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PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO A PARTIR DE UM MODELO DE REFERÊNCIA DIDÁTICO FRANCISCO TABOSA ORTEGA - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV KIVIA MOTA NASCIMENTO - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV AFONSO FERREIRA DE ASSIS JÚNIOR - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV EDUARDO AMORIM DE MOURA - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV Resumo: ESTE ARTIGO POSSUI O OBJETIVO DE MOSTRAR O TRABALHO DESENVOLVIDO NA DISCIPLINA DE PROJETO DE PRODUTO DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. O TRABALHO BASEOU-SE NO DESENVOLVIMENTO DE UM PRODUTO INOVADOR DE BAIIXA COMPLEXIDADE TECNOLÓGICA. A EQUIPE IDEALIZOU UMA CAPA IMPERMEÁVEL PARA GPS E APARELHOS ELETRÔNICOS SIMILARES QUE TEM COMO DIFERENCIAL A CAPACIDADE DE FLUTUAR. O MODELO DE REFERÊNCIA ADOTADO É COMPOSTO PELAS ETAPAS: GERAÇÃO DE IDEIAS, AVALIAÇÕES INICIAIS DE VIABILIDADE, DECLARAÇÃO DE ESCOPO, PROJETO BÁSICO/DETALHADO, DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE (QFD), ANÁLISE DE VIABILIDADE TÉCNICA E COMERCIAL, PLANO OPERACIONAL E ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. ALÉM DA METODOLOGIA PROPOSTA, FOI DESENVOLVIDA A MATRIZ DA QUALIDADE DO MÉTODO QFD PARA CAPTAR E TRADUZIR A VOZ DO CLIENTE PARA OS REQUISITOS TÉCNICOS DO PRODUTO. ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA, PÔDE-SE VERIFICAR A IMPORTÂNCIA DE SE ESTABELECER UM MODELO DE REFERÊNCIA MESMO LEVANDO EM CONTA A SIMPLICIDADE DO PRODUTO IDEALIZADO. ALÉM DISSO, CONCLUIU-SE QUE O MODELO UTILIZADO PARA O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO DESTE ARTIGO PODE SER APLICADO A OUTROS PROJETOS SIMILARES. Palavras-chaves: PROJETO DE PRODUTO; PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS; DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE (QFD). Área: 5 - GESTÃO DO PRODUTO Sub-Área: 5.3 - METODOLOGIA DE PROJETO DO PRODUTO

Processo de desenvolvimento de produto a partir de um modelo de referência didático

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PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

A PARTIR DE UM MODELO DE REFERÊNCIA

DIDÁTICO

FRANCISCO TABOSA ORTEGA - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

KIVIA MOTA NASCIMENTO - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

AFONSO FERREIRA DE ASSIS JÚNIOR - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

EDUARDO AMORIM DE MOURA - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

Resumo: ESTE ARTIGO POSSUI O OBJETIVO DE MOSTRAR O TRABALHO

DESENVOLVIDO NA DISCIPLINA DE PROJETO DE PRODUTO DO

CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE VIÇOSA. O TRABALHO BASEOU-SE NO

DESENVOLVIMENTO DE UM PRODUTO INOVADOR DE BAIIXA

COMPLEXIDADE TECNOLÓGICA. A EQUIPE IDEALIZOU UMA CAPA

IMPERMEÁVEL PARA GPS E APARELHOS ELETRÔNICOS SIMILARES

QUE TEM COMO DIFERENCIAL A CAPACIDADE DE FLUTUAR. O

MODELO DE REFERÊNCIA ADOTADO É COMPOSTO PELAS ETAPAS:

GERAÇÃO DE IDEIAS, AVALIAÇÕES INICIAIS DE VIABILIDADE,

DECLARAÇÃO DE ESCOPO, PROJETO BÁSICO/DETALHADO,

DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE (QFD), ANÁLISE DE

VIABILIDADE TÉCNICA E COMERCIAL, PLANO OPERACIONAL E

ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. ALÉM DA

METODOLOGIA PROPOSTA, FOI DESENVOLVIDA A MATRIZ DA

QUALIDADE DO MÉTODO QFD PARA CAPTAR E TRADUZIR A VOZ DO

CLIENTE PARA OS REQUISITOS TÉCNICOS DO PRODUTO. ATRAVÉS DA

EXPERIÊNCIA DIDÁTICA, PÔDE-SE VERIFICAR A IMPORTÂNCIA DE SE

ESTABELECER UM MODELO DE REFERÊNCIA MESMO LEVANDO EM

CONTA A SIMPLICIDADE DO PRODUTO IDEALIZADO. ALÉM DISSO,

CONCLUIU-SE QUE O MODELO UTILIZADO PARA O

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO DESTE ARTIGO PODE SER

APLICADO A OUTROS PROJETOS SIMILARES.

