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  Recôncavo: Revista de História da UNIABEU Volume 3 Número 5 Julho - dezembro de 2013 RECÔNCAVO ISSN 2238 - 2127 AS IRMANDADES DOS HOMENS DE COR NA AMÉRICA PORTUGUESA: À GUISA DE UM BALANÇO HISTORIOGRÁFICO Anderson José Machado de Oliveira 1  RESUMO: O artigo tem como objetivo apresentar um breve panorama sobre a tendência dos estudos sobre as irmandades dos homens de cor na América Portuguesa e apontar algumas possibilidades para a ampliação destes estudos, tomando como ponto de partida não só as próprias irmandades negras, mas também o estudo da presença dos homens de cor em instituições frequentadas pelos homens brancos. Palavras-chave: irmandades, homens de cor, historiografia. ABSTRACT: This article aims to present a brief overview of the trend of studies on the brotherhoods of men of color in Portuguese America and point out some possibilities for expanding these studies, taking as its starting point not only own black brotherhoods, but also the study the presence of men of color in institutions frequented by white men. Keywords: brotherhoods, men of color, historiography. O objetivo deste artigo é realizar, inicialmente, um pequeno balanço considerando alguns trabalhos que tiveram as irmandades dos chamados homens de cor como tema central, ou que de alguma forma propuseram questões relevantes para o desenvolvimento da temática. Desde já, acuso o caráter arbitrário da seleção e, obviamente, o risco das omissões, assumindo a parcialidade do balanço proposto com base no que julguei como mais significativo a expressar as linhas mestras do 1  Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense/UFF. Professor do Departamento e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

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  • Recncavo: Revista de Histria da UNIABEU Volume 3 Nmero 5 Julho - dezembro de 2013

    RECNCAVO ISSN 2238 - 2127

    AS IRMANDADES DOS HOMENS DE COR NA AMRICA PORTUGUESA: GUISA DE UM BALANO HISTORIOGRFICO

    Anderson Jos Machado de Oliveira1

    RESUMO: O artigo tem como objetivo apresentar um breve panorama sobre a tendncia dos estudos sobre as irmandades dos homens de cor na Amrica Portuguesa e apontar algumas possibilidades para a ampliao destes estudos, tomando como ponto de partida no s as prprias irmandades negras, mas tambm o estudo da presena dos homens de cor em instituies frequentadas pelos homens brancos. Palavras-chave: irmandades, homens de cor, historiografia.

    ABSTRACT: This article aims to present a brief overview of the trend of studies on the brotherhoods of men of color in Portuguese America and point out some possibilities for expanding these studies, taking as its starting point not only own black brotherhoods, but also the study the presence of men of color in institutions frequented by white men.

    Keywords: brotherhoods, men of color, historiography.

    O objetivo deste artigo realizar, inicialmente, um pequeno balano

    considerando alguns trabalhos que tiveram as irmandades dos chamados homens de

    cor como tema central, ou que de alguma forma propuseram questes relevantes para

    o desenvolvimento da temtica. Desde j, acuso o carter arbitrrio da seleo e,

    obviamente, o risco das omisses, assumindo a parcialidade do balano proposto com

    base no que julguei como mais significativo a expressar as linhas mestras do

    1 Doutor em Histria pela Universidade Federal Fluminense/UFF. Professor do Departamento e do

    Programa de Ps-graduao em Histria da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

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    Recncavo: Revista de Histria da UNIABEU Volume 3 Nmero 5 julho - dezembro de 2013

    desenvolvimento da pesquisa em relao ao tema em tela. Posteriormente, intenciono

    apontar algumas possibilidades que visualizo para novas abordagens sobre o tema.

