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Rugas n1 versão digital

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Editorial

Essa é a primeira edição, nãopretendendo ser a última, do zine Rugas.Aqui derramo meus desgostos de todo essecaos que nos cerca, sem me preocupar emenxugar, sem ninguém para me censurar, bemlivre, como deve ser. Mas uma liberdade comprincípios, princípios que me fazem olhar avida que nos sufoca sem a adaptação queas pessoas costumam carregar e transmitir.

Se lágrimas fossem ácidas dariam aosolhos o que sinto no peito. Tudo de maisdecrépito é simplesmente ignorado por quempode, é enxotado de suas vidas para o maislonge possível de seus olhos, e assim levama vida os hipócritas. As pessoas vão dandodescarga, e a minha função é fazer a merdavoltar. Não contenho minhas magoas, poisas uso a meu favor, ninguém é feliz sem umpropósito e o meu está na revolta, nadesgraça, em mostrar o que viram a cara paranão ver, de forma suja e fedida, cuspir nacara dos hipócritas! Quando me sinto sem

forças para viver e minha respiração sópesa em meu peito, vejo que é hora deproduzir, não perco tempo chorando peloscantos, trato de escrever.

Esse número abre com 13 de minhaspoesias, com alguns desenhos espalha-dos, e encerra com uma historia ilustradacompletamente fictícia, que por fazer semnenhum compromisso com nada, temcertos erros que não fiz a mínima questãode corrigir. E é isso aí. Espero que gostedessa mistura de momentos infelizes edepressivos de minha vida, onde tinhavontade de gritar enquanto voltava a serum feto com os olhos de um gatoassustado e desnutrido, ou o de multilarmeu rosto enquanto agonizava no chão emmeio a saliva e lágrimas.

Divirta-se!

Solano Gualda

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Pag.2O cadeado da dor

Meu corpo está fraco e a mente febril.Chego em casa e busco um canto parachorar.Não há cantos!Minhas lágrimas esperam sua chance deliberdade.Meu corpo de inexistir em sua totalidade.Não há cantos!A agonia corre densa e transpassa o meurosto.Dizem que pareço febril e tento sorrir.Não há cantos!Com a mão frouxa tateio meu caderno.Rabisco em sua mente meus desgostos efobias.Aqui há cantos, penso eu.Todos os cantos!

Samba triste

Como meu coração enquanto ouço umsamba triste.A forca sacode pelo forte vento frio.As telhas caem por leves movimentos.Goteja em meu rosto um pouco dedesgosto.Pela porta entram pessoas cinzas deuniformes coloridos.Com molas nos pescoços avançam erecuam com suas cabeças sorridentes.Correntes estremecem em desesperadaalegria.As pessoas gargalhando se assustamcom meu pranto.Pensam uniformes em sua clonadamatilha.Sorrisos de medo e sorrisos de dor.Um homem gargalha com ódio e rancor.Me sufocam com a corda da decência.E me amarram com as mãos dos semolhos.Sou levado em meio a chuva, mas só eu

posso senti-la.Meu coração cai na lama e é pisoteado pelamassa.Levado ao palco, todos aplaudem.Os risos abafam o som do samba e a chuvasó cai com mais força.Sorria, todos gritam.Encharcado, sou levado a chorar.Gritos em último volume de uma alegriazombadora abafam a chuva.Quanto mais sofro mais me arremessampesados blocos de alegria.Feridas fazem o que tinha sair e a chuvaentrar.Não sinto mais a água em minha pele, mas avejo com toda a força.Sorria, todos gritam.Sou sufocado pelo bom senso e preso pelatradição em meu pescoço.Sorria, todos gritam.Nem acredito quando não sinto o chãoabaixo de meus pés.Suspenso no ar, ouço a lama pulsarenquanto as pernas tremem.As artérias são entupidas pela suja chuva eamaciada por uma alegre dança.O carrasco segura um microfone em suamão bem tratada.Sua cabeça vai pra frente e pra trás, prafrente e pra trás.Sinto minha força esvaindo de meu corpojunto a minha saliva e vômito.Quando meu pescoço se quebra e meusolhos param de se molhar, a multidão grita,sorria.Então me tiram a corda e me põem uma molano pescoço.Me ergo tonto e cambaleante.Olho para todos com minha cabeça indopara frente e para trás, para frente e paratrás.Não consigo parar de rir, mal posso respirar. Riem para mim e eu rio para eles.Então todos rimos, porque tudo tem muitagraça.

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Hipocrisia elitista

Fome medo. Medo e fome.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Não tem jeito, não tem jeito.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Carro velho, compra um novo.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Putas caras e piscina.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Banho frio e urina.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá. O farol e a cafetina.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.12 anos sem um dente.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.5 mil numa corrente.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Acorrenta o bandido.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Que morreu sem ter nascido.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.De noite reza para cristo.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Vive a vida escondido.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.

