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UNIVERSIDADE SAN CARLOS PAULO ROBERTO BARBOSA PEREIRA CIÊNCIA E RELIGIÃO: CONCÓRDIA E CONFLITO RECIFE, PE 2012

Resenha filosofia da religião e filosofia da ciência

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Resenha sobre a concórdia e o conflito entre a religião e ciência.

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UNIVERSIDADE SAN CARLOS

PAULO ROBERTO BARBOSA PEREIRA

CIÊNCIA E RELIGIÃO: CONCÓRDIA E CONFLITO

RECIFE, PE 2012

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PAULO ROBERTO BARBOSA PEREIRA

CIÊNCIA E RELIGIÃO: CONCÓRDIA E CONFLITO

Resenha crítica como pré-requisito da

disciplina epistemologia para complemento

da avaliação.

ORIENTADATOR: PROF. DR. VILMAR

CAPELARI ROSA

RECIFE, PE 2012

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................3

2 DADOS BIBLIOGRÁFICOS.....................................................................................4

3 DADOS SOBRE O AUTOR......................................................................................4

4 RESUMO...................................................................................................................5

5 CONCLUSÃO..........................................................................................................10

REFERÊNCIAS...........................................................................................................11

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1 INTRODUÇÃO

A ciência empírica certamente contribuiu para o desenvolvimento

intelectual desde o séc. XVI , porém a religião também tem uma grande parcela na

contribuição do desenvolviento intelectual, marcando presença há muito mais

tempo.

Segundo a tese do secularismo, ciência e religião estão inversamente

relacionadas. A religião tenta explicar os fenômenos recorrendo a causas

sobrenaturais e ciência tenta explicar os fenômenos recorrendo a princípios

racionais por meio das leis naturais. A relação entre estas duas grandes forças

culturais tem sido tumultuosa, multifacetada e confusa.

Essas relações, entre ciência e religião, mudam ao longo da história e

envolvem uma gama muito grande e complexa de aspectos, como: políticos, sociais,

econômicos, relações de autoridade e poder, visões epistemológicas das épocas,

forma das práticas científicas em cada época, relação ciência e sociedade, e,

choques entre culturas distintas. Há uma grande variedade de concepções

epistemológicas da ciência e da religião, ou seja, de como os conhecimentos

religiosos e científicos são adquiridos; assim como, das relações entre a ciência e a

religião, historicamente e na atualidade, variando do antagonismo e separação até a

colaboração próxima.

Essa resenha tem como objeto de estudo central a relação entre religião e

ciência, e se o conflto e a concórdia caracterizam essa relação, mensionado por

Alvin Plantinga em seu artigo Ciência e Religião.

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2 DADOS BIBLIOGRÁFICOS

PLANTINGA, Alvin. Conflict and Concord. In: ______. Religion and Science.

Stanford Encyclopedia of Philosophy California, USA, 2010. Disponível em:

<http://plato.stanford.edu/archives/sum2010/entries/religion-science/>. Acesso em 10

mar. 2012.

3 DADOS SOBRE O AUTOR

Alvin Carl Plantinga, nascido em 15 de novembro de 1932, é um filósofo

norte-americano conhecido por seu trabalho em epistemologia, metafísica e filosofia

da religião. Em 1980, Plantinga foi citado como o "principal filósofo protestante

ortodoxo dos EUA" pela revista Time. Plantinga é professor de Filosofia na

Universidade de Notre Dame a vinte e cinco anos. Plantinga também ensinou na

Calvin College por dezenove anos. Suas principais publicações são: God and Other

Minds (1967), The Nature of Necessity (1974), God, Freedom and Evil (1974), Does

God Have a Nature? (1980), Warrant: The Current Debate (1993), Warrant and

Proper Function (1993), and Warranted Christian Belief (2000). Seus principais

artigos em português são: Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo, Conselho

aos Filósofos Cristãos, Dawkins, Uma Confusão, Sofisticação Intelectual e Crença

Básica em Deus, Teísmo, Ateísmo e Racionalidade.

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4 RESUMO

Essa resenha é sobre o conflito e a concórdia entre a religião e a ciência,

retirada do artigo "Religion and Science" por Alvin Plantinga, publicada pela revista

eletrônica The Stanford Encyclopedia of Philosophy da Universidade Stanford,

California, USA, em maio de 2010. A resenha tem como objetivo mostrar a relação

entre ciência e religião. Para Plantinga há muitos problemas e questões importantes

nesta área, porém a questão que mais chama atenção do autor é se a relação entre

religião e ciência se caracteriza pelo conflito ou pela concórdia. Em sua opinião é

possível que exista simultaneamente conflito e concórdia entra a religião e a ciência.

