Transcript
  • Cenrios associativos do

    Alto Uruguai

  • Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das

    Misses Reitor Luiz Mario Silveira Spinelli Pr-Reitora de Ensino Rosane Vontobel Rodrigues Pr-Reitor de Pesquisa, Extenso e Ps-Graduao Giovani Palma Bastos Pr-Reitor de Administrao Nestor Henrique de Cesaro Campus de Frederico Westphalen Diretora Geral Silvia Regina Canan Diretora Acadmica Elisabete Cerutti Diretor Administrativo Clovis Quadros Hempel Campus de Erechim Diretor Geral Paulo Jos Sponchiado Diretora Acadmica Elisabete Maria Zanin Diretor Administrativo Paulo Roberto Giollo Campus de Santo ngelo Diretor Geral Gilberto Pacheco Diretor Acadmico Marcelo Paulo Stracke Diretora Administrativa Berenice Beatriz Rossner Wbatuba Campus de Santiago Diretor Geral Francisco de Assis Grski Diretora Acadmica Michele Noal Beltro Diretor Administrativo Jorge Padilha Santos Campus de So Luiz Gonzaga Diretora Geral Sonia Regina Bressan Vieira Campus de Cerro Largo Diretor Geral Edson Bolzan

    CONSELHO EDITORIAL DA URI Presidente Denise Almeida Silva (URI)

    Conselho Editorial Acir Dias da Silva (UNIOESTE) Adriana Rotoli (URI/FW) Alessandro Augusto de Azevedo (UFRN) Alexandre Marino da Costa (UFSC) Angelita Maria Maders (UNIJU) Antonio Carlos Moreira (UNOESC/URI) Attico Inacio Chassot (URI/FW) Breno Antonio Sponchiado (URI/FW) Carmen Lucia Barreto Matzenauer (UCPel) Cludia Ribeiro Bellochio (UFSM) Claudir Miguel Zuchi (URI/FW) Daniel Pulcherio Fensterseifer (URI/FW) Dieter Rugard Siedenberg (UNIJU) Edite Maria Sudbrack (URI/FW) Elisete Tomazetti (UFSM) Elton Luiz Nardi (UNOESC) Gelson Pelegrini (URI/FW) Joo Ricardo Hauck Valle Machado (AGES) Jos Alberto Correa (Universidade do Porto, Portugal) Jlio Cesar Godoy Bertolin (UPF) Lenir Basso Zanon (UNIJU) Leonel Piovezana (Unochapeco) Leonor Scliar-Cabral ProfessorEmeritus (UFSC) Liliana Locatelli (URI/FW) Lisiane Ilha Librelotto (UFSC) Lizandro Carlos Calegari (UFSM) Lourdes Kaminski Alves (UNIOESTE) Luis Pedro Hillesheim (URI/FW) Luiz Fernando Framil Fernandes (FEEVALE) Maria Cristina Gubiani Aita (URI) Maria Simone Vione Schwengber (UNIJU) Marilia dos Santos Lima (PUC/RS) Mauro Jos Gaglietti (URI/Santo ngelo) Miguel ngelo Silva da Costa (UNOCHAPECO) Nestor Henrique De Csaro (URI/FW) Noemi Boer (URI/Santo ngelo) Patrcia Rodrigues Fortes (CESNORS/FW) Paulo Vanderlei Vargas Groff (UERGS/FW) Rora Maria Locatelli Kalil (UPF) Rosngela Angelin (URI/Santo ngelo) Sibila Luft (URI/Santo ngelo) Tania Maria Esperon Porto (UFPEL) Vagner Felipe Khn (URI/FW) Vicente de Paula Almeida Junior (UFFS) Walter Frantz (UNIJU) Ximena Antonia Diaz Merino (UNIOESTE)

  • Breno A. Sponchiado Jussara Jacomelli

    Organizador (es)

    Cenrios associativos do Alto

    Uruguai

    Srie CEDOPH, v. 3

    Frederico Westphalen

    2015

  • Este trabalho est licenciado sob uma Licena Creative Commons Atribuio-NoComercial-SemDerivados 3.0 No

    Adaptada. Para ver uma cpia desta licena, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/.

    Organizao: Breno A. Sponchiado, Jussara Jacomelli Reviso Lingustica: Wilson Cadon Reviso metodolgica: Responsabilidade dos autores Capa/Arte: Silvana Kliszcz e Las Giovenardi da Rocha Projeto grfico: Tani Gobbi dos Reis

    O contedo dos textos de responsabilidade exclusiva dos(as) autores(as). Permitida a reproduo, desde que citada a fonte.

    Catalogao na Fonte elaborada pela Biblioteca Central URI/FW

    C389

    Cenrios associativos do Alto Uruguai [recurso eletrnico] / Organizadores:

    Breno A. Sponchiado, Jussara Jacomelli . Frederico Westphalen, RS : URI Frederico Westph, 2015.

    150 p. (Srie CEDOPH Centro de Documentao e Pesquisas Histricas do Alto Uruguai ; v. 3)

    Modo de Acesso: .

    ISBN 978-85-7796-167-2 (verso on-line) 1. Histria. 2. Regio do Mdio Alto Uruguai. 3. CEDOPH. I. Sponchiado,

    Breno A. II. Ttulo. IV. Srie. CDU 94(816.5)

    Bibliotecria Gabriela de Oliveira Vieira

    URI Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses

    Prdio 9 Campus de Frederico Westphalen:

    Rua Assis Brasil, 709 CEP 98400-000 Tel.: 55 3744 9223 Fax: 55 3744-9265

    E-mail: [email protected], [email protected]

    Impresso no Brasil Printed in Brazil

    mailto:[email protected]://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt

  • Sumrio

    APRESENTAO ............................................................................................................................ 7

    BRENO A. SPONCHIADO JUSSARA JACOMELLI

    O ETHOS COMUNITRIO NA REGIO DO MDIO ALTO URUGUAI: FACETAS HISTRICAS DA COOPERAO E DO ENSINO ESCOLAR ................................................. 10

    BRENO A. SPONCHIADO

    ANLISE HISTRICA E CONTEMPORNEA ACERCA DAS COOPERATIVAS AGRCOLAS: O CASO COOTRIFRED ........................................................................................ 32

    VANESSA BESOLD JUSSARA JACOMELLI

    POSTO DE ATENDIMENTO SICOOB OESTECREDI NA HISTRIA DO COOPERATIVISMO NO MUNICPIO DE FREDERICO WESTPHALEN ............................ 48

    FRANCIELE LIBERALESSO JUSSARA JACOMELLI

    CONVICES NECESSRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR ...................................................................................................................................... 70

    VALDIR SANGALETTI LUIS PEDRO HILLESHEIM

    SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE RODEIO BONITO: UMA ANLISE SOCIOLGICA DE SUA HISTRIA ........................................................................................... 87

    MAICO CELSO WOLF TATIANE FONTANA RIBEIRO JUSSARA JACOMELLI

    A PRESENA DAS MULHERES RURAIS NO MOVIMENTO SINDICAL EM FREDERICO WESTPHALEN ............................................................................................................................ 103

    ANA CLAUDIA SZYDLOSKI

    ASPECTOS HISTRICOS DA COLONIZAO E EMANCIPAO DE PALMITINHO ... 120

    CLEONIR DA SILVA ZIBETTI DINA DOS SANTOS CAUDURO

    POLTICAS PBLICAS NO ALTO URUGUAI: ANLISE E INTERPRETAO DE DADOS ........................................................................................................................................................ 131

    NAIL LOCATELLI FANTIN ANTONIO JORECI FLORES

    MEMRIA ASSOCIATIVA NO MUNICPIO DE FREDERICO WESTPHALEN: UMA LEITURA FOTOGRFICA ......................................................................................................... 142

    JUSSARA JACOMELLI

  • Apresentao

    Breno A. Sponchiado

    Jussara Jacomelli

    Cenrios associativos do Alto Uruguai a terceira publicao da Srie Cedoph e traz

    para a discusso aspectos da histria do associativismo no Municpio de Frederico Westphalen e

    na Regio do Mdio Alto Uruguai. O grande mrito da publicao contribuir para a reflexo da

    trajetria histrica das iniciativas associativas que compilam desenhos da atualidade dos

    territrios estudados.

    Composto por vrios artigos, Cenrios associativos do Alto Uruguai constitudo por

    uma pluralidade de fatos histricos que envolvem organizaes e manifestaes associativas.

    Alm disso, um composto de vozes que fazem uso de metodologias de estudo da sociedade,

    que nesta obra, se encontram unidas pela narrativa histrica e, igualmente, caracterizam-se como

    diferenciadas pelas especificidades interpretativas que apresentam. Dessa forma, permite ao

    leitor, alm de navegar na Histria, compreender-se como parte constituinte da mesma,

    viabilizando a problematizao, uma vez que prprio do homem (ser humano) organizar-se em

    associaes para obteno de respostas positivas para situaes sociais e econmicas inquietantes.

    Com o artigo O ethos comunitrio na Regio do Mdio Alto Uruguai: facetas histricas

    da cooperao e do ensino escolar, Breno A. Sponchiado aborda aspectos das diferentes

    expresses do ethos comunitrio tecidos nas comunidades da primitiva Parquia de Frederico

    Westphalen. Sua construo terica est centrada especialmente na dinmica e nas relaes

    desenvolvidas entre os agentes sociais por ocasio da construo de estratgias de organizaes

    associativas. Para isso, traz para o texto facetas de entidades comunitrias, cooperativas e de

    cunho educacional, como o processo de fundao da FESAU no Municpio de Frederico

    Westphalen.

    No artigo, Anlise histrica e contempornea acerca das cooperativas agrcolas: o caso

    cootrifred, Vanessa Besold e Jussara Jacomelli trazem para a reflexo o associativismo a partir de

    um estudo de caso. Tendo como objeto de estudo a Coopetrativa Tritcola de Frederico

    Westphalen, trabalham a trajetria histrica do cooperativismo em diferentes escalas territoriais,

    contudo apresentam especial ateno para a trajetria histrica local de formao e de atualidade

    do cooperativismo agrcola comercial.

    Em Posto de Atendimento SICOOB OESTECREDI na histria do Cooperativismo no

    Municpio de Frederico Westphalen, as autoras, Franciele Liberalesso e Jussara Jacomelli,

  • 8

    problematizam o cooperativismo de crdito e sua participao no desenvolvimento do Municpio

    e da Regio do Mdio Alto Uruguai. Para isso, apresentam, a partir de uma breve trajetria

    histrica, o cooperativismo em diferentes escalas territoriais e modalidades e as primeiras

    manifestaes do cooperativismo de crdito no territrio do Rio Grande do Sul. Neste contexto

    histrico, registram a atualidade da participao histrica dessa modalidade de organizao na

    escala territorial local e regional centralizada no caso do Posto de Atendimento do Siccob

    Oestecredi.

    Com Convices necessrias para o desenvolvimento da agricultura familiar, os autores

    Valdir Sangaletti e Luis Pedro Hillesheim, tratam do significado e da necessidade da agricultura

    familiar da Regio ter uma organizao cooperativa representativamente forte. Para isso,

    indicam o desenvolvimento de um sistema educacional que preserve elementos de cultura,

    diferenas tnicas, alm da valorizao social de seus agentes de desenvolvimento. Como estudo

    de caso, apresentam o sistema educacional da Pedagogia da Alternncia, uma experincia que

    vem sendo desenvolvida na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses

    Campus de Frederico Westphalen, para a formao de agricultores familiares com valores

    cooperativos e identitrios.