Números

Números são tristes e solitários.Vivem suas vidas sem amor oucompaixão.Vivem suas vidas sem rimas ousentimentos.Vivem apenas para deixar os sonhosmorrer.Se alimentam das carcaças da criatividadee tiram forças da exclusão.Fazem o que fazem e não poderiam fazerse não o que já fazem.Não podemos convencê-los!Eles não entendem palavras, apenas suaspróprias regras.As seguem com suas maletas cheias dedesesperanças e indiferença.Vestindo com um caro terno seus corposdeformados.Marchando ao som de seus líderesmortos e dos choros das crianças.Vivendo independente da vida ecomendo independente da fome.Pelas palavras liberto sentimentos dehorror a seus tristes seguidores.Que marchando não entendem o que évoar.Pelas palavras não existem limites, alémdos que você criar.Com elas posso inventar minhas própriasfórmulas e cálculos.Por elas, posso me afastar dos números.Podem alguns pôr regras em suaspalavras.Mas estes não sabem o que é poesia.São apenas números que aprenderam aescrever.Tenho medo que com isso eles façam ossonhos morrer.

Pag.4Lágrimas

Quando tudo parece fútil.Quando chorar é inútil.Quando a mente pesa o corpo.E o corpo quase morto.A dor já não machuca.A ferida não se fecha.Um canto pra cair.O asfalto vai servir.Os amigos a lhe cercar.Começam a gargalhar.Seu rosto amassar.Com chutes a golpear.Sangrar, sangrar, sangrar.Nem ele irá chorar.Tudo que começa um dia tem de terminar.Sua vida foi tão boa, mas ninguém vai selembrar!

Chora pelo desnutrido.Lá, lá, lá. Lá, lá, lá.Para não sentir-se apodrecidoLá, lá, lá. Lá, lá, lá.

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Pag. 5Punk

A maquiagem desmancha e o ventosolidifica-se diante ao meu ver.Todas suas curvas e nuances sãoapreciados com desgosto.Minha vista começa a pesar e minhaessência a escapar.Uma forma escura e cancerígena toma seulugar.Ela está em toda a parte.Sempre esteve.Mas agora volta a me atormentar.O que seria ela?Começo a entender depois de tão pertovê-la.De repente não só o vento, mas o restotambém transforma-se.As construções, as pessoas, a estruturasocial.Tudo mistura-se a esta forma que antesfora o vento.Uma maça uniforme tóxica e cada vezmais nociva me cerca.Me sinto sufocado.E quando percebo o quanto a fumaça meagride, é que vejo o quanto esse disco ébom.

Esqueça

Quando o vento bate em meus olhos,sinto vontade de chorar.Sei que isso não é um bom motivo, mas étudo que o mundo me dá.Tudo o que encosta machuca e fazsangrar.E tudo isso porque um dia fui lhe amar.

DescarteArrancou-lhe os olhos, mas lhe deramalegria.Arrancou-lhe a língua, mas lhe deram osdentes.

Arrancou-lhe as pernas, mas lhe deram asmãos.Arrancou-lhe os sonhos, mas lhe deramum carro.Arrancou-lhe a vida, mas lhe deram asférias.Mais alguma coisa estão pra arrancar.Quando percebe começa a sufocar.E a terra seu corpo cercar.E assim a ele descartar.No fim, ninguém irá sobrar.

Consumo

Viva feliz com suas mentiras.Seja carne de açougue e número em umafirma.Seja fútil e troque seu amor por umafantasia.Seja casada e apodreça sozinha.Entre no armazém para a reserva deboceta.Está no final, mas sua vez ainda chega.Ele é tão lindo, mas esconde tua faceta.Todas com a mesma careta, nas costas docapeta.Ela não se importa de ser mais uma desuas meretrizes.Só quer ser como as outras meninasfelizes.

Cotidiano doente

Roda, roda e roda.Ouve-se apenas o repetido balançar.Só os pensamentos ecoam e as pessoaspresas em seus mundos.A agulha do desgosto perfura minhagarganta.Dela só saem palavras tristes.Maldita dança cotidiana.Sua caótica essência daria mil textos sempalavras repetidas.Jogo aqui um pouco de desgosto, semmaiores objetivos.

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As puídas gotas dosonhar

Novamente arelutante chuva, comseus berros derevolução e sua dançade libertação.Ninguém a julga ou acontrola, é livre dasmalditas garras darepressão.Toda vez que a vejome enche o coração,pena que ninguém lhedê a devida atenção.Sem regras oupadronização, averdade é que invejosua solidão.

Solidão

Esmurrando a parede com meus punhos,não tenho força para os fazer sangrar .A dor sufoca, mas não me lembro de comochorar.Me contorço diante ao espelho, sempúblico para me adorar.Jogado ao chão, volto a engatinhar.Uma faca esfrego em minha mão, mastenho medo de me cortar.Tremulamente, não paro de agonizar.Ninguém pode me escutar, ninguém podeme ajudar.Não engulo suas mentiras, elas me fazemengasgar.Queria ser feliz, sem que pra isso tivesseque me enganar.

Fabrica de futuros proletários

Depois de por dois dias tão bem viver,volto a esta prisão.Grades de horários e compromissos.Conhecimentos fúteis e obrigatórios,aprendizado raso e desconexo.Se entupa de lixo e seja feliz.Obedeça o que um líder diz.Faça isso até que sua mente possa parar.Copie esses dados que nunca entenderá.Máquinas só devem ordens acatar.Máquinas não podem chorar, nem gritar.De nenhuma forma, máquinas podem selibertar.

Meu lado humano vou guardar, parasemana que vem reativar

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