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Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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A IDEOLOGIA DA IGUALDADE: INCLUSÃO EXCLUDENTE.
Denize Naiara Santi1
Resumo: O Artigo pretende discorrer a respeito do tema inclusão excludente dentro das instituições de ensino, considerando assim de que forma a educação auxilia na concretização da ideologia capitalista. Para tanto o texto organiza-se em dois tópicos: inicialmente, no subtítulo: Divisão do trabalho: conhecimento do trabalhador destaca-se de forma sucinta, considerações sobre o mundo do trabalho e suas relações com a sociedade capitalista, para compreender o tópico seguinte: Inclusão excludente: Ideologia do capital e da classe dominante, que busca expor como as relações de trabalho influenciam na escola, e como a escola influenciada pelo capitalismo forma os homens para as relações de trabalho e as relações sociais, auxiliando na alienação do trabalhador e na difusão da ideologia dominante. Esse tópico também busca expor de forma sucinta uma alternativa, uma educação para além do capital, baseada nas reflexões de István Mészáros. Dentre os autores utilizados para as discussões elencadas no texto apresentam-se: Antunes, 2000; Breverman,1987; Ianni, 1988; dentre outros. Palavras-chave: Educação; Trabalho; Sociedade; Introdução
Para a construção desse artigo considerei as discussões elencadas na disciplina
“Conhecimento Sociológico e Educação”, ministrada pela professora Suely Aparecida
Martins no programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE no ano de 2015.
Assim através das considerações da disciplina, compreende-se que educação e
trabalho não formam mundos à parte, pois eles transformam o homem, na construção da
sociedade. Deste modo, é preciso compreender qual a função da escola nos dias atuais,
considerando a sociedade capitalista, e a ideologia dominante que adentra os muros
escolares. Nagel (p.13) apresenta uma estatística relevante, na qual
1 Acadêmica do programa de Mestrado em Educação da Unioeste - Campus de Francisco Beltrão-PR. Bolsista da CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa: História, Sociedade e Educação no Brasil – HISTEDOPR – GT local do HISTEDBR. Membro do Grupo de Pesquisa Representações, Espaços, Tempos e Linguagens em Experiências Educativas – RETLEE. Graduada em Pedagogia pela UNIOESTE no ano de 2014. E-mail: denize_naiaralp@hotmail.com
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Os dados apresentados pelas avaliações nacionais, ou internacionais, sobre o desempenho dos brasileiros em qualquer nível de ensino não mais permitem afiançar que a escola ensina. [...] A dificuldade em ler, escrever e interpretar não pode, no entanto, ser considerada como uma complicação pertinente às séries iniciais do Ensino Fundamental. Ela arrasta-se e atravessa todos os cursos das instituições universitárias do país.
Deixando mais claro a necessidade de entender qual a função da escola,
buscando compreender que tipo de cidadão se busca formar, considerando o que
realmente a escola está ensinando. Ponderando que a escola é uma instituição formal de
educação, e que muitas vezes é o único acesso da população ao conhecimento
sistematizado, então que tipo de conhecimento está sendo ensinado para essa classe
dominada, sabendo que a escola é um instrumento do Estado.
Essas considerações foram levantadas durante a construção desse artigo, que
encontra-se dividido em duas partes, inicialmente, no subtítulo: Divisão do trabalho:
conhecimentos do trabalhador apresenta-se de forma sucinta, considerações sobre o
mundo do trabalho e suas relações com a sociedade capitalista, para compreender o
tópico seguinte Inclusão excludente: Ideologia do capital e da classe dominante, que
busca expor como as relações de trabalho influenciam na escola, e como a escola
influenciada pelo capitalismo forma os homens para as relações de trabalho e as
relações sociais, auxiliando na alienação do trabalhador e na difusão da ideologia
dominante. Esse tópico também busca expor de forma sucinta uma alternativa, uma
educação para além do capital, baseada nas reflexões de István Mészáros.
