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UM BREVE HISTÓRICO DO METODISMO NO BRASIL Prof. Ms. Paulo Dias Nogueira 1.1. Uma missão norte-americana O Metodismo chegou ao Brasil como fruto das missões da Igreja Metodista norte-americana. Vejamos um breve resumo feito pelo professor Reily: A primeira tentativa de vinda e fixação do Metodismo ao Brasil, naufragou diante da grande recessão econômica nos Estados Unidos, a qual inviabilizava a manutenção da pequena missão. Só depois da guerra civil americana é que os metodistas vieram para ficar. O primeiro núcleo metodista foi montado em Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo, onde , através de trabalho do Rev. Junias Gastham Newman, foi organizada uma paróquia Metodista entre norte-americanos que para ali tinham imigrado após a guerra. Por solicitação destes imigrantes vieram missionários metodistas para trabalhar junto aos brasileiros, utilizando o nosso idioma. O primeiro a chegar foi o Rev. J. J. Ransom. A Igreja Metodista no Brasil tem se destacado pelo seu trabalho educativo. A primeira de suas escolas foi fundada em 1881 em Piracicaba por miss Martha Hit Watts, gerando, com o crescimento, a atual “UNIMEP. 1 Durante os anos de 1867 à 1930 (sessenta e três anos) o território brasileiro foi considerado campo missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos. “A obra missionária era desenvolvida sob o domínio quase absoluto da presença e ação dos missionários nos pontos chave e de poder da Igreja”. 2 A estrutura organizacional e administrativa montada pelos missionários era uma cópia fiel do modelo utilizado na igreja norte-americana. O metodismo era na realidade uma micro-sociedade, onde havia todos os componentes necessários para a construção de uma nova vida cultural, era uma extensão da sociedade norte-americana. Toda a ideologia apresentada aos brasileiros serviu para conduzí-los a “uma profunda admiração e dependência do sistema político- social norte-americano, e a um total alheamento da cultura e realidade brasileiras”. 3 1 REILY, Duncan Alexander, Igreja Metodista em 3 Tempos, Folheto distribuído pela Pastoral Universitária do Instituto Metodista de Ensino Superior, São Bernardo do Campo, sd. Para um melhor aprofundamento deste assunto, ler: SALVADOR, José Gonçalves, História do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982. 2 OLIVEIRA, Clory Trindade, Cem anos de Igreja Metodista do Brasil, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p.26. 3 Idem, p. 27.

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UM BREVE HISTÓRICO DO METODISMO NO BRASIL Prof. Ms. Paulo Dias Nogueira

1.1. Uma missão norte-americana

O Metodismo chegou ao Brasil como fruto das missões da Igreja Metodista norte-americana. Vejamos um breve resumo feito pelo professor Reily:

A primeira tentativa de vinda e fixação do Metodismo ao Brasil, naufragou diante da grande recessão econômica nos Estados Unidos, a qual inviabilizava a manutenção da pequena missão. Só depois da guerra civil americana é que os metodistas vieram para ficar. O primeiro núcleo metodista foi montado em Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo, onde , através de trabalho do Rev. Junias Gastham Newman, foi organizada uma paróquia Metodista entre norte-americanos que para ali tinham imigrado após a guerra. Por solicitação destes imigrantes vieram missionários metodistas para trabalhar junto aos brasileiros, utilizando o nosso idioma. O primeiro a chegar foi o Rev. J. J. Ransom. A Igreja Metodista no Brasil tem se destacado pelo seu trabalho educativo. A primeira de suas escolas foi fundada em 1881 em Piracicaba por miss Martha Hit Watts, gerando, com o crescimento, a atual

“UNIMEP.1

Durante os anos de 1867 à 1930 (sessenta e três anos) o território brasileiro foi considerado campo missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos. “A obra missionária era desenvolvida sob o domínio quase absoluto da presença e ação dos

missionários nos pontos chave e de poder da Igreja”.2

A estrutura organizacional e administrativa montada pelos missionários era uma cópia fiel do modelo utilizado na igreja norte-americana.

O metodismo era na realidade uma micro-sociedade, onde havia todos os componentes necessários para a construção de uma nova vida cultural, era uma extensão da sociedade norte-americana. Toda a ideologia apresentada aos brasileiros serviu para conduzí-los a “uma profunda admiração e dependência do sistema político-

social norte-americano, e a um total alheamento da cultura e realidade brasileiras”.3

1 REILY, Duncan Alexander, Igreja Metodista em 3 Tempos, Folheto distribuído pela Pastoral Universitária do Instituto Metodista de Ensino Superior, São Bernardo do Campo, sd. Para um melhor aprofundamento deste assunto, ler: SALVADOR, José Gonçalves, História do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982. 2OLIVEIRA, Clory Trindade, Cem anos de Igreja Metodista do Brasil, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p.26. 3 Idem, p. 27.

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Esta mentalidade norte-americana fez com que o metodista brasileiro fosse indiferente à sua própria cultura; “sacralizando”, assim, o modo de viver destes missionários.

