Revoluo Francesa
Origem: Wikipdia, a enciclopdia livre.
Esta pgina ou seco cita fontes confiveis e independentes, mas
que no cobrem todo o contedo (desde janeiro de 2014). Por favor,
adicione mais referncias e insira-as corretamente no texto ou no
rodap. Material sem fontes poder ser removido.
Encontre fontes: Google (notcias, livros e acadmico)
Revoluo Francesa
Queda da Bastilha em 14 de julho de 1789.
Participantes Sociedade francesa
Localizao Frana
Data 17891799
Resultado Abolio e substituio da
monarquia, aristocracia e da
igreja por uma repblica
democrtica secular radical,
que, por sua vez, tornou-se
mais autoritria, militarista e
baseada na propriedade;
Mudana social radical
baseada no nacionalismo, na
democracia, em princpios
iluministas de cidadania e em
direitos inalienveis;
Ascenso de Napoleo
Bonaparte;
Conflitos armados com outros
pases europeus.
Revoluo Francesa (em francs: Rvolution Franaise, 1789-1799) foi um perodo de intensa
agitao poltica e social na Frana, que teve um impacto duradouro na histria do pas e, mais
amplamente, em todo o continente europeu. A monarquia absolutista que tinha governado a
nao durante sculos entrou em colapso em apenas trs anos. A sociedade francesa passou por
uma transformao pica, quando privilgios feudais, aristocrticos e religiosos evaporaram-se
sobre um ataque sustentado de grupos polticos radicais de esquerda, das massas nas ruas e de
camponeses na regio rural do pas.1 Antigos ideais da tradio e da hierarquia de monarcas,
aristocratas e da Igreja Catlica foram abruptamente derrubados pelos novos princpios de
Libert, galit, Fraternit (em portugus: liberdade, igualdade e fraternidade). As casas reais da
Europa ficaram aterrorizadas com a revoluo e iniciaram um movimento contrrio que at 1814
tinha restaurado a antiga monarquia, mas muitas reformas importantes tornaram-se permanentes.
O mesmo aconteceu com os antagonismos entre os partidrios e inimigos da revoluo, que
lutaram politicamente ao longo dos prximos dois sculos.
Em meio a uma crise fiscal, o povo francs estava cada vez mais irritado com a incompetncia
do rei Lus XVI e com a indiferena contnua e a decadncia da aristocracia do pas. Esse
ressentimento, aliado aos cada vez mais populares ideais iluministas, alimentaram sentimentos
radicais e a revoluo comeou em 1789, com a convocao dos Estados Gerais em maio. O
primeiro ano da revoluo foi marcado pela proclamao, por membros do Terceiro Estado, do
Juramento do Jogo da Pla em junho, pela Tomada da Bastilha em julho, pela aprovao da
Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado em agosto e por uma pica marcha sobre
Versalhes, que obrigou a corte real a voltar para Paris em outubro. Os anos seguintes foram
dominados por lutas entre vrias assembleias liberais e de direita feitas por apoiantes da
monarquia no sentido de travar grandes reformas no pas.
A Primeira Repblica Francesa foi proclamada em setembro de 1792 e o rei Lus XVI foi
executado no ano seguinte. As ameaas externas moldaram o curso da revoluo. As guerras
revolucionrias francesas comearam em 1792 e, finalmente, apresentaram espetaculares vitrias
que facilitaram a conquista da Pennsula Itlica, dos Pases Baixos e da maioria dos territrios a
oeste do Reno pela Frana, feitos que os governos franceses anteriores nunca conseguiram
realizar ao longo de sculos. Internamente, os sentimentos populares radicalizaram a revoluo
significativamente, culminando com a ascenso de Maximilien Robespierre, dos jacobinos e de
uma ditadura virtual imposta pelo Comit de Salvao Pblica, que estabeleceu o chamado
Reino de Terror entre 1793 e 1794, perodo no qual entre 16 mil e 40 mil pessoas foram mortas.2
Aps a queda dos jacobinos e a execuo de Robespierre, o Diretrio assumiu o controle do
Estado francs em 1795 e manteve o poder at 1799, quando foi substitudo pelo Consulado em
1799, sob o comando de Napoleo Bonaparte.
A era moderna tem se desdobrado na sombra dos ideais conquistados pela Revoluo Francesa.
O crescimento das repblicas e das democracias liberais ao redor do mundo, a difuso do
secularismo, o desenvolvimento das ideologias modernas e a inveno da guerra total3 tiveram o
seu nascimento durante a revoluo. Eventos subsequentes que podem ser rastreados com a
revoluo incluem as Guerras Napolenicas, duas restauraes separadas da monarquia (a
primeira em 1814 e a segunda, a Restaurao Bourbon, em 1815), e duas revolues adicionais
(1830 e 1848) ajudaram a moldar a Frana moderna.
ndice
1 Antecedentes
2 Causas
o 2.1 Sociais
o 2.2 Econmicas
o 2.3 Poltica
3 A Revoluo
4 A Assembleia Constituinte
o 4.1 A Elaborao de uma Constituio
5 A Constituio de 1791
6 A Assembleia Legislativa (1791-1792)
o 6.1 A Queda da Monarquia
7 A Conveno (1792-1795)
o 7.1 Repblica Jacobina
o 7.2 Reao Termidoriana
8 O Diretrio (1795-1799)
o 8.1 Napoleo Bonaparte no Poder
9 Datas e Fatos Essenciais
10 Reaes e comentrios no estrangeiro
o 10.1 Reino Unido
11 Raymond Aron
12 Referncias
13 Ver tambm
14 Ligaes externas
Antecedentes
Parte de uma srie sobre a
Histria da Frana
Pr-Histria[Expandir]
Antiguidade[Expandir]
Idade Mdia[Expandir]
Idade Moderna[Expandir]
Sculo XIX[Expandir]
Sculo XX[Expandir]
Portal Frana
v e
A Frana tomada pelo Antigo Regime era um grande edifcio construdo por cinquenta geraes,
por mais de quinhentos anos. As suas fundaes mais antigas e mais profundas eram obras da
Igreja, estabelecidas durante mil e trezentos anos.
A sociedade francesa do sculo XVIII mantinha a diviso em trs Ordens ou Estados tpica do
Antigo Regime Clero ou Primeiro Estado, Nobreza ou Segundo Estado, e Povo ou Terceiro Estado
4 cada qual regendo-se por leis prprias (privilgios), com um Rei absoluto (ou seja, um
Rei que detinha um poder supremo independente) no topo da hierarquia dos Estados. O Rei fora
antes de tudo o obreiro da unidade nacional atravs do seu poder independente das Ordens,
significando que era ele quem tinha a ltima palavra sobre a justia, a economia, a diplomacia, a
paz e a guerra, e quem se lhe opusesse teria como destino a priso da Bastilha. A Frana sofrera
uma evoluo assinalvel nos ltimos anos: no havia censura, a tortura fora proibida em 1788,5
e a representao do Terceiro Estado nos Estados Gerais acabava de ser duplicada para contrariar
a Nobreza e o Clero que no queriam uma reforma dos impostos. Em 14 de julho de 1789,
quando a Bastilha foi tomada pelos revolucionrios, albergava oito prisioneiros.
