana MG Cerrado
3 Amaranthaceae Gomphrena hatschbachiana BA Cerrado
4 Amaranthaceae Pfaffia argyrea MG Cerrado
5 Amaranthaceae Pfaffia minarum MG Cerrado
6 Amaranthaceae Pfaffia townsendii GO Cerrado
7 Amary llidaceae Griffinia liboniana BA, MG Cerrado / Mata
Atlântica
8 Anacardiaceae Myracrodruon urundeuva (Aroeira-do-
sertão)
BA, DF, GO,
MA, MG, MS,
MT, SP
Cerrado /
Caatinga
9 Anacardiaceae Schinopsis brasiliensis BA, CE, DF,
GO, MA, MG,
MS, PI, TO
Cerrado /
Caatinga
10 Apocynaceae Cynanchum morrenioides BA Cerrado /
Caatinga
11 Apocynaceae Metastelma harleyi BA Cerrado
12 Arecaceae Acanthococos emensis MG, SP Cerrado
13 Arecaceae Attalea barreirensis (Catolé) BA Cerrado
14 Arecaceae Attalea brasiliensis DF Cerrado
15 Aspleniaceae Asplenium schwackei MG Cerrado
16 Asteraceae Anteremanthus hatschbachii MG Cerrado
17 Asteraceae Aspilia pohlii GO Cerrado
18 Asteraceae Lychnophora ericoides (Arnica, arnica-
da-serra)
GO, MG, SP Cerrado
19 Asteraceae Viguiera aspilioides PR Cerrado
20 Asteraceae Viguiera corumbensis MS, MT Cerrado
21 Asteraceae Viguiera hilairei MG Cerrado
22 Bignoniaceae Jacaranda intricata GO Cerrado
23 Cactaceae Arthrocereus melanurus ssp odurus MG Cerrado
24 Cactaceae Arthrocereus rondonianus MG Cerrado
25 Cactaceae Brasilicereus markgrafii MG Caatinga /
Cerrado
26 Cactaceae Cipocereus crassisepalus MG Cerrado
27 Cactaceae Cipocereus laniflorus MG Cerrado / Mata
Atlântica
28 Cactaceae Cipocereus pusilliflorus MG Caatinga /
Cerrado
75
29 Cactaceae Discocactus horstii MG Caatinga /
Cerrado
30 Cactaceae Echinopsis calochlora MS Cerrado /
Pantanal
31 Cactaceae Micranthocereus auriazureus MG Caatinga /
Cerrado
32 Cactaceae Pilosocereus aurisetus ssp. Aurilanatus MG Cerrado
33 Cactaceae Uebelmannia buiningii MG Cerrado
34 Cactaceae Uebelmannia gummifera MG Cerrado
35 Cactaceae Uebelmannia pectinifera ssp. pectinifera MG Cerrado
36 Celastraceae Maytenus rupestris MG Cerrado
37 Connaraceae Rourea pseudospadicea SP Cerrado / Mata
Atlântica
38 Convolvulaceae Ipomoea macedoi MG Cerrado
39 Cyperaceae Bulbostylis distichoides BA Cerrado
40 Cyperaceae Bulbostylis smithii MG Cerrado
41 Eriocaulaceae Actinocephalus cipoensis* MG Cerrado
42 Eriocaulaceae Actinocephalus claussenianus MG Cerrado
43 Eriocaulaceae Paepalanthus crinitus MG Cerrado
44 Eriocaulaceae Paepalanthus extremensis MG Cerrado
45 Eriocaulaceae Paepalanthus hydra MG Cerrado
46 Eriocaulaceae Paepalanthus rhizomatosus MG Cerrado
47 Eriocaulaceae Paepalanthus scytophyllus MG Cerrado
48 Eriocaulaceae Syngonanthus brasiliana (Brasiliana) MG Cerrado
49 Eriocaulaceae Syngonanthus elegans (Sempre-viva,
sempre-vivapé-de-ouro)
MG Cerrado
50 Eriocaulaceae Syngonanthus magnificus(Sempre-viva-
gigante)
MG Cerrado
51 Eriocaulaceae Syngonantus suberosus (Margarida) MG Cerrado
52 Fabaceae Dimorphandra wilsonii (Faveiro-de-
wilson)
MG Cerrado
53 Fabaceae Mimosa heringeri GO Cerrado
54 Fabaceae Mimosa humifusa MG Cerrado
55 Fabaceae Mimosa montiscarasae MG Cerrado
56 Fabaceae Mimosa pabstiana MG Cerrado
57 Fabaceae Mimosa suburbana GO Cerrado
58 Iridaceae Pseudotrimezia elegans MG Cerrado
59 Iridaceae Pseudotrimezia gracilis MG Cerrado
60 Iridaceae Pseudotrimezia synandra MG Cerrado
61 Iridaceae Pseudotrimezia tenuissima MG Cerrado
76
62 Iridaceae Trimezia fistulosa var. fistulosa
(Trimesia-chifre-de-bode)
MG Cerrado
63 Iridaceae Trimezia fistulosa var. longifolia
(Trimesia-chifre-de-bode)
MG Cerrado
64 Iridaceae Trimezia pusilla GO Cerrado
65 Lamiaceae Eriope machrisae GO Cerrado
66 Lamiaceae Hyptidendron claussenii MG Cerrado
67 Lamiaceae Hyptis arenaria TO Cerrado