    Comeo o percurso pelo trabalho clssico de Fritz Teixeira de Salles,

    Associaes Religiosas no Ciclo do Ouro, cuja primeira edio foi a de 1963. Embora

    no seja um estudo especfico sobre as irmandades dos homens de cor, Teixeira Salles

    analisa o papel destas no contexto da sociedade mineira do setecentos, comparando

    suas atuaes com as associaes dos homens brancos. Para o autor, as irmandades

    dos homens de cor refletiram o carter polarizado que caracterizou a sociedade

    colonial, estruturando grupos fechados que se dividiam em dois segmentos: brancos e

    pretos. Embora identifique as diferenas entre as irmandades de pretos, crioulos e

    pardos, o autor as toma como parte de um grande setor social e racial que

    caracterizaria a discriminao em relao aos negros. Por vezes, os pardos aparecem

    como sinnimo de mulatos integrando o mesmo grupo racialmente estigmatizado

    (SALLES, 2007).

    Julita Scarano foi talvez a que primeiro tenha realizado um trabalho especfico

    sobre as irmandades dos homens de cor. Devoo e Escravido, editado pela primeira

    vez em 1973, realiza um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio no

    Distrito Diamantino, procurando demonstrar a importncia cultural e social da

    associao, onde, segundo a autora, os negros encontravam uma ocasio de agir

    como criaturas humanas (SCARANO, 1978, p. 02). Esse processo de humanizao,

    promovido pela irmandade, proporcionava queles adquirir prestgio social,

    permitindo, atravs das funes religiosas, buscar certa equivalncia com os brancos.

    Embora constate no interior da irmandade a existncia de cativos, forros e pardos,

    Scarano no identifica uma importncia maior no fato de cativos e forros fazerem

    parte da mesma agremiao. Como Teixeira Salles, o pardo tambm , por vezes,

    identificado como mulato. Todavia, o foco da autora no o da polaridade racial e

    social. As irmandades negras teriam o papel de construir uma identidade social

    positiva em meio s agruras dos negros em uma sociedade escravista. H nessas

    anlises uma homogeneidade na viso que se constri sobre a populao de cor e a

    ideia da irmandade como um organismo de construo de certa solidariedade racial

    orgnica at certo pondo idealizada.

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    Caio C. Boschi, em Os leigos e o poder publicado em 1986, embora tambm

    no aborde especificamente a questo das irmandades dos pretos, compartilhou da

    mesma opinio de Scarano, sublinhando o importante papel daquelas associaes. No

    entanto, embora reconhecessem a sua importncia na formao de identidades sociais

    positivas, tanto Scarano quanto Boschi viram tais instituies como organismos

    adesistas ao sistema. Boschi chega a afirmar que as irmandades despersonalizavam os

    elementos da populao de cor que congregavam, carreando foras individuais para a

    tutela do Estado. Neste sentido, tratar-se-iam de instituies conformistas, onde no

    haveria se desenvolvido uma real conscincia poltica (BOSCHI, 1986, p. 156).

    Em um artigo publicado em 1996 j tive a oportunidade de expressar minha

    discordncia com esta posio, demonstrando que, ao terem sido focos de formulao

    e reformulao de identidades, as irmandades dos homens de cor foram elementos da

    afirmao de uma relativa autonomia daqueles segmentos no interior do sistema

    escravista. Embora no tivessem contestado o sistema, e nem eram esses os seus

    objetivos, as irmandades possibilitavam aos seus membros a afirmao de uma

    identidade scio-cultural fundamental para a existncia do grupo no interior da

    sociedade escravista (OLIVEIRA, 1996, p. 17-45).

    Joo Reis em um artigo publicado em 1997 abriu uma perspectiva bastante

    profcua para a anlise das irmandades negras, relacionando a instituio do espao

    devocional com a construo de identidades tnicas. Segundo o autor, as

    denominaes criadas pelo trfico atlntico teriam sido reelaboradas no contexto da

    dispora e refletiram nas irmandades a definio de uma poltica de diferenas, onde

    africanos e seus descendentes reconstruram suas identidades e atravs delas alianas

    que permitiram no s uma celebrao africana do catolicismo, mas igualmente a

    formao de uma conscincia negra a configurar uma prtica de resistncia diante

    de uma situao de desagregao social promovida pela escravido, embora Reis

    tambm reconhea que estas instituies tiveram um papel bastante ambguo diante

    do escravismo (REIS, 1997).

