View
5
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
106
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE
CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL
ANDRE, Bianka Pires
Professora do Programa de Cognição e Linguagem - UENF
biankapires@gmail.com
MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de
Estudante de mestrado do Programa de Cognição e Linguagem - UENF
amandacfb@gmail.com
RESUMO
Traçando um breve panorama das relações entre o multiculturalismo e o ensino da arte no Brasil, o
presente artigo faz uma reflexão sobre a Arte Contemporânea e sua perspectiva multicultural, através da
análise dos trabalhos dos artistas brasileiros Vik Muniz e Monica Nador, que dialogam não só com os
espaços, mas também com os problemas, com as influências, com a cultura e com as pessoas da
sociedade que os cerca. Partindo dos estudos sobre multiculturalismo e uma breve reflexão sobre a
relação da arte com a cultura da sociedade que a cerca, pretende-se ressaltar a importância da arte como
fonte de estudos multiculturais e a necessidade de lidar com essas questões dentro do âmbito escolar.
São comentadas as obras dos dois artistas brasileiros citados, dando ênfase aos aspectos culturais
presentes nas obras com o objetivo de mostrar as possibilidades e a importância da abordagem do tema
dentro do universo artístico.
Palavras-chave: Educação. Multiculturalismo. Arte contemporânea.
ABSTRACT
Tracing a brief overview of the relationship between multiculturalism and the teaching of art in Brazil,
this article is a reflection on contemporary art and its multicultural perspective, by analyzing the work of
Brazilian artist Vik Muniz and Monica Nador, that dialogue not only with the spaces, but also the
problems with the influences, with the culture and people of the society that surrounds them. Starting
from studies on multiculturalism and a brief reflection on the relationship between art and culture of the
society that surrounds it, it is intended to emphasize the importance of art as a source of multicultural
studies and the need to deal with these issues within the school setting. The works of the two
aforementioned Brazilian artists are discussed, emphasizing the cultural aspects in the works in order to
show the possibilities and the importance of approaching the subject in the art world.
Keywords: Education. Multiculturalism. Contemporary art.
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
107
1. O ENSINO DE ARTE NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM A CULTURA
O ensino de Arte no Brasil vem sofrendo muitas mudanças no decorrer dos anos. De
acordo com Martins, Picosque e Guerra (2009), vários desvios vêm comprometendo o ensino
de arte no país, que mostra essa inconstância inclusive no nome da disciplina. Elas destacam
que ainda é comum as aulas de arte serem confundidas com lazer, terapia, descanso das
disciplinas “sérias”, decoração da escola, entre outros. A falta de formação do professor de
Arte, visto que as licenciaturas nessa área são recentes no país, contribuiu para essa visão.
Porém, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº9.394),
aprovada em dezembro de 1996, estabelece o ensino de arte como componente curricular
obrigatório nos diversos níveis da educação básica, com o intuito de promover o
desenvolvimento cultural dos alunos. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
Arte, “são características desse novo marco curricular as reivindicações de identificar a área por
arte (e não mais por educação artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área com
conteúdos próprios ligados à cultura artística, e não apenas como atividade.”. Os PCN destacam
ainda que o aluno deve desenvolver sua competência estética tanto para produzir trabalhos
pessoais e grupais quanto para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar, valorizar e
julgar os bens artísticos de distintos povos e culturas produzidos ao longo da história e na
contemporaneidade. Entre outros objetivos do ensino de Arte citados nos PCN, podemos
destacar:
- compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado
nas diversas culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as
produções presentes no entorno,
- buscar e saber organizar informações sobre a arte em contato com artistas,
documentos, acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, revistas,
jornais, ilustrações, diapositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos
reconhecendo e compreendendo a variedade dos produtos artísticos e
concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias.
(PCN Arte, 1997)
Observa-se, portanto, que o termo “cultura” aparece com frequência nos documentos
oficiais do ensino de Arte. A arte como manifestação cultural, deve contribuir para o
desenvolvimento cultural do aluno. E a escola, como espaço cultural, deve estar inserida nesse
processo.
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
108
Atualmente a cultura vem sendo entendida como um código simbólico, que possui
dinâmica e coerência interna. O significado original da palavra deriva da palavra latina cultura,
que significa o ato de cultivar o solo. A cultura, como entendemos hoje, é, de acordo com
Santaella (2004) uma metáfora da vida, cuja tendência é crescer, desenvolver-se, proliferar.
Assim, ao encontrar condições favoráveis ao seu desenvolvimento, a cultura floresce. Santaella
diz também que:
“Outra importante metáfora para compreensão da cultura, menos biológica do
que a da vida, é a metáfora da mistura. Se a mistura é o espírito, como dizia
Paul Valéry, e a cultura é a morada do espírito, então cultura é mistura.
