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    CARLOS EDUARDO ALLEGRETTI

    Eficcia da articana, da lidocana e da mepivacana associadas epinefrina em

    pacientes com pulpite irreversvel em molares mandibulares

    So Paulo

    2012

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    CARLOS EDUARDO ALLEGRETTI

    Eficcia da articana, da lidocana e da mepivacana associadas epinefrina empacientes com pulpite irreversvel em molares mandibulares

    Verso Corrigida

    Tese apresentada Faculdade deOdontologia da Universidade de SoPaulo, para obter o ttulo de Doutor, peloPrograma de Ps-Graduao em CinciasOdontolgicas.

    rea de Concentrao: Clnica Integrada

    Orientadora: Prof. Dr. Isabel de FreitasPeixoto.

    So Paulo

    2012

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    Allegretti CE. Eficcia da articana, da lidocana e da mepivacana associadas epinefrina em pacientes com pulpite irreversvel em molares mandibulares. Teseapresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo para obtenodo ttulo de Doutor em Cincias Odontolgicas. So Paulo, 2012.

    Aprovado em: / / 2012

    Banca Examinadora

    Prof(a). Dr(a). _____________________________ Instituio: _________________

    Julgamento:_______________________________ Assinatura:_________________

    Prof(a). Dr(a). _____________________________ Instituio: _________________

    Julgamento:_______________________________ Assinatura:_________________

    Prof(a). Dr(a). _____________________________ Instituio: _________________

    Julgamento:_______________________________ Assinatura:_________________

    Prof(a). Dr(a). _____________________________ Instituio: _________________

    Julgamento:_______________________________ Assinatura:_________________

    Prof(a). Dr(a). _____________________________ Instituio: _________________

    Julgamento:_______________________________ Assinatura:_________________

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    AGRADECIMENTOS

    Deixo registrado os meus sinceros agradecimentos s pessoas que me ajudaram, me

    apoiaram e me incentivaram na realizao dessa pesquisa.

    Em especial aos meus pais,

    Rudge e Telma, sempre inspiradores;

    Aos meus irmos,

    Luciana e Luiz Gustavo, sempre amigos;

    Ao meu mentor,

    Prof. Paschoal, sempre ponderado e correto;

    A minha orientadora,

    Profa. Isabel, sempre paciente e prestativa;

    Ao meu incentivador e amigo,Junior, sempre companheiro;

    Ao meu querido amigo,

    Luiz Felipe, sempre determinado.

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    Enfim, estendo os maiores e carinhosos agradecimentos a todas as pessoas que me

    incentivaram nesta empreitada como os professores da disciplina, a minha namorada e

    os meus colegas de trabalho.

    Obrigado a todos,

    Carlos Eduardo Allegretti

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    RESUMO

    Allegretti CE. Eficcia da articana, da lidocana e da mepivacana associadas epinefrina em pacientes com pulpite irreversvel em molares mandibulares. So

    Paulo: Universidade de So Paulo, Faculdade de Odontologia; 2012. VersoCorrigida.

    O objetivo deste estudo foi comparar a eficcia anestsica da articana 4%, da

    lidocana 2% e da mepivacana 2%, todas associadas epinefrina 1:100.000,

    durante pulpectomia em pacientes com pulpite irreversvel em molares

    mandibulares. Sessenta e seis voluntrios do Setor de Urgncia da Faculdade de

    Odontologia da Universidade de So Paulo receberam, aleatoriamente, 3,6ml de um

    dos anestsicos locais para o bloqueio convencional do nervo alveolar inferior (NAI).No caso de falha do bloqueio, foram administrados 3,6ml da mesma soluo como

    injeo complementar no ligamento periodontal. O sinal subjetivo de anestesia do

    lbio, a presena de anestesia pulpar e ausncia de dor durante a pulpectomia

    foram avaliados, respectivamente, por indagao ao paciente, por meio do aparelho

    estimulador pulpar eltrico (pulp tester) e por uma escala analgica verbal. A anlise

    estatstica foi realizada por meio dos testes Qui-quadrado, Kruskal Wallis e Razo

    de Verossimilhancas. Todos os pacientes reportaram anestesia no lbio aps obloqueio do NAI. A mepivacana apresentou valores superiores (68,2%) para a

    anestesia pulpar aps o bloqueio do NAI e a lidocana (90%) aps a injeo no

    ligamento periodontal. A mepivacana apresentou valores superiores para a

    analgesia (72,7%) aps o bloqueio no NAI e a lidocana (90%) aps a injeo no

    ligamento periodontal. Aps a falha do bloqueio do NAI, a dor na cmara pulpar foi a

    mais frequente e aps a falha da injeo no ligamento periodontal, a dor no canal.

    No entanto, essas diferenas no foram estatisticamente significantes. Portanto astrs solues anestsicas locais se comportam de forma semelhante e no

    apresentam efetivo controle da dor no tratamento da pulpite irreversvel em molares

    mandibulares.

    Palavras-Chave: Articana. Lidocana. Mepivacana. Pulpite irreversvel. Bloqueio do

    nervo alveolar inferior. Injeo complementar.

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    ABSTRACT

    Allegretti CE. Efficacy of articaine, of lidocaine and mepivacaine in patientsassociated with irreversible pulpitis in mandibular molars. So Paulo: Universidadede So Paulo, Faculdade de Odontologia; 2012. Verso Corrigida.

    The aim of this study was to compare the anesthetic efficacy of 4% articaine,

    lidocaine 2% and 2% mepivacaine, all associated with epinephrine 1:100,000 during

    pulpectomy in patients with irreversible pulpitis in mandibular molars. Sixty-six

    volunteers Sector Emergency Faculty of Dentistry, Universidade de So Paulo

    randomly received 3.6 ml of a local anesthetic to block conventional inferior alveolarnerve. In case of failure of the lock, were administered 3.6 ml of the same solution as

    in the periodontal ligament injection complement. The signal subjective lip

    anesthesia, the presence of pulpal anesthesia and no pain during pulpectomy were

    evaluated respectively by questioning the patient, via the stimulating device electrical

    pulp (pulp tester) and a verbal analogue scale. Statistical analysis was performed

    using the chi-square test, Kruskal Wallis and likelihood ratio. All patients reported lip

    anesthesia after blockade of the inferior alveolar nerve. The mepivacaine showed

    higher values (68.2%) for pulpal anesthesia after blockade of the inferior alveolar

    nerve and lidocaine (90%) after injection in the periodontal ligament. The

    mepivacaine showed higher values for analgesia (72.7%) after blocking the inferior

    alveolar nerve and lidocaine (90%) after injection in the periodontal ligament. After

    the failure of the blockade of the inferior alveolar nerve, the pain in the pulp chamber

    was the most frequent and after the failure of the periodontal ligament injection, pain

    in the channel. However, these differences were not statistically significant.

    Therefore, the three local anesthetic solutions behave similarly and did not exhibit

    effective pain management in treating irreversible pulpitis in mandibular molars.

    Keywords: Articaine. Lidocaine. Mepivacaine. Irreversible pulpitis. Inferior alveolar

    nerve block. supplemental injection.

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CGRP peptdeo relacionado com calcitonina

    FOUSP faculdade de odontologia da Universidade de So Paulo

    Hg mercrio

    IO injeo intrassea

    Kg quilograma

    mg miligrama

    ml mililitro

    mm milmetros

    NAI nervo alveolar inferior

    NPY neuropeptdeo Y relacionado com a imunorreatividade

    PDL injeo no ligamento periodontal

    pKa o pH em que o composto tem a metade de suas molculas

    dissociada e a outra metade no dissociada

    Pulp test testador (estimulador) pulpar eltrico

    SNC sistema nervoso central

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    LISTA DE SMBOLOS

    marcaregistrada

    alfa

    beta

    delta

    A microampre

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 5.1 - Boxplots para a Idade (anos) nos trs grupos avaliados: Articana,Lidocana e Mepivacana ..................................................................... 51

    Figura 5.2 - Distribuies de porcentagens da Resposta da aplicao ao Pulp testernos trs grupos avaliados Articana, Lidocana e Mepivacana, apsbloqueio convencional do nervo alveolar inferior (NAI) ........................ 55

    Figura 5.3 - Distribuies de porcentagens da Ocorrncia de dor nos trs gruposavaliados Articana, Lidocana e Mepivacana, aps bloqueio

    convencional do nervo alveolar inferior (NAI) ....................................... 57

    Figura 5.4 - Distribuies de porcentagens do Local da dor aps bloqueio do NAInos grupos avaliados Articana, Lidocana e Mepivacana ................... 59

    Figura 5.5 - Distribuies de porcentagens da Resposta ao Pulp tester nos trsgrupos avaliados Articana, Lidocana e Mepivacana, aps injeocomplementar no ligamento periodontal .............................................. 61

    Figura 5.6 - Distribuies de porcentagens da Ocorrncia de dor nos trs gruposavaliados Articana, Lidocana e Mepivacana, aps injeocomplementar no ligamento periodontal .............................................. 62

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 - Distribuies de frequncias e porcentagens do Gnero nos trsgrupos avaliados: Articana, Lidocana e Mepivacana ........................ 49

    Tabela 5.2 - Estatsticas descritivas para Idade (anos) nos trs grupos avaliados:Articana, Lidocana e Mepivacana ..................................................... 50

    Tabela 5.3 - Distribuies de frequncias e porcentagens da administrao da

    Medicao antes da realizao da pulpectomia nos trs gruposavaliados: Articana, Lidocana e Mepivacana .................................... 52

    Tabela 5.4 - Distribuies de frequncias e porcentagens dos Dentes com pulpiteirreversvel considerados nos grupos Articana, Lidocana eMepivacana ......................................................................................... 53

    Tabela 5.5 - Distribuies de frequncias e porcentagens de Respostas daaplicao ao Pulp testernos trs grupos avaliados: Articana, Lidocanae Mepivacana, aps bloqueio convencional do nervo alveolar inferior(NAI) ..................................................................................................... 54

    Tabela 5.6 - Distribuies de frequncias e porcentagens da Ocorrncia de dor apsbloqueio do NAI nos grupos considerados: Articana, Lidocana eMepivacana ......................................................................................... 56

    Tabela 5.7 - Distribuies de frequncias e porcentagens do Local da dor aps o

    bloqueio do NAI nos trs grupos avaliados: Articana, Lidocana eMepivacana, aps bloqueio do NAI ..................................................... 58

    Tabela 5.8 - Distribuies de frequncias e porcentagens da Resposta da aplicaoao Pulp tester nos trs grupos avaliados: Articana, Lidocana eMepivacana, aps injeo complementar no ligamento periodontal ... 60

    Tabela 5.9 - Distribuies de frequncias e porcentagens da Ocorrncia de dor nostrs grupos avaliados: Articana, Lidocana e Mepivacana, aps injeo

    complementar no ligamento periodontal .............................................. 62

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    Tabela 5.10- Distribuies de frequncias e porcentagens do Local onde a dor foirelatada nos trs grupos avaliados: Articana, Lidocana e Mepivacana,aps injeo complementar no ligamento periodontal ......................... 63

