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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
AS REDES DE APOIO SOCIAL, PODER, GÊNERO E
VULNERABILIDADE DE MULHERES RURAIS – O CASO DO
LITORAL OCIDENTAL MARANHENCE E A BAIXADA
MARANHENSE.
Neuzeli Maria de Almeida Pinto1
Daiana Roberta Silva Gomes2
Maria Mary Ferreira3
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar as redes de apoio social, o poder e os padrões de
atividades, experenciadas pelas mulheres trabalhadoras rurais nos contextos em que estão envolvidas.
Destacando a estrutura do microssistema, no qual os processos proximais operam para produzir e sustentar o
desenvolvimento das mesmas e nos possíveis impactos dessas mudanças e vulnerabilidade entre outros
componentes de sua rede de apoio social e seu empoderamento. Identificando como as redes de apoio se
organizam para fins de estruturação das relações familiares, do empoderamento e da executa das atividades das
mulheres no sistema comunitário como todo. Participam da pesquisa 14 mulheres da comunidade do Litoral
Ocidental Maranhense, da comunidade de Itamatatiua/Alcântara e na comunidade de Agrovila/Palemirândia.
Para avaliar a importancia da rede de apoio, a vulnerabilidade e o empoderamento destas mulheres em suas
familias, no trabalho e na comunidade estão sendo utilizados o inventário sócio demográfico (ISD) e a entrevista
semiestruturada (ESE) e o Mapa de Cinco Campos (M5C). Em análise, pôde-se constatar a presença de uma
veemente rede de relações de apoio social dentro das comunidades, contribuindo assim para o melhor
desenvolvimento das atividades realizadas pelas mulheres, minizar a vulnerabilidade, além de auxiliar o processo
de empoderamento, o qual se analisa tendo grande destaque quando se trata do sentimento que conduz o trabalho
realizado por estas mulheres.
Palavras-chave: Mulheres, gênero, Rede de apoio social, poder, Trabalho Rural.
1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como foco a analise redes de apoio social, o poder e os padrões de
atividades, experenciadas pelas mulheres trabalhadoras rurais nos vários contextos de
convivência em que estão presentes em comunidades rurais da Baixada Maranhense, Litoral
Ocidental Maranhense. Destacando a estrutura do microssistema, no qual os processos
proximais operam para produzir e sustentar o desenvolvimento das mesmas e nos possíveis
impactos dessas mudanças entre outros componentes das relações de gênero que essas
mulheres mantêm no âmbito doméstico, de trabalho e na comunidade.
As regiões onde se realizaram os estudos trata-se de regiões que ostenta baixos
índices de desenvolvimento humano e consequente dificuldade destas mulheres de
sobressaírem de forma positiva como mantenedoras das relações familiares e na atuação no
1 Professora Doutora, na Universidade Estadual do Maranhão. 2 Pós-Graduanda na Universidade Estadual de Santa Catarina. 3 Professora Doutora, na Universidade Federal do Maranhão.
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mercado formal de trabalho. Em função da participação ativa das mulheres nas atividades
domésticas, no processo do trabalho rural e em movimentos comunitários, procurar-se-á
identificar como as relações de gênero se constituem e são organizadas para fins de
estruturação das relações familiares, a execução das atividades e o papel das mulheres no
sistema comunitário como todo. Assim como se estrutura, as suas vulnerabilidades e o
empoderamento nestas relações. Supõe-se que esses fatores integram entre si relações e
constituem desafios os quais se concretizam no cotidiano.
1.1 Mulher, Vulnerabilidade e Trabalho.
Os vários processos e tendências vividos na contemporaneidade - as novas
tecnologias, as mudanças na forma de produção, o processo de globalização e o
enfraquecimento dos laços afetivos, entre outros - trouxeram transformações marcantes para o
tecido das relações sociais no cotidiano das mulheres. O tempo dedicado hoje ao convívio
familiar diminuiu intensamente, enquanto o dedicado ao trabalho aumentou
consideravelmente (Bruschini, 2000).