Divisão do trabalho: conhecimentos do trabalhador
Para compreendermos qual a função da escola na sociedade atual é preciso
salientar que A teoria materialista de que os homens são produto das circunstâncias e da educação e de que, portanto, homens modificados são produto de circunstâncias diferentes e de educação modificada esquece que as circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e que o próprio educador precisa ser educado. Leva, pois, forçosamente, à divisão da sociedade em duas partes, uma das quais se sobrepõe à sociedade [...]. A coincidência da modificação das circunstâncias e da atividade humana só pode ser apreendida e racionalmente
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compreendida como prática transformadora - Karl Marx (Mészáros, 2008, p.21).
É nesse sentido que Mészáros (2008, p. 12) discorre a respeito da educação,
considerando que está deve ser continua, permanente, ou não é educação. Mészáros vêm
defender práticas educacionais “que permitam aos educadores e alunos trabalharem as
mudanças necessárias para a construção de uma sociedade na qual o capital não
explore”. Porém como construir uma educação para além do capital? Inicialmente é
necessário compreender o papel que a educação vem desempenhando, que via de regra,
auxilia na concretização da ideologia do capital.
A história apresenta diversas vezes a participação da escola na
produção/construção da sociedade. De tal modo ressalta-se que Tanto na Primeira República como durante a fase de consolidação do Estado Nacional, a escola tinha como metas garantir o saber das novas gerações e formar cidadãos para uma comunidade definida. Procede, portanto, mais do que nunca, a pergunta sobre o papel da escola hoje (NAGEL, 2011, p.14).
Pois “[...] a escola, como qualquer outro organismo, foi, e sempre será, a
expressão do seu tempo e da vida na forma como ela vem sendo vivida” (NAGEL,
2011, p.15). É nesse sentido que se faz a pergunta, qual o papel da escola na sociedade
atual? Considerando que a escola deveria ser um lugar de disseminação de
conhecimentos científicos em busca da emancipação humana, realmente esses
conhecimentos estão sendo ensinados?
Antes de iniciar a discussão a respeito da escola é necessário considerar que tipo
de sociedade o Capitalismo cria, considerando que a concepção de educação, está
atrelada a concepção de mundo que a sociedade deseja e a construção de homem que se
anseia. Assim sendo inicia-se essa discussão considerando que para compreender a
sociedade construída pelo capitalismo é necessário compreender a categoria trabalho,
pois é o pilar central do capitalismo. Desta forma surge à pergunta, o que é trabalho?
Harry Braverman (1987, p.50) apresenta alguns esclarecimentos a respeito desse
questionamento. Trabalho pode-se dizer, que é uma atividade que altera o estado natural
das coisas para melhorar a sua utilidade. E o que distingue o trabalho humano do
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trabalho dos animais? Essa distinção consiste em considerar que “o trabalho humano é
consciente e proposital, ao que o trabalhos dos outros animais é instintivo. As atividades
instintivas são inatas antes que aprendidas”.
