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Tópicos em Leitura e Produção de Texto Apostila Versão 2 - 2015 Ana Lúcia Magalhães

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Tópicos em Leitura e Produção de Texto

Apostila

Versão 2 - 2015    

Ana Lúcia Magalhães

Tópicos em Leitura e Produção de Textos Ana Lúcia Magalhães - 1

ÍNDICE

I – COMPETÊNCIAS E LINGUAGEM

1. COMPETÊNCIAS ............................................................................................................................................................ 7

1.1 COMPETÊNCIAS FORMAIS ...................................................................................................................................... 7 1.2 COMPETÊNCIAS FILOSÓFICAS .............................................................................................................................. 7 1.3 OBJETIVOS, RESULTADOS E TRABALHOS PROPOSTOS .................................................................................... 8

1 ....................................................................................................................................................................................... 8 1.3.1 OS OBJETIVOS DO NÍVEL BÁSICO .............................................................................................................. 8 1.3.2 CONTEÚDO DOS TRABALHOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO – NÍVEL BÁSICO ..................................... 9 1.3.3 OS OBJETIVOS DO NÍVEL INTERMEDIÁRIO ............................................................................................. 10 1.3.4 CONTEÚDO DOS TRABALHOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO – NÍVEL INTERMEDIÁRIO .................... 11

2. HISTÓRIA DA LINGUAGEM: LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA ..................................................................................... 12

2.1 HISTÓRIA DA LINGUAGEM ..................................................................................................................................... 12 2.2 LINGUAGEM, LÍNGUA EFALA ................................................................................................................................. 12 2.3 DEFINIÇÕES DE LINGUAGEM ................................................................................................................................ 12 2.4 DEFINIÇÕES DE LÍNGUA ........................................................................................................................................ 13 2.5 DEFINIÇÕES DE FALA ............................................................................................................................................ 14

II – GRAMÁTICA

3. EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO ................................................................................................................. 16

3.1 FUNÇÕES DA PONTUAÇÃO ................................................................................................................................... 16 3.2 VÍRGULA .................................................................................................................................................................. 16

3.2.1 USOS DA VÍRGULA ...................................................................................................................................... 16 3.2.2 VÍRGULA X CONJUNÇÃO “E” ...................................................................................................................... 17

3.3 PONTO ..................................................................................................................................................................... 18 3.4 PONTO E VÍRGULA ................................................................................................................................................. 18 3.5 DOIS PONTOS ......................................................................................................................................................... 18 3.6 INTERROGAÇÃO .................................................................................................................................................... 19 3.7 EXCLAMAÇÃO ......................................................................................................................................................... 19 3.8 RETICÊNCIAS ......................................................................................................................................................... 19 3.9 ASPAS ...................................................................................................................................................................... 19 3.10 TRAVESSÃO ...................................................................................................................................................... 20 3.11 PARÊNTESES .................................................................................................................................................... 20 3.12 ASTERISCO ........................................................................................................................................................ 20

4. FORMAS DE TRATAMENTO E ENDEREÇAMENTO .................................................................................................. 20

4.1 POLIDEZ E FORMAS DE TRATAMENTO ................................................................................................................ 20 4.2 FÓRMULAS, VOCATIVOS E ENDEREÇAMENTOS ................................................................................................ 21

4.2.1 AUTORIDADES UNIVERSITÁRIAS .............................................................................................................. 21 4.2.2 AUTORIDADES JUDICIÁRIAS ...................................................................................................................... 21 4.2.3 AUTORIDADES MILITARES ......................................................................................................................... 22 4.2.4 AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS ................................................................................................................ 22 4.2.5 AUTORIDADES NOBILIÁRQUICAS .............................................................................................................. 22 4.2.6 AUTORIDADES CIVIS ................................................................................................................................... 23

4.3 CONCORDÂNCIA COM OS PRONOMES DE TRATAMENTO ................................................................................ 23 4.4 ABREVIATURA DAS FORMAS DE TRATAMENTO ................................................................................................. 24 4.5 UMA NOTA SOBRE “VOSSA MAGNIFICÊNCIA” ..................................................................................................... 24

5. A REFORMA ORTOGRÁFICA ...................................................................................................................................... 24

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III – COESÃO E COERÊNCIA

6. A COESÃO TEXTUAL ................................................................................................................................................... 30

6.1 A NECESSIDADE DE COESÃO ............................................................................................................................... 30 6.2 TIPOS DE COESÃO ................................................................................................................................................. 31 6.3 EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE COESÃO REFERENCIAL ................................................................................. 32 6.4 EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE COESÃO SEQUENCIAL ................................................................................... 33

6.4.1 ELEMENTOS COESIVOS ............................................................................................................................. 33 6.4.2 EXEMPLOS CONTEXTUALIZADOS DE COESÃO SEQUENCIAL POR JUNÇÃO ...................................... 33

6.5 EXERCÍCIOS SOBRE COESÃO .............................................................................................................................. 34

7. A COERÊNCIA TEXTUAL ............................................................................................................................................. 38

7.1 COERÊNCIA E METARREGRAS ............................................................................................................................. 38 7.2 EXERCÍCIOS SOBRE COERÊNCIA ........................................................................................................................ 38

IV - ASPECTOS UTILITÁRIOS: MÉTODO DE ESTUDO E USO DE TECNOLOGIA

8. MÉTODO DE ESTUDO E RESENHA ........................................................................................................................... 42

8.1 INFORMAÇÕES GERAIS ......................................................................................................................................... 42 8.2 ETAPAS ................................................................................................................................................................... 42

8.2.1 LEVANTAMENTO .......................................................................................................................................... 42 8.2.2 PERGUNTAS ................................................................................................................................................. 42 8.2.3 LEITURA ........................................................................................................................................................ 43 8.2.4 RESPOSTAS ................................................................................................................................................. 43 8.2.5 REVISÃO E PRODUÇÃO DA RESENHA. ..................................................................................................... 43

8.3 RESENHA ................................................................................................................................................................ 43

9. USO DE TECNOLOGIAS .............................................................................................................................................. 44

9.1 O OFFICE 2007 ........................................................................................................................................................ 44 9.2 WORD ...................................................................................................................................................................... 44

9.2.1 RECURSOS IMPORTANTES ........................................................................................................................ 44 9.2.2 ESCOLHA DE FONTES ................................................................................................................................ 44 9.2.3 TAMANHO DE LETRAS (A MENOS DE NORMAS) ..................................................................................... 45 9.2.4 PARÁGRAFO ................................................................................................................................................. 45 9.2.5 CABEÇALHOS ............................................................................................................................................... 46 9.2.6 RODAPÉS ...................................................................................................................................................... 47 9.2.7 NÚMEROS DE PÁGINA ................................................................................................................................ 47 9.2.8 NUMERAÇÃO DE CAPÍTULOS E SEÇÕES ................................................................................................. 47 9.2.9 COMO DOMINAR O SOFTWARE ................................................................................................................. 55 9.2.10 O ÍNDICE AUTOMÁTICO ......................................................................................................................... 55 9.2.11 PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS PDF .................................................................................................... 57 9.2.12 CAPAS ...................................................................................................................................................... 57

V - GÊNEROS E LINGUAGENS

10. GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS ................................................................................................................................... 59

10.1 DEFINIÇÕES E EXEMPLOS ............................................................................................................................... 59 10.1.1 GÊNERO TEXTUAL ................................................................................................................................. 59 10.1.2 TIPOS TEXTUAIS ..................................................................................................................................... 59

10.2 COMPARAÇÃO ENTRE TIPOS E GÊNEROS .................................................................................................... 65 10.3 CONFLUÊNCIAS ................................................................................................................................................ 65 10.4 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ............................................................................................................................... 67 10.5 TRÊS NOTAS SOBRE ANÁLISE DE TEXTO ...................................................................................................... 67 10.6 GÊNEROS E FORMATOS .................................................................................................................................. 68

11. POESIA .......................................................................................................................................................................... 70

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11.1 TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO ............................................................................................................................ 70 11.2 ALGUNS EXEMPLOS ......................................................................................................................................... 71 11.3 COMO SE MATA UM POEMA ............................................................................................................................. 72

12. LINGUAGEM JORNALÍSTICA ....................................................................................................................................... 73

12.1 A LINGUAGEM JORNALÍSTICA ......................................................................................................................... 73 12.2 O TRIPÉ DA ESTRUTURA DA NOTÍCIA ............................................................................................................ 73 12.3 O LEAD ............................................................................................................................................................... 73 12.4 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA .............................................................................................................................. 74 12.5 CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA .................................................................................... 75

12.5.1 QUANTO À ESCOLHA DOS ITENS LÉXICOS ........................................................................................ 75 12.5.2 QUANTO AOS PROCEDIMENTOS GRAMATICAIS ............................................................................... 76 12.5.3 PRINCIPAL CARACTERÍSTICA ............................................................................................................... 77

12.6 DUAS NOTAS IMPORTANTES .......................................................................................................................... 77 12.6.1 ESTRANGEIRISMOS ............................................................................................................................... 77 12.6.2 PERGUNTAS QUE DEVEM SER RESPONDIDAS POR UMA REPORTAGEM ..................................... 77

13. NOTAS SOBRE A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA ......................................................................................................... 78

13.1 CARACTERÍSTICAS DA MENSAGEM PUBLICITÁRIA ...................................................................................... 78 13.2 ELEMENTOS DA MENSAGEM PUBLICITÁRIA ................................................................................................. 78

14. DESENVOLVIMENTO DE TEXTO FICCIONAL ............................................................................................................ 79

14.1 POR QUE SABER CONTAR HISTÓRIAS? ......................................................................................................... 79 14.2 CARACTERÍSTICAS DO TEXTO FICCIONAL .................................................................................................... 79 14.3 OS 5 ELEMENTOS DE UMA HISTÓRIA ............................................................................................................. 80 14.4 A ESTRUTURA DE 3 ATOS ................................................................................................................................ 81 14.5 NOTA SOBRE ELEMENTOS & ESTRUTURA .................................................................................................... 81 14.6 CONFLITOS ........................................................................................................................................................ 81

15. ASPECTOS GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL ............................................................................................................. 84

15.1 O QUE É REDAÇÃO OFICIAL ............................................................................................................................ 84 15.2 A IMPESSOALIDADE ......................................................................................................................................... 84 15.3 A LINGUAGEM DOS ATOS E COMUNICAÇÕES OFICIAIS .............................................................................. 84 15.4 FORMALIDADE E PADRONIZAÇÃO .................................................................................................................. 85 15.5 CONCISÃO E CLAREZA ..................................................................................................................................... 85

VI - POPOSTAS E CURRÍCULOS

16. COMO ELABORAR PROPOSTAS ................................................................................................................................ 87

16.1 O QUE É UMA PROPOSTA ................................................................................................................................ 87 16.2 A PROPOSTA TÉCNICA E A PROPOSTA COMERCIAL ................................................................................... 87 16.3 PARTES DA PROPOSTA ................................................................................................................................... 87 16.4 O OBJETIVO (E ESCOPO DE SERVIÇO) .......................................................................................................... 88 16.5 OS ANTECEDENTES ......................................................................................................................................... 88 16.6 COMO DESENVOLVER ..................................................................................................................................... 88

17. A PROPOSTA TÉCNICA ............................................................................................................................................... 89

17.1 AS PREMISSAS .................................................................................................................................................. 89 17.2 COMO DESENVOLVER ..................................................................................................................................... 89 17.3 A DESCRIÇÃO DO FORNECIMENTO ................................................................................................................ 89 17.4 AS EXCLUSÕES ................................................................................................................................................. 91 17.5 CRONOGRAMA E PRAZO ................................................................................................................................. 91 17.6 A PROPOSTA COMERCIAL ............................................................................................................................... 91

18. CARTAS ........................................................................................................................................................................ 92

18.1 A CARTA DE ENCAMINHAMENTO .................................................................................................................... 92 18.2 CARTAS-PROPOSTA ......................................................................................................................................... 92 18.3 O SUMÁRIO EXECUTIVO .................................................................................................................................. 93

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18.4 A REVISÃO FINAL .............................................................................................................................................. 93

19. COMO ELABORAR UM CURRÍCULO .......................................................................................................................... 94

19.1 ORIGEM DA PALAVRA ....................................................................................................................................... 94 19.2 TIPOS DE CURRÍCULO ...................................................................................................................................... 94 19.3 REGRAS PARA A CONFECCÇAO DE UM CURRÍCULO ................................................................................... 94 19.4 MODELO DE CURRÍCULO ................................................................................................................................. 95

19.4.1 CABEÇALHO ............................................................................................................................................ 96 19.4.2 OBJETIVO E FOTO .................................................................................................................................. 96 19.4.3 ESCOLARIDADE ...................................................................................................................................... 96 19.4.4 SUMÁRIO DA EXPERIÊNCIA E QUALIFICAÇÕES ................................................................................ 97 19.4.5 EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL .............................................................................................................. 97 19.4.6 INFORMÁTICA ......................................................................................................................................... 98 19.4.7 IDIOMAS ................................................................................................................................................... 98 19.4.8 CURSOS DE EXTENSÃO ........................................................................................................................ 98 19.4.9 MODELO EUROPEU ................................................................................................................................ 99 19.4.10 UM CURRÍCULO MAL FEITO ................................................................................................................ 101 19.4.11 PARA PROFISSIONAIS DE MARKETING ............................................................................................. 103

VII - ÉTICA E VALORES

20. ÉTICA E VALORES ..................................................................................................................................................... 105

20.1 DEFINIÇÕES DE VALORES ............................................................................................................................. 105 20.2 ARISTÓTELES E A ÉTICA ................................................................................................................................ 105 20.3 VALORES DE UMA ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................... 106 20.4 O DILEMA ÉTICO .............................................................................................................................................. 109

20.4.1 O QUE É ................................................................................................................................................. 109 20.4.2 O DILEMA ÉTICO – UMA ABORDAGEM METÓDICA .......................................................................... 109

20.5 UMA NOTA SOBRE FILOSOFIA, POLÍTICAS E ATITUDES ............................................................................ 112

VIII – RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO

21. RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO .................................................................................................................................... 113

21.1 CONCEITOS ............................................................................................................................................................ 114 21.2 TRIÂNGULO RETÓRICO ........................................................................................................................................ 114

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INTRODUÇÃO

O objetivo desta apostila é apresentar uma lista de competências a desenvolver durante o curso de Leitura e Produção de Textos e abordar certos tópicos pertinentes. O conteúdo é resultado de vivência como professora e no mercado de trabalho e de pesquisa. A apostila não é exatamente um livro-texto, é uma coletânea de tópicos..

Leitura e Produção de Textos é uma disciplina diferente de Língua Portuguesa, ainda que possua obje-tivos em grande parte superpostos. Em essência, pretende ensinar os alunos a se comunicar de modo competente. Assim, é um curso em que os trabalhos são contextualizados.

Os tópicos estão organizados por seções:

I – Competências e Linguagem: mostra os objetivos e métodos do curso e o que existe de mais básico, a língua e a linguagem.

II – Gramática: dois tópicos selecionados entre aqueles em que os alunos apresentam mais dúvidas e o texto mais enxuto possível sobre a reforma ortográfica.

III – Coesão e Coerência: a base do estilo e do bem escrever, supondo que gramática e ortografia este-jam dominadas.

IV - Aspectos utilitários: método de estudo e uso de tecnologia: faz parte desse conjunto um método de estudo que, se aplicado, simplesmente muda a perspectiva de vida (não é exagero!) do estudante, pelo simples fato de que capacita a adquirir conhecimentos em um nível que pouca gente possui. Esse mé-todo é complementado por instruções de outro conhecimento muito útil: funções importantes e geral-mente desconhecidas do Word.

V – Gêneros, tipos e linguagens: um apanhado geral sobre gêneros e tipos de textos, seguido de parti-cularidades sobre a s linguagens jornalística, publicitária e oficial.

V – Propostas e currículos: como escrever propostas, um conhecimento grandemente valorizado pelo mercado de trabalho, e como fazer um currículo, capacidade cuja importância dificilmente pode ser exagerada e à qual não se costuma prestar a devida atenção,

VII – Ética e valores: é necessário se comunicar com ética, daí o último capítulo, que inclui um método de análise de casos.

VIII – O tópico Leitura será trabalhado ao longo do curso, por meio da Retórica.

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I – COMPETÊNCIAS E LINGUAGEM

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1. COMPETÊNCIAS 1.1 COMPETÊNCIAS FORMAIS

O quadro a seguir resume as competências a desenvolver, em três níveis. A proposta do curso é che-gar ao nível intermediário e motivar para o nível avançado.

competência básico intermediário avançado Comunicação Escrita

Criar, produzir e revisar do-cumentos empresariais de rotina – em resposta a situa-ções informadas concisamen-te – que sejam:

Compor, revisar e editar docu-mentos empresariais – em res-posta a estudos de casos – que sejam:

Selecionar estraté-gias retóricas apropriadas e ca-nais de comunica-ção para persuadir públicos diversos a aceitar decisões empresariais.

– claros

– corteses

– concisos

completos corretos (ou seja, aceitáveis).

– informativos

– bem organizados

– lógicos

persuasivos (ou seja, profissionais em forma e conteúdo).

Comunicação Oral

Expor uma apresentação breve e informal.

Desenvolver e expor uma apre-sentação empresarial formal baseada em relatório ou propos-ta, que seja:

Criar e apresentar uma apresentação executiva e mode-rar discussões com utilização de recur-sos retóricos apro-priados.

– articulada

– inteligível

– ensaiada

– organizada

– dinâmica – visualmente

interessante.

Uso de tecno-logia

Empregar as ferramentas básicas de tecnologia para produzir documentos de for-mato agradável e fáceis de ler; aplicar as regras para a produção de e-mails e men-sagens de voz.

Usar ferramentas mais sofistica-das que incluam a produção de gráficos e material audiovisual.

Gerenciar bancos de dados, crono-gramas e fluxos de trabalho com uso de softwares apro-priados.

Pesquisa de Informação

Escrever uma carta ou relató-rio que contenha resumo e documentação de informação obtida de várias fontes.

Escrever uma recomendação que selecione, analise e organize informação recolhida de fontes múltiplas, inclusive fontes eletrô-nicas.

Escrever um relató-rio analítico refi-nando um determi-nado tópico: sele-ção, avaliação, síntese e docu-mentação de in-formação complexa de várias fontes, com inclusão de artigos acadêmicos utilizados apropria-damente.

1.2 COMPETÊNCIAS FILOSÓFICAS

As competências aqui chamadas de filosóficas interagem com conteúdos de outras disciplinas e dão mais personalidade ao curso de Leitura e Produção de Textos. O ensino de Ética na disciplina de Co-municação Empresarial mostrou que esses conhecimentos podem ser sistematizados e transmitidos.

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competência básico intermediário avançado Pensamento Crítico

Identificar elementos-chave em situações empresariais informadas concisamente.

Definir um problema, formu-lar os objetivos da empresa ou instituição, propor e ana-lisar soluções razoáveis e fazer recomendações sobre casos (business cases).

Avaliar situações de crise em termos de forças, fraquezas, ameaças e oportunida-des.

Ética Usar linguagem livre de viés, evitar exageros e falácias lógicas e saber reconhecer práticas não-éticas.

Saber escolher soluções apropriadas a dilemas éticos que envolvam várias partes interessadas.

Aplicar princípios de ética empresarial a decisões empresariais.

Decisão Identificar causa e efeito de uma decisão administrativa simples.

Usar argumentos de fato, políticas da empresa ou instituição, valor e crono-grama para defender uma decisão empresarial.

Aplicar um conjunto explícito de critérios para avaliar problemas empresariais e reco-mendar a melhor solu-ção.

Resolução de problemas

Discutir custos e benefícios de um produto, serviço ou política da empresa.

Efetuar análises de cus-to:benefício de alternativas.

Analisar barreiras po-tenciais, internas e externas, à implemen-tação de um projeto.

Realismo Aplicar conhecimento rele-vante de necessidades do cliente, interesses da orga-nização e regulamentações governamentais a uma cor-respondência.

Determinar como fatores éticos, globais, políticos, tecnológicos e culturais afetam a possibilidade de uma organização operar.

Definir, avaliar e resol-ver problemas de co-municação que afetam departamentos como produção, finanças, marketing e relações públicas de uma orga-nização.

1.3 OBJETIVOS, RESULTADOS E TRABALHOS PROPOSTOS 1.3.1 OS OBJETIVOS DO NÍVEL BÁSICO

As competências referidas são alcançadas através do desenvolvimento de trabalhos que persigam objetivos específicos, listados a seguir.

a) Redação de mensagens e/ou correspondências breves que resultem da análise de situações expli-cadas concisamente;

b) Pesquisa e relatórios correspondentes a cada pesquisa;

c) Redação de e-mails

d) Busca de emprego.