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 142 REVISO DA LITERATURA................................................................................. 16

    2.1 BLOQUEIO DO NERVO ALVEOLAR INFERIOR (NAI) ...................................... 17

    2.2 TCNICAS ANESTSICAS SUPLEMENTARES ................................................ 18

    2.3 LIDOCANA ......................................................................................................... 21

    2.4 MEPIVACANA .................................................................................................... 23

    2.5 ARTICANA ......................................................................................................... 24

    2.6 FISIOPATOLOGIA PULPAR ............................................................................... 283 OBJETIVOS........................................................................................................... 35

    4 MATERIAL E MTODO......................................................................................... 36

    4.1 MATERIAL .......................................................................................................... 36

    4.1.1 Material humano (casustica)........................................................................ 36

    4.1.2 Material permanente....................................................................................... 37

    4.1.3 Material de consumo...................................................................................... 38

    4.2 MTODOS ......................................................................................................... 39

    4.2.1 Variveis estudadas....................................................................................... 40

    4.2.2 Obteno e registro dos testes de vitalidade pulpar.................................. 40

    4.2.3 Obteno e registro da anestesia do lbio................................................. 41

    4.2.4 Obteno e registro da dor durante o procedimento de pulpectomia....... 41

    4.2.5 Dinmica da experincia................................................................................ 41

    4.2.6 Tcnicas anestsicas..................................................................................... 45

    4.2.7 Tcnica para realizao da pulpectomia preconizada pelo setor de

    urgncia da FOUSP........................................................................................ 46

    4.2.8 Anlise estatstica.......................................................................................... 47

    5RESULTADOS....................................................................................................... 49

    5.1 GNERO ............................................................................................................. 49

    5.2 IDADE ................................................................................................................. 50

    5.3 MEDICAO PRVIA......................................................................................... 51

    5.4 TIPO DE MOLAR COM PULPITE IRREVERSVEL ............................................ 52

    5.5 SINAL SUBJETIVO DA ANESTESIA DO LBIO ................................................ 53

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    5.6 CATEGORIAS DAS RESPOSTAS DA APLICAO AO PULP TESTERAPS O

    BLOQUEIO CONVENCIONAL DO NAI ............................................................... 54

    5.7 CATEGORIAS DA DOR DURANTE O PROCEDIMENTO DE PULPECTOMIA

    APS O BLOQUEIO CONVENCIONAL DO NAI ................................................ 56

    5.8 LOCAL ONDE A DOR FOI RELATADA PELO PACIENTE APS O BLOQUEIO

    CONVENCIONAL DO NAI .................................................................................. 57

    5.9 CATEGORIAS DAS RESPOSTAS DA APLICAO DO PULP TESTERAPS A

    INJEO COMPLEMENTAR NO LIGAMENTO PERIODONTAL ....................... 59

    5.10 CATEGORIAS DA DOR APS A INJEO COMPLEMENTAR NO

    LIGAMENTO PERIODONTAL ........................................................................... 61

    5.11 LOCAL ONDE A DOR FOI RELATADA PELOPACIENTE APS A INJEOCOMPLEMENTAR NO LIGAMENTO PERIODONTAL ..................................... 63

    6 DISCUSSO .......................................................................................................... 64

    7 CONCLUSO ........................................................................................................ 71

    REFERNCIAS......................................................................................................... 72

    ANEXOS ................................................................................................................... 83

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    1 INTRODUO

    O bloqueio convencional do nervo alveolar inferior (NAI) a tcnica

    anestsica regional mais comumente utilizada na Odontologia para alcanar a

    anestesia pulpar em dentes posteriores mandibulares (Vreeland et al., 1989;

    Goldberg et al., 2008). No entanto, o bloqueio do NAI possui um alto ndice de falha

    (Cohen et al., 1993; Goldberg et al., 2008; Aggarwal et al., 2009). O sucesso do

    bloqueio considerado ainda mais baixo quando a tcnica aplicada para o

    tratamento da pulpite irreversvel de molares mandibulares (Cohen et al., 1993;

    Aggarwal et al., 2009; Tortamano et al., 2009).Na tentativa de solucionar essa falha do bloqueio do NAI, altas doses de

    anestsicos locais so utilizadas, principalmente no tratamento da pulpite irreversvel

    de molares inferiores. Quanto maior a dose anestsica aplicada pelo profissional,

    maior ser o risco potencial de reaes txicas. Os sistemas cardiovascular e

    nervoso central (SNC) so os alvos primrios da toxicidade dos anestsicos locais.

    Ressalta-se que a injeo intravascular acidental poder levar o paciente a

    sensaes desagradveis, e mesmo at coma ou morte, dependendo da doseaplicada e da condio sistmica do paciente (Malamed, 2005).

    Ao longo dos anos, vrios anestsicos locais surgiram, mas nenhum superou

    a lidocana em termos de eficcia indiscutvel e segurana. A lidocana foi

    introduzida na Odontologia em 1948 e at hoje considerada o padro-ouro, ou

    seja, a droga qual todos os novos anestsicos locais so comparados (Fuzier et

    al., 2009).

    A mepivacana, obtida em 1957, foi introduzida na Odontologia em 1960 e,desde ento, vem sendo largamente utilizada como anestsico local na prtica

    odontolgica. Quando associada aos vasoconstritores, a durao da ao

    anestsica extensa, atingindo perodos de 3 a 5 horas de anestesia local, sendo

    indicada por suas caractersticas qumicas, principalmente para reas inflamadas

    (Malamed, 2005).

    Entre os novos anestsicos locais destaca-se a articana, que apesar de ter

    sido introduzida recentemente no Brasil, Estados Unidos (Malamed, 2001; Mikesell

    et al., 2005) e na Austrlia (Yapp et al., 2010), o anestsico local mais utilizado no

    Canad (Hass; Lennon, 1995) e em vrios pases da Europa (Vaneeden; Patel,

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    2002). Na Alemanha corresponde a aproximadamente 80% da venda de todos os

    anestsicos locais utilizados para o tratamento endodntico (Daublander et al., 1997;

    Malamed, 2001). Nos Estados Unidos, a articana corresponde 25% das vendas

    de todos os anestsicos locais odontolgicos (Brandt et al., 2011).

    Por ser uma droga relativamente nova, a articana tem sido objetivo de

    diversas discusses na odontologia que apontam algumas qualidades, como incio

    de ao rpido (Malamed, 2001), mas tambm alguns insucessos como, por

    exemplo, maior risco de provocar parestesia (Hass; Lennon, 1995; Colombini et al.,

    2006).

    Devido ao alto ndice de falhas em anestesias, principalmente do NAI, as

    propriedades das bases anestsicas esto em contnua discusso. A lidocana,considerada de baixa toxicidade, at hoje padro-ouro na Odontologia; a

    articana mostra um rpido poder de ao e difuso; e a mepivacana apresenta

    ao prolongada e melhor desempenho em reas inflamadas. Isso nos motivou a

    estudar a eficcia desses trs sais anestsicos na pulpectomia, em que o bloqueio

    anestsico local fundamental para o conforto dos pacientes e para um bom

    desempenho do cirurgio dentista.

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    2 REVISO DA LITERATURA

    A padronizao das metodologias empregadas nos diferentes estudos

    clnicos e experimentais algo difcil de se fazer. Essa dificuldade pode levar

    interpretao equivocada de pesquisadores e profissionais.

    A metodologia mais usada para avaliar de forma padronizada a profundidade

    e eficcia anestsica a utilizao da estimulao eltrica. Esse um mtodo

    seguro e preciso para avaliar a anestesia pulpar (Corbett et al., 2008; Tortamano et

    al., 2009). J Teplitsky et al. (1987) mostram no acreditar no teste eltrico,

    comentando, inclusive, que existe a possibilidade de alteraes pulpares, quando da

    aplicao do teste, alm de no servir como parmetro nico para avaliar a dor dos

    pacientes. Alm disso, Colley et al. (1984) citam que o aparelho Pulp Tester pode

    levar a resultados falso-positivos, em virtude dos diferentes tipos de fibra nervosas

    pulpares existentes. Isso porque nem as fibras nervosas pulpares todas respondem

    aos testes eltricos pulpares.

    No teste eltrico, a ausncia de percepo da dorcorresponde leitura 80,

    que representa a potncia mxima do aparelho utilizada como critrio de eficcia

    para anestesia pulpar. Casos com leitura menor do que 80 seriam indicativo de dor

    durante o procedimento clnico endodntico e, por esse motivo, os autores Certosino

    e Archer (1996), Fernandez et al. (2005) e Gross et al. (2007) recomendam excluir

    do estudo clnico esses pacientes, quando se avalia a eficcia do anestsico local.

    Dreven et al. (1987), por sua vez, relatam que o teste eltrico pode ser utilizado

    repetidamente no dente sem que haja dano ao tecido pulpar. A leitura 80 no

    garante que o paciente tenha anestesia clnica completa nos casos de pulpiteirreversvel, segundo Dreven et al. (1987), Dagher et al. (1997), Stabile et al. (2000).

    Esses ltimos autores descrevem que leituras abaixo de 80, dependendo do

    procedimento clnico, no asseguram anestesia clnica para o paciente.

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    2.1 BLOQUEIO DO NERVO ALVEOLAR INFERIOR (NAI)

    O sucesso do bloqueio do Nervo Alveolar Inferior (NAI) pode variar de 30% a

    97% (Kanaa et al., 2006) e muitos fatores podem influenciar na efetividade da

    anestesia: anatomia, processos patolgicos, caractersticas farmacolgicas da base

    anestsica e aspectos psicolgicos.

    Lai et al. (2006), por sua vez, relatam um ndice de falhas no bloqueio do NAI

    que varia de 15% a 45%. Para os autores, essas discrepncias de resultados so

    devidas falta de padronizao das tcnicas aplicadas para avaliar a eficcia do

    anestsico local no bloqueio do NAI e s variveis que interferem na interpretaoda dor pelos pacientes, da falta de parmetros objetivos para a avaliao clnica do

    fenmeno doloroso.

    As falhas de bloqueio ocorrem praticamente em todos os tipos de

    procedimentos odontolgicos. Nos mais simples, como remoo de tecido cariado

    em cavidades rasas e mdias e raspagem periodontal subgengival, provocam um

    impacto menor no conforto do paciente; porm em procedimentos mais complexos,

    como a manipulao de dentes com pulpite irreversvel, o ndice de queixa dospacientes pode alcanar at 81% (Reisman et al., 1997; Nusstein et al., 2002;

    Kennedy et al., 2003).

    Em 1989, Taintor e Biesterfeld comentam a existncia de muitas razes para

    o insucesso do bloqueio do NAI, As teorias mais populares descritas por Taintor e

    Biesterfeld incluem: inflamao na rea que causa mudanas de pH, alteraes nos

    tecidos neurais e inervaes aberrantes.