Palavras-chaves: PROJETO DE PRODUTO; PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

DE PRODUTOS; DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE

(QFD).

Área: 5 - GESTÃO DO PRODUTO

Sub-Área: 5.3 - METODOLOGIA DE PROJETO DO PRODUTO

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PROCESS OF PRODUCT DEVELOPMENT FROM

ONE DIDACTIC REFERENCE MODEL

Abstract: THIS ARTICLE HAS THE OBJECTIVE OF SHOWING THE WORK

DEVELOPED IN THE DISCIPLINE OF PRODUCT PROJECT IN THE

COURSE OF PRODUCTION ENGINEERING OF UNIVERSIDADE

FEDERAL DE VIÇOSA. THE WORK WAS BASED IN DEVELOPING AN

INNOVATOR LOW TECHNOLOGICAL COMMPLEXITY PRODUCT. THE

TEAM DEVISED A WATERPROOF COVER FOR GPS AND SIMILAR

ELECTRONIC DEVICES THAT IS CAPABLE OF FLOATING. THE

REFERENCE MODEL ADOPTED IS COMPOSED BY THE STEPS: IDEA

GENERATION, INITIAL ASSESSMENTS OF VIABILITY, SCOPE

STATEMENT, BASIC PROJECT/DETAILED, QUALITY FUNCTION

DEPLOYMENT (QFD), FEASIBILITY ANALYSIS TECHNICAL AND

COMMERCIAL, OPERATIONAL PLAN AND ANALYSIS OF ECONOMIC

AND FINANCIAL FEASIBILITY. BEYOND THE PROPOSED

METHODOLOGY, WAS DEVELOPED THE QUALITY MATRIX OF QFD

METHOD TO COLLECT AND CONSTRUE THE CLIENT VOICE TO THE

TECHNICAL REQUIREMENTS OF THE PRODUCT. THROUGH DIDACTIC

EXPERIENCE, IT WAS POSSIBLE TO VERIFY THE IMPORTANCE OF

ESTABLISH A REFERENCE MODEL EVEN TAKING INTO ACCOUNT THE

SIMPLICITY OF THE IDEALIZED PRODUCT. FURTHERMORE, IT WAS

CONCLUDED THAT THE MODEL USED FOR PRODUCT DEVELOPMENT

OF THIS ARTICLE CAN ALSO BE USED TO BE REFERENCE IN OTHER

SIMILAR PROJECTS.

Keyword: PRODUCT PROJECT; PROCESS PRODUCT DEVELOPMENT; QUALITY

FUNCTION DEPLOYMENT (QFD).

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1. Introdução

Desenvolver produtos é uma tarefa complexa e que requer muita atenção das empresas.

Possuir um processo de desenvolvimento de produto bem estabelecido, consistente e

integrado às demais áreas da empresa aumenta sua competitividade e excelência, visto que o

desenvolvimento do produto será feito de forma mais rápida, eficaz e eficiente (ROZENFELD

et al, 2006).

Levando em conta o cenário mundial atual de intensas e rápidas mudanças, as empresas

precisam acompanhar e satisfazer as necessidades e desejos de seus clientes para se manterem

no mercado. Se antes o desenvolvimento de produtos era considerado um diferencial

competitivo, hoje é um fator de sobrevivência para empresas. Para isso, elas têm cada vez

mais se preocupado e investido em técnicas de Gestão de desenvolvimento de produto

(MONTEIRO & BARATA, 2003)

O presente artigo objetiva mostrar as atividades acadêmicas desenvolvidas durante a

disciplina Projeto de Produto, oferecida pelo Curso de Engenharia de Produção da

Universidade Federal de Viçosa. O objetivo da disciplina é estimular os estudantes a

desenvolver um produto de baixa complexidade tecnológica, seguindo a metodologia de

desenvolvimento de produto proposta. O produto idealizado pela equipe foi uma capa para

GPS e outros aparelhos eletrônicos similares impermeável e que possua a capacidade de

flutuar.

