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ISSN 2317-7411

CADERNO DE RESUMOS DA

JORNADA HEIDEGGER

VOLUME 4, 2012

Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Caicó – RN

CADERNO DE RESUMOS DA

JORNADA HEIDEGGER

VOLUME 4, 2012

ISSN 2317-7411

Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Caicó – RN

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Reitor Milton Marques de Medeiros Vice-reitor Aécio Cândido de Sousa Pró-reitor de Administração Lauro Gurgel de Brito Pró-reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças

Francisco Severino Neto Pró-reitora de Recursos Humanos e Assuntos Estudantis Joana D'arc Lacerda Alves Felipe Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Pedro Fernandes Ribeiro Neto

Pró-reitora de Ensino de Graduação Moêmia Gomes de Oliveira Miranda Pró-reitor de Extensão Francisco Vanderlei de Lima

Diretor do Campus Caicó Francisco de Assis Costa da Silva Coordenador do Curso de Filosofia José Francisco das Chagas Souza

Coordenador do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência Dax Moraes

CADERNO DE RESUMOS DA JORNADA HEIDEGGER Publicação do NEXT-Núcleo de Estudos sobre Existência

Editor responsável Dax Moraes (UERN) Corpo Editorial Dax Moraes (UERN) Edgar Lyra Netto (PUC-Rio) Fernando Antonio Soares Fragozo (UFRJ) Ligia Saramago (PUC-Rio) Marcia Sá Cavalcante Schuback (Södertörns Högskola – Suécia) Marco Antônio Casanova (UERJ) Paulo César Duque Estrada (PUC-Rio) Róbson Ramos dos Reis (UFSM) Rodrigo Ribeiro Alves Neto (UFRN) Rossano Pecoraro (PUC-Rio)

Revisão e Editoração Eletrônica Dax Moraes

Contatos Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN Curso de Filosofia A/C Dax Moraes Rua André Sales, nº 667, Paulo VI - Caicó-RN - CEP: 59300-000 Telefax: (0xx84) 3421-6513 [email protected]

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SUMÁRIO

Apresentação 7 Sobre a essência do movimento histórico da tradição Rainri Back dos Santos 9 Heidegger e Gadamer em diálogo: sobre a obra de arte Gustavo Silvano Batista 10 Notas metodológicas a partir da destruição heideggeriana do Tratado do tempo de Aristóteles

Vitor Sommavilla de Souza Barros 11 A interpretação privativa e o método comparativo como vias de acesso à ontologia da vida em Heidegger Rodolfo da Silva de Souza 12 Observações sobre o chamado método das indicações formais Fábio François Mendonça da Fonseca 14 A abertura heideggeriana à luz de Wittgenstein Maria Priscilla Vieira Coelho Familiar 16 O invisível e o nada: o surgimento do lugar no pensamento de Heidegger Lis Helena Aschermann Keuchegerian 17 Transcendência em Heidegger: sobre o Nada Luciano Gomes Brazil 18 Sobre a tematização heideggeriana da historiografia Marcelo de Mello Rangel 19 Heidegger e Hegel: a crítica à “Metafísica do Absoluto”

Fábio Coelho Malaguti 20 Heidegger e a onto-teo-logia Frederico Pieper 21 A cotidianidade e a transformação dos conceitos filosóficos (1929-1930) Itamar Soares Veiga 22

Sobre as conferências de Bremen Alfredo Henrique de Oliveira Marques 23 A interpretação fenomenológica heideggeriana do movimento existencial no livro X das Confissões de Santo Agostinho Suelma de Souza Moraes 24 O pensamento filosófico e a pré-compreensão a partir de Heidegger e Agostinho Thiago Leite Cabrera Pereira da Rosa 25 O peso da facticidade Marcos Daniel Lopes 26

Apresentação

A IV Jornada Heidegger – Horizontes confirmou o contínuo crescimento e amadurecimento do congresso, resultando de uma feliz parceria com o NEED-Núcleo de Estudos em Ética e Desconstrução, coordenado pelo professor Paulo César Duque-Estrada, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), instituição que desta vez sediou as atividades. O êxito dessa edição é especialmente devido ao inestimável empenho dos colaboradores no Rio de Janeiro e, ao lado disto, à grande adesão da comunidade acadêmica, a todos cabendo especial agradecimento. Foram mais de trinta os trabalhos incluídos na programação mediante uma criteriosa seleção a partir de um elevado número de propostas de comunicação oriundas das diversas partes do país e mesmo do exterior. Assim, optamos por publicar a íntegra dos resumos das comunicações programadas em dois volumes. Neste quarto volume, registramos os resumos dos trabalhos incluídos nas sessões vespertinas ocorridas nos dois primeiros dias do congresso, 19 e 20 de março de 2012, respeitada a ordem do programa.

