As Bordas do Mundo

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Compilação de poesias escritas de 1996 a 2007 em mesas de bar e no conforto de casa, Bordas do Mundo foi dividido em seis temas: Pilhagem Interna saqueia a riqueza e os contrastes do pensamento e escolha individual em busca de sentidos na vida; Pilhagem Externa expõe o butim das excursões para fora do indivíduo; Impressões Impressas discute a poesia através do espelho; Moderna Concretude tenta definir e categorizar com ironia o rumo da globalização; Sofridas usa a poesia para extrair significado da dor e driblar o beco sem saída do romantismo; Dedicadas oferece de volta algo do valor passado por outras pessoas.

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As bordas do mundo

Raphael Moras de Vasconcellos, nascido em 1977 no bairro carioca da Glória, cresceu na zona sul do Rio de Janeiro em meio às mudanças sociais do fim do século 20.

Apaixonado de começo pela literatura fantasiosa e policial, conheceu mais tarde o realismo fantástico e alguns de seus similares europeus, para depois se encantar por Dostoievski e Thomas Mann.

No curso de Desenho Industrial da PUC-Rio, foi marcado pelos pensamentos concretos do design e pelo relativo movimento cultural da Vila dos Diretórios.

Entre 2000 e 2009 atuou como empreendedor e divulgador do uso do bambu no Brasil e no mundo.

As bordas do mundo

Raphael Moras de Vasconcellos

4

Compilação de poesias escritas de 1996 a 2007 em mesas de bar e no conforto de casa, Bordas do Mundo foi dividido em seis temas:

Pilhagem Interna saqueia a riqueza e os contrastes do pensamento e escolha individual em busca de sentidos na vida;

Pilhagem Externa expõe o butim das excursões para fora do indivíduo;

Impressões Impressas discute a poesia através do espelho;

Moderna Concretude tenta definir e categorizar com ironia o rumo da globalização;

Sofridas usa a poesia para extrair significado da dor e driblar o beco sem saída do romantismo;

Dedicadas oferece de volta algo do valor passado por outras pessoas

ÍndicePilhagem Interna

Um grande pulo Quarto minguante The eye of the beholder A verdade interior Avaliação Bar brejeiro Reles tentativas Nesta terra Cantos de meus lamentos Cantos de meus lamentos #2 Poeta A eternidade e um dia Errante Baco está no ar Ilusão Manifesto sentado na mesa de um bar O prego Partes solúveis Terapia do símbolo

Pilhagem Externa

Maritacas O vôo absoluto Reflexo A noite deleitável A misteriosa eloquência A sorridente espreitadora Pétalas delgadas Voz do Brasil Noites da Lapa Um cumprimento à comunidade PUC Das prosopopéias e das metonímeas Alvorada latino-americana Esta é nossa terra

11121314151617181920212223242526283031

33343536373839404142434446

6

Risos Dúbios Quadro cinza Idade da pedra Novos entardeceres latinos Livro-me Daydream O homem sem qualidades Mensagem aluvial O frágil rebento O encanto refaz Igreja Universal do Reino do Nada Gnaisse

Impressões Impressas

Pausa Poesia rápida Dicionário carioquês-paulistês Ducha de letras Letras Dominador/Dominado Poesia fina Parâmetros Situação Resumo

Moderna Concretude

O abrupto intenta Almas desalmadas Resposta absoluta Triste e bela A moderna concretude Permuta trivial Hereditralhas Globalização muderna Cabeça dura

47484950525354565758606162

65666768697071727475

777879808182838485

Sofridas

Repositório O desfraldar das velas rumo à ocidentalidade Nau perdida O desfraldar das velas rumo à ocidentalidade #2 Tais condições (geração) Realidade das bordas do mundo Desertos dourados do sul Resquícios Combinação O abismo O túnel Além d´alma pura Lamento pop

Dedicadas

Ermos caminhantes Filho que és Nasciturno O dom O ninho do pardal Naná, nair Morena marinha celeste Aliviar Um cigarro após o outro Quem sois? Viva a beleza viva Juventude sônica

878889909293949596979899

100

103104105106107108109110112113114116

A meus avôs Paulo e Paul

Pilhagem Interna

11

Um grande pulo

absorto em minimalidadesacredito no improvávelreceio apenas o tempo

embebido de paixõese histórias improváveisrememoro o óbvio

embutido o senso comumelevo minhas paixões improváveisnelas concentro minhas forças

um momento de implosãocompactação de memóriasmusculação cerebral

e um grande pulo!