Do ponto de vista da concórdia, a religião e a ciência combinam bem

entre si. Isso ocorre porque a crença teísta tem como doutrina a criação, onde Deus

criou o mundo e o homem à sua imagem, dando o homem a capacidade para formar

crenças e adquirir conhecimento. A ciência tem como objetivo adquirir conhecimento

de nós e do nosso mundo, objetivo esse, que é subscrito pela doutrina imago dei,

onde o homem foi feito Ícone de Deus. Para Plantinga, “a ciência é um exemplo

claro do desenvolvimento e aprofundamento da imagem de Deus nos seres

humanos, tanto individualmente como coletivamente”.

Outro aspecto da doutrina é que a criação divina é contingente. Segundo

o pensamento teísta, Deus é um ser necessário, existindo em todos os mundos

possíveis, mas isso não acontece, contudo, com a sua propriedade da criação. Em

outros termos, para Deus é essencial existir. Donde, Deus é um ser necessário.

As criaturas são contingentes, isto é, suas existências não decorrem de suas

essências.

Para Ratzch (2009), é esta doutrina da contingência da criação divina que

subjaz ao caráter empírico da ciência ocidental moderna. Pois o domínio do

necessário é o domino do conhecimento a priori; é onde temos a matemática e a

lógica e grande parte da filosofia. O que é contingente, por outro lado, é o território

ou domínio do conhecimento a postriori, o gênero de conhecimento produzido pela

percepção, memória e os métodos empíricos da ciência. Assim escreveu Roger

Cotes, no prefácio ao Principia Mathematica, de Newton: “Sem dúvida alguma, este

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mundo, tão diversificado com essa pluralidade de formas e movimentos que nele

encontramos, de nada poderia provir senão da vontade perfeita de Deus, dirigindo-o

e presidindo-o”.

A crença teísta sustenta a ciência moderna ao permitir ou sancionar todo

o projeto da investigação empírica; afirma-se também que a ciência sustenta a

crença teísta, argumento proposto por Michael Behe (1996), segundo o qual afirma

que algumas estruturas ao nível molecular exibem uma “complexidade irredutível.”

Behe defende que tais estruturas e fenômenos irredutivelmente complexos não

poderiam ter surgindo por evolução darwinista sem a intervenção de Deus. Behe

concluiu que muitos sistemas bioquímicos foram concebidos.

Outro argumento a favor do teísmo, defendido por astrofísicos, é o

ajustamento delicado de vários parâmetros físicos que precisam se situar dentro de

limites muito estreitos para que a vida inteligente se desenvolva. B. J. Carr e M. J.

Rees, B. Carter, J. Polkinghorne, Robin Collins e R. Swinburne concordam que

muitos aspectos do nosso universo dependem muito delicadamente de

“coincidências”, “precisões”, “extraordinários ajustes” entre as constantes físicas,

para que o universo permita a vida, reforçando a tese teísta de que o universo foi

criado por um Deus pessoal que tem a intenção de que haja vida e vida inteligente.

Consideram que a probabilidade epistêmica destes fenômenos de ajuste delicado é

muito maior sob a hipótese teísta do que a sua probabilidade epistêmica sob a

hipótese ateísta do acaso.

A objeção mais comum, que o universo foi concebido por um ser

inteligente, é que esse fenômeno não é falsificável. Porém há aqueles que

respondem que a falsificabilidade não é comumente uma propriedade de

proposições individuais, mas de teorias completas, que podem ser falsificáveis.

Muitos autores, como John William Draper e Andrew Dickson White, os

mais importantes expoentes da Tese de Conflito entre religião e ciência, afirmam

existir uma guerra entre a religião e ciência. Para Draper (1875), “The history of

Science is not a mere record of isolated discoveries; it is a narrative of the conflict of

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two contending powers, the expansive force of the human intellect on one side, and

the compression arising from traditional faith and human interests on the other”1.

