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levantamento arquitectónica do centro histórico da cidade de Loulé, os elementos que o compõem e os métodos para a sua preservação, valorização e reabilitação.
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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
Pedro Ricardo Alagoinha do Nascimento
Orientador
Prof. Doutor Arquitecto Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro
Dissertação para obtenção de Grau de Mestre
Lisboa 2010
I
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
Pedro Ricardo Alagoinha do Nascimento
Orientador
Prof. Doutor Arquitecto Nuno Rui da Fonseca Santos Pinheiro
Dissertação para obtenção de Grau de Mestre
Lisboa 2010
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITECTURA
II
Agradecimentos
Venho por este meio agradecer a todos os envolvidos, directa ou indirectamente,
pela ajuda na realização deste trabalho.
Agradeço desde já aos meus professores e orientadores, Prof. Doutor Arq. Nuno
Santos Pinheiro e Mestra Arq. Fátima Lino, em primeiro lugar pelos conhecimentos e
interesse transmitidos durante todo o ano lectivo e também por terem aceite orientação
desta dissertação de mestrado.
Agradeço também à disponibilidade por parte da Câmara Municipal de Loulé na
cedência e pesquisa de informação fundamental para a realização deste trabalho.
Em último mas não menos importante, agradeço à minha família e amigos por todo
o apoio, que embora indirecto no desenvolvimento do trabalho, foi essencial na
estabilidade que me proporcionaram.
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III
INDICE:
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
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IV
RESUMO…………………………………………………………………………………VI
ABSTRACT…….………………………………………………………………………. VII
PALAVRAS-CHAVE …………………………………………………………………..VIII
INTRODUÇÃO ...………………………………………………………………………… 9
1. CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO ..……………………………………12
1.1- O TERRITÓRIO ……………………………………………………………13
1.2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA …………………………………………………17
1.2.1- A Pré-História ……………………………………………………..17
1.2.2- Romanos …………………………………………………………...17
1.2.3- Muçulmanos ……………………………………………………….18
1.2.4- Dos Cristãos à Cidade Moderna …………………………………20
2. O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO NA ACTUALIDADE .…………………..33
2.1- IMÓVEIS CLASSIFICADOS OU A CLASSIFICAR ……………. ……...35
2.1.1- Imóveis Classificados Pelo IPPAR ……………………………….35
2.1.2- Imóveis de Interesse Público ……………………………………..40
2.1.3- Imóveis de Interesse do Concelhio a Classificar pela CML…….41
2.2- PERIMETRO HISTÓRICO …..……………………………………………49
2.3- CARACTERISTICAS DA MALHA URBANA
E DO SEU EDIFICADO………..………………………………………...…51
3- CARACTERISTICAS ARQUITECTÓNICAS ………..............................................60
3.1-FUNDAÇÕES ………………………………………………………………..61
3.2- PAREDES MESTRAS…................................................................................65
3.2.1- Paredes em Alvenaria de Pedra ………………….………...…….66
3.2.2- Paredes em Alvenaria de Tijolo Maciço …………………………75
3.2.3- Paredes em Taipa …………………………………………………76
3.2.4- Paredes em Adobe ………………………………………………...78
3.3- PAREDES DE COMPARTIMENTAÇÃO ………………………………...79
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V
3.4- PAVIMENTOS………………………………………………………………81
3.4.1- Pavimentos em Madeira ………………………………………….82
3.4.2- Pavimentos em Alvenaria, Tijolos e Mistos ……………………..86
3.5- COBERTURAS……………………………………………………………...90
3.5.1- Coberturas Inclinadas …………………………………………….90
3.5.2- Coberturas Planas ………………………………………………...97
3.6- FACHADAS………………………………………………………………….99
3.6.1- Revestimentos ……………………………………………………..99
3.6.2- Elementos da Fachada …………………………………………..103
4. PROJECTO DE REABILITAÇÃO …………………….…………………………..111
4.1- ESTUDO DO EDIFÍCIO. …………………………………………………112
4.1.1- O Lugar e a sua História ………………………………………...113
4.1.2- O Edifício …………………………………………………………113
4.1.3- Sistema Construtivo ……………………………………………..114
4.1.4- Fachada …………………………………………………………..117
4.1.5- Patologias ………………………………………………………...118
4.2- A REABILITAÇÃO ……………………………………………………….121
4.2.1-A Função ………………………………………………………….121
4.2.2- O Projecto ………………………………………………………..122
CONCLUSÃO…………………………………………………………………………..127
BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………………..130
LISTA DE ABREVIATURAS …………………………………………………………135
INDICE GRÁFICO ……………………………………………………………..............136
ANEXOS………………………………………………………………………………...146
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
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VI
RESUMO
Loulé é uma cidade antiga com um vasto leque de acontecimentos que
influenciaram e definiram a História da cidade. Com o território ocupado desde a pré-
história com povos nómadas, Loulé apenas se tornou um povoado com a evolução de um
eixo viário Romano aí existente.
Testemunhando a passagem de vários povos, Loulé teve como primeira
denominação conhecida, Al-Ulyã. Nome dado pelos Muçulmanos que ai se instalaram e
construíram as bases da urbe actual, como a sua Almedina, a Alcáçova e posteriormente o
perímetro amuralhado.
Em 1249 a cidade foi tomada pelos Cristãos que aproveitaram a antiga urbe e as
construções muçulmanas, fixando-se e evoluindo-a até aos nossos dias.
A longa evolução desde o simples eixo viário romano até à actual cidade de Loulé
do século XXI deixou um vasto e rico Património arquitectónico, composto tanto por
construções monumentais, como por todo o conjunto urbano habitacional popular que
compõem o Centro Histórico Louletano. Este testemunho vivo da história foi-nos herdado
por gerações passadas sendo nosso dever respeitá-lo, salvaguardando-o, reabilitando-o e
valorizando-o para as gerações vindouras.
De modo a preservar o Património Arquitectónico louletano, com toda a sua
autenticidade e veracidade é necessário preservar tanto os monumentos como a sua
arquitectura habitacional tradicional, composta por todas as construções antigas, desde os
nobres solares às simples habitações rurais populares.
A intervenção no Património implica um vasto conhecimento da sua história, das
técnicas construtivas e dos materiais aplicados na sua construção. Só assim é possível
realizar intervenções de conservação, restauro ou reabilitação que não prejudiquem mas
sim valorizem o conjunto Patrimonial Arquitectónico. Sendo para isso também necessária
a qualidade das intervenções escolhidas para que criem uma vitalização urbanística da urbe
medieval, tornando os Centros Históricos locais de interesse e moldados ás necessidades
da sociedade do século XXI.
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
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VII
ABSTRACT
Loulé is an ancient city with a wide range of events that influenced and defined the
city’s history. With the territory occupied since prehistoric times with nomadic
civilisations, Loulé only became a town with the development of an existing Roman road
axis.
Witnessing the passage of several civilisations, Loulé was known with its first
name, Al-ulyã. Named by Muslims, who have settled there and built the foundations of the
existing town today, its Almedina, Alcaçova and later, the defensive walled perimeter.
In 1249 the city was taken by the Christians who took the old Muslim town and buildings,
standing and evolving it until today.
The long evolution from simple Roman road axis to the present twenty-first century
town of Loulé has left a vast and rich architectural heritage made up of monumental
buildings and all of the popular urban housing composing the Center Historic of Loulé.
This living witness of history has been inherited to us by previous generations, so is our
duty to respect it, by preserving it, restoring it and exploiting it for future generations.
In order to preserve Loulé`s architectural heritage, with all its authenticity and
veracity we must preserve all the monuments as its traditional residential architecture,
consisting in all the old buildings, from the noble solar to the popular simple rural
dwellings.
Intervention in Architectural Heritage implies a broad knowledge of its history,
construction techniques and the applied materials in its construction. Only then, it would
be interventions of conservation, restoration or rehabilitation that do not undermine but
rather increase the value of the Architectural Heritage. And to do it, its also need, to
increas the quality of the chosen interventions, creating an medieval urban revitalization,
making the historic centers more atractive and molded to the needs of the XXI century
society.
ARQUITECTURA TRADICIONAL EM LOULÉ
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VIII
PALAVRAS-CHAVE:
Loulé
Centro Histórico
Património
Arquitectura
Tradicional
Restauro
Reabilitação
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9
INTRODUÇÃO
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10
Este trabalho incide sobre o estudo da área central da cidade de Loulé,
simbolizando a sua zona de formação e expansão mais antiga, ou seja o seu Centro
Histórico. Este representa o conjunto de factores sociais, culturais, económicos e
geográficos que conduziram a evolução da cidade e a cultura do povo que a habita até à
actualidade.
O trabalho tem como principais objectivos conhecer o património arquitectónico
edificado no seu todo, adquirindo conhecimentos que permitam a sua melhor salvaguarda,
reabilitação e valorização. Património Louletano que representa um valiosíssimo legado
existente da sua História estando estreitamente interligado com a evolução da cidade e do
seu povo.
Deste modo foi necessário ter conhecimento das suas dinâmicas de transformação
ao longo de um processo iniciado na pré-história passando por inúmeras culturas, das quais
se destacaram a Romana e a Muçulmana culminando na reconquista Cristã. Todos estes
povos deixaram inúmeras influências e costumes que no seu conjunto formaram a actual
cidade e a sua cultura.
É também feito o levantamento dos perímetros históricos da cidade, assim como
todo o seu património arquitectónico existente, incluindo os monumentos classificados ou
por classificar, assim como toda a malha urbana que compõe o conjunto arquitectónico
habitacional tradicional existente até á primeira metade do séc. XX, sendo a construção em
betão armado excluída por a compreender como uma técnica e material moderno, que
marcou uma importante mudança na arquitectura global.
Analisado o sítio e conhecido o seu património, é apresentado um levantamento
mais pormenorizado do seu edificado, abordando as características arquitectónicas
tradicionais, assim como os materiais e as técnicas utilizadas pelo Homem no passado na
sua construção. São também abordados os elementos decorativos, como a platibanda, os
socos ou a cornija. que compõem e contribuem para a composição dos vários estilos
estudados, estes evoluíram conjuntamente com o desenvolvimento da arquitectura
tradicional da cidade de Loulé.
De modo a conhecer e contribuir para a preservação, reabilitação e valorização do
património construído Louletano são também analisadas as principais patologias que
ameaçam o edificado antigo, assim como é feito um levantamento de possíveis
intervenções de reabilitação que preservam e reabilitam as construções lesadas sem que
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11
com isso se ponha em causa a sua autenticidade ou veracidade garantindo assim a
valorização tanto do edificado como da imagem urbana em geral.
Para finalizar, apresento um projecto académico de reabilitação urbana, onde
pretendo exemplificar uma possível intervenção que não só recupera e requalifica o
edifício, como revitaliza a sua zona envolvente, representando assim uma mais valia para a
recuperação, reabilitação e valorização do Centro Histórico de Loulé.
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1. CONTEXO HISTÓRICO E GEOGRAFICO
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1.1- O TERRITÓRIO
O território da cidade de Loulé evolui ao longo do tempo, sendo nos dias de hoje, o
resultado da fisionomia do terreno e de um somatório de influências sociais, culturas e
económicas, que moldaram a cultura e o território da cidade actual, sendo o seu núcleo
medieval única semelhança da urbe medieval na altura do seu foral de 1266.
O concelho de Loulé destaca-se como sendo o território central algarvio, sendo
neste que se separa o Sotavento (Oeste) e o Barlavento (Este). O concelho tem uma área de
765,31 km2 que atravessando o Algarve desde o Oceano Atlântico até à Serra do Caldeirão
Alentejano e está delimitado por os concelhos de Albufeira e Silves a poente, de Alcoutim
e Tavira a nascente, de Faro a este e sudeste e pelo concelho de Almodôvar a norte.
A sul tem uma extensão de 15km de litoral, que vai do Ludo à Ribeira de Quarteira
marcada por zonas pantanosas de águas salgadas da Ria Formosa. A partir da Quinta do
Lago as praias são marcadas por suaves arribas que se estendem por Vale do Lobo até às
areais planas de Quarteira e Vilamoura. Para Norte acompanha a crescente irregularidade
do terreno, passando por Boliqueime e Alte até á serra, marcada por cerros elevados e
vales profundos das Águas Frias e do Malhão até ao Ameixial e à Ribeira do Vascão onde
volta a descer perdendo altitude e a irregularidade do terreno passando pelo Barranco do
Velho, Querença e Loulé até ás planícies que marcam a zona litoral do concelho.
O concelho de Loulé, assim como grande parte da região do Algarve, é subdividido,
horizontalmente, por três zonas com paisagens muito distintas divergindo a nível geológico
e climático, logo na sua fauna, flora e consequentemente na cultura das populações que as
habitam, conferindo-lhes assim diferentes riquezas que vão muito para além dos tipos de
paisagens.
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Ilustração 1- O Algarve dividido por concelhos e sub-regiões.
Estas três zonas dividem-se pelo Litoral, o Barrocal e a Serra:
O Litoral é a zona mais a sul do concelho representa 12% da sua superfície e
apresenta uma largura que varia entre os 5 e os 15 km, tendo como limites, o Oceano
Atlântico e a norte, sensivelmente, a antiga estrada do litoral (N125). Esta zona é marcada
pelo terreno de cotas altimétricas baixas e a paisagem influenciada pela proximidade com o
Oceano Atlântico que dão origem a alguns pântanos salgados. O seu terreno é plano ou
pouco acidentado com camadas de terreno terciário, predominando os aluviões e areias. Os
terrenos, á excepção naturalmente das dunas, onde as areias salgadas impossibilitam a
prática da agricultura, eram geralmente bem cultivados.
Actualmente, a pesca e, principalmente, a agricultura deram lugar à indústria do
turismo, onde a explosão dos anos 60 marcou o seu terreno, abundando habitações e infra-
estruturas de lazer, como os 36 campos de golfe presentes na região Algarvia.
A sua flora, apesar de pontualmente ser idêntica à do barrocal, é marcada
predominantemente pelo pinheiro, que se desenvolve nos seus terrenos arenosos e
sílicosos, sendo que a rica diversidade botânica se encontra principalmente na zona do
barrocal e da serra.
O Barrocal representando 37% da superfície do concelho é a zona que divide o
litoral da serra, sendo sensivelmente limitada, a sul, pela antiga estrada do litoral e estende-
se a norte até ás zonas de Alte, Salir e Querença. Esta zona faz a transição do terreno plano
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15
do litoral para o terreno abrupto da serra, sendo marcado pelo terreno ondulado de
pequenos cerros e vales dominados pela agricultura.
Esta zona é constituída por terreno de rocha e argila, formando camadas de terreno
calcário, com algum mármore, grés vermelho e rochas eruptivas, mais ou menos
balsâmicas.
O Barrocal é a zona onde predomina o comércio, a industria e a agricultura, que se
desenvolve com mais espontaneidade, encontrando-se aqui uma grande fatia da riqueza
botânica que marca a imagem algarvia. Imagem, essa, marcada pela Oliveira, a Figueira, a
cada vez mais rara, vinha que se foi parcialmente perdendo com o passar do tempo, a
Alfarrobeira, a Amendoeira, o Pinheiro, o Loureiro, o Limoeiro e a Laranjeira.
Por fim, na zona mais a norte do concelho de Loulé, temos a Serra. Aqui a
paisagem sinuosa diverge abruptamente das paisagens suaves encontradas mais a sul.
O terreno é marcado pelas grandes cadeias de montanhas, de rocha xistosa e de
cumes graníticos que formam a Serra do Caldeirão. A cobertura vegetal é dominada pela
predominância de Sobreiros, Azinheiros, Carvalho-cerquinho e Medronheiros.
A serra, que constitui grande parte do território do concelho de Loulé representando
cerca de 37% da superfície do concelho, é marcada como no restante território nacional,
pela desertificação devida à emigração para o litoral, sendo cada vez mais um local
desabitado. Esta tendência, apesar de insuficientemente, já é contrariada pela tentativa de
cativar as pessoas para as riquezas da serra, em grande parte através da exploração do
turismo rural.
O Clima
“ …conclui-se que o clima, na parte central
desta província, é muito mais suave do que
noutras regiões, e muito especialmente neste
concelho, onde as serras, na parte norte, de
Alte, Salir, Ameixial e Querença, oferecem
maior barreira aos ventos do norte e porque
a predominância dos ventos do mar, ao sul
deste concelho, a certas horas do dia, exerce
notável influencia, suavizando grandemente
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a temperatura, tanto de verão como no
inverno. …”.1
Devido á proximidade com o Oceano Atlântico a sul e com a Serra a norte o clima
do concelho de Loulé é temperado e de características Mediterrânicas. O maciço Caldeirão,
a Norte, fornece uma barreira natural que protege o concelho dos ventos frios do norte e
noroeste e o Atlântico a sul, estabiliza a temperatura conferindo assim ao concelho
temperaturas amenas e Invernos e Verões suaves.
Mas o clima muda substancialmente do Litoral para a serra, principalmente na
precipitação, onde se nota as maiores diferenças.
A forte relação entre a precipitação e a altitude determina a Serra como sendo a
zona de maiores valores de precipitação, atingindo valores anuais que vão dos 700mm a
1000mm como já se verificou no Barranco do Velho. Por sua vez o Litoral apresenta
valores com descem a menos de metade dos da Serra, apresentando valores anuais que
rondam os 400mm.
A temperatura do ar é principalmente condicionada pela latitude, relevo e pela sua
distância em relação ao Mar. Deste modo é no Litoral onde encontramos a temperatura
mais estável e amena ao longo do ano. Comparando, Quarteira sendo a zona mais a sul, e o
Ameixial, como a zona mais a norte, nota-se uma quase idêntica temperatura média anual,
onde a Quarteira apresenta valores de 17,1ºC e o Ameixial 16,9, por sua vez os valores da
amplitude térmica já apresentam uma diferença mais acentuada, sendo Quarteira a mais
estável com o valor de 11ºC e o Ameixial a mais variável com 14,8ºC.
1 OLIVEIRA, Ataíde, 1905, Monografia do Concelho de Loulé, 3ª Edição, Algarve em Foco Editora, pp18.
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1.2- EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1.2.1- A Pré-História
O concelho de Loulé contém vestígios da presença humana que remontam do início
do período Paleolítico, os quais vêm coexistindo com as seguintes civilizações até à
actualidade.
O território foi ocupado pelos povos nómadas que exploravam os recursos naturais
como a sua fauna e flora e acolheu posteriormente os neolíticos que criaram primitivas
formas de grupos sociais que advieram com a sedentarização.
Os primeiros aglomerados civilizacionais surgiram, provavelmente, em cerca de
4000 a.C. com a cultura megalítica, criando ao longo dos anos seguintes contactos com os
povos do norte e do levante por via terrestre e marítima.
É a cerca de 1000 a.C. que surgem os primeiros registos da presença sedentária do
homem, isto deve-se à crescente cultura castreja2 e ao domínio tecnológico do ferro que
deixaram os primeiros vestígios na Rocha da Pena a poente de Salir.
Entre 1000 a.C. e 400 a.C. é provável que tenham surgido as primeiras colónias na
costa Algarvia, colónias estas dos povos Fenícios, Cartagineses, e dos Gregos que
começaram a instalar-se em Porto Hannibal (Portimão) e Carteia (Quarteira).
1.2.2- Romanos
A partir do séc. II a.C. dá-se a Romanização do sul de Portugal, originando
consequentemente intervenções no território de Loulé. Estes desenvolveram as industrias
ligadas à produção de preparados de peixe e estruturas ligadas à agricultura, assim como o
território, através da consolidação de pré-existências e pela definição de novos
aglomerados urbanos, criando vilas, pontes e vias que faziam as ligações terrestres entre
2“… Castreja, significado: adj. Referente a castro. Castro: lugar fortificado das épocas pré-romana e romana, na Península Ibérica, que era um povoado permanente ou apenas refúgio das populações circunvizinhas em caso de perigo.
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estes. Foi neste período que se definiu a matriz que organizou a estrutura das actuais
localizações dos lugares e da cultura cívica protocristã.
Os Romanos deixaram até aos nossos dias um total de vinte e oito núcleos de
vestígios arqueológicos que marcam a sua intensa presença no concelho de Loulé3. Apesar
disso, existe muito pouca e insegura informação sobre a presença Romana na urbe
Louletana, sendo por isso difícil de definir a importância do espaço citadino para os
Romanos, porém era nesta zona que se ligavam dois importantes percursos viários
Romanos, com direcções Este e oeste, actualmente ligando S. Brás de Alportel, Loulé e
Boliqueime e Norte e Sul, ligando Salir, Loulé e Estói. Existe também achados junto a esse
cruzamento viário, de edificações Romanas que podem sustentar a hipótese viável de um
cenário urbano.
O Império Romano dominou a região até ao séc. V d.C., existindo ainda no séc. III
e IV centros fabris Romanos, em plena funcionalidade4. Este século marcou a definitiva
decadência e, consequentemente, queda do império, passando a partir do ano 465 o
domínio do Algarve apenas para os Visigodos.
Os povos Germanos não influenciaram as culturas pré-existentes, adaptando-se ás
intervenções já existentes, e gradualmente ás culturas autóctones5, aproveitando os modos
de vida e a cultura deixada pelos Romanos.
1.2.3- Muçulmanos
Foi a partir de 711 que começaram as invasões Muçulmanas, conquistando o
Litoral algarvio em 713 e a Península ibérica em 716. Estes dominaram o território do
actual concelho de Loulé até ao séc. XIII, data da reconquista cristã. Os Muçulmanos,
assim como os Romanos, influenciam de grande forma, a cultura e o território pré-
existentes.
A islamização marcou fortemente a sua presença em vários pontos do actual
concelho de Loulé como por exemplo Vilamoura, Quinta do Lago, Salir, etc. Os
Muçulmanos influenciaram a cultura pré-existente de forma muito significativa,
3 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 38. 4 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 39. 5 “… autóctones, significado: nascidos na própria terra em que habita: aborígene; indígena.
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reformando a língua e as culturas locais. Estes introduziram novas conhecimentos técnicos
como por exemplo, a nível da agricultura e da construção.
É neste período que nasce o centro urbano, amuralhado, designado por Al-`Ulyã,
destacando-se como um dos principais centros urbanos do Algarve Islâmico com cerca de
5 ha de área amuralhada, competindo directamente com outras urbes como Faro, Silves e
Tavira que tinham sensivelmente 7 ha de área intramuros6.
Como era normal no mundo Islâmico a cidade era composta pela sua Alcáçova e a
Almedina.
A Alcáçova necessitava de estar estrategicamente posicionada dentro das muralhas,
situando-se na zona da actual alcaidaria do castelo, esta servia de último refúgio militar e
era residência dos mais altos responsáveis.
A Almedina era toda a zona envolvida por muralhas. Aqui habitava a população
residente, como comerciantes e artesãos e recolhiam á noite a população que laborava
extramuros. A Almedina era também a zona onde se situava a Mesquita, esta encontrava-se
no actual sítio da Igreja Matriz de S. Clemente.
Os Muçulmanos construíram as muralhas aproveitando as pré-existentes vias
Romanas, criando no eixo Norte – Sul as principais portas do casco urbano, a Porta da
Vila, a norte e a Porta de Faro, a sul. O eixo Este – Oeste foi deixado extramuros, a norte
das muralhas, surgindo consequentemente um eixo intramuros que ligava a Porta do Sol a
nascente e a Porta de Silves a Poente.
A data da construção das muralhas não é conhecida, existindo hipótese de esta ter
sido erguida em meados da segunda metade do séc. XII e princípios do séc. XIII durante a
época de instabilidade politica e militar que se abatia sobre o mundo Islâmico7.
6 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 63. 7SERRA, Manuel Pedro, 1999 – Loulé: História e Expansão Urbana, Loulé: Museu Municipal de Loulé,
Câmara Municipal de Loulé, pp. 4.
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1.2.4- Dos Cristãos à Urbe Moderna
No séc. XIII a região é reconquistada pelos Cristãos, sendo a conquista da cidade de
Loulé em 1249, pouco dias a seguir à conquista da sua vizinha cidade de Faro.
“… não passaram muito dias depois da
tomada de Faro, quando el-rei logo mandou
aparelhar suas gentes para ir sobre Loulé,
que estava daí duas léguas adentro, pelo
sertão.
Os Mouros desta vila já antes sabiam
que el-rei estava sobre Faro e bem
suspeitaram que, depois que a tomasse,
havia de ir também sobre eles, pois os tinha
tão perto (…) e não durou muito seu
esforço; e a vila foi entrada sem
enfadamento de cerco e eles postos à mercê
d`el-rei, que deles a houve como os de Faro.
Tomou Loulé em dia de S. Clemente,
cuja invocação é uã só freguesia que agora
tem …”8.
Os Cristãos aproveitaram as óbvias vantagens do núcleo urbano existente. Esta
situava-se num outeiro com óptimas características estratégicas e já providenciada de
equipamentos militares e religiosos. A urbe Al-Ulyã rapidamente se transformou na vila
medieval de Loulé, aproveitando-se as linhas estruturantes e o edificado muçulmano.
8 “Corografia do Reino do Algarve (1577), Frei João de São José”, Duas Descrições do Algarve do século XVI, 1983, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, p.96. in. CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 69.
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Ilustração 2 – Urbe Medieval de Loulé, até ao século XIV .
O interior das muralhas continuou a ser o centro político, militar e religioso sendo
gradualmente modificado. Um dos primeiros marcos da cristianização foi a construção da
igreja de estilo gótico mendicante, a Matriz de S. Clemente, mandada construir aos
dominicanos em 1251, por ordem de D. João Viegas, Arcebispo de Braga9 no local onde se
encontrava a antiga mesquita Islâmica.
Os limites da vila medieval da época da reconquista cristã, apesar de parcialmente
destruídos pelo terramoto de 1755 e por sucessivos ataques urbanísticos por parte da
ignorância do homem, é ainda hoje possível de identificar. O perímetro amuralhado teria
sensivelmente uma área de 940 m e com a forma de um rectângulo mal formado10.
