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Auto da Barca do Inferno – cena a cena Madalena Fernandes ESPAN 2012-13

Auto da Barca do Inferno - cena a cena

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Page 1: Auto da Barca do Inferno - cena a cena

Auto da Barca do Inferno – cena a

cena

Madalena FernandesESPAN 2012-13

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No começo do Auto, o Anjo divide o palco com o Diabo e o seu companheiro. Os dois últimos estão muito eufóricos, enquanto realizam os preparativos da sua barca, pois sabem que ela partirá repleta de almas. 

Cena introdutória

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A 1ª alma a chegar é o Fidalgo. Traz consigo um manto mui comprido (símbolo da vaidade) e vem acompanhado por um pajem (símbolo da sua tirania e da exploração dos mais fracos) que carrega uma cadeira (que herdou do seu pai – símbolo do seu estatuto social (a nobreza) e do seu poder).

Argumentos de Defesa:-Barca do Inferno é desagradável.-Tem alguém na Terra a rezar por ele.-É “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu.-É nobre e importante.

Acusações:-Ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém.-Ter sido tirano para com o povo.-Ser muito vaidoso.-Desprezava o povo.

Percurso cénico:-Barca do Diabo→ →Barca do Diabo𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜

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Símbolos cénicosHá uma relação entre os símbolos cénicos que cada personagem transporta consigo e os motivos da condenação, pois esses símbolos representam, precisamente, a atividade, a condição ou a característica que está na origem da condenação (ou da salvação, no caso dos Cavaleiros).

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O segundo personagem que sofre julgamento é o onzeneiro ambicioso. Ao chegar à barca do Inferno, o Diabo chama-o de “meu parente”, como se fossem membros da mesma família.Esta personagem pertence à burguesia.

Símbolo cénico:-bolsão: representa o dinheiro.

Argumentos de defesa:-ter morrido sem esperar-não ter tido tempo de “apanhar” mais dinheiro. Esta queixa mostra que, para esta personagem, o dinheiro era importante-jura ter o bolsão vazio-precisa de ir à Terra para ir buscar mais dinheiro (para comprar o Paraíso).

Argumentos de acusação:- leva um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro – a ganância;-ser avarento.

Percurso cénico:-Barca do Diabo→ →Barca do Diabo𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜

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A terceira personagem a entrar é o Parvo (Joane), que conversa com o Diabo, insultando-se um ao outro. Esta personagem pertence ao povo (uma pessoa pobre de espírito).

Símbolo cénico:Não traz, porque os símbolos cénicos estão relacionados com a vida Terrena e os pecados cometidos. O Parvo não tem qualquer tipo de pecados - não agiu com maldade.

Argumentos de defesa:Tudo o que fez foi sem maldade e é simples. “Quem és tu? / Samica alguém”.

Percurso cénico:Fica no caís onde assiste e comenta o desfile das outras personagens – irá funcionar como advogado de acusação, chegando mesmo a substituir o Anjo. No fim, juntamente com os Quatro Cavaleiros, vai para a Barca da Glória.

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A quarta personagem é um sapateiro, João Antão, que vem carregado de formas. Esta personagem pertence ao povo (artesão).

Símbolo cénico:- avental: simboliza a profissão;- carregado de formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e os seus pecados.

Argumentos de defesa: (práticas religiosas)- rezava e ia à missa (o fidalgo usou a mesma defesa)- fazia ofertas à igreja- confessava-se e comungava- fez todas as práticas religiosas.

Argumentos de acusação:- roubava- enganava- religião mal praticada.

Percurso cénico:-Barca do Diabo→ →Barca do Diabo𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜

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O Frade é a quinta personagem a apresentar-se perante as barcas do Inferno e da Glória. Entra acompanhado por uma "Moça“. Traz consigo um "broquel", ou seja um escudo, uma espada e um casaco debaixo do capelo. A entrada do Frade em cena é um excelente exemplo de cómico de situação, pois entra a cantar e a dançar.Esta personagem pertence ao Clero.