    Em Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rodeio Bonito: uma anlise sociolgica de

    sua histria, Maico Celso Wolf, Tatiane Fontana Ribeiro e Jussara Jacomelli apresentam o

    resultado de uma anlise sociolgica da formao e da trajetria histrica do Sindicato de

    Trabalhadores Rurais de Rodeio Bonito no Municpio de mesmo nome. Tambm tratam da

    contribuio dessa associao no desenvolvimento do territrio tendo como referncia a

    contextualizao do termo associativismo no quadro de desigualdade social e de necessidade de

    entendimento sobre o modo de pensar e de agir do homem, a partir do entendimento da

    organizao da sociedade.

    Com o texto, A presena das mulheres rurais no Movimento Sindical em Frederico

    Westphalen, a autora Ana Claudia Szydloski busca divulgar o envolvimento e a participao das

    mulheres na construo do Sindicato de Trabalhadores Rurais no Municpio de Frederico

    Westphalen, considerando aspectos como: a participao, colaborao, unio na busca por

    direitos e reconhecimentos como os relativos profisso, bem como, reivindicando o papel da

    mulher dentro do movimento Sindical.

    Em Aspectos histricos da colonizao e emancipao de Palmitinho, Cleonir da

    Silva Zibetti e Diana dos Santos Cauduro socializam a participao dos italianos na formao do

    territrio do Municpio de Palmitinho. Consideram especialmente o envolvimento desses, no

    processo poltico emancipatrio do Municpio.

  • 9

    Com o texto Polticas pblicas no Alto Uruguai: anlise e interpretao de dados, os

    autores Nail Locatelli Fantin e Antonio Joreci Flores discutem o papel das polticas pblicas

    para a superao dos problemas sociais. No texto, apresentam o resultado de um estudo

    comparativo realizado com base em dados obtidos junto as Assistentes Sociais dos municpios de

    Cristal do Sul e de Vicente Dutra. A pesquisa teve como critrios o estudo das tipologias de

    polticas pblicas existentes nos municpios e as condies de implementao das mesmas

    visando incluso social.

    Encerrando as produes textuais desta terceira publicao da Srie Cedoph, em

    Memria associativa no Municpio de Frederico Westphalen: uma leitura fotogrfica, Jussara

    Jacomelli compila uma reflexo sobre a memria associativa no Municpio de Frederico

    Westphalen a partir do uso da imagem fotogrfica. Para isso, apresenta trs experincias

    associativas: a Cooperativa Vincola Vitria Ltda., a Cooperativa Agrcola Brasil e a Cooperativa

    da Banha e Produtos Sunos. O estudo se constitui em uma narrativa analtica de documentos e

    publicaes a respeito do assunto, visando gotejar a identidade histrica local, atravs da memria

    e da representao fotogrfica.

    Desejamos a todos os leitores que este seja, mais que um mergulho na Histria Regional,

    um conjunto de ideias problematizadoras de nossas prticas sociais. Se vivemos em um mundo

    onde as desigualdades sociais so aviltantes e, onde, estas mesmas prticas, se manifestam em

    escala local, temos, sim, dever de buscar sadas para alargar os benefcios dos direitos todos,

    como o direito ao trabalho e sua digna remunerao. Pinar elementos constituintes das

    iniciativas associativas; elementos de concretude das ideias associativas no territrio e elementos

    de mudanas na trajetria e nas formas de fazer o associativismo, entre outros aspectos, permite-

    nos questionar sobre potencialidades e sobre gargalos no desenvolvimento e no desempenho dos

    cenrios associativos que formam as tessituras do Territrio do Mdio Alto Uruguai.

  • O ethos comunitrio na Regio do Mdio Alto Uruguai:

    facetas histricas da cooperao e do ensino escolar

    Breno A. Sponchiado1

    INTRODUO

    Ethos, palavra de procedncia grega, e possui como definio com relao aos hbitos

    adquiridos por uma comunidade, o que distingue um grupo social e cultural dos outros, sendo

    assim uma identidade social.

    E por ethos comunitrio entendemos um grupo de pessoas que possui objetivos comuns e

    mantm relaes sociais estveis de solidariedade (comum-unidade). Retenha-se que esse vnculo

    (objetivo) no consensual, e sofre alteraes com o tempo, medida em que a comunidade se

    complexifica e enfrenta novas demandas.

    Partindo deste conceito, abordaremos alguns aspectos das diferentes expresses deste

    ethos nas comunidades da primitiva parquia de Frederico Westphalen, atentando, sobretudo,

    para a dinmica e as relaes entre os agentes sociais na construo de estratgias de organizao

    associativa para fazer frentes s necessidades do momento. O enfoque recai sobre entidades

    comunitrias, cooperativas e de cunho educacional A pesquisa baseia-se principalmente em

    documentao original e indita. Longe de ser um tratado conclusivo, apenas quer acrescentar

    alguns elementos para permitir a compreenso do fenmeno social e histrico.

    1 A COMUNIDADE QUE VALE... DESDE O COMEO

    Nas origens da primeira comunidade de Santo Antnio, depois chamada Barril e por fim

    Frederico Westphalen, vemos a presena do ethos comunitrio, como o el do processo histrico e

    principal vetor das transformaes sociais. A entidade ou organizao social que galvaniza as

    vontades individuais a igreja catlica, instituio hegemnica que acompanha a trajetria dos

    pioneiros, desde a Europa, mormente Itlia e Polnia, perpassa o perodo da fundao e

    desenvolvimento das Colnias Velhas at o seu processo de enxameamento2.

    1 Doutor em Histria. Professor do DCH da URI-FW. 2 Enxameamento o termo usado por Jean Roche para designar o deslocamento de pessoas de um meio rural para outro meio rural motivados pelo excesso de populao e/ou esgotamento da terra. ROCHE (vol. I, p. 319 s.)

  • 11

    Nas crnicas sobre a histria de Barril da autoria Mons. Vitor Battistella encontramos

    essas marcas de cooperao, mutiro, gravitando em torno de questes vinculadas ao universo

    religioso. Como observa Battistella (1969, p. 37-38):

    Nascidos e criados em ambiente eminentemente religioso, como so as famlias e parquias das terras velhas, os colonizadores herdaram-no e trouxeram-no consigo indestrutivelmente ligado vida. A religio foi sempre manancial perene e fecundo de coragem e de herosmo, de esperana e de tranquila serenidade em meios s mais duras privaes e s mais rduas lutas. Os antigos sabiam disso. Da o cuidado com que conservassem as tradies crists e os costumes piedosos na vida familiar.

    Neste contexto a construo de um espao prprios para as celebraes religiosas

    tornava-se a primeira preocupao das famlias, a capela, como bem mostrou o estudo de

    Manfroi. Ao seu redor fluam os demais ingredientes do mundo social-religioso transplantado da

    Europa: os objetos sacros, as alfaias para uma eventual visita de padre -, uma estampa ou

    esttua do santo padroeiro, o cemitrio, o sino com sua torre, a ampliao da capela pelo

    aumento de scios, salo de festas. A rea de terra para a capela, em geral, era doada por um

    colono, em local estratgico, alto, encruzilhada, onde se prev que vai se desenvolver um

    povoado, servido facilmente de gua. Por vezes a iniciativa de um oratrio domstico desdobra-

    se em local de culto coletivo. Esta condio d ao proprietrio certa proeminncia na escolha do

    santo padroeiro e lhe permite valorizar os terrenos vizinhos, quando no era o proprietrio do

    estabelecimento comercial prximo. Como se v, o interesse econmico estava presente.

    A igreja apresentava-se invariavelmente como centro da vida comunitria rural, da mesma

    maneira como acontecia nas aldeias e vilas, enquanto a agitao fabril mundana no as invadisse.

    Em redor da igreja surgiam as demais coisas necessrias vida coletiva; escola, casa comercial,

    bodegas, ferraria, salo de festas. A igreja era forosamente o ponto de referncia dos encontros

    domingueiros. (id., 40)

    Nesse processo e autoinstittucionalizao da vida comunitria em torno da religio, passa-

    se para o segundo momento: a escolha dos postos de direo e servios, onde prevalece os

    carismas, aptides naturais de cada membro. organizada a primeira diretoria, chamada de

    fabriqueiros nas colnias de origem italiana. Por meio de eleio, escolhe-se um presidente ou

    Primeiro Fabriqueiro (lder inato, empreendedor), um tesoureiro (que saiba contar), as vezes um

    secretrio (que dominasse a escrita). Quem domina as oraes e apresente certa coerncia do

    discurso com sua prtica se impe como capelo (padre- leigo, sacristo para os italianos), surgem

    as catequistas para ensinar o catecismo s crianas, os animadores do canto, os festeiros

    (churrasqueiros, doceiras, fogueteiro...). Adiante surgem as Associaes Religiosas, como, no caso

    de Barril, Associao das Mes Crists, Associao Antoniana, a Confraria do Santssimo

  • 12

    Sacramento, a Congregao da Doutrina Crist, o Coral de cantos, a Caixa das Almas (recolhia

    esmolas para rezar em sufrgio dos mortos), Caixa Morturia (um fundo funerrio)..., cada um

    com seu Zelador (coordenador), estatutos, na maioria das vezes implcitos. Enfim, forma-se,

    quase que espontaneamente, uma pliade de funes, reproduzindo a estrutura de uma sede de

    parquia, a capela torna-se, por fora do ethos comunitrio catlico romano, uma micro-parquia, no

    oficial, mas efetiva e afetiva.3

    E note-se e frise-se que tudo isso acontece longe da Igreja oficial, das autoridades

    eclesisticas que nem imaginam o florescimento de novas comunidades embrenhadas nos sertes.

    Por exemplo, em Barril, as articulaes da fundao da capela d-se incio em 1921, quando a

    regio pertencia Parquia de Palmeira das Misses, distante e com falta de padres, que

    esporadicamente visitavam o nascente ncleo, dispensando a celebrao da missa e sacramentos.

    Somente em 1932 chega o primeiro sacerdote (prete istbile), fruto tambm de ingentes pedidos da

    comunidade ao bispo.

    Outra entidade coletiva, que surge nas comunidades, geralmente sombra da capela o

    clube de futebol, com seu campo de jogos, sede e diretoria.

    Quem vive em torno dessas realidades acaba por formar uma identidade arraigada com o

    seu lugar, que, por muitas vezes o micro-cosmos dessas pessoas. Cunhou-se o termo

    campanelismo ou paroquialismo4 para designar esse modus vivendi. Que possui um lado pejorativo ou

    negativo. Assim, ao tratar de contendas que perturbam a vida comunitria, derivadas por

    divergncias de opinio na escolha de lideranas (no caso em tela, o Inspetor de Quarteiro5, em

    Taquaruu do Sul, por 1928), e que entra interesses comerciais, Battistella contemporiza: As

    comunidades do interior, alheias a maiores preocupaes, vivendo apenas seu pequeno mudo,

    sombra do campanrio, chocam-se frequentemente com tais e outros pequenos problemas

    (1969, p. 227).

    3 Entre outras, veja-se a obra: GALIOTO, Pe. Antnio. As Capelas Uma original experincia scio-religiosa. Caxias do Sul: EDUCS, 1988. 4 A definio dada pelo dicionrio apego/ exasperado sua cidade e suas tradies." Segundo Wikipdia: Para paroquialismo significa que o apego sua cidade, seus usos e suas tradies. A defesa destes valores, por vezes, pode determinar um esprito de rivalidade tambm muitoacentuada, com as cidades vizinhas. Encontramos demasiadas vezes no sem razes histricas, so as rivalidades entre as cidades - prximos e no - especialmente relativas s competies desportivas. O termo vem da palavra sino, e tem um significado importante, porque a mesma torre do sino para determinar a diviso entre pases, portanto provincianismo, embora exemplos de grande escala, principalmente caracterizado divises culturais, atividades sociais. 5 O Inspetor de Quarteiro era responsvel pela vigilncia e conciliao de pequenos conflitos no espao geogrfico de sua jurisdio, tinha o poder restrito somente a vigilncia e pequenos acordos. Mas, em nossa regio, sua atuao e verdadeiro sentido foram de elos de ligao dos coronis com os ncleos interioranos. Com certeza, sua presena como nicos representantes da lei, da justia, e da ordem, serviram para o fortalecimento do projeto dos mandatrios nos lugares mais longnquos.