12

Quarto minguante

alargar o cume dos limitesalumiar o pensamento das flores que pesamem inúmeras miríades intransigentesacostumadas a penaro depenar

despertosaboreio o aluviar do acochambradopor cima do alambradodo meu tabu

aliciando estimulado divirto a mimcomo a ticomo-te

sem sobras de dúvidassem sombras de você

macere-o a disparar por aíquando sentar, alevanteseja mero constatar irrelevante

espere, sem se levantarfique a flutuardesperto, esperto,te espero no fim do quarto minguante

13

Quarto minguante

alargar o cume dos limitesalumiar o pensamento das flores que pesamem inúmeras miríades intransigentesacostumadas a penaro depenar

despertosaboreio o aluviar do acochambradopor cima do alambradodo meu tabu

aliciando estimulado divirto a mimcomo a ticomo-te

sem sobras de dúvidassem sombras de você

macere-o a disparar por aíquando sentar, alevanteseja mero constatar irrelevante

espere, sem se levantarfique a flutuardesperto, esperto,te espero no fim do quarto minguante

The eye of the beholder

it’s a good thingthat all is writtenand goes straight to the heart

it divides usand we devisethe sight of the undone

forgotten wordslost in oblivionobscured and observed

remember:

the truth is on the eye of the beholder

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A verdade interior

quero saber dos teus sonhosque eles te contamda verdade interior

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está avaliadoque o valemais lindo do teu sonhonão vale um castelode caramelo

as árvores simelas valem o vale que habitam

Avaliação

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Bar brejeiro

neste fim de tardeamanheci brejeirobaleias azuis passaramembalaram-me na sua fumaça

neste entardecer do Leblonaprendi muitas históriasnovas e usadasque desafiaram minha imaginação

pus-me a escreverem francês, em gaulês,tudo aquilo que,num certo entardecer ladino,sussuraram-me,das ruas,ao pé do ouvido esquerdo

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Reles tentativas

O circuito que seguisua trilha amarelacapacita-mea escrever-lhe esta prosa

Neste gramado verdeque tudo cobrefundiu-se o uso e a intençãode eletrizar-me o coração

Seguir a corrente do pensamentoé como entender a lógica bináriaseu fluxo constante e ordinárioalça-me das profundezas dos relés

18

Nesta terra

por que me preocupar?cobri o chão deste vasocom o pó desta terra

sem saber eu queriaque tudo dando certoestivesse por perto

atravesse a superfícieminhoquinha atrevidae absorva a amizadedaqueles de quem gosta

a água que cedo,cedo abençoa sua vinda

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Cantos de meus lamentos

Quando a mente preparaNão há fórmula que basteAssim como pele raraQue no fim a maldição afaste

Ferindo meu orgulhoDentro de minh’alma mergulhoPretensas intenções de paixõesMe trazem dores e sofrimentoMedito, canto cançõesCantos de meus lamentos

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Cantos de meus lamentos #2

aventuro-me nas trevasentre cadeiras e mesas levantadasa vida confunde-secom os variados tipos de azulejos do bar

atento para o vão na conversafalo qualquer coisanão importaquero os olhares

aventuro-me para o fim da noitesou expulso pelo garçonque me olha com o confortode um especialista da comédia alheia

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Poeta

não possuo as palavrasassim como não possuo a vidaantes sou pequena folhalevada pela brisa

hoje eu vi o marsua linha infinitaa perdurar no horizonte

não foi a primeira vezouvi-te sussurrar meu nomedurante o sono

não possuo a escritaantes a externalizoum dia após outrodepois, o amanhã

22

A eternidade e um dia

Quanto dura o amanhã?perguntei-te certo dia.

Quão pura é a manhã,tocada pelo sol ardente?

23

Errante

Meu coração errante, vagabundosolitário e meditabundo

Procura novos campos, novos ermossem regras, sem termos

24

Baco está no ar

entre cânforas e taçasminh’alma rejubilasua parte dionísioamanhece desprevinida

mas de que formadentre tantas preferidasse reforma a manhã?

entre melodias e harmoniasminh’alma amanhecesua consciênciaanoitece atenta

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Ilusão

impressões nos são ditasditadas pela açãoreconhecem sua efemeridademeras bonitas palavras

nos vemos impressose nisso vivemosretomando velhas vivênciascomo meras impressões

o grande problematorna-se um rápido aviãorevolto em redemoinhossolto no arem eterna contradição

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Manifesto sentado na mesa de um bar

As ruas não estão desertasfelizmente, pessoas diversastocam-me o olharneste bairro perto do mar

vossas palavrasmúsicas de outremem sua voz

prestam atençãosubmergem num estado convergentede paz e sublimação

O bar está enchendoas pessoas divertem-se, felizestrocam sentimentosneste bairro de maresia e vento

suas facesmeios de expressãode emoção

prestam atençãoconvergem neste país envolventede mistura e elevação

eu, servo de todas essas experiênciassensoriais, emocionaisrezo pela continuidade do trabalhoe do lazer

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As mesas sorriemfelizes congregam pessoastecem históriasneste bairro de muitas memórias

seus tamposservos de objetossuportam-nos

pedem proteçãoenvolvem líquidos inebriantesdesapego e diversão

O aroma segue mutanteperseguem as felizes pessoasentorpecem os sentidosneste bairro de anos vividos

seus canaisgosto, olfatoaudição, visão e tato

pedem proteçãoinebriam a mente estática e friacom calor e ação

eu, cúmplice de todos esses minúsculos e passageiros contos,sinceros, pereneschoro alegre pela nossa existência fugazneste mundo.

E continuo sentado na mesa de um bar ...