Por maiores que tenham sido tais mudanças, na sociedade atual, o espaço do lar e da
família continua sendo um território prioritariamente feminino. De fato, as transformações na
sociedade contemporânea acarretaram alterações muito restritas no papel social da mulher. Ao
antigo modelo de mãe e esposa - foi apenas adicionado outro - o de trabalhadora, e as
mulheres encontram-se, assim, atualmente, divididas entre os seus múltiplos papeis, buscando
o melhor modo de conciliação entre eles. Segundo Goldenberg (2000), o que vivemos hoje
não é simplesmente uma ruptura com o passado, mas a convivência de novas visões com
antigos estereótipos e a transformação gradativa dos papeis sociais femininos (Pacheco, 1994;
2001; Rocha-Coutinho, 1998; Vaitsman, 2001).
Por outro lado, o trabalho doméstico da mulher é socialmente desvalorizado como não
produtora de valor social; não se revela o fato de que seu trabalho é indispensável para a
reprodução social. Some-se a isto o fato de que o trabalho feminino ainda tem frequentemente
uma conotação de “ajuda” para a economia doméstica, sendo a dupla jornada vista como um
fenômeno natural e não como agregação de trabalho (Bruschini, 2000; Alves, 1981).
Quando falamos da conquista das mulheres do espaço público do trabalho sabe-se que
os contextos não foram simplesmente cedidos, e sim conquistados pela força crescente da luta
feminista no país. Mas nem só de violência, de estupros, de abusos, de leis absurdas e de falta
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de representação se fazem as desigualdades de gênero. Muito mais sutilmente, das mais
diversas maneiras, elas estão sempre presentes na vida cotidiana das mulheres, inclusive em
suas atividades mais corriqueiras o que coloca as mulheres em condição de grande
vulnerabilidade.
Manifestam-se de forma muito marcante na divisão desigual dos afazeres domésticos e
de cuidados nos lares brasileiros. Uma enorme massa de trabalho, fundamental para a
sustentabilidade da vida humana, é invisibilizada e tratada como uma obrigação natural
feminina. Ao estudar os usos do tempo de mulheres ribeirinhas Pinto, Pontes e Silva (2015),
percebe-se claramente o peso muito maior das atividades domésticas no dia a dia das
mulheres. Em particular das mulheres pobres – que não têm recursos para externalizar essas
atividades e vivem em locais de pouco acesso a serviços públicos. De acordo com os dados da
PNAD de 2013, apenas 46% dos homens ocupados têm alguma participação nos afazeres
domésticos, em contraste com o percentual de mulheres, que chega a 88%. Eles gastam em
média 9,8 horas por semana em atividades domésticas, enquanto elas dedicam 20,6 horas.
Esses dados confirmam que, mesmo que as mulheres tenham jornadas remuneradas mais
curtas, sua carga total é maior, o que significa que elas realizam longas horas de trabalho
gratuito e sem reconhecimento social.
A inserção feminina no mercado de trabalho é bastante afetada por essa distribuição
do tempo injusta, mas naturalizada. As obrigações familiares fazem com que algumas
mulheres “decidam” trabalhar meio período ou se ausentar do mercado quando as cargas se
tornam pesadas demais; “optem” por trabalhar em casa para estar mais próximas das pessoas
dependentes. Esses rumos podem resultar em uma perda de autonomia pessoal e econômica,
assim como na diminuição das possibilidades de promoção laboral (Pinto, Pontes e Silva,
2015).
