Pelvimetria, laços e cabeçadas obstétricas em animais de produção e equinos Documento de apoio às aulas práticas de Obstetrícia – UTAD, Vila Real Objetivos: Aquisição de competências na mensuração da pelve em diversas espécies animais; e uso de laços e cabeçadas obstétricas durante o parto.
João Simões
Veterinaria.com.pt 2013. Vol. 5 Nº 1-2: e1 (publicado em 07 de fevereiro de 2013)
Disponível em:
http://veterinaria.com.pt/media//DIR_27001/VCP5-
1-2-e1.pdf
A figura superior
corresponde à
fotografia do
estreito anterior da
pelve de uma vaca e
a inferior ao de uma
égua.
Pelvimetria, laços e cabeçadas obstétricas
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A- Pelvimetria
A pelvimetria corresponde à mensuração de distâncias e ângulos entre estruturas
da pélvis ou pelve (cavidade óssea da bacia) as quais podem ser obtidas quer direta
(mensurações internas) quer indiretamente (mensurações externas).
Serve para: (1) identificação e avaliação prévia das conformações das pelves das
fêmeas - em particular classificação de novilhas: o crescimento linear da pelve bovina é
de 0,27 cm²/dia entre os 10 e 14 meses de idade, e ainda a estimativa do peso do vitelo
suportado pela fêmea ao nascer (Deutscher, 1985 e 1991); (2) avaliação das proporções
relativas entre canal do parto e feto - desproporção feto-materna – e de conformações
pélvicas anormais. Predição da dificuldade do parto por comparação da circunferência
do casco do feto (KO e Ruble, 1990) e; (3) finalidade zootécnica de melhoramento
genético animal: heritabilidade de cerca de 50% em bovinos (Deutscher, 1985) -
associar a outros fatores de fertilidade, peso e tamanho fetais.
Fatores que contribuem para a dificuldade do parto são a inclinação e
circunferência da pélvis (diâmetro sacro-púbico x diâmetro bi-ilíaco médio), Disposição
das estruturas que compõem a pélvis, incluindo a inserção do tendão pré-púbico e ainda
o tamanho e formato do feto.
1- Anatomia, conformação e angulação da bacia
A pélvis ou bacia pélvica, no seu conjunto e em geral, assume uma posição
dorso-ventral e crânio-caudal nos nossos animais domésticos. Forma o chamado canal
do parto.
1.1- Constituição das partes duras (ósseas)
Teto: Sacro (5 vértebras) + vértebras coccígeas (3 primeiras)
Partes laterais; Íleo + Ísquion
Soalho: Púbis
__________________ Vista dorsal __________________
(Martín e Alfonso, 1985)
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1.2- Constituição das partes Moles
Ligamentos: – Sacrotuberais e Sacroilíacos;
Cartilagens;
Vasos;
Nervos: Ciático (superior bilateral), pudendo e obturador (inferior bilateral), e
todo plexo pélvico simpático;
Diafragma pélvico: – Fáscia pélvica, fáscia perineal profunda e superficial e
músculos superficiais e profundos do períneo.
- Constituem a via fetal mole (vulva, vagina e cérvix)
1.3- Articulações da Pelve
1.3.1- Intrínsecas ou próprias:
Sacro-ilíaca
Vértebras coccígeas (3 primeiras)
Acetábulo
Sínfise ísquio-púbica
1.3.2- Extrínsecas
Lombo-sagrada
Coxo-femural
1.4- Conformação da pélvis:
A conformação (elíptica alargada verticalmente) e constituição do estreito
anterior, que pela sua natureza óssea opõe resistência à passagem do feto. Na parte
dorsal, é delimitado pelo corpo da 1ª vertebra sagrada e a face inferior da articulação
sacroilíaca.
O estreito posterior (de forma oval), cujas dimensões são semelhantes ao
anterior mas que aumentam no momento do parto.