A sul o plano das muralhas estendia-se paralelo á antiga Rua da Corredoura,
actualmente designada de Rua Duarte Pacheco. É neste troço que se situa a bem
preservada, torre de taipa, actualmente apelidada de Torre da Vela. Este é o único
testemunho construído da muralha Muçulmana. É também neste plano que se encontra a
original e a posteriormente aberta, Porta de Faro junto à Nossa Senhora do Pilar. A actual
porta foi posteriormente aberta por necessidade espacial, encontrando-se a uma distância
9 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 76. 10 CARRUSCA, Susana, 2001, Loulé, O Património Artístico, Loulé: Câmara Municipal de Loulé, pp. 71.
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de pouco metros da original. A descoberta da porta original foi feita pela Direcção-Geral
dos Edifícios e Monumentos no decorrer de trabalhos de restauro executados na muralha.
A Poente a muralha era delimitada pelo antigo Rossio e pela Horta d`el Rei, é neste pano
de muralhas que se encontra a zona do jardim dos Amuados que se ergue sobre a ainda
existente muralha e no fim da frente Poente encontra-se o Castelo. Neste troço estava
situada a Porta de Silves e no interior do Castelo a Porta da Traição.
A Nascente o perímetro da muralha era definido pela actual Rua Ataíde Oliveira e
pela Rua 1º de Dezembro. Neste pano encontrava-se a porta do Sol e no séc. XVII ergueu-
se a Ermida de Nossa Senhora do Carmo, actualmente destruída.
Por fim a Norte, o perímetro das muralhas era delimitado paralelamente á actual
Praça da República e prolongava-se desde o Castelo até a actual Avenida Marçal Pacheco.
Este troço foi marcado por duas entradas, a Porta da Vila, a mais antiga, onde
posteriormente se edificou a Ermida de Nossa da Conceição e por volta do séc. XVI foi
aberto um postigo que corresponde ao actual arco anexo á torre do Relógio. Deste plano de
muralha é ainda hoje visível uma pequena parte que se estende entre o edifício dos Paços
do Concelho e o Convento Espírito Santo.
Por volta do séc. XIV notava-se já um crescimento urbano organizado,
apresentando diferentes sectores de construção que organizavam o espaço em torno do
castelo.
A Sul ficava a Mouraria, esta era a zona a sul da Porta de Faro onde foram
remetidos os mouros forros. Esta era uma zona desprotegida das ondas de ataques vindos
do mar.
A Nascente situava-se uma zona de cultivo e o Convento de são Francisco, de estilo
gótico, construído em 1328, sendo mais tarde apelidado de Convento da Graça e
irremediavelmente destruído no terramoto de 1755.
A Poente encontrava-se uma zona não edificável, o Rossio e Horta do Rei. Esta
zona foi usada para a realização de uma feira única em todo o Algarve, que se realizava
durante 15 dias do mês de Setembro. Esta feira foi ordenada por D. Dinis11 em 1291 para
tentar combater a fase negativa que adveio com a conquista cristã e consequentemente com
a interrupção do ciclo de comércio dos muçulmanos.
11 “… D. Dinis de Portugal: (1261 – 1325), foi o sexto rei de Portugal. Filho de D. Afonso III e da infanta Beatriz de Castela, neto de Afonso X de Castela, foi aclamado em Lisboa em 1279.
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A Norte situava-se a zona de aglomeração e expansão residencial de preferência,
pois esta era uma zona protegida e próxima do eixo Este – Oeste Romano, onde se situava
a Praça de Fora, a actual Praça da República. Esta Praça juntamente com a rua intramuros
que ligava a Porta da Vila e a Porta de Faro, desempenhavam um papel de destaque na
vivência da população, sendo nestes espaços que se realizavam os vários acontecimentos
públicos.
Desde a conquista aos muçulmanos, que fez com que se interrompessem as trocas
comerciais com a Andaluzia e o norte de África, a situação económica da urbe havia
piorado, o ambiente vivido não era animador e a população começou a abandonar a Vila.
Para contrariar a crescente estagnação e isolamento que se abateu sobre Loulé até aos
finais do séc. XIV foram criadas alguns incentivos. As soluções conhecidas passaram pela
criação da feira, na Horta D`el Rei e também pela criação de privilégios especiais a quem
habitasse no interior das muralhas12.
A zona intramuros foi até ao séc. XVI o principal espaço urbanístico e comercial,
existindo já na altura alguns topónimos de ruas da cidade actual.
A vila era organizada a partir da rua que unia o Largo da Matriz à Alcaidaria, rua
Martim Farto, partindo desta um conjunto de artérias que ligavam os principais serviços
públicos da urbe, como o edifício da Vereação, a cadeia, e as portas do Castelo. A Rua de
Martim Farto, que ligava a Alcaidaria à Igreja Matriz e a Rua da Cadeia que seguia da
Matriz para a porta do alto da Praça, estas eram as ruas já sedimentadas e mais
importantes.
Extra muros já existiam também sedimentados topónimos de ruas como a Rua do
Poço e a Rua do Outeiro.
Com os Descobrimentos toda a região do Algarve, nomeadamente Loulé iniciou um
novo período de prosperidade económica e social. Isto em grande parte devido á
reanimação da actividade comercial onde Loulé ocupou um lugar de destaque na
exportação do vinho, azeite, fruta seca e artesanal, sal e peixe. O desenvolvimento
comercial trouxe consigo um grande crescimento económico, permitindo que se
12 SERRA, Manuel Pedro, 1999 – Loulé: História e Expansão Urbana, Loulé: Museu Municipal de Loulé,
Câmara Municipal de Loulé, pp. 5.
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realizassem inúmeras obras de recuperação e de construção de espaços públicos e de novos
equipamentos.
Nesta época de apogeu económico contam como principais obras: a Nossa Senhora
dos Pobres edificada em 1400, a reedificação das muralhas do Castelo por D. Henrique de
Meneses13 em 1422 e em 1471 a antiga albergaria foi transformada em Hospital do
Algarve, por ordem de D. Afonso V14, para receber os feridos de guerra vindos de Tânger.
A nível urbanístico deu-se também um grade marco histórico, sendo nesta altura
que se organizou o espaço habitacional a norte do recinto amuralhado, nomeadamente a
Rua do Poço, a Rua da Laranjeira e a Rua do Alto de S. Domingos onde é provável ter
existido a Ermida de S. Domingos15. Na zona poente foi construída a ermida de S.
Sebastião e já fora da vila, cerca de meia légua (3300m), foi feita a ermida de Nossa
Senhora da Piedade.
Apesar do desenvolvimento da zona norte do aglomerado, o período entre os finais
13 D. Henrique de Meneses: (1450 - 1480), foi um militar e nobre português, por acordo feito com a Coroa, Henrique de Meneses devolveu o condado de Valença, sendo compensado, por carta datada de 12 de Novembro de 1471, com o título de 1.º conde de Loulé outorgado por D. Afonso V. 14 D. Afonso V de Portugal: (1432 - 1481), foi o décimo segundo Rei de Portugal. 15 OLIVEIRA, Ataíde, 1905, Monografia do Concelho de Loulé, 3ª Edição, Algarve em Foco Editora, pp 102.
Ilustração 3 - Expansão da Urbe Medieval, século XVI .
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do séc. XIV e o final do séc. XVIII teve uma relativa estabilidade habitacional, possuindo
durante este período de 400 anos, sensivelmente 500 fogos16.
O castelo era neste tempo um elemento operacional, no sistema de defesa da
cidade, e consequentemente foram construídas edifícios de habitação junto ás muralhas,
pelo menos até ao final da guerra da restauração, no séc. XVII. Ficando o aglomerado no
ano de 1505 com 145 habitações intramuros e 289 extramuros17.
Apesar da população não ter aumentos significativos e a vitalidade económica estar
a decrescer, levando a uma estagnação da expansão urbana, os edifícios religiosos e
equipamentos destacaram-se no séc. XVII com uma apreciável evolução.
Em 1600 construiu-se fora de Portas, a igreja das Portas do Céu, três ermidas em
três das cinco Portas do Castelo, a de Nossa Senhora da Conceição, a de Nossa Senhora do
Pilar e a de Nossa Senhora do Carmo e adossado à muralha foi erguido a igreja do Espírito
Santo e recuperou-se e ampliou-se, no ano de 1675, o Convento das Freiras de Nossa
Senhora da Conceição.
Com o fim da época de instabilidade da guerra da Restauração o Castelo e as
muralhas perdem o seu valor defensivo, começando-se a notar uma alteração na forma de
habitar a cidade. A população extramuros começa a ser em maior número que os residentes
intramuros e a própria vida da urbe evolui mais e melhor nos arrabaldes. Porém ainda
demorou algum tempo até que se libertasse as muralhas para que estas fossem ocupadas
por habitações e a cidade passasse a ser aberta e de circulação livre.
16 AL-`ULYÃ, Revista do Arquivo Histórico de Loulé Nº4, 1995. Paulo Estremoz, “A Evolução da Cidade”.
pp.70.
17AL-`ULYÃ, Revista do Arquivo Histórico de Loulé Nº4, 1995, Paulo Estremoz, “A Evolução da Cidade”,
pp.70.
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No séc. XVIII Portugal viveu uma época de prosperidade económica sustentada
pelo ouro do Brasil. Este crescimento económico reflectiu-se no forte crescimento artístico
que se fez sentir em todo o país, nomeadamente em Loulé, onde também se aproveitou o
espírito Barroco e a actividade artística que esta época ofereceu.
Em Loulé as Igrejas e Capelas são enriquecidas e valorizadas com retábulos, talhas
douradas e com a excelente azulejaria desta época. Em termos urbanísticos Loulé
beneficiou com a valorização arquitectónica habitacional que aproximou as áreas
marginais ao núcleo urbano, existindo em 1719, habitações que se espalhavam a norte, sul
e oeste do sector Oriental, (nos limites das cercas do Convento da Graça). Respectivamente
as ruas da Laranjeiras, o Largo da Praça, a rua da Carreira, dos Inocentes, do Ricardo e da
Corredoura.
Em 1755 o sismo destruiu, parte das cercas e a igreja do Convento da Graça, parte
do Convento Espírito Santo, grande parte dos troços e torres da muralha e do Castelo e
destruiu também muitas habitações como é descrito:
“…Comprehendia ella com sua Freguezia; e
oito centenas moradas de cazas; das quais
Ilustração 4 – Vila de Loulé, século XVIII.
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ficaram raras se prejuízo. Caíram parte das
abobadas da sua Parrochial; as Igrejas do
Convento da Graça, e de Santo António dos
capuchos; Hospital dos pobres; o Hospital
dos Agostinhos Descalços; o Convento das
Religiosas; a Igreja da Mizericordia, a
Capela do Terceiros de Sam Francisc, e as
Hermidas de Santa Luiza, e N. Senhora da
Piedade …”18.
Ilustração 5 – Expansão da Vila de Loulé, início século XX.
Em 1756 é aberta a Rua das Cabanas no sector Sul, que continuava a ser o sector
menos privilegiado da cidade. No sector norte construíam-se habitações apalaçadas,
nomeadamente na Rua do Colégio (que nascia em função do Solar dos Gama Lobo, 1775),
18 COSTA, ANDRADE, SEABRA, 2005, 1755-Terramoto no Algarve, Centro de Ciências Vivas do
Algarve, Relaçam, 1756, fl.161vº.
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na Rua Ancha e rua de Portugal, onde residiam os oficiais e o maior número de
proprietários, de terras. Sendo na rua Ancha que os Franceses instalaram o seu quartel-
general, em 1807.
No primeiro quartel do séc. XIX viveu-se uma crise económica derivada da
instabilidade politica criada pelas invasões napoleónicas e também devido à partida da
corte real para o Brasil. Esta crise reflectiu-se num abrandamento do crescimento
urbanístico e na tomada de medidas para fazer face às despesas financeiras do estado e
consolidar o crédito público.
Entre 1834 e 1836 essas medidas levam à expropriação das ordens religiosas e do
castelo, desafectado à jurisdição militar. Em 1835 e nas décadas seguintes, as referidas
zonas ganham função habitacional e de pequeno comércio, começando a crescer ao longo
dos troços amuralhados a norte, nomeadamente, a Praça de Loulé onde o Convento
Espírito Santo é ocupado pela Câmara Municipal e pelo Tribunal Judicial. A Sul, o
fenómeno nota-se mais na rua da Corredoura e a Poente e Nascente a ocupação é feita num
ritmo mais lento.
A Praça de Loulé passa a ser o lugar de eleição, pela construção de três solares no
Alto da Praça, acentuando-se como lugar de residência de profissionais liberais e
proprietários, nas Ruas da Cadeia e Martim Farto, dentro das Muralhas e na Rua da
Corredoura, na transição para o sector Sul, enquanto o sector Norte se mantém estável.
Entre 1873 e 1904 dá-se a
maior transformação operada a nível
urbanístico, a ligação entre o sector
Central e o sector Oriental sofre uma
grande alteração devida à concepção e
execução da Av. Marçal Pacheco que
destruiu dois solares no alto da Praça
de Loulé, a Capela de N.ª Sr.ª do
Carmo e os respectivos restos da
muralha, um pequeno quarteirão entre a rua dos grilos e o Terreiro do Ricardo e todo o
traçado da Rua do Mestre Ricardo é expandido com as demolições subsequentes, ficando o
Largo dos Inocentes, ligado continuamente com a Praça de Loulé. Ainda no último quartel
do século XIX, densifica-se a ocupação, no sector Sul, área da Rua António José de
Imagem 1- Largo de São Francisco.
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Almeida, e nasce em 1888, a urbanização do Olival de S. Francisco, no sector Poente. Este
crescimento para poente veio integrar a jovem Freguesia de S. Sebastião que foi criada em
decreto Régio em 1890 a partir da divisão da antiga Freguesia de S. Clemente.
A rua da Praça já era anteriormente a estas intervenções, o principal eixo de
circulação e também de prática social, económica e cultural e em 1885 passa a ser também
o principal centro politico com a transferência da Câmara Municipal de Loulé para o
edifício onde ainda hoje se encontra.
Todo este processo de evolução demográfica e consequentemente urbana, registou-
se a par da evolução industrial registada nesta época, atraindo para Loulé habitantes das
freguesias vizinhas do interior do concelho que procuravam novas oportunidades de
trabalho oferecidas pelas pequenas unidades fabris artesanais que ai se instalaram.
A evolução industrial conduziu a uma evolução a nível de transportes, como a
construção da linha de caminho de ferro do Algarve em 1887 e o desenvolvimento de vias
de comunicação. No entanto alguns equipamentos básicos só surgiriam no decorrer do séc.
XX.
Entre 1900 e 1925 o desenho urbano da cidade sofre as maiores alterações
ocorridas no sector Central e Nascente com a construção do Mercado Municipal de Loulé e
a abertura da Av. Costa Mealha. No sector central, o Mercado de Loulé, projectado pelo
arquitecto Mota Gomes, foi uma obra mediática de grande valor na arquitectura
contemporânea. Esta intervenção veio alterar o desenho urbano da área central da vila,
provocando o derrube de parte considerável da muralha e de alguns edifícios de boa
qualidade arquitectónica em prol do edifício e das subsequentes alterações das ruas de
Imagem 2 – Planta de implantação do Mercado de Loulé.
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serviço, nomeadamente a Travessa do Mercado, a Rua José Guerreiro, a Rua Ataíde de
Oliveira e a Rua 1º de Dezembro, sendo o traçado actualmente existente.
A maior evolução da cidade
para Nascente deu-se em 1918, com a
abertura da Av. José da Costa Mealha.
Esta foi a obra com maior alcance
urbanístico e o novo local da
burguesia endinheirada, sendo aí
edificados os mais notáveis
exemplares arquitectónicos deste
século.
Para terminar o período antes da implantação do Estado Novo é importante referir
ainda a implantação de obras de equipamentos públicos que beneficiaram a urbanização do
espaço público como o a iluminação eléctrica em 1916, a substituição do antigo cemitério
do jardim dos amuados em 1918. É neste período que também se dá o início do
abastecimento de água pública no centro urbano de Loulé.
Ilustração 6 – Expansão da Vila de Loulé, primeira metade do século XX.
Imagem 3 – Construção da Av. José da Costa Mealha.
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Durante os 48 anos do período do Estado Novo, desde o golpe militar de 28 de
Maio de 1926 até 25 de Abril de 1974, a evolução urbana de Loulé manifestou-se de forma
relativamente moderada, destacando-se a abertura das transversais da Av. José da Costa
Mealha, a mais emblemática a abertura da actual Av. 25 de Abril em 1932 e o alargamento
da antiga Rua da Corredoura, actual Rua Duarte Pacheco, em 1934.
A nível de edificações mais emblemáticas deste período temos a construção do
Cineteatro Louletano do arquitecto Baptista Mendes em 1930 e o Monumento Duarte
Pacheco19 do arquitecto Cristino da Silva20 em 1953.
Ao longo do séc. XX a cidade continua a crescer seguindo os traçados preexistentes
como a Av. José da Costa Mealha onde foram erguidos enormes edifícios de habitação
colectiva onde antigamente existiam propriedades agrícolas e edifícios de arquitectura
tradicional. Nos anos 70 e 80, ocupando a zona que durante muito tempo permaneceu
inabitável, o Rocio da Horta do Rei, foi criado uma zona habitacional marcada por grandes
edifícios de habitação colectiva.
19 Eng. Duarte Pacheco: (1899 - 1943) nascido em Loulé, foi um engenheiro e estadista português. Professor e director do IST em 1927, ministro das Obras Públicas 1928, presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1938 e regressou ao ministério das Obras Públicas nesse mesmo ano. 20 Arq. Cristino da Silva: (1896 – 1976). Nascido em Lisboa. Diplomado pela ESBAL.
Ilustração 7 – Cidade de Loulé, século XXI.
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Estas duas últimas evoluções urbanas são o exemplo dos abusos provocados ao
património construído Louletano, assim como a constante destruição das muralhas até aos
meros apontamentos da sua existência que presenciamos nos dias de hoje em Loulé, onde
infelizmente se desrespeita a história e o seu legado, substituindo-o e consequentemente
destruindo-o por mero desrespeito e ignorância do homem.
Em favorecimento do desenvolvimento, é já comum na história de Loulé
cometerem-se graves erros urbanísticos que prejudicam irremediavelmente a imagem
arquitectónica e paisagística da cidade, perdendo-se património cultural e construído de
inigualável valor histórico. Desde 1985 há já uma diferente filosofia quanto à preservação
do legado histórico, tendo sido tomadas medidas preventivas por parte das autoridades
competentes de modo a educar e sensibilizar a população para que se impeça esta regular
violação e destruição do património Louletano como o já expresso na vila medieval de
Loulé.
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2. O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO NA ACTUALIDADE
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“… Este caminhar lento da história traz até
nós este conjunto incalculável de bens,
edifícios com um valor arquitectónico
ímpar, que conseguiram sobreviver ao rigor
dos séculos e à maldade e interesse do
Homem que se assumem hoje, com a
designação de monumentos, muitos deles
sem a monumentalidade que os grandes
feitos requerem mas plenos de uma
modéstia que traduz serenidade e dignidade.
Edifícios que têm uma classificação como
maneira de serem distinguidos mas também
protegidos de recuperações ou conservações
praticadas por quem não tem ainda a
sensibilidade de atender à fragilidade destes
bens que de uma forma geral estão sujeitos
a um ambiente urbano que lhe é hostil não
só pelo vandalismo do Homem mas ainda
pela poluição que hoje, mais que nunca, é
grande responsável pela degradação destas
construções. …”21
21 PINHEIRO, Nuno Santos, “Património Construído – Marcos da História de um Povo que não Acaba em
Nós: Como Reconstruí-lo, Como Conservá-lo”, pág. 7
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2.1- Imóveis Classificados ou a Classificar
2.1.1- Imóveis Classificados pelo IPPAR
CASTELO DE LOULÉ
Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º 9842, de
20 de Junho de 1924.
Localizado na Rua da barbacã - Loulé.
Com data de origem incerta, o
castelo de Loulé foi conquistado aos
Mouros em 23 de Novembro de 1249.
É provável que o Castelo, e as
muralhas tenham sido reconstruídos a
partir das antigas fortificações árabes,
sofrendo ao longo do tempo várias
alterações devido às invasões, do
terramoto e da expansão urbana.
Em 1268 D. Afonso III22 dá
ordens para reconstruir a fortaleza. As
muralhas seriam reedificadas a
mandado do 1º conde de Loulé, D.
Henrique de Meneses em 142223.
O terramoto de 1755 teve um
efeito devastador em toda a urbe,
nomeadamente nas muralhas,
derrubando-as parcialmente.
22 D. Afonso III de Portugal: (1210 - 1279), foi o quinto Rei de Portugal. 23 SERRA, Manuel Pedro, 1999 – Loulé: História e Expansão Urbana, Loulé: Museu Municipal de Loulé, Câmara Municipal de Loulé. pp. 6.
Imagem 4 – Lg. Do Chafariz, actual Lg. Afonso III.
Imagem 5 - Lg. Afonso III, vista parcial do Castelo.
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Por fim, a expansão urbana foi derrubando quase na totalidade o perímetro
amuralhado. Começando na zona oriental com o mercado e nas zonas restantes, as
muralhas foram sendo derrubadas para a abertura e expansão de ruas.
Como marcos do centro histórico e da antiga urbe medieval, temos hoje pequenos
troços, estes espalhados pela Praça da República, no Largo Afonso III, e nas ruas Eng.º
Duarte Pacheco, Barbacã, Martim Moniz, Garcia da Horta, Bicas Velhas e D. Paio Peres
Correia, alguns recentemente valorizados como o pano de muralhas da esquina sudoeste,
no Jardim dos Amuados. As torres e o caminho de ronda que as interligam, foram
reconstruídos pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos. A alcaidaria foi reabilitada
na década de 1980, recebendo as funções de Arquivo Municipal, em 1984 e de Museu
Municipal de Arqueologia, em 1995.
IGREJA DA GRAÇA
Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º9842, de
20 de Junho de 1924.
Localizado no Largo Tenente Cabeçadas - Loulé.
Situada no actual Largo Tenente
Cabeçadas, o Convento da Graça Foi construído
no início do séc. XIV, esta edificação veio
valorizar a zona poente extramuros da urbe.
A Igreja terá pertencido a duas ordens,
sendo inicialmente dos Franciscanos Claustrais ou
Templários e em 1580 foi doada à Ordem de
Santo Agostinho, por ordem do cardeal-rei D.
Henrique.
Nos dias de hoje só restam ruínas e o
pórtico de estilo gótico semelhante ao da Igreja
Matriz é de arco quebrado, com três arquivoltas
que assentam sobre capitéis de motivos vegetais e
colunas monolíticas assentes sobre altos pedestais.
A Igreja foi destruída no terramoto de 1755, existindo hoje no local das antigas
capelas, pequenas construções sem valor arquitectónico.
Imagem 6 - Portal da Igreja da Graça.
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IGREJA MATRIZ DE LOULÉ
Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º9842, de
20 de Junho de 1924.
Localizado no Largo da Matriz – Loulé
Localizada no extremo Sul do
perímetro amuralhado, e no local da
antiga mesquita Islâmica, a igreja
matriz foi mandada construir na
segunda metade do séc. XIII,
possivelmente entre 1251 e 1266, no
mandado de D. Dinis por ordem do
arcebispo de braga D. João Viegas,
que ordenou a construção de vários
templos no Algarve recentemente cristão. A Igreja da Matriz passou para a Ordem Militar
de Sant`Iago em Dezembro de 1298. O nome de S. Clemente deve-se à data da conquista
cristã aos mouros, que se deu no dia de S. Clemente.
A Igreja foi sofrendo alterações ao longo da história, apresentando elementos que
marcam os diferentes estilos artísticos vividos pelo edifício. No séc. XVI foram
acrescentadas as duas capelas laterais de estilo manuelino e cinco retábulos. A igreja foi
também sofrendo alterações nas variadas obras de reconstrução que seguiram os sismos de
1755 e 1856. Alguns elementos góticos foram repostos e valorizados pela DGEM na
última intervenção feita a seguir ao sismo de 1969, ajudando a manter a sua traça original
de estilo gótico meridional.
De planta longitudinal que respeita os esquemas góticos, a igreja é composta por
três naves e três tramos cobertos por madeira, separados por arcos quebrados de alvenaria,
assentes em colunas em pedra com capitéis decorados por motivos florais rudimentares. A
Cabeceira é composta por três capelas de planta rectangular, sendo duas em abóbadas de
cantaria, nomeadamente de berço a capela-mor e artesoada a capela lateral direita, a capela
lateral esquerda é em cúpula.
A fachada é rematada por cunhais em pedra aparelhada e divide-se em três corpos,
que depois de alteradas as alturas, deixam perceber as três naves que compõem a igreja. A
Imagem 7 - Igreja Matriz.
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fachada é centrada no corpo central por um óculo e o portal ogival de arco quebrado em
três arquivoltas.
A torre sineira foi construída sobre a base da antiga torre da mesquita islâmica,
sendo finalizada com pináculos24 e coroada com um coruchéu25 com cruz, estes elementos
resultaram das reconstruções feitas após o terramoto de 1755.
A iluminação da igreja é feita pelas janelas da cabeceira, pelo óculo da fachada
principal e pelas janelas das naves. Os interiores da igreja também sofreram alterações
apresentando hoje retábulos em talha barroca e rococó do séc. XVIII nas três capelas.
A matriz é ainda hoje utilizada
como local de culto, tendo resistido ás
alterações históricas e culturais ao
longo de oito séculos, sem perder a
sua função e importância religiosa na
urbe de Loulé.
A sua envolvente conseguiu
manter as características originais,
como as ruas e as praças que a
rodeiam. Como principal alteração, temos a poente da igreja o actual Jardim dos Amuados,
que substituiu o antigo cemitério intramuros da urbe.
24 …pináculos, significado: coroamento piramidal ou cónico de um contraforte, arcobotante ou muro, muito usado no gótico 25…coruchéu, significado: remate piramidal de uma torre ou de um campanário.
