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A REESTRUTURAÇÃO DO SETOR
HOTELEIRO DA CIDADE DE
SALVADOR PARA A COPA DO MUNDO
DE 2014
carlos jefferson de melo santos (ufba )
carlos.jeferson@gmail.com
vanessa brito brandao (ufba )
vanessa.engproducao@gmail.com
Victor Morais Santos Abreu (ufba )
dito.abreu@gmail.com
A escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014 abre
um leque de oportunidade de negócios, apesar da especulação acerca
do retorno dos investimentos bilionários para atender aos
condicionantes da entidade internacional do futebool, a FIFA. Dentre
os setores beneficiados com o megaevento destaca-se o turismo,
atualmente subaproveitado, mas com imenso potencial
socioeconômico. Este estudo objetiva sistematizar e avaliar
estatisticamente as estratégias adotadas pelos empreendimentos
hoteleiros da cidade de Salvador para receber o Mundial de 2014,
tendo em vista a influência dos ambientes externos e internos, além de
sintetizar o legado pós-evento projetado pelos sistemas produtivos de
serviço em questão.
Palavras-chaves: Megaeventos, Copa do Mundo, Turismo, Hotelaria,
Sistemas de Produção.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
A realização de megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, é almejada
por diversos países como estratégia para atração de investimentos, aumento do potencial
turístico e chamariz de atenção nacional, além do legado socioeconômico pós-evento. A
sediação da Copa de 2014 pelo Brasil será uma excelente oportunidade para o
desenvolvimento em diversos setores, tais quais mobilidade urbana, infraestrutura
aeroportuária e hoteleira, estádios e turismo. Segundo o Governo Federal Brasileiro, estima-se
que 33 bilhões de reais serão investidos em infraestrutura, projetando uma agregação de 183
bilhões de reais ao PIB do país até 2019, o que indicaria um incremento de 0,4% ao ano
(BAHIA, 2012).
Um dos setores de maior impacto neste cenário é o turístico, devido ao forte legado
estabelecido pós-evento. Do 33 bilhões de reais investidos, cerca de 1,9 bilhão será destinado
ao setor hoteleiro nacional, com geração de R$ 9,4 bilhões por 3,7 milhões de turistas
brasileiros e estrangeiros. O Estado da Bahia, um dos principais destinos turísticos do país,
possui dentre seus projetos prioritários o investimento de R$ 437,5 milhões de reais na
requalificação e infraestrutura turística, de acordo com a Secopa (BAHIA, 2012). O Relatório
Anual de 2011 do órgão em questão aponta como principais legados significativos:
qualificação da orla marítima, requalificação e urbanização dos principais destinos turísticos e
apoio à modernização da rede hoteleira, incluindo a qualificação empresarial e
acompanhamento de construções e reformas. A projeção é de um incremento de 11% na
oferta de leitos em Salvador, de 54 para 60 mil, em hotéis e pousadas, quantidade que excede
a requerida pela FIFA para abrigar o mundial, de acordo com o 4º Balanço das Ações do
Governo Brasileiro para a Copa 2014 (BRASIL, 2012).
Apesar das oportunidades de crescimento e desenvolvimento na realização de megaeventos,
muita especulação é gerada em torno dos investimentos bilionários para adaptação do país às
restrições e exigências externas da organização, além da pressão interna pelo preterimento de
investimentos em setores mais críticos, como a educação. Segundo Moreira (1993),
megaeventos são classificados como um sistema de produção de serviços de grande porte,
portanto seus investimentos detêm alto custo e dificuldade gerencial tanto no planejamento
quanto no controle. Portanto, faz-se necessária a adoção de estratégias de gestão para que o
retorno financeiro viabilize a realização do torneio e estimule ainda legados a longo prazo no
âmbito socioeconômico, tanto para o setor público quanto para o privado.