Dax Moraes

Organizador

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

9

Sobre a essência do movimento histórico da tradição

Rainri Back dos Santos

Quando se trata de interpretar uma época temporalmente distante daquela na qual vive quem pretende compreendê-la, muitos historiadores ainda parecem considerar plausível o emprego do seguinte procedimento. Segundo eles, seria preciso sair do horizonte contemporâneo e se deslocar até o horizonte passado, a fim de compreendê-lo objetivamente, segundo os próprios padrões da época em questão. Contra esse preconceito metodológico, Gadamer argumenta que não haveria dois, mas apenas um único horizonte em constante movimento. No entanto, tal crítica à historiografia parece se converter em um problema para Gadamer. A “fusão de horizontes” pode ser considerada o conceito mais importante da hermenêutica filosófica. Ora, para haver uma fusão, parecem ser necessárias ao menos duas coisas que se fundem uma na outra. Todavia, se há apenas um horizonte, segundo Gadamer diz ao criticar a metodologia da historiografia, como seria possível, então, algo como uma “fusão de horizontes”? Para responder tal pergunta, a comunicação pretende apresentar aquilo que parece ser a própria essência da tradição: o movimento de contínua intermediação de si consigo mesma.

Palavras-chave: Fusão; horizonte; intermediação.

Doutorando na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Volume 4, 2012

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Heidegger e Gadamer em diálogo: sobre a obra de arte

Gustavo Silvano Batista

A comunicação pretende apontar algumas perspectivas de aproximação e distanciamento entre as reflexões de Heidegger e Gadamer sobre a obra de arte. Para tanto, tomaremos a introdução da obra Holzwege, escrita por Gadamer a pedido de Heidegger, por ocasião de uma nova edição revista, na década de 50. Tal texto – que acreditamos ser um dos momentos mais importantes de diálogo entre os dois pensadores e no qual o próprio Gadamer diz-se surpreendido com a inesperada tematização heideggeriana da obra de arte – abre-nos um horizonte de discussão no qual o próprio Heidegger se dispôs e no qual Gadamer se engajou. Neste sentido, nosso texto pretende discutir esse diálogo a partir de dois traços que Gadamer compartilha com Heidegger, a saber, uma constante descrença no domínio cada vez maior da tecnociência e um olhar privilegiado para a arte como uma esfera que se preserva a esse mesmo domínio.

Palavras-chave: Obra de arte; Gadamer; Heidegger.

Professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e doutorando em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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Notas metodológicas a partir da destruição heideggeriana do Tratado do tempo de Aristóteles

Vitor Sommavilla de Souza Barros

Pretende-se analisar a interpretação feita por Martin Heidegger do chamado “Tratado do tempo” de Aristóteles, em Ser e tempo e demais obras conexas. A terceira seção da segunda parte de Ser e tempo seria dedicada ao comentário do tratado aristotélico mencionado, mas acabou não sendo redigida. Entretanto, outros textos do período, associados a passagens da obra máxima de Heidegger, permitem discernir os traços fundamentais dessa interpretação. A tentativa será de mostrar o quanto a relação de Heidegger com a Física, de Aristóteles, em geral, e com o texto sobre o tempo em particular, é representativa do modo como Heidegger acredita que a filosofia devia ser então levada a cabo. A análise do texto aristotélico em questão não somente respeita o propósito heideggeriano de abordar o ser (e a história do discurso sobre ele – a Metafísica) em sua relação com o tempo. Essa análise também atua, por um lado, sobre a fonte principal (Aristóteles) da metafísica ocidental, a fim de rastrear a origem de noções desde então assumidas como óbvias, e, por outro, sobre um texto (o da Física) no qual diversas noções interessantes e passíveis de receber novas ênfases ontológicas estão presentes, tais como movimento, privação, potência. Assim, nessa leitura de Aristóteles, a destruição heideggeriana ganha uma de suas mais elevadas clarezas metodológicas.

Palavras-chave: Tempo; destruição; Heidegger; Aristóteles; método. Mestrando em Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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A interpretação privativa e método comparativo como vias de acesso à ontologia da vida em Heidegger

Rodolfo da Silva de Souza

Importantes análises interpretativas, efetuadas por pesquisadores como M. Calarco, Manfried Riedel, J. Rouse, entre outros, no tocante ao tema da natureza e da vida na hermenêutica de Heidegger, foram realizadas nas duas últimas décadas. A retomada desse tema é importante, pois uma das principais acusações dirigidas a Heidegger consiste na aparente falta de problematização mais detida do tema da natureza no seio da ontologia existencial. Em Ser e tempo e Os conceitos fundamentais da Metafísica, Heidegger elege o domínio ontológico da vida como propedêutica à temática da natureza, e chama o método interpretativo de acesso ao modo de ser da vida de “interpretação privativa”. A interpretação privativa