28

O prego

logo aliadjunto-meperfazendo uma incoerência

ausênciade sentido

onde estouausento-mebusco o foco do nada

focandouma possível reestruturação

os nósos veiosos velhossomos nós

já é tempoe passaum pássarono ninho escuro

entaladoestou cegopara o caminho

29

eu caminhopara fora de casa

em casabusco a retidãoencontro apenas o nada

o chãoo pisoeu pisoe vou ao chão

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Partes solúveis

coraçãoe almaentre elaso que há?

um caso de amorou de necessidade?

há um caminhoque liga a paixão de ambos?

parte e repostoo acaso e o ocasogrande e pequenoquebrado e elevada

labirinto insolúvel...

sem mencionar a razãoessa assassina assaz metódica

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Terapia do símbolo

Sem haver tido chanceuma perda de rumo abalouo pé da mesa de madeira

A prisão indulgenteapregoava o relentoe abandonava à exaustão

O pó seco ressoavano assoalho remexidono peitoril da janela aberta

Um som lúgubreum rangido lânguidouma raspa de madeirauma lasca de velha tinta

A taça meio friameio cheia e vaziauma lente distorcia

A luz da lua vinhana taça perpassavaa taça com o vinho

O queixo no peito dormia...

Pilhagem Externa

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Maritacas

vede!a estrutura verdenela cabe o inequívoco inexato

vede!o príncipe das Astúriasilhado em seu pequeno reino

o olhoa esta alturaconfunde-se entreo inequívocoe o inexato

o olho da menteconduz seus fiosentremeados

em meados de outubrolá pelo dia quinzeentardecendoouvindo o estrondo das avese o coração batendobombeando pontosencharcando a menteabastecendo os olhos

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O vôo absoluto

se sente leve,parte de repente e breve

alma pura almejatudo cura, benfazeja

pardal solitário persisteexiste imaginário alpiste?

no Pico do Papagaio em Aiuruocao refúgio dos Pedros é uma toca?

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Reflexo

ao terminar seu dia,o otário reflete a grande abóboda celeste,sob o luar,debruçado no batente da janela.

o azul descascado da madeira,roçando seu casaco de lã (para otários),combina com o azul marítimo do seu olhar,perdido...

a destilar sonhos,lembranças...

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A Noite Deleitável

Amenize, e torne agradável. Não se esqueça que, alhures no espaço, está a noite deleitável.

As estrelas sorriem, mas escondem suas irmãs menores. que brincam e seguem nas suas peripécias.

Aproveite, e extraia o que é bom. Não se apresse, pois o tempo revigora. As partes se juntam e a noite agradece.

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Amenize, e atraia o olhar. Os atores do mundo, e a luz a brilhar.

Amenize, mas procure evitar que o mal que se alastra consiga alcançar.

Amenize, no entanto sem envolver sua misteriosa eloqüência a qual busca entender.

Amenize, ao entardecer.

A misteriosa eloqüência

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A sorridente espreitadora

A lua espreita

e espia nossa breve estadaneste mundo loucode frívolas idéiase estranhos seres.

Observa a caçada,expondo e acariciando a presa,exibindo e estimulando o algoz.

Neste mundo de muitas palavras,o alvo se estabelece silenciosamenteatrás da sombra projetada,não-luz envolvente.

Ela se aproveita,e nos mostra nossas fraquezastão humanas.

39

Pétalas delgadas

a flor que brotae alivia o pranto

as forças do realdo alémdo bem e do malque vão e vêm

a crença no espíritoque esquece a dor

e o silêncio flutua

40

Voz do Brasil

oh estrela que refulgemais alta que o sol

tempere o ânimo dos astroscom a sua chegada

nós que aqui ficamoslembramos de sua breve estada

41

Noites da Lapa

que assim sejaa encantadora cerveja

as palavras do pregadorespalham prazer e dor

moderno trovadoresquece a paciênciae traz-nos a revelação

incipiente incitadorestimula a conivênciaabsurda capacitação

para a vidapara a música

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Um cumprimento à comunidade PUC

como pretendemalcançar a si mesmosse vos afastam de nós?

quantas lívidas históriasnão apenas nos pertencemflutuam no mar de históriasdo qual pescamos com prazer?

quantos hinos cantamospiadas contamossobre vóssobre nós?

quantas casas temporárias habitamospersonagens conhecemoscamaradas fizemosmulheres amamos?

que na tua minha ignorânciasaboreamos o passar dos diaso contar do tempoa prosa da vida

seja-te e deixa de serenseje vossa nossa belezamorra constantementee viva eternamente

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Das prosopopéias e das metonímias

enquanto cabelos castanhos claroslisos e douradospassam,aninhamo-nos animados.

pois entre um pensamento e outroo poder se anuncia:o poder da feminilidade.

pernascarnelábiossensuais

a magiae a hipnoseconstroem a poesia

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Alvorada latino-americana

como que para distrair momentos de solidãonaquela hora em que o sol trai a manhãcom a névoa ainda buscando as sombras do pensamentoque de uma escada de mármore azultoda a bela manhã se despeja feito água derramadafresca, límpida na luz do alvorecer

tímido sorriso de uma lua crescentede lívidas tardes e entardeceres latinosque alavancam pedras atiradas nas poçasentre as ramagens de imensos e rajados bambusagitados na brisa que anuncia o ventochegando com uma chuva fria e fina

correndo pela praia emoldurada pelos coqueirospisando a espuma dourada pelos raios de solque escapam de nuvens compridas e cinzasde um amanhã que não chegae o horizonte que esmagaas linhas passamo mundo párapara absorver o ar da manhã

45

e a dança da vida recomeçanão pára jamaisem direção e sentidotramados em fios tardiosde alvoreceres bolivianostrajados em nobres tecidosà esperado amanhecer

46

Esta é nossa terra

absorvemos e reproduzimoscarga contínuade responsabilidades

até quando seguiremosguiados por nossos instintos?

até onde iremosnavegados por nossas razões?

pulsa e vibraa vida em derredor

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Risos

no começo de séculotudo recomeçaporque ficamos assim inconstantes?

reverberamos instituições passadaspara cobrirmos seculares deficiências.para quê lutamos e lutamosse caímos sempre nas mesmas incumbências?