Embora se apresente como uma simples brincadeira silogística, aí está
enunciada uma condição fundamental para se entender o que está acontecendo
com a cultura nas sociedades pós-industriais, pós-modernas, sociedades
globalizadas deste início do século.” (SANTAELLA, 2004, p.30)
Chalmers (2005) fala sobre culturas e identidades híbridas, que caracterizam a
contemporaneidade. Além das interferências de outras culturas, devemos considerar o fator
tempo, pois há uma tendência em tratar as culturas como algo sólido, imutável. Em vez de
explorar como uma cultura pode reconverter seu fazer artístico, tende-se a retratar as chamadas
culturas tradicionais como se estivessem fixas, imaculadas num tempo/espaço imaginado.
Chalmers acrescenta ainda que:
“Nos estudos culturais a noção de hibridade é quase antiga, mas na educação
visual de Arte nas escolas, só raramente o aluno/as estudam esse fenômeno, a
não ser quando, talvez, considerem a influência das máscaras africanas em
Picasso ou a relação entre o trabalho de Van Gogh e as gravuras japonesas. As
fronteiras físicas podem ter permanecido intactas, mas as fronteiras culturais
ficam cada vez mais porosas. (...) É importante e crítico que os educadores
procurem compreender o conceito de que as culturas são simultâneas e
diferentes internamente e estão em constante mudanças.” (CHALMERS,
2005, p. 258)
Sem uma concepção clara do que é cultura, sem conteúdos e objetivos definidos, os
professores acabam por ignorar aspectos muito importantes da cultura e da arte de um povo.
Trabalham apenas com a dimensão afetiva da arte. Ignoram que no homem, três dimensões
estão presentes – a afetiva, a cognitiva e a social – e devem ser consideradas no processo de
ensino e aprendizagem. (BARBOSA, 2002)
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
109
Na era da globalização, as questões sobre diversidade cultural se tornam cada vez mais
pertinentes. As relações virtuais entre indivíduos de diferentes culturas são muito comuns nos
dias de hoje devido o acesso a informações em tempo real possibilitado pelos meios de
comunicação, em especial pela Internet. Por isso, termos como “multiculturalismo” estão sendo
discutidos nos estudos mais recentes que envolvem educação, arte e cultura.
2. AS RELAÇÕES DA ARTE COM A SOCIEDADE
“A arte é um motor da sociedade e não, simplesmente seu pálido reflexo”. Catherine Millet
A relação entre a arte e a sociedade é alvo de estudos em diversas áreas do
conhecimento. Segundo com Bay (2006) o enciclopedista Denis Diderot foi o primeiro a
destacar o caráter social da arte, inaugurando esse diálogo sobre a arte e a sociedade. A arte
representa um fator fundador, unificador e agente nas sociedades, desde as mais simples às mais
complexas. Ainda de acordo com Bay, esse fato pode ser constatado ao longo da história, visto
que, não só não houve sociedade sem arte, mas também em cada contexto específico a arte
sempre teve um significado social preponderante.
“O porquê desta presença marcante tem sido objeto de incessantes
investigações sobre a natureza da criação artística, os fatores internos e
externos envolvidos e a função do artista na sociedade. As inúmeras respostas
variam desde a função da arte como substituta da vida, mantenedora de
equilíbrio com o meio, caminho para o alcance da totalidade, anseio de união
da individualidade com o social; passam pela busca da verdade permanente
expressa na arte, de algo que tenha significação transcendente, para além da
simples descrição do real; e alcançam o entendimento de que o homem
necessita da arte, incluindo aí a inerente parcela mito-mágica, para conhecer e
transformar o mundo, ou seja, a arte como imprescindível meio de
conhecimento e transformação.” (BAY, 2006, pág. 4)
As ideias de Karl Marx (1979) sobre arte e sociedade interpretam a arte como reflexo da
realidade social e como uma forma de conhecimento capaz de interagir com ela, com o poder de
modificá-la. Ele acreditava que o modo de produção seria decisivo para a vida social e
intelectual, portanto a arte e a literatura somente poderiam ser estudadas diretamente no
contexto da história, do trabalho e da indústria. Marx acreditava também que a arte, mesmo
condicionada histórica e socialmente poderia mostrar um “momento de humanidade”.