Com a exceo da nobreza rural, a riqueza das restantes classes sociais na Frana tinha crescido
imensamente nas ltimas dcadas. O crescimento da indstria era notvel. No Norte e no Centro,
havia uma metalurgia moderna (Le Cresot data de 1781); em Lyon havia sedas; em Rouen e em
Mulhouse havia algodo; na Lorraine havia o ferro e o sal; havia lanifcios em Castres, Sedan,
Abbeville e Elbeuf; em Marselha havia sabo; em Paris havia mobilirio, tanoaria e as indstrias
de luxo, etc..
Existia uma Bolsa de Valores, vrios bancos, e uma Caixa de Desconto com um capital de cem
milhes que emitia notas. Segundo Jacques Necker, a Frana detinha, antes da Revoluo,
metade do numerrio existente na Europa. Nobres e burgueses misturavam muitos capitais em
investimentos. Antes da Revoluo, o maior problema da indstria francesa era a falta de mo de
obra. Desde a morte do rei Lus XIV, o comrcio com o exterior tinha mais do que
quadruplicado. Em 1788, eram 1,061 milhes de livres, um valor que s se voltar a verificar
depois de 1848. Os grandes portos, como Marselha, Bordus, Nantes, floresciam como grandes
centros cosmopolitas. O comrcio interior seguia uma ascenso paralela.
Sabendo-se que existia uma burguesia to enriquecida, muitos historiadores colocaram a hiptese
de haver uma massa enorme de camponeses famintos. Na Frana, o imposto rural por excelncia
era a "taille", um imposto recolhido com base nos sinais exteriores de riqueza, por colectores
escolhidos pelos prprios camponeses. A servido dos campos, que ainda se mantinha em quase
todos os pases da Europa, persistia apenas em zonas recnditas da Frana, e sob forma muito
mitigada, no Jura e no Bourbonnais. Em 1779, o Rei tinha apagado os ltimos traos de servido
nos seus domnios, tendo sido imitado por muitos senhores.
Ao longo da Histria, a misria tem provocado muitos motins, mas em regra no provoca
revolues. A situao da Frana, antes da Revoluo, era a de um Estado pobre num pas rico.6
Causas
Ver artigo principal: Causas da Revoluo Francesa
Os sans-culottes eram artesos, trabalhadores e at pequenos proprietrios que viviam nos
arredores de Paris. Recebiam esse nome porque no usavam os elegantes cales que a nobreza
vestia, mas uma cala de algodo grosseira.
As causas da revoluo francesa so remotas e imediatas. Entre as do primeiro grupo, h de
considerar que a Frana passava por um perodo de crise financeira. A participao francesa na
Guerra da Independncia dos Estados Unidos da Amrica, a participao (e derrota) na Guerra
dos Sete Anos, os elevados custos da Corte de Lus XVI, tinham deixado as finanas do pas em
mau estado.
Os votos eram atribudos por ordem (1- clero, 2- nobreza, 3- Terceiro Estado) e no por cabea.
Havia grandes injustias entre as antigas ordens e ficava sempre o Terceiro Estado prejudicado
com a aprovao das leis.
Os chamados Privilegiados estavam isentos de impostos, e apenas uma ordem sustentava o pas,
deixando obviamente a balana comercial negativa ante os elevados custos das sucessivas
guerras, altos encargos pblicos e os suprfluos gastos da corte do rei Lus XVI.
O rei Lus XVI acaba por convidar o Conde Turgot para gerir os destinos do pas como ministro
e implementar profundas reformas sociais e econmicas.
Sociais
O Terceiro-Estado carregando o Primeiro e o Segundo Estados nas costas.
A sociedade francesa da segunda metade do sculo XVIII possua dois grupos muito
privilegiados:
o Clero ou Primeiro Estado, composto pelo Alto Clero, que representava 0,5% da
populao francesa, era identificado com a nobreza e negava reformas, e pelo Baixo
Clero, identificado com o povo, e que as reclamava;
a Nobreza, ou Segundo Estado, composta por uma camada palaciana ou cortes, que
sobrevivia custa do Estado, por uma camada provincial, que se mantinha com as rendas
dos feudos, e uma camada chamada Nobreza Togada, em que alguns juzes e altos
funcionrios burgueses adquiriram os seus ttulos e cargos, transmissveis aos herdeiros.
Aproximava-se de 1,5% dos habitantes.
Esses dois grupos (ou Estados) oprimiam e exploravam o Terceiro Estado, constitudo por
burgueses, camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada heterognea composta por
artesos, aprendizes e proletrios, que tinham este nome graas s calas simples que usavam,
diferentes dos tecidos caros utilizados pelos nobres. Os impostos e contribuies para o Estado, o
clero e a nobreza incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que os dois ltimos no s tinham
iseno tributria como ainda usufruam do tesouro real por meio de penses e cargos pblicos.
A Frana ainda tinha grandes caractersticas feudais: 80% de sua economia era agrcola. Quando
uma grande escassez de alimentos ocorreu devido a uma onda de frio na regio, a populao foi
obrigada a mudar-se para as cidades e l, nas fbricas, era constantemente explorada e a cada ano
tornava-se mais miservel. Vivia base de po preto e em casas de pssimas condies, sem
saneamento bsico e vulnerveis a muitas doenas.
A reavaliao das bases jurdicas do Antigo Regime foi montada luz do pensamento Iluminista,
representado por Voltaire, Diderot, Montesquieu, John Locke, Immanuel Kant etc. Eles
forneceram pensamentos para criticar as estruturas polticas e sociais absolutistas e sugeriram a
ideia de uma maneira de conduzir liberal burguesa. A situao social era to grave e o nvel de
insatisfao popular to grande que o povo foi s ruas com o objetivo de tomar o poder e
arrancar do governo a monarquia comandada pelo rei Lus XVI. O primeiro alvo dos
revolucionrios foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14 de Julho de 1789 marca o incio do
processo revolucionrio, pois a priso poltica era o smbolo da monarquia francesa.
Econmicas
A causa mais forte de Revoluo foi a econmica, j que as causas sociais, como de costume,
no conseguem ser ouvidas por si ss. Os historiadores sugerem o ano de 1789 como o incio da
Revoluo Francesa. Mas esta, por uma das "ironias" da histria, comeou dois anos antes, com
uma reao dos notveis franceses - clrigos e nobres - contra o absolutismo, tendo sido
inspirada em ideias iluministas, e se pretendia reformar e para isso buscava limitar seus
privilgios. Lus XVI convocou a nobreza e o clero para contriburem no pagamento de
impostos, na altamente aristocrtica Assembleia dos Notveis (1787).