Outro fator relevante para o entendimento da categoria trabalho diz respeito à
sobrevivência humana, o homem garante sua sobrevivência transformando a natureza e
ao transformar a natureza também é por ela transformado. O processo do trabalho
inicialmente é utilizado para suprir uma necessidade básica do homem, assim pode-se
dizer que constitui um produto com valor de uso2. Porém com a evolução e o advento
do Capitalismo o valor de uso dos objetos começou a ser substituído pelo valor de troca,
em busca de gerar lucro. Do mesmo modo Antunes (2000) destaca que a subordinação
das necessidades humanas, o valor de uso subordinado ao valor de troca, estão no seio
do nascimento do capital considerando esse o mais notável traço de sua expansão. O
autor destaca ainda que Com o capital erige-se uma estrutura de mando vertical, que instaurou uma divisão hierárquica do trabalho capaz de viabilizar o novo sistema de metabolismo social voltado para a necessidade da continua, sistemática e crescente ampliação de valores de troca (idem: 537), no qual o trabalho deve subsumir-se realmente ao capital (2000, p.21)
Desta forma o capital transforma todo tipo de trabalho em trabalho assalariado, e
o trabalhador vende sua força de trabalho para o empregador/capitalista porque as
condições sociais em que vive não lhe dão alternativa para ganhar a vida de forma
diferente. Portanto o trabalho passa a ser um meio para aumentar o acumulo de capital
pelo empregador, e o empregador passa a ter o controle sobre as formas de trabalho,
para produzir sempre mais e mais capital. Um fator relevante dentro desse processo, de
venda e compra de força de trabalho, é que o trabalhador pode produzir mais do que
consome, e é ai que o empregador tira a vantagem, o trabalho excedente do homem gera
a mais-valia3, e para conseguir esse trabalho excedente o empregador aliena o
trabalhador, retirando de suas mãos o controle sobre os processos de produção.
2 Valor de uso Como a MERCADORIA é um produto que é trocado, aparece como unidade de dois aspectos diferentes: sua utilidade para o usuário, que é o que lhe permite ser objeto de uma TROCA; e seu poder de obter certas quantidades de outras mercadorias nessa troca. Ao primeiro aspecto, os economistas políticos clássicos chamavam valor de uso; ao segundo, valor de troca (BOTTOMORE, 2013, p.629). 3Mais-valia: A extração de mais-valia é a forma específica que assume a EXPLORAÇÃO sob o capitalismo, a differentia specifica do modo de produção capitalista, em que o excedente toma a forma de
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Deste modo o trabalho no mundo do capital aliena o trabalhador e degradar seu
conhecimento, como destaca Manacorda (1991, p.44) “o trabalho enquanto exatamente
principio da economia política, é a essência subjetiva da propriedade privada e está
frente ao trabalhador como propriedade alheia, a ele estranha”, ressaltando que a
alienação “está na essência do trabalho, a própria relação da propriedade privada
contém o produzir-se da atividade humana como trabalho e, portanto, como uma
atividade humana [...] completamente estranha ao homem”. Assim
O produto do trabalhador humano, posto em prateleiras para a venda, é, simploriamente, percebido como objeto a ser adquirido de acordo com desejos particulares. O sujeito relaciona-se com tudo o que lhe cerca como um comprador livre, autônomo, que pensa escolher por interesse, ou gosto pessoal, as mercadorias já prontas na praça sequer imaginando que já virou, também, ou possivelmente, mercadoria desejável para outrem (NAGEL, 2011, p.21).
Mas porque o homem passa a ver o produto do seu trabalho alheio a ele próprio?
Para responder a esse questionamento busca-se a reflexão de Braverman (1987, p.72) o
qual considera que “a divisão pormenorizada do trabalho destrói ocupações
consideradas neste sentido, e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer
processo completo de produção”, ou seja, tira-se do trabalhador o conhecimento do
LUCRO e a exploração resulta do fato da classe trabalhadora produzir um produto líquido que pode ser vendido por mais do que ela recebe como salário. Lucro e salário são as formas específicas que o trabalho excedente e o trabalho necessário assumem quando empregados pelo capital. Mas o lucro e o salário são, ambos, DINHEIRO e, portanto, uma forma objetificada do trabalho que só se torna possível em função de um conjunto de mediações historicamente específicas em que o conceito de mais-valia é crucial (BOTTOMORE, 2013, p.362). A extração da mais-valia pode-se dar de duas maneiras: A primeira – extração da mais-valia absoluta – envolve o crescimento da taxa de mais-valia por meio de um aumento do valor total produzido por cada trabalhador sem alteração do montante de trabalho necessário. Isso pode ocorrer devido a uma ampliação (intensiva ou extensiva) da jornada de trabalho que, no entanto, se defronta com a resistência organizada da classe operária e atinge limites físicos, em que a saúde da classe da qual o capital como um todo (ou mesmo os capitalistas individuais) depende deteriora-se devido às horas excessivamente longas ou à alta intensificação do trabalho ou a salários insuficientes. [...] A extração da mais-valia relativa, que pode ocorrer segundo dois modos: ou se reduz a quantidade de valores de uso consumidos pelo trabalhador, ou se reduz o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir a mesma quantidade de valores de uso. O primeiro método encontra os mesmos limites da extração de mais-valia absoluta: resistência da classe operária e deterioração de suas condições físicas. O segundo caminho é que fez do capitalismo o modo de produção mais dinâmico de todos os tempos, transformando continuamente seus métodos de produção e introduzindo incessantemente inovações tecnológicas (BOTTOMORE, 2013, p.363).