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1.3.2 CONTEÚDO DOS TRABALHOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO – NÍVEL BÁSICO

a) Mensagens e/ou correspondências breves a partir de análise de situações

conteúdo roteiro critérios de avaliação – 2 cartas (ou memorandos)

de informação – 2 cartas (ou memorandos)

com más notícias

– 2 cartas persuasivas (ven-das).

– analisar uma situação

– identificar o problema – determinar o curso apropria-

do de ação

– escolher a estratégia apro-priada de redação (direta ou indireta)

– adotar o formato adequado (carta ou memorando)

– Inclusão de todos os pontos essenciais; nenhum aspecto capital deixado de fora.

– correção ortográfica e grama-tical.

– entendimento do público a que a mensagem se destina.

– tom positivo.

– mensagem concisa. – formato profissional: mensa-

gem de fácil compreensão.

b) Pequeno projeto de pesquisa e relatório

conteúdo roteiro critérios de avaliação

– Relatório de um pequeno projeto de pesquisa (por exemplo, tipo de computador a adquirir para uma finalida-de específica, formação de uma pequena biblioteca para um curso de reforço em Ma-temática para concursos, roupa mais adequada para usar no calor).

– planejar a pesquisa (Internet, biblioteca, entrevistas).

– conduzir a pesquisa

– listar os resultados – formatar o relatório (itens e

subitens)

– escrever o relatório.

– citação correta e ética das fontes (exemplo de falta de ética: folhear um livro e es-crever que leu).

– uso correto da Internet, sem cópia de textos e sem frases ou parágrafos des-necessários.

– clareza e organização.

– concisão.

c) Redação de e-mails

conteúdo roteiro critérios de avaliação – 4 e-mails de informação.

– 2 e-mails com más notícias.

– 2 e-mails persuasivos. (é possível passar as mes-mas situações e instar os alunos a escolherem cartas ou e-mails para fazer a co-municação).

– analisar uma situação

– identificar o problema – determinar o curso apropriado

de ação

– escolher a estratégia apropri-ada de redação (direta ou in-direta)

– justificar, com base nos 10 mandamentos do e-mail (Uni-versidade de Harvard) a esco-lha do e-mail para fazer a co-municação.

– Inclusão de todos os pon-tos essenciais; nenhum aspecto capital deixado de fora.

– correção ortográfica e gramatical.

– entendimento do público a que a mensagem se desti-na.

– escolha da estratégia apropriada de redação

– tom positivo.

– mensagem concisa.

– formato profissional: men-sagem de fácil compreen-são.

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d) Apresentação oral

conteúdo roteiro critérios de avaliação

– Apresentação oral de 20 minutos utilizando Power Point e recursos audiovisuais, a partir de uma situação apresentada concisamente.

– desenvolver o plano de slides. – planejar o uso de recursos

audiovisuais

– desenvolver os textos, obser-vando as regras fornecidas em aula.

– formatar a apresentação.

– citação correta e ética das fontes (exemplo de falta de ética: folhear um livro e escrever que leu).

– uso correto da Internet, sem cópia de textos e sem frases ou parágrafos des-necessários.

– clareza.

– organização.

– concisão.

e) Busca de estágio ou emprego

conteúdo roteiro critérios de avaliação

– Currículo

– Carta

– Preparação para entrevista

– determinar uma posição espe-cífica (por exemplo, assistente de vendas de uma empresa metalúrgica)

– recolher material para um cur-rículo

– escrever o currículo segundo um modelo (dados pessoais, escolaridade, sumário da expe-riência, experiência em detalhe, informática, idiomas).

– planejar cuidadosamente a carta

– escrever a carta. – Antecipar as perguntas que

serão feitas na entrevista

– Preparar as respostas.

– ética.

– organização.

– persuasão. – correção ortográfica e

gramatical.

1.3.3 OS OBJETIVOS DO NÍVEL INTERMEDIÁRIO

Como no caso do nível básico, as competências referidas são alcançadas através do desenvolvimento de trabalhos que persigam objetivos específicos, listados a seguir.

a) Analisar um problema de uma instituição e o resolver com especial atenção à comunicação;

b) Escrever uma análise de caso, com introdução, análise e conclusão.

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1.3.4 CONTEÚDO DOS TRABALHOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO – NÍVEL INTERMEDIÁRIO

a) Análise do problema de falta temporária de energia e seu efeito em uma indústria

conteúdo roteiro critérios de avaliação – Relatório com intro-

dução, análise e con-clusão.

– Escolher duas ou três indústrias para pesquisa;

– Verificar o número e duração das inter-rupções de fornecimento nos últimos dois anos;

– Desenvolver descrições sumárias dos processos de fabricação;

– Desenvolver um questionário para cada indústria;

– Analisar e tabular os resultados; – Escrever uma conclusão.

– clareza. – conteúdo – correção gramatical – adequação ao público

destinatário. – estilo. – estratégia (plano de ação

e linguagem adequados para alcançar um objeti-vo).

b) Formulação de proposta de fornecimento

conteúdo roteiro critérios de avaliação – Proposta, de forneci-

mento de bens ou serviços.

– Descrever, de modo ao mesmo tempo conciso e abrangente, o bem ou servi-ço a ser fornecido.

– Estruturar, com base em modelo for-necido.

– Desenvolver a proposta técnica; – Desenvolver a proposta comercial.

– clareza. – conteúdo – correção gramatical – estilo. – persuasão.

c) Formulação de proposta de implantação de uma ideia

conteúdo roteiro critérios de avaliação – Proposta, de implan-

tação de uma ideia. – Descrever, de modo ao mesmo tempo

conciso e abrangente, o item a ser im-plantado.

– Estruturar a proposta, com base em um modelo fornecido.

– Desenvolver a descrição técnica; – Mostrar a relação custo-benefício,

incluindo benefícios tangíveis e intan-gíveis.

– clareza. – conteúdo – correção gramatical – adequação ao público

destinatário. – estilo. – persuasão.

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2. HISTÓRIA DA LINGUAGEM: LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA 2.1 HISTÓRIA DA LINGUAGEM

Embora não haja marcos e limites definidos na história da linguagem, podemos estabelecer alguns períodos para melhor compreensão:

– Antiguidade: desde as primeiras manifestações até os gregos e romanos. Foco: paganismo.

– Idade Média: a partir do desenvolvimento do Cristianismo estende-se até o Renascimento. Foco teocêntrico (origem divina) – linguagem de caráter universal.

– Renascimento: grande marco no séc. XVI. Foco: antropocentrismo e linguagem individualizada.

– Iluminismo: a partir do séc. XVIII até início do séc. XX. Viés histórico ou historicista. Foco na valori-zação da lógica (da razão pura) e matemática (Kant, Descartes). Linguística fragmentada em busca das especificidades dos sistemas: mudança social, política, econômica.

– Modernismo: meados século XX. Linguística transfrástica e estudos de gramática do texto. A partir da segunda metade do séc. XX surgem diversas teorias do texto e a Análise do Discurso.

– Século XXI: linguística textual de vertente sócio-cognitiva. Início da Análise Crítica do Discurso.

2.2 LINGUAGEM, LÍNGUA EFALA

– Muitas pesquisas, desde tempos longínquos.

– Apesar da imensa quantidade de trabalhos, persiste a necessidade de melhor compreensão do conhecimento já estruturado.

– Muitas lacunas até que o desempenho, pelo falante, seja considerado exercício de uma gramática tão legítima quanto a oficial, maiúscula.

– Linguageméa capacidade fônica de se exprimir, como um dom.

– Línguaéo patrimônio expressivo, uma sedimentação a partir das falas.

– Falaéa expressão, uma função da linguagem.

2.3 DEFINIÇÕES DE LINGUAGEM

– Instrumento de comunicação.

– Fundamentalmente informativa;

– Expressão depensamentos (e sentimentos).

– Representação do pensamento por meio de sinais (permite a comunicação e a interação entre as pessoas).

– Sistema constituído por elementos que podem ser gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usa-dos para representar conceitos de comunicação, idéias, significados e pensamentos. Nesta acep-ção, aproxima-se do conceito de língua.

A linguagem cria a fala, que gera a língua, que serve à fala

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– Função cerebral que permite a qualquer ser humano adquirir e utilizar uma língua.

– Processo mental de manifestação do pensamento e de natureza essencialmente consciente, signi-ficativa e orientada para o contato interpessoal. Apesar do processo da linguagem ser essencial-mente consciente, entende-se que seu fluxo e sua articulação provêm de camadas mais profundas e não conscientes. (William James).

– Sistema completo, complexo, arbitrário de símbolos aprendidos primária e oralmente e usado para comunicação em uma comunidade linguística em determinado grupo cultural. (Hector Hammerly)

Assim, o pensamento é:

– Biblioteca linguística formada de ideias, significados, palavras;

– "Base de dados" para expressão verbal pela fala.

– Uma seleção - pegando na prateleira da biblioteca - palavra por palavra, criando estruturas de en-tendimento para a comunicação.

“Na linguagem e pela linguagem o homem vai se constituir como sujeito” (Émile Benveniste, linguista e filósofo francês). A linguagem, ao viabilizar a relação das pessoas, permite:

– retorno sobre si como individualidade distinta

– comunicação inter-humana".

2.4 DEFINIÇÕES DE LÍNGUA

– Aquilo que é tomado como padrão de correção por uma elite escolarizada e culta.

– O mesmo que linguagem, na forma mais plena de possibilidades de comunicação entre os homens.

– Tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comuni-cam.

– ".. coisa de tal modo distinta que um homem privado do uso da fala conserva a língua, contato que compreende os signos vocais que ouve." (Saussure, linguista francês, criado da Semiótica, área do conhecimento que estuda os símbolos).

Sob um aspecto técnico-analítico é um sistema de comunicação:

– criativo;

– arbitrário;

– fundamentalmente oral e complementarmente gráfico;

– composto de símbolos com significados convencionalizados;

– que ocorre dentro de uma determinada comunidade ou cultura (a ela intrinsecamente ligado);

– ao alcance de qualquer ser humano e assimilado intuitivamente por todos, de forma semelhante;

– com características universais.

Valem ainda as observações importantes que seguem.

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1. Em essência, é um fenômeno inerente ao ser humano e semelhante a ele próprio: sistemático, complexo, arbitrário, irregular, mostra acentuado grau de tolerância a variações, repleto de ambi-guidades, em constante evolução aleatória e incon-trolável.

2. Quanto à função, pode ser definida como sistema de representação cognitiva do universo, através do qual se constroem suas relações. Reflexo criativo influen-ciado pela cultura de seus falantes.

3. Principal instrumento de desenvolvimento cognitivo do ser humano.

4. Há profunda interdependência entre linguagem e pensamento: um subsidia o outro; palavras que não representam ideias são mortas, ideias não coloca-das em palavras são sombras.

5. O quadro ao lado mostra a sequência a observar:

2.5 DEFINIÇÕES DE FALA

– Capacidade ou uso da capacidade de emitir sons em algum padrão (uma língua);

– Conjunto de "... combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de ex-primir seu pensamento pessoal..." (Saussure) – entidade profundamente individual.

– Sintetização da mensagem, configurada na massa da frase - quem ouve sintetiza a compreensão;

– Expressão do homem.

Três notas importantes sobre a fala:

– Tem uma função individual muito mais constante que sua função social - a do permanente exercí-cio humano do solilóquio, da meditação, da fala interior.

– Pensamos por meio da fala e por ela clareamos um objeto, mentalmente.

– O homem vive redigindo a vida, criando os mundos do seu mundo, enquanto descreve as coisas e compreende a alma.

O quadro a seguir mostra como funciona o conjunto Língua-Fala

língua fala

abstrata concreta

possibilidade expressão

mundo interior mundo exterior

estado de análise síntese

intraindividual extraindividual

processo produto

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II – GRAMÁTICA

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3. EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO 3.1 FUNÇÕES DA PONTUAÇÃO

Há certos recursos da linguagem - pausa, melodia, entonação e até mesmo, silêncio - que só estão presentes na oralidade. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usamos os sinais de pontu-ação. Estes são também usados para destacar palavras, expressões ou orações e esclarecer o sentido de frases, a fim de dissipar qualquer tipo de ambiguidade.

Há uma acepção errada muito comum que consiste em ignorar as regras e ir “pelo ouvido”. Não funcio-na, o “ouvido” pode enganar.

3.2 VÍRGULA 3.2.1 USOS DA VÍRGULA

Emprega-se a vírgula (uma breve pausa):

a) para separar os elementos mencionados numa relação: A nossa empresa está contratando enge-nheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias. O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.

NOTA: Mesmo que oe venha repetido antes de cada um dos elementos da enu-meração, a vírgula deve ser empregada: Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as unhas.

b) para isolar o vocativo: Cristina, desligue já esse telefone! Por favor, Ricardo, venha até o meu ga-binete.

c) para isolar o aposto: Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no eleva-dor. Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

d) para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás, além disso etc.): Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos econo-mizado durante anos. Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.

e) para isolar o adjunto adverbial antecipado: Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas. Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

f) para isolar elementos repetidos: O palácio, o palácio está destruído. Estão todos cansados, cansa-dos de dar dó!

g) para isolar, nas datas, o nome do lugar: São Paulo, 22 de maio de 1995. Roma, 13 de dezembro de 1995.

h) para isolar os adjuntos adverbiais: A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio. Os candi-datos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente.

i) para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e: Ele já enganou vá-rias pessoas, logo não é digno de confiança. Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir. Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

j) para indicar a elipse de um elemento da oração: Foi um grande escândalo. Às vezes gritava, ou-tras, estrebuchava como um animal. Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

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k) para separar o paralelismo de provérbios: Ladrão de tostão, ladrão de milhão. Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

l) após a saudação em correspondência (social e comercial): Com muito amor, Respeitosamente, Atenciosamente,

m) para isolar as orações adjetivas explicativas: Marina, que é uma criatura maldosa, "puxou o tapete" de Juliana lá no trabalho. Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Gracilia-no Ramos.

n) para isolar orações intercaladas: Não lhe posso garantir nada, respondi secamente. O filme, disse ele, é fantástico.

3.2.2 VÍRGULA X CONJUNÇÃO “E”

Usa-se a vírgula antes da conjunção aditiva “e”, quando houver:

– nas orações sindéticas aditivas, sujeitos diferentes −Ela foi ao shopping, e suas amigas voltaram.

– intercalação anterior ou quando o próprio “e” iniciar uma intercalação −Ele passou no concurso, porque estudou muito, e hoje ganha muito bem. João doou, e é bom que se diga, todos os seus bens aos pobres.

– coordenação muito longa que antecede o “e”. Nesse caso, vírgula (que é facultativa) indica pausa respiratória− Eliane, Afonso e Wagner fizeram longa viagem até Brasília, e decidiram descansar lá por uns dias; Vila Bela da Santíssima Trindade é município localizado no oeste de Mato Grosso, e é ponto de partida para muitas expedições de pesca.

– necessidade de ênfase −Ainda que ele corra, e pule, e retroceda, nós o acertaremos. Vírgula facul-tativa na dependência de se querer ou não produzir a ênfase mencionada.

– palavra ou expressão depois do "e" sujeito de outra oração– Geralmente, já foram fixados os pre-ços, e as tabelas não podem ser alteradas. “Os preços” e “as tabelas” são sujeitos de predicados diferentes (foram fixados e não podem ser alteradas). Sem a vírgula, na leitura rápida, pode pare-cer que se trata de sujeito composto (já foram fixados os preços e as tabelas). Outro exemplo: Os executivos usam carros da empresa, e microônibus levam os demais empregados ao trabalho. Neste caso, a ausência da vírgula propiciaria compreensão de que “microônibus”, sujeito de “le-vam”, fosse entendido como complemento de “usam”, juntamente com “carros da empresa”. No ca-so, a vírgula é obrigatória.

– Destaque de oração ou expressão intercalada – Esse eixo semântico, e trata-se exatamente disso, possui grande generalidade; o padre repreendeu, e era perfeitamente o caso, o comportamento impróprio de alguns paroquianos; o aluno foi chamado e, aparentando tranquilidade, apresentou-se ao diretor. Vírgula facultativa.

– separação de aposto do “e”, Caso é semelhante ao anterior, mas a particularidade é que se trata de aposto, que nem sempre precisa estar entre vírgulas– Nosso primeiro imperador foi D. Pedro I, o Defensor Perpétuo do Brasil. Na hipótese de o aposto ser interno, ou seja, não ser seguido por ponto, deve estar entre vírgulas, mesmo que à segunda se siga a conjunção “e” - Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente eleito, e sua equipe reúnem-se hoje; Karl Marx, autor de O Capital, e Frie-drich Engels são ideólogos do marxismo. Vírgula, no caso. obrigatória.

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Usa-se a vírgula antes e depois da conjunção aditiva “e”, quando houver:

– uma intercalação anterior e posterior. Ela chegou cedo, porque é pontual, e, como sempre ocorre, apresentou-se bem.

De modo geral, não cabe o emprego da vírgula depois da conjunção aditiva “e”, pois ambos funcionam como conectivos no mesmo lugar.

Nota: nos Estados Unidos, a vírgula antes da conjunção coordenativa aditiva é chamada de vírgula de Harvard. Lá, é um sinal de elegância. Serve para dar um ritmo melhor à frase.

3.3 PONTO

Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de uma frase declarativa de um período sim-ples ou composto. Desejo-lhe uma feliz viagem. A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conservado com primor.

O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas, por exemplo: fev. = fevereiro, hab. = habi-tante, rod. = rodovia. O ponto que é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final.

3.4 PONTO E VÍRGULA

Utiliza-se o ponto-e-vírgula para assinalar uma pausa maior do que a da vírgula, praticamente uma pausa intermediária entre o ponto e a vírgula. Geralmente, emprega-se o ponto-e-vírgula para:

a) separar orações coordenadas que tenham certo sentido ou aquelas que já apresentam separação por vírgula: Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se uma doidivanas.

b) separar vários itens de uma enumeração:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa-mento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções, e coexistência de instituições públi-cas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais; . . . (Constituição da República Federativa do Brasil).

3.5 DOIS PONTOS

Os dois pontos são empregados para:

c) enumeração: ... Rubião recordou a sua entrada no escritório do Camacho, o modo porque falou: e daí tornou atrás, ao próprio ato. Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o grito, o salto que deu, levado de um ímpeto irresistível... (Machado de Assis)

d) citação: Visto que ela nada declarasse, o marido indagou: Afinal, o que houve?

e) esclarecimento: Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para magoar Lucila. Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de exemplos, notas ou observações.

Nota: A invocação em correspondência (social ou comercial) pode ser seguida de dois-pontos ou de vírgula. Por exemplo:

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– Querida amiga:

– Prezados senhores,

3.6 INTERROGAÇÃO

O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta não exija res-posta: O senhor não precisa de mim?A que horas janta-se? O senhor sai a passeio depois do jantar? De carro ou a cavalo?

3.7 EXCLAMAÇÃO

O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com entonação excla-mativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro ou indignação. Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto! - Então janta, homem!

Nota: O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas: Oh! Valha-me Deus!

3.8 RETICÊNCIAS

As reticências são empregadas para:

a) assinalar interrupção do pensamento: Bem; eu retiro-me, que sou prudente. Levo a consciência de que fiz o meu dever. Mas o mundo saberá...

b) indicar passos que são suprimidos de um texto: O primeiro e crucial problema de linguística geral que Saussure focalizou dizia respeito à natureza da linguagem. Encarava-a como um sistema de signos. Considerava a linguística, portanto, com um aspecto de uma ciência mais geral, a ciência dos signos... (Mattoso Câmara Jr.) Outra forma de marcar essa supressão é [...]

c) marcar aumento de emoção: As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turvação do infeliz, foram estas: "Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resga-tar-te. (Camilo Castelo Branco)

3.9 ASPAS

As aspas são empregadas:

a) antes e depois de citações textuais: Roulet afirma que "o gramático deveria descrever a língua em uso em nossa época, pois é dela que os alunos necessitam para a comunicação quotidiana".

b) para realçar uma palavra ou expressão: Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um "não" sono-ro. Aquela "vertigem súbita" na vida financeira de Ricardo afastou-lhe os amigos dissimulados. É facultativo e deve ser usado com cuidado.

c) para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias e expressões populares ou vulgares: O “fast track” é uma delegação do congresso americano ao presidente para negociar acordos comerciais.

Nota: expressões como bypass e feedback, que não possuem correspondentes em Português, devem ser usadas sem aspas.