    Neste mesmo ano da publicao do artigo de Joo Reis, duas teses de

    doutorado, posteriormente publicadas em 2000 e 2002, desenvolveram aspectos que

    j apareciam na reflexo do autor citado. A primeira, Devotos da Cor, de Mariza Soares

    aprofundava a reflexo sobre o papel das irmandades como lcus de construo de

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    identidades tnicas. Estudando a Irmandade de Santo Elesbo e Santa Efignia no Rio

    de Janeiro setecentista, Soares prefere compreender os nomes classificatrios do

    trfico enquanto grupos de procedncia, admitindo tambm que estes poderiam

    recriar, no ambiente da escravido, relaes mltiplas de solidariedade, tendo nas

    irmandades um dos espaos privilegiados de manifestao. Para a autora, trata-se de

    um complexo processo de recriao cultural, onde se afirma certo grau de autonomia

    de africanos e seus descendentes em meio sociedade escravista, no entanto, com o

    reforo de uma estrutura hierrquica com traos de Antigo Regime. Neste sentido, a

    autora tambm esteve atenta para os conflitos internos aos grupos (SOARES, 2000).

    No se trata, portanto, de falar de uma adeso ao sistema ou mesmo de um

    processo de tomada de conscincia negra, mas de compreender um complexo jogo

    de negociaes, conflitos e estabelecimento de hierarquias envolvendo os prprios

    homens de cor e deles com os demais grupos sociais. Rejeita-se, portanto, uma viso

    dualista das irmandades para se procurar entender um processo mias complexo no

    estabelecimento das relaes de dominao social.

    A segunda tese a que fiz meno do ano de 1997 a de Antonia Aparecida

    Quinto, publicada com o ttulo L vem o meu parente. A autora aproxima-se da

    segunda vertente que aparece no trabalho de Joo Reis, onde as irmandades negras

    so vistas como meios de formao de conscincia entre os pretos e pardos no Rio de

    Janeiro e em Pernambuco no sculo XVIII. importante salientar que a autora vai alm

    daquilo afirmado por Reis, defendendo que as irmandades negras representavam um

    protesto dentro da ordem. Apresentavam, portanto, um carter contestatrio,

    denotando um verdadeiro protesto racial. Em sua concluso, Antonia Quinto

    atenua parte de sua argumentao inicial reconhecendo que se as irmandades no

    chegaram a contestar a ordem estabelecida, todavia, denunciaram as incoerncias do

    sistema e reagiram as suas injustias (QUINTO, 2002).

    H nesta argumentao, no meu entender, um conjunto de postulados que

    so inteiramente anacrnicos para a anlise das irmandades dos homens de cor no

    sculo XVIII. Primeiramente, a idia de protesto racial dialoga com um conceito de

    raa que inteiramente estranho ao setecentos. A historiografia sobre o perodo j

    demonstrou sobejamente que cor, na Amrica Portuguesa, no era sinnimo de raa

    ou cor de pele como entender o discurso racial cientfico do sculo XIX. Deste modo,

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    Recncavo: Revista de Histria da UNIABEU Volume 3 Nmero 5 julho - dezembro de 2013

    cor referia-se, invariavelmente, ao lugar social. A caracterizao do indivduo como

    "preto/pardo", mesmo sendo ele forro ou livre, significava um recente passado ou

    antepassado escravo. Preto era, principalmente, sinnimo de escravo e, mais ainda,

    de escravo africano. Os forros, ainda por algum tempo aps a liberdade, eram tambm

    designados de pretos. Como o processo de insero social destes ltimos era

    bastante difcil, a cor era um elemento fundamental para demarcar os lugares de cada

    um naquela sociedade profundamente hierarquizada (FARIA, 1998, p. 135-139). A

    designao pardo, mesmo variando segundo os contextos, significava o

    reconhecimento de um processo de ascenso social e maior afastamento do universo

    da escravido e tinha um carter menos pejorativo do que os designativos preto e

    mulato (CASTRO, 1995, p. 135; GUEDES, 2006, p. 454; LARA, 2007, p. 142).