Embora as mulheres sempre tenham trabalhado seus esforços e suas atividades nunca
foram bem retratados ou contabilizados. O que provavelmente facilitou a saída dessas
mulheres dos seus lares para complementar o orçamento doméstico foi que, diferentemente de
hoje, elas podiam contar com um sistema de troca de serviços não remunerados entre
parentes, amigos e vizinhos, baseado nas relações de reciprocidade. Isto é, os afazeres
domésticos das mulheres são geralmente divididos com outras mulheres da sua rede de
parentesco ou vizinhança e, assim, elas podem dispor do apoio umas das outras (Pedro, 1999;
Fonseca, 2000; Soihet, 2000). Daí a importâncias das redes de apoio social, para que a mulher
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tenha possibilidade de desenvolver os seus múltiplos papeis nos vários contextos que ela está
inserida. Dada a importância das redes de apoio social, definiremos com base em vários
autores a função e caracterização das redes de apoio social.
1.2 As redes de apoio social e a atuação das mulheres nos múltiplos contextos –
Empoderamento das mulheres
Segundo Sen (2001), oferecer às mulheres educação e emprego, de maneira a
fortalecer sua autonomia, seria o primeiro passo para aumentar seu poder de voz dentro e fora
da família e permitir sua inclusão em um debate que as excluía. Além disso, os programas de
inclusão social são importantes para trazer efeitos favoráveis nas relações de poder das
mulheres, pois estudos confirmam que esses benefícios colocou a mulher em situação de
vantagem em relação aos outros membros familiares, criando um maior poder simbólico.
Portanto, o processo de empoderamento, torna-se um elemento relevante à compreensão das
possibilidades e dos limites na promoção da participação social e política das mulheres.
Além disso, a participação da mulher no mercado de trabalho é pontuada como uma
possibilidade para que ela se insira no universo de mudanças no sentido econômico, social e
psicológico. “Quando falamos em empoderamento feminino, a questão mais evidente é a
crescente dedicação das mulheres ao trabalho, o que garantiu sua definitiva inserção na esfera
pública”. (ITABORAÍ, 2003, p. 157).
Por fim, vale pontuar que Carloto e Mariano (2012), ao realizarem uma pesquisa
sobre empoderamento e trabalho, constataram que, para as mulheres, ter autonomia e poder
significa também ter mais liberdade, independência, poder viver por conta própria, não
depender de ninguém, principalmente do marido. Essas características estão intrinsecamente
associadas com o trabalho. Em contrapartida, as autoras relatam que a conciliação entre a
esfera dos cuidados intrafamiliares e o trabalho remunerado é o grande desafio a ser
transposto.
2. MATERIAS E MÉTODOS
2.1 Participantes
Participaram da pesquisa mulheres correspondente às trabalhadoras rurais do litoral
Ocidental Maranhense, da Baixada Maranhense da comunidade de Itamatatiua do município
de Alcântara/MA e comunidade da Agrovila do munícipio de Palmeirândia/MA.
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2.2 Ambiente: comunidades
O Quilombo de Itamatatiua está localizado no município de Alcântara/MA, foi
também denominado Tamatatiua, conforme consta em documentos do século XVIII.
Originou-se da antiga fazenda de propriedade da Ordem Carmelita dedicada a Santa Thereza,
de acordo com o oficio enviado em 06 de julho de 1797 pelo Governador Fernando Antônio
de Noronha.
A comunidade da Agrovila localizado na zona rural de Palmerândia/MA constitui um
assentamento rural com cerca de 800 famílias que vivem da agricultura de subsistência e de
uma pequena comercialização de produtos agrícolas, como: arroz, feijão, milho, mandioca,
maxixe, frutas e verduras. Na comunidade está estruturada uma associação de mulheres
agricultoras com grande articulação política, já participaram quatro vezes da “Marcha das
Margaridas” e atividades de inclusão, recreação e esportes destinados ao maior envolvimento
das mulheres da comunidade.