Classificação da pélvis (segundo TONIOLLO & VICENTE,1995)
• Dolicopélvico (estreito anterior retangular)
Ruminantes, suínos e cadelas grandes
• Mesatipélvico (estreito anterior trapezoidal)
Equinos, cadelas pequenas, gatas
• Platipélvico
Cães bassetóides
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Figura. Radiografia pélvica de cadela dolicopélvica. Caracterizada por apresentar face cranial
da pelve em forma oval e achatada lateralmente; o ísquio é sensivelmente escavado e arqueado
ventralmente em sua extremidadecaudal e o diâmetro sacro-púbico é maior que o bi-ilíaco.
Campos (2010)
Figura. Radiografia pélvica de cadela mesatipélvica. Os animais mesatipélvicos apresentam a
face cranial da pélvis quase circular, com discreto estreitamento na porção ventral e o diâmetro
sacro-púbico é similar ao bi-ilíaco, ou seja, a largura e altura da pélvis são semelhantes como
nos animais da espécie equina, felina e nos cães das raças Dálmata e Pointer que tem uma pélvis
cônica. Campos (2010).
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Figura. Radiografia pélvica de cadela platipélvica. Os animais platipélvicos apresentam o
diâmetro sacro-púbico menor que o biilíaco, ocorrendo nos cães bassetóides como os cães da
raça Pequinês. Campos (2010)
1.5- Angulação
O eixo do conduto pélvico é representado por uma linha imaginária que reúne os
centros dos cortes transversais indicando a sua direção e consequentemente os
movimentos do feto no canal do parto durante a sua extração.
(Martín e Alfonso, 1985)
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2- Pelvimetria
2.1- Métodos diretos São medições internas realizadas no estreito anterior, não totalmente
consentâneas. Podem ser efetuadas por palpação retal (em animais de grande porte),
com auxílio de compasso obstétrico (Menissier Vissac, compasso de Rice) ou ainda por
métodos complementares (radiologia, TAC).
2.1.1- Diâmetros pélvicos
Sacro-púbico (vertical)
Bi-ilíaco superior (transversal ou horizontal)
Bi-ilíaco inferior (transversal ou horizontal)
Sacro-ilíaco esquerdo (obliquo)
Sacro-ilíaco direito(obliquo)
Circunferência pélvica
Ø Bi-ilíaco inferior
Ø Sacro-púbico
Ø Sacro-ilíaco
esquerdo
Ø Sacro-ilíaco
direito
Ø Bi-ilíaco superior
(Martín e Alfonso, 1985)
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Dimensões do estreito anterior (segundo Martin e Alonso, 1985)
Medida Mínimo
(cm)
Médio
(cm)
Máximo
(cm)
Espécie
animal
Ø sacro-púbico 19 22,5 26,5
Vaca Ø Bi-ilíaco superior 16,5 17,7 20,5
Ø Bi-ilíaco inferior 14,5 15,7 18,5
Circunferência pélvica 60 67 78
Ø sacro-púbico 18 21 23
Égua Ø Bi-ilíaco superior 17 21,5 22,5
Ø Bi-ilíaco inferior 15 16 19
Circunferência pélvica 59 70 77
Ø sacro-púbico 17,5 17,5
Burra Ø Bi-ilíaco superior 14,5 16,5
Ø Bi-ilíaco inferior 11,5 14,5
Circunferência pélvica 53 58
Ø sacro-púbico 11 11,5
Ovelha
Ø Bi-ilíaco superior 7,8 8
Ø Bi-ilíaco inferior 8,4 8,4
Circunferência pélvica 33 34
Ø sacro-púbico 12,5 13,5
Cabra Ø Bi-ilíaco superior 75 78
Ø Bi-ilíaco inferior 8,2 8,3
Circunferência pélvica 35 37
(Martín e Alfonso, 1985)
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2.2- Métodos Indiretos
Baseiam-se em relações (coeficientes de correlação) entre medidas pélvicas e
outras obtidas externamente no animal, tais como o diâmetro sacro-púbico e a altura
da cernelha, o diâmetro bi-ilíaco superior e inferior e a Largura da garupa (medida
entre os ângulos externos do ílion).