No meio do caos econmico e do descontentamento geral, Lus XVI da Frana no conseguiu
promover reformas tributrias, impedido pela nobreza e pelo clero, que no "queriam dar os
anis para salvar os dedos". No percebendo que seus privilgios dependiam do Absolutismo, os
notveis pediram ajuda burguesia para lutar contra o poder real - era a Revolta da Aristocracia
ou dos Notveis (1787-1789). Eles iniciaram a revolta ao exigir a convocao dos Estados Gerais
para votar o projeto de reformas.
Jacques Necker.
Por sugesto do Ministro dos assuntos econmicos poca, Jacques Necker, o rei Lus XVI
convocou a Assembleia dos Estados Gerais, instituio que no era reunida desde 1614. Os
Estados Gerais reuniram-se em maio de 1789 no Palcio de Versalhes, com o objetivo de
acalmar uma revoluo de que j falava a burguesia.
As causas econmicas tambm eram estruturais. As riquezas eram mal distribudas; a crise
produtiva manufatureira estava ligada ao sistema corporativo, que fixava quantidade e condies
de produtividade. Isso descontentou a burguesia.
Outro fator econmico foi a crise agrcola, que ocorreu graas ao aumento populacional. Entre
1715 e 1789, a populao francesa cresceu consideravelmente, entre 8 e 9 milhes de habitantes.
Como a quantidade de alimentos produzida era insuficiente e as geadas abatiam a produo
alimentcia, o fantasma da fome pairou sobre os franceses.
Poltica
Em fevereiro de 1787, o ministro das finanas, Lomnie de Brienne, submeteu a uma
Assembleia de Notveis, escolhidos de entre a nobreza, clero, burguesia e burocracia, um projeto
que inclua o lanamento de um novo imposto sobre a propriedade da nobreza e do clero. Esta
Assembleia no aprovou o novo imposto, pedindo que o rei Lus XVI convocasse os Estados-
Gerais.
Em 8 de agosto, o rei concordou, convocando os Estados Gerais para maio de 1789. Fazendo
parte dos trabalhos preparatrios da reunio dos Estados Gerais, comearam a ser escritos os
tradicionais cahiers de dolances, onde se registraram as queixas das trs ordens.
O Parlamento de Paris proclama ento que os Estados Gerais se deveriam reunir de acordo com
as regras observadas na sua ltima reunio, em 1614. Aproveitando a lembrana, o Clube dos
Trinta comea imediatamente a lanar panfletos defendendo o voto individual inorgnico - "um
homem, um voto" - e a duplicao dos representantes do Terceiro Estado. Vrias reunies de
Assembleias provinciais, como em Grenoble, j o haviam feito. Jacques Necker, de novo
ministro das finanas, manifesta a sua concordncia com a duplicao dos representantes do
Terceiro Estado, deixando para as reunies dos Estados a deciso quanto ao modo de votao orgnico (pelas ordens) ou inorgnico (por cabea). Sero eleitos 291 deputados para a reunio
do Primeiro Estado (Clero), 270 para a do Segundo Estado (Nobreza), e 578 deputados para a
reunio do Terceiro Estado (burguesia e pequenos proprietrios).
Entretanto, multiplicam-se os panfletos, surgindo nobres como o conde d'Antraigues, e clrigos
como o bispo Sieys, a defender que o Terceiro estado era todo o Estado. Escrevia o bispo
Sieys, em janeiro de 1779: O que o terceiro estado? Tudo. O que que tem sido at agora na ordem poltica? Nada. O que que pede? Tornar-se alguma coisa.
A reunio dos Estados Gerais, como previsto, vai iniciar-se em Versalhes no dia 5 de maio de
1789.
A Revoluo
A Revoluo Francesa pode ser subdividida em quatro perodos: a Assembleia Constituinte, a
Assembleia Legislativa, a Conveno e o Diretrio.
A Queda da Bastilha, smbolo mais radical e abrangente das revolues burguesas.
O perodo da Assembleia Constituinte decorre de 9 de julho de 1789 a 30 de setembro de 1791.
As primeiras aes dos revolucionrios deram-se quando, em 17 de junho, a reunio do Terceiro
Estado se proclamou "Assembleia Nacional" e, pouco depois, "Assembleia Nacional
Constituinte". Em 12 de julho, comeam os motins em Paris, culminando em 14 de julho com a
tomada da priso da Bastilha, smbolo do poder real e depsito de armas. Sob proposta de dois
aristocratas, o visconde de Noailles e do duque de Aiguillon, a Assembleia suprime todos os
privilgios das comunidades e das pessoas, as imunidades provinciais e municipais, as
banalidades, e os direitos feudais. Pouco depois, aprovava-se a solene "Declarao dos direitos
do Homem e do Cidado", contudo a Declarao dos Direitos da Mulher e da Cidad, no foi
aprovada pela mesma Assembleia e a idealizadora, Olympe de Gouges, foi executada. O lema
dos revolucionrios era "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", mas logo em 14 de junho de
1791, se aprovou a Lei de Le Chapelier que proibia os sindicatos de trabalhadores e as greves,
com penas que podiam ir at pena de morte. Em 19 de abril de 1791, o Estado nacionaliza e
passa a administrar todos os bens da Igreja Catlica, sendo aprovada em julho a Constituio
Civil do Clero, por intermdio da qual os padres catlicos passam a ser funcionrios pblicos.
O perodo da Assembleia Legislativa decorre de 8 de outubro de 1791, quando se d a primeira
reunio da Assembleia Legislativa, at aos massacres de 2 a 7 de setembro do ano seguinte.
Sucedem-se os motins de Paris provocados pela fome; a Frana declara guerra ustria; d-se o
ataque ao Palcio das Tulherias; a famlia real presa, e comeam as revoltas monrquicas na
Bretanha, Vendeia e Delfinado.
Entra o perodo da Conveno Nacional, de 20 de setembro de 1792 at 26 de outubro de 1795.
A Conveno vem a ficar dominada pelos jacobinos (partido da pequena e mdia burguesia,
liderado por Robespierre), criando-se o Comit de Salvao Pblica e o Comit de Segurana
Geral iniciando-se o reino do Terror. A monarquia abolida e muitos nobres abandonam o pas,
vindo a famlia de Lus XVI a ser guilhotinada em 1793.
Vai seguir-se o perodo do Diretrio at 1799, tambm conhecido como o perodo da "Reao
Termidoriana". Um golpe de Estado armado desencadeado pela alta burguesia financeira marca o
fim de qualquer participao popular no movimento revolucionrio. Foi um perodo autoritrio
assente no exrcito (ento restabelecido aps vitrias realizadas em campanhas externas).
Elaborou-se uma nova Constituio, com o propsito de manter a alta burguesia (girondinos)
livre de duas grandes ameaas: o jacobinismo e o ancien rgime.
O golpe do 18 de Brumrio em 9 de novembro de 1799 pe fim ao Diretrio, iniciando-se a Era
Napolenica sob a forma do Consulado, a que se segue a Ditadura e o Imprio.
A Revoluo Francesa semeou uma nova ideologia na Europa, conduziu a guerras, acabando por
ser derrotada pela instalao do Imprio e, depois da derrota de Napoleo Bonaparte, pelo
retorno a uma Monarquia na qual o rei Lus XVIII vai outorgar uma Carta Constitucional.