Imagem 8 - Igreja Matriz, actual.
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PORTA E CRUZEIRO DA MISERICÓRDIA
Monumento classificado como Monumento Nacional pelo Decreto-Lei n.º9842, de
20 de Junho de 1924.
Localizado na Avenida Marçal Pacheco – Loulé.
A antiga N.ª S.ª dos Pobres,
construída por volta do ano 1400
passou a chamar-se Igreja da
Misericórdia a partir de 1826. O
edifício teve como primeira função,
auxiliar a população mais
necessitada, passando em 1570
estar anexa ao primeiro hospital do
Algarve, que visava assistir os
soldados feridos vindos das campanhas de Tânger.
Os elementos de maior destaque da Igreja são os elementos manuelinos do seu
portal, a janela e o cruzeiro da escadaria. O portal de estilo manuelino, é composto por
colunas, capiteis e extradorso adornados com
motivos vegetalistas, o arco policêntrico é
emoldurado por pináculos e arcos côncavos
encimados por cogulhos26, típicos da arquitectura
manuelina religiosa. O cruzeiro é constituído por
uma coluna onde assenta um capitel e uma cruz
ladeada por duas figuras, nomeadamente a N.ª S.ª
do Ó virada para a igreja e Cristo crucificado
virado para a rua.
No interior da igreja destaca-se o retábulo da
capela-mor, datado de 1700, como sendo uma das
primeiras manifestações de talhas nacionais da
fase barroca.
26 …cogulho, significado: ornato arquitectónico de forma folhada, empregue na decoração de cornijas, arcos, coruchéus, pináculos, etc…
Imagem 9 - Hospital e Igreja da Misericórdia
Imagem 10 - Portal da Igreja e Cruzeiro.
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40
2.1.2- Imóveis de Interesse Público
CAPELA DA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 39175, de 17
de Abril de 1953.
Localizado n Rua Dom Paio Peres Correia – Loulé.
A Ermida da Nossa Senhora da Conceição foi
mandada construir por ordem de D. João IV, na
segunda metade do séc. XVII, em honra da N.ª S.ª da
Conceição, consagrada padroeira de Portugal. A
Igreja localizava-se extramuros, provavelmente anexa
às muralhas erguida posteriormente à Porta da Vila,
sendo hoje visível as ruínas da antiga porta no chão da
igreja. A Ermida é de planta rectangular com apenas
uma nave e sem capela-mor, de característica simples,
integrando-se no estilo chão.
A sua construção data do início da segunda
metade do séc. XVII mas o interior data do séc.
XVIII, tendo uma ornamentação barroca onde se
destacam as esculturas, os retábulos em talha, as imagens de S. Miguel arcanjo e do Anjo
da Guarda, a azulejaria figurativa de diversas cenas da vida da virgem. A pintura do tecto
do pintor Rasquinho27 foi substituída no séc. XIX por um tecto em estuque.
27 Rasquinho, Joaquim José de Sousa: (1736/1822), nascido em Loulé, pintor autodidacta, tornou-se num exímio retratista e pintor.
Imagem 11 - Ermida da N.ª S.ª da Conceição.
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CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO
Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º181/70 de 28
de Abril e por despacho de 19 de Novembro de 1984.
Localizado na estrada de Boliqueime – Loulé.
O actual Convento de Santo
António dos Capuchos veio
substituir o primitivo e então
arruinado convento, construído em
1546 nas proximidades, ao mesmo
tempo que a igreja. O convento
data de 1670 e foi mandado
construir por D. Francisco Barreto,
segundo bispo do Algarve. A
Igreja, embora adulterada, ainda existe. De planta longitudinal de nave única é
relativamente simples, destacando-se a capela lateral em cúpula, sendo um dos raros
exemplos arquitectónicos do barroco algarvio.
2.1.3- Imóveis de Interesse do Concelhio a Classificar pela CML
IGREJA DE SÃO FRANCISCO
Largo de S. Francisco
A igreja surge no local de uma
pequena ermida erguida extramuros, no
início do séc. XIV na época de uma
peste. A antiga ermida de S. Sebastião
do Robaldo, serviu de local para a
capela dos Irmãos Terceiros da Ordem
de S. Francisco. Estes fizeram obras de
ampliação, por sua conta, passando a
ter casas para os capelões e casas de
despacho, nascendo assim a Igreja de S. Francisco. No final do séc. XIX foram ainda
acrescentadas duas capelas.
Imagem 12 - Convento de Santo António.
Imagem 13 - Igreja de São Francisco.
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A nova igreja é marcada por uma combinação de estilos, onde se destacam os
elementos da fachada e os elementos decorativos do seu interior. A fachada é composta por
molduras dos vãos de janela e do portal principal de estilo manuelino, estes aproveitados
da antiga ermida, o campanário, destacando-se pelos seus três sinos em fila e a cúpula
renascentista, apesar dos diferentes estilos que demonstram as várias épocas históricas, a
igreja tem um aspecto modesto e humilde.
No interior é importante destacar a capela-mor com o seu retábulo barroco em talha
dourada e a azulejaria do séc. XVII que decoram e enriquecem a igreja.
ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO PILAR
Travessa da Nossa Senhora do Pilar
A Ermida está situada junto à Porta
de Faro, adossada ás muralhas. Construída
na segunda metade do séc. XVII, é provável
que tenha sido construída no local de uma
antiga torre, devido à existência de uma
escada que liga o campanário ao caminho de
ronda.
De arquitectura muito simples, a
ermida de planta longitudinal é constituída
por uma só nave, capela-mor e sacristia. Os
materiais utilizados não eram os mais
nobres, sendo as suas paredes em alvenaria
de pedra, e as abóbadas de berço e de arestas
em madeira pintada e em cana, os
pavimentos são em madeira e tijoleira e o
altar revestido a azulejo.
Imagem 14 - Ermida da N.ª Sr.ª do Pilar.
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ERMIDA DA NOSSA SENHORA DAS PORTAS DO CÉU
Rua Eça de Queiroz
Edificada em 1600 por um casal
devoto, na zona nascente extramuros, a
ermida foi palco de festas e procissões
em sua honra.
A Ermida era inicialmente
apelidada de N.ª S.ª da Penha de
França, mudando de nome para o
actual, por pressão dos frades
Agostinhos, por já existir em Lisboa
um convento com a mesma designação. Posteriormente foram feitas algumas modificações
e ampliações, das quais se desconhecem as datas e os autores
CONVENTO DO ESPÍRITO SANTO
Praça da República
O convento surge da ocupação
gradual das habitações anexas à
Ermida do Espírito Santo. As freiras aí
instaladas desde os finais do séc. XVII,
deram assim origem ao Convento do
Espírito Santo.
Nos finais do séc. XVIII o
convento é alvo de obras de
reconstrução derivadas do terramoto de
1755, surgindo com isso o elemento mais relevante do convento, o claustro de influências
Neoclássicas e de estilo Chão.
O convento perdeu a sua função religiosa em 1836. Passando a abrigar o Tribunal
Judicial e a Câmara Municipal. Actualmente é ocupado pela Universidade Afonso III e por
uma galeria de arte.
Imagem 15 - Ermida da N.ª Sr.ª das Portas do Céu.
Imagem 16 - Convento do Espírito Santo.
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PALÁCIO GAMA LOBO
Rua da N.ª S.ª de Fátima
O solar dos Gama Lobo é um
edifício de dois pisos de estilo Chão
com grande interesse arquitectónico.
O edifício integra a actual capela de
Sant`Ana e a sua fachada é composta
por cunhais e soco em cantaria, uma
cimalha que remata a composição de
vãos, o brasão de pedra e o portal,
todos estes elementos são ricamente
trabalhados e decorados.
O edifício teve início de
construção no séc. XVIII, sendo
acabado apenas no último quartel do
séc. XIX, por embargo das obras
derivado pela lei imposta por
Marquês de Pombal que proibia a
construção de prédios particulares de
“quina aberta”28.
28 OLIVEIRA, Ataíde, 1905, Monografia do Concelho de Loulé, 3ª Edição, Algarve em Foco Editora, pp. 259.
Imagem 17 – Palácio Gama Lobo.
Imagem 18 – Palácio Gama Lobo e Capela de Sant`Ana.
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SOLAR FAMILIA BARROS E ARAGÃO
Rua Sacadura Cabral
Construído no séc. XVIII, o solar foi retirado à família, sendo ocupado pelos
franceses até à data da sua expulsão em 1808, Edifício de dois pisos, onde se destacam as
molduras dos vãos, nomeadamente, do portal e os dois óculos que o ladeam e
principalmente as janelas de sacada do piso superior.
EDIFICIO DOS PAÇOS DO CONCELHO
Praça da República
Imagem 22 – Edifício Paços do Concelho, Actual.
Situado na antiga Rua da Praça, o edifício foi mandado construir por José Rafael Pinto em
1842. Adquirido pela câmara em 1885 sofreu obras de adaptação.
Edifício de dois pisos onde a fachada principal é marcada pela inexistências de
janelas, apenas vãos de porta e dois óculos que ladeam o portal, no piso inferior e no piso
Imagem 19- Solar Barros e Aragão. Imagem 20 – Rua Sacadura Cabral e Solar Barros e Aragão.
Imagem 21- Edifício Paços do Concelho.
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superior todos os vãos são em janela de sacada emoldurados a cantaria e protegidas com
um gradeamento em ferro forjado. A rematar a fachada existe cunhais de cantaria e uma
cimalha. O telhado é único e de quatro águas.
MERCADO MUNICIPAL
Praça da República
Marcando a era industrial de
construção em ferro, este edifício
projectado pelo arquitecto Alfredo da
Costa Campos29 de estilo neo-árabe teve
início de construção em 1905 e foi
inaugurado em 1908. O Mercado de
Loulé é um símbolo do poder da
burguesia mercantil em ascensão, pela
sua dimensão, ocupando um quarteirão inteiro e pela sua localização, ao lado da CML,
sede do poder político. A construção do mercado implicou a expropriação e demolição de
diversas casas e também a destruição
de parte do troço amuralhado a norte e
a nascente.
O Mercado sofreu recentemente
obras de conservação, sendo ainda, nos
dias de hoje um centro de trocas
mercantis e local de encontro de
populações vindas de toda a parte do
concelho.
29 Arq. Alfredo Maria da Costa Campos: (1863 – 1911). Autor do projecto dos Paços do Concelho de Évora e de Oeiras e participou nos concursos: da igreja da Imaculada Conceição (menção honrosa) e foi 2º classificado na Exposição Universal de Paris em 1900.
Imagem 23 – Mercado de Loulé.
Imagem 24 – Mercado Loulé, Actual.
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CINE-TEATRO
Av. José da Costa Mealha
Projectado pelo arquitecto J.
Batista Mendes a pedido da recém-
criada Sociedade Teatral Louletana
fundada por vários particulares, o
edifício teve início de construção em
1925 e foi inaugurado em 1930.
O edifício foi feito de modo a
acolher as mais variadas vertentes da
arte como lírica, cinematográfica,
concertos musicais, serões, conferências artísticas, entre outras.
O edifício foi adquirido pela Câmara Municipal em 2003 e tem vindo a sofrer obras
de manutenção e reabilitação de modo a poder continuar a responder ás necessidades
exigidas para desempenhar as suas funções.
CORETO
Av. da Costa Mealha
O Coreto foi construído por
deliberação da Câmara Municipal por
proposta de José Ribeiro Ramos no
primeiro quartel do séc. XX de modo a
dar expressão á aptidão musical dos
músicos Louletanos.
Actualmente situado na
Avenida da Costa Mealha, o coreto
inicialmente estava situado no Largo
Gago Coutinho.
Imagem 25 – Cine-Teatro louletano.
Imagem 26 – Coreto.
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CAFÉ CALCINHA
Praça da República
Café de grande tradição da vida social em Loulé, foi palco de várias tertúlias entre
figuras de prestígio, nomeadamente António Aleixo30 de quem foi erguida uma estátua da
sua figura, na esplanada do café.
Réplica de um café brasileiro trazida por Prazeres & Reis a 1927, o seu interior é
marcado pela sanca ornamentada em madeira do Brasil.
FONTE DAS BICAS VELHAS
Rua das Bicas Velhas
As bicas velhas foram
construídas entre 1837 e 1887, estas
vieram substituir o abastecimento de
água á população que anteriormente
era feito no poço da alcaidaria.
30 António Aleixo: (1899 - 1949), embora nascido em Vila Real de S. António, passou maior parte da sua vida em Loulé, foi um poeta popular português, considerado um dos poetas algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social, é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, deixou como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
Imagem 28 – Café Calcinha, Actual.Imagem 27 - Café Calcinha.
Imagem 29 – Fonte das Bicas Velhas.
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2.2- PERÍMETRO HISTÓRICO
O Plano Director Municipal (PDM) de Loulé foi aprovado em 1994 tendo sido
ratificado em 1995, alterado na Resolução de Conselho de Ministros nº 66/2004 e ainda
por adaptação sob proposta da Câmara Municipal aprovada pela Assembleia Municipal de
Loulé a 28 de Janeiro de 2008.
O PDM de Loulé classifica, os núcleos urbanos antigos de Querença, Salir,
Boliqueime, Alte e São Lourenço, a zona Histórica de Loulé e também as zonas de
protecção aos imóveis classificados e a classificar, de “Espaços culturais”. (Cap. III,
Art.º18, 2008).
O capítulo III do PDM de Loulé visa promover a preservação e valorização das
malhas urbanas antigas assim como as suas características arquitectónicas dos aglomerados
urbanos, edifícios de maior interesse assim como a protecção dos imóveis classificados e a
classificar. Deste modo, pretende-se salvaguardar os espaços importantes do ponto de vista
histórico, assim como os seus valores urbanísticos e arquitectónicos que caracterizam e
identificam o centro histórico de Loulé.
O documento refere ainda os usos dominantes para a zona histórica assim como
para os núcleos urbanos antigos, onde o uso habitacional é o preferido podendo integrar
actividades terciárias e hoteleiras assim como instalação de estabelecimentos de
restauração e bebidas (Art.º19). É também descrito os procedimentos básicos para a
edificabilidade nos espaços culturais. Refere a necessidade de planos de pormenor para se
intervir em malhas urbanas que constituem os espaços culturais (Art.º20, n.º 1). Define
como princípio básico nas intervenções nos espaços culturais a conservação e recuperação
das edificações existentes (Art.º20, n.º 2). Nos casos intervenções de demolição ou
preenchimento de parcelas ou lotes não construídos, estas necessitarão de obedecer a
regras e procedimentos específicos: qualquer licença de demolição é precedida de uma
vistoria por uma comissão municipal criada para o efeito (Art.º20, n.º3, alínea a)); todos os
projectos de arquitectura referentes a obras de recuperação, conservação, adaptação ou
alteração de bens imóveis classificados são da responsabilidade de um arquitecto (Art.º20,
n.º3, alínea b)); Os processos de construção serão submetidos á apreciação da Divisão de
Cultura e Património Histórico (Art.º20, n.º 3, alínea c)); e dever-se-á respeitar sempre a
traça existente e integrar de forma harmoniosa na malha urbana existente, respeitando a
morfologia e volumetria da zona envolvente (Art.º20, n.º3, alínea d)).
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O Espaço Cultural da cidade de Loulé carece até à data de um Plano de Pormenor
de Salvaguarda e Valorização do centro Histórico. Em 1994 o Gabinete Técnico Local
elaborou um Plano Pormenor, mas este não chegou a ser aprovado.
Como meio de salvaguardar o Centro Histórico, foi aprovada em 2002, uma
proposta do Gabinete de Reabilitação Urbana que delimita uma área com cerca de 35 ha
envolvendo a Zona Especial de Protecção e os imóveis classificados pelo IPPAR. Este
perímetro que protege o núcleo histórico da cidade de Loulé foi denominado de “Área
Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística”.
A área crítica envolve toda a ZEP, logo toda a zona amuralhada partindo da sua
envolvente, estende-se sensivelmente de forma a integrar os aglomerados urbanos antigos
de maior valor histórico. O perímetro da área crítica é limitado: a sul, a Mouraria; a poente,
a zona do Convento da Graça, pela Rua Ribeiro da Graça, a Rua General Humberto
Delgado e os primeiros quarteirões a norte a Av. José da Costa Mealha; a norte, a área
crítica é delimitada pela zona do Alto de S. Domingos, pela Rua da Nossa Sra. De Fátima e
Rua do Serradinho; por fim a poente, é delimitada pela urbanização do Olival de S.
Francisco.
A zona histórica de Loulé beneficia assim de três zonas de protecção, onde cada
uma apresenta diferentes níveis restritivos de protecção ao seu legado histórico contra
intervenções abusivas ou destrutivas vindas do exterior, mantendo assim a sua imagem e
ambiência.
As três zonas funcionam como camadas de protecção contra a excessiva evolução
urbana, ao mesmo tempo que permitem uma permeabilidade controlada e regrada entre as
diferentes vivências mantendo o centro histórico vivo e actual e interligado com a restante
cidade.
Ilustração 8 – Perímetros de Protecção ao Centro Histórico de Loulé.
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51
2.3- CARACTERISTICAS DA MALHA URBANA E DO SEU EDIFI CADO
Completando o capítulo anterior que descreve a evolução Histórica da cidade de
Loulé, é importante agora abordar a malha urbana e a tipologia do edificado que compõe o
seu centro histórico. A malha urbana e o edificado antigo existente é característico da
época da sua construção, retratando desse modo o contexto histórico e social da
antiguidade em Loulé.
Na malha urbana é facilmente visível a diferença dos dois tipos de organização
viária e dos respectivos quarteirões. Na zona intramuros e nas primeiras expansões urbanas
a sul e a norte do recinto amuralhado, nomeadamente a Mouraria e o Alto de S. Domingos,
a malha urbana é orgânica, acompanhando a morfologia do terreno, logo a sua estrutura
viária é irregular e o interior das habitações não têm logradouros, retratando a falta de
planeamento urbanístico da época. Nas zonas de expansão mais recentes, nomeadamente a
urbanização do Olival de S. Francisco e a Av. José da Costa Mealha, a rede viária é
Imagem 30 - Vista Aérea do Centro Histórico de Loulé.
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organizada e os respectivos quarteirões
são em formas quadrangulares com
logradouros, é também já visível a
presença de espaços verdes que
conferem uma maior salubridade tanto
ás ruas como ás próprias habitações,
confirmando a elaboração prévia de
planos urbanísticos.
Quanto ao estudo do tipo de edificado, foram excluídos os edifícios com técnicas e
materiais construtivos que surgiram já pós revolução industrial, nomeadamente feitos com
estrutura em betão armado, dando relevância ao edificado de características arquitectónicas
tradicionais. Dentro do edificado tradicional, foram distinguidos cinco tipos de edifícios
com características construtivas tradicionais, construídos até ao início do séc. XX. Os tipos
de edifícios foram classificados segundo o seu período de construção, a sua localização, as
funções desempenhadas, as suas dimensões, e os seus elementos decorativos e
construtivos, dando assim origem à classificação de casas do tipo rural popular e do tipo
urbano popular para os edifícios mais comuns e edifício nobre urbano ou solar e edifício
burguês para as habitações de uma população mais nobre ou endinheirada.
A casa do tipo rural localiza-se
principalmente no interior do núcleo
amuralhado e nas zonas das primeiras
expansões extra-muros a sul, a
nascente e a norte do aglomerado,
nomeadamente no bairro da Mouraria e
na zona do Convento da Graça. São
encontrados ainda exemplos deste tipo
de habitação na zona de expansão mais
recente derivada da industrialização.
Imagem 31 – Diferença entre rua Intramuros e rua extramuros.
Imagem 32 – Casa tipo Rural Popular, Rua Garcia da Horta.
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A planta destas habitações é
simples onde a chamada “casa de
fora” serve de vestíbulo e de sala de
estar sendo completada por uma ou
duas divisões. A simplicidade da
planta é retratada pela volumetria e
pela fachada da casa, onde os
volumes são simples e de pequena
dimensão, apenas de um piso e com
cobertura maioritariamente de uma água, ou nalguns casos, de duas águas, que na sua
maioria derivava de ampliações. A fachada é igualmente simples, rectangular com uma
porta e uma ou duas janelas. Os vãos não têm qualquer tipo de moldura, sendo apenas
normal o degrau em pedra na porta de acesso a casa. A fachada, assim como a pedra do
degrau de acesso, são caiados de branco.
A casa encosta de ambos os lados com as construções vizinhas, alinhando com a
rua e o seu logradouro ou pátio tinha usualmente uma cerca de alvenaria caiada.
Os materiais utilizados nestas construções eram relativamente simples, para tornar a
construção mais económica. As paredes exteriores eram executadas em alvenaria de pedra
miúda não aparelhada, rebocadas e caiadas, as interiores eram em tabique de pedra ou
adobe. Os pavimentos são em ladrilho cerâmico artesanal e as coberturas em telha de
canudo artesanal, forrados no interior por encaniçado.
As casas do tipo urbano popular derivavam na sua maioria da reconstrução e
ampliação das casas de tipo rural, sendo por isso natural, as muitas semelhanças entre os
dois tipos de edifícios.
A localização, semelhantemente
ás de tipo rural, encontra-se na sua
maioria, nas ruelas do núcleo
amuralhado e nas primeiras expansões
extramuros. Sendo os lotes que
ocupam muito idênticos. A fachada
principal faz o alinhamento da rua nas
traseiras é usual existir um logradouro. Imagem 34 – Casa do tipo Urbano Popular, Rua dos Sapateiros.
Imagem 33 – Casa do tipo Rural Popular, Rua do Ribeiro da Graça.
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A planta evoluiu
organizacionalmente derivado ao
surgimento da cozinha interior e por
vezes pelo acrescento de um piso
sobrado. Substitui-se, a partir do séc.
XIX, a casa de fora, por um corredor
de acesso ás divisões do piso térreo
onde se encontrava a cozinha, e quando
este existia, ás escadas de acesso ao
piso superior, onde se encontravam os
quartos. Foi também comum a introdução de uma loja ou oficina com porta de acesso
independente.
Estas alterações a nível da planta reflectiram-se na volumetria e na fachada. Os
volumes continuaram a ser simples, porém, passando por vezes a ter dois pisos e a
cobertura, para além da inclinada de duas águas, surgiram as coberturas mistas,
conjugando a açoteia e o telhado, ou unicamente a cobertura em açoteia, para secar os
frutos locais. Com o surgimento das cozinhas interiores, apareceram também as chaminés
de tipo rendilhado. Na fachada, com o aumento da sua dimensão e do número de divisões
interiores, começaram a surgir melhorias técnicas e preocupações estéticas, como a
preocupação com a simetria dos vãos e a implementação de elementos decorativos como as
molduras dos vãos, na sua maioria em argamassa pintada, a separação dos pisos, o beiral
simples ou duplo, a cimalha, a platibanda, ainda que muito simples estes elementos
organizavam e embelezavam as fachadas, além de serem uma marca de afirmação social.
Os materiais construtivos também retratam uma melhoria técnica e construtiva,
surgindo paredes interiores em tijolo maciço, pavimentos em mosaico e soalho. Nas
coberturas, o tradicional encaniçado foi em parte substituído por tabuado de madeira e a
estrutura da cobertura em açoteia era executada em sistemas de abóbadas ou abobadilhas
de tijolo burro maciço e, no segundo caso, vigas de ferro.
Passando para os edifícios mais nobres, temos em primeiro lugar a casa do tipo
urbano burguês. Este tipo de construção data do séc. XVI até ao séc. XVIII surgindo no
período de prosperidade económica dos Descobrimentos. Este tipo de casa encontra-se,
igualmente às tipologias já referidas, disperso no núcleo amuralhado e nas primeiras
Imagem 35 - Casa do tipo Urbano Popular, Rua Martim Farto.
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expansões urbanas extramuros, embora ocupando os locais de destaque como gavetos,
cruzamentos ou largos e em ruas principais de comércio.
A organização interna já demonstrava uma mentalidade mercantil, tendo uma
entrada lateral com um lance de
escadas para o piso sobrado ou em
certos casos uma entrada central com
dois ou três lances. Nos piso superior
encontravam-se as áreas habitacionais
e no piso térreo a loja ou armazém.
A dimensão, embora,
permanecendo com uma volumetria
simples, aumentou substancialmente,
onde na maioria dos casos já
apresentam dois pisos com pé direito alto.
A cobertura contribuiu também para o aumento da volumetria, sendo na sua maioria
inclinada de três ou quatro águas.
A fachada permaneceu sem grandes elementos decorativos, apresentando melhorias
nos elementos já usuais, como a pintura em cor diferente à restante fachada de elementos
como molduras, socos, cunhais e pilastras, quando executados em argamassa. No caso de
elementos em cantaria estes eram executados em pedra calcária da região, esta já
emparelhada e bujardada. As cimalhas evoluíram em termos estéticos, tornando-se
balançadas e recurvadas. Nos
excepcionais casos em platibanda,
foram acrescentados cornijas na base
do coroamento. A maior alteração nas
fachadas traduz-se nos vãos, estes
aumentaram o espaçamento entre eles
assim com as dimensões em largura e
altura, surgindo nestas habitações as
janelas em sacada com varandim ou
varanda corrida em consola.
Os materiais utilizados na
construção deste tipo de casa urbana eram: a alvenaria de pedra irregular não aparelhada
para o levantamento das paredes exteriores; os tabiques em madeira ou adobe e tijolo
Imagem 36 - Casa do tipo Urbano, Lg. Prof. Cabrita da Silva.
Imagem 37 - Casa do tipo Urbano, Rua Eng. Duarte Pacheco.
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maciço para as paredes interiores; o soalho, mosaico ou ladrilho cerâmico para os
pavimentos e as coberturas eram executadas em estrutura de madeira com telha de canudo
artesanal e forrados interiormente em tabuado de madeira ou estuque.