2.3 – Pesquisa de Campo
2.3.1 - Instrumentos
Os instrumentos metodológicos a serem utilizados que darão respaldo à pesquisa
qualitativa será o diário de campo (DC), o inventário sócio demográfico (ISD), a entrevista
semiestruturada (ESE), o inventário sócio demográfico (ISD) e o Mapa de Cinco Campos
(M5C) utilizado com o objetivo de identificar a estrutura (quantidade dos vínculos
estabelecidos na rede) e a função (qualidade dos vínculos) da rede de apoio das mulheres na
execução das atividades ligadas aos contextos em que participam (Samuelsson, Thernlund &
Ringstrom, 1996, adaptado por Hoppe, 1998).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Cotidiano de atividades de trabalho das mulheres rurais - AGROVILA
As mulheres da comunidade de Agrovila estão inseridas no processo de
reivindicação dos trabalhadores rurais, compondo a associação rural da comunidade, onde o
maior número de participação é feminina, atuam também em programas dentro da
comunidade como o programa; Mais Cultura, do governo federal, o trabalho é realizado com
crianças que apreender a tocar caixas uma tradição dentro da comunidade preservando assim a
cultura local.
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O projeto agrovilas criado pelas próprias moradoras que tem objetivo de uma vida
mais saudável as trabalhadoras rurais através de exercícios físicos, além dessas atividades que
as mulheres participam dentro da própria comunidade as moradoras participam de questões
fora da comunidade buscando a igualdade entre homens e mulheres como a marcha das
margaridas que as mulheres já possuem participação ativa em quatro edições.
As mulheres também exercem trabalho no campo como o plantio de hortaliças, frutas
e etc. O trabalho com a extração da poupa de frutas serve como renda para essas mulheres que
possuem contrato com as escolas locais como fornecedoras desse produto que serve como de
merenda escolar para as crianças a retirada da poupa é realizada por um processo de
colaboração entre as mulheres foi possível perceber que não é somente a mulher que fornece o
produto que trabalha na retirada ela conta com a ajuda de outras mulheres pertencentes à
comunidade de agrovila além do fornecimento para escola às poupas são vendidas em feiras
nas localidades próximas e até mesmo dentro da própria comunidade. O trabalho remunerado
destas mulheres as tornam mais ativas dentro da comunidade e alcançam uma maior
visibilidade através das atividades que realizam. É o que demonstra a fala de Rita:
“Aqui eu planto tudo e é onde eu ganho o meu dinheiro. Isto
me dá o poder para sair e comprar o que eu quero e não
depender de ninguém, aqui no meu sitio é o meu sonho”.
Nessa mesma perspectiva, Sen (2000) sinaliza que, quando as mulheres podem
auferir renda fora de casa, e o fazem, isso tende a melhorar a posição feminina relativa,
inclusive em distribuições no âmbito familiar. Ao ter renda, a mulher passa a ter voz mais
ativa, pois depende menos dos outros. Adicionalmente, a contribuição da mulher para a
prosperidade da família se torna mais visível quando ela trabalha fora de casa e recebe um
salário.
Cotidiano de atividades de trabalho das mulheres rurais - ITAMATATIUA
A comunidade é popularmente conhecida pelo o artesanato exercito pelas mulheres,
onde as peças em cerâmica são feitas de forma manual mantendo assim um caráter rustico,
dentre as peças podemos citar panelas, vasos, escultura de mulheres, pontes e etc.
O trabalho com cerâmica já foi à renda principal da comunidade passada de geração
a geração por 200 anos e todas as famílias da comunidade realizavam o trabalho, os principais
produtos confeccionados eram vasos utilizados para o armazenamento de água, segundo uma
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das moradoras após a chegada da água encanada e materiais plásticos essa realidade se
modificou e somente algumas famílias realizam o trabalho com a cerâmica atualmente.
