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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV BONIFÁCIO CARVALHO SANTOS A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL: O TEXTO E O CONTEXTO CINEMATOGRÁFICO CONCEIÇÃO DO COITÉ 2013

Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

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Page 1: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV

BONIFÁCIO CARVALHO SANTOS

A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL: O TEXTO E O CONTEXTO CINEMATOGRÁFICO

CONCEIÇÃO DO COITÉ 2013

Page 2: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

BONIFÁCIO CARVALHO SANTOS

A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL: O TEXTO E O CONTEXTO CINEMATOGRÁFICO

Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de Letras com Inglês, como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura em Letras com Habilitação em Língua Inglesa, da Universidade do Estado da Bahia. Orientadora: Prof.ª Esp. Juliana Bastos.

CONCEIÇÃO DO COITÉ 2013

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BONIFÁCIO CARVALHO SANTOS

A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL: O TEXTO E O CONTEXTO CINEMATOGRÁFICO

Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de Letras com Inglês, como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura em Letras com Habilitação em Língua Inglesa, da Universidade do Estado da Bahia.

Aprovado em: 10 / 12 / 2013

Banca examinadora _________________________________________ Juliana Figuerêdo Bastos – Professora Orientadora Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV _________________________________________ Neila Maria Oliveira Santana – Professora de TCC Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV _______________________________________________ Emanuel do Rosário Santos Nonato – Professor Convidado Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV

CONCEIÇÃO DO COITÉ 2012

Page 4: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

Dedico este trabalho a todos os que estiveram comigo durante este processo de aprendizagem; aos professores, colegas das turmas nas quais tive participação em algum momento da minha graduação; aos amigos universitários ou não; e em especial a minha família que me acompanhou e me ajudou durante todo este processo.

Page 5: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar por ter me permitido o dom da vida e está sempre presente guiando da melhor forma possível na minha jornada.

Aos meus familiares, principalmente meu pai Júlio e minha mãe Helena por terem

me dado todo apoio possível desde o inicio e nunca estiveram ausente nos momentos mais difíceis da minha vida.

A minha avó Joana e meu avô João que, com certeza, estão me apoiando do outro

lado da vida. [In memoriam]

A professora Juliana Bastos que com sua competência me mostrou que para realizar um bom trabalho é preciso acima de tudo muita dedicação e coragem.

A professora Neila Santana que me ajudou com sua experiência e simpatia durante

boa parte do trabalho.

Aos meus amigos André Nunes, Evanilson Barbosa, Hélio Pereira e Marcus Joanes pelo apoio que sempre me deram durante o curso.

As amigas Lícia Maia, Rafaela Lima e Júlia Benevides por terem me incentivado em

determinados momentos.

Aos amigos-irmãos da residência universitária do campus XIV, que me aturaram por quase quatro anos, meu mais sincero obrigado.

Por fim, a todos que de alguma forma estiveram me apoiando, de perto ou de longe,

durante esse período de formação: professores, funcionários, colegas de curso, e amigos em geral.

Page 6: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.

Willian Shakespeare

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RESUMO Este trabalho faz um estudo sobre a Tradução Audiovisual no Brasil, tendo como foco principal a tradução de filmes estrangeiros para a exibição no cinema nacional. Tem como objetivo trazer ao público, em geral, o conhecimento sobre as formas empregadas pelas empresas que realizam tal procedimento, bem como algumas das técnicas e estratégias utilizadas para a realização da dublagem e da legendagem de filmes, com o intuito de obter um texto fiel e ao mesmo tempo condizente com a língua e a cultura-alvo. Utiliza como base para o estudo o filme “The Pursuit of Happyness”, do diretor italiano Gabriele Muccino, conhecido no Brasil pelo nome “À procura da felicidade”, que teve sua versão brasileira realizada pela Herbert Richers S.A. do Brasil. No desenvolvimento do trabalho são mostrados alguns aspectos relacionados à linguagem cinematográfica, a legendagem, a dublagem, as estratégias da tradução, e as expectativas sobre o futuro da tradução, considerando as mudanças que ocorreram ao longo desses anos. Apresenta também uma análise da tradução feita no filme mencionado, onde se pode acompanhar as expressões e trechos da fala original, dublada e legendada, além de avaliar os critérios utilizados pelo tradutor. A análise será feita através de fragmentos retirados do próprio filme no idioma de origem, com o intuito de compará-los com a língua do país de chegada, no nosso caso, o português brasileiro.

Palavras-Chave: Tradução. Audiovisual. Linguagem. Legenda. Dublagem.

.

Page 8: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

ABSTRACT

This paper makes a study on Audiovisual Translation in Brazil, focusing mainly on the translation of foreign movies for exhibition on national cinema, with the goal of bringing to the public, in general, knowledge about the ways employed by companies that conduct this procedure, as well as some of the techniques and strategies used to perform the dubbing and subtitling of films, to get a faithful text while consistent with the language and target culture. Use as a basis for the study, the film "The Pursuit of Happyness", by the Italian director Gabriele Muccino, known in Brazil by the name "À procura da felicidade" which had its Brazilian version made by Herbert Richers S.A. of Brazil. In development of this work are shown some aspects related to film language, subtitling, dubbing, translation strategies, and expectations about the future of translation, considering the changes that have occurred over the years; also presents an analysis of the translation made in the aforementioned movie, where you can track the expressions and periods of the original speech, dubbed and subtitled, besides the evaluation of the criteria used by the translator. The analyses will be done through fragments taken from the film itself on the original language, in order to compare them with the language of the arrival country, in our case, the Brazilian Portuguese. Key-words: Translation. Audiovisual. Language. Subtitle. Dubbing.

Page 9: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Adaptação do texto estrangeiro ............................................................... 31

Tabela 2 – Tradução com fidelidade ou não fidelidade ao texto original ................... 32

Tabela 3 - Adaptação e substituição do texto estrangeiro ......................................... 33

Page 10: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

1. O TEXTO ESCRITO E FALADO NO CINEMA ................................................... 20

1.1 A linguagem cinematográfica .............................................................................. 20

1.2 Legendagem: texto e imagem ............................................................................. 22

1.3 Dublagem: imagem e fala ................................................................................... 25

2 ESTRATÉGIAS DA TRADUÇÃO AUDIOVISUAL ............................................... 13

2.1 Estratégias Macro e Micro textuais ..................................................................... 13

2.2 Possíveis rumos da tradução .............................................................................. 16

3 ANÁLISE DA TRADUÇÃO NO FILME: “THE PURSUIT OF HAPPYNESS” ....... 20

3.1 O diretor e sua obra ............................................................................................ 28

3.2 A procura da fidelidade ....................................................................................... 30

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 35

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37

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INTRODUÇÃO

A linguagem humana permitiu uma grande evolução para as sociedades

através da comunicação entre os povos, e até hoje buscamos maneiras de ter uma

boa relação com o outro. A partir da expansão das relações entre nações, tornou-se

necessário o conhecimento de línguas e a possibilidade cada vez mais frequente de

se traduzir uma língua escrita e falada em outros idiomas, tornando possível a

interação entre culturas bem diferentes, mesmo a longas distâncias.

A tradução, a qual foi facilitadora da expansão das relações internacionais, e

permitiu, entre muitas outras coisas, traduzir documentos, textos literários,

acadêmicos, técnicos, etc. Hoje, com todo o aparato tecnológico disponível, as

traduções têm se expandido aos mais diversos âmbitos da vida quotidiana,

passando a fazer parte das nossas vidas, mesmo quando não percebemos. Assim, o

cinema, não poderia ficar de fora.

Depois de ter sido um grande sucesso mesmo sem dizer uma única palavra, o

cinema teve sua voz divulgada internacionalmente, e logo passou a ser difundido em

diversos países. Aquele que começou com o universo mudo das imagens, passou a

utilizar legendas em suas exibições, e posteriormente a utilizar o áudio, permitindo

uma grande evolução para as telas. E não demorou muito até estar sendo

transferido aos mais variados idiomas, através da Tradução Audiovisual – TAV, que

é o tema a ser discutido neste trabalho.