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3.10 TRAVESSÃO

Emprega-se o travessão para:

a) indicar a mudança de interlocutor no diálogo: Que gente é aquela, seu Alberto? - São japoneses. - Japoneses? E... é gente como nós? - É. O Japão é um grande país. A única diferença é que eles são amarelos. - Mas, então não são índios? (Ferreira de Castro)

b) colocar em relevo certas palavras ou expressões: Maria José sempre muito generosa - sem ser artificial ou piegas - a perdoou sem restrições. Um grupo de turistas estrangeiros - todos muito rui-dosos - invadiu o saguão do hotel no qual estávamos hospedados.

c) substituir a vírgula ou os dois pontos: Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente sel-vagem, a arte é a superioridade humana - acima dos preceitos que se combatem, acima das religi-ões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase. (R. Pompéia)

3.11 PARÊNTESES

Os parênteses são empregados para:

a) destacar num texto qualquer explicação ou comentário: Todo signo linguístico é formado de duas partes associadas e inseparáveis, isto é, o significante (unidade formada pela sucessão de fone-mas) e o significado (conceito ou ideia).

b) incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação, página etc.): Mattoso Câma-ra (1977:91) afirma que, às vezes, os preceitos da gramática e os registros dos dicionários são dis-cutíveis: consideram erro o que já poderia ser admitido e aceitam o que poderia, de preferência, ser posto de lado.

c) isolar orações intercaladas com verbos declarativos, em substituição à vírgula e aos traves-sões: Afirma-se (não se prova) que é muito comum o recebimento de propina para que os carros apreendidos sejam liberados sem o recolhimento das multas.

3.12 ASTERISCO

O asterisco é um recurso empregado para:

a) remissão a uma nota no pé da página ou no fim de um capítulo de um livro.

b) substituição de um nome próprio que não se deseja mencionar: O Dr.* afirmou que a causa da infecção hospitalar na Casa de Saúde Municipal está ligada à falta de produtos adequados para assepsia.

4. FORMAS DE TRATAMENTO E ENDEREÇAMENTO 4.1 POLIDEZ E FORMAS DE TRATAMENTO

Umas das características do estilo da correspondência oficial e empresarial é a polidez, entendida co-mo o ajustamento da expressão às normas de educação ou cortesia.

Há divergências entre autores, porém a polidez se manifesta no emprego de fórmulas de cortesia. As-sim, temos duas formas e ainda hoje vemos a mais polida ("Tenho a honra de encaminhar" no lugar de "Encaminho..."; "Tomo a liberdade de sugerir..." e "Sugiro..."). Alguns manuais preferem a primeira

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forma; o Prof. Pasquale, a segunda... De qualquer maneira, é preciso cuidado para evitar frases agres-sivas ou ásperas: até uma carta de cobrança pode ter seu tom amenizado, fazendo-se menção, por exemplo, a possível esquecimento. O emprego adequado das formas de tratamento é importante. É importante também dispensar atenção respeitosa a superiores, colegas e subalternos.

No que diz respeito à utilização das formas de tratamento e endereçamento, deve-se considerar não apenas a área de atuação da autoridade (universitária, judiciária, religiosa, etc.), mas também a posi-ção hierárquica do cargo que ocupa.

4.2 FÓRMULAS, VOCATIVOS E ENDEREÇAMENTOS 4.2.1 AUTORIDADES UNIVERSITÁRIAS

cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural

Reitores

Vossa Magnifi-cência ou Vossa Exce-lência

V. Magª ou V. Maga. V. Exa. ou V. Exª

V. Magasou V. Magas. ou V.Exas ouV.Exas.

Magnífico Reitor ou Excelentíssimo Senhor Reitor

Ao Magnífico Reitor ou Ao Excelentíssimo Senhor Reitor Nome Cargo Endereço

Vice-Reitores Vossa Exce-lência

V. Exª ou V.Exa.

V.Exas ouV. Exas.

Excelentíssimo Senhor Vice-Reitor

Ao Excelentíssimo Senhor Vice-Reitor Nome Cargo Endereço

Assessores Pró-Reitores Diretores Coord. de Depar-tamento

Vossa Senho-ria

V.Sª ou V.Sa.

V.Sas ou V.Sas. Senhor + cargo

Ao Senhor Nome Cargo Endereço

4.2.2 AUTORIDADES JUDICIÁRIAS

cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural Auditores Curadores Defensores Públicos Desembargadores Membros de Tribu-nais Presidentes de Tribu-nais Procuradores Promotores

Vossa Excelência

V. Exª ou V.Exa.

V.Exas ou V. Exas.

Excelentíssimo Senhor + cargo

Ao Excelentíssimo Senhor Nome Cargo Endereço

Juízes de Direito

Meritíssimo Juiz ou Vossa Excelência

M. Juiz, V. Exª ou V.Exa.

V. Exª

Meritíssimo Senhor Juiz ou Excelentíssimo Senhor Juiz

Ao Meritíssimo Senhor Juiz ou Ao Excelentíssimo Senhor Juiz Nome Cargo Endereço

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4.2.3 AUTORIDADES MILITARES

cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural

Oficiais Superiores Vossa Excelência

V. Exª ou V.Exa.

V.Exas ou V. Exas.

Excelentíssimo Senhor

Ao Excelentíssimo Senhor Nome Cargo Endereço

Outras Patentes Vossa Senhoria

V. Sª ou V.Sa.

V.Sas ou V.Sas. Senhor + patente

Ao Senhor Nome Cargo Endereço

4.2.4 AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS

cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural

Arcebispos e Bis-pos

Vossa Excelência Reveren-díssima

V. ExªRevmaou V.Exa. Revma.

V. ExªRevma

ou V.Exa. Revma.

Excelentíssimo Reverendíssimo

A Sua Excelência Reve-rendíssima Nome Cargo Endereço

Cardeais

Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reveren-díssima

V Emª, V. Ema. ou V. Emª Revma, V. Ema. Re-vma.

V Emas, V. Emas. ou V. Emas Revmas, V. Emas. Revmas.

Eminentíssimo Reverendíssimo ou Eminentíssimo Senhor Cardeal

A Sua Eminência Reve-rendíssima Nome Cargo Endereço

Cônegos Vossa Reveren-díssima

V.Revma, V. Revma.

V.Revmas, V. Revmas.

Reverendíssimo Cônego

Ao Reverendíssimo Cô-nego Nome Cargo Endereço

Frades Vossa Reveren-díssima

V.Revma, V. Revma.

V.Revmas, V. Revmas.

Reverendíssimo Frade

Ao Reverendíssimo Frade Nome Cargo Endereço

Freiras Vossa Reveren-díssima

V.Revma, V. Revma.

V.Revmas, V. Revmas.

Reverendíssima Irmã

À Reverendíssima Irmã Nome Cargo Endereço

Monsenhores Vossa Reveren-díssima

V.Revma, V. Revma.

V.Revmas, V. Revmas.

Reverendíssimo Monsenhor

Ao Reverendíssimo Mon-senhor Nome Cargo Endereço

Papa Vossa Santidade

V.S. - Santíssimo Padre A Sua Santidade o Papa

4.2.5 AUTORIDADES NOBILIÁRQUICAS

cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural

Príncipes, Arquidu-ques e Duques

Vossa Alteza

V.A. VV. AA. Sereníssimo + Título

A Sua Alteza Real Nome Cargo

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cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural Endereço

Imperadores e Reis Vossa Majestade

V.M. VV. MM. Majestade

A Sua Majestade Nome Cargo Endereço

4.2.6 AUTORIDADES CIVIS

cargo ou função por extenso abreviatura vocativo endereçamento singular plural Cônsules Deputados Embaixadores Governadores Ministros de Estado Prefeitos Presidentes da República Secretários de Estado Senadores Vice-Presidentes de Repúblicas

Vossa Excelência

V. Exª ou V.Exa.

V.Exas ou V. Exas.

Excelentíssimo Senhor + Cargo

Ao Excelentíssimo Se-nhor Nome Cargo Endereço

Demais autoridades não contempladas com tratamento específico

Vossa Senhoria

V. Sª ou V.Sa.

V.Sas ou V.Sas.

Senhor + Cargo

Ao Senhor Nome Cargo Endereço

4.3 CONCORDÂNCIA COM OS PRONOMES DE TRATAMENTO

a) Concordância de gênero

Com as formas de tratamento, faz-se a concordância com o sexo das pessoas a que se referem:

– Vossa Senhoria está sendo convidado (homem) a assistir ao III Seminário da FATEC.

– Vossa Excelência será informada (mulher) a respeito das conclusões do III Seminário da FATEC.

b) Concordância de pessoa

Embora tenham a palavra "Vossa" na expressão, as formas de tratamento exigem verbos e pronomes referentes a elas na terceira pessoa:

– Vossa Excelência solicitou...

– Vossa Senhoria informou...

– Temos a satisfação de convidar Vossa Senhoria e sua equipe para... Na oportunidade, teremos a honra de ouvi-los...

c) A pessoa do emissor

O emissor da mensagem, referindo-se a si mesmo, poderá utilizar a primeira pessoa do singular ou do plural (plural de modéstia). Não pode, no entanto, misturar as duas opções ao longo do texto:

– Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência... ou Comunico a Vossa Excelência...

– Temos a honra de comunicar a Vossa Excelência... ou Comunicamos a Vossa Excelência...

– Cabe-me ainda esclarecer a Vossa Excelência... Esclareço ainda a Vossa Excelência...

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– Cabe-nos ainda esclarecer a Vossa Excelência... Esclarecemos ainda a Vossa Excelência...

d) Emprego de Vossa (Excelência, Senhoria e outros) Sua (Excelência, Senhoria e outros).

– Vossa (Excelência, Senhoria etc.), é tratamento direto - usa-se para se dirigir a pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a correspondência (equivale a você):Na expectativa do atendimento do que acaba de ser solicitado, apresento a Vossa Senhoria nossas atenciosas saudações.

– Sua (Excelência, Senhoria etc.): em relação à pessoa de quem se fala (equivale a ele fala): Na abertura do Seminário, Sua Excelência o Senhor Reitor da PUCRS falou sobre o Plano Estratégico.

4.4 ABREVIATURA DAS FORMAS DE TRATAMENTO

A forma por extenso demonstra maior respeito, maior deferência, sendo de rigor em correspondência dirigida ao Presidente da República. Fique claro, no entanto, que qualquer forma de tratamento pode ser escrita por extenso, independentemente do cargo ocupado pelo destinatário.

4.5 UMA NOTA SOBRE “VOSSA MAGNIFICÊNCIA”

É assim que manuais mais antigos de redação ensinam a tratar os reitores de universidades. Uma forma muito cerimoniosa, empolada, difícil de escrever e pronunciar, e em desuso. Já não existe hoje em dia distanciamento tão grande entre a pessoa do reitor e o corpo docente e discente. É, pois, perfei-tamente aceita hoje em dia a fórmula Vossa Excelência (V. Exa.). A invocação pode ser simplesmente Senhor Reitor, Excelentíssimo Senhor Reitor.

5. A REFORMA ORTOGRÁFICA Esta seção traz as resoluções da reforma ortográfica em tópicos. Conhecer o que segue resolve a qua-se totalidade das possíveis dúvidas, com exceção dos hifens, assunto sobre o qual não há certeza de que a reforma está consolidada.

a) Inserção das letras

As letras K, W e Y ficam incorporadas ao alfabeto.

b) Eliminação do trema

O trema está eliminado. Existia nos grupos gue, gui, que, qui em que a letra u é pronunciada

§ agüentar � aguentar

§ cinqüenta � cinquenta

c) Eliminação do acento em ditongos abertos em paroxítonas

§ alcalóide � alcaloide

§ alcatéia � alcateia

§ apóia � apóia

§ bóia � boia

§ colméia � colmeia

§ idéia � ideia

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Atenção! A regra vale apenas para as paroxítonas. As oxítonas continuam acentuadas, como:

§ herói § papéis § troféu

d) Eliminação do acento em palavras terminadas em êem, ôo (s)

§ abençôo � abençoo

§ dêem � deem

§ povôo � povoo

§ vôos � voos

§ enjôo � enjoo

e) Eliminação de acentos diferenciais

§ pára/para,

§ péla/pela,

§ pólo/polo

§ pêlo/pelo

§ pêra/pêra

Permanece o acento diferencial em:

§ pôde/pode; § pôr/por; tem/têm; § vem/vêm

f) eliminação do acento agudo no “u” tônico em dois verbos

Não são mais usados das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.

g) Variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir:

Esses verbos, que são aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, delinquir, enxaguar, admitem duas pro-núncias.

§ se forem pronunciadas com a ou i tônicos, devem ser acentuadas: enxáguo, enxáguas, delínquo, delínques, delínguem.

§ se forem pronunciadas com u tônico, as formas deixam de ser acentuadas: enxaguo, enxagues, enxaguem; delinque, delinquo, delinquam.

No Brasil a pronúncia mais corrente é a primeira: com a e i tônicos.

h) Alteração das regras de uso do hífen

Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo acordo, mas como se trata ainda de matéria controvertida em muitos aspectos, para facilitar a compreensão apresenta-se um resumo das regras que orientam o uso do hífen com os prefixos mais comuns.

As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pen, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice [...].

.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 26

Usa-se o hífen quando a segunda palavra de uma expressão começa com “h”

§ anti-higiênico

§ proto-história

§ anti-histórico

§ super-homem

§ co-herdeiro

§ ultra-humano

§ macro-história

§ sobre-humano

§ mini-hotel

Uma exceção: sub-humano� subumano (neste caso o termo humano perdeu o h)

– Não se usa hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Seguem exemplos de palavras que passam a ser escritas sem hífen.

§ aeroespacial

§ agroindustrial

§ anteontem

§ antiaéreo

§ antieducativo

§ semiaberto

§ autoescola

§ autoestrada

§ coautor

§ extraescolar

§ infraestrutura

§ plurianual

Uma exceção: o prefixo cose aglutina em geral com o segundo elemento, mesmo quando se inicia por o: cooptar, cooperação, coordenar.

– Não se usa hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s:

§ anteprojeto

§ antipedagógico

§ autopeça

§ coprodução

§ microcomputador

§ semideus

§ seminovo

§ ultramoderno

Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante, vice-presidente.

– Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por “r” ou “s”. Nesse caso, duplicam-se essas letras.

§ antirrábico

§ antirracismo

§ antirreligioso

§ antirrugas

§ infrassom

§ minissaia

§ semirreta

§ ultrassom

§ neorrealismo

§ contrassenso

§ biorritmo

§ antissocial

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 27

§ multissecular § ultrarresistente

– Usa-se hífen quando o prefixo termina por vogal e o segundo elemento iniciar pela mesma vogal

§ anti-imperialista

§ anti-inflacionário

§ auto-observação

§ contra-almirante

§ micro-ondas

§ micro-ônibus

§ semi-internato

§ contra-ataque

§ semi-interno

§ anti-ibérico

– Usa-se o hífen quando o prefixo termina por consoante e o segundo elemento começar com a mesma consoante

§ hiper-requintado

§ inter-racial

§ super-racista

§ super-reacionário

§ super-romântico

§ inter-regional

§ super-resistente

§ inter-regional

Nota: nos demais casos não se usa o hífen: supermercado, intermunicipal, superinteressante, superprote-ção.

– Usa-se o hífen com o prefixo “sub”, mesmo que o segundo elemento iniciecom“r”

§ sub-raça

§ sub-região

– Usa-se o hífen com os prefixos “circum” e “pan” diante de palavra iniciada por “m”, “n” e vogal

§ circum-navegação

§ pan-americano

– Não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal

§ hiperacidez

§ hiperativo

§ interescolar

§ interestadual

§ interestelar

§ interestudantil

§ superamigo

§ supereconômico

§ superotimismo

§ superexigente

§ superaquecimento

§ superinteressante

– Usa-se o hífen com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 28

§ além-mar

§ além-túmulo

§ ex-aluno

§ aquém-mar

§ ex-diretor

§ ex-presidente

§ pós-graduação

§ pré-história

§ pré-vestibular

§ pró-europeu

§ recém-casado

§ recém-nascido

§ sem-terra

§ ex-hospedeiro

– Usa-se o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim

§ amoré-guaçu

§ anajá-mirim

§ capim-açu

§ Mogi-guaçu

– Usa-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não pro-priamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares.

§ ponte Rio-Niterói

§ eixo Rio-São Paulo

§ estrada Paraná-Rio Grande do Sul

§ passagem Lorena-Guaratinguetá

– Não se usa hífen em certas palavras que perderam a noção de composição

§ girassol

§ madressilva

§ mandachuva

§ paraquedas

§ paraquedista

§ pontapé

– Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coinci-dir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte

§ Na cidade, conta- -se que ele foi viajar

§ O diretor recebeu os ex-

-alunos

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 29

III – COESÃO E COERÊNCIA

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 30

6. A COESÃO TEXTUAL 6.1 A NECESSIDADE DE COESÃO

O texto constitui uma unidade comunicativa, uma unidade de uso da língua. Na sua construção e orga-nização, utilizamos uma série de recursos com a finalidade de deixar as pistas para que o leitor recons-trua nossas intenções e o percurso de produção. Quando não mapeamos claramente as pistas em nosso texto, o leitor sofre e pode até falhar na construção dos sentidos.

Etimologicamente falando, o termo coesão, de origem latina (*cohaesio -onis), entrou para o nosso léxico através do francês cohésion e significa “união íntima das partes de um todo.” O conceito de coe-são implica conhecimentos de língua, remete-se a conhecimentos do léxico e da gramática; ela estabe-lece ligações entre palavras, expressões, frases, períodos e até mesmo parágrafos, garantindo a uni-dade e a progressão do texto. Ela ocorre quando o leitor remete uma forma a outra, verificando, a partir do tema, a progressão. A coesão ocorre de modo visível no texto por meio de estratégias que incluem a concordância, a retomada de palavras e expressões pela sua repetição ou substituição pelos tempos dos verbos, pelas conjunções.

Os parágrafos que seguem fornecem um exemplo da aplicação desses conceitos.

Rotina Há pessoas que amam a rotina, outras que verdadeiramente a abominam. Para as primeiras, a rotina constitui um meio de situar-se, de manter certa disciplina e organização produtivas. Para as últimas, rotina é pura caretice, convite ao tédio mortal, “descurtição”, pasmaceira... Para estas, o bom da vida é viver o que pintar, numa boa, sem regras ou métodos, e, principalmente, sem roti-na ...

Galasso, L. Ser mãe é sorrir em parafuso. SP: Ática, 1988.

O assunto do texto é rotina. Ele se desenvolve pela oposição entre gostar ou não de rotina, em função do que se entende pelo termo rotina. Os principais referentes do texto são: rotina e pessoas. O referen-te pessoas é retomado por “que”, “outras”, “as primeiras”, “as últimas”, e “estas”. O referente rotina é retomado por “a”, “a rotina”, “um meio de situar-se, de manter uma certa disciplina e organização pro-dutivas”, “pura caretice, convite ao tédio mortal, ‘descurtição’, pasmaceira”, e “rotina”.

No desenrolar do texto, as referências se modificam e são construídas a partir da absorção de novos sentidos que vão sendo incorporados aos referentes, estabelecendo relações lógicas e argumentativas constantemente renovadas, garantindo a progressão semântica, o que permite dizer que as partes de um texto são linguística e semanticamente interdependentes.

Quando tratamos da coesão, no domínio do texto, outros fenômenos devem ser considerados. É preci-so ficar atento a palavras e expressões chamadas de conectores: conjunções; expressões ordenadoras e temporais, correlação dos tempos verbais. É importante observar as paráfrases, os paralelismos, as recorrências de termos, além do ritmo, da entoação, das aliterações e assonâncias – mais observados no texto poético. A retomada dos referentes, sua substituição e sua reiteração são os fenômenos mais facilmente visíveis do estabelecimento da coesão de um texto.

Conforme visto, existem vários procedimentos que garantem a coesão. São fatores de recursividade presentes no texto, tanto no nível lexical quanto no gramatical. É essa recursividade que vai construir as laçadas que tecem a unidade textual. A coesão depende, portanto, do grau de domínio dos elemen-

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 31

tos linguísticos em uso no texto. Entram nesse processo todos os níveis de análise e descrição da lín-gua: fonológico, morfológico e sintático. Como se observa, a retomada dos referentes, chamada de coesão referencial, permite, além da progressão temática, a unidade semântica entre as partes do texto e o todo; uma teia, uma verdadeira união.