    Potocnik et al. (2006), Sampaio et al. (2012) descrevem outras razes paraapontar as falhas no bloqueio do NAI em pulpites irreversveis: 1) ansiedade que

    abaixa diretamente o limiar de dor, 2) fatores psicolgicos, como a personalidade e a

    expectativa, que interferem na percepo de dor; 3) inervao acessria em molares

    mandibulares; 4) tecidos inflamados que alteram o potencial de repouso da fibra

    nervosa; 5) limiar de excitabilidade, favorecendo o aumento da sensao dolorosa.

    Em pulpectomias, Walton e Torabinejad (1992) lembravam que mtodos

    complementares de anestesia local deviam ser utilizados em casos extremos, bem

    como o bloqueio convencional do NAI pela tcnica direta ou indireta. Entretanto,

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    caso a anestesia local no seja profunda, ento preconizada a infiltrao na regio

    lingual, a injeo no ligamento periodontal e at tcnica intrapulpar.

    A tcnica anestsica suplementar intraligamentar a indicada por Meechan

    (2002) e Tortamano et al. (2009). A condio para o sucesso da utilizao dessa

    tcnica a presena do vasoconstritor com epinefrina. No entanto, Pashley, desde

    1985, contraindica essa tcnica em pacientes cardiopatas, pois compara a injeo

    intraligamentar com uma injeo de epinefrina intravascular, que possuem

    caractersticas diferentes no que se refere absoro do frmaco e, portanto, aos

    efeitos farmacolgicos adversos.

    2.2 TCNICAS ANESTSICAS SUPLEMENTARES

    O bloqueio do Nervo Alveolar Inferior (NAI) a tcnica anestsica mais

    utilizada para anestesias em dentes mandibulares em procedimentos restauradores

    e cirrgicos (Clark et al., 1999). No entanto, o bloqueio do NAI nem sempre resulta

    em uma anestesia pulpar bem-sucedida. Para Lai et al. (2006), o cirurgio-dentistaconsegue uma boa anestesia quando os nervos alveolar inferior, bucal e lingual so

    anestesiados de forma simultnea e efetiva (Mcentire et al., 2011).

    Kanna et al. (2006) acreditam que infiltraes anestsicas mais rpidas

    produzem resultados desfavorveis quanto ao efeito farmacolgico do anestsico.

    Logo, recomendam que a infiltrao seja lenta, quando o objetivo uma anestesia

    profunda e eficiente. Apesar de transparecer ao clnico que esse cuidado uma

    perda de tempo, para esses autores, essa possvel perda, compensada pelaqualidade da anestesia. A verdade que essa atitude do profissional bem-vinda

    por dar maior conforto ao paciente durante a infiltrao do anestsico local.

    Existem relatos que inervaes acessrias podem prejudicar o sucesso da

    anestesia em molares inferiores. O nervo milo-hioideo o mais citado como um fator

    que contribui para a falha da anestesia (Novitsky, 1938). Stein et al. (2007)

    demonstraram, em seu estudo, que um ramo do nervo milo-hioideo sobe pela

    superfcie mandibular, prximo ao tubrculo geniano, e o seu trajeto passa por toda

    superfcie lingual do corpo da mandbula at o forame retromental. Wilson et al.

    (1984) determinaram a distncia mdia do ramo do nervo milohioideo 14,7mm

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    acima do forame mandibular. Clark et al. (1999) sugerem a utilizao da tcnica

    complementar para que o nervo seja anestesiado. Stein et al. (2007) recomendam

    que o local da infiltrao para que se possa anestesiar o nervo seja o espao

    pterigomandibular, 0,5cm acima do forame mandibular.

    Existem inmeros estudos que investigam o uso de diferentes tipos de

    tcnicas anestsicas para a mandbula (Meechan et al., 2006). Yonchak et al.

    (2001), por exemplo, mostram um ndice de sucesso de 100% em anestesias de

    incisivos centrais mandibulares, quando da infiltrao na regio vestibular e lingual

    do rgo dental. Porm, outros estudos demonstram que a mesma infiltrao na

    regio de molares inferiores com a lidocana associada adrenalina no levam aos

    mesmos resultados (Meechan, 2002). Esses autores tambm concluiram que noexiste nenhum benefcio em dividir a dose aplicada entre o lado vestibular e lingual

    do dente a ser tratado endodonticamente. E, observam, que isso possivelmente

    acontece em virtude da interferncia do nervo milo-hioideo que inerva os dentes

    anteriores, e no os dentes posteriores da mandbula.

    Parente et al. (1998) descrevem outra tcnica suplementar para os casos de

    falha da tcnica anestsica convencional em tratamentos endodnticos. Apesar de

    sinais de entorpecimento labial e lingual, muitos pacientes se queixam de dorquando o acesso endodntico est sendo realizado. Para isso, os autores sugerem

    a utilizao da tcnica anestsica suplementar intrassea. Nessa tcnica utilizado

    um aparelho perfurador que deposita o sal anestsico diretamente no osso medular.

    Os dados mostram que a tcnica proposta apresenta resultados prolongados no

    controle da dor. Replogle et al. (1997) e Reitz et al. (1998) compararam a eficincia

    e a durao anestsica da lidocana com epinefrina e da mepivacana sem

    vasoconstritor na tcnica suplementar intrassea. Assim, esses autores constatarama superioridade da lidocana tanto na durao como na eficcia anestsica. Kanaa et

    al. (2012) concluram que a tcnica complementar intrassea utilizando a articana

    4% com epinefrina 100.000 superior que a tcnica complementar bucal utilizando a

    lidocana 2% com epinefrina 100.000 em pacientes com molares mandibulares com

    pulpite. Fan et al. (2009), Matthews et al. (2009) e Poorni et al. (2011) acreditam que

    a tcnica complementar que anestesia o nervo bucal eficiente em anestesias

    pulpares para tratamento de pulpites irreversveis em molares inferiores.

    Recentemente, Tortamano et al. (2009) observaram que apenas 58% dos pacientes

    que suplementaram a anestesia com articana tiveram melhora no quadro de dor

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    durante interveno para realizao de pulpectomia. Entretanto, Reitz et al. (1998)

    haviam concludo que a infiltrao intrassea suplementar, com lidocana,

    aumentava significativamente o sucesso da anestesia pulpar aps 20 minutos da

    infiltrao, quando comparado com a administrao convencional de bloqueio do

    nervo alveolar inferior.

    VanGheluwe et al. (1997) discutem aspectos da anestesia intrapulpar, relatam

    que a presena de receptores (alfa) adrenrgicos presentes nos vasos sanguneos

    da polpa dental respondem a pequenas doses de epinefrina, gerando uma

    vasoconstrio local. E por sua vez, provoca isquemia pulpar, e a consequente

    reduo da presso intrapulpar e, portanto, alvio da dor. Esse efeito ocorre quando

    empregada a tcnica intrapulpar, porm os autores descrevem que esse efeitotambm verificado, em menor intensidade, quando feita a infiltrao

    supraperiostal.

    A anestesia suplementar intraligamentar sugerida por White et al. (1988),

    Meechan (2002) e Elsharrawy e Elbaghdady (2007) em virtude da sua efetividade e

    por ser uma tcnica mais conservadora. Assim sendo, os pesquisadores sugerem

    que o sucesso dessa tcnica esteja vinculado ao emprego da epinefrina como

    vasoconstritor. Entretanto, Pashley (1986), conforme relatado anteriormente,contraindica a utilizao dessa tcnica anestsica em pacientes com cardiopatias.

    Nelson (1981), por sua vez, descreve, em um relato de caso clnico, a avulso

    dentria aps a complementao anestsica com a tcnica intraligamentar.

    Elsharrawy e Elbaghdady (2007) verificaram em seu estudo que ao associar

    meperidina mepivacana 2% com 1:200.000 epinefrina, a eficcia anestsica em

    pulpectomias em molares superiores superior quando comparada com a anestesia

    sem o opiide.Kim (1986) enfatiza que a anestesia intraligamentar pode causar at

    mortificao pulpar e danos aos tecidos de suporte do rgo dental. Agresses

    levam liberao de mediadores qumicos, que iniciam e mantm o processo

    inflamatrio. Agora, quando o profissional utiliza a tcnica intraligamentar, com

    anestsico contendo vasoconstritor, o fluxo sanguneo intrapulpar reduzido ou

    interrompido, o que pode levar mortificao pulpar. Por fim, o processo inflamatrio

    leva a uma vasodilatao; e em contrapartida, os vasoconstritores levam a uma

    vasoconstrio. Esses dois efeitos contrrios tm consequncias locais que

    poderiam ser mais profundamente discutidas.

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    2.3 LIDOCANA

    A lidocana (-dietil-aminoaceto-2,6-xilidina) um anestsico local

    hidrossolvel de curta durao, sob a forma de cloridrato, que sofre metabolizao

    heptica e 75% da lidocana sai da corrente sangunea com uma nica passagem

    pelo fgado transformada, essencialmente, em glicinaxilidina e

    monoetilglicinaxilidina, metablitos que tambm oferecem ao anestsica local,

    alm de apresentar aes antiarrtmica, hipotensiva e txica para o sistema nervoso

    central (Smith; Duce, 1971). Sua excreo biliar, mas principalmente renal (Di

    Fazio; Brow, 1972; Colombini et al., 2006). muito utilizada em decorrncia de seu rpido incio de ao, sua potncia e

    sua durao anestsica moderada (Veering, 1996). Sintetizada em 1948 por

    Lfgren, foi utilizada pela primeira vez na concentrao de 2%, com meia-vida

    biolgica de 40 minutos (Herman, 1998).

    Poucos anos aps a sua introduo no mercado, a lidocana substituiu a

    procana como anestsica local, tanto na Odontologia como na Medicina. A posio

    de lder de venda mantida at os dias atuais em diversos pases, alm de ser adroga a qual todos os novos anestsicos so comparados (Malamed, 2005).

    As doses de lidocana capazes de desencadear convulso variam de acordo

    com a espcie e entre indivduos de mesma espcie (Toledo, 2000). Admite-se 6 a 7

    mg/kg no homem (Steen; Michenfelder, 1979).

    A lidocana considerada um anestsico de potncia relativamente baixa e

    durao anestsica pequena quando no associada a um vasoconstritor. Para uso

    odontolgico, habitualmente, apresenta-se na forma de lidocana 2% com epinefrina1:100.000, todavia existem outras formas como a soluo pura ou associada a

    epinefrina 1:50.000 (Yagiela et al., 1998; Bigby et al., 2007).

    Maniglia-Ferreira et al. (2009) descrevem que a lidocana com adrenalina ou

    noradrenalina possui a melhor combinao de relao custo-benefcio. Esses

    pesquisadores concluram, ainda, que essa combinao to eficiente quanto a

    mepivacana associada a outro vasoconstritor.

    Por seu potencial vasodilatador, a lidocana sem vasoconstritor possui curta

    durao de ao, a anestesia pulpar dura, em mdia, 12 minutos (Montan et al.,

    2007). A lidocana 2% associada epinefrina 1:50:000, por no possuir vantagens

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    clnicas sobre a formulao 1:100.000 e ainda aumentar o risco de problemas

    cardiovasculares, tem sido pouco utilizada nos ltimos anos.