A mensuração de impactos econômicos e sociais de megaeventos é de ordem complexa e é,
muitas vezes, superestimada (Matheson e Baade, 2008). Um estudo da revista Exame
(MENDES) constatou o pessimismo dos brasileiros quanto ao retorno dos investimentos para
a Copa de 2014. No entanto, segundo o estudo, patrocinadores e empreendedores acreditam
que com a proximidade do evento as expectativas tendem a ser mais positivas e, como uso da
criatividade, há como aproveitar as oportunidades de negócio proporcionadas.
Este estudo objetiva sistematizar as estratégias adotadas e oportunidades exploradas pelos
gestores do setor hoteleiro através de uma pesquisa estatística dos hotéis da cidade de
Salvador federados pela FIFA para receber a Copa do Mundo de 2014. Os resultados obtidos
foram confrontados com as expectativas projetadas pelo Governo, possibilitando assim a
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análise do comportamento dos sistemas de produção de serviços hoteleiros locais perante a
sediação de um megaevento esportivo.
2. Referencial teórico
2.1 Megaeventos e a economia
Segundo Caldeira (2012), a sediação de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo
ou os Jogos Olímpicos, é almejada por muitos países para alavancagem da economia, porém
este objetivo precisa ser acompanhado de estratégias que envolvam não só o setor público,
mas também parcerias em diversas áreas do setor privado para maximizar o retorno dos
recursos disponíveis. Quando mal planejados e gerenciados, megaeventos podem resultar em
endividamentos descontrolados que se arrastarão por muitos anos, comprometendo as contas
públicas e a capacidade de investimentos futuros em setores prioritários. Segundo dados do
FMI e do Banco Mundial (2012), o impacto de tais eventos pode ser analisado através de
indicadores – como o PIB, inflação e endividamento das contas de um país em relação ao seu
PIB – de quatro anos anteriores e quatro anos posteriores à sua realização. Dentre os países
sedes das últimas Copas do Mundo, destacam-se os Estados Unidos (Copa de 1994) e a
Alemanha (Copa de 2006) pelo crescimento considerável no PIB no período indicado, o
primeiro obtendo ainda uma redução acentuada da inflação. O México (Copa de 1986), apesar
da elevação da inflação durante a realização do evento, obteve uma queda acentuada deste
indicador nos anos posteriores, com grande incremento no PIB. Em contrapartida, na França
(Copa de 1998) após a sediação do torneio houve uma redução de seu PIB seguido de um
aumento da inflação do país. Apesar de tais dados não demonstrarem isoladamente o impacto
da Copa do Mundo na economia dos países em questão (outros fatores certamente
contribuíram para as variações), eles trazem um indicativo genérico de seu comportamento
antes, durante e após a realização do evento.
Países Ano da
Copa
Inflação (%) PIB (%) Dívida/PIB (%)
4 anos
antes
Durante
o Evento
4 anos
depois
4 anos
antes
Durante
o Evento
4 anos
depois
4 anos
antes
Durante
o Evento
4 anos
depois
Espanha 1982 16,54 14,01 8,26 1,5 1,24 5,29 - - -
México 1986 98,81 105,75 29,93 -0,52 -3,11 5,16 - - -
Itália 1990 5,85 9,31 4,03 2,86 2,05 2,15 - - -
Estados
Unidos 1994 5,76 2,72 1,61 1,88 4,07 4,36 45,94 54,75 45,24
França 1998 1,47 0,67 3,94 2,17 3,55 1,07 41,35 49,76 49,15
Coreia
do Sul 2002 3,97 3,74 2,09 -5,71 7,15 5,18 - - -
Japão 2002 0,58 -0,3 0,3 -2,05 0,26 2,04 46,2 72,63 84,33
Alemanh
a 2006 1,16 1,38 1,85 0,02 3,57 3,5 44,58 52,75 53,82
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Fonte: FMI/Banco Mundial (CALDEIRA, 2012)
Tabela 1: Indicadores econômicos dos países-sede das últimas Copas do Mundo FIFA
A Copa de 2010, sediada pela África do Sul (primeiro país africano a sediar uma Copa e
detentor do maior PIB de seu continente), não obteve os retornos financeiros planejados. O
turismo durante o evento trouxe uma arrecadação de apenas U$ 519,6 milhões, em
contrapartida aos U$ 5,8 bilhões gastos em infraestrutura. Por outro lado, o torneio contribuiu
para a visibilidade do país, propiciando a exploração de setores antes subaproveitados. Quase
90% dos turistas que foram à Copa de 2010 afirmaram que consideram visitar a África do Sul
novamente (REUTERS, 2010). O legado pós-evento proporciona o crescimento do turismo e
desenvolvimento contínuo do setor hoteleiro, tendo os investimentos de infraestrutura
minimizados (apenas os de manutenção da estrutura implementada) e sendo necessários
investimentos progressivos de marketing e comunicação para manter a repercussão
alavancada com a sediação da Copa.