Os missionários não hesitaram em pressionar e mandar de volta colegas que não concebiam a missão como o prolongamento dos usos e costumes americanos no Brasil. Dentre eles eu cito dois: - o pioneiro do metodismo no Brasil, que foi o rev. Ranson, foi pressionado a ir embora, precisamente por este motivo; e mais tarde o rev. Lee.4

Durante este período o metodismo brasileiro era totalmente submisso à Igreja Metodista norte-americana.

1.2. Em busca de autonomia5

Num esforço para tornar a Igreja Metodista no Brasil, ou melhor, Igreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil, em Igreja independente da Igreja Metodista norte-americana (ou seja, Igreja Metodista Episcopal do Sul), acontecerão três conferências em 1929 (divididas por região), de onde sairá uma proposta de autonomia da Igreja brasileira. Queria-se que:

as conferências anuais do Brasil fossem organizadas em Igreja autônoma, para que, tendo plena liberdade de se desenvolver como instituição nacional continuasse, contudo, em união com a Igreja Metodista Episcopal do Sul.6

A Igreja Metodista Episcopal do Sul (em sua conferência Geral, reunida em maio de 1930 na cidade de Dallas, Texas, Estados Unidos da América), após ter

4 Transcrição da palestra apresentada na 43ª Semana Wesleyana, na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, pelo professor Peri Mesquida, com o tema: “Estruturas Práticas do Poder na Igreja Metodista: da Inglaterra até o Brasil”, realizada em 25 de maio de 1994, às 14.00 horas, no Salão de Leitura da Faculdade de Teologia. Para um maior aprofundamento desta questão, pesquisar: MESQUIDA, Peri, Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil, Juiz de Fora/SBC, UFJF/Editeo, 1994. 5 Este é um tema um tanto quanto vasto e complexo, que não queremos problematizar neste trabalho. Nos restringiremos a apresentar este acontecimento histórico a partir da análise dos seguintes textos: 1- IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. Cit., p. 9; 2- OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura organizacional e administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, 1982, p. 35-46; e 3- SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/ Editeo, 1991, p. 49-55. Para um estudo mais aprofundado e crítico sobre este assunto, ler: 1- JOSGRILBERG, Rui de souza, O movimento da autonomia. Perspectiva dos nacionais, in: História, Metodismo, Liberações, São Bernardo do Campo, Editeo, 1990, p. 92-133; 2- REILY, D. A., Metodismo Brasileiro e Wesleyano, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1981, p. 21-46; 3- ROCHA, Isnard, Histórias da história do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 129-142. 6 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. cit, p. 9.

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estudado a proposta enviada pela Igreja no Brasil, aprovou-a decretando assim a autonomia da mesma.

Ainda que a Igreja Metodista do Brasil tenha se tornado autônoma com respeito à Igreja Metodista Episcopal do Sul, ela continuará a organizar-se como um reflexo da estrutura norte-americana.

A estrutura com a qual se organiza o metodismo autônomo no Brasil é a mesma, com pequenas modificações, usada pelo metodismo norte-americano conforme estabelecida na sua disciplina (cânones) de 1922.7

A Igreja que recebeu sua autonomia em 1930 continuou ainda sendo dirigida por um bispo americano aposentado, que seguia a legislação da Igreja norte-americana. “Só em 1934 é que surge uma legislação da Igreja brasileira e a eleição do

primeiro bispo nacional”.8

No decorrer dos trinta e cinco anos após a autonomia (1930-1965), a Igreja Metodista do Brasil vai amadurecendo sua autonomia, embora recebendo uma influência muito grande da Igreja norte-americana.

A forma organizacional da Igreja brasileira durante estes anos é descrita pelo professor Clory Trindade, da seguinte maneira:

A estrutura organizacional e administrativa implantada no metodismo autônomo era uma estrutura de manutenção e não missionária, isto é, a estrutura representava uma maquinária pesada exigindo cuidados permanentes e recursos crescentes, desviando a dinâmica do trabalho da evangelização e ação social. A necessidade da jovem Igreja Metodista no Brasil era de ordem missionária e não de manutenção.9

1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a missão.

Em 1965, a Igreja Metodista do Brasil revelava os primeiros sinais de uma Igreja a caminho de sua plena autonomia. No Concílio Geral deste ano se farão algumas alterações na carta constitucional, em relação a 1960, principalmente nas sessões: das ordens, do ministério, do episcopado, das responsabilidades morais e administrativas.

7OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista Teológica da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982, p.36. 8SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, in: Situações missionárias na história do metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p. 49. 9OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.36.