    A lidocana 2% associada epinefrina 1:100:000 apresenta durao de ao

    de aproximadamente 60 minutos na anestesia pulpar. Embora a lidocana seja

    considerada eficaz em circunstncias normais da clnica, ela foi, muitas vezes,

    identificada como ineficiente no alvio completo da sensao dolorosa em

    procedimentos mais invasivos (Dantas et al., 2008).

    Segundo Wali et al., (2010), a lidocana 2% com epinefrina 1:100.000

    plenamente eficaz para o uso na Odontologia, no sendo justificada a utilizaco da

    concentrao 3%. O risco de toxicidade da lidocana 3% no justifica o uso e

    venda do anestsico nessa concentrao (Maniglia-Ferreira et al., 2009).

    Wali et al. (2010) explicam que o aumento da concentrao de epinefrina na

    formulao da lidocana no resulta obrigatoriamente em maior eficincia na

    anestesia pulpar, quando comparada com a lidocana 2% 1:100.000.

    Aggarwal et al. (2012) compararam a infiltrao de diferentes doses (1,8ml e

    3,6ml) de lidocana 2% com epinefrina 1:200.000 em pacientes com pulpite

    irreversvel em molares inferiores por meio de teste eltrico aps 15 minutos da

    infiltrao. Os autores concluram que a dose de 3,6ml teve sucesso (ausncia dedor relatada pelo paciente) em 54% dos casos. O indice superior, alcanado no

    estudo, estaticamente significativo em comparao com a lidocana 2% com

    epinefrina 1:200.000 na dose de 1,8ml.

    Para potencializar a ao anestsica da lidocana, alguns estudos tem

    procurado associar outras substncias ao sal anestsico. Tempestini et al. (2008)

    testaram o aumento da durao anestsica no bloqueio do NAI acrescentando

    hialuronidase ao sal anestsico. Kreimer et al. (2012) compararam a eficciaanestsica da formulao de 63,6mg de lidocana com 31,8g de epinefrina

    (totalizando (3,18ml), e 63,9mg de lidocana associado com 31,8g de epinefrina e

    1,82ml de 0,5mol/l de manitol (totalizando 5,0ml) em pacientes com pulpite

    irreversivel em molares mandibulares. A associao da lidocana e epinefrina com o

    manitol foi estatisticamente superior lidocana com epinefrina.

    No homem, os efeitos colaterais da administrao intravenosa de lidocana,

    geralmente so leves e representados por sonolncia e parestesia perioral, alm de

    nusea e gosto metlico. Doses maiores administradas em altas velocidades podem

    causar efeitos colaterais como zumbido, moleza e agitao, e, os primeiros sinais de

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    intoxicao so o prolongamento dos intervalos PR e QRS (traado

    eletrocardiogrfico), bradicardia e arritmia (Sakata, 2001).

    2.4 MEPIVACANA

    A mepivacana, pertencente ao grupo das amidas, se caracteriza por ser

    metabolizada no fgado e ter seus produtos finais excretados, principalmente, pelos

    rins, onde cerca de 1% a 16% da dose aplicada so excretadas sem sofrer alterao

    (Potonik, 2006). Ela apresenta potncia e toxicidade duas vezes maior que alidocana, tendo o seu incio de ao por volta de 1 minuto e meio a 2 minutos. A

    dose mxima de 6,6 mg/kg, no devendo ultrapassar 400mg ou 11 tubetes

    anestsicos com concentrao de 2%. Uma de suas vantagens um tempo maior

    de anestesia, quando comparada a outras bases anestsicas no associadas a

    vasoconstritores (Ponzoni et al., 2003; Maniglia-Ferreira et al., 2009).

    A mepivacana possui um lugar importante na anestesia odontolgica por

    apresentar propriedades mnimas de vasodilatao, podendo assim proporcionar

    anestesia local profunda sem estar associada a qualquer vasoconstritor. No entanto,

    a mepivacana sem vasoconstritor relacionada a uma durao curta de anestesia

    de tecido mole. Por esse motivo, pode ser encontrada a 2% associada com

    norepinefrina 1:100.000 um vasoconstritor que apresenta 25% da potncia da

    epinefrina, alm de ser mais estvel em soluo e requerer menos conservantes

    sendo tambm disponibilizada na concentrao de 3% sem vasoconstritor (Steffens

    et al., 2009).In vitro, quando o pH da soluo tem o mesmo valor do pKado anestsico

    local, ocorre a dissociao de 50% da droga (cloridrato) na forma catinica e 50% na

    forma de base livre. O pKa da lidocana 7,9, j o da mepivacana o mais baixo de

    todos os anestsicos, 7,6. Isso possibilita que sua ao seja a mais eficaz, in vivo,

    em tecidos inflamados, pois existir maior quantidade de base livre, isto a forma

    lipossolvel que atravessa com facilidade a membrana nervosa, provocando o

    bloqueio dos impulsos nervosos e, consequentemente, da sensibilidade dolorosa(Meechan et al., 2006).

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    A durao da anestesia pulpar com mepivacana sem vasoconstritor menor

    do que a da lidocana 2% com epinefrina, apesar da anestesia de tecido mole das

    duas solues mostrar comportamento idntico (Dantas et al., 2008). importante

    enfatizar que a mepivacana sem vasoconstritor fornece uma boa anestesia, de 20 a

    40 minutos, enquanto a lidocana sem vasoconstritor produz esse efeito por apenas

    5 minutos (Maniglia-Ferreira et al., 2009). A mepivacana sem vasoconstritor

    recomendada por Reisman et al. (1997) para pacientes que possuem queixas

    pregressas de palpitao do corao em anestesias dentrias com lidocana

    associada a frmacos simpatomimticos.

    Estudos investigando a durao da anestesia de lidocana 2% com epinefrina

    1:100.000 e mepivacana 2% com fenilefrina 1:200.000, um vasoconstritor de aosemelhante norepinefrina, demonstraram uma durao de 1,5 a 3 horas para os

    dois anestsicos (Brown; Rhodus, 2008). Para infiltrao maxilar, a anestesia de

    tecido mole de 170 minutos para a lidocana e de 130 minutos para a mepivacana,

    enquanto a durao da anestesia pulpar de 60 e 50 minutos, respectivamente

    (Andrade, 2002). Para o bloqueio de nervo alveolar inferior, a anestesia de tecido

    mole tem durao de 190 minutos para a lidocana e 185 minutos para a

    mepivacana, enquanto a anestesia pulpar pode durar 85 e 75 minutos,respectivamente (Carneiro et al., 2005).

    Steffens et al. (2009) constataram em seus estudos no qual foram

    realizadas 12 cirurgias periodontais comparando a lidocana 2% com epinefrina

    1:100.000 e a mepivacana 2% com felipressina 1:100.000 um maior potencial

    analgsico da mepivacana, observado pelo controle da dor nas trs primeiras horas

    aps o procedimento. Apesar de a analgesia ter se mostrado superior para o grupo

    mepivacana nas trs primeiras horas ps-operatrias, a avaliao global dasmedicaes de suporte ingeridas no demonstrou diferena significativa.

    2.5 ARTICANA

    Descoberto em 1969, o cloridrato de articana originalmente conhecido

    como cloridrato de carticana e posteriormente, em 1976, chamado de cloridrato de

    articana possui propriedades similares lidocana, mas algumas propriedades

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    adicionais a tornam atrativa para o uso odontolgico (Malamed et al., 2002; Potocnik

    et al., 2006).

    O cloridrato de articana difere dos demais anestsicos do tipo amida por

    duas caractersticas que lhe so peculiares: primeiro, o fato de possuir um anel

    tiofeno ao invs de um anel benzeno na poro lipoflica, o que seria responsvel

    por conferir-lhe maior lipossolubilidade (Oertel et al., 1997); e, segundo, por possuir

    uma cadeia radical ster, que permite sua biotransformao no plasma sanguneo

    atravs da ao dos plasma esterases, bem como no fgado, pelas enzimas

    microssomais hepticas, o que provocaria uma hidrlise relativamente mais rpida,

    ajudando a diminuir a toxicidade sistmica associada sada lenta da droga do local

    de injeo (Yagiela et al., 1998).O mecanismo do bloqueio reversvel da conduo do impulso nervoso pela

    articana semelhante a todos os anestsicos do grupo amida (Oertel et al., 1997).

    A articana, como j comentado, o nico entre todos que contm o anel de tiofeno.

    Essa caracterstica fornece base anestsica uma grande lipossolubilidade, que

    aumenta o seu potencial de difuso tecidual, permitindo que a concentrao

    intraneural do anestsico seja rapidamente alcanada, assim como o efeito de

    bloqueio do impulso nervoso.Potocnik et al. (2006), em estudo experimental com ratos, concluram que a

    articana 2% mais eficiente no bloqueio das fibras A isoladas de ratos, quando

    comparado com os anestsicos lidocana (2% e 4%) e mepivacana (3%). Ainda que

    a articana (4%) seja mais efetiva, os autores sugerem a substituio do uso da

    concentrao da articana 4% pela soluo 2%, em virtude do risco de injeo

    intravenosa e de parestesias.

    Borchard e Drouin (1980) descrevem que a articana (que um derivadotiofeno) tem o tempo de bloqueio anestsico maior quando comparado com outros

    anestsicos do grupo amida (todos derivados do benzeno). No entanto Hintze

    (2006), comparando a articana a 2% e a 4%, observou que a concentrao de 4%

    teve uma durao do bloqueio maior, porm no teve sua eficcia clnica

    aumentada. Isso mostra, segundo os autores, que o anel de tiofeno o responsvel

    pela maior difuso do anestsico dentro dos tecidos (Oertel et al., 1997; Isen, 2000).

    O pH da soluo de articana de 4,4 a 5,2, quando associada soluo de

    1:100.000 de adrenalina. A constante de dissociao (pKa) da articana de 7,8

    (Aggarwal et al., 2011), sendo comparvel da lidocana (7,9). O valor do pK a est

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    relacionado velocidade do incio de ao dos anestsicos locais, formao das

    bases livres, que para a articana, em funo das suas caractersticas qumicas,

    favorvel (Lemay et al., 1984).

    A dose mxima de articana 4% recomendada para adultos de 7mg/kg de

    peso corporal. Sendo assim, em um indviduo adulto com 70kg poder ser

    administrado at 7 tubetes contendo 1,8ml da soluo de articana cada um (Lemay

    et al., 1984).

    No que diz respeito segurana, Malamed (2001) relataram a boa aceitao

    da articana em 882 pacientes. O que os levaram a inferir que a articana com

    epinefrina 1:100.000 segura para anestesia local em Odontologia, podendo ser

    usada tanto em adultos quanto em crianas, e que sua toxicidade comparada dalidocana.

