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“Felicidade é tudo que se pode conquistar” . Esse era o pensamento de Cleber que, aos dezesseis anos, toma a decisão de fugir de casa e viver sua vida sozinho em busca da liberdade e felicidade. Mas ele percebe que sua busca não será tão fácil quando se encontra perdido em uma grande floresta. Inicialmente, o garoto se imagina sozinho naquele imenso e assustador lugar, no entanto, uma garota aparece para mudar o rumo de sua aventura. Cleber passa a chamá-la de Fruta, já que a menina prefere manter seu verdadeiro nome em segredo.
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Felicidade é tudo que se pode conquistar
e a sua felicidadea minha
São Paulo – 2015
B e a t r i z r o d r i g u e s a m a r a l
Felicidade é tudo que se pode conquistar
e a sua felicidadea minha
Felicidade é tudo que se pode conquistar
e a sua felicidadea minha
Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.
Capa Jacilene Moraes
Diagramação Camila C. Morais
Revisão Andrea Bassoto
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
________________________________________________________________A512m
Amaral, Beatriz Rodrigues A minha e a sua felicidade: felicidade é tudo que se pode conquistar/Beatriz Rodrigues Amaral. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.
ISBN 978-85-437-0449-4
1. Romance brasileiro. I. Título.
15-24888 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________22/07/2015 22/07/2015
Impresso no BrasilPrinted in Brazil
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br
Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.
parte iPerdidos
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capÍtulo 1
Fiz de tudo para não fazer barulho. São quatro da manhã e já estou pronto. Será a fuga do ano.
Vejo a brecha na porta do quarto dos meus pais e vejo que estão dormindo. Dou uma última olhada no meu quarto e no de meus irmãos. Estão todos dormindo e nem suspeitam da loucura que vou fazer. Mas me arris-co pela liberdade.
Abro a porta me esforçando para fazer o menor baru-lho possível. Saio de casa e fecho a porta com muita cautela.
Rua deserta e pouco iluminada, o cenário perfeito para minha fuga. Aproveito que não há pessoas na rua e corro para o Terminal Rodoviário mais próximo. Trouxe apenas quinze reais comigo e, com este dinheiro, comprarei uma passagem para qualquer lugar fora da minha cidade.
Sento-me em uma cadeira no Terminal e espero o sol nascer. Olho no visor do meu celular e são seis e meia.
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Compro uma passagem para uma cidade chamada Guai-tu. Acho que é bem longe daqui.
Com os seis reais da passagem que gastei, sobram-me nove reais, que guardarei muito bem, pois é o que me resta. O ônibus parte às sete e já são sete horas; entro no ônibus e me sento em um banco próximo à janela. Aperto o cinto e começo a ficar nervoso. E se a polícia vier atrás de mim? Fico mais tranquilo quando o ônibus segue viagem por uns cinco minutos, ou seja, já estou bem longe de casa.
Acalmo os nervos e abro a mochila que preparei às pressas para verificar o que exatamente trouxe de casa. Saí com tanta pressa que nem prestei atenção no que es-tava guardando. Encontro duas garrafinhas de água, três pacotes de biscoito, um lençol e quatro pares de roupa.
Depois de verificar a mochila, jogo a cabeça para trás e a apoio em uma almofada no banco. Começo a rever meus pensamentos. O que realmente me levou a fugir.
A essa hora já devem ter percebido que sumi e minha mãe deve está desesperada. Meu pai deve estar tentando acalmá-la e meus irmãos não devem estar entendendo nada. Paro um pouco e a pergunta vem à mente: por que fugi? Nem eu sei realmente. Só sei que queria ir embora.
Consigo dormir um pouco, mas não sonho. Quan-do acordo, fico observando a paisagem passando rápida na janela embaçada.
Depois de três horas o ônibus para e acho que che-guei a Guaitu.