  • 13

    Pe. Luiz Sponchiado, que conheceu profundamente essa realidade, na teoria em seus

    estudos sobre a imigrao, e na prtica no seu apostolado sacerdotal, enftico. Sobre as falas de

    um entrevistado, interpreta:

    Penso que o que formou em juzos sore o que dispende na entrevista, foi, o traz-e-busca dos fregueses, que, bem sabe, em pequena comunidade de Barril de ento, todos se conhecem, e o diz-que-disque corre solto e sem responsabilidade, fazendo dos pequenos lugares uma Comunidade quase familiar, e ao mesmo um inferno grande.(SPONCHIADO, 2001, p.2)

    2 O COMUNITRIO NO COOPERATIVISMO

    O mutiro (chamado tambm de puxiro) a forma mais elementar do ethos comunitrio.

    Sempre existiu no meio rural, onde a necessidade emergencial de fazer-se um servio, como a

    colheita do produto, abertura de estrada, ajuda a uma famlia necessitada e que exigia a

    participao de mais pessoas, de famlias vizinhas. Era uma forma de entre-ajuda, uma troca de

    mo-de-obra, algum utenslio como a trilhadeira -, sementes ou mudas com vantagens mtuas.

    Um caso em que vemos o ethos comunitrio em um caso atpico, foi na formao da

    chamada Liga Colonial, na regio de mato dos atuais municpios de Frederico Westphalen,

    Seberi. Durante a Revoluo de 1923, digladiada entre Assis Brasil (oposio, maragatos) e

    Borges de Medeiros (governistas chimangos), os esparsos colono sofriam saques por parte de

    pseudorevolucionrios. O agente consular da Itlia, morador no hoje Seberi, props aos

    colonos a organizao de uma Liga Colonial de Defesa, contando com o apoio das autoridades

    pblicas. BATTISTELLA narra:

    Reuniu-se toda a espcie possvel de armamentos e determinou que diariamente piquetes de colonos armados montassem guarda, devidamente escalados em pontos estratgicos, beira da estrada, nas divisas com Boca da Picada. A alimentao corria por conta de cada um. Agindo sem provocaes, mas, com deciso, s ordens daqueles chefes, e graas fama que logo se espalhou da presena de uma poderosa fora para defesa da colnia, a Liga conseguiu evitar novos saques e roubalheiras, afastando vigorosamente quaisquer grupos isolados que ousassem tentar a invaso. Foi um benefcio de inestimvel valor prestado causa da colonizao. (1969, p. 26).

    A situao revolucionria citada oportunizou a criao do escambo. Ainda segundo

    Battistella, As compras custavam dinheiro r o dinheiro era pouco e difcil de ganhar. Exportao

    no havia e s era possvel vender alguma coisas entre vizinhos (id. p. 24).

    A reconstruo histrica, da face cooperativista, do ethos comunitrio aparece com

    facetas turbulentas e polmicas. Nos limitemos a expor alguns dados. A primeira entidade

    cooperativa em Frederico Westphalen foi a Cooperativa Vitivincola Vitria Ltda, em 1932. No

  • 14

    Livro Tombo da Parquia, o Pe. Battistella, registrou o contexto no seu aspecto econmico:

    populao lutando com as dificuldades da crise de 192), dificuldades do transporte, baixa de

    preos dos produtos coloniais e alta dos artigos do comrcio.

    Os colonos apertados pela angustiosa situao procuraram alvio e remdio organizando

    uma sociedade cooperativa de compra e venda. Alma e esteio deste movimento foi o esforado e

    benemrito colono ngelo Michellon que no mediu sacrifcios para que a iniciativa no

    esmorecesse. Grande foi o interesse que a medida despertou, mas no h ainda elementos que

    permitam julgar das vantagens que semelhante organizao possa trazer colnia (Livro Tombo

    da Parquia Santo Antnio de Frederico Westphalen, V I, p. 25-26).

    Mais tarde colocou possante moinho, mas pouco tempo funcionou. Em 16 de

    novembro de 1938 surge a Cooperativa de Produtos Sunos Santo Antnio Ltda, mas com

    poucos scios. Foi incorporada Indstria Damo S.A. Em 1944 os agricultores fundaram duas

    novas cooperativas, a Agrcola Brasil Ltda, hoje COTRIFRED, e tambm a Cooperativa de

    Insumos Agrcolas Ltda, esta de pouco durao. Em 1959 foi fundada a Cooperativa dos

    funcionrios Pblicos e Bancrios de Frederico Westphalen. Mais duradoura e significativa a

    caminhada da COTRIFRED, ainda atuante:

    O Estado gacho atravs da agricultura em meados da dcada de 1950 estava alcanando grandes produes de cereais, especialmente o trigo. O Ministro da Agricultura, mostrando uma preocupao para armazenar a produo de trigo, liderou a construo de silos e armazns em diversas cidades gachas, destacando-se em nossa regio, Palmeira das Misses, Panambi, Ibirub, Cruz Alta, Frederico Westphalen, entre outras. - Assim a cidade de Frederico Westphalen recebeu o silo que serviu para congregar a classe (...) Logo aps a concluso das obras, alguns funcionrios do Ministrio da Agricultura acompanharam lideranas da cidade na formatao do estatuto social de fundao da Cooperativa. Em 10 de novembro de 1957, um grupo de agricultores fundou a Cooperativa Tritcola Frederico Westphalen Ltda.6

    Um mapeamento revelaria diversas outras iniciativas de natureza coletiva que faliram e se

    extinguiram, como uma Holding, destinada a uma indstria de calados, nos anos 1990, que

    quebrou.

    Aqui nos defrontamos com um paradoxo: como uma sociedade marcada

    tradicionalmente por aes coletivadas, como vimos frisando, apresenta expressivos casos de

    fracassos de associaes e cooperativas?

    Entendemos que caso um caso, mas podemos, em tese, apontar algumas causas: 1) o

    no apoio do padre, maior lder comunitrio que no via com bons olhos iniciativas que lhe

    fugissem do controle - como veremos adiante e a presena na direo de pessoas incapazes de

    aglutinar scios, e manter credibilidade; 2) entidades criadas para fazer frente a um momento, em

    6 Pesquisa de Wilson Aleixo Ferigollo. http://www.cotrifredfw.com.br/site/sobre.php.

  • 15

    geral de crise, que aps passar, perde sua finalidade; em outras palavras: a falta de as associaes

    se reestruturarem a medida que a conjuntura econmica altera; 3) a presena de questes poltico-

    partidrias, que, em geral, so agudas e mais desunem que unem, sobretudo quando envolve

    aspectos financeiros.

    Para ilustrar, vemos no caso da futura COTRIFRED, uma ao personalista, como nos

    narrou um de seus fundadores, Vergnio Cerutti, alto comerciante, radicado em Frederico

    Westphalen desde 1926.

    Outra coisa que eu me interessei muito quando eu vi que eu ia deixar de negociar, porque j tava cansado de tantos anos aqui que fui o primeiro comerciante aqui em Frederico Westphalen foi de criar uma cooperativa para os colonos. Porque achei que os colonos devem ser apoiados, deve ter sociedade, porque a explorao do intermedirio eu como comerciante, minha conscincia sempre trabalhou, ningum aqui pode dizer o contrrio, a favor do colono mas achei que os colono deve ser orientado, porque a explorao do intermedirio grande em toda parte, e o colono o maior sacrificado, alm que trabalha pra dar comida a todo mundo que trabalha na cidade, tudo isso; eu achei que precisava ento de uma cooperativa. Dito e feito. Eu criei a Cooperativa, fui fundador dessa Cooperativa Frederico Westphalen aqui. E o colono, como das vez no podia entrar com 100 mires, para poder ser scio, eu emprestava o dinheiro; 100 cruzeiros, emprestava para ser descontado no produto que ele entregava. Assim, a est a Cooperativa. Alm da Escola Tcnica est a Cooperativa. (CERUTTI, 1986).

    As gavolices e contradies so flagrantes, sabendo que por trs estavam questes poltico-

    partidrias. O mesmo depoente revela:

    De maneira que muita coisa aqui eu tenho feito pra progresso do lugar. Mas, muita gente aqui, tempo da poltica eu mudei de partido e no gostaram que mudei de partido; fui pro partido do PTB, e me perseguiram muito. Podia ter feito muita coisa aqui, hoje aqui, Frederico Westphalen, podia ser mais do que Erechim se eu tivesse tido a liberdade de trabalhar. No me queixo da autoridade de Porto Alegre, nem dos Governo, porque o prprio Meneguetti, que era de partido contrrio meu, uma ocasio eu tava com 20 vago de trigo, em Santa Brbara, e tinha que entregar se no perdia o negcio, pra um comprador de trigo l do Rio de Janeiro...

    J Alberto Lisot, afamado padeiro da cidade, chegado em Frederico Westphalen em 1939,

    por orientao do seu tio Vergnio, acrescenta na sua verso sobre as origens da COTRIFRED:

    A Cooperativa surgiu foi por intermdio do Vergnio, o Vitalino [Cerutti]. Dominghinho Estele (Piovesan, se chama Estele, porque foi o Estele que criou ele). Surgiu essa Cooperativa e l teve alto e baixo. Sempre nas mos do PTB. O Vergnio at largou do comrcio, se meteu na Cooperativa. No fim, faliu tambm o Vergnio. Faliu a Cooperativa, faliu o Vergnio. - O Vitalino era acusado de muitas coisa, mas depois cobriram tudo. (...) - , depois fundou o jornal. Ele fundou tudo quanto era coisa, mas nunca deu certo com ele. Ele no tinha capacidade suficiente. Ele tinha boas ideias. Vitalino era um grande inteligente, boas ideias, mas ele fundava uma coisa, por exemplo: Vamos botar uma fbrica disso. T, ele comeava, largava mo, no botava mais as mo, deixava na mo de picareta (LISOT, 2001).

  • 16

    3 A UNIO DOS AGRICULTORES E CRIADORES (UNAC) O VIGRIO COOPTA

    O SEGMENTO AGROPECURIO

    Foi outro rgo associativista, ideado pelo Pe. Vtor que visava ter sob o seu controle

    uma organizao que agregasse os produtores agrcolas e pecuaristas, visto estarem alguns deles

    associados a pequenas cooperativas locais, onde no sua mo no alcanava. A UNAC teve

    efetiva ressonncia na economia regional, determinou certa modernizao do campo ao difundir

    novas tcnicas, mtodos e produtos. E serviu para canalizar polpudas verbas federais, que nem

    sempre iam parar conforme constavam nos documentos. Sua origem: Havia tempos que o

    proco, em seus frequentes contatos com a colnia, vinha observando certo desnimo nos

    colonos, originado dos muitos insucessos na agricultura e na pecuria. O pouco rendimento de

    muitas plantaes e de muitas criaes vinha criando ambiente de descontentamento, levando

    no poucos paroquianos ideia de que emigrar para outras terras seria o melhor remdio.

    Entretanto pensava o proco no era possvel que a terra fosse a culpada dos insucessos,

    uma vez que se trata de terra situada na ubertosa bacia do Uruguai, incontestavelmente, uma das

    mais frteis zonas do Estado e do Brasil e quase ainda inexplorada. Deveria haver falhas no

    cultivo da terra, nos mtodos de agricultura e da pecuria (LIVRO TOMBO II, 58 e s). Este

    problema econmico afetava profundamente os interesses da parquia e os projetos do proco.