Seguindo a metodologia didática proposta, pôde-se verificar a importância de seguir todas as

etapas e, além de tudo, de estabelecer um processo estruturado para o de desenvolvimento de

produto para captar e traduzir tecnicamente a voz do cliente, priorizando suas reais

necessidades.

2. Referencial teórico

Segundo Rozenfeld et al (2006), o desenvolvimento de produtos é um processo que visa

“chegar às especificações de um produto e de seu processo de produção” (ROZENFELD et al,

2006, p. 3) levando em conta as necessidades de mercado, possibilidades e restrições

tecnológicas e as estratégias competitivas e de produtos da própria empresa. Segundo Urban

(apud MARQUES, 2002) os custos e os riscos envolvidos no desenvolvimento de produtos

são elevados. Sendo assim, desenvolver produtos, independente do segmento, é uma tarefa

muito complexa que pode ter seus custos e riscos de insucesso minimizados caso suas etapas

sejam planejadas, implementadas e controladas. (MARQUES et al, (2002); ROZENFELD et

al, 2006; PAULA & MELLO, 2013).

O Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP) é “o processo de tomada de decisão sobre

a maneira como o produto será desenvolvido” (PAULA & MELLO, 2013, p. 146). Assim, o

PDP pode fazer com que a empresa atenda aos constantes avanços do mercado, da tecnologia

e do ambiente organizacional no qual a empresa está inserida, porque irá possibilitar o

desenvolvimento de produtos mais competitivos em menor tempo (ROZENFELD et al, 2006).

Pode-se dizer que a gestão do PDP não é uma tarefa fácil, visto que necessita integrar todas as

áreas da empresa, com a formação de equipes multifuncionais. Dependendo do grau de

complexidade do produto a ser desenvolvido, a gestão pode se tornar ainda mais complexa

(ROZENFELD et al, 2006; PAULA & MELLO, 2013). Uma empresa que conduz seu PDP de

forma eficiente e eficaz agrega grandes vantagens estratégicas, como custo, velocidade,

flexibilidade e confiabilidade de entrega (ROZENFELD et al, 2006; PAULA & MELLO,

2013).

Para que a empresa possa executar o PDP de forma sistemática e formal, integrando todos os

processos empresariais, Rozenfeld et al (2006) sugere a adoção de um modelo de referência.

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O modelo proposto pelo autor é dividido em três macro fases: Pré-desenvolvimento,

Desenvolvimento e Pós-Desenvolvimento. A macro fase de pré-desenvolvimento vai gerar a

lista de projetos a serem desenvolvidos. Leva em consideração as estratégias competitivas da

empresa para a definição dos projetos de desenvolvimento. Já a macro fase de

desenvolvimento, a mais longa e detalhada, irá desenvolver os projetos aprovados na fase

anterior. É dividida em: Projeto Informacional. Projeto Conceitual, Projeto Detalhado,

Preparação para a Produção e Lançamento do Produto. Essa fase é fundamental na

determinação do desempenho técnico do produto em relação às exigências do mercado, pois é

nela que a concepção do produto é realizada. Por sua vez, a macro fase de pós-

desenvolvimento está relacionada à retirada do produto do mercado e à avaliação do ciclo de

vida do produto para aprendizado em projetos futuros (ROZENFELD et al, 2006).

Ao fim de cada fase, devem ser realizadas avalições para verificar se o projeto deve

prosseguir para a próxima fase. Esse momento de decisão formal é chamado de gate. Os gates

são importantes, pois através deles, pode-se evitar gastos desnecessários com projetos que não

são relevantes para a organização ou com modificações futuras que poderiam ser identificadas

durante o processo. (SALES & CANCIGLIERI JUNIOR, 2011, ROZENFELD et al, 2006)

Não existe, porém, uma forma ideal de se conduzir um projeto de desenvolvimento de

produto. A estrutura e os processos do PDP irão variar de organização para organização,

dependendo do tipo de tecnologia, mercado ou fatores internos. (COSTA & NASCIMENTO,

2011). Logo, o modelo de referência deve ser adaptado à realidade da empresa

(ROZENFELD et al, 2006).