Bay (2006) destaca também os estudos de Freud sobre a arte e a sociedade, afirmando
que podem ser observadas duas vertentes principais na sua abordagem sobre o tema: uma
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
110
centralizada na figura do artista, mostrando que a obre representa uma relação direta com a sua
vida pessoal; e outra que entende a arte conduzida por um processo de simbolização, o mesmo
mecanismo que determina a cultura. Bay diz ainda que:
“Para Freud a arte teria o poder de liberar o artista de suas fantasias,
permitindo-lhe exorcizar os fantasmas interiores, canalizando-os para a obra,
num processo catártico e terapêutico. Desta maneira entendeu que o ponto
inicial de criação era a própria vida do artista, a qual determinaria a temática, o
estilo e toda forma plástica, de tal maneira que a obra poderia ser vista como
um substituto das fantasias geradas pelo seu inconsciente”(Bay, 2006, pag. 7)
Bastide (1970) vai procurar as relações da arte com as instituições sociais, inclusive
encarando-a como uma instituição social. Como sempre houve em uma determinada época um
grupo dominante, a arte do país variará segundo predomine um ou outro grupo. A arte, portanto,
é considerada pelo autor como uma manifestação que caracteriza determinado grupo, assim
como os costumes, a gíria, a vestimenta. Daí esta ligar-se intimamente aos grupos sociais
enquanto meio ou sinal de distinção.
Nota-se nesses estudos, uma preocupação aparente de cunho sociológico sobre a arte:
um jogo de forças entre a predominância ou antecedência de fatores sociais condicionantes na
arte, ou dos individuais, internos, determinantes da obra. Na medida em que os estudos se
aproximam da pós-modernidade esta preocupação vai cedendo lugar à compreensão de que os
dois fatores são indissociáveis e interagem. Que a ligação entre a arte e a sociedade é um
caminho de mão dupla, ou de múltiplas entradas, onde as duas coisas não podem ser pensadas
separadamente.
Canton (2009) chama a atenção ao destacar a importância dessa relação na hora de ler
uma obra de arte:
“Nos anos 60, já dizia o crítico brasileiro Mario Pedrosa que a “arte é o
exercício experimental da liberdade”. Acredito que é uma definição poderosa,
sobretudo se considerarmos que o conceito de liberdade depende de um
contexto para se definir. O que é considerado ato ou pensamento de liberdade
em um determinado momento histórico, pode não ser em outro. Por isso, em
se tratando de arte, é necessário prestar atenção nos sinais do tempo e em seus
significados.” (Canton, 2009, pág.11-12)
A partir dos movimentos modernistas as inter-relações entre a arte e a sociedade vão se
tornando mais complexas e visíveis. Os pintores impressionistas, por exemplo, saíram de seus
ateliês e foram às ruas para pintar as cenas do cotidiano, observando as transformações que a
luz causava nessas imagens. Os expressionistas por sua vez, horrorizados com as atrocidades da
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
111
guerra, retratam nas suas telas o sofrimento e o estado anestésico da sociedade da época. Com o
passar do tempo, os artistas começam a inserir objetos comuns nas pinturas através de colagem,
como fizeram alguns pintores cubistas como Pablo Picasso e Georges Braque.
Na pós-modernidade a relação da arte com a sociedade se torna cada vez mais explícita
e visível, podendo ser observada não só nos temas sociais tratados nos trabalhos, mas também
no material utilizado, no local onde a obra pode ser exposta (espaço público) e através das
pessoas que participam na criação ou na experiência proporcionada pela obra.
Dentro dessa vertente, temos a Pop Art, caracterizada por ser uma arte popular e
efêmera, que se destacou na década de 50. As obras da Pop Art se relacionam com a cultura de
massa, as propaganda e os meios de comunicação em geral. Entre os vários artistas, podemos
citar Andy Wharol (1928-1987), famoso por suas obras com figuras em série de Marilyn
Monroe. Ele questionava o fato de que as pessoas também tinham se tornado um produto a ser
consumido. Sobre a Pop Art, McCarthy afirma que o efeito causado por ela captava o ritmo da
vida contemporânea:
“O efeito é como zapear pelos canais de comunicação ou folhear rapidamente
as páginas de uma revista. Muita informação é dada imediatamente sem
nenhuma narrativa orientadora para ajudar a entendê-la. (...) Muitas
informações divulgadas rapidamente e com interligações sutis, complicavam
o comentário político, que nos anos da arte pop era amplamente entregue à
comunicação verbal, tal como declarações impressas, discursos e textos
engajados (muitos deles endossados pelos artistas pop). Em vez disso, os
artistas se concentravam em questões e imagens específicas altamente
carregadas, como a pena capital e a cadeira elétrica, ou o consumismo e a
marca da Coca-cola, para identificar os sinais externos desses fenômenos
complexos.” (McCARTHY, 2002, pág. 74)
Surgem a partir desse período novas técnicas de criação artística como Assemblage, que
pode ser entendida como uma colagem tridimensional para ser vista às vezes de todos os lados,
se aproximando na natureza tridimensional da escultura; e Ready Made, que teve como
precursor Marcel Duchamp no início do século XX, mas se desenvolveu com maior
expressividade a partir da década de 50. A técnica de Ready Made consiste em trabalhar com
objetos prontos, daí o seu nome (ready = pronto e made = feito), dando a eles novos olhares e
significados. Os objetos utilizados tantos no Assemblage quanto no Ready Made faziam parte
do cotidiano das pessoas comuns, buscando uma aproximação entre a arte e a vida cotidiana.