2.2 Megaeventos esportivos no Brasil
O Brasil vive atualmente um excelente momento de visibilidade mundial devido ao
aquecimento e solidez de sua economia unido ao aumento da renda da população, fatores
decisivo na escolha como país-sede dos maiores eventos esportivos do mundo: a Copa do
Mundo e as Olimpíadas (SOUSA, 2012). No entanto, o atendimento aos condicionantes das
confederações internacionais (a exemplo de arenas esportivas com alto padrão de qualidade,
conforto e segurança, obras de mobilidade urbana e acessibilidade, portos e aeroportos
modernos e sustentáveis, rede hoteleira compatível com a grandiosidade dos eventos, entre
outros) demandam investimentos onerosos que causam especulações quanto ao seu retorno.
Por tanto, estudos de viabilidade econômica e financeira são realizados (e muitas vezes
superestimados, de acordo com Matheson e Baade, 2008) afim de buscar apoio e estímulo da
população. Dentre as oportunidades geradas citadas por Sousa, destacam-se: aumento da
exposição das cidades-sede no cenário internacional; incremento do potencial turístico;
ampliação da estrutura hoteleira; expansão de aeroportos; capacitação de mão de obra;
melhoria do sistema de transporte urbano; e construção de novos estádios.
A gestão de um megaevento como a Copa 2014 é de ordem complexa e exige visão a longo
prazo com estratégias de aproveitamento das oportunidades e de retorno dos investimentos
realizados. Segundo o Plano Diretor da Copa 2014 na Bahia (BAHIA, 2011), o evento deve
representar para o pais investimentos previstos na ordem de R$ 100 bilhões em infraestrutura,
participação média de 1% no crescimento do PIB no ano da Copa, recepção de
aproximadamente 600 mil visitantes, geração de milhares de empregos, além de projetar
internacionalmente o país e os estados-sede. Segundo Sousa (2012) os setores mais
impactados pelos investimentos previstos para a Copa de 2014 são os de construção civil
(construção de estádios e valorização do entorno), transporte (mobilidade urbana) e turismo
(expansão da rede hoteleira), conforme tabela abaixo.
Turismo Transporte Construção Civil
Investimentos R$7.344.689.303 R$11.900.000.000 R$5.631.000.000
Impacto no PIB R$220.040.679 R$1.832.600.000 R$467.373.000
Fonte: Sousa apud Ministério do Esporte (BRASIL, 2012)
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Tabela 2: Investimentos previstos para a copa de 2014
O Ministério do Esporte (BRASIL, 2012) afirma que o setor de turismo é especialmente
sensível a ações de potencialização de impacto positivo devido ao imenso potencial turístico
do país. Afim de assegurar o impacto previsto, é importante que o setor público planeje as
obras de infraestrutura, promova ações de captação e permanência de turistas, desenvolva
iniciativas relacionadas ao turismo e qualifique seus serviços. Tais diretrizes são detalhadas
na tabela abaixo.
Os empreendimentos do setor turístico aumentarão em quase 15% a oferta hoteleira do Brasil
nas 12 cidades-sedes da Copa do Mundo até 2014, ampliando a capacidade da rede no país de
706 mil para 809 mil hóspedes, de acordo com o 4º Balanço de Ações para a Copa divulgado
em Dezembro/2012 pelo Ministério do Esporte (BRASIL, 2012). Para isso, R$ 2 bilhões
destinados à reforma e construção de novos hotéis serão financiados pelo BNDES, dos quais
R$ 1,5 bilhão já estão comprometidos com projetos aprovados ou em análise (BAHIA, 2012).