é assaz engraçadaa luta pela sobrevivência.

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Dúbios

são cultos e nobresgentis e nada pobresacumulam e não dispersamgesticulam e conversam

pode-se esperar tudo delesmenos deselegânciasão chatos de vez em quandoem sua discrepância

pior seria ignorá-losfingir que sua eterna vaidadenos enfraquece

bons seres humanosvivem e transparecem

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Quadro cinza

trevas encarcerantesconfiguram vastas extensõesde terras outrora verdejantes

sombras aterrorizantesescondem negras pretensõesem mentes outr’época vibrantes

é a mudança dos tempose das breves estaçõesou apenas outra nuvem

cinzas enaltecemparedes de tijolos quebradosmanchas de humidadesujam a calçada com suas cores

pneus de puro azevichederrapam em curvas chuvosasviadutos cobrem ruas molhadasvazias e solitárias

aquele homem urbanocitadinojá não se sente seguroem suas mansões de pedra

50

Idade da pedra

essas partículasdeslizam pelas frestas de aro vento as empurrapara longe do lugar

que nuvens trovejantes,escondendo o luar,as mandaram passear

tais gotículasflutuam sem esmorecerseus movimentos dançarinosaté o amanhecer

que trovões ribombantes,no eterno alvorecer,não cessam de estarrecer

oh chuva!caia como nos primeiros milhõesde anos de idade da Terra

cubra os continentesfaça-me esquecerfaça-me lembrar

51

da idade da lava quenteda idade da pedra que esfriada idade da água que corre

para onde,não quero saber

52

Novos entardeceres latinos

prevejo novos ventos chegandotrazem frio e pouca humidademinha mente coalhada de lembranças,inexatas e inconstantes,lateja nomes e lugares

caminhos novos se cruzame separam velhos dogmasmáquinas arrastam através de milhas e milhascarcaças livres de preceitosávidas por conhecer

novas paragens e camposnovos entardeceres latinosque na sua imensidãodespertam sonhos ladinosde límpidos e lívidos verões

em poucas palavras e mil imagensminha e nossa vida amanheceque em anoiteceres bolivianosme fazem torcere lutar pelos caminhos do mundo

53

Livro-me

fomos até o cume,o cume era lá embaixo.

fantasiamos,a fantasia era real.

nem sabemos o que fizemossomos todos iguais.percebemos,somos todos crianças.

coisas legais,algumas ilegais,nem todas lembramos,mas não é preciso.

nossa vida dançou,nosso sol raiou,reluziu,em nosso projeto.

nossa história mudou,nossa página virou.

surgiu,o livro abjeto.

pois coisas passam,morrem.

somos espelho.

54

Daydream

there is a black alloyhanging on steep slopesit does not roll over my naked bodywaiting for the continuous rain to stop

I think it will never stopI do not worry

this strange alloycoming out of nowherestarts to roll over the still wet groundcrumbling and smashing the green grass of my dreams

I think it will never stopI do not worry

there is a deep and hollow shaftnot friendly, a real cliffit does not hold the black alloyswallowing the horyzon

I think it never endsI do not worry

this endless holethe end of earth as it is knowncries a loud sound of cracking metalfeeling sad for the loss of the black alloy