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Podemos dizer que este concílio refletiu um pouco da crise que o país enfrentava, com as conseqüências da Revolução de 1964. O Bispo Paulo Ayres nos apresenta, ainda que sucintamente, uma análise de conjuntura da Igreja Metodista do final dos anos cinqüenta e anos sessenta, destacando os seguintes aspectos ocorridos:

... incidente (não devidamente explicado) da renúncia do bispo César em 1955, a pressão para o estabelecimento de novas regiões (em parte devida ao regionalismo xenófobo crescente na Igreja), a crise na Faculdade de Teologia em 1962 (exoneração do reitor Natanael I. do Nascimento; eleição e renúncia do professor Almir dos Santos), a esquerdização do movimento da juventude Metodista (“ser cristão é ser da esquerda” Richard Shaull), o movimento da direita denominado “Esquema” em 1965, os impasses do Concílio Geral de 1965.10

O Concílio Geral de 1970 vai receber o impacto de todas estas crises. O Rev. Clory Trindade diz o seguinte: “O Concílio Geral de 1970/71 é o mais tumultuado da história do metodismo no Brasil. Pela primeira vez um Concílio é suspenso, voltando

sua continuidade seis meses após, em janeiro de 1971”.11 Já o professor Geoval Jacinto da Silva (atual bispo da 3ª Região Eclesiástica) nos diz o seguinte com respeito à década de setenta: “A década de setenta surge como esperança e possibilidade de articular e elaborar as bases para uma igreja que esteja comprometida com a

missão”.12

Como vimos até agora, a Igreja Metodista no Brasil viveu por muito tempo organizada dentro de uma estrutura proposta pelo metodismo norte-americano. A década de setenta é considerada a década de mudanças (podemos dizer, mudanças “radicais”). A Igreja enfatiza mais a missão, e por isso quer deixar a estrutura de manutenção e organiza-se numa estrutura missionária. Uma estrutura que permita responder ao chamado de Deus, para a implantação de Seu Reino no mundo, e em particular na América Latina.

Esse Concílio Geral (1970/71) promoveu grandes modificações no que diz respeito à estrutura organizacional e administrativa da Igreja Metodista. Se compararmos esta nova estrutura aprovada com a antiga (1930-1965), veremos quão

profundas foram estas modificações.13 O objetivo maior destas modificações era o de construir uma estrutura organizacional e administrativa que fosse mais brasileira. Pensava-se que, com o abrasileiramento da estrutura, seria possível exercer-se o verdadeiro papel da Igreja, que é promover a Missão de Deus.

10 MATTOS, Paulo Ayres, A Questão da unidade Metodista (ou da Unidade que temos à Unidade que precisamos), in: Luta pela Vida e Evangelização, São Paulo, Paulinas, 1985, p. 299. 11OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.37. 12SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, op. cit., p. 50. 13 Isto pode ser comprovado se compararmos os Cânones de 1970/71 com o anterior.

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Uma das coisas que se pretendia alcançar com estas modificações era a de “enxugar-se a máquina”. Como já dissemos acima, a estrutura norte americana, com a qual o metodismo brasileiro se organizava, era de manutenção, uma estrutura pesada, burocrática e sem fins missionários. Tendo em vista “enxugar” um pouco a máquina, esse Concílio Geral (1970/71) aprovou a eliminação de “um” dos “cinco” níveis de estrutura da Igreja. O nível eliminado foi o Paroquial, permanecendo então apenas os níveis Local, Distrital, Regional e Geral.

Outro ponto que se pretendia era o de dar um espaço maior ao leigo. Examinando todas as modificações estruturais, nos vários níveis da Igreja, vemos que

“há um processo de laicização do poder”.14 Alguns órgãos passam a ser dirigidos por leigos, em outros, ainda que não estejam presidindo, eles terão espaço como os clérigos.

Foi neste Concílio também que a denominação deixou de ser “IGREJA METODISTA DO BRASIL” passando a ser chamada apenas por “IGREJA METODISTA”.

Analisando os Cânones da Igreja Metodista de 1971, vemos que uma outra alteração básica foi a modificação da seção sobre Fins da Igreja, em Missão da

Igreja.15 O rev. Clory afirma que esta alteração significa que a Igreja passa “de uma filosofia empresarial, secular, para uma filosofia missionária, de um enfoque individual

para um enfoque mais amplo, de caráter social”.16

Houve outras modificações tanto na Carta Constitucional quanto nas Leis

Adjetivas, mas não nos referiremos a elas.17

Podemos afirmar que o Concílio Geral de 1970/71 marcou profundamente o metodismo brasileiro. Ele apresentou alguns novos rumos para a atuação da Igreja. O Rev. Clory Trindade nos diz: “A mudança da estrutura organizacional e administrativa,

foi o meio usado para dar forma concreta às aspirações”.18 A Igreja Metodista do Brasil por muito tempo aspirava uma Igreja mais brasileira e mais missionária. Julgava que certas estruturas estavam envelhecidas, e os resultados já não satisfaziam mais. Este Concílio (1970/71) tornou-se assim o momento de se realizar essas mudanças aspiradas por muitos.

Ainda que tenham sido feitas modificações na estrutura organizacional e administrativa da Igreja Metodista, neste Concílio Geral, “faltava, ainda, um plano que

pudesse aprofundar esse processo”.19 Nasce então em 1974 o primeiro Plano Quadrienal, realmente brasileiro, com propostas renovadoras e missionárias.

14OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.39. 15IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, p. 11. 16OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.41. 17 Para um maior aprofundamento com respeito a estas modificações da estrutura organizacional e administrativa da Igreja, na Carta Constitucional e também nas Leis Adjetivas (todas citadas acima), ler: OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit. & IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, op. cit., comparando com o Cânones de 1978. 18OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.44. 19CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 48.

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Desencadeado o processo, com as modificações estruturais, logo mais a nova filosofia subjacente busca sua expressão, o que vai acontecer em 1974, com a elaboração do primeiro plano quadrienal, realmente brasileiro, e que representava uma nova teologia, numa nova visão missionária, chamando por mais renovadas formas institucionais. A missão é a fonte, o reino de Deus é o ponto de chegada, a libertação e o ministério de todos são a dinâmica, o Brasil e a sua cultura são o lugar e a forma da missão libertadora do evangelho de Cristo.20

1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja e a prática de algumas igrejas

Como já vimos, no Concílio Geral de 1974 nasce o primeiro Plano Quadrienal plenamente brasileiro. Seu título é: “Missão e Ministério”. Seguindo a mesma linha do plano anterior, o Plano Quadrienal de 1978, com o título: “Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam”, foi aprovado pelo Concílio Geral deste ano (1978). O plano posterior ao de 1978 foi o de 1982. Um plano que “apesar de dar seqüência aos

Planos Quadrienais, é um documento com características diferentes”.21

Se afirmamos que “Dons e Ministérios” tem suas raízes mais fortes nestes

documentos,22 devemos então, neste momento, analisar um pouco a história e o conteúdo dos mesmos.

1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal - 1975-1978)

A Igreja Metodista reuniu-se em Concílio Geral nos dias 4 a 14 de julho de 1974, no Instituto Bennett de Ensino, na cidade do Rio de Janeiro. Tal Concílio aprovou um documento chamado Plano Quadrienal (1975-1978), que trazia o seguinte título: Missão e Ministério”. O rev. Geoval Jacinto da Silva afirma que “desde o início dos anos setenta havia uma preocupação por parte do Conselho Geral em formar um

grupo para elaborar um Plano de Trabalho para a Igreja”.23 Com respeito à elaboração e aprovação deste Plano Quadrienal, o prof. Clovis faz a seguinte ponderação:

A elaboração do Plano foi bastante participativa. Houve um envolvimento de vários setores e segmentos da Igreja. A sua aprovação no Concílio Geral só aconteceu

20 OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.44. 21CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 50. 22 Verificar a página 10 deste trabalho. 23 SILVA, Geoval Jacinto da, op. cit., p. 50.

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após quatro dias de muitas reuniões em grupos, para um estudo mais aprofundado.24

Podemos dizer que este Plano Quadrienal é o fruto da vontade da própria Igreja. Se no Concílio Geral de 1970/71 ela havia aprovado mudanças estruturais na organização e administração, em 1974 ela irá aprovar um Plano que venha a aprofundar este processo. A Igreja está em busca de realizar a missão de Deus. Quer conscientizar seus membros da necessidade de se envolverem na obra missionária. Por isso, entre outros elementos existentes no Plano, encontramos os seguintes:

Reconhecemos ainda: 1) Que ministério é a Igreja Total, todos os seus membros; 2) que pastor e membro da igreja completam-se e completam a Igreja para o desempenho da sua Missão; 3) Que o ministério pastoral carece de uma reavaliação...; 4) que o ministério do crente não tem sido devidamente compreendido pela Igreja como essencial à Missão, e por isso carece de presença e ação no corpo de Cristo; 5) que a missão implica em testemunho, nas diferentes áreas da vida, que indivíduos e grupos dão da obra de Deus em Jesus Cristo e em apelo para que os homens participem dessa obra, pela fé, e se comprometam com ela, sendo para isso equipados pelo Espírito Santo.25

Após apresentar suas considerações, reconhecendo as necessidades de mudança da Igreja, teremos algumas propostas apresentadas neste plano. Podemos ver, tanto nas considerações acima, quanto nas propostas abaixo, que este plano apresenta realmente o início de um processo, que levaria a Igreja Metodista brasileira a optar, em 1987, por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. Vejamos as propostas do Plano:

Propomos, portanto: A) Que tudo na Igreja Metodista (ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio) passe a existir em função da Missão e do testemunho cristão, em todas as áreas de ação da Igreja; B) Que a primeira tarefa da Igreja Metodista., agora, seja a de despertar o povo de Deus (pastor e laicato) para descobrir o seu lugar na Missão; C) Que esse despertamento se faça através do preparo devocional,

24CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 47. 25IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1975-1978, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1974, p. 8.