    Dagher et al. (1997), Nusstein et al. (2002) e Mikesell et al. (2005) mostram

    que em estudos que utilizam o Pulp Tester, leitura 80, a anestesia plena foi

    alcanada aps 15-16 minutos da infiltrao de articana e de lidocana. McLean et

    al. (1993), Yonchak et al. (2001) e Aggarwal et al. (2012) descrevem que o pico do

    efeito anestsico nos primeiros molares inferiores ocorre entre 16 e 20 minutos aps

    a infiltrao. J Volpato et al. (2005) acreditam que o tempo de anestesia plena estvinculado ao pH do anestsico utilizado. Os autores interpretam que por a

    bupivacana possuir um pH mais baixo, o profissional deve aguardar 16 minutos

    para iniciar o procedimento clnico. Porm, em outros anestsicos adotados na

    Odontologia, o tempo pode ser inferior a 16 minutos. Malamed et al. (2002), Corbett

    et al. (2008) e Kanna et al. (2012) o pico de eficincia anestsica ocorre aps 10

    minutos da aplicao.

    Ao investigar neuropatias induzidas por anestsicos locais, Haas e Lennon(1995) explicaram que a presena de neuropatias associadas articana e

    prilocana aponta sensao dolorosa, aproximadamente, cinco vezes mais intensa

    do que a encontrada com lidocana e mepivacana. Entretanto, a incidncia dessa

    leso foi de somente 14 casos em 11 milhes de injees. Outra desvantagem

    apontada por Claffey et al. (2004) que, assim como a prilocana, a articana pode

    causar metahemoglobinemia.

    Quanto ao efeito anestsico local, a articana no tem mostrado efeito

    estatisticamente superior lidocana na anestesia mandibular (Tfoli et al., 2003;

    Claffey et al., 2004; Mikesell et al., 2005; Rebolledo et al., 2007; Tortamano et al.,

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    2009; Meechan, 2011). Oliveira et al. (2004) revelaram que a artcana e a lidocana

    foram equivalentes na maxila. Costa et al. (2005) e Kanaa et al. (2006), por sua vez,

    mostraram uma anestesia mais profunda quando utilizada a articana. Kanaa et al.

    (2006) descrevem que apesar de a articana e a lidocana no diferirem

    significativamente quanto eficcia da anestesia pulpar, a primeira fornece uma

    maior durao anestsica.

    No estudo de Evans et al. (2008), no qual feita a comparao da lidocana e

    da articana em anestesias maxilares, observou-se diferena significativa no efeito

    anestsico da articana sobre a lidocana em incisivos lateriais superiores. Para

    esses autores, tal resultado se deve estrutura qumica da articana, que favorece

    uma maior difuso da base anestsica na maxila. Vale dizer que esse quadro clnicono se repetiu quando a comparao utilizou o primeiro molar superior como dente

    estudado. Nenhuma, dentre as duas solues anestsicas, provoca durao da

    anestesia superior a 60 minutos.

    Argueta-Figueroa et al. (2012) concluram que a eficcia anestsica da

    articana em pulpite irreversvel aumenta quando o paciente tiver sido medicado com

    anti-inflamatrios no esteroidais.

    Santos et al. (2007) descreveram que a concentrao de epinefrina (100.000ou 200.000) na articana 4% no influencia na eficincia clnica dos seguintes

    parmetros: latncia, analgesia ps-operatria e qualidade da anestesia. Moore et

    al. (2007) indicaram a concentrao de 1:100.000 para pacientes normorreativos,

    pois essa concentrao possibilita melhor visualizao e controle do sangramento

    no transoperatrio. No entanto, Maniglia-Ferreira et al. (2009) aclamaram que mais

    importante que a base anestsica a tcnica anestsica empregrada corretamente.

    Em suas publicaes, Pogrel (2007) aponta a grande incidncia de parestesiaaps o uso de articana. E, ainda que as razes sejam desconhecidas, o autor

    sugere que o motivo para a maior incidncia de parestesia pela articana seja a

    concentrao do anestsico. Quando comparada com outras bases anestsicas, a

    articana tem a maior concentrao, no caso 4%. No seu estudo, por incrvel que

    parea, 29,8% dos pacientes evoluram para algum tipo de dano neural, aps a

    aplicao de articana.

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    2.6 FISIOPATOLOGIA PULPAR

    O conhecimento da fisiologia da dor e os mtodos de interpret-la so

    essenciais para se alcanar o diagnstico clnico correto e propor a teraputica mais

    adequada (Lopes, Siqueira, 2010).

    O profissional deve se ater inicialmente as questes bsicas da dor, como:

    tipo, durao, frequncia, fatores que a agravam, efeitos dos analgsicos no

    combate da dor e resposta quando a dor estimulada (Lopes; Siqueira, 2010).

    A intensidade, localizao e qualidade da dor se diferenciam, dependendo do

    tipo de estmulo, assim como do tipo de fibras excitadas no processo de injria (Abd-Elmeguid; Yu, 2009).

    O suprimento nervoso, abundante na polpa, segue a distribuio dos vasos

    sanguneos. uma distribuio vasculonervosa. A inervao sensitiva e

    autnoma, isto , no importa o fator estimulante, a resposta sempre do tipo

    doloroso. A polpa (complexo dentino-pulpar) constitui-se na principal fonte de dor

    das estruturas bucais. H um feixe principal de fibras que penetra pelo forame

    apical, formando o plexo de Mummery, depois estas fibras se abrem logo abaixo dosodontoblastos, formando o plexo subodontoblstico ou plexo de Raschkow (Rossitti,

    1995; Vongsavan; Matthews, 2007).

    A maioria dos nervos acompanham as artrias at a cmara pulpar, onde se

    ramificam. Algumas fibras nervosas perdem a bainha de mielina e admite-se que

    elas penetrem em alguns tbulos dentinrios, seguindo, por curta distncia, o trajeto

    das fibras de Tomes. Portanto, a polpa apresenta fibras mielnicas e amielnicas.

    (Lacerda et al., 1998; Bender, 2000).A polpa capaz de transmitir informaes de seus receptores sensitivos para

    o sistema nervoso central (SNC) (Abd-Elmeguid; Yu, 2009). No importa a natureza

    dos estmulos (alteraes trmicas, deformao mecnica, leses aos tecidos),

    todos os impulsos aferentes da polpa provocam a sensao dolorosa. A inervao

    da polpa inclui fibras aferentes que conduzem impulsos sensitivos como fibras do

    sistema nervoso autnomo, que regulam a microcirculao e talvez regulem tambm

    a produo da dentina (dentinognese) (Ribeiro et al., 1995; Lindsuwanont et al.,

    2008).

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    A caracterstica chave de todos os nervos dentrios que eles tm uma

    membrana especfica de receptores qumicos que se comunicam com as clulas

    circunvizinhas. Os dados estruturais e imuno-histoqumicos mostram uma ntima

    relao entre as fibras nervosas com odontoblastos, fibroblastos, vasos sanguneos

    e clulas do sistema imunolgico (Cohen; Hargreaves, 2006; Abd-Elmeguid; Yu,

    2009).

    Os estmulos que so capazes de lesar o complexo dentino pulpar foram

    classificados em quatro diferentes tipos. No tipo I ocorrem leses que levam a danos

    menores. Nesse nvel h mudanas na polpa e danos na dentina que podem ser

    facilmente reparados por odontoblastos. No h invaso de leuccitos, pois a

    reparao fica a cargo de fibroblastos ou odontoblastos. Esse tipo de leso ocorrequando temos um preparo dentrio e traumas oclusais. No tipo II ocorrem leses

    mais extensas de dentina com alguma perda de tecido pulpar e inflamao focal.

    Existe a invaso de leuccitos e uma resposta vascular, porm a polpa pode se

    reparar por meio de dentina reparadora. Durante a reparao existe uma grande

    produo de neuropeptdeos, dentre eles a substncia P (Bowles et al., 2003).

    Alguns exemplos de leses desse tipo so: exposio pulpar pequena, estmulo de

    calor por muito tempo e de alta intensidade. Quando a injria atinge o nvel III, h umdano pulpar ou presena de infeco na qual a reparao impossvel (pulpite

    irreversvel). No tipo IV, existe o envolvimento de tecidos perirradiculares que

    afetam osso e ligamento periodontal (Cohen; Hargreaves, 2006).

    Os neuropeptdeos so neurotransmissores ou neuromodulares peptdicos

    que esto intimamente ligados regulao do fluxo sanguneo e extravasamento de

    plasma pulpar (Bowles et al., 2003). Esses neuropeptdeos possuem mltiplas

    funes, sendo as principais: neurotransmissor, fator de crescimento e molculassinalizadoras do sistema imune (Aggarwal et al., 2010).

    Um dos neuropeptdeos mais estudados a substncia P, que tem como

    papel a manuteno da homeostase do tecido e regulao do fluxo sanguneo.

    Porm, quando na presena de uma inflamao, a substncia P liberada

    provocando vasodilatao e aumento da permeabilidade celular. Alm de recrutar

    substncias de clulas imunolgicas, favorece a maior liberao de mediadores

    qumicos (Bucheli et al., 2009). A substncia P tambm possui um papel na

    cicatrizao e na reparao tecidual. Isso poder ser inibido dependendo da

    quantidade de vasoconstritor que for utilizado no anestsico. Sabe-se tambm que a

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    substncia P encontrada em maior quantidade em cries muito dolorosas e

    pulpites (Hersh et al., 2006).

    Outro neuropeptdeo encontrado na polpa dentria a CGRP-imunorreativa

    que participa efetivamente na regulao do fluxo sanguneo pulpar, pois aparece

    apenas em dentes maduros. Isso sugere que esse neuropeptdeo no participa da

    formao dentria.

    A substncia NPY tem o papel inverso, pois est localizada em vasos

    sanguneos na regio subodontoblstica e, quando liberada, possui como funo a

    constrio dos vasos sanguneos e a reduo da presso tecidual.

    O neuropeptdeo VIP tem como funo estimular a presena de clulas

    imunolgicas, como os linfcitos T, que esto muito presentes em lesesperirradiculares crnicas. Esse ltimo peptdeo tem pouca funo por estar mais

    ligado ao sistema nervoso autnomo diviso parassimptica, fato que no ocorre

    com os outros tipos (Aggarwal et al., 2010).

    Quanto aos tipos de fibras nervosas presentes na polpa dental, existem dois

    tipos principais de fibras sensitivas: as mielinizadas A e as no mielinizadas C.

    Noventa por cento das fibras A so do tipo A- , localizadas principalmente na

    poro coronal da polpa e concentradas nos cornos pulpares. As fibras C ficam

    localizadas na parte central da polpa e se estendem para a zona livre de clulas

    abaixo da camada odontoblstica (Abd-Elmeguid; Yu, 2009).