A relação entre a arte e a sociedade na pós-modernidade também se reflete no desejo
dos artistas contemporâneos em dialogar com os espaços públicos da cidade e encontra no
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
112
grafite um de seus maiores expoentes. Surgindo a partir da década de 80, a ideia do grafite vinha
acompanhada à noção de rebeldia, porém o grafite propõe, acima de tudo, uma experiência de
estética e fluidez, por ser a arte do movimento, que se modifica junto com o dia a dia da cidade.
Ao ser entrevistado por Katia Canton (2009), o arquiteto e urbanista Sérgio Leal, que realiza
uma pesquisa sobre os grafiteiros de São Paulo, comenta que:
“Os artistas grafiteiros buscam lugares reclusos, passagens invisíveis para
torna-los visíveis. (...) Acho que é um protesto belo e também uma maneira
sensível de chamar atenção. (...) Se você tiver um olhar atento, perceberá que
alguns dos desenhos que se veem em um bairro são encontrados em outros
locais da cidade. É a identidade de cada grafiteiro se espalhando e demarcando
territórios. Eu acho que isso faz parte dessa atitude do grafite, eles rodam a
cidade inteira e fazem sua arte visível para o maior número de pessoas
possível.” (CANTON, 2009, pág. 45-46)
As novas técnicas e estilos artísticos desenvolvidos na pós-modernidade dialogam com
a sociedade em todos os seus aspectos. Materiais, espaços, temas, tudo se conecta dentro do
universo artístico. Alguns artistas contemporâneos ainda vão além dessas questões ao lidar
diretamente com as pessoas na hora de criar uma obra. Esses trabalhos surgem a partir da
interação do artista com um determinado grupo de pessoas que se tornam agentes no processo
artístico, como os trabalhos dos artistas Vik Muniz e Mônica Nador.
3. MULTICULTURALISMO NO ENSINO DE ARTE
No Brasil, o ensino da arte tem contemplado pouco as questões relativas à diversidade
étnica e cultural, os diferentes modos de aprendizagem e outras características dos
diversificados grupos culturais que compõem a sociedade e a cultura brasileira. Uma das
primeiras arte-educadoras a mencionar a abordagem multicultural para o ensino das artes
visuais foi Ana Mae Barbosa. No livro A imagem no ensino da arte, publicado em 1991, eixo
fundamental da Proposta Triangular, a autora menciona uma visão multicultural para o ensino
das artes. Segundo Barbosa, a educação em arte:
“(...) deve exercer o princípio democrático de acesso à informação de todas as
classes sociais, propiciando-se na multiculturalidade brasileira uma
aproximação de códigos culturais dos diferentes grupos. (...) a ideia de
reforçar a herança artística e estética dos alunos com base em seu meio
ambiente, se não for bem concluída, pode criar guetos culturais e manter os
grupos amarrados aos códigos de sua própria cultura sem possibilitar
decodificação de outras culturas.”(BARBOSA, 1994, pag. 33)
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
113
A necessidade de se propor um enfoque multicultural na Proposta Triangular já havia sido
enfatizada por Nascimento (1996). O autor propôs um diálogo metodológico entre a Proposta
Triangular e a multiculturalidade no ensino da arte, amparado nos posicionamentos defendidos por
Bugus Fatuyl, no artigo – O ensino da arte nos países do terceiro mundo. Para Fatuyl:
“Não existe arte pela arte, ao contrário do que muitas culturas consideram. A
arte tem uma funcionalidade e um propósito. Ela é dialética e comunicativa
(...). A arte tem muitas linguagens. Como existem muitas culturas, há muitas
formas de arte que devem se relacionar reciprocamente nos programas edu-
cativos nos países de terceiro mundo (...), a arte representa os símbolos de
uma cultura, de um povo ou valores de um grupo e a forma de vida social das
comunidades.” (FATUYL, 1990, p. 159):
Entretanto, os três países que mais se preocuparam com a questão do multiculturalismo
, a partir da década de 60, foram os Estados Unidos, a Inglaterra e o Canadá, movidos pelo
intenso número imigrantes recebidos por esses países.
Ao comentar os estudos de Banks (EUA) e Walkling (ING), Richter (2005) comenta
que, nos referidos estudos, pouca atenção é dada nesses países para a questão social de classes,
considerada por ela como a maior forma de discriminação e injustiça social no Brasil. Ela
destaca ainda que, somente após o fortalecimento do movimento feminista , alguma atenção foi
dada a outros aspectos da multiculturalidade que vão além da questão racial, como as questões
de gênero, preferência sexual, necessidades especiais, entre outros.