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teológico e doutrinário do pastor, primeiramente, e a seguir, do laicato (pastor preparado prepara para a Missão); D) Que todos (Bispo, pastor e membro da Igreja) zelem para que a Missão se cumpra fielmente, nas suas respectivas áreas de ação; E) Que o culto a Deus seja o “momento”, no espaço, para onde converge o povo e de onde emerge a Missão.26

Podemos também afirmar que este Plano (1975-1978) tinha uma direção clara, pois prosseguia rumo a uma igreja mais participativa e ministerial. Tinha como alvo envolver todos os membros da Igreja (leigos e clérigos) na obra missionária. Vejamos o que ele diz com respeito a seus objetivos:

O objetivo do presente trabalho é conscientizar-nos do programa de ação da Igreja, como serva de Jesus Cristo, para libertar totalmente o Homem, através do poder do Evangelho, do pecado, do sofrimento, do medo e da morte, dando-lhes a paz da fé mediante a nova vida em Cristo Jesus. Será um guia para a aplicação docente da Igreja nas igrejas locais, instituições de ensino e outras organizações que a Comunidade Metodista possui. Orientará o ministério no exercício da Missão em sua totalidade de leigos e clérigos. Conscientizará a todos para o alistamento nesta grande obra ministerial durante o quadriênio e, futuramente, até o tempo que for da vontade do Senhor.27

Reconhecemos, tendo em mente principalmente a parte final desta citação, que a vontade de Deus foi além deste quadriênio (1975-1978), e que este Plano foi apenas o início de uma nova caminhada. Podemos afirmar que, em 1974, a Igreja Metodista começa a traçar algumas linhas mestras, que trilhará futuramente. Analisando este Plano, encontramos claramente a “semente” de onde brotará a opção por Dons e Ministérios (1987).

1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam (Plano Quadrienal 1979-1982)

No ano de 1977 o Conselho Geral28 constituiu um Grupo de Trabalho para elaborar o anteprojeto do Plano Quadrienal para o período 1979-1982. O anteprojeto,

26 Idem, p. 8-9. 27 Idem, p. 6. 28 Conforme o artigo 73, 1 dos Cânones da Igreja Metodista de 1974, “compete ao Conselho Geral formular as linhas de ação, submetidas à aprovação do Concílio Geral”.

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elaborado pelo Grupo de Trabalho, foi aprovado pelo Conselho Geral, que o encaminhou ao XIII Concílio Geral da Igreja Metodista em 1978.

O documento enviado teve “a aprovação do plenário do Concílio Geral da Igreja Metodista no Brasil, realizado de 23 à 30 de julho na cidade de Piracicaba, estado de

São Paulo”;29 tendo o seguinte título: Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam.

Após uma pesquisa, reconheceu-se que o Plano Quadrienal de 1975-1978 foi em seu todo considerado bom. Seguindo então o mesmo pensamento que o Plano anterior, o Plano Quadrienal de 1979-1982, continuará caminhando rumo a uma Igreja missionária, onde todos os seus membros (clérigos e leigos) participam desta obra evangelizante. Continua-se a caminho de uma Igreja ministerial, onde todos são considerados ministros.

Antes mesmo de expor seus objetivos, o Plano nos apresentará algumas afirmativas que julga ser importantes. Estaremos citando algumas:

1- O propósito de Deus é salvar o ser humano, concedendo-lhe nova vida à imagem de Jesus Cristo, integrando-o no seu reino, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus. 2- A missão da Igreja é participar da ação de Deus nesse propósito (...) 10- O viver humano, nestes dias, é altamente condicionado pela técnica, pelo consumismo imediato, pelos falsos valores do materialismo, pela massificação, pelo esquema de uma sociedade mercantilista. Sente-se a imperiosa necessidade de permitir ao ser humano a criação de situações nas quais ele tenha um confronto com a pessoa salvadora e libertadora de Jesus Cristo. Urge anunciar uma notícia boa no meio de tantas más notícias. Urge evangelizar. (...) 13- Tudo na Igreja Metodista: ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio, existe em função da Missão, isto é, do testemunho, serviço e evangelização. 14- Todos os membros da Igreja pelo fato de pertencerem ao povo de Deus através do batismo, são ministros do evangelho. São chamados por Deus, preparados pela Igreja para, sob a ação do Espírito Santo, cumprirem a missão, em testemunho, serviço e evangelização.30

29 IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1979-1982, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1978, p. 3. 30 Idem, p. 13-14.

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Somente então, após apresentar estas afirmativas (dentre as quais citamos apenas algumas), é que serão expostos os objetivos deste Plano. Como veremos, este Plano continuará insistindo na conscientização da Igreja em participar plenamente na obra missionária. Vejamos o objetivo geral do Plano:

Objetivo Geral: orientar o povo metodista na sua vivência cristã sob a dinâmica do Espírito Santo que, em unidade, crescimento e serviço, promove a evangelização, em meio à realidade concreta do mundo.31

Quando afirmava isto, estava preocupado em levar o povo metodista a alguns objetivos operacionais, tais como:

1- A compreensão de que a evangelização é uma atitude natural e necessária de todo o cristão que esteja vivendo a nova vida em Cristo, vitalizada pela ação poderosa do Espírito Santo. Isto é o que aprendemos na Palavra de Deus, especialmente em Atos 2.42-47, 4.32-35, 9.32, entre muitos outros textos (...) 5- À consciência de que o Espírito Santo é a presença, o poder e ação na vida da Igreja (...) 9- À ação evangelizadora e pessoal e comunitária, através dos mais diversos meios de expressão e comunicação. 10- Ao conhecimento da problemática social, econômica e cultural do mundo contemporâneo. 11- À vida de serviço cristão (...) 13- À reconsagração de todo o povo metodista como ministros de Deus.32

Não podemos deixar de reconhecer que neste Plano também encontramos alguns vestígios de um movimento que culminaria na opção por Dons e Ministérios. Temos aqui, então, um pequeno desenvolvimento da “semente” lançada pelo Plano Quadrienal de 1974.