A tese de conflito propõe um conflito intrínseco intelectual entre religião e

ciência com base em evidências históricas imprecisas de perpétua oposição entre

religião e ciência. Também conhecida como a Tese de Draper-White, a Tese de

Guerra e o Modelo de Guerra, interpreta a relação entre religião e ciência como

inevitavelmente levando à hostilidade pública, citando evidências históricas, como o

falso mito da Terra plana, bem como reais incidentes como o caso Galileu (1614-

1615). A partir do final do século 19 até desacreditado no final do século 20, a tese

do conflito foi uma popular abordagem historiográfica da ciência.

Mais recentemente, a teoria da evolução tem sido o ponto central do

conflito. Os fundamentalistas cristãos aceitam literalmente a criação descrita nos

dois primeiros capítulos de Genesis, negando as explicações darwinistas

contemporâneas das nossas origens. Muitos fundamentalistas darwinistas, como

Stephen J. Gould, defendem que há conflito entre a evolução darwinista e a crença

cristã ou teísta clássica. Tudo começa pela crença cristã que os seres humanos e as

outras criaturas foram concebidos – concebidos por Deus. Richard Dawkins e Daniel

Dennett, defensores do conflito, alegam que os seres humanos não foram

concebidos, mas, sim, produtos do processo cego sem direção da seleção natural,

operando sobre uma fonte de variação genética como a mutação genética.

Para Plantinga, a evolução, tal como é atualmente formulada e entendida,

é perfeitamente compatível com um Deus que orquestre e supervisione todo o

processo, que Deus cause as mutações genéticas que são peneiradas pela seleção

natural. Para Van Inwagen (2003), “a afirmação de que a evolução demonstra que

os seres humanos e as outras criaturas vivas não foram concebidos, contra todas as

aparências, não faz parte nem é uma consequência da teoria científica, mas antes

um acrescento metafísico ou teológico”.

1 “A história da ciência não é um mero registro de descobertas isoladas, é uma narrativa do conflito de duas

potências rivais, de um lado a força expansiva do intelecto humano, e a compressão oriunda da fé tradicional e

interesses humanos do outro”.

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Outro ponto de conflito com a ciência tem a ver com ação divina no

mundo, onde Deus o criou, assim como, o sustenta, preserva e mantém em

existência, segundo a religião teísta clássica. Além disso, há também os milagres

relatados nos tempos bíblicos e ações divinas especiais que ocorrem ainda hoje,

segundo o modo cristão de pensar. Essas ações divinas, onde Deus opera nos

corações e espíritos dos seus filhos, de modo a produzir a fé, chamado de “o

incitamento interno do Espírito Santo” por Tomás de Aquino e “o testemunho interno

do Espírito Santo” por João Calvino, é o ponto central da discórdia com a ciência

moderna, segundo vários filósofos e teólogos. Entre esses autores, encontra-se

Langdon Gilkey:

[...] A teologia contemporânea não espera, nem fala, de acontecimentos divinos assombrosos à superfície da vida natural e histórica. [...] feitos divinos e acontecimentos registrados na escritura já não são encarados como se tivessem efetivamente acontecidos. [...] Seja o que for que os Hebreus acreditavam, nós acreditamos que as pessoas bíblicas viviam no mesmo contínuo casual do espaço e do tempo em que nós vivemos, e, portanto um contínuo em que não ocorrem quaisquer prodígios divinos nem

se ouve quaisquer vozes divinas (GILKEY, 1983, p. 31 apud PLANTINGA, 2010).

O problema está na ação especial de Deus no mundo; não há qualquer

problema em relação à criação e preservação, mas a ação divina para, além disso, é

largamente considerada incompatível com a ciência moderna; com as leis da

natureza.

Gilkey, como outros autores, pensa aparentemente em termos de uma

mundividência newtoniana, segundo a qual o universo é como uma grande máquina

que funciona segundo as leis da ciência. Mas isso não é suficiente para que a

teologia deixe de intervir. O próprio Newton propôs que Deus ajustava

periodicamente as órbitas planetárias.

As leis de Newton aplicam-se a sistemas isolados ou fechados, porém

não faz parte da mecânica newtoniana, nem da ciência clássica, em geral, a

declaração de que o universo é realmente um sistema fechado. Consequentemente,

não há nada na ciência clássica que seja incompatível com Deus mudar a

velocidade ou a direção de uma partícula, ou de todo um sistema de partículas.