Um apecto interessante destacado por Valente (1999) é o caráter ambíguo das relações
interétnicas no nosso país, que se caracteriza por uma realidade movediça, cheia de meios-tons
e contradições. A autora comenta ainda que as discussões multiculturais eclodem com uma
força devastadora e o Brasil pretende ser um exemplo de convivência, de miscigenação, de
mestiçagem, de assimilação e reelaboração de culturas, mas precisa enfrentar a vergonha da
desigualdade e da discriminação existente no país.
Em sua atuação como diretora do MASC/USP e nas atividades desenvolvidas, como
arte-educadora, Ana Mae Barbosa realizou diversas experiências multiculturais, destacando-se
as realizadas no período entre 1987 e 1993, no MAC/USP, denominado Estética das Massas. O
projeto consistia em trazer para o museu pelo menos uma exposição por ano sobre os códigos
estéticos das minorias. Segundo Barbosa, o projeto foi realizado “[...] contra o desejo dos
historiadores tradicionais de arte e curadores da Universidade, mas muito bem aceito pelos
antropólogos e muitos críticos de arte.” (BARBOSA, 1998, p. 81)
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
114
Valorizar os diferentes códigos, a variedade de expressão, o pluralismo de
manifestações culturais, é obrigação do arte-educador competente. A reflexão sobre qual é a
função da Arte-Educação é imprescindível, e essa está diretamente relacionada à concepção
que se tem de Arte. A partir do momento em que se trabalha com o sujeito que lê e aprende,
deve-se pensar maneiras de inseri-los no universo artístico. Isso porque este universo não é
aquele julgado como Arte Maior, mas como um universo plural e original em suas expressões.
São muitas as diferenças existentes no nosso país: questões de gênero, cor, idade, classe
social, religião. Enfim, um pluralismo extenso de culturas, que valem ser contextualizadas e
estudadas como arte e não desconsideradas do currículo. Dessa forma, o conceito de Arte pode
ser diferente de um grupo para outro. Arte relaciona-se à identidade. O valor estético que um
norte-americano dá a sua obra, certamente difere do valor estético dos indígenas, e, nem por
isso, uma produção é superior a outra. Assim, não existe leitura de obra ou aprendizagem
efetiva em Artes, se não houver uma leitura sobre o lugar, o tempo e a história deste leitor ou
aluno.
4. LIXO EXTRAORDINÁRIO E PAREDES PINTURAS: INTER-RELAÇÃO ENTRE
ARTE E VIDA
As relações entre a arte e a vida cotidiana das pessoas se torna muito mais explícita na
pós-modernidade, em especial nos trabalhos desenvolvidos pelos artistas brasileiros
contemporâneos Vik Muniz e Mônica Nador.
Vicente José de Oliveira Muniz, nascido em São Paulo em 1961, mais conhecido
como Vik Muniz, é um artista plástico brasileiro radicado em Nova York, que faz
experimentos com novas mídias e materiais. Suas obras são feitas normalmente de materiais
diversos, como lixo, açúcar, fios, arame, e xarope de chocolate, com o qual produziu uma
recriação da Última Ceia de Leonardo da Vinci. Ele fez ainda duas réplicas detalhadas da Mona
Lisa: uma feita com geleia e outra com manteiga de amendoim.
Vik preenche igualmente seu tempo com pesquisas e trabalhos midiáticos a serviço do
laboratório do MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Em seu currículo constam
exposições na Flórida, em Miami, Montreal, Nova Iorque, México, Canadá, Austrália, e no Rio
de Janeiro. O objetivo maior de Vik Muniz é alcançar também o público que não costuma ir a
galerias de arte, mas que também fica fascinado com sua obra. Esse é o maior reconhecimento
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
115
profissional que o artista poderia desejar; ele fica extasiado ao ver seu trabalho admirado por
aqueles que se encontram à margem do convívio social.
Uma de suas mais importantes séries é “Crianças de Açúcar” (1996) com a qual Vik
Muniz participou da mostra New Photography, de 1997-1998, no MOMA. Essa série retrata
filhos de trabalhadores de plantações de cana no Caribe, mostrando o paradoxo da doçura do
açúcar com o amargor de suas vidas. As obras foram feitas com vários tipos de açúcar, e depois
de fotografada, o açúcar foi colocado em potes rotulados com as fotografias originais e
expostos em diversos museus pelo mundo. Nesse trabalho fica explícita a interação do artista
com a comunidade em questão: além de fotografar as pessoas que vivem no local, ele recria as
fotografias com o mesmo material com o qual aquelas pessoas lidam diariamente.
Dentro dessa mesma perspectiva, Vik Muniz realiza um trabalho no Aterro Sanitário
Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, que em 2010 seria conhecido como o documentário “Lixo
Extraordinário”. O longa já conquistou o prêmio norte-americano de melhor documentário da
International Documentary Association, além de ter angariado a premiação máxima em sua
categoria no Festival de Berlim e receber uma indicação ao Oscar 2011 de melhor
documentário.