As casas nobres ou solares
urbanos marcam a habitação
unifamiliar nobre em Loulé. Esta
tipologia surge no séc. XVIII e data até
ao séc. XIX e constituindo a habitação
de famílias de elevado poder
económico assim como quinta de lazer
e produção. Este tipo de habitação
localiza-se em pontos de maior
importância e prestígio, marcando uma
importante frente urbana, nomeadamente nas entradas da vila a sul, a poente e a este das
entradas do núcleo amuralhado, existindo também dois exemplos na antiga periferia da
urbe medieval.
A sua planta é dividida em duas funções, originalmente, o piso inferior destinava-se
a armazéns ou arrecadações, sendo o piso sobrado, o piso nobre da casa. O acesso ao piso
superior era feito pela escadaria nobre situada na porta principal, localizada no eixo central
do edifício.
De dimensão imponente, os solares apresentam uma volumetria quadrangular
simples marcada pela cobertura inclinada de quatro águas de telha em canudo. A fachada
possuía uma linguagem urbana, marcada pela simetria e pelo ritmo dos vãos que na
maioria dos casos era em número
ímpar. Os elementos como os socos, os
cunhais e molduras eram em cantaria e
em muitos casos com adornos
decorativos, como as vergas de vãos
rematadas com cornija, a cimalha
trabalhada e o friso de separação dos
pisos. O piso superior, andar nobre, era
marcado por janelas de sacada com Imagem 39 – Edifício de tipo Solar, rua Sacadura Cabral.
Imagem 38 – Edifício de tipo Solar, Rua N.ª Sr.ª de Fátima.
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varandim ou varanda em consola corrida assentes em cachorros de pedra elegantemente
trabalhada e com guardas em ferro forjado habilmente trabalhados. O eixo central da
fachada era marcada pela porta de maior imponência rematada com óculos circulares, oval
ou elípticos que a ladeavam, por
cima existia por vezes uma pedra-de-
armas da família.
Os lotes destas tipologias de
habitação eram originalmente de
grandes dimensões, onde o edifício
alinhava com a rua e ocupava toda a
frente do lote libertando as traseiras
para um pátio, quando este existia.
Era também usual, nos solares, a
existência de um pátio interior.
Os materiais utilizados eram idênticos aos anteriormente referidos embora de
melhor qualidade e melhor trabalhados.
Para finalizar as tipologias habitacionais da arquitectura tradicional urbana de
Loulé, resta falar dos edifícios urbanos de ecletismo romântico, que datam do séc. XIX ao
primeiro quartel do séc. XX, sendo que a partir desta data, os matérias de construção
sofreram uma grande alteração, devido à substituição de técnicas e materiais tradicionais
por o recente surgimento do betão armado. Este novo material marcou o início de uma
nova era na arquitectura, alterando por completo os seus limites e possibilidades.
Os últimos edifícios urbanos feitos com técnicas e materiais tradicionais, eram
marcados por um ecletismo de influências diversas, tentando conciliar diferentes teorias e
Imagem 40 – Edifício de tipo Solar, Lg. Prof. Cabrita da Silva.
Imagem 42 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha.
Imagem 41 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. Marçal Pacheco.
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diferentes estilos arquitectónicos, nomeadamente formas regionais e influências barrocas,
numa composição que foi denominada de Ecletismo Romântico.
Estes edifícios encontravam-se predominantemente no eixo viário principal de
poente para nascente, local de maior actividade comercial, nomeadamente o largo Dr.
Manuel Arriaga, passando pelo largo de S. Francisco e a Praça da República até à Av. José
da Costa Mealha encontrando-se também exemplos na Av. Marçal Pacheco.
Estes edifícios tinham uma tipologia uni ou plurifamiliar e na maioria dos casos, o
piso térreo servia para comércio ou serviços. A entrada para o piso habitacional era lateral
com escada de apenas um lance ou central com dois
ou três lances iluminados por uma clarabóia. Os
edifícios são de grande dimensão e de forma
quadrangular simples, assemelhando-se aos solares.
Estas tipologias eram na maioria dos casos de dois
pisos embora existam casos de um terceiro piso em
águas furtadas ou trapeira no eixo central do edifício e
com caixas de escadas e fachadas elaboradamente
trabalhadas e decoradas.
A fachada destes edifícios reflectia o estilo
mais urbano, era plana e marcada pela grande altura
das janelas de sacada e de peitoril com ritmo simétrico
em relação ao eixo do edifício. A grande decoração
destas fachadas juntava diversas influências com características tradicionais, desde o
neoclássico31, o neobarroco32 ou o romantismo33 mais erudito ou popular de inspiração
vernácula. Os guarnecimentos dos vãos em cantaria ou imitação, eram ricamente
trabalhados com vergas rectas ou curvas, em arco abatido ou em arco de volta perfeita e na
sua maioria coroados com cimalha e medalhão central. As guardas dos varandins eram em
31 “…neoclássico, significado: a arquitectura neoclássica foi produto da reacção anti-barroco e anti-rococó, levada a cabo pelos novos artistas intelectuais do século XVIII. Os Arquitectos formados no clima cultural do racionalismo iluminista e educados no entusiasmo crescente pela Civilização Clássica, cada vez mais conhecida e estudada devido aos progressos da Arqueologia e da História. 32 “…neobarroco, significado: neobarroco é um termo usado para descrever criações artísticas que contêm importantes aspectos do estilo Barroco. Esse estilo insere-se no contexto da segunda metade do século XIX, sobretudo a partir de 1880, sendo predominantemente utilizado para a construção de teatros, visto que o Barroco contribuíra para uma grande expansão das artes cenográficas. 33 “…romantismo, significado: o romantismo retrata a época em que o sentimento é a característica dominante, mobilizando o sentimento de modo a evocar estados de espírito conducentes a uma poética do romance. Na arquitectura o romantismo é expresso na dialéctica de transformação dos monumentos clássicos e na interrupção dos sistemas académicos, permitindo novas combinações que levaram à introdução de novos significados nos elementos.
Imagem 43 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Rua de Portugal.
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ferro ricamente desenhados e trabalhados. As cimalhas eram assim como as platibandas, os
socos, as divisões entre pisos, as pilastras e os cunhais, ricamente trabalhadas e decoradas
com elementos geométricos ou vegetalistas.
A dimensão dos lotes destas tipologias eram de média a grande dimensão alinhados
com toda a frente de rua, permanecendo nas traseiras um pátio ou um logradouro.
Imagem 45 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha.
Imagem 44 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha.
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3- CARACTERISTICAS ARQUITECTÓNICAS
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3.1-FUNDAÇÕES
As Fundações são a fronteira entre o edifício e o terreno, sendo a zona de transição
de cargas do edifício para o solo, ou seja, são a base da sua estabilidade. É a fundação que
sustenta todo o peso do edifício transmitindo-o para o solo e é a partir destas que se
desenvolve a estrutura, tornando-se uma parte crítica para que toda a estrutura do edifício
funcione.
Características
As fundações dos edifícios
antigos são habitualmente constituídas
por sapatas contínuas pois a sua
estrutura é suportada pelas paredes
resistentes.
As fundações são constituídas
principalmente, por alvenaria de pedra
calcária não aparelhada, tendo como
ligante uma argamassa de cal e areia.
As fundações dos edifícios na cidade Loulé não necessitam de uma grande sobrelargura ou
de um grande cuidado para suavizar as diferentes resistências mecânicas entre os materiais
do edifício e do terreno, pois o terreno é calcário o que constitui um bom solo para a
construção. As fundações têm uma sobrelargura, entre quinze e vinte centímetros para cada
lado, em comparação com as paredes resistentes para fazer a transição entre o edifício e o
terreno, este mesmo sendo calcário é menos resistente, logo necessita de uma superfície de
contacto maior para que a área de distribuição do peso seja menos pontual, absorvendo o
peso do edifício sem ceder à compressão sofrida. Outra razão para esta sobrelargura é o
facto de a fundação ser uma zona difícil de trabalhar havendo uma maior possibilidade da
existência de erros, logo a sobrelargura criará uma margem de erro maior.
Embora a cidade esteja situada numa zona calcária, as zonas mais a sul são
constituídos por terrenos com resistência mecânica inferior, como os terrenos arenosos,
existindo a preocupação de conceber a fundação com alvenaria mais pobre que a da parede
resistente para que a transição entre elementos mais resistentes, o edifício, e elementos
Imagem 46 – Parede Mestra, Convento de Santo António.
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menos resistentes, o terreno, seja mais suave, constituindo assim o elemento de intermédia
resistência mecânica.
A base das fundações podem estar a relativa pouca profundidade ou necessitar de
atingir grandes profundidades para que cheguem à camada de terreno sólida, quando é
necessária uma grande profundidade esta pode ser feita de três formas, execução de uma
fundação de estacaria em madeira, pouco utilizada nos edifícios de Loulé, a execução de
caves de forma a baixar a cota do pavimento para tornar a fundação mais fácil de trabalhar,
ou por fim a solução mais utilizada em Loulé, escavar localmente o solo em secções,
realizando poços quadrangulares com a profundidade necessária para atingir a camada
resistente de terreno para a execução da base da fundação. Atingida a camada sólida de
terreno é necessário limpa-lo e compactá-lo para se encher a fundação. A base da fundação
é feito por uma camada de massame, de seguida leva a alvenaria de pedra ligada por
argamassa de cal hidráulica.
Uma boa execução da fundação, desde o estudo do terreno, a abertura e
profundidade da vala, à aplicação dos materiais apropriados evita ou retarda problemas que
possam surgir futuramente.
Anomalias
As anomalias nas fundações podem surgir a partir do terreno da fundação ou da
própria fundação.
As problemáticas de maior importância surgem do terreno, estes estão normalmente
associados à presença de água ou à descompressão do solo. Os problemas relacionados
com a presença de água são geralmente por alteração dos níveis freáticos. Estas alterações
afectam o equilíbrio do terreno provocando assentamentos devido ao arrastamento de
partículas pela água, criando descompressão do terreno da fundação.
Outro problema com a água é a humidade do terreno o que provoca alterações
tanto das fundações como dos pavimentos e das paredes do piso térreo, designadamente
eflorescências e bolores, deteriorando os materiais, como por exemplo o deslocamento de
revestimentos ou o destaque dos rebocos. A este fenómeno chamamos a humidade por
capilaridade, que consiste no ascender da água, pluvial ou freática, do solo para a estrutura
infiltrando-se na argamassa. Quanto maior for o contacto da estrutura com o solo maior
será a quantidade e água infiltrada. A água sobe até ás paredes, chegando atingir os 2
metros de altura, esta necessita de se evaporar para abandonar a estrutura. Este processo é
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cíclico e esta repetição de ciclos leva ao deterioramento dos materiais pois a água infiltrada
trás consigo sais dissolvidos do solo e dos materiais que são arrastados até á superfície da
parede onde finalmente a humidade se evapora cristalizando os sais, provocando a
degradação dos materiais.
As anomalias relacionadas com a fundação, são essencialmente provocadas por o
envelhecimento dos materiais, que pode ser natural ou precoce, ou por má execução da
fundação.
O envelhecimento dos materiais é normalmente provocado por acção de lavagem
da fundação por águas subterrâneas que arrasta as partículas constituintes da argamassa ou
por meteriorização da fundação provocada por escavações. A má execução deriva
normalmente por insuficiente dimensão ou profundidade, não tingindo camadas de terreno
resistentes, ou também pela má escolha e aplicação dos materiais.
Soluções
As soluções para a reabilitação das fundações podem ser desde simples
retardamentos de humidades a profundas intervenções a nível do terreno e da própria
fundação.
Para a resolução da problemática das humidades por capilaridade é necessário
impedir ou diminuir o acesso da água á fundação. Este processo consegue-se através da
criação, quando possível, de pendentes no terreno envolvente da construção, da
impermeabilização superficial do terreno, escavando o terreno adjacente à fundação
aplicando um reboco com material hidrófugo e se possível construindo valas periféricas
juntos ás paredes exteriores para possibilitar a drenagem do terreno para um tubo de
drenagem que se encontrará a um profundidade mínima de 0.50m abaixo do terreno do
pavimento.
Quando as anomalias existentes exijam uma intervenção mais profunda, como por
exemplo a alteração das condições do terreno da fundação, a insuficiência de dimensões ou
de resistência da fundação, ou mesmo por o projecto de reabilitação exigir um aumento de
peso nas fundações, é possível actuações em três níveis distintos:
. intervenção sobre o edifício, reduzindo ou transferindo cargas, como por exemplo
aumentar o número dos elementos de compartimentação ou os revestimentos;
. intervenção sobre o terreno da fundação, através da injecção do terreno geralmente
com caldas de cimento de modo a melhorar as características do solo, ocupando espaços
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vazios e impermeabilizando o terreno, ou através da substituição de terreno em camadas
para aumentar a resistência do terreno;
. intervenção sobre a fundação, esta pode ser feita através de cinco tipos diferentes
de intervenção: a consolidação do material da fundação, o alargamento da base da
fundação, o confinamento lateral da fundação sem recalçamento, a transferência de cargas
para camadas de terreno mais profundas com recalçamento e por fim, a transferência de
cargas para camadas de terreno mais profundas sem recalçamento.
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3.2-PAREDES MESTRAS
As paredes mestras são as paredes estruturantes do edifício, são as paredes que
suportam as cargas do edifício, suportando as cargas verticais de natureza gravítica como
o peso dos pisos sobrados e das coberturas e nomeadamente horizontais no caso de
choques acidentais, sismos e a força do vento.
As paredes estruturantes apresentam geralmente independentemente da região do
país uma grande espessura, que nos casos dos edifícios de Loulé variam entre os 0,40 m e
os 0,90 m. Estas dimensões justificam-se principalmente por razões de natureza estrutural e
mecânica. Os materiais utilizados apresentam uma fraca resistência à tracção e ao corte,
mas pelo contrário, uma razoável resistência a esforços de compressão. Assim a largura da
parede justifica-se pelo peso que isso lhe confere aumentando assim a resistência devido a
compressão que daí resulta, tornando-a mais resistente aos esforços horizontais e
deslizantes como a impulsos de terras ou elementos estruturais como arcos ou abóbadas. A
grande largura da parede deve-se também à necessidade de torná-la menos esbelta e logo
mais resistente ao risco de empenar. Por último, com o aumento do peso estabilizador, o
aumento da largura corresponde ao aumento do seu núcleo central, logo aumenta a
capacidade da parede de suportar forças de derrubamento, sem se correr o risco de
existirem tensões de tracção, as quais levariam à fendilhação do material.
A grande espessura das paredes mestras estaria explicada apenas pelas razões
apresentadas no parágrafo acima, mas outra razão que justifica a largura das paredes são as
suas funções, no caso das paredes exteriores, de proteger o interior do edifício contra os
agentes atmosféricos, nomeadamente, o vento e a chuva. Esta largura corresponde ao
caminho que a água, o vento e a variação de temperatura terão de percorrer desde o
exterior até ao interior habitado do edifício. Esse acidentado percurso corresponde ao
período que a água das chuvas do inverno demorará a passar o interior da parede, sendo
suficiente para que entretanto chegue a estação seca, assim como o tempo que a humidade
das chuvas infiltrada na parede demorará a percorrer o mesmo percurso, mas do interior
para o exterior até se evaporar, será suficiente para que entretanto passe a estação seca e
volte a estação das chuvas, voltando a reiniciar-se o ciclo. Obviamente estes ciclos não são
rigorosos, logo este equilíbrio não é perfeito, existindo anos em que a estação das chuvas
se prolonga por um período de tempo excessivo, ou mesmo o próprio uso da habitação
origine uma humidade excessiva, causando assim infiltrações no interior das habitações.
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3.2.1Paredes em Alvenaria de Pedra
Características
As paredes mestras dos edifícios em Loulé são predominantemente em alvenaria de
pedra, exceptuando alguns casos pontuais onde é utilizado o tijolo maciço ou mais raro
ainda a taipa.
“… No Baixo Algarve, a taipa concorre
com a pedra, embora esta seja hoje usada
em muito maior escala. Tavira e Loulé
tiveram muralhas de taipa, de que ainda se
encontram restos encastrados em cubelos e
lanços de pedra.…”34
A pedra utilizada nos edifícios antigos em Loulé é geralmente calcária e muito
pontualmente de xisto margoso. As dimensões e forma das pedras utilizadas variam
consoante o tipo de construção, sendo utilizada alvenaria de pedra irregular, não
aparelhada de dimensões menores, nas construções mais populares, e de dimensões
maiores nas construções mais ricas. Também podemos encontrar, mas mais pontualmente,
casos de alvenaria de pedra aparelhada como no casos das muralhas onde estas alternam
fiadas de pedra de grandes dimensões com fiadas de pedra mais pequena, que servem para
corrigir os espaços e os alinhamentos entre os blocos maiores, diminuindo assim a
excessiva espessura do ligante.
A alvenaria de pedra consegue apresentar juntas com cerca de 2 a 4 cm de
espessura, isto devido à utilização da pedra mais pequena que diminui o espaçamento entre
os blocos maiores. Para ligar a alvenaria é utilizada a argamassa à base de cal, este é o
ligante tradicional e o mais aconselhado. Este ligante é aplicado em finas camadas para
possibilitar seu endurecimento.
34 RIBEIRO, Orlando, 1992, Geografia e Civilização – Temas Portugueses, 3ª Edição, Livros Horizonte, pp. 41.
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Imagem 48 – Uso do perpianho na junção de duas paredes.
Imagem 47 – Molduras de Vãos.
As paredes de alvenaria necessitam de elementos que possibilitem e assegurem a
estabilidade estrutural quando surge necessidades de desenho arquitectónico simples como
o rematar de duas paredes
perpendicular ou a abertura de vãos de
menor ou maior amplitude. Estes
pormenores que asseguram a
estabilidade estrutural começam pelo
desfasamento das juntas, de forma a
criar um imbricado que dificulte o
progredir de fendas. Ainda na
construção da própria parede é
também importante o uso do
perpianho35 que é a pedra que atravessa a parede de face a face que evita anomalias
estruturais, finalmente a execução de cunhais na junção de dois planos de parede podem
ser com perpianhos de maior ou menor dimensão bem emparelhados de forma a rematar a
junção das paredes garantindo assim uma melhor estabilidade estrutural. Para finalizar os
planos da parede pode-se ainda referir, embora pouco utilizado na construção em Loulé de
elementos metálicos que podem ser aplicados na construção de raiz ou em intervenções de
reabilitação estrutural, que consiste na utilização de tirantes de ferro que são ancorados nas
extremidades de duas paredes. Esta utilização de reforço estrutural é meramente passiva
apenas sendo utilizada em casos de deformação estrutural como movimentos de origem
térmica, assentamentos de fundações
ou empenamento das paredes.
A abertura de vãos é outro dos
aspectos construtivos de maior
importância pois implica uma
interrupção da estrutura da parede o
que implica um reforço na periferia
dessas aberturas de modo a garantir a
sua estabilidade. Os materiais
utilizados variam consoante a
35 …perpianho, significado: pedra que acompanha toda a largura do muro, tendo as duas faces visíveis aparelhadas.
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disponibilidade dos materiais da região, da dimensão do vão e da importância estrutural da
parede.
As soluções utilizadas variam das mais simples como a utilização de lintéis de
pedra que atravessam a abertura e apoiam-se nas extremidades da parede, esta solução
adequa-se a pequenas aberturas pois tem uma capacidade de resistência muito limitada.
Outra solução é a utilização de lintéis de madeira, aplicam-se toros redondos em
número variável consoante a espessura da
parede.
Na construção mais evoluída
encontramos o sistema de arcos que distribuíam
o peso para as extremidades dos vãos.
Inicialmente esta técnica surgiu em forma de
simples triângulos compostos por três elementos
de pedra. Evoluindo para arcos de pedra
previamente talhada para a forma desejada. Mais
tarde surge nas construções mais nobres os arcos
em tijolo maciço, que consiste na utilização de
blocos paralelepipédicos onde as juntas de
argamassa, de forma trapezoidal, lhes dão a
forma arqueada.
Por fim é necessário reforçar as
extremidades laterais dos vão, pois o peso transmitido pelo lintel nessa zona é mais
elevado. Este reforço é garantido ou por fiadas de tijolo ou alvenaria de pedra aparelhada
ou então pelo uso de cantaria nas construções mais ricas.
Anomalias
As anomalias nas paredes mestras são maioritariamente a desagregação, o
esmagamento e a fendilhação. Estas são provocadas por causas de natureza diversas, como
por exemplo razões de natureza estrutural, de natureza humana, ou devido à presença de
águas e acção dos agentes climatéricos.
No caso das estruturas em madeira o caso mais frequente é o seu apodrecimento,
por ataques de fungos ou por destruição devido ao ataque de carunchos. Estes fenómenos
estão normalmente ligados á presença esporádica, mas regular de águas com a madeira.
Imagem 49 – Arco de distribuição de peso.
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As fendilhações surgem
principalmente nas zonas onde a
parede se encontra mais frágil, como as
aberturas de vãos ou na ligação entre
duas paredes ortogonais. No primeiro
caso a razão da sua fragilidade deve-se
á concentração de esforços nas
extremidades do vão, de modo a
compensar a ausência destes em toda a
secção da abertura. No caso da junção de
duas paredes ortogonais, as fendilhações surgem devido ao facto destas poderem sofrer
movimentos diferenciados o que leva a esforços opostos.
Uma das principais causas das fendilhações nas paredes é o movimento por
assentamento das fundações, estas podem surgir sob várias fendas que progridem
verticalmente pela parede, atingindo larguras suficientes para que as duas margens se
desprendam totalmente. Este tipo de fendas, quando em estado avançado, podem originar o
colapso da parede.
Os sismos são também razão para o surgimento de fendas. Este tipo de fendas surge
novamente nas zonas de maior fragilidade e normalmente na diagonal, pela dissipação, por
parte da parede, das forças de corte aplicadas durante um sismo, abrindo fendas nos pontos
mais fracos da estrutura, que normalmente são as juntas. Estas fendas surgem devido à
fraca resistência das paredes de alvenaria de pedra a forças de corte.
Outra das razões que levam ao surgimento de fendas são as coberturas que podem
surgir por deficiente isolamento térmico, por abatimentos de arcos ou por má execução das
asnas. As alterações de temperatura provocam variações dimensionais da cobertura,
expandindo-a horizontalmente, que por sua vez criam fendas na ligação da cobertura com a
parede. O abatimento de arcos ou de asnas provocam sobrecargas horizontais excessivas,
traduzidas em forças de corte que levam ao surgimento de fendilhação nas paredes de
suporte da cobertura. Este fenómeno pode levar também à fendilhação na junção de
paredes ortogonais, pelo facto de estas estarem a receber esforços diferenciados.
Passando agora para a desagregação, embora de menor dimensão e mais usual,
estas anomalias quando descuidadas podem levar a danos graves. As anomalias mais
generalizadas podem ser provocadas por um conjunto de factores, actuando isoladamente
Imagem 50 – Fendilhação e Desagregação em zonas frágeis da parede.
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ou em conjunto, como a acção de agentes climáticos, fendas não reparadas, presença de
água das chuvas ou domésticas e pela poluição.
A poluição é responsável pelo
desgaste superficial das paredes, afectando
principalmente paredes em que a pedra
utilizada é de menor qualidade como alguns
calcários e arenitos, nomeadamente o adobe
ou a taipa. Este factor de desagregação é
facilmente contrariado através de acções
periódicas de conservação.
A água é o principal factor de
degradação das paredes. As humidades
infiltradas nas paredes percorrem os
percursos mais acessíveis, sendo estes os
pontos fracos das paredes como as fendas e
juntas. Ao percorrer o interior da parede a
água dissolve os sais solúveis das
argamassas e dos próprios elementos constituintes da alvenaria, modificando a estrutura da
parede. Conforme percorre a parede, a água vai ficando cada vez mais rica em sais, até que
as condições climáticas e de humidade provocam a sua evaporação libertando os sais no
interior ou entre a parede e o revestimento. Este ciclo rítmico desgasta a parede pois retira
sais onde este são necessários, deixando vazios que fragilizam as argamassas, e por fim
depositando-os em zonas onde se tornam excessivos, criando assim a desagregação dos
rebocos e mesmo fendas nas paredes. Esta acção é piorada quando as águas são poluídas
como nos casos de ruptura de tubos de
drenagem de águas residuais.
Os factores climatéricos que
degradam as paredes passam também
pelo vento que transporta poeiras e
areias e pelas alterações consecutivas
de temperatura, que degradam a
parede pela sucessiva alternância entre
calor e frio traduzindo-se em
Imagem 51 – Desagregação do Reboco.
Imagem 52 – Colapso de Parede de Alvenaria de Pedra.
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constantes contracções e expansões da parede.
As desagregações podem provocar profundas alterações das características
mecânicas das alvenarias como a redução de resistência à compressão e ao corte. Esta
diminuição de resistência pode manifestar-se de várias formas, desde a ruptura de
fragmentos, ao abaluamento das paredes até a ruptura da própria parede.
Soluções
As soluções de reparação de paredes mestras passam essencialmente por cuidados
a nível de humidades, através de drenagem seguida de impermeabilização, consolidação e
reforço das paredes através de injecções, aplicadas à colmatação de fendas e de vazios,
substituição do material degradado, adição de elementos metálicos para cozer fendas ou
para ligação entre elementos e adição ou introdução de uma estrutura de betão.
Para efectuar a drenagem de uma parede é recomendado em primeiro lugar verificar
os níveis de humidade através de um humidímetro, de seguida consoante o caso
apresentado aplicar-se-á a solução que melhor se adeqúe ao tipo de humidade presente na
parede.
Para a humidade por absorção é aconselhado a substituição dos materiais afectados
por materiais com características similares. De seguida é necessário refazer as juntas
afectadas restituindo-lhes a permeabilidade.
Para a humidade por penetração é necessário em primeiro lugar reparar a causa da
penetração como tubos da rede de águas, de esgotos ou de condução de águas pluviais, que
em muitos casos se encontram no interior da parede. De seguida é necessário efectuar a
reparação das zonas afectadas como as juntas ou argamassas.
Nos casos de humidade por infiltração como a humidade por capilaridade é
necessário retardar o acesso da água através de impermeabilização e da criação de
pendentes no terreno que dificultem o acesso da água ás fundações, pavimentos e paredes.