As mulheres são as responsáveis pela confecção do artesanato, se tem dentro da
própria comunidade a percepção que o trabalho realizado na confecção de cerâmica é um
trabalho estritamente para o sexo feminino podendo assim identificar dentro desse contexto
uma divisão sexual do trabalho, a única atividade exercida por homens (queimador) segundo
as mulheres dentro do centro de cerâmica consiste no processo de queima das peças que são
colocadas em um forno por 24 horas, por cinco dias, ou seja, podemos verificar a existência
de uma divisão sexual do trabalho mesmo que de forma “pequena” no centro de cerâmica,
segundo Bourdieu, a sociedade que forma a diferença entre os sexos biológicos, de acordo
com uma visão mítica do mundo, enraizada na relação arbitrária de dominação de homens
sobre mulheres, que também se manifesta na realidade da ordem social através da divisão do
trabalho. (BOURDIEU,2005)
As pessoas que não trabalham com a cerâmica dentro da comunidade exercem outras
funções como criação de animais e plantio de milho, mandioca e até mesmo as mulheres que
trabalham dentro do centro de cerâmica exercem outras atividades como forma de
complementar a renda familiar, essas mulheres são vinculadas ao sindicato rural de
trabalhadores rurais e dentro da própria comunidade é possível verificar uma articulação de
mulheres, pois a comunidade possui uma associação de mulheres de Itamatatiua, ou seja, as
mulheres exercem diversas atividades além da atividade domestica que na maioria das vezes
são atribuídas a elas.
3.2. Mulher, trabalho e vulnerabilidade.
As mulheres rurais das comunidades estudadas tem sua jornada de trabalho cotidiana
subestimada, pois na maioria das vezes, as atividades exercidas não se enquadram na
categoria trabalho, a desvalorização do trabalho feminino também é presente no contexto
rural, porém diferentemente do contexto urbano onde o trabalho doméstico é tido como uma
atividade não produtiva assim não gerando nenhum tipo renda e por isso ocorre sua
desvalorização do mesmo no meio rural apesar das mulheres produzirem diversos produtos
ainda sim ocorre à desvalorização isso porque muitas vezes o trabalho horta ou na criação dos
animais é visto como extensão do trabalho doméstico, caracterizando assim o trabalho como
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uma forma de “ajuda”. Além disso, o trabalho destas mulheres constitui uma atividade árdua e
de estremo esforço físico, tanto a lida na roça, como o trabalho da cerâmica das mulheres de
Itamatatiua.
As mulheres expressaram que trabalham porque precisam e “depende disso pra poder
sobreviver”, por que tem filhos que necessitam de amparo, querem melhorar de vida, pois
“sem trabalho não tem nada”, e ainda porque os valores recebidos dos programas de
transferência de renda são insuficientes. Para Brito, “a precariedade sempre esteve associada
ao trabalho feminino, [...] quando a insegurança, a instabilidade e o desemprego atingem toda
a população de trabalhadores, o trabalho masculino tende a estabilizar-se, enquanto que o
feminino tende a manter-se incerto e irregular (BRITO, 2000, p. 200)”. Fruto das novas
condições sociais, da necessidade de prover ou complementar o sustento do lar, da presença
dos filhos a permanência da mulher no mercado de trabalho tem se consolidado.
Ocorre que as relações de trabalho existentes na atualidade já não privilegiam o
trabalho como forma de suprir suas necessidades básicas, antes transforma o cotidiano a uma
condição degradante de produzirem para si meios de prover o sustento. Isso se acentua
quando se fala na questão da mulher inserida no mercado de trabalho. A realidade das
mulheres rurais não é diferente, uma vez que esta necessita se desdobrar para que possa
realizar todas as tarefas diárias na roça e na produção da cerâmica postas sob sua
responsabilidade.
Historicamente a mulher rural sobrevive às múltiplas dificuldades postas ao seu
cotidiano, seja no mercado de trabalho, seja na questão de gênero, ou mesmo dentro do seu
próprio espaço de descanso e local de aconchego, ou seja, seu local de residência, onde
deveria ser lugar de descanso e não de mais uma jornada. Aliado a isto está à dificuldade de a
mulher se reconhecer enquanto trabalhadora, sujeito de direito e assim se organizar
coletivamente como classe que vive do trabalho para então reagir contra as injustiças sociais
postas. Observa-se na fala:
“A luta é grande, acordamos muito cedo para a lida, vamos
pra roça ajudar no plantio, voltamos para dar conta do serviço
de casa e ainda vamos para o trabalho da cerâmica”.