O filme enfoca a interação do artista com as fontes de seu trabalho, os coletores
do lixão, os quais serviram de modelos e arrecadaram o material utilizado na composição de
suas imagens. Em troca, Vik empregou dez catadores para organizar as efígies por ele
elaboradas.
Lixo Extraordinário
Pictures of garbage – Marat (Sebastião)
Vik Muniz, 2009
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
116
Ao realizar esse trabalho artístico, Vik Muniz não só chama a atenção para a questão do
acúmulo do lixo e dos problemas sociais daquela comunidade, mas também aproxima essas
pessoas do universo artístico, mudando radicalmente o modo de pensar e de agir das mesmas.
Outra artista que também enfoca essa perspectiva sobre arte e vida é a pintora,
desenhista e gravadora Mônica Nador. Nascida em Ribeirão Preto (SP) em 1955 e formada na
Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado em São Paulo, a artista
se destaca pela produção de grandes pinturas murais, em comunidades carentes, onde passa a
residir. Desenvolve pinturas em fachadas de residências, em trabalho conjunto com seus
moradores, partindo de motivos decorativos.
A artista obtém grande motivação da população, partindo da transformação da realidade
do lugar, e explorando o potencial transformador da arte, como no projeto Paredes Pinturas,
realizado em São José dos Campos, São Paulo.
Mônica Nador afirma que não é possível fazer arte sem levar as estruturas sociais em
consideração. Ela apropria-se dos padrões islâmicos, que para ela representam o choque ou o
espanto do belo e se pôs a aplicá-los de todas as formas por todos os cantos. Seu trabalho inicial
foi na parede de um hospital em Uberlândia, feito individualmente. Depois, pintou um coreto
em praça pública na Bahia com ajuda da comunidade local. Também na Bahia fez um trabalho
de pintura em uma clube em Nilo Peçanha utilizando motivos resgatados do repertório local,
como máscaras e figuras de boi, associadas ao grupo de precursão folclórico da cidade.
Projeto Paredes Pinturas
Jardim Miriam Arte Clube (SP)
Mônica Nador, 2005
No projeto “Paredes Pinturas” a artista trabalhou com a técnica do estêncil a partir de
desenhos criados por pessoas daquela comunidade. A artista busca o reconhecimento e a
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
117
valorização dos locais em que cria seus trabalhos, promovendo cursos técnicos de desenho para
os moradores e criando uma política através da beleza. Em entrevista, Mônica Nador afirma
que:
“Quando fiz o trabalho na Vila Rhodia, que consistia em levar tinta e ensinar a
técnica do desenho (estêncil) para elas pintarem seus lares, várias casas forma
pintadas utilizando o seguinte acordo cromático + motivos: flores vermelhas,
folhas verdes, miolo amarelo sobre fundo branco. Muito óbvio (simples) e
muito eficiente (bonito), pensei em como poderia ter passado despercebida
por mim, “pintora sofisticada” tal combinação. Aí as mulheres me contaram:
“É que nóis pinta pano de prato!”. Pronto: repertório de pintura de pano de
prato. Desde então fiquei com essa vontade de pintar uma parede pano de
prato num fundo branco...” (CANTON, 2009, pág. 42)
Ao trabalhar inseridos na própria comunidade, esses artistas buscam propiciar
experiências estéticas, deixando os limites entre arte e vida, tão bem delimitados nas
“belas-artes”, praticamente invisíveis. Essa aproximação com o cotidiano, característica da arte
contemporânea, é essencial para compreender as novas propostas artísticas atuais, levando a
uma reflexão sobre os valores do dia-a-dia e permitindo rever conceitos e preconceitos sobre a
comunidade na qual estamos inseridos.
5. CONCLUSÕES
A arte e a sociedade sempre estiveram relacionadas. O artista é um sujeito inserido na
sociedade que encontra em suas obras uma maneira de expor suas ideias através das imagens
que cria. Essas imagens sempre refletiram as condições sociais da época, mas de uma maneira
superficial, sendo tratadas apenas como temas.
Na pós-modernidade as coisas acontecem numa frequência e velocidade avassaladora.
As mudanças e problemas sofridos pela sociedade transformaram o modo de ser, de pensar e de
agir das pessoas. É óbvio que essa mudança interfere e sofre interferência dos artistas, até hoje
vistos como a vanguarda de uma época. Para entender a arte contemporânea é necessário
compreender que a arte, assim como todos os outros aspectos da sociedade, também sofre
mudanças.