55

I think it never endsI do not worry

I will keep dreaming

56

O Homem sem qualidades

abrevia tua repetiçãonão esqueçarepita

o espírito intentasem real intenção

arrepia e intentaapreciaacontece o irrepreensível

anoiteceo som nos esquece

abreviae aborrecenos apreciae acontece

a noite enternecee nos buscaenaltece

o abreviadoapareceacontece

o que buscarepreende

57

Mensagem aluvial

o fluxo constantea pedra ensaboanteo galho engastadoa areia abrasante

a margem esquerdaa árvore distantea grama verdefrio enregelante

o calafrioo cala-bocaa boca do rioa garganta profunda

o fluxo constantea maré vazantea boca do rioum frio rascante

58

O frágil rebento

o monstro acordaamarra suas vítimascom cordames de aço

o mestre recordaentra em acordocom palavras de aço

o mastro arrebentasacode o rebentocom sua estrutura de aço

o maestro encordoaseu violino etruscocom fios de aço

o monstro violaseus estratos moraiscom punhos de aço

o mestre extraio vermelho da auroracom seu punhal de aço

o mastro apunhalao frágil rebentocom farpas de aço

59

o maestro ressoasua música imortalcom seus nervos de aço

a máscara arrebentao saber rebomboao barco soçobraos gritos ecoam

60

O encanto refaz

Amenize, e deixe passar o que está vivo breve morrerá

Amenize, e volte a esquecer as regras do mundo só fazem tolher

Amenize, e viva em paz o que a ânsia escondeu o encanto refaz

Amenize, e bote tudo a perder

61

Igreja Universal do Reino do Nada

o infinitonegrumemassa informe

massa liquefeitarepleta de luz

em suas regras própriasvalseia sem regras

o perfeito nadaestrelas vagueiamno vago espaço

pontos gigantescosvulcões imberbesconsomem planetas

dão formae destróemsabedoria inculta

estrela oculta

62

Gnaisse

por pouco tempopor muito pouco tempoapesar dos contratempos

nas horas em que a palavra perde o sentidode seu fulgor pungentehíbrida e mista sabedoriaarrancada como um galho

que se parte

que ela partaeu não sei(nem quero saber)

filho compacto sob o peso do capitalismoseus vermes transitam, espaçosseu urro, seu pulsar, os impactos

improvisamos a adolescênciaplanejamos obsolescênciaprogramada, sob foco de luzdomada, medusa seduzpetrifica

alegre despertar na aurora do vale extensoextenso...

63

a lua que conforta e dá luzluzesss

tênue sombra que arrepiaarrep...

mundo envoltonévoa e magmatudo e nadaser sendo sem cercear

devolvê-la, ó Terraerma e fugazao povo que te glorificaés tu,Gaia

Impressões Impressas

65

uma folha que vaia idéia se esvaiatento e despertoo fim está perto

breve pausa...

um tento desfeitointenção descobertaaviso rasteirosó peço respeito

breve lamento...

o peito me dóia mão não reclamaa cabeça declamaos feitos do herói

breve suspiro...

pausa longa...

descanso...

e mãos à obrapois pra poesiaassunto me sobra

Pausa

66

Poesia Rápida

pense rápidonuma poesia.deixe ela sair pelos porosda tua preguiça.

pense numa poesia rápida,sem sopesar palavrasou medir sílabas.deixe que elas falem por si.

atire as letras numa sopae mexa-a com uma colher.mas deixe espaço para a sobremesa.

pense logo no título,antes que ele fuja.assim que ela estiver toda pronta,capture-a num papele finalize-a com um ponto.

67

xavecar - Vb. Trans. Dir.

1 - convencer, persuadir (“xavequei o guarda para não me passar uma multa.”)

2 - cantar, paquerar, passar a lábia(“aquele f. da p. tá xavecando a minha mulher!”)

3 - enganar, mandar o caô(“xavequei o meu pai, dizendo que ia para a casa da tia Sandra, mas fui pra night.”)

4 - fazer com que outrem faça aquilo que queres(“xavequei o pedreiro para deixar tudo por 50 pilas.”)

Dicionário carioquês-paulistês

68

Ducha de letras

inverteu-se o tempo,deixou-se ele ao relento,que dele faremos?

o equipamento,revelou-se ele ao extremo,como disso esquecemos?

do ralo transbordou,uma água trans-suja,escrita garatuja.

esqueceu-se o momento,baixamos o vento,que dele aprendemos?

o acampamento,de todo o mal isento,como dele nos desfizemos?

do chuveiro saiuuma água des-limpa,poesia supimpa.

69

aqui as vejo,admiro.são como pequenas pérolas para mim.

é um pecadoescrevê-las juntas,como faço.

logo elas que tanto me fortalecem.abalroam meu espírito.

como gosto de vós.a quem recorro nos piores momentos.quando então congregamos como ovelhas.

Vós orais por mim,sois minha voz bidimensional.

Crio de vós algum significado,semiótica significante,proxemia inicializante.

Temos algo em comum.A paixão pelo papel.

Letras

70

Sou assimum poeta sado-masôjogo com palavrasatiro metáforase recebo tudo de voltaespanco a ortografiamando às favas a sintaxee sofro as conseqüênciasexponho mazelassacrifico amor-própriomas tudo nos conformesda auto-satisfação.

Dominador/dominado

71

Poesia fina

fina poesiaafilada

umanobre

afilhadaremetida

metidaem

parcosespaços

deperfil

ladeadade branco

depredada

72

inevitáveis sãoinclusiveaqui abrindo aspas“para nossa manutenção”

no entorno do problemaestá inscritaa solução

inerente ao poemafica a marcação

os pontosvírgulasas crases da equação

entendo assimhumanamenteque a poesia encontrae dá vasão

remexe e reviraas palavras ebulição

recorrendo aos sentidosextraindo a sensação

Parâmetros

73

os verboslínguasfinalização

daí passamos às fraseshumildementenuma tentativade elaborar a oração

complexo é o contextoque encaixa tudoredação

completa-se o textosobra a saudação

aos poetaspoetisasem contemplação

74

Temos letrasfaltam as palavrasentrecortadas as frasesentrevista a poesia

Situação

75

Resumo

canetasescrevemo papelsua vítima fatal

coraçõesescrevemo vaziosua vítima fatal

palavrasdescrevema linguagemsua vítima imortal

letrasagrupamidéiasparceiras totais

poesiasagitam coraçõesesvaziam canetasenriquecem linguagensaviltam palavrascongregam idéiase fazem sopas de letras