Para a consolidação e reforço das paredes mestras existem técnicas que respondem
a vários níveis de reabilitação consoante as anomalias apresentadas.
O recurso às injecções destinam-se a repor as condições de integridade das paredes,
como já falamos nas fundações, o preenchimento de vazios. Mas para além de repor as
condições de integridade, as injecções também servem para melhorar as características
intrínsecas da alvenaria e da argamassa, havendo a possibilidade de dar às alvenarias
antigas, características semelhantes ás das alvenarias correntes ou mesmo controlar o nível
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de resistência da alvenaria,
seleccionando o material da injecção e
controlando o processo de injecção.
A substituição do material
degradado através de técnicas
tradicionais é uma opção com muito
interesse pois, quando bem efectuada,
garante a compatibilidade entre os
materiais novos e os existentes. Esta
técnica consiste na remoção do
material da secção degradada e a sua substituição por material novo com características
semelhantes. Nesta técnica é muito importante a selecção das argamassas, pois é necessário
garantir a compatibilidade, mesmo quando o material é idêntico e controlar a sua retracção,
pois esta dará origem ao surgimento de tensões tangenciais entre as superfícies de contacto,
o que originará fendas na ligação.
Existe também a possibilidade de se recorrer á adição de elementos metálicos que
irão reforçar a resistências das alvenarias. Estes elementos metálicos passam por redes
metálicas, gateamento de fendas até ao uso de tirantes nos casos de maior necessidade de
reabilitação.
As redes metálicas são uma
intervenção de menor impacto na
estrutura da parede, estas são utilizadas
para reforçar as argamassas, como por
exemplo na junção de uma argamassa
nova a uma já existente.
Uma utilização de elementos
metálicos com maior impacto será o
gateamento de fendas. Esta técnica
consiste em unir os dois lados da fenda
com grampos de aço, sendo necessário
garantir que os gatos atravessem
completamente as fendas. É aconselhado complementar esta técnica com injecções nas
fendas de modo a impedir a concentração excessiva de tensões nos elementos metálicos.
Imagem 53- Injecções em Parede de Alvenaria.
Imagem 54 – Rede Metálica de Reforço da Argamassa.
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Por fim temos os tirantes
metálicos, estes aplicam-se quando é
necessário consolidar as paredes
através da interligação de paredes
ortogonais e da reparação de fendas
causadas normalmente por
assentamentos de fundações e por
sismos. Este método funciona pela
colocação de tirantes de aço, embutidos nas alvenarias e devidamente ancorados, de forma
a exercerem forças de tracção. Estes tirantes podem ser passivos ou activo conforme a
forma como são mobilizados.
Os tirantes passivos não afectam as condições de equilíbrio das paredes e a sua
utilização é mobilizada apenas na ocorrência de situações que alterem os equilíbrios
normais ou anteriores como por exemplo, a ocorrência de assentamentos, sismos ou
impulsos horizontais. Estes tirantes têm o problema de a sua mobilização apenas ocorrer
depois de dar-se um deslocamento e com o passar do tempo perde-se o efeito de
esticamento devido ao efeito de relaxamento do aço.
Os tirantes activos permitem o controlo do esticamento, controlando-se a
deformação do tirante e a fendilhação da alvenaria e beneficia a capacidade resistente da
alvenaria, pois como se sabe, quanto mais compressão existir mais resistente a alvenaria se
torna, especialmente a forças de corte. Em contrapartida, como o próprio nome indica, o
tirante activo aplica um pré-esforço na alvenaria o que altera as condições de equilíbrio da
estrutura, pois altera o estado de tensões e extensões, o que pode provocar deslizamentos e
cortes, tão ou mais graves como as que a sua aplicação pretendia resolver.
Uma outra solução para a consolidação e reforço das paredes mestras de alvenaria é
o reticolo cementado. Esta técnica consiste na introdução de um reticulado de barras de
aço através de furações feitas na parede e posteriormente injectadas com caldas de
cimento. Esta técnica para além de respeitar as características da alvenaria, pois foi
desenvolvida unicamente para esta função, permite o aumento de resistência á tracção que
a parede de alvenaria não possui. Em contrapartida o reticolo cementado é uma técnica
patenteada, logo dispendiosa e por isso pouco utilizada não só a nível nacional mas
também internacional. O facto de ser patenteada também limita a sua divulgação e
experimentação o que leva à existência de pouca informação sobre a mesma.
Ilustração 9 - Tirantes Metálicos.
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Para finalizar as intervenções em paredes de alvenaria temos a introdução de betão
armado. Esta técnica apesar de utilizada é desaconselhada pois tem desvantagens que
afectam o equilíbrio da própria alvenaria. Como solução temos a estrutura de betão
reticulada que pode ser embutida na parede ou exterior a esta. Tanto a solução aplicada no
interior da parede como a do exterior, trazem problemas devido à desproporção entre a
rigidez dos elementos de alvenaria e de betão pelo seu diferente comportamento em
relação aos diferentes esforços submetidos. Como exemplo temos o caso das estruturas que
são embutidas na parede de alvenaria, nestes casos existe o problema de uma estrutura de
betão ser projectada e desenvolvida para aguentar as cargas verticais e horizontais a que é
submetida, logo retira o peso próprio da parede de alvenaria, ou seja as forças de
compressão que as paredes de alvenaria necessitam para manterem a sua resistência.
Nas paredes mestras com elementos em madeira as principais anomalias são a
degradação da madeira e dos elementos de ligação entre a madeira e os outros materiais,
como as paredes, as coberturas e os pavimentos. Esta degradação é normalmente
provocada pela deterioração dos elementos metálicos, como a corrosão dos pregos ou por
ataques de fungos que normalmente surgem em zonas húmidas.
Nestas anomalias a solução mais adequada passa pela reposição e possível reforço
das zonas de ligação afectadas, reconstituindo ou substituindo as partes dos elementos
deteriorados, tanto os elementos em madeira como os elementos metálicos.
Embora em Loulé prevaleça a construção em alvenaria de pedra, existem também
apontamentos de construção em tijolo maciço, taipa e adobe.
Estes tipos de paredes aparecem excepcionalmente nalgumas construções em Loulé
ou nos arredores, como exemplo da construção em taipa temos a Torre de Vela, na Rua
Eng. Duarte Pacheco.
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3.2.2- Paredes em Alvenaria de Tijolo Maciço
As paredes em alvenaria de
tijolo maciço dos edifícios antigos de
Loulé, utilizavam tijolos de concepção
local com dimensões de 20 × 12 × 5
cm.
A anomalia mais comum neste
tipo de paredes é a degradação das
argamassas de reboco, normalmente
nas zonas de maior fragilidade como os
cunhais e pontos de rotura como nos algerozes e tubos de queda. Estas anomalias devem-se
em grande parte a erros logo na fase de execução que podem surgir do projecto, do
material utilizado ou mesmo da aplicação deste. A degradação da argamassa de reboco
leva a sua desagregação deixando de proteger o tijolo, o que por sua vez, leva à sua
degradação.
Para proceder à reparação de uma alvenaria de tijolo maciço é aconselhado em
primeiro lugar diagnosticar se a origem do problema é exterior à alvenaria para no caso
proceder-se à reparação ou substituição desses elementos.
Se a anomalia for nas juntas, deve-se proceder á reparação ou remoção destas e no
caso dos tijolos, se a degradação for mínima, pode-se recoloca-los com a zona degrada
para o interior. É aconselhável o uso de argamassa de cimento e se possível substituir a
existente por argamassa de cal, mais adequada para este tipo de paredes.
No caso de haver a necessidade de demolir e reconstruir parcialmente a parede
deve-se substituir apenas os tijolos degradados. Os tijolos devem ser aparelhados de forma
igual aos pré-existentes e devem ser similares na cor, textura e durabilidade para reagirem
as acções exteriores de igual forma.
No caso de se pretender deixar a alvenaria de tijolo á vista, não se deve aplicar tinta
nem envernizar a alvenaria, neste caso é aconselhado apenas a aplicação de materiais
específicos de reabilitação.
Imagem 55 - Parede em Alvenaria de Tijolo Maciço.
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3.2.3- Paredes em Taipa
A arquitectura em terra do
Algarve e nomeadamente de Loulé tem
um elevado valor patrimonial, sendo
necessário preservar e qualificar este
tipo de construção.
A construção, sobretudo de
habitações em taipa e em adobe não é
muito comum no meio urbano, sendo
que este tipo de construção se encontra
principalmente no meio rural.
A construção em terra apresenta várias vantagens que justificam o seu uso tanto em
arquitectura contemporânea como principalmente em intervenções de reabilitação. Este
material é em primeiro lugar acessível, económico, reciclável e não poluente na sua
produção e aplicação e apresenta vantagens a nível construtivo significativos como o peso
próprio reduzido, elevada porosidade, elevada resistência á compressão, excelente
comportamento térmico e por fim é deformável na ocorrência de sismos.
As paredes de taipa dependem muito da qualidade da sua execução apresentando
assim maior ou menor durabilidade e maior ou menor isolamento térmico. A taipa tem
como composição 20% de argila, 10% de gravilha, 40% de areia e 30% de silte que serve
de ligante para composição.
As fundações são de alvenaria de
pedra e elevam-se cerca de 0,50 m acima do
solo de modo a evitar o contacto da taipa
com o pavimento protegendo-a assim da
humidade e de uma maior desagregação.
Em cima das fundações é feita a
parede com cerca de 0,40 a 0,60 m de
espessura, esta espessura depende dos
Imagem 56 – Torre da Vela, Construção em Taipa.
Ilustração 10 – Instrumentos Para a Realização de uma Parede em Taipa.
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enxaiméis36, estes são enchidos de terra de
barro compactada em várias camada, dando
assim a forma à parede através de vários
blocos desenhados pelos próprios enxaiméis.
Os cunhais são feitos com os blocos
intercalados, através de contrafiadas e as
juntas são feitas com argamassa de cal hidráulica reforçada com tijoleiras.
Para a abertura de vãos, após a conclusão da parede são aplicadas padieiras37 com a
forma da abertura de modo a poder proceder-se á escavação do vão. Feita a abertura
conclui-se com o guarnecimento do vão com madeira, cantaria ou tijolo.
Terminada a execução da parede, esta é lavada pelas águas da chuva para depois ser
rebocada e caiada. Este acabamento é da maior importância pois dele depende a
durabilidade da parede.
As Patologias mais frequentes nas paredes em taipa são a degradação e
consequentemente a desagregação do reboco e o apodrecimento das madeiras da cobertura
e dos lintéis no contacto com a parede. Nos casos de maior gravidade poderá dar-se a
desagregação da própria parede.
Para a reparação do reboco aconselha-se a remoção da secção degradada e a sua
reparação ou substituição por um reboco novo mas com características semelhantes.
Para o apodrecimento das madeiras a solução será repara-las ou substitui-las
envolvendo os encastres dos barrotes com barro.
Por fim no caso de desagregação da parede é aconselhado a regularização da falha
em forma de prisma de modo a fazer separadamente uma forma em taipa para depois
preencher o espaço em falta, estas duas operações devem ser feitas de modo a deixar a
superfície de contacto de ambas rugosa, para facilitar a ligação entre as duas.
36 …enxaimeil, significado: tabuões ou estacas que, com varas, constituem o engradado das paredes de taipa, destinado a receber e manter o barro amassado. 37 …padieira, significado: o mesmo que verga ou lintel. Verga: Viga grande colocada sobre alvenaria, maciços, pilastras e destina-se a suportar grandes cargas.
Ilustração 11 – Fundação, e Parede Feita por Enxaiméis.
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3.2.4- Paredes em Adobe
O adobe é o material menos
comum na construção tradicional de
Loulé e como a taipa tem mais
presença no meio rural. Este material
era mais usado na construção de
paredes interiores.
O adobe tem como
componentes 17% argila, 15% silte,
65% areia e 3% fibras vegetais como
palha, crina de animais e caroços de
azeite. O bloco de adobe era feito no local da obra, para isso eram utilizados moldes onde
se colocava a terra amassada com água, de seguida eram retirados os moldes e o adobe
secava ao sol. As dimensões da parede variavam consoante a sua altura, exigindo maior ou
menor número de fiadas. Para reforçar a parede por vezes eram colocados pedaços de telha
ou uma argamassa forte de cal e areia entre cada fiada.
Imagem 57 – Blocos Artesanais de Adobe.
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3.3- PAREDES DE COMPARTIMENTAÇÃO
As paredes de compartimentação eram inicialmente projectadas apenas com a
função de separar e organizar os espaços interiores, mas em muitos casos passam a ter uma
função estrutural devido á cedência dos pavimentos, pois com o envelhecimento natural e
pelas características de resistência e elasticidade das madeiras, estas aumentam a sua
flecha, apoiando-se nas paredes divisórias que oferecem resistência e travam a deformação
vertical, passando deste modo a ter uma função estrutural.
Estas paredes têm diversas soluções, que vão desde as mais regionalistas, como as
paredes em blocos de adobe e taipa, ás que se expandiram por todo o pais, como as paredes
em tabiques, que são as mais utilizadas nos edifícios antigos de Loulé.
As paredes de tabiques podem ser feitas por fasquiado de madeira, a solução mais
frequente, ou em tabiques de pedra ou tijolo, estas usadas em construção mais modesta por
serem mais pesadas e menos resistentes, logo mais económicas.
Os tabiques em fasquiado de
madeira tinham cerca de 0,15m de
espessura, estes eram feitos a partir de
prumos verticais de madeira separados
entre si cerca de 0,50 a 0,70m, sobre
estes eram pregados,
perpendicularmente, o fasquiado de
ripas de madeira separados cerca de
1cm entre si, completando-se o
esqueleto de madeira. Sobre o
esqueleto era colocado o emboço e o
reboco em argamassa de cal, areia, barro e fibras, como pelos e fibras sintéticas. Para
finalizar o revestimento do tosco da parede, esta era caiada ou estucada.
Os tabiques de pedra ou tijolo eram utilizados em construção mais modesta pois
esta solução era menos dispendiosa que a estrutura em madeira. Esta solução é também
composta por um esqueleto em madeira, mas este sistema usa apenas um pequeno número
de fasquiados sendo o espaço preenchido com pedras irregulares ou tijolos argamassados.
O tosco da parede completa-se com o revestimento de argamassa de cal caiada ou
estucada.
Imagem 58 – Parede em Tabique de Madeira.
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As patologias dos tabiques surgem
maioritariamente por excesso de humidade.
Esta cria danos em diferentes zonas da
estrutura, podendo surgir no reboco por
fissuração ou desaprumo, nas madeiras por
apodrecimento e nos pregos pela corrosão do
metal.
A humidade que afecta as paredes
interiores, não vem do exterior, como é
normal nos outros casos, esta vem do próprio
edifício. Para reduzir as humidades no
interior do edifício é essencial uma boa
ventilação, esta pode ser conseguida pela
renovação do ar, através da abertura de vãos
ou pela colocação de extractores de
humidade.
È da maior importância que se tente sempre preservar as paredes originais do
edifício, deste modo, sempre que possível, deve-se reparar pequenos danos através da
reparação ou substituição das secções danificadas, evitando a substituição total da parede.
Nos casos em que a reparação não seja possível ou viável, deve substituir-se por paredes
estreitas e leves como por exemplo, paredes de placas de gesso cartonado.
Imagem 59 – Parede em Tabique de Pedra.
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3.4- PAVIMENTOS
Os pavimentos do piso térreo são normalmente simples, onde nos meios rurais,
seriam de terra batida e nas construções urbanas ou mais cuidadas, seriam de enrocamento
de pedra, sobre o qual existiria uma camada de revestimento de pedra serrada, a baldosa ou
a tijoleira quadrangular.
Nos Pisos elevados encontramos quatro tipos de sistemas estruturais diferentes,
utilizando desde a madeira, o tijolo e o ferro. Em madeira temos dois tipos de sistemas
distintos, o sistema de dormentes e o sistema de soalho. Utilizando elementos cerâmicos e
vigas em madeira que posteriormente foram substituídas por vigas em ferro, temos o
sistema de abobadilhas. Existe ainda o sistema em abóbadas de berço, constituído
unicamente por elementos cerâmicos.
Imagem 61 – Pavimento em Baldosa. Imagem 60 - Pavimento em Mosaico Cerâmico.
Imagem 62 – Pavimento em Ladrilho. Imagem 63 – Pavimento em Soalho.
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3.4.1- Pavimentos em Madeira
Os Pavimentos com solução estrutural em madeira são os mais usuais nas
construções em Loulé, por serem mais leves e de construção mais simples e económica.
Dentro das estruturas em madeira vamos falar de duas soluções, o sistema de
dormentes e o sistema de soalho, sendo o segundo mais usual. Estes dois sistemas utilizam
praticamente estrutura semelhantes.
Características
O sistema de dormentes é constituído por um primeiro vigamento longitudinal de
madeira apoiado nas paredes mestras. O vigamento é em barrotes com 15 a 20 cm de
diâmetro, distanciados entre si 1,0 a 1,5 m. Transversalmente assenta sobre este, um
segundo vigamento de madeira, com barrotes de 0,15 a 0,20 m de diâmetro, distanciados
entre si com a distância do comprimento dos ladrilhos. Sobre a estrutura de madeira eram
sobrepostas duas ou três fiadas entrecruzadas de ladrilho, sendo a inferior caiada e a
superior apenas argamassada.
No caso do sistema de soalho
em madeira a estrutura era idêntica.
Constituindo-se com um primeiro
vigamento apoiado nas paredes e sobre
este um segundo vigamento de barrotes
espaçados 0,5m entre si, onde sobre os
quais eram pregados
perpendicularmente pranchas de
madeira com cerca de 2,2 a 2,5 cm de
espessura. As pranchas de madeira podiam variar de dimensões, mas as mais usuais seriam
11 cm no caso do chamado soalho à inglesa ou 14 a 22 cm no caso do soalho á portuguesa.
O tratamento da madeira do soalho pode ser encerado, que permite uma melhor
conservação e higiene mas requer uma manutenção mais frequente, ou envernizado, que
permite uma manutenção mais fácil mas oferece pior protecção à madeira, pois não a deixa
respirar. Estes soalhos são sempre rematados na junção com a parede por um rodapé com
cerca de 10 cm.
Imagem 64 – Pavimento em Sistema de Soalho.
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Imagem 65 – Degradação e Apodrecimento da Madeira.
Anomalias
As anomalias mais frequentes
nos pavimentos de estrutura em
madeira são a degradação e
apodrecimento de secções da madeira,
deterioração das condições de ligação
entre a estrutura do pavimento e a
parede e a deformação excessiva dos
pavimentos. Nos dois primeiros casos
as anomalias surgem maioritariamente
no contacto ou mesmo no interior da
parede devido à acumulação de humidade e ataques de agentes xilófagos, no terceiro afecta
toda a dimensão da viga e surge por insuficiente dimensão das secções de madeira ou por
excesso de cargas devido a alteração das funções do edifício.
As anomalias a nível estrutural do pavimento requerem especial atenção pois
quando não tratadas e resolvidas podem pôr em causa a integridade de toda a estrutura do
edifício.
Soluções
A deformação excessiva do pavimento coloca em risco toda a integridade da
estrutura do edifício, nomeadamente em relação à acção sísmica. Sendo esta a patologia de
maior gravidade, será a primeira a ser abordada.
A deformabilidade do pavimento pode ser limitada por dois processos distintos. A
forma mais simples de reforçar a estrutura traduz-se na redução do vão, isto conseguido
pela implantação de apoios intermédios adicionais, ou seja, adicionar vigas suplementares
de reforço transversalmente às existente. Mas esta solução tem o inconveniente de
modificar o pé direito do piso, podendo pôr em causa a arquitectura do edifício, a nível
estrutural, construtivo e estético. A dificuldade estrutural surge com a necessidade de
garantir o apoio ás vigas acrescentadas sem que estas sobrecarreguem pontualmente a
parede. A nível construtivo, podemos encontrar a falta de disponibilidade de pé direito
livre, como no caso de portas ou janelas. A nível estético temos os elementos decorativos
que podem ser essenciais e de grande valor, que são comuns nas paredes e tectos de
habitações antigas.
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A segunda solução consiste no reforço da estrutura existente aumentando a
resistência do pavimento, deste modo, aumentando a sua rigidez e diminuindo a sua
deformabilidade. Este reforço pode ser conseguido através de duas hipóteses distintas, o
aumento do número de vigas, colocando novas vigas paralelas ás existentes e o reforço das
vigas já existentes, através da colocação de perfis ou chapas de aço pregados á viga,
criando assim vigas mistas aço/madeira.
Esta solução pode efectuar-se de duas formas consoante o efeito desejado, se o
objectivo for a estagnação da deformabilidade será aplicado um reforço passivo que
contraria a totalidade das cargas aplicadas no pavimento.
No caso de o efeito pretendido for nivelar o pavimento ao seu estado original será
necessário aplicar um reforço activo, que necessita da execução de escoramentos do
pavimento de forma a criar uma força ascendente que contrarie a totalidade das cargas
aplicas sobe o pavimento e que desta forma elimine a flecha provocada pelos mesmos.
Para isso será necessário reforçar as paredes sob e sobre o pavimento causando estragos
inadmissíveis ou em alternativa, efectuar um corte antecipado dessas paredes. Estes
inconvenientes reduzem substancialmente aplicabilidade desta solução.
A Ligação entre a estrutura do pavimento e as paredes é normalmente uma zona de
elevada degradação, tanto por ataques de agentes xilófagos, por apodrecimento derivado a
excessiva humidade ou mesmo por ruptura das ligações, sendo essencial garantir uma
eficaz, preservação ou reabilitação no caso de degradação avançada de secções ou no caso
de novas soluções de reforço como as acima referidas. Sendo sempre que possível
aconselhado a aplicação de peças auxiliares de aço que reforcem a ligação entre parede e
pavimento.
A reparação ou substituição de secções de madeira pode ser conseguida por vários
sistemas consoante a causa e o estado da anomalia. No caso de degradação por ataques de
agentes xilófagos é necessário a realização prévia de um tratamento preservador da
madeira e no caso de apodrecimento derivado a humidade, é necessário resolver
previamente a origem da humidade em excesso.
Uma solução muito utilizada, derivada à relativa simplicidade do processo, é o
“empalamento” das vigas. Este processo consiste na aplicação em ambos os lados da viga
degrada de novos elementos em madeira de forma a reforçar a secção degradada, sem que
seja necessário a sua substituição ou reparação. Estes elementos terão que ter a dimensão
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da altura e pelo menos a mesma largura da viga para garantir a resistência necessária ás
cargas sofridas e a ligação entre elementos.
Esta solução implica um tratamento da madeira especialmente cuidado, pois vão
estar em contacto com as zonas degradadas. Em contrapartida não implicam escoramento
do pavimento nem demorosas operações de remoção.
Outra solução consiste na remoção da secção da viga danificada, substituindo-a por
uma peça idêntica do mesmo material, sendo aconselhado o uso de madeiras velhas, bem
secas e de boa qualidade e que a madeira utilizada tenha características idênticas á pré-
existente. A ligação entre o elemento pré-existente e o novo, será garantida por elementos
metálicos auxiliares em ambas as faces da viga com um comprimento que garanta pelo
menos 20cm para cada lado do eixo de ligação de ambas secções e que garanta a
resistência a esforços de flexão, corte, tracção e compressão actuantes nas secções.
Esta solução já implica cuidados maiores para a sua realização pois necessita do
escoramento do pavimento enquanto é feita operação de substituição.
Por fim, existe uma terceira solução para o problema de degradação ou
apodrecimento das secções de ligação das vigas de madeira com a parede que consiste na
injecção de resinas epoxídicas nas zonas afectadas, estas resinas vão preencher os vazios
causados pela degradação ou pelo apodrecimento. A sua ligação é garantida pela própria
ligação entre resina e madeira e é reforçada através da incorporação de varões de aço ou de
resina de poliéster que atravessam a madeira sã e ficam embebidos na zona reconstituída.
Esta solução, apesar de implicar um acrescentado custo de resinas e a
especialização da mão de obra, apresenta-se como acessível a nível técnico e económico,
sendo uma solução muito eficaz pela elevada resistência a agentes agressivos.
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3.4.2- Pavimentos em Alvenaria, Tijolos e Mistos
Depois de abordarmos os pavimentos em madeira, passamos agora para os
pavimentos com a estrutura em alvenaria ou em tijolo maciço e as estruturas de sistema
misto. A estrutura em alvenaria ou em tijolo é denominada de sistema de abóbodas ou
abóbodas de berço e a estrutura mista, que combina o tijolo maciço e perfis metálicos é o
sistema de abobadilha.
Características
O sistema de abóbadas era
utilizado quando se desejava dispor de
soluções mais duráveis e capazes de
responder a exigências mais severas e
mesmo assim possibilitando a
existências de vãos livres. É disso
exemplo a utilização desta estrutura
nos pisos térreos e nas caves onde o
contacto com a terra e a humidade era
maior.
O revestimento do pavimento da estrutura em abóbadas pode ser executado de duas
formas. Pode ser feita através de uma estrutura de madeira apoiada nos elementos de
alvenaria, construindo-se um vigamento que será o suporte do soalho. A segunda solução
consiste no preenchimento do arco com entulho seleccionado e sobe este é colocada uma
camada de argamassa que servirá de base para o revestimento que pode ser em soalho mas
o mais aconselhado seria em lajedos de pedra, ladrilho ou mosaico cerâmico.
A solução em madeira tem a vantagem de ser mais leve, mas o peso aparentemente
excessivo, que a solução de enchimento com entulho transmite, pode ser um elemento
estabilizador da própria estrutura do arco, pois como já referido, a compressão é um
elemento fulcral para garantir a resistência a forças de corte das estruturas em alvenaria.
Os arcos e abóbadas possibilitam oferecer várias soluções tanto a nível construtivo
como da sua geometria. O abatimento do arco surgiu como uma necessidade estética e
também construtiva, pois quanto mais abatido for o arco maior será a dimensão de vão que
ganha sem que para isso necessite de um pé direito muito elevado. Mas também surge o
Imagem 66 – Abóbada de Berço em Tijolo Maciço.