Vik Muniz afirma que quanto mais perto estamos de algo, mais difícil é enxergá-lo,
fazendo uma comparação à arte ao afirmar que quanto mais perto no nosso tempo mais
dificuldades temos em entender. A arte pede um olhar curioso, livre de pré-conceitos, mas
repleto de atenção. Assim, afim de falar sobre as relações com a sociedade, a arte precisa ser
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
118
repleta de verdade. Precisa conter o espírito do tempo, refletir visão, pensamento, sentimentos
de pessoas, tempos e espaços. Dessa forma pode-se tornar a arte cada vez mais acessível a todas
as pessoas, proporcionando experiências estéticas, conhecimentos e visão de mundo, para um
público cada vez mais crítico e atento às mudanças ao seu redor.
O Ensino de Arte é um campo fértil para as discussões multiculturais, visto que o termo
“cultura” é usado com frequência em todos os documentos que legitimam e oficializam essa
disciplina. Contribuir para o desenvolvimento cultural do aluno é um dos objetivos do ensino de
arte, porém não fica claro como isso deve ser feito.
Fica claro que o ensino de arte é bastante mal interpretado quando comparado com as
disciplinas de cunho mais técnico. A esfera da arte ocupa um lugar distinto das disciplinas
formais do currículo fundamental. Ela habita o espaço da construção do conhecimento estético,
devendo coerentemente, analisar a produção estética existente e simultaneamente permitir uma
produção local, individual e coletiva. Tal produção só pode existir amparada pelo estudo da
produção que já existe e que representa a história e a cultura de diferentes manifestações
artísticas.
Em seu livro “A Imagem no Esino da Arte” (1994) Ana Mae Barbosa ressalta a
importância de se levar em consideração a herança artística e estética dos alunos com base em
seu ambiente. Porém ela adverte que, se não for bem conduzida, pode criar guetos culturais e
manter grupos amarrados aos códigos de sua própria cultura, impossibilitando a decodificação
de outras culturas.
Richter (2003) também fala do multiculturalismo no ensino de arte ao trabalhar com a
cultura e a arte popular. Ela comenta que é importante incluir a arte de outras culturas no
currículo escolar e acrescenta que:
“Um aspecto que considerei dos mais importantes para que a
multiculturalidade fosse tratada de forma positiva na escola foi a mudança e
ampliação do conceito de arte usualmente trabalhado na disciplina Educação
Artística, que passou a incluir a arte de outras culturas, seu contexto, não
sofrendo nenhuma hierarquização em termos de erudito e popular.”
(RICHTER, 2003, p. 87)
Portanto, podemos perceber a variedade de propostas e temas para trabalhar o
multiculturalismo através do ensino de arte no Brasil. Ao utilizar imagens artísticas as
discussões sobre esse tema podem ser enriquecidas, considerando não só as culturas do artista e
as retratadas nas obras, mas também a do próprio leitor que se relaciona com essas imagens.
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
119
A expressão artística pode ser estimulada a partir da análise da expressão do “outro”,
seja ele configurado dentro de uma obra analisada e interpretada, assim como a produção de
arte de uma tribo, dentro de um espaço informal ou até mesmo na produção artística realizada
na sala de aula. Ler uma obra de arte e deter seus códigos de interpretação supõe não só um
conhecimento intelectual, mas uma outra capacidade de ler e interpretar o mundo, através do
contato com diferentes culturas, modos distintos de dar significado estético a sensações e
emoções que a arte provoca.
Sem uma concepção clara do que é arte, sem conteúdos e objetivos definidos, os
professores acabam deixando de lado a questão cultural das obras de arte. Trabalham apenas
com a dimensão afetiva da arte. Ignoram que no homem, três dimensões estão presentes – a
afetiva, a cognitiva e a social – e devem ser consideradas no processo de ensino e
aprendizagem. (BARBOSA, 2002).
Trabalhar com obras de artistas brasileiros contemporâneos possibilita uma
aproximação entre os alunos e a arte na medidade em que os problemas e situações retratadas
estão presentes no dia-a-dia de cada um. É necessário que o aluno desenvolva um olhar crítico
também em relação à própria cultura e, a partir dela, conhecer e interpretar as demais.
Falar de Arte é falar de cultura. Utilizar a perspectiva multicultural na escola, não só é
coerente com as questões contemporâneas como pode auxiliar no desenvolvimento
cultural do aluno e contribuir para uma educação de qualidade no Brasil.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Sobre métodos de Leitura de Imagem no Ensino da Arte
Contemporânea. In: Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.
BARBOSA, Ana Mae (org). Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. 2ª edição, São Paulo,
Cortez, 2008.
_______ (org). Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo,
Cortez, 2005.
_______ (org). Arte-educação: leitura no subsolo. 4ª Edição. São Paulo: Cortez, 2002.
________. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998.
________. A imagem no ensino da arte. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1994.
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
120
BASTIDE, Roger. Arte e Sociedade.Companhia São Paulo: Editora Nacional, 1970.