A partir de observações realizadas em alguns filmes, percebeu-se que

existem traduções que divergem do discurso original do personagem, às vezes,

sendo feitas modificações que são até relevantes, outras vezes, alterações que

seriam desnecessárias. Daí então, com o intuito de conhecer um pouco mais sobre

a realização da tradução audiovisual nos filmes e vídeos para o cinema em geral,

buscou-se responder o seguinte questionamento: como tem sido feita a tradução

audiovisual nos dias de hoje?

Para que isso fosse realizado, foram definidos alguns objetivos que serviu

para dar um foco maior no trabalho. Assim, definiu-se como objetivo geral: analisar a

tradução audiovisual e sua aplicação através dos recursos multimídia; a partir deste,

alguns objetivos, a saber: analisar a tradução na legendação e dublagem de filmes,

verificar a utilização de estratégias macro e micro textuais, mostrar como a utilização

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de softwares e da Internet pode contribuir com a tradução, e fazer uma análise

amostral de um filme verificando as alterações do texto estrangeiro no ato tradutório.

E para obter esses resultados, foi feito um estudo de materiais de alguns

teóricos que tratam do tema abordado, tendo como base metodológica a pesquisa

bibliográfica. Em busca dos melhores materiais existentes, tanto impresso, quanto

digitais, utilizou-se quando necessário, a pesquisa em sites da internet, além de

análise fílmica de conteúdo que foi feita através da seleção de trechos da fala dos

personagens, considerando os aspectos da fidelidade e fluência na tradução.

Nesse contexto, esse trabalho vem trazendo uma breve análise da tradução

fílmica no cinema internacional, do inglês para o português brasileiro. Sendo dividido

em três capítulos. O primeiro refere-se às relações do cinema com o público através

da legenda e da dublagem; no segundo capítulo será tratada a questão das

estratégias utilizadas na tradução e as expectativas sobre o futuro da tradução; no

terceiro e último capítulo, há uma breve análise do filme norte-americano “The

Pursuit of Happyness”, do diretor Gabriele Muccino.

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1 ESTRATÉGIAS DA TRADUÇÃO AUDIOVISUAL

Neste capítulo serão abordadas questões que tratam de técnicas utilizadas

pelo tradutor ao tentar verter um texto, apresentando alguns procedimentos técnicos,

os quais serão utilizados por ele no momento em que se deparar com certas

situações que podem confundi-lo durante o processo tradutório. Encontra-se dividido

em dois tópicos: o primeiro, o qual foi denominado “Estratégias macro e micro

textuais”, traz estratégias em sentido mais amplo - as situações em que a técnica

utilizada deverá considerar o contexto apresentado - e também em sentido mais

específico - o uso de técnicas considerando os itens gramaticais e lexicais do texto;

já o segundo tópico, intitulado “Possíveis rumos da tradução”, vem trazendo uma

discussão em torno do assunto das novas tecnologias na tradução, e as novas

técnicas e estratégias utilizadas pelos tradutores atualmente.

2.1 Estratégias Macro e Micro textuais

Ao se referir à macro, queremos dizer que são estruturas de texto mais

complexas com sentenças inteiras, e/ou textos inteiros, por exemplo; ao se referir a

micro, faz-se menção a pequenas estruturas que normalmente são combinações de

palavras individuais e que posteriormente formarão sentenças.

Ao observarmos qualquer palavra em um dicionário, seja ele monolíngue ou

bilíngue, poderemos perceber que na tradução de um vocábulo dificilmente

encontraremos um único significado, pois a linguagem humana precisaria de muito

mais que apenas um conjunto de letras para representar suas ideias. Na verdade, o

significado das palavras pode variar muito, dependendo do contexto no qual é

empregado.

Após um breve estudo do texto (seja ele escrito ou falado), deverão ser

avaliadas as sentenças que ali são expressas, sabendo-se que para uma boa

tradução o tradutor deve conhecer bem o idioma que está sendo trabalhado, e,

obviamente, é interessante saber o contexto que envolve essa língua, pois assim

poderá utilizar os termos mais adequadamente.

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Você já deve saber, consciente ou inconscientemente, que a nossa interpretação de qualquer texto depende das expectativas que trazemos para o momento da leitura e que estas expectativas, por sua vez, estão estreitamente relacionadas com o contexto da tarefa de leitura. (MAGALHÃES, 2006, p. 83)

Observando a frase “I feel really good (...)” e “And I‟m sure that plants and

animals do, too”, percebe-se que esta, ao ser traduzida para o português, precisará

não somente da simples tradução da frase mas também do acréscimo de alguns

termos da oração, ou não haverá coesão na sentença; este é um outro elemento

macro que se deve considerar. Em inglês, as ideias nas duas frases também se

ligam através da omissão do predicado da primeira pessoa e a substituição pelo

auxiliar da segunda, fato que no português não faria sentido, portanto é necessário

que haja uma adaptação.

No estudo das estruturas macro textuais busca-se analisar a coerência e

coesão do texto, bem como o gênero textual e seu padrão retórico. Por exemplo, se

o estudo estiver sendo feito com material impresso, antes de qualquer coisa o

tradutor procurará saber do que trata o texto: é uma carta, um documento oficial, um

texto literário? Se for um material multimídia cabe ao tradutor também verificar o seu

tipo antes de começar a traduzir, se este é um documentário, uma entrevista, ou um

filme. E se for um filme, qual o gênero? É um romance, comédia, ação, suspense?

Isso facilitará muito sua atividade na criação de um texto mais fluente.

As estratégias de fluências buscam a sintaxe linear, o sentido unívoco, a linguagem contemporânea, a consistência lexical; evitam construções não-idiomáticas, polissêmicas, arcaísmos, jargões, efeitos linguísticos que chamem a atenção para as palavras enquanto palavras que assim ganham destaque ou interrompem a identificação do leitor. (VENUTI, 2002, p. 240)

Os itens micro textuais, os quais são relacionados a questões de gramática,

léxico e partes menores do texto, deverão ser também observados. Provavelmente,

o tradutor precisará saber qual o objetivo e a região para a qual seu texto será

destinado, pois assim, utilizará o termo mais adequado para aquela situação e lugar

determinado, já que em todos os países existem termos regionais, gírias e metáforas

que podem trazer problemas futuros para um tradutor inexperiente.

Além dos regionalismos e das variações que se pode ter, de acordo com o

objetivo do texto, o tradutor pode se deparar com algumas dificuldades. Um bom

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exemplo é o caso da sentença em inglês “Cloud the issue or Clear the air?”, que é

trabalhada por Célia Magalhães (2009, p. 99-101), onde se apresenta uma

propaganda de determinada empresa petroquímica, na qual é utilizada a metáfora

com a logomarca da empresa em duas imagens, sendo uma em tempo nublado, e

outra em tempo ensolarado, fazendo referência aos efeitos do aquecimento global.

Neste caso, temos vários aspectos a ser considerados ao se traduzir a sentença,

que por ser um texto publicitário deverá passar o real objetivo, tentando não alterar a

estrutura lexical da palavra.

[...] o autor joga com a feliz coincidência do inglês ter, nesse exemplo específico, verbo e substantivo idênticos, para, com a oração Cloud the issue, ao mesmo tempo, remeter à imagem concreta da nuvem e metaforizar sobre a questão importante do efeito estufa que está sendo nublada, ou encoberta. (MAGALHÃES, 2009, p. 101)

Célia Magalhães (2009) ainda acrescenta que, se traduzíssemos a sentença

palavra por palavra, em português, poderíamos ter “Nublar a questão, ou limpar o

ar?”, mantendo, neste caso, a metáfora, porém perdendo-se o jogo sonoro e

semiótico nas palavras Cloud e Clear.