A Assembleia Constituinte
Sesso inaugural dos Estados Gerais, em Versalhes (1789).
Os deputados dos trs estados eram unnimes em um ponto: desejavam limitar o poder real,
semelhana do que se passava na vizinha Inglaterra e que igualmente tinha sido assegurado pelos
norte-americanos nas suas constituies. No dia 5 de maio, o rei mandou abrir a sesso inaugural
dos Estados Gerais e, em seu discurso, advertiu que no se deveria tratar de poltica, isto , da
limitao do poder real, mas apenas da reorganizao financeira do reino e do sistema tributrio.
O clero e a nobreza tentaram diversas manobras para conter o mpeto reformista do Terceiro
Estado, cujos representantes comparecem Assembleia presentando as reclamaes do povo
(materializadas nos "Cahiers de Dolances"). Os deputados da nobreza e do clero queriam que as
eleies fossem por estado (clero, um voto; nobreza, um voto; povo, um voto), pois assim, j que
clero e a nobreza comungavam os mesmos interesses, garantiriam seus privilgios.
O terceiro estado queria que a votao fosse individual, por deputado, porque, contando com
votos do baixo clero e da nobreza liberal, conseguiria reformar o sistema tributrio do reino.
Ante a impossibilidade de conciliar tais interesses, Lus XVI tentou dissolver os Estados Gerais,
impedindo a entrada dos deputados na sala das sesses. Os representantes do Terceiro Estado
rebelaram-se e invadiram a sala do jogo da Pela (espcie de tnis em quadra coberta), em 15 de
junho de 1789, e transformaram-se na Assembleia Nacional, jurando s se separar aps a votao
de uma constituio para a Frana (Juramento da Sala do Jogo da Pela). Em 9 de julho de 1789,
juntamente com muitos deputados do baixo clero, os Estados Gerais autoproclamaram-se
Assembleia Nacional Constituinte.
O Juramento da Pela.
Essa deciso levou o rei a tomar medidas mais drsticas, entre as quais a demisso do ministro
Jacques Necker, conhecido por suas posies reformistas. Em razo disso, a populao de Paris
se mobilizou e tomou as ruas da cidade. Os nimos mais exaltados conclamavam todos a tomar
as armas.
O rei decidiu reagir fechando a Assembleia, mas foi impedido por uma sublevao popular em
Paris, reproduzida a seguir em outras cidades e no campo.
O Conde de Artois (futuro Carlos X) e outros dirigentes reacionrios, defrontados a tais ameaas,
fugiram do pas, transformando-se no grupo dos migrs. A burguesia parisiense, temendo que a
populao da cidade aproveitasse a queda do antigo sistema de governo para recorrer ao
direta, apressou-se a estabelecer um governo provisrio local, a Comuna. Este governo popular,
em 13 de julho, organizou a Guarda Nacional, uma milcia burguesa para resistir tanto a um
possvel retorno do rei, quanto a uma eventual mais violenta da populao civil, cujo comando
coube ao deputado da Assembleia e heri da independncia dos Estados Unidos, Marie Joseph
Motier, o Marqus de La Fayette.
A bandeira dos Bourbons foi substituda por uma de cor Vermelha preta e branca que passou a
ser a bandeira nacional. E, em toda a Frana, foram constitudas unidades da milcia e governos
provisrios.
A Tomada da Bastilha, de Jean-Pierre Louis Laurent Houel.
Enquanto isso, os acontecimentos precipitaram-se e a agitao tomou conta das ruas: em 13 de
julho constituram-se as Milcias de Paris, organizaes militares-populares. No dia 14 de julho,
populares armados invadiram o Arsenal dos Invlidos, procura de munies e, em seguida,
invadiram a Bastilha, uma fortaleza que fora transformada em priso poltica, mas que j no era
a terrvel priso de outros tempos. Dentro da priso, estavam apenas sete condenados: quatro por
roubo, dois nobres por comportamento imoral, e um por assassinato. A inteno inicial dos
rebeldes ao tomar a Bastilha era se apoderar da plvora l armazenada. Caiu assim um dos
smbolos do Absolutismo. A Queda da Bastilha causou profunda emoo nas provncias e
acelerou a queda dos intendentes. Organizaram-se novas municipalidades e guardas nacionais.
A partir de ento, a revoluo estendeu-se ao campo, com maior violncia: os camponeses
saquearam as propriedades feudais, invadiram e queimaram os castelos e cartrios, para destruir
os ttulos de propriedade das terras (fase do Grande Medo). Temendo o radicalismo, na noite de
4 de agosto, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou a abolio dos direitos feudais,
gradualmente e mediante amortizao, alm de as terras da Igreja haverem sido confiscadas. Da
por diante, a igualdade jurdica seria a regra.
A Elaborao de uma Constituio
Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado.
A Assembleia Nacional Constituinte aprovou a legislao, pela qual era abolido o regime feudal
e senhorial e suprimido o dzimo. Outras leis proibiram a venda de cargos pblicos e a iseno
tributria das camadas privilegiadas. E, para dar continuidade ao trabalho, decidiu pela
elaborao de uma Constituio. Na introduo, que seria denominada Declarao dos Direitos
do Homem e do Cidado (Dclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen), os delegados
formularam os ideais da Revoluo, sintetizados em trs princpios: "Liberdade, Igualdade,
Fraternidade" (Libert, Egalit, Fraternit). Inspirada na Declarao de Independncia dos
Estados Unidos e divulgada em 26 de agosto, a primeira Declarao dos Direitos do Homem e
do Cidado (a que no ter sido estranha a ao do ento embaixador dos EUA em Paris,
Thomas Jefferson) foi sntese do pensamento iluminista liberal e burgus. Nesse documento, em
que se pode ver claramente a influncia da Revoluo Americana, defendia-se o direito de todos
liberdade, propriedade, igualdade - igualdade jurdica, e no social nem econmica - e de
resistncia opresso. A desigualdade social e de riqueza continuavam existindo.
O nascimento, a tradio e o sangue j no podiam continuar a ser os nicos critrios utilizados
para distinguir socialmente os homens. Na prtica, tais critrios foram substitudos pelo dinheiro
e pela propriedade, que, a partir da, passam a garantir a seus detentores prestgio social.
Palcio das Tulherias.
Pressionado pela opinio pblica, Lus XVI deixou Versalhes, estabelecendo-se no Palcio das
Tulherias, em Paris (outubro de 1789). Ali, o monarca era mais acessvel s massas parisienses.
Fervilhavam os clubes: a imprensa tinha papel cada vez maior nos acontecimentos polticos.
Jean-Paul Marat e Hbert escreviam artigos incendirios.
A nobreza conservadora e o alto clero abandonaram a Frana, refugiando-se nos pases ainda
absolutistas, de onde conspiravam contra a revoluo. Numa reao contra os privilgios do
clero e buscando recursos para sanar o dficit pblico, o governo desapropriou os bens da Igreja,
colocou-os venda e, com o produto, emitiu bnus do tesouro, os assignats, que valeram como
papel-moeda, logo depreciado. As propriedades da Igreja passaram majoritariamente s mos da
burguesia, restando aos camponeses as propriedades menores, que puderam ser adquiridas
mediante facilitaes.