2.3 Impactos da Copa de 2014 no setor hoteleiro da cidade de Salvador
Com a confirmação do Salvador como cidade-sede da Copa do Mundo 2014 da FIFA,
evidenciou-se a já existente necessidade reestruturação em diversos setores da economia,
como infraestrutura, construção civil, entretenimento, logística, mídia, hotelaria e serviços em
geral, com inúmeras exigências técnicas, estruturais e com prazos determinados. O governo
do Estado da Bahia, em seu Plano Diretor da Copa (BAHIA, 2011), traçou estratégias para
gerir os programas, projetos e ações prioritárias para atender aos condicionantes da entidade
internacional de futebol (FIFA) e destacou os principais legados que serão deixados para a
população pós-evento:
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Fonte: PDC Executivo (BAHIA, 2011)
Figura 1: Dimensões de legados
Dentre os sistemas produtivos que se desenvolverão, os ligados ao turismo e a cultura
merecem um cuidado especial, uma vez que são subaproveitados, têm grande impacto na
economia do Estado e serão os principais atrativos da exposição midiática proporcionado pelo
Mundial de 2014. Por tanto, o governo da Bahia (BAHIA, 2011) têm entre seus projetos
prioritários a qualificação de orlas marítimas, requalificação de equipamentos culturais,
qualificação profissional e modernização da rede hoteleira. Os empreendimentos do setor
hoteleiro, atento aos condicionantes estabelecidos pela Fédération Internationale de Football
Association (FIFA) e sintonizado com as diretrizes estratégicas de Governo, se preparam para
a abrigar o megaevento e explorar o turismo com investimentos públicos e privados.
Segundo o secretário de Turismo do estado, Domingos Leonelli, atualmente a Bahia recebe
cerca de 550 mil turistas por ano, prevê uma elevação de 20% neste número em 2014. Porém,
Canteras (2012) afirma na 4ª edição do Panorama da Hotelaria Brasileira que na capital
baiana ainda há maior oferta do que a demanda anual média de turistas e clientes da hotelaria.
Segundo o mesmo estudo, novos hotéis estão sendo abertos devido aos investimentos setoriais
que vem sendo realizados, com previsão de um incremento de 11% na oferta de leitos (54 mil
para 60 mil). Somente no ano de 2011 houve um aumento de 5,0% na oferta de leitos do
segmento midscale (com diárias médias acima de R$ 170) e 3,6% do segmento econômico
(com diárias médias de R$130 à R$170).
Apesar da demanda ainda não estar acompanhando a oferta, os empreendimentos hoteleiros
devem se antever as futuras necessidades através de um planejamento estrutural focado na
qualidade dos serviços prestados, diferencial essencial na captação e manutenção de
demandas futuras.
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O exposto evidencia a necessidade de se estruturar adequadamente a malha hoteleira da
cidade de Salvador e seus sistemas produtivos, visando aproveitar as oportunidades de
negócio trazidas pelo Mundial de 2014. O estudo proposto pelos autores visa justamente
analisar o comportamento dos empreendimentos hoteleiros soteropolitanos credenciados pela
FIFA para recepção da Copa de Mundo de 2014.
3. Metodologia
A metodologia detalha as etapas lógicas a serem seguidas para a obtenção dos dados
desejados, assim como define o escopo da pesquisa e suas especificidades. Entre os aspectos
especificados, destacam-se: a descrição do objeto de estudo, do onde e como será realizada a
pesquisa, a população (gênero, idade, região geográfica, estado civil, idade, renda salarial), os
instrumentos de coleta de dados e a forma como se pretende tabular e analisar seus dados
(SILVA E MENEZES, 2005).
