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PONTIFIacuteCIA UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SAtildeO PAULO
PUC-SP
LAURA MARQUES CASTELHANO
As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem da
psicologia junguiana
DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA
SAtildeO PAULO
2015
PONTIFIacuteCIA UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SAtildeO PAULO PUC-SP
PROGRAMA DE ESTUDOS POacuteS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA
LAURA MARQUES CASTELHANO
As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem da
psicologia junguiana
DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA
Tese apresentada agrave Banca Examinadora da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Doutor em Psicologia Cliacutenica sob a orientaccedilatildeo da
Profa Dra Liliana Liviano Wahba
SAtildeO PAULO
2015
Banca Examinadora
________________________________________________________
Profa Dr
a Liliana Liviano Wahba ndash Orientadora
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo
saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo
Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes
Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos
momentos de interaccedilatildeo
Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu
crescimento
Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados
estatiacutesticos
Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso
Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada
Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce
Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida
CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem
da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o
afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30
(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4
(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos
utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a
entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram
sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo
entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve
diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo
com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento
(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o
paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros
meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados
pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a
abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias
preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao
estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees
despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar
com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e
percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos
decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para
ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes
Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente
projeccedilotildees psicologia junguiana
CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An
Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
ABSTRACT
The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception
of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in
quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen
four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the
analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults
Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured
interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is
an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the
sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference
between the sample results and the general population but differences were found in the
relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time
(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors
with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more
impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per
week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data
were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the
approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories
related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional
perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by
difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results
revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity
There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and
poorly understood which can result in projections in patients
Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship
projections Jungian psychology
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
81
Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
70
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IAPS International Affective Picture System
ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
SAM Self-Assessment Manikin
SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees
SPSS 17 Statistical Package for the Social Science
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 OBJETIVOS 17
21 OBJETIVO GERAL 17
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17
23 QUESTOtildeES 17
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37
411 Estresse em meacutedicos 41
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52
5 MEacuteTODO 56
51 PARTICIPANTES 56
52 INSTRUMENTOS 56
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58
523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59
524 Entrevista semiestruturada 60
53 PROCEDIMENTOS 61
531 Local de coleta 61
532 Seleccedilatildeo dos participantes 61
533 Procedimento de coleta de dados 61
534 Procedimento de anaacutelise de dados 63
5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64
5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64
535 Procedimento eacutetico 65
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76
616 Agrupamento do IAPS por cluster 79
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86
6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87
6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93
6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98
6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103
7 DISCUSSAtildeO 109
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115
REFEREcircNCIAS 118
ANEXO A 128
ANEXO B 129
ANEXO C 130
APEcircNDICE 132
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada
(HILLMAN 1992 p xi)
As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as
relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e
possibilitam sensaccedilotildees como o prazer
Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a
par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e
por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e
reciacuteproco sobre o outrordquo
Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso
corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente
Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo
apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2
Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos
indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos
mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo
O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute
presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado
escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do
sentido e do significado
[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da
razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia
ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma
supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na
unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral
(JUNG 19212009a par117)
Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa
dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja
1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o
outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a
par 751)
13
pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o
trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito
Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo
em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a
emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no
momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis
respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser
levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As
emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele
lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os
de morte
Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho
(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto
das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees
De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo
pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo
profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao
mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um
caminho de evitaccedilatildeo
Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo
do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que
escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir
para ser meacutedicordquo
Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e
humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de
estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e
adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a
atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento
podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel
sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no
mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre
elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico
acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos
fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica
14
Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores
entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15
dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles
seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila
mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo
A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias
natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele
interage com o paciente
O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades
organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais
administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que
lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em
equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica
Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam
evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam
exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa
atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede
do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para
a tomada de decisotildees
Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o
dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja
falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas
palavras e nas interaccedilotildees
Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes
Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela
estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute
essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede
de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai
processar essas emoccedilotildees
As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca
atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave
contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas
relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo
15
Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia
chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que
provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos
tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)
As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por
meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa
personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da
afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)
Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o
reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base
nos fundamentos da psicologia analiacutetica
Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente
influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas
decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo
possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo
com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e
instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de
estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos
O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo
Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo
apresentados no Capiacutetulo 2
No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as
discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as
dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e
contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o
estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional
na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das
emoccedilotildees na tomada de decisatildeo
No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a
amostra os instrumentos e os procedimentos
A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6
Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de
Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na
16
anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de
estudo de caso
Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados
relacionando-os com a teoria e os fundamentos
O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho
para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema
17
2 OBJETIVOS
21 OBJETIVO GERAL
Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico
Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse
Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e
aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades
Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico
23 QUESTOtildeES
Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees
Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica
Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico
18
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES
A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista
conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo
do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao
privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e
enriquece o desenvolvimento de teorias
A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos
ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo
Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate
protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses
assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do
aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)
Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo
cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem
qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo
Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam
ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de
estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo
vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes
As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um
fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo
Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a
neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e
intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e
19
direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo
com o ambiente) (SCHERER 2005)
De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees
com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram
a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente
no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos
Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a
interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento
de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees
de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma
soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia
Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente
ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional
Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem
gerar prazer ou desprazer
Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para
suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila
o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de
cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado
conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao
tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de
incerteza
Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante
influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da
emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento
emocional
LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de
forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de
distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma
participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido
para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar
tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo
emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel
do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo
20
O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves
motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se
encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os
responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo
A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo
processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos
racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas
as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento
Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute
os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa
mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)
Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que
ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave
evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A
tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a
desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para
eventos natildeo relacionados
Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do
processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu
durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem
devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando
uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)
Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e
pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia
de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e
com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e
objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior
fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo
As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria
fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa
de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as
nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p
13)
21
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico
Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa
quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees
pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto
qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada
Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente
como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a
emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam
conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na
gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o
autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo
Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a
decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja
escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as
muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo
A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no
momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma
determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em
consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo
A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa
Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um
processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo
o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem
mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem
vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a
uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo
De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico
fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A
ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por
sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos
em emoccedilotildees e sentimentos
22
A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo
para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado
resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal
automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um
nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico
positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo
Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees
secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)
pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios
Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e
sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem
natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de
interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas
(DAMAacuteSIO 2006 p 211)
A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo
de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas
A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe
um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais
Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves
organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra
mais importante Affect Imagery Consciousnes
Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque
natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o
mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas
de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)
O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez
que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para
seu questionamento foi o afeto
3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-
organizadas
23
Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma
descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser
humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a
confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para
um estiacutemulo
A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e
de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)
De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em
afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos
estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo
Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para
evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a
vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim
um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5
Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove
afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees
dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das
expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o
mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX
2001)
Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o
sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um
indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as
possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas
O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees
eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos
Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e
referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees
Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a
convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas
4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos
5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem
concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras
24
Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees
baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria
De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se
apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz
diz e pensa
Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de
mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e
vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do
sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees
reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na
recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo
do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011
p 81)
Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa
emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se
percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar
para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e
preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas
Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta
que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que
segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo
lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo
geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas
pelo organismo ao longo de sua vida
Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas
emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-
se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem
nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo
Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco
precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas
medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que
merecem atenccedilatildeo especial
Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de
bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas
circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das
25
emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o
ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo
O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no
processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social
eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos
sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)
As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida
dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que
norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a
projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e
comportamentos
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia
A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em
Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo
sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a
um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer
tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo
quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo
Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente
que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos
para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos
Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que
natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo
Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma
estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e
dominacircncia
Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples
que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees
estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a
mensuraccedilatildeo de respostas emocionais
A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida
utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes
26
comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert
(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a
exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia
dos aspectos emocionais na memoacuteria
Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a
tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e
grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere
Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas
por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de
respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico
O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o
fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com
Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de
descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e
palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas
dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)
Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico
chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus
estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos
podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia
Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com
precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores
sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas
pois funcionam de forma independente6
A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento
ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua
relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)
A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um
estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e
LANG 1994)
6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de
Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal
27
A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do
agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva
ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo
valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema
aversivo
De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido
de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto
positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado
com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo
As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias
natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo
processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona
a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS
A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos
A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que
eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e
julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG
19041994)
A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos
aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o
estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem
valor de sobrevivecircncia
Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou
natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda
natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou
ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma
situaccedilatildeo
[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se
involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel
aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de
expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar
consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o
28
proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG
19161991 par 323)
Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se
surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou
que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era
registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito
A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as
respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias
Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa
trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A
expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de
expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um
processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade
Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos
carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas
manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado
de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)
Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do
complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa
aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o
desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica
Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e
sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma
emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica
Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos
percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes
Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma
predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de
fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que
pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o
desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par
769)
29
De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se
tornardquo
Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do
indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de
parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a
proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)
Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung
fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um
conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem
imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm
para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da
importacircncia relativa da imagem
Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande
medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se
a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees
perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores
consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo
A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees
interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos
sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia
Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos
que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos
conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao
mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)
A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o
mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual
um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao
objeto (JUNG 19332012)
30
Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos
os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um
processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia
Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante
da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute
por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo
pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo
Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo
sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser
esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos
Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com
caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e
contratransferecircncia
Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde
seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era
importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos
percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram
transferidas para o analista
Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma
exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento
psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas
ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)
A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois
pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus
pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)
E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que
neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)
revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na
esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)
Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido
negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia
Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma
repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente
pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo
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A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com
Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza
aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da
criatividade na relaccedilatildeo
De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a
todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a
interaccedilatildeo
Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo
Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e
trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade
A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o
sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia
particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)
Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se
liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo
compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar
qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico
A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o
fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia
pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno
O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)
para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um
fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud
(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes
poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica
Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a
contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho
para o material de seus pacientes
Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo
representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se
em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo
natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do
cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra
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passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o
analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico
Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos
e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo
de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o
autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das
desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas
atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa
Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995
2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na
teorizaccedilatildeo disso pode ser observada
Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)
importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram
na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da
contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do
paciente
Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo
para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento
teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a
contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do
paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)
A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-
determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute
indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem
acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago
colocadas no analista (RACKER 1982)
Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista
mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior
compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento
psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da
relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente
De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung
via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o
paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung
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(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute
relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente
A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para
ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois
sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha
destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem
daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados
A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute
que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas
diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a
alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na
relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa
do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias
transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele
tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)
Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o
inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e
ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute
um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o
agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam
O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do
inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente
correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior
ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim
numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011
par 364)
De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes
reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees
de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute
presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e
temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais
duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da
contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise
Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia
possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos
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A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome
mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o
paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia
Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de
desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem
bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus
pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes
e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute
contratransferecircncia
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos
existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um
instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico
A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica
relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e
Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre
meacutedico e paciente
Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante
influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de
lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico
[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo
como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus
conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que
pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT
1988 p 265)
Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma
atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com
isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por
outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator
quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de
funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De
acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o
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paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho
do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente
o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do
meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo
com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma
influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988
p 47)
Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel
para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como
meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e
idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint
(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas
influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo
Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente
Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos
de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos
Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar
suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo
dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar
conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um
liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento
De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico
chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada
perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os
aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande
mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os
grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje
Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas
raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos
cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem
o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a
fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica
36
De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a
alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do
meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que
meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo
O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a
seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se
estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de
relacionamento com seu paciente
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4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA
A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes
Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS
MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp
Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr
Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr
Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr
Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom
Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed
Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx
International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg
Journal of Analytical Psychology
Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)
httpucpressjournalscomjournalphpj=jung
httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml
Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155
As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo
do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA
A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo
biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e
da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer
relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para
a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE
MARCO 2012)
Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das
pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos
38
muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem
tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional
O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo
onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma
imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os
poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano
comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)
O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional
em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos
etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico
A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa
realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram
que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram
necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas
27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles
que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios
modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar
Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas
relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano
De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o
estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a
distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo
que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para
o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer
resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente
O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em
seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver
comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento
ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos
psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico
Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a
implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os
estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa
39
Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a
comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo
com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos
encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila
de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na
educaccedilatildeo meacutedica
O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam
novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e
sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA
2001 p 8)
Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos
uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de
embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir
sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas
do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as
emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente
As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry
Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica
e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de
decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por
fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do
ambiente
Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes
despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a
maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que
essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia
O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus
sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)
a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres
e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica
De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves
necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com
situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do
paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que
inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente
40
As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma
constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve
prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas
tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de
ambas as partes
O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que
transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu
grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um
instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados
Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um
melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)
fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de
que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram
os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram
durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram
que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da
vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que
nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado
o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser
invertidos
Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees
inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma
segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem
vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos
envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores
meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode
fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la
A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel
substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o
meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e
compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de
tratamento
41
411 Estresse em meacutedicos
A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos
uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre
o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos
De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees
ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse
possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e
motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e
novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em
que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer
tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se
Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados
abaixo do ideal
De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por
produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma
influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente
tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas
emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais
como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes
Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na
Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos
profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no
trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma
vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do
atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho
excessiva
Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais
na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia
problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida
familiar foram os fatores mais citados
As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
42
Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria
Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22
se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados
houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os
problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho
meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse
foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva
excessiva (522)
Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados
mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia
Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram
a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o
fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento
Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do
municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos
apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia
Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade
de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123
apresentaram estresse
A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do
burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma
reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a
maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse
ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE
Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele
pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos
podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo
a um paciente
As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e
provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um
43
protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo
atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se
encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)
Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem
ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e
Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel
e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo
cliacutenica
Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece
com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo
parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos
A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da
capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e
percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes
Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser
positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a
pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink
A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al
(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas
dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo
De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles
que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma
conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila
Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute
satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e
TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio
(STEINMETZ e TABENKIN 2001)
Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem
impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith
(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de
7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no
qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos
negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)
44
cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de
sauacutede do paciente
Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a
qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de
conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a
especialistas
De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto
por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao
expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento
Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que
os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo
Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que
na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes
Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo
com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao
paciente ou a ambos
De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente
que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e
caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos
profissionais
Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)
observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos
com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o
autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus
proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas
proacuteprias reaccedilotildees emocionais
Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na
interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas
Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo
pelo meacutedico
Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para
identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente
45
O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al
(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo
interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento
De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos
processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a
flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o
paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu
humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente
Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e
Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o
envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis
cuidadosos e mais motivados
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE
Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo
em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como
Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do
conhecimento de sua farmacologia
Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute
permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse
tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional
para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)
De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais
envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte
dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se
informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede
Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e
paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por
mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo
empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes
Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave
comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por
meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os
46
humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um
fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais
Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de
emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo
transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e
natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no
passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que
antecipam no futuro
Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que
transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia
jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de
confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com
roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que
natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem
conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo
Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande
gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes
mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito
Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de
uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e
sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o
meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo
Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)
observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas
determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas
emoccedilotildees
Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e
Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do
paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais
satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente
47
percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos
foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi
determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao
paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia
sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico
percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o
meacutedico tratava o paciente
Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no
Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos
A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer
uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas
surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para
seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do
paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram
os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores
observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o
favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e
insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua
competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que
modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia
Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de
seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises
foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da
pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45
queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados
e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com
precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo
costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees
precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos
Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento
comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das
Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro
de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu
comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a
48
atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes
sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-
paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias
pregressas de encontros com outros meacutedicos
Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou
ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o
papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que
apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o
engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos
ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o
estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes
Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro
cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como
resposta um aumento da emotividade do paciente
Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de
sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila
significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes
tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a
tomada de decisatildeo
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO
Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem
explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam
diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo
variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de
como funciona esse processo
O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos
na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas
principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos
Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise
com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de
raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses
49
passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e
compreender o processo de uma doenccedila
A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo
compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica
meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento
de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica
cliacutenica tem se intensificado
Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a
forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de
qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente
De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-
se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas
logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo
quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete
erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a
compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias
O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a
decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se
inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia
todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma
avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a
probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial
Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes
ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A
prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva
a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as
hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do
paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL
KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)
Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento
heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um
diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com
Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional
50
ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas
emoccedilotildees podem influenciaacute-la
Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo
uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas
pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A
heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel
Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu
uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros
sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que
deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo
Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de
decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia
muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute
trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo
alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na
geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente
quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo
De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees
de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico
natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico
Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte
da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e
por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma
como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem
no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico
possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias
Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de
hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de
medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas
geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses
iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o
processo de diagnoacutestico final
Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais
hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas
51
agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses
especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio
intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que
reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados
limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico
A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue
um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em
evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos
De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem
duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o
que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a
informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se
encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em
que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo
consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro
geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos
Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o
ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento
emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que
complicam a decisatildeo cliacutenica
Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em
um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o
modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo
cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que
tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando
protocolos e sistemas
Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que
fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em
ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os
meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico
e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou
quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos
desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de
ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo
52
A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados
estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento
Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um
tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser
humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo
(GROOPMAN 2008 p 15)
De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo
meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores
decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo
relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores
assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem
garantir resultados eficazes
Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em
funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em
que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente
provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado
Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de
pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas
possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo
Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria
muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo
A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto
quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos
terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo
Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de
forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo
Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as
caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram
selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o
modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as
53
caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de
diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia
combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes
para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas
Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes
durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo
sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez
que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa
funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida
Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem
esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos
meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade
Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um
guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio
entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que
fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de
raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo
analiacutetica
O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees
importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees
precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos
podem ser alertados para modificar um raciociacutenio
Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam
sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de
eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em
termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os
autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de
patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera
variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico
Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-
pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver
8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo
54
algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico
claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro
sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro
Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede
de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-
pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto
em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de
incerteza diagnoacutestica
Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da
queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre
o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de
errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era
nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas
foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o
exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O
meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes
Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros
paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a
maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos
participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados
com os meacutedicos holandeses
Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e
tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico
experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o
prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)
e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo
de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos
relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no
abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de
errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos
dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de
incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos
resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos
utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo
55
Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos
holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo
interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme
definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses
diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de
tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente
estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de
tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que
era esperado pelo meacutedico
As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no
processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo
existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo
de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em
que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo
as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas
tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo
56
5 MEacuteTODO
A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados
quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o
enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode
ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-
quantirdquo
De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de
muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos
e quantitativos
Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos
mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta
pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e
qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial
explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos
51 PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas
especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte
(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo
dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina
convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de
caso com entrevista
52 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de
testagem
57
Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o
International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do
meacutedico
Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do
meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente
A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico
O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm
por objetivo caracterizar a amostra
Idade________________
Sexo F ( ) M ( )
Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________
Especialidade____________________________
Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)
Consultoacuterio ( )
Hospital puacuteblico ( )
Hospital particular ( )
Universidade ( )
Outro______________________ ( )
Outro______________________ ( )
Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no
Consultoacuterio ___ h
Hospital puacuteblico ___ h
Hospital particular ___ h
Professor acadecircmico ___ h
Outro ____________________ ___ h
Outro ____________________ ___ h
____ (total de horas semanais)
Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___
58
Tempo meacutedio de atendimento ___
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a
pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em
que se encontra
Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a
fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo
Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de
adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada
Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se
novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total
de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta
inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi
quebrado na fase de alerta
Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia
fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue
pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e
esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total
desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra
emocional
Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que
um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue
concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves
podem ocorrer
Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou
sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com
15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do
estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo
59
Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as
sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo
quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)
Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e
trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados
pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes
psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e
apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo
523 IAPS ndash International Affective Picture System
O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por
imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama
de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de
700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras
As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos
participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os
participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo
emocional
As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do
Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo
estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as
gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item
que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras
escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer
A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo
induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala
Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)
pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo
(desagradaacutevelnegativa)
De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido
porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de
avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel
60
A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro
Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do
IAPS foi autorizada pelos autores
Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o
relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12
agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos
estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo
emocional das imagens
524 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por
perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles
tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de
De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith
(1995)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil
1a Que caracteriacutesticas ele tem
1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente
atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades
2a Que caracteriacutesticas ele tem
2b Por que ele natildeo desperta dificuldades
2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso
o afeta Decirc um exemplo
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente
Como
61
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira
no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse
decorrente da profissatildeo Como lida com isso
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por
quecirc
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc
53 PROCEDIMENTOS
531 Local de coleta
A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)
532 Seleccedilatildeo dos participantes
Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de
indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos
proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento
dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo
A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de
disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a
realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em
clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico
escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise
aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O
procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise
533 Procedimento de coleta de dados
62
O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta
de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados
serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia
Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os
resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)
Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos
conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes
foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi
agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta
O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees
sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a
possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de
consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e
devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa
avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da
entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas
e depois transcritas para a anaacutelise
Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia
utilizada na aplicaccedilatildeo foi
Questionaacuterio sociodemograacutefico
Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por
favor preencha as informaccedilotildees solicitadas
International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)
Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo
com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo
responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de
respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma
sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe
parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz
ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que
mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando
um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a
63
figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se
alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta
estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se
aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X
entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no
meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a
classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o
nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os
tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam
Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem
experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os
sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou
P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs
Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a
entrevista
Entrevista semiestruturada
Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees
em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do
paciente
534 Procedimento de anaacutelise de dados
O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem
quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30
meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a
interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos
escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a
64
anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram
identificados por nomes fictiacutecios
5341 Anaacutelise quantitativa de dados
Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes
estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD
(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados
O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando
suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado
para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras
independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de
anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes
Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu
como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo
A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de
estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico
com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo
com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer
comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do
IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS
comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico
5342 Anaacutelise qualitativa de dados
A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro
clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi
escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)
meacutedicos
A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas
com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional
65
o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e
estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
535 Procedimento eacutetico
A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa
envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de
Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o
Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)
66
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou
tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo
qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo
O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa
SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de
medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas
(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes
estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes
tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de
comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o
programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se
com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro
A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade
com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir
dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes
em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante
de cada cluster para o estudo de caso
A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia
Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo
da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International
Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o
sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster
Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4
participantes em forma de Estudo de Caso
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA
67
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos
Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de
diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento
no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas
caracterizaccedilotildees
Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as
distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)
especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho
(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de
pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio
(tabela 7)
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo
Sexo N
Masculino 17
Feminino 13
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e
13 (treze) do sexo feminino
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria
Faixas etaacuterias N
20 a 34 anos 10
35 a 48 anos 7
49 a 59 anos 7
Acima de 60 anos 6
Total 30
Meacutedia 446
Desvio-padratildeo 130
Fonte proacuteprio autor
68
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7
(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade
eacute de 446 anos
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado
Tempo de formado N
05 a 10 anos 12
11 a 23 anos 6
24 a 32 anos 6
33 a 46 anos 6
Total 30
Meacutedia 194
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11
a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de
tempo de formado eacute 194 anos
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades
Especialidade N
Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8
Ortopedia 5
Ginecologia 4
Oftalmologia 3
Otorrinolaringologia 3
Endocrinologia 2
Neurologia 2
Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3
Total 30
Fonte proacuteprio autor
No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e
tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)
oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As
outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia
69
(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)
e urologia (1)
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho
Locais de Trabalho N
Apenas Consultoacuterio 10
Consultoacuterio e Hospital particular 10
Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5
Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10
(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no
hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos
trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 2
21 a 40 hsemanais 8
41 a 48 hsemanais 8
49 hsemanais e + 12
Total 30
Meacutedia 460
Desvio-padratildeo 125
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a
maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais
dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas
70
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 8
21 a 40 hsemanais 15
41 a 48 hsemanais 2
49 hsemanais e + 5
Total 30
Meacutedia 328
Desvio-padratildeo 129
Fonte proacuteprio autor
O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao
atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio
Nuacutemero de pacientesdia N
01 a 09 pacientesdia 4
10 a 22 pacientesdia 15
23 a 37 pacientesdia 6
38 a 55 pacientesdia 5
Total 30
Meacutedia 219
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219
Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a
22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais
de 38 pacientesdia no consultoacuterio
71
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta
Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N
15 a 25 minutos 13
26 a 35 minutos 12
36 a 45 minutos 4
46 a 55 minutos 1
Total 30
Meacutedia 268
Desvio-padratildeo 100
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a
consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus
pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse
que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no
consultoacuterio eacute de 268 minutos
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e
13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A
meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos
meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268
minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do
consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)
Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos
sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da
escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da
amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os
sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos
72
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Stress N Paracircmetro
Natildeo 13 433 440
Sim 17 567 560
Total 30 1000 1000
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de
estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo
geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute
dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Fase Stress N Paracircmetro
Alerta 02 67 20
Resistecircncia 15 500 530
Exaustatildeo 0 00 10
Total 17 567 560
Fonte proacuteprio autor
Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles
estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e
Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa
que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta
referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo
de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um
prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo
de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a
fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar
as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves
73
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL
5
10
2
0
2
4
6
8
10
12
Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos
Prevalecircncia de Sintomas de Stress
Prevalecircncia de sintomas N
Fiacutesicos 5
Psicoloacutegicos 10
Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2
Total 17
Fonte proacuteprio autor
Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram
predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram
diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos
projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-
estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo
muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e
insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro
De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou
psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos
decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da
amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a
vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra
uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)
apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos
paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de
resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma
sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos
mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita
de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva
Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento
encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20
74
meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e
com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em
58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na
fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram
resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas
123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e
72 apresentaram estresse
Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em
termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade
psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a
inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores
psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo
podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico
Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para
observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o
iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo
Stress Sexo Total
Masculino Feminino
Natildeo 7 6 13
Sim 10 7 17
Total 17 13 30
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do
teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo
entre o sexo e o estresse
75
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas
Stress N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t p
Idade Natildeo 13 486 138 38
150 0144 Sim 17 415 119 29
Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38
167 0106 Sim 17 162 107 26
Tempo total de
trabalho (horas
semanais)
Natildeo 13 484 142 39
091 0371 Sim 17 442 112 27
Tempo de trabalho
no Consultoacuterio (horas
semanais)
Natildeo 13 337 130 36
030 0766 Sim 17 322 133 32
Nuacutemero de
pacientesdia
Natildeo 13 255 153 42 140 0171
Sim 17 192 92 22
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
Natildeo 13 300 96 27 155 0133
Sim 17 244 100 24
Fonte proacuteprio autor
Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por
meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As
diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil
sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)
Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas
da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo
emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens
afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment
Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a
intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir
76
de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao
induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo
(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta
a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da
populaccedilatildeo
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais
Escalas N Meacutedia Desvio
padratildeo
Erro
padratildeo
t p μ
Paracircmetro
Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491
Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501
Total 30 497 044 008 0095 0925 496
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas
escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala
Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a
meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que
os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila
significativa
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico
Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave
percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se
internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia
alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional
As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais
dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de
pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta
77
Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS
Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo
Sexo N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t P
Alerta Masculino 17 504 113 027
1634 0057 Feminino 13 449 054 015
Prazer Masculino 17 509 031 007
-0646 0262 Feminino 13 518 043 012
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture
System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas
meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo
com as escalas
A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do
IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Alerta Prazer
Idade
r 035 -028
p 0031 0065
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de formado
r 032 -024
p 0043 0100
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo total de trabalho (horas
semanais)
r -0041 -0025
p 0415 0448
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de trabalho no Consultoacuterio
(horas semanais)
r 020 -040
p 0139 0014
N 30 30
78
Alerta Prazer
Nuacutemero de pacientesdia
r 002 021
p 0443 0128
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
r 036 -0204
p 0024 0140
N 30 30
A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica
descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis
O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que
indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa
que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +
032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo
de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e
o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta
Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele
ficou diante dos estiacutemulos emocionais
Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas
semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto
mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer
Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de
pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer
Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em
relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das
distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave
79
percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao
trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)
Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo
de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos
mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta
Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos
tempo
616 Agrupamento do IAPS por cluster
Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos
participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com
similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade
ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por
agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um
embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em
profundidade
O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a
cada agrupamento
80
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)
O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas
Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia
dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia
A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a
separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia
N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo F P
Alerta
Cluster 1 6 501 010 004
4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027
Cluster 3 9 377 027 009
Cluster 4 8 465 021 007
Prazer
Cluster 1 6 493 015 006
2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010
Cluster 3 9 519 016 005
Cluster 4 8 556 017 006
Fonte proacuteprio autor
81
O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo
que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)
Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos
clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos
ou mais distantes da meacutedia
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
Alerta N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055
Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004
Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000
Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009
Prazer N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265
Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038
Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011
Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000
Fonte proacuteprio autor
O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral
O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que
possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a
populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor
pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos
de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters
O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais
82
baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo
O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o
com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com
pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis
sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os
clusters
Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou
afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective
Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo
e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional
que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no
cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas
duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e
tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster
3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4
agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve
diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters
O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas
pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters
2 3 e 4
Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia
em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster
83
perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos
outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia
de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam
486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181
pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos
Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e
4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam
prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a
anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de
fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os
sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer
unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa
especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente
Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de
formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente
nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que
meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se
mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas
semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e
desagradaacutevel
Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)
concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais
excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos
niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa
correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta
Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no
consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees
intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a
anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes
O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor
pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa
em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos
diante dos estiacutemulos
84
Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos
participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4
trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao
trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 233 minutos
Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5
na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com
estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de
sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram
duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos
outros clusters
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos
que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico
Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo
esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo
dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas
O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos
constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade
emocional
O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior
pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de
forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia
de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao
trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 225 minutos
Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e
3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de
resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas
psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio
entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os
participantes deste cluster
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com
menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais
85
pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os
resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de
trabalho no consultoacuterio e o Prazer
O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das
relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer
como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo
frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como
aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster
Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que
trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo
com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem
Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas
escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas
hipoacuteteses interpretativas
1ordf Tendecircncia observada
Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado
e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos
estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as
variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de
estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela
escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que
permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais
desagradaacutevel
Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente
de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses
meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o
Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas
relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem
estar menos satisfeitos
2ordf Tendecircncia observada
86
O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo
com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade
emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse
pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos
permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de
interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente
Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente
com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo
agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente
3ordf Tendecircncia observada
Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de
formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem
mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala
Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior
prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda
uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer
Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria
da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos
prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com
outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem
menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga
emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso
Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para
anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por
meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas
no quadro a seguir
87
Tabela 17 Categorias de anaacutelise
CATEGORIAS
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
A percepccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises
6221 Caso 1 Daniel (participante 12)
Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto
aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que
ficam mais tempo com o paciente nas consultas
Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute
Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta
de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha
em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute
de 45 minutos
Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e
era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando
sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de
como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem
educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como
montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um
desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que
estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas
algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar
que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
88
Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico
constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo
relatou nenhum sintoma psicoloacutegico
O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa
aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro
mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele
natildeo vai ser meacutedicordquo
Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas
situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees
de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel
fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como
atender um paciente bem se natildeo estiver descansado
Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia
mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem
porque aprendirdquo
Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o
nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o
trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre
cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo
chato natildeo eacute rabo curto como erardquo
Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-
se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu
passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho
mais tempordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o
meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos
estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos
Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as
89
consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por
estiacutemulos que despertam emoccedilotildees
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve
permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de
modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu
trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo
Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em
dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam
parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi
um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos
meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e
isso me emocionourdquo
Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o
influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o
atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e
fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se
resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas
falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo
reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo
Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios
incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma
diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo
pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer
mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao
paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava
dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a
90
lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por
que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo
Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais
envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes
sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo
paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos
que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo
O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante
que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do
diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao
cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio
ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de
suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento
mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram
o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa
ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee
chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me
obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou
trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como
esse afetassem o seu trabalho
Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou
que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees
de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser
conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com
a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo
Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o
tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute
positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto
Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais
satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo
Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees
positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades
mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades
91
mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe
paciente faacutecilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle
diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto
emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o
controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais
jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []
mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as
emoccedilotildeesrdquo
O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do
desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro
maisrdquo
Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o
controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus
pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de
brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-
presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para
essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha
a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas
desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo
Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram
desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica
remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo
Leitura analiacutetica
Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos
que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi
extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo
diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no
teste do IAPS
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Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees
relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a
maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou
uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no
em sua seguranccedila
Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode
refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e
incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as
emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute
necessaacuteria uma atitude de controle
Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente
que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o
seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel
ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido
contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o
paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute
aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e
que parece respeitaacute-lo
No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes
percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou
ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o
senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo
ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e
com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se
ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente
O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular
de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa
Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas
estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como
demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute
cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns
iam emborardquo
Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo
permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos
93
aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de
seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os
aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o
confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e
que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de
falhar
6222 Caso 2 Alice (participante 2)
Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade
emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em
hospital puacuteblico
Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e
divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes
Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio
Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
20 minutos
Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas
vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel
Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios
momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era
solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das
questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que
uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar
algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia
preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos
prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e
cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa
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especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando
mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a
hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e
irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do
ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os
pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam
aprender a lidar
Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades
que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo
Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem
interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em
burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso
pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda
muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []
eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou
menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das
figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma
tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o
que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter
diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas
podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de
comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a
emoccedilatildeo) influi em tudordquo
95
Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais
intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo
Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o
que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que
podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo
Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem
alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em
seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos
avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar
que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de
atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela
como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e
sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo
Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que
incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao
meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua
postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a
um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim
entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho
que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa
ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o
baixo Alerta no IAPS
Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de
exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de
pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente
e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a
relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma
compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no
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consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo
ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo
Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas
pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de
violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria
demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo
Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo
aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo
pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e
ajuda ao outro
Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a
sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]
eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele
realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim
de se sentir uacutetilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para
proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]
quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de
pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do
caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees
psicoloacutegicas de lidarrdquo
Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em
que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e
assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou
uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo
Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata
como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o
tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no
consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo
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Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara
com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente
parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos
Leitura analiacutetica
Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para
evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em
qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo
como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez
Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela
teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute
canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo
antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de
superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir
parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse
recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio
Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas
diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o
recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica
Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo
de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que
parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela
reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o
caso
Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo
representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos
Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel
Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia
para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja
vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda
ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas
A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice
percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os
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sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes
Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse
estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da
entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como
vinculadas ao estresse
Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas
como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que
como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos
efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento
A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua
capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e
frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar
sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse
reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto
observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas
relaccedilotildees
Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo
projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante
dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo
6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)
Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de
Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de
formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam
menos tempo com eles
A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi
individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande
nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais
caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio
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Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o
seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo
atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho
no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
15 minutos
O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito
cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de
atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo
para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e
agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade
suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo
assinalou nenhum sintoma fiacutesico
Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que
atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras
atividades como cirurgias e compromissos familiares
Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o
estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma
contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e
mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que
me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo
ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo
perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel
percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral
Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao
considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa
100
insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em
funccedilatildeo de um processo defensivo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre
elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente
acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo
As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e
prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma
caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc
fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como
barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo
Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho
Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela
sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor
cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo
emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo
Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as
suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a
sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo
vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []
afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando
perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)
Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender
Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet
ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees
desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo
da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar
101
o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje
em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo
quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo
Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo
traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa
desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender
[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e
mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA
dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar
para ele o que vocecirc esta querendordquo
O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o
diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de
Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu
trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se
sente bemrdquo
Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que
suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento
das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o
pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas
jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu
trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo
ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute
tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser
neutrordquo
Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de
cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito
comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o
ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser
influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto
nenhumrdquo
102
Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou
estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se
com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que
chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo
Leitura analiacutetica
Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo
Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo
O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois
trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No
entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e
insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes
O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e
o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse
Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo
Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de
que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou
subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu
papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia
negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo
vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos
emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a
gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo
Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e
controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como
meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus
atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu
julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e
entendimento
Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre
a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter
103
observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no
controle e que a atitude emocional pode ser controlada
Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para
expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que
poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo
soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo
A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra
tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute
provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as
emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do
receio de ter esse poder contestado
6224 Caso 4 Marcos (participante 13)
Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais
proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos
paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer
Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia
Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital
Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10
pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos
Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou
interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha
encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este
apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um
processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e
tem se esforccedilado muito para isso
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia
afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado
104
estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de
dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os
sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e
irritabilidade sem causa aparente
O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de
sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo
de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua
jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errarrdquo
Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo
emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto
ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura
refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro
trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua
meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas
emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo
subjetiva da emoccedilatildeo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um
caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante
em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer
isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai
da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutemrdquo
Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no
diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a
beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo
105
para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a
emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo
Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de
soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um
caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo
O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar
ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias
com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e
pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem
ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo
dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo
Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois
isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais
fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a
natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm
pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a
doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no
tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e
inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse
impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo
Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar
com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com
o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido
principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento
O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da
evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de
afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de
afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no
tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo
106
O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio
que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento
e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo
[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte
delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de
realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente
satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de
realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e
tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu
conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem
do que eu posso fazerrdquo
Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves
relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como
lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor
estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem
unicamente de mimrdquo
Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees
principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito
bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo
Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de
recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de
conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para
dar um alentordquo
Leitura analiacutetica
Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho
que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu
procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo
107
Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita
que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um
pouco da personalidaderdquo
Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e
do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc
tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para
issordquo
A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante
das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em
alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes
Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como
raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila
podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para
lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o
que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da
racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas
depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer
sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia
Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira
nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e
motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a
sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo
verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral
Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da
responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do
meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo
trabalhada
Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para
ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para
pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e
reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo
com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-
las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
108
Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais
clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos
defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees
como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e
uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma
relaccedilatildeo com o paciente
109
7 DISCUSSAtildeO
O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente
que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles
relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem
influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico
Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com
o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo
os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e
a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o
paciente
Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees
estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas
emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais
impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca
compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional
A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees
que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas
Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada
porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido
seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo
percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base
essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem
apenas sintomas da afetividaderdquo
Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e
DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que
os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a
Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas
raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse
funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico
Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se
ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer
110
insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento
semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos
sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma
segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo
de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar
romper o viacutenculo
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um
compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico
(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a
essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de
valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e
dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes
tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como
afastamento entre outras
Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um
sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das
possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida
emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional
eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos
relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um
entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios
A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se
sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas
nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente
aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro
desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente
visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando
compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o
ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer
Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo
apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo
apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser
usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute
uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo
111
subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo
Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as
suas normas e convicccedilotildees
Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do
detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode
mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo
impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a
funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos
frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou
meacutedicordquo
Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo
com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico
assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais
caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos
De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente
representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da
consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma
persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem
parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo
vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral
riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel
se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)
Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por
autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do
meacutedico
Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de
detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado
situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura
informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona
riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel
Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para
responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e
sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a
reflexatildeo
112
Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e
reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas
tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no
atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como
negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas
Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo
interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e
ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e
mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado
dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os
incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo
Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois
mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples
fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a
emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar
com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui
A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas
emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um
maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de
atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem
a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento
Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar
com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta
compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e
fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro
momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa
de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes
reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades
para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das
emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam
que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem
evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a
113
esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar
sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de
seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de
reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que
os afetava negativamente e o que os afetava positivamente
Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a
busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com
naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis
Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia
percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos
chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e
distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e
com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado
espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na
entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a
questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional
Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo
ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)
O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao
extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A
atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se
riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado
Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma
inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente
mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira
vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de
impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de
quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder
A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de
como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e
sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as
caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as
percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais
114
Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar
inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o
tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo
emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung
(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente
que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico
No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas
entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b
par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em
nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o
pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas
pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a
Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila
constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na
forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)
Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre
presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo
No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006
2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um
auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de
circuitos mentais confluentes
Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e
Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a
aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e
do processo de tomada de decisatildeo
Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco
reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do
meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-
paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a
contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na
compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e
impactar no atendimento do paciente
115
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece
quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo
desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a
incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que
despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em
geral
As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica
pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento
interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu
falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os
meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional
parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por
complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo
O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente
Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na
leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica
O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos
vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos
que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido
agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais
Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o
paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que
o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes
que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como
pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute
elemento isolado desse todo
O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao
distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a
persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o
paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si
116
Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo
colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo
de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente
repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista
institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos
reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho
Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca
havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a
medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido
ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo
de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive
vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no
primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina
curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa
profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)
A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma
aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na
busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte
de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos
necessaacuterios
A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as
defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega
estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por
exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o
impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo
Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito
individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um
psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e
contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees
Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao
meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas
de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de
Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns
hospitais
Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das
emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre
gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o
117
ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o
impacto nos processos de decisatildeo
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128
ANEXO A
129
ANEXO B
130
ANEXO C
131
132
APEcircNDICE
Caso 1 Daniel (participante 12)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles
entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais
meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes
fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo
que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica
acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar
perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus
pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um
pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o
senhor quer saber isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas
algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter
fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos
e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube
dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros
do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a
secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia
natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me
perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito
bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem
o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com
ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de
uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia
rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute
num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo
quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo
133
a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC
tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute
jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos
70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva
ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio
noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu
natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)
Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo
durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de
futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes
natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer
terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que
eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo
aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai
para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre
consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu
assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o
mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas
fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando
os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando
a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso
me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me
defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem
essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por
isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a
consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir
embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu
quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem
na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles
atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em
outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco
134
comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar
quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma
superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele
histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve
dor de barriga
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor
de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as
informaccedilotildees natildeo procura se exibir
Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo
valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees
tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque
tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de
propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia
quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute
vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da
moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu
pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse
ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude
chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que
seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se
escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e
sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira
bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos
sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom
apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees
positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas
chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo
135
emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo
mexer com nossa inseguranccedila
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e
controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo
de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu
deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo
possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de
contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha
indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar
imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais
estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse
olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e
vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu
tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o
senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram
pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar
porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de
tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns
dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele
num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e
emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro
eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a
carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc
136
vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone
tocou)
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a
me controlar
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda
hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade
quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha
taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha
que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se
controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando
me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso
com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o
sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc
definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada
Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e
provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular
quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo
Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo
ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs
ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele
escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado
depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo
estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve
um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que
essa seja a explicaccedilatildeo
137
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um
pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro
assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade
agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo
ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito
bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um
pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute
uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo
respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam
atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no
fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas
eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou
Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo
com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil
participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta
meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia
isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e
a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma
coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada
pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas
vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de
SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era
rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma
incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras
achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de
pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito
difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra
138
coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras
consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a
formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado
viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo
especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu
conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do
HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo
obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes
ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema
com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa
foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F
que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem
para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem
competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo
absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois
casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a
parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um
oacutetimo colega
139
Caso 2 Alice (participante 2)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que
mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza
Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo
paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos
paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em
hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de
paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu
consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo
sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar
vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender
Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo
sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai
esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma
agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para
fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo
vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco
de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute
mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes
mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem
140
porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta
eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica
e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue
responder acho que eacute isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas
eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir
aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo
meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo
prazer Sensaccedilotildees boas
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma
meacutedica relativamente sortuda (risos)
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)
(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo
consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito
bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito
grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela
foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e
aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu
me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para
criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela
trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava
acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles
que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana
neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas
dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no
final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que
o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho
141
menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu
achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse
bobeira doutora deixa para laacute
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de
atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor
evitar esse tipo de paciente porque vai dar m
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-
operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar
que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar
mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro
o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei
olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os
preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24
agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma
semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia
me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele
fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o
que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o
que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho
um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu
sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute
uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular
tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das
coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio
142
cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para
discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala
nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar
Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele
vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo
concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz
reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e
vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque
depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo
venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so
long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um
ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo
meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo
mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute
dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no
sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra
pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus
entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou
vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito
entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que
trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada
demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal
ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso
descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima
eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que
leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
143
Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele
estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila
que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para
ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa
entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em
condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para
explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara
com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele
faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por
semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim
sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que
vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma
psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa
sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que
realmente impacta muito a vida deles
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc
natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o
paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente
me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De
vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma
menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma
ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito
beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles
vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu
chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute
144
Caso 3 Miguel (participante 4)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem
alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute
considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves
orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo
compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me
traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu
natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute
mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de
incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu
melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E
posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse
tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se
acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela
natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o
viacutenculo
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com
a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura
fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque
145
eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa
sauacutede
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem
de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe
melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias
de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e
muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar
uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse
paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um
paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando
mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto
para dar um alento
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque
muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo
do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute
mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte
mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa
empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva
sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou
natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam
melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da
146
patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo
respondeu tatildeo bem
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma
caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou
esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave
informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores
quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso
organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar
preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de
mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente
porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma
fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma
estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem
formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia
eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a
experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo
assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive
momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos
para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem
um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa
condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te
dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
147
Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais
assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas
positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute
vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos
tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra
mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos
acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma
especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os
meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais
paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra
mas (Interrompeu paciente chegou)
148
Caso 4 Marcos (participante 13)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o
trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute
vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico
do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira
assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo
satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e
geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute
acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais
briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo
construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar
fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela
mesma
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar
explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa
como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute
uma sensaccedilotildees incocircmoda)
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil
mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu
conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar
a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha
149
passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa
que estaacute compartilhando o problema com vocecirc
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de
ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm
burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que
questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas
coisas
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que
veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas
para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-
socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico
me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me
agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma
ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois
operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha
um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral
um achado em exames tambeacutem veio me agradecer
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo
aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta
agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o
negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)
As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica
fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um
150
aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa
positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo
da pessoa
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de
emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por
hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir
uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um
compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse
agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc
faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)
Eu acho que eu administro bem
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um
pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas
vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a
pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com
sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por
uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo
me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma
coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
151
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a
falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo
estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o
paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim
PONTIFIacuteCIA UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SAtildeO PAULO PUC-SP
PROGRAMA DE ESTUDOS POacuteS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA
LAURA MARQUES CASTELHANO
As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem da
psicologia junguiana
DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA
Tese apresentada agrave Banca Examinadora da
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo
como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Doutor em Psicologia Cliacutenica sob a orientaccedilatildeo da
Profa Dra Liliana Liviano Wahba
SAtildeO PAULO
2015
Banca Examinadora
________________________________________________________
Profa Dr
a Liliana Liviano Wahba ndash Orientadora
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo
saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo
Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes
Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos
momentos de interaccedilatildeo
Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu
crescimento
Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados
estatiacutesticos
Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso
Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada
Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce
Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida
CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem
da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o
afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30
(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4
(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos
utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a
entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram
sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo
entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve
diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo
com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento
(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o
paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros
meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados
pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a
abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias
preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao
estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees
despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar
com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e
percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos
decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para
ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes
Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente
projeccedilotildees psicologia junguiana
CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An
Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
ABSTRACT
The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception
of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in
quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen
four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the
analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults
Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured
interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is
an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the
sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference
between the sample results and the general population but differences were found in the
relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time
(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors
with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more
impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per
week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data
were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the
approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories
related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional
perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by
difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results
revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity
There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and
poorly understood which can result in projections in patients
Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship
projections Jungian psychology
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
81
Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
70
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IAPS International Affective Picture System
ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
SAM Self-Assessment Manikin
SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees
SPSS 17 Statistical Package for the Social Science
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 OBJETIVOS 17
21 OBJETIVO GERAL 17
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17
23 QUESTOtildeES 17
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37
411 Estresse em meacutedicos 41
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52
5 MEacuteTODO 56
51 PARTICIPANTES 56
52 INSTRUMENTOS 56
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58
523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59
524 Entrevista semiestruturada 60
53 PROCEDIMENTOS 61
531 Local de coleta 61
532 Seleccedilatildeo dos participantes 61
533 Procedimento de coleta de dados 61
534 Procedimento de anaacutelise de dados 63
5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64
5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64
535 Procedimento eacutetico 65
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76
616 Agrupamento do IAPS por cluster 79
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86
6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87
6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93
6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98
6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103
7 DISCUSSAtildeO 109
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115
REFEREcircNCIAS 118
ANEXO A 128
ANEXO B 129
ANEXO C 130
APEcircNDICE 132
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada
(HILLMAN 1992 p xi)
As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as
relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e
possibilitam sensaccedilotildees como o prazer
Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a
par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e
por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e
reciacuteproco sobre o outrordquo
Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso
corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente
Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo
apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2
Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos
indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos
mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo
O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute
presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado
escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do
sentido e do significado
[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da
razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia
ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma
supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na
unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral
(JUNG 19212009a par117)
Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa
dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja
1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o
outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a
par 751)
13
pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o
trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito
Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo
em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a
emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no
momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis
respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser
levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As
emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele
lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os
de morte
Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho
(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto
das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees
De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo
pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo
profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao
mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um
caminho de evitaccedilatildeo
Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo
do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que
escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir
para ser meacutedicordquo
Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e
humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de
estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e
adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a
atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento
podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel
sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no
mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre
elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico
acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos
fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica
14
Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores
entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15
dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles
seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila
mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo
A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias
natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele
interage com o paciente
O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades
organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais
administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que
lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em
equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica
Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam
evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam
exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa
atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede
do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para
a tomada de decisotildees
Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o
dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja
falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas
palavras e nas interaccedilotildees
Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes
Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela
estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute
essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede
de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai
processar essas emoccedilotildees
As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca
atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave
contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas
relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo
15
Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia
chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que
provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos
tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)
As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por
meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa
personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da
afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)
Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o
reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base
nos fundamentos da psicologia analiacutetica
Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente
influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas
decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo
possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo
com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e
instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de
estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos
O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo
Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo
apresentados no Capiacutetulo 2
No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as
discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as
dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e
contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o
estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional
na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das
emoccedilotildees na tomada de decisatildeo
No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a
amostra os instrumentos e os procedimentos
A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6
Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de
Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na
16
anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de
estudo de caso
Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados
relacionando-os com a teoria e os fundamentos
O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho
para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema
17
2 OBJETIVOS
21 OBJETIVO GERAL
Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico
Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse
Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e
aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades
Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico
23 QUESTOtildeES
Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees
Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica
Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico
18
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES
A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista
conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo
do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao
privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e
enriquece o desenvolvimento de teorias
A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos
ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo
Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate
protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses
assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do
aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)
Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo
cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem
qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo
Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam
ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de
estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo
vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes
As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um
fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo
Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a
neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e
intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e
19
direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo
com o ambiente) (SCHERER 2005)
De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees
com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram
a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente
no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos
Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a
interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento
de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees
de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma
soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia
Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente
ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional
Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem
gerar prazer ou desprazer
Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para
suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila
o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de
cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado
conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao
tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de
incerteza
Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante
influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da
emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento
emocional
LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de
forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de
distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma
participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido
para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar
tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo
emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel
do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo
20
O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves
motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se
encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os
responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo
A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo
processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos
racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas
as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento
Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute
os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa
mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)
Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que
ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave
evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A
tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a
desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para
eventos natildeo relacionados
Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do
processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu
durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem
devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando
uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)
Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e
pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia
de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e
com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e
objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior
fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo
As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria
fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa
de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as
nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p
13)
21
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico
Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa
quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees
pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto
qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada
Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente
como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a
emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam
conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na
gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o
autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo
Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a
decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja
escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as
muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo
A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no
momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma
determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em
consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo
A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa
Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um
processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo
o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem
mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem
vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a
uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo
De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico
fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A
ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por
sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos
em emoccedilotildees e sentimentos
22
A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo
para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado
resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal
automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um
nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico
positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo
Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees
secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)
pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios
Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e
sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem
natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de
interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas
(DAMAacuteSIO 2006 p 211)
A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo
de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas
A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe
um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais
Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves
organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra
mais importante Affect Imagery Consciousnes
Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque
natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o
mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas
de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)
O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez
que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para
seu questionamento foi o afeto
3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-
organizadas
23
Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma
descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser
humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a
confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para
um estiacutemulo
A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e
de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)
De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em
afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos
estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo
Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para
evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a
vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim
um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5
Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove
afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees
dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das
expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o
mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX
2001)
Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o
sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um
indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as
possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas
O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees
eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos
Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e
referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees
Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a
convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas
4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos
5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem
concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras
24
Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees
baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria
De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se
apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz
diz e pensa
Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de
mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e
vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do
sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees
reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na
recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo
do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011
p 81)
Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa
emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se
percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar
para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e
preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas
Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta
que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que
segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo
lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo
geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas
pelo organismo ao longo de sua vida
Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas
emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-
se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem
nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo
Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco
precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas
medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que
merecem atenccedilatildeo especial
Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de
bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas
circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das
25
emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o
ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo
O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no
processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social
eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos
sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)
As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida
dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que
norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a
projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e
comportamentos
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia
A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em
Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo
sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a
um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer
tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo
quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo
Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente
que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos
para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos
Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que
natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo
Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma
estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e
dominacircncia
Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples
que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees
estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a
mensuraccedilatildeo de respostas emocionais
A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida
utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes
26
comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert
(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a
exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia
dos aspectos emocionais na memoacuteria
Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a
tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e
grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere
Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas
por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de
respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico
O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o
fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com
Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de
descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e
palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas
dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)
Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico
chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus
estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos
podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia
Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com
precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores
sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas
pois funcionam de forma independente6
A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento
ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua
relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)
A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um
estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e
LANG 1994)
6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de
Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal
27
A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do
agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva
ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo
valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema
aversivo
De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido
de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto
positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado
com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo
As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias
natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo
processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona
a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS
A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos
A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que
eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e
julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG
19041994)
A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos
aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o
estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem
valor de sobrevivecircncia
Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou
natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda
natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou
ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma
situaccedilatildeo
[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se
involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel
aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de
expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar
consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o
28
proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG
19161991 par 323)
Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se
surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou
que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era
registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito
A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as
respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias
Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa
trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A
expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de
expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um
processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade
Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos
carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas
manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado
de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)
Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do
complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa
aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o
desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica
Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e
sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma
emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica
Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos
percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes
Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma
predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de
fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que
pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o
desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par
769)
29
De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se
tornardquo
Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do
indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de
parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a
proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)
Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung
fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um
conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem
imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm
para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da
importacircncia relativa da imagem
Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande
medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se
a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees
perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores
consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo
A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees
interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos
sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia
Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos
que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos
conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao
mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)
A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o
mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual
um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao
objeto (JUNG 19332012)
30
Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos
os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um
processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia
Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante
da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute
por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo
pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo
Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo
sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser
esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos
Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com
caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e
contratransferecircncia
Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde
seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era
importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos
percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram
transferidas para o analista
Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma
exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento
psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas
ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)
A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois
pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus
pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)
E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que
neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)
revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na
esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)
Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido
negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia
Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma
repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente
pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo
31
A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com
Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza
aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da
criatividade na relaccedilatildeo
De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a
todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a
interaccedilatildeo
Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo
Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e
trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade
A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o
sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia
particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)
Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se
liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo
compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar
qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico
A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o
fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia
pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno
O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)
para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um
fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud
(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes
poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica
Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a
contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho
para o material de seus pacientes
Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo
representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se
em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo
natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do
cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra
32
passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o
analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico
Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos
e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo
de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o
autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das
desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas
atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa
Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995
2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na
teorizaccedilatildeo disso pode ser observada
Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)
importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram
na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da
contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do
paciente
Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo
para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento
teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a
contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do
paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)
A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-
determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute
indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem
acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago
colocadas no analista (RACKER 1982)
Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista
mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior
compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento
psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da
relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente
De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung
via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o
paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung
33
(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute
relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente
A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para
ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois
sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha
destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem
daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados
A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute
que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas
diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a
alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na
relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa
do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias
transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele
tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)
Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o
inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e
ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute
um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o
agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam
O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do
inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente
correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior
ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim
numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011
par 364)
De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes
reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees
de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute
presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e
temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais
duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da
contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise
Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia
possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos
34
A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome
mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o
paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia
Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de
desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem
bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus
pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes
e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute
contratransferecircncia
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos
existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um
instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico
A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica
relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e
Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre
meacutedico e paciente
Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante
influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de
lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico
[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo
como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus
conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que
pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT
1988 p 265)
Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma
atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com
isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por
outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator
quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de
funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De
acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o
35
paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho
do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente
o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do
meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo
com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma
influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988
p 47)
Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel
para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como
meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e
idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint
(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas
influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo
Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente
Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos
de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos
Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar
suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo
dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar
conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um
liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento
De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico
chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada
perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os
aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande
mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os
grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje
Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas
raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos
cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem
o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a
fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica
36
De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a
alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do
meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que
meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo
O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a
seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se
estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de
relacionamento com seu paciente
37
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA
A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes
Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS
MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp
Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr
Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr
Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr
Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom
Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed
Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx
International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg
Journal of Analytical Psychology
Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)
httpucpressjournalscomjournalphpj=jung
httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml
Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155
As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo
do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA
A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo
biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e
da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer
relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para
a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE
MARCO 2012)
Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das
pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos
38
muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem
tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional
O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo
onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma
imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os
poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano
comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)
O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional
em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos
etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico
A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa
realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram
que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram
necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas
27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles
que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios
modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar
Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas
relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano
De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o
estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a
distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo
que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para
o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer
resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente
O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em
seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver
comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento
ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos
psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico
Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a
implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os
estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa
39
Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a
comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo
com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos
encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila
de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na
educaccedilatildeo meacutedica
O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam
novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e
sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA
2001 p 8)
Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos
uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de
embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir
sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas
do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as
emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente
As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry
Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica
e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de
decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por
fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do
ambiente
Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes
despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a
maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que
essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia
O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus
sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)
a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres
e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica
De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves
necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com
situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do
paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que
inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente
40
As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma
constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve
prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas
tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de
ambas as partes
O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que
transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu
grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um
instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados
Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um
melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)
fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de
que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram
os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram
durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram
que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da
vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que
nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado
o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser
invertidos
Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees
inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma
segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem
vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos
envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores
meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode
fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la
A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel
substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o
meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e
compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de
tratamento
41
411 Estresse em meacutedicos
A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos
uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre
o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos
De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees
ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse
possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e
motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e
novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em
que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer
tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se
Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados
abaixo do ideal
De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por
produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma
influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente
tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas
emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais
como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes
Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na
Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos
profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no
trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma
vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do
atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho
excessiva
Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais
na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia
problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida
familiar foram os fatores mais citados
As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
42
Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria
Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22
se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados
houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os
problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho
meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse
foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva
excessiva (522)
Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados
mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia
Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram
a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o
fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento
Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do
municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos
apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia
Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade
de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123
apresentaram estresse
A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do
burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma
reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a
maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse
ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE
Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele
pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos
podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo
a um paciente
As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e
provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um
43
protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo
atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se
encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)
Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem
ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e
Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel
e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo
cliacutenica
Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece
com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo
parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos
A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da
capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e
percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes
Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser
positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a
pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink
A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al
(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas
dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo
De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles
que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma
conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila
Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute
satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e
TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio
(STEINMETZ e TABENKIN 2001)
Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem
impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith
(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de
7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no
qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos
negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)
44
cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de
sauacutede do paciente
Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a
qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de
conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a
especialistas
De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto
por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao
expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento
Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que
os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo
Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que
na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes
Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo
com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao
paciente ou a ambos
De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente
que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e
caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos
profissionais
Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)
observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos
com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o
autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus
proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas
proacuteprias reaccedilotildees emocionais
Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na
interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas
Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo
pelo meacutedico
Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para
identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente
45
O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al
(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo
interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento
De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos
processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a
flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o
paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu
humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente
Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e
Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o
envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis
cuidadosos e mais motivados
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE
Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo
em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como
Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do
conhecimento de sua farmacologia
Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute
permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse
tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional
para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)
De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais
envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte
dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se
informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede
Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e
paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por
mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo
empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes
Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave
comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por
meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os
46
humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um
fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais
Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de
emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo
transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e
natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no
passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que
antecipam no futuro
Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que
transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia
jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de
confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com
roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que
natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem
conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo
Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande
gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes
mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito
Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de
uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e
sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o
meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo
Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)
observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas
determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas
emoccedilotildees
Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e
Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do
paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais
satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente
47
percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos
foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi
determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao
paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia
sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico
percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o
meacutedico tratava o paciente
Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no
Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos
A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer
uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas
surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para
seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do
paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram
os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores
observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o
favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e
insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua
competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que
modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia
Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de
seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises
foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da
pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45
queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados
e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com
precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo
costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees
precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos
Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento
comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das
Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro
de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu
comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a
48
atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes
sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-
paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias
pregressas de encontros com outros meacutedicos
Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou
ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o
papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que
apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o
engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos
ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o
estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes
Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro
cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como
resposta um aumento da emotividade do paciente
Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de
sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila
significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes
tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a
tomada de decisatildeo
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO
Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem
explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam
diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo
variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de
como funciona esse processo
O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos
na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas
principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos
Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise
com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de
raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses
49
passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e
compreender o processo de uma doenccedila
A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo
compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica
meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento
de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica
cliacutenica tem se intensificado
Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a
forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de
qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente
De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-
se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas
logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo
quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete
erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a
compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias
O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a
decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se
inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia
todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma
avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a
probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial
Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes
ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A
prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva
a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as
hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do
paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL
KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)
Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento
heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um
diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com
Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional
50
ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas
emoccedilotildees podem influenciaacute-la
Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo
uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas
pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A
heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel
Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu
uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros
sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que
deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo
Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de
decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia
muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute
trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo
alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na
geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente
quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo
De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees
de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico
natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico
Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte
da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e
por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma
como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem
no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico
possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias
Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de
hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de
medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas
geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses
iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o
processo de diagnoacutestico final
Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais
hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas
51
agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses
especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio
intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que
reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados
limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico
A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue
um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em
evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos
De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem
duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o
que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a
informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se
encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em
que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo
consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro
geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos
Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o
ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento
emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que
complicam a decisatildeo cliacutenica
Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em
um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o
modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo
cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que
tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando
protocolos e sistemas
Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que
fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em
ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os
meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico
e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou
quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos
desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de
ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo
52
A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados
estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento
Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um
tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser
humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo
(GROOPMAN 2008 p 15)
De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo
meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores
decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo
relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores
assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem
garantir resultados eficazes
Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em
funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em
que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente
provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado
Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de
pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas
possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo
Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria
muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo
A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto
quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos
terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo
Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de
forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo
Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as
caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram
selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o
modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as
53
caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de
diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia
combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes
para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas
Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes
durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo
sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez
que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa
funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida
Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem
esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos
meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade
Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um
guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio
entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que
fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de
raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo
analiacutetica
O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees
importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees
precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos
podem ser alertados para modificar um raciociacutenio
Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam
sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de
eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em
termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os
autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de
patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera
variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico
Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-
pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver
8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo
54
algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico
claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro
sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro
Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede
de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-
pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto
em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de
incerteza diagnoacutestica
Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da
queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre
o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de
errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era
nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas
foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o
exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O
meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes
Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros
paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a
maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos
participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados
com os meacutedicos holandeses
Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e
tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico
experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o
prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)
e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo
de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos
relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no
abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de
errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos
dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de
incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos
resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos
utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo
55
Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos
holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo
interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme
definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses
diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de
tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente
estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de
tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que
era esperado pelo meacutedico
As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no
processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo
existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo
de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em
que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo
as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas
tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo
56
5 MEacuteTODO
A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados
quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o
enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode
ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-
quantirdquo
De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de
muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos
e quantitativos
Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos
mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta
pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e
qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial
explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos
51 PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas
especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte
(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo
dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina
convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de
caso com entrevista
52 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de
testagem
57
Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o
International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do
meacutedico
Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do
meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente
A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico
O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm
por objetivo caracterizar a amostra
Idade________________
Sexo F ( ) M ( )
Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________
Especialidade____________________________
Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)
Consultoacuterio ( )
Hospital puacuteblico ( )
Hospital particular ( )
Universidade ( )
Outro______________________ ( )
Outro______________________ ( )
Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no
Consultoacuterio ___ h
Hospital puacuteblico ___ h
Hospital particular ___ h
Professor acadecircmico ___ h
Outro ____________________ ___ h
Outro ____________________ ___ h
____ (total de horas semanais)
Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___
58
Tempo meacutedio de atendimento ___
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a
pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em
que se encontra
Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a
fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo
Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de
adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada
Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se
novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total
de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta
inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi
quebrado na fase de alerta
Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia
fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue
pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e
esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total
desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra
emocional
Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que
um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue
concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves
podem ocorrer
Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou
sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com
15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do
estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo
59
Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as
sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo
quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)
Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e
trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados
pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes
psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e
apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo
523 IAPS ndash International Affective Picture System
O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por
imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama
de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de
700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras
As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos
participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os
participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo
emocional
As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do
Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo
estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as
gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item
que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras
escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer
A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo
induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala
Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)
pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo
(desagradaacutevelnegativa)
De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido
porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de
avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel
60
A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro
Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do
IAPS foi autorizada pelos autores
Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o
relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12
agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos
estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo
emocional das imagens
524 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por
perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles
tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de
De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith
(1995)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil
1a Que caracteriacutesticas ele tem
1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente
atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades
2a Que caracteriacutesticas ele tem
2b Por que ele natildeo desperta dificuldades
2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso
o afeta Decirc um exemplo
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente
Como
61
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira
no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse
decorrente da profissatildeo Como lida com isso
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por
quecirc
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc
53 PROCEDIMENTOS
531 Local de coleta
A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)
532 Seleccedilatildeo dos participantes
Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de
indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos
proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento
dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo
A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de
disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a
realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em
clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico
escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise
aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O
procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise
533 Procedimento de coleta de dados
62
O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta
de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados
serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia
Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os
resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)
Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos
conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes
foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi
agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta
O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees
sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a
possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de
consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e
devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa
avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da
entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas
e depois transcritas para a anaacutelise
Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia
utilizada na aplicaccedilatildeo foi
Questionaacuterio sociodemograacutefico
Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por
favor preencha as informaccedilotildees solicitadas
International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)
Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo
com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo
responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de
respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma
sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe
parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz
ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que
mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando
um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a
63
figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se
alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta
estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se
aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X
entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no
meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a
classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o
nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os
tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam
Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem
experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os
sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou
P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs
Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a
entrevista
Entrevista semiestruturada
Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees
em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do
paciente
534 Procedimento de anaacutelise de dados
O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem
quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30
meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a
interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos
escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a
64
anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram
identificados por nomes fictiacutecios
5341 Anaacutelise quantitativa de dados
Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes
estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD
(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados
O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando
suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado
para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras
independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de
anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes
Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu
como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo
A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de
estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico
com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo
com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer
comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do
IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS
comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico
5342 Anaacutelise qualitativa de dados
A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro
clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi
escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)
meacutedicos
A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas
com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional
65
o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e
estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
535 Procedimento eacutetico
A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa
envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de
Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o
Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)
66
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou
tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo
qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo
O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa
SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de
medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas
(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes
estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes
tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de
comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o
programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se
com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro
A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade
com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir
dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes
em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante
de cada cluster para o estudo de caso
A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia
Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo
da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International
Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o
sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster
Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4
participantes em forma de Estudo de Caso
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA
67
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos
Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de
diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento
no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas
caracterizaccedilotildees
Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as
distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)
especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho
(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de
pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio
(tabela 7)
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo
Sexo N
Masculino 17
Feminino 13
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e
13 (treze) do sexo feminino
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria
Faixas etaacuterias N
20 a 34 anos 10
35 a 48 anos 7
49 a 59 anos 7
Acima de 60 anos 6
Total 30
Meacutedia 446
Desvio-padratildeo 130
Fonte proacuteprio autor
68
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7
(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade
eacute de 446 anos
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado
Tempo de formado N
05 a 10 anos 12
11 a 23 anos 6
24 a 32 anos 6
33 a 46 anos 6
Total 30
Meacutedia 194
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11
a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de
tempo de formado eacute 194 anos
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades
Especialidade N
Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8
Ortopedia 5
Ginecologia 4
Oftalmologia 3
Otorrinolaringologia 3
Endocrinologia 2
Neurologia 2
Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3
Total 30
Fonte proacuteprio autor
No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e
tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)
oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As
outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia
69
(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)
e urologia (1)
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho
Locais de Trabalho N
Apenas Consultoacuterio 10
Consultoacuterio e Hospital particular 10
Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5
Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10
(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no
hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos
trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 2
21 a 40 hsemanais 8
41 a 48 hsemanais 8
49 hsemanais e + 12
Total 30
Meacutedia 460
Desvio-padratildeo 125
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a
maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais
dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas
70
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 8
21 a 40 hsemanais 15
41 a 48 hsemanais 2
49 hsemanais e + 5
Total 30
Meacutedia 328
Desvio-padratildeo 129
Fonte proacuteprio autor
O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao
atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio
Nuacutemero de pacientesdia N
01 a 09 pacientesdia 4
10 a 22 pacientesdia 15
23 a 37 pacientesdia 6
38 a 55 pacientesdia 5
Total 30
Meacutedia 219
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219
Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a
22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais
de 38 pacientesdia no consultoacuterio
71
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta
Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N
15 a 25 minutos 13
26 a 35 minutos 12
36 a 45 minutos 4
46 a 55 minutos 1
Total 30
Meacutedia 268
Desvio-padratildeo 100
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a
consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus
pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse
que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no
consultoacuterio eacute de 268 minutos
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e
13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A
meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos
meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268
minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do
consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)
Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos
sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da
escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da
amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os
sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos
72
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Stress N Paracircmetro
Natildeo 13 433 440
Sim 17 567 560
Total 30 1000 1000
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de
estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo
geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute
dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Fase Stress N Paracircmetro
Alerta 02 67 20
Resistecircncia 15 500 530
Exaustatildeo 0 00 10
Total 17 567 560
Fonte proacuteprio autor
Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles
estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e
Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa
que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta
referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo
de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um
prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo
de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a
fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar
as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves
73
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL
5
10
2
0
2
4
6
8
10
12
Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos
Prevalecircncia de Sintomas de Stress
Prevalecircncia de sintomas N
Fiacutesicos 5
Psicoloacutegicos 10
Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2
Total 17
Fonte proacuteprio autor
Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram
predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram
diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos
projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-
estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo
muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e
insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro
De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou
psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos
decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da
amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a
vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra
uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)
apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos
paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de
resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma
sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos
mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita
de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva
Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento
encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20
74
meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e
com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em
58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na
fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram
resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas
123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e
72 apresentaram estresse
Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em
termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade
psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a
inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores
psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo
podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico
Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para
observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o
iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo
Stress Sexo Total
Masculino Feminino
Natildeo 7 6 13
Sim 10 7 17
Total 17 13 30
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do
teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo
entre o sexo e o estresse
75
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas
Stress N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t p
Idade Natildeo 13 486 138 38
150 0144 Sim 17 415 119 29
Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38
167 0106 Sim 17 162 107 26
Tempo total de
trabalho (horas
semanais)
Natildeo 13 484 142 39
091 0371 Sim 17 442 112 27
Tempo de trabalho
no Consultoacuterio (horas
semanais)
Natildeo 13 337 130 36
030 0766 Sim 17 322 133 32
Nuacutemero de
pacientesdia
Natildeo 13 255 153 42 140 0171
Sim 17 192 92 22
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
Natildeo 13 300 96 27 155 0133
Sim 17 244 100 24
Fonte proacuteprio autor
Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por
meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As
diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil
sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)
Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas
da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo
emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens
afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment
Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a
intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir
76
de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao
induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo
(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta
a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da
populaccedilatildeo
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais
Escalas N Meacutedia Desvio
padratildeo
Erro
padratildeo
t p μ
Paracircmetro
Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491
Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501
Total 30 497 044 008 0095 0925 496
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas
escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala
Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a
meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que
os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila
significativa
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico
Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave
percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se
internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia
alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional
As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais
dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de
pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta
77
Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS
Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo
Sexo N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t P
Alerta Masculino 17 504 113 027
1634 0057 Feminino 13 449 054 015
Prazer Masculino 17 509 031 007
-0646 0262 Feminino 13 518 043 012
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture
System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas
meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo
com as escalas
A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do
IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Alerta Prazer
Idade
r 035 -028
p 0031 0065
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de formado
r 032 -024
p 0043 0100
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo total de trabalho (horas
semanais)
r -0041 -0025
p 0415 0448
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de trabalho no Consultoacuterio
(horas semanais)
r 020 -040
p 0139 0014
N 30 30
78
Alerta Prazer
Nuacutemero de pacientesdia
r 002 021
p 0443 0128
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
r 036 -0204
p 0024 0140
N 30 30
A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica
descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis
O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que
indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa
que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +
032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo
de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e
o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta
Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele
ficou diante dos estiacutemulos emocionais
Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas
semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto
mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer
Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de
pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer
Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em
relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das
distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave
79
percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao
trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)
Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo
de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos
mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta
Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos
tempo
616 Agrupamento do IAPS por cluster
Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos
participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com
similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade
ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por
agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um
embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em
profundidade
O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a
cada agrupamento
80
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)
O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas
Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia
dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia
A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a
separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia
N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo F P
Alerta
Cluster 1 6 501 010 004
4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027
Cluster 3 9 377 027 009
Cluster 4 8 465 021 007
Prazer
Cluster 1 6 493 015 006
2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010
Cluster 3 9 519 016 005
Cluster 4 8 556 017 006
Fonte proacuteprio autor
81
O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo
que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)
Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos
clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos
ou mais distantes da meacutedia
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
Alerta N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055
Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004
Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000
Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009
Prazer N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265
Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038
Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011
Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000
Fonte proacuteprio autor
O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral
O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que
possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a
populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor
pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos
de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters
O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais
82
baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo
O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o
com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com
pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis
sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os
clusters
Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou
afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective
Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo
e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional
que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no
cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas
duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e
tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster
3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4
agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve
diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters
O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas
pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters
2 3 e 4
Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia
em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster
83
perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos
outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia
de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam
486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181
pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos
Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e
4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam
prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a
anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de
fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os
sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer
unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa
especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente
Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de
formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente
nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que
meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se
mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas
semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e
desagradaacutevel
Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)
concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais
excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos
niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa
correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta
Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no
consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees
intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a
anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes
O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor
pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa
em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos
diante dos estiacutemulos
84
Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos
participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4
trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao
trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 233 minutos
Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5
na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com
estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de
sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram
duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos
outros clusters
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos
que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico
Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo
esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo
dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas
O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos
constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade
emocional
O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior
pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de
forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia
de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao
trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 225 minutos
Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e
3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de
resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas
psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio
entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os
participantes deste cluster
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com
menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais
85
pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os
resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de
trabalho no consultoacuterio e o Prazer
O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das
relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer
como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo
frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como
aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster
Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que
trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo
com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem
Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas
escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas
hipoacuteteses interpretativas
1ordf Tendecircncia observada
Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado
e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos
estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as
variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de
estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela
escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que
permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais
desagradaacutevel
Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente
de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses
meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o
Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas
relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem
estar menos satisfeitos
2ordf Tendecircncia observada
86
O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo
com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade
emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse
pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos
permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de
interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente
Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente
com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo
agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente
3ordf Tendecircncia observada
Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de
formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem
mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala
Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior
prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda
uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer
Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria
da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos
prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com
outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem
menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga
emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso
Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para
anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por
meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas
no quadro a seguir
87
Tabela 17 Categorias de anaacutelise
CATEGORIAS
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
A percepccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises
6221 Caso 1 Daniel (participante 12)
Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto
aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que
ficam mais tempo com o paciente nas consultas
Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute
Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta
de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha
em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute
de 45 minutos
Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e
era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando
sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de
como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem
educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como
montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um
desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que
estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas
algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar
que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
88
Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico
constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo
relatou nenhum sintoma psicoloacutegico
O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa
aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro
mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele
natildeo vai ser meacutedicordquo
Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas
situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees
de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel
fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como
atender um paciente bem se natildeo estiver descansado
Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia
mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem
porque aprendirdquo
Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o
nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o
trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre
cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo
chato natildeo eacute rabo curto como erardquo
Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-
se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu
passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho
mais tempordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o
meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos
estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos
Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as
89
consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por
estiacutemulos que despertam emoccedilotildees
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve
permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de
modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu
trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo
Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em
dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam
parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi
um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos
meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e
isso me emocionourdquo
Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o
influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o
atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e
fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se
resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas
falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo
reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo
Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios
incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma
diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo
pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer
mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao
paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava
dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a
90
lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por
que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo
Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais
envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes
sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo
paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos
que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo
O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante
que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do
diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao
cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio
ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de
suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento
mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram
o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa
ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee
chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me
obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou
trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como
esse afetassem o seu trabalho
Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou
que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees
de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser
conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com
a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo
Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o
tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute
positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto
Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais
satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo
Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees
positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades
mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades
91
mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe
paciente faacutecilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle
diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto
emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o
controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais
jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []
mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as
emoccedilotildeesrdquo
O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do
desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro
maisrdquo
Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o
controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus
pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de
brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-
presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para
essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha
a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas
desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo
Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram
desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica
remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo
Leitura analiacutetica
Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos
que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi
extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo
diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no
teste do IAPS
92
Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees
relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a
maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou
uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no
em sua seguranccedila
Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode
refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e
incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as
emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute
necessaacuteria uma atitude de controle
Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente
que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o
seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel
ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido
contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o
paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute
aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e
que parece respeitaacute-lo
No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes
percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou
ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o
senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo
ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e
com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se
ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente
O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular
de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa
Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas
estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como
demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute
cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns
iam emborardquo
Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo
permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos
93
aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de
seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os
aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o
confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e
que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de
falhar
6222 Caso 2 Alice (participante 2)
Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade
emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em
hospital puacuteblico
Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e
divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes
Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio
Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
20 minutos
Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas
vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel
Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios
momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era
solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das
questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que
uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar
algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia
preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos
prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e
cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa
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especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando
mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a
hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e
irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do
ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os
pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam
aprender a lidar
Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades
que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo
Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem
interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em
burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso
pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda
muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []
eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou
menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das
figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma
tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o
que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter
diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas
podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de
comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a
emoccedilatildeo) influi em tudordquo
95
Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais
intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo
Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o
que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que
podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo
Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem
alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em
seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos
avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar
que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de
atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela
como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e
sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo
Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que
incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao
meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua
postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a
um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim
entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho
que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa
ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o
baixo Alerta no IAPS
Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de
exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de
pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente
e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a
relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma
compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no
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consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo
ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo
Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas
pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de
violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria
demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo
Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo
aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo
pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e
ajuda ao outro
Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a
sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]
eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele
realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim
de se sentir uacutetilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para
proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]
quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de
pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do
caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees
psicoloacutegicas de lidarrdquo
Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em
que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e
assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou
uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo
Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata
como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o
tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no
consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo
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Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara
com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente
parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos
Leitura analiacutetica
Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para
evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em
qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo
como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez
Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela
teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute
canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo
antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de
superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir
parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse
recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio
Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas
diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o
recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica
Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo
de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que
parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela
reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o
caso
Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo
representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos
Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel
Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia
para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja
vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda
ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas
A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice
percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os
98
sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes
Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse
estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da
entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como
vinculadas ao estresse
Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas
como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que
como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos
efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento
A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua
capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e
frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar
sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse
reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto
observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas
relaccedilotildees
Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo
projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante
dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo
6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)
Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de
Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de
formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam
menos tempo com eles
A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi
individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande
nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais
caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio
99
Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o
seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo
atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho
no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
15 minutos
O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito
cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de
atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo
para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e
agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade
suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo
assinalou nenhum sintoma fiacutesico
Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que
atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras
atividades como cirurgias e compromissos familiares
Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o
estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma
contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e
mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que
me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo
ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo
perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel
percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral
Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao
considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa
100
insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em
funccedilatildeo de um processo defensivo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre
elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente
acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo
As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e
prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma
caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc
fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como
barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo
Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho
Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela
sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor
cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo
emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo
Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as
suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a
sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo
vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []
afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando
perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)
Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender
Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet
ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees
desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo
da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar
101
o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje
em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo
quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo
Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo
traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa
desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender
[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e
mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA
dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar
para ele o que vocecirc esta querendordquo
O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o
diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de
Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu
trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se
sente bemrdquo
Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que
suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento
das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o
pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas
jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu
trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo
ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute
tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser
neutrordquo
Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de
cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito
comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o
ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser
influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto
nenhumrdquo
102
Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou
estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se
com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que
chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo
Leitura analiacutetica
Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo
Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo
O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois
trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No
entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e
insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes
O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e
o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse
Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo
Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de
que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou
subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu
papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia
negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo
vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos
emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a
gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo
Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e
controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como
meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus
atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu
julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e
entendimento
Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre
a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter
103
observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no
controle e que a atitude emocional pode ser controlada
Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para
expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que
poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo
soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo
A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra
tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute
provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as
emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do
receio de ter esse poder contestado
6224 Caso 4 Marcos (participante 13)
Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais
proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos
paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer
Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia
Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital
Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10
pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos
Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou
interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha
encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este
apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um
processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e
tem se esforccedilado muito para isso
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia
afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado
104
estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de
dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os
sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e
irritabilidade sem causa aparente
O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de
sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo
de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua
jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errarrdquo
Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo
emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto
ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura
refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro
trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua
meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas
emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo
subjetiva da emoccedilatildeo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um
caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante
em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer
isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai
da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutemrdquo
Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no
diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a
beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo
105
para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a
emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo
Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de
soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um
caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo
O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar
ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias
com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e
pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem
ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo
dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo
Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois
isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais
fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a
natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm
pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a
doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no
tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e
inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse
impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo
Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar
com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com
o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido
principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento
O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da
evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de
afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de
afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no
tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo
106
O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio
que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento
e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo
[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte
delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de
realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente
satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de
realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e
tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu
conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem
do que eu posso fazerrdquo
Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves
relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como
lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor
estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem
unicamente de mimrdquo
Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees
principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito
bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo
Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de
recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de
conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para
dar um alentordquo
Leitura analiacutetica
Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho
que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu
procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo
107
Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita
que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um
pouco da personalidaderdquo
Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e
do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc
tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para
issordquo
A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante
das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em
alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes
Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como
raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila
podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para
lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o
que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da
racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas
depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer
sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia
Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira
nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e
motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a
sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo
verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral
Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da
responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do
meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo
trabalhada
Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para
ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para
pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e
reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo
com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-
las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
108
Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais
clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos
defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees
como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e
uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma
relaccedilatildeo com o paciente
109
7 DISCUSSAtildeO
O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente
que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles
relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem
influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico
Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com
o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo
os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e
a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o
paciente
Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees
estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas
emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais
impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca
compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional
A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees
que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas
Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada
porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido
seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo
percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base
essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem
apenas sintomas da afetividaderdquo
Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e
DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que
os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a
Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas
raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse
funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico
Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se
ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer
110
insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento
semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos
sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma
segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo
de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar
romper o viacutenculo
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um
compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico
(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a
essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de
valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e
dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes
tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como
afastamento entre outras
Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um
sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das
possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida
emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional
eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos
relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um
entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios
A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se
sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas
nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente
aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro
desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente
visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando
compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o
ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer
Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo
apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo
apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser
usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute
uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo
111
subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo
Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as
suas normas e convicccedilotildees
Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do
detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode
mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo
impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a
funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos
frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou
meacutedicordquo
Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo
com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico
assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais
caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos
De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente
representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da
consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma
persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem
parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo
vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral
riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel
se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)
Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por
autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do
meacutedico
Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de
detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado
situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura
informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona
riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel
Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para
responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e
sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a
reflexatildeo
112
Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e
reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas
tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no
atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como
negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas
Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo
interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e
ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e
mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado
dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os
incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo
Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois
mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples
fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a
emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar
com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui
A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas
emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um
maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de
atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem
a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento
Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar
com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta
compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e
fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro
momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa
de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes
reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades
para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das
emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam
que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem
evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a
113
esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar
sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de
seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de
reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que
os afetava negativamente e o que os afetava positivamente
Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a
busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com
naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis
Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia
percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos
chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e
distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e
com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado
espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na
entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a
questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional
Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo
ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)
O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao
extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A
atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se
riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado
Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma
inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente
mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira
vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de
impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de
quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder
A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de
como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e
sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as
caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as
percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais
114
Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar
inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o
tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo
emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung
(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente
que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico
No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas
entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b
par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em
nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o
pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas
pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a
Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila
constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na
forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)
Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre
presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo
No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006
2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um
auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de
circuitos mentais confluentes
Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e
Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a
aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e
do processo de tomada de decisatildeo
Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco
reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do
meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-
paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a
contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na
compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e
impactar no atendimento do paciente
115
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece
quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo
desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a
incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que
despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em
geral
As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica
pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento
interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu
falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os
meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional
parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por
complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo
O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente
Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na
leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica
O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos
vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos
que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido
agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais
Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o
paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que
o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes
que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como
pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute
elemento isolado desse todo
O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao
distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a
persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o
paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si
116
Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo
colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo
de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente
repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista
institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos
reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho
Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca
havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a
medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido
ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo
de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive
vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no
primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina
curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa
profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)
A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma
aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na
busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte
de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos
necessaacuterios
A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as
defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega
estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por
exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o
impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo
Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito
individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um
psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e
contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees
Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao
meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas
de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de
Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns
hospitais
Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das
emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre
gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o
117
ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o
impacto nos processos de decisatildeo
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ANEXO A
129
ANEXO B
130
ANEXO C
131
132
APEcircNDICE
Caso 1 Daniel (participante 12)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles
entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais
meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes
fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo
que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica
acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar
perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus
pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um
pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o
senhor quer saber isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas
algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter
fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos
e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube
dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros
do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a
secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia
natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me
perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito
bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem
o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com
ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de
uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia
rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute
num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo
quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo
133
a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC
tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute
jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos
70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva
ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio
noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu
natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)
Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo
durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de
futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes
natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer
terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que
eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo
aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai
para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre
consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu
assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o
mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas
fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando
os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando
a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso
me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me
defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem
essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por
isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a
consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir
embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu
quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem
na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles
atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em
outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco
134
comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar
quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma
superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele
histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve
dor de barriga
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor
de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as
informaccedilotildees natildeo procura se exibir
Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo
valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees
tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque
tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de
propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia
quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute
vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da
moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu
pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse
ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude
chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que
seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se
escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e
sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira
bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos
sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom
apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees
positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas
chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo
135
emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo
mexer com nossa inseguranccedila
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e
controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo
de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu
deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo
possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de
contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha
indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar
imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais
estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse
olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e
vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu
tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o
senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram
pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar
porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de
tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns
dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele
num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e
emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro
eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a
carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc
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vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone
tocou)
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a
me controlar
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda
hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade
quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha
taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha
que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se
controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando
me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso
com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o
sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc
definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada
Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e
provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular
quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo
Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo
ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs
ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele
escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado
depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo
estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve
um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que
essa seja a explicaccedilatildeo
137
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um
pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro
assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade
agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo
ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito
bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um
pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute
uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo
respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam
atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no
fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas
eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou
Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo
com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil
participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta
meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia
isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e
a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma
coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada
pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas
vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de
SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era
rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma
incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras
achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de
pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito
difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra
138
coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras
consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a
formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado
viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo
especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu
conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do
HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo
obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes
ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema
com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa
foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F
que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem
para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem
competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo
absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois
casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a
parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um
oacutetimo colega
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Caso 2 Alice (participante 2)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que
mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza
Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo
paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos
paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em
hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de
paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu
consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo
sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar
vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender
Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo
sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai
esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma
agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para
fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo
vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco
de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute
mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes
mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem
140
porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta
eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica
e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue
responder acho que eacute isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas
eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir
aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo
meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo
prazer Sensaccedilotildees boas
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma
meacutedica relativamente sortuda (risos)
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)
(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo
consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito
bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito
grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela
foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e
aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu
me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para
criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela
trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava
acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles
que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana
neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas
dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no
final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que
o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho
141
menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu
achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse
bobeira doutora deixa para laacute
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de
atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor
evitar esse tipo de paciente porque vai dar m
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-
operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar
que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar
mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro
o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei
olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os
preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24
agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma
semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia
me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele
fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o
que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o
que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho
um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu
sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute
uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular
tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das
coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio
142
cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para
discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala
nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar
Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele
vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo
concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz
reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e
vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque
depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo
venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so
long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um
ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo
meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo
mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute
dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no
sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra
pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus
entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou
vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito
entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que
trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada
demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal
ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso
descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima
eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que
leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
143
Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele
estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila
que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para
ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa
entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em
condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para
explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara
com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele
faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por
semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim
sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que
vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma
psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa
sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que
realmente impacta muito a vida deles
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc
natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o
paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente
me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De
vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma
menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma
ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito
beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles
vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu
chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute
144
Caso 3 Miguel (participante 4)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem
alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute
considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves
orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo
compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me
traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu
natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute
mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de
incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu
melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E
posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse
tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se
acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela
natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o
viacutenculo
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com
a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura
fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque
145
eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa
sauacutede
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem
de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe
melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias
de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e
muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar
uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse
paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um
paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando
mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto
para dar um alento
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque
muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo
do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute
mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte
mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa
empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva
sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou
natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam
melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da
146
patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo
respondeu tatildeo bem
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma
caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou
esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave
informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores
quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso
organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar
preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de
mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente
porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma
fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma
estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem
formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia
eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a
experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo
assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive
momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos
para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem
um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa
condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te
dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
147
Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais
assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas
positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute
vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos
tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra
mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos
acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma
especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os
meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais
paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra
mas (Interrompeu paciente chegou)
148
Caso 4 Marcos (participante 13)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o
trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute
vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico
do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira
assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo
satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e
geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute
acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais
briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo
construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar
fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela
mesma
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar
explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa
como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute
uma sensaccedilotildees incocircmoda)
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil
mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu
conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar
a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha
149
passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa
que estaacute compartilhando o problema com vocecirc
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de
ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm
burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que
questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas
coisas
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que
veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas
para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-
socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico
me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me
agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma
ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois
operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha
um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral
um achado em exames tambeacutem veio me agradecer
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo
aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta
agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o
negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)
As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica
fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um
150
aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa
positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo
da pessoa
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de
emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por
hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir
uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um
compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse
agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc
faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)
Eu acho que eu administro bem
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um
pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas
vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a
pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com
sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por
uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo
me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma
coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
151
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a
falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo
estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o
paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim
Banca Examinadora
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Profa Dr
a Liliana Liviano Wahba ndash Orientadora
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo
saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo
Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes
Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos
momentos de interaccedilatildeo
Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu
crescimento
Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados
estatiacutesticos
Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso
Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada
Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce
Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida
CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem
da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o
afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30
(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4
(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos
utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a
entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram
sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo
entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve
diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo
com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento
(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o
paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros
meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados
pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a
abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias
preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao
estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees
despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar
com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e
percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos
decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para
ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes
Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente
projeccedilotildees psicologia junguiana
CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An
Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
ABSTRACT
The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception
of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in
quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen
four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the
analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults
Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured
interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is
an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the
sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference
between the sample results and the general population but differences were found in the
relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time
(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors
with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more
impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per
week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data
were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the
approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories
related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional
perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by
difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results
revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity
There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and
poorly understood which can result in projections in patients
Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship
projections Jungian psychology
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
81
Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
70
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IAPS International Affective Picture System
ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
SAM Self-Assessment Manikin
SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees
SPSS 17 Statistical Package for the Social Science
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 OBJETIVOS 17
21 OBJETIVO GERAL 17
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17
23 QUESTOtildeES 17
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37
411 Estresse em meacutedicos 41
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52
5 MEacuteTODO 56
51 PARTICIPANTES 56
52 INSTRUMENTOS 56
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58
523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59
524 Entrevista semiestruturada 60
53 PROCEDIMENTOS 61
531 Local de coleta 61
532 Seleccedilatildeo dos participantes 61
533 Procedimento de coleta de dados 61
534 Procedimento de anaacutelise de dados 63
5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64
5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64
535 Procedimento eacutetico 65
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76
616 Agrupamento do IAPS por cluster 79
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86
6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87
6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93
6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98
6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103
7 DISCUSSAtildeO 109
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115
REFEREcircNCIAS 118
ANEXO A 128
ANEXO B 129
ANEXO C 130
APEcircNDICE 132
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada
(HILLMAN 1992 p xi)
As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as
relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e
possibilitam sensaccedilotildees como o prazer
Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a
par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e
por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e
reciacuteproco sobre o outrordquo
Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso
corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente
Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo
apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2
Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos
indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos
mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo
O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute
presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado
escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do
sentido e do significado
[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da
razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia
ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma
supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na
unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral
(JUNG 19212009a par117)
Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa
dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja
1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o
outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a
par 751)
13
pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o
trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito
Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo
em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a
emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no
momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis
respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser
levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As
emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele
lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os
de morte
Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho
(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto
das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees
De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo
pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo
profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao
mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um
caminho de evitaccedilatildeo
Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo
do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que
escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir
para ser meacutedicordquo
Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e
humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de
estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e
adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a
atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento
podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel
sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no
mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre
elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico
acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos
fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica
14
Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores
entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15
dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles
seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila
mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo
A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias
natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele
interage com o paciente
O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades
organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais
administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que
lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em
equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica
Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam
evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam
exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa
atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede
do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para
a tomada de decisotildees
Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o
dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja
falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas
palavras e nas interaccedilotildees
Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes
Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela
estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute
essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede
de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai
processar essas emoccedilotildees
As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca
atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave
contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas
relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo
15
Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia
chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que
provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos
tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)
As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por
meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa
personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da
afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)
Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o
reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base
nos fundamentos da psicologia analiacutetica
Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente
influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas
decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo
possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo
com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e
instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de
estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos
O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo
Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo
apresentados no Capiacutetulo 2
No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as
discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as
dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e
contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o
estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional
na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das
emoccedilotildees na tomada de decisatildeo
No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a
amostra os instrumentos e os procedimentos
A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6
Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de
Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na
16
anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de
estudo de caso
Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados
relacionando-os com a teoria e os fundamentos
O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho
para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema
17
2 OBJETIVOS
21 OBJETIVO GERAL
Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico
Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse
Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e
aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades
Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico
23 QUESTOtildeES
Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees
Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica
Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico
18
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES
A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista
conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo
do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao
privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e
enriquece o desenvolvimento de teorias
A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos
ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo
Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate
protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses
assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do
aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)
Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo
cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem
qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo
Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam
ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de
estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo
vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes
As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um
fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo
Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a
neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e
intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e
19
direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo
com o ambiente) (SCHERER 2005)
De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees
com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram
a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente
no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos
Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a
interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento
de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees
de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma
soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia
Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente
ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional
Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem
gerar prazer ou desprazer
Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para
suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila
o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de
cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado
conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao
tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de
incerteza
Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante
influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da
emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento
emocional
LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de
forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de
distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma
participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido
para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar
tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo
emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel
do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo
20
O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves
motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se
encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os
responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo
A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo
processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos
racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas
as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento
Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute
os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa
mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)
Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que
ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave
evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A
tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a
desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para
eventos natildeo relacionados
Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do
processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu
durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem
devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando
uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)
Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e
pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia
de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e
com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e
objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior
fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo
As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria
fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa
de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as
nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p
13)
21
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico
Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa
quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees
pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto
qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada
Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente
como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a
emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam
conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na
gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o
autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo
Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a
decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja
escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as
muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo
A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no
momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma
determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em
consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo
A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa
Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um
processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo
o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem
mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem
vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a
uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo
De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico
fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A
ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por
sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos
em emoccedilotildees e sentimentos
22
A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo
para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado
resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal
automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um
nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico
positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo
Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees
secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)
pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios
Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e
sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem
natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de
interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas
(DAMAacuteSIO 2006 p 211)
A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo
de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas
A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe
um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais
Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves
organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra
mais importante Affect Imagery Consciousnes
Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque
natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o
mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas
de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)
O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez
que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para
seu questionamento foi o afeto
3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-
organizadas
23
Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma
descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser
humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a
confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para
um estiacutemulo
A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e
de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)
De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em
afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos
estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo
Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para
evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a
vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim
um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5
Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove
afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees
dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das
expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o
mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX
2001)
Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o
sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um
indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as
possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas
O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees
eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos
Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e
referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees
Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a
convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas
4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos
5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem
concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras
24
Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees
baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria
De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se
apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz
diz e pensa
Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de
mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e
vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do
sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees
reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na
recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo
do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011
p 81)
Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa
emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se
percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar
para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e
preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas
Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta
que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que
segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo
lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo
geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas
pelo organismo ao longo de sua vida
Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas
emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-
se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem
nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo
Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco
precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas
medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que
merecem atenccedilatildeo especial
Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de
bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas
circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das
25
emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o
ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo
O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no
processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social
eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos
sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)
As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida
dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que
norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a
projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e
comportamentos
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia
A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em
Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo
sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a
um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer
tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo
quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo
Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente
que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos
para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos
Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que
natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo
Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma
estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e
dominacircncia
Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples
que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees
estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a
mensuraccedilatildeo de respostas emocionais
A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida
utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes
26
comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert
(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a
exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia
dos aspectos emocionais na memoacuteria
Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a
tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e
grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere
Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas
por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de
respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico
O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o
fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com
Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de
descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e
palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas
dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)
Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico
chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus
estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos
podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia
Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com
precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores
sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas
pois funcionam de forma independente6
A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento
ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua
relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)
A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um
estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e
LANG 1994)
6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de
Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal
27
A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do
agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva
ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo
valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema
aversivo
De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido
de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto
positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado
com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo
As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias
natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo
processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona
a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS
A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos
A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que
eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e
julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG
19041994)
A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos
aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o
estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem
valor de sobrevivecircncia
Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou
natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda
natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou
ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma
situaccedilatildeo
[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se
involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel
aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de
expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar
consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o
28
proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG
19161991 par 323)
Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se
surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou
que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era
registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito
A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as
respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias
Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa
trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A
expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de
expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um
processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade
Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos
carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas
manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado
de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)
Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do
complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa
aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o
desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica
Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e
sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma
emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica
Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos
percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes
Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma
predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de
fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que
pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o
desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par
769)
29
De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se
tornardquo
Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do
indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de
parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a
proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)
Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung
fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um
conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem
imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm
para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da
importacircncia relativa da imagem
Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande
medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se
a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees
perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores
consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo
A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees
interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos
sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia
Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos
que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos
conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao
mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)
A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o
mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual
um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao
objeto (JUNG 19332012)
30
Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos
os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um
processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia
Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante
da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute
por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo
pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo
Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo
sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser
esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos
Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com
caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e
contratransferecircncia
Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde
seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era
importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos
percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram
transferidas para o analista
Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma
exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento
psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas
ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)
A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois
pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus
pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)
E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que
neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)
revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na
esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)
Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido
negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia
Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma
repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente
pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo
31
A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com
Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza
aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da
criatividade na relaccedilatildeo
De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a
todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a
interaccedilatildeo
Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo
Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e
trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade
A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o
sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia
particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)
Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se
liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo
compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar
qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico
A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o
fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia
pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno
O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)
para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um
fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud
(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes
poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica
Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a
contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho
para o material de seus pacientes
Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo
representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se
em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo
natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do
cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra
32
passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o
analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico
Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos
e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo
de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o
autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das
desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas
atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa
Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995
2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na
teorizaccedilatildeo disso pode ser observada
Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)
importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram
na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da
contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do
paciente
Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo
para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento
teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a
contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do
paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)
A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-
determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute
indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem
acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago
colocadas no analista (RACKER 1982)
Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista
mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior
compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento
psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da
relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente
De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung
via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o
paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung
33
(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute
relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente
A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para
ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois
sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha
destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem
daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados
A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute
que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas
diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a
alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na
relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa
do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias
transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele
tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)
Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o
inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e
ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute
um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o
agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam
O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do
inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente
correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior
ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim
numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011
par 364)
De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes
reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees
de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute
presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e
temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais
duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da
contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise
Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia
possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos
34
A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome
mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o
paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia
Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de
desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem
bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus
pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes
e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute
contratransferecircncia
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos
existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um
instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico
A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica
relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e
Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre
meacutedico e paciente
Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante
influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de
lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico
[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo
como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus
conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que
pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT
1988 p 265)
Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma
atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com
isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por
outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator
quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de
funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De
acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o
35
paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho
do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente
o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do
meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo
com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma
influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988
p 47)
Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel
para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como
meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e
idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint
(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas
influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo
Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente
Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos
de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos
Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar
suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo
dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar
conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um
liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento
De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico
chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada
perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os
aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande
mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os
grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje
Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas
raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos
cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem
o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a
fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica
36
De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a
alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do
meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que
meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo
O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a
seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se
estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de
relacionamento com seu paciente
37
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA
A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes
Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS
MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp
Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr
Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr
Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr
Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom
Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed
Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx
International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg
Journal of Analytical Psychology
Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)
httpucpressjournalscomjournalphpj=jung
httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml
Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155
As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo
do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA
A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo
biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e
da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer
relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para
a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE
MARCO 2012)
Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das
pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos
38
muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem
tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional
O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo
onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma
imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os
poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano
comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)
O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional
em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos
etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico
A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa
realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram
que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram
necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas
27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles
que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios
modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar
Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas
relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano
De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o
estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a
distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo
que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para
o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer
resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente
O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em
seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver
comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento
ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos
psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico
Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a
implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os
estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa
39
Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a
comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo
com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos
encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila
de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na
educaccedilatildeo meacutedica
O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam
novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e
sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA
2001 p 8)
Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos
uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de
embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir
sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas
do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as
emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente
As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry
Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica
e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de
decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por
fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do
ambiente
Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes
despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a
maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que
essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia
O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus
sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)
a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres
e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica
De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves
necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com
situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do
paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que
inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente
40
As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma
constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve
prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas
tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de
ambas as partes
O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que
transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu
grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um
instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados
Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um
melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)
fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de
que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram
os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram
durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram
que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da
vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que
nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado
o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser
invertidos
Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees
inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma
segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem
vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos
envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores
meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode
fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la
A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel
substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o
meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e
compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de
tratamento
41
411 Estresse em meacutedicos
A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos
uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre
o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos
De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees
ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse
possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e
motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e
novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em
que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer
tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se
Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados
abaixo do ideal
De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por
produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma
influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente
tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas
emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais
como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes
Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na
Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos
profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no
trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma
vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do
atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho
excessiva
Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais
na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia
problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida
familiar foram os fatores mais citados
As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
42
Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria
Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22
se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados
houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os
problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho
meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse
foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva
excessiva (522)
Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados
mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia
Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram
a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o
fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento
Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do
municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos
apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia
Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade
de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123
apresentaram estresse
A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do
burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma
reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a
maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse
ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE
Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele
pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos
podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo
a um paciente
As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e
provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um
43
protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo
atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se
encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)
Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem
ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e
Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel
e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo
cliacutenica
Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece
com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo
parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos
A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da
capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e
percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes
Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser
positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a
pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink
A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al
(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas
dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo
De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles
que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma
conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila
Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute
satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e
TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio
(STEINMETZ e TABENKIN 2001)
Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem
impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith
(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de
7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no
qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos
negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)
44
cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de
sauacutede do paciente
Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a
qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de
conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a
especialistas
De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto
por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao
expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento
Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que
os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo
Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que
na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes
Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo
com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao
paciente ou a ambos
De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente
que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e
caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos
profissionais
Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)
observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos
com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o
autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus
proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas
proacuteprias reaccedilotildees emocionais
Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na
interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas
Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo
pelo meacutedico
Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para
identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente
45
O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al
(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo
interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento
De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos
processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a
flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o
paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu
humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente
Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e
Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o
envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis
cuidadosos e mais motivados
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE
Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo
em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como
Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do
conhecimento de sua farmacologia
Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute
permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse
tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional
para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)
De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais
envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte
dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se
informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede
Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e
paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por
mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo
empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes
Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave
comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por
meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os
46
humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um
fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais
Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de
emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo
transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e
natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no
passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que
antecipam no futuro
Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que
transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia
jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de
confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com
roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que
natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem
conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo
Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande
gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes
mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito
Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de
uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e
sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o
meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo
Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)
observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas
determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas
emoccedilotildees
Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e
Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do
paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais
satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente
47
percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos
foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi
determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao
paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia
sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico
percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o
meacutedico tratava o paciente
Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no
Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos
A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer
uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas
surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para
seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do
paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram
os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores
observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o
favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e
insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua
competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que
modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia
Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de
seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises
foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da
pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45
queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados
e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com
precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo
costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees
precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos
Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento
comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das
Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro
de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu
comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a
48
atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes
sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-
paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias
pregressas de encontros com outros meacutedicos
Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou
ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o
papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que
apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o
engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos
ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o
estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes
Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro
cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como
resposta um aumento da emotividade do paciente
Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de
sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila
significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes
tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a
tomada de decisatildeo
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO
Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem
explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam
diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo
variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de
como funciona esse processo
O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos
na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas
principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos
Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise
com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de
raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses
49
passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e
compreender o processo de uma doenccedila
A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo
compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica
meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento
de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica
cliacutenica tem se intensificado
Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a
forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de
qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente
De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-
se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas
logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo
quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete
erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a
compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias
O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a
decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se
inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia
todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma
avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a
probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial
Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes
ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A
prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva
a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as
hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do
paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL
KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)
Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento
heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um
diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com
Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional
50
ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas
emoccedilotildees podem influenciaacute-la
Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo
uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas
pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A
heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel
Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu
uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros
sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que
deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo
Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de
decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia
muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute
trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo
alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na
geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente
quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo
De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees
de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico
natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico
Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte
da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e
por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma
como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem
no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico
possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias
Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de
hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de
medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas
geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses
iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o
processo de diagnoacutestico final
Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais
hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas
51
agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses
especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio
intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que
reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados
limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico
A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue
um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em
evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos
De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem
duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o
que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a
informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se
encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em
que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo
consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro
geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos
Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o
ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento
emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que
complicam a decisatildeo cliacutenica
Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em
um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o
modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo
cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que
tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando
protocolos e sistemas
Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que
fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em
ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os
meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico
e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou
quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos
desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de
ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo
52
A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados
estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento
Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um
tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser
humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo
(GROOPMAN 2008 p 15)
De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo
meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores
decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo
relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores
assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem
garantir resultados eficazes
Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em
funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em
que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente
provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado
Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de
pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas
possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo
Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria
muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo
A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto
quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos
terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo
Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de
forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo
Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as
caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram
selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o
modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as
53
caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de
diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia
combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes
para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas
Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes
durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo
sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez
que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa
funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida
Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem
esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos
meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade
Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um
guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio
entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que
fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de
raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo
analiacutetica
O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees
importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees
precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos
podem ser alertados para modificar um raciociacutenio
Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam
sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de
eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em
termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os
autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de
patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera
variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico
Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-
pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver
8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo
54
algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico
claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro
sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro
Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede
de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-
pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto
em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de
incerteza diagnoacutestica
Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da
queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre
o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de
errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era
nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas
foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o
exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O
meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes
Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros
paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a
maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos
participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados
com os meacutedicos holandeses
Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e
tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico
experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o
prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)
e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo
de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos
relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no
abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de
errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos
dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de
incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos
resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos
utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo
55
Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos
holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo
interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme
definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses
diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de
tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente
estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de
tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que
era esperado pelo meacutedico
As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no
processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo
existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo
de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em
que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo
as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas
tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo
56
5 MEacuteTODO
A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados
quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o
enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode
ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-
quantirdquo
De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de
muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos
e quantitativos
Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos
mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta
pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e
qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial
explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos
51 PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas
especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte
(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo
dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina
convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de
caso com entrevista
52 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de
testagem
57
Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o
International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do
meacutedico
Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do
meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente
A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico
O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm
por objetivo caracterizar a amostra
Idade________________
Sexo F ( ) M ( )
Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________
Especialidade____________________________
Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)
Consultoacuterio ( )
Hospital puacuteblico ( )
Hospital particular ( )
Universidade ( )
Outro______________________ ( )
Outro______________________ ( )
Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no
Consultoacuterio ___ h
Hospital puacuteblico ___ h
Hospital particular ___ h
Professor acadecircmico ___ h
Outro ____________________ ___ h
Outro ____________________ ___ h
____ (total de horas semanais)
Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___
58
Tempo meacutedio de atendimento ___
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a
pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em
que se encontra
Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a
fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo
Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de
adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada
Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se
novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total
de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta
inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi
quebrado na fase de alerta
Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia
fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue
pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e
esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total
desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra
emocional
Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que
um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue
concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves
podem ocorrer
Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou
sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com
15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do
estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo
59
Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as
sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo
quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)
Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e
trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados
pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes
psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e
apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo
523 IAPS ndash International Affective Picture System
O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por
imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama
de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de
700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras
As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos
participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os
participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo
emocional
As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do
Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo
estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as
gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item
que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras
escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer
A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo
induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala
Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)
pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo
(desagradaacutevelnegativa)
De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido
porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de
avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel
60
A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro
Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do
IAPS foi autorizada pelos autores
Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o
relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12
agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos
estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo
emocional das imagens
524 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por
perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles
tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de
De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith
(1995)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil
1a Que caracteriacutesticas ele tem
1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente
atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades
2a Que caracteriacutesticas ele tem
2b Por que ele natildeo desperta dificuldades
2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso
o afeta Decirc um exemplo
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente
Como
61
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira
no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse
decorrente da profissatildeo Como lida com isso
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por
quecirc
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc
53 PROCEDIMENTOS
531 Local de coleta
A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)
532 Seleccedilatildeo dos participantes
Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de
indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos
proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento
dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo
A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de
disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a
realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em
clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico
escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise
aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O
procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise
533 Procedimento de coleta de dados
62
O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta
de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados
serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia
Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os
resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)
Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos
conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes
foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi
agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta
O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees
sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a
possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de
consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e
devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa
avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da
entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas
e depois transcritas para a anaacutelise
Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia
utilizada na aplicaccedilatildeo foi
Questionaacuterio sociodemograacutefico
Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por
favor preencha as informaccedilotildees solicitadas
International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)
Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo
com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo
responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de
respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma
sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe
parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz
ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que
mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando
um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a
63
figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se
alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta
estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se
aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X
entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no
meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a
classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o
nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os
tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam
Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem
experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os
sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou
P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs
Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a
entrevista
Entrevista semiestruturada
Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees
em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do
paciente
534 Procedimento de anaacutelise de dados
O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem
quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30
meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a
interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos
escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a
64
anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram
identificados por nomes fictiacutecios
5341 Anaacutelise quantitativa de dados
Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes
estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD
(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados
O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando
suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado
para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras
independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de
anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes
Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu
como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo
A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de
estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico
com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo
com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer
comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do
IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS
comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico
5342 Anaacutelise qualitativa de dados
A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro
clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi
escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)
meacutedicos
A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas
com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional
65
o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e
estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
535 Procedimento eacutetico
A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa
envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de
Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o
Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)
66
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou
tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo
qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo
O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa
SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de
medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas
(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes
estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes
tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de
comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o
programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se
com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro
A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade
com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir
dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes
em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante
de cada cluster para o estudo de caso
A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia
Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo
da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International
Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o
sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster
Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4
participantes em forma de Estudo de Caso
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA
67
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos
Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de
diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento
no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas
caracterizaccedilotildees
Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as
distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)
especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho
(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de
pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio
(tabela 7)
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo
Sexo N
Masculino 17
Feminino 13
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e
13 (treze) do sexo feminino
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria
Faixas etaacuterias N
20 a 34 anos 10
35 a 48 anos 7
49 a 59 anos 7
Acima de 60 anos 6
Total 30
Meacutedia 446
Desvio-padratildeo 130
Fonte proacuteprio autor
68
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7
(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade
eacute de 446 anos
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado
Tempo de formado N
05 a 10 anos 12
11 a 23 anos 6
24 a 32 anos 6
33 a 46 anos 6
Total 30
Meacutedia 194
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11
a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de
tempo de formado eacute 194 anos
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades
Especialidade N
Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8
Ortopedia 5
Ginecologia 4
Oftalmologia 3
Otorrinolaringologia 3
Endocrinologia 2
Neurologia 2
Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3
Total 30
Fonte proacuteprio autor
No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e
tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)
oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As
outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia
69
(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)
e urologia (1)
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho
Locais de Trabalho N
Apenas Consultoacuterio 10
Consultoacuterio e Hospital particular 10
Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5
Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10
(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no
hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos
trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 2
21 a 40 hsemanais 8
41 a 48 hsemanais 8
49 hsemanais e + 12
Total 30
Meacutedia 460
Desvio-padratildeo 125
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a
maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais
dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas
70
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 8
21 a 40 hsemanais 15
41 a 48 hsemanais 2
49 hsemanais e + 5
Total 30
Meacutedia 328
Desvio-padratildeo 129
Fonte proacuteprio autor
O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao
atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio
Nuacutemero de pacientesdia N
01 a 09 pacientesdia 4
10 a 22 pacientesdia 15
23 a 37 pacientesdia 6
38 a 55 pacientesdia 5
Total 30
Meacutedia 219
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219
Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a
22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais
de 38 pacientesdia no consultoacuterio
71
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta
Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N
15 a 25 minutos 13
26 a 35 minutos 12
36 a 45 minutos 4
46 a 55 minutos 1
Total 30
Meacutedia 268
Desvio-padratildeo 100
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a
consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus
pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse
que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no
consultoacuterio eacute de 268 minutos
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e
13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A
meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos
meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268
minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do
consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)
Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos
sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da
escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da
amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os
sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos
72
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Stress N Paracircmetro
Natildeo 13 433 440
Sim 17 567 560
Total 30 1000 1000
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de
estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo
geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute
dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Fase Stress N Paracircmetro
Alerta 02 67 20
Resistecircncia 15 500 530
Exaustatildeo 0 00 10
Total 17 567 560
Fonte proacuteprio autor
Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles
estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e
Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa
que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta
referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo
de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um
prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo
de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a
fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar
as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves
73
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL
5
10
2
0
2
4
6
8
10
12
Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos
Prevalecircncia de Sintomas de Stress
Prevalecircncia de sintomas N
Fiacutesicos 5
Psicoloacutegicos 10
Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2
Total 17
Fonte proacuteprio autor
Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram
predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram
diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos
projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-
estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo
muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e
insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro
De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou
psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos
decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da
amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a
vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra
uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)
apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos
paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de
resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma
sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos
mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita
de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva
Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento
encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20
74
meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e
com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em
58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na
fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram
resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas
123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e
72 apresentaram estresse
Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em
termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade
psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a
inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores
psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo
podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico
Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para
observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o
iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo
Stress Sexo Total
Masculino Feminino
Natildeo 7 6 13
Sim 10 7 17
Total 17 13 30
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do
teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo
entre o sexo e o estresse
75
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas
Stress N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t p
Idade Natildeo 13 486 138 38
150 0144 Sim 17 415 119 29
Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38
167 0106 Sim 17 162 107 26
Tempo total de
trabalho (horas
semanais)
Natildeo 13 484 142 39
091 0371 Sim 17 442 112 27
Tempo de trabalho
no Consultoacuterio (horas
semanais)
Natildeo 13 337 130 36
030 0766 Sim 17 322 133 32
Nuacutemero de
pacientesdia
Natildeo 13 255 153 42 140 0171
Sim 17 192 92 22
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
Natildeo 13 300 96 27 155 0133
Sim 17 244 100 24
Fonte proacuteprio autor
Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por
meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As
diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil
sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)
Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas
da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo
emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens
afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment
Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a
intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir
76
de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao
induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo
(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta
a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da
populaccedilatildeo
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais
Escalas N Meacutedia Desvio
padratildeo
Erro
padratildeo
t p μ
Paracircmetro
Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491
Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501
Total 30 497 044 008 0095 0925 496
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas
escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala
Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a
meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que
os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila
significativa
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico
Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave
percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se
internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia
alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional
As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais
dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de
pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta
77
Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS
Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo
Sexo N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t P
Alerta Masculino 17 504 113 027
1634 0057 Feminino 13 449 054 015
Prazer Masculino 17 509 031 007
-0646 0262 Feminino 13 518 043 012
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture
System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas
meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo
com as escalas
A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do
IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Alerta Prazer
Idade
r 035 -028
p 0031 0065
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de formado
r 032 -024
p 0043 0100
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo total de trabalho (horas
semanais)
r -0041 -0025
p 0415 0448
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de trabalho no Consultoacuterio
(horas semanais)
r 020 -040
p 0139 0014
N 30 30
78
Alerta Prazer
Nuacutemero de pacientesdia
r 002 021
p 0443 0128
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
r 036 -0204
p 0024 0140
N 30 30
A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica
descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis
O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que
indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa
que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +
032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo
de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e
o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta
Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele
ficou diante dos estiacutemulos emocionais
Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas
semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto
mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer
Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de
pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer
Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em
relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das
distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave
79
percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao
trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)
Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo
de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos
mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta
Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos
tempo
616 Agrupamento do IAPS por cluster
Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos
participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com
similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade
ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por
agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um
embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em
profundidade
O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a
cada agrupamento
80
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)
O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas
Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia
dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia
A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a
separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia
N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo F P
Alerta
Cluster 1 6 501 010 004
4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027
Cluster 3 9 377 027 009
Cluster 4 8 465 021 007
Prazer
Cluster 1 6 493 015 006
2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010
Cluster 3 9 519 016 005
Cluster 4 8 556 017 006
Fonte proacuteprio autor
81
O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo
que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)
Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos
clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos
ou mais distantes da meacutedia
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
Alerta N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055
Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004
Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000
Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009
Prazer N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265
Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038
Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011
Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000
Fonte proacuteprio autor
O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral
O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que
possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a
populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor
pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos
de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters
O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais
82
baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo
O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o
com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com
pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis
sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os
clusters
Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou
afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective
Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo
e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional
que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no
cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas
duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e
tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster
3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4
agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve
diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters
O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas
pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters
2 3 e 4
Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia
em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster
83
perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos
outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia
de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam
486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181
pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos
Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e
4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam
prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a
anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de
fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os
sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer
unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa
especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente
Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de
formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente
nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que
meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se
mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas
semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e
desagradaacutevel
Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)
concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais
excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos
niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa
correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta
Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no
consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees
intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a
anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes
O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor
pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa
em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos
diante dos estiacutemulos
84
Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos
participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4
trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao
trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 233 minutos
Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5
na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com
estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de
sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram
duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos
outros clusters
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos
que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico
Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo
esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo
dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas
O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos
constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade
emocional
O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior
pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de
forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia
de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao
trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 225 minutos
Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e
3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de
resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas
psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio
entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os
participantes deste cluster
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com
menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais
85
pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os
resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de
trabalho no consultoacuterio e o Prazer
O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das
relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer
como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo
frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como
aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster
Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que
trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo
com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem
Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas
escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas
hipoacuteteses interpretativas
1ordf Tendecircncia observada
Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado
e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos
estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as
variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de
estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela
escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que
permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais
desagradaacutevel
Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente
de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses
meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o
Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas
relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem
estar menos satisfeitos
2ordf Tendecircncia observada
86
O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo
com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade
emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse
pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos
permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de
interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente
Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente
com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo
agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente
3ordf Tendecircncia observada
Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de
formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem
mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala
Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior
prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda
uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer
Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria
da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos
prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com
outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem
menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga
emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso
Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para
anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por
meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas
no quadro a seguir
87
Tabela 17 Categorias de anaacutelise
CATEGORIAS
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
A percepccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises
6221 Caso 1 Daniel (participante 12)
Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto
aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que
ficam mais tempo com o paciente nas consultas
Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute
Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta
de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha
em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute
de 45 minutos
Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e
era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando
sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de
como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem
educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como
montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um
desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que
estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas
algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar
que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
88
Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico
constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo
relatou nenhum sintoma psicoloacutegico
O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa
aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro
mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele
natildeo vai ser meacutedicordquo
Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas
situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees
de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel
fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como
atender um paciente bem se natildeo estiver descansado
Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia
mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem
porque aprendirdquo
Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o
nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o
trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre
cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo
chato natildeo eacute rabo curto como erardquo
Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-
se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu
passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho
mais tempordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o
meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos
estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos
Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as
89
consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por
estiacutemulos que despertam emoccedilotildees
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve
permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de
modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu
trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo
Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em
dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam
parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi
um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos
meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e
isso me emocionourdquo
Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o
influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o
atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e
fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se
resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas
falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo
reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo
Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios
incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma
diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo
pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer
mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao
paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava
dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a
90
lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por
que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo
Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais
envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes
sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo
paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos
que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo
O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante
que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do
diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao
cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio
ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de
suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento
mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram
o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa
ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee
chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me
obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou
trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como
esse afetassem o seu trabalho
Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou
que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees
de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser
conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com
a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo
Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o
tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute
positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto
Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais
satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo
Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees
positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades
mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades
91
mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe
paciente faacutecilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle
diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto
emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o
controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais
jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []
mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as
emoccedilotildeesrdquo
O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do
desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro
maisrdquo
Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o
controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus
pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de
brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-
presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para
essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha
a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas
desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo
Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram
desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica
remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo
Leitura analiacutetica
Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos
que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi
extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo
diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no
teste do IAPS
92
Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees
relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a
maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou
uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no
em sua seguranccedila
Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode
refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e
incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as
emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute
necessaacuteria uma atitude de controle
Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente
que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o
seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel
ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido
contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o
paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute
aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e
que parece respeitaacute-lo
No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes
percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou
ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o
senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo
ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e
com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se
ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente
O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular
de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa
Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas
estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como
demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute
cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns
iam emborardquo
Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo
permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos
93
aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de
seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os
aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o
confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e
que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de
falhar
6222 Caso 2 Alice (participante 2)
Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade
emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em
hospital puacuteblico
Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e
divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes
Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio
Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
20 minutos
Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas
vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel
Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios
momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era
solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das
questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que
uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar
algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia
preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos
prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e
cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa
94
especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando
mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a
hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e
irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do
ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os
pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam
aprender a lidar
Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades
que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo
Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem
interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em
burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso
pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda
muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []
eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou
menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das
figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma
tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o
que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter
diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas
podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de
comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a
emoccedilatildeo) influi em tudordquo
95
Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais
intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo
Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o
que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que
podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo
Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem
alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em
seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos
avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar
que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de
atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela
como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e
sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo
Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que
incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao
meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua
postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a
um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim
entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho
que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa
ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o
baixo Alerta no IAPS
Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de
exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de
pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente
e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a
relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma
compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no
96
consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo
ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo
Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas
pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de
violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria
demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo
Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo
aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo
pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e
ajuda ao outro
Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a
sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]
eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele
realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim
de se sentir uacutetilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para
proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]
quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de
pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do
caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees
psicoloacutegicas de lidarrdquo
Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em
que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e
assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou
uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo
Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata
como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o
tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no
consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo
97
Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara
com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente
parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos
Leitura analiacutetica
Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para
evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em
qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo
como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez
Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela
teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute
canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo
antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de
superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir
parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse
recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio
Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas
diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o
recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica
Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo
de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que
parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela
reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o
caso
Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo
representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos
Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel
Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia
para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja
vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda
ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas
A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice
percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os
98
sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes
Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse
estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da
entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como
vinculadas ao estresse
Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas
como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que
como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos
efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento
A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua
capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e
frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar
sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse
reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto
observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas
relaccedilotildees
Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo
projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante
dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo
6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)
Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de
Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de
formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam
menos tempo com eles
A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi
individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande
nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais
caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio
99
Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o
seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo
atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho
no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
15 minutos
O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito
cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de
atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo
para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e
agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade
suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo
assinalou nenhum sintoma fiacutesico
Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que
atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras
atividades como cirurgias e compromissos familiares
Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o
estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma
contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e
mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que
me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo
ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo
perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel
percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral
Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao
considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa
100
insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em
funccedilatildeo de um processo defensivo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre
elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente
acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo
As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e
prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma
caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc
fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como
barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo
Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho
Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela
sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor
cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo
emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo
Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as
suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a
sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo
vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []
afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando
perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)
Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender
Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet
ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees
desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo
da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar
101
o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje
em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo
quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo
Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo
traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa
desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender
[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e
mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA
dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar
para ele o que vocecirc esta querendordquo
O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o
diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de
Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu
trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se
sente bemrdquo
Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que
suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento
das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o
pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas
jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu
trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo
ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute
tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser
neutrordquo
Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de
cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito
comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o
ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser
influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto
nenhumrdquo
102
Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou
estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se
com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que
chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo
Leitura analiacutetica
Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo
Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo
O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois
trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No
entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e
insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes
O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e
o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse
Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo
Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de
que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou
subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu
papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia
negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo
vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos
emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a
gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo
Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e
controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como
meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus
atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu
julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e
entendimento
Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre
a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter
103
observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no
controle e que a atitude emocional pode ser controlada
Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para
expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que
poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo
soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo
A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra
tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute
provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as
emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do
receio de ter esse poder contestado
6224 Caso 4 Marcos (participante 13)
Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais
proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos
paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer
Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia
Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital
Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10
pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos
Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou
interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha
encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este
apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um
processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e
tem se esforccedilado muito para isso
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia
afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado
104
estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de
dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os
sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e
irritabilidade sem causa aparente
O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de
sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo
de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua
jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errarrdquo
Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo
emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto
ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura
refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro
trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua
meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas
emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo
subjetiva da emoccedilatildeo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um
caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante
em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer
isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai
da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutemrdquo
Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no
diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a
beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo
105
para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a
emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo
Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de
soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um
caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo
O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar
ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias
com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e
pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem
ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo
dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo
Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois
isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais
fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a
natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm
pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a
doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no
tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e
inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse
impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo
Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar
com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com
o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido
principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento
O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da
evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de
afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de
afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no
tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo
106
O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio
que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento
e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo
[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte
delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de
realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente
satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de
realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e
tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu
conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem
do que eu posso fazerrdquo
Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves
relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como
lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor
estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem
unicamente de mimrdquo
Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees
principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito
bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo
Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de
recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de
conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para
dar um alentordquo
Leitura analiacutetica
Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho
que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu
procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo
107
Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita
que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um
pouco da personalidaderdquo
Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e
do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc
tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para
issordquo
A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante
das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em
alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes
Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como
raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila
podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para
lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o
que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da
racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas
depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer
sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia
Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira
nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e
motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a
sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo
verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral
Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da
responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do
meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo
trabalhada
Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para
ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para
pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e
reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo
com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-
las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
108
Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais
clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos
defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees
como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e
uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma
relaccedilatildeo com o paciente
109
7 DISCUSSAtildeO
O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente
que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles
relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem
influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico
Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com
o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo
os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e
a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o
paciente
Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees
estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas
emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais
impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca
compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional
A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees
que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas
Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada
porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido
seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo
percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base
essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem
apenas sintomas da afetividaderdquo
Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e
DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que
os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a
Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas
raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse
funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico
Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se
ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer
110
insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento
semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos
sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma
segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo
de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar
romper o viacutenculo
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um
compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico
(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a
essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de
valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e
dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes
tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como
afastamento entre outras
Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um
sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das
possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida
emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional
eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos
relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um
entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios
A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se
sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas
nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente
aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro
desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente
visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando
compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o
ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer
Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo
apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo
apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser
usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute
uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo
111
subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo
Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as
suas normas e convicccedilotildees
Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do
detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode
mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo
impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a
funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos
frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou
meacutedicordquo
Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo
com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico
assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais
caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos
De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente
representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da
consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma
persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem
parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo
vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral
riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel
se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)
Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por
autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do
meacutedico
Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de
detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado
situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura
informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona
riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel
Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para
responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e
sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a
reflexatildeo
112
Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e
reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas
tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no
atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como
negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas
Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo
interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e
ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e
mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado
dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os
incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo
Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois
mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples
fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a
emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar
com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui
A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas
emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um
maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de
atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem
a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento
Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar
com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta
compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e
fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro
momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa
de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes
reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades
para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das
emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam
que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem
evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a
113
esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar
sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de
seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de
reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que
os afetava negativamente e o que os afetava positivamente
Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a
busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com
naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis
Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia
percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos
chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e
distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e
com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado
espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na
entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a
questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional
Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo
ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)
O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao
extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A
atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se
riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado
Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma
inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente
mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira
vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de
impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de
quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder
A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de
como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e
sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as
caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as
percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais
114
Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar
inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o
tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo
emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung
(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente
que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico
No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas
entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b
par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em
nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o
pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas
pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a
Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila
constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na
forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)
Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre
presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo
No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006
2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um
auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de
circuitos mentais confluentes
Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e
Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a
aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e
do processo de tomada de decisatildeo
Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco
reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do
meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-
paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a
contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na
compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e
impactar no atendimento do paciente
115
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece
quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo
desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a
incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que
despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em
geral
As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica
pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento
interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu
falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os
meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional
parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por
complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo
O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente
Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na
leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica
O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos
vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos
que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido
agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais
Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o
paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que
o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes
que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como
pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute
elemento isolado desse todo
O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao
distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a
persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o
paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si
116
Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo
colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo
de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente
repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista
institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos
reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho
Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca
havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a
medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido
ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo
de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive
vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no
primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina
curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa
profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)
A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma
aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na
busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte
de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos
necessaacuterios
A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as
defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega
estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por
exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o
impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo
Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito
individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um
psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e
contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees
Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao
meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas
de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de
Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns
hospitais
Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das
emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre
gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o
117
ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o
impacto nos processos de decisatildeo
118
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ANEXO A
129
ANEXO B
130
ANEXO C
131
132
APEcircNDICE
Caso 1 Daniel (participante 12)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles
entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais
meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes
fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo
que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica
acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar
perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus
pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um
pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o
senhor quer saber isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas
algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter
fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos
e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube
dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros
do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a
secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia
natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me
perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito
bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem
o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com
ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de
uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia
rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute
num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo
quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo
133
a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC
tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute
jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos
70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva
ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio
noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu
natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)
Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo
durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de
futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes
natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer
terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que
eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo
aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai
para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre
consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu
assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o
mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas
fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando
os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando
a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso
me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me
defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem
essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por
isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a
consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir
embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu
quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem
na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles
atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em
outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco
134
comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar
quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma
superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele
histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve
dor de barriga
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor
de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as
informaccedilotildees natildeo procura se exibir
Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo
valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees
tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque
tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de
propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia
quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute
vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da
moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu
pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse
ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude
chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que
seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se
escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e
sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira
bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos
sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom
apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees
positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas
chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo
135
emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo
mexer com nossa inseguranccedila
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e
controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo
de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu
deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo
possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de
contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha
indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar
imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais
estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse
olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e
vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu
tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o
senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram
pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar
porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de
tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns
dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele
num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e
emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro
eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a
carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc
136
vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone
tocou)
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a
me controlar
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda
hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade
quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha
taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha
que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se
controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando
me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso
com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o
sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc
definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada
Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e
provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular
quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo
Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo
ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs
ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele
escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado
depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo
estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve
um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que
essa seja a explicaccedilatildeo
137
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um
pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro
assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade
agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo
ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito
bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um
pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute
uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo
respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam
atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no
fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas
eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou
Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo
com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil
participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta
meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia
isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e
a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma
coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada
pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas
vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de
SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era
rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma
incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras
achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de
pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito
difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra
138
coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras
consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a
formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado
viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo
especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu
conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do
HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo
obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes
ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema
com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa
foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F
que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem
para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem
competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo
absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois
casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a
parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um
oacutetimo colega
139
Caso 2 Alice (participante 2)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que
mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza
Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo
paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos
paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em
hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de
paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu
consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo
sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar
vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender
Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo
sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai
esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma
agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para
fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo
vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco
de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute
mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes
mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem
140
porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta
eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica
e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue
responder acho que eacute isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas
eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir
aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo
meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo
prazer Sensaccedilotildees boas
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma
meacutedica relativamente sortuda (risos)
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)
(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo
consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito
bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito
grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela
foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e
aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu
me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para
criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela
trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava
acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles
que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana
neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas
dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no
final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que
o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho
141
menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu
achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse
bobeira doutora deixa para laacute
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de
atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor
evitar esse tipo de paciente porque vai dar m
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-
operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar
que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar
mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro
o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei
olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os
preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24
agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma
semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia
me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele
fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o
que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o
que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho
um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu
sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute
uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular
tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das
coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio
142
cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para
discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala
nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar
Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele
vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo
concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz
reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e
vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque
depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo
venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so
long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um
ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo
meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo
mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute
dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no
sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra
pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus
entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou
vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito
entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que
trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada
demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal
ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso
descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima
eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que
leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
143
Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele
estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila
que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para
ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa
entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em
condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para
explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara
com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele
faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por
semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim
sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que
vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma
psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa
sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que
realmente impacta muito a vida deles
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc
natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o
paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente
me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De
vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma
menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma
ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito
beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles
vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu
chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute
144
Caso 3 Miguel (participante 4)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem
alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute
considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves
orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo
compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me
traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu
natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute
mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de
incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu
melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E
posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse
tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se
acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela
natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o
viacutenculo
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com
a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura
fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque
145
eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa
sauacutede
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem
de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe
melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias
de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e
muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar
uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse
paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um
paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando
mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto
para dar um alento
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque
muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo
do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute
mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte
mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa
empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva
sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou
natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam
melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da
146
patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo
respondeu tatildeo bem
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma
caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou
esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave
informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores
quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso
organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar
preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de
mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente
porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma
fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma
estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem
formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia
eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a
experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo
assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive
momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos
para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem
um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa
condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te
dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
147
Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais
assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas
positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute
vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos
tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra
mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos
acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma
especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os
meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais
paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra
mas (Interrompeu paciente chegou)
148
Caso 4 Marcos (participante 13)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o
trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute
vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico
do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira
assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo
satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e
geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute
acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais
briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo
construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar
fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela
mesma
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar
explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa
como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute
uma sensaccedilotildees incocircmoda)
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil
mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu
conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar
a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha
149
passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa
que estaacute compartilhando o problema com vocecirc
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de
ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm
burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que
questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas
coisas
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que
veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas
para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-
socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico
me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me
agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma
ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois
operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha
um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral
um achado em exames tambeacutem veio me agradecer
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo
aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta
agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o
negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)
As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica
fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um
150
aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa
positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo
da pessoa
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de
emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por
hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir
uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um
compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse
agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc
faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)
Eu acho que eu administro bem
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um
pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas
vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a
pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com
sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por
uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo
me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma
coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
151
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a
falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo
estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o
paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo
saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo
Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes
Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos
momentos de interaccedilatildeo
Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu
crescimento
Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados
estatiacutesticos
Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso
Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada
Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce
Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida
CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem
da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o
afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30
(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4
(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos
utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a
entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram
sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo
entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve
diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo
com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento
(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o
paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros
meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados
pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a
abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias
preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao
estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees
despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar
com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e
percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos
decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para
ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes
Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente
projeccedilotildees psicologia junguiana
CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An
Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
ABSTRACT
The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception
of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in
quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen
four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the
analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults
Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured
interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is
an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the
sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference
between the sample results and the general population but differences were found in the
relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time
(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors
with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more
impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per
week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data
were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the
approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories
related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional
perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by
difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results
revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity
There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and
poorly understood which can result in projections in patients
Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship
projections Jungian psychology
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
81
Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
70
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IAPS International Affective Picture System
ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
SAM Self-Assessment Manikin
SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees
SPSS 17 Statistical Package for the Social Science
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 OBJETIVOS 17
21 OBJETIVO GERAL 17
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17
23 QUESTOtildeES 17
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37
411 Estresse em meacutedicos 41
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52
5 MEacuteTODO 56
51 PARTICIPANTES 56
52 INSTRUMENTOS 56
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58
523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59
524 Entrevista semiestruturada 60
53 PROCEDIMENTOS 61
531 Local de coleta 61
532 Seleccedilatildeo dos participantes 61
533 Procedimento de coleta de dados 61
534 Procedimento de anaacutelise de dados 63
5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64
5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64
535 Procedimento eacutetico 65
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76
616 Agrupamento do IAPS por cluster 79
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86
6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87
6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93
6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98
6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103
7 DISCUSSAtildeO 109
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115
REFEREcircNCIAS 118
ANEXO A 128
ANEXO B 129
ANEXO C 130
APEcircNDICE 132
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada
(HILLMAN 1992 p xi)
As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as
relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e
possibilitam sensaccedilotildees como o prazer
Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a
par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e
por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e
reciacuteproco sobre o outrordquo
Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso
corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente
Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo
apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2
Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos
indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos
mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo
O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute
presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado
escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do
sentido e do significado
[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da
razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia
ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma
supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na
unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral
(JUNG 19212009a par117)
Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa
dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja
1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o
outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a
par 751)
13
pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o
trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito
Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo
em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a
emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no
momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis
respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser
levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As
emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele
lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os
de morte
Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho
(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto
das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees
De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo
pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo
profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao
mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um
caminho de evitaccedilatildeo
Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo
do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que
escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir
para ser meacutedicordquo
Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e
humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de
estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e
adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a
atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento
podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel
sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no
mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre
elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico
acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos
fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica
14
Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores
entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15
dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles
seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila
mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo
A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias
natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele
interage com o paciente
O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades
organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais
administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que
lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em
equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica
Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam
evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam
exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa
atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede
do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para
a tomada de decisotildees
Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o
dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja
falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas
palavras e nas interaccedilotildees
Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes
Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela
estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute
essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede
de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai
processar essas emoccedilotildees
As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca
atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave
contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas
relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo
15
Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia
chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que
provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos
tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)
As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por
meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa
personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da
afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)
Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o
reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base
nos fundamentos da psicologia analiacutetica
Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente
influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas
decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo
possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo
com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e
instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de
estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos
O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo
Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo
apresentados no Capiacutetulo 2
No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as
discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as
dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e
contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o
estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional
na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das
emoccedilotildees na tomada de decisatildeo
No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a
amostra os instrumentos e os procedimentos
A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6
Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de
Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na
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anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de
estudo de caso
Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados
relacionando-os com a teoria e os fundamentos
O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho
para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema
17
2 OBJETIVOS
21 OBJETIVO GERAL
Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico
Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse
Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e
aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades
Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico
23 QUESTOtildeES
Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees
Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica
Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico
18
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES
A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista
conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo
do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao
privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e
enriquece o desenvolvimento de teorias
A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos
ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo
Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate
protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses
assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do
aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)
Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo
cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem
qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo
Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam
ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de
estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo
vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes
As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um
fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo
Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a
neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e
intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e
19
direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo
com o ambiente) (SCHERER 2005)
De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees
com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram
a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente
no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos
Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a
interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento
de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees
de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma
soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia
Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente
ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional
Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem
gerar prazer ou desprazer
Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para
suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila
o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de
cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado
conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao
tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de
incerteza
Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante
influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da
emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento
emocional
LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de
forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de
distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma
participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido
para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar
tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo
emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel
do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo
20
O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves
motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se
encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os
responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo
A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo
processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos
racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas
as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento
Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute
os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa
mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)
Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que
ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave
evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A
tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a
desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para
eventos natildeo relacionados
Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do
processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu
durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem
devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando
uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)
Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e
pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia
de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e
com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e
objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior
fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo
As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria
fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa
de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as
nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p
13)
21
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico
Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa
quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees
pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto
qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada
Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente
como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a
emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam
conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na
gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o
autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo
Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a
decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja
escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as
muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo
A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no
momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma
determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em
consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo
A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa
Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um
processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo
o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem
mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem
vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a
uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo
De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico
fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A
ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por
sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos
em emoccedilotildees e sentimentos
22
A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo
para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado
resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal
automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um
nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico
positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo
Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees
secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)
pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios
Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e
sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem
natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de
interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas
(DAMAacuteSIO 2006 p 211)
A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo
de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas
A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe
um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais
Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves
organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra
mais importante Affect Imagery Consciousnes
Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque
natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o
mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas
de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)
O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez
que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para
seu questionamento foi o afeto
3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-
organizadas
23
Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma
descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser
humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a
confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para
um estiacutemulo
A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e
de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)
De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em
afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos
estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo
Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para
evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a
vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim
um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5
Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove
afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees
dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das
expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o
mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX
2001)
Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o
sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um
indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as
possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas
O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees
eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos
Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e
referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees
Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a
convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas
4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos
5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem
concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras
24
Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees
baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria
De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se
apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz
diz e pensa
Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de
mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e
vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do
sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees
reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na
recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo
do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011
p 81)
Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa
emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se
percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar
para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e
preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas
Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta
que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que
segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo
lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo
geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas
pelo organismo ao longo de sua vida
Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas
emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-
se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem
nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo
Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco
precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas
medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que
merecem atenccedilatildeo especial
Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de
bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas
circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das
25
emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o
ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo
O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no
processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social
eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos
sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)
As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida
dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que
norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a
projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e
comportamentos
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia
A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em
Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo
sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a
um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer
tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo
quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo
Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente
que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos
para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos
Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que
natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo
Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma
estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e
dominacircncia
Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples
que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees
estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a
mensuraccedilatildeo de respostas emocionais
A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida
utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes
26
comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert
(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a
exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia
dos aspectos emocionais na memoacuteria
Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a
tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e
grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere
Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas
por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de
respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico
O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o
fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com
Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de
descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e
palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas
dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)
Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico
chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus
estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos
podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia
Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com
precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores
sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas
pois funcionam de forma independente6
A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento
ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua
relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)
A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um
estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e
LANG 1994)
6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de
Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal
27
A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do
agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva
ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo
valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema
aversivo
De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido
de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto
positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado
com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo
As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias
natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo
processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona
a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS
A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos
A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que
eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e
julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG
19041994)
A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos
aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o
estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem
valor de sobrevivecircncia
Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou
natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda
natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou
ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma
situaccedilatildeo
[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se
involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel
aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de
expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar
consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o
28
proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG
19161991 par 323)
Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se
surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou
que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era
registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito
A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as
respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias
Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa
trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A
expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de
expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um
processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade
Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos
carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas
manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado
de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)
Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do
complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa
aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o
desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica
Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e
sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma
emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica
Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos
percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes
Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma
predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de
fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que
pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o
desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par
769)
29
De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se
tornardquo
Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do
indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de
parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a
proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)
Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung
fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um
conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem
imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm
para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da
importacircncia relativa da imagem
Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande
medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se
a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees
perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores
consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo
A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees
interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos
sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia
Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos
que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos
conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao
mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)
A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o
mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual
um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao
objeto (JUNG 19332012)
30
Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos
os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um
processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia
Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante
da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute
por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo
pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo
Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo
sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser
esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos
Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com
caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e
contratransferecircncia
Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde
seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era
importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos
percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram
transferidas para o analista
Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma
exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento
psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas
ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)
A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois
pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus
pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)
E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que
neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)
revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na
esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)
Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido
negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia
Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma
repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente
pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo
31
A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com
Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza
aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da
criatividade na relaccedilatildeo
De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a
todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a
interaccedilatildeo
Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo
Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e
trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade
A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o
sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia
particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)
Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se
liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo
compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar
qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico
A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o
fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia
pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno
O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)
para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um
fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud
(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes
poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica
Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a
contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho
para o material de seus pacientes
Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo
representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se
em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo
natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do
cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra
32
passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o
analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico
Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos
e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo
de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o
autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das
desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas
atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa
Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995
2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na
teorizaccedilatildeo disso pode ser observada
Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)
importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram
na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da
contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do
paciente
Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo
para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento
teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a
contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do
paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)
A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-
determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute
indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem
acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago
colocadas no analista (RACKER 1982)
Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista
mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior
compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento
psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da
relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente
De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung
via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o
paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung
33
(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute
relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente
A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para
ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois
sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha
destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem
daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados
A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute
que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas
diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a
alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na
relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa
do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias
transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele
tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)
Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o
inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e
ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute
um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o
agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam
O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do
inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente
correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior
ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim
numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011
par 364)
De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes
reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees
de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute
presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e
temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais
duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da
contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise
Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia
possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos
34
A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome
mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o
paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia
Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de
desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem
bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus
pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes
e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute
contratransferecircncia
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos
existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um
instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico
A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica
relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e
Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre
meacutedico e paciente
Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante
influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de
lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico
[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo
como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus
conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que
pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT
1988 p 265)
Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma
atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com
isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por
outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator
quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de
funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De
acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o
35
paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho
do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente
o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do
meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo
com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma
influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988
p 47)
Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel
para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como
meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e
idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint
(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas
influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo
Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente
Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos
de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos
Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar
suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo
dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar
conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um
liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento
De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico
chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada
perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os
aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande
mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os
grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje
Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas
raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos
cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem
o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a
fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica
36
De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a
alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do
meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que
meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo
O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a
seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se
estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de
relacionamento com seu paciente
37
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA
A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes
Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS
MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp
Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr
Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr
Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr
Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom
Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed
Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx
International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg
Journal of Analytical Psychology
Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)
httpucpressjournalscomjournalphpj=jung
httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml
Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155
As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo
do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA
A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo
biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e
da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer
relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para
a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE
MARCO 2012)
Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das
pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos
38
muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem
tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional
O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo
onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma
imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os
poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano
comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)
O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional
em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos
etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico
A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa
realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram
que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram
necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas
27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles
que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios
modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar
Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas
relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano
De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o
estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a
distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo
que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para
o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer
resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente
O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em
seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver
comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento
ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos
psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico
Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a
implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os
estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa
39
Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a
comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo
com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos
encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila
de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na
educaccedilatildeo meacutedica
O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam
novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e
sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA
2001 p 8)
Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos
uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de
embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir
sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas
do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as
emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente
As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry
Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica
e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de
decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por
fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do
ambiente
Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes
despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a
maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que
essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia
O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus
sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)
a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres
e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica
De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves
necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com
situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do
paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que
inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente
40
As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma
constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve
prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas
tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de
ambas as partes
O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que
transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu
grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um
instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados
Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um
melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)
fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de
que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram
os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram
durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram
que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da
vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que
nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado
o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser
invertidos
Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees
inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma
segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem
vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos
envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores
meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode
fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la
A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel
substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o
meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e
compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de
tratamento
41
411 Estresse em meacutedicos
A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos
uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre
o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos
De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees
ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse
possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e
motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e
novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em
que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer
tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se
Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados
abaixo do ideal
De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por
produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma
influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente
tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas
emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais
como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes
Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na
Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos
profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no
trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma
vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do
atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho
excessiva
Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais
na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia
problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida
familiar foram os fatores mais citados
As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
42
Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria
Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22
se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados
houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os
problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho
meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse
foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva
excessiva (522)
Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados
mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia
Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram
a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o
fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento
Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do
municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos
apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia
Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade
de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123
apresentaram estresse
A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do
burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma
reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a
maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse
ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE
Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele
pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos
podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo
a um paciente
As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e
provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um
43
protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo
atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se
encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)
Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem
ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e
Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel
e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo
cliacutenica
Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece
com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo
parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos
A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da
capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e
percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes
Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser
positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a
pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink
A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al
(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas
dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo
De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles
que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma
conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila
Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute
satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e
TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio
(STEINMETZ e TABENKIN 2001)
Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem
impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith
(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de
7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no
qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos
negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)
44
cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de
sauacutede do paciente
Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a
qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de
conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a
especialistas
De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto
por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao
expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento
Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que
os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo
Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que
na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes
Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo
com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao
paciente ou a ambos
De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente
que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e
caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos
profissionais
Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)
observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos
com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o
autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus
proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas
proacuteprias reaccedilotildees emocionais
Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na
interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas
Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo
pelo meacutedico
Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para
identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente
45
O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al
(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo
interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento
De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos
processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a
flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o
paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu
humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente
Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e
Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o
envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis
cuidadosos e mais motivados
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE
Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo
em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como
Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do
conhecimento de sua farmacologia
Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute
permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse
tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional
para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)
De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais
envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte
dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se
informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede
Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e
paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por
mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo
empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes
Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave
comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por
meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os
46
humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um
fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais
Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de
emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo
transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e
natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no
passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que
antecipam no futuro
Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que
transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia
jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de
confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com
roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que
natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem
conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo
Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande
gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes
mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito
Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de
uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e
sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o
meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo
Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)
observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas
determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas
emoccedilotildees
Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e
Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do
paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais
satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente
47
percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos
foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi
determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao
paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia
sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico
percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o
meacutedico tratava o paciente
Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no
Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos
A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer
uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas
surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para
seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do
paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram
os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores
observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o
favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e
insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua
competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que
modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia
Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de
seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises
foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da
pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45
queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados
e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com
precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo
costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees
precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos
Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento
comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das
Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro
de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu
comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a
48
atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes
sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-
paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias
pregressas de encontros com outros meacutedicos
Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou
ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o
papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que
apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o
engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos
ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o
estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes
Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro
cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como
resposta um aumento da emotividade do paciente
Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de
sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila
significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes
tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a
tomada de decisatildeo
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO
Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem
explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam
diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo
variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de
como funciona esse processo
O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos
na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas
principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos
Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise
com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de
raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses
49
passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e
compreender o processo de uma doenccedila
A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo
compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica
meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento
de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica
cliacutenica tem se intensificado
Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a
forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de
qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente
De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-
se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas
logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo
quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete
erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a
compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias
O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a
decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se
inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia
todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma
avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a
probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial
Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes
ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A
prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva
a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as
hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do
paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL
KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)
Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento
heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um
diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com
Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional
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ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas
emoccedilotildees podem influenciaacute-la
Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo
uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas
pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A
heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel
Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu
uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros
sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que
deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo
Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de
decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia
muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute
trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo
alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na
geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente
quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo
De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees
de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico
natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico
Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte
da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e
por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma
como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem
no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico
possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias
Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de
hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de
medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas
geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses
iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o
processo de diagnoacutestico final
Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais
hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas
51
agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses
especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio
intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que
reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados
limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico
A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue
um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em
evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos
De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem
duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o
que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a
informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se
encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em
que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo
consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro
geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos
Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o
ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento
emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que
complicam a decisatildeo cliacutenica
Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em
um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o
modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo
cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que
tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando
protocolos e sistemas
Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que
fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em
ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os
meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico
e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou
quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos
desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de
ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo
52
A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados
estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento
Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um
tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser
humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo
(GROOPMAN 2008 p 15)
De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo
meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores
decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo
relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores
assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem
garantir resultados eficazes
Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em
funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em
que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente
provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado
Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de
pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas
possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo
Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria
muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo
A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto
quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos
terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo
Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de
forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo
Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as
caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram
selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o
modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as
53
caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de
diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia
combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes
para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas
Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes
durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo
sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez
que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa
funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida
Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem
esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos
meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade
Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um
guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio
entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que
fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de
raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo
analiacutetica
O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees
importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees
precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos
podem ser alertados para modificar um raciociacutenio
Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam
sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de
eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em
termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os
autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de
patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera
variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico
Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-
pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver
8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo
54
algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico
claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro
sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro
Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede
de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-
pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto
em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de
incerteza diagnoacutestica
Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da
queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre
o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de
errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era
nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas
foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o
exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O
meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes
Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros
paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a
maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos
participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados
com os meacutedicos holandeses
Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e
tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico
experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o
prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)
e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo
de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos
relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no
abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de
errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos
dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de
incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos
resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos
utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo
55
Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos
holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo
interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme
definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses
diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de
tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente
estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de
tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que
era esperado pelo meacutedico
As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no
processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo
existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo
de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em
que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo
as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas
tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo
56
5 MEacuteTODO
A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados
quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o
enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode
ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-
quantirdquo
De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de
muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos
e quantitativos
Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos
mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta
pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e
qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial
explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos
51 PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas
especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte
(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo
dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina
convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de
caso com entrevista
52 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de
testagem
57
Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o
International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do
meacutedico
Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do
meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente
A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico
O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm
por objetivo caracterizar a amostra
Idade________________
Sexo F ( ) M ( )
Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________
Especialidade____________________________
Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)
Consultoacuterio ( )
Hospital puacuteblico ( )
Hospital particular ( )
Universidade ( )
Outro______________________ ( )
Outro______________________ ( )
Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no
Consultoacuterio ___ h
Hospital puacuteblico ___ h
Hospital particular ___ h
Professor acadecircmico ___ h
Outro ____________________ ___ h
Outro ____________________ ___ h
____ (total de horas semanais)
Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___
58
Tempo meacutedio de atendimento ___
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a
pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em
que se encontra
Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a
fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo
Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de
adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada
Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se
novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total
de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta
inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi
quebrado na fase de alerta
Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia
fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue
pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e
esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total
desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra
emocional
Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que
um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue
concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves
podem ocorrer
Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou
sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com
15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do
estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo
59
Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as
sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo
quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)
Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e
trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados
pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes
psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e
apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo
523 IAPS ndash International Affective Picture System
O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por
imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama
de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de
700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras
As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos
participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os
participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo
emocional
As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do
Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo
estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as
gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item
que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras
escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer
A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo
induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala
Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)
pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo
(desagradaacutevelnegativa)
De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido
porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de
avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel
60
A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro
Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do
IAPS foi autorizada pelos autores
Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o
relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12
agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos
estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo
emocional das imagens
524 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por
perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles
tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de
De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith
(1995)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil
1a Que caracteriacutesticas ele tem
1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente
atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades
2a Que caracteriacutesticas ele tem
2b Por que ele natildeo desperta dificuldades
2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso
o afeta Decirc um exemplo
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente
Como
61
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira
no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse
decorrente da profissatildeo Como lida com isso
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por
quecirc
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc
53 PROCEDIMENTOS
531 Local de coleta
A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)
532 Seleccedilatildeo dos participantes
Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de
indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos
proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento
dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo
A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de
disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a
realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em
clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico
escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise
aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O
procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise
533 Procedimento de coleta de dados
62
O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta
de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados
serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia
Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os
resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)
Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos
conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes
foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi
agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta
O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees
sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a
possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de
consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e
devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa
avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da
entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas
e depois transcritas para a anaacutelise
Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia
utilizada na aplicaccedilatildeo foi
Questionaacuterio sociodemograacutefico
Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por
favor preencha as informaccedilotildees solicitadas
International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)
Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo
com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo
responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de
respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma
sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe
parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz
ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que
mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando
um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a
63
figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se
alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta
estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se
aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X
entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no
meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a
classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o
nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os
tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam
Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem
experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os
sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou
P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs
Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a
entrevista
Entrevista semiestruturada
Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees
em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do
paciente
534 Procedimento de anaacutelise de dados
O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem
quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30
meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a
interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos
escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a
64
anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram
identificados por nomes fictiacutecios
5341 Anaacutelise quantitativa de dados
Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes
estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD
(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados
O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando
suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado
para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras
independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de
anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes
Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu
como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo
A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de
estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico
com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo
com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer
comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do
IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS
comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico
5342 Anaacutelise qualitativa de dados
A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro
clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi
escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)
meacutedicos
A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas
com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional
65
o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e
estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
535 Procedimento eacutetico
A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa
envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de
Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o
Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)
66
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou
tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo
qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo
O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa
SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de
medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas
(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes
estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes
tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de
comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o
programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se
com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro
A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade
com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir
dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes
em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante
de cada cluster para o estudo de caso
A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia
Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo
da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International
Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o
sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster
Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4
participantes em forma de Estudo de Caso
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA
67
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos
Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de
diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento
no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas
caracterizaccedilotildees
Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as
distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)
especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho
(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de
pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio
(tabela 7)
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo
Sexo N
Masculino 17
Feminino 13
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e
13 (treze) do sexo feminino
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria
Faixas etaacuterias N
20 a 34 anos 10
35 a 48 anos 7
49 a 59 anos 7
Acima de 60 anos 6
Total 30
Meacutedia 446
Desvio-padratildeo 130
Fonte proacuteprio autor
68
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7
(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade
eacute de 446 anos
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado
Tempo de formado N
05 a 10 anos 12
11 a 23 anos 6
24 a 32 anos 6
33 a 46 anos 6
Total 30
Meacutedia 194
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11
a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de
tempo de formado eacute 194 anos
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades
Especialidade N
Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8
Ortopedia 5
Ginecologia 4
Oftalmologia 3
Otorrinolaringologia 3
Endocrinologia 2
Neurologia 2
Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3
Total 30
Fonte proacuteprio autor
No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e
tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)
oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As
outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia
69
(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)
e urologia (1)
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho
Locais de Trabalho N
Apenas Consultoacuterio 10
Consultoacuterio e Hospital particular 10
Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5
Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10
(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no
hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos
trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 2
21 a 40 hsemanais 8
41 a 48 hsemanais 8
49 hsemanais e + 12
Total 30
Meacutedia 460
Desvio-padratildeo 125
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a
maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais
dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas
70
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 8
21 a 40 hsemanais 15
41 a 48 hsemanais 2
49 hsemanais e + 5
Total 30
Meacutedia 328
Desvio-padratildeo 129
Fonte proacuteprio autor
O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao
atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio
Nuacutemero de pacientesdia N
01 a 09 pacientesdia 4
10 a 22 pacientesdia 15
23 a 37 pacientesdia 6
38 a 55 pacientesdia 5
Total 30
Meacutedia 219
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219
Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a
22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais
de 38 pacientesdia no consultoacuterio
71
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta
Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N
15 a 25 minutos 13
26 a 35 minutos 12
36 a 45 minutos 4
46 a 55 minutos 1
Total 30
Meacutedia 268
Desvio-padratildeo 100
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a
consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus
pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse
que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no
consultoacuterio eacute de 268 minutos
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e
13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A
meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos
meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268
minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do
consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)
Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos
sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da
escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da
amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os
sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos
72
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Stress N Paracircmetro
Natildeo 13 433 440
Sim 17 567 560
Total 30 1000 1000
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de
estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo
geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute
dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Fase Stress N Paracircmetro
Alerta 02 67 20
Resistecircncia 15 500 530
Exaustatildeo 0 00 10
Total 17 567 560
Fonte proacuteprio autor
Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles
estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e
Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa
que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta
referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo
de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um
prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo
de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a
fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar
as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves
73
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL
5
10
2
0
2
4
6
8
10
12
Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos
Prevalecircncia de Sintomas de Stress
Prevalecircncia de sintomas N
Fiacutesicos 5
Psicoloacutegicos 10
Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2
Total 17
Fonte proacuteprio autor
Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram
predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram
diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos
projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-
estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo
muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e
insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro
De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou
psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos
decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da
amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a
vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra
uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)
apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos
paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de
resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma
sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos
mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita
de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva
Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento
encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20
74
meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e
com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em
58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na
fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram
resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas
123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e
72 apresentaram estresse
Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em
termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade
psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a
inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores
psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo
podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico
Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para
observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o
iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo
Stress Sexo Total
Masculino Feminino
Natildeo 7 6 13
Sim 10 7 17
Total 17 13 30
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do
teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo
entre o sexo e o estresse
75
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas
Stress N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t p
Idade Natildeo 13 486 138 38
150 0144 Sim 17 415 119 29
Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38
167 0106 Sim 17 162 107 26
Tempo total de
trabalho (horas
semanais)
Natildeo 13 484 142 39
091 0371 Sim 17 442 112 27
Tempo de trabalho
no Consultoacuterio (horas
semanais)
Natildeo 13 337 130 36
030 0766 Sim 17 322 133 32
Nuacutemero de
pacientesdia
Natildeo 13 255 153 42 140 0171
Sim 17 192 92 22
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
Natildeo 13 300 96 27 155 0133
Sim 17 244 100 24
Fonte proacuteprio autor
Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por
meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As
diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil
sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)
Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas
da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo
emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens
afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment
Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a
intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir
76
de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao
induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo
(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta
a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da
populaccedilatildeo
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais
Escalas N Meacutedia Desvio
padratildeo
Erro
padratildeo
t p μ
Paracircmetro
Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491
Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501
Total 30 497 044 008 0095 0925 496
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas
escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala
Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a
meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que
os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila
significativa
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico
Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave
percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se
internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia
alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional
As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais
dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de
pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta
77
Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS
Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo
Sexo N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t P
Alerta Masculino 17 504 113 027
1634 0057 Feminino 13 449 054 015
Prazer Masculino 17 509 031 007
-0646 0262 Feminino 13 518 043 012
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture
System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas
meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo
com as escalas
A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do
IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Alerta Prazer
Idade
r 035 -028
p 0031 0065
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de formado
r 032 -024
p 0043 0100
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo total de trabalho (horas
semanais)
r -0041 -0025
p 0415 0448
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de trabalho no Consultoacuterio
(horas semanais)
r 020 -040
p 0139 0014
N 30 30
78
Alerta Prazer
Nuacutemero de pacientesdia
r 002 021
p 0443 0128
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
r 036 -0204
p 0024 0140
N 30 30
A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica
descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis
O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que
indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa
que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +
032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo
de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e
o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta
Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele
ficou diante dos estiacutemulos emocionais
Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas
semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto
mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer
Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de
pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer
Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em
relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das
distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave
79
percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao
trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)
Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo
de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos
mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta
Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos
tempo
616 Agrupamento do IAPS por cluster
Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos
participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com
similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade
ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por
agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um
embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em
profundidade
O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a
cada agrupamento
80
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)
O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas
Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia
dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia
A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a
separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia
N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo F P
Alerta
Cluster 1 6 501 010 004
4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027
Cluster 3 9 377 027 009
Cluster 4 8 465 021 007
Prazer
Cluster 1 6 493 015 006
2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010
Cluster 3 9 519 016 005
Cluster 4 8 556 017 006
Fonte proacuteprio autor
81
O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo
que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)
Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos
clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos
ou mais distantes da meacutedia
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
Alerta N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055
Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004
Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000
Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009
Prazer N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265
Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038
Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011
Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000
Fonte proacuteprio autor
O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral
O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que
possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a
populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor
pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos
de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters
O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais
82
baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo
O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o
com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com
pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis
sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os
clusters
Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou
afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective
Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo
e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional
que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no
cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas
duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e
tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster
3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4
agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve
diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters
O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas
pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters
2 3 e 4
Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia
em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster
83
perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos
outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia
de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam
486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181
pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos
Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e
4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam
prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a
anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de
fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os
sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer
unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa
especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente
Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de
formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente
nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que
meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se
mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas
semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e
desagradaacutevel
Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)
concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais
excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos
niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa
correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta
Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no
consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees
intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a
anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes
O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor
pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa
em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos
diante dos estiacutemulos
84
Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos
participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4
trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao
trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 233 minutos
Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5
na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com
estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de
sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram
duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos
outros clusters
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos
que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico
Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo
esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo
dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas
O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos
constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade
emocional
O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior
pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de
forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia
de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao
trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 225 minutos
Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e
3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de
resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas
psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio
entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os
participantes deste cluster
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com
menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais
85
pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os
resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de
trabalho no consultoacuterio e o Prazer
O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das
relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer
como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo
frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como
aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster
Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que
trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo
com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem
Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas
escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas
hipoacuteteses interpretativas
1ordf Tendecircncia observada
Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado
e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos
estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as
variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de
estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela
escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que
permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais
desagradaacutevel
Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente
de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses
meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o
Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas
relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem
estar menos satisfeitos
2ordf Tendecircncia observada
86
O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo
com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade
emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse
pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos
permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de
interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente
Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente
com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo
agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente
3ordf Tendecircncia observada
Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de
formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem
mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala
Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior
prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda
uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer
Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria
da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos
prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com
outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem
menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga
emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso
Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para
anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por
meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas
no quadro a seguir
87
Tabela 17 Categorias de anaacutelise
CATEGORIAS
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
A percepccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises
6221 Caso 1 Daniel (participante 12)
Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto
aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que
ficam mais tempo com o paciente nas consultas
Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute
Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta
de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha
em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute
de 45 minutos
Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e
era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando
sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de
como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem
educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como
montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um
desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que
estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas
algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar
que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
88
Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico
constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo
relatou nenhum sintoma psicoloacutegico
O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa
aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro
mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele
natildeo vai ser meacutedicordquo
Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas
situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees
de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel
fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como
atender um paciente bem se natildeo estiver descansado
Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia
mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem
porque aprendirdquo
Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o
nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o
trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre
cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo
chato natildeo eacute rabo curto como erardquo
Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-
se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu
passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho
mais tempordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o
meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos
estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos
Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as
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consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por
estiacutemulos que despertam emoccedilotildees
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve
permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de
modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu
trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo
Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em
dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam
parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi
um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos
meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e
isso me emocionourdquo
Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o
influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o
atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e
fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se
resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas
falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo
reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo
Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios
incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma
diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo
pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer
mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao
paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava
dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a
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lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por
que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo
Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais
envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes
sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo
paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos
que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo
O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante
que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do
diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao
cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio
ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de
suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento
mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram
o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa
ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee
chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me
obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou
trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como
esse afetassem o seu trabalho
Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou
que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees
de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser
conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com
a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo
Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o
tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute
positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto
Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais
satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo
Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees
positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades
mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades
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mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe
paciente faacutecilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle
diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto
emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o
controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais
jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []
mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as
emoccedilotildeesrdquo
O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do
desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro
maisrdquo
Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o
controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus
pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de
brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-
presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para
essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha
a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas
desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo
Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram
desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica
remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo
Leitura analiacutetica
Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos
que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi
extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo
diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no
teste do IAPS
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Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees
relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a
maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou
uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no
em sua seguranccedila
Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode
refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e
incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as
emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute
necessaacuteria uma atitude de controle
Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente
que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o
seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel
ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido
contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o
paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute
aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e
que parece respeitaacute-lo
No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes
percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou
ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o
senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo
ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e
com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se
ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente
O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular
de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa
Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas
estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como
demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute
cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns
iam emborardquo
Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo
permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos
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aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de
seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os
aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o
confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e
que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de
falhar
6222 Caso 2 Alice (participante 2)
Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade
emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em
hospital puacuteblico
Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e
divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes
Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio
Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
20 minutos
Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas
vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel
Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios
momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era
solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das
questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que
uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar
algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia
preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos
prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e
cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa
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especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando
mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a
hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e
irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do
ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os
pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam
aprender a lidar
Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades
que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo
Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem
interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em
burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso
pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda
muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []
eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou
menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das
figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma
tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o
que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter
diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas
podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de
comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a
emoccedilatildeo) influi em tudordquo
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Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais
intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo
Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o
que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que
podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo
Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem
alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em
seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos
avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar
que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de
atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela
como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e
sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo
Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que
incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao
meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua
postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a
um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim
entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho
que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa
ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o
baixo Alerta no IAPS
Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de
exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de
pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente
e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a
relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma
compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no
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consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo
ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo
Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas
pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de
violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria
demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo
Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo
aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo
pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e
ajuda ao outro
Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a
sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]
eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele
realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim
de se sentir uacutetilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para
proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]
quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de
pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do
caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees
psicoloacutegicas de lidarrdquo
Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em
que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e
assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou
uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo
Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata
como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o
tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no
consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo
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Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara
com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente
parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos
Leitura analiacutetica
Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para
evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em
qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo
como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez
Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela
teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute
canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo
antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de
superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir
parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse
recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio
Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas
diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o
recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica
Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo
de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que
parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela
reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o
caso
Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo
representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos
Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel
Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia
para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja
vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda
ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas
A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice
percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os
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sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes
Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse
estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da
entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como
vinculadas ao estresse
Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas
como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que
como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos
efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento
A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua
capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e
frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar
sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse
reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto
observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas
relaccedilotildees
Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo
projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante
dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo
6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)
Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de
Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de
formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam
menos tempo com eles
A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi
individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande
nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais
caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio
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Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o
seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo
atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho
no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
15 minutos
O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito
cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de
atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo
para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e
agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade
suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo
assinalou nenhum sintoma fiacutesico
Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que
atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras
atividades como cirurgias e compromissos familiares
Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o
estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma
contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e
mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que
me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo
ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo
perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel
percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral
Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao
considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa
100
insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em
funccedilatildeo de um processo defensivo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre
elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente
acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo
As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e
prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma
caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc
fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como
barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo
Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho
Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela
sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor
cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo
emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo
Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as
suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a
sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo
vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []
afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando
perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)
Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender
Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet
ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees
desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo
da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar
101
o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje
em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo
quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo
Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo
traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa
desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender
[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e
mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA
dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar
para ele o que vocecirc esta querendordquo
O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o
diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de
Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu
trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se
sente bemrdquo
Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que
suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento
das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o
pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas
jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu
trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo
ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute
tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser
neutrordquo
Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de
cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito
comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o
ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser
influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto
nenhumrdquo
102
Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou
estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se
com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que
chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo
Leitura analiacutetica
Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo
Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo
O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois
trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No
entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e
insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes
O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e
o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse
Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo
Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de
que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou
subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu
papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia
negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo
vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos
emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a
gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo
Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e
controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como
meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus
atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu
julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e
entendimento
Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre
a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter
103
observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no
controle e que a atitude emocional pode ser controlada
Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para
expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que
poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo
soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo
A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra
tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute
provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as
emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do
receio de ter esse poder contestado
6224 Caso 4 Marcos (participante 13)
Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais
proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos
paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer
Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia
Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital
Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10
pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos
Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou
interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha
encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este
apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um
processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e
tem se esforccedilado muito para isso
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia
afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado
104
estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de
dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os
sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e
irritabilidade sem causa aparente
O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de
sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo
de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua
jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errarrdquo
Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo
emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto
ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura
refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro
trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua
meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas
emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo
subjetiva da emoccedilatildeo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um
caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante
em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer
isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai
da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutemrdquo
Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no
diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a
beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo
105
para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a
emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo
Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de
soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um
caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo
O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar
ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias
com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e
pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem
ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo
dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo
Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois
isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais
fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a
natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm
pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a
doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no
tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e
inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse
impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo
Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar
com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com
o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido
principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento
O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da
evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de
afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de
afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no
tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo
106
O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio
que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento
e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo
[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte
delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de
realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente
satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de
realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e
tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu
conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem
do que eu posso fazerrdquo
Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves
relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como
lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor
estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem
unicamente de mimrdquo
Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees
principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito
bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo
Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de
recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de
conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para
dar um alentordquo
Leitura analiacutetica
Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho
que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu
procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo
107
Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita
que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um
pouco da personalidaderdquo
Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e
do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc
tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para
issordquo
A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante
das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em
alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes
Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como
raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila
podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para
lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o
que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da
racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas
depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer
sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia
Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira
nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e
motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a
sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo
verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral
Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da
responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do
meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo
trabalhada
Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para
ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para
pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e
reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo
com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-
las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
108
Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais
clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos
defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees
como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e
uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma
relaccedilatildeo com o paciente
109
7 DISCUSSAtildeO
O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente
que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles
relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem
influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico
Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com
o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo
os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e
a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o
paciente
Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees
estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas
emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais
impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca
compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional
A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees
que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas
Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada
porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido
seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo
percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base
essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem
apenas sintomas da afetividaderdquo
Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e
DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que
os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a
Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas
raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse
funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico
Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se
ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer
110
insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento
semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos
sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma
segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo
de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar
romper o viacutenculo
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um
compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico
(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a
essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de
valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e
dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes
tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como
afastamento entre outras
Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um
sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das
possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida
emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional
eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos
relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um
entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios
A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se
sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas
nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente
aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro
desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente
visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando
compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o
ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer
Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo
apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo
apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser
usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute
uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo
111
subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo
Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as
suas normas e convicccedilotildees
Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do
detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode
mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo
impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a
funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos
frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou
meacutedicordquo
Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo
com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico
assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais
caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos
De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente
representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da
consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma
persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem
parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo
vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral
riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel
se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)
Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por
autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do
meacutedico
Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de
detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado
situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura
informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona
riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel
Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para
responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e
sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a
reflexatildeo
112
Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e
reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas
tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no
atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como
negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas
Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo
interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e
ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e
mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado
dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os
incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo
Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois
mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples
fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a
emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar
com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui
A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas
emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um
maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de
atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem
a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento
Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar
com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta
compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e
fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro
momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa
de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes
reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades
para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das
emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam
que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem
evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a
113
esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar
sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de
seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de
reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que
os afetava negativamente e o que os afetava positivamente
Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a
busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com
naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis
Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia
percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos
chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e
distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e
com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado
espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na
entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a
questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional
Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo
ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)
O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao
extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A
atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se
riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado
Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma
inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente
mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira
vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de
impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de
quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder
A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de
como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e
sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as
caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as
percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais
114
Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar
inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o
tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo
emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung
(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente
que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico
No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas
entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b
par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em
nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o
pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas
pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a
Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila
constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na
forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)
Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre
presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo
No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006
2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um
auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de
circuitos mentais confluentes
Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e
Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a
aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e
do processo de tomada de decisatildeo
Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco
reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do
meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-
paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a
contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na
compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e
impactar no atendimento do paciente
115
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece
quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo
desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a
incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que
despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em
geral
As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica
pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento
interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu
falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os
meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional
parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por
complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo
O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente
Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na
leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica
O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos
vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos
que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido
agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais
Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o
paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que
o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes
que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como
pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute
elemento isolado desse todo
O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao
distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a
persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o
paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si
116
Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo
colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo
de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente
repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista
institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos
reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho
Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca
havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a
medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido
ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo
de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive
vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no
primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina
curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa
profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)
A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma
aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na
busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte
de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos
necessaacuterios
A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as
defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega
estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por
exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o
impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo
Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito
individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um
psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e
contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees
Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao
meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas
de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de
Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns
hospitais
Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das
emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre
gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o
117
ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o
impacto nos processos de decisatildeo
118
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128
ANEXO A
129
ANEXO B
130
ANEXO C
131
132
APEcircNDICE
Caso 1 Daniel (participante 12)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles
entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais
meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes
fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo
que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica
acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar
perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus
pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um
pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o
senhor quer saber isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas
algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter
fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos
e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube
dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros
do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a
secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia
natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me
perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito
bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem
o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com
ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de
uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia
rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute
num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo
quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo
133
a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC
tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute
jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos
70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva
ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio
noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu
natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)
Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo
durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de
futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes
natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer
terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que
eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo
aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai
para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre
consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu
assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o
mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas
fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando
os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando
a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso
me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me
defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem
essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por
isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a
consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir
embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu
quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem
na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles
atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em
outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco
134
comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar
quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma
superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele
histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve
dor de barriga
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor
de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as
informaccedilotildees natildeo procura se exibir
Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo
valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees
tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque
tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de
propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia
quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute
vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da
moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu
pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse
ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude
chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que
seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se
escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e
sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira
bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos
sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom
apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees
positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas
chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo
135
emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo
mexer com nossa inseguranccedila
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e
controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo
de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu
deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo
possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de
contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha
indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar
imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais
estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse
olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e
vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu
tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o
senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram
pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar
porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de
tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns
dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele
num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e
emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro
eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a
carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc
136
vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone
tocou)
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a
me controlar
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda
hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade
quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha
taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha
que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se
controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando
me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso
com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o
sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc
definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada
Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e
provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular
quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo
Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo
ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs
ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele
escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado
depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo
estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve
um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que
essa seja a explicaccedilatildeo
137
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um
pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro
assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade
agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo
ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito
bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um
pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute
uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo
respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam
atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no
fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas
eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou
Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo
com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil
participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta
meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia
isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e
a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma
coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada
pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas
vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de
SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era
rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma
incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras
achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de
pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito
difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra
138
coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras
consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a
formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado
viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo
especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu
conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do
HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo
obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes
ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema
com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa
foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F
que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem
para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem
competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo
absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois
casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a
parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um
oacutetimo colega
139
Caso 2 Alice (participante 2)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que
mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza
Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo
paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos
paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em
hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de
paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu
consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo
sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar
vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender
Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo
sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai
esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma
agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para
fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo
vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco
de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute
mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes
mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem
140
porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta
eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica
e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue
responder acho que eacute isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas
eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir
aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo
meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo
prazer Sensaccedilotildees boas
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma
meacutedica relativamente sortuda (risos)
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)
(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo
consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito
bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito
grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela
foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e
aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu
me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para
criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela
trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava
acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles
que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana
neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas
dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no
final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que
o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho
141
menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu
achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse
bobeira doutora deixa para laacute
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de
atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor
evitar esse tipo de paciente porque vai dar m
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-
operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar
que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar
mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro
o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei
olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os
preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24
agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma
semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia
me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele
fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o
que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o
que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho
um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu
sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute
uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular
tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das
coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio
142
cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para
discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala
nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar
Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele
vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo
concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz
reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e
vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque
depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo
venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so
long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um
ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo
meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo
mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute
dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no
sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra
pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus
entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou
vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito
entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que
trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada
demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal
ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso
descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima
eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que
leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
143
Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele
estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila
que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para
ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa
entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em
condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para
explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara
com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele
faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por
semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim
sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que
vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma
psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa
sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que
realmente impacta muito a vida deles
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc
natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o
paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente
me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De
vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma
menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma
ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito
beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles
vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu
chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute
144
Caso 3 Miguel (participante 4)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem
alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute
considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves
orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo
compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me
traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu
natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute
mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de
incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu
melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E
posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse
tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se
acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela
natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o
viacutenculo
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com
a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura
fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque
145
eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa
sauacutede
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem
de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe
melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias
de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e
muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar
uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse
paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um
paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando
mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto
para dar um alento
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque
muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo
do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute
mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte
mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa
empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva
sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou
natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam
melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da
146
patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo
respondeu tatildeo bem
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma
caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou
esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave
informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores
quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso
organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar
preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de
mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente
porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma
fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma
estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem
formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia
eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a
experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo
assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive
momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos
para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem
um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa
condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te
dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
147
Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais
assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas
positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute
vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos
tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra
mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos
acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma
especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os
meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais
paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra
mas (Interrompeu paciente chegou)
148
Caso 4 Marcos (participante 13)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o
trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute
vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico
do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira
assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo
satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e
geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute
acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais
briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo
construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar
fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela
mesma
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar
explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa
como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute
uma sensaccedilotildees incocircmoda)
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil
mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu
conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar
a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha
149
passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa
que estaacute compartilhando o problema com vocecirc
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de
ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm
burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que
questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas
coisas
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que
veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas
para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-
socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico
me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me
agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma
ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois
operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha
um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral
um achado em exames tambeacutem veio me agradecer
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo
aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta
agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o
negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)
As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica
fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um
150
aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa
positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo
da pessoa
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de
emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por
hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir
uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um
compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse
agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc
faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)
Eu acho que eu administro bem
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um
pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas
vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a
pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com
sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por
uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo
me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma
coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
151
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a
falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo
estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o
paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim
CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem
da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o
afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30
(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4
(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos
utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a
entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram
sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo
entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve
diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo
com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento
(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o
paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros
meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados
pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a
abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias
preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao
estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees
despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar
com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e
percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos
decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para
ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes
Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente
projeccedilotildees psicologia junguiana
CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An
Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
ABSTRACT
The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception
of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in
quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen
four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the
analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults
Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured
interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is
an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the
sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference
between the sample results and the general population but differences were found in the
relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time
(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors
with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more
impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per
week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data
were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the
approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories
related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional
perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by
difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results
revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity
There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and
poorly understood which can result in projections in patients
Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship
projections Jungian psychology
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
81
Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
70
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IAPS International Affective Picture System
ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
SAM Self-Assessment Manikin
SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees
SPSS 17 Statistical Package for the Social Science
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 OBJETIVOS 17
21 OBJETIVO GERAL 17
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17
23 QUESTOtildeES 17
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37
411 Estresse em meacutedicos 41
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52
5 MEacuteTODO 56
51 PARTICIPANTES 56
52 INSTRUMENTOS 56
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58
523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59
524 Entrevista semiestruturada 60
53 PROCEDIMENTOS 61
531 Local de coleta 61
532 Seleccedilatildeo dos participantes 61
533 Procedimento de coleta de dados 61
534 Procedimento de anaacutelise de dados 63
5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64
5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64
535 Procedimento eacutetico 65
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76
616 Agrupamento do IAPS por cluster 79
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86
6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87
6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93
6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98
6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103
7 DISCUSSAtildeO 109
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115
REFEREcircNCIAS 118
ANEXO A 128
ANEXO B 129
ANEXO C 130
APEcircNDICE 132
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada
(HILLMAN 1992 p xi)
As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as
relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e
possibilitam sensaccedilotildees como o prazer
Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a
par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e
por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e
reciacuteproco sobre o outrordquo
Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso
corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente
Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo
apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2
Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos
indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos
mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo
O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute
presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado
escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do
sentido e do significado
[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da
razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia
ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma
supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na
unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral
(JUNG 19212009a par117)
Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa
dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja
1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o
outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a
par 751)
13
pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o
trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito
Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo
em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a
emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no
momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis
respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser
levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As
emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele
lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os
de morte
Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho
(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto
das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees
De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo
pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo
profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao
mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um
caminho de evitaccedilatildeo
Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo
do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que
escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir
para ser meacutedicordquo
Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e
humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de
estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e
adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a
atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento
podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel
sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no
mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre
elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico
acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos
fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica
14
Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores
entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15
dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles
seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila
mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo
A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias
natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele
interage com o paciente
O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades
organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais
administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que
lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em
equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica
Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam
evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam
exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa
atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede
do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para
a tomada de decisotildees
Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o
dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja
falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas
palavras e nas interaccedilotildees
Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes
Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela
estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute
essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede
de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai
processar essas emoccedilotildees
As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca
atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave
contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas
relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo
15
Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia
chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que
provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos
tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)
As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por
meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa
personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da
afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)
Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o
reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base
nos fundamentos da psicologia analiacutetica
Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente
influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas
decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo
possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo
com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e
instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de
estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos
O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo
Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo
apresentados no Capiacutetulo 2
No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as
discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as
dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e
contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o
estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional
na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das
emoccedilotildees na tomada de decisatildeo
No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a
amostra os instrumentos e os procedimentos
A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6
Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de
Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na
16
anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de
estudo de caso
Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados
relacionando-os com a teoria e os fundamentos
O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho
para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema
17
2 OBJETIVOS
21 OBJETIVO GERAL
Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico
Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse
Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e
aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades
Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico
23 QUESTOtildeES
Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees
Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica
Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico
18
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES
A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista
conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo
do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao
privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e
enriquece o desenvolvimento de teorias
A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos
ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo
Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate
protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses
assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do
aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)
Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo
cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem
qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo
Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam
ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de
estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo
vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes
As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um
fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo
Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a
neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e
intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e
19
direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo
com o ambiente) (SCHERER 2005)
De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees
com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram
a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente
no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos
Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a
interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento
de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees
de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma
soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia
Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente
ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional
Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem
gerar prazer ou desprazer
Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para
suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila
o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de
cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado
conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao
tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de
incerteza
Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante
influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da
emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento
emocional
LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de
forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de
distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma
participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido
para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar
tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo
emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel
do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo
20
O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves
motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se
encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os
responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo
A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo
processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos
racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas
as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento
Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute
os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa
mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)
Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que
ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave
evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A
tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a
desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para
eventos natildeo relacionados
Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do
processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu
durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem
devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando
uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)
Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e
pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia
de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e
com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e
objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior
fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo
As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria
fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa
de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as
nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p
13)
21
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico
Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa
quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees
pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto
qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada
Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente
como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a
emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam
conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na
gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o
autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo
Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a
decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja
escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as
muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo
A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no
momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma
determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em
consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo
A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa
Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um
processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo
o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem
mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem
vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a
uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo
De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico
fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A
ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por
sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos
em emoccedilotildees e sentimentos
22
A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo
para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado
resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal
automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um
nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico
positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo
Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees
secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)
pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios
Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e
sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem
natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de
interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas
(DAMAacuteSIO 2006 p 211)
A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo
de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas
A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe
um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais
Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves
organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra
mais importante Affect Imagery Consciousnes
Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque
natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o
mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas
de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)
O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez
que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para
seu questionamento foi o afeto
3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-
organizadas
23
Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma
descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser
humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a
confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para
um estiacutemulo
A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e
de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)
De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em
afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos
estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo
Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para
evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a
vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim
um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5
Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove
afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees
dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das
expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o
mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX
2001)
Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o
sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um
indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as
possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas
O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees
eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos
Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e
referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees
Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a
convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas
4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos
5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem
concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras
24
Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees
baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria
De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se
apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz
diz e pensa
Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de
mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e
vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do
sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees
reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na
recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo
do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011
p 81)
Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa
emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se
percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar
para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e
preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas
Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta
que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que
segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo
lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo
geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas
pelo organismo ao longo de sua vida
Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas
emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-
se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem
nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo
Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco
precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas
medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que
merecem atenccedilatildeo especial
Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de
bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas
circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das
25
emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o
ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo
O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no
processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social
eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos
sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)
As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida
dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que
norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a
projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e
comportamentos
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia
A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em
Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo
sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a
um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer
tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo
quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo
Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente
que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos
para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos
Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que
natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo
Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma
estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e
dominacircncia
Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples
que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees
estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a
mensuraccedilatildeo de respostas emocionais
A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida
utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes
26
comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert
(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a
exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia
dos aspectos emocionais na memoacuteria
Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a
tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e
grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere
Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas
por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de
respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico
O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o
fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com
Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de
descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e
palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas
dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)
Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico
chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus
estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos
podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia
Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com
precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores
sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas
pois funcionam de forma independente6
A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento
ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua
relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)
A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um
estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e
LANG 1994)
6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de
Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal
27
A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do
agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva
ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo
valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema
aversivo
De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido
de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto
positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado
com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo
As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias
natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo
processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona
a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS
A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos
A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que
eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e
julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG
19041994)
A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos
aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o
estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem
valor de sobrevivecircncia
Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou
natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda
natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou
ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma
situaccedilatildeo
[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se
involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel
aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de
expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar
consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o
28
proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG
19161991 par 323)
Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se
surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou
que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era
registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito
A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as
respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias
Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa
trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A
expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de
expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um
processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade
Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos
carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas
manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado
de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)
Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do
complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa
aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o
desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica
Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e
sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma
emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica
Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos
percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes
Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma
predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de
fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que
pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o
desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par
769)
29
De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se
tornardquo
Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do
indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de
parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a
proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)
Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung
fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um
conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem
imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm
para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da
importacircncia relativa da imagem
Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande
medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se
a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees
perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores
consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo
A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees
interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos
sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia
Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos
que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos
conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao
mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)
A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o
mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual
um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao
objeto (JUNG 19332012)
30
Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos
os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um
processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia
Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante
da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute
por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo
pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo
Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo
sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser
esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos
Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com
caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e
contratransferecircncia
Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde
seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era
importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos
percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram
transferidas para o analista
Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma
exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento
psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas
ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)
A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois
pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus
pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)
E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que
neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)
revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na
esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)
Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido
negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia
Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma
repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente
pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo
31
A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com
Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza
aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da
criatividade na relaccedilatildeo
De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a
todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a
interaccedilatildeo
Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo
Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e
trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade
A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o
sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia
particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)
Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se
liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo
compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar
qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico
A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o
fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia
pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno
O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)
para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um
fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud
(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes
poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica
Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a
contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho
para o material de seus pacientes
Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo
representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se
em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo
natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do
cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra
32
passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o
analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico
Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos
e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo
de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o
autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das
desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas
atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa
Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995
2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na
teorizaccedilatildeo disso pode ser observada
Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)
importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram
na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da
contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do
paciente
Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo
para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento
teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a
contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do
paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)
A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-
determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute
indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem
acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago
colocadas no analista (RACKER 1982)
Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista
mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior
compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento
psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da
relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente
De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung
via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o
paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung
33
(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute
relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente
A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para
ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois
sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha
destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem
daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados
A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute
que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas
diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a
alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na
relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa
do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias
transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele
tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)
Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o
inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e
ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute
um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o
agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam
O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do
inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente
correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior
ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim
numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011
par 364)
De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes
reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees
de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute
presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e
temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais
duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da
contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise
Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia
possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos
34
A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome
mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o
paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia
Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de
desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem
bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus
pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes
e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute
contratransferecircncia
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos
existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um
instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico
A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica
relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e
Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre
meacutedico e paciente
Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante
influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de
lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico
[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo
como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus
conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que
pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT
1988 p 265)
Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma
atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com
isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por
outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator
quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de
funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De
acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o
35
paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho
do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente
o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do
meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo
com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma
influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988
p 47)
Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel
para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como
meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e
idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint
(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas
influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo
Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente
Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos
de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos
Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar
suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo
dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar
conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um
liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento
De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico
chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada
perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os
aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande
mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os
grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje
Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas
raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos
cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem
o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a
fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica
36
De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a
alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do
meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que
meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo
O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a
seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se
estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de
relacionamento com seu paciente
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4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA
A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes
Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS
MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp
Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr
Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr
Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr
Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom
Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed
Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx
International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg
Journal of Analytical Psychology
Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)
httpucpressjournalscomjournalphpj=jung
httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml
Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155
As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo
do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA
A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo
biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e
da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer
relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para
a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE
MARCO 2012)
Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das
pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos
38
muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem
tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional
O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo
onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma
imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os
poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano
comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)
O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional
em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos
etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico
A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa
realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram
que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram
necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas
27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles
que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios
modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar
Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas
relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano
De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o
estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a
distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo
que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para
o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer
resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente
O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em
seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver
comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento
ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos
psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico
Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a
implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os
estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa
39
Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a
comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo
com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos
encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila
de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na
educaccedilatildeo meacutedica
O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam
novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e
sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA
2001 p 8)
Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos
uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de
embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir
sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas
do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as
emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente
As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry
Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica
e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de
decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por
fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do
ambiente
Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes
despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a
maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que
essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia
O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus
sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)
a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres
e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica
De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves
necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com
situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do
paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que
inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente
40
As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma
constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve
prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas
tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de
ambas as partes
O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que
transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu
grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um
instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados
Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um
melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)
fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de
que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram
os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram
durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram
que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da
vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que
nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado
o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser
invertidos
Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees
inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma
segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem
vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos
envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores
meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode
fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la
A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel
substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o
meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e
compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de
tratamento
41
411 Estresse em meacutedicos
A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos
uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre
o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos
De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees
ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse
possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e
motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e
novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em
que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer
tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se
Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados
abaixo do ideal
De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por
produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma
influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente
tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas
emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais
como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes
Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na
Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos
profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no
trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma
vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do
atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho
excessiva
Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais
na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia
problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida
familiar foram os fatores mais citados
As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
42
Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria
Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22
se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados
houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os
problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho
meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse
foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva
excessiva (522)
Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados
mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia
Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram
a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o
fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento
Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do
municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos
apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia
Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade
de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123
apresentaram estresse
A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do
burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma
reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a
maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse
ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE
Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele
pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos
podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo
a um paciente
As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e
provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um
43
protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo
atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se
encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)
Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem
ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e
Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel
e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo
cliacutenica
Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece
com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo
parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos
A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da
capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e
percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes
Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser
positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a
pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink
A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al
(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas
dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo
De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles
que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma
conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila
Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute
satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e
TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio
(STEINMETZ e TABENKIN 2001)
Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem
impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith
(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de
7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no
qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos
negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)
44
cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de
sauacutede do paciente
Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a
qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de
conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a
especialistas
De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto
por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao
expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento
Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que
os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo
Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que
na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes
Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo
com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao
paciente ou a ambos
De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente
que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e
caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos
profissionais
Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)
observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos
com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o
autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus
proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas
proacuteprias reaccedilotildees emocionais
Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na
interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas
Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo
pelo meacutedico
Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para
identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente
45
O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al
(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo
interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento
De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos
processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a
flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o
paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu
humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente
Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e
Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o
envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis
cuidadosos e mais motivados
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE
Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo
em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como
Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do
conhecimento de sua farmacologia
Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute
permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse
tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional
para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)
De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais
envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte
dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se
informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede
Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e
paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por
mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo
empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes
Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave
comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por
meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os
46
humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um
fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais
Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de
emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo
transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e
natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no
passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que
antecipam no futuro
Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que
transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia
jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de
confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com
roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que
natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem
conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo
Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande
gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes
mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito
Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de
uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e
sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o
meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo
Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)
observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas
determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas
emoccedilotildees
Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e
Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do
paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais
satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente
47
percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos
foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi
determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao
paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia
sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico
percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o
meacutedico tratava o paciente
Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no
Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos
A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer
uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas
surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para
seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do
paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram
os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores
observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o
favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e
insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua
competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que
modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia
Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de
seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises
foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da
pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45
queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados
e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com
precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo
costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees
precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos
Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento
comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das
Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro
de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu
comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a
48
atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes
sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-
paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias
pregressas de encontros com outros meacutedicos
Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou
ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o
papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que
apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o
engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos
ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o
estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes
Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro
cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como
resposta um aumento da emotividade do paciente
Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de
sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila
significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes
tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a
tomada de decisatildeo
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO
Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem
explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam
diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo
variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de
como funciona esse processo
O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos
na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas
principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos
Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise
com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de
raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses
49
passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e
compreender o processo de uma doenccedila
A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo
compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica
meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento
de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica
cliacutenica tem se intensificado
Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a
forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de
qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente
De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-
se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas
logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo
quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete
erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a
compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias
O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a
decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se
inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia
todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma
avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a
probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial
Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes
ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A
prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva
a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as
hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do
paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL
KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)
Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento
heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um
diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com
Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional
50
ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas
emoccedilotildees podem influenciaacute-la
Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo
uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas
pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A
heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel
Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu
uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros
sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que
deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo
Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de
decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia
muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute
trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo
alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na
geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente
quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo
De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees
de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico
natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico
Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte
da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e
por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma
como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem
no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico
possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias
Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de
hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de
medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas
geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses
iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o
processo de diagnoacutestico final
Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais
hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas
51
agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses
especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio
intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que
reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados
limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico
A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue
um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em
evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos
De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem
duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o
que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a
informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se
encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em
que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo
consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro
geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos
Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o
ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento
emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que
complicam a decisatildeo cliacutenica
Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em
um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o
modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo
cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que
tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando
protocolos e sistemas
Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que
fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em
ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os
meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico
e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou
quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos
desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de
ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo
52
A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados
estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento
Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um
tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser
humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo
(GROOPMAN 2008 p 15)
De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo
meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores
decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo
relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores
assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem
garantir resultados eficazes
Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em
funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em
que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente
provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado
Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de
pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas
possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo
Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria
muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo
A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto
quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos
terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo
Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de
forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo
Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as
caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram
selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o
modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as
53
caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de
diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia
combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes
para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas
Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes
durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo
sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez
que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa
funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida
Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem
esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos
meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade
Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um
guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio
entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que
fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de
raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo
analiacutetica
O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees
importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees
precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos
podem ser alertados para modificar um raciociacutenio
Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam
sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de
eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em
termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os
autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de
patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera
variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico
Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-
pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver
8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo
54
algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico
claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro
sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro
Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede
de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-
pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto
em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de
incerteza diagnoacutestica
Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da
queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre
o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de
errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era
nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas
foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o
exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O
meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes
Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros
paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a
maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos
participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados
com os meacutedicos holandeses
Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e
tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico
experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o
prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)
e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo
de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos
relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no
abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de
errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos
dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de
incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos
resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos
utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo
55
Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos
holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo
interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme
definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses
diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de
tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente
estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de
tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que
era esperado pelo meacutedico
As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no
processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo
existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo
de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em
que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo
as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas
tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo
56
5 MEacuteTODO
A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados
quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o
enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode
ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-
quantirdquo
De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de
muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos
e quantitativos
Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos
mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta
pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e
qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial
explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos
51 PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas
especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte
(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo
dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina
convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de
caso com entrevista
52 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de
testagem
57
Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o
International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do
meacutedico
Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do
meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente
A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico
O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm
por objetivo caracterizar a amostra
Idade________________
Sexo F ( ) M ( )
Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________
Especialidade____________________________
Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)
Consultoacuterio ( )
Hospital puacuteblico ( )
Hospital particular ( )
Universidade ( )
Outro______________________ ( )
Outro______________________ ( )
Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no
Consultoacuterio ___ h
Hospital puacuteblico ___ h
Hospital particular ___ h
Professor acadecircmico ___ h
Outro ____________________ ___ h
Outro ____________________ ___ h
____ (total de horas semanais)
Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___
58
Tempo meacutedio de atendimento ___
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a
pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em
que se encontra
Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a
fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo
Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de
adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada
Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se
novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total
de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta
inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi
quebrado na fase de alerta
Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia
fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue
pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e
esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total
desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra
emocional
Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que
um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue
concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves
podem ocorrer
Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou
sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com
15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do
estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo
59
Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as
sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo
quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)
Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e
trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados
pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes
psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e
apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo
523 IAPS ndash International Affective Picture System
O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por
imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama
de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de
700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras
As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos
participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os
participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo
emocional
As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do
Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo
estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as
gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item
que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras
escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer
A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo
induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala
Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)
pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo
(desagradaacutevelnegativa)
De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido
porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de
avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel
60
A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro
Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do
IAPS foi autorizada pelos autores
Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o
relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12
agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos
estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo
emocional das imagens
524 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por
perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles
tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de
De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith
(1995)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil
1a Que caracteriacutesticas ele tem
1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente
atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades
2a Que caracteriacutesticas ele tem
2b Por que ele natildeo desperta dificuldades
2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso
o afeta Decirc um exemplo
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente
Como
61
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira
no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse
decorrente da profissatildeo Como lida com isso
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por
quecirc
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc
53 PROCEDIMENTOS
531 Local de coleta
A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)
532 Seleccedilatildeo dos participantes
Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de
indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos
proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento
dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo
A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de
disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a
realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em
clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico
escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise
aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O
procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise
533 Procedimento de coleta de dados
62
O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta
de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados
serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia
Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os
resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)
Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos
conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes
foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi
agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta
O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees
sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a
possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de
consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e
devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa
avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da
entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas
e depois transcritas para a anaacutelise
Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia
utilizada na aplicaccedilatildeo foi
Questionaacuterio sociodemograacutefico
Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por
favor preencha as informaccedilotildees solicitadas
International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)
Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo
com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo
responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de
respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma
sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe
parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz
ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que
mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando
um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a
63
figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se
alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta
estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se
aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X
entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no
meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a
classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o
nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os
tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam
Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem
experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os
sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou
P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs
Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a
entrevista
Entrevista semiestruturada
Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees
em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do
paciente
534 Procedimento de anaacutelise de dados
O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem
quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30
meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a
interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos
escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a
64
anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram
identificados por nomes fictiacutecios
5341 Anaacutelise quantitativa de dados
Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes
estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD
(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados
O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando
suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado
para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras
independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de
anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes
Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu
como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo
A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de
estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico
com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo
com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer
comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do
IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS
comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico
5342 Anaacutelise qualitativa de dados
A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro
clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi
escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)
meacutedicos
A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas
com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional
65
o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e
estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
535 Procedimento eacutetico
A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa
envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de
Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o
Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)
66
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou
tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo
qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo
O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa
SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de
medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas
(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes
estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes
tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de
comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o
programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se
com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro
A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade
com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir
dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes
em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante
de cada cluster para o estudo de caso
A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia
Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo
da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International
Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o
sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster
Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4
participantes em forma de Estudo de Caso
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA
67
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos
Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de
diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento
no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas
caracterizaccedilotildees
Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as
distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)
especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho
(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de
pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio
(tabela 7)
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo
Sexo N
Masculino 17
Feminino 13
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e
13 (treze) do sexo feminino
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria
Faixas etaacuterias N
20 a 34 anos 10
35 a 48 anos 7
49 a 59 anos 7
Acima de 60 anos 6
Total 30
Meacutedia 446
Desvio-padratildeo 130
Fonte proacuteprio autor
68
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7
(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade
eacute de 446 anos
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado
Tempo de formado N
05 a 10 anos 12
11 a 23 anos 6
24 a 32 anos 6
33 a 46 anos 6
Total 30
Meacutedia 194
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11
a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de
tempo de formado eacute 194 anos
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades
Especialidade N
Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8
Ortopedia 5
Ginecologia 4
Oftalmologia 3
Otorrinolaringologia 3
Endocrinologia 2
Neurologia 2
Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3
Total 30
Fonte proacuteprio autor
No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e
tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)
oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As
outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia
69
(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)
e urologia (1)
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho
Locais de Trabalho N
Apenas Consultoacuterio 10
Consultoacuterio e Hospital particular 10
Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5
Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10
(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no
hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos
trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 2
21 a 40 hsemanais 8
41 a 48 hsemanais 8
49 hsemanais e + 12
Total 30
Meacutedia 460
Desvio-padratildeo 125
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a
maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais
dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas
70
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 8
21 a 40 hsemanais 15
41 a 48 hsemanais 2
49 hsemanais e + 5
Total 30
Meacutedia 328
Desvio-padratildeo 129
Fonte proacuteprio autor
O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao
atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio
Nuacutemero de pacientesdia N
01 a 09 pacientesdia 4
10 a 22 pacientesdia 15
23 a 37 pacientesdia 6
38 a 55 pacientesdia 5
Total 30
Meacutedia 219
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219
Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a
22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais
de 38 pacientesdia no consultoacuterio
71
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta
Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N
15 a 25 minutos 13
26 a 35 minutos 12
36 a 45 minutos 4
46 a 55 minutos 1
Total 30
Meacutedia 268
Desvio-padratildeo 100
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a
consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus
pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse
que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no
consultoacuterio eacute de 268 minutos
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e
13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A
meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos
meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268
minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do
consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)
Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos
sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da
escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da
amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os
sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos
72
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Stress N Paracircmetro
Natildeo 13 433 440
Sim 17 567 560
Total 30 1000 1000
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de
estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo
geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute
dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Fase Stress N Paracircmetro
Alerta 02 67 20
Resistecircncia 15 500 530
Exaustatildeo 0 00 10
Total 17 567 560
Fonte proacuteprio autor
Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles
estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e
Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa
que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta
referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo
de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um
prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo
de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a
fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar
as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves
73
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL
5
10
2
0
2
4
6
8
10
12
Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos
Prevalecircncia de Sintomas de Stress
Prevalecircncia de sintomas N
Fiacutesicos 5
Psicoloacutegicos 10
Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2
Total 17
Fonte proacuteprio autor
Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram
predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram
diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos
projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-
estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo
muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e
insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro
De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou
psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos
decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da
amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a
vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra
uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)
apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos
paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de
resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma
sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos
mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita
de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva
Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento
encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20
74
meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e
com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em
58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na
fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram
resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas
123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e
72 apresentaram estresse
Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em
termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade
psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a
inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores
psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo
podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico
Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para
observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o
iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo
Stress Sexo Total
Masculino Feminino
Natildeo 7 6 13
Sim 10 7 17
Total 17 13 30
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do
teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo
entre o sexo e o estresse
75
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas
Stress N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t p
Idade Natildeo 13 486 138 38
150 0144 Sim 17 415 119 29
Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38
167 0106 Sim 17 162 107 26
Tempo total de
trabalho (horas
semanais)
Natildeo 13 484 142 39
091 0371 Sim 17 442 112 27
Tempo de trabalho
no Consultoacuterio (horas
semanais)
Natildeo 13 337 130 36
030 0766 Sim 17 322 133 32
Nuacutemero de
pacientesdia
Natildeo 13 255 153 42 140 0171
Sim 17 192 92 22
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
Natildeo 13 300 96 27 155 0133
Sim 17 244 100 24
Fonte proacuteprio autor
Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por
meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As
diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil
sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)
Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas
da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo
emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens
afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment
Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a
intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir
76
de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao
induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo
(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta
a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da
populaccedilatildeo
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais
Escalas N Meacutedia Desvio
padratildeo
Erro
padratildeo
t p μ
Paracircmetro
Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491
Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501
Total 30 497 044 008 0095 0925 496
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas
escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala
Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a
meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que
os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila
significativa
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico
Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave
percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se
internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia
alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional
As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais
dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de
pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta
77
Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS
Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo
Sexo N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t P
Alerta Masculino 17 504 113 027
1634 0057 Feminino 13 449 054 015
Prazer Masculino 17 509 031 007
-0646 0262 Feminino 13 518 043 012
Fonte proacuteprio autor
A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture
System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas
meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo
com as escalas
A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do
IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Alerta Prazer
Idade
r 035 -028
p 0031 0065
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de formado
r 032 -024
p 0043 0100
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo total de trabalho (horas
semanais)
r -0041 -0025
p 0415 0448
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de trabalho no Consultoacuterio
(horas semanais)
r 020 -040
p 0139 0014
N 30 30
78
Alerta Prazer
Nuacutemero de pacientesdia
r 002 021
p 0443 0128
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
r 036 -0204
p 0024 0140
N 30 30
A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica
descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis
O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que
indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa
que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +
032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo
de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e
o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta
Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele
ficou diante dos estiacutemulos emocionais
Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas
semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto
mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer
Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de
pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer
Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em
relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das
distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave
79
percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao
trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)
Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo
de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos
mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta
Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos
tempo
616 Agrupamento do IAPS por cluster
Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos
participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com
similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade
ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por
agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um
embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em
profundidade
O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a
cada agrupamento
80
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)
O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas
Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia
dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia
A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a
separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia
N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo F P
Alerta
Cluster 1 6 501 010 004
4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027
Cluster 3 9 377 027 009
Cluster 4 8 465 021 007
Prazer
Cluster 1 6 493 015 006
2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010
Cluster 3 9 519 016 005
Cluster 4 8 556 017 006
Fonte proacuteprio autor
81
O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo
que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)
Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos
clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos
ou mais distantes da meacutedia
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
Alerta N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055
Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004
Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000
Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009
Prazer N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265
Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038
Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011
Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000
Fonte proacuteprio autor
O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral
O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que
possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a
populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor
pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos
de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters
O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais
82
baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo
O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o
com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com
pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis
sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os
clusters
Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou
afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective
Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo
e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional
que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no
cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas
duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e
tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster
3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4
agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve
diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters
O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas
pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters
2 3 e 4
Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia
em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster
83
perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos
outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia
de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam
486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181
pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos
Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e
4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam
prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a
anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de
fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os
sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer
unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa
especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente
Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de
formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente
nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que
meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se
mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas
semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e
desagradaacutevel
Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)
concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais
excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos
niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa
correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta
Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no
consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees
intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a
anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes
O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor
pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa
em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos
diante dos estiacutemulos
84
Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos
participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4
trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao
trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 233 minutos
Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5
na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com
estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de
sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram
duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos
outros clusters
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos
que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico
Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo
esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo
dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas
O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos
constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade
emocional
O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior
pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de
forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia
de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao
trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 225 minutos
Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e
3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de
resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas
psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio
entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os
participantes deste cluster
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com
menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais
85
pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os
resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de
trabalho no consultoacuterio e o Prazer
O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das
relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer
como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo
frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como
aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster
Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que
trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo
com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem
Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas
escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas
hipoacuteteses interpretativas
1ordf Tendecircncia observada
Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado
e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos
estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as
variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de
estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela
escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que
permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais
desagradaacutevel
Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente
de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses
meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o
Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas
relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem
estar menos satisfeitos
2ordf Tendecircncia observada
86
O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo
com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade
emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse
pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos
permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de
interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente
Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente
com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo
agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente
3ordf Tendecircncia observada
Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de
formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem
mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala
Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior
prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda
uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer
Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria
da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos
prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com
outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem
menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga
emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso
Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para
anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por
meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas
no quadro a seguir
87
Tabela 17 Categorias de anaacutelise
CATEGORIAS
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
A percepccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises
6221 Caso 1 Daniel (participante 12)
Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto
aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que
ficam mais tempo com o paciente nas consultas
Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute
Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta
de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha
em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute
de 45 minutos
Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e
era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando
sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de
como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem
educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como
montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um
desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que
estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas
algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar
que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
88
Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico
constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo
relatou nenhum sintoma psicoloacutegico
O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa
aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro
mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele
natildeo vai ser meacutedicordquo
Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas
situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees
de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel
fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como
atender um paciente bem se natildeo estiver descansado
Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia
mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem
porque aprendirdquo
Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o
nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o
trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre
cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo
chato natildeo eacute rabo curto como erardquo
Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-
se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu
passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho
mais tempordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o
meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos
estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos
Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as
89
consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por
estiacutemulos que despertam emoccedilotildees
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve
permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de
modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu
trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo
Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em
dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam
parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi
um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos
meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e
isso me emocionourdquo
Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o
influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o
atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e
fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se
resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas
falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo
reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo
Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios
incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma
diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo
pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer
mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao
paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava
dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a
90
lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por
que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo
Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais
envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes
sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo
paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos
que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo
O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante
que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do
diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao
cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio
ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de
suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento
mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram
o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa
ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee
chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me
obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou
trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como
esse afetassem o seu trabalho
Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou
que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees
de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser
conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com
a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo
Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o
tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute
positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto
Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais
satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo
Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees
positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades
mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades
91
mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe
paciente faacutecilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle
diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto
emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o
controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais
jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []
mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as
emoccedilotildeesrdquo
O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do
desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro
maisrdquo
Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o
controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus
pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de
brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-
presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para
essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha
a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas
desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo
Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram
desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica
remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo
Leitura analiacutetica
Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos
que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi
extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo
diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no
teste do IAPS
92
Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees
relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a
maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou
uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no
em sua seguranccedila
Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode
refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e
incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as
emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute
necessaacuteria uma atitude de controle
Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente
que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o
seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel
ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido
contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o
paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute
aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e
que parece respeitaacute-lo
No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes
percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou
ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o
senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo
ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e
com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se
ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente
O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular
de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa
Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas
estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como
demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute
cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns
iam emborardquo
Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo
permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos
93
aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de
seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os
aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o
confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e
que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de
falhar
6222 Caso 2 Alice (participante 2)
Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade
emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em
hospital puacuteblico
Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e
divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes
Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio
Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
20 minutos
Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas
vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel
Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios
momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era
solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das
questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que
uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar
algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia
preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos
prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e
cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa
94
especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando
mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a
hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e
irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do
ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os
pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam
aprender a lidar
Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades
que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo
Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem
interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em
burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso
pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda
muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []
eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou
menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das
figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma
tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o
que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter
diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas
podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de
comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a
emoccedilatildeo) influi em tudordquo
95
Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais
intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo
Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o
que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que
podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo
Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem
alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em
seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos
avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar
que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de
atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela
como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e
sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo
Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que
incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao
meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua
postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a
um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim
entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho
que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa
ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o
baixo Alerta no IAPS
Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de
exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de
pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente
e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a
relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma
compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no
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consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo
ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo
Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas
pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de
violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria
demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo
Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo
aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo
pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e
ajuda ao outro
Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a
sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]
eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele
realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim
de se sentir uacutetilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para
proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]
quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de
pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do
caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees
psicoloacutegicas de lidarrdquo
Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em
que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e
assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou
uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo
Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata
como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o
tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no
consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo
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Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara
com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente
parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos
Leitura analiacutetica
Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para
evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em
qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo
como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez
Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela
teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute
canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo
antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de
superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir
parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse
recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio
Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas
diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o
recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica
Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo
de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que
parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela
reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o
caso
Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo
representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos
Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel
Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia
para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja
vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda
ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas
A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice
percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os
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sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes
Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse
estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da
entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como
vinculadas ao estresse
Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas
como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que
como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos
efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento
A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua
capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e
frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar
sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse
reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto
observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas
relaccedilotildees
Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo
projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante
dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo
6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)
Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de
Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de
formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam
menos tempo com eles
A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi
individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande
nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais
caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio
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Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o
seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo
atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho
no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
15 minutos
O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito
cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de
atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo
para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e
agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade
suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo
assinalou nenhum sintoma fiacutesico
Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que
atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras
atividades como cirurgias e compromissos familiares
Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o
estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma
contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e
mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que
me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo
ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo
perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel
percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral
Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao
considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa
100
insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em
funccedilatildeo de um processo defensivo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre
elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente
acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo
As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e
prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma
caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc
fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como
barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo
Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho
Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela
sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor
cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo
emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo
Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as
suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a
sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo
vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []
afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando
perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)
Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender
Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet
ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees
desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo
da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar
101
o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje
em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo
quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo
Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo
traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa
desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender
[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e
mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA
dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar
para ele o que vocecirc esta querendordquo
O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o
diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de
Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu
trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se
sente bemrdquo
Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que
suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento
das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o
pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas
jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu
trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo
ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute
tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser
neutrordquo
Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de
cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito
comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o
ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser
influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto
nenhumrdquo
102
Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou
estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se
com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que
chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo
Leitura analiacutetica
Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo
Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo
O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois
trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No
entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e
insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes
O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e
o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse
Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo
Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de
que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou
subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu
papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia
negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo
vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos
emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a
gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo
Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e
controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como
meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus
atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu
julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e
entendimento
Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre
a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter
103
observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no
controle e que a atitude emocional pode ser controlada
Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para
expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que
poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo
soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo
A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra
tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute
provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as
emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do
receio de ter esse poder contestado
6224 Caso 4 Marcos (participante 13)
Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais
proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos
paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer
Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia
Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital
Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10
pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos
Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou
interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha
encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este
apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um
processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e
tem se esforccedilado muito para isso
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia
afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado
104
estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de
dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os
sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e
irritabilidade sem causa aparente
O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de
sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo
de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua
jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errarrdquo
Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo
emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto
ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura
refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro
trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua
meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas
emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo
subjetiva da emoccedilatildeo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um
caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante
em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer
isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai
da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutemrdquo
Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no
diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a
beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo
105
para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a
emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo
Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de
soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um
caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo
O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar
ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias
com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e
pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem
ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo
dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo
Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois
isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais
fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a
natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm
pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a
doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no
tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e
inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse
impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo
Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar
com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com
o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido
principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento
O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da
evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de
afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de
afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no
tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo
106
O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio
que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento
e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo
[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte
delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de
realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente
satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de
realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e
tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu
conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem
do que eu posso fazerrdquo
Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves
relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como
lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor
estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem
unicamente de mimrdquo
Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees
principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito
bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo
Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de
recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de
conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para
dar um alentordquo
Leitura analiacutetica
Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho
que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu
procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo
107
Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita
que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um
pouco da personalidaderdquo
Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e
do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc
tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para
issordquo
A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante
das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em
alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes
Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como
raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila
podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para
lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o
que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da
racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas
depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer
sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia
Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira
nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e
motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a
sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo
verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral
Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da
responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do
meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo
trabalhada
Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para
ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para
pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e
reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo
com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-
las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
108
Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais
clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos
defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees
como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e
uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma
relaccedilatildeo com o paciente
109
7 DISCUSSAtildeO
O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente
que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles
relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem
influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico
Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com
o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo
os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e
a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o
paciente
Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees
estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas
emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais
impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca
compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional
A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees
que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas
Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada
porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido
seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo
percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base
essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem
apenas sintomas da afetividaderdquo
Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e
DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que
os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a
Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas
raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse
funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico
Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se
ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer
110
insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento
semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos
sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma
segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo
de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar
romper o viacutenculo
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um
compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico
(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a
essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de
valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e
dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes
tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como
afastamento entre outras
Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um
sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das
possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida
emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional
eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos
relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um
entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios
A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se
sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas
nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente
aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro
desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente
visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando
compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o
ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer
Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo
apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo
apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser
usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute
uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo
111
subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo
Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as
suas normas e convicccedilotildees
Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do
detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode
mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo
impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a
funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos
frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou
meacutedicordquo
Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo
com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico
assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais
caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos
De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente
representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da
consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma
persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem
parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo
vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral
riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel
se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)
Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por
autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do
meacutedico
Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de
detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado
situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura
informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona
riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel
Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para
responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e
sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a
reflexatildeo
112
Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e
reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas
tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no
atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como
negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas
Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo
interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e
ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e
mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado
dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os
incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo
Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois
mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples
fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a
emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar
com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui
A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas
emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um
maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de
atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem
a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento
Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar
com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta
compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e
fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro
momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa
de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes
reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades
para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das
emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam
que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem
evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a
113
esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar
sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de
seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de
reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que
os afetava negativamente e o que os afetava positivamente
Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a
busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com
naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis
Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia
percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos
chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e
distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e
com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado
espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na
entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a
questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional
Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo
ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)
O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao
extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A
atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se
riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado
Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma
inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente
mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira
vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de
impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de
quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder
A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de
como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e
sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as
caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as
percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais
114
Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar
inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o
tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo
emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung
(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente
que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico
No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas
entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b
par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em
nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o
pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas
pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a
Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila
constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na
forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)
Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre
presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo
No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006
2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um
auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de
circuitos mentais confluentes
Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e
Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a
aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e
do processo de tomada de decisatildeo
Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco
reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do
meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-
paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a
contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na
compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e
impactar no atendimento do paciente
115
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece
quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo
desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a
incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que
despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em
geral
As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica
pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento
interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu
falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os
meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional
parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por
complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo
O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente
Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na
leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica
O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos
vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos
que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido
agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais
Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o
paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que
o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes
que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como
pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute
elemento isolado desse todo
O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao
distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a
persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o
paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si
116
Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo
colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo
de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente
repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista
institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos
reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho
Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca
havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a
medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido
ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo
de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive
vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no
primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina
curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa
profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)
A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma
aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na
busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte
de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos
necessaacuterios
A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as
defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega
estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por
exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o
impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo
Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito
individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um
psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e
contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees
Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao
meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas
de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de
Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns
hospitais
Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das
emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre
gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o
117
ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o
impacto nos processos de decisatildeo
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128
ANEXO A
129
ANEXO B
130
ANEXO C
131
132
APEcircNDICE
Caso 1 Daniel (participante 12)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles
entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais
meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes
fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo
que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica
acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar
perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus
pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um
pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o
senhor quer saber isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas
algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter
fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos
e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube
dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros
do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a
secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia
natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me
perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito
bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem
o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com
ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de
uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia
rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute
num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo
quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo
133
a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC
tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute
jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos
70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva
ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio
noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu
natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)
Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo
durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de
futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes
natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer
terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que
eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo
aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai
para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre
consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu
assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o
mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas
fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando
os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando
a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso
me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me
defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem
essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por
isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a
consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir
embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu
quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem
na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles
atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em
outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco
134
comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar
quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma
superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele
histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve
dor de barriga
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor
de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as
informaccedilotildees natildeo procura se exibir
Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo
valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees
tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque
tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de
propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia
quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute
vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da
moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu
pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse
ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude
chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que
seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se
escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e
sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira
bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos
sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom
apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees
positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas
chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo
135
emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo
mexer com nossa inseguranccedila
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e
controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo
de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu
deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo
possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de
contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha
indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar
imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais
estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse
olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e
vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu
tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o
senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram
pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar
porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de
tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns
dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele
num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e
emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro
eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a
carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc
136
vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone
tocou)
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a
me controlar
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda
hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade
quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha
taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha
que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se
controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando
me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso
com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o
sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc
definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada
Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e
provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular
quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo
Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo
ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs
ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele
escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado
depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo
estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve
um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que
essa seja a explicaccedilatildeo
137
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um
pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro
assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade
agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo
ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito
bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um
pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute
uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo
respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam
atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no
fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas
eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou
Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo
com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil
participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta
meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia
isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e
a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma
coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada
pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas
vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de
SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era
rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma
incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras
achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de
pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito
difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra
138
coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras
consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a
formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado
viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo
especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu
conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do
HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo
obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes
ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema
com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa
foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F
que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem
para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem
competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo
absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois
casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a
parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um
oacutetimo colega
139
Caso 2 Alice (participante 2)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que
mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza
Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo
paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos
paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em
hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de
paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu
consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo
sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar
vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender
Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo
sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai
esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma
agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para
fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo
vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco
de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute
mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes
mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem
140
porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta
eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica
e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue
responder acho que eacute isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas
eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir
aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo
meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo
prazer Sensaccedilotildees boas
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma
meacutedica relativamente sortuda (risos)
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)
(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo
consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito
bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito
grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela
foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e
aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu
me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para
criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela
trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava
acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles
que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana
neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas
dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no
final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que
o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho
141
menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu
achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse
bobeira doutora deixa para laacute
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de
atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor
evitar esse tipo de paciente porque vai dar m
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-
operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar
que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar
mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro
o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei
olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os
preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24
agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma
semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia
me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele
fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o
que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o
que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho
um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu
sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute
uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular
tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das
coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio
142
cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para
discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala
nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar
Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele
vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo
concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz
reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e
vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque
depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo
venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so
long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um
ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo
meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo
mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute
dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no
sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra
pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus
entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou
vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito
entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que
trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada
demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal
ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso
descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima
eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que
leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
143
Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele
estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila
que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para
ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa
entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em
condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para
explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara
com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele
faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por
semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim
sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que
vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma
psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa
sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que
realmente impacta muito a vida deles
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc
natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o
paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente
me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De
vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma
menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma
ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito
beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles
vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu
chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute
144
Caso 3 Miguel (participante 4)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem
alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute
considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves
orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo
compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me
traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu
natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute
mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de
incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu
melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E
posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse
tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se
acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela
natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o
viacutenculo
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com
a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura
fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque
145
eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa
sauacutede
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem
de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe
melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias
de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e
muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar
uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse
paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um
paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando
mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto
para dar um alento
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque
muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo
do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute
mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte
mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa
empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva
sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou
natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam
melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da
146
patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo
respondeu tatildeo bem
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma
caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou
esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave
informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores
quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso
organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar
preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de
mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente
porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma
fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma
estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem
formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia
eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a
experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo
assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive
momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos
para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem
um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa
condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te
dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
147
Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais
assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas
positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute
vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos
tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra
mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos
acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma
especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os
meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais
paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra
mas (Interrompeu paciente chegou)
148
Caso 4 Marcos (participante 13)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o
trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute
vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico
do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira
assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo
satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e
geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute
acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais
briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo
construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar
fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela
mesma
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar
explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa
como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute
uma sensaccedilotildees incocircmoda)
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil
mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu
conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar
a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha
149
passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa
que estaacute compartilhando o problema com vocecirc
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de
ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm
burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que
questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas
coisas
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que
veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas
para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-
socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico
me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me
agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma
ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois
operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha
um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral
um achado em exames tambeacutem veio me agradecer
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo
aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta
agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o
negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)
As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica
fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um
150
aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa
positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo
da pessoa
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de
emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por
hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir
uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um
compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse
agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc
faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)
Eu acho que eu administro bem
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um
pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas
vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a
pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com
sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por
uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo
me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma
coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
151
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a
falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo
estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o
paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim
CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An
Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia
Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015
ABSTRACT
The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception
of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in
quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen
four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the
analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults
Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured
interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is
an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the
sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference
between the sample results and the general population but differences were found in the
relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time
(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors
with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more
impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per
week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data
were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the
approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories
related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional
perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by
difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results
revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity
There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and
poorly understood which can result in projections in patients
Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship
projections Jungian psychology
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
72
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
81
Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
70
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IAPS International Affective Picture System
ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
SAM Self-Assessment Manikin
SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees
SPSS 17 Statistical Package for the Social Science
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 OBJETIVOS 17
21 OBJETIVO GERAL 17
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17
23 QUESTOtildeES 17
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37
411 Estresse em meacutedicos 41
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52
5 MEacuteTODO 56
51 PARTICIPANTES 56
52 INSTRUMENTOS 56
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58
523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59
524 Entrevista semiestruturada 60
53 PROCEDIMENTOS 61
531 Local de coleta 61
532 Seleccedilatildeo dos participantes 61
533 Procedimento de coleta de dados 61
534 Procedimento de anaacutelise de dados 63
5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64
5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64
535 Procedimento eacutetico 65
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76
616 Agrupamento do IAPS por cluster 79
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86
6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87
6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93
6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98
6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103
7 DISCUSSAtildeO 109
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115
REFEREcircNCIAS 118
ANEXO A 128
ANEXO B 129
ANEXO C 130
APEcircNDICE 132
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada
(HILLMAN 1992 p xi)
As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as
relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e
possibilitam sensaccedilotildees como o prazer
Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a
par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e
por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e
reciacuteproco sobre o outrordquo
Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso
corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente
Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo
apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2
Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos
indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos
mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo
O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute
presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado
escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do
sentido e do significado
[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da
razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia
ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma
supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na
unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral
(JUNG 19212009a par117)
Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa
dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja
1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o
outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a
par 751)
13
pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o
trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito
Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo
em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a
emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no
momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis
respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser
levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As
emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele
lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os
de morte
Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho
(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto
das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees
De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo
pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo
profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao
mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um
caminho de evitaccedilatildeo
Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo
do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que
escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir
para ser meacutedicordquo
Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e
humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de
estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e
adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a
atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento
podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel
sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no
mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre
elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico
acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos
fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica
14
Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores
entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15
dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles
seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila
mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo
A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias
natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele
interage com o paciente
O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades
organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais
administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que
lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em
equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica
Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam
evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam
exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa
atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede
do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para
a tomada de decisotildees
Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o
dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja
falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas
palavras e nas interaccedilotildees
Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes
Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela
estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute
essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede
de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai
processar essas emoccedilotildees
As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca
atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave
contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas
relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo
15
Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia
chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que
provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos
tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)
As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por
meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa
personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da
afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)
Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o
reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base
nos fundamentos da psicologia analiacutetica
Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente
influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas
decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo
possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo
com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e
instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de
estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos
O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo
Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo
apresentados no Capiacutetulo 2
No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as
discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as
dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e
contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o
estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional
na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das
emoccedilotildees na tomada de decisatildeo
No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a
amostra os instrumentos e os procedimentos
A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6
Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de
Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na
16
anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de
estudo de caso
Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados
relacionando-os com a teoria e os fundamentos
O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho
para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema
17
2 OBJETIVOS
21 OBJETIVO GERAL
Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta
22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico
Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse
Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e
aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades
Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico
23 QUESTOtildeES
Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees
Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica
Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico
18
3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL
31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES
A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista
conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo
do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao
privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e
enriquece o desenvolvimento de teorias
A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos
ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro
311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo
Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate
protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses
assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do
aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)
Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo
cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem
qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo
Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam
ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de
estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo
vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes
As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um
fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo
Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a
neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e
intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e
19
direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo
com o ambiente) (SCHERER 2005)
De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees
com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram
a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente
no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos
Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a
interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento
de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees
de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma
soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia
Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente
ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional
Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem
gerar prazer ou desprazer
Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para
suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila
o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de
cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado
conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao
tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de
incerteza
Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante
influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da
emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento
emocional
LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de
forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de
distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma
participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido
para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar
tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo
emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel
do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo
20
O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves
motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se
encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os
responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo
A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo
processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos
racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas
as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento
Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute
os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa
mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)
Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que
ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave
evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A
tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a
desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para
eventos natildeo relacionados
Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do
processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu
durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem
devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando
uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)
Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e
pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia
de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e
com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e
objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior
fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo
As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria
fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa
de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as
nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p
13)
21
3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico
Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa
quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees
pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto
qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada
Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente
como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a
emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam
conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na
gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o
autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo
Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a
decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja
escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as
muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo
A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no
momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma
determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em
consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo
A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa
Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um
processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo
o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem
mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem
vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a
uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo
De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico
fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A
ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por
sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos
em emoccedilotildees e sentimentos
22
A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo
para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado
resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal
automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um
nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico
positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo
Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees
secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)
pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios
Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e
sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem
natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de
interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas
(DAMAacuteSIO 2006 p 211)
A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo
de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo
312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas
A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe
um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais
Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves
organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra
mais importante Affect Imagery Consciousnes
Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque
natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o
mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas
de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)
O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez
que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para
seu questionamento foi o afeto
3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-
organizadas
23
Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma
descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser
humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a
confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para
um estiacutemulo
A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e
de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)
De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em
afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos
estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo
Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para
evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a
vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim
um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5
Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove
afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees
dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das
expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o
mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX
2001)
Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o
sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um
indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as
possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas
O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees
eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos
Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e
referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees
Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a
convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas
4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos
5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem
concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras
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Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees
baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria
De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se
apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz
diz e pensa
Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de
mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e
vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do
sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees
reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na
recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo
do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011
p 81)
Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa
emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se
percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar
para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e
preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas
Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta
que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que
segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo
lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo
geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas
pelo organismo ao longo de sua vida
Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas
emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-
se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem
nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo
Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco
precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas
medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que
merecem atenccedilatildeo especial
Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de
bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas
circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das
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emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o
ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo
O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no
processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social
eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos
sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)
As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida
dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que
norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a
projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e
comportamentos
313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia
A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em
Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo
sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a
um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer
tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo
quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo
Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente
que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos
para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos
Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que
natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo
Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma
estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e
dominacircncia
Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples
que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees
estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a
mensuraccedilatildeo de respostas emocionais
A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida
utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes
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comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert
(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a
exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia
dos aspectos emocionais na memoacuteria
Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a
tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e
grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere
Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas
por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de
respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico
O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o
fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com
Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de
descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e
palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas
dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)
Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico
chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus
estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos
podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia
Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com
precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores
sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas
pois funcionam de forma independente6
A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento
ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua
relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)
A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um
estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e
LANG 1994)
6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de
Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal
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A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do
agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva
ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo
valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema
aversivo
De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido
de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto
positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado
com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo
As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias
natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo
processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona
a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade
32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS
A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos
A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que
eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e
julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG
19041994)
A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos
aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o
estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem
valor de sobrevivecircncia
Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou
natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda
natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou
ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma
situaccedilatildeo
[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se
involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel
aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de
expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar
consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o
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proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG
19161991 par 323)
Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se
surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou
que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era
registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito
A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as
respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias
Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa
trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A
expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de
expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um
processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade
Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos
carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas
manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado
de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)
Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do
complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa
aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o
desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica
Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e
sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma
emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica
Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos
percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes
Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma
predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de
fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que
pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o
desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par
769)
29
De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se
tornardquo
Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do
indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de
parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a
proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)
Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung
fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um
conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem
imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm
para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da
importacircncia relativa da imagem
Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande
medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se
a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees
perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores
consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo
A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees
interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos
sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees
321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia
Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos
que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos
conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao
mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)
A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o
mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual
um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao
objeto (JUNG 19332012)
30
Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos
os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um
processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia
Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante
da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute
por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo
pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo
Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo
sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser
esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos
Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com
caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e
contratransferecircncia
Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde
seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era
importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos
percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram
transferidas para o analista
Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma
exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento
psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas
ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)
A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois
pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus
pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)
E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que
neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)
revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na
esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)
Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido
negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia
Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma
repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente
pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo
31
A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com
Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza
aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da
criatividade na relaccedilatildeo
De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a
todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a
interaccedilatildeo
Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo
Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e
trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade
A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o
sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia
particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)
Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se
liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo
compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar
qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico
A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o
fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia
pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno
O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)
para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um
fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud
(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes
poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica
Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a
contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho
para o material de seus pacientes
Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo
representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se
em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo
natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do
cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra
32
passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o
analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico
Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos
e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo
de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o
autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das
desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas
atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa
Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995
2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na
teorizaccedilatildeo disso pode ser observada
Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)
importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram
na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da
contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do
paciente
Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo
para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento
teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a
contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do
paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)
A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-
determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute
indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem
acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago
colocadas no analista (RACKER 1982)
Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista
mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior
compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento
psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da
relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente
De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung
via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o
paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung
33
(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute
relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente
A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para
ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois
sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha
destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem
daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados
A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute
que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas
diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a
alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na
relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa
do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias
transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele
tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)
Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o
inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e
ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute
um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o
agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam
O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do
inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente
correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior
ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim
numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011
par 364)
De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes
reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees
de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute
presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e
temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais
duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da
contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise
Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia
possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos
34
A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome
mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o
paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia
Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de
desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem
bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus
pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes
e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute
contratransferecircncia
3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos
existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um
instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico
A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica
relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e
Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre
meacutedico e paciente
Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante
influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de
lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico
[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo
como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus
conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que
pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT
1988 p 265)
Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma
atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com
isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por
outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator
quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de
funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De
acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o
35
paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho
do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente
o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do
meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo
com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma
influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988
p 47)
Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel
para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como
meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e
idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint
(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas
influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo
Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente
Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos
de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos
Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar
suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo
dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar
conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um
liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento
De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico
chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada
perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os
aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande
mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os
grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje
Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas
raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos
cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem
o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a
fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica
36
De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a
alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do
meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que
meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo
O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a
seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se
estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de
relacionamento com seu paciente
37
4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA
A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes
Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS
MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp
Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr
Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr
Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr
Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom
Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed
Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx
International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg
Journal of Analytical Psychology
Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)
httpucpressjournalscomjournalphpj=jung
httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml
Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155
As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo
do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana
41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA
A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo
biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e
da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer
relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para
a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE
MARCO 2012)
Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das
pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos
38
muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem
tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional
O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo
onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma
imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os
poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano
comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)
O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional
em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos
etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico
A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa
realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de
Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram
que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram
necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas
27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles
que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios
modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar
Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas
relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano
De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o
estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a
distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo
que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para
o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer
resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente
O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em
seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver
comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento
ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos
psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico
Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a
implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os
estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa
39
Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a
comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo
com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos
encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila
de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na
educaccedilatildeo meacutedica
O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam
novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e
sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA
2001 p 8)
Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos
uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de
embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir
sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas
do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as
emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente
As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry
Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica
e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de
decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por
fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do
ambiente
Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes
despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a
maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que
essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia
O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus
sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)
a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres
e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica
De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves
necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com
situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do
paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que
inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente
40
As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma
constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve
prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas
tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de
ambas as partes
O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que
transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu
grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um
instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados
Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um
melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)
fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de