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problema de quanto mais abatido for o arco maior serão as cargas verticais sobre a parede
de suporte enquanto que num arco de volta perfeita as cargas são exclusivamente
direccionadas na vertical.
Os arcos também podem variar no seu material, ou seja podem ser de pedra talhada,
apenas utilizada em construção mais nobre, como por exemplo edifícios militares e
religiosos ou em elementos cerâmicos, como o tijolo maciço, este é colocado ao cutelo
artisticamente organizado de forma a distribuir as forças para a parede de suporte. Este por
ser mais acessível apresenta-se como a solução mais utilizada.
No final do séc. XIX surge
uma estrutura onde se combina
pequenas abóbadas de tijolo, com
cerca de 0,5m apoiadas em vigas de
ferro, de perfil em I. Este tipo de
estrutura é denominado de sistema de
abobadilhas e consiste num vigamento
longitudinal, originalmente de madeira
e posteriormente em perfis metálicos
de ferro, distanciados entre si cerca de 0,5m. Entre este vigamento era feito uma pequena
abóbada de elementos cerâmicos, ladrilhos ou tijolos maciços com a dimensão do
distanciamento entre cada viga, estes colocados ao baixo em fiadas horizontais.
O espaço entre as abobadilhas
pode ser livre ou preenchido com uma
argamassa forte para nivelar sendo
finalizada com uma camada de
argamassa de cal e areia onde era
colocado o revestimento do pavimento,
normalmente em ladrilho ou soalho.
Este sistema passou a ser muito
usual em edifícios habitacionais
constituindo a generalidade das lajes de
pavimento, principalmente em zonas
húmidas.
Imagem 67 – Sistema de Abobadilhas.
Imagem 68 – Sistema de Abobadilhas Rebocado.
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Anomalias
As anomalias nos pavimentos em abóbadas de alvenaria são normalmente, o
esmagamento e a desagregações ou anomalias semelhantes às anteriormente referidas nas
paredes, como a fendilhação, relacionada com a ocorrência de deslocamentos, por
excessivas cargas sobre os arcos e abóbadas, ou mesmo das paredes de suporte, podendo
esta estar enfraquecida em relação ás forças horizontais.
Nas estruturas mistas as anomalias podem ocorrer nas abóbadas, como o caso de
fenfilhações e desagregações dos tijolos, mas as mais usuais dão-se nos perfis metálicos,
sendo a corrosão, devido a humidades, a principal.
Soluções
No que se refere à resolução das patologias em estruturas de alvenaria ou seja,
sistema em arcos e abóbadas, as soluções dependem de caso para caso, sendo necessário
em primeiro lugar detectar e resolver as causas que levaram ao seu surgimento.
A anomalia mais significativa é a fendilhação da estrutura sendo causada
normalmente por movimentos e cedências dos apoios dos arcos e abóbadas. A resolução de
problemas relacionados com as fundações e paredes de apoio já foram anteriormente
descritas, sendo agora necessário descrever as soluções para a estrutura deste sistema. Para
os casos de fendilhação é aconselhado a reconstituição da integridade da estrutura,
podendo optar pela injecção da fenda, nos casos de menor gravidade ou pela reconstrução
local da zona afectada, nos casos onde a fenda já tenha uma dimensão acentuada.
As técnicas de resolução de problemas como a degradação ou desagregação do
material e de reconstrução de arcos e abóbadas seguem os princípios já descritos nas
paredes de alvenaria, sendo importante recorrer a materiais e tecnologias o mais idêntico
possível às originais.
É também possível reforçar a estrutura das abóbadas de forma a melhorar o seu
desempenho em relação a cargas verticais e mesmo a sismos. Estas técnicas de reforço são
também, semelhantes ás técnicas utilizadas nas paredes de alvenaria.
Consoante o caso apresentado é necessário decidir a melhor solução a aplicar. O
leque de soluções começa pelas de menor intervenção como o reforço do reboco, que lhe
confere uma função estrutural. Esta intervenção consiste na introdução no reboco de uma
rede metálica pregada entre si. Outra solução é o reticolo cementado, solução já explicada
no reforço de paredes de alvenaria. E finalmente uma das soluções de maior impacto para
as abóbadas a nível estético e a nível da verdade construtiva, que é sempre um objectivo a
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cumprir na reabilitação dos edifícios, é o reforço superior do arco ou da abóbada. Este
reforço consiste num segundo arco em betão que pode ser dimensionado para suportar as
cargas verticais e também o peso do arco ou abóbada, ficando este suspenso no arco de
betão.
Para finalizar falta apresentar as soluções para as anomalias no sistema de
abobadilhas. Estas dão-se maioritariamente nas vigas, dependendo do grau de degradação
estas vão de superficiais a profundas.
No caso em que a corrosão é apenas superficial é necessário verificar a
percentagem de secção afectada em relação ao total pois esta não poderá ser superior a
10% de modo a não por em causa as condições de segurança do pavimento, caso esta
percentagem seja ultrapassada seria necessário efectuar uma operação de reforço.
A reparação da viga pode ser feita por limpeza, reforço ou substituição da secção
afectada consoante a gravidade dos danos da viga.
Para reparar uma viga afectada pela corrosão é necessário efectuar a limpeza das
zonas oxidadas para posteriormente fazer a protecção anti-corrosão do ferro. A limpeza
pode ser feita de modo manual ou mecânico, esta é feita escovando a superfície oxidada
com uma escova de aço até a zona degradada sair completamente surgindo o metal são.
Esta reparação é completada pela aplicação de um primário e duas ou três camadas de
pintura com tintas epoxídicas ou de poliuretano, de modo a garantir a protecção necessária
das vigas de agressões do ambiente e também garantir a sua durabilidade.
Nos casos em que a degradação seja mínima e não necessite de remover a zona
degradada da viga, mas seja necessário efectuar o seu reforço, este pode ser feito através de
chapas ou perfis metálicos. A aplicação das chapas é feita através da colagem com resinas
epoxídicas e completada com a aplicação de parafusos de ligação.
Caso haja necessidade de substituir a secção degradada da viga, por esta estar
demasiado degradada, será necessário proceder-se previamente ao escoramento do
pavimento seguido dos procedimentos já descritos na substituição de secções de
vigamentos de madeira. A secção nova a instalar deverá ser idêntica ao perfil da viga
existente. A ligação entre as peças será efectuada através de chapas metálicas colocadas
junto á alma da viga e a sua medida deverá ter pelo menos 0,20m para cada lado do eixo de
ligação entre a viga existente e a secção nova, a sua altura e espessura deverá ser igual à
alma da viga de modo a garantir a resistência necessária aos esforços sofridos na secção de
ligação das duas peças.
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3.5- COBERTURAS
As coberturas são consideradas a quinta fachada do edifício pois estas além de
protegerem o interior dos edifícios, no seu todo configuram uma parte importante da
imagem da cidade e no caso de Loulé, acentuada pela irregularidade do terreno. As
coberturas tradicionais de Loulé, apesar de existirem também açoteias, são
maioritariamente inclinadas com estrutura em madeira e revestidas com telha de canudo
artesanal.
As coberturas mais frequentes são as coberturas de duas águas, sendo estas, as
utilizadas em edifícios que necessitem de maior dimensão e por vezes por ampliação de
casas típicas rurais que originalmente tinham apenas uma água. As coberturas de quatro
águas são típicas dos edifícios mais nobres e de construção mais recente, nomeadamente
dos séc. XVIII e XIX. As açoteias surgem, principalmente, em coberturas mistas de
edifícios urbanos que em muitos casos eram resultado de obras de ampliação.
As formas e cores dos telhados de Loulé fazem parte da imagem da cidade sendo os
da zona histórica destacáveis das habitações novas pelas suas cores características da telha
de canudo artesanal alteradas pelo tempo e pelas suas formas que se moldam ás estruturas
antigas de madeira. Sendo do maior interesse preservar estas estruturas, evitando a sua
degradação por falta de manutenção ou por obras de reparação descuidadas.
3.5.1- Coberturas Inclinadas
Cobertura de uma água
As coberturas de apenas uma
água surgem em edifícios de pequenas
dimensões e de apenas um piso. Esta
estrutura relativamente simples
consiste em barrotes de madeira
assentes directamente nas paredes
frontal e tardoz, estes barrotes são
dispostos paralelamente e separados Imagem 69 – Cobertura de uma água.
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cerca de 50 a 70 cm entre si. O assentamento dos barrotes nas paredes é rematado através
de alvenaria de pedra miúda ou bocados de ladrilho, garantindo assim o travamento da
estrutura e a estanquicidade da cumeeira e do beiral do telhado. Os barrotes necessitam de
uma manutenção frequente, sendo em muitos casos caiados para garantirem a sua
desinfecção e limpeza.
A inclinação da cobertura é dada pela diferença de alturas das paredes sendo esta
normalmente entre 15 a 30%. Em edifícios pequenos, os barrotes são suficientes para
susterem a cobertura mas no caso de necessitarem de vencer vãos de maior dimensão é
acrescentada uma viga de madeira perpendicularmente aos barrotes e encastrada nas
paredes para dividir a distância a vencer, esta ou estas vigas suplementares são apelidadas
de madres.
Sob os barrotes é assente a base das telhas que irá proteger o interior do edifício,
esta pode ser de tábuas de madeira, ripado de madeira ou de um forro de canas.
Cobertura de duas águas
Os telhados de duas águas tanto correspondem a ampliações de habitações de uma
água, como a construções de raiz. No caso de ampliações, estas podem manter o telhado
existente apoiando as varas da segunda água na parede tardoz, sendo esta a cumeeira, ou
seja, o eixo de junção das duas águas. No caso de construções de raiz a estrutura pode ser
semelhante, mas em vez de a cumeeira ser na parede tardoz, passa a fazer-se num pau-de-
fileira. Tal como nas coberturas de uma água, quando as dimensões dos vãos a vencer é
maior, as varas são apoiadas em madres encastradas nas paredes
No caso de edifícios de
maiores dimensões, como armazéns,
a estrutura da cobertura é em asna,
que permite uma dimensão de vãos
maior.
Estas coberturas perdem a
inclinação junto ao beirado de modo
a projectar as águas pluviais para
longe dos rebocos das paredes de fachada, evitando assim a sua permeabilização.
Ilustração 12 – Asna em Madeira.
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Cobertura de quatro águas
As coberturas com telhado em
quatro águas sob uma asna são comuns
em construção de maior dimensão,
estes necessitavam de uma estrutura
que vencesse vãos de maior dimensão,
logo necessitavam de ser mais
complexas e portanto com custos mais
elevados. Sendo apenas aplicadas em
habitações nobres, ou por necessidade
como nos armazéns, estábulos ou edifícios de função industrial, pública ou religiosa.
As asnas são apoiadas nas paredes exteriores do edifício, nomeadamente a parede
frontal e a tardoz, esta ligação entre asna e a parede é embutida na alvenaria sobre um
barrote de madeira, o frechal, mais resistente que o comum, como o pinho-silvestre. A
constituição de uma asna é relativamente complexa, sendo uma combinação de forças
distribuídas e encaminhadas por vários elementos que sustentam o peso do telhado e
aliviam as forças horizontais das paredes de suporte. As asnas são constituídas por uma
barra de madeira horizontal, a linha, que apoia nos frechais. Sobre esta, estão apoiadas
duas barras, as pernas, que acompanham a pendente do telhado. Finalmente esta estrutura é
reforçada no interior por uma barra vertical ao eixo das duas pernas, o pendural, sendo este
ligado na diagonal ás pernas por duas escoras. Por fim sobre as pernas estão as madres,
estes são os elementos que suportam o revestimento da cobertura. A combinação de forças
de uma asna diminui ou anula os impulsos horizontais enviadas para as paredes de suporte,
pois esta estrutura funciona de forma independente de modo a anular as forças horizontais,
sem que para isso necessite de elementos esternos como os tirantes ou os contrafortes. Os
esforços sofridos pelos elementos das asnas são de tracção, na linha e no pendural e de
compressão e tensão nas pernas.
As ligações de elementos das ansas têm a maior importância, pois estes são
submetidos a grandes esforços e são os elementos que asseguram a estabilidade de toda a
estrutura. Estas ligações são normalmente feitas através de entalhe de dente simples ou
duplo com recurso a respigas e mecha podendo ser solidarizados com pregos ou mais
recentemente com chapas metálicas aparafusadas ou pregadas á madeira.
Imagem 70 – Cobertura de Quatro Águas.
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Em Loulé não é usual a existência de águas furtadas, o desvão das coberturas é
normalmente aproveitada para arrumos, servindo também de isolamento térmico para o
interior dos edifícios. No caso de edifícios não habitacionais o pé-direito é deixado livre.
Revestimentos de coberturas inclinadas
É frequente nas coberturas inclinadas existir um forro da cobertura. Este pode ser o
encaniçado tradicional, solução mais económica, logo mais utilizado em coberturas de uma
água ou o forro de tabuado, este mais dispendioso logo com utilização mais frequente em
coberturas de duas ou mais águas.
O encaniçado é um material que ainda é utilizado no concelho, seja em obras de
conservação quer em novas construções. Este material é constituído por canas,
previamente limpas e secas, dispostas perpendicularmente sobre os barrotes de madeira,
estas eram atadas umas ás outras e aos barrotes com cordéis de junca, que posteriormente
foram substituídos por sisal e actualmente por fios sintéticos.
O encaniçado era por vezes
completado com argamassa de cal e areia
colocada sobre as canas para melhorar o
isolamento térmico e acústico e papeis
ou plásticos sobre as canas de modo a
melhorar a impermeabilidade.
O forro em tabuado era utilizado
em coberturas de duas ou mais águas,
este apesar de mais dispendioso, oferecia
melhor isolamento térmico e acústico. O
tabuado era feito, como o nome indica,
por tábuas de madeira colocadas sobre o vigamento principal da cobertura ou sob o ripado.
Esta solução não necessitava de cuidados com a madeira podendo ser deixada ao natural,
embora também fosse comum esta ser pintada ou envernizada.
Os tectos de coberturas inclinadas tinham em muitos casos um tecto falso, de modo
a melhorar a sua habitabilidade a nível de conforto e a nível estético. Os tectos podiam ser
em placas de gesso, estafe ou mais comum em estuque decorado com baixos relevos.
Imagem 71 – Revestimento da Cobertura com Encaniçado.
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O revestimento mais comum nas coberturas inclinadas dos edifícios tradicionais em
Loulé é a telha em canudo de fabrico artesanal, esta é cerâmica e tem características de
porosidade, resistência mecânica, forma e estéticas divergentes das novas telhas
industriais. As formas feitas por telhas em canudo simplesmente sobrepostas, sendo as
mesmas peças, as capas e os canais e as suas suaves tonalidades ocres que variam do rosa
ao amarelo caracterizam a imagem da cidade, tanto vista de cima como a nível da rua.
As telhas em canudo foram gradualmente substituídas por telhas industriais que
pela sua cor, vermelho forte, e pela rigidez formal que pouco se adapta ás geometrias
complexas dos telhados antigos se destacavam das telhas tradicionais, ferindo a imagem da
cidade. Por volta do séc. XX começam a surgir as telhas tipo Marselha, nome dado pelo
seu local de origem, e mais recentemente a telha lusa com aba e canudo com encaixe. Hoje
já se fabricam industrialmente telhas cerâmicas de canudo, as do tipo “Santa Catarina”, em
que apesar de não terem as tonalidades dadas pelo envelhecimento do material já existe
uma preocupação cromática, mantendo os tons de ocre rosa da telha tradicional, sendo esta
a mais utilizada actualmente em Loulé.
Estas telhas são de secção cónica e mais largas numa das extremidades, conferindo
assim a estabilidade do assentamento e o eficaz escoamento das águas pluviais. As telhas
são colocadas de forma alternada, sendo colocado primeiro as telhas de canal com a
extremidade mais larga direccionada para a cumeeira e posteriormente as telhas de
cobertor com a extremidade mais larga direccionada para o beiral. Estas são colocadas em
fiadas desde o beiral até à cumeeira.
O assentamento das telhas variava das construções mais simples para as mais
elaboradas. Nas construções mais simples e pobres a telha era simplesmente colocada, sem
qualquer ligação, o que as tornava mais vulneráveis às acções do vento, que as levantava
ou que empurrava as águas pluviais contrariamente à pendente do telhado originando
infiltrações. Nos edifícios de construção mais cuidada as telhas eram por vezes fixadas por
gatos metálicos e/ou por aplicação de argamassas nas juntas entre telhas que garantiam
maior estabilidade geométrica e melhoravam a sua estanquicidade.
Patologias de Coberturas Inclinadas
As coberturas são elementos do edifício de grande complexidade e que estão em
constante contacto com as agressões do exterior como o vento e a chuva, logo é uma zona
onde surge um variado quadro de patologias, estas derivadas de infiltrações, pelo desgaste
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natural dos materiais mas particularmente por erros relacionados com o projecto e
execução, como o desconhecimento das características dos materiais como a resistência e
deformabilidade da madeira, o que leva ao deficiente dimensionamento das secções de
madeira empregues.
A deficiente selecção e
tratamento das madeiras também é
causa do surgimento de anomalias,
pois estas têm de ser tratadas e
protegidas contra agentes agressores
como os fungos e insectos, de modo a
evitar a sua degradação.
As infiltrações são também um
factor de surgimento de patologias nas
coberturas, estas advêm da perda de
funcionalidade das zonas correntes da
cobertura ou por perda de
funcionalidade da rede de drenagem de
águas pluviais.
As razões específicas das
anomalias nas coberturas, são por
vezes difíceis de explicar, pois podem
surgir de forma isolada ou surgir de um somatório de fenómenos sequenciais que se
desencadeiam uns aos outros.
Soluções
As soluções para as anomalias das coberturas são relativamente idênticas ás já
referidas nos pavimentos, sendo que as anomalias surgem principalmente nos elementos de
madeira, mais regularmente nas zonas de ligação entre cobertura e paredes de alvenaria. É
por isso da maior importância limpar e secar as madeiras para posteriormente tratá-las,
com produtos adequados, de forma preventiva ou curativa. Nos casos em que a degradação
já for avançada deve-se substituir as secções degradas, como foi anteriormente explicado
nas reparações dos pavimentos.
Imagem 72 – Degradação da Cobertura e do Estuque.
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É igualmente importante reforçar as estruturas de madeira, tendo especial atenção
aos elementos de ligação entre a madeira e as ligações com as paredes de alvenarias.
O reforço de ligações entre elementos de madeira, deve ser feito através da
aplicação de ferragens adequadas, como pés-de-galinha, esquadros, cruzetas e tês. Estes
elementos metálicos são pregados ou aparafusados, de forma a garantir uma maior
estabilidade de toda a estrutura da cobertura.
As zonas de ligação entre os elementos de madeira da cobertura e a parede de apoio
também merecem especial atenção, devendo aplicar-se frechais de madeira de forma a
distribuir o peso por toda a parede, evitando sobrecargas pontuais que danificam as paredes
de alvenaria. Esta ligação deve ser impermeabilizada pois é uma zona onde a madeira se
deteriora facilmente, devido ao contacto com a alvenaria e com os sais daí resultantes,
agravada pelo facto de não permitir a madeira respirar.
Outras patologias relacionadas com as coberturas derivam das telhas ou dos
elementos de drenagem das águas pluviais. Estes são um frágil elemento que separa o
interior do edifício dos elementos exteriores, logo estão regularmente submetidas ás
intempéries o que provoca a sua degradação. Nos casos onde seja necessário reparação
e/ou substituição de telhas, deve-se utilizar exemplares o mais idêntico possíveis ás pré-
existentes como as telhas de canudo de tipo Santa Catarina. Na fixação das telhas é
necessário dar especial atenção ás zonas mais vulneráveis como as cumeeiras, beirados,
algerozes e zonas de remate das chaminés. A fixação pode ser feita de várias formas sendo
as mais aconselhadas, a fixação por ganchos metálicos e a fixação com argamassa de cal ,
sendo a primeira preferencial por permitir a ventilação da cobertura.
Sempre que seja possível, durante a reparação de uma cobertura, deve-se proceder
ao melhoramento da funcionalidade da mesma, sendo aconselhável reforçar-se a
impermeabilização assim como o reforço da ligação entre as juntas das telhas com
argamassa. Se possível é também aconselhável, a colocação de rufos metálicos com chapa
de zinco ou tela asfáltica nas chaminés ou muros, de modo a criar caleiras para escoamento
das águas. O isolamento térmico pode ser melhorado pela aplicação de aglomerado negro
de cortiça expandido ou poliestireno extrudido sob um sistema de subtelha. Finalmente
para o isolamento acústico pode ser aplicado placas ou mantas de lã mineral.
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3.5.2- Coberturas Planas
O sistema de coberturas planas é denominado de açoteias ou varandas. Estas são
típicas das habitações algarvias e nomeadamente nas habitações em Loulé. Este sistema foi
originalmente concebido para a secagem de frutos locais mas foi gradualmente mudando
de função, sendo actualmente zonas de secagem de roupa ou de desafogo e lazer.
Este sistema podia cobrir todo o edifício, ou apenas uma parte, sendo o restante um
piso elevado que servia, para além de outras funções, de zona de acesso à cobertura,
Existem também casos onde a mesma habitação tinha duas açoteias distintas, sendo uma
mais elevada que outra.
As açoteias originais eram
feitas em abóbadas de ladrilho ou de
tijolo maciço, e no séc. XIX começa a
surgir o sistemas de abobadilhas, no
entanto este revelou-se por vezes
impróprio pela vulnerabilidade aos
sais das argamassas de cal e areia que
corroíam as vigas de ferro.
Infelizmente a partir do séc. XX estes
sistemas têm vindo a ser substituídos por lajes de betão armado, isto devido à maior
acessibilidade económica e técnica da estrutura em betão. Esta sucessiva substituição dos
pavimentos em abobadilhas, em grande parte, por razões económicas, tem levado à gradual
extinção de muitos exemplos do sistema tradicional antigo.
Patologias e Soluções de Coberturas Planas
As patologias relacionadas com as açoteias, são relativamente idênticas às já
referidas nos pavimentos, nomeadamente nos sistemas de abóbadas e de abobadilhas,
divergindo apenas nas patologias relacionadas com a impermeabilização.
As soluções para as patologias das estruturas já foram mencionadas anteriormente
sendo por isso de maior relevância falar das soluções de impermeabilização.
Imagem 73 – Terraço ou Açoteia.
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È essencial manter a impermeabilização das açoteias, estas eram originalmente
conseguidas pelas suas camadas de enchimento e pelo seu revestimento, sendo essencial
garantir uma boa compactação e manutenção das argamassas de enchimento.
Nos casos em que os ladrilhos de revestimento estejam em mau estado e seja
necessário substitui-los parcial ou integralmente, deve utilizar-se ladrilho cerâmico
tradicional. Se possível durante as obras de reparação, deve adicionar-se uma camada
impermeabilizante com tela asfáltica de modo a reforçar a impermeabilização do
pavimento.
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3.6- FACHADAS
3.6.1- Revestimentos
O revestimento de uma parede tem como principal função proteger e preservar.
Assim sendo, este tem de se sacrificar de forma a evitar que os ataques externos degradem
a alvenaria, funcionando como a camada de sacrifício contra impactos físicos, como
isolador térmico evitando tensões derivadas das variações de temperatura e como barreira
hidroscópica evitando os danos provocadas pela humidade.
Como camada de sacrifício os revestimentos necessitam de ter, em relação às
alvenarias, maior deformabilidade e uma menor resistência mecânica estes também
necessitam de garantir uma maior absorção de água e ao mesmo tempo uma maior
evaporação para que possibilitem o encaminhamento dos sais solúveis para o exterior da
parede.
Os revestimentos apesar de terem como principal função proteger e preservar as
paredes têm também uma função estética decorativa, logo foram adquirindo novas cores,
textura e formas, que em conjunto criam diferentes aspectos que caracterizam diferentes
intenções e linguagens arquitectónicas.
A cultura Mediterrânica, nomeadamente o Algarve desenvolveram ao longo da
história estilos de grande qualidade ornamental, desenvolvendo técnicas de elevado valor
artístico.
Loulé não foge à regra,
apresentando no seu património
construído diversos revestimentos de
grande valor arquitectónico que ao
longo da história foram ganhando
diferentes técnicas de aplicação,
ganhando com isso variadas formas de
expressão.
O revestimento exterior mais
comum era feito com argamassa e os acabamentos a caiação ou a tintas de cal. Em
construção mais cuidada existem trabalhos decorativos executados em massa, a simular
elementos de cantaria e nos edifícios urbanos existem também valiosos exemplares de
Imagem 74 – Fachadas em Reboco e em Tijoleira.
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decoração, como a escaiola38 ou os
fingidos de pedra também apelidados
de marmorizado e a aplicação de
azulejaria, sendo esta uma
especificidade portuguesa.
Os rebocos mais elaborados
eram normalmente utilizados nas
paredes exteriores ou nas zonas mais
nobres da casa. Estes rebocos podiam
ser enriquecidos através de diferentes técnicas que lhes conferiam diferentes texturas, tais
com um acabamento liso, através da passagem sucessivas com talochas sobre a camada
ainda fresca do revestimento ou um acabamento texturado através da utilização de
argamassas com agregados de maior dimensão, podendo mesmo imitar outros materiais
como a pedra.
Eram ainda aplicadas técnicas que conferiam aos rebocos diferentes acabamentos,
como por exemplo, o aspecto riscado ou rústico através de técnicas como a passagem de
rolos ou através da picagem do reboco que imitava a pedra bujardada.
Quando se efectuam operações de conservação ou de renovação de pinturas em
fachadas de edifícios antigos, é necessário ter especial cuidado nas intervenções a fazer, de
forma a não prejudicar o valor histórico e estético e não perturbar a sua autenticidade e
legibilidade arquitectónica tanto do edifício como do conjunto urbano.
A escolha das tintas a utilizar necessita de ser cuidada de forma a utilizar materiais
compatíveis e de desempenho adequado com os tipos de parede a pintar.