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todo, ele sabe fazer parte do processo, mas desconhece o produto final. Esse fator
auxilia na alienação do trabalhador, pois ele passa a ver o objeto do seu trabalho como
alheio a ele próprio. Manacorda (1991, p. 46-50) complementa ao ressalta que “o
produzir-se da atividade humana como trabalho (alienado) é um resultado histórico,
devido à divisão originaria do trabalho” e que essa divisão do trabalho cada vez mais
empobrece o trabalhador, tornando seu trabalho uma mercadoria do capital.
Pode-se dizer então que O capitalismo é um sistema de mercantilização universal e de produção de mais-valia. Ele mercantiliza as relações, as pessoas e as coisas. Ao mesmo tempo, pois, mercantiliza a força de trabalho, a energia humana que produz valor. Por isso mesmo, transforma as próprias pessoas em mercadorias, tornando-as adjetivas de sua força de trabalho (IANNI, 1988, p.8).
Assim “a divisão do trabalho na indústria capitalista não é de modo algum
idêntica ao fenômeno da distribuição de tarefas, ofícios ou especialidades produtivas”
que se tinham antigamente, Braverman (1987, p.71) complementa destacando que
“nenhuma sociedade antes do capitalismo subdividiu sistematicamente o trabalho de
cada especialidade produtiva em operações limitada” e que “esta forma de divisão do
trabalho torna-se generalizada apenas com o capitalismo”.
Fortalecendo o já dito anteriormente, percebe-se que essa divisão do trabalho
torna o trabalhador cada vez mais alienado, pois ele não vê mais o processo de
fabricação como um todo, o produto do seu trabalho passa a ser alheio a ele próprio. Os
conhecimentos do trabalhador são reduzidos, ele precisa se adaptar ao mercado de
trabalho, vendendo sua força de trabalho para sobreviver, passando a ser ele próprio
uma mercadoria.
Inclusão excludente: Ideologia do capital e da classe dominante.
Através do exposto referente ao trabalho e as formas de alienação do
trabalhador, percebe-se a importância da escola, pois é na escola que o trabalhador tem
acesso ao conhecimento sistematizado, e é somente através do conhecimento que pode
haver uma emancipação humana do capital. Porém é fato que os processo educacionais
estão intimamente ligados aos processos de trabalho, é impossível compreender um,
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sem entender o outro, e os processo educacionais assim como o trabalho, encontram-se
controlados pelo capital. E nesse sentido é preciso compreender do que a escola é
constituída, para entender que tipo de educação está sendo realizada. Assim sendo
Petitat (1994, p. 201) destaca que
A escola pode ser definida por seus conteúdos simbólicos, por seus métodos, seus agentes, seu público; ela agrupa e seleciona tanto uns quanto outros. Este processo de seleção e de articulação sócio-cultural, é demais repetir, impossível de ser reduzido somente aos conflitos sociais. A seleção das crenças religiosas é mais expressiva do que as exigências das classes dominantes; o mesmo pode ser dito dos conhecimentos médicos, científicos, técnicos e até mesmo jurídicos. As relações com a natureza são tão importantes quanto às relações entre os homens. As classes dominantes não dominam nem a evolução social e nem a evolução escolar: elas tentam adaptar-se às novas situações e se dividem quanto às soluções a adotar.