    Por outro lado, enquanto instituies profundamente hierrquicas, as

    irmandades tanto de negros quanto de brancos no parecem ter tido a preocupao

    ou mesmo a ao no sentido do estabelecimento de conscincias mais abrangentes

    que perpassassem a grupos maiores ou situaes mais amplas. As alianas ocorriam,

    porm em torno de questes ou situaes especficas, no de movimentos sociais mais

    amplos, questo que parece tambm estar mais afeita aos movimentos sindicais no

    oitocentos ou mesmo no sculo XX.

    Com efeito, os trabalhos de Joo Reis e de Mariza Soares inseriam em

    definitivo o estudo das irmandades dos homens de cor no campo de reflexo sobre a

    dispora africana na Amrica. Deste ponto de vista, seguindo diretamente ou no

    estes autores, as anlises ganharam mais solidez e maior visibilidade. Penso poder

    inserir neste campo a tese de Clia Maia Borges, defendida em 1998 e publicada em

    2005 Escravos e Libertos nas Irmandades do Rosrio, que realiza um estudo das

    irmandades no Rosrio em Mariana, So Joo del Rei, Vila Rica e Tiradentes entre 1754

    e 1808. O objeto central da anlise recai sobre o processo de apropriao e

    resignificao cultural dos rituais catlicos no interior das irmandades negras. Para

    tanto, a autora analisa a negociao cultural que se estabeleceu entre os ritos catlicos

    e as matrizes culturais africanas presentes no universo das Minas Gerais (MAIA, 2005).

    Minha tese defendida em 2002 e publicada em 2008 tambm se insere nesta

    discusso. Partindo da anlise do projeto de difuso do culto de Santo Elesbo e Santa

    Efignia pela Ordem do Carmo no setecentos, mergulho no universo das irmandades

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    Recncavo: Revista de Histria da UNIABEU Volume 3 Nmero 5 julho - dezembro de 2013

    para compreender como estes smbolos devocionais foram relidos no universo de

    africanos e seus descendentes. Ao acreditar que a catequese no se estruturou

    somente pelo veis impositivo, mas tambm por um conjunto de respostas formuladas

    pelo pblico alvo, defendo a hiptese de um sucesso parcial do processo de converso,

    onde os smbolos propostos, embora aceitos, foram constantemente relidos na

    construo da devoo entre os africanos e seus descendentes. Comparei, para efeito

    da anlise, a situao de estruturao do culto entre as realidades do Rio de Janeiro,

    Vila Rica e Mariana. As concluses do trabalho afirmaram o papel da devoo aos

    santos, nas irmandades, como importantes meios de construo de identidades

    socioculturais - tnicas, mas tambm como smbolos distintivos da memria de um

    grupo em relao aos demais - variando no tempo e no espao e expressando tambm

    a reapropriao dos smbolos catlicos mediante um intenso dilogo com as

    recordaes de parte das tradies africanas no processo da dispora (OLIVEIRA,

    2008).

    Outro trabalho que gostaria de destacar o de Larissa Viana, tese defendida

    em 2004 e publicada em 2007, onde est presente a discusso sobre as hierarquias

    construdas entre os homens cor e a sua expresso atravs das irmandades. O foco da

    autora so as irmandades dos homens pardos, Viana ir demonstrar como estes no se

    quiserem ver confundidos com os pretos e, portanto, considerando-se

    hierarquicamente acima destes ltimos na escala social, buscaram construir espaos

    prprios de devoo e sociabilidade. Nas consideraes da autora tais irmandades

    representaram uma forma conservadora de associao, reiterando hierarquias, mas ao

    mesmo tempo procurando positivar uma identidade mestia que expressasse os ideais

    de honra e prestgio num meio social permeado por ideais de diferena e desigualdade

    (VIANA, 2007).

    Neste breve panorama, gostaria ainda de destacar o trabalho de Lucilene

    Reginaldo, tese defendida em 2005 e publicada em 2011. Em o Rosrio dos Angolas, a

    autora procurou estudar a identificao dos negros com a Virgem do Rosrio, dando

    destaque s concepes africanas cristianizadas elaboradas como reposta ao processo

    de catequese empreendido por jesutas e capuchinhos no Congo e em Angola. Ao

    procurar estudar as irmandades de cor numa perspectiva atlntica, Lucilene identificou

    o predomnio dos angolas na liderana da Irmandade do Rosrio dos Pretos em

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    Recncavo: Revista de Histria da UNIABEU Volume 3 Nmero 5 julho - dezembro de 2013

    Salvador, relacionando esta identificao experincia dos negros com o catolicismo

    na frica Centro- Ocidental recriada na dispora e mantida no interior das irmandades.