    Em Assembleia de 29 de julho de 1951 foi fundada, como sociedade civil, com fins econmicos

    e sociais, inspirada nas resolues do Congresso dos Agricultores do Rio Grande do Sul,

    realizada em Porto Alegre, em julho de 1945. Em 1951 reuniu os homens mais prticos de

    assuntos agrcolas e de pecuria, consultou livros, revistas e publicaes, e chegou concluso

    que havia remdio fcil para os mencionados males e remdios prticos ao alcance de cada

    colono de boa vontade. Foram realizadas sucessivamente vinte e trs reunies presididas pelo

    proco, que mantinha as conferncias auxiliado pelos homens mais entendidos em assuntos

    especficos de pecuria e agricultura. Elaborou-se um plano de trabalho trienal, durante o qual,

    deveria se conseguir os seguintes objetivos: de melhoramento e renovao das raas; prtica das

    medidas essenciais da higiene e sade para os animais; alimentao melhor, mais racional e

    adequada para os animais em geral; na agricultura: troca e substituio de sementes, melhor

    conservao das terras. (ESTATUTOS).7 Em 1952 observa o religioso que Em toda a parte h

    os entusiastas, os otimistas, como tambm os pessimistas e indolentes. Nota-se, porm, de um

    7 Os estatutos foram reformulados em 26.07.1953 e em 09.03.1958. A diretoria da UNAC, em 1952, estava constituda assim: Presidente - Pe. Vitor Battistella; Secretrio Bernardino Centenaro; Tesoureiro Achiles Ferrari; Conselho Fiscal Joo Muniz Reis, Pe. Afonso Corra e Alfredo Haubert; Conselho administrativo Ciro Primo Binotto, Augusto Blescovisci, Antonio Manfio, Flodoardo Cruz Netto, Jos Francescatto Facco, Joo Ferrari e Anselmo Francescatto.

  • 17

    modo geral boa receptividade s ideias da UNAC e que j conseguiu notveis resultados

    (LIVRO TOMBO II, p. 63). Foram conquistas da UNAC: o 1 Congresso Rural Social - 19538, e a

    Casa do Agricultor. Para esta, o Proco conseguiu a vultosa subveno de Cr$ 1.000.000,00 do

    Ministrio da Agricultura em 1956, destinada a fornecer, a preos acessveis, todos os

    medicamentos, vacinas, venenos, etc., mais necessrios pecuria colonial, bem como sementes,

    adubos, inseticidas, aparelhos e mquinas para a agricultura, sem omitir a assistncia direta e a

    orientao aos colonos e demais fregueses por meio de competente encarregado da casa

    contratado. Eis o segredo da conquista: s suas velhas relaes de amizade com o deputado Dr.

    Tarso Dutra e ao devotamento deste parlamentar aos interesses povo deve-se a subveno de um

    milho de cruzeiros que o ministrio destinou UNAC (LIVRO TOMBO II, p. 85 v.). Em

    1957, a UNAC organizou uma granja modelo, Santo Isidro, que tambm serviu para carrear

    novas verbas. Em 1958, instala-se na cidade o Posto de Higiene, aps vrias demarchas e

    delongas pelo benemrito governo do Estado que tem como chefe o Sr. Ildo Meneguetti e titular

    do Departamento de Sade o Dr. Alfredo Hofmeister (LIVRO TOMBO III, p. 1), critica o

    religioso que provavelmente mexeu os pauzinhos nesta conquista. No mesmo ano, surge o

    projeto de um posto da Associao Sulina de Crdito e Assistncia Rural (ASCAR).

    4 O ETHOS COMUNITRIO NA EDUCAO

    A educao escolar foi concebida pelas lideranas poltico/administrativas e religiosas (no

    caso sobressai a figura de Mons. Vitor Battistella, que permaneceu por 30 anos dirigindo com

    mo-de-ferro os destinos da extensa parquia) de Frederico Westphalen, desde seus primrdios,

    como uma campo extremamente estratgico. Talvez s perdendo para a poltica partidria em

    complexidade e importncia na consecuo ou fracasso dos seus projetos. A Escola encarada

    como espao crucial na formao de pessoas. Ganha preocupao, assim, a vinda de professores

    de fora da comunidade por serem potencialmente portadores de idias diferentes e concorrentes

    hegemonia mental do padre. Da se configurar em Barril (antigo nome de FW) um cenrio bem

    diferente das demais localidades congneres, de seu porte e maiores, onde a Igreja que orientou

    a gnese da educao, lhe atribuindo papel essencial na evangelizao, como sublinha De Boni, e

    em Barril, a escola vai ser reivindicada pelos prprios colonos e tambm por lderes civis.

    De modo que a nossa anlise se pautar na premissa de que a educao um campo de

    disputa social.9

    8 Veja-se a publicao com snteses e anotaes do certame BATTISTELLA, 1953. 9 A este respeito veja-se o estudo de Selina M. Dal Moro. Da Escola paroquial a escola pblica. (mimeog). A autora procura entender o significado da escola, como instituio social, inserida no municpio de Sananduva. Significado

  • 18

    Uma questo que est instalada na historiografia regional o relativo desinteresse ou

    omisso do Mons. Battistella na educao escolar. Diferentemente de outros campos onde sua

    atuao foi pioneira e acentuada, na educao vai ser protelador e somente vai agir quando v a

    real ameaa de este importante setor ficar nas mos de pessoas que no garantiriam seu controle.

    fato sintomtico que na sua obra histrico-biogrfica Painis do Passado no tenha destinado um

    painel especfico para a educao ou instruo em Barril, ao passo que outros temas triviais e

    episdios mereceram, como msica, festas, costumes...

    Esta anlise, porm, deve levar em conta outro ingrediente: a de que os imigrantes

    colonos italianos e seus descendentes eram quase indiferentes em relao escola. As

    atenes e foras eram canalizadas para os oratrios e capelas, como espao primordial,

    garantidor da prtica do culto e transmisso da Doutrina catlica.10 Para esses pequenos

    proprietrios, identificados com a propriedade, a terra, o trabalho, a produo e a religio, a

    escola como transmissora de conhecimentos/instrumentos era vista numa posio secundria ou

    como desnecessria.

    Atravs do Relatrio administrativo de 1928-1929, podemos traar um quadro da economia

    de Barril poca da sua elevao a categoria de distrito. Contava com oitenta e um contribuintes

    para pagamento de impostos. No Comrcio: oito moinhos, um sapateiro sem oficial, uma

    trilhadeira de trigo. Na Indstria: cinco cantinas de vinho, doze engenhos de rapadura, seis

    engenhos de aguardente; uma exportadora de madeira de segunda classe, uma fbrica de banha,

    trs ferrarias de segunda classe, seis fbricas de fumo, um depsito e uma bomba de gasolina, um

    hotel. Cinquenta e trs veculos de trao animal. As Profisses: Duas alfaiatarias, cinco casas

    comerciais de 15/30 c. [?], sete de 6/15 c. e oito at seis c.; duas casas de bebidas e cigarros,

    quatro curtumes com oferta de obras; sete carpinteiros.

    5 PERFIS DAS ESCOLAS NO ANTIGO DISTRITO DE FREDERICO

    WESTPHALEN

    Tomando por fonte a obra Painis do Passado do Mons. Vitor BATTISTELLA (1969),

    conseguimos traar um breve mapeamento dos educandrios nos primitivos lugarejos do distrito

    de Frederico Westphalen, o que nos revela detalhes dos incios da instruo escolar, se particular

    ou pblica e alguns nomes dos primeiros mestres e mestras.

    escreve na introduo que se definiu nos entendimentos (ou desentendimentos) estabelecidos entre Estado, Igreja e Colonos. p. 13. 10 Os imigrantes italianos desconheceram na prpria ptria os benefcios da educao e da instruo, afirma Zagonel, p. 43.

  • 19

    Na Vila de Frederico Westphalen, em 02.03.1925 a escola funcionava na capela, com a

    profa. Amlia Sanvido e foi at 05/1926; depois o prof. Pedro Lisowski durante algumas semanas

    a partir de 03/1927; - De 05/1926 at 12/1926 ficou em casa particular, no centro do povoado, o

    Prof. Horizonte da Luz; J a partir de meados de 1927, em Escola particular construda pela colnia

    polonesa, ensinou o prof. Pedro Lisowski. No mesmo ano, em escola particular construda por Sociedade

    escolar presidida por Joo Cerutti atuam os profs. Velocino de Camargo, Zequinha Borges, Doca

    Borges, Aldia Camargo (a primeira professora municipal), Joo Abott (professor municipal), por

    dois anos; - At que em princpios de 1934 surge o Grupo Escolar, ocupadas pelas profas. Elza da

    Fonseca (diretora), e as irms Amrica e Edite Araujo; mais tarde Ayd Klippel e Maria de

    Oliveira Dutra.

    Taquaruu do Sul, teve sua primeira aula em 1925, no oratrio So Roque, com o Prof.

    Joo Fontana, que ensinou at 1949. Em 1940 surge o Grupo Escolar, fruto de iniciativa

    comunitria.

    A comunidade de Vista Alegre contou com os Profs. Primrios: Jos Baruffi e Feliciano

    Farias de Melo (possuam preparo rudimentar, mas eram bastante dedicados); depois Genuno

    Fontana Joo Fontana; Recebeu em 1946 o Grupo Escolar construdo expensas da Sociedade

    de Pais e Mestres.

    Sete de Setembro contou de 1925 a 1927 com o mestre Mximo Manfrin, que na falta de

    escola, deu aula primria, a ttulo de cooperao, por conta prpria, em sua casa e na capela;

    Entre 1928 e 19337 lecionaram os prof. Nomeados: Joo Fontana, Vidal Fortunato, Jacinto

    Gomes, Genuino Fontana, Maria e Gilda Botton e Roslia Lorini.

    A populao de So Paulo, interior de Vista Alegre pode contar com os servios do Prof.

    Alexandre Magri, em aula particular na capela. E 1936 obteve sua Aula Municipal subvencionada,

    com a docncia do Prof. Feliciano Farias de Melo.

    Palmitinho somente em 1935 viu sua Aula particular na capela, com as profas. Almerinda

    Pereira, Dozolina Balestrin, Florisbela Sarti.

    Boa Vista, interior de Palmitinho, tambm inaugurou sua histria educacional com Aula

    particular (1934) da Profa. Ermenegilda Gatiboni; em 1936 recebe Aula Pblica com a Profa.

    Dozolina Balestrin.

    Caiara, igualmente, vai depender de Aula particular, na Capela, com os ensinamentos dos

    Profs. Jacito Aguierre, Luiz Menegatti e Jos Cludio; Ganhou em 1934 uma Escola com o Prof.

    Jos Claudio; Elevada em 1943 a Grupo Escolar: Diretores: Leopoldina Schoeffer (de Cruz Alta)

    e Adriano Schmith (de So Leopoldo).

  • 20

    Vicente Dutra esperou por uma Escola Municipal, situada no centro da vila, ativada pelos

    profs. Ermira Henriques, Jacy Ramos, Elvira Lorini e Osrio Alves da Rocha; Em 1941 viu seu

    Grupo Escolar, tendo nos incios a diretora Ruth Terra lama (de Pelotas), Otilia Cossa, Nilza

    Brando.

    Em So Francisco do Pardo, (FW), tambm contou os prstimos de Alexandre Magri,

    que exerceu por algum tempo professor primrio. A partir de 1939, na capela, lecionaram:

    Fabricio e Alexandre Magri, Afonso Sanvido, Marcelo Sponchiado, Jac Tatto.