Considerando essa afirmação, percebe-se que a escola é constituída através de
múltiplos fatores, e que não é somente resumida a conflitos sociais. Porém mesmo
assim a classe dominante vê através da educação, principalmente, um meio de adaptar o
funcionamento da sociedade ao seu favor. Compreende-se assim que a escola é uma
instituição educativa especializada, que tem como função disseminar uma determinada
visão de mundo, baseada em uma determinada cultura, que na sociedade atual são
definidas pela classe dominante.
Deste modo a escola é o aparelho ideológico número um do Estado, é através
dela que se concretiza a hegemonia da classe dominante. Uma forma que o Estado
encontra de disseminar essa hegemonia dentro da escola é idealizando todos os
estudantes como iguais. Essa igualdade tem um precedente, pois
Admitir diferenças na pós-modernidade é ser socialmente condenado, é ser identificado, a priori, como “politicamente incorreto”. Os professores fazem parte de uma geração treinada para se sentir virtuosa exatamente por não distinguir uma coisa de outra, um fenômeno de outro, um processo de outro, uma teoria de outra. A ordem que se impõe é a de perceber tudo e todos como semelhantes na sociedade de contrastes, de miséria e de riqueza. (NAGEL, 2011, p.18).
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Porém é evidente que cada estudante chega à escola com capital cultural4
diferente, isso depende da convivência familiar e social. Contudo os conhecimentos
exigidos na escola partem da concepção que todos possuem conhecimentos vastos,
baseados nos conhecimentos dos estudantes da classe dominante, assim os estudantes da
classe popular saem em desvantagem, pois a maioria não tem o mesmo acesso a cultura.
Percebe-se então que escola inclui os homens como iguais, mesmo sabendo que são
diferentes, o que acarreta em uma inclusão excludente, pois a posse do capital cultural é
diferente e desigual na sociedade.
Portanto é perceptível que essa “demagogia da igualdade, que a tudo confere um
ar de semelhança, nada mais expressa do que a adesão ao pensamento dominante”,
Nagel (2011, p.19) ainda explicita que
[...] A igualdade dos homens, defendida ou proporcionada por decretos, regulamentos, métodos ou técnicas, causadora de tanta emoção ao grande público e de largo crédito por parte de profissionais especializados apenas manifesta a incapacidade de entender as relações sociais e confirma, de forma contundente, a reprodução pura e simples dos princípios liberais.
E nesse sentido Nagel (2011, p.21) deixa claro que se intensifica a alienação
humana, compreendendo que “a cada dia se torna mais distante a compreensão do
homem pelas relações de trabalho” considerando que “nessa trajetória, o conhecimento
científico, o saber profissional, o conhecimento especializado”, e também “os
problemas sociais, a miséria, a fome, a complexidade dos atos ligados à sobrevivência,
as dificuldades comuns da humanidade deixam de ser importantes”, as pessoas passam a
ser casa vez mais individualistas, e adaptadas a sociedade baseada nas concepções da
classe dominante.
Fica evidente que a adaptação passa a ser uma das exigências na formação das
novas gerações na sociedade capitalista, e essa adaptação assume duas formas distintas, 4 O capital cultural identifica-se sob a forma de conhecimentos e habilidades adquiridos quer na família quer na escola. Segundo Bourdieu, a noção de capital cultural foi concebida como uma hipótese indispensável para a compreensão das desigualdades de desempenho escolar de crianças originarias de diferentes classes sociais. Tratava-se de compreender a produção do sucesso e do fracasso escolar. Queria dar conta de explicitar os benefícios que as crianças de diferentes extrações sociais podem obter no mercado escolar, fugindo das visões que atribuíam êxito e fracasso a “aptidões naturais” (PEREIRA, p.19).