6.2 TIPOS DE COESÃO

É possível estabelecer uma analogia dessa união com o ato de costurar (coser). Vale observar que a coesão referencial não é a única responsável por esta costura. Este entrelaçamento se dá também através de outros fatores de coesão. Para fins de análise, costumamos classificar a coesão em três tipos, mostrados no quadro a seguir. Os quadros subsequentes fornecem exemplos, particularmente importantes pela dificuldade dos textos no quadro.

tipo ocorrência formas REFERENCIAL

Diz respeito às retomadas dos referen-tes que se apresentam no texto e tem por função construir a progressão das informações ligadas a eles. No desen-volvimento do texto, as referências vão se modificando, absorvendo novos sentidos, construindo constantemente novas relações.

a) Substituição (anafórica e catafórica) – proformas

– definitização (fecho, conclusão)

– elipse b) Reiteração – sinonímia

– retificação, explicação

– hiperonímia e hiponímia

– expressões nominais definidas

RECORRENCIAL Dá-se quando o fluxo informacional caminha, progride por meio de retoma-das de itens, sentenças ou estruturas.

a) recorrência de termos b) paralelismo c) paráfrase d) recursos fonológicos

SEQUENCIAL Também tem a função de fazer progre-dir o texto; difere da recorrencial por-que se estabelece por sequenciação temporal e por conexão, estabelecendo relações entre as partes dos períodos, dos parágrafos que compõem o texto.

a) temporal – ordenação linear

– expressões ordenadoras ou continuado-ras

– expressões e partículas temporais

– correlação dos tempos verbais

b) Por conexão/junção: – conjunção/disjunção

– contrajunção/explicação

– conclusão/condicionalidade

– causalidade/restrição ou delimita-ção/complementação

– mediação e outros

A compreensão dessa tabela não é imediata. Os exemplos que seguem e, principalmente, exercícios ao final desta seção auxiliam o entendimento da tabela e do assunto.

É relativamente comum indivíduos utilizarem elementos coesivos de forma equivocada. A tabela a se-guir mostra algumas formas de coesão referencial e sequencial que servem, de alguma maneira, para nortear a utilização correta, principalmente ao se elaborar textos longos. Algumas (formas), no entanto,

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 32

são mais difíceis de listar. É o caso da sinonímia, bastante conhecida: para evitar repetições do mesmo termo, utiliza-se um sinônimo. A listagem de sinônimos é o dicionário!

6.3 EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE COESÃO REFERENCIAL

fecho/conclusão retificação/explicação

em suma

em remate

por conseguinte

em última análise

concluindo

por fim

finalmente

por tais razões

por tudo isso

em síntese

enfim

posto isso

assim

consequentemente

isto é

por exemplo

a saber

de fato

em verdade

aliás

ou antes

ou melhor

melhor ainda

como se nota

como se viu

como se observa

com efeito

como vimos

por isso

portanto

é óbvio

pois

Deve-se notar os seguintes pontos relativos a formas que constam da tabela em 4.2 e não foram exemplificadas:

– Não tem sentido listar exemplos da coesão referencial por elipse também não pode ser listada. Ocorre sempre que um termo deixar de ser citado, mas ficar implícita a sua ocorrência. Por exem-plo: Maria assistiu ao filme XXX, primeiro lugar na Revista Veja. Houve elipse de uma frase inteira. Como ficaria? Maria assistiu ao filme XXX. O filme XXX estava em primeiro lugar na Revista Veja.

– Hiperonímia é a utilização de um termo genérico, que abrange toda uma categoria. Seu contrário, a hiponímia, é a utilização de termos particulares, que pertencem a uma categoria mais genérica.

Exemplos:

§ hiperonímia: aparelho eletrodoméstico, universidade;

§ hiponímia: liquidificador, faculdade de tecnologia.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 33

6.4 EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE COESÃO SEQUENCIAL 6.4.1 ELEMENTOS COESIVOS

enumeração distribuição continuação

realce, inclusão, adição

negação, oposição, explicação

afirmação, igualdade

conclusão, fecho

em primeiro lugar

a princípio

em seguida

depois (depois de)

em linhas gerais

no geral

neste momento

por sua vez

a par disso

entrementes

por seu turno

antes de tudo

além disso

ainda

também

vale lembrar

agora

de modo geral

por iguais razões

inclusive

até

é certo

é inegável

em outras palavras

além desse fator

somente

sequer

exceto

senão

apenas

excluindo

tão-somente

embora

não obstante

entretanto

no entanto

ao contrário disso

por outro lado

diferente disso

de outro lado

de outra parte

diversamente

pois

outrossim

felizmente

infelizmente

ainda bem

obviamente

na verdade

realmente

de igual forma

do mesmo modo que

da mesma sorte

no mesmo sentido

semelhantemente

em suma

em remate

por conseguinte

em última análise

concluindo

por fim

finalmente

por tais razões

por tudo isso

em síntese

enfim

posto isso

assim

consequentemente

6.4.2 EXEMPLOS CONTEXTUALIZADOS DE COESÃO SEQUENCIAL POR JUNÇÃO

(fonte: Gramática de Usos, M. Helena de Moura Neves) Algumas palavras da língua atuam especificamente na junção dos elementos do discurso. Elas ocor-rem num determinado ponto do texto indicando o modo pelo qual se conectam as porções que se su-cedem. Nesta atividade vamos apresentar algumas palavras que estabelecem a ligação, isto é, a jun-ção entre as orações e que tipo de relação que elas estabelecem.

a) Relação de adição �conjunção

Chove e faz frio. Não me arrisco nem arrisco você. Aí ninguém entra. Nem eu. Ela é afetada, esnobe. E como representa, parece que está sempre no palco.

b) Relação de contraste, desigualdade, oposição �contrajunção

Fez o que quis mas levou na cabeça.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 34

Jogou muito bem, contudo não conseguiu o título. Foi à festa embora estivesse doente. Depenava frangos e não ganhava nada. Vou bem mas você vai mal.

c) Relação de alternância �disjunção

Ou se usa luva ou se usa anel. Estude bastante para os exames. Ou você já se esqueceu o que aconteceu no ano passado?

d) Relação de causa-consequência, causa-efeito �causalidade, explicação

Não estudou e foi reprovado. Ele gritou tanto durante o jogo que ficou rouco. Falou baixo porque havia uma criança dormindo. Trabalho aqui porque quero. Se Paulo é homem então é mortal.

e) Relação de condição �condicionalidade

Caso a senhora não prestar contas, levaremos o problema ao diretor. A menos que você seja um conselheiro treinado, deixe a tarefa para um profissional. Se o trabalho não seguir conforme a instrução, delegue-o a outra pessoa.

f) Relação de finalidade� mediação

Fugiu para que não o vissem. Saiu cedo para chegar a tempo na reunião Secou os cabelos a fim de evitar outro resfriado.

g) Relação de delimitação �restrição

Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Comprei os livros que você pediu.

h) Relação de igualdade, desigualdade �comparação

Antes um pássaro na mão que dois voando. Você a conhece tão bem quanto eu. A recepção foi muito maior do que o político esperava.

6.5 EXERCÍCIOS SOBRE COESÃO

1º exercício Os enunciados a seguir foram retirados de um exame teórico para carteira de motorista. Restabeleça o paralelismo entre as alternativas, tomando por base sempre a estrutura da primeira. Em outras pala-vras, corrija a coesão.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 35

a) Para ultrapassar outro veículo em movimento, o condutor deverá:

– fazer sinal convencional de braço ou acionar dispositivo luminoso;

– certificar-se de que dispõe de espaço suficiente e de que a visibilidade lhe permite a ultrapassagem;

– nas rodovias ultrapasse pelo acostamento.

b) Quando o veículo que vem atrás pedir passagem, o condutor deve:

– aumentar a velocidade de seu veículo, não permitindo a ultrapassagem;

– continuar sempre na mesma velocidade, permanecendo na faixa em que está;

– não poderá acelerar a velocidade de seu veículo, dando passagem pela esquerda.

c) As vias secundárias são destinadas a

– estacionamento regulamentado;

– distribuir o trânsito das outras vias;

– Interceptar, coletar, e distribuir o trânsito das vias de trânsito rápido e das vias preferenciais.

d) Vias de trânsito são:

– todas as ruas do centro da cidade;

– são todas as vias que possuem linhas demarcatórias;

– são as caracterizadas por bloqueio que permita trânsito livre sem interseções e com acessos espe-ciais.

e) A realização de competições esportivas nas vias públicas só pode ocorrer:

– com autorização do Juiz de Direito local;

– com autorização da autoridade de trânsito com jurisdição sobre elas;

– dependerá do presidente do clube ou da organização promotora.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 36

2º exercício

Identificar alguns tipos de conectores (entre orações) que estabelecem a coesão sequencial por cone-xão/junção no texto. Numerar conforme a convenção mostrada a seguir.

Relação de adição conjunção 1

Relação de contraste, de desigualdade contrajunção 2

Relação de alternância disjunção 3

Relação de causa-consequência causalidade 4

Relação de condição condicionalidade 5

Relação de finalidade mediação 6

Relação de delimitação restrição 7

Relação de confronto comparação 8

Henry Jenkins da "Technology Review"

Cinema de garagem

Os filmes amadores sempre foram filmes caseiros. Nós os fazemos em nossas casas, em nossos bairros e() os exibimos em nossas salas de estar. O cinema digital pode mudar tudo isso, finalmente fornecendo um meio de distribuição e exibição para que ( ) os filmes caseiros possam tornar-se filmes públicos. Hoje em dia, crianças e adultos estão criando seus pró-prios filmes "Guerra nas Estrelas", usando computadores de mesa para() criar efeitos especiais que ( ) teriam custado uma fortuna à Industrial Light & Magic apenas uma década atrás. E(), o que é ainda mais notável, todos nós podemos assistir a esses filmes na internet.

O cinema digital pode fazer pelo cinema o que a fotocopiadora fez pela cultura dos documentos impressos. Nos anos 70 e 80 assistimos à explosão de "newsletters" e zines, documentando as experiências de pessoas que() viviam em lares para idosos, trabalhavam em troca de salário mínimo ou ( ) ficavam no gargarejo em shows de rock. Agora a chegada das câ-meras de vídeo digitais baratas e leves, do software de edição digital baseado em PCs e da distribuição de "streaming vídeo" na internet coloca os recursos necessários para() fazer cinema à disposição de uma gama igualmente grande de cidadãos, ampliando o potencial de criatividade para as bases.

Alguns céticos talvez se queixem de já terem ouvido tudo isso antes: uma sucessão de tecnologias anteriores prometeu mais acesso democrático aos meios de produção de mídia, apenas para() permanecer à margem. Mas() isso seria fazer uma leitura equivocada da natureza da revolução atual. O cinema digital pode descrever uma gama de modificações tecno-lógicas, especialmente no que diz respeito a câmeras e edição, mas() o que realmente é novo desta vez é o advento da distribuição de filmes baseada na internet. É isso que transforma o fazer filmes digitais, ou() mesmo convencionais, em cinema digital.

No passado, os filmes amadores jamais chegavam às grandes salas de cinema. Ativistas locais eram obrigados a brigar eternamente com as Câmaras de suas cidades para() proteger os canais de acesso público a cabo, um dos poucos lugares que veiculam filmes desse tipo. Mas() o cinema digital está respondendo ao desafio da distribuição em diversos níveis: nos portais comerciais, sedentos pelo produto, que ( ) já colocaram centenas de filmes em seus sites, em várias redes mais especializadas, subculturais ou ( ) de fãs, ou ( ) em sites montados por cineastas especificamente para ( ) exibir seu trabalho.

Hoje, se() você souber onde procurar na internet, poderá encontrar exemplos fascinantes desse novo cinema de garagem -desde curtas animados até documentários comoventes. O coletivo de mídia "Big Noise", de Cambridge, Massachusetts, e o "Independent Media Center" de Seattle, por exemplo, distribuíram câmeras a mais de cem ativistas de mídia em Seattle durante a polêmica conferência da Organização Mundial do Comércio, em 1999, e o resultado foi o contundente trabalho "This Is What Democracy Looks Like" (Isso É com Que se Parece a Democracia, que pode ser encomendado no site www.thisisdemocracy.org).

Filmes digitais podem ser tão profundos quanto() a fita sobre Rodney King ou ( ) tão superficiais quanto ( ) "America's-Funniest Home Videos". Mas() toda forma de arte precisa de espaço para ( ) as pessoas assumirem riscos e cometerem

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Ana Lúcia Magalhães 37

enganos. Não poderemos ter um grande cinema se não houver algum lugar onde os principiantes possam começar por fazer cinema horrível; e, enquanto isso, os filmes digitais são mais ousados e originais do que() qualquer coisa que ( ) se pode ver há muito tempo na tela grande.

Já se veem evidências de que o público - e a grande indústria do cinema - aderiu a esse novo estilo popular de fazer cine-ma. "South Park", um dos maiores sucessos comerciais do final dos anos 90, teve sua origem num videocartão de Natal que() foi difundido na internet. Vários seriados animados da internet, incluindo "Undercover Brother" e "Starship Regulars", já têm contratos para() virar filmes de longa-metragem ou ( ) passarem para a televisão comercial.

E, o que possivelmente seja o mais surpreendente, quando a Amazon começou a oferecer cópias em vídeo de "George Lucas in Love", um dos primeiros filmes digitais a fazer sucesso, elas venderam em sua primeira semana mais do que() "A Ameaça Fantasma".

Além do potencial comercial, existe a seguinte possibilidade sedutora: como() a poesia, o cinema pode tornar-se um modo de expressão íntimo e espontâneo. Como explicou Francis Ford Coppola no documentário "Hearts of Darkness", "para mim, a grande esperança é que, agora que estão saindo câmeras de vídeo de oito milímetros, pessoas que( ) normalmente não fariam filmes vão fazê-los. E que algum dia uma garotinha gordinha em Ohio vire a nova Mozart e faça um belo filme com a câmera de seu pai. O chamado profissionalismo do cinema será destruído, e o cinema realmente se tornará uma forma de arte".

Nenhum de meus amigos virou um novo Mozart. Nunca chegamos a fazer os filmes de monstros dos quais() falávamos. Mas() talvez Coppola tenha razão -quem sabe se, em algum lugar do Ohio, uma grande obra-prima já não esteja em pro-cesso de criação. Quem sabe isso não esteja acontecendo em sua própria sala de gravação.

Tradução Clara Allain

3º exercício

Encontre nos parágrafos abaixo os elementos referenciais que estabelecem a coesão. (Fonte: Chartier, R. A aventura do livro. UNESP, 1999.)

a) A empresa multimídia, em termos de rentabilidade, só pode ser eficaz sob três condições: que ela esteja im-plantada no maior número de regiões produtivas do mundo, que ela congregue atividades afins – cada produto sendo, portanto, desde sua origem, concebido para a diversificação - e também que ela tenha uma capacidade de investimento enorme, com os crescentes custos de acesso aos bancos de dados.

b) Ler um artigo em um banco de dados eletrônico, sem saber nada da revista na qual foi publicado, nem dos artigos que o acompanham, e ler o “mesmo” artigo no número da revista na qual apareceu não é a mesma expe-riência. O sentido que o leitor constrói, no segundo caso, depende de elementos que não estão presentes no próprio artigo, mas que dependem do conjunto dos textos reunidos em um mesmo número e do projeto intelec-tual e editorial da revista ou do jornal.

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7. A COERÊNCIA TEXTUAL 7.1 COERÊNCIA E METARREGRAS

A coerência é um termo tomado da filosofia, mais especificamente da lógica. etimologicamente, vem do latim (cohaerentia - ae) e significa ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou ideias. ela se estabelece na dependência do conhecimento de elementos linguísticos, do conhecimento de mundo, do conhecimento partilhado entre produtor e receptor do texto e de fatores sociais e interacionais.

Recentemente, uma revista americana promoveu um concurso, pedindo a seus leitores que enviassem mensagens estranhas divulgadas por seus gerentes, no ambiente de trabalho. O texto a seguir foi a mensagem vencedora:

"A partir de amanhã, os empregados somente poderão acessar o prédio usando cartões de segurança individuais. As fotografias serão tiradas na próxima quarta-feira, e os emprega-dos receberão seus cartões em duas semanas". (Fred Dales, Microsoft, Redmond, WA)

Por que esta mensagem é estranha? A resposta é simples: porque é incoerente. Afinal, a empresa não pode exigir que os empregados apresentem cartão de identificação duas semanas antes de disponibili-zá-los. Existe, neste texto, uma contradição, uma incoerência. O texto, portanto, não pode fazer sentido para aqueles que o leem.

É a coerência que faz com que o texto faça sentido para os leitores. Ela diz respeito à possibilidade de estabelecer, no texto, alguma forma de unidade ou relação. É ela que permite identificar o texto como uma unidade de sentido. Ela está ligada, portanto, ao texto como um todo e é por isso que dizemos que ela se refere à macroestrutura do texto.

Existem regras, as metarregras, responsáveis pela boa formação de um texto:

REPETIÇÃO para que um texto seja coerente, é preciso que ele contenha no seu desen-volvimento linear elementos de recorrência.

PROGRESSÃO para que um texto seja coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma ampliação do sentido constantemente renovada.

NÃO-CONTRADIÇÃO

para que um texto seja coerente, é preciso que no seu desenvolvimento não haja nenhum elemento que contradiga o que já foi enunciado anteriormente

RELAÇÃO para que um texto seja coerente é preciso que os fatos que se denotam no mundo representado pelo texto estejam relacionados.

A coerência refere-se, também, às possibilidades que o leitor tem para interpretar determinados tipos de textos:

Para nós, que não dominamos a área de música, fica difícil estabelecer a coerência desse texto; ele não faz sentido pelo fato de não possuirmos os conhecimentos necessários para o estabelecimento dos sentidos do texto. A coerência tem a ver, portanto, também, com os conhecimentos do leitor. É por isso que, ao escrevermos, devemos levar em conta a quem dirigimos nosso texto.

7.2 EXERCÍCIOS SOBRE COERÊNCIA

1º exercício

A relação que podemos estabelecer ente os graus IV e V quanto ao I seria como se um deles representasse o seu passado luminoso, e o outro o seu futuro ainda obscuro: esta proporção SOL:DÓ = DÓ: FÁ é a verdadeira ‘seção áurea’

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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Quantas incoerências podem ser identificadas na receita abaixo?

Salada de melão com camarões Tempo de preparo: rápido

Em uma panela com água fervente, acrescente 2 folhas de louro, 1 copo de vinho do Porto, 300gr de camarões-rosa grande bem miúdos e deixe cozinhar por trinta minutos. Corte a polpa de 1 melão em cubos triangulares e deixe descansar em um copo de vinho do Porto por 2 horas, no mínimo.

Decore 1 prato com rodelas de laranja, distribuindo intercaladamente o melão, os camarões e rodelas de cebola batidinha. Tempere com sal, pimenta do reino e regue com um fio de óleo de oliva. Salpique cebolinha verde e sirva bem quente.

2º exercício Observe atentamente antes de responder, e, para cada texto, explicite a metarregra e reescreva com coerência “Minha cidade é muito famosa e eu vou todos os dias ao cinema, por isso as ruas são todas arborizadas e eu tomo sorvete na escola.”

Este texto fere a regra _____________________________________________________________________,,

pois_____________________________________________________

Reescrita: __________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________

“A justiça é a virtude de dar a cada um aquilo que é seu. A justiça é a faculdade de entregar aos indivíduos o que lhes per-tence. A justiça é a virtude de dar aos homens seus bens.”

Este texto fere a regra de ____________________________________________________________________________,,

pois_________________________________________________

Reescrita: ___________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________

“Solicitação de gerente de produção: ‘Precisamos de uma lista de problemas específicos desconhecidos encontrados no projeto’.”

Este texto fere a regra _____________________________________________________________________,,

pois_____________________________________________________

Reescrita: __________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________

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“Comunicado de gerente de publicidade e marketing: ‘Este projeto é tão importante que não podemos deixar coisas mais importantes interferirem nele’.”

Este texto fere a regra _____________________________________________________________________,,

pois_____________________________________________________

Reescrita: __________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________

“Galeria de Fotos. Sandy está superempolgada com o programa. Agora, ela está namorando o João. Mas o Toni não para de dar em cima. E tem também a companhia de dança, além, é claro, de ser sócia do Detonação. Ufa! Como será que ela aguenta?

Este texto fere a regra _____________________________________________________________________,,

pois_____________________________________________________

Reescrita: __________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________

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IV – ASPECTOS UTILITÁRIOS: MÉTODO DE ESTUDO E USO DE TECNOLOGIA

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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8. MÉTODO DE ESTUDO E RESENHA 8.1 INFORMAÇÕES GERAIS

O método de estudo aqui apresentado é de origem americana, e tem eficácia comprovada. É baseado no envolvimento do estudante com o objeto do estudo, em oposição a uma leitura passiva. O tédio da leitura de textos áridos é em grande parte eliminado. Os sumários e resenhas produzidos são objetivos e fáceis de avaliar. É possível realizar exercícios com avaliação das etapas intermediárias.

8.2 ETAPAS 8.2.1 LEVANTAMENTO

O objetivo do levantamento é a familiarização com a organização e conteúdo geral do texto. Para isto, existem alguns truques:

a) Ler o título;

b) Ler a introdução – se for longa, ler somente o primeiro parágrafo.

c) Ler os subtítulos em negrito ou itálico (se houver), e a primeira frase após cada subtítulo.

d) Ler os títulos de qualquer figura, mapa ou gráfico;

e) Ler o último parágrafo.

f) Ler (se houver), as perguntas no final do capítulo.