O retorno de Lus XVI a Paris aps sua desastrada fuga.
Em agosto de 1790, foi votada a Constituio Civil do Clero, separando Igreja e Estado e
transformando os clrigos em assalariados do governo, a quem deviam obedincia. Determinava
tambm que os bispos e padres de parquia seriam eleitos por todos os eleitores,
independentemente de filiao religiosa. O papa ops-se a isso. Os clrigos deveriam jurar a
nova Constituio. Os que o fizeram ficaram conhecidos como juramentados; os que se
recusaram passaram a ser chamados de refratrios e engrossaram o campo da contra-revoluo.
Procurando frear o movimento popular, a Assembleia Nacional Constituinte, pela Lei de Le
Chapelier, proibiu associaes e coalizes profissionais (sindicatos), sob pena de morte.
No palcio real, conspirava-se abertamente. O rei, a rainha, seus conselheiros, os embaixadores
da ustria e da Prssia eram os principais nomes de tal conspirao. A ustria e a Prssia, pases
absolutistas, invadiram a Frana, que foi derrotada porque oficiais ligados nobreza permitiram
o malogro do exrcito francs. Denunciou-se a traio na Assembleia. Em junho de 1791 a
famlia real tentou fugir para a ustria. O rei foi descoberto na fronteira, em Varennes, e
obrigado a voltar. A Assembleia Nacional, contudo, acabou por absolver Lus XVI, mantendo a
monarquia. Para justificar essa deciso, alegou que o rei, ao invs de fugir, fora sequestrado. A
Guarda Nacional, comandada por La Fayette, reprimiu violentamente a multido que queria a
deposio do rei.
A Constituio de 1791
Ver artigo principal: Constituio francesa de 1791
Proclamao da Constituio francesa de 1791.
Em setembro de 1791, foi promulgada a primeira Constituio da Frana que resumia as
realizaes da Revoluo.
Foi implantada uma monarquia constitucional, isto , o rei perdeu seus poderes absolutos e criou-
se uma efetiva separao entre os poderes Legislativo, Executivo e Judicirio. Alm disso, foram
concedidos direitos civis completos aos cidados.
A populao foi dividida em cidados ativos e passivos. Somente os cidados ativos, que
pagavam impostos e possuam dinheiro ou propriedades, participavam da vida poltica. Era o
voto censitrio. Os passivos eram os no-votantes, como mulheres, trabalhadores desempregados
e outros.
Apesar de ter limitado os poderes do rei, este tinha ainda o direito de designar seus ministros.
De mais, a constituio aboliu o feudalismo, nacionalizava os bens eclesisticos e reconhecia a
igualdade civil e jurdica entre os cidados.
Em sntese, a Constituio de 1791 estabeleceu na Frana as linhas gerais para o surgimento de
uma sociedade burguesa e capitalista em lugar da anterior, feudal e aristocrtica.
Apesar disso, este projeto no teve muita sustentao. Alguns setores urbanos queriam continuar
com o processo revolucionrio, enquanto nobres fugiam e se refugiavam no exterior, planejando
distncia organizar violentamente uma vingana armada. Os emigrados tinham apoio de
Estados Absolutistas como ustria e Prssia, que viam o resultado do movimento revolucionrio
francs como perigoso para os seus domnios.
Em agosto de 1791, aps a tentativa frustrada de fuga da famlia real para a ustria, os pases
que at ento apoiavam a Frana lanaram a Declarao de Pillnitz, que afirmava (e apoiava) a
restaurao da monarquia francesa como um projeto de interesse comum a todos os Estados
europeus. A populao francesa ficou enfurecida, pois enxergava esta ao como uma
intromisso direta aos assuntos do pas.
A Assembleia Legislativa (1791-1792)
Moeda francesa de 1791. No anverso aparece o rei Lus XVI com o epgrafe: Lus XVI rei dos
franceses. No reverso aparecem o fascio e o barrete frgio, ambos smbolos prprios da
Assembleia Nacional Constitunte, finalmente associados completamente com a Repblica
francesa.
Em 1791, iniciou-se a fase denominada Monarquia Constitucional. Nas eleies de outubro de
1791, as cadeiras da Assembleia Legislativa foram ocupadas predominantemente por elementos
da burguesia. A Assembleia Legislativa, que iniciou suas sesses em 1 de outubro, era formada
por 750 membros, sem experincia poltica.
Embora a burguesia tivesse de enfrentar, dentro da Assembleia, a oposio da aristocracia, cujos
deputados ocupavam o lado direito de quem entrava no recinto de reunies, e tambm dos
democratas, que ocupavam o lado esquerdo, as maiores dificuldades estavam fora da
Assembleia.
extrema direita, o rei e a aristocracia se recusavam a aceitar qualquer compromisso. extrema
esquerda, a pequena e mdia burguesia sentiam-se lesadas e enganadas.
Os camponeses, desesperados, porque tinham de pagar pela extino dos direitos feudais,
retomaram a violncia.
O confisco dos bens da Igreja e a Constituio do Clero, que faziam com que os religiosos
rompessem com o papado, levaram a maior parte do clero para o campo da Contra-Revoluo.
Apesar de todas as dificuldades, a alta burguesia se mantinha no poder.
A Queda da Monarquia
Os emigrados buscavam apoio externo para restaurar o Estado absoluto. As vizinhas potncias
absolutistas apoiavam esses movimentos, pois temiam a irradiao das ideias revolucionrias
francesas para seus pases. Os emigrados e as monarquias absolutistas formaram uma aliana
destinada a restaurar, na Frana, os poderes absolutos de Lus XVI. Alegando a necessidade de
se restaurar a dignidade real da Frana, na Declarao de Pillnitz (1791) esses pases
ameaaram a Frana de uma interveno.
Em 1792, a Assembleia Legislativa aprovou uma declarao de guerra contra a ustria.
interessante salientar que a burguesia e a aristocracia queriam a guerra por motivos diferentes.
Enquanto para a burguesia a guerra seria breve e vitoriosa, para o rei e a aristocracia seria a
esperana de retorno ao velho regime. Palavras de Lus XVI: "Em lugar de uma guerra civil,
esta ser uma guerra poltica" e da rainha Maria Antonieta: "Os imbecis [referia-se a burguesia]!
No veem que nos servem". Portanto, o rei e a aristocracia no vacilaram em trair a Frana
revolucionria.
Diante da aproximao dos exrcitos coligados estrangeiros, formaram-se por toda a Frana
batalhes de voluntrios.
Lus XVI e Maria Antonieta foram presos, acusados de traio ao pas por colaborarem com os
invasores.
A Batalha de Valmy.