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considerando que “entre os jovens das classes dominantes constitui um ritual de
legitimação da superioridade de classe, enquanto entre os mais pobres funciona como
uma ferramenta de sobrevivência”. Volta-se então para o ponto discutido anteriormente,
que está intrínseco na ideologia5 dominante no qual, “todos partem do mesmo lugar na
corrida competitiva pelo sucesso (financeiro), todos têm as mesmas chances, basta lutar,
se preparar”, mera ilusão, que cumpre exatamente com a disseminação e alienação do
homem da classe dominada, e que auxilia assim na preparação do terreno “para os
mecanismos de adaptação das gerações mais jovens aos padrões de comportamento
mais convenientes ao ‘mercado’” (SANEH, 2011, p.252).
Mas quais as condições que cada um tem para conseguir melhorar de vida no
mundo do capital? O liberalismo e também o Neoliberalismo propagam “um mundo
onde ‘todos têm a mesma chance’”, porém “estar no topo é muito mais fácil para quem
nasce no topo e ocultar isso é, para determinados fins missão ideológica” (SANEH,
2011, p.256).
Percebe-se assim que no capitalismo, a educação passa a ser ela mesma, uma
mercadoria, e nesse sentido instaura-se uma crise no
sistema público de ensino, pressionado de recursos dos orçamentos públicos. Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a emancipação só pode transformar os espaços educacionais em shopping centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro (MÉSZÁROS, 2008, p.16).
Essa transformação dos espaços educacionais em shopping centers, faz lembrar
uma passagem de Richard Sennett (2000, p.29-31), no qual se reportando a corrosão do
caráter causada pelo capital, e a flexibilidade do homem em relação ao trabalho, ressalta
que o capitalismo vem influenciando diretamente nas relações sociais entre as pessoas.
Richard Sennett faz alusão a dois homens, o pai Enrico e filho o Rico, para explicar a
5 Ideologia, grosso modo, na tradição marxista, expande as ideias das classes dominantes tornadas, forçosamente ou, de outra forma, por meios de negociação e aceitações que Gramsci caracteriza, em outra perspectiva, sob o termo de hegemonia, ideias de “todos”, ocultando sua origem e interesse de classe (SANEH, 2011, p.254).
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corrosão no caráter, ele ressalta que Rico “quer manter relações sociais e oferecer
orientações duráveis” aos seus filhos, afirma ser “contra o corte de laços no trabalho, a
deliberada amnésia dos vizinhos e o fantasma de ver os filhos como ratos de shopping
Center” apresentando a necessidade de valores duradouros. Porém Rico apresenta uma
dificuldade em manter os valores duráveis nas relações sociais, principalmente porque o
trabalhador flexível que ele deve ser está extremamente imbricado em suas reflexões.
“A flexibilidade forçou-o a afirmar a pura força de vontade como a essência de seu
próprio caráter ético”, isso é visto quando ele perde o emprego e afirmar ser sua
responsabilidade, aceitando a mudança como algo extremamente natural.
Essa flexibilidade do homem está relacionada à adaptação citada anteriormente,
na qual o homem inteligente é aquele homem produtivo que demonstra claramente ao
longo do processo formativo que veste a camisa empresarial, e evidenciando o seu papel
nas reconhecidas funções produtivas.
E em que lugar entra a educação, considerando essas relações homem trabalho e
relações sociais? A nova pedagogia da educação do homem do século XXI salientam que os professores devem estimular a autonomia, a subjetividade e a imaginação dos alunos, desacreditando na razão e nas verdades, nas regras, nas leis até então assumidas e/ou “impostas” aos educandos. Afirmando a imprevisibilidade do futuro, consideram indispensável para o homem viver a vida com paixão e entusiasmo! Retirando da realidade o trabalho, a prática social, a luta de classes, eles orientam, didática e/ou pedagogicamente, como reproduzir, de modo mais aprimorado, a sociedade vigente! (NAGEL, 2011, p.23).