    O objetivo central do trabalho foi demonstrar o papel das confrarias negras na

    formao do afro-catolicismo baiano, relativizando, portanto, as interpretaes

    tradicionais que defendiam a supremacia dos grupos da frica Ocidental, notadamente

    os iorubs, na formao cultural da Bahia (REGINALDO, 2011).

    Diante deste quadro possvel perceber que duas linhas mestras se

    impuseram no estudo das irmandades dos homens de cor, a saber: o processo de

    construo de identidades e o processo de resignificao dos smbolos catlicos a

    partir de um intenso dilogo com as diversas matrizes africanas no processo da

    dispora. Penso, no entanto, que diante dos avanos tericos e metodolgicos, no

    campo da histria colonial, possvel avanar em alguns novos caminhos com o

    propsito de enriquecer e complementar os estudos at ento realizados.

    Uma questo que Caio Boschi percebe com razo o predomnio dos estudos

    sobre as irmandades negras e uma ateno menor s associaes de homens brancos,

    que foram tambm importantes espaos de sociabilidade na Amrica Portuguesa

    (BOSCHI, 2006). Tal percepo parece-me importante no s para uma maior ateno

    aos estudos sobre as irmandades dos homens brancos, mas igualmente para o

    estabelecimento de novas perspectivas para a anlise das irmandades dos homens de

    cor. Acredito ser importante avanar em termos de estudos comparativos entre as

    irmandades de negros e brancos. Deste modo, coloco-me algumas questes para

    nortear possveis reflexes futuras. O que singularizaria e aproximaria suas formas de

    atuao em contextos semelhantes? Quais as suas relaes com as diversas instncias

    de poder, fundamentalmente com os poderes locais, onde de fato atuavam? Quais os

    significados mais complexos que poderiam ser atribudos a presena de brancos em

    irmandades de pretos e vice versa?

    Um caminho que tenho procurado pensar, ainda esboado por numa reflexo

    bastante preliminar, diz respeito a estudar as irmandades na perspectiva da dinmica

    de funcionamento dos imprios coloniais, notadamente do imprio colonial portugus.

    Charles Boxer, no clssico O Imprio Colonial Portugus, advertia que entre as

    instituies caractersticas do imprio, que ajudaram a manter as suas diferentes

    partes unidas, estavam o Senado da Cmara e as irmandades, especialmente as

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    Misericrdias (BOXER, 1981, p. 263). Embora, posteriormente, tenha-se cobrado de

    Boxer certo exagero na equiparao das Cmaras s irmandades, no se pode

    desconsiderar a pertinncia da observao de Boxer e nem desconsiderar o

    importante papel que a irmandades tiveram no cenrio das conquistas.

    Russell-Wood, em trabalho diretamente influenciado por Boxer, pde

    comprovar de forma mais extensiva aquilo que este afirmara. Em Fidalgos e

    Filantropos, o autor mergulhou na histria da Santa Casa da Misericrdia de Salvador,

    analisando sua atuao entre os sculos XVI e XVIII. Demonstrando a presena da

    Misericrdia nas diversas partes do imprio colonial portugus sia, frica e Brasil -,

    Russell-Wood lanou-se a desvendar o cotidiano da instituio na Bahia colonial,

    analisando sua atuao em diversos aspectos concernentes vida da repblica

    soteropolitana: os dotes providenciados para as rfs; o controle dos funerais; a

    caridade sob diversas formas (assistncia aos presos, gesto hospitalar, manuteno

    da roda dos expostos); a manuteno de um recolhimento feminino (RUSSELL-WOOD,

    1981).