Desço do ônibus e a cidade parece um interior. É um pouco assustador e começo a ficar com calor. Bebo
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um pouco da minha água e, ao longo de duas horas, per-cebo que já usei uma garrafa e meia. Agora já deve ser meio dia. Estou com fome. Abro um pacote de biscoito e como três. Ninguém à vista. Nem casas, nem carros. Apenas a grande estrada e o céu com o sol ardendo como se estivesse chovendo fogo. Estou exausto e se caminhar mais um pouco sou capaz de desmaiar.
A estrada parece não ter fim e é deserta. Não vejo ninguém e me arrepio com o silêncio zunindo em meus ouvidos. Paro no encostamento para descansar. Estou mais do que cansado. Minha respiração está ofegante e a sensação de desidratação vem à tona.
Antes de me deitar e tentar dormir bebo uma garrafa inteira de água. Consigo cochilar. Um barulho que pare-ce mais com um ruído de pneus arrastados me desperta. Um caminhão com carga cheia de árvores passa em alta velocidade. É o primeiro veículo que vejo passar pela es-trada. O sol já se pôs, o que indica que já são mais de seis da tarde, então, terei de arranjar um lugar seguro para passar a noite.
Andar sem rumo a essa hora não é sinal de segurança. Ando alguns metros para ver se há algum sinal de vida.
Está muito escuro e não sei que tipos de predadores costumam passar por aqui. Depois de andar um pouco mais percebo que o grande matagal à beira da estrada não existe mais. Há apenas uma floresta.
Uma grande e assustadora floresta.Olho para as grandes copas de árvores que estão
no começo da floresta. Fico tonto com a altura que elas apresentam além da minha visão. Agora compreendo o
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porquê de não haver fluxo de carros por aqui. Do que adianta seguir por essa estrada sendo que dará em um monte de árvores amontoadas?
Olho para os lados e só encontro o verde escuro. Um vento forte e gelado sopra contra mim e estremeço não só de frio, mas de medo. O que será que há por dentro dessa mata? Por que será que essa é uma estrada aparentemente sem rumo? Por que vim parar aqui? Será que estarei vivo amanhã?
Antes que essas perguntas sejam respondidas em mi-nha mente, minha cabeça fica confusa, minha visão escu-rece e meu corpo amolece como se fosse manteiga ao sol.
Minha respiração se estreita e, por fim, desabo.
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capÍtulo 2
A sensação que sinto agora é de que acabei de cair em um buraco. O céu gira sobre minha cabeça e não há estre-las, nem lua, muito menos luz. Levanto-me ligeiramente sacudindo as mãos na calça para retirar a terra e desejo com muita força estar em casa. Saio correndo para dentro da floresta e os troncos de árvores no chão parecem grandes cascavéis. Tropeço em cada uma, irritando-as.
Corro e bato de cara em uma árvore. É a menor que vi até agora na floresta. Coloco a mão na testa e sinto sangue escorrendo. Fico tonto e caio no chão. Agora de-sejo mais do que nunca minha cama, meu quarto, meus irmão chatos, meus pais... Minha casa.
O cheiro de peixe é tão bom... Sigo até a cozinha e abraço minha mãe, provoco meu irmão mais velho como de costume e me sento para comer. Estamos todos em família, como nunca estivemos antes. Acho que estamos
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comemorando minha volta para casa. Não há nada de ruim para acontecer.
Abro os olhos e a luz do sol me cega. O almoço em família não passou de um sonho e eu continuo na flores-ta, que agora me parece até um lugar agradável.
A lama está fofinha e quente. Ao longe vejo uma ár-vore com frutos que me parece bem comestíveis. Minha roupa está suja, mas não me importo com isso. Olho para o céu e as grandes copas das árvores que ontem à noi-te me eram assustadoras, agora me trazem uma sensação muito boa, com a música de suas folhas se batendo e o vento refrescante que me sopra.
Aproximo-me da árvore que havia visto antes e pego um de seus frutos. Parece muito com uma maçã; acho que deve ser delicioso. Seguro o fruto bem firme na mão e encosto nos lábios, tem um cheiro agradável também. Vou dar a primeira mordida.