BAY, Dora M. Arte & Sociedade: Pinceladas num tema insólito. In: Cadernos de pesquisa
interdisciplinar em ciências humanas – ISSN 1678-7730 - Nº 78 – Florianópolis, mar. 2006.
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte. 3º e
4º ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998.
BUORO, A. B. Olhos que pintam: a leitura de imagem e o ensino da arte. São Paulo: Educ,
FAPESP, Cortez, 2002.
BUORO, A. B.; KOK, B.; ATIHÉ, E. A. Coleção O Leitor de Imagens – De todos um pouco.
São Paulo, Instituto Arte na Escola, Companhia Editora Nacional, 2007.
CANCLINI, Néstor Garcia; ANDRADE, Gênese. Ana Regina Lessa, Heloísa Pezza Cintrão
(trad.). Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4ª Edição, São
Paulo, EDUSP, 2011.
CANDAU, Vera Maria F. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre
igualdade e diferença. In: Revista Brasileira de Educação, v:13, nº37, pág 45-56, jan./abr.
2008.
CANTON, Kátia. Coleção Temas da Arte Contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2009
CHALMERS, Graham. Seis anos depois de celebrando o pluralismo: transculturas visuais,
educação e multiculturalismo crítico. In: BARBOSA, Ana Mae. (Org.) Arte/educação
contemporânea: consonâncias internacionais. São paulo: Cortez, 2005
DaMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 7ª Edição, Rio de Janeiro, Rocco, 1994.
FATUYL, R. B. O ensino da arte nos países do terceiro mundo. In: BARBOSA, A. M. (Org.). O
ensino da arte e sua história. São Paulo: MAC/USP, 1990.
FERRAZ, Maria Heloísa C. de T.; FUSARI, Maria F. de Rezende. Arte na educação escolar.
São Paulo: Cortez, 2009.
______. Metodologia do Ensino de Arte. Coleção Magistério. 2º grau. Série formação do
professor. 2ª Edição, São Paulo, Cortez, 1999
FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. S/d. São Paulo: Imago/Z - Movie Studio. DC-ROM.
HALL, Stuart. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Lobo (trad.). A Identidade Cultural na
Pós Modernidade. 11ª Edição, Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
IAVELBERG, R. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto
Alegre: Artmed, 2003.
ARTE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: O ENSINO DE ARTE CONTEMPORÂNEA SOB UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL –
ANDRE, Bianka Pires; MELO, Amanda Cristina Figueira Bastos de.
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014,
ISSN 2316-266X, n.3, v. 19, p. 106-120
121
LA PASTINA, Camilla Carpanezzi. Reflexões sobre desenho escolar e cultura. In: Dinâmicas
Epistemológicas em Artes Visuais : Anais do 16° Encontro Nacional da ANPAP. Sandra Regina
Ramalho e Oliveira ; Sandra Makowiecky. (Org.). Florianópolis: ANPAP, UDESC, Clicdata
Multimídia, 2007. I CD ROM. ISBN 85-98958-04-2
LÉVY, Pierre. Luiz Paulo Rouanet (trad.) A inteligência coletiva: Por uma antropologia do
ciberespaço. 7ª Edição, São Paulo: Loyola, 2011.
MARTINS, Mirian Celeste. PICOSQUE, Gisa. GUERRA, M. Terezinha Telles. Teoria e
Prática do Ensino de Arte: a língua do mundo. Volume único, livro do aluno – São Paulo, FTD,
2009.
MARX, K. ENGELS, F. Sobre Literatura e Arte. São Paulo: Parma, 1979.
McCARTHY, David. Otacílio Nunes (trad.). Pop Art. São Paulo: Cosac Naif, 2002.
NASCIMENTO, Erivaldo Alves. Perspectivas multiculturais na Proposta Triangular. In: Arte
& Educação em Revista, Porto Alegre, n. 3, p. 7-11, jul./dez. 1996.
OSINSKI, Dulce. Arte, história e ensino – uma trajetória. 2ª Edição, São Paulo, Cortez, 2002.
RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e Estética do Cotidiano no Ensino das Artes
Visuais. São Paulo, Mercado de Letras, 2003.
______. Multiculturalidade no Ensino da Arte e sua Influência na Leitura dos Códigos
Estéticos. In: A Compreensão e o Prazer da Arte. Anais. São Paulo: SESC Vila Mariana, 4º
encontro,1998, p. 12-17.
VALENTE, A. L. Educação e diversidade cultural: um desafio da atualidade. São Paulo:
Moderna, 1999.
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: Da cultura das mídias à cibercultura.
2ª Edição, São Paulo, Paulus, 2003.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994
WILSON, Brent; WILSON, Marjorie. (1982). Uma visão iconoclasta das fontes de imagem nos
desenhos de criança. In: BARBOSA, A M. Arte-educação: leitura no subsolo. 4ª Edição. São
Paulo: Cortez, 2002.
Recommended