Outro exemplo dado por Magalhães (2009) são as marcações genéricas

geradas pela categoria morfológica de gênero, como nas palavras master, hysteric e

analyst, as quais podem se referir a homens ou mulheres, da mesma forma, sendo

uma difícil decisão para o tradutor definir o gênero que utilizará ao traduzir um texto

com estes termos.

A maioria dos tradutores concorda que a tradução literal é mais conveniente,

mas existem casos em que ao traduzir literalmente a sentença corre o risco de não

haver significado na língua traduzida. Heloísa Barbosa (2007) dá alguns exemplos,

como “Paul kicked the ball”, que traduzindo para o português teria um significado

palavra por palavra perfeitamente normal, ficando sujeito, verbo, artigo e

substantivo, todos adequadamente como “Paulo chutou a bola”. Porém, existem

casos que realmente não é possível fazer uma tradução literal sem perder o sentido

da frase, nesses casos é necessário optar-se pela tradução oblíqua, como no caso

da sentença “Paul kicked the bucket”, que literalmente seria “Paulo chutou o balde”,

mas basta apenas um mero conhecedor da língua inglesa para saber que esta é

uma expressão que, na verdade, quer dizer “Paulo morreu”. No entanto, para manter

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o mesmo registro da língua, é aconselhável utilizar também uma expressão

equivalente, como, por exemplo, “Paulo bateu as botas”.

Assim, sendo impossível a tradução literal, será aconselhável recorrer à tradução oblíqua, ou seja, àquela que utiliza recursos lexicais ou sintáticos diversos daqueles empregados no texto da LO (doravante TLO), quer dizer, que altera a forma, mas sem alterar o conteúdo ou a mensagem. (BARBOSA, 2007, p. 25)

Dentre muitas formas e estruturas linguísticas que se pode encontrar em um

texto, há também variações nas estratégias utilizadas para realizar a tradução.

Muitos são os modelos existentes entre os estudiosos da tradução, como a

Equivalência Formal X Dinâmica, de Nida (1964); a Tradução Direta X Oblíqua,

de Vinay e Darbelnet (1977), seguida também por Vázquez Ayora (1977); a

Tradução Parcial X Plena, Restrita X Total, Limitada X Não Limitada, Livre X

Literal, de Catford (1965); e o modelo de Tradução Semântica X Comunicativa, de

Newmark. Dentro desses, formulou-se alguns procedimentos técnicos da tradução, a

saber: Transliteração, Empréstimo, Decalque, Tradução Literal, Transposição,

Modulação, Equivalência, Adaptação, Amplificação, Explicitação, Omissão,

Compensação, Rótulo Tradutório, Definição, Paráfrase, Contração,

Reconstrução De Períodos, Reorganização, Melhorias, Dístico Tradutório E

Naturalização1.

Entre esses modelos, o que mais se aproxima da forma utilizada atualmente,

pelos profissionais na área cinematográfica, é a tradução semântica e comunicativa

(não se excetuando qualquer outra), pois permite maior acomodação do texto às

necessidades da língua traduzida de forma mais explícita; embora todos os modelos

tenham sua versão flexível de traduzir.

2.2 Possíveis rumos da tradução

Tradução... Esta que passa despercebida por muitos, em muitas das

situações na vida quotidiana, mas que está a todo o tempo, desde a infância, nos

servindo; como quando das leituras que se ouve de textos bíblicos, que por muitos

1 Modelos e procedimentos com base em: BARBOSA, Heloísa Gonçalves. Procedimentos técnicos

da tradução: uma nova proposta. 2ª ed. Campinas: Pontes, 2007, p. 58.

Page 17: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

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idiomas foram traduzidos e retraduzidos de textos hebraicos, aramaicos e gregos,

até chegar indiretamente ao português. Hoje, continua sua missão, que é a de levar

a informação e a comunicação àqueles que desconhecem algumas línguas, e que,

por ventura, venham a precisar. A tradução vem buscando novos rumos, seja nos

critérios profissionais de organização, ou na forma de traduzir.

Do latim translatione (translatio, translationis), do alemão Übersetzung, do

italiano traduzione, do inglês translation, do francês Traduction, do espanhol

Traducción - essas são apenas algumas traduções da palavra – o ato de traduzir

representa a ação de converter as diversas línguas ao redor do mundo.

Na história bíblica diz-se que a variedade de línguas surgiu com o episódio da

construção da Torre de Babel. “No mundo todo havia uma só língua, um só modo de

falar. [...] Venham, desçam e confundamos a língua que falam, para que não

entendam mais uns aos outros”2. Segundo Geir Campos (1987), o documento mais

conhecido da atividade tradutória é um fragmento de bassalto chamado Pedra de

Rosetta, encontrado nas escavações banhada por um braço do Rio Nilo.

Sabe-se também que entre os babilônios e assírios e hititas existiam organizações de escribas especializados, que escreviam em línguas diversas; sabe-se também que no Antigo Império egípcio (2778-2160 a.C.) existiu o cargo público de “intérprete-chefe”; e que na Ásia Menor circulavam ou existiam glossários bilíngues ou plurilíngues em tabuletas de terracota. (CAMPOS, 1987, p. 17)

Existem algumas características que podemos observar em relação ao ato de

traduzir. Campos (1987, p. 7) afirma que traduzir é simplesmente “[...] fazer passar,

de uma língua para outra, um texto escrito na primeira delas. Quando o texto é oral,

falado, diz-se que há „interpretação‟, e quem realiza é o „intérprete‟”.

São várias as definições de tradução, embora sempre próximas umas das

outras, algumas tendem a ser mais específicas, outras mais amplas, assim como a

definição de John Cunnison Catford (apud CAMPOS, 1987, p. 11), ao dizer que

“tradução é a substituição de material textual de uma língua por material textual

equivalente em outra”. Nessa definição, Catford não especifica se a palavra traduzir

é apenas para o texto escrito como citado no parágrafo anterior; afinal, em sentido

amplo, tanto o texto escrito quanto o texto oral será uma tradução. Aliás, além da

2 Fragmento retirado do livro de Gênesis da Bíblia: BÍBLIA. Português-inglês. Bíblia Sagrada / Hole

Bible: Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2003. Gênesis, cap. 11, vers. 1 e 7.

Page 18: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

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interpretação, a dublagem, sendo texto oral, também se configura como tradução,

apesar de que as empresas de dublagem prefiram utilizar o termo versão.

É verdade que as traduções de filmes para televisão não costumam dar os nomes dos tradutores responsáveis por tais e tantos atentados contra o próprio bom-senso; o que se ouve dizer, em geral, é que se trata de uma “versão brasileira” de tal ou qual laboratório cinematográfico especializado. (CAMPOS, 1987, p. 27)

Quando o autor fala de atentados contra o bom senso, ele se refere à má

qualidade da tradução feita por laboratórios de tradução audiovisual. Apesar de

termos bons tradutores no Brasil, normalmente as traduções para filmes são

bastante precárias, devido a uma série de fatores, como pouco tempo destinado a

fazê-la e a realização da atividade ser, muitas vezes, por tradutores inexperientes, a

custos mais baixos que os valores estabelecidos pelas normas da Associação

Brasileira de Tradutores – ABRATES.

De início, pergunta-se: como se poderia considerar a tradução? Como um estudo teórico e que está sujeito a regras rígidas e que deve ser encarado como uma técnica que se aprende nos cursos especializados, ou uma arte em que uns poucos são os afortunados capazes de bem realizá-las, sem que as tenham de submeter a teoremas linguísticos sofisticados e até herméticos? (GUIMARÃES, 2010, p. 91)

Este é um questionamento que vem sendo carregado por todos os

profissionais envolvidos nos trabalhos da área, pois muito são aqueles que praticam

a tradução sem terem necessariamente algum tipo de especialização. Obviamente,

isso vem trazendo prejuízos para aqueles que investem na carreira e se dedicam a

atuar legalmente. Além disso, a atividade de leigos na área pode vir a provocar a

criação de trabalhos mal elaborados.