— É venenoso, sabia? — uma voz nasce atrás de mim. Afasto o fruto da boca e tento assimilar a voz de uma garota e o aviso. Não estou sozinho.
A felicidade toma conta de mim ao perceber que há alguém próximo a mim. Jogo o fruto no chão para a menina perceber que entendi seu recado.
— Olá — ela diz com um sorriso.— Oi — respondo apavorado, mas feliz.— Como você se chama? — ela pergunta se aproxi-
mando de mim.— Cleber. E você?— Me chame do que quiser — ela diz e se vira para
o outro lado, pega uma fruta caída no chão e morde.
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— Mas você tem um nome, certo? — digo e pego a fruta que ela me estende.
— Tenho sim, mas isso não importa. Arranje qual-quer apelido bonitinho.
Sorrio discretamente e minha mente começa a cla-rear. Eu não estou sozinho. Tem uma garota na minha frente e aparenta ter a mesma idade que eu. Será que tem mais gente aqui? Também não sei se posso confiar nela inteiramente, mas enquanto essas questões não se resol-vem, vou dar a ela um apelido significativo.
— Posso lhe chamar de Fruta?— Por que Fruta?— Por que... Pela fruta venenosa que você me impe-
diu de comer — nós dois olhamos para a árvore.— Tudo bem, Cleber. Vou pegar água.Observo aquela garota se afastando até um pequeno
lago. Achei um pouco estranho o que acabou de ocor-rer. Pouco antes eu estava sozinho, mas de repente me aparece uma garota e começa a falar comigo. Até que é simpática. Será muito mais fácil sobreviver com alguém por perto do que sozinho.
Fruta volta com uma garrafa cheia de água.— Está com sede? — ela me pergunta.— Um pouco.Pego a garrafa e bebo um pouco.— Está um pouco difícil encontrar comida por aqui
nesses últimos dias. Você tem comida na sua mochila?— Tenho biscoito.— Sério? Posso pegar?— Claro.
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Terminamos de comer o pacote que abri ontem. Pa-recia que Fruta não comia açúcar há dias.
— É melhor do que casca de árvore — diz ela sacu-dindo as mãos para tirar o farelo.
— Aposto que sim. Há quanto tempo você está nes-se lugar?
— Duas semanas.—Tem mais gente por aqui?— Não que eu saiba.— Como você sobrevive?Fruta baixa a cabeça e a balança negativamente.— Não sabe como consegue sobreviver?Fruta respira fundo, levanta a cabeça, espira e responde:— Deve ser a vontade de viver que me deixa viva.Ia fazer outra pergunta, mas acho que ela percebeu
e falou antes.— Estou com sono. Posso dormir?— Claro. Por que não?— Quero que você fique acordado para vigiar. Seria
imprudência dormir nessa floresta despreocupadamente. — Tudo bem. — Fruta se deita e apoia a cabeça na
minha mochila.Eu a observo. Sua expressão séria e seus cabelos pre-
sos como minha mãe costuma amarrar; ela usa uma ja-queta preta. Fruta se parece comigo: cabelos negros, pele clara e olhos azuis. Poderíamos dizer que somos irmãos e ninguém iria desconfiar. O que será que a trouxe aqui? Será que estava procurando liberdade e felicidade assim como eu? Será que devo confiar nela? Mais uma vez me perco com as perguntas e não encontro as respostas. Olho
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para cima e às vezes para Fruta. Consolidando a visão do azul do céu e a menina dormindo.
Vigio o sono dela enquanto desfruto do som das aves sobrevoando as copas das árvores. Isso é tão distrati-vo... Saio de minha distração com a voz de Fruta.
— Cleber... — ela diz com a voz suave, mas um pouco estranha.
— Oi. Já acordou? — ela me olha fixamente e pare-ce não respirar.
— Eu falei pra você vigiar meu sono — ela fala com a voz abafada, como quem está prendendo a respiração.
— Mas eu só me distraí um pouco. O que houve?Ela tentou responder, mas desmaiou em cima de mim.
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