1.4.3. Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (1982)

O XIII Concílio Geral da Igreja Metodista foi realizado em Belo Horizonte - MG, no período de 18 a 28 de julho de 1982, nas dependências do Instituto Isabela Hendrix. Este Concílio Geral aprovou um documento denominado “Plano para a Vida e a Missão da Igreja”, reconhecendo ser este um Plano que dava continuidade aos dois Planos anteriores.

31 Idem, p. 16. 32 Idem, p. 16-17.

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Este Plano (PVMI) surgiu como resultado da Consulta Nacional de 1981. Uma consulta realizada no Rio de Janeiro, que visava a avaliar a vida e a missão da Igreja, e que também é reconhecida como o principal evento da celebração de 50º aniversário da autonomia da Igreja Metodista brasileira. O professor Clovis afirma: “os resultados desta consulta não agradaram aos setores mais conservadores e carismáticos da Igreja; por outro lado, marcaram um avanço significativo dos setores mais progressistas da

IM”.33

Ainda que este Plano (PVMI) seja uma continuidade dos dois Planos anteriores, ele terá algumas características particulares que o diferenciará dos anteriores.

Um dos pontos que o diferencia dos dois “Planos Quadrienais” anteriores (1974 e 1978) é que este não propõe um programa de ação para um quadriênio, mas sim apresenta algumas linhas gerais que visam a orientar a ação da Igreja por um período indeterminado. Na própria introdução deste documento (PVMI), vemos descrito porquê seria importante aprovar um plano que não se limitasse a um quadriênio:

A experiência do Colégio Episcopal e de vários segmentos da Igreja Metodista nestes últimas anos indica que o metodismo brasileiro está saindo da profunda crise de identidade que abalou nossa Igreja após a primeira metade da década de sessenta. Estas experiências nos têm mostrado que a Igreja necessita de um plano geral, que inspire sua vida e programação, e que não será dentro do curto espaço de um quadriênio, que corrigiremos os antigos vícios que nos impedem caminhar. Esse fato esteve claro na semana da consulta Vida e Missão, e no documento que ela produziu. Ao adotarmos aquele documento como a base do novo plano, estamos propondo ao Concílio não mais um programa de ação para o quadriênio, mas linhas gerais que deverão orientar toda a ação da Igreja nos próximos anos, enquanto necessário, devendo ser avaliado periodicamente.34

O rev. Ely Éser Barreto César35 faz uma introdução do Plano, na segunda sessão regular do XIII Concílio Geral da Igreja Metodista, onde apresenta como sendo três as fontes que fundamentam o novo Plano (PVMI).

33CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 51. 34IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista, in: Cânones 1992, p. 61. 35 O rev. Ely Éser Barreto César fazia parte do Conselho Geral, e por isso apresentou ao Concílio o Plano para a Vida e a Missão da Igreja que eles haviam elaborado, através do Grupo de Trabalho.

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O documento está fundamentado em três fontes: a) Texto básico da consulta Vida e Missão, realizada pelo Conselho Geral como parte das comemorações do Jubileu de Ouro da autonomia da Igreja Metodista. b) documento enviado pelo Colégio Episcopal ao Conselho Geral, contendo objetivos, bases, metas e prioridades para o próximo quadriênio; c) texto do atual Plano Quadrienal, especialmente a parte relativa às áreas da Missão e sua estruturação.36

O “Plano para a Vida e a Missão da Igreja” foi exaustivamente examinado pelo conciliares, que se dividiram em onze grupos para discutir este documento antes de levá-lo ao plenário. Ainda que houvesse alguns pontos polêmicos em torno deste documento, após sofrer algumas alterações em sua redação, foi aprovado pela maioria do plenário. Vejamos a redação da Ata, no que diz respeito à aprovação deste documento em 1982:

APROVAÇÃO GLOBAL DO “PLANO PARA A VIDA E A MISSÃO DA IGREJA”: O presidente declara em ordem, como matéria para ser aprovada globalmente, depois de exaustivamente examinada, o “Plano para a Vida e a Missão da Igreja”. Setenta e oito conciliares votam a favor, dois, contrariamente e um em branco. Aprovado (documento nove).37

Em sua dissertação de mestrado, o professor Clovis Pinto de Castro nos relembra que este Concílio Geral de 1982 foi um tanto quanto conturbado, em virtude de estar discutindo questões muito polêmicas.