Atualmente, encontram-se diversos recursos que auxiliam o tradutor como

softwares e sites, os quais também fazem traduções eletrônicas e agem como

tradutores automáticos que o usuário pode instalar no seu próprio computador e,

apenas utilizando as funções copiar/colar, obtém resultados muito rápidos, sendo

até certo ponto satisfatórios; porém, eles cometem falhas grosseiras em muitos

casos. O principal ponto falho destes softwares é não conseguirem traduzir

expressões idiomáticas, e, muitas vezes, o resultado traz vários erros de

concordância como mostra Bergmamn:

As palavras possuem uma dimensão semântica, com a manifestação de vários significados, várias vozes, articuladas

Page 19: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

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entre si e não perceptíveis quando se fala em decodificação da língua. E é exatamente essa dimensão, essa manifestação, que não é traduzida pelo tradutor automático. (BERGMANN, 2008, p. 96)

Além disso, a não observação do léxico e da gramaticalidade da frase, como

visto no tópico anterior sobre itens macro e micro textuais, pode causar erros na

interpretação de frases não equivalentes no idioma de destino. Isso só será

percebido por um tradutor experiente ou que dê bastante atenção à frase; daí a

importância de que mesmo sendo utilizados tradutores automáticos, seja feita no

mínimo uma revisão do trabalho por um profissional, para corrigir possíveis falhas.

Podemos ver isso mais claramente na frase “She’s just sixteen.” citado por

Alves (2009, p. 114) que poderia ser traduzido erroneamente como “Ela é apenas

dezesseis anos”, devido às variações do verbo to be:

Caso você não esteja atento para as relações implícitas nesse enunciado, terá provavelmente problemas em transformar o verbo to be em “ter” já que em português a relação de idade é expressa com esse verbo, ou seja, “Ela tem apenas dezesseis anos”. (ALVES, 2009, p. 114)

Apesar da facilidade encontrada hoje, a produção de textos traduzidos ainda

não é tarefa fácil, pois depende de muitos fatores; fatores estes que vão desde a

dificuldade na formação de profissionais, passando pelas dificuldades técnicas, até a

concorrência desleal de pessoas que usam a tradução apenas como uma alternativa

pra ganhar dinheiro extra. Embora muitos tradutores não tenham a devida

qualificação, utilizam o auxílio de programas de computador e Internet para suas

atividades, mesmo sabendo que apenas isto não basta para uma boa tradução.

Muito se estudou a tradução a partir da Informática (processamento automático da informação) e da Linguística, mas a conclusão a que se chegou foi que qualquer máquina só será capaz de traduzir bem se for manipulada por um bom tradutor; [...]. (CAMPOS, 1987, p. 21)

Nesse sentido, busca-se cada vez mais evoluir os métodos de tradução

disponíveis para que auxiliem no processo tradutório, tendo a tecnologia como

parceira que auxilie na atividade de traduzir. Todo equipamento é apenas criação

humana e dificilmente irá substituir o seu criador no seu trabalho, servirá sim para

facilitá-lo, principalmente quando se fala em linguagem, a qual depende de muitos

fatores intrínsecos e da cultura que a envolve.

Page 20: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

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2 O TEXTO ESCRITO E FALADO NO CINEMA

Este primeiro capítulo abordará questões referentes à linguagem utilizada no

cinema, principalmente através da legenda e da dublagem de filmes. Encontra-se

dividido em três tópicos, sendo que o primeiro, denominado “A linguagem

cinematográfica”, traz uma apresentação breve das mudanças ocorridas no cinema

com a inclusão da tradução de filmes; o segundo, intitulado “Legendagem: texto e

imagem”, trata da questão da utilização da legenda e sua fidelidade com o texto

original; já o terceiro tópico, chamado “Dublagem: imagem e fala”, traz comentários

relacionados à dublagem, mostrando algumas características técnicas da sua

produção e as dificuldades encontradas no processo tradutório, discutindo os

critérios utilizados para se aplicar uma boa tradução.

2.1 A linguagem cinematográfica

O cinema em si possui sua própria linguagem, esta se diferencia das outras

em alguns aspectos, como diz Jacques Aumont: “A fim de provar que o cinema era

de fato uma arte, era preciso dotá-lo de uma linguagem específica, diferente da

linguagem da literatura e do teatro.” (AUMONT, 2011, p. 157). Dessa forma, a então

conhecida “linguagem cinematográfica”, que encantou o mundo com o jogo de

imagens desde os tempos do cinema mudo, não demorou muito até sentir a

necessidade de ser verbalizada, fosse através de uma narração, ou mesmo através

de diálogos entre os próprios atores; e assim se fez.

Atualmente o cinema goza de uma tecnologia muito ampla na edição de

imagens e sincronização das falas dos atores; isso demonstra o grande avanço

ocorrido de alguns anos para cá, pois aquilo que antes era um grande desafio para

os produtores, dubladores e equipe de som, hoje pode ser feito de uma forma bem

mais rápida e fácil, assim como diz Mary Ann Doane:

A tecnologia padroniza a relação através do desenvolvimento do sincronizador, a Moviola, que é a mesa de montagem. Os aparelhos de mixagem permitem um grande controle sobre o estabelecimento de relações entre diálogos, música, efeitos sonoros. (DOANE, 1995, p. 459)

Page 21: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

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Esses avanços favoreceram muito, tanto a montagem de som na gravação

dos diálogos originais, quanto ao sincronizar uma dublagem em outro idioma, por

exemplo. Hoje tem se feito exibição de filmes e documentários com alta qualidade

de som e imagem, e suas traduções são realizadas em diversos idiomas, permitindo

que esses filmes não só sejam vistos no país onde foram criados, mas também

ultrapassem grandes fronteiras linguísticas; como é o exemplo de filmes japoneses

que são traduzidos para o português, considerando que são línguas totalmente

distintas.

Segundo Bergmann (2008), as linguagens audiovisuais têm como

característica a união de pelo menos dois tipos de código: o código linguístico – oral

e/ou escrito – e o código visual – verbal e/ou icônico. Portanto, essas linguagens são

um tanto mais complexas do que aquelas que possuem apenas o código linguístico,

como é o caso de textos escritos. Dessa forma, ao se traduzir filmes devem ser

observados os pontos de vista semiótico, narrativo e comunicativo. Sendo que, na

maioria das vezes, normalmente o código visual permanece inalterado, aplicando-se

a tradução apenas ao código linguístico inserido no texto.

A linguagem cinematográfica (visual) demonstra suas características como

língua, já que ela, por si própria, é capaz de transmitir uma informação através da

imagem, unindo-se com a linguagem oral e/ou escrita, e tornando-se multilíngue a

partir da tradução; se considerarmos o ponto de vista das muitas línguas que a

imagem pode ser lida e traduzida.

Infelizmente, a tradução de filmes ainda é pouco valorizada no Brasil,

principalmente no meio acadêmico; paulatinamente ela vem encontrando seu

espaço em textos teóricos. Porém, ainda há muito que avançar, pois é um tanto

difícil encontrar trabalhos publicados na área.

De acordo com Jorge Diaz Cintas, em uma entrevista3 cedida a Eliana P. C.

Franco (UFBA) e a Vera Lúcia Santiago Araújo (UECE), historicamente os

profissionais que trabalham com TAV vêm sendo formados em empresas

particulares que necessitam da mão de obra especializada, e, devido à falta de

profissionais treinados em centros educacionais, se vêem na necessidade de treinar

pessoas que ainda não possuem qualificação necessária para a execução da tarefa.

3 CINTAS, Jorge Diaz. Entrevista com Jorge Diaz Cintas. Disponível em: <Disponível em:

http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/issue/view/439>. Acesso em: 16 de Novembro de 2013. Entrevista concedida a Eliana P. C. Franco (UFBA); Vera Lúcia Santiago Araújo (UECE).