Verdun, ltima defesa de Paris, foi sitiada pelos prussianos. O povo, chamado a defender a
revoluo, saiu s ruas e massacrou muitos partidrios do Antigo Regime. Sob o comando de
Danton, Robespierre e Marat, foram distribudas armas ao povo e foi organizada a Comuna
Insurrecional de Paris. As palavras de Danton ressoaram de forma marcante nos coraes dos
revolucionrios. Disse ele: "Para vencer os inimigos, necessitamos de audcia, cada vez mais
audcia, e ento a Frana estar salva".
O povo, entre o pnico e o rancor, responsabiliza os inimigos internos pela situao. Entre 2 e 6
de setembro de 1792, so massacrados os padres refratrios, os suspeitos de atividades contra-
revolucionrias e os presos de delito comum das prises de Paris. A matana dura vrios dias
sem que as autoridades administrativas ousem intervir. Os chamados massacres de Setembro, que chocam a opinio pblica, marcam uma pgina importante da Revoluo.
Em 20 de setembro aconteceu aquilo que parecia impossvel: as tropas revolucionrias, famintas,
mal vestidas, mas alimentadas por seus ideais, derrotaram, ao som da Marselhesa (o hino da
revoluo), a coligao anti-francesa na Batalha de Valmy.
A Conveno (1792-1795)
Ver artigo principal: Conveno (Revoluo Francesa)
Georges Jacques Danton.
Aps o trmino das deliberaes da Assembleia Constituinte em 1791, a burguesia passou a uma
posio conservadora, por entender que as principais mudanas j haviam sido implementadas na
sociedade francesa. A situao do povo mais pobre, porm, pouco tinha mudado. Os camponeses
continuavam sem terra e nas cidades a situao tornava-se cada vez mais desesperadora.
Em agosto de 1792, uma intensa mobilizao popular destronou o rei, e depois de elaborar a
Carta Magna francesa, a Assembleia Nacional Constituinte dissolveu-se. A Assembleia
Legislativa substituiu a Constituinte. Ameaa de interveno externa, crise econmica e inflao.
abril de 1792: Declarao de guerra ustria e Prssia; exrcitos inimigos chegam a ameaar a
cidade de Paris; ala radical proclama a ptria em perigo e distribui armas populao parisiense.Comuna de Paris assume o poder e exige da Assembleia o afastamento do rei. 10 de
agosto de 1792: Parisienses atacam o palcio real, detm o soberano e exigem que o Legislativo
suspenda-o de suas funes.Esvaziada de seu poder, a Assembleia convoca a eleio de uma
Conveno Nacional. A revoluo entrou numa fase radical. As primeiras medidas tomadas pela
Conveno foram a Proclamao da Repblica e a promulgao de uma nova Constituio (21
de setembro de 1792). Eleita sem a diviso dos eleitores em passivos e ativos, a alta burguesia
monarquista foi derrotada. A Conveno contava com o predomnio dos representantes da
burguesia.
Maximilien de Robespierre.
Entre os revolucionrios de 1789, houve diviso. A grande burguesia no queria aprofundar a
revoluo, temendo o radicalismo popular. Aliada aos setores da nobreza liberal e do baixo clero,
formou o Clube dos Girondinos. O nome "girondino" (do francs girondin) deve-se ao fato de
Brissot, principal lder dessa fao, representar o departamento da Gironda e de seus principais
lderes serem provenientes de l. Eles ocupavam os bancos inferiores no salo das sesses. Os
jacobinos (do francs jacobin) assim chamados porque se reuniam no convento de Saint Jacques queriam aprofundar a revoluo, aumentando os direitos do povo; eram liderados pela pequena burguesia e apoiados pelos sans-culottes, as massas populares de Paris. Ocupavam
os assentos superiores no salo das sesses, recebendo o nome de montanha. Seus principais
lderes foram Danton, Marat e Robespierre. Sua fao mais radical era representada pelos
raivosos, liderados por Jacques Hbert, que queriam o povo no poder. Havia ainda um grupo de
deputados sem opinies muito firmes, que votavam na proposta que tinha mais chances de
vencer. Eram chamados de plancie ou pntano. Havia ainda os cordeliers (camadas mais
baixas) e os feuillants (a burguesia financeira).
Jean Paul Marat.
As modernas designaes polticas de direita, centro e esquerda surgem neste momento: com
relao mesa da presidncia identificavam-se direita os girondinos, que desejavam consolidar
as conquistas burguesas, estancar a revoluo e evitar a radicalizao; ao centro, a Plancie ou
Pntano, grupo de burgueses sem posio poltica definida; e esquerda, a Montanha, composta
pela pequena burguesia jacobina que liderava os sans-culottes, e que defendia o aprofundamento
da revoluo.
Dirigida inicialmente pelos girondinos, a conveno realizava uma poltica contraditria: era
revolucionria na poltica externa ao combater os pases absolutistas mas conservadora na interna ao procurar se acomodar com a nobreza, tentar salvar a vida do rei e combater os revolucionrios mais radicais. Nesse primeiro perodo, foram descobertos documentos secretos
de Lus XVI, no Palcio das Tulherias, que provaram o seu comprometimento com o rei da
ustria. O fato acelerou as presses para que o rei fosse julgado como traidor. Na Conveno, a
Gironda dividiu-se: alguns optaram por um indulto, outros pela pena de morte. Os jacobinos,
reforados pelas manifestaes populares, exigiam a execuo do rei, indicando o fim da
supremacia girondina na Revoluo.
Repblica Jacobina
A grande guilhotina desce sobre a cabea de Lus XVI, que exibida ao povo, como se
costumava fazer com todos os executados.
Os jacobinos, com apoio dos sans-culottes e da Comuna de Paris (designao que foi dada ao
novo governo local da cidade), assumiram o poder no momento crtico da Revoluo.
A Conveno reconheceu a existncia do Ser Supremo e da imortalidade da alma. A virtude
seria o elemento essencial da Repblica.
Em 21 de janeiro de 1793, Lus XVI foi executado na guilhotina na praa da Revoluo. Vrios
pases europeus, como a ustria, Prssia, Holanda, Espanha e Inglaterra, indignados e temendo
que o exemplo francs se refletisse em seus territrios, formaram a Primeira Coligao contra a
Frana. Encabeando a Coligao, a Inglaterra financiava os grandes exrcitos continentais para
conter a ascenso burguesa da Frana, seu potencial concorrente nos negcios europeus.
Louis Antoine Lon de Saint-Just.
No departamento de Vendeia, no oeste da Frana, camponeses contra-revolucionrios, instigados
pela Igreja, pela nobreza e pelos ingleses, tomaram o poder. Os girondinos tentaram frear a
proposta de mobilizao geral do povo francs, temendo a perda do poder e a radicalizao da
revoluo, que ameaaria suas propriedades e bens. Em resposta, em 2 de Junho de 1793, a
populao de Paris, agitada pelos partidrios de Hbert, cercou o prdio da conveno, pedindo a
priso dos deputados girondinos. Os membros da Gironda foram expulsos da conveno
deixando uma triste herana: inflao, carestia e avano da contra-revoluo, tudo isso agravado
pela guerra no plano externo. Marat, Hbert, Danton, Saint-Just e Robespierre assumiram o
poder, dando incio ao perodo da Conveno Montanhesa.