que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram
os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram
durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram
que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da
vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que
nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado
o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser
invertidos
Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees
inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma
segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem
vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos
envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores
meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode
fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la
A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel
substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o
meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e
compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de
tratamento
41
411 Estresse em meacutedicos
A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos
uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre
o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos
De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees
ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse
possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e
motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e
novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em
que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer
tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se
Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados
abaixo do ideal
De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por
produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma
influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente
tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas
emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais
como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes
Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na
Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos
profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no
trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma
vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do
atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho
excessiva
Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais
na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia
problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida
familiar foram os fatores mais citados
As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
42
Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria
Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22
se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados
houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os
problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho
meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse
foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva
excessiva (522)
Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados
mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia
Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram
a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o
fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento
Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do
municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos
apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia
Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade
de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123
apresentaram estresse
A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do
burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma
reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a
maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse
ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse
42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE
Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele
pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos
podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo
a um paciente
As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e
provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um
43
protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo
atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se
encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)
Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem
ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e
Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel
e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo
cliacutenica
Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece
com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo
parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos
A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da
capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e
percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes
Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser
positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a
pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink
A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al
(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas
dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo
De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles
que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma
conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila
Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute
satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e
TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio
(STEINMETZ e TABENKIN 2001)
Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem
impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith
(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de
7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no
qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos
negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)
44
cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de
sauacutede do paciente
Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a
qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de
conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a
especialistas
De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto
por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao
expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento
Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que
os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo
Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que
na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes
Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo
com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao
paciente ou a ambos
De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente
que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e
caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos
profissionais
Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)
observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos
com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o
autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus
proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas
proacuteprias reaccedilotildees emocionais
Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na
interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas
Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo
pelo meacutedico
Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para
identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente
45
O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al
(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo
interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento
De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos
processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a
flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o
paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu
humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente
Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e
Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o
envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis
cuidadosos e mais motivados
43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE
Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo
em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como
Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do
conhecimento de sua farmacologia
Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute
permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse
tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional
para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)
De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais
envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte
dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se
informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede
Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e
paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por
mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo
empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes
Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave
comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por
meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os
46
humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um
fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais
Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de
emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo
transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e
natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no
passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que
antecipam no futuro
Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que
transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia
jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de
confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com
roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que
natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem
conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo
Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande
gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes
mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito
Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de
uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e
sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o
meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo
431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo
Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)
observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas
determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas
emoccedilotildees
Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e
Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do
paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais
satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente
47
percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos
foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi
determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao
paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia
sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico
percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o
meacutedico tratava o paciente
Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no
Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos
A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer
uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas
surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para
seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do
paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram
os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores
observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o
favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e
insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua
competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que
modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia
Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de
seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises
foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da
pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45
queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados
e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com
precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo
costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees
precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos
Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento
comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das
Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro
de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu
comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a
48
atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes
sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-
paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias
pregressas de encontros com outros meacutedicos
Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou
ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o
papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que
apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o
engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos
ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o
estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes
Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro
cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como
resposta um aumento da emotividade do paciente
Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de
sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila
significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes
tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a
tomada de decisatildeo
44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO
Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem
explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam
diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo
variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de
como funciona esse processo
O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos
na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas
principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos
Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise
com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de
raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses
49
passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e
compreender o processo de uma doenccedila
A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo
compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica
meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento
de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica
cliacutenica tem se intensificado
Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a
forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de
qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente
De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-
se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas
logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo
quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete
erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a
compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias
O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a
decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se
inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia
todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma
avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a
probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial
Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes
ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A
prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva
a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as
hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do
paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL
KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)
Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento
heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um
diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com
Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional
50
ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas
emoccedilotildees podem influenciaacute-la
Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo
uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas
pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A
heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel
Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu
uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros
sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que
deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo
Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de
decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia
muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute
trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo
alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na
geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente
quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo
De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees
de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico
natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico
Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte
da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e
por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma
como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem
no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico
possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias
Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de
hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de
medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas
geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses
iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o
processo de diagnoacutestico final
Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais
hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas
51
agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses
especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio
intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que
reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados
limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico
A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue
um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em
evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos
De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem
duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o
que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a
informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se
encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em
que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo
consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro
geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos
Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o
ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento
emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que
complicam a decisatildeo cliacutenica
Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em
um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o
modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo
cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que
tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando
protocolos e sistemas
Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que
fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em
ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os
meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico
e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou
quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos
desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de
ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo
52
A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados
estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento
Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um
tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser
humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo
(GROOPMAN 2008 p 15)
De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo
meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores
decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo
relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores
assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem
garantir resultados eficazes
Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em
funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em
que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente
provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado
Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de
pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas
possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais
441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo
Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria
muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo
A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto
quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos
terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo
Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de
forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo
Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as
caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram
selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o
modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as
53
caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de
diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia
combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes
para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas
Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes
durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo
sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez
que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa
funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida
Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem
esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos
meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade
Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um
guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio
entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que
fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de
raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo
analiacutetica
O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees
importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees
precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos
podem ser alertados para modificar um raciociacutenio
Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam
sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de
eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em
termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os
autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de
patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera
variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico
Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-
pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver
8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo
54
algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico
claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro
sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro
Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede
de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-
pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto
em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de
incerteza diagnoacutestica
Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da
queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre
o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de
errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era
nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas
foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o
exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O
meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes
Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros
paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a
maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos
participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados
com os meacutedicos holandeses
Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e
tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico
experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o
prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)
e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo
de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos
relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no
abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de
errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos
dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de
incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos
resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos
utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo
55
Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos
holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo
interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme
definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses
diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de
tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente
estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de
tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que
era esperado pelo meacutedico
As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no
processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo
existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo
de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em
que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo
as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas
tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo
56
5 MEacuteTODO
A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados
quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o
enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode
ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-
quantirdquo
De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de
muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos
e quantitativos
Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos
mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta
pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e
qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial
explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos
51 PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas
especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte
(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo
dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina
convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de
caso com entrevista
52 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de
testagem
57
Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o
International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do
meacutedico
Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do
meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente
A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos
521 Questionaacuterio sociodemograacutefico
O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm
por objetivo caracterizar a amostra
Idade________________
Sexo F ( ) M ( )
Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________
Especialidade____________________________
Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)
Consultoacuterio ( )
Hospital puacuteblico ( )
Hospital particular ( )
Universidade ( )
Outro______________________ ( )
Outro______________________ ( )
Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no
Consultoacuterio ___ h
Hospital puacuteblico ___ h
Hospital particular ___ h
Professor acadecircmico ___ h
Outro ____________________ ___ h
Outro ____________________ ___ h
____ (total de horas semanais)
Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___
58
Tempo meacutedio de atendimento ___
522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a
pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em
que se encontra
Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a
fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo
Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de
adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada
Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se
novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total
de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta
inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi
quebrado na fase de alerta
Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia
fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue
pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e
esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total
desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra
emocional
Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que
um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue
concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves
podem ocorrer
Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou
sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com
15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do
estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo
59
Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as
sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo
quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)
Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e
trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados
pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes
psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e
apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo
523 IAPS ndash International Affective Picture System
O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por
imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama
de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de
700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras
As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos
participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os
participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo
emocional
As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do
Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo
estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as
gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item
que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras
escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer
A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo
induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala
Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)
pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo
(desagradaacutevelnegativa)
De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido
porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de
avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel
60
A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro
Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do
IAPS foi autorizada pelos autores
Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o
relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12
agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos
estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo
emocional das imagens
524 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por
perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles
tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de
De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith
(1995)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil
1a Que caracteriacutesticas ele tem
1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente
atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades
2a Que caracteriacutesticas ele tem
2b Por que ele natildeo desperta dificuldades
2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso
o afeta Decirc um exemplo
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente
Como
61
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira
no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse
decorrente da profissatildeo Como lida com isso
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por
quecirc
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc
53 PROCEDIMENTOS
531 Local de coleta
A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)
532 Seleccedilatildeo dos participantes
Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de
indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos
proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento
dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo
A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de
disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a
realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em
clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico
escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise
aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O
procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise
533 Procedimento de coleta de dados
62
O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta
de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados
serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia
Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os
resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)
Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos
conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes
foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi
agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta
O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees
sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a
possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de
consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e
devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa
avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da
entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas
e depois transcritas para a anaacutelise
Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia
utilizada na aplicaccedilatildeo foi
Questionaacuterio sociodemograacutefico
Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por
favor preencha as informaccedilotildees solicitadas
International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)
Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo
com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo
responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de
respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma
sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe
parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz
ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que
mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando
um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a
63
figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se
alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta
estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se
aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X
entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no
meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a
classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o
nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os
tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam
Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem
experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os
sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou
P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs
Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a
entrevista
Entrevista semiestruturada
Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees
em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do
paciente
534 Procedimento de anaacutelise de dados
O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem
quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30
meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a
interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos
escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a
64
anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram
identificados por nomes fictiacutecios
5341 Anaacutelise quantitativa de dados
Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes
estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD
(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados
O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando
suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado
para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras
independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de
anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes
Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu
como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo
A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do
Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de
estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico
com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo
com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer
comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do
IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS
comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico
5342 Anaacutelise qualitativa de dados
A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro
clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi
escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)
meacutedicos
A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas
com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional
65
o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e
estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
535 Procedimento eacutetico
A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa
envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de
Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o
Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)
66
6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS
Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou
tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo
qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo
O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa
SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de
medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas
(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes
estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes
tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de
comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o
programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se
com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro
A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade
com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir
dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes
em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante
de cada cluster para o estudo de caso
A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia
Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo
da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a
comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International
Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o
sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster
Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4
participantes em forma de Estudo de Caso
61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA
67
611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos
Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de
diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento
no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas
caracterizaccedilotildees
Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as
distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)
especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho
(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de
pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio
(tabela 7)
Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo
Sexo N
Masculino 17
Feminino 13
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e
13 (treze) do sexo feminino
Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria
Faixas etaacuterias N
20 a 34 anos 10
35 a 48 anos 7
49 a 59 anos 7
Acima de 60 anos 6
Total 30
Meacutedia 446
Desvio-padratildeo 130
Fonte proacuteprio autor
68
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7
(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade
eacute de 446 anos
Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado
Tempo de formado N
05 a 10 anos 12
11 a 23 anos 6
24 a 32 anos 6
33 a 46 anos 6
Total 30
Meacutedia 194
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11
a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de
tempo de formado eacute 194 anos
Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades
Especialidade N
Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8
Ortopedia 5
Ginecologia 4
Oftalmologia 3
Otorrinolaringologia 3
Endocrinologia 2
Neurologia 2
Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3
Total 30
Fonte proacuteprio autor
No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e
tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)
oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As
outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia
69
(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)
e urologia (1)
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho
Locais de Trabalho N
Apenas Consultoacuterio 10
Consultoacuterio e Hospital particular 10
Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5
Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5
Total 30
Fonte proacuteprio autor
Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10
(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no
hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos
trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular
Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 2
21 a 40 hsemanais 8
41 a 48 hsemanais 8
49 hsemanais e + 12
Total 30
Meacutedia 460
Desvio-padratildeo 125
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a
maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais
dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas
70
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio
0 2 4 6 8 10 12 14 16
12 a 20 hsemanais
21 a 40 hsemanais
41 a 48 hsemanais
mais de 49 hsemanais
Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio
Horas semanais N
12 a 20 hsemanais 8
21 a 40 hsemanais 15
41 a 48 hsemanais 2
49 hsemanais e + 5
Total 30
Meacutedia 328
Desvio-padratildeo 129
Fonte proacuteprio autor
O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao
atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas
Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio
Nuacutemero de pacientesdia N
01 a 09 pacientesdia 4
10 a 22 pacientesdia 15
23 a 37 pacientesdia 6
38 a 55 pacientesdia 5
Total 30
Meacutedia 219
Desvio-padratildeo 123
Fonte proacuteprio autor
A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219
Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a
22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais
de 38 pacientesdia no consultoacuterio
71
Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta
Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N
15 a 25 minutos 13
26 a 35 minutos 12
36 a 45 minutos 4
46 a 55 minutos 1
Total 30
Meacutedia 268
Desvio-padratildeo 100
Fonte proacuteprio autor
Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a
consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus
pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse
que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no
consultoacuterio eacute de 268 minutos
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e
13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A
meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no
consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos
meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268
minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do
consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular
612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)
Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos
sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da
escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da
amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL
(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os
sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos
72
Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Stress N Paracircmetro
Natildeo 13 433 440
Sim 17 567 560
Total 30 1000 1000
Fonte proacuteprio autor
Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de
estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo
geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute
dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56
Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o
paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira
Fase Stress N Paracircmetro
Alerta 02 67 20
Resistecircncia 15 500 530
Exaustatildeo 0 00 10
Total 17 567 560
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Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles
estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e
Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa
que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta
referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo
de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um
prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo
de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a
fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar
as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves
73
Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL
5
10
2
0
2
4
6
8
10
12
Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos
Prevalecircncia de Sintomas de Stress
Prevalecircncia de sintomas N
Fiacutesicos 5
Psicoloacutegicos 10
Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2
Total 17
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Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram
predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram
diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos
projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-
estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo
muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e
insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro
De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou
psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos
decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da
amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a
vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra
uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)
apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos
paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de
resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma
sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos
mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita
de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva
Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento
encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20
74
meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e
com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em
58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na
fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram
resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas
123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e
72 apresentaram estresse
Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em
termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade
psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a
inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores
psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo
podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas
613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico
Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para
observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o
iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11
Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo
Stress Sexo Total
Masculino Feminino
Natildeo 7 6 13
Sim 10 7 17
Total 17 13 30
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A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do
teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo
entre o sexo e o estresse
75
Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas
Stress N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t p
Idade Natildeo 13 486 138 38
150 0144 Sim 17 415 119 29
Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38
167 0106 Sim 17 162 107 26
Tempo total de
trabalho (horas
semanais)
Natildeo 13 484 142 39
091 0371 Sim 17 442 112 27
Tempo de trabalho
no Consultoacuterio (horas
semanais)
Natildeo 13 337 130 36
030 0766 Sim 17 322 133 32
Nuacutemero de
pacientesdia
Natildeo 13 255 153 42 140 0171
Sim 17 192 92 22
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
Natildeo 13 300 96 27 155 0133
Sim 17 244 100 24
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Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por
meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As
diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil
sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse
614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)
Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas
da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo
emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens
afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment
Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a
intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir
76
de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao
induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo
(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta
a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da
populaccedilatildeo
Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais
Escalas N Meacutedia Desvio
padratildeo
Erro
padratildeo
t p μ
Paracircmetro
Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491
Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501
Total 30 497 044 008 0095 0925 496
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A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas
escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala
Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a
meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que
os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila
significativa
615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico
Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave
percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se
internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia
alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional
As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais
dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de
pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta
77
Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS
Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo
Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo
Sexo N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo t P
Alerta Masculino 17 504 113 027
1634 0057 Feminino 13 449 054 015
Prazer Masculino 17 509 031 007
-0646 0262 Feminino 13 518 043 012
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A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture
System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas
meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo
com as escalas
A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do
IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas
Alerta Prazer
Idade
r 035 -028
p 0031 0065
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de formado
r 032 -024
p 0043 0100
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo total de trabalho (horas
semanais)
r -0041 -0025
p 0415 0448
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo de trabalho no Consultoacuterio
(horas semanais)
r 020 -040
p 0139 0014
N 30 30
78
Alerta Prazer
Nuacutemero de pacientesdia
r 002 021
p 0443 0128
N 30 30
Alerta Prazer
Tempo meacutedio de
atendimentoconsulta
r 036 -0204
p 0024 0140
N 30 30
A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as
variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica
descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis
O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que
indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa
que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +
032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo
de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se
mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos
emocionais
Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e
o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta
Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele
ficou diante dos estiacutemulos emocionais
Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas
semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto
mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer
Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de
pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer
Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em
relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das
distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave
79
percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao
trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)
Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo
de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos
mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta
Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os
estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos
tempo
616 Agrupamento do IAPS por cluster
Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos
participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com
similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade
ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por
agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um
embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em
profundidade
O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a
cada agrupamento
80
Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)
O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas
Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo
Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia
dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia
A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a
separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa
Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia
N Meacutedia
Desvio
Padratildeo
Erro
Padratildeo F P
Alerta
Cluster 1 6 501 010 004
4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027
Cluster 3 9 377 027 009
Cluster 4 8 465 021 007
Prazer
Cluster 1 6 493 015 006
2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010
Cluster 3 9 519 016 005
Cluster 4 8 556 017 006
Fonte proacuteprio autor
81
O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo
que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)
Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos
clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos
ou mais distantes da meacutedia
Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas
Prazer e Alerta (IAPS)
Alerta N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055
Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004
Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000
Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009
Prazer N Meacutedia Desvio
Padratildeo
Erro
padratildeo μ Diferenccedila t p
Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265
Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038
Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011
Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000
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O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral
O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que
possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste
cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a
populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor
pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos
de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters
O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais
82
baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo
O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o
com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com
pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em
Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis
sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os
clusters
Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou
afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective
Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo
e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional
que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no
cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas
duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros
populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e
tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster
3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4
agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve
diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters
62 ANAacuteLISE QUALITATIVA
621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters
O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas
pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters
2 3 e 4
Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia
em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster
83
perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos
outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia
de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam
486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181
pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos
Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e
4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam
prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a
anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de
fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os
sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer
unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa
especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente
Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de
formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente
nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que
meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se
mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas
semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e
desagradaacutevel
Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)
concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais
excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos
niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa
correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta
Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no
consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees
intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a
anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes
O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor
pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa
em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos
diante dos estiacutemulos
84
Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos
participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4
trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao
trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 233 minutos
Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5
na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com
estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de
sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram
duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos
outros clusters
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos
que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico
Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo
esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo
dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas
O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos
constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade
emocional
O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior
pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de
forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters
Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia
de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao
trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o
tempo de consulta eacute de 225 minutos
Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e
3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de
resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas
psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio
entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os
participantes deste cluster
Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com
menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais
85
pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os
resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de
trabalho no consultoacuterio e o Prazer
O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das
relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer
como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo
frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como
aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster
Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que
trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo
com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem
Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas
escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas
hipoacuteteses interpretativas
1ordf Tendecircncia observada
Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado
e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos
estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as
variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de
estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela
escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que
permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais
desagradaacutevel
Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente
de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses
meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o
Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas
relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem
estar menos satisfeitos
2ordf Tendecircncia observada
86
O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo
com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade
emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse
pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos
permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de
interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente
Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente
com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo
agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente
3ordf Tendecircncia observada
Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de
formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem
mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala
Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior
prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda
uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer
Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria
da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos
prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com
outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem
menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga
emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada
622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso
Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para
anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por
meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas
no quadro a seguir
87
Tabela 17 Categorias de anaacutelise
CATEGORIAS
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
A percepccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises
6221 Caso 1 Daniel (participante 12)
Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto
aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos
mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que
ficam mais tempo com o paciente nas consultas
Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute
Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta
de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha
em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute
de 45 minutos
Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e
era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando
sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de
como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem
educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como
montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um
desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que
estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas
algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar
que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
88
Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico
constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo
relatou nenhum sintoma psicoloacutegico
O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa
aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro
mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele
natildeo vai ser meacutedicordquo
Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas
situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees
de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel
fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como
atender um paciente bem se natildeo estiver descansado
Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia
mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem
porque aprendirdquo
Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o
nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o
trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre
cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo
chato natildeo eacute rabo curto como erardquo
Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-
se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu
passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho
mais tempordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o
meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos
estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos
Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as
89
consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por
estiacutemulos que despertam emoccedilotildees
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve
permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de
modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu
trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo
Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em
dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam
parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi
um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos
meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e
isso me emocionourdquo
Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o
influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o
atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e
fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se
resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas
falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo
reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo
Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios
incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma
diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo
pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer
mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao
paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava
dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a
90
lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por
que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo
Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais
envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes
sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo
paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos
que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo
O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante
que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do
diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao
cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio
ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de
suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento
mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram
o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa
ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee
chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me
obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou
trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como
esse afetassem o seu trabalho
Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou
que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees
de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser
conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com
a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo
Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o
tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute
positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto
Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais
satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo
Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees
positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades
mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades
91
mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe
paciente faacutecilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle
diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto
emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o
controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais
jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []
mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as
emoccedilotildeesrdquo
O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do
desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro
maisrdquo
Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o
controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus
pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de
brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-
presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para
essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha
a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas
desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo
Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram
desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica
remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo
Leitura analiacutetica
Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos
que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi
extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo
diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no
teste do IAPS
92
Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees
relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a
maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou
uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no
em sua seguranccedila
Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode
refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e
incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as
emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute
necessaacuteria uma atitude de controle
Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente
que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o
seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel
ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido
contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o
paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute
aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e
que parece respeitaacute-lo
No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes
percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou
ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o
senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo
ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e
com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se
ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente
O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular
de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa
Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas
estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como
demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute
cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns
iam emborardquo
Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo
permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos
93
aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de
seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os
aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o
confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e
que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de
falhar
6222 Caso 2 Alice (participante 2)
Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade
emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em
hospital puacuteblico
Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e
divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes
Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio
Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
20 minutos
Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas
vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel
Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios
momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era
solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das
questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que
uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar
algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia
preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos
prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e
cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa
94
especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando
mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a
hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e
irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante
Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do
ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os
pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam
aprender a lidar
Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades
que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo
Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem
interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em
burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso
pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda
muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []
eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou
menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das
figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma
tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o
que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter
diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas
podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de
comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a
emoccedilatildeo) influi em tudordquo
95
Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais
intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo
Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o
que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que
podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo
Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem
alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em
seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos
avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar
que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de
atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela
como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e
sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo
Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que
incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao
meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua
postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a
um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim
entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho
que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa
ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o
baixo Alerta no IAPS
Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de
exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de
pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente
e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a
relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma
compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no
96
consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo
ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo
Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas
pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de
violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria
demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo
Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo
aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo
pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e
ajuda ao outro
Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a
sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]
eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele
realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim
de se sentir uacutetilrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para
proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]
quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de
pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do
caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees
psicoloacutegicas de lidarrdquo
Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em
que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e
assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou
uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo
Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata
como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o
tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no
consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo
97
Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara
com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente
parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos
Leitura analiacutetica
Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para
evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em
qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo
como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez
Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela
teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute
canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo
antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de
superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir
parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse
recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio
Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas
diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o
recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica
Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo
de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que
parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela
reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o
caso
Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo
representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos
Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel
Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia
para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja
vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda
ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas
A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice
percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os
98
sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior
vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes
Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse
estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da
entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como
vinculadas ao estresse
Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas
como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que
como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos
efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento
A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua
capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e
frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar
sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse
reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto
observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas
relaccedilotildees
Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo
projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante
dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo
6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)
Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de
Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de
formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam
menos tempo com eles
A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi
individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande
nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais
caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio
99
Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o
seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo
atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho
no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de
15 minutos
O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito
cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de
atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo
para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e
agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para
Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade
suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo
assinalou nenhum sintoma fiacutesico
Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que
atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras
atividades como cirurgias e compromissos familiares
Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o
estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma
contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e
mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que
me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo
ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo
perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel
percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral
Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao
considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa
100
insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em
funccedilatildeo de um processo defensivo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre
elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente
acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo
As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e
prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma
caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc
fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como
barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo
Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho
Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela
sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor
cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo
emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo
Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as
suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a
sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo
vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []
afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando
perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)
Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender
Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet
ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees
desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo
da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar
101
o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje
em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo
quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo
Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo
traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa
desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender
[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e
mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA
dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar
para ele o que vocecirc esta querendordquo
O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o
diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de
Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu
trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se
sente bemrdquo
Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que
suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento
das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o
pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas
jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu
trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo
ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute
tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser
neutrordquo
Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de
cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito
comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o
ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser
influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto
nenhumrdquo
102
Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou
estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se
com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que
chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo
Leitura analiacutetica
Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo
Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo
O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois
trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No
entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e
insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes
O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e
o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse
Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo
Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de
que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou
subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu
papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia
negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo
vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos
emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a
gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo
Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e
controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como
meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus
atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu
julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e
entendimento
Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre
a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter
103
observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no
controle e que a atitude emocional pode ser controlada
Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para
expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que
poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo
soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo
A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra
tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute
provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as
emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do
receio de ter esse poder contestado
6224 Caso 4 Marcos (participante 13)
Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais
proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos
paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer
Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia
Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital
Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10
pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos
Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou
interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha
encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este
apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um
processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e
tem se esforccedilado muito para isso
Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse
Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia
afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado
104
estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de
dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os
sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e
irritabilidade sem causa aparente
O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de
sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo
de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua
jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errarrdquo
Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo
emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto
ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura
refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro
trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo
A percepccedilatildeo emocional
Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua
meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas
emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo
subjetiva da emoccedilatildeo
O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente
O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um
caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante
em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer
isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai
da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutemrdquo
Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no
diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a
beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo
105
para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a
emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo
Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de
soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um
caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo
O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar
ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias
com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e
pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem
ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo
dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo
Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois
isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais
fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a
natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm
pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo
As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes
O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a
doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no
tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e
inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse
impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo
Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar
com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com
o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido
principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento
O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da
evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de
afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de
afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no
tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo
106
O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio
que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento
e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo
[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte
delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de
realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente
satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de
realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo
Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees
Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e
tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu
conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem
do que eu posso fazerrdquo
Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves
relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como
lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor
estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem
unicamente de mimrdquo
Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees
principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito
bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo
Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de
recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de
conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para
dar um alentordquo
Leitura analiacutetica
Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho
que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu
procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo
107
Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita
que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um
pouco da personalidaderdquo
Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e
do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc
tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para
issordquo
A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante
das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em
alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes
Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como
raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila
podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para
lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o
que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da
racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas
depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer
sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia
Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira
nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e
motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a
sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo
verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral
Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da
responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do
meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo
trabalhada
Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para
ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para
pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e
reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo
com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-
las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
108
Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais
clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos
defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees
como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e
uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma
relaccedilatildeo com o paciente
109
7 DISCUSSAtildeO
O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente
que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles
relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem
influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico
Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com
o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo
os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e
a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o
paciente
Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees
estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas
emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais
impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca
compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional
A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees
que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas
Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada
porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido
seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo
percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base
essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem
apenas sintomas da afetividaderdquo
Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e
DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que
os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a
Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas
raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse
funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico
Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se
ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer
110
insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento
semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos
sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma
segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo
de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar
romper o viacutenculo
A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um
compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico
(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a
essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de
valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e
dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes
tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como
afastamento entre outras
Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um
sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das
possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida
emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional
eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos
relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um
entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios
A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se
sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas
nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente
aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro
desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente
visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando
compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o
ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer
Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo
apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo
apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser
usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute
uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo
111
subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo
Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as
suas normas e convicccedilotildees
Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do
detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode
mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo
impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a
funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos
frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou
meacutedicordquo
Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo
com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico
assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais
caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos
De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente
representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da
consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma
persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem
parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo
vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral
riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel
se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)
Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por
autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do
meacutedico
Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de
detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado
situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura
informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona
riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel
Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para
responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e
sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a
reflexatildeo
112
Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e
reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas
tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no
atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como
negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas
Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo
interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e
ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e
mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado
dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os
incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo
Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois
mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples
fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a
emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar
com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui
A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas
emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um
maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de
atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de
mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem
a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento
Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar
com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta
compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e
fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro
momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa
de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes
reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades
para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre
Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das
emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam
que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem
evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a
113
esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar
sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de
seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de
reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que
os afetava negativamente e o que os afetava positivamente
Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a
busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com
naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis
Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia
percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos
chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e
distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e
com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado
espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na
entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a
questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional
Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo
ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)
O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao
extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A
atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se
riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado
Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma
inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente
mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira
vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de
impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de
quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder
A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de
como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e
sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as
caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as
percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais
114
Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar
inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o
tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo
emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung
(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente
que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico
No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas
entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b
par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em
nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o
pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas
pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a
Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees
As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila
constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na
forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)
Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre
presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo
No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006
2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um
auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de
circuitos mentais confluentes
Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e
Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a
aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e
do processo de tomada de decisatildeo
Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco
reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do
meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-
paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a
contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na
compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e
impactar no atendimento do paciente
115
8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece
quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo
desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a
incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que
despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em
geral
As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica
pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento
interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu
falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os
meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional
parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por
complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo
O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente
Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na
leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica
O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos
vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos
que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido
agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais
Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o
paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que
o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes
que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como
pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute
elemento isolado desse todo
O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao
distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a
persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o
paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si
116
Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo
colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo
de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente
repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista
institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos
reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho
Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca
havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a
medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido
ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo
de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive
vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no
primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina
curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa
profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)
A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma
aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na
busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte
de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos
necessaacuterios
A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as
defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega
estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por
exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o
impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo
Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito
individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um
psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e
contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees
Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao
meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas
de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de
Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns
hospitais
Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das
emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre
gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o
117
ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o
impacto nos processos de decisatildeo
118
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128
ANEXO A
129
ANEXO B
130
ANEXO C
131
132
APEcircNDICE
Caso 1 Daniel (participante 12)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles
entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais
meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes
fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo
que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica
acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar
perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus
pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um
pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o
senhor quer saber isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas
algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter
fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos
e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube
dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros
do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a
secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia
natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me
perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito
bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem
o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com
ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de
uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia
rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute
num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo
quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo
133
a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC
tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute
jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos
70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva
ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio
noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu
natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)
Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo
durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de
futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes
natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer
terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que
eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo
aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai
para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre
consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu
assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o
mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas
fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando
os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando
a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso
me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me
defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem
essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por
isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a
consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir
embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu
quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem
na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles
atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em
outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco
134
comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar
quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma
superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele
histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve
dor de barriga
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor
de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as
informaccedilotildees natildeo procura se exibir
Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo
valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees
tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque
tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de
propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia
quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute
vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da
moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu
pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse
ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude
chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que
seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se
escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e
sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira
bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos
sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom
apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees
positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas
chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo
135
emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo
mexer com nossa inseguranccedila
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e
controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo
de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu
deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo
possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de
contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha
indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar
imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais
estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse
olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e
vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu
tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o
senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram
pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar
porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de
tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns
dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele
num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e
emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro
eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a
carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc
136
vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone
tocou)
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a
me controlar
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda
hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade
quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha
taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha
que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se
controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando
me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso
com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o
sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc
definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada
Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e
provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular
quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo
Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo
ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs
ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele
escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado
depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo
estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve
um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que
essa seja a explicaccedilatildeo
137
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um
pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro
assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade
agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo
ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito
bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um
pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute
uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo
respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam
atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no
fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas
eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou
Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo
com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil
participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta
meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia
isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e
a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma
coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada
pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas
vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de
SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era
rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma
incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras
achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de
pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito
difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra
138
coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras
consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a
formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado
viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo
especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu
conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do
HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo
obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes
ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema
com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa
foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F
que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem
para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem
competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo
absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois
casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a
parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um
oacutetimo colega
139
Caso 2 Alice (participante 2)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que
mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza
Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo
paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos
paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em
hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de
paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu
consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo
sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar
vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender
Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo
sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai
esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma
agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para
fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo
vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco
de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute
mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes
mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem
140
porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta
eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica
e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue
responder acho que eacute isso
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas
eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir
aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo
meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo
prazer Sensaccedilotildees boas
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma
meacutedica relativamente sortuda (risos)
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)
(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo
consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito
bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito
grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela
foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e
aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu
me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para
criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela
trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava
acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles
que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana
neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas
dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no
final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que
o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho
141
menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu
achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse
bobeira doutora deixa para laacute
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de
atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor
evitar esse tipo de paciente porque vai dar m
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-
operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar
que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar
mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro
o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei
olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os
preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24
agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma
semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia
me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele
fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o
que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o
que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho
um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu
sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute
uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular
tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das
coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio
142
cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para
discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala
nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar
Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele
vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo
concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz
reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e
vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque
depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo
venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so
long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um
ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo
meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo
mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute
dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros
emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no
sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra
pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus
entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou
vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito
entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que
trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada
demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal
ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso
descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima
eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que
leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
143
Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele
estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila
que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para
ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa
entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em
condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para
explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara
com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele
faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por
semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim
sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que
vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma
psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa
sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que
realmente impacta muito a vida deles
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc
natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o
paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente
me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De
vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma
menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma
ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito
beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles
vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu
chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute
144
Caso 3 Miguel (participante 4)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem
alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute
considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves
orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo
compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me
traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu
natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute
mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de
incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu
melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E
posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse
tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se
acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela
natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o
viacutenculo
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com
a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura
fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque
145
eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa
sauacutede
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem
de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe
melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias
de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e
muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar
uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse
paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um
paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando
mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto
para dar um alento
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque
muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo
do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute
mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte
mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa
empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva
sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou
natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam
melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da
146
patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo
respondeu tatildeo bem
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma
caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou
esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave
informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do
diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores
quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso
organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva
medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar
preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de
mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente
porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma
fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma
estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem
formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia
eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a
experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo
assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai
gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive
momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos
para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem
um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa
condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te
dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
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Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais
assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas
positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute
vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso
tambeacutem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos
tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra
mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos
acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma
especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os
meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais
paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra
mas (Interrompeu paciente chegou)
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Caso 4 Marcos (participante 13)
1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele
tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo
Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o
trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute
vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico
do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira
assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo
satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e
geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute
acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais
briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo
construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar
fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela
mesma
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar
explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa
como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute
uma sensaccedilotildees incocircmoda)
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10
2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um
paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas
ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades
Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil
mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu
conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar
a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha
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passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa
que estaacute compartilhando o problema com vocecirc
Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza
Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de
ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem
Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente
10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm
burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que
questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas
coisas
3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la
Como isso o afeta Decirc um exemplo
Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que
veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas
para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-
socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico
me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me
agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma
ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois
operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha
um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral
um achado em exames tambeacutem veio me agradecer
4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir
negativamente Como
As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo
aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta
agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o
negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)
As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica
fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um
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aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa
positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo
da pessoa
5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma
maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique
Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de
emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)
6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte
estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso
O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por
hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir
uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um
compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse
agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc
faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)
Eu acho que eu administro bem
7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas
Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um
pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas
vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho
mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a
pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com
sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por
uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo
me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele
8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada
Por quecirc
A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma
coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto
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porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a
falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem
9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento
Por quecirc
Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo
estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o
paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim
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