68 Lamiaceae Hyptis frondosa MT Cerrado
69 Lamiaceae Hyptis imbricatiformis GO Cerrado
70 Lamiaceae Hyptis pachyphylla GO Cerrado
71 Lamiaceae Hyptis penaeoides GO Cerrado
72 Lamiaceae Hyptis rhypidiophylla MG Cerrado
73 Lamiaceae Hyptis tagetifolia GO Cerrado
74 Lauraceae Ocotea langsdorffii BA, MG Cerrado
75 Lentibulariaceae Utricularia biovularioides GO Cerrado
76 Loganiaceae Spigelia aceifolia MG Cerrado
77 Loganiaceae Spigelia cipoensis MG Cerrado
78 Lycopodiaceae Huperzia aqualupiana MG Cerrado
79 Lycopodiaceae Huperzia rubra BA, MG Cerrado
80 Lythraceae Cuphea adenophylla MG Cerrado
81 Lythraceae Cuphea cipoensis MG Cerrado
82 Lythraceae Cuphea teleandra MG Cerrado
83 Lythraceae Diplusodon ericoides GO Cerrado
84 Lythraceae Diplusodon glaziovii MG Cerrado
85 Lythraceae Diplusodon gracilis TO Cerrado
86 Lythraceae Diplusodon hatschbachii GO Cerrado
87 Lythraceae Diplusodon minasensis MG Cerrado
88 Lythraceae Diplusodon panniculatus GO Cerrado
89 Lythraceae Diplusodon retroimbricatus GO Cerrado
90 Lythraceae Diplusodon vidalii MG Cerrado
91 Malpighiaceae Aspicarpa harleyi BA Cerrado
92 Melastomataceae Cambessedesia hermogenesii BA Cerrado
93 Melastomataceae Lavoisiera itambana MG Cerrado
94 Melastomataceae Marcetia oxycoccoides BA Cerrado
95 Melastomataceae Ossaea warmingiana DF, MG Cerrado
96 Melastomataceae Tibouchina bergiana MG Cerrado
97 Orchidaceae Constantia cipoensis MG Cerrado
98 Orchidaceae Constantia microscopica MG Cerrado
99 Orchidaceae Habenaria itacolumia MG Cerrado
100 Orchidaceae Phragmipedium vittatum (Sapatinho) DF, GO, MG,
PR, RJ, SP
Cerrado / Mata
Atlântica
101 Orchidaceae Pseudolaelia cipoensis MG Cerrado
102 Orchidaceae Scuticaria itirapinensis SP Cerrado
103 Orchidaceae Sophronitis brevipedunculata MG Cerrado
77
104 Orchidaceae Sophronitis endsfeldzii MG Cerrado
105 Orchidaceae Sophronitis jongheana (Lélia) MG Cerrado / Mata
Atlântica
106 Passifloraceae Passiflora saccoi MG Cerrado
107 Plantaginaceae Angelonia alternifolia TO Cerrado
108 Poaceae Gymnopogon doellii DF, GO, MG Cerrado
109 Poaceae Panicum brachystachyum MG Cerrado
110 Poaceae Paspalum biaristatum GO Cerrado
111 Poaceae Paspalum longiaristatum GO Cerrado
112 Poaceae Paspalum niquelandiae GO Cerrado
113 Polygalaceae Polygala franchetii DF, GO Cerrado
114 Pteridaceae Eriosorus flexuosus MG, SP Cerrado / Mata
Atlântica
115 Pteridaceae Pellaea gleichenioides MG Cerrado
116 Rubiaceae Galianthe souzae SP Cerrado
117 Rubiaceae Hindsia ibitipocensis MG Cerrado
118 Rubiaceae Mitracarpus rigidifolius BA Cerrado
119 Rubiaceae Staelia hatschbachii MG Cerrado
120 Rutaceae Pilocarpus microphyllus (Jaborandi-
legitimo, jaborandi-do-maranhão)
PA, MA, PI Cerrado
121 Rutaceae Pilocarpus trachylophus (Jaborandi-do-
ceará, arrudado-mato)
BA, CE, MG Cerrado
122 Sapindaceae Talisia subalbens (Cascudo) MT Cerrado
123 Solanaceae Cestrum tubulosum SP Cerrado
124 Verbenaceae Stachytarpheta procumbens MG Cerrado
125 Vitaceae Cissus inundata MG Cerrado
126 Xyridaceae Xyris cipoensis (Coroinha) MG Cerrado
127 Xyridaceae Xyris coutensis (Cacau, coroa-cacau) MG Cerrado
128 Xyridaceae Xyris hystrix (Coroa) MG Cerrado
129 Xyridaceae Xyris nigricans (Coroa) MG Cerrado
130 Xyridaceae Xyris phaeocephala BA Cerrado
131 Xyridaceae Xyris platystachya MG Cerrado
132 Xyridaceae Xyris retrorsifimbriata BA Cerrado
* Presumivelmente extinta
Fonte: Brasil (2008, p. 3-23), adaptação nossa.
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ANEXO B - Fitofisionomias do bioma Cerrado.
Fonte: WWF-Brasil (2011c).
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