Page 22: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

22

Portanto, com o crescimento da indústria cinematográfica, buscam-se

profissionais especializados que trabalhem na conversão de filmes e vídeos de um

idioma para outro, seja para exibição pública, ou doméstica; e, consequentemente,

faz-se necessária a discussão teórica do assunto, de maneira a formar ideias

contundentes que mostrem os melhores caminhos para se trabalhar a tradução no

cinema como um todo.

2.2 Legendagem: texto e imagem

Ao rever a história do cinema podemos perceber sua evolução, e sua

influência na vida das pessoas: o cinema sem áudio e sem legenda, sem áudio com

legenda, e o cinema falado, com ou sem legenda. De todas essas formas, a que

esteve presente por mais tempo, e ainda está até hoje, é a exibição com legenda.

Sendo importante, em muitos casos, nos filmes nacionais, mas, principalmente,

quando se trata de filmes estrangeiros.

Nessa modalidade de tradução, um texto escrito é apresentado de forma simultânea à fala no texto original, eles devem estar em perfeita sincronia. À unidade desse processo se dá o nome de legenda, que deve ser clara, sem desviar a atenção do espectador daquilo que ele está assistindo. (BERGMANN, 2008, p. 98)

A tradução audiovisual em si pode ser dividida em três variedades: vozes

sobrepostas – que é mais frequentemente utilizada para documentários, onde a

tradução oral se sobrepõe ao texto original; a dublagem - que é a mais complexa,

consistindo em substituir todo o texto original pelo texto oral da língua-alvo; e a

legendagem (ou legendação) – que consiste em apresentar o texto escrito da

tradução simultaneamente ao texto original, sendo que, as duas últimas são as mais

comuns em filmes.

A legendagem é anterior à fala: o filme já utilizava um suporte textual quando ainda não havia meios técnicos para reproduzir o som e os diálogos dos personagens. Portanto desde os primórdios do cinema, criou-se familiaridade com a legenda. (GOROVITZ, 2006, p. 64)

A legenda permite ao espectador acompanhar as falas dos personagens em

seu idioma nativo, ao mesmo tempo em que pode ler a tradução dos diálogos

realizados pelos mesmos. Isso permite uma melhor identificação com os atores, já

que dispensa a utilização de outra voz que não seja a original, além de tornar mais

Page 23: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

23

fácil a compreensão de pequenos gestos e expressões esboçados pelos

personagens; pois quando se substitui o texto oral original pelo texto oral do idioma-

alvo, alteram-se, em alguns aspectos, as falas, para obter uma melhor sincronia com

as imagens que aparecem simultaneamente na tela.

Diversos critérios devem ser seguidos para que se tenha um bom efeito na

imagem: a legenda não deve ocupar muito espaço para não sobrepô-la, porém, não

deve ser muito pequena, pois dificultaria a leitura; normalmente é colocada na parte

inferior da tela; além de ser observado também o tempo de exibição, pois não pode

ultrapassar a cena determinada, nem tampouco a fala do personagem; no entanto,

se for muito rápido dificultará a leitura por parte do leitor-expectador, como afirma

Diana Sánchez:

Subtitles are spotted to coincide with the precise frame where a speaker begins and finishes talking, with the occasional adjustment of a few frames to respect a film‟s takes or allow more reading time, take change permitting. This is what the audience expects.

4. (SÁNCHEZ, 2004, p. 13)

Atualmente o cinema brasileiro utiliza filmes legendados em suas exibições

apenas para jovens e adultos, já que, seria difícil a leitura rápida dos textos por

crianças, considerando que, cada unidade de texto precisa acompanhar as imagens

exibidas na tela de projeção. Além dos cinemas, a legenda também é bastante

utilizada por quem tem interesse em analisar critérios técnicos, e para uma melhor

percepção da atuação dos atores no filme.

Juliana Bergmann (2008) acrescenta que, do ponto de vista técnico, a

legenda ocupa, em média, duas linhas, cada linha poderá ter de 28 a 38 caracteres.

Isso pode variar um pouco; normalmente será maior para vídeo, e menor para tela

de cinema. Sendo que, pode ser inserida pelos processos fotoquímico, ótico,

eletrônico, e pelo processo a laser. Este último é o mais utilizado atualmente, onde

as legendas são escritas diretamente sobre o filme por um raio laser controlado por

computador.

A legendagem é a variedade da tradução audiovisual mais acessível

financeiramente, já que necessita apenas de um tradutor e um técnico que fará a

sincronização. Com estes profissionais são realizadas a visualização global do filme,

4 As legendas são marcadas para coincidir com o quadro exato onde um falante começa e termina a

fala, com o ajuste ocasional de alguns quadros para respeitar as tomadas do filme ou permitir maior tempo de leitura, permitindo alteração. Isto é o que o público espera. [Tradução nossa]

Page 24: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

24

a leitura e tomada de notas do texto original, composição de pauta do roteiro e

divisão do roteiro em unidades de tradução, a tradução propriamente, a

sincronização, e, finalmente, a edição das legendas (BERGMANN, 2008).

Há algum tempo atrás a liberdade de se escolher entre assistir um filme

legendado, dublado, ou nas duas versões simultaneamente, era mais difícil, pois,

além de não existir esse recurso nos antigos aparelhos, a forma de se aplicar a

legenda não permitia a flexibilidade que se encontra hoje nos aparelhos de exibição

de vídeo. Ao assistir um filme em um aparelho de DVD, por exemplo, é possível

escolher a forma de ver tal filme, tanto antes, quanto durante a exibição das

imagens; isso apenas com um pequeno click no controle remoto.

Apesar da facilidade técnica que se tem atualmente na aplicação, não se

pode dizer que a legendagem ou legendação é um processo fácil, pois além dos

critérios técnicos de sincronização e edição, existem também aspectos relacionados

à linguagem que o tradutor necessita dominar, para que seja feita uma boa tradução

do texto a ser legendado.

Ele [o tradutor] deve compreender não apenas o conteúdo óbvio da mensagem, mas também as sutilezas de significado, os valores emotivos significativos das palavras e das características estilísticas que determinam o “sabor e a sensação” da mensagem. (...) Em outras palavras, além de um conhecimento nas duas ou mais línguas envolvidas no processo de tradução, o tradutor deve estar muito bem familiarizado com o assunto abordado (NIDA, 1964 apud GENTZLER, 2009, p. 84).

Sabendo o quão complexa é uma língua, nenhum tradutor que se preze

arriscaria fazer uma tradução sem um conhecimento avançado, tanto da língua de

origem quanto da língua-alvo, pois estaria apostando na possibilidade de cometer

equívocos na tradução.

O conhecimento de uma língua não se resume exclusivamente ao saber falar,

mas também envolve valores culturais; além de ser necessário ao tradutor saber

sobre o assunto que está sendo abordado. É imprescindível também que esse

profissional faça a visualização global do filme e a leitura do texto original, para que

este esteja familiarizado com cada cena, e consequentemente compreenda cada

detalhe, cada sensação, e cada emoção esboçada pelo personagem, já que a

mensagem expressa por ele deve ser transferida ao outro idioma, na forma mais fiel

possível.

Page 25: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

25

A busca da fidelidade no texto, muitas vezes, é prejudicada pela velocidade

da fala, considerando que o texto escrito demanda um tempo maior de exibição que

o texto falado. Então, o tradutor deverá resumir ao máximo a escrita sem, no

entanto, perder o sentido do diálogo. Para isso ele deverá estar sempre buscando

adaptar o texto com frases curtas e sinônimos que o permita ser bem sucinto, sem

omitir as informações necessárias à clara compreensão da imagem exposta.