Símbolo cénico:Moça; espada, escudo; capacete e hábito.

Argumentos de defesa: - O seu estatuto (Frade) e o facto de ter rezado muito na sua vida.

Argumentos de acusação:– Ser mundano e não cumprir os votos de castidade e de pobreza;

Percurso cénico:-Barca do Diabo→ →Barca do Diabo𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜

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A alcoviteira, Brízida Vaz, é a sexta personagem. Com esta cena, Gil Vicente não só critica as alcoviteiras, como também as outras classes nomeadamente o Clero.

Símbolo cénico:seiscentos virgos postiços, três arcas de feitiços, três almários de mentir, cinco cofres de enleos, alguns furtos alheos, jóias de vestir, guarda-roupa d’encobrir, casa movediça um estrato de cortiça com dous coxins d’encobrir e as moças que vendia .

Argumentos de defesa: - levava bofé; era uma mártir; levou açoites; servia a Sé; era perfeita como os apóstolos e anjos e fez coisas muito divinas -salvou todas as suas meninas .

Argumentos de acusação:- a vida de prostituta, a hipocrisia.

Percurso cénico:-Barca do Diabo→ →Barca do Diabo𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜

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A sétima personagem a desfilar é um judeu.Nem sequer dialoga com o Anjo, pois não acredita na religião cristã. Também não entra na barca do Inferno, pois o Diabo decide que ele e o bode irão a reboque, já que era costume os judeus estarem separados das restantes pessoas.Tipo: - JudeuSímbolo cénico:- bode: representa a sua religiãoArgumentos de defesa: - o dinheiroArgumentos de acusação: (o Parvo acusa-o de):- roubar a cabra- ter cometido várias ofensas à religião cristã e à igreja, comendo carne no dia de jejum- ser JudeuPercurso cénico:- fica no cais com o bode (porque ninguém o quer)- Barca do Diabo.

O Judeu recusa deixar o bode em terra porque:- quer ser reconhecido como Judeu- não recusa a sua religião.

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Entra um corregedor e, logo a seguir, um procurador.

Símbolo cénico:- Corregedor: vara e processos- Procurador: livros jurídicosTipo:- Corregedor: Juiz corrupto- Procurador: Funcionário da Coroa corrupto

Argumentos de acusação do Procurador:- não tem tempo de se confessar

Argumentos de acusação do Corregedor (o Diabo acusa-o de):- não ter sido imparcial nas suas sentenças- ter aceite subornos, até de Judeus (muito mal vistos naquele tipo)- confessou-se, mas mentiu.

Argumentos de defesa do Corregedor:- era a sua mulher que aceitava os subornos

Percurso cénico:-Barca do Diabo→ →Barca do 𝐵𝑎𝑟𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑛𝑗𝑜Diabo

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Na 10ª cena, surge um enforcado.

Símbolos Cénicos:- baraço (corda que traz ao pescoço)

Tipo:- povo (criminoso condenado)

Argumentos de defesa:- ele havia sido perdoado por Deus ao morrer enforcado- já tinha sofrido o castigo na prisão- Garcia Moniz tinha-lhe dito que, se se enforcasse, iria para o paraíso.

Argumentos de Acusação:- o crime que cometeu (ser criminoso)- ser ingénuo.

Percurso cénico:-Cais → Barca do Diabo

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Finalmente, surgem os quatros cavaleiros.

Símbolos Cénicos:-hábito da ordem de Cristo-espadasPertenciam:-aos cruzados

Defesas:-dizem que morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo

Quando chegam ao cais, chegam a cantar. Essa cantiga mostra aos mortais que a vida é uma passagem e que terão de passar sempre naquele cais, onde serão julgados.

Nessa cantiga está contida a moralidade da peça:-fala do destino final que está de acordo com aquilo que foi feito na vida Terrena.Os cavaleiros não foram acusados pelo Diabo porque:-merecem entrar na barca do Anjo-morreram a lutar pela fé cristã, contra os infiéis, o que os livrou de todos os pecados.Percurso cénico:Cais → Barca da Glória

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