    Osvaldo Cruz, por fim, at 1925 contou de aula particular em casa de Agostinho Trezzi e a

    Profa. Dosolina Zatti Balestrin; em 1926 surge escola ao lado capela.

    Pelo quadro acima, podemos ver como a escola de incio estava atrelada capela e por

    vezes foi de iniciativa particular, portanto dos prprios moradores; outras vezes j iniciou com a

    presena do poder pblico, no caso da Prefeitura Municipal, passando depois para a esfera do

    Estado, quando evolua para Grupo Escolar.

    Nota-se tambm que o percurso das escolas difere de outros lugares onde ela foi uma

    iniciativa da Parquia e depois passou para pblica. Esta constatao nos remete a concluir um

    certo desinteresse em certas comunidades pelo ensino escolar e/ou a presena desde cedo do

    poder pblico. A este respeito, dispomos do comentrio que o Pe. Battistella registrou no Livro

    Tombo da Parquia sobre a chegada do Grupo Escolar na Sede de sua parquia em 1935:

    A falta de instruo uma das sensveis lacunas desta prspera colnia. H tempos os elementos representativos de nossa sociedade vinham pleiteando junto aos poderes municipais o estabelecimento de um grupo escolar neste distrito, o qual pelo seu desenvolvimento agrcola, pelo nmero e tempera de seus moradores, pelo coeficiente eleitoral e por outros muitos ttulos considerado talvez o primeiro de todo o vasto municpio da Palmeira, razo pela qual se impunha com fora de direito a satisfao de tal desideratum. Animava as esperanas, outrossim, a poltica benemrita de franca proteo e desenvolvimento da instruo pblica que o ilustre chefe poltico e municipal Coronel Valzumiro Dutra junto ao governo do Estado, e o decreto da criao veio entre os aplausos e o jbilo de quantos sabem apreciar o valor da instruo e da educao. Foi remodelado e adaptado para o edifcio do grupo um prdio suficientemente espaoso em caso de emergncia, situado em ponto central ao lado da praa, esperando-se comear dentro deste ano um edifcio apropriado novo, amplo e

    confortvel com todos os requisitos da moderna pedagogia. (Livro Tombo I, p. 32 e v.).

    6 O MUNICPIO DE PALMEIRA SE PREOCUPA COM O PO DO ESPRITO

    Destaca-se a aluso elogiosa ao Prefeito de Palmeira das Misses, afamado como o

    ltimo caudilho do Rio Grande do Sul, de ser um empreendedor no campo educacional. Assim,

    parece til vermos alguns Relatrios do Municpio de Palmeira no que se refere educao. O

    Relatrio do Intendente Cel. Vazulmiro, de 10/1928 a 09/1929 nos revela, no item das finanas,

  • 21

    que o mandatrio fez uma emprstimo de 1000:000$000, do quais 66:000$000 foi destinado

    construo de um Grupo Escolar nesta Villa (PREFEITURA DE PALMEIRA, 1929). Diz

    tambm que o Estado dotou 24 escolas municipais com a subveno de 600$000 cada uma, que

    eram pagos proporo que os mapas escolares trimestrais vo sendo apresentados ao tesouro

    do Estado. Informa que o Estado mantinha duas escolas isoladas (destinadas ao ensino primrio

    nos lugares interioranos), uma em Ira e outra na Guarita, somando 68 alunos. J as escolas

    municipais, do tipo misto, somavam 53, sendo 24 subvencionadas pelo Governo do Estado,

    atingindo 2.688 alunos, sendo 1.954 do sexo masculino e 724 do sexo feminino. O Grupo Escol,

    diferentemente, com uma frequncia de 127 do sexo feminino e 98 do masculino. Informa que

    naquele ano criou 9 escolas primrias, estando no firme propsito de, no prximo ano, elevar

    aquele nmero. A matrcula total nas escolas municipais e estaduais era de 3.032 alunos de ambos

    os sexos. Mas nem tudo eram notcias boas: Lamenta ter fechada a escol isolada de Nonoai por

    jubilao da professora. Por fim, enaltece a importncia deste departamento da administrao

    que, cada dia mais se desenvolve, conforme a plataforma governamental do Snr. Cel.

    Intendente; e solicita a um funcionrio para a fiscalizao da Instruo Pblica, funo que era

    exercida pelo Intendente.

    Identifica-se que no professorado em 1928-29 o 13 Distrito contava com quatro escolas;

    professorado municipal: Joo Fontana, Oldia Camargo, Mximo Manfredi (Manfrin), Mauricia

    Jos Reis.

    O mesmo mandatrio, agora prefeito, em 1934, diz no seu Relatrio de 1934 que a

    instruo pblica do municpio objeto de meu maior desvelo, absorve 19% de sua

    arrecadao (PREFEITURA DE PALMEIRA, 1934. p. 8). Mantinha 8 escolas municipais na

    sede e 55 nos distritos, sendo 5 no de Frederico Westphalen; portanto uma a mais do que em

    1929. Alm de subvencionar as escolas municipais o Estado concorria com a manuteno de trs

    Grupos Escolares (Vila, Campo Novo e Fortaleza), e 8 escolas isoladas. A frequncia mdia era

    de 3.500 alunos. E conclui: promissora, j se v, a instruo pblica em Palmeira. H,

    entretanto, ncleos de populao, em vrios pontos de seu vasto territrio, que esto sem escola

    para a infncia, cumprindo aos poderes pblicos providenciar, com a possvel urgncia, para que

    se lhes d o precioso po de esprito (Id. p. 9).

    O Relatrio de 1941 informa que fora de 18,02% da arrecadao prevista a verba

    destinada ao ensino primrio. Foram criados Grupos Escolares em Faxinal e Tenente Portela. A

    seleo de professores para ingresso no magistrio municipal tem obedecido rigorosamente a

    uma prova de capacidade dos candidatos (PREFEITURA DE PALMEIRA, 1942, p. 22). Na

    Parada da Mocidade, realizada em setembro daquele ano formaram 5.416 alunos. Havia 9

  • 22

    grupos escolares e uma escola isolada mantidos pelo governo do estado. Funcionavam tambm

    43 escolas particulares. Lecionavam 100 professores municipais.

    A dcada de 1940 representou a passagem de um patamar para outro, em todos os

    aspectos, para Barril, semelhana de todo o pas e o mundo. Era notvel o desenvolvimento

    material do distrito, com a agricultura assumindo importncia sempre crescente como base de

    toda a vida econmica, atravs do aprimoramento dos mtodos da agropecuria, como a

    introduo de novas sementes e cultivares.

    E o ensino, entretanto, podemos dizer que permanecia ainda no tempo da Pedra

    Lascada ou no perodo tenebrae e obscuro da Idade Mdia!

    Ora o cavalo de batalha do temido Comunismo Russo - que tambm saiu vitorioso na

    II Guerra - dava nfase aos problemas sociais: sade, ensino, habitao, trabalho, lazer... a que

    o lder vai usar das mesmas armas, partindo a realizar as obras que sanassem estas graves lacunas

    e que ficavam mais sensveis na percepo da populao: 1940 - Rede Telefnica Barrilense; 1946

    - Colgio Nossa Senhora Auxiliadora; 1946 - Pr-Seminrio N. Sra. Medianeira; 1946 - Rdio Luz

    e Alegria; 1947 - Hospital de Caridade; 1948 - Cinema Paroquial; 1950 - Incio da nova Igreja

    Matriz; 1951 - Unio dos Agricultores e Criadores - UNAC; 1956 - Casa do Agricultor. Estas

    obras serviram de infraestrutura para, em 1953, desencadear o movimento emancipacionista -

    conseguido no ano seguinte - e deu condies ao novo municpio de ser elevado a Sede da nova

    Diocese (1961).

    Com a construo de um Colgio dirigido por freiras Mons. Vtor somava mais um ponto

    estratgico para seu monoplio.

    Outro fator influente foi a grande afeio que Pe. Vtor tinha pelas vocaes. Neste

    assunto, era um verdadeiro mestre. Alm das vocaes masculinas, abrigadas no Pr-Seminrio,

    era preciso cultivar as muitas vocaes femininas. O Colgio Auxiliadora serviria como o horto

    que daria continuidade sementeira de vocaes femininas que era a parquia de Barril.

    Alm da estima que Pe. Battistella possua pelas Irms da Congregao do Imaculado

    Corao de Maria, a escolha destas irms teve a influncia do Pe. Luiz Sponchiado. Quando ainda

    seminarista Luiz dedicava-se nas frias a descobrir e encaminhar vocaes femininas para os

    Colgios, preferindo a Congregao do ICM. Na hora de escolher as futuras dirigentes do

    Colgio Auxiliadora, Luiz props estas irms. Pe. Battistella pediu-lhe, ento, que entrasse em

    contado com a Madre Geral em Porto Alegre. O que fez. Diante da riqueza vocacional, no

    tiveram dvidas em aceitar, lembra Pe. Luizinho.

  • 23

    7 MOBILIZAO LEIGA PARA UM CURSO GINASIAL

    Em fins de 1949, um grupo de pessoas de destaque social - includas a algumas

    desafetas ou fora da rbita de controle do proco - estavam concordes que era preciso conseguir

    um edifcio e nele instalar o curso ginasial, para dar continuidade aos alunos que terminavam o

    primrio11. O lder desta ideia, Jos Caellas, escrivo distrital, sabia que para o projeto ganhar

    xito precisava do apoio do Proco. Com coragem, no dia 5 de novembro deste ano, visita o Pe.

    Vtor e expe os seus planos. Ora, j no dia seguinte, do plpito da igreja matriz, no sermo

    dominical, o proco lanou a mesma ideia, dizendo que logo mais daria os detalhes da construo

    do Ginsio! Mas o que aconteceu: Pe. Vtor roubou a ideia do escrivo, porque este no lhe

    estava em graa - suspeito de estar envolvido com a Maonaria anticlerical. A iniciativa, assim,

    esfriou e seu autor desanimou e desistiu!12

    Lisot, interepreta assim os fatos que testemunhou:

    - Dizem que o Mons. Vtor no ajudava muito na educao?

    - Era proibido. Quando o Seu Jos Caellas chegou aqui - que do meu lado ele, o

    Vitalino Cerutti, mais aqueles que vinham a procura tambm, para formar um colgio aqui, para

    trazer o primrio, trazer a educao em Frederico Westphalen. Ele (Mons., Vtor) gritou na igreja

    que ainda no estava a tempo, porque se vinham de fora gente vai mudar as nossas idias.