3.1 Ambiente e objetivos da investigação
O presente estudo foi desenvolvido junto aos hotéis da cidade de Salvador federados pela
Fédération Internationale de Football Association (FIFA, 2012) para acomodação da Copa
do Mundo de 2014 (Anexo I). Tais hotéis foram selecionados por cumprirem uma série de
requisitos impostos pela FIFA – ou por se comprometerem a se adaptarem a eles –, tais quais
localização, instalações e serviços oferecidos. O objetivo geral da pesquisa é avaliar o
planejamento dos sistemas produtivos em questão para receber este megaevento, além de
identificar o nível de aproveitamento das oportunidades geradas. Estabeleceram-se os
seguintes objetivos específicos: investigar os impactos socioeconômicos no setor hoteleiro;
analisar a influência dos ambientes externos e internos no setor; e sistematizar o planejamento
estratégico dos empreendimentos hoteleiros e comparar com as expectativas do governo.
3.2 Técnicas e procedimentos adotados
Para identificar os procedimentos técnicos de coleta de dados que melhor se aplica às
especificidades da pesquisa em questão, levantou-se três métodos (GIL, 1991):
a) Pesquisa Bibliográfica
b) Pesquisa de Campo
c) Pesquisa Documental
A pesquisa bibliográfica compreende a coleta de dados a partir de material já publicado, como
artigos, livros e materiais periódicos, visando maior compreensão do objeto de estudo. A
pesquisa de campo é aquela que é realizadas in loco – em laboratório, nas ruas, diretamente
com o material desejado ou com as empresas prospectadas, entre outros. A técnica de
abordagem pode ser entrevistas, questionários, visitas técnicas ou outros tipos de abordagem
que possa resultar em coleta de dados. O tratamento analítico dos dados coletados se dará
através da pesquisa documental.
Segundo Ribeiro de Almeida (2008), a entrevista é a ferramenta de comunicação direta entre
duas pessoas, onde a informação é fornecida pelo entrevistado e armazenada pelo
entrevistador. A entrevista em si deve ser fundamentada em uma metodologia científica para
que seus dados e informações coletadas sejam consideradas válidas. Existem dois tipos de
pesquisa por entrevistas (RICHARDSON, Roberto Jarry, 1999, p. 161):
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a) Estruturada – também conhecida como questionário, é uma entrevista construída com
perguntas pré-formuladas. O questionário deve ser sucinto e objetivo, e, para critérios
de aceitação, o entrevistador já deve possuir as possíveis respostas do entrevistado.
b) Não-estruturada – Também conhecida como entrevista de profundidade, este tipo de
pesquisa vem ganhando espaço na metodologia de pesquisa científica pois, além de
analisar dados estatísticos e afins, é possível também analisar com maior profundidade
a realidade interna de um grupo social. Não será o foco da pesquisa pois abrange
métodos de antropologia científica.
Abrangendo a hotelaria da cidade de Salvador para a Copa de 2014, utilizou-se dos três tipos
de pesquisa (bibliográfica, documental e campo). A primeira objetivou a execução de uma
revisão teórica acerca do objeto de estudo do artigo. A pesquisa documental e em campo
serviram para a coleta de dados pertinentes e para a obtenção de possíveis respostas às
indagações levantadas pelos pesquisadores, assim como a sua decupagem analítica. Visando
facilitar a aplicação das entrevistas, utilizou-se um questionário estruturado através do Google
Survey, ferramenta do Google Docs que viabiliza a aplicação de formulários através da
internet.
Para esta pesquisa, desenvolveu-se um método para estruturar os dados e coletas de
informações:
a) Realização de pesquisa dos hotéis credenciados pela FIFA como acomodações
oficiais do evento (Anexo I);
b) Seleção dos hotéis mais expressivos – os empreendimentos que mais se
relacionarão com a Copa (seja por sua localização, estrutura, entre outros
fatores) – e investigação dos responsáveis pelo tipo de informação desejada;
c) Realização de um brainstorming dos possíveis pontos de interesse dos
pesquisadores que deverão ser questionados aos entrevistados;
d) Elaboração do Formulário de Entrevistas Padrão para os hotéis prospectados
(Anexo II);
e) Aplicação dos Formulários através do Google Survey e/ou entrevista in loco;
f) Compilação dos dados coletados;
g) Elaboração da análise quantitativa e qualitativa dos resultados obtidos. Para
este tópico, serão utilizados os seguintes métodos (DANTAS E
CAVALCANTE, 2006);
h) Com base na análise compilada, interpreta-se a reestruturação do setor
hoteleiro da cidade de Salvador para o recebimento do megaevento Copa do
Mundo 2014.