De certa forma, a tarefa do profissional acaba sendo condicionada às

necessidades estéticas do filme, aliando-se, em alguns casos, ao seu pouco

conhecimento da cultura de origem do filme, e às características da linguagem oral

que nem sempre podem ser representadas por textos escritos, dificultando assim, a

compreensão do espectador ao acompanhar as falas. “Entretanto, no ato da

recepção, esse espectador reconstrói o diálogo a partir de um misto de situações

que fazem parte da sua vivência e de progressivas familiarizações, restaurando as

inadequações e carências da mensagem legendada” (GOROVITZ, 2006, p. 23).

O cinema está sempre buscando melhorar e adaptar-se à expectativa do

público; junto a isso, a tradução dos filmes tende, cada vez mais, a se tornar melhor

e mais fiel às culturas envolvidas, de forma que não haja divergências no

entendimento do conteúdo mostrado. Mesmo com alguns percalços encontrados

pelo tradutor, ainda assim é possível produzir legendas de boa qualidade, sem que

se perca o sentido e a qualidade do produto final apresentado ao espectador.

2.3 Dublagem: imagem e fala

A dublagem é a modalidade mais utilizada atualmente no Brasil, tanto para o

livre comércio de DVD quanto para exibição nos canais de televisão, pois permite

uma maior acessibilidade na sua apresentação, já que, através desta, qualquer

pessoa que possua boa visão e audição seria capaz de acompanhar e compreender

o filme, não necessitando fazer leitura e permitindo também que pessoas em

qualquer faixa-etária possam assistir.

No entanto, pouco se investe na formação de novos profissionais. Aqueles

que conseguem uma oportunidade buscam empresas particulares para se

profissionalizar, ou buscam um aprendizado autônomo, já que pouquíssimas

faculdades oferecem cursos de formação para a área de tradução, como afirma

Jorge Diaz Cintas:

Page 26: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

26

Only recently have some scholars started to direct their attention toward translation, as evidenced by the introduction of modules in dubbling and subtitling, not only in translation degree but also in other such as film and Television Studies Journalism and Media Studies.

5 (CINTAS, 2004, p. 23)

Quando se fala em filmes dublados remete-se imediatamente aos filmes

domésticos, normalmente encontrados nas locadoras, já que estão naturalmente

difundidos no nosso dia-a-dia. No cinema, eles são restritos apenas a filmes infantis,

devido a certas especificidades. A tradução da dublagem, apesar de ser bastante

complexa, é a mais comum entre todas.

É o tipo de tradução que requer maior estrutura de todas as exigidas pelas demais modalidades e conta com diferentes profissionais envolvidos. Além do tradutor, trabalham também o ajustador, o diretor de dublagem, os técnicos de som, o assessor linguístico e os atores (BERGMANN, 2008, p. 99).

Esse tipo de tradução audiovisual exige uma grande equipe, na sua produção,

e equipamentos bem mais sofisticados, sendo necessário gravar as falas em estúdio

apropriado; o que, consequentemente, traz custos mais elevados em relação a

outros tipos como a legenda, por exemplo, mas por ser utilizado por toda população,

em geral, tem retorno financeiro garantido.

Ao tradutor é reduzida a sensação de responsabilidade pelo trabalho, pois o

texto traduzido pode ser modificado diversas vezes durante o processo, de forma a

adaptá-lo às passagens de cena, ao ajuste de som, à gravação de voz dos atores,

etc. Além disso, Bergman (2008) também cita três processos de sincronia que são

utilizados: a sincronia fonética, que é a adequação da tradução aos movimentos da

boca do ator no momento da fala; a sincronia quinésica, que é a adequação aos

movimentos corporais no momento em que o personagem se expressa; e por fim, a

isocronia, que é a adequação da tradução à duração temporal do enunciado do

ator.

Quando se trata de transferir o significado de palavras entre idiomas, deve-se

ter sempre o máximo de cautela possível, pois são muitas as dificuldades

encontradas. Para o tradutor do texto a ser dublado, além da adaptação, da

sincronia das falas, etc., ainda resta a dificuldade de compreender falas que podem

5 Apenas recentemente alguns estudiosos começaram a direcionar sua atenção para a tradução,

assim como evidenciado nos módulos voltados a dublagem e legendagem, não somente em grau de tradução, mas também em outros como filmes e estudos jornalísticos da televisão, e estudos de mídia. [Tradução nossa]

Page 27: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

27

trazer uma linguagem diferente do padrão normativo da língua. Por exemplo: quando

o personagem utiliza gírias na fala, ou quando usa um dialeto diferente daquele que

normalmente é usado no país.

Um bom exemplo disso está na fala de Ewandro Magalhães ao contar sobre

dificuldades que passou ao tentar se comunicar na Alemanha, tendo plena

convicção que dominava bem o idioma daquele país, porém mal conseguia

compreender o que era dito pelos nativos de determinada região: “Essa dificuldade

linguística foi só o começo de um aprendizado que logo deixou evidente uma coisa:

o idioma que se ensina pelo mundo afora está longe de ser a língua falada nas ruas

dos diferentes países” (MAGALHÃES, 2007, p. 124).

Diante disso, percebemos o quanto ainda é difícil se trabalhar com tradução,

pois muitas são as barreiras que se encontram no caminho, principalmente quando

se fala em tradução audiovisual, mais especificamente a dublagem, por exigir uma

complexidade maior. No entanto, com um conhecimento razoável e a vontade de

fazer sempre melhores traduções, é possível aprimorá-las cada vez mais.

Page 28: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

28

3 ANÁLISE DA TRADUÇÃO NO FILME: “THE PURSUIT OF HAPPYNESS”

Este capítulo vem trazendo uma breve análise da tradução cinematográfica

com base no filme “The pursuit of happyness”. Nele serão apresentados dois

tópicos, sendo que o primeiro se encontra intitulado “O diretor e sua obra”, o qual

vem mostrando o histórico do diretor, bem como suas obras direcionadas ao cinema,

além de trazer dados relevantes do filme; já no segundo tópico, denominado “À

procura da fidelidade”, tem-se a análise propriamente dita, pela comparação da fala

original em língua estrangeira com a versão em língua portuguesa, onde serão

mostradas as mudanças decorrentes da adaptação do texto no momento da

conversão, bem como a fidelidade ao texto de origem.

3.1 O diretor e sua obra

Gabriele Muccino nasceu em maio de 1967, na Itália. Hoje, com 46 anos de

idade, já teve participação em diversos filmes do cinema italiano e mundial. Como

diretor, deixou sua marca em “Para Sempre na Minha Vida” (1999), “O Último Beijo”

(2001), “No Limite das Emoções” (2003), “À Procura da Felicidade” (2006), “Sete

Vidas” (2008), “Beije-me Outra Vez” (2009), e mais recentemente, em “Um Bom

Partido”, lançado no ano passado. 6 Além disso, teve participação em outros filmes

também como produtor e/ou roteirista.

Com a realização dessa obra, o diretor italiano mostra para o mundo uma

história que veio a se tornar um dos grandes sucessos de Hollywood. Um filme

baseado na história real bibliografada de Christopher Paul Gardner, um homem que

enfrentou diversos problemas na vida com a separação de sua esposa, além de

sofrer dificuldades financeiras após investir muito dinheiro na compra de um produto,

que, posteriormente, veio a lhe trazer prejuízos devido ao alto custo de mercado. No

entanto ele resistiu e, mesmo diante de todos esses problemas, criou seu filho

6 Dados sobre o diretor podem ser encontrados online em: ADOROCINEMA. Gabriele Muccino.

Disponível em: <http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-32370/>. Acessado em: 22 de novembro de 2013.

Page 29: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

29

sozinho e tornou-se um dos maiores investidores da bolsa de valores em Wall

Street.