Conforme já dito anteriormente, o PDP, dentre outros objetivos, visa atender as requisitos do

mercado. Isso significa que o PDP deve estar alinhado às necessidades e desejos dos clientes.

Para captar e traduzir a voz do cliente e ao mesmo tempo garantir a qualidade do produto

pode ser aplicado o Método do Desdobramento da Função Qualidade (QFD). (CHENG &

FILHO, 2007).

De acordo com Cheng & Filho (2007), o QFD (Quality Function Deployment) é “uma forma

de comunicar sistematicamente a informação relacionada com a qualidade e de explicitar

ordenadamente o trabalho relacionado a obtenção da qualidade” ((CHENG & FILHO, 2007,

p.44). O QFD é composto de duas partes: Desdobramento da Qualidade (QD) e

Desdobramento da Função Qualidade no Sentido Restrito (QFDr). Enquanto o QD tem o foco

na qualidade exigida do produto de acordo com o cliente, o QFDr foca na execução correta do

trabalho.

Um dos resultados a serem obtidos com a aplicação do QFD é a Matriz da Qualidade. Essa

matriz, segundo Cheng & Filho (2007), é a matriz cujo objetivo é sistematizar as verdadeiras

qualidades exigidas pelos clientes. A matriz da Qualidade faz a interligação do mundo do

cliente, representado pela Tabela de Desdobramento da Qualidade Exigida, com o mundo da

tecnologia, representado pela Tabela de Desdobramento das Características da Qualidade e

Qualidade Projetada.

Os procedimentos para a elaboração da Matriz da Qualidade seguem a seguinte metodologia,

proposta pro Cheng e Filho (2007): elaboração da Tabela da Qualidade Exigida, elaboração

da Tabela de Qualidade Planejada, elaboração da Tabela das Características da Qualidade e

elaboração da Tabela de Qualidade Projetada.

3. Metodologia

A realização do trabalho foi baseada na metodologia proposta na disciplina Projeto de

Produto. Essa metodologia é composta pelas macro fases de Pré-desenvolvimento e

Desenvolvimento. A macro fase de Pré-desenvolvimento é dividida nas fases: Geração de

Ideias, Avaliações Iniciais de Viabilidade, e Declaração de Escopo. Já a macro fase de

Desenvolvimento envolve as fases: Projeto Básico/Detalhado, Desdobramento da Função

Qualidade (QFD), Análise de Viabilidade, Plano Operacional e Análise de Viabilidade

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Econômico-Financeira. Nos itens a seguir, estão descritas as atividades realizadas em cada

uma dessas fases.

3.1 Geração de ideias

O objetivo dessa fase é a idealização de um produto inovador, útil, de baixa complexidade

tecnológica, econômica e tecnicamente viável, a partir da identificação de alguma

oportunidade ou necessidade. A idealização deve ser baseada no fato de que o deve ser

possível confeccionar seu protótipo.

O produto idealizado pelo grupo é uma capa a prova d’água para GPS e outros aparelhos

eletrônicos, que possua a capacidade de flutuar. A oportunidade para a criação desse produto

foi identificada através de conversas com professores de departamentos das áreas biológicas e

agrárias. Eles alegaram que ao realizar pesquisas de campo, muitas vezes em matas, florestas,

seus aparelhos eletrônicos ficam expostos aos riscos de chuva e queda em água, pois eles

precisam entrar em rios ou navegar por eles. As capas impermeabilizantes disponíveis no

mercado possibilitam que o aparelho não seja danificado pela água, mas em caso de queda,

não impedem que esse afunde.

De acordo com a ideia inicial, a capa seria composta por uma película impermeável acoplada

a uma boia. Para vedar a entrada de água na abertura disponível para inserir o aparelho

eletrônico, seria utilizado um tipo de lacre ou zíper. Dessa forma, a capa seria desenvolvida

levando em consideração as medidas dos GPS’s mais vendidos nos mercado. Deveria ser leve

e possuir uma peça consideravelmente pequena para que fosse possível inflar e desinflar a

boia.

.