É bom lembrar que o XIII Concílio Geral foi marcado também por outras questões mais polêmicas, entre elas a integração da Igreja Metodista no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), que foi aprovada só com cinco votos de diferença - 45 a favor e 40 contrários, e a transferência da administração do Instituto Metodista de Ensino superior (IMS), da Área Geral para a 3ª RE, com 44 votos favoráveis e 33 votos contra.38

36 IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Atas e Documentos, Belo Horizonte, p. 10. 37 Idem, p. 28. 38 CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 52.

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Neste momento queremos passar para uma análise deste plano. Não estaremos preocupados em analisá-lo em seu geral, mas apenas algumas partes que estejam apontando na direção de uma Igreja Ministerial.

Como já dissemos, e queremos relembrar neste momento, o “Plano para a Vida

e a Missão da Igreja é continuação dos Plano Quadrienais de 1974 e 1978”.39 Como continuidade, ele enfatizará a necessidade de se envolver tudo e todos da Igreja na Missão de Deus. Não há um rompimento com os dois planos anteriores (1974-1978), mas sim, uma continuidade do processo iniciado no plano de 1974. A Igreja continua preocupada em direcionar todos os seus esforços para a missão.

Preocupado com a má interpretação que poderia surgir a respeito da palavra Missão, este plano apresentará uma definição da mesma.

O que é Missão? Missão é a construção do Reino de Deus, sob o poder do Espírito Santo, através da ação da comunidade cristã e de pessoas, visando o surgimento da nova vida trazida por Jesus Cristo para a renovação do ser humano e das estruturas sociais, marcados pelos sinais da morte.40

O Documento (PVMI) convoca a Igreja Metodista a “experimentar de modo cada vez mais claro que sua principal tarefa é repartir fora dos limites do templo o que

ela de graça recebe do seu Senhor”.41 A Missão de Deus no mundo é o estabelecimento do Seu Reino. A tarefa da Igreja é a de participar deste ato, realizando assim sua principal tarefa, a evangelização.

Para a realização desta obra, a Igreja deve reconhecer, entre outras necessidades, a de um auto-conhecimento. A Igreja precisa “descobrir suas possibilidades e seus Dons e valorizar seus ministérios para alcançar a participação

total do povo na Missão de Deus”.42 Vemos aqui que a semente lançada, em 1974, começa a desenvolver-se com maior intensidade. A Igreja sabe que, para realizar a Missão de Deus, ela precisa valorizar os Dons existentes no seu meio. Seus membros são chamados a trabalhar na Missão de Deus, participando com seus dons, realizando seus ministérios. Vejamos o que o documento nos apresenta sobre o ato de trabalhar na Missão de Deus:

-é trabalhar para o Senhor do Reino num mundo espremido pelas forças do pecado e da morte, participando, como comunidade, com dons e serviços para o nascer da vida (Jr 1.4-10; Fp 1.18-26, 3.10-11; II Tm 1.10; Jo 3.14); - É somar esforços

39IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista, op. cit, p. 61. 40 Idem, p. 74. 41 Idem, p. 74. 42 Idem, p. 69.

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com outras pessoas e grupos que também trabalham na promoção da vida (Mc 9.38-41; At 10.28, 15.8-11).43

Para que a Igreja venha a realizar esta missão, este plano reconhece também a necessidade de se utilizar ferramentas e métodos adequados. Entre algumas das ferramentas, ele nos apresenta a seguinte:

Na Igreja e na comunidade hoje encontramos novos desafios que exigem ferramentas adequadas. Uma destas, por exemplo, é a participação de todos os membros da Igreja, homens e mulheres, nos diferentes níveis de decisão.44

Como vimos, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja não interrompeu o processo iniciado em 1974. Ele preservou a linha de pensamento, rumo a uma Igreja missionária., onde todos os membros desta Igreja são convocados a participar da Missão de Deus.

Podemos dizer que este plano não é apenas uma fonte, mas sim uma parte integrante do Movimento Dons e Ministérios. Pois ainda que em 1987 a Igreja Metodista tenha optado por um novo modelo de ser Igreja, ou seja, uma Igreja organizada em Dons e Ministérios, ela não abandonará o Plano para a Vida e a Missão da Igreja. Os Cânones, em nota explicativa sobre o Concílio Geral de 1987, fazem a seguinte ponderação:

Passados cinco anos, o XIV Concílio Geral aprovou que os dons e ministérios, exercidos nos diferentes níveis da vida da Igreja, fossem tomados como elementos básicos para a sua estruturação. A organização da igreja, portanto, deve ser conseqüência da descoberta das necessidades e dos desafios missionários e do exercício dos dons e ministérios suscitados pelo Espírito Santo como resposta a tais desafios. Dentro deste novo contexto estrutural eclesiástico, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja continua sendo instrumento básico para a prática missionária da Igreja Metodista.45

O Plano para a Vida e a Missão da Igreja é o ideário que leva esta Igreja, organizada em Dons e Ministérios, a realizar uma prática missionária (estaremos falando mais sobre isto no 3º capítulo).