4. Resultados obtidos
Com o cenário de modernização e altas exigências que a FIFA sobrepõe aos hotéis que estrão
aptos a receber os espectadores da Copa 2014, necessita-se de uma abordagem para assegurar
a viabilização destes investimentos e os retornos que os mesmos trarão a capital baiana. Para
tanto, foi feita uma coleta de dados com os hotéis cadastrados pela FIFA, enviando um
questionário relacionando as perguntas com uma futura análise sobre os investimentos e
impactos que estes deverão trazer para os empresários do setor, a sociedade e economia
baiana. Segundo Hradesky (1989), os fatores mais importantes para a coleta são as atribuições
de responsabilidade da coleta e a acurácia das informações. Estabelecer critérios e
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desenvolver um sistema de medição, decidir sobre parâmetros de coleta de dados, monitorar e
analisar os relatórios serão executados mediante este questionário, o que implica seguridade e
confiança nos dados e análises.
Partindo destes conceitos, após a pesquisa, avaliou-se os dados a partir do Processo de
Planejamento de cada empresa. Segundo Falconi (2009), avalia-se no planejamento
modificações em um sistema, seja ele do tamanho que for, de tal forma que seus resultados
possam ser melhorados ou que suas funções cumpram com as novas necessidades
estabelecidas, que são as próprias metas. A meta global de cada setor é obter retorno dos
investimentos efetuados ou que serão propostos a longo prazo.
As primeiras perguntas, relacionadas ao planejamento estratégico e financeiro da empresa
decorrente da Copa 2014, toda as empresas do ramo foram unanimes em declarar que há
investimentos para a Copa e a existência de um planejamento com inclusão deste evento,
assim como o investimento em marketing, reforma dos leitos e capacitação dos funcionários.
Quando relacionada à fonte dos investimentos, 88% dos hotéis entrevistados assumiram a
ordem estatal e 11% receberam investimentos privados. Esta análise prévia reflete o perigo do
investimento de ordem pública. O retorno do estado a sua estabilidade econômica poderá ser
dispendioso no tempo e na quantidade investida. Para os investimentos da ordem de
R$201.000 a R$500.000 assumem 38% dos hotéis entrevistados, enquanto que R$51.000 a
R$100.000 somam 24%.
Gráfico 1 – Ordem dos investimentos
Com relação aos empregos formados, o crescimento não será proporcional a formação de
técnicos e/ou auxiliares com os programas de capacitação do governo (PRONATEC). O
aumento do número de cursos técnicos profissionalizantes, preparando pessoas muitas vezes
sem condições de custear um curso deste nível, torna-se um indicador positivo e favorável ao
crescimento da mão de obra capacitada. Porém, ainda com o aumento do número de vagas
para estes cursos, com 75 cursos para 120 municípios (SECOPA, 2013), a copa exigirá pouco
destes profissionais. De acordo a pesquisa realizada, apenas 13% dos hotéis disponibilizarão
de 26 à 50 empregados na Copa 2014.
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Gráfico 2 – Empregos Fixo gerados em 2014
Gráfico 3 – Empregos temporários gerados em 2014
Quando arguidos sobre quais seriam os tipos de treinamentos a serem realizados com os seus
funcionários, a proficiência em Inglês e o segmento de camareira em meios de hospedagem
foram os mais votados, demostrando a deficiência nestes dois conhecimentos, o que reflete
um maior incremento na capacitação da mão de obra já existente nos hotéis, desenvolvendo
assim o profissional tecnicamente e aumentando sua autoestima como cidadão. A maioria
destes treinamentos serão realizados por terceiros e não pelo Governo ou instituições
públicas.