A contra-revoluo camponesa da Vendeia e a ameaa externa colocavam a revoluo beira do
abismo. Para combater essa situao, os jacobinos organizaram os comits, cujos objetivos eram
controlar o governo, combater os contra-revolucionrios e mobilizar a Frana para uma guerra
total em defesa da revoluo.
A Morte de Marat (1793), tela do pintor francs Jacques-Louis David (Museus Reais de Belas-
Artes, Bruxelas).
Devido ao predomnio da atuao popular, esse perodo caracterizou-se por ser o mais radical de
toda a Revoluo. O governo jacobino dirigia o pas por meio do Comit de Salvao Pblica,
responsvel pela administrao e defesa externa do pas, de incio comandado por Danton, seu
criador. Abaixo, vinha o Comit de Segurana Geral, que cuidava da segurana interna, e a
seguir o Tribunal Revolucionrio, que julgava os opositores da revoluo em julgamentos
sumrios.
Decretada a mobilizao geral, criou-se uma economia de guerra, com o racionamento das
mercadorias e o combate aos especuladores, que, aproveitando-se da situao, escondiam os
produtos para aumentar os preos.
Os jornais populares utilizavam-se de linguagem grosseira para caracterizar os aristocratas e
inimigos da revoluo. Ao mesmo tempo em que pediam que fossem punidos, pregavam as
virtudes revolucionrias, o patriotismo e a defesa intransigente da revoluo. O mais importante
desses jornais era O amigo do povo (L'Ami du Peuple), dirigido pelo jacobino Marat.
Interior de um comit revolucionrio durante o terror.
Quando, em julho, Marat foi assassinado pela jovem Charlotte Corday, os nimos se exaltaram.
Considerado excessivamente moderado, Danton foi substitudo por Robespierre e expulso do
partido. O Comit de Salvao Pblica, liderado por Robespierre, assumiu plenos poderes. Tinha
incio o Grande Terror, Terror Jacobino ou, simplesmente, Terror. Milhares de pessoas a ex-rainha Maria Antonieta, o qumico Antoine Lavoisier (considerado o criador da Qumica
moderna), aristocratas, clrigos, girondinos, especuladores, inimigos reais ou presumidos da
revoluo foram detidas, julgadas sumariamente e guilhotinadas. Os direitos individuais foram suspensos e, diariamente, realizavam-se, sob aplausos populares, execues pblicas e em
massa. O lder jacobino Robespierre, sancionando as execues sumrias, anunciara que a
Frana no necessitava de juzes, mas de mais guilhotinas. O resultado foi a condenao morte
de 35 mil a 40 mil pessoas. A revolta camponesa da Vendeia foi esmagada. O exrcito francs
comeou a ganhar terreno nos campos de batalha em 1794 e a coalizo antifrancesa foi
derrotada.
Cansada do terror, execues, congelamento de preos e dos excessos revolucionrios, a
burguesia queria paz para seus negcios. Essa posio era defendida pelos jacobinos liderados
por Danton. Os sans-culottes que eram a plebe urbana pretendiam radicalizar mais a revoluo, posio defendida pelos raivosos. A falta de habilidade poltica de Robespierre ficou
evidente quando, declarando a "ptria em perigo", tomou uma srie de medidas impopulares para
evitar as radicalizaes os partidrios e polticos mais radicais, como a ala esquerda, dos
partidrios de Hbert, e da ala direita, que tinha como lder Danton, foram executados. A faco
de centro, liderada por Robespierre e Saint-Just, triunfou, porm ficou isolada.
Reao Termidoriana
Os eventos da noite de 9 Termidor.
Muitos girondinos que sobreviveram ao Terror, aliados aos deputados da plancie, articularam
um golpe. Em 27 de julho (9 Termidor, de acordo com o calendrio revolucionrio francs) a
Conveno, numa rpida manobra, derrubou Robespierre e seus partidrios. Robespierre apelou
para que as massas populares sassem em sua defesa. Mas os que podiam mobiliz-las como os raivosos estavam mortos, e os sans-culottes no atenderam ao chamado. Robespierre e os dirigentes jacobinos foram guilhotinados sumariamente. A Comuna de Paris e o partido jacobino
deixaram de existir. Era o golpe de 9 Termidor, que marcou a queda da pequena burguesia
jacobina e a volta da grande burguesia girondina ao poder. O movimento popular entrou em
franca decadncia.
A Conveno Termidoriana (1794-1795) foi curta, mas permitiu a reativao do projeto
poltico burgus com a anulao de vrias decises montanhesas, como a Lei do Preo Mximo
(congelamento da economia) e o encerramento da supremacia da Junta de Salvao Pblica.
Foram extintas as prises arbitrrias e os julgamentos sumrios. Todos os clubes polticos foram
dissolvidos e os jacobinos passaram a ser perseguidos.
Em 1795, a Conveno elaborou uma nova constituio - a Constituio do Ano III -,
suprimindo o sufrgio universal e resgatando o voto censitrio para as eleies legislativas,
marginalizando, assim, grande parcela da populao. A carta reservava o poder burguesia. No
final de 1795, de acordo com a nova Constituio, a Conveno cedeu lugar ao Diretrio,
formado por cinco membros eleitos pelos deputados. Iniciou-se, assim, a Repblica do
Diretrio.
O Diretrio (1795-1799)
Ver artigo principal: Diretrio
O Diretrio (1794 a 1799) foi uma fase conservadora, marcada pelo retorno da Alta Burguesia ao
poder e pelo aumento do prestgio do Exrcito apoiado nas vitrias obtidas nas Campanhas
externas.
Uma nova constituio entregou o Poder Executivo ao Diretrio, uma comisso constituda de
cinco diretores eleitos por cinco anos. Esta carta previa o direito de voto masculino aos
alfabetizados. O poder legislativo era exercido por duas cmaras, o Conselho dos Ancios e o
Conselho dos Quinhentos.
Graco Babeuf, lder da Conjurao dos Iguais.
Era a repblica dos proprietrios que enfrentavam uma grave crise financeira. Registra-se uma
oposio interna ao governo devido crise econmica e anulao das conquistas sociais
jacobinas. Tentativas de golpe direita (monarquistas ou realistas) e esquerda (jacobinos)
ocorreram neste perodo.
As aes contra o novo governo se sucediam. Em 1795, um golpe realista foi abortado em Paris.
Aproveitando o descontentamento dos sans-culottes, os remanescentes jacobinos tentaram
organizar em 1796 a chamada Conjurao ou Conspirao dos Iguais, liderada por Franois
Nol Babeuf (mais conhecido como Graco Babeuf). Os seguidores desse movimento popular,
com algumas pinceladas socialistas, desejavam no apenas igualdades de direitos (igualdade
perante a lei), mas tambm igualdade nas condies de vida. Babeuf achava que a nica maneira
de alcanar a igualdade era com a abolio da propriedade privada. A insurreio foi denunciada
antes mesmo de se iniciar e seus lderes, Graco Babeuf e Buonarroti, foram condenados
guilhotina. As ideias de Babeuf, entretanto, serviram de base para a luta da classe operria no
sculo XIX.