Moderna Concretude

77

O abrupto intenta

abruptamentesurge, representao símbolo cresceseu valor aumenta

o fio da navalhadesgasta o olhara altura da muralhadesvia o gostar

dramatização latentedescobre-se urgenteteatralizaçãodessacralização

o espelho devolvenão inventarecebe e transmite

acontece a mágicao espírito intentaconcebe e transmuta

em outra coisa, outro lugarescoa, flui devagara mente voa, a divagar

a trompa entoaseu timbre ecoaresvala nos penhascosatravessando o vale

78

Almas desalmadas

Almas vacilantes enfrentamalgo semelhante a um turbilhão

herdam tudo sem sabersem provar do vinho sendo entregue

um tufão,entusiasmo da ciênciadespertar da consciênciareiterar da decadência

em tendas alucinantes experimentamperícia tecnológica a atacadocompram tudo que podem quererabstraem-se do que não querem ver

com bandeiras exultantes vibraramsobre castelos de cartas de pôquer

porque resistiam em crêrapaixonadamente na salvação do homem e da mulher

79

Resposta absoluta

A veracidade da respostacertamente absolutado contato extra-humanovorazmente alcançadoatravés do espaço microscópico

dos grandes fatos corriqueirostransitáveis criaçõeslivro farto de imagens

80

Triste e bela

acredito na belezateoria da tristezauma beleza apagadaà espera de saídaa espalhar conhecimentoe ter comprometimento

suprir tua ausênciaoh! Modernidadecom moderada sapiência

81

concretoabstratoângulo retodentro de um prato

ponto e linhafigurativo definha

chapa de açocadeira de plásticovidro fumêrádio e tevê

fibra de vidronylon tecidoanfetaminaóleo, gasolina

desce o produtopelo gasodutonão demora um minuto

A moderna concretude

82

Permuta trivial

villatomlobosjobim

tirasomestrobosestopim

mirabomglobosenfim

83

Hereditralhas

o avô está mais atrásque o bisavô de meu filho estará para mim

o avô está mais atrásque seu bisavô estava para seu pai

não conheço meus avósna complacência de meus devaneiosego e kin estamos a sós

84

Globalização muderna

folha de coca, óleo de dendêBangkok, Aiuruoca, LP, K7, CD

o que faço no Riorepercute na Austrália

o bater das asasda inocente borboletaprovoca o el niñoenchentes em todo o planeta

fractal, teoria do caosexcursão a Marte, guerra no Laos

Mobuto, Salazar, Pinochetdireitos humanos, ONU cadê você?

85

Cabeça dura

concretocalçadouma calça de concreto

manchasplásticasna calçada de concreto

minha cabeçabate nuano concreto cru

minha cabeça nuabate crua no concreto

areia cruacabeça nuaraspada no concreto

crânio durocabeça cruabate dura no concreto

Sofridas

87

Repositório

vou passara tudo guardar

tornarei-me um obesoenfezadoe tudo odiarei

escolha inevitávelpois a lama invade

enchente odiosa

remexerei todos os cantosos enfeitarei com o mal

disso pode surgir o enlevoqual Lúcifer em sua grandeza

e sua enorme pequenez

88

O desfraldar das velasrumo à ocidentalidade

perenesumbrais enevoadossente-os?estás a cair na moita descabidatorneie o pescoçogira-o a oestepersistirásvejo-o no espelho de Nimrodelnãofatigante o destino que pertence aos mortaisa morte está do nosso lado

flagre o desvendarveja no escuromas sopese a mágoa.o fogoso apressou o fimda magia, e do canto élfico.

vá,una-se com as pilastrasa mansão te espera,a circularaliviar.

89

Nau perdida

solto frouxa a minha dor,que após mastigar meus ossos puídosdeixou-me a soçobrar,qual vela esvoaçante na areia

que um dia alcemos vôo em vento trajante,em breve fulgor

tangenciamos loucos redemoinhosno distante timbre da morte

riremos quando a onda engolfarnossas esperanças tardiasrostos serenose corações partidos?

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O desfraldar das velasrumo à ocidentalidade #2

chegaste à beira do mar.

Viste os navios ancorados,com seus cascos vivos,lisos de betume,salgados pela água.

Observaste as gaivotas,mergulhando lá do alto,alimentando-se de peixes prateados,trazendo notícias de outras paragens.

Pisaste nas pedras,caminhaste nas areias.Molhaste os pés,aliviaste o rosto com o frescor do mar.

Ouviste as ondas,carregadas de histórias,trazidas por Ülmo,de profundos lugares.

Sentiste a brisa calma,as nuvens a viajarna direção do sol poente,que as alaranjava.

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O desfraldar das velasrumo à ocidentalidade #2

chegaste à beira do mar.

Viste os navios ancorados,com seus cascos vivos,lisos de betume,salgados pela água.

Observaste as gaivotas,mergulhando lá do alto,alimentando-se de peixes prateados,trazendo notícias de outras paragens.

Pisaste nas pedras,caminhaste nas areias.Molhaste os pés,aliviaste o rosto com o frescor do mar.

Ouviste as ondas,carregadas de histórias,trazidas por Ülmo,de profundos lugares.