    - Ele falou isso? - Falou isso na igreja. Se algum se recorda, no recorda; mas eu me

    recordo. Que era proibido. A o Caellas que era o cabea, que era uma pessoa de muito gabarito,

    uma pessoa que era escrivo, ento ele largou mo de tudo e deixaram correr o barco. At que 11 Cfme. Ata nmero um Reunio do Povo de Frederico Westphalen fins tratar-se construo de um Ginsio. A reunio aconteceu em 20.11.1949, no Salo do Clube Harmonia, estando presente uma comisso provisria anteriormente composta: Jos Caellas, Carlos Lino Machado, Vergnio Cerutti, Joo Muniz Reis, Dr. Enio Flores de Andrade. Caellas coordenou o encontro, falando da necessidade do ginsio e do seu plano, apesar da crise que atravessava o mundo inteiro, de se estabelecer uma quota mnima de Cr$ 1 mil e mxima sem limite. Insistiu que Roma no foi feita em s dia..., e que a obra ser para o engrandecimento desta rica zona de Barril. Em seguida, Leopoldo Homrick enalteceu a idia. Dr. Enio apresentou para diretoria: Presidente Caellas; Vice Machado, Secretrio Pedro Jos Zanbenedetti, 2 secretrio Guerino Cerutti, tesoureiro Pedro Sessegollo; segundo tesoureiro Ary Fanfa Cardoso; oradores Leopoldo Homreck e Dr. Paulino Bellomo Filho; Propaganda: Vergnio Cerutti, Joo Muniz REIS, Dr. nio, Artur Milani e outros. Foi elaborada uma lista para angariar scios, resultando 50 assinaturas no valor de Cr$ 71.000. O prefeito de Palmeira, Pomplio Gomes, ausente por motivo de doena, enviou telegrama, hipotecando sua colaborao. Cfme. Fotocpia da ata, fornecida pelo pesquisador Wilson A. Ferigollo. 12 Estes fatos baseiam-se na carta que Caellas enviou a 07.11.1949 ao Pe. Vitor. AMVB. Inicia dizendo que lamenta que a visita que lhe fizera a 5 do mesmo ms, com a finalidade de discutir a construo de um edifcio para funcionar um ginsio, produzisse no seu [proco] esprito adiantado tanta preocupao, pois logo no dia seguinte, isto , Domingo, V. Rvma., valeu-se do plpito da nossa Igreja, para dar um toque leve sobre a construo de um ginsio, e que em tempo oportuno, voltaria carga, explicando minuciosamente. Lastimo que a minha visita produzisse tal estardalhao. A iniciativa foi lanada depois de serem consultados todas as pessoas de destaque social desta localidade, e, para ser unnime, precisava de vosso concurso tanto moral, como material. Infelizmente quando lhe fiz a visita j notei que estes predicados, em parte falharam, mas esperava ainda uma soluo satisfatria. Concluso: Que a luta no prossiga, sejamos todos barrilenses de fato, e todo e qualquer movimento, parta de onde partir, receba o apoio unnime deste povo que trabalha pelo engrandecimento e Progresso desta futurosa Zona. Pe. Battistella, como era costume, escreveu na margem da carta: Despeitado porque no lhe dei o apoio que esperava. Logo desanimou e desistiu!.

  • 24

    ele, depois, com o tempo, ele tratou de colocar o Colgio das Irms, do Hospital. Mas ele, de

    momento, ele queria ser dominante. Aquilo que ele botou na cabea dominava a situao; era isto

    os ideais dele. Mas, eu acredito que ns temos muito cuidado com a nossa vida, tanto o grande,

    como eu que sou pequeninho, todos deve ter um certo cuidado. Porque ele, por exemplo, numa

    ocasio - ele sabia que eu fazia parte de um partido, mas eu no era poltico, eu s fazia parte e

    tinha paixo por palavras de justia, que como entendia que Getlio, Dornelles e outros, Jango,

    eram justiceiros, porque quando eles falavam, eu achava que eram certos na justia e ele [Mons.

    Vtor] era contra mim...

    A conquista de um Curso Ginasial na sede do Municpio parece ter sido mais fruto de

    articulaes polticas.... Segundo o pesquisador Wilson Ferigollo:

    Em 1960, as lideranas sentindo que seus filhos enfrentavam dificuldades para prosseguirem os estudos, recebendo cobrana dentro de casa, novo movimento nasceu na sociedade. O clamor da juventude emergente das escolas exigiu uma tomada de posio. Vitalino Cerutti, de 1960 a 1962, viajou dezena de vezes a Cruz Alta, sede da Delegacia de Educao e a Santa Maria, seccional da Inspetoria Educacional do Estado. (...) Em 20.12.1960 nasceu a Soc. Educacional Frederico Westphalen, sedo eleito Presidente Vitalino Cerutti e, quando esteve no Rio [junto a Campanha Nacional de Educandrios da Comunidade], props ceder alguma rea sociedade para instalar um ginsio. Enquanto isso um processo tramitava vagarosamente pelos birs, gavetas e mesas da Secretaria Estadual de Educao, at que em 21 de maro de 1962 foi criado o Cardeal Roncalli (FERIGOLLO, 2004.p. 274).

    O filho de Vitalino, Djalmo Cerutti, revela movimentos de bastidores que colocam

    injunes partidrias, pois estava no Governo estadual o seu lder Leonel Brizola.

    Ele era uma pessoa assim, ele no se atinha s coisas, ele tinha as ideias. Era aquele

    homem que falava bem, que ia fazer o discurso nos negcios; qualquer, vinha uma autoridade era

    ele. O Brizola, por exemplo, o Brizola quando assinou a fundao do Colgio, assinou na frente

    do Palcio [Piratini], assinou encima do cap do carro do pai. E tu sabe o que o pai fez? Pra ti ver

    a inteligncia e o sem-vergonhismo e a audcia dele. So trs coisas: ele ligou de dentro do

    Palcio, dizendo que ele era um Secretrio do Governador, l pra Secretaria da Educao dizendo

    que era pra entregar pro seu Seu Vitalino; a indo l que era pra entregar os documentos, tudo,

    que o Governador tinha que assinar ainda hoje porque o Governador ia viajar. [...] a secretria

    bateu tudo os negcio, ele foi l, pegou, quando ele voltou pro Palcio, o Brizola tava saindo do

    Palcio. Ele chamou o Brizola, o Brizola assinou a portaria criado o Colgio Roncalli.

    (CERUTTI, 2001, p. 2).

    Djalmo acrescenta o posto de mando local que Vitalino ocupava.

  • 25

    O pai era aqui o responsvel por toda a parte da educao dessa regio. As brizoletas13,

    todas, que foram colocadas aqui, nos 20 municpios dessa regio, quem mandava era o pai; os

    professores, ele que ia a Cruz Alta aquela poca a Delegacia era Cruz Alta. E a que t o

    problema: meu pai no botava s pessoal do PTB no, era tudo o que tinha de igual, se tinha

    condio no interessava o partido. Por sinal, 90% dos primeiros professores que ele colocou

    aqui era do PDS, que era o que tinha a maioria mesmo que tinha condies. Ele no tinha cargo

    nenhum. Era tudo por conta dele. Mais de um decnio passaria para que o religioso retomasse a

    ideia de um Ginsio.

    Nos ltimos dias de 1960, Mons. Vtor escreve uma carta Superiora no Colgio

    Auxiliadora, propondo a instalao, a ttulo precrio, de um Ginsio junto quele

    estabelecimento. A certa altura o remetente expe seu ponto de vista: A congregao do

    Corao de Maria no deve perder a oportunidade de se firmar no conceito do povo, instalando e

    dirigindo um estabelecimento de ensino e educao modelar nesta cidade, futura sede de Bispado

    e centro geogrfico de primeira ordem. H, alm disso, o interesse no secundrio das vocaes.

    Quanto melhor as Irms se projetarem, mais vocaes ho de atrair.14

    A Superiora Geral em Porto Alegre responde a 14 de fevereiro do ano seguinte,

    lamentando no final: Ah! Se no fosse a falta de Irms preparadas disponveis, o Ginsio de

    Frederico Westphalen surgiria, com a graa de Deus, j neste ano, orientado pelas religiosas do

    Imaculado Corao de Maria. Interessante anotar que houve tratativas com os famosos

    educadores Irmos Maristas para assumirem o Curso Ginasial em Frederico Westphalen.

    Da que o assunto do Ginsio saiu de sua agenda, passando para o seu Coadjutor. A 6 de

    outubro de 1961 (data oficial de fundao), por iniciativa do Pe. Jos Marchesan, reuniu-se uma

    Comisso formada de membros de maior projeo social que debateu a ideia de criar-se o

    Curso Secundrio. Na ocasio deram-se os primeiros passos, escolhendo-se o nome de Ginsio

    Na. Sra. Auxiliadora, ficando por sede o mesmo edifcio.

    8 O ETHOS COMUNITRIO NO ENSINO SUPERIOR

    Quanto ao modus operandi da criao da Fundao de Ensino Superior do Alto Uruguai,

    constata-se que foi uma iniciativa das lideranas da comunidade local que assumem a tarefa da

    13 O governo de Leonel Brizola (1959-1963), lanou o plano Nenhuma criana sem escola no Rio Grande do Sul deu origem construo, em todos os municpios do estado, de prdios escolares com caractersticas muito prprias que ficaram conhecidos como brizoletas ou escolinhas do Brizola. Nos quatro anos de governo, construram-se 1.045 prdios escolares, com 3.360 salas de aula e capacidade para 235.200 alunos. 14 Carta da Superiora. Porto Alegre, 14.02.1961.

  • 26

    sua organizao e manuteno. Acresce-se o fato de no visarem a lucros e prestar servios de

    utilidade pblica, da se caracterizarem, como comunitrias.

    Constata-se que foram as demandas advindas do processo histrico, ou seja, a evoluo

    scioeconmica e o aumento populacional que desencadeiam o surgimento do ensino em

    sucessivos graus. Atente-se, que vinculado a esse fenmeno, est a ausncia ou a mnima

    participao do Estado na organizao do Ensino Mdio e Superior. Como enfatizam Both e

    Frantz:

    Na ausncia do Estado, as comunidades do DGE-38 sempre souberam superar seus limites educacionais, assumindo o compromisso de dar bom destino ao conhecimento humano, fazendo deste seu instrumento de libertao. Com a inteno de fugir explorao ou perda de identidade, eram deflagrados mecanismos de efeitos eficazes e apropriados. - Sem as vantagens dos grandes centros, sem privilgio da poltica oficial, sem a fora das grandes famlias da oligarquia gacha detentoras de poder, os centros populacionais, eixos de irradiao da cultura no DGE-38, tiveram tambm que prover pelo ensino superior (BOTH; FRANTZ, 1985, p. 14).

    A anlise da dinmica peculiar percorrida pela escola e a implementao do ensino

    superior, inserida num contexto geogrfico e histrico particular, vemos que acabou por criar

    uma identidade sui-generis, em constante auto-construo. Uma avaliao da caminhada das IES

    do DGE-38constatou:

    Muitas destas instituies surgidas num momento em que o Estado no mais pde conter a demanda, sob o signo da interiorizao e do isolamento, tiveram uma origem quase bastarda, mais do que queridas, na impossibilidade de evit-las, foram toleradas pelo Estado. Por mais paradoxal que parea, estas instituies fizeram, de sua fraqueza, sua fora. No se isolaram da realidade. Assumiram-na e ao assumi-la, identificaram-se a si mesmas a partir da prtica. Abrigaram segmentos da populao que jamais teriam acesso s universidades dos grandes centros urbanos e os transformaram em recursos humanos, mais qualificados para seu desenvolvimento econmico e social (MIKOSKI e ORTIGARA, 1985, p. 23s).

    Os autores entendem que a insero na realidade regional, interagindo com toda a

    populao, as IES superam a tese que considera as instituies apenas como aparelhos de

    reproduo social. Ao contrrio constituem-se em instrumentos dinamizadores da sociedade,

    buscando superar as graves contradies desta sociedade, concluem.

    A citada orfandade da FESAU por parte do Estado merece uma anlise mais acurada,

    pois verifica-se que, apesar da quase ausncia da Unio e do Estado, temos a presena de agentes

    pblicos que, por conta prpria ou representando as suas esferas de ao, vo protagonizar os

    fatos. Trata-se do deputado e Ministro Tarso Dutra e do Reitor da Universidade Federal de Santa

    Maria, Jos Mariano da Rocha Filho. Nerone categrico em sua entrevista: sem eles a FESAU

    no teria existido. Tarso de Morais Dutra (1914-1983) vincula-se regio desde os tempos de

  • 27

    candidato a deputado (1947), tendo sempre recebido considervel votao, contando com um

    grande cabo-eleitoral, o lder religioso Mons. Vitor Battisella. poca das primeiras tratativas

    para a criao da FESAU, estava como Ministro da Educao (1967-69). Nerone Campo informa

    que o sistema adotado na modelao da instituio foi sugerido por Dutra e pelo Reitor: A

    prefeitura instituiria uma fundao (FESAU) e a ela transferiria os recursos para o seu

    funcionamento. No incio destinaram-se 360 salrios mnimos anuais (Lei n. 416/69, de

    31.10.1969) que passaram, em 1972, a 500 salrios mnimos regionais (Lei 545/72, de

    29.12.1972). Campo acrescenta que A escolha do primeiro curso surgiu como consenso da

    primeira diretoria da FESAU com o reitor e o ministro tendo em vista a maior facilidade de

    implantao e as carncias do magistrio do municpio.