3.1. Avaliações iniciais de viabilidade

Nessa fase, o objetivo é realizar as primeiras análises de viabilidade, avaliando as

Oportunidades de Negócio, questões relativas à Propriedade Intelectual e Aspectos

Regulatórios. Os itens avaliados nessa etapa foram:

Público alvo: professores universitários, pesquisadores, esportistas radicais,

aventureiros.

Aspectos críticos determinantes do sucesso ou fracasso do novo produto: existência de

capas mais simples (sem a boia) e mais baratos com utilidade similar, incerteza do

público alvo ser mais restrito que o previsto, preço.

Necessidades pressupostas dos consumidores: proteção de GPS e outros aparelhos

eletrônicos contra água e queda em água.

Benefício básico do produto para o consumidor: impermeabilidade e capacidade de

flutuar.

Concorrentes: Os concorrentes do produto idealizado são capas para celular e GPS

impermeáveis.

Proteção intelectual: Ao realizar a pesquisa no banco de patentes do Instituto Nacional

de Proteção Intelectual (INPI) foram procuradas capas impermeáveis para celular e

GPS. Apesar de ter sido encontrada uma capa impermeável para celular, esta não

possuía exatamente a mesma funcionalidade e características do produto idealizado,

visto que não possuía uma boia na sua composição e não tinha a capacidade de flutuar.

Aspectos legais e regulamentares, certificações e registros: não foram encontrados

aspectos legislativo ou regulamentar ou mesmo certificações e registros obrigatórios

para a produção de capas para celulares ou GPSs.

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3.2 Declaração de escopo

Nessa etapa foi feita a Declaração de Escopo do Projeto, que inclui: objetivos, entregas,

requisitos, fronteiras, restrições, premissas, organização inicial e especificações do projeto;

descrição do escopo e critérios de aceitação do produto; além dos riscos inicialmente

definidos, cronograma de marcos e os requisitos para a aprovação. Com a Declaração de

Escopo, foram definidos os requisitos do projeto e finalizada a macro fase de pré-

desenvolvimento.

3.3 Projeto básico/detalhado

Essa fase é composta do desenho técnico, especificações dos materiais e as dimensões do

produto. O desenho técnico do produto pode ser visualizado na Figura 1.

FIGURA 1 - Desenho técnico

O produto é composto por plástico PVC flexível, um fecho ABS e uma válvula para inflar de

PVC. Quando a boia está vazia, a largura da capa é de 0,5 cm e, quando cheia, 5 cm. Em

ambos casos, a altura é de 22 cm e o comprimento, de 16 cm. Com as especificações

determinadas e desenho técnico pode-se construir o protótipo, mostrado na Figura 2. Após o

teste, o produto se mostrou eficaz em relação aos objetivos inicialmente traçados.

FIGURA 2 - Protótipo

3.4 Aplicação do Método Desdobramento da Função Qualidade (QFD)

Nessa etapa foi aplicado o método QFD a fim de conhecer as características e especificações

do produto, por meio da elaboração da matriz da qualidade. Após a coleta de informações

pertinentes à fase inicial do estudo, deu-se início a primeira etapa do QFD, a construção da

Tabela de Desdobramento da Qualidade Exigida conforme visto na Tabela 1.

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TABELA 1 - Tabela das Qualidades Exigidas

A Tabela de Desdobramento da Qualidade Exigida é a representação organizada e estruturada

da lista de todas as necessidades dos clientes. Esta tabela é o ponto de partida para o

estabelecimento da qualidade planejada. Posteriormente, iniciou-se o processo de

planejamento da melhoria do desempenho do produto de acordo com as exigências dos

clientes, denominado de Processo de Qualidade Planejada para obter o peso relativo a cada

item de qualidade exigida expresso na tabela de necessidades dos clientes.

Para obtenção do grau de importância dos itens de qualidade, foi elaborado um questionário, o

qual foi distribuído para os potenciais usuários do produto. A avaliação do desempenho do

produto com relação aos itens de qualidade foi feita com base na opinião da própria equipe e

no estudo presente não houve avaliação do desempenho dos concorrentes. Na etapa seguinte,

primeiramente obteve-se, com base na Tabela de Qualidades Exigidas, as Características da

Qualidade para o produto em estudo, com as características técnicas do produto que possuem

relação com a qualidade exigida, mostrada na Tabela 02.