Especificamente o filme “À procura da Felicidade”, que tem como título

original “The Pursuit of Happyness”, foi indicado em 2007 ao Oscar de melhor ator,

com Will Smith; melhor canção, com a música “A Father’s Way”; e indicado também

ao Globo de Ouro7 como melhor drama; além de ganhar o prêmio de melhor

revelação com o ator mirim Jaden Smith, filho de Will Smith, pela MTV. Participaram

da produção do filme: o próprio Christopher P. Gardner, personagem real da trama,

como produtor associado; o ator Will Smith, juntamente com Todd Black, Jason

Blumenthal, Steve Tish e James Lassiter, como produtores; e Louis D‟Esposito,

Teddy Zee, Mark Clayman e David Alper, como produtores executivos; havendo

ainda a participação de Steve Conrad como roteirista8.

O longa-metragem foi produzido nos Estados Unidos em 2006 e lançado no

Brasil em fevereiro de 2007, pela Columbia Pictures do Brasil, empresa que faz

parte da Sony Corporation. Sua versão brasileira foi feita pela Herbert Richers,

empresa brasileira de dublagem e legendagem fundada em 1950, que possuía um

dos maiores estúdios da América Latina, chegando a dominar 70% do mercado

nacional. “A dublagem, como a conhecemos hoje em dia, foi introduzida pela Herbert

Richers em 1960, com a ajuda de Walt Disney”.9 Mas, infelizmente, depois da morte

de seu fundador, Herbert, em 200910, foi abandonada e parou suas atividades

recentemente.

7 THE PURSUIT of happyness. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,

2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=The_Pursuit_of_Happyness&oldid=37030145>. Acesso em: 22 de novembro de 2013. 8 CORPORATION, Sony. The pursuit of happiness. Disponível em:

<http://www.sonypictures.com/movies/thepursuitofhappyness/>. Acessado em: 22 de novembro de 2013. 9 RICHERS, Herbert. Versão Brasileira. Disponível em:

<http://dezoito.com/herbertrichers/ind_2.html>. Acesso em: 18 de novembro de 2013. 10

BRISO, Caio Barreto. O segundo adeus a Herbert Richers. Veja Online. São Paulo. 24 de Out. 2012. Disponível em: <http://vejario.abril.com.br/edicao-da-semana/herbert-richers-707826.shtml>. Acesso em: 18 de novembro de 2013.

Page 30: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

30

3.2 À procura da fidelidade

Um dos grandes desafios para qualquer tradutor é chegar a uma tradução fiel,

pois é difícil encontrar o equilíbrio perfeito entre duas ou mais línguas. O termo

fidelidade, normalmente se refere a não alteração das características do texto do

qual se traduz; ou seja, se um tradutor deseja ser fiel à língua de origem, ele deverá

ser o mais cauteloso possível para não modificar aspectos importantes durante a

tradução, sendo, às vezes, colocado em situações onde terá que escolher entre

utilizar um termo que faria maior referência à língua de origem e outro que seria

referente à língua-alvo.

O cinema tem a má fama de ser uma área que utiliza traduções não muito

boas, pois os profissionais que trabalham na área, de certa forma, são obrigados a

fazer trabalhos em curtos períodos de tempo, trabalhos estes que posteriormente

podem sofrer alteração na sincronização e na adequação com as imagens,

causando, na maioria das vezes, traduções de má qualidade.

Famoso é o caso daquele filme de televisão em que a polícia invade a residência de um dos implicados na trama criminosa, e um dos policiais abre com fúria a porta que estava fechada; então o chefe da patrulha pergunta se havia alguém lá dentro, e o policial responde: “Pessoa!” (Era um filme francês, e o policial teria respondido, no original, “personne” – que se pode traduzir como “pessoa” literalmente, mas no caso a tradução correta seria “ninguém”...). (CAMPOS, 1987, p. 26)

E isso não é um caso isolado, pois muitos filmes brasileiros possuem

traduções semelhantes, principalmente quando se trata de legendas; apesar de que

as dublagens são consideradas mais infiéis, por sua produção passar por diversas

etapas, e acabar sendo alterada diversas vezes. No entanto, as dublagens

normalmente são adaptadas com mais atenção por ser um item que será observado

por qualquer pessoa que esteja assistindo, diretamente ou não, ao filme. Já as

legendas envolvem um processo mais simples, e normalmente são feitas por

profissionais inexperientes, que cometem erros bem mais frequentes.

Um aspecto fundamental na tradução audiovisual, na dublagem

principalmente, é a importância de ser feita uma tradução fluente, partindo do

suposto de que quem vai assistir não conhece a língua de origem e precisa captar

bem cada cena exposta no filme, pois o objetivo aqui é domesticar o texto, de forma

Page 31: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

31

que o espectador se sinta à vontade e não desvie sua atenção da sequência das

falas do personagem.

Na tradução fluente, a ênfase é posta na familiaridade, a ponto de tornar a linguagem praticamente invisível. Isso garante que o texto estrangeiro não somente atingirá o maior público doméstico possível, mas que o texto sofrerá um vasto processo de domesticação, uma inscrição com valores culturais e políticos predominantes na situação doméstica – incluindo aqueles valores com base nos quais a cultura estrangeira é representada. (Venuti, 2002, p. 240)

Os processos de dublagem e legendagem apresentam características que se

diferenciam um do outro, apesar de ambas serem versões do original, como em

qualquer tradução. A tabela abaixo mostra alguns trechos da versão brasileira

realizada para o filme “The pursuit o happyness”; assim podemos perceber mais

detalhadamente como foram feitas as escolhas do tradutor, ou do técnico em

tradução, ao fazer a versão do filme para exibição no Brasil:

Tabela 1 - Adaptação do texto estrangeiro

Texto Original Tempo

Excuse-me, when is... Ah... somebody is gona clear this all? And “y”...

The “y”, we talked about this, is an “i”.

00:04:30

Texto Dublado Tempo

Quando... Quando é que alguém vai apagar isso aqui? E esse “s”, eu

tinha avisado, é com “c”, felicidade é com “c” e não com “s”.

00:04:30

Texto Legendado Tempo

Desculpe. Quando alguém vai limpar isto? Foi assim que a construíram e

a chamam agora. E o “y”. Me refiro a isto. É com “i”. “Felicidade” é com

“I” e não com “Y”.

00:04:28

Observa-se que, apesar de não se distanciarem do sentido original, há uma

diferenciação das falas nas três formas do texto. Na versão em inglês o

personagem utiliza a expressão “Excuse-me”, que pode ser traduzido literalmente

como “Desculpe” ou “Com licença”, mas preferiu-se utilizar a palavra “Quando” na

realização da dublagem, o que não alterou o sentido da sentença completa, mas que

possui significado diferente. Já na legenda, preferiu-se utilizar a tradução literal. Ao

Page 32: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

32

observar o restante da sentença, percebe-se que o dublador adapta a letra citada

pelo personagem, pois no texto original ele se refere a “y” na palavra “happyness”

escrita na parede. Ao dizer que está escrito errado, na versão dublada, ele utiliza a

letra “c”, se referindo à palavra portuguesa “felicidade”; já na legenda, optou-se por

manter o “y” que também serviu, mas é difícil imaginar que alguém trocaria “i” por “y”

em “felicidade” no português, da mesma forma com ouve a troca em “happiness” do

inglês.

As traduções para filmes costumam ser mais livres, pois o mais importante

nesses casos não é o significado ao “pé da letra” das palavras, mas sim a

mensagem transmitida. Por isso, em muitos casos, são feitas alterações que não

seriam permitidas se fosse um documento formal; embora essa liberdade abra

portas para alterações que são realmente errôneas. Pois, por parecer mais fácil,

muitos acabam fazendo uso de palavras que aparentemente tornariam o texto mais

comunicativo, porém produzem significado bem diferente do esperado. Afinal a

língua pode “pregar peças” para quem não a conhece bem. “E não adianta buscar

apoio em sua própria cultura, porque a lógica pode ser invertida. Absolutelly, em

inglês, quer dizer sim, mas absolutamente, no Brasil, quer dizer não” (MAGALHÃES,

2007, P. 126).