    Outras lideranas abraaram a causa e passaram a convocar e conscientizar a comunidade.

    Muitos manifestaram a opinio de que a cidade ainda no estava madura para uma investida de tal

    vulto. Segundo o depoimento oral de Arisoli A. Franciscatto - professor e advogado - o povo da

    poca no desistia to fcil de seus objetivos, no esperavam sentados pela ajuda, se fosse

    necessrio lutavam sozinhos pela conquista.

    Renem-se, ento, no Seminrio Diocesano, o Promotor Pblico Dr. Vitalino C. Pereira,

    Pe. Arlindo Rubert - proco - e Lrio Zanchet - professor e empresrio -, com o objetivo de

    elaborar um ofcio, solicitando uma extenso universitria. Sugeriu-se uma Faculdade de

    Filosofia, imaginando ser mais fcil sensibilizar as autoridades, j que teriam clientela fornecida

    pelo seminrio.

    Interessante a diversidade de pessoas que se mobilizaram na empreitada, como se v pelas

    assinaturas da Ata da Assembleia Geral que aprovou os estatutos da fundao do ensino superior

    do Alto Uruguai, em 22 de dezembro de 1969. Vejamos seus nomes com as profisses: prefeitos

    municipais: Nerone Campo (FW) e Casemiro Milani (Seberi); eclesisticos: D. Joo Hoffmann

    bispo, Pe. Guido Tafarel, Pe. Arlindo Rubert; - comerciantes: Alfredo L. Sanvido, Otvio Vanzin; -

    industrialista: Antnio Panosso; funcionrios pblicos: Arisoli Ado Franciscatto, Arisoli Martelet,

    Eduardo Baptista; contabilistas: Dorizel Antnio Franciscatto, Lauro Paulo Mazzutti, Rivadavia

    Bossoni, Werno Markus; professor(a): Elenir Terezinha Busatto, rico Domingos Simoni, Gentil

    Francisco Roani, Izabel Maria Ghesti, Ophlia Sunpta Buzatto, Waldomiro Vanelli Pinheiro,

    Lrio Zanchet; mdicos: Enio Flores de Andrade; advogados: Leonel Flores da Rosa e Nelson

    Pithan.

    Outras prefeituras da regio tambm contriburam, algumas apenas moralmente. Entre

    os mantenedores, com direito a voto, sobressaem as pessoas fsicas, comrcios, empresas S/A,

  • 28

    cooperativas, rdio, bancos, colgios. Mais tarde, os professores e novos integrantes da

    comunidade passaram a integrar o grupo e a assembleia geral, chegando a 107 colaboradores.

    A professora Ada Maria Hemilewski assevera:"A adoo do sistema comunitrio adotado

    na construo da Universidade foi a melhor soluo, uma vez que, era uma luta da comunidade

    regional como um todo e no de algum ou algum grupo com fins lucrativos. (HEMILEWSKI,

    2006).

    Os entrevistados so unnimes em dizer das grandes vantagens que representou o

    surgimento do ensino superior, como fator de desenvolvimento e que alavancou o crescimento

    da cidade como polo regional. Por exemplo, essa declarao da entrevista de Nerone Campo:

    O Ensino Superior foi uma conquista de toda uma comunidade regional mobilizada, que

    provocou o progresso material e cultural do municpio, onde o comrcio se desenvolveu e o setor

    imobilirio cresceu fortemente, trouxe enormes benefcios aos estudantes, que hoje no precisam

    mais sair da regio para ingressarem em uma Universidade (id).

    CONCLUSO

    Passamos em revista de modo preliminar alguns cenrios que tratam do associativismo na

    micro-regio do Mdio Alto Uruguai gacho, que afetaram mais diretamente rgos coletivos,

    como a Igreja Catlica, cooperativas e escolas. Partimos da premissa que o elemento humano

    presente na regio est marcadamente pelo ethos comunitrio, decorrente, na sua maioria, de sua

    condio de descendente de imigrante europeu pequeno-produtor, cuja matriz social o ncleo-

    familiar patriarcal, que se estende para a pequena comunidade, a capela. Frisamos que a arraigada

    tradio religiosa crist europeizada, a condio de isolamento geogrfico e de possuir poucos

    recursos econmicos obrigou s famlias pioneiras a formao de associaes religiosas, escolares,

    desportivas. Frente situaes de crise, lderes natos, souberam aglutinar grupos em torno de

    Cooperativas, geralmente de vida efmera.

    Procuramos enfatizar a presena marcante da figura do padre, como detentor de uma

    autoridade quase unnime. No caso da regio em tela, destaca-se a personalidade do Pe. Vitor

    Battistella, pela sua viso abrangente do sacerdcio, que, no seu entender devia abarcar as coisas

    profanas, e sua capacidade de elaborar estratgias para atrair as foras, o fez marcar presena em

    quase todas as reas da vida humana. Seu desejo de deter o controle das entidades o fez

    protagonista por grande perodo das inciativas em todos os setores. Doutra parte, provocou

    dissidncias com grupos que comungavam com seu pensamento, sua opo poltico-partidria e

    estilo autoritrio.

  • 29

    Quanto ao ensino, vimos que nasce como um desejo dos colonos que se unem para

    resolver o problema atravs de escolas particulares ou reivindicando o ensino pblico. O padre,

    nesta parte, vendo o perigo que representava os educandrios comandados por pessoas de fora

    do seu crculo de domnio, vai apenas vigiar a ao do professorado e, quando no mais podia

    frear a ao de leigos, criar um Colgio Normal dirigido por freiras.

    So facetas multiformes do fenmeno humano da cooperao, da solidariedade, que

    adquire feies mltiplas, no correr do tempo, porquanto envolve interesses de grupos e de

    pessoas, que somente a pesquisa acurada pode desvendar.

    REFERNCIAS BATTISTELLA, Vtor. [Carta] 14 jan. 1962, Frederico Westphalen [para] SARTORI, Vitor D., Frederico Westphalen, 4 f. informa os motivos de sua renuncia do cargo de Proco de Frederico Westphalen. BATTISTELLA, Vtor. Painis do Passado Histria de Frederico Westphalen. Frederico Westphalen: Grfica Marin Ltda., 1969. BATTISTELLA, Vtor. (org.) Congresso de Ao Social Rural em Frederico Westphalen. Porto Alegre: Livraria do Globo: 1953. BOTH, Agostinho; FRANTZ, Telmo. As Escolas Particulares do DGE-38 sua natureza pblica e comunitria. In: Distrito Geo-Educacional 38: Razes da Educao e da cultura no Distrito Geo-Educacional-38 uma reviso e prospeco. Frederico Westphalen: Litoarte Marin, 1985. p. 7-15. CAMPO, Nerone. Entrevista escrita. Porto Alegre, 24 outubro 2006. Entrevista a Breno Sponchiado. CAMPO, Nerone. Frederico Westphalen a Passos Largos. Relatrio da administrao - Frederico Westphalen 1969-1973. Frederico Westphalen. Editora Marin. CERUTTI, D. Depoimento. 22 de agosto 2001. Frederico Westphalen. Entrevista concedida a Breno Antnio Sponchiado. CERUTTI, V. Depoimento. 5 novembro 1986. Frederico Westphalen. Entrevista a Breno Antnio Sponchiado. COTRIFRED. Pesquisa de Wilson Aleixo Ferigollo. Disponvel em . Acessado em: agosto de 2015. DAL MORO, Selina Maria. De Escola Paroquial Escola Pblica: O significado da escola no desenvolvimento de Sananduva-RS. Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Avanados em Educao, Dpto. De Filosofia da Educao da Fundao Getlio Vargas, 1985. DIHEL, Astor Antnio. Os crculos operrios: um projeto scio-poltico da Igreja Catlica do RS (1932-1964). Porto Alegre: PUCRS, dissertao de mestrado, 1987.

  • 30

    ESTATUTO DA FUNDAO DE ENSINO SUPERIOR DO ALTO URUGUAI FESAU. Frederico Westphalen, 16.03.1982. s.e. ESTATUTOS DA UNIO DOS AGRICULTORES E CRIADORES UNAC. Frederico Westphalen. S.e., s.l. FERIGOLLO, Wilson. A. Rostos e Rastros no Barril 1954-4004. Frederico Westphalen: Pluma, 2004. FUNDAO DO GINSIO. Salo do Clube Harmonia. Frederico Westphalen. Ata um: Reunio do Povo de Frederico Westphalen realizada no dia 20 de novembro de 1949. Livro 01, p. 2. GALIOTO, Pe. Antnio. As Capelas Uma original experincia scio-religiosa. Caxias do Sul: EDUCS, 1988. HEMILEWSKI, Ada Maria. Fesau: Depoimento. 2006. Seberi. Entrevista concedida a Breno Antnio Sponchiado. IRM SUPERIORA DO IMACULADO CORAO DE MARIA. [Carta] 14 fev. 1961, Porto Alegre [para] BATTISTELLA, Vitor, Frederico Westphalen. 2 f. informa sobre tratativas de instalao de curso normal na cidade. ISAIA, Artur Cesar. Catolicismo e autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. P. 44. Veja-se tambm DE BONI, Lus Alberto. O catolicismo da imigrao: do triunfo crise. In: DACANAL, Jos Hildebrando, GONZAGA, Sergius. (orgs.) RS: imigrao & colonizao. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980. p. 242. LISOT, Alberto. Depoimento. 8 maio 2001. Frederico Westphalen. Entrevista a Breno Antnio Sponchiado. MANFROI, Olvio. A Colonizao italiana no Rio Grande do Sul: implicaes econmicas, polticas e culturais. 2. ed. Porto Alegre: Est, 2001. MERLOTTI, Vnia. O mito do padre entre descendentes italianos. Porto Alegre: EST/UCS, 1979. MIKOSKI, Martin e ORTIGARA, Cleo. Dinmica do DGE-38, in Distrito Geo-Educacional 38. Razes da Educao e da cultura no Distrito Geo-Educacional-38 uma reviso e prospeco. Frederico Westphalen: Litoarte Marin, 1985. p. 16-25. PREFEITURA DE PALMEIRA. Relatrio administrativo de 1.10.1928 30.09.1929 apresentado ao Conselho Municipal em 20 de outubro de 1929 pelo Intendente Municipal Cel. Vazlumiro Pereira Dutra. Palmeira de Misses: Livraria Candal & Hostyn, 1929. p. 19; 24 ss. PREFEITURA DE PALMEIRA. Relatrio correspondente ao exercicio administrativo de 1 de outubro de 1932 a 30 de setembro de 1933 e leis oramentrias para 1934 apresentados ao Ilmo. Sr. Dr. Erclio Domingues D. D. Chefe do Departamento da Administrao Municipal do Estado em 10 de novembro de 1933 pelo Prefeito Municipal Cel. Vazlumiro Pereira Dutra. Palmeira: Livraria Santo Antonio de A. Hostyn, 1934.