(Martín e Alfonso, 1985)
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Coeficientes obtidos por Saint-Cyr e Violet:
Coeficientes Vaca Égua Ovelha Cabra Fórmula
Sacro-púbico 0,18 0,143 0,18 0,16 = Medida da cernelha X
Coeficiente
Bi-ilíaco Superior 0,36 0,40 0,51 0,45 = Largura da Garupa X
Coeficiente
Bi-ilíaco Inferior -20mm -48mm +5mm +6mm = diâmetro biilíaco
superior + Coeficiente
(Martín e Alfonso, 1985)
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B- Laços e cabeçadas
Para exercer forças de tração no feto ou realização da sua fixação, ou em parte
(por exemplo em fetotomias), torna-se necessário aplicação de cordas ou correntes
obstétricas (estas últimas de fácil lavagem e desinfeção, mas de pior adaptação à zona
que pretendem fixar).
Os laços são constituídos por cordas sólidas e flexíveis, entre 1 a 1,5 cm de
diâmetro e 1,5 a 2 de comprimento. Uma extremidade da corda pode ou não conter uma
asa (geralmente entrelaçada) ou anel metálico de modo a se poder formar uma laçada
para fixação do feto. O material (cânhamo, couro) das cordas deve permitir que uma vez
molhado não se torne duro de modo a não traumatizar o feto, principalmente em partos
posteriores.
Servem para fixar extremidades, incluindo cabeça (cabeçadas), axilas e virilhas e terço
posterior do feto.
São utilizados com as mãos ou com ajuda de porta-laços quando aquelas não atingem a
estrutura a fixar. Quando se pretende rodear uma estrutura, podem usar-se os passa-
laços.
(Jackson, 2004)
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1- Laços
(Martín e Alfonso, 1985)
(Jackson, 2004)
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2- Aplicação de laços, porta-laços e passa-laços.
(Martín e Alfonso, 1985)
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1.3- Cabeçadas
(Martín e Alfonso, 1985)
(Jackson, 2004)
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(Martín e Alfonso, 1985)
C- Referências bibliográficas
1. Campos, A, 2010. Estabelecimento padrão biométrico corpóreo e pélvico e da
relação entre as medidas corpóreas externas e as medidas pelvimétricas de cadelas da
raça buldogue francês. Dissertação apresentada no Programa de Pós-Graduação em
Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do
Ceará, Fortaleza. 70 pp.
2. Deutscher, G.H., 1985. Using pelvic measurements to reduce dystocia in heifers.
Modern Veterinary Practice 16: 751-755.
3. Deutscher, G.H., 1991. Pelvic measurements for reducing calving difficulty.
University of Nebraska Nebguide, G88, pp. 895-898.
4. Jackson, P, 2004. Handbook of Veterinary Obstetrics (Second Edition). Saunders
Ltd. (ISBN: 9780702027406)
5. KO, J.C.H.; Ruble, M.V., 1990. Using maternal pelvis size and fetal hoof
circumference to predict calving difficulty in beef cattle. Veterinary Medicine
85:1030-1034.
6. Kolkman, I.; Hoflack, G.; Aerts, S.; Murray, R.D. ; Opsomer, G., Lips, D., 2009.
Evaluation of the Rice pelvimeter for measuring pelvic area in double muscled
Belgian Blue cows. Livestock Science 121: 259–266.
7. Martín, E. M.; Alfonso, C. G. Fisiopatología de la reproducción con sus bases
sinópticas. 1 ed. Zaragoza: Instituto Experimental de Cirugía y Reproducción de la
Universidad de Zaragoza. 1985.
8. Tsousis, G. ; Heun, C.; Becker, M.; Bollwein, H., 2010. Application of computed
tomography for the evaluation of obstetrically relevant pelvic parameters in German
Holstein-Friesian cows. Theriogenology 73: 309–315.