O principal problema encontrado nas operações de repintura no tecido histórico de
Loulé, é a má escolha do material e falta de técnica na sua aplicação. Os materiais mais
apropriados são os produtos originais, como a tinta de cal. Os produtos industriais são
sintéticos, feito à base de resinas acrílicas e vinílicas, concebidos para a aplicação em
construção de betão e cimento, oferecendo pouca porosidade ao vapor de água, não
deixando a parede “respirar”, ou seja, não permite a evaporação, para o exterior, da
humidade infiltrada na alvenaria. Outro problema das tintas industriais é a nível estético,
38 …escaiola, significado: argamassa composta de materiais de diversas cores e consistências, destinada a fazer colunas, pilastras, etc…
Imagem 75 – Pintura de Fingidos, Escaiola.
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pois estas são muito opacas e homogéneas, conferindo assim uma aspecto diferente da
luminosidade oferecida pela da tinta de cal.
Tinta de Cal
A tinta de cal é feita a partir de uma mistura de cal extinta ou apagada e água. A
junção dos dois componentes provoca o endurecimento da mistura, o que leva a uma
reacção química, a carbonatação, produzindo cristais de calcite, são estes cristais que
originam na pintura a luminosidade superficial e a textura plástica características das
superfícies caiadas.
A da tinta de cal tem como base o leite-de-cal, este tem uma consistência e
aparência semelhante ao leite e resulta da dispersão da pasta de cal aérea hidratada em
água pura. A pasta de cal deposita-se no fundo do recipiente da mistura e sob ela fica uma
camada de água de cal. Para isso a mistura deve ser sempre feita no mínimo 24 horas antes
da aplicação. É o leite de cal que fixa na parede a camada de carbonato de cálcio. E a água
de cal serve para consolidar os rebocos ou as argamassas de cal que se encontrem em mau
estado.
A principal vantagem da tinta de cal, é a capacidade de permitir a parede “respirar”,
evitando assim a retenção de humidades nas paredes de alvenaria, que, quando acumuladas
degradam os rebocos exteriores. Para além da elevada porosidade, a tinta de cal adequa-se
melhor á estética das fachadas antigas e a sua reaplicação não necessita da remoção das
camadas anteriores, consolidando as paredes em cada nova aplicação, isto devido à
introdução de hidróxido de cálcio que irá carbonatar.
A cor branca da caiação sem qualquer adição de pigmentos era geralmente usada
nas casas de menor cuidado arquitectónico, pois desta forma o trabalho de pintura saia
mais económico.
Imagem 77 – Sobreposição de Camadas de Cal com Diferentes Pigmentações.
Imagem 76 – Caiação com Pigmantação.
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Para obter tinta de cal colorida, basta adicionar pigmentos ao leite-de-cal. Os
pigmentos utilizados para colorir a tinta de cal são maioritariamente provenientes do solo.
Estes minerais mantêm a cor e resistem à alcalinidade devido ao facto de maioria das
reacções químicas e mineralógicas ocorrerem durante a sua fase de formação.
Os tons minerais mais utilizados eram os ocres, vermelhos, rosa e amarelo. Os tons
de negro e cinzentos, verde-terra e vários tons de azuis eram também utilizados na
decoração das fachadas dos edifícios antigos de construção mais cuidada, sendo os tons
mais escuros geralmente utilizados em remates como os socos, as pilastras cunhais e
molduras.
Ao contrário do que seria de esperar, o uso da cor era muito usual em Loulé, sendo
que o branco apenas se usava na construção mais económica. A cor branca foi apenas
valorizada nos finais do séc. XIX e incentivado pelo nacionalismo do Estado Novo de
forma a enaltecer os valores rurais de simplicidade e honra.
Imagem 78 – Vários Tons de Pigmentação Natural.
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3.6.2- Elementos da Fachada
Os edifícios de arquitectura tradicional apresentam nas suas fachadas, pormenores
construtivos que embora inicialmente surgissem por necessidades construtivas, evoluíram
ao longo do tempo, acompanhando o desenvolvimento dos materiais e técnicas de
construção e essencialmente o nível de vida das populações. Esta evolução fez com que a
partir do séc. XIX estes elementos ganhassem a função decorativa, marcando a estética e a
cultura arquitectónica de cada época através dos temas que variavam dos florais aos
geométricos e realçados pela cor contrastante com a restante fachada.
No Algarve e nomeadamente em Loulé a adesão a esta transformação construtiva
generalizou-se em todos os tipos de habitação, sendo claramente mais suave na construção
mais económica e mais intensa nas habitações urbanas e burguesas.
Os ornamentos decorativos são
aplicados nos remates horizontais
como socos, frisos e platibandas, e nos
remates verticais como pilastras e
cunhais, fazendo o enquadramento das
fachadas. É também usual o usos de
elementos decorativos nas molduras de
cantaria dos vãos.
Muitos destes elementos
decorativos são executados em massa,
nomeadamente argamassa de cal especificamente produzida para estes trabalhos, onde o
resultado final é facilmente confundível com elementos de pedra. Estes detalhes eram
cuidadosamente trabalhados apresentando formas de baixo ou alto-relevo grandemente
ornamentados com motivos característicos do estilo de cada época, variando dos temas
zoomórficos e vegetalistas, ás formas geométricas.
Alguns dos elementos da fachada têm na sua origem importantes funções
estruturais, como os cunhais e as molduras de vãos, sendo por isso executados em cantaria,
esta necessitava de ser bem aparelhada, regular e de arestas cuidadosamente cortadas de
forma a não comprometerem a sua função.
Imagem 79 - Decoração da Fachada.
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Imagem 80 - Soco em Argamassa.
Os elementos da fachada compõem e enquadram todos os edifícios de arquitectura
tradicional, sendo dos principais elementos de caracterização e reconhecimento da
evolução de diferentes estilos e épocas artísticas. É deste modo necessário fazer um
levantamento destes elementos que compõem a fachada desde o remate com o solo, as
molduras dos vãos, até ao remate com o telhado ou a açoteia.
Soco
Começando pela zona inferior do edifício temos o soco ou embasamento, este é um
elemento de argamassa ou pedra com cerca de três centímetros de saliência e cerca de
cinquenta centímetros de altura que faz o remate da parede com o solo, protegendo-a de
humidades evitando a penetração das águas da chuvas ou dos solos e também protegendo a
pintura e o reboco da parede contra choques físicos.
Cunhal
Imagem 81 - Soco em Pedra.
Imagem 82 - Cunhal em Pedra. Imagem 83 - Cunhal em Argamassa.
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105
Como elemento de remate lateral da fachada temos o cunhal, este é, inicialmente,
um elemento estrutural de cantaria sendo nalguns casos aplicado apenas como elemento
decorativo com placas de pedra. Este elemento vertical acentua a verticalidade do edifício
rematando lateralmente a fachada desde o solo até ao beirado ou platibanda, terminando
normalmente na base numa cornija assente num soco saliente e na zona superior com uma
cornija.
Beiral
Passando agora para os remates de cobertura temos a solução mais simples, os
beirados. Esta solução varia dos beirados simples, onde a telha assenta directamente sobre
a parede ou sobre uma fiada de ladrilhos, e os beirados duplos, onde se acrescenta uma
telha cobertor rebocada e caiada sob a última telha do telhado.
Os beirados, para além da função estética, têm a função de proteger as paredes de
infiltrações da água da chuva expelida do telhado.
Cimalha ou Cornija
Para rematar a parede com o telhado,
existe também uma solução com um papel
mais estético e decorativo. Surgindo no
Algarve por volta do séc. XVIII nas
edificações mais nobres, de influência
barroca, a cimalha ou cornija consiste num
ornamento contracurvo em argamassa feito a
Imagem 84 - Beiral Duplo.
Imagem 86 – Cimalha em Argamassa.
Imagem 85 - Beiral Simples.
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partir de moldes onde assentavam a última linha de telhas. De forma a exaltar estes
remates, por vezes os ângulos dos beirados eram arrebitados, com “penas” ou “pisa-
pardais”, ou seja elementos de ferro que exaltavam os cantos dos beirados.
Platibanda
Por fim temos o remate da fachada que mais marcou a imagem da arquitectura
Algarvia, a platibanda, esta tanto servia para as coberturas planas como para as coberturas
inclinadas. Este elemento surgiu inicialmente para guarda das coberturas em açoteia
generalizando-se para todo o tipo de habitações no séc. XIX.
A platibanda, para além de ocultar o telhado e o algeroz da canalização das águas
pluviais, enaltecia a altura do edifício, dando-lhe importância visual, logo foi associada a
um símbolo de status social.
As platibandas evoluíram, a
nível estético de variadíssimas
formas. Como símbolo de riqueza,
estas passaram de simples e
funcionais guardas de cobertura, sem
qualquer elemento decorativo, para
elaboradas composições de variados
temas e cores. A decoração das
platibandas variava de simples
molduras na base e/ou no coroamento, evoluindo para acrescento de remates com cimalhas
Imagem 87 - Edifícios da Av. José da Costa Mealha.
Imagem 88 - Platibanda Decorada com Cimalhas e Falsas Pilastras.
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Imagem 90 - Chaminé de Balão.
na base e coroamento, surgindo
também remates nos cunhais com
falsas pilastras, até ao acrescento de
frisos e medalhões centrais em relevo.
Consoante a importância económica ou
social do edifício, estes elementos
eram mais ou menos decorados,
através de temas que representavam o
estilo da época, variando da mistura de
estilos do ecletismo românico aos temas florais da arte Nova e terminando nos temas de
reinvenção de formas geométricas da Art Déco. Estes elementos decorativos eram ainda
realçados pelo uso da cor que contrastava sempre com a restante fachada.
Chaminé
As chaminés constituem outro elemento de distinção das habitações tradicionais,
apresentando-se por isso com grande ornamentação e beleza.
As chaminés rendilhadas
podem ser de base quadrangular ou
circular, apresentando na face
aberturas em grelha para o escoamento
dos fumos. As grelhas componham
desenhos geográficos feitos a partir de
ladrilhos, pedaços de telha e tijolos
maciços. O topo das chaminés podiam
ser em telha de canudo, imitando
coberturas de duas ou quatro águas ou
em ladrilho e tijolo maciço, compondo
um pináculo cónico ou piramidal com
remate semi-esférico ou cónico. As
chaminés eram sempre rebocadas e
caiadas por protecção mas também
demonstrando a importância estética
dada a estes elementos.
Imagem 89 - Platibanda Decorada com Motivos Geométricos.
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Existe também outro tipo de
chaminé usada predominantemente nas
habitações de tipo urbano, urbano burguês e solares, a chaminé de balão. Este tipo de
chaminés era menos usual e menos ornamentada, sendo no entanto mais funcional por
substituir o rendilhado geométrico por um balão composto por um murete que protegia a
lanterna da chaminé contra o vento e as chuvas, melhorando a extracção dos fumos.
Vãos
Depois de referenciar os
elementos decorativos, resta abordar os
elementos de maior importância na
composição das fachadas dos edifícios,
os vãos.
Os vão dos edifícios antigos em
Loulé seguem uma regra de
dimensionamento e posicionamento na
fachada, este são sempre mais altos que
largos e a sua largura é menor que a dimensão do espaçamento entre estes.
Tirando os casos de habitações mais modesta de um só piso constituídas por apenas
uma porta e uma janela de peito, os vãos seguem uma lógica de simetria e alinhamento,
sendo os vãos do segundo piso são alinhados com os do primeiro. No caso dos solares o
vão de porta principal encontrava-se no eixo que define a simetria da fachada.
No inicio do séc. XX á uma
quebra na regra da dimensão do
espaçamento entre vãos, esta marcada
pela construção dos edifícios com
novas tendências arquitectónicas,
nomeadamente os de ecletismo
românico e da Art Déco.
A dimensão dos vão na
arquitectura tradicional em Loulé
variam segundo o tipo de casa, desde a
sua altura e largura à largura do seu guarnecimento.
Imagem 91 - Chaminé Rendilhada.
Imagem 92 - Vãos em Simetria e Alinhados.
Imagem 93 - Vãos de Edifício de Ecletismo Romântico.
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Os guarnecimentos variavam da construção mais simples para a mais elaborada,
variando a sua espessura de 15 a 25 cm. A dimensão dos próprios vãos também variava de
altura e largura consoante a nobreza do edifício, exceptuando alguns casos de edifícios
urbanos, onde esta regra era quebrada e a dimensão dos vãos de porta eram superiores às
dos edifícios de tipo solar, possivelmente por razões funcionais, pois o piso térreo dos
edifícios urbanos serviam em muitos casos para comércio.
Os guarnecimentos, apenas não existiam nos edifícios de tipo rural popular, nos
restantes foram evoluindo na sua dimensão e complexidade decorativa consoante a época e
nobreza das construções.
Nos edifícios do tipo urbano popular os guarnecimentos eram em molduras
salientes e feitos maioritariamente em argamassa e excepcionalmente, em cantaria, nos
edifícios de construção mais cuidada, os guarnecimentos eram feitos em molduras
ligeiramente mais largas e sempre em cantaria de pedra calcária bujardada e bem
aparelhada.
Os solares destacavam-se
com molduras em cantaria mais
elaboradas onde já existia algumas
alterações formais e decorativas,
nomeadamente na ombreira e na
verga do portal e nos vãos do piso
sobrado.
É ainda importante referir
os varandins em consola das
janelas de sacada, estes em pedra calcária, por vezes ornamentados, encastrados na parede
e assentes sobre cachorros de pedra de formas elaboradamente desenhadas.
As portas e janelas dos edifícios antigos em Loulé eram executadas em madeira,
variando do castanheiro, nogueira, medronheiro e carvalho.
As portas chegavam a atingir os 4 cm de espessura e variavam desde os simples
tabuados na construção mais modesta a portas ricamente trabalhadas, com postigo e
bandeiras com guardas ricamente trabalhadas em ferro.
As janelas de peito são maioritariamente de batente com duas folhas e variam, das
mais simples, onde não existe caixilharia de vidro, ás mais elaboradas onde o seu perfil e
desenho das vidraças variavam. Os seus caixilhos, assim como o peitoril com dreno, eram
Imagem 94 - Vãos do Palácio dos Gama Lobo.
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Imagem 96 - Janela com moldura em Cantaria de
Pedra de Edifício Urbano.
sempre em madeira. Os sistemas de obscurecimento eram em portadas de madeira,
normalmente colocadas no interior do vão.
Os vãos de porta em madeira em Loulé são, na sua maioria, pintados. A cor era
aplicada tanto nos caixilhos, como nos aros e portadas. As cores predominantes utilizadas
em Loulé eram o branco, o vermelho escuro, o castanho, alguns tons de verde e também de
azuis.
Nos vãos de janelas a cor predominante era o branco e o vermelho escuro, estas
podendo ser aplicadas nos caixilhos, nos aros e portadas ou, sendo também usual, a
aplicação alternada das cores entre si.
Imagem 97 - Janela com Moldura em Cantaria de
Edifício tipo Solar.
Imagem 98 - Porta em Madeira com Moldura em
Argamassa.
Imagem 99 - Porta com Moldura em Cantaria e
Bandeira.
Imagem 100 - Porta em Madeira com dois Batentes
com Almofadas.
Imagem 95 - Janela com Moldura em Argamassa de Casa tipo Urbano Popular
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4. PROJECTO DE REABILITAÇÃO DE UM EDIFICIO
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4.1- ESTUDO DO EDIFICIO
4.1.1- O lugar e a sua história
Os edifícios propostos a reabilitar encontram-se situados na Zona Critica de
Recuperação e Reconversão Urbanística do Núcleo Histórico da cidade de Loulé, mais
precisamente na Rua de Portugal, números de porta 23, 25, 27, 29, 31, 33 e 33A.
A Rua de Portugal encontra-se a menos de 100 metros do núcleo urbano
amuralhado, surgindo paralela, ao antigo eixo viário romano sul – norte que fazia a ligação
do Algarve ao resto do pais e de uma das primeiras evoluções urbanas extramuros, a
expansão para norte do recinto amuralhado que data do séc. XV, nomeadamente a zona do
Alto de S. Domingos.
O terramoto de 1755 destruiu a maioria dos edifícios da cidade, a zona do Alto de
S. Domingos não foi excepção. Contudo a destruição trouxe consigo uma vaga de
reconstrução, nascendo assim vários edifícios urbanos e senhoriais, nomeadamente o solar
Ilustração 13 - Planta de localização.
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da família Gama Lobo e o solar da família Barros e Aragão, situados a norte da
recentemente traçada rua de Portugal. Este crescimento veio posicionar a Rua de Portugal
como um local de prestígio na classe mercantil.
A Rua de Portugal tem uma acentuada inclinação e faz a ligação entre, o solar da
família Gama Lobo e a capela de Sant`Ana, a norte e o Largo Dr. Bernardo Lopes a sul,
onde se inicia a Praça da República e a entrada do recinto amuralhado, pela antiga Porta da
Vila.
4.1.2- O Edifício
Os edifícios a reabilitar datam
de finais do séc. XIX e preservam a
sua traça original. Com influência do
ecletismo romântico, o edifício central
marca um eixo quase simétrico entre
os dois edifícios que o ladeiam de tipo
urbano popular. Os edifícios foram
originalmente três habitações
autónomas, sendo, ao longo da sua
história, vítimas de obras consecutivas
que alteraram parcialmente o seu
interior. As tipologias representam um
carácter urbano antigo, apresentando soluções como o piso térreo em loja ou oficina
destinados a comércio ou serviços e o piso sobrado reservado para habitação.
Apesar de funcionalmente idênticos, os edifícios têm classificações e características
diferentes, podendo ser classificados da esquerda para a direita como: casa do tipo urbano
popular, onde a decoração é mínima e a importância entre as funções de espaço de
comércio ou serviço e a função de habitação têm igual importância; casa do tipo urbano de
ecletismo romântico, com uma fachada mais trabalhada onde os elementos decorativos
marcam e enquadram uma composição de grande beleza, esta tipologia tem maior destaque
no piso da habitação, considerado o piso nobre, em relação ao espaço de comércio; por
fim, a segunda casa do tipo urbano popular, esta claramente com função mais laboral, onde
a fachada principal é marcada pelo grande vão de porta de acesso ao espaço comercial e
Imagem 101- Fachada dos 3 Edifícios a Reabilitar.
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por outro de menor dimensão que dá acesso à escada de acesso ao piso de habitação. A
inexistência de vãos de janela para o piso de habitação e a sua falta qualidade espacial,
afirma o papel secundário deste piso, sendo também possível que este resulte de uma
ampliação de um edifício de função apenas comercial.
Actualmente os três edifícios foram adquiridos por apenas um proprietário,
encontrando-se parcialmente agregados entre si. No piso térreo encontram-se três espaços
comerciais autónomos e duas portas que dão acesso às duas escadas de acesso ao piso
superior onde se encontra a habitação, esta autónoma no edifício da esquerda e interligada
no edifício central e da direita.
.
4.1.3- Sistema Construtivo
Os três edifícios apresentam características construtivas idênticas, apresentando
materiais e técnicas construtivas tradicionais.
As paredes dividem-se em dois
tipos: as mestras, com função
estruturante e as de
compartimentação, com função de
separação e organização dos espaços.
As paredes mestras dos três
edifícios são em alvenaria de pedra
irregular calcária não aparelhada com
ligante em argamassa de cal. As
Ilustração 14 - Planta do Edifício, Piso 0. Ilustração 15 - Planta do Edifício, Piso 1
Imagem 102 - Parede em Alvenaria de Pedra.
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paredes variam entre os 50 e os 80cm de espessura, encontrando-se as de menor dimensão
no interior do edifício e as de maior espessura no exterior.
As paredes de compartimentação são em tabiques de fasquiado de madeira com
emboco e reboco, este em argamassa de cal, areia, barro e fibras. Estas paredes rondam os
15cm de espessura, sendo característica comum aos três edifícios.
Existe também paredes recentemente acrescentadas ou modificadas com materiais
industriais como o tijolo industrial e o reboco em cimento com cerca de 12 cm de
espessura.
O tipo de pavimento utilizado
nos três edifícios é o sistema em
abobadilha. Este é um sistema misto,
ou seja, combina o tijolo maciço e
perfis metálicos em I. Os tijolos
concebem as pequenas abobadas que
são sustentadas pelos vigamentos
longitudinais metálicos. Os espaços
sobre as abobadilhas são preenchidos
com uma argamassa forte e nivelado com argamassa de cal e areia. Como revestimento, o
pavimento é em ladrilho ou soalho consoante a funcionalidade da divisão, sendo o ladrilho
para as áreas mais expostas à humidade e de maior necessidade de higienização como as
cozinhas e as casas de banho e o soalho para áreas de lazer e descanso como a sala de estar
e os quartos.
Por fim as coberturas já
apresentam diferentes sistemas
consoante as diferentes habitações,
existindo três tipos de coberturas.
No 1º edifício à esquerda a
cobertura é inclinada de duas águas.
Esta estrutura é constituída pelo pau
de fileira, ao eixo da cobertura e
paralelamente a este encontram-se as
madres. Estes elementos são
encastrados nas paredes laterais e suportam as varas da estrutura. Finalmente as telhas
Imagem 103 - Pavimento em Abobadilhas Rebocadas.
Imagem 104 - Cobertura de Duas Águas.
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assentam sobre um forro de ripado de
canas (encaniçado). Como
revestimento interior é usado um tecto
falso em estuque decorado com baixos-
relevos.
No edifício central a cobertura é
plana, ou seja em açoteia cobrindo todo
o edifício. Este típico elemento da
construção Algarvia é constituído pelo
sistema de abobadilhas de tijolo
maciço apoiadas em vigas metálicas.
Sobre as abobadilhas, o pavimento era
nivelado com argamassa forte ou
entulho e argamassa de cal e areia para
assentar os ladrilhos. A parte interior
da estrutura era normalmente pintada,
existindo casos em que as abobadilhas
e as vigas eram deixadas a vista.
No edifício que se situa á direita encontramos uma junção dos dois sistemas
acima descritos, utilizando estruturas semelhantes. Este edifício possui mais um piso que
os restantes, sendo um possível acrescento posterior. A cobertura da zona frontal do
edifício é em açoteia e na zona tardoz em cobertura inclinada de uma água, compondo o
terceiro piso do edifício. O acesso à açoteia é feito por um estreito lance de escadas interior
em madeira.
Imagem 105 - Cobertura em Açoteia.
Imagem 106 - Cobertura Mista.
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4.1.4- Fachada
As fachadas dos edifícios apresentam diferenças que marcam bem as suas
diferentes tipologias. Essas diferenças destacam-se principalmente a nível dos volumes,
dos vãos e da quantidade qualidade dos elementos decorativos.
O edifício central, de tipo urbano com tendências decorativas de um ecletismo
romântico, é o edifício que marca o eixo dos três edifícios, pela sua maior dimensão e pela
maior riqueza construtiva e decorativa, em relação aos edifícios de tipo urbano popular que
o ladeam.
Os vãos estão alinhados nos dois pisos, sendo o eixo de simetria da fachada
marcada pela janela de sacada do primeiro piso. Os guarnecimentos são em cantaria de
pedra calcária, com vergas rectas coroadas com um medalhão central. O vão em sacada
tem uma guarda de ferro e abre sobre um varandim em consola, esta apoiada sobre o
cachorro em consola de pedra com desenhos ricamente elaborados.
A fachada é lateralmente rematada por cunhais em pedra, na base possui o soco,
igualmente em pedra e a separação dos pisos é feita através de um friso em massa. A
coroar o edifício existe a platibanda, ricamente decorada: por cimalhas simples na base e
no topo, falsas pilastras a rematar os cunhais e a marcar o eixo da fachada, um medalhão
Ilustração 16 - Fachada dos 3 Edifícios.
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118
de motivo vegetal no eixo da fachada e ainda coroada por elementos cerâmicos que
parecem querer elevar o edifício como uma marca de status social.
Os edifícios que ladeam o edifício central apresentam dimensões idênticas,
marcando uma simetria que compõem na perfeição, o conjunto dos três edifícios. Apesar
de tipologias e volumetrias idênticas, apresentam fachadas muito diferentes.
O edifício à direita tem claramente uma função mais laboral, podendo até o piso da
habitação ter sido um acrescendo posterior à construção inicial, isto, pela falta de vãos
frontais no segundo piso.
A fachada é simples e composta por apenas dois vãos de entrada e uma platibanda
sem elementos decorativos, para além das falsas pilastras que a rematam. O conjunto dos
dois vãos é composto por um vão de grandes dimensões para a entrada e saída de
mercadoria ou veículos e outro para o acesso de pessoas, que dá o acesso ao piso de
habitação.
O edifício lateral esquerdo já apresenta uma funcionalidade mista, apresentando o
piso inferior destinado a comércio e o piso superior destinado a habitação. A achada apesar
de simples já apresenta pequenos cuidados decorativos como as molduras dos vãos em
pedra, e o contraste de cores entre os elementos decorativos e a restante fachada. A
platibanda também se apresenta como mero elemento decorativo pois a cobertura é
inclinada de duas águas.
A fachada tardoz dos três edifícios, foram consecutivamente sofrendo alterações,
apresentando actualmente, uma pobre composição, sem qualquer tipo de regras, perdendo
assim o seu interesse a nível arquitectónico.
4.1.5- Patologias
Após feita uma introdução geral do edifício é necessário fazer um levantamento das
anomalias do mesmo, tanto a nível estrutural como a nível não estrutural, de forma a
perceber o estado de conservação do edifício e dos seus materiais.
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119
Ilustração 17 - Ficha de Patologias
Para fazer o levantamento das
anomalias, foi feito em primeiro
lugar, uma análise visual completa do
edifício com o respectivo
levantamento fotográfico das
patologias presentes.