Depois de ter feito o recomendado nos itens a o estudante deve saber do que trata o texto e como está organizado.

8.2.2 PERGUNTAS

O leitor deve formular perguntas que possa responder à medida que lê o texto. A maneira mais óbvia é transformar cada título em negrito em uma pergunta. Mas é possível e aconselhável usar de mais deta-lhe.

A formulação de perguntas é o centro do processo. Quanto melhores e mais abrangentes as perguntas, melhor será o estudo e a compreensão do texto. Ao formular as perguntas, não é necessário, é claro, saber responder imediatamente. O quadro a seguir mostra algumas das perguntas que se aplicam a grande parte dos textos.

sumário e definições análise Hipótese

– Qual é (são)...? – Quem...? – Quando...? – Quanto...? – Quantos...? – Qual é um exemplo

de...?

– Como ...? – Por que...? – Quais as causas/resultados de...? – Quais os tipos de...? – Quais as funções de...? – Que outros exemplos se pode dar de...? – Qual a relação entre ...e…? – Quais as semelhanças e diferenças entre...e...? – Quais as soluções possíveis...?

– Se ...ocorrer, o que irá acontecer?

– Se… tivesse ocorrido, o que teria acontecido...?

– O quê o autor prevê que ocorrerá...?

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8.2.3 LEITURA

Nessa fase, o texto deve ser lido, procurando responder as perguntas. É sempre interessante fazer anotações a lápis na margem do texto.

8.2.4 RESPOSTAS

a) sem consultar o texto

Nessa fase, deve-se procurar responder as perguntas, sem olhar para o texto. Fazer, conforme o caso, anotações. Verificar, posteriormente, se as respostas estavam corretas. Tentar responder a cada per-gunta sem olhar para o texto.

b) consultando o texto

Conferir as respostas dadas consultando o texto e fazendo as modificações necessárias.

8.2.5 REVISÃO E PRODUÇÃO DA RESENHA.

a) Fazer uma releitura do texto e das anotações. Terminar com certeza de que tudo está respondido.

b) Alinhavar as respostas em um texto.

8.3 RESENHA

Se além do estudo do texto, for necessária uma resenha, o estudante deve dar sua opinião sobre o objeto de estudo (livro ou artigo). A opinião pode ser expressa novamente respondendo a perguntas como:

– O texto é claro?

– Existe uma unidade no texto (sem desvios do assunto principal)?

– O texto segue uma linha (cada assunto é concatenado com o anterior)?

– Os pontos são bem defendidos? Se não, por quê?

– Há um modo melhor de desenvolver o objeto do texto (no caso, projeto de BD ou rede)? Se sim, qual ou quais?

– Quais as novidades tecnológicas no assunto? Alguma parte do texto entrou em obsolescência? (isso é particularmente importante em TI).

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9. USO DE TECNOLOGIAS 9.1 O OFFICE 2007

Como é sabido, o pacote Microsoft Office é o padrão mundial de fato. As tentativas de estabelecer pa-drões diferentes têm cunho principalmente político. Naturalmente, este texto não entra no mérito da questão, mas simplesmente reconhece a realidade. O pacote Office, como é bastante conhecido, tem como peças principais Word, Excel, Power Point e Outlook. Neste curso, se mostra detalhes da opera-ção do Word, software de produção de textos.

9.2 WORD 9.2.1 RECURSOS IMPORTANTES

Não é foco do curso ensinar a usar o Word 2007. Mostraremos certos itens:

– pouco conhecidos;

– geralmente ignorados;

– muito influentes na qualidade dos documentos produzidos.

Esses itens são:

§ fontes e parágrafos

§ cabeçalhos, rodapés e numeração de páginas

§ títulos e numeração (difícil!)

§ índices automáticos (ou nem tão automáticos)

§ produção de arquivos em formatos pdf

§ capas de documentos

9.2.2 ESCOLHA DE FONTES

– Times New Roman

§ surgiu no jornal “The New York Times” (1931), primeiro órgão de imprensa a buscar a verdade para a constituir em produto vendável (não político).

§ inspira credibilidade e demonstra conservadorismo.

– Arial

§ ausência de serifas (linhas horizontais na base da letra, para orientar o tipógrafo)

§ relativamente recente (1982, época em que apareceu o microcomputador). Demonstra moder-nidade.

– Helvetica

§ considerada nos anos 80 como a fonte perfeita, ainda que seja de 1951.

§ hoje, algo fora de moda.

– Arial Narrow

§ excelente para economizar espaço

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– Calibri

§ vulgarizada pelo Office 2007

§ fonte da moda

– Fontes manuscritas

§ boas para aproximar o destinatário do remetente

§ devem ser evitadas em correspondência formal.

§ oferta gratuita abundante na Internet

– Agency FB

§ Imbatível para apresentações

§ não costuma ser usada fora desse contexto.

– Outras

§ (literalmente) centenas disponíveis.

§ devem ser escolhidas com bom senso

§ desaconselhável utilizar mais de duas fontes em documentos e apresentações - transmite in-fantilidade.

9.2.3 TAMANHO DE LETRAS (A MENOS DE NORMAS)

§ Times New Roman: 12

§ Arial e Helvetica: 11

§ Notas de rodapé: 2 tamanhos abaixo do escolhido para o texto

§ Conteúdo de tabelas: 1 a 2 tamanhos abaixo do tamanho do texto.

9.2.4 PARÁGRAFO

§ 6pt acima, 6 pt abaixo,

§ espaço entre letras: Múltiplo 1,15 (a menos de normas).

§ A menos de norma específica, não se deve colocar avanço (endentação) na 1ª linha.

§ A endentação na primeira linha é da época em que se escrevia a mão, para deixar claro que se havia mudado de parágrafo – não tem o menor sentido hoje. Sobrevive por meio de normas desnecessariamente conservadoras.

§ Para mudar de parágrafo, dar um espaço ou pular uma linha.

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9.2.5 CABEÇALHOS

§ Inserem-se assim:

§ A 1ª opção é a de formato livre. Escolhida, escreve-se o cabeçalho desejado, e insere-se uma linha horizontal depois.

§ Colocada a linha, sair do modo cabeçalho.

§ A seta horizontal mostra um espaço que sempre se deve deixar, e que os profissionais de artes gráficas chamam de “espaço de respiração”

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9.2.6 RODAPÉS

§ Não tão raros, servem para o nome (e dados) da organização ou de quem escreveu o documento.

§ Convém colocar uma linha horizontal acima.

§ Usa-se principalmente para números de página.

9.2.7 NÚMEROS DE PÁGINA

§ A menos de norma, recomenda-se colocar embaixo, à direita, com nº dois tamanhos menor que o do texto.

9.2.8 NUMERAÇÃO DE CAPÍTULOS E SEÇÕES

§ Geralmente, as pessoas não aprendem a numeração automática, recurso importante do Word.

§ Sem numeração automática:

– corre-se o risco de errar (é muito comum que as pessoas se confundam – uma das ativi-dades que mais consomem tempo em correção de TCC é acertar a numeração)

– não se consegue fazer índices automáticos, que se orientam pelos títulos.

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§ Vamos numerar um texto:

– Colocar os títulos e subtítulos exige entendimento do texto.

– Não se deve colocar mais de três níveis. Se acontecer, numerar o quarto nível como a, b, c, ...

– Na guia Início, buscar os estilos marcados como Título, com um número (sem isso, não se consegue fazer o sumário automático).

– Escrever o título, e clicar no nível desejado.

– Nem sempre a formatação que se apresenta é a desejada.

– É, então, necessário mudar a formatação (no caso, para Arial 11)

Começando pelo Brasil, é indispensável a leitura de Os Sertões, de Euclides da Cunha. É curto e não é modelo de estilo. Euclides escreve como Jânio Quadros fala. É cara do far-te-ei, a forma oblíqua de que Jânio se gaba. Mas o livro é de gênio. Nos dá a realidade do sertão, que é, para efeitos práticos, o Brasil quase todo, tirando o Sul; a realidade do sertanejo, e do nosso atraso como civilização, como cultura, como organização do Estado. Euclides mostra o choque central entre o Brasil que descende da Europa e o Brasil tropicalista, nativo, selvagem. Euclides apresenta argumentos hoje superados sobre a superioridade da Europa, mas nem por isso deixa de estar certo. Tudo bem ter simpatia pelo índio e o sertanejo, o matuto, mas nosso destino é ser, à brasileira, à nossa moda, um país moderno nos moldes da civilização europeia. Euclides começou o livro para destruir Antônio Conselheiro e a Revolta de Canudos, mas se deixou emocionar pela coragem e persistência dos revoltosos e terminou escrevendo um grande épico, em prosa, que o poeta americano Robert Lowell, que só leu a tradução, considera superior a Guerra e Paz, de Tolstoi. Mas o importante para o jovem é essa escolha entre o primitivo irredentista dos Canudos e a civilização moderna, porque é o que terá de enfrentar no cotidi-ano brasileiro. É o nosso drama irresolvido. (Paulo Francis).

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– Para isso, ir em cada estilo na chamada faixa de opções, clicar o botão esquerdo e selecionar Modificar.

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– Modificado o estilo, todos os títulos com ele marcados se modificam de acordo.

– O Título 2 se muda da mesma maneira, e o resultado é assim:

– Como queremos o título todo em maiúsculas, não vamos simplesmente escrever em maiúscu-las, vamos mudar tudo o que seja Título 2, clicando em Formatar e selecionando Fonte.

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– O resultado fica assim:

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– O título 3 á mais complicado, porque queremos colocar números

– Mudando para Arial 10 em maiúsculas:

– Para colocar numeração em nível diferente de 1, faz-se no próprio texto:

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– Fica assim, e é necessário recuar o parágrafo.

– Em seguida, algo da versão 2007: alterar nível de lista.

– Seleciona-se na Biblioteca de listas o formato desejado

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– Mas ele é desobediente: vai deixar o usuário no nível 1 e é necessário voltar ao alterar nível de lista.

– O resultado, então, será:

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9.2.9 COMO DOMINAR O SOFTWARE

O que se viu agora é o básico em termos de numeração. O software às vezes é temperamental, e se tem de tentar outras coisas. Impossível mostrar tudo em uma aula. Há só um modo de adquirir profici-ência nisso, como em outras atividades humanas:

praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar praticar..

Nunca se deve numerar textos a mão, Com o tempo, se aprende. O aprendizado tem de ser renovado a cada versão do software. É importante ter o domínio do software, para poder se comunicar bem, po-der dar seu recado em uma forma perfeita.

Mal comparando, usar o Word é como tocar violão: com pouco esforço, se consegue tocar em público sem fazer vergonha, mas tocar realmente bem demanda estudo e perseverança. Deve-se ter sempre em mente que o mercado é muito competitivo, e o aluno e o profissional não devem perder oportunida-des de se diferenciar.

9.2.10 O ÍNDICE AUTOMÁTICO

Fazer o índice é:

– Bastante fácil quando se numerou corretamente

– Muito trabalhoso se feito a mão.

– No texto que vimos, colocou-se uma página em branco e se escreveu Índice, centralizado.

– Vai-se para a guia Referências, Sumário e Inserir Sumário

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– Pode-se escolher o formato Elegante (há vários)

Pode até sair elegante, mas sai meio estranho. Notem, no entanto, que foi produzido com muita facili-dade, e a facilidade é a mesma em documentos extensos.

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Para acertar o formato do índice:

§ Selecionar o texto do índice

§ Colocar tudo em maiúsculas

§ Colocar tudo em Arial 11

§ Colocar tudo em negrito, sem itálico

§ Dar um espaçamento de 6pt antes e depois de cada parágrafo.

Fica assim:

9.2.11 PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS PDF

O pdf é um tipo de documento não editável. Um caso típico, uma proposta – você não vai querer enviar uma proposta, com valores que possam ser mudados por alguém. O Word 2007 tem um recurso muito simples: no Salvar como, pedir para salvar em formato pdf.

9.2.12 CAPAS

O Word 2007 tem um recurso muito fácil para colocar capas em documentos, sem se preocupar em a página ser numerada, por exemplo. Para isto, basta ir na guia Inserir e em Folha de Rosto. Selecionar depois um tipo de capa entre muitos modelos disponíveis e modificáveis.

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V – GÊNEROS, TIPOS E LINGUAGENS

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10. GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS 10.1 DEFINIÇÕES E EXEMPLOS 10.1.1 GÊNERO TEXTUAL

Bakhtin (1992) define os gêneros do discurso como:

– categorias relativamente estáveis de enunciados;

– divisões constituídas historicamente;

Os gêneros textuais mantêm uma relação direta com a dimensão social. Essa noção é propositalmente vaga para referir os textos materializados que:

– são encontrados na vida diária;

– apresentam características sociocomunicativas definidas por:

§ conteúdos;

§ propriedades funcionais;

§ estilo e composição característica.

10.1.2 TIPOS TEXTUAIS

a) Definição

Espécie de sequência que:

– é teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição,

– consiste em:

§ aspectos lexicais;

§ aspectos sintáticos;

§ tempos verbais;

§ relações lógicas.

Notas:

§ A expressão “tipo de texto” é empregada equivocadamente e não designa tipo, mas sim gênero de texto.

§ A carta pessoal não é um tipo de texto informal e sim um gênero textual, assim como

b) Exemplos de tipos textuais:

As páginas que seguem exemplificam e ilustram os tipos textuais.

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Bilhete Receita de Bolo

Bula de remédio Lista telefônica

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Carta comercial Sermão

Revista Piada

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Manual de instruções

Livro e-mail

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Lista Horóscopo

Poema Prefácio

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Jornal História em quadrinhos

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10.2 COMPARAÇÃO ENTRE TIPOS E GÊNEROS

tipos textuais gêneros textuais

§ constructos* teóricos

§ definidos por propriedades linguísticas intrínsecas.

§ realizações linguísticas concretas § definidas por propriedades sócio-comunicativas.

§ não são textos empíricos. § constituem sequências no interior dos

gêneros • linguísticas • de enunciado

§ sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas deter-minadas por • aspectos lexicais • aspectos sintáticos • relações lógicas • tempo verbal

§ textos empíricos. § cumprem funções em situações comunicativas. § sua nomeação abrange um conjunto aberto e

praticamente ilimitado de designações concretas determinadas por • canal, • estilo, • conteúdo, • composição • função

§ designações teóricas dos tipos: • narração • argumentação • injunção • narração • argumentação • injunção • exposição

§ outras designações: • narração • descrição • dissertação

§ exposição

§ exemplos de gêneros:

• telefonema • sermão • carta comercial • carta pessoal • romance, • bilhete, • reportagem • aula expositiva • ata de reunião • cardápio • instruções • horóscopo

• receita culinária • bula de remédio • lista de compras • inquérito policial • resenha • edital de concurso • piada • conversação • conferência • e-mail • bate-papo virtual • aulas virtuais

10.3 CONFLUÊNCIAS

A produção em todos esses gêneros é a realização dos tipos textuais.O mesmo gênero pode realizar dois ou mais tipos.Em outras palavras, um texto pode ser tipologicamente variado (heterogêneo). Por exemplo, uma carta pessoal pode conter, entre outros, uma sequência narrativa, uma argumentação e uma descrição. Segue um exemplo de uma sequência tipológica em um mesmo gênero textual.

* construções puramente mentais, criadas a partir de elementos mais simples, para ser parte de uma teoria (dicionário Houaiss)

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Descritiva Rio, 11/08/2009

Injuntiva Amiga A.P

Descritiva Para ser preciso, estou no meu quarto, escrevendo em um computador ligado na minha frente, ouvindo o rádio (bem alto, por sinal).

Expositiva Está ligado na Fluminense – ou rádio dos funks – eu adoro funk, principalmente com letras civilizadas. Aqui no Rio é o que rola... e você, gosta? Gosto também de house e dance music, sou fascinado por discotecas!

Narrativa Ontem mesmo (sexta) eu fui e cheguei quase às quatro horas da madrugada.

Expositiva Dançar é muito bom, principalmente em uma discoteca legal. Aqui no condomínio onde moro há muitos jovens. Somos muito amigos e sempre vamos todos juntos. É muito maneiro!

Narrativa C. foi três vezes à K. I.,

Injuntiva pergunte só a ele como é!

Expositiva Está tocando agora o “Melô da Mina Sensual”, super demais! Aqui ouço também a Tran-samérica e Antena 1.

Injuntiva E você, quais rádios curte?

Expositiva

Demorei um tempão pra responder, espero sinceramente que você não esteja chateada-comigo. Eu me amarrei de verdade em vocês aí, do Recife, principalmente a galera da ET, vocês são muito maneiros! Meu maior sonho é viajar, ficar um tempo por aí, conhe-cer legal vocês todos, sairmos juntos... Só que não sei ao certo se vou realmente no final de 2010. Mas pode ser que dê, quem sabe? Não sei ao certo se vou ou não, mas fique certa que farei de tudo para conhecer vocês o mais rápido possível. Posso te dizer uma coisa? Adoro muito vocês!

Narrativa

Agora, a minha rotina: às segundas, quartas e sextas- feiras trabalho de 8:00 às 17:00h, em Botafogo. De lá vou para o T., minha aula vai de 18:30 às 22:40h. Chego aqui em casa quinze para meia-noite. E às 3ªs e 5ªs fico 050 em F. só de 8:00 às 12:30h. Vou para o T.; às 13:30 começa o meu curso de Francês (vou me formar ano que vem) e vai até 15:30h. 16:00h vou dar aula e fico até 17:30. De 17:40h às 18:30 faço natação (no T. também) e até 22:40 tenho aula. Ontem eu e S. fizemos três meses de namoro.

Injuntiva Você sabia que eu estava namorando?

Expositiva Ela mora aqui mesmo no(ilegível) (nome do condomínio). A gente se gosta, mas às vezes eu acho que o namoro não vai durar, entende?

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Argumentativa O problema é que ela é muito ciumenta, principalmente porque eu já fui a fim da B., que mora aqui também. Nem posso falar com a garota que S. já fica com raiva.

Narrativa É, acho que vou terminando...

Injuntiva Escreva! Faz um favor? Diga pra M., A., P. e C. que esperem. Não demoro a escrever. Adoro vocês! Um beijão!

Narrativa Do amigo P. P. 15:16

10.4 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

O quadro a seguir mostra como o texto é organizado a partir dos diversos tipos.

Narrativos ¢ Sequências temporais

Descritivos ¢ Sequências de localização

Expositivos ¢ Sequências analíticas

Argumentativos ¢ Sequências contrastivas explícitas

Injuntivos ¢ Sequências imperativas

10.5 TRÊS NOTAS SOBRE ANÁLISE DE TEXTO

– O modo de análise utilizado para estudar a carta para a amiga na seção anterior pode ser desen-volvido com todos os gêneros. Há grande heterogeneidade tipológica nos gêneros textuais.

– Quando se nomeia certo texto como narrativo, descritivo ou argumentativo, não se nomeia o gêne-ro, o que se nomeia é o predomínio de um tipo de sequência de base.

– Um gênero pode não ter uma determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gênero. Um exemplo seria um artigo de opinião em um jornal: não tem a característica da imparcialidade, mas não deixa de ser um texto jornalístico.

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10.6 GÊNEROS E FORMATOS

Considere-se os textos a seguir.

Poema de Carlos Drummond de Andrade Texto do jornalista Josias de Souza

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você ? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama protesta, e agora, José ? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José ? E agora, José ? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José ! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia*, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José ! José, pra onde?

* Teogonia: nas religiões politeístas, narração do nascimento dos deuses e apresentação da sua genealogia

Um novo José Calma José. A festa não começou, a luz não acendeu, a noite não esquentou, o Malan não amoleceu, mas se voltar a pergun-ta: e agora José? Diga: ora Drummond, agora Camdessus. Continua sem mulher, continua sem discurso, continua sem carinho, ainda não pode beber, ainda não pode fumar, cuspir ainda não pode, a noite é fria, o dia ainda não veio, o riso ainda não veio, não veio ainda a utopia, o Malan tem miopia, mas nem tudo acabou, nem tudo fugiu, nem tudo mofou. Se voltar a pergunta: E agora José? Diga: ora Drummond, Agora FMI.

Se você gritasse, se você gemesse, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse...

O Malan nada faria, mas já há quem faça. Ainda só, no escuro, qual bicho do mato, ainda sem teogonia, ainda sem parede nua, pra se encostar, ainda sem cavalo preto, que fuja a galope, você ainda marcha José! Se voltar a pergunta: José para onde? Diga: ora Drummond, Por que tanta dúvida? Elementar, elementar, sigo pra Washington e, por favor, poeta, não me chame de José. Me chame Joseph.

Texto produzido no contexto da negocia-ção da dívida externa brasileira em Wa-shington, em época em que essa dívida era motivo de grande preocupação.