Sentiste a brisa calma,as nuvens a viajarna direção do sol poente,que as alaranjava.

Lembraste de Míriel,Oh! Míriel,que Morgoth levara,em sua ira bestial.

Lamentaste,e não poucos foram os lamentos.E desejaste, desde Beleriand,partir.

Ansiaste pelo mar,rumaste a oeste,e agora pensas,em Aman.

Teus primos Teleri te levarão,e Vanyar te receberão.Mayar te acolherão,e finalmente descansarásna mansão daquele que tudo julga e vê.

Serás, e és, uma nota completana Ainülindale.

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Tais condições (geração)

neste mar de saudadesinto-me à derivados ventos e dissabores do tempo

minha vista alargadaextendida pela dorextrai poças d’águado poço seco do meu amargor

tais lágrimaspequenos goles de sofrimentonão contribuem em muitona vastidão das águas do mar

deixei de sofrerpara estar com vocêdeixei de sentir-me sópara estar com você

tais brincadeirasde fim de tarde do amadurecernos outonos latinosde distantes Bolívias e fortalezas

o alvo se estabeleceuo sino ressooueu sentie reaprendi

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Realidade das bordas do mundo

Embora seja realidadedo mundo só quero o fimnão tomo as rédeas da vidapois o couro está a fogo

que persigoaté as bordas do mundopara voltare encontrar minha casa a fogo

deste modoo que persigome persegueminha cabeça a fogo

encontrono meio do mundoo quente trovoardos nossos corações

atravesso a couraçado couro queimadoda casa fendidadas bordas do mundo

voltei a quererpois devia esquecernão é nada dissosomos eu e você

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Desertos dourados do sul

um dia que nasceo sol que despontana beira do universoazul enegrecido

pontilhado de brilhosluminescências aspergidasflocos de metalsobre tela escura

é tudo que temosnesta terra batidachão brutopele carcomida

o barco navegao rio deságuao banco de areiadesaparece no vento

as ondas derrapamna lua que giracom os uivos do loboque sai da sua toca

focinho douradodo sol que levantabigodes prateadosda lua que morrena terra batidados desertos do sul

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Resquícios

de algo alémcertas notícias me vêmtrazem coisascomo barcaças de lixo

trazem pequenas lembrançasde alguémque eu fui

como que sobem à tonareaparecemestimulam questões

atuo, traduzoregurgito, vomitoe o que vejonão me apraz

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Combinação

está combinadoque bradoquando é a hora

está quebradona hora em que fuiem boa horade ir embora

com tudo,fiquei eu para observarpessoas ireme eu ficar

por aqui mesmomesmo sem ti

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O abismo

É a interseçãodo fim com o absolutoque dá em nada

É a certezado vazio como axiomaque acaba em escuridão

É a fonte que sugada sorte ao frio zeroque faz tremer a ilusão

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O túnel

O túnel avançaseus lados orientame alavancam

A escuridão no começo do túnelé o que nos leva a adentrá-lo

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Além d’alma

sua majestade,a tristeza

autorizas-me a seguir?

pois tua autoridadepesa-me uma tonelada no bojo

que queres fazerda humilde humanidade?

enternecer-lhe a alma além?

pois com teus plenos poderesenxugas-me a lágrima no olho

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Lamento pop

é tanta coisa para dizer.me lembro de você,dançando na areia fofa,os panos coloridos voavam,feito pipas,as ondas batiam.

tudo caminhava como devia,o mar cerzia,era uma vida destituída de valor,apenas a brisa vivia,o céu abria.

os vidros não eram de plástico,os mitos não quebravam,os tios não se casavam,os fios não embaralhavam.

tudo seguia seu rumo,e as ondas quebravam.

é tanto para saber,me esqueço de entender,pulando na grama rala,o rio passavafeito sonho,as ondas batiam.

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tudo aparecia como esperado,o céu abria,era uma viagem destituída de tempo,apenas a maré descia,o mar cerzia.

os copos não eram de plástico,os governos não quebravam,os viúvos não se casavam,as informações não embaralhavam.

tudo seguia seu fluxo,e as ondas quebravam.

Dedicadas

103

Ermos caminhantes

que tuas veleidadesnão naufraguem

que as naus e suas velasde velhas cidades partirampara nunca mais

há um caminho inexploradomarcado pelas pegadas solitáriasde ermos caminhantes

estas bóiamluminosasao sabor das águas do mar

se ao fundovejo estreitoeste caminho não rejeito

ultrapasso a qualquer custosem receio, deste jeito.

104

Filho que és

A virtude está incontida,ela reflete o que estáescrito no teu olhar.

Não te deixes apavorar,pois o sagrado está tão perto do agradável.

Sejas filho dos teus desígnios,guerreiro que és,entretido com a infindável batalha.

Não negues aqueleque se encontra em tuas próprias embalagens.Que habita tua carnee segue teu coração,reto,inabalável.

105

Nascituro

Nascie cresci,multipliquei.

A fórmula completade qualquer existência:aprender e amar.

Aprender a amar.Amar aprender.

Todo nascituro,ensinei a sorrir,desvelar o encantodentro de si.

Minh’alma é minha benção.

106

O dom

Zelei,cuidei e amei.Eis o que vi.

É certo na vidaonde carrego meu corpoquem procura seu domse enamora e fica.