Gráfico 4 – Tipos de treinamento que serão realizados.
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Como forma de atrativo e inovação, quando questionados sobre os serviços especiais que
serão oferecidos na Copa 2014, 23% responderam sobre as atividades culinárias, onde seriam
servidos cardápios com as próprias línguas dos turistas, atividade hoje comum em alguns
hotéis do tipo MIDSCALE.
Gráfico 5 – Serviços especiais oferecidos na Copa 2014.
Por fim, quando arguidos sobre a expectativa do legado que será deixado pela Copa 2014,
100% dos entrevistados caracterizaram como Otimista, generalizando o potencial retorno que
a longo prazo todos os investimentos poderão obter.
5. Considerações finais
A realização de megaeventos esportivos no Brasil – Copa do mundo 2014 e Olimpíadas 2016
– certamente proporcionará um salto no desenvolvimento de diversos setores do país. No
entanto, os investimentos bilionários resultam em especulações sobre seus retornos por parte
da população, que ainda não acredita em resultados positivos.
A cidade de Salvador, uma das 12 cidades-sede escolhidas pela FIFApara sediar o Mundial de
2014, é o maior destino turístico do nordeste e terceiro maior do Brasil. A exposição midiática
do megaevento, assim como os investimentos realizados para atender aos condicionantes da
federação organizadora, promoverão inúmeras oportunidades de negócios, principalmente no
setor do turismo. A pesquisa proposta teve o objetivo de avaliar a reestruturação do setor
hoteleiro da cidade de Salvador para receber a Copa do Mundo de 2014 e as expectativas
quanto ao legado que será deixado. Para tanto, aplicou-se questionários acerca do
planejamento estratégico dos empreendimentos hoteleiros da capital baiana credenciados pela
FIFA para receber o torneio. A apreciação qualitativa e quantitativa dos Dados coletados
permite inferir-se o alto grau de comprometimento dos hotéis entrevistados quanto ao
aproveitamento.
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Das oportunidades geradas pela realização do evento Copa do Mundo de 2014, bem como o
seu legado. Comprometimento este que não se exime apenas a aspectos singulares de cunho
econômico, mas também demonstram claramente a preocupação em realizar investimentos
que vão desde revitalização e reformas dos aparelhos turísticos até capacitações e
qualificações profissionais (operacionais, idiomas, administrativos, entre outros),
demonstrando o cuidado em promover também o desenvolvimento da sociedade. É Inegável
a existência de um certo receio quanto ao retorno econômico desses investimentos, tanto a
curto quanto a longo prazo. Em contrapartida, foram evidenciadas ações (ou a intenção de
realiza-las) que viabilizam o alcance dos resultados planejados, como a execução de
estratégias para fidelização de turistas visando seu retorno, através do oferecimento de
atrativos especiais, aliança com agências nacionais e internacionais de turismo para
prospecção de turistas, investimento em marketing e na qualidade dos serviços oferecidos,
dentre outros.
Os empreendimentos do setor 18 caracterizaram o legado da copa com otimismo, exaltando o
potencial retorno que a longo prazo todos os investimentos poderão obter. Em sua maioria, as
diretrizes do governo federal estão alinhadas com as ações diretivas do setor hoteleiro de
Salvador, porém alguns programas oferecidos não estão sendo devidamente aproveitados
(como financiamentos pelo BNDES e o Pronatec Copa), talvez por falta de divulgação dos
mesmos. O estudo, ao restringir seu alcance apenas aos hotéis credenciados pela FIFA,
acaba por restringir a abrangência de seus resultados, tornando--‐os genéricos. Um estudo
mais amplo seria necessário para compreender melhor a realidade do setor hoteleiro da
cidade de Salvador como um todo, porém a amostra pesquisada pôde responder de
maneira satisfatória o objetivo dos autores.
6. Referências
ALMEIDA, Marcos Ribeiro de. Metodologia da Pesquisa. Jacundá: 2008.
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