O Poema do jornalista pertence a um gênero funcional (artigo de opinião) mas tem o formato de outro (poema). Tem, assim, uma configuração híbrida: tem, vale repetir, formato de poema e pertence ao gênero artigo de opinião. É um caso de estrutura/intertextualidade intergêneros.

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A intertextualidade intergêneros é diferente da heterogeneidade tipológica do gênero, que consiste na realização de várias sequências de tipos intertextuais dentro de um mesmo gênero, caso da carta do jovem.

Assim:

– Todos os textos se manifestam sempre num ou outro gênero textual.

– Um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais é importante tanto para a produ-ção como para a compreensão de textos.

– Os gêneros se distribuem em um contínuo, dos mais informais aos mais formais e em todos os contextos e situações da vida cotidiana.

– Gêneros textuais não são frutos de invenções individuais, mas formas socialmente maturadas em práticas que têm lugar em comunidades.

– Os gêneros são modelos comunicativos, operam prospectivamente, abrindo o caminho da compre-ensão. (frase de Bakhtin, teórico importante da Linguística)

– Os gêneros textuais fundam-se em critérios externos.

§ sócio-comunicativos

§ discursivos

– Os tipos textuais fundam-se em critérios internos.

§ critério linguístico

§ critérios formais

Casos particulares:

§ Há alguns gêneros que só são recebidos na forma oral: notícias de televisão ou rádio.

§ Novenas e ladainhas, embora tenham sido escritas, têm sempre uso oral. Ninguém reza por escrito e sim oralmente.

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11. POESIA 11.1 TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO

Definir poesia é uma tarefa entre muito difícil e impossível, mas a frase que segue é uma boa tentativa:

Na poesia, a palavra tem:

sonoridade

ritmo

relação com as outras palavras

aspecto visual

Poesia, vale então repetir, não é só significado. A lógica da poesia vai além da estrutura sintática e do signifi-cado. É possível entender tudo isso examinando dois textos muito simples, um poético e outro não.

Batatinha quando nasce Se esparrama pelo chão A menina quando dorme Bota a mão no coração

Espinafrinho quando brota Deixa sua raizinha debaixo da terra, A menina quando dorme Bota a mãozinha no coração

Outras tentativas de definição de poesia:

– A poesia é a arte de comunicar a emoção humana pelo verbo musical. (René Waltz)

– A poesia é a expressão natural dos mais violentos modos de emoção pessoal. (J. Middleton Murry)

– A poesia é o extravasar espontâneo de poderosos sentimentos. (William Wordsworth)

– O texto poético é aquele em que a função poética se sobrepõe às demais e delas se destaca, sem eliminá-las. (Mário Laranjeira)- (definição baseada nas funções da linguagem)

Poesia é um texto em que o significante (no caso a palavra) não existe meramente a serviço do signifi-cado.

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11.2 ALGUNS EXEMPLOS

Beatles The long and winding road that leads to your door, will never disappear, I’ve seen that road before*. (*A estrada longa e tortuosa que leva à sua porta / nunca desaparecerá; Eu (vi essa estrada antes.)

Adélia Prado No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante. Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão. De tempo e traça meu vestido me guarda.

Chico Buarque O que será, que será Que dá dentro da gente e que não devia Que desacata a gente, que é revelia, Que é feito uma aguardente que não sacia

Fernando Pessoa O poeta é fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

Garoto bobo Mais fácil as ondas do mar chegarem ao firmamento Que seu nome sair do meu pensamento. (autêntico!)

Garoto esperto Escrevi teu nome na areia, só de castigo Pro mar fazer contigo o que fizeste comigo. (autêntico!)

Padre de colégio Tu és o sildo da kirkácea lyra que nos formélios de ibraim herbáceo em subitólios de pastânea cyra carduz os tempos de Peró Garagáceo!

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11.3 COMO SE MATA UM POEMA

Aí vem uma professora e pergunta:

1- Qual é a cor do cavalinho?

2- Onde ele está?

3- Como é a sua crina?

4 - Ele está dormindo ou acordado?

5- O que ele come?

Esse tipo de questionamento em atividades de trabalho com a poesia comete dois desastres didático-literários:

§ O poético foi inviabilizado

§ A criança é condicionada a manter-se nas informações secundárias, superficiais, impedida de se emocionar ou recriar poema, numa co-autoria.

Se você entender o porquê desses desastres, está começando a entender o que é poesia.

O Cavalinho Branco À tarde, o cavalinho branco está muito cansado: mas há um pedacinho do campo onde sempre é feriado. O cavalo sacode a crina loura e comprida e nas verdes ervas atira sua branca vida. Seu relincho estremece as raízes e ele ensina aos ventos a alegria de sentir livres seus movimentos. Trabalhou todo o dia, tanto! Desde a madrugada! Descansa entre as flores, cavalinho branco, de crina dourada.

Cecília Meireles (Ou Isto ou Aquilo – Poemas para Crianças)

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12. LINGUAGEM JORNALÍSTICA 12.1 A LINGUAGEM JORNALÍSTICA

A linguagem jornalística no Brasil começou nos anos 50, em um pequeno jornal chamado Diário Cario-ca. Dois professores da (agora) UFRJ, Danton Jobim e Pompeu de Souza trouxeram & adaptaram o padrão americano. Os principais pontos dessa mudança vão listados a seguir.

– Adaptação do lead (primeiro parágrafo, com múltiplas funções) aos usos e costumes do Português brasileiro.

– Incorporação progressiva de usos propostos, na literatura, pelos modernistas de 1922, para apro-ximar a escrita da fala corrente brasileira. Exemplos de usos adaptados:

§ Fulano mora na Rua X, em vez de fulano mora à Rua X (há muitíssimos outros).

§ Banimento de palavras como nosocômio (quer dizer hospital, muito comum nos jornais dos anos 50!).

§ Banimento de estrangeirismos como center-forward em vez de centro-avante.

A equipe do Diário Carioca, em certo momento, debandou em massa para o Jornal do Brasil, onde, no início dos anos 60 o estilo se firmou. Os outros grandes jornais (Globo, Folha, Estado) só aderiram no início dos anos 70.

12.2 O TRIPÉ DA ESTRUTURA DA NOTÍCIA

A notícia, qualquer que seja ela. Tem três partes: título, lead e corpo.

– Título:

§ Dá orientação geral sobre a matéria

§ Desperta interesse

– Lead (ou cabeça)

§ Introdução ou abertura (1º parágrafo)

§ Apresenta sucintamente o assunto

§ Destaca o fato essencial

– Corpo

§ Matéria em si, estruturada de várias formas

12.3 O LEAD

a) Roteiro

Um roteiro sucinto para um lead mostra as funções da parte inicial das notícias.

– Apresentar um resumo do fato

– Identificar lugares e pessoas envolvidas

– Destacar as peculiaridades da história

– Dar as notícias mais recentes

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b) Tipos de lead (classificação de Fraser Bond)

O quadro a seguir lista e exemplifica os tipos de lead.

Integral Subiu para 545 o número de mortos no terremoto que atingiu an-teontem o Sul do Irã., deixando mais de 600 feridos e destruindo totalmente três aldeias. As autoridades estimam ser necessários vários meses para que os 4.500 sobreviventes das 12 cidades atingidas voltem a levar vida normal

Intimista Se você pretende ir ao litoral nesse fim de semana, procure sair o mais cedo possível. Estão previstos engarrafamentos nas princi-pais estradas para lá.

Circunstancial Embora não quisesse magoar seu marido, vascaíno doente, Cre-milda da Silva não conseguiu conter uma expressão de alegria quando a TV mostrou o primeiro gol do Flamengo. Sua simpatia pelo time da Gávea resultou em um processo de divórcio na 2ª Vara de Família.

De citação direta (entre aspas) – usado quando a declaração é polêmica

“Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco”, disse ontem a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, duran-te uma entrevista à BBC.

Descritivo “Foi só os pezinhos da boneca representando a menina Isabella Nardoni aparecerem na janela do apartamento 62 do Edifico Lon-don e calaram-se os cerca de 150 jornalistas, técnicos e cinegrafis-tas que acompanhavam ontem desde as primeiras horas”

O lead pode ser também composto,, caso em que incorpora elementos de dois ou mais tipos.

12.4 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA

Normalmente a notícia é estruturada como uma pirâmide inverti-da: o lado mais largo (a base) da pirâmide fica voltado para cima, pois as informações mais importantes devem vir no início do texto. Essencialmente, os jornalistas colocam na abertura da matéria os elementos mais relevantes e interessantes do fato. As demais informações seguem em ordem decrescente de impor-tância. A figura ao lado esquematiza essa estrutura.

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No jornalismo literário, que incorpora técnicas da ficção, pode-se usar a chamada pirâmide normal: o autor deixa o mais im-portante para o final, fechando a história em clima de tensão e suspense.

O desenlace com os detalhes mais significativos da notícia prende o leitor até o fim. Não é muito utilizado no factual diário, já que a maioria dos leitores quer ser informada de maneira rápida e objetiva.

Exemplo:

“Ela foi doméstica, ele empregado de armazém. Sem filhos, chegaram ao asilo há nove anos levados por sobrinhos. Pela primeira vez dormiriam separados, cada um no dormitório coletivo de seu sexo. Haviam dividido privações e sonhos não realizados. Resistiram porque se amavam. Maria morreu em maio, aos 94 anos. Manoel ainda espera” – Texto de Eliane Brum.

12.5 CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA 12.5.1 QUANTO À ESCOLHA DOS ITENS LÉXICOS

– utilização de palavras coloquiais

Exemplos:

não coloquial coloquial

próximo a perto de

recinto sala

pretérito passado

– eliminação, sempre que possível, de palavras estrangeiras.

Exemplos:

• pagamento em dinheiro em vez de pagamento cash;

• partes interessadas em vez de stakeholders;

• núcleo da inflação em vez de core inflation;

Nota importante: Às vezes não é possível evitar o termo estrangeiro, por não existir a palavra exata em Por-tuguês. (bypass, feedback, download) - nesses casos, não usar aspas.

– uso de neologismos e abreviaturas, quando necessário.

Exemplos:

• malufista; petista;

• FHC por Fernando Henrique Cardoso; PIB por Produto Interno Bruto.

• cheque voador e outras expressões e palavras consagradas pelo uso.

– Economia no uso de adjetivos e subjetividade.

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Exemplos: Em vez de dizer que:

• alguém é bonito, dar depoimentos de personalidades conhecidas sobre a beleza dessa pessoa.

• alguém é rico, listar os bens.

• uma atriz é competente, listar os papéis e críticas recebidas.

– Ausência de juízos de valor.

Exemplos:

• dizer o suposto criminoso, em lugar de criminoso;

• dizer o deputado que responde a 15 processos criminais, em lugar de dizer que o deputado é desones-to.

– Eliminação de palavras desnecessárias.

Exemplos:

• “João considera o Flamengo favorito” em lugar de “João disse que considera que o Flamengo é o favo-rito”.

• “Marcela parece disposta a revelar a verdade” em lugar de “Marcela parece que está disposta a revelar a verdade”.

– Uso de palavras só no sentido inequívoco.

Exemplos:

• criança, até dez anos, embora haja quem considere uma menina de 12 ainda criança;

• não chamar de mansão qualquer casa com 4 ou 5 quartos.

12.5.2 QUANTO AOS PROCEDIMENTOS GRAMATICAIS

– Aproximação da linguagem escrita na direção da linguagem coloquial, evitando, no entanto, as marcas de oralidade;

Exemplos:

• ele se machucou em vez de ele machucou-se

• ela havia comemorado em vez de ela comemorara.

– Uso da voz passiva só quando necessário (a voz passiva enfraquece o texto e retira a responsabilidade do sujeito).

Exemplo:

• “a equipe da BASF desenvolveu o projeto”, em lugar de “o projeto foi desenvolvido pela equipe da BASF”.

Nota: em alguns casos, manter a voz passiva, como em “o espetáculo foi presenciado por 2000 pessoas”, porque, nesse caso a ênfase está no espetáculo.

– Frases e períodos curtos.

Não mais que 20 palavras, desde que isso não prejudique a coesão do texto.

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– Uso de um padrão moderno:

A língua não é mais padronizada pelos escritores consagrados (ainda usados para validar verbetes de dicio-nários) - o padrão agora é o próprio texto dos jornalistas (Globo, Folha, Estadão, Veja, Época)

12.5.3 PRINCIPAL CARACTERÍSTICA

– linguagem absolutamente correta, de acordo com a norma culta.

É interessante notar que as fontes mais práticas de regras são os próprios manuais de redação, publi-cados e vendidos pelos principais jornais, além do manual de redação da Presidência da República, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/index.htm.

12.6 DUAS NOTAS IMPORTANTES 12.6.1 ESTRANGEIRISMOS

A língua é viva, está em constante modificação, e assimila palavras estrangeiras

– cheque, clube, sanduíche, futebol � inglês

– buquê, plissado, chanel � francês

– alface, armazém, almofada � árabe

– posições no futebol – um caso de apropriação sem necessidade de leis ou imposições.

até 1950 1950-1970 após 1970

goal keeper quíper goleiro

back beque zagueiro

center-forward centro-avante

12.6.2 PERGUNTAS QUE DEVEM SER RESPONDIDAS POR UMA REPORTAGEM

As perguntas que seguem, que uma reportagem deve responder, fazem parte da linguagem jornalística.

– quem

– o quê

– quando

– onde

– como

– por quê

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13. NOTAS SOBRE A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA 13.1 CARACTERÍSTICAS DA MENSAGEM PUBLICITÁRIA

– Visível: cores, fotos, símbolos

– Fácil de lembrar: jogos de palavras (“Banco 30 horas”), slogans (“emoção pra valer”)

– Fácil de entender

– Impactante

13.2 ELEMENTOS DA MENSAGEM PUBLICITÁRIA

– Emoção - apelos sentimentais presentes em:

§ relacionamentos sociais

§ imagem que o consumidor tem de si próprio.

– Cenário - eventos de grande projeção (copa do mundo, festas de fim de ano)

– Consumo consciente: “ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado“, "Beba com moderação“,.

– Humor : campanhas de economia de água ou de luz, por exemplo, alertam para o perigo de manei-ra sutil, porém, objetiva.

– Valor artístico das imagens: representação do imaginário induzindo a aquisição do produto ou ser-viço.

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14. DESENVOLVIMENTO DE TEXTO FICCIONAL 14.1 POR QUE SABER CONTAR HISTÓRIAS?

Contar histórias exercia a imaginação, a criatividade e apura a linguagem. Mesmo um texto totalmente objetivo como um relatório técnico fica mais leve e mais fácil de ler se escrito por alguém que sabe contar uma história.

Quem sabe contar uma história, além de ser treinado em criatividade, conhece algo muito importante: como gerenciar seu conhecimento – não se pode contar tudo ao leitor, logo. Contar uma história tam-bém capacita a dar exemplos sempre que se apresenta uma ideia. Os conferencistas de administração e os consultores bem sucedidos sempre têm muitas histórias para contar. Mesmo um engenheiro esta-rá mais bem posicionado no trabalho se souber contar como certa metodologia não deu certo, por exemplo.

Ainda, a prática de contar histórias proporciona:

– Aprender a analisar situações.

– Reconhecer, analisar e comparar diferentes pontos de vista.

– Identificar, explorar e reconhecer diferentes padrões de linguagem.

– Perceber como a estrutura da linguagem afeta a percepção de quem está lendo.

14.2 CARACTERÍSTICAS DO TEXTO FICCIONAL

As características do texto ficcional são:

– Actorialização

– Temporalização

– Espacialização

– Conflito/resolução (ou não) do conflito

a) Actorialização

Antes de começar a escrever a história, o autor de ficção deve fazer um perfil dos personagens.

1. Sexo

2. Idade

3. Cor

4. Aparência

5. Instrução

6. Valores

7. Ambições

8. Trabalho

9. Maneira de se apresentar

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b) Temporalização

O narrador precisa determinar em que época se passa a história.

– Presente

– Passado

§ Recente § Remoto

– Futuro

§ Próximo § Longínquo

c) Espacialização

– Especificação do local

§ Em grande detalhe § Com poucos detalhes

14.3 OS 5 ELEMENTOS DE UMA HISTÓRIA

1. Personagem: capaz de provocar empatia no leitor. Um bandido pode causar empatia (por exemplo, Don Corleone, em O Poderoso Chefão ou Zé Pequeno, em Cidade de Deus).

2. Objeto Valor: uma coisa que esse personagem quer muito, e que pode ser:

– alguma coisa

– o amor de uma pessoa

– impedir algo de acontecer

– ...

3. Característica: esse objeto é difícil de conseguir, mas não impossível.

– A narrativa não é linear, o personagem pode chegar perto e depois ficar longe, às vezes con-seguir o que quer parece quase impossível.

– Tem de ser difícil, para a história ser interessante.

4. Emoção: a história tem de ser contada com impacto emocional.

– Uma das maneiras é calibrar:

§ o que o leitor sabe do enredo

§ o que o personagem não sabe das coisas que o leitor sabe

5. Final: plausível.

§ O final não precisa ser feliz.

(As novelas brasileiras raramente ou nunca têm um final plausível, devido às complicações de uma trama que tem de durar alguns meses).

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14.4 A ESTRUTURA DE 3 ATOS

– 1º ato:

§ os personagens são apresentados

§ o principal conflito é estabelecido

§ tem-se uma ideia dos obstáculos possíveis.

– 2º ato:

§ os obstáculos e as dificuldades se tornam claros.

§ o personagem principal muda e cresce como pessoa ou é pressionado para tal.

§ os enredos secundários são apresentados e se desenvolvem.

– 3º ato:

§ enredos principal e secundários se resolvem.

§ o final pode não ser feliz, mas há um sentido de conclusão.

§ as coisas parecem de algum modo resolvidas por enquanto.

14.5 NOTA SOBRE ELEMENTOS & ESTRUTURA

Nenhuma dessas informações é definitiva, há muitas variações possíveis, mas:

– tanto elementos como estrutura ajudam a escrever a história.

– elementos e estrutura dão consistência – certeza de que se está escrevendo algo plausível.

14.6 CONFLITOS

– Há três teorias principais sobre conflitos básicos:

1. um único enredo para todas as histórias.

2. sete enredos básicos

3. trinta e seis enredos básicos (George Polti, França 1895)

1. conflito único:

§ Exposição

§ Ação crescente

§ Clímax

§ Ação decrescente

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2. 7 enredos:

a. Homem x homem (novelas de TV em geral)

b. Homem x natureza (Robinson Crusoé)

c. Homem x ambiente (Central do Brasil)

d. Homem x máquina (Blade Runner, Matrix)

e. Homem x sobrenatural (Guerra dos Mundos)

f. Homem x si mesmo (histórias de drogados tentando se recuperar)

g. Homem x Deus (várias histórias da Bíblia e da mitologia)

3. Os 36 enredos:

enredo personagens principais exemplo

1 súplica suplicante, perseguidor, autoridade poderosa

Pessoas pedindo refúgio fugindo de um assassino (6ª feira 13)

2 resgate desafortunados, ameaçador. herói Filmes como Tubarão, em que existe um poder amea-çador. Filmes de super-heróis, como O Homem Aranha.

3 vingança individual criminoso, vingador Vários episódios de Law and Order 4 vingança familiar culpado, vingador, parente Histórias de filhos vingando morte dos pais (O Rei Leão)

5 perseguição fugitivo, perseguidor Histórias de pessoas fugindo de bandidos ou da polícia (Os Miseráveis)

6 crueldade e/ou azar desafortunado, pessoa com poder Filmes de desastres (Armagedon). O desastre pode ser pessoal, como em mulheres abandonadas pelo marido (Uma Mulher Descasada).

7 desastre poder extinto, poder vitorioso ou mensageiro

Todos os filmes de judeus perseguidos pelo nazismo (O Pianista)

8 revolta tirano, conspirador Filmes de guerra ou revolta, com foco na resistência contra o opressor (Robin Hood)

9 ousadia herói ousado, objetivo, adversário O Resgate do Soldado Ryan

10 sequestro sequestrado, sequestrador, guardião Vários episódios de Law and Order 11 enigma interrogador, investigador, problema Qualquer história de detetive, como as de Sherlock

Holmes

12 obtenção dois ou mais opositores, objeto, talvez um juiz

Todos os filmes de assaltos a banco, ao trem pagador e outros.

13 ódio familiar dois membros de uma família que se odeiam

Todas as histórias de pais que brigam pela guarda de um filho (Kramer x Kramer). Histórias de irmãos podero-sos que mandam desaparecer com o irmão menos poderoso (O Máscara de Ferro)

14 rivalidade familiar membro preferido, membro rejeitado, objeto

Filmes em que dois irmãos gostam da mesma mocinha (Vidas Amargas)

15 triângulo amoroso amantes originais, intruso Muito explorado pelo cinema e TV (Vários episódios de Law and Order, As diabólicas).