Posto que vi e aprendialmejo encontrar,decerto não em livros,aquilo para quê nasci.

O fim encontra-se em si mesmo,e a retomada é suave.A dúvidadeixamos a esmo.

107

A brisa da tarde passoue deixou um recado:

“ não se apresse ... ”

não sendo a vaquinha no pradoachei por bem responder:

“ a quantas anda meu grande amor? ”

do ninho alegreo pardal assoviou:

“ quem nada sabe melhor pergunta. ”

e resolvi descansar.

O ninho do Pardal

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Naná, nair

nino quer naná nair

na ira de nair pousa uma mariposaum par de sentimentoso fletir do pensamentoausênciade momentona essência e na paz e no sofrimento

nino quer nair naná

que a mariposa pouse no nariz de nossa senhora, naire nos ouça cantaruma canção sem venenocócegas e risadas do pequeno Brenoe nos verá sorrir

nair quer nino naná

o vinho foi entregue em mãos que seguram a famíliase foi o avôseu pai de Bordôque trouxe essa garrafame traz uma taça que nino quer é beber!

109

Morena marinha celeste

vindo de terras distantesgaroentas, empoeiradaso som da tua voz mistura-se com as ondas

resvala nas grandes pedrase alegra-me o entardecerneste marítimo céu andino

é nele que quero voare contigo descobrir novos coraçõesonde nossas risadas encherãoo vazio das estrelasazul-marinho celeste

110

Aliviar

alívioque comandae saúda o espírito

alegre,livre gozode suas faculdades

pereneeterno sonoabate o céu ausente

permeiapercorre e senteo sangue quente

a voz da terraencantajorra enchente

a dança da luacoerentesobe rente

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alívioque comandae saúda o espírito

alegre,livre gozode suas faculdades

pereneeterno sonoabate o céu ausente

permeiapercorre e senteo sangue quente

a voz da terraencantajorra enchente

a dança da luacoerentesobe rente

sou a última estrelado teu colar de contase o vento ao nosso redorme conta que lá estevesonde o mesmo faz a curvae voltastes para contaro que vistes

e a história continua...

112

Um cigarro após o outro

nervoso estásum cigarro após o outrobates o fumo apagado na mesa

perguntas-mese estou nervosonervoso estásum cigarro após o outro

és meu amigoisso importaabramos a portae vamos entrar

rapidamentecomo o raio que a vida traz

num lapso vemos a moçae o devaneio nos unecada um a olhar

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Quem sois?

pois sendo,sou feliz.

entendoo que me diz.

distante,estás perto.condiz.

olhas,com teus olhos orientais,o vasto mundo.

orientaiso impulso,o ímpeto,o leve despertarde um domingo ensolarado.

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Viva a beleza viva

não utilizaria a beleza das jóiasuma beleza límpida, simvaliosae até extraordinária

porém friaelaborada por mãos mortais

seria mais como a beleza viva das floresefêmera, frágil e delicadajamais tocada por artíficesdepurada por eras evolutivasresplandecendo o valor do afeto

é uma beleza fluida, móvelem constante mutaçãopermanecendo paradoxalmente estática

contém matizes de verdes pálidosamarelos vicejantese vermelhos ruidosos

algo como extrair o risode um anoitecer prateadodeslizar de barrigapor um lago de gelo

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não utilizaria a beleza das jóiasuma beleza límpida, simvaliosae até extraordinária

porém friaelaborada por mãos mortais

seria mais como a beleza viva das floresefêmera, frágil e delicadajamais tocada por artíficesdepurada por eras evolutivasresplandecendo o valor do afeto

é uma beleza fluida, móvelem constante mutaçãopermanecendo paradoxalmente estática

contém matizes de verdes pálidosamarelos vicejantese vermelhos ruidosos

algo como extrair o risode um anoitecer prateadodeslizar de barrigapor um lago de gelo

queimar-se por estarperto demais do sol

existe e é uma sínteseresume em uma flora beleza mutável de muitas

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Juventude Sônica

a juventude sônica se ergueatravés dos ergs da solidãoguitarras gritam seus lamentosde pura satisfação

suas cordas cortantesemitem notas vibranteschoram pela juventudeainda presente em nossos corações

paredes de somnuma nação do dia sonhadoracendem velas esperançosasesperam encher o ouvido de canções

sonhos foram perdidosnão neguemos

umafoi encarcerada em suas próprias ilusões

outrarompeu com suas preces e navegou em dúbias direções

umvolveu à sua terra de frustrações

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a juventude sônica se ergueatravés dos ergs da solidãoguitarras gritam seus lamentosde pura satisfação

suas cordas cortantesemitem notas vibranteschoram pela juventudeainda presente em nossos corações

paredes de somnuma nação do dia sonhadoracendem velas esperançosasesperam encher o ouvido de canções

sonhos foram perdidosnão neguemos

umafoi encarcerada em suas próprias ilusões

outrarompeu com suas preces e navegou em dúbias direções

umvolveu à sua terra de frustrações

outromantém as mesmas relações

eurumo a outras paragens de visões

entre um e outro,outra e uma,eu e eu mesmo,vivemos nossa juventude inacabada

mas o som das guitarras não esmorece

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