Desta forma a escola auxilia na concretização da ideologia da classe dominante,
e do capitalismo, criando o homem adaptável, flexível, com valores não duráveis, a
escola como já destacado passa a ser uma mercadoria na mão do capital. Afirmando
essa posição da escola, Mészáros (2008, p.17) destaca que a “educação significa o
processo de ‘interiorização’ das condições de legitimidade do sistema que explora o
trabalho como mercadoria, para induzi-los à sua aceitação passiva”, e nesse sentido,
Mészáros (2008, p.44) complementa que o papel da escola é “assegurar que cada
indivíduo adote como suas próprias às metas de reprodução objetivamente possíveis do
sistema”.
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Retoma-se a questão da adaptação e flexibilização do indivíduo frente às forças
produtivas, Saneh (2011, p.264) ressalta que o mundo competitivo liberal aperta “ao
máximo os jovens das classes pobres, pressionados desde cedo a enquadra-se nas regras
do jogo mercadológico”. E nesse sentido formam-se trabalhadores flexíveis que
resistam as mudanças no trabalho, inculcando a ideia de que “o comportamento flexível
gera liberdade pessoal [...], imaginamos o estar aberto à mudanças, ser adaptável, como
qualidades de caráter necessárias, para a livre ação – o ser humano livre porque capaz
de mudança” (SENNETT, 2000, p.54). Isso remete ao as reflexões de Richard Sennett,
o trabalhador flexível que procura criar valores duradouros nas relações sociais.
As considerações apresentada por Saneh (2011, p.263) destacam que “a lógica
da competição estimulada pelo capital oprime os jovens pobres ou ricos, cada um com
as respectivas cobranças com as quais têm que lidar”, porém deixa claro que “a volta do
parafuso, o aperto, é diferente para quem ainda não está ‘apertado’, para quem tem
espaço para ‘respirar’”, assim sendo, o aperto para as classes dominantes é bem menor
do que para as classes dominadas.
Percebe-se através de todo o exposto sobre o sistema do capital e o homem que
se pretende formar, a busca pelo trabalhador flexível, adaptável, que aceite a condição
em que está, que venda sua força de trabalho pelo menor valor possível, que produza
mais-valia sem questionamentos. Dentro desse contexto percebe-se que inúmeras
atitudes tomadas dentro das instituições de ensino vêm reforçar essa ideia, formando
homens adequados para o mercado de trabalho.
Aqui ganha destaque as contribuições de Mészáros que apresenta considerações
a respeito de uma educação para além do capital. Inicialmente é preciso compreender
que “a aprendizagem é a nossa própria vida, desde a juventude até a velhice, de fato
quase até a morte; ninguém passa dez horas sem nada aprender” (MÉSZÁROS, 2008,
p.47), desta forma percebe-se que Mészáros indica que a aprendizagem acontece não
somente em instituições de ensino formais, mas acontece fora das escolas também, na
vida dos homens em convivência com a sociedade. Assim
A educação para além do capital, [...] ensina que pensar a sociedade tendo em como parâmetro o ser humano exige a superação da logica desumanizadora do capital, que tem no individualismo, no lucro e na
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competição seus fundamentos. Que educar é – citando Gramsci – colocar fim a separação entre Homo faber e Homo sapiens; é resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias (MÉSZÁROS, 2008, p.9).
Porém para realmente haver uma mudança nas formas de alienação/divisão do
trabalho é necessário parafraseando Mészáros (2008, p.59-65) “uma intervenção
consciente em todos os domínios e níveis de nossa existência individual e social” assim
destaca-se que “os seres humanos devem mudar ‘completamente as condições da sua
existência industrial e política, e, consequentemente, toda a sua maneira de ser’”. E
para que isso aconteça é necessário que haja uma "universalização da educação e
universalização do trabalho como atividade humana autorrealizadora. De fato, nenhuma
das duas é viável sem a outra”. Volta-se ao principio no qual trabalho e educação estão
em uma estreita inter-relação na sociedade.