Persiste ainda, neste sentido, a visão da normalidade quanto a extenuante carga de
trabalho, não porque essas mulheres não sonham com um futuro promissor, mas porque é isso
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que possuem, é esta a sua condição e porque depois de gastarem todas as suas energias
realizando todas as tarefas que trazem para si, fora e dentro de casa, no final do dia, não lhes
restam energias ou tempo para outras atividades.
3.3 Redes de Apoio e empoderamento - sua importância para realização e
manutenção do trabalho das mulheres.
Apesar do isolamento das mulheres do interior do Maranhão, essas mulheres
estabelecem entre si um contato mais constante, fortalecendo as redes de relações sociais e de
poder dentro da comunidade em que vivem. Pode-se dizer que este fator se amplifica em
efeitos quando se considera a cultura de sobrevivência destas famílias. Salienta-se o fato de as
atividades de trabalho e sobrevivência estarem relacionadas ao imediato - não há acúmulo ou
provisões -, o que resulta em uma grande parte do tempo livre, levando, por sua vez, em um
tempo maior de contato entre os membros familiares. Por outro lado, sua forma de sustento é
estabelecida ao redor de suas residências, o que facilita, por sua vez, o estabelecimento da
rede de suporte correspondente e domínio sobre os seus membros e familiares.
A presença e atuação das mulheres das comunidades de Agrovila e de Itamatatiua
vão além do domínio doméstico, atuando em vários contextos, mesmo que indiretamente, pois
o estímulo e a interferência estão muito relacionados ao exercício das atividades do meio
rural, manejo do solo e plantio, e a fabricação da cerâmica, atuando também na reprodução
social de valores dos grupos domésticos e da comunidade. Salientando a participação
expressiva de uma mulher como mediadora, representante e articuladora de movimentos, com
a participação na “Marcha das Margaridas”, que desenvolve ações que beneficiam as famílias
da comunidade. De fato, Figueiredo e Santana (2009) salientam que, no contexto da
organização social, a mulher ocupa um lugar de destaque como conselheira e mediadora nos
momentos de tensões e de negociações que garantem o sustento do grupo doméstico. Sendo
assim, nas comunidades, a mulher é receptiva aos serviços ofertados e que chegam à
localidade, trazidos pelo processo de globalização do mundo moderno.
Apesar da realidade de vulnerabilidade ser percebida nas comunidades e em estudos
que abordam a questão de gênero e trabalho e a partir das observações de campo, foi possível
notar que as mulheres das comunidades de Itamatatiua e Agrovila em algumas questões
conseguem construir uma participação feminina dentro das comunidades que é bastante
significativa. No processo de produção econômica das famílias tal fator vincula-se ao
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processo de autonomia feminina, e consequentemente o empoderamento dessas mulheres.
Com isto, diversos fatores podem contribuir para o processo de empoderamento entre eles, a
oferta de qualificação profissional e educação e programas de inclusão social como bolsa
família que dão autonomia as mulheres. É o que se identifica na fala de Francisca:
“Me sinto sim empoderada com o trabalho que realizo aqui na comunidade. É
através dele que conseguimos muitas coisas para s famílias e toda a comunidade. A
construção deste galpão, a água para a comunidade, a luz. Muitos projetos aqui foi
da nossa luta”.