  • 31

    PREFEITURA DE PALMEIRA. Relatrio da Prefeitura Municipal de palmeira ano de 1941 [prefeito Felicio Augusto de Almeida]. Porto Alegre: Tipografia Santo Antonio Po dos Pobres. 1942. RELATRIO ADMINISTRATIVO DE 1.10.1928 30.09.1929 apresentado ao Conselho Municipal em 20.10. 1929 pelo Intendente Municipal, Cel. Valzumiro Dutra, p. 19; 24. ROCHE, J. A colonizao alem e o Rio Grande do Sul. Ed. Globo, Porto Alegre, 1969. Sobretudo no Cap. V, vol. I, p. 319. RODEGUERO, Carla Simone. O Diabo vermelho: imaginrio anticomunista e igreja catlica no Rio Grande do Sul 1945 1964. Passo Fundo: ADIUPF, 1998. SPONCHIADO, B. A. Dom Bruno Maldaner: 50 Anos a Servio da Igreja. Frederico Westphalen: URI Frederico Westphalen, 2000. SPONCHIADO, Luiz. [Carta] 11 set. 2001, Nova Palma [para] SPONCHIADO, Breno, Taquaruu do Sul, 3 f. informa sobre depoimentos de outras pessoas, tratando do Monsenhor Vitor Battistella. UNITAS. O Comunismo e o momento nacional. Porto Alegre, jun./set. 1945, n. 7-9, p. 181-184. Circular de Porto Alegre, 05.07.1945, assinam o arcebispo e os outros cinco bispos do Estado. URI. Universidade Regional Integrada Histrico. Texto elaborado pelos profs. Clo J. Ortigara, Glnio R. Cabral, Ivo Blatt, Mara R. Rsler e Martin Mikoski. In Revista da Universidade Regional Integrada, 1989. VIDA E CULTURA. LEC e o movimento Brasileiro. Santa Maria, ano 9, n. 6, nov./dez. 1945, p. 96-100, aqui 96. ZAGONEl. Carlos Albino. Igreja e imigrao italiana; capuchinhos de Sabia: um contributo para a Igreja no Rio Grande do Sul (1855-1915). Dissertao EST: Porto Alegre, 1975, p. 43.

  • Anlise histrica e contempornea acerca das

    cooperativas agrcolas: o caso COOTRIFRED

    Vanessa Besold1

    Jussara Jacomelli2

    Este ensaio busca trazer para a reflexo o histrico do cooperativismo em Frederico

    Westphalen, tendo como referncia a Cooperativa Tritcola de Frederico Westphalen.

    Realizamos, inicialmente, um pequeno estudo sobre a trajetria do cooperativismo no mundo e

    no Brasil, seguido do estudo de alguns conceitos sobre o cooperativismo para, ento, discutir o

    cooperativismo em Frederico Westphalen, tomando como exemplar o caso da COOTRIFRED.

    1 ANLISE HISTRICA E CONTEMPORNEA DAS COOPERATIVAS

    AGRCOLAS

    Estudar o Cooperativismo, como uma forma de organizao dos grupos sociais leva-nos

    a realizar um estudo de base centrado na histria da organizao dos territrios e dos homens

    que pertencem ao mesmo. O homem, em sua trajetria histrica sempre buscou desenvolver

    formas para melhorar suas condies de vida. O associativismo do qual deriva o cooperativismo

    um aspecto da organizao do homem no territrio. O processo histrico do homem

    marcado por constante melhoria nas tcnicas de trabalho, chegando ao atual desenvolvimento

    econmico global. Porm, o desenvolvimento social ficou aqum das expectativas da

    humanidade, a maior parte da populao, ao invs de se tornar mais rica atravs de seus esforos

    e trabalho, permanece tendo apenas o suficiente para a sua sobrevivncia, desprovida da

    oportunidade de conseguir realizar mudanas econmicas significativas.

    1.1 O homem se organiza e transforma o territrio em que vive

    Demo (2012, p.14), diz que a sociedade que at agora conhecemos parece ser,

    naturalmente, cooperativa e competitiva, todavia, constituda com dinmicas discriminatrias

    que produzem, como regra, sociedades muito desiguais e injustas. Nesse sentido, Demo coloca

    1 Graduanda de Psicologia na Universidade Regional Integrada e das Misses, Campus de Frederico Westphalen. Pesquisa financiada pelo rgo REDES-URI. 2 Doutora em Desenvolvimento Regional; Professora e Pesquisadora na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses.

  • 33

    o significado e a importncia de criarmos caminhos para a organizao de uma sociedade mais

    igualitria e menos desigual movida pelo princpio da cooperao.

    Para Sen e Kliksberg (2010, p. 28), o capitalismo global est muito mais preocupado em

    expandir o domnio das relaes de mercado do que, por exemplo, em estabelecer a democracia,

    expandir a educao elementar, ou incrementar as oportunidades sociais para os pobres do

    mundo. Se, conforme os autores, a equidade social no o objetivo dos donos do capital global,

    preciso que os pobres de nosso mundo, saibam se organizar, produzir conhecimento, educao

    e oportunidade econmica, sobre o que o Estado, tambm, deve ter responsabilidade.

    Soma Jacomelli (2011), com seu livro Polticas pblicas e rede de transporte no Norte

    Rio-grandense, quando trata das polticas pblicas no Brasil e no Rio Grande do Sul trazendo

    para a reflexo o tema territorializao, como caminho para analisar a organizao social e poltica

    dos territrios. Na sua obra, a autora, nos provoca a refletir sobre o tema territorializao e como

    ele evidencia a desigualdade social e as formas de organizao social e poltica que consolidam

    situaes de desigualdades que dizem respeito ao territrio, no qual o sujeito est inserido na

    sociedade.

    Alm dos territrios apresentarem desigualdades sociais, apresentam diversidade

    econmica e cultural. Por isso, para construir a equidade social preciso que o desenvolvimento

    seja potencializado pela diversidade econmica e cultural que os territrios apresentam e pela

    solidariedade entre todos os membros da sociedade. Para Verde (2004, p.5), a diversidade vem de

    encontro ao desenvolvimento, assim ressalta que o territrio, seja ele qual for, no uma

    entidade que paira independente sobre a sociedade, mas um espao em que as relaes sociais so

    conferidas historicamente.

    Assim como o homem complexo, o a sociedade. O cooperativismo, objeto desse

    estudo expresso de relaes sociais. Formas humanas de organizao que so registradas

    historicamente nos territrios e que nos permitem compreender as nossas lacunas e as nossas

    potencialidades. Ver o territrio em sua totalidade: desenvolvimento econmico, poltico e social

    de forma agregada e no separada e enxergar a diversidade cultural e de potencialidade econmica

    caminho para entendermos as mltiplas formas em que se pode chegar a um desenvolvimento

    solidrio. Nesse sentido, podemos dizer que todas as relaes sociais so reflexos e aspectos,

    assim como o cooperativo, da organizao global, contudo, no geral, so expresses da

    diversidade e, no local, das especificidades.

    1.2 O cooperativismo no mundo

  • 34

    O cooperativismo, como o prprio nome diz, indica cooperao. Movimento cooperativo

    indica, por sua vez, ao: ao de e para a cooperao. Ningum vive sozinho, bastando-se a si

    mesmo. Se assim o , o homem depende dos demais, parte da sociedade e, assim, sendo,

    pressupe a cooperao como forma natural de organizar a sociedade.

    Abrantes (2004) relata que desde a Antiguidade o povo vivia no coletivo, em comunidade,

    onde procuravam proteo uns nos outros. Por isso, desde muito tempo o homem, de alguma

    forma, faz uso do associativismo ou cooperativismo, com a finalidade de unir os povos e com o

    intuito de minimizar a pobreza. Mas, o cooperativismo como conhecemos hoje, surgiu na Europa

    e como reao ao liberalismo do capitalismo competitivo; como uma estratgia de sobrevivncia

    dos grupos explorados e excludos dos benefcios dos resultados das tcnicas e do capital. Surgiu

    como caminho de superao dos problemas provocados pelo capitalismo, principalmente em

    termos de diferenas econmicas, de desigualdade social.

    De acordo com Rios (2007), o cooperativismo surgiu ligado ao desenvolvimento

    capitalista industrial na Europa, no sculo XVIII e foi refletido pelo movimento operrio como

    reao s condies de explorao no trabalho. Nesse ambiente de explorao econmica,

    surgiram, escondidas, as primeiras associaes dos operrios que ali estavam passando por

    momentos difceis e que, atravs destas associaes, passaram a lutar por seus direitos.

    Segundo Tedesco (2005, p. 143), em vista dos problemas econmicos produzidos pelo

    capitalismo, hoje as empresas cooperativas tm uma funo de mercado, de viabilizao das

    unidades produtivas rurais, independente da quantidade de terra cultivada, pela maximizao do

    valor de seus produtos, posicionando-se nesse mercado com maior poder de barganha. Ou seja,

    os produtores, agricultores, passaram, com o desenvolvimento do capitalismo, a se associar com

    e em cooperativas, por considerarem que no possuem condies para competir isoladamente

    com grandes indstrias. Essa realidade passou a fazer parte do Mundo capitalista, inclusive da

    realidade brasileira.

    1.3 O cooperativismo no Brasil

    O cooperativismo, no Brasil, iniciou no espao rural. Abrantes (2004) trata de cinco fases

    da construo histrica do movimento cooperativista no Brasil. A primeira a fase introdutria e

    vai at 1907, quando surgiu a primeira lei do cooperativismo. A segunda fase transcorreu entre os

    anos de 1907 e de 1926, quando surgiram as primeiras leis, portarias, decretos e bancos

    populares, pois nesta poca existia o sindicalismo-cooperativismo. A terceira fase abrangeu o

    perodo de 1926-1964, quando foi desvinculado, atravs de leis especficas, o cooperativismo do

  • 35

    sindicalismo. A quarta fase transcorreu no perodo de 1964-1988, correspondente fase da

    ditadura militar, quando o cooperativismo foi controlado pelo governo.

    A quinta fase, atual, acontece a partir de 1988, com a promulgao da nova Constituio

    brasileira, a qual garante mais liberdade para as pessoas se associarem. Nela consta, os Direitos e

    Deveres Individuais e Coletivos. No art. 5, no pargrafo XVII, consta que: plena a liberdade

    de associao para fins lcitos, vedada o carter paramilitar. No pargrafo XVIII, consta que, a

    criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorizao, sendo

    vedada a interferncia estatal em seu funcionamento. (CONSTITUIO, 2012, p. 3).

    Segundo o autor Rios (2007), o cooperativismo no Brasil surgiu como uma salvao para

    os pequenos agricultores e se tornou expressivo desde 1970, ocasio em que os agricultores

    precisavam comercializar produtos. Produo pequena, mas de onde obtinham o sustento.

    O cooperativismo, dessa forma, uma organizao criada para responder s necessidades

    dos associados que colaboram para que a cooperativa cresa e tenha lucros e, do mesmo modo,

    reverta em benefcios para os associados. Assim, as organizaes cooperativas tm grande

    importncia para os associados. No caso das cooperativas agrcolas, tm grande importncia para

    os associados-agricultores e, tambm, para a comunidade em geral e para o Estado, uma vez que

    toda cooperativa que se fundamenta e se desenvolve atravs da prtica dos princpios do

    cooperativismo, traz, para todos, ganhos comuns.

    No Brasil, em 1932, o governo de Getlio Vargas, instituiu a primeira legislao

    cooperativa (Decreto 22.239), a qual visava o controle do Estado sobre as instituies e, para

    isso, trouxe para a cena palavra desenvolvimento. Segundo Goerck (2006, p. 21), no perodo, o

    governo tinha como objetivo, influir de forma marcante no cooperativismo, visando, no

    apenas, enquadrar as cooperativas nas metas nacionais de desenvolvimento, mas principalmente

    como alternativa de desenvolvimento.

    Passada a experincia do cooperativismo getulista, de acordo com Barcelos (2010), na


Recommended