TABELA 2 - Tabela de Características de Qualidade

Na sequência, procedeu-se ao Estabelecimento da Correlação entre as Características da

Qualidade e as Qualidades Exigidas. Estabelecida as correlações, prosseguiu-se com o

Processo de Conversão, do peso relativo dos itens da qualidade planejada para os itens de

característica da qualidade, considerando as notas referentes às correlações obtendo como

resultado a Matriz da Qualidade, mostrada na Figura 3.

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FIGURA 3 - Matriz da Qualidade para o produto em estudo

Através desta matriz foi possível elaborar os gráficos de Pareto para os itens de Qualidade

Exigida, Figura 4, e para os itens de Característica da Qualidade, Figura 5, com o objetivo de

identificar quais itens de qualidade são mais importantes para os clientes finais, o que permite

focar em tais características no momento do desenvolvimento do produto. Observa-se,

portanto, que as qualidades exigidas que devem receber maior atenção no projeto do produto

são aquelas que obtiveram maior peso relativo: “ser capaz de flutuar”, “ser fácil de

transportar”, “ser impermeável” e “ser fácil de operar o aparelho eletrônico dentro do

produto”.

Como resultados, a equipe do projeto atendeu às especificações requeridas pelo cliente que

obtiveram maior peso relativo. Estes dados foram comprovados pela equipe e pessoas

externas ao projeto que verificaram as principais características da qualidade presentes no

produto. Além disso, em função do entendimento da utilização da ferramenta QFD, a equipe

comprovou que a facilidade de transportar está entre as principais qualidades exigidas pelo

mercado consumidor. Outros resultados alcançados foram: medidas quantitativas do grau de

importância das qualidades exigidas levantadas e o impacto de cada um nos requisitos

técnicos do produto, novo dimensionamento do mercado e vários conhecimentos intangíveis

foram explicitados e agregados aos padrões de operação. Com esses resultados, espera-se ter

maior segurança e robustez no prosseguimento das etapas de inserção do produto no mercado.

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FIGURA 4 - Gráfico de Pareto para os itens de Qualidade Exigida

FIGURA 5 - Gráfico de Pareto para os itens de Característica da Qualidade

3.5 Análise de viabilidade

Após o Projeto Básico/Detalhado, foram realizadas análises mais aprofundadas relativas ao

mercado: dimensionamento de mercado, público alvo, necessidades dos clientes,

concorrentes, fornecedores, substitutos e novos entrantes e complementadores.

Dimensionamento de Mercado: De acordo com o CNPQ, existem no país existem no

Brasil 13.085 pesquisadores da área de ciências biológicas e 11.718 pesquisadores da

área de ciências agrárias. Logo, pode-se considerar um total de 24.803 pesquisadores

que precisam realizar pesquisas de campo, muitas vezes, em ambientes muito úmidos

ou aquáticos. E, segundo a Revista EF, hoje são mais de 5 milhões de pessoas no

Brasil que praticam esportes radicais. Considerando os resultados obtidos na aplicação

de questionários no QFD, podemos dizer que 14,29% das pessoas utilizariam

proteções como a capa idealizada. Então, no total teríamos um mercado de 714.500

pessoas.

Público-alvo: além do publico alvo inicialmente identificado – professores

universitários, pesquisadores, esportistas radicais – foram identificados outros

possíveis consumidores: consultores das áreas biológicas e agrárias, velejadores, guias

turísticos.

Concorrentes: Empresas que fabricam capas impermeáveis para aparelhos eletrônicos.

A Tabela 3 mostra as informações sobre os principais concorrentes.

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TABELA 3- Principais Concorrentes

Fornecedores: Levando em conta que a capa impermeável será feita de plástico PVC

flexível, válvula para inflar e fecho ABS, a Tabela 4 mostra os principais

concorrentes.

TABELA 4- Potenciais Fornecedores

Substitutos e novos entrantes: como substitutos, podemos considerar os GPSs e

celulares a prova d’agua que tornariam desnecessária uma capa impermeável. Os

substitutos encontrados pela equipe estão descritos na Tabela 5.

TABELA 5 - Produtos Substitutos

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Complementares: Como o produto idealizado é uma capa para GPSs, celulares e

outros aparelhos eletrônicos, pode-se afirmar que esses produtos são

complementares perfeitos da capa. Isso porque, as capas só serão compradas por

pessoas que possuam esses aparelhos eletrônicos.