As mulheres da comunidade de Itamatatiua realizam a confecção de cerâmica, apesar
da maior parte das trabalhadoras já serem aposentadas utiliza à cerâmica e outras formas de
trabalho para complementação da renda, as mulheres realizam todo o processo de criação dos
produtos, até a parte da venda tanto na dentro da própria comunidade que é visitada
constantemente e os turistas adquirem peças. Aas vendas dos produtos são realizadas também
na cidade de Alcântara em feiras de artesanato, onde as próprias mulheres realizam o processo
de venda e na cidade de São Luís, a negociação é realizada através de um comerciante que
adquire as peças e revendem na cidade.
Já na comunidade Agrovila as mulheres realizam o cultivo dos produtos geralmente
com a família a venda também é realizada pelas mulheres nas feiras dos municípios próximos
ou pela negociação com comerciantes que pagam pelo produto para revenda, tal processo
mostra que as mulheres das comunidades estão inseridas no processo de constituição da renda
da família que a sua participação é necessária para a constituição econômica da família
econômica.
As relações de parentesco foram observadas fortemente dentro das duas comunidades,
servindo como uma base de cooperação na manutenção do trabalho, dentro do centro de
cerâmica da comunidade de Itamatatiua, onde o trabalho é executado por um grande numero
de irmãs, amigos e sobrinhos, onde cada pessoa exerce uma atividade especifica além da
confecção da cerâmica como venda e etc. Já na comunidade agrovila é possível verificar a
união das mulheres nas relações para manutenção do trabalho e para o bem está das mesmas a
união para praticas de envolvem dança e exercícios físicos. Essas mulheres possuem diversas
redes de relações de apoio que contribuem para a manutenção do trabalho. As redes são
representadas por relações familiares, trabalho ou até mesmo das associações comunitárias.
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Na maioria das vezes, a atividade domestica também é compartilhada com outras mulheres,
facilitando assim, a execução das atividades no campo e as atividades no centro de cerâmica.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mulheres das comunidades estudadas tem sua jornada de trabalho cotidiana
conciliada a uma multiplicidade de tarefas, e na maioria das vezes, as atividades exercidas são
desvalorizas, pois esses estão relacionados a atividades domésticas ou atividades realizadas
nos arredores do âmbito doméstico. Além disso, o trabalho destas mulheres, constituem em
atividades árduas e de estremo esforço físico.
Apesar da realidade de vulnerabilidade ser percebida nas comunidades estudas, essas
mulheres conseguem construir uma participação feminina dentro das comunidades que é
bastante significativa. No processo de produção econômica das famílias tal fator vincula-se ao
processo de autonomia feminina, e consequentemente o empoderamento dessas mulheres,
além de estarem engajadas nas associações rurais e de grupos de mulheres, o que possibilita a
formação de uma importante rede de apoio social dentro das comunidades, pois lhes permitem
circular em vários contextos distintos contribuindo assim para o processo da manutenção do
trabalho.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
The Social Support, Power, Gender and Vulnerability Networks of Rural Women - The
Case of the Maranhense West Coast and the Maranhense Bay.
Astract: The objective of this study is to analyze the networks of social support, power and
patterns of activities experienced by women rural workers in the contexts in which they are
involved. Highlighting the structure of the microsystem, in which the proximal processes
operate to produce and sustain their development and the possible impacts of these changes
and vulnerability among other components of their social support network and their
empowerment. Identifying how support networks are organized for the purpose of structuring
family relationships, empowerment, and the implementation of women's activities in the
community system as a whole. 14 women from the Maranhense Western Coast community,
from the community of Itamatatiua / Alcântara and from the community of Agrovila /
Palemirândia participate in the study. In order to evaluate the importance of the network of
support, vulnerability and empowerment of these women in their families, at work and in the
community, the socio-demographic inventory (ISD) and semi-structured interview (ESE) ). In
the analysis, the presence of a strong network of social support relationships within the
communities was verified, thus contributing to the better development of the activities carried
out by women, to undermine vulnerability, and to assist the empowerment process, which is
analyzed Having great prominence when it comes to the feeling that drives the work done by
these women.
Key words: Women, gender, Social support network, power, Rural Work.
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