    As classificaes das fibras aferentes pulpares A e C apresentam diferentes

    velocidades de conduo do impulso nervoso. Essas duas classes correspondem s

    fibras mielinizadas e no mielinizadas encontradas dentro da polpa dental. O grupo

    da fibra A responde movimentao hidrodinmica do fluido dentro dos tbulos

    dentinrios, j as fibras do grupo C no (Cohen; Hargreaves, 2006). Quandoestimuladas, as fibras nervosas retransmitem os impulsos nervosos que chegam ao

    tlamo. No tlamo, os impulsos so integrados, processados, modulados e, em

    seguida so transmitidos para o crtex cerebral, quando, ento, os impulsos

    nervosos so interpretados como sensao dolorosa pelo indivduo. Em pequenas

    alteraes da polpa (discretas alteraes de pH e de temperatura), sem inflamaes,

    os nociceptores das fibras nervosas no so ativados. Porm, se existe a liberao

    de mediadores qumicos da inflamao (prostaglandinas, quininas, entre outros),esses mediadores podem reduzir o limiar de excitabilidade desses receptores ao

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    ponto que o mnimo estmulo ser fator predisponente para originar a sensao

    dolorosa. A frequente ativao das fibras A e C levam liberao de substncia P,

    que age nos receptores do sistema nervoso central (SNC) provocando a

    sensibilizao central para a sensao dolorosa (Aggarwal et al., 2010).

    Para melhor ilustrar as fibras nervosas que conduzem os impulsos nervosos

    de diferentes sensaes, apresentamos em seguida o quadro criado por Bender

    (2000) que descreve, entre outras, as caractersticas das fibras contidas no rgo

    dental.

    Quadro 2.1Caractersticas das fibras nervosas em rgos dentrios

    Vale a pena comentar que a velocidade de conduo da fibra nervosa

    regida pelo seu dimetro. As diferentes caractersticas de dor, como os choques

    produzidos pelo teste eltrico na polpa, acontecem em virtude da estimulao das

    fibras A-delta, salientando que a dor que queima contnua e inespecfica

    resultado da estimulao da fibra C (Bender, 2000).

    As fibras A e C transmitem sinais de dor por diferentes rotas at chegar ao

    tlamo. As fibras C transmitem os impulsos para uma dada regio do tlamo. Esse

    impulso retransmitido para a formao reticular e para o crtex cerebral. Osimpulsos das fibras A terminam principalmente na regio basal do tlamo e so

    Tipo de fibra FunoDimetro

    ( m)

    Conduo

    (m/s)

    A Motora/Propriocepo 12-20 70-120

    A Presso/tato 5-12 30-70

    A Motora/musculatura 3-6 15-30

    A- Dor/Temperatura/Tato 1-5 6-30

    B Autonmica pr-ganglionar

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    retransmitidos para o crtex, rea que permite a identificao e determinao do tipo

    de dor (Bender, 2000).

    Ainda esclarecendo, as fibras A- como mostra o quadro, possuem um

    dimetro menor e, portanto, conduzem o impulso nervoso para o SNC de forma mais

    lenta, se comparadas com os outros tipos de fibras nervosas do grupo A. Mesmo

    assim, a velocidade de conduo ainda maior do que a fibra nervosa do grupo C.

    As fibras A geram uma dor rpida e aguda cujo local geralmente identificado pelo

    paciente. As fibras do grupo C provocam dor lenta que caracterizada pela

    cronicidade, dor contnua e que queima (Vongsavan; Matthews, 2007).

    Interessante elucidar que as fibras A respondem a vrios estmulos como

    sondagem, perfurao e solues hipertnicas. O calor e o frio podem causar

    movimentos dos fluidos dentinrios. Isso ocorre porque a mudana brusca de

    temperatura causa a movimentao repentina do fluido dentinrio, deformando a

    membrana celular das terminaes nervosas (fibrilas de Thomes). J a mudana

    gradual de temperatura leva a estmulos das fibras do grupo C (Cohen; Hargreaves,

    2006).

    Normalmente os impulsos dolorosos do rgo dental so conduzidos pelas

    fibras A- e C. Para Potocnik et al. (2006), o maior potencial de ao anestsica

    est sobre as fibras A , responsveis pela sensao tctil e de presso. As fibras

    nervosas A no esto presentes no rgo dental (Abd-Elmeguid; Yu, 2009).

    Vale ressaltar que, em dores de origem pulpar, as fibras A e C conduzem as

    futuras sensaes dolorosas com caractersticas diferentes. Isso explica os

    diferentes graus de dores nas pulpites (Abd-Elmeguid; Yu, 2009).

    As cavidades profundas sensibilizam os nervos dentrios. Essa sensibilizao mediada por prostaglandinas. A serotonina sensibiliza as fibras A, enquanto a

    histamina e a bradicinina ativam as fibras C da polpa. A resposta das fibras A e C

    para os diferentes mediadores inflamatrios regulada pelo fluxo sanguneo da

    polpa (Vongsavan; Matthews, 2007).

    A posio das fibras C, mais central, poderia explicar, segundo os autores, a

    dor difusa de difcil localizao pelo paciente, pois essas fibras possuem menor

    excitabilidade do que as fibras A. Por esse motivo, as fibras C precisam de um

    estmulo intenso para serem ativadas. As fibras C, inclusive, podem sobreviver em

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    situaes de hipxia, diferentemente das fibras A. Isso pode explicar a dor relatada

    por pacientes em dentes com polpa parcialmente morta (Cohen; Hargreaves, 2006).

    As fibras C, de localizao no centro da polpa, respondem principalmente a

    dois medidores inflamatrios, a histamina e a bradicinina, o que indica que esse tipo

    de fibra pode ser evidentemente ativado nas reaes inflamatrias na polpa.

    Acredita-se que a dor da pulpite irreversvel seja causada, principalmente, pelas

    fibras C, devido a sua resistncia hipxia e a sua sensibilidade capsaicina

    (nocicepctor seletivo).

    Mudanas funcionais e morfolgicas nas terminaes nervosas da polpa

    levam o organismo a adotar mecanismos de defesa. Dentre as aes de defesa

    esto a secreo de opioides endgenos, noradrenalina, somatostatina, emediadores qumicos especficos em resposta s toxinas excretadas pelos micro-

    organismos da crie (Aggarwal et al., 2010).

    A injria ao tecido e a resposta inflamatria podem sensibilizar certos

    neurnios da polpa. A inflamao pulpar est associada reduo do limiar a

    estmulos externos. Essas mudanas so esperadas em virtude da sntese e

    liberao de mediadores inflamatrios, que ativam os nervos pulpares e os

    sensibilizam a estmulos externos (Cohen; Hargreaves, 2006).Existe uma correlao entre os sintomas clnicos da dor e o estado

    histopatolgico da polpa. Isso no supreendente, pois a hiperalgesia um evento

    mediado por mecanismos centrais e perifricos (Lindsuwanont et al., 2008)

    A ativao de um pequeno nmero de fibras aferentes necessria para

    provocar sensaes de dor. Essa constatao clinicamente importante porque

    sugere que os testes pulpares podem produzir resultados falso-positivos, mesmo

    quando o dente possui extensa leso necrtica. Isso pode explicar respostaspositivas em dentes com leses radiolcidas perirradiculares (Cohen; Hargreaves,

    2006).

    Dentro de um aspecto geral importante esclarecer que a supresso

    adicional das fibras A - pela articana pode no levar a uma melhor anestesia em

    tecidos em condies normais. Esta claro que a inflamao tecidual induz os tecidos

    lesados a provocar mudanas nos nociceptores que se tornam hipersensveis

    (Djouhri; Lawson, 2001; Lindsuwanont et al., 2008), incluindo mudanas no fenotipoqumico das fibras A (Woolf; Costigan, 1999), que normalmente no so

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    responsveis pela sensao dolorosa. Essas mudanas incluem aquisies de

    caractersticas neuroqumicas tpicas das fibras C, aumento da hipersensibilidade

    estimulada das fibras A. Portanto, para que a anestesia seja alcanada plenamente,

    mais importante que haja dessensibilizao da fibra tipo C do que os outros tipos

    de fibras nervosas dentrias (Vongsavan; Matthews, 2007).

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    3 OBJETIVOS

    3.1 Comparar a eficcia anestsica da articana 4%, da mepivacana 2% e da

    lidocana 2%, todas associadas com epinefrina 1:100.000, no bloqueio convencional

    do Nervo Alveolar Inferior em pacientes com pulpite irreversvel em molares

    mandibulares.

    3.2 Comparar a eficcia anestsica da articana 4%, da mepivacana 2% e da

    lidocana 2%, todas associadas com epinefrina 1:100.000, na injeo do ligamento

    periodontal (anestesia complementar) em pacientes com pulpite irreversvel emmolares mandibulares, quando a primeira tcnica para bloqueio do NAI tiver

    insucesso.

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    4 MATERIAL E MTODO

    4.1 MATERIAL

    4.1.1 Material humano (Casustica)

    Critrios de Incluso

    Foram selecionados 66 pacientes do Setor de Urgncia da Faculdade deOdontologia da Universidade de So Paulo com pulpite irreversvel, que possuam

    as seguintes caractersticas:

    - Saudveis, conforme determina o questionrio de histrico de sade (anamnese)

    e a confirmao verbal ;

    - Normorreativos, com presso arterial sistlica abaixo de 140mmHg e diastlica

    abaixo de 90mmHg;

    - Frequncia cardaca entre 70-/+ 20 batimentos/minuto;- Idade entre 18 a 50 anos de ambos os gneros;

    - Apresentavam necessidade de pulpectomia em pelo menos um dente molar

    mandibular (primeiro ou segundo molar);

    - Apresentavam pelo menos um dente adjacente e um canino contralateral hgidos

    ou sem presena de cries profundas, restauraes extensas, doena periodontal

    avanada e sem histria de trauma ou sensibilidade.

    Critrios de Excluso

    - Pacientes com histrico de sensibilidade aos anestsicos locais e o enxofre;

    - Grvidas ou com suspeita de gravidez;

    - Aqueles que estivessem tomando medicaes que pudessem interagir com o

    anestsico local e com o Sistema Nervoso Central, tais como, ansiolticos,

    antidepressivos, antipsicticos, -bloqueadores e agentes anti-histamnicos;

    - Pacientes com processo sptico ou inflamao gengival prximo ao local da

    injeo;

    - Os que estivessem sob tratamento ortodntico;

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    - Portadores de cardiopatias, doena neurolgica, hipertiroidismo e diabetes;

    - Usurios de drogas.

    Sobre os dentes em que foram realizados a pulpectomia

    - Dentes mandibulares posteriores, primeiro e segundo molares, com diagnstico

    de pulpite irreversvel, ou seja, com dor espontnea, de moderada a severa, e

    com resposta positiva ao teste eltrico da polpa e uma resposta prolongada

    prova de gelo (Endo-FrostConteneRoeko, Germany).