    Retomando as perspectivas abertas por Boxer, Thimothy Coates argumenta

    em torno da ampliao do escopo dos estudos que aprofundem a compreenso das

    irmandades nas suas relaes com a municipalidade. Neste sentido, a questo da

    construo do espao urbano pode ser um caminho a ser trilhado. Segundo Annick

    Lemprire, h lugares construdos neste espao que os poderes locais conferem

    significativa importncia porque expressam os valores cultivados pela repblica e

    contribuem para a construo do chamado bem comum. Os edifcios religiosos

    estariam nesta categoria, j que seriam a representao da catolicidade expressa no

    territrio ocupado (LEMPRIRE, 2004, p. 101-102). As igrejas erguidas pelas

    irmandades desempenharam este papel de forma bastante significativa ao longo do

    perodo colonial. Estes templos no s funcionaram para suprir a necessidade dos fiis

    de acesso aos sacramentos como tambm representaram formas de ocupao,

    monitoramento e hierarquizao do espao urbano (LEMPRIRE, 2004, p. 108-114;

    FRIDMAN, 1999). Esta reflexo poder ser estendida tanto s irmandades dos homens

    brancos quanto s irmandades dos homens de cor.

    Parece-me que este quadro poderia ser uma das chaves de compreenso para

    as doaes dos chos da cidade feitas pela municipalidade a algumas irmandades.

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    Cito aqui, a guisa de exemplo, o caso da Irmandade de So Domingos, no Rio de

    Janeiro, formada por pretos escravos e forros, que, em 1706, obteve do Senado da

    Cmara a doao de um terreno diante do at ento Cemitrio do Rocio, local aonde

    veio a construir sua igreja. A carta de aforamento foi passada sem que se estipulasse

    pagamento de foro Cmara visto ser para obra pia (Arquivo Histrico Ultramarino

    RJ Cx. 138 Doc. 10876, fols. 4 e 5).

    Esta doao se fez num momento em que o espao urbano crescia em direo

    vrzea. Nos arredores do Campo da Cidade, para alm da vala, estruturavam-se as

    principais irmandades dos homens pretos da cidade: Nossa Senhora do Rosrio e So

    Benedito, So Domingos, Santo Elesbo e Santa Efignia, Nossa Senhora da Lampadosa

    (SOARES, 2000, p. 134-137). A construo da Igreja de So Domingos neste local

    contribuiu inclusive para alterar a toponmia da cidade, j que o local passou a ser

    denominado, a partir de ento, de Campo de So Domingos. Fato semelhante ao que

    ocorreu com o trecho da Rua da Alfndega que ia do Largo da Conceio ao mesmo

    Campo de So Domingos que, a partir de 1754, ficou sendo denominado de Rua de

    Santa Efignia em funo da construo da Igreja dos pretos da Irmandade que levava

    o nome da santa e de Santo Elesbo (OLIVEIRA, 2008, p. 311).

    As irmandades, portanto, podem ser estudadas enquanto um dos agentes da

    conquista e estruturao do prprio espao da municipalidade. Segundo Le Goff, este

    papel fora exercido pelas igrejas das Ordens Mendicantes desde o sculo XIII, na

    medida em que os critrios espaciais destas ordens passaram a ser utilizados para

    referenciar a prpria rede urbana (LE GOFF, S/D, p. 230-232). Por outro lado, a

    ocupao do espao pelos templos atraa para o entorno a populao em busca dos

    sacramentos, dos ofcios religiosos e da assistncia por meio da caridade (LMPERIRE,

    2004, p. 114-116). Reforava-se igualmente a estrutura paroquial, j que tais templos,

    mesmo com os inmeros conflitos, estavam sujeitos aos procos das freguesias

    urbanas. Deste modo, contribua-se para fortalecer uma das principais funes da

    Igreja nas sociedades de Antigo Regime que era o esquadrinhamento da populao por

    meio dos registros paroquiais (HESPANHA, 1998, p. 261).