16 loucura louco, vítima Qualquer filme com um criminoso psicopata (Psicose).

17 imprudência fatal imprudente, vítima ou objeto perdido A Bela Adormecida, com as fadas discutindo e chaman-do a atenção da bruxa.

18 crime de amor amante, amado(a), revelador No afã de salvar a amada, mocinho acaba matando o cara que a está assaltando, e o detetive descobre.

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enredo personagens principais exemplo

19 amigo mata amigo matador, vítima não reconhecida, revelador

Édipo.

20 sacrifício por um ideal herói, ideal Joana d’Arc. 21 sacrifício por pessoa

amada herói, pessoa amada Cyrano de Bergerac, Casablanca.

22 sacrifício por paixão herói, objeto da paixão O Corcunda de Notre Dame 23 sacrifício de pessoa

amada herói, vítima, necessidade de sacrifí-cio

Abraão e Isaac, na Bíblia (Deus mandou Abraão matar seu filho)

24 rivalidade entre superior e inferior

superior, inferior, objeto Qualquer filme com um amante rico e um pobre (Se Meu Apartamento Falasse)

25 adultério adúlteros, cônjuge enganado. Várias e várias novelas, As Pontes de Madison

26 crime passional amante, amado, tema da dissolução. Qualquer história em que o amante rejeitado mata o que rejeitou.

27 descoberta da desonra de pessoa amada

descobridor, culpado Filmes em que a mulher descobre que o marido casou com ela sob nome falso e é um criminoso.

28 obstáculos ao amor* dois amantes, obstáculo 100% das novelas

29 inimigo amado inimigo amado, amante, odiante Romeu e Julieta 30 ambição pessoa ambiciosa, objeto, adversário Histórias em que se mata o pai (ou o marido) para

receber a herança.

31 conflito com um deus mortal, imortal Várias histórias da Bíblia e da Mitologia, Uma Odisséia no Espaço.

32 ciúme por engano amante, objeto do ciúme, suposto cúmplice, mentiroso

Otelo.

33 erro de julgamento pessoa errada, vítima do erro. Crime e Castigo 34 remorso culpado, vítima, questionador Todas as histórias em que se recupera alguém perdido,

geralmente quando todos dizem que é impossível.

35 recuperação de alguém perdido

pessoa que procura, pessoa encon-trada

Todas as histórias em que a mocinha morre (Love Story)

36 perda de pessoa amada pessoa assassinada, testemunha, executor

Todas as histórias com um impostor.

Atenção: muitas histórias são combinações desses enredos.

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15. ASPECTOS GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL 15.1 O QUE É REDAÇÃO OFICIAL

A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Po-deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali-dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publicidade e a impessoali-dade princípios fundamentais de toda administração pública, claro está que devem igualmente nortear a elaboração dos atos e comunicações oficiais.

Esses mesmos princípios (impessoalidade, clareza, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se às comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma única interpretação e ser estri-tamente impessoais e uniformes, o que exige o uso de certo nível de linguagem.

Nesse quadro, fica claro também que as comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público).

15.2 A IMPESSOALIDADE

A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: alguém que comunique; algo a ser comunicado e alguém que receba essa comunicação.

Não há lugar na redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta da interferência da individualidade que a elabora.

A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impessoalidade.

15.3 A LINGUAGEM DOS ATOS E COMUNICAÇÕES OFICIAIS

Existe necessariamente uma distância entre a língua falada e a escrita. A língua falada é extremamente dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de costumes, e pode eventualmente contar com outros elementos que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lenta-mente as transformações, tem maior vocação para a permanência e vale-se apenas de si mesma para comunicar.

A língua escrita como a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Em uma carta a um amigo, podemos nos valer de determinado padrão de linguagem que possua ex-pressões extremamente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico, não se há de estranhar a pre-sença do vocabulário técnico correspondente. Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a empregamos.

O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o pa-

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drão culto é aquele em que a) se observam as regras da gramática formal, e b) se emprega um voca-bulário comum ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permi-tindo, por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os cidadãos.

Pode-se concluir, então, que não existe propriamente um “padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações oficiais.

A linguagem técnica deve ser empregada apenas em situações que a exijam.

15.4 FORMALIDADE E PADRONIZAÇÃO

As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao correto em-prego deste ou daquele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível (v. a esse respeito 2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento); mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.

15.5 CONCISÃO E CLAREZA

A concisão é uma qualidade do texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.

Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundárias que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas.

A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor. Para ela concorrem:

a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações que poderia decorrer de um tratamento perso-nalista dado ao texto;

b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de entendimento geral e por definição avesso a vocábu-los de circulação restrita, como a gíria e o jargão;

c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a imprescindível uniformidade dos textos;

d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguísticos que nada lhe acrescentam.

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VI – PROPOSTAS E CURRÍCULOS

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16. COMO ELABORAR PROPOSTAS 16.1 O QUE É UMA PROPOSTA

Em âmbito de empresa, uma proposta é:

a) descrição de um fornecimento de produtos ou serviços;

b) apresentação das condições em que esse fornecimento será efetuado.

A importância do desenvolvimento de boas propostas dificilmente pode ser exagerada: sem vender, a empresa não sobrevive, e se vender mal, também não. A proposta, na maioria dos casos, é o docu-mento contratual de referência, e não deve deixar dúvidas sobre escopo e condições de fornecimento.

A proposta, portanto deve ser:

– concisa: sem palavras desnecessárias e sem repetições*.

– atraente: graficamente bem feita e com realce aos méritos do produto ou serviço.

– bem escrita:

§ sem erros de ortografia ou gramática;

§ clara e sem margem a diferentes interpretações;

§ em estilo direto – deve-se evitar a voz passiva, que enfraquece o texto, e o gerundismo (“vamos estar fazendo”), vício que denota falta de compromisso.

Escala de compromissos

quando a pessoa diz o que quer dizer nível de compromisso

Hei de resolver seu problema. É uma questão de honra para mim.

Compromisso máximo

Resolverei seu problema. A solução será dada em algum futuro.

Compromisso forte, mas às vezes não tanto.

Vou resolver seu problema. Se tudo der certo, eu resolvo. Garantia relativa.

Estarei resolvendo seu problema Não conte com isso. Compromisso mínimo.

16.2 A PROPOSTA TÉCNICA E A PROPOSTA COMERCIAL

Geralmente as propostas se dividem em: técnica (que descreve o que o proponente quer fornecer) e comercial, que basicamente dá o cronograma de desembolso pelo cliente.

16.3 PARTES DA PROPOSTA

A proposta basicamente consiste em:

a) objetivo;

*Há a preocupação legítima com o volume da proposta – é inevitável que propostas com poucas páginas transmitam pouco

esforço ao fazê-las. Há dois truques para contornar isso sem sacrificar a concisão do texto: uso de papel encorpado e uso de anexos explicativos, com figuras, tabelas e textos ilustrativos.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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b) antecedentes;

c) descrição do fornecimento;

d) cronograma e prazo;

e) proposta comercial.

Conforme a proposta há outros elementos, como sumário executivo e metodologia. Todos serão abor-dados.

16.4 O OBJETIVO (E ESCOPO DE SERVIÇO)

O objetivo deve mostrar concisamente a que a proposta se destina. Por exemplo:

O objetivo desta proposta é apresentar detalhes e condições sobre os serviços de consultoria em orga-nização que a empresa X fornecerá à empresa Y†.

Uma variação muito usada, em propostas de serviços, é colocar o escopo de serviço (uma descrição precisa) junto com o objetivo. Neste caso, o título da seção será OBJETIVO E ESCOPO DE SERVIÇO. Por exemplo:

O objetivo desta proposta é apresentar detalhes e condições sobre os serviços de consultoria em orga-nização que a empresa X fornecerá à empresa Y. Esses serviços consistirão de:

1. definição das unidades de produção; 2. estudo dos métodos ora utilizados e sugestões de melhoria; 3. desenvolvimento de manuais detalhados; 4. treinamento de pessoal.

16.5 OS ANTECEDENTES

Os antecedentes (também chamados de background, palavra em Inglês de significado um pouco dife-rente)‡. Descreve-se a situação que levou o cliente a querer contratar o serviço ou produto.

16.6 COMO DESENVOLVER

Deve-se cuidar para não depreciar o cliente e mencionar, por exemplo, melhorias em vez de solução de problemas. O background é uma descrição breve do contexto em que o fornecimento será realizado. Por exemplo, necessidade de melhorias administrativas ou aquisição de maquinário para uma expan-são.

Exercícios

1. Procurar uma empresa que apresente problema e descrever esses problemas em um parágrafo§ adequado para a seção de antecedentes em uma proposta de prestação de serviços.

2. Ler a notícia em http://bit.ly/bWo9rO e resumir em dois parágrafos, como antecedentes para uma proposta de instalação de ar condicionado.

† Usar o futuro do indicativo é uma prática costumeira, significando confiança na excelência dos serviços e adequação do

preço. ‡ Background é uma metáfora, que significa plano de fundo. § Nem sempre á fácil encontrar uma empresa que queira mostrar problema a estudantes, mas é indispensável que o apren-

dizado se dê o máximo possível com base em situações reais. Caso haja dificuldade, procurar o SEBRAE ou a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (ou equivalente).

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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17. A PROPOSTA TÉCNICA 17.1 AS PREMISSAS

As premissas são parte importante da proposta e escrever quais são elas tem duas finalidades:

a) mostrar ao cliente que a empresa que propõe está familiarizada e segura a respeito do escopo;

b) apresentar exatamente o que se está propondo para evitar discussões posteriores, em que o clien-te afirma que foram prometidos itens que o proponente tem certeza de que não foram. A proposta é exatamente o documento necessário para dirimir dúvidas**.

17.2 COMO DESENVOLVER

– Estudar detalhadamente o problema a resolver;

– Procurar antecipar eventuais dúvidas futuras e resolvê-las no nascedouro.

Por exemplo, apontar, no caso de se estar fornecendo um manual, que ele se baseará na maneira como as tarefas são desenvolvidas atualmente, com melhoramentos onde for cabível.

Outro exemplo é, para o caso de se desenvolver uma proposta para determinada construção, fornecer as dimensões do prédio a ser construído e escrever que as ligações de água e eletricidade às redes existentes serão de responsabilidade do cliente.

Exercício

– Na empresa a que se refere o exercício anterior, formular as premissas e delimitar exatamente o serviço a prestar.

17.3 A DESCRIÇÃO DO FORNECIMENTO

A descrição do fornecimento se equilibra entre duas necessidades aparentemente opostas:

– concisão, com economia de palavras e clareza, que quase sempre fica comprometida quando há prolixidade;

– inteireza: não deixar nada de fora.

Além disso, há a necessidade de consistência. Não se pode, por exemplo, escrever que as ligações de água e eletricidade não fazem parte do escopo e, na descrição, incluir o fornecimento dessas ligações.

A descrição do fornecimento deve ser realizada em tópicos, com o uso de diagramas onde necessário, como no exemplo que segue, extraído da vida real.

Os serviços de engenharia de projeto se traduzirão nos seguintes documentos: a) Projeto básico:

− memorial descritivo do sistema.

− fluxograma de processo, com as principais linhas e propriedades de todas as correntes.

− fluxograma de engenharia, com todas as linhas, válvulas e instrumentos.

− lista de equipamentos.

** Dificilmente um fornecimento chega ao fim sem aditivos: o decorrer dos trabalhos quase sempre revela novas facetas do

problema a resolver. Uma proposta bem feita assegura que esses trabalhos ou produtos a mais serão devidamente remu-nerados.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 90

− lista de instrumentos.

− lista de cargas elétricas.

− lista de cargas para projeto civil.

− folhas de especificação de equipamentos.

− folhas de especificação de instrumentos.

− manual de operação. Nota: para esta proposta, o simulador foi configurado com as correlações SRK para os dados de equilíbrio líquido-vapor e entalpia. Para o projeto definitivo, serão usadas a correlações no estado-da-arte. b) Projeto detalhado:

− projeto de bases de equipamentos.

− plantas de tubulação, com vistas e cortes conforme necessário.

− projeto de suportes.

− projeto dos painéis elétricos.

− projeto da infra-estrutura elétrica, incluindo lista de cabos.

− projeto de iluminação.

− projeto da infra-estrutura de automação, incluindo lista de cabos.

− especificação de solda.

− especificação de pintura.

− especificação de isolamento.

− especificação de materiais de civil.

− especificação de material elétrico.

− especificação de cabos.

− especificação de material de tubulação.

Note-se que a descrição dos serviços poderia ser assim:

Os serviços de engenharia de projeto incluirão: a) memorial descritivo do sistema; b) projeto básico; c) projeto detalhado.

Embora a segunda descrição não esteja errada, causaria problemas, uma vez que o cliente poderia ter uma ideia diferente do fornecedor do que é, por exemplo, projeto básico. Ou poderia supor que o proje-to detalhado incluiria treinamento da mão-de-obra de montagem.

Exercício

Descrever com o maior detalhe possível os serviços correspondentes à proposta de que trata o outro exercício.

Roteiro do exercício – identificar os processos e listá-los; – mostrar por que serão confeccionados fluxogramas dos processos; – descrever brevemente as possibilidades de intervenção em cada processo (simplificação,

adição de controles, confecção de folhas de instruções).

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 91

17.4 AS EXCLUSÕES

Quando e como apresentar:

Sempre que houver possibilidades de dúvidas em relação ao escopo de serviço, deve-se mostrar cla-ramente o que não faz parte dele. Em outra seção, estão mencionadas duas tarefas excluídas do es-copo de serviço relativo ao exemplo mostrado na seção.

Exercício

Redigir um parágrafo mostrando, para o trabalho do exercício anterior, que não serão desenvolvidos sistemas informatizados.

17.5 CRONOGRAMA E PRAZO

Em propostas simples, com fornecimentos de pequeno porte, basta mostrar o prazo. Trabalhos de mai-or complexidade exigem a colocação de um cronograma, com lista das etapas e prazo de cada uma.

Esse tópico pode também incluir uma norma de coordenação que descreva o conteúdo das reuniões. O exemplo em 9.1 inclui uma seção desse tipo.

É aconselhável adquirir desenvoltura no uso da MS Project, mas o cronograma pode ser desenvolvido em uma tabela do Word, conforme exemplificado a seguir.

semana/tarefa 22/8 29/8 5/9 12/9 19/9 26/9 3/10 10/10

reunião inicial

distribuição trabalhos

preparo documentos

seleção palestrantes

preparo material divulgação††

distribuição folder/convites

inscrições

Exercício

A partir do modelo mostrado, desenvolver um cronograma para o trabalho do exercício anterior, com o maior nível de detalhe possível.

17.6 A PROPOSTA COMERCIAL

A proposta comercial, conforme mencionado, consiste basicamente em um cronograma de desembolso. O desembolso é baseado em eventos. É comum haver um pagamento inicial de aproximadamente 10% do valor. Sempre há uma retenção, ou seja, o final do pagamento sempre se dá com a conclusão do fornecimento.

Exercício

Definir eventos para remuneração parcial do trabalho do exercício em 5.2.1, e confeccionar uma pro-posta comercial.

††folders, cartazes, faixas,

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 92

18. CARTAS 18.1 A CARTA DE ENCAMINHAMENTO

As propostas são sempre acompanhadas de uma carta de encaminhamento. Os termos são simples e a carta costuma ter dois ou três parágrafos. O corpo da carta diz apenas que se está encaminhando a proposta e qual o fornecimento. É comum que o último parágrafo expresse confiança em que (a pro-posta) atenderá aos objetivos do cliente.

18.2 CARTAS-PROPOSTA

A carta-proposta costuma ser utilizada em trabalhos de pequeno porte. Combina a carta de encami-nhamento e a proposta propriamente dita em um único documento. O número máximo de páginas se situa em torno de 10. A seguir, um exemplo tirado da vida real.

À

Smart SLG Comércio de Sistemas de Automação Ltda.

Av. Luis Carlos Prestes, 410 sl 307 - Barra da Tijuca

22775-050 Rio de Janeiro, RJ

At.: Engº Norberto Maresca

Assunto: Proposta técnica e comercial

Cachoeira Paulista, 1º de dezembro de 2005

Prezado Engº Norberto:

É com satisfação que lhe enviamos nossa proposta técnica e comercial para execução de telas para um sistema supervisório em uso em uma indústria farmacêutica.

Temos certeza de poder executar um bom serviço. Segue o texto da proposta.

OBJETIVO Esta proposta se destina a apresentar as condições de fornecimento de telas para efetuar a Interface Homem-Máquina de um sistema supervisório para ar condicionado em uma indústria farmacêutica.

ANTECEDENTES Em uma indústria farmacêutica, o sistema de ar condicionado é muito importante, por assegurar, além do conforto aos técnicos e engenheiros, temperatura e umidade adequadas ao processamento de medicamentos e ausência de contaminação no ar. Na fábrica de vacinas da Fundação Oswaldo Cruz o ar condicionado é controlado através de um sistema de telas gráficas, que necessita ter figuras e layout melhorado.

ESCOPO DE SERVIÇO O escopo de serviço está no aprimoramento de telas existentes e confecção de novas telas conforme padrões fornecidos pelo cliente, e em conformidade com a norma ASM, incluindo cores e layout. O limite do número de telas para este escopo é de 25, entre aprimoradas e originais.

Se desejado, poderão ser também efetuados os links com o banco de dados, bastando para tal que sejam forneci-das as instruções, documentada ou verbalmente.

COORDENAÇÃO E PRAZOS O serviço será executado conforme as seguintes etapas:

a) Reunião com o cliente e com o usuário, definindo o objetivo e características das telas;

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 93

b) Entrega pelo cliente da lista de telas, com a tela correspondente a aperfeiçoar ou descrição de variáveis e instruções gerais de layout para as telas novas.

c) Entrega, em 20 dias corridos, de até 25 telas prontas, para comentários do cliente.

d) Ajustes, se houver, em até 5 dias.

Durante a execução, haverá uma ou mais reuniões com o cliente e/ou o usuário, para resolução de dúvidas e tomadas de decisão sobre alternativas que venham a surgir.

REMUNERAÇÃO A remuneração será de R$ 2.200,00 (dois mil e duzentos reais), aí incluídos os serviços e todas as despesas, inclusive de viagem.

Os pagamentos estarão assim distribuídos:

− início dos serviços: 10%

− entrega e aceitação final dos trabalhos: 90%

O serviço poderá ser iniciado imediatamente. Em V. S.ª assim desejando, poderá marcar a reunião de kickoff no Rio ou em S. Paulo.

Com cordiais saudações,

---------------------------------------------------

Pâmela Suzy Pedregal

Nota: reunião de kickoff é a reunião de início dos trabalhos..

Exercício

Desenvolver carta-proposta para um trabalho de contabilidade, que consista na confecção de um ba-lanço para uma pequena empresa.

18.3 O SUMÁRIO EXECUTIVO

Em propostas longas, como em outros tipos de documentos, é interessante colocar um sumário execu-tivo imediatamente após o objetivo. O sumário executivo leva em conta o fato de que o responsável pela liberação da verba ou sobre qual a proposta é vencedora pode não dispor de tempo para ler a proposta em sua inteireza.

a) listar as perguntas que uma pessoa que vai decidir faria sobre a proposta;

b) responder por escrito às perguntas, com economia de palavras;

c) costurar as respostas em um texto.

Exercício

a) terminar a proposta à qual se referem os outros exercícios.

b) confeccionar um sumário executivo e completar a proposta.

18.4 A REVISÃO FINAL

Em tudo o que se escreve e particularmente em propostas, é preciso proceder a uma revisão final do texto. Na totalidade das vezes em que se faz isso, erros são descobertos. Faça isso no exercício referi-do anteriormente.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 94

19. COMO ELABORAR UM CURRÍCULO 19.1 ORIGEM DA PALAVRA

O termo original é curriculum vitæ (Latim) ainda utilizado. O plural correto, neste caso, é curricula. O termo foi aportuguesado para currículo (perfeitamente aceitável). Plural: currículos. Em Inglês é resumé (palavra francesa). Em Francês, são usados dois termos: curriculum, quando é mais extenso, e resu-mé, que contém apenas as principais informações. A palavra latina curriculum quer dizer pista de corri-das.

curriculum vitæ = pista de corridas da vida

19.2 TIPOS DE CURRÍCULO

Conforme o nível da experiência, o currículo tem uma ênfase diferente.

– Iniciante: chama atenção principalmente para o potencial.

– Profissional: ênfase na experiência – único em que é aceitável mais de uma página.

– Direção: evidencia os cargos e projetos mais importantes em que o profissional exerceu liderança

19.3 REGRAS PARA A CONFECCÇAO DE UM CURRÍCULO

1. Não exceder uma página.

2. Correção ortográfica e gramatical.

3. Deixar fora o irrelevante. Por exemplo:

§ cursos pouco relevantes – ocupam espaço e nada acrescentam.