43 Idem, p. 50. 44 Idem p. 73. 45 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992.

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1.4.4. As Práticas de algumas Igrejas

Se afirmamos que “Dons e Ministérios” não nasceu do nada, mas que é fruto histórico de uma Igreja que busca realizar a missão, devemos então reconhecer que,

além das influências dos planos anteriores,46 este plano será resultado de uma prática já existente em algumas igrejas metodistas, vejamos o que os Bispos afirmam no relatório prestado ao XIV Concílio Geral:

Em formas mais diversas possíveis motivados por circunstâncias diferentes, regiões, igrejas locais, lideranças leigas e pastorais têm sido inspiradas e mobilizadas, na direção dos Dons e Ministérios. Cremos ser uma ação do Espírito presente, de forma dinâmica, na vida da IM. Devemos estar atentos a esta manifestação e procurar na vivência da igreja local, da região e da área geral, estabelecer nova configuração para a igreja, fundada não em cargos e poderes, mas em Dons e ministérios.47

Podemos afirmar que esta prática, já existente nas igrejas locais, em organizar-se em ministérios, seja resultado da implantação do Plano para a Vida e a Missão da Igreja. Ainda que este plano tivesse apresentado uma nova linha de pensamento para a igreja, ele não mexia nas estruturas organizacionais. Seria necessário uma nova maneira de organizar-se, se é que a igreja queria cumprir as exigências deste Plano.

Veremos que é na Quinta Região que encontramos o maior núcleo de Igrejas se organizando desta maneira, ou seja, em ministérios alternativos. Este fato se deu devido ao projeto regional denominado Agentes da Missão. Este projeto tinha como seu principal objetivo “permitir que cada metodista se decida por um ministério e

receba a nutrição para exercê-lo no mundo, fora das quatro paredes do templo”.48

No Relatório da Execução do projeto integrado “Agentes da Missão”, apresentado ao XII Concílio Regional da Quinta Região, vemos que essa experiência foi de grande importância no planejamento do Programa Dons e Ministérios da Igreja Nacional.

Todos os secretários de área da 5ª Região e os presidentes de federações e a Diretoria das crianças participaram, em março, na Sede Geral da Igreja Metodista, do Encontro Nacional de líderes para se

46 Os Planos referidos são: Plano Quadrienal (1975-1978), Plano Quadrienal (1979-1982), Plano para a Vida e Missão da Igreja (1982). 47IGREJA METODISTA XIV CONCÍLIO GERAL, Relatório do Colégio Episcopal, São Bernardo do Campo, julho de 1987, p. 10. 48CÉSAR, Ely Éser Barreto, Uso da Bíblia na prática de nosso Ministério, Piracicaba, Agentes da Missão, 1988, p. 03.

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planejar a implantação do Projeto Dons e Ministérios em todo o país. A contribuição da 5ª Região, dada a nossa experiência na primeira etapa recém-finda, foi decisiva.49

No próximo Concílio da Quinta Região Eclesiástica (XVIII), o Bispo Messias Andrino apresenta a Quinta Região como sendo uma região que já havia experimentado o exercício dos Dons e Ministérios, mesmo antes da deliberação do XIV Concílio Geral.

A Quinta Região Eclesiástica é, reconhecidamente, uma das regiões metodistas que vem acumulando muita experiência no exercício dos Dons e Ministérios, em seu programa “Agentes da Missão”. Aqui ele não foi criado ou desenvolvido de modo isolado. A prova disso é que agora o XIV Concílio Geral o consagra como programa nacional. O positivo é que ele tem dado vários frutos na nossa Região. As poucas igrejas locais que o adotaram estão demonstrando muita vitalidade. Desta forma devemos reconhecer como positivo, podemos iniciar o quadriênio, e uma nova administração, com um programação para a qual, e de muitas maneiras, já estamos preparados. Esperamos que este fato contribua para o crescimento, em unidade, de todas as forças vivas da Região. Assim como o compromisso missionário uniu os cristãos do passado, temos razões para esperar que este mesmo fato se repita entre nós.50

Como já vimos nas afirmações citadas, a prática da Igreja também foi um dos motivos que levaram o Concílio Geral de 1987 a optar por um modelo de Igreja organizada em Dons e Ministérios.

Podemos concluir este capítulo relembrando a afirmação feita no início do mesmo: as decisões tomadas no XIV Concílio Geral (1987), principalmente no que se refere ao novo modelo de igreja, são resultantes deste longo processo (movimento) que descrevemos no decorrer deste capítulo. Dons e Ministérios é o fruto histórico de uma Igreja que visa a realizar a Missão de Deus.

49IGREJA METODISTA, XVIII Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 57. 50 IGREJA METODISTA, XIX Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 131.

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Este texto é parte da monografia Final de Curso apresentada pelo Professor, Rev. Paulo Dias Nogueira, junto à Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, cujo título é: Dons e Ministérios: Estrutura Organizacional que visa realizar a Missão de Deus (1994)