    Em relao aos irmos de cor no Rio de Janeiro, pode-se inferir que a

    construo dos templos de suas associaes deu a estes segmentos uma maior

    visualizao no espao da municipalidade, demarcando fronteiras entre eles e

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    integrando-os em uma participao hierarquizada nas funes religiosas valorizadas

    pelos poderes da repblica. A vivncia desta religio cvica2 (TERPSTRA, 2002) por

    africanos e seus descendentes funcionava como um elemento de controle social sobre

    eles ao mesmo tempo em que lhes permitia o exerccio de certa autonomia na vida

    cotidiana da urbes. O carter pblico das manifestaes religiosas das confrarias

    reforou a presena dos homens de cor na cidade do Rio de Janeiro, contribuindo,

    atravs do exerccio das prticas catlicas, para ajudar a rotinizar a convivncia com os

    valores escravistas e a hierarquias por estes engendradas.

    Para alm desses aspectos, a definio destes espaos na cidade intensificara

    os conflitos entres as mesmas irmandades de cor. Em carta ao Conselho Ultramarino,

    na segunda metade do setecentos, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio e So

    Benedito dos Homens Pretos referia-se aos templos das demais irmandades de pretos

    como indecentes e imprprios ao culto divino, argumentando sobre a inutilidade dos

    mesmos (SOARES, 2000, p. 160). Havia no episdio um claro conflito de interesses

    entres as associaes, j que a proliferao destes templos numa mesma rea da

    cidade estabelecia uma disputa entre os seus fregueses por recursos. Por outro lado, o

    Rosrio era a instituio, entre as irmandades de pretos, que tinha mais recursos e

    privilgios por ser a irmandade mais antiga, alm do fato que, entre 1737 e 1808, seu

    templo se transformou na catedral da cidade em funo da runa da antiga S no

    Morro do Castelo. Poder-se-ia entender tambm no discurso destes irmos a

    necessidade de reforar as hierarquias que os distinguiam em relao aos demais

    templos de homens de cor da cidade, procurando preservar suas prerrogativas e

    privilgios.

    Outro aspecto que gostaria ainda de explorar, e que aparece em trabalho que

    atualmente realizo, diz respeito presena de pretos em irmandades de brancos. Tal

    questo parece-me importante para se entender o carter mltiplo das inseres

    sociais e do prprio processo de construo de identidades relacionais, as quais podem

    ser acionadas de acordo com as circunstncias que se apresentam ao indivduo.

    Tomo aqui como exemplo a Venervel Irmandade de So Pedro dos Clrigos

    do Rio de Janeiro, onde destacarei dois casos. Em 1791, o habilitando ao clero secular

    Jos Maurcio Nunes Garcia filia-se a esta irmandade como consta do livro de assento 2 A ideia entendida como elemento de insero na localidade atravs dos cdigos religiosos.

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    de irmos, pagando suas anuais at 1826, quatro anos antes de sua morte, em 1830,

    sendo sepultado na igreja da referida irmandade (Arquivo da Venervel Irmandade de

    So Pedro dos Clrigos do Rio de Janeiro - Entrada de Irmos 1781-1825; MATTOS,

    1970, p. 12). Jos Maurcio era natural da Freguesia da S da Cidade do Rio de Janeiro,

    tendo sido batizado na catedral aos vinte dias do ms de outubro de 1767. Era filho

    legtimo de Apolinrio Nunes Garcia, pardo liberto que vivia do seu ofcio de alfaiate, e

    de Vitria Maria da Cruz, parda liberta. Pelo lado paterno tinha como av Ana Correa

    do Desterro designada como crioula de Guin e av incgnito. Pelo lado materno, era

    neto de Joana Gonalves, designada como crioula e av tambm incgnito (Arquivo da

    Cria do Rio de Janeiro - Habilitaes Sacerdotais - Jos Maurcio Nunes Garcia - 1791).

    Em 1799, o mesmo movimento de filiao irmandade foi feito pelo tambm

    habilitando Loureno Leite de Magalhes. No termo de entrada Loureno foi

    assentado como natural da Freguesia de Traras da Capitania de Gois ... filho natural

    de Josefa preta (Arquivo da Venervel Irmandade de So Pedro dos Clrigos do Rio de

    Janeiro - Termo de Entrada de Irmos - 1798-1849, fol. 09). Segundo seu prprio relato

    no processo de habilitao sacerdotal, sua me era natural da Costa da Mina e uma

    mulher meretriz, no tendo ele noo de quem fora seu pai (Arquivo da Cria do Rio

    de Janeiro - Habilitaes Sacerdotais - Loureno Leite Magalhes - 1799).