Externamente, entretanto, o exrcito acumulava vitrias contra as foras absolutistas de Espanha,
Holanda, Prssia e reinos da Itlia, que, em 1799, formaram a Segunda Coligao contra a
Frana revolucionria.
Napoleo Bonaparte no Poder
Ver artigo principal: 18 de Brumrio
Destacando-se no assdio de Toulon, em 1793, Napoleo Bonaparte tornou-se general. Em 1796,
Bonaparte esmagou uma insurreio monarquista.
O governo no era respeitado pelas outras camadas sociais. Os burgueses mais lcidos e
influentes perceberam que com o Diretrio no teriam condio de resistir aos inimigos externos
e internos e manter o poder. Eles acreditavam na necessidade de uma ditadura militar, uma
espada salvadora, para manter a ordem, a paz, o poder e os lucros.
A figura que sobressai no fim do perodo a de Napoleo Bonaparte. Ele era o general francs
mais popular e famoso da poca. Quando estourou a revoluo, era apenas um simples tenente e,
como os oficiais oriundos da nobreza abandonaram o exrcito revolucionrio ou dele foram
demitidos, fez uma carreira rpida. Aos 24 anos j era general de brigada. Aps um breve
perodo de entusiasmo pelos jacobinos, chegando at mesmo a ser amigo dos familiares de
Robespierre, afastou-se deles quando estavam sendo depostos. Lutou na Revoluo contra os
pases absolutistas que invadiram a Frana e foi responsvel pelo sufocamento do golpe de 1795.
Enviado ao Egito para tentar interferir nos negcios do imprio ingls, o exrcito de Napoleo
foi cercado pela marinha britnica nesse pas, ento sobre tutela inglesa. Napoleo abandonou
seus soldados e, com alguns generais fiis, retornou Frana, onde, com apoio de dois diretores
e de toda a grande burguesia, suprimiu o Diretrio e instaurou o Consulado, dando incio ao
perodo napolenico em 18 de brumrio (9 de novembro de 1799).
O Consulado era representado por trs elementos: Napoleo, o abade Sieys e Roger Ducos. Na
realidade o poder concentrou-se nas mos de Napoleo, que ajudou a consolidar as conquistas
burguesas da Revoluo.
Datas e Fatos Essenciais
1787: Revolta dos Notveis
1789: Revolta do Terceiro Estado; 14 de julho: Tomada da Bastilha; 26 de agosto:
Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado.
1790: Confisco dos bens do Clero.
1791: Constituio que estabeleceu a Monarquia Constitucional.
1791: Tentativa de fuga e priso do rei Lus XVI.
1792: Invaso da Frana pela ustria e Prssia. Decisiva vitria francesa na batalha de
Valmy7 .
1793: Oficializao da Repblica e morte do Rei Lus XVI; 2 Constituio.
1793: Terror contra os inimigos da revoluo.
1794: Deposio de Robespierre.
1795: Regime do Diretrio 3 Constituio. 1799: Golpe do 18 de brumrio (9 de novembro) de Napoleo.
Reaes e comentrios no estrangeiro
Reino Unido
Entre os britnicos que acolheram (inicialmente) a Revoluo Francesa como um acontecimento
positivo conta-se Dugald Stewart. Stewart seguiu os acontecimentos em Paris nesse vero
dramtico de 1789. Ele acreditava nos princpios pelos quais a revoluo se batia. Sentiu-se
repelido quando leu os comentrios de Edmund Burke no seu "Reflections on the Revolution in
France". Burke previu acertadamente que a Revoluo Francesa acabaria na perdio, terror,
morte e ditadura. Um aluno de Stewart, James Mackintosh, escreveu em resposta uma
apaixonada defesa da causa francesa. Nos anos seguintes, Stewart defendeu ainda a Revoluo,
apesar de o terror e o caos serem evidentes. Em novembro de 1791, Dugald Stewart escreve a um
amigo: "As pequenas desordens que podem ocorrer num pas onde as coisas em geral correm to
bem so de menor importncia".
J no ano seguinte ver-se-ia que Burke tinha razo. Edmund Burke faleceu em 1797, convicto de
que a Revoluo Francesa acabaria por terminar na ditadura. Napoleo veio dar-lhe razo. Burke
ganhou na sociedade britnica uma reputao de um homem clarividente e perspicaz.
Em forte contraste, Dugald Stewart perdeu o respeito dos seus concidados e foi ostracizado em
Edimburgo, onde vivia. James Mackintosh pediu desculpas publicamente por criticar Burke e
tornou-se um forte crtico do regime francs e das revolues em geral.
Raymond Aron
O socilogo do sculo XX Raymond Aron (1905 1983) escreve em O pio dos intelectuais o seguinte, a propsito da revoluo francesa, comparando-a com a evoluo da Inglaterra:
A passagem do Ancien Rgime para a sociedade moderna consumada na Frana com
uma ruptura e uma brutalidade nicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na
Inglaterra, o regime constitucional foi instaurado progressivamente, as instituies
representativas advm do parlamento, cujas origens remontam aos costumes medievais.
No sculo XVIII e XIX, a legitimidade democrtica se substitui legitimidade
monrquica sem a eliminar totalmente, a igualdade dos cidados apagou pouco a pouco
a distino dos "Estados" (Nobreza, clero e povo). As ideias que a revoluo francesa
lana em tempestade atravs da Europa: soberania do povo, exerccio da autoridade
conforme a regras, assembleias eleitas e soberanas, supresso de diferenas de estatutos
pessoais, foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais cedo do que em Frana, sem
que o povo, em sobressalto de Prometeu, sacudisse as suas correntes. A
"democratizao" foi ali (em Inglaterra) a obra de partidos rivais.
(...) O Ancien Rgime desmoronou-se (na Frana) a um s golpe, quase sem defesa. E a
Frana precisou de um sculo para encontrar outro regime que fosse aceito pela grande
maioria da nao.
Referncias
1.
French Revolution.
Donald Greer, The Incidence of the Terror during the French Revolution: A Statistical Interpretation (1935).
BELL, David Avrom. The First Total War: Napoleon's Europe and the birth of warfare as we know it. New York: Houghton Mifflin Harcourt, 2007. p. 51. ISBN 0-618-34965-0
SPIELVOGEL, Jackson. Western Civilization: A Brief History, Volume II: Since 1500 (em ingls). 8 ed. Stamford, CT: Cengage Learning, 2013. p. 421. ISBN 1133607934
KLOSE, Fabian. Human Rights in the Shadow of Colonial Violence: The Wars of Independence in Kenya and Algeria (em ingls). Filadlfia, PA: University of Pennsylvania
Press, 2013. p. 172. ISBN 0812244958
Pierre Gaxotte (da Academia Francesa), La Rvolution Franaise, Paris, Librairie Arthme Fayard, 1957, pp. 31-54.
7. Como Tudo Funciona