Considerações finais
Ao longo do desenvolvimento desse artigo fica evidente que a escola, como
instituição de ensino formal, apresenta-se na produção/construção da sociedade. Essa
instituição é influenciada como qualquer outro organismo, pelos reflexos do tempo e da
sociedade em que está inserida. Assim sendo na sociedade do capitalismo ela é
influenciada pelos valores que o sistema busca construir, e por isso buscou-se realizar
ao longo do texto uma breve reflexão sobre que tipo de sociedade o capitalismo
constrói, para então compreender que tipo de educação se tem.
Inicialmente é preciso considerar que não se pode compreender a educação
dissociada do conceito de trabalho, pois são os pilares fundamentais da sociedade
capitalista. Assim compreende-se que trabalho é uma atividade humana proposital, é
uma busca de meios para a sobrevivência, e com o advento do capitalismo esse trabalho
se modifica, essa modificação tem como fator principal a subordinação do valor de uso
das mercadorias pelo valor de troca. Na sociedade capitalista o homem passa a vender
sua força de trabalho para sobreviver, e o empregador/capitalista passa a ser o detentor
das forças de trabalho em busca de produzir sempre mais capital. Outro fator relevante é
a divisão do trabalho que faz com que o homem execute um trabalho pormenorizado, o
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que destrói com os conhecimentos que o trabalhador possuía sobre o processo como um
todo da produção da mercadoria, o produto final de seu trabalho passa a ser alheio a ele.
Toda essa divisão do trabalho acarreta em um empobrecimento do conhecimento do
trabalhador, auxiliando na alienação deste.
Assim diante das reflexões referentes ao mundo do trabalho e as formas de
alienação do trabalhador, entende-se a relevância dos sistemas de ensino formais,
principalmente considerando que é somente através do conhecimento que homem pode
emancipar-se do capital. Considerando as reflexões apresentada referente à escola,
pode-se afirmar que esta instituição é formada por múltiplos fatores, e que não é
somente resumida a conflitos sociais. Porém apesar de não ser resumida a conflitos
sociais, na sociedade capitalista, a escola torna-se uma mercadoria, que é manipulada
pela classe dominante a seu favor, concretizando sua hegemonia através da educação.
Como destacado ao longo do texto, um das formas de concretizar essa
hegemonia, é considerar todos como iguais, todos com as mesmas oportunidades de
acesso a cultura, todos com as mesmas oportunidades no mercado de trabalho, porém é
evidente que os homens não são iguais, na sociedade de classes do capitalismo, a
desigualdade é enorme, e considerar os homens iguais só auxilia na concretização
dessas desigualdades. Portanto percebe-se a inclusão excludente, pois se inclui todos
como iguais, tanto nos espaço de ensino, como nos espaços da sociedade, porém em
uma sociedade capitalista, na qual existe a divisão de classes, o trabalho intelectual e o
trabalho manual, a riqueza e a pobreza, a igualdade é impossível, assim os homens
passam a ser excluídos.
Para mudar esse sistema de alienação do homem no mundo do trabalho, cita-se
Mészáros que apresenta uma reflexão que gira em torno de uma educação para além do
capital, na qual, deixa claro a necessidade de haver uma mudança em todos os âmbitos
da sociedade para que seja realmente uma mudança no sistema do capitalismo. A
educação por si só não pode mudar o mundo, mas ao compreender a inter-relação entre
educação e trabalho, compreende-se que somente a partir de uma mudança do todo
poderá criar-se uma alternativa, uma educação para além do capital.
Referências
Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 3 ed. São Paulo: Boitempo, 2000.
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