    A filiao de postulantes ao sacerdcio irmandade, fundada em 1732 no

    mnus episcopal de D. Antonio de Guadalupe, passou a ser estimulada pelos prelados

    do Rio de Janeiro que viram na instituio um dos mecanismos de reforma dos

    costumes clericais a partir das diretrizes traadas pelo Conclio de Trento. O

    compromisso da Irmandade de So Pedro, por sua vez, exigia a comprovao de

    limpeza de sangue e da superao de outros estigmas (COARACY, 1988, p. 250), o que

    nos casos em questo exigiu uma dispensa de impedimentos sancionada pela prpria

    irmandade. Dispensa essa que os mesmos alcanariam em relao ao chamado

    defeito da cor para que pudessem ser ordenados sacerdotes (OLIVEIRA, 2011).

    Acredito que as presenas de Jos Maurcio e Loureno na irmandade

    relacionavam-se com suas inseres em eficientes redes de proteo social,

    representando a associao religiosa um dos elos das redes (OLIVEIRA, 2011). Em

    Portugal, Fernanda Olival e Nuno Monteiro tambm constataram que adeso de

    ordinandos a irmandades era uma forma de buscar proteo e solidariedades com

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    vistas superao de dificuldades no processo de habilitao (OLIVAL e MONTEIRO,

    2003, p. 1223).

    Jnia Furtado, em seu trabalho sobre Chica da Silva, constatou que a mesma

    tambm fora admitida s Ordens Terceira do Tijuco em Minas Gerais (FURTADO,

    2003). O exemplo dos padres e de Chica da Silva permitem pensar o acesso de negros

    s irmandades frequentadas por setores da elite branca como parte de um complicado

    processo de mobilidade social e reconstruo de hierarquias em sociedades com

    traos da cultura de Antigo Regime.

    Como afirma Antnio Hespanha, no Antigo Regime os processos de

    mobilidade social quando ocorreram se fizeram no sentido do no comprometimento

    da ordem social, ou seja, acreditava-se que a natureza das coisas no deveria ser

    ferida de forma a se garantir o bom funcionamento da sociedade (HESPANHA, 2006, p.

    142). Sob este aspecto, foroso refletir tambm sobre a mobilidade horizontal que se

    fez dentro do mesmo segmento igualmente hierarquizando-o. Parece-me que

    justamente na interseo dos dois processos que se poder compreender melhor a

    formao de um clero de cor e tambm a presena de homens de cor em irmandades

    que tinham como critrio de filiao a pureza de sangue alm de outros critrios de

    distino social, como o distanciamento em relao ascendncia negra ou mulata.

    A mobilidade, portanto, no estava acessvel a todos e no foi a regra entre os

    homens de cor na sociedade colonial. Fruto de estratgias familiares, a possibilidade

    de ascenso para estes segmentos demonstrava o desenvolvimento de uma

    capacidade de autonomia e conhecimento dos meandros da negociao na sociedade

    escravista colonial. Por se tratar de uma sociedade profundamente hierarquizada e

    contendo traos de distino do Antigo Regime, esta mobilidade era profundamente

    conservadora, pois ao selecionar os que poderiam ascender e aqueles que no

    poderiam, estabelecia um processo de diferenciao e conflitos dentro do prprio

    segmento de setores subalternizados pelo sistema escravista (OLIVEIRA, 2011).

    Com efeito, o estudo das irmandades dos homens de cor sob a tica das suas

    relaes com os poderes locais ou explorando a presena desses em irmandades no

    necessariamente de negros um campo que ainda demonstra inmeras

    possibilidades. Deste modo, algumas questes necessitam ser repensadas, ampliando

    o cruzamento das fontes, permitindo a reconstruo de algumas trajetrias que

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    aumentem o entendimento destas associaes para alm de suas fronteiras,

    precisando melhor o seu papel na compreenso das complexas relaes entre

    religiosidade, poder e hierarquias sociais na Amrica Portuguesa.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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