Em “À procura da felicidade” as legendas demonstram maior fidelidade à

estrutura do texto, optando-se sempre por utilizar uma gramática semelhante à

estrutura da Língua Inglesa; fato que não se observa na dublagem, a qual segue

uma tradução mais domesticadora, como nos exemplos a seguir:

Tabela 2 – Tradução com fidelidade ou não fidelidade ao texto original

Texto Original Tempo

This is part of my life story; this part is called: waiting the bus.

00:05:01

Texto Dublado Tempo

Isso faz parte da história da minha vida. Essa parte se chama: pegar o

ônibus.

00:05:01

Texto Legendado Tempo

Isso é parte da história da minha vida. Esta parte se chama: subindo no

ônibus.

00:04:58

Page 33: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

33

A primeira frase da sentença em inglês utiliza o verbo “to be” (ser/está) no

exemplo acima, verbo adotado também na legenda em português, tornando-a

exatamente igual ao original; já na dublagem foi utilizado o verbo “fazer” (“to do”, em

inglês), o que na verdade, não alterou o sentido da frase e está perfeitamente

compreensível. Porém na segunda frase, cada texto utiliza um verbo diferente,

sendo que o original utiliza o verbo “to wait” (esperar, em português); a dublagem foi

feita com o verbo “pegar”; e a legenda utiliza o verbo “subir”. Ou seja, cada tradução

realizada utilizou um verbo diferente, sendo perfeitamente possível o uso apenas da

palavra “waiting” como “esperando” sem alterar o sentido real da sentença, mas nas

duas versões preferiu-se substituir por outra. Apesar de está compreensível, pode-

se considerar essa alteração totalmente desnecessária.

Algumas vezes a mudança do texto pelo tradutor se faz necessária, e ele

precisará encontrar uma frase equivalente no idioma de destino. Percebemos isso

em casos como gírias e expressões não formais. Vejamos agora um exemplo em

que o personagem utiliza uma expressão difícil de traduzir:

Tabela 3 - Adaptação e substituição do texto estrangeiro

Texto Original Tempo

How are you doing? 01:28:38

Texto Dublado Tempo

Como você está? 01:28:38

Texto Legendado Tempo

E você? 01:28:37

Esta expressão traduzida literalmente ficaria algo como: “Como está você

fazendo?”; e mesmo invertendo a posição do verbo com o sujeito, que seria o ideal

em estruturas semelhantes, na tradução do inglês para o português, ainda ficaria

“Como você está fazendo?”. Ou seja, neste trecho precisaria utilizar uma técnica

especial para conseguir um equivalente, que poderia ser “Como estão as coisas?”,

já que se trata de uma expressão não formal. Na dublagem, omitiu-se o último verbo

e inverteu-se a posição do verbo com sujeito, preferindo-se assim a substituição por

uma expressão formal, mudando o contexto do diálogo. Já na legenda omitiu-se

praticamente toda a frase, iniciando a fala do personagem anterior com um

conectivo, que também havia feito a mesma pergunta, e mantendo-se o sujeito.

Page 34: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

34

Em relação ao tempo de cada fala, a dublagem cumpriu dignamente com o

início de cada uma delas, não atrasando nem adiantando o tempo; percebe-se

apenas alguma discordância no decorrer da sentença, o que é normal, considerando

que o inglês é mais compacto que o português. No caso da legenda, iniciou-se um

ou dois segundos antes da fala, o que também é esperado, já que, por ser um texto

fixo e que deverá ser lido, necessita de um tempo a mais de exibição na tela.

Uma tradução não é vista como um texto independente, interpondo diferenças linguísticas e literárias específicas da cultura-alvo, acrescentadas ao texto estrangeiro para torná-la inteligível nessa cultura e as quais o autor estrangeiro não preveniu nem a escolheu. (VENUTI, 2002, p. 101)

Ao criar o texto, o autor não imagina em qual idioma este será traduzido,

portanto não pensará em utilizar termos fáceis de traduzir. Por isso, quando a

estrutura das línguas for parecida o ato tradutório poderá ser basicamente uma

tradução literal. Mas, se por ventura forem línguas distantes estruturalmente, o texto

precisará ser praticamente recriado, não modificando o sentido das sentenças,

obviamente; porém, as palavras utilizadas poderão ter variações de sentido, que na

língua de origem não tinha, e a ordem das palavras serem totalmente alteradas.

Isso não faz com que a tradução se torne outro texto, já que ela depende do

original para existir. No entanto, haverá a possibilidade de escolha por parte do

tradutor; se este fará uma tradução mais próxima do original ou se, tenha que se

distanciar um pouco da sua fidelidade à procura de um texto mais claro para o leitor

e/ou espectador ao qual se destina.

Page 35: Monografia de Bonifácio Carvalho Santos

35

CONCLUSÃO

A tarefa de traduzir é, sem dúvida alguma, uma atividade de grande

importância para a sociedade em que vivemos. Em um mundo em que as relações

internacionais estão a todo vapor, sendo estabelecidas por todos os países,

independentemente do idioma que fala, a tradução permite o acesso dos indivíduos

a outras culturas.

A partir da análise realizada neste trabalho, conclui-se que, a tradução

audiovisual nos dias de hoje, tem sido feita seguindo algumas especificidades,

utilizando-se da tecnologia disponível atualmente, e fugindo na maioria das vezes,

dos critérios de fidelidade seguido em traduções voltadas para textos teóricos, por

exemplo; embora não deixe a obrigatoriedade se ser feita de forma consciente,

através de técnicas e estratégias que possibilite ao tradutor fazer um bom trabalho.

Independentemente do uso, ou não, dos recursos multimídia.

Considerando a análise feita no filme pudemos ter uma noção básica de como

foram realizadas a dublagem e a legenda em “À procura da Felicidade”. Vale

ressaltar que estas foram apenas seleções de trechos que nos permitiram ver mais

detalhadamente as modificações ocorridas na tradução. No geral, as falas no filme

foram muito bem traduzidas, e é claro, teremos sempre trechos mais fáceis, outros

mais difíceis; assim como, filmes mais fáceis, outros mais difíceis de traduzir.

Mesmo com a expectativa de como será feita no futuro, podemos reconhecer

a importância da tradução no ontem, no hoje, e sabemos que continuará sendo

também nos dias que se seguem. Com o avanço da tecnologia, pode-se fazê-las

cada vez mais rápida e eficientemente, com tradutores automáticos auxiliando o

trabalho humano, mas não o substituindo. Permite também que outras pessoas

possam fazer traduções simples, sem ter necessariamente que procurar

alfabeticamente cada palavra em dicionário impresso, pois a tendência maior é de

tornar o processo mais simples e fácil para os usuários desses sistemas.

Através do ato de traduzir, mantemos contato com línguas estrangeiras,

permitindo o conhecimento de novos povos e culturas, das mais distintas; seja

através de um livro, de documentos, da música e dos filmes que hoje assistimos.

Filmes estes, muitas vezes, aparentemente gravados ali na cidade vizinha, mas que

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passou por um longo processo até chegar às nossas casas e cinemas, como se

estivessem em nosso próprio idioma.

Por meio dessas produções cinematográficas, passamos muitas tardes de

diversão nos cinemas, ou mesmo em casa; e marcamos encontros com pessoas,

com a boa e velha pipoca ao lado, para dar um sabor especial a esses momentos.

Isso só é possível porque temos ao nosso dispor esse profissional chamado

tradutor, e toda uma equipe de técnicos, ajustador, diretor de dublagem, assessor

linguístico e os atores para realizar a conversão dos textos estrangeiros para o

nosso idioma. Assim não precisamos aprender outra língua para podermos assistir

aos filmes norte-americanos, franceses, ingleses, japoneses, e seja lá qual for o país

de origem dos seus criadores, com a tranquilidade de termos o áudio ou a legenda

em nossa própria língua.

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