    Sobre os dentes submetidos ao teste eltrico- O dente mandibular posterior, primeiro e segundo molares, com diagnstico de

    pulpite irreversvel e sem doena periodontal preexistente, um dente adjacente e

    o canino contralateral hgidos ou sem presena de cries profundas, restauraes

    extensas, doena periodontal avanada e sem histria de trauma ou

    sensibilidade. Os dentes foram isolados com roletes de algodo, secos com jatos

    de ar e aplicado o gel condutor de eletrocardiograma e ultrassonografia ao nvel

    mdio da coroa para estabelecer contato entre o dente e a ponta ativa doaparelho;

    - O dente canino foi utilizado como dente controle para assegurar que o aparelho

    estava operando corretamente e tambm para verificar se o paciente respondia

    adequadamente ao estmulo eltrico.

    4.1.2 Material permanente

    Infraestrutura

    - Consultrios localizados no Setor de Urgncia da Faculdade de Odontologia da

    Universidade de So Paulo.

    Equipamento para a realizao dos testes eltricos da polpa dos respectivos

    dentes

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    - Aparelho estimulador pulpar eltrico Vitality Scanner 2006, SybronEndo, CA,

    USA.

    Instrumental clnico

    Instrumental para exame clnico

    - Espelho clnico, explorador duplo de ponta ativa reta, pina clnica

    Instrumental para anestesia local

    Anestesia para Bloqueio do Nervo Alveolar Inferior

    - Seringa Carpule com carga lateral e dispositivo para aspirao com argola

    Konnen (Kennene Industria e Comrcio Ltda, So Paulo, Brasil).Anestesia Complementar no Ligamento Periodontal

    - Seringa Carpule com retrocarga (Health Co, USA)

    Instrumental para realizao da pulpectomia

    - Instrumentos rotatrios com irrigao (alta rotao), ponta diamantada esfrica

    da KG Sorensen 1019 ou 1016 HL, limas de endodontia tipo Kerr e/ou tipo

    Hedstroem, esptula para insero do material restaurador provisrio, cnula de

    endodontia para aspirao, seringa luer para irrigao, curetas de dentina.

    4.1.3 Material de consumo

    Para o procedimento de pulpectomia

    - Algodo, cimento de xido de zinco e eugenol, hipoclorito de sdio a 0,5% (lquidode Dakin), medicao intracanal PRP (paramonoclorofenol 2%, rinosoro-

    polietilenoglicol 400-qsp 98% - Frmula e Ao).

    Para anestesia local

    - Agulha longa de calibre 27 e agulha curta de calibre 30 (Teruno Dental Needle-

    DFL, Indstria e comrcio Ltda);

    - Cloridrato de articana 4% associado a epinefrina 1:100.000 (Articaine100; DFL,

    Indstria e comrcio Ltda);

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    - Cloridrato de lidocana 2% associado a epinefrina 1:100.000 (Alphacaine 100

    DFL, Indstria e comrcio Ltda);

    - Cloridrato de mepivacana 2% com epinefrina 1:100.000 (Mepiadre 100; DFL,

    Indstria e comrcio Ltda);

    - Gel tpicoBenzocana200mg/g-20% (DFL, Indstria e comrcio Ltda).

    Para estabelecer conduo eletrnica entre o dente e a polpa do Pulp Tester

    testador pulpar digital

    - Gel condutor de eletrocardiograma e ultrassonogafia (MedSystem).

    Para a realizao do teste de vitalidade pulpar com a finalidade do diagnsticode pulpite irreversvel

    - Endo-Frost200ml ( -50C) (Contene-Roeko- Germany).

    Para exame radiogrfico quando necessrio

    - Filme radiogrfico (periapical), tipo Ektaspeed (Kodak).

    4.2 MTODOS

    Estudo clnico randomizado, duplo cego aprovado pelo Comit de tica da

    Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, por meio do Parecer de

    Aprovao FR 341331 (Protocolo: 112-2010) (ANEXO A).

    A amostragem foi dividida em trs grupos (cada um com 22 pacientes) e doissubgrupos de acordo com o anestsico local e a tcnica anestsica empregada. A

    existncia dos subgrupos ficou na dependncia do insucesso do primeiro grupo, ou

    seja, da primeira tcnica anestsica empregada:

    Grupo A

    Subgrupo A1

    A1- Injeo para o bloqueio do nervo alveolar inferior com cloridrato de articana 4%

    com epinefrina 1:100.000 (n=22).

    Subgrupo A2

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    A2 - Injeo complementar no ligamento periodontal com cloridrato de articana 4%

    com epinefrina 1:200.000.

    Grupo B

    B1 - Injeo para o bloqueio do nervo alveolar inferior com cloridrato de lidocana

    2% com epinefrina 1:100.000 (n=22).

    Subgrupo B2

    B2 - Injeo complementar no ligamento periodontal com cloridrato de lidocana 2%

    com epinefrina 1:100.000.

    Grupo C

    Subgrupo C1C1- Injeo para o bloqueio do nervo alveolar inferior com cloridrato de mepivacana

    2% com epinefrina 1:100.000 (n=22).

    Subgrupo C2

    C2Injeo complementar no ligamento periodontal com cloridrato de articana 4%

    com epinefrina 1:200.000.

    4.2.1 Variveis estudadas

    - Sinal subjetivo de anestesia do lbio, presena de anestesia pulpar e ausncia de

    dor aps o bloqueio convencional do NAI durante os procedimentos de

    pulpectomia;

    - Presena da anestesia pulpar e ausncia de dor aps a infiltrao complementar

    no ligamento periodontal, nos casos de falha do bloqueio convencional do NAI.

    4.2.2 Obteno e registro dos testes de vitalidade pulpar

    Os testes de vitalidade pulpar foram realizados no dente portador de pulpite

    irreversvel, no dente adjacente e no contralateral por meio do estimulador pulpar

    eltrico (Vitality Scanner 2006, SybronEndo, CA, USA). O monitor de vitalidade

    pulpar foi ativado automaticamente assim que foi estabelecido o contato entre o

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    dente e a ponta da sonda. Para facilitar a conduo eletrnica foi aplicado gel

    condutor, utilizado em eletrocardiografia e ultrassonografia (MedSystem) entre a

    parte mdia do dente e a ponta da sonda. A percepo do estmulo pelo paciente

    manifestou-se por uma presso pulstil, morna ou formigante. A velocidade de

    corrente foi estabelecida em 25 segundos para aumentar desde a potncia nula (0)

    at a potncia mxima (leitura 80), o que foi sinalizado pela luz indicadora da sonda

    quando alcanada a potncia mxima. O critrio adaptado para anestesia pulpar

    bem-sucedida foi a resposta negativa ao estmulo mximo da polpa (leitura 80) por

    duas vezes consecutivas. Os testes foram realizados sempre por duas vezes

    consecutivas nos seguintes perodos:

    - imediatamente antes da primeira anestesia para o bloqueio convencional donervo alveolar inferior. Nesse momento obteve-se os valores mdios de base da

    sensibilidade de cada dente envolvido na pesquisa;

    - aps 10 minutos do bloqueio convencional do NAI. Quando o paciente foi

    questionado se existia o entorpecimento do lbio, sinal clnico subjetivo utilizado

    como referncia da possvel anestesia pulpar, e antes do incio dos procedimentos

    de pulpectomia;

    - imediatamente depois de concluda a anestesia complementar no ligamentoperiodontal, caso fosse necessrio.

    4.2.3 Obteno e registro da anestesia do lbio

    Dez minutos aps as duas injees consecutivas para o bloqueio do NAI aanestesia do lbio foi monitorada fazendo-se a pergunta: Seu lbio est

    anestesiado? ou Seu lbio est entorpecido?.

    4.2.4 Obteno e registro da dor durante o procedimento de pulpectomia

    Foi utilizada uma escala analgica verbal numerada de 0 a 3 para registrar a

    intensidade da dor relatada e a proporo do acesso alcanado (dentina, entrada da

    cmara pulpar ou no canal) quando o paciente sentisse dor (Nemeth et al., 2003;

    Roserberg et al., 2007; Tortamano et al., 2009; Sampaio et al., 2012).

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    Escala numrica para avaliao da dor:

    0 1 2 3

    Ausncia Dor fraca / Moderada/ Severa intensa

    de dor no desconfortvel desconfortvel intolervel

    4.2.5 Dinmica da experincia

    Os pacientes que procuraram o Setor de Urgncia da Faculdade de

    Odontologia da Universidade de So Paulo, por motivo de dor de dente, foram

    submetidos anamnese com detalhes sobre sua histria mdica e dental (ANEXO

    B).

    Aps a concluso de diagnstico clnico de pulpite irreversvel, ou seja,

    presena de dor espontnea, de moderada a severa, ausncia de leso radiogrfica;

    resposta prolongada prova de gelo (Endo-Frost) em um dente posterior inferior da

    mandbula (primeiro ou segundo molares); existncia de um dente adjacente e umcanino contralateral hgidos ou sem presena de cries profundas, restauraes

    extensas, doena periodontal avanada e sem histria de trauma ou sensibilidade; o

    paciente foi questionado sobre sua participao e colaborao espontnea na

    pesquisa clnica. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelo

    paciente, deixando claro que sua participao era voluntria (ANEXO C).

    Os testes de vitalidade pulpar foram realizados por duas vezes consecutivas

    no dente com pulpite irreversvel, no seu adjacente e no canino contralateral antesda administrao da anestesia para se obter os valores mdios de sensibilidade de

    base dos rgos dentais envolvidos na pesquisa.

    Aps a aplicao de anestsico local tpico na regio retromolar, dois tubetes

    de anestsicos locais da mesma soluo foram injetados (3,6ml), um em seguida ao

    outro, para bloqueio do nervo alveolar inferior. A escolha da soluo anestsica foi

    aleatria e duplo-cego. O tempo mdio de injeo para cada tubete foi de

    aproximadamente 2 minutos.

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    Duas injees foram administradas com o objetivo de conseguir completa

    anestesia pulpar de dentes mandibulares posteriores (primeiro ou segundo molares)

    com pulpite irreversvel.

    Aps 10 minutos da aplicao das injees, os pacientes foram questionados

    sobre o entorpecimento profundo do lbio e, depois do relato de sua confirmao

    foram realizados testes eltricos de vitalidade pulpar por duas vezes consecutivas

    nos trs dentes mencionados anteriormente. O canino contralateral no anestesiado

    foi usado como controle apenas para assegurar que o pulp tester(verificador eltrico

    da polpa) funcionava corretamente. Duas respostas negativas dos pacientes

    potncia mxima do pulp tester (80 de leitura) foram usadas como critrio para

    identificar a possvel anestesia pulpar.Os pacientes foram instrudos a relatar qualquer desconforto durante o

    procedimento, fato que determinou a imediata paralisao. A intensidade de seu

    desconforto foi exposta por meio de uma escala analgica verbal numerada de 0 a

    3, em que zero significa nenhuma dor; 1, dor fraca, suave ( sentida, mas no

    desconfortvel); 2, dor moderada (desconfortvel, mas no insuportvel); e 3, severa

    (desconforto considervel e difcil de tolerar).

    A proporo do acesso alcanado no interior do rgo dental, quando opaciente sentiu dor, foi anotada como dentro da dentina, na entrada da cmara

    pulpar, ou no canal.