§ empregos não relacionados com o objetivo, como por exemplo atendente do Mc Donalds para quem é candidato a um emprego em Informática (a menos que não haja outra coisa a mostrar – nesse caso, realçar a demonstração de potencial.)

§ matérias estudadas na escola.

§ escolas de nível médio e fundamental em que estudou.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 95

19.4 MODELO DE CURRÍCULO

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 96

19.4.1 CABEÇALHO

No cabeçalho: escrever a qualificação básica. Escrever “currículo” ou “curriculum vitæ” no cabeçalho demonstra falta de percepção do óbvio. O cabeçalho mostra os dados pessoais. É razoável acrescen-tar:

– estado civil e nº de filhos.

– registro profissional (CREA, CRC e outros)

Só isso!

19.4.2 OBJETIVO E FOTO

O objetivo é uma apresentação muito concisa do que se pretende. Não é obrigatório, mas mostra... Objetividade! Ao escrever o objetivo, é conveniente usar termos como ascensão e desafio. O objetivo não deve ter mais de uma linha.

Há quem critique o uso da foto, mas pode ser interessante. Só deve ser colocada se estiver boa.

19.4.3 ESCOLARIDADE

Só devem ser colocados cursos superiores ou técnicos, não escolas secundárias ou de ensino funda-mental. Os cursos incompletos devem figurar, e nesse caso, deve-se estar preparado(a) para, na en-trevista, explicar, sem mentir, o motivo da interrupção e mostrar o que se aprendeu.

Só se deve colocar, para cada curso, o ano de conclusão - de um modo geral, as pessoas não estão interessadas em saber quanto tempo se demorou para concluir. Não se deve colocar notas escolares, por melhores que sejam.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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Curiosidade: nos Estados Unidos, coloca-se a média geral; na Inglaterra, as notas principais (“A level”, como eles chamam).

19.4.4 SUMÁRIO DA EXPERIÊNCIA E QUALIFICAÇÕES

– É a única parte lida por 90% dos que analisam (número estimado).

– Mostra poder de síntese e consideração pelo tempo dos outros.

– Última coisa a ser feita.

– Em currículos de pessoas jovens, pode terminar com a frase “grande interesse na área de ...”, já que, em certos casos, interesse substitui experiência.

19.4.5 EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

É a parte principal do currículo. Deve-se usar a ordem cronológica inversa, começando pelo emprego mais recente. Deve-se dar um realce discreto e sem ocupar espaço demais às realizações mais impor-tantes.

§ Pesquisa realizada por uma universidade americana: • dividiram formandos de mesma condição social em 4 grupos, ordenados segundo a mé-

dia geral do curso. • 10 anos mais tarde, dividiram as mesmas pessoas em 4 grupos, ordenados por rendi-

mentos anuais. • houve coincidência de 80%

§ Ou seja: • é falso que notas escolares não tenham relação com sucesso futuro. Têm, sim! • boas notas não garantem sucesso, mas aumentam consideravelmente as chances –

gente que tira boas notas tem força de vontade e sabe se organizar. • notas ruins não impedem o sucesso, mas o conjunto dos fatores que produzem as más

notas atrapalha bastante.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 98

– Cargos ocupados: de preferência, uma linha.

– Descrever as tarefas com concisão.

– Empregos menos importantes: não são necessários detalhes (a menos que sejam os únicos).

– Se não houver experiência profissional direta, substituir “experiência profissional” por “experiência relevante”

19.4.6 INFORMÁTICA

– Desembaraço é palavra particularmente interessante no contexto (só se for verdade).

– Sem MSN e Orkut.

– Se seu Twitter for bom, dê a URL.

– Procure se aperfeiçoar em Word e Excel – são habilidades muito apreciadas no mercado.

– Se tiver prática com buscas em Inglês, mencione – coisa como 80% dos sites relevantes estão em Inglês.

19.4.7 IDIOMAS

1. Não mentir – a mentira tem pernas curtas; fluência não é um conceito tão elástico.

2. Espanhol, só se realmente souber (o que é raríssimo); Portunhol não é Espanhol. Quem está real-mente interessado em alguém que conheça Espanhol não quer Portunhol. Quem não está interes-sado, sabe que todos falam Portunhol.

3. Usar os seguintes textos para mencionar idiomas que não se domina:

– Inglês técnico, para leitura de manuais e comunicações breves.

– Alemão para leitura de correspondências e participação em reuniões.

19.4.8 CURSOS DE EXTENSÃO

– Só os mais relevantes (máximo de 5) – não podem ocupar mais espaço que experiência profissio-nal.

– Sem cursos de línguas – o mercado:

§ está interessado no que você sabe de idiomas e não exatamente nos cursos que você fez;

§ sabe que muita gente passa por esses cursos sem aprender;

§ sabe testar – é muito fácil testar.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 99

– Jamais coloque no currículo palestras a que tiver assistido. Não contam.

19.4.9 MODELO EUROPEU

Pode (e, em certos casos, deve) ser usado para empresas europeias: francesas (Peugeot), italianas (Pirelli), alemãs (BASF), inglesas (Shell), belgas (Glaxo–farmacêutica) ou holandesas (Heineken).

As figuras que seguem realçam algumas particulridades do currículo europeu:

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 100

O currículo europeu pode também mostrar habilidades artísticas, musicais, didáticas e experiência de falar em público

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 101

19.4.10 UM CURRÍCULO MAL FEITO

§ muitos dados sem interesse – quem for analisar o currí-culo só quer saber nome, idade, onde nasceu, estado civil e como entrar em conta-to. No máximo, registro pro-fissional.

§ foto ruim – melhor não colo-car

§ Cursos de Office – o merca-do quer saber se você tem domínio, não onde apren-deu.

§ “Cursos Vips” – ridículo.

§ Palestras – nunca se deve colocar.

§ Cursos profissionalizantes: nesse caso, ocupam muito espaço no currículo.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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§ só empresas e cargos, sem explicar as atividades.

§ mistura de histórico profissio-nal com conhecimentos e ha-bilidades.

– O mesmo currículo, bem formatado

§ mais informação; § mais relevância; § menos espaço.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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19.4.11 PARA PROFISSIONAIS DE MARKETING

Vale mostrar criatividade, com um currículo que vá se destacar entre os outros e provocar curiosidade sobre a pessoa.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 104

VII –ÉTICA E VALORES

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 105

20. ÉTICA E VALORES 20.1 DEFINIÇÕES DE VALORES

– Definição 1

O que as pessoas consideram certo e errado, bom ou mau, desejável ou indesejável. (Depto. de Antropologia da universidade de Oregon).

– Definição 2

Crenças de uma pessoa ou grupo social nas quais eles têm um investimento emocional.

(Dicionário on-line da Universidade de Princeton).

– Definição 3

▪ Crenças profundas em uma organização demonstradas através do comportamento de seus empregados no dia-a-dia.

▪ Proclamação a todos de como ela espera que todos se comportem.

▪ Princípios que resistem ao tempo e se constituem em uma fonte constante de força para uma organiza-ção.

(Paul Niven – Consultor).

20.2 ARISTÓTELES E A ÉTICA

Aristóteles Filósofo grego, viveu de 384 a 322 A.C.

– Aristóteles apresentou um quadro de valores que define a virtude como posição intermediária entre dois comportamentos indesejáveis.

– O quadro a seguir mostra vários exemplos.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 106

vício da deficiência meio da virtude vício do excesso

covardia coragem imprudência

desânimo temperança intemperança (farras)

pão-durismo generosidade gastança

má aparência elegância vulgaridade (como a da perua)

pobreza de espírito espírito elevado autossuficiência

conformismo querer melhorar ambição excessiva

sem personalidade bom tratamento mau gênio

maus modos civilidade amistosa puxa-saquismo

depreciação irônica sinceridade franqueza demais

sem-gracismo bom humor palhaçadas

falta de vergonha modéstia ostentação

cinismo indignação justa maledicência

Notar que:

– A virtude mais importante é a elevação de espírito, um respeito por si mesmo que engloba todas as outras virtudes.

– A ética é uma espécie de estado de alerta, desenvolvido pela educação e ao longo da vida – o insight moral.

– Tudo isso vale para indivíduos, empresas e instituições.

20.3 VALORES DE UMA ORGANIZAÇÃO

Caso 1- conhecida universidade pública brasileira

– 1º episódio:

§ Funcionária que administrava propriedades da universidade cometeu fraude causando prejuízo financeiro à universidade.

§ A funcionária, provavelmente segura de que nada lhe aconteceria, confessou.

§ O reitor disse publicamente que a pena máxima seria a demissão (e não o processo criminal) e realmente nada aconteceu a ela – sequer foi advertida.

– 2º episódio:

§ A convite de professores da universidade, dois políticos americanos de partidos diferentes vie-ram participar de um seminário sobre processo eleitoral.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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§ Sabendo que havia americanos na universidade, um grupo de alunos e funcionários invadiu a sala e agrediu fisicamente as pessoas que participavam do seminário.

§ Jornal dos funcionários estampou, pouco depois, a manchete: “Botamos para correr os capan-gas do Bush”. Também nesse caso não houve admoestação, a direção da universidade achou aquilo normal.

Há outros casos parecidos na mesma universidade que, apesar de tudo, possui também bons departamentos. A conclusão é que os valores positivos, quando existem, são, no caso daquela universidade, de pessoas que lá trabalham, não da instituição.

Qual o resultado final?

– Nada percebido de imediato – a instituição pública continua recebendo verbas e é muito concorrida por ser gratuita.

– Mas:

§ Praticamente convidou os funcionários a cometer desfalque o que diminui a eficiência da verba.

§ Passou a ter dificuldade em trazer professores estrangeiros.

§ Os alunos que passam para outra universidade pública (geralmente os melhores)não perma-necem lá. O mesmo se aplica aos melhores pesquisadores.

Caso 2 - Água Mineral Perrier

É exemplo interessante, que mostra como podem haver valores antagônicos em uma mesma organização.

Em 1983, um anúncio da Perrier ganhou um prêmio publici-tário com o slogan “Naturalmente borbulhante desde o centro da Terra”. O slogan acompanhava a figura ao lado.

Mas o processo de fabricação não tinha muito a ver com o centro do planeta. Era conforme mostrado no esque-ma a seguir.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 108

– A ocorrência:

§ Um dia o filtro falhou e escaparam algumas gotículas

§ O problema durou apenas algumas horas

§ O benzeno é cancerígeno

§ O gerente da fábrica comunicou à Direção

– Providência tomada pela organização:

§ Deu total publicidade ao acontecido, revelando o anúncio falso

§ Recolheu e inutilizou todas as garrafas no mercado ($$$!!!)

§ Desculpou-se com os consumidores

– Resultado final

§ Após um período de prejuízo na empresa, as vendas voltaram ao normal e o episódio tende a ser esquecido pelo público.

§ Longe de ser abalada, a imagem de empresa séria foi fortalecida junto ao público, apesar do deslize na propaganda.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 109

20.4 O DILEMA ÉTICO 20.4.1 O QUE É

O dilema ético corre quando:

– é difícil saber o que está certo e o que está errado.

– sabe-se o que é certo, mas teme-se as consequências.

Nem sempre a atitude aparentemente mais nobre e mais generosa é a única postura correta. Um exemplo está mostrado em Hamlet, a peça mais famosa de William Shakespeare, dramaturgo inglês que viveu no século XVI. É a peça em que aparece a frase “to be or not to be” – ser ou não ser.

Na peça, Hamlet descobre que seu pai foi covardemente assassinado. Sabe que tem duas opções:

– Fazer justiça, o que trará vários problemas, causará dor às pessoas que mais ama e provavelmente perderá o reino.

– Deixar como está, caso em que acontece, mas ele que obrigará Ham-let a viver sabendo que não foi feita justiça.

No monólogo famoso, Hamlet reflete que uma atitude não é melhor ou mais nobre que a outra. Monólogo e peça ficaram famosos por se tratar da essência da condição humana: a escolha individual e intransferível.

20.4.2 O DILEMA ÉTICO – UMA ABORDAGEM METÓDICA

O assunto é difícil, mas cada dilema ético deve ser estudado e não decidido com base apenas no ins-tinto. O método que passa a ser apresentado (que não é uma espécie de receita-de-bolo) pode ser demonstrado a partir do estudo de uma história real (nomes e locais foram mudados).

Daniela se formou em Biologia, mas não encontrou emprego. Considerando que não queria ficar para-da, foi trabalhar como recepcionista em uma agência de publicidade no Vale do Paraíba. Gostou do ambiente e se animou a estudar Gestão Empresarial. Uma vez formada, foi promovida a assistente de contas. Trabalhou com Peri, gerente de contas, e os dois se deram muito bem profissionalmente. Peri ensinou-lhe muita coisa. Após dois anos na nova função, tem certeza de gostar do trabalho, estar ani-mada e otimista.

Um dia, ela e Peri são chamados à sala do diretor de operações. O diretor informa que um comercial para TV, produzido por eles havia recebido elogios do cliente, que, no entanto, quer uma mudança. O cliente solicita a substituição de um ator negro por um branco, devido ao público-alvo. O cliente infor-ma não ser racista. Apresentou uma pesquisa que mostra a preferência de seus consumidores. Peri se recusa a fazer a mudança, dizendo que é imoral e é demitido na hora por insubordinação. O cliente é importantíssimo e várias pessoas podem ser demitidas caso a agência perca aquele cliente.

O Diretor se dirige a Daniela e diz sem rodeios que ela está promovida a gerente. Sua primeira tarefa será modificar o anúncio conforme desejo do cliente. O diretor lembra que o mercado é difícil e que Daniela acaba de ser contemplada com uma oportunidade única. Daniela se sente em um pesadelo, mas está acordada e tem de tomar a decisão naquele momento.

O método de estudo é socrático: consiste em formular e responder a perguntas. No caso, elas são:

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 110

1. Quais os fatos relevantes?

2. Quais as partes interessadas, de modo amplo (incluindo, por exemplo, a sociedade em geral)?

3. Onde estão os problemas éticos e as responsabilidades?

4. Quais as alternativas?

5. Qual a ética das alternativas

§ sob uma perspectiva utilitária (número de pessoas beneficiadas/prejudicadas)?

§ sob a perspectiva dos direitos (o que cada parte envolvida tem o direito de esperar)?

§ sob a perspectiva da justiça (quem é mais profundamente afetado)?

6. Quais as consequências práticas de cada alternativa?

§ Por exemplo:

• perda de emprego diretamente por causa da atitude.

• perdas de empregos por dificuldades causadas à empresa.

• perda de oportunidade única.

Nota: como explicado anteriormente, nem sempre existe mais de uma saída. Nesse caso como nos outros, não há uma resposta “certa”, há respostas originadas de uma decisão informada. Os parágrafos que seguem mostram o método a seguir para tomar essa decisão informada.

1. Fatos relevantes:

– Daniela precisa do emprego.

– O cliente quer trocar um ator negro por um branco.

– O diretor está irredutível na necessidade de atender ao cliente.

– Se o cliente for perdido, vários empregados terão de ser demitidos.

Peri ter se demitido não é fato relevante no que diz respeito somente à ética:

2. Partes interessadas

– Daniela

– O cliente

– A agência (personificada pelo diretor)

– A sociedade em geral, os brasileiros negros em particular e o ramo de publicidade.

3. Problemas éticos e responsabilidades

– Até que ponto Daniela é responsável por combater o racismo na sociedade?

– Ela tem obrigação de tomar a si a bandeira do combate ao racismo com grande sacrifício pessoal?

– Ela deve estar preocupada com o caráter do diretor?

4. Alternativas

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 111

– Recusar a oferta e ser demitida

– Aceitar a oferta

– Discutir a situação com o diretor e propor um encontro com o cliente para tentar reverter a decisão.

– Recusar a oferta, ser demitida e informar à imprensa.

5. Ética das alternativas

a) perspectiva utilitária:

§ qual alternativa beneficia o maior nº de pessoas?

§ é possível medir os custos de cada alternativa para cada parte envolvida?

b) perspectiva dos direitos

§ O que cada parte interessada tem o direito de esperar?

§ A empresa, personificada pelo diretor, tem o direito de demitir Peri e fazer a oferta condicional a Daniela?

c) Perspectiva da justiça

§ Quem se beneficia mais profundamente de cada alternativa? É muito beneficiado?

§ Quem é mais profundamente prejudicado em cada alternativa? É muito prejudicado?

Nota:

Racismo é horrível e tem de acabar. O racismo está se reduzindo, no Brasil e no mundo, pelo produto de uma série de atitudes tomadas por várias pessoas em diversos contextos. Cada atitude antiracista é um empurrãozinho na direção certa. Algumas dessas atitudes são mais efetivas que outras, mais em-blemáticas, como estabelecer processos judiciais que levam a condenações e são levados à mídia. Mas não se pode exigir de cada cidadão que sacrifique sua vida e sua carreira para dar mais um em-purrãozinho.

No caso de Daniela, é possível considerar a solicitação de demissão como atitude de grande nobreza pessoal, mas outra pessoa seria contratada e faria a modificação no anúncio. O gesto de Daniela seria conhecido somente das pessoas próximas, e o benefício para a sociedade estaria desproporcional ao imenso sacrifício pessoal. Note-se que ninguém pediu a Daniela para roubar, para machucar alguém seriamente ou prejudicar alguma pessoa ou grupo de pessoas de forma grave ou irremediável.

Daniela pode tomar uma atitude, a de discutir com o cliente e argumentar que a longo prazo seria exce-lente para a imagem do cliente, a manutenção do ator negro. Poderia dar certo e, se o cliente recusas-se, Daniela teria dado o empurrãozinho, mostrado que não concorda com qualquer tipo de racismo, mas não precisaria sacrificar a carreira.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 112

20.5 UMA NOTA SOBRE FILOSOFIA, POLÍTICAS E ATITUDES

A uma determinada filosofia, corresponde um conjunto de políticas da organização, que gera atitudes e, a prova de que a filosofia está lá para ser respeitada, as atividades.

Sugere-se aos alunos que, como exercício, formulem exemplos específicos de atividades, atitudes, políticas e filosofia:

– para uma revenda de automóveis;

– para um escritório de contabilidade;

– para uma indústria química.

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

Ana Lúcia Magalhães 113

VIII –RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO

TÓPICOS EM COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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21. RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO 21.1 CONCEITOS

Existem vários conceitos de retórica assim como diversos são os pesquisadores, pensadores e filóso-fos que definem argumentação. Alguns colocam Retórica e Argumentação como sinônimo, outros esta-belecem diferenças entre um termo e outro. Assim, para efeito de nossos estudos, melhor entender argumentação como parte da retórica.

Embora o homem pratique a retórica (e argumentação) desde sempre, pois controvérsias sempre acon-teceram, podemos estabelecer o início dos estudos retóricos e argumentativos com os sofistas, na Grécia antiga, conhecidos oradores que praticavam a sofística: arte de argumentar sem preocupação com a verdade. Para eles, importava ganhar a questão.

Aristóteles, mencionado no capítulo anterior, foi o filósofo grego que sistematizou os conhecimentos retóricos e melhor conceituou Retórica e Argumentação. Para ele, retórica é a capacidade de conven-cer e persuadir.

Além dele, outros teóricos estudaram e estudam a Retórica. Para Meyer, retórica como meio de mini-mizar a distância entre orador e auditório. Para Perelman, pensador que reabilitou a retórica após longo período em esquecimento, ela é o conjunto de técnicas discursivas que permitem provocar ou aumen-tar a adesão dos espíritos às teses que são propostas.

Esses três pensadores evidenciaram o aspecto argumentativo e estabeleceram, para fins didáticos, uma separação entre convencimento e persuasão.

O convencimento, simplificadamente, utilizaria argumentos com base nos raciocínios lógicos para exercer a retórica e a persuasão utilizaria argumentos emocionais.

Na prática, não existe separação entre convencimento e persuasão, uma vez que a argumentação se vale dos dois elementos durante a controvérsia.

A retórica é, em resumo, o campo da controvérsia, da argumentação, da opinião, das crenças, das possibilidades, dos valores.

21.2 O TRIÂNGULO RETÓRICO

ETHOS

LOGOS PATHOS

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ETHOS

Aristóteles :

•  capacidade de convencimento

•  lógica

Meyer:

•  capacidade de resolver questionamento e conflitos

LOGOS

Aristóteles:

•  desperta o pathos no auditório por meio do caráter.

•  o orador como princípio

Meyer:

•  identificação com o auditório;

•  o orador como argumento.

PATHOS Aristóteles :

•  o auditório como princípio

•  paixão e emoções

Meyer:

•  fonte de questionamentos

•  paixão e emoções 3

Orador: credibilidade, autoridade, correção, aparência, eloquência

Auditório: crenças, valores, conhecimentos, experiência

Mensagem: informação, ra-zões, dados, evidência, estrutu-ra