Logo, segundo Plantinga, “não há conflito entre a física clássica e a ação divina

especial no mundo”

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Com o advento da mecânica quântica no século XX, há menos razão para

ver a ação divina especial no mundo como incompatível com a ciência, apesar de

alguns autores creem que uma explicação satisfatória da ação de Deus no mundo

teria de ser não intervencionista. Porém não é fácil dizer o que seria uma

intervenção na imagem da mecânica quântica, e, nem de ver como a intervenção

poderia ser diferente da ação divina para além da criação e preservação. Logo, se

não há qualquer diferença entre elas, a ação divina especial seria apenas

intervenção, complicando, assim, o projeto de desenvolver uma concepção divina

especial que não envolva intervenção divina.

Mesmo assim, um terceiro ponto do conflito entre a crença religiosa e a

ciência tem a ver com as diferentes atitudes epistêmicas associadas a cada uma

delas. Segundo John Worral (2004, p. 60 apud PLANTINGA, 2010):

A ciência, ou antes, a atitude científica, é incompatível com a crença religiosa. A ciência e a religião estão num conflito irreconciliável [...] Não há maneira de ter uma mentalidade apropriadamente científica e ser um verdadeiro crente religioso.

Na ciência, a atitude epistêmica dominante, segundo esta tese, é a

investigação empírica crítica, propondo teorias que são sustentadas hipoteticamente

e temporariamente; há sempre alguém disposto a abandonar uma teoria a favor de

uma sucessora mais satisfatória. Na crença religiosa, como a cristã, a atitude

epistêmica da fé desempenha um papel importante, uma atitude que difere na fonte

da crença e na disponibilidade para abandonar uma teoria.

Plantinga afirma que outros autores fazem notar que não há aqui um

conflito entre essas atitudes, apesar de serem deferentes e talvez não possam ser

assumidas simultaneamente com respeito à mesma proposição. No seu ponto de

vista, os próprios cientistas não parecem assumir a atitude epistêmica científica com

respeito a tudo o que acreditam, ou mesmo com respeito a tudo que acreditam como

cientistas. Assim, é comum que os cientistas acreditem que houve passado, mesmo

que eles não sustentam esta crença em resultado da investigação empírica; nem

comumente a sustentam desse modo hipotético, crítico, procurando sempre uma

alternativa melhor. Logo, para o autor é difícil encontrar conflito entre a crença

religiosa teísta e a ciência contemporânea.

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5 CONCLUSÃO

Historicamente, a ciência tem tido uma relação complexa com a religião;

discursos científico e teológico frequentemente chocaram-se. Porém doutrinas

religiosas por vezes influenciaram o desenvolvimento científico, mesmo havendo

autores na história que tentaram negar fenômenos religiosos.

Através do artigo de Plantinga, podemos observar que o pensamento

religioso e o pensamento científico perseguem objetivos diferentes, mas não

opostos. A ciência procura saber como o universo existe e funciona desta maneira.

A religião procura saber por que o universo existe e funciona desta maneira.

Os conflitos entre a ciência e a religião aparecem, especialmente, quando

a ciência tenta responder às questões atribuídas a religião. O autor, em seu artigo,

mostrou vários exemplos, onde a ciência tenta provar por observações, hipóteses e

teorias científicas, que os fenômenos divinos não faziam sentidos. Porém sempre

houveram autores que conseguiram mostrar que esses fenômenos divinos eram as

únicas explicações plausíveis para tantas perfeições ocorridas no mundo e no

universo para que a vida fosse possível. Vários argumentos dogmáticos embasaram

as investigações científicas, fortalecendo, assim, a concórdia entre a religião e a

ciência.

Logo, podemos concluir que a religião e a ciência são dois modos de

explicar o mundo, ou seja, pela fé e pela razão.

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REFERÊNCIAS

PLANTINGA, Alvin. Conflict and Concord. In: ______. Religion and Science. Stanford Encyclopedia of Philosophy California, USA, 2010. Disponível em: <http://plato.stanford.edu/archives/sum2010/entries/religion-science/>. Acesso em 10 mar. 2012. The Secular Web. Brief Biography of Alvin Plantinga. Disponível em <http://www. infidels.org /library/modern/alvin_ plantinga/bio.html>. Acesso em 24 mar. 2012. Wikipédia, a enciclopédia livre. Alvin Plantinga. Disponível em <http://pt.wikipedia. org/wiki/Alvin_Plantinga>. Acesso em 24 mar. 2012. ______. Conflict thesis. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Conflict_thesis. Acesso em 31 mar. 2012.