    Nos pacientes que sentiram dor, foram realizadas injees complementares

    no ligamento periodontal (intraligamentar-PDL). As injees foram administradas no

    sulco gengival, nas regies: mesio-vestibular, disto-vestibular, mesio-lingual, disto-

    vestibular e nas furcas vestibular e lingual dos dentes com pulpite irreversvel. A

    quantidade total de soluo injetada foi de 1,8ml para a superfcie vestibular e 1,8mlpara a superfcie lingual (aproximadamente 0,6ml para cada injeo). A agulha foi

    inserida no sulco gengival entre o dente e a crista ssea em um ngulo de 30 oem

    relao ao longo eixo do dente e com o bisel voltado para o osso alveolar. A agulha

    foi introduzida com presso firme at encontrar resistncia total, para ento ser

    depositada a soluo anestsica sob presso.

    Imediatamente aps a realizao da anestesia do ligamento periodontal os

    testes eltricos de vitalidade pulpar foram novamente realizados. Se a dor

    persistisse aps as injees complementares, estava prevista a injeo intrapulpar

    que possibilitaria a concluso da pulpectomia.

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    O sucesso do bloqueio do nervo alveolar inferior foi definido como a

    capacidade de acessar a cmara pulpar e realizar a pulpectomia sem que a dor

    fosse constatada pelo paciente (escala de 0 a 1). O sucesso da anestesia

    complementar do ligamento periodontal foi definido quando a pulpectomia foi

    completada sem dor (escala de 0 a 1).

    Fases da pesquisa

    Fase pr-clnica

    Quatro tubetes sempre da mesma soluo (dois para o bloqueio do nervoalveolar inferior e dois para a injeo complementar no ligamento periodontal, caso

    fosse necessria) foram guardados em envelopes (um envelope para cada

    paciente), e somente um profissional, no caso o cirurgio-dentista que auxiliou na

    pesquisa, teve acesso a esses dados. A escolha do envelope foi aleatria para o a

    utilizao nos pacientes.

    Fase de diagnsticoEsta fase compreendeu a anamnese, o exame clnico, a assinatura do

    consentimento livre e esclarecido e a obteno dos valores de sensibilidade de base

    dos testes eltricos de vitalidade pulpar dos trs dentes (um portador de pulpite

    irreversvel, um dente adjacente e o canino contralateral). Nesta fase tambm foi

    apresentada a Escala de dor numrica de 0 a 3 para que os pacientes se

    familiarizassem com a nomenclatura.

    Fase anestsica 1

    Foi realizada a aplicao tpica do anestsico local (Benzocana 20%) e as

    duas injees consecutivas para o bloqueio do nervo alveolar inferior. As injees

    foram administradas sempre pela mesma pesquisadora, Profa. Dra. Isabel Peixoto

    Tortamano, com uma velocidade de, aproximadamente, 0,9ml a cada 15 segundos.

    Aguardou-se 10 minutos, aps as injees, para se completar o entorpecimento do

    lbio e, na sequncia, aplicar os testes eltricos de vitalidade pulpar para a

    verificao da anestesia pulpar, e assim, dar-se incio ao procedimento de

    pulpectomia. Os testes de vitalidade pulpar e o procedimento da pulpectomia

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    sempre foram realizados pelo mesmo pesquisador, Prof. Carlos Eduardo Allegretti.

    Durante tal procedimento, mediante a qualquer relato de desconforto causado por

    dor superior a 1 pelo paciente a proporo do acesso alcanado foi anotada e o

    procedimento de pulpectomia interrompido, e dando-se incio a prxima fase.

    Fase anestsica 2

    Teve incio com as injees no ligamento periodontal, as quais foram

    administradas, como j descrito, no ngulo mesio-vestibular, disto-vestibular, mesio-

    lingual, disto-lingual e nas regies de furca vestibular e lingual do dente com pulpite

    irreversvel. Foi administrado, no total, o volume de 3,6ml (1,8ml nas superfcies

    vestibular e lingual). A pesquisadora que administrou a anestesia complementar noligamento periodontal, quando houve necessidade, foi o mesmo que aplicou a

    anestesia do bloqueio do NAI, Profa. Dra. Isabel Peixoto Tortamano. Os testes

    eltricos de vitalidade pulpar foram novamente realizados aps as injees do

    ligamento periodontal e a pulpectomia completada pelo mesmo pesquisador, Prof.

    Carlos Eduardo Allegretti. Quando a injeo do ligamento periodontal no foi efetiva

    para o procedimento da pulpectomia, a anesteisa intrapulpar foi utilizada. O intuito

    da utilizao de dois pesquisadores distintos foi para garantir o cegamento doestudo clnico.

    4.2.6 Tcnicas anestsicas

    Tcnica padro do bloqueio do nervo alveolar inferiorBaseada na tcnica anestsica indireta padro para pr-molares e molares

    inferiores utilizada pelo Setor de Urgncia da Faculdade de Odontologia da

    Universidade de So Paulo (FOUSP) e preconizada por Gregori e Santos (1996).

    Utilizou-se seringa carpule de aspirao e agulhas descartveis de calibre 27. Foram

    realizados testes de aspirao sangunea no incio de cada anestesia, bem como na

    mudana de posio da agulha. Com isso, depois da penetrao inicial da agulha,

    em uma profundidade de 3 a 5 mm, e do teste de aspirao, uma quantidade

    aproximada de 0,3ml foi administrada por um perodo aproximado de 15 segundos.

    Em seguida, a agulha foi retrocedida alguns milmetros e a carpule foi levada at a

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    posio oposta na regio dos pr-molares. A agulha foi, ento, avanada em direo

    ao local alvo (proximidade do forame mandibular) e ao tocar o osso, a agulha foi

    retirada 1mm. A aspirao foi novamente realizada, e o remanescente da soluo

    anestsica depositada (de aproximadamente 1,5ml) por um perodo aproximado de

    1,5 minutos. O tempo de injeo total de cada anestesia foi de aproximadamente 2,0

    minutos.

    Tcnica do ligamento periodontal (complementar)

    Para a realizao dessa tcnica, utilizaram-se uma seringa carpule com

    aspirao (Heatlh Co, USA) e agulhas descartveis de calibre 30. As injees

    foram administradas no sulco gengival por mesio-vestibular, disto-vestibular, disto-lingual, mesio-lingual e na regio das furcas vestibular e lingual do dente com

    pulpite. A quantidade total de soluo injetada foi de 1,8ml para a superfcie

    vestibular e 1,8ml para a superfcie lingual (aproximadamente 0,6ml para cada

    injeo). A agulha foi inserida no sulco gengival entre o dente e a crista ssea em

    um ngulo de 30oem relao ao longo eixo do dente e com o bisel voltado para o

    osso alveolar. A agulha foi introduzida com presso firme at encontrar resistncia

    total, para ento ser depositada a soluo anestsica sob presso (Gregori; Santos,1996).

    4.2.7 Tcnica para a realizao da pulpectomia preconizada pelo setor de

    urgncia da FOUSP

    No Setor de Urgncia da FOUSP, a abertura coronria foi realizada com

    instrumentos de alta rotao e brocas esfricas diamantadas de pescoo longo da

    KG Sorensen de nmero 1019 HL. Ao acessar a cmara pulpar, realizou-se a

    irrigao e aspirao com soluo de hipoclorito de sdio a 0,5% (lquido de Dakin).

    Com a penetrao da ponta ativa da broca nos cornos pulpares, removeu-se todo o

    resto do teto da cmara pulpar. A remoo da polpa coronria foi realizada com

    curetas de dentina ou com a prpria broca e em seguida ocorreu nova irrigao-

    aspirao. Aps a localizao dos canais, limas endodnticas do tipo Kerr (# 8 a 20),

    de preferncia com 21mm de comprimento, dependendo do dimetro e comprimento

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    mdio dos canais, foram introduzidas na entrada dos canais. A penetrao das limas

    em direo ao pice do rgo dental ocorreu de forma lenta e gradativa, com o

    cuidado de sempre ficar aqum do comprimento mdio dos dentes. A remoo da

    polpa foi ento realizada com movimentos no sentido horrio e o nmero de voltas

    necessrias para que ocorresse o enovelamento do tecido pulpar, o que geralmente

    foi conseguido com uma a duas voltas completas. Removeu-se a lima do canal e

    esta nomalmente trouxe a polpa ou fragmentos dela. Adotou-se o mximo de

    cuidado para canais mesiais dos molares inferiores, pois ao girar a lima, esta

    poderia fraturar-se. A presso da lima contra as paredes do canal levou remoo

    da polpa ou fragmentos dela. Para o canal distal dos molares inferiores, em alguns

    casos, foi necessrio o uso de limas de maior calibre ou at da lima do tipoHedstroem, modificada. Nesta fase, no se exagerou na instrumentao do canal

    para no se criar eventuais degraus, o que dificultaria a sequncia do tratamento do

    canal do respectivo dente. Enfatizamos que o objetivo do tratamento de urgncia,

    local em que a pesquisa em pauta foi desenvolvida, foi somente o de realizar a

    pulpectomia com a finalidade de alvio da dor sem causar iatrogenia.

    4.2.8 Anlise estatstica

    As amostras foram caracterizadas quanto ao Gnero, Idade e Medicao

    prvia. As distribuies do Gnero nos trs grupos analisados (Articana, Lidocana

    e Mepivacana) foram comparadas por meio do teste Qui-quadrado. Foram

    calculados os valores das estatsticas descritivas: mdia, desvio padro, mediana emximo para a Idade,e suas distribuies nos trs grupos foram comparadas por

    meio do teste de Kruskal-Wallis.

    Para comparar as distribuies do resultado da Medicao prvia e tipo de

    molar (primeiro ou segundo) com pulpite irreversvel foi aplicado o teste Qui

    quadrado; assim como para as comparaes das distribuies das respostas da

    aplicao ao Pulp testeraps o bloqueio do NAI nos trs grupos de anestsicos.

    A dor foi categorizada da seguinte forma: escores 0 ou 1 formaram a

    categoria sem dor, e escores 2 ou 3, a categoria com dor, obtendo -se assim a

    varivel categrica da ocorrncia de dor. As distribuies da Ocorrncia de dor aps

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    o bloqueio do NAI nos trs grupos foram comparadas por meio do teste Qui-

    quadrado. Considerando os pacientes que no tiveram sucesso no bloqueio; o teste

    da Razo de Verossimilhanas foi aplicado para comparar as distribuies do local

    da dor nos grupos de estudo: Articana, Lidocana e Mepivacana.

    Na anlise aps a injeo complementar no ligamento periodontal, as

    distribuies das respostas da aplicao ao Pulp tester (negativa ou positiva) e da

    ocorrncia de dor (com ou sem dor) foram comparadas nos trs grupos por meio do

    teste da Razo de Verossimilhanas. Para comparar as frequncias e porcentagens

    do local da dor nos trs grupos de anestsicos locais aps a injeo no ligamento

    periodontal foi feita a anlse descritiva dos dado