3.6 Plano operacional

De posse das informações levantadas no estudo de viabilidade e no projeto detalhado do

produto, pode-se partir para o Plano Operacional. Nessa etapa, é feito o levantamento de

custos do produto, o cálculo da capacidade de produção, estabelecida a visão geral do negocio

e determinado o processo de produção.

Conforme foi estabelecido no projeto detalhado, os componentes do produto são: plástico

PVC flexível, válvula para inflar e fecho ABS. O plástico PVC flexível é utilizado para a

cápsula – local onde o aparelho fica armazenado -, para o visor e para a boia. Sendo assim,

pôde-se estimar o custo de matéria prima para a produção da capa de R$ 3,49. Os detalhes a

respeito dos custos são mostrado na Tabela 6.

TABELA 6 - Composição do Custo Material

Considerando os dados de dimensionamento de mercado, pode-se determinar qual seria a

capacidade de produção das capas. Considerou-se atender anualmente aproximadamente 10%

do mercado. A Tabela 7 mostra os valores de produção e faturamento considerados.

TABELA 7 - Capacidade de Produção

A Tabela 8 mostra os processos que devem ser realizados para a produção do produto, os

equipamentos e a mão-de-obra necessária.

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TABELA 8 - Processo Produtivo

3.7 Análise de viabilidade econômico financeira

Para essa etapa foram estabelecidas as premissas para a análise financeira, determinados os

investimentos necessários, custos e despesas, recursos necessários.

Para realizar a análise financeira, foram realizadas análises de TIR, VPL e Payback para um

horizonte de 5 anos. Ou seja, a análise financeira foi feita focada na análise desses três

indicadores financeiros. Para cálculo dos investimentos e custos, partiu-se da premissa de que

a capacidade de produção da fábrica seria de 6400 capas/mês, seriam vendidas em torno de

6000 capas/mês a um preço de R$ 15,00. Foram pesquisados os preços dos equipamentos

necessários e estimado o preço de terreno, além de levantados os custos da montagem de

escritório.

Foram feitas análises para cenários: otimista, realista e pessimista. No cenário otimista,

considerou-se que seriam vendidas somente 4800 capas/mês, no cenário realista, 5600

capas/mês e no otimista 6400 capas/mês. Os resultados obtidos estão descritos nas Tabelas 9,

10 e 11.

TABELA 9 - Indicadores Financeiros para o Cenário Pessimista

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TABELA 10 - Indicadores Financeiros para o Cenário Realista

Analisando os indicadores dos três cenários, pode-se notar que mesmo no cenário pessimista

há uma taxa de retorno, porém essa é menos do que a taxa de mínima atratividade. Ainda sim,

o valor presente líquido é positivo.

TABELA 11 - Indicadores Financeiros para o Cenário Otimista

Já nos outros dois cenários, a taxa de retorno possui um valor considerável e maior que a taxa

de mínima atratividade e o valor presente líquido também é positivo. A partir dessa análise,

pode-se considerar o projeto viável.

4. Considerações Finais

Levando em conta os resultados obtidos, pode-se concluir que a utilização de um modelo de

referência na experiência didática foi de grande importância para garantir a eficiência do

processo. Mesmo tendo sido idealizado um produto simples, de baixa complexidade

tecnológica foi possível realizar todo o processo e identificar os requisitos técnicos

necessários para o desenvolvimento de produtos.

Pôde-se também captar e traduzir a voz do cliente a partir da utilização do método QFD. A

aplicação dessa metodologia auxiliou na melhoria do desempenho do produto. O protótipo

atendeu aos requisitos e se mostrou eficiente para o objetivo proposto. Uma vez que o produto

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foi projetado levando em conta as reais expectativas dos clientes, suas chances de sucesso

tornam-se maiores.

A partir das análises feitas, o produto idealizado se mostrou viável. Porém, não foram feitos

estudos suficientes para garantir que a ideia possa ser transformada em negócio. Para isso,

seria necessário realizar outras análises de viabilidade de forma mais detalhada.

Referências

CHENG, L. C.; MELO FILHO, L. D. R. QFD. Desdobramento da função qualidade na gestão de

desenvolvimento de produtos. São Paulo: Editora Blücher, 2007.

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