De seguida, com a informação
recolhida foram executadas fichas
descritivas de cada patologia
encontrada, de modo a tornar a leitura
e a interpretação da informação mais
simples e explícita. Para cada tipo de
patologia detectada foi elaborada uma
ficha descritiva onde era visível: uma
imagem fotográfica da respectiva
anomalia; a identificação da ou das
localizações onde incidia o mesmo
problema, isto feito de modo descritivo e gráfico através de uma planta; o grau de
gravidade, ou seja, patologias a nível estrutural ou não estrutural. Por fim, foi feita a
descrição das patologias através dos efeitos causados pelas mesmas e das possíveis causas
originárias. A terminar, foi descrita uma proposta de uma possível resolução para cada tipo
de patologia.
As anomalias presentes nos
três edifícios são no geral de pouca
gravidade, sendo na sua maioria o
desgaste natural dos materiais por
envelhecimento ou pela presença
excessiva de humidade e
consequentemente dos seus sais
destrutivos, causando a deterioração
dos materiais como a desagregação e
a fendilhação das argamassas e dos
rebocos, o apodrecimento das Imagem 107 - Patologias no Sistema de Abobadilhas.
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Imagem 108 - Patologias na Cobertura de Duas Águas.
madeiras e a corrosão das vigas de ferro.
Os dois casos de maior gravidade estão presentes a nível das coberturas. Num dos
casos estamos perante a degradação das madeiras da estrutura e o assentamento das telhas.
Estas anomalia é causada por envelhecimento natural do material e pelo ataque de
xilófagos (insectos e fungos), em particular nos trechos colocados dentro das paredes, pois
a acumulação de humidade excessiva
na madeira pela sua insuficiente
ventilação e por deficiente isolamento
leva à ruptura das ligações entre
materiais. A anomalia pode também
ser causada por rupturas, torções,
empenos ou perdas de secção das
madeiras. No segundo caso,
encontramos uma anomalia causada
por mão humana, ou seja por
deficientes obras de renovação da
cobertura. Neste caso a antiga
cobertura foi substituída por uma
estrutura em vigas de betão armado, isto levou a uma sobrecarga das paredes resistentes,
causando a sua deformação e consequentemente à perda da sua estanquicidade.
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4.2- A REABILITAÇÃO
4.2.1-A Função
O projecto de reabilitação dos três edifícios, tem como objectivo seguir as
directrizes da reabilitação urbana, sendo essencial que este fosse uma mais valia para a
cidade de Loulé e principalmente para o seu centro histórico.
Após a análise das potencialidades e dos pontos críticos da cidade de Loulé, com
recurso a estudos como os Censos 2001 do INE e o Plano Estratégico de Desenvolvimento
de Loulé, foi decidido que a função que poderia representar uma mais valia para a cidade,
seria um equipamento que respondesse às problemáticas relacionadas com a
inacessibilidade da habitação, o envelhecimento da população, o abandono escolar e a
desertificação por parte dos jovens do
centro histórico.
Analisadas as principais
necessidades da cidade, restou
analisar as potencialidades da
localização dos edifícios em estudo.
Estes encontravam-se no centro
histórico, a norte do recinto medieval,
zona que se encontra envelhecida,
apesar da imensa vida social e cultural
que a rodeia. Num raio de 200 metros
dos edifícios encontramos os
principais órgãos municipais da cidade, uma rica variedade social e comercial com
inúmeros cafés, restaurantes e estabelecimentos comerciais e como ponto principal na
escolha da função do edifício encontramos variadíssimos equipamentos culturais com o
Museu do Castelo, os Arquivos Histórico e Fotográfico municipais, a Casa da Cultura de
Loulé, variados ateliês e galerias e o Instituto Universitário D. Afonso III.
O conjunto de todos estes factores levaram à escolha da função de residência de
estudantes, pois esta função é que tira maior partido do local da intervenção e a que
responde de melhor forma ás necessidades da cidade de Loulé e do seu Centro Histórico.
Ilustração 18 - Pontos Culturais de Interesse.
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4.2.2- O Projecto
Definida a função do edifício foi necessário definir o programa. Este, derivado à
escassez de espaço foi reduzido aos mínimos essenciais que garantissem o cumprimento da
legislação em vigor e a funcionalidade que foi uma das principais preocupações durante
todo o projecto assim juntamente como a qualidade espacial, garantindo assim uma boa
vivência do espaço.
O programa foi assim definido dividindo os espaços comuns no piso térreo e os
espaços com maior necessidade de privacidade no piso superior, que originalmente era
considerado o piso nobre destinado à habitação. Esta disposição organizou à partida todo o
programa, garantindo a melhor funcionalidade da residência.
A funcionalidade do edifício exigia a existência de um programa composto por uma
recepção, uma sala de convívio, um espaço de refeições, um espaço para lavandaria,
instalações sanitárias por cada piso e como espaço de maior relevância do programa, os
quartos.
Ilustração 19 - Esboço de Estudo.
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123
A organização do programa teve como base um organigrama que definiu à partida
toda a organização espacial, ou seja o programa e os percursos que distribuiriam os
utilizadores pelos diversos espaços, isto sem comprometer a boa vivência de cada espaço.
Com base na funcionalidade dos espaços foi definido o início do percurso pela recepção,
que faz a distribuição para todos os espaços da residência através de um amplo hall
facilitando todo o exercício das
funções de gestão para a boa
funcionalidade da residência.
Começando no piso térreo,
ou seja, a zona mais social de
menor privacidade, temos a
recepção que daria acesso a três
zonas distintas, a zona mais
resguardada e de serviços, onde se
encontra o espaço da lavandaria e
as instalações sanitárias de uso
público destinadas a servir todos os
espaços e público da residência.
Outra zona com acesso pela
recepção seria a área de refeições,
esta separada das restantes por
motivos funcionais e de
salubridade. Finalmente, a
recepção distribuiria os utentes
para a zona mais privada. Esta zona
seria dividida por duas subzonas,
uma semi-privada com a sala de estudos e convívio e outra no piso superior com a zona de
utilização mais restrita onde se encontrariam os quartos e os balneários.
Com o objectivo de preservar a veracidade arquitectónica dos edifícios, foi desde o
início imposto o conceito de maximizar as intervenções de conservação e restauro e
minimizar as operações de demolição e reconstrução de grandes secções do edifício.
O trabalho previamente elaborado permitiu verificar a viabilidade estrutural do
conjunto edificado, apresentando apenas necessidades de intervenções mais intensas em
Ilustração 20 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 0.
Ilustração 21 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 1.
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Ilustração 22 – Projecto de Reabilitação do Piso 1.
Ilustração 23 - Projecto de Reabilitação do Piso 0.
algumas partes do edifício de forma a garantir a segurança e a melhor funcionalidade da
residência. O sistema estrutural, nomeadamente as paredes mestras foram preservadas
assim como a fachada frontal que é um elemento de identificação do edifício assim como
do conjunto edificado envolvente. A fachada tardoz, foi totalmente reconstruída, visto
apresentar alterações posteriores ao projecto original sem regras ou critérios estéticos em
relação à envolvente urbana. A nova fachada respeita as regras de simetria, distanciamento
e dimensionamento dos vãos e integra-se na imagem urbana envolvente.
As intervenções de maior impacto deram-se a nível do edifício de tipologia
comercial, a decisão desta opção baseou-se na falta de condições de habitabilidade, sendo
por isso necessário reabilitá-lo, adaptando-o ás necessidades do novo projecto sem com
isso modificar a sua presença a nível da envolvente exterior. Para manter as características
da fachada foram aproveitados os guarnecimentos dos vãos originais, que se adaptavam
perfeitamente às necessidades funcionais e de iluminação do novo espaço.
A zona reabilitada foi desenhada de
modo a criar a maior amplitude espacial possível, contrariando a ambiência espacial
original, onde os espaços tinham áreas diminutas e pouca luminosidade. O novo espaço foi
também aproveitado para a introdução de novos elementos necessários à residência, como
os acessos verticais, nomeadamente o elevador e as escadas. Os acessos verticais originais
foram substituídos, isto por se encontrarem em número excessivo, sem utilidade e com
dimensionamento demasiado reduzido o que comprometia os espaços envolventes e a nova
função desempenhada pelo edifício.
As paredes de compartimentação eram outro obstáculo incontornável, pois estas
foram originalmente projectadas sob um conceito de maximização do número de espaços
com sacrifício da qualidade e organização dos mesmos, o que vai contra as necessidades e
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125
objectivos do novo espaço proposto, sendo por essa razão também substituídas por paredes
novas que permitiram uma reorganização espacial.
As restantes intervenções passaram apenas por pequenas intervenções de reparação
ou substituição de pequenas secções estruturais ou de materiais degradados.
Todo o projecto moldou-se às características existentes do edifício, sendo apenas
aplicados novos materiais de modo a melhor o seu desempenho, a nível estrutural,
Ilustração 24 - Corte longitudinal do Edifício Reabilitado.
Imagem 109- Maquete dos 3 Edifícios Reabilitados.
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habitacional e funcional. Como exemplo disso foi a total reconstrução das instalações
sanitárias e da cozinha comunitária ou a aplicação de paredes divisórias ligeiras em gesso
cartonado, com isolante acústico e estrutura em metal que desempenham uma melhor
performance acústica e diminuem o peso sobre o pavimento, evitando assim cargas
excessivas que comprometam a estrutura do edifício.
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CONCLUSÃO
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Apesar de insufuciente, é notório o crescente interesse, assim como o sentido de
responsabilidade por parte das entidades responsáveis e pelas comunidades locais, pelo
património arquitectónico e urbanístico, em conservar, proteger e valorizar esse
insubstituível legado histórico e cultural.
O património construído representa uma prova viva da nossa história, feita a partir
de inúmeras vivências, acontecimentos e influências, que numa constante mutação,
formaram a sociedade e a cultura actual. Sendo por isso da responsabilidade de todos, a
obrigação de respeitar, salvaguardar, reabilitar e valorizar, para as gerações presentes e
futuras, o património que nos foi herdado.
A cidade de Loulé apresenta um conjunto arquitectónico urbano histórico de
elevado valor. Esse conjunto urbano é constituído, não só pelos monumentos mais
emblemáticos, mas por todo um conjunto de elementos que integra desde ruas e praças às
habitações mais humildes, que no conjunto, por vezes feito num modo quase anárquico,
compõem a urbe medieval e os bairros históricos Louletanos. Este património presente no
habitat diário das pessoas que o habitam passa muitas vezes despercebido, desvalorizado
ou mesmo desconhecido. Isto deve-se em grande parte por ser tomado como uma presença
garantida e eterna, sendo por isso necessário alertar as populações locais para a fragilidade
destes elementos urbanos, que são constantemente abusados e destruídos pela mão do
próprio homem que o habita. Isto deve-se em grande parte pela falta de conhecimento e
sensibilização da importância do património arquitectónico como elemento compositor da
cultura e história da cidade e da sua população.
Apesar do interesse e esforço já de longa data, demonstrado por organizações como
a UNESCO e o ICOMOS pelo estudo, reflexão e divulgação da protecção do património,
como é exemplo a Carta de Atenas de 1931, é ainda notório o desrespeito e a ignorância
nas decisões e intervenções executadas nesta área. O Património é em muitos casos
desvalorizado e desrespeitado tanto pela população como pelas autoridades competentes.
Sendo disso exemplo os inúmeros atentados feitos ao património arquitectónico Louletano,
que em prol da evolução urbana sacrificaram património que fez parte da sua história e que
constituía um testemunho de inúmeros acontecimentos que marcaram a evolução da
cidade. A destruição quase completa das muralhas da cidade medieval é um excelente
exemplo desse sacrifício do património construído em prol da evolução urbana. Mas os
cuidados em relação ás intervenções feitas no património arquitectónico têm de ser feitos a
todas as escalas, incluindo desde as grandes intervenções urbanas às pequenas intervenções
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de iniciativa privada, que em muitos casos são erráticas destruindo o valor patrimonial das
suas próprias habitações.
As nossas cidades têm sofrido irrecuperáveis perdas patrimoniais por culpa de
intervenções abusadoras ou mal executadas por parte das entidades competentes. O caso de
Loulé é hoje, um exemplo da crescente preocupação na preservação, reabilitação e
valorização do património que quando valorizado e bem explorado, pode representar mais
valias sociais, culturais e económicas para as suas comunidades locais. Como exemplo
disso Loulé apresenta um centro histórico vivo, isto conseguido pelo incentivo do uso da
urbe medieval como pólo habitacional, comercial e cultural. Exemplo disso são os festivais
culturais e comerciais, ai organizados que divulgam e valorizam um centro histórico vivo e
apelativo.
É necessário incutir na nossa sociedade o interesse e o conhecimento pelo legado
histórico que nos foi herdado pelos nossos antepassados, sendo que este é um testemunho
da nossa cultura e da história que nos formou. Este interesse deve ser incutido a toda a
população, abrangendo jovens, moradores e órgãos administrativos, sendo esta a única
forma de travar o desrespeito e a destruição e incutir por iniciativa própria a protecção,
reabilitação e valorização do património arquitectónico Louletano. A responsabilidade pela
salvaguarda do nosso património não incide apenas nas autoridades competentes, mas sim
a todos, incluindo desde moradores, técnicos e construtores a gestores económicos.
As abordagens nas intervenções de recuperação, reabilitação e valorização do
património necessitam de ser sempre cuidadas, incluindo as pequenas intervenções de
manutenção das habitações, às intervenções de grande escala como a reabilitação urbana,
tendo sempre presente os conceitos de autenticidade e veracidade arquitectónica, pois
só assim, conseguiremos herdar às gerações futuras, o património que nos foi herdado
pelos nossos antepassados.
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BIBLIOGRAFIA
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-AL-`ULYÃ, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé Nº4, 1995. Paulo
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Materiais, Arquitectura Ibérica, 30, pp.6-13.
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- http://www.afloret3.wordpress.com
- http://www.arqpapel.fa.utl.pt
- http://wwwarquitectos.pt
- http://wwwarquitecturasdeterra.blogspot.com
- http://www.cm-loule.pt
- http://wwwcoisasdaarquitetura.wordpress.com
- http://www.engenhariacivil.com
- http://www.estg.ipleiria.pt
- http://www.igespar.pt
- http://www.rtp.pt
- http://www.sapiens.no.sapo.pt
- http://www.turismodoalgarve.pt
- http://www.urbe-nupi.pt
- http://www.wikipédia.org
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LISTA DE ABREVIATURAS
CML - Câmara Municipal de Loulé
ICOMOS- International Council on Monuments and Sites
INE – Instituto Nacional de Estatística
IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico
PDM – Plano Director Municipal
UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
ZEP – Zona Especial de Protecção
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ÍNDICE GRÁFICO
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ILUSTRAÇÕES:
Ilustração 1- O Algarve dividido por concelhos e sub-regiões....................................... p. 14
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 2 – Urbe Medieval de Loulé, até ao século XIV............................................ p. 21
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 3 - Expansão da Urbe Medieval, século XVI................................................. p. 24
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 4 – Vila de Loulé, século XVIII..................................................................... p. 26
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 5 – Expansão da Vila de Loulé, início século XX.......................................... p. 27
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 6 – Expansão da Vila de Loulé, primeira metade do século XX.................... p. 30
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 7 – Cidade de Loulé, século XXI................................................................... p. 31
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 8 – Perímetros de Protecção ao Centro Histórico de Loulé............................ p. 50
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 9 - Tirantes Metálicos..................................................................................... p. 73
Fonte: Sitio Web http://www.estg.ipleiria.pt
Ilustração 10 – Instrumentos Para a Realização de uma Parede em Taipa..................... p. 76
Fonte: Sitio Web http://coisasdaarquitetura.wordpress.com
Ilustração 11 – Fundação, e Parede Feita por Enxaiméis................................................ p. 77
Fonte: Sitio Web http://coisasdaarquitetura.wordpress.com
Ilustração 12 – Asna em Madeira.................................................................................... p. 91
Fonte: Sitio Web http://www.engenhariacivil.com
Ilustração 13 - Planta de localização............................................................................. p. 112
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 14 - Planta do Edifício, Piso 0...................................................................... p. 114
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 15 - Planta do Edifício, Piso 1…………………………………………….. p. 114
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 16 - Fachada dos 3 Edifícios......................................................................... p. 117
Fonte: Ilustração do Autor.
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Ilustração 17 - Ficha de Patologias…………………………………………………… p. 119
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 18 - Pontos Culturais de Interesse................................................................ p. 121
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 19 - Esboço de Estudo.................................................................................. p. 122
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 20 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 0.......................................... p. 123
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 21 - Planta da Organização dos Espaços, Piso 1.......................................... p. 123
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 23 - Projecto de Reabilitação do Piso 0…………………………………… p. 124
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 22 – Projecto de Reabilitação do Piso 1………………………………...… p. 124
Fonte: Ilustração do Autor.
Ilustração 24 - Corte longitudinal do Edifício Reabilitado........................................... p. 125
Fonte: Ilustração do Autor.
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IMAGENS:
Imagem 1- Largo de São Francisco................................................................................ p. 28
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 2 – Planta de implantação do Mercado de Loulé.............................................. p. 29
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 3 – Construção da Av. José da Costa Mealha. ……………………...……...... p. 30
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 4 – Lg. Do Chafariz, actual Lg. Afonso III. ……………………………...….. p. 35
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 5 - Lg. Afonso III, vista parcial do Castelo....................................................... p. 35
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 6 - Portal da Igreja da Graça.............................................................................. p. 36
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 7 - Igreja Matriz................................................................................................. p. 37
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 8 - Igreja Matriz, actual..................................................................................... p. 38
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 9 - Hospital e Igreja da Misericórdia ………………………………………… p. 39
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 10 - Portal da Igreja e Cruzeiro......................................................................... p. 39
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 11 - Ermida da N.ª S.ª da Conceição................................................................. p. 40
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 12 - Convento de Santo António........................................................................p. 41
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 13 - Igreja de São Francisco.............................................................................. p. 41
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 14 - Ermida da N.ª Sr.ª do Pilar......................................................................... p. 42
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 15 - Ermida da N.ª Sr.ª das Portas do Céu......................................................... p. 43
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 16 - Convento do Espírito Santo..................................................................... p. 43
Fonte: Foto do Autor.
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Imagem 17 – Palácio Gama Lobo................................................................................... p. 44
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 18 – Palácio Gama Lobo e Capela de Sant`Ana............................................... p. 44
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 19- Solar Barros e Aragão................................................................................ p. 45
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 20 – Rua Sacadura Cabral e Solar Barros e Aragão.......................................... p. 45
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 21- Edifício Paços do Concelho........................................................................ p. 45
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 22 – Edifício Paços do Concelho, Actual.......................................................... p. 45
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 23 – Mercado de Loulé...................................................................................... p. 46
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 24 – Mercado Loulé, Actual.............................................................................. p. 46
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 25 – Cine-Teatro louletano................................................................................ p. 47
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 26 – Coreto........................................................................................................ p. 47
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 27 - Café Calcinha............................................................................................. p. 48
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 28 – Café Calcinha, Actual............................................................................... p. 48
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 29 – Fonte das Bicas Velhas............................................................................. p. 48
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 30 - Vista Aérea do Centro Histórico de Loulé................................................. p. 51
Fonte: Foto da Fototeca Municipal de Loulé.
Imagem 31 – Diferença entre rua Intramuros e rua extramuros...................................... p. 52
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 32 – Casa tipo Rural Popular, Rua Garcia da Horta......................................... p. 52
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 33 – Casa do tipo Rural Popular, Rua do Ribeiro da Graça.............................. p. 53
Fonte: Foto do Autor.
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Imagem 34 – Casa do tipo Urbano Popular, Rua dos Sapateiros................................... p. 53
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 35 - Casa do tipo Urbano Popular, Rua Martim Farto..................................... p. 54
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 36 - Casa do tipo Urbano, Lg. Prof. Cabrita da Silva....................................... p. 55
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 37 - Casa do tipo Urbano, Rua Eng. Duarte Pacheco....................................... p. 55
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 38 – Edifício de tipo Solar, Rua N.ª Sr.ª de Fátima.......................................... p. 56
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 39 – Edifício de tipo Solar, rua Sacadura Cabral.............................................. p. 56
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 40 – Edifício de tipo Solar, Lg. Prof. Cabrita da Silva..................................... p. 57
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 41 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. Marçal Pacheco.............. p. 57
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 42 – Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha..... p. 57
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 43 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Rua de Portugal….................. p. 58
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 45 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha...... p. 59
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 44 - Edifício Urbano de Ecletismo Romântico, Av. José da Costa Mealha...... p. 59
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 46 – Parede Mestra, Convento de Santo António............................................. p. 61
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 47 – Molduras de Vãos...................................................................................... p. 67
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 48 – Uso do perpianho na junção de duas paredes............................................ p. 67
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 49 – Arco de distribuição de peso..................................................................... p. 68
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 50 – Fendilhação e Desagregação em zonas frágeis da parede......................... p. 69
Fonte: Foto do Autor.
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Imagem 51 – Desagregação do Reboco.......................................................................... p. 70
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 52 – Colapso de Parede de Alvenaria de Pedra................................................. p. 70
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 53- Injecções em Parede de Alvenaria.............................................................. p. 72
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 54 – Rede Metálica de Reforço da Argamassa................................................. p. 72
Fonte: Sitio Web http://www.estg.ipleiria.pt
Imagem 55 - Parede em Alvenaria de Tijolo Maciço..................................................... p. 75
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 56 – Torre da Vela, Construção em Taipa........................................................ p. 76
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 57 – Blocos Artesanais de Adobe..................................................................... p. 78
Fonte: Sitio Web http://arquitecturasdeterra.blogspot.com
Imagem 58 – Parede em Tabique de Madeira................................................................. p. 79
Fonte: Sitio Web http://afloret3.wordpress.com
Imagem 59 – Parede em Tabique de Pedra..................................................................... p. 80
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 60 - Pavimento em Mosaico Cerâmico............................................................. p. 81
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 61 – Pavimento em Baldosa.............................................................................. p. 81
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 62 – Pavimento em Ladrilho........................................................................... p. 81
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 63 – Pavimento em Soalho................................................................................ p. 81
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 64 – Pavimento em Sistema de Soalho............................................................. p. 82
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 65 – Degradação e Apodrecimento da Madeira................................................ p. 83
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 66 – Abóbada de Berço em Tijolo Maciço....................................................... p. 86
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 67 – Sistema de Abobadilhas............................................................................ p. 87
Fonte: Foto do Autor.
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Imagem 68 – Sistema de Abobadilhas Rebocado........................................................... p. 87
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 69 – Cobertura de uma água.............................................................................. p. 90
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 70 – Cobertura de Quatro Águas....................................................................... p. 92
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 71 – Revestimento da Cobertura com Encaniçado............................................ p. 93
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 72 – Degradação da Cobertura e do Estuque.................................................... p. 95
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 73 – Terraço ou Açoteia.................................................................................... p. 97
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 74 – Fachadas em Reboco e em Tijoleira......................................................... p. 99
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 75 – Pintura de Fingidos, Escaiola.................................................................. p. 100
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 76 – Caiação com Pigmantação...................................................................... p. 101
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 77 – Sobreposição de Camadas de Cal com Diferentes Pigmentações........... p. 101
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 78 – Vários Tons de Pigmentação Natural...................................................... p. 102
Fonte: RAPOSO, Isabel, e tal, 2007, Guia da reabilitação e
construção. Cidade de Loulé, Câmara Municipal de Loulé e Faculdade de
Arquitectura/Universidade Técnica de Lisboa.
Imagem 79 - Decoração da Fachada............................................................................. p. 103
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 80 - Soco em Argamassa................................................................................. p. 104
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 81 - Soco em Pedra.......................................................................................... p. 104
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 82 - Cunhal em Pedra...................................................................................... p. 104
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 83 - Cunhal em Argamassa............................................................................. p. 104
Fonte: Foto do Autor.
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144
Imagem 84 - Beiral Duplo............................................................................................. p. 105
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 85 - Beiral Simples.......................................................................................... p. 105
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 86 – Cimalha em Argamassa........................................................................... p. 105
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 87 - Edifícios da Av. José da Costa Mealha.................................................... p. 106
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 88 - Platibanda Decorada com Cimalhas e Falsas Pilastras............................ p. 106
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 89 - Platibanda Decorada com Motivos Geométricos..................................... p. 107
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 90 - Chaminé de Balão.................................................................................... p. 107
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 91 - Chaminé Rendilhada................................................................................ p. 107
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 92 - Vãos em Simetria e Alinhados................................................................. p. 107
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 93 - Vãos de Edifício de Ecletismo Romântico.............................................. p. 108
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 94 - Vãos do Palácio dos Gama Lobo............................................................. p. 109
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 95 - Janela com Moldura em Argamassa de Casa tipo Urbano Popular......... p. 110
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 96 - Janela com moldura em Cantaria de Pedra de Edifício Urbano.............. p. 110
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 97 - Janela com Moldura em Cantaria de Edifício tipo Solar......................... p. 110
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 98 - Porta em Madeira com Moldura em Argamassa...................................... p. 110
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 99 - Porta com Moldura em Cantaria e Bandeira............................................ p. 110
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 100 - Porta em Madeira com dois Batentes com Almofadas.......................... p. 110
Fonte: Foto do Autor.
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Imagem 101- Fachada dos 3 Edifícios a Reabilitar....................................................... p. 113
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 102 - Parede em Alvenaria de Pedra............................................................... p. 114
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 103 - Pavimento em Abobadilhas Rebocadas................................................. p. 115
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 104 - Cobertura de Duas Águas...................................................................... p. 115
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 105 - Cobertura em Açoteia............................................................................ p. 116
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 106 - Cobertura Mista..................................................................................... p. 116
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 107 - Patologias no Sistema de Abobadilhas.................................................. p. 119
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 108 - Patologias na Cobertura de Duas Águas................................................ p. 120
Fonte: Foto do Autor.
Imagem 109- Maquete dos 3 Edifícios Reabilitados..................................................... p. 125
Fonte: Foto do Autor.
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ANEXOS
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147
Imagem: Foto aérea do Centro Histórico de Loulé e a sua envolvente.
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Ilustração: Perímetros de Protecção do Núcleo Histórico
-Perímetro Amuralhado
-Zona Especial de protecção
-Área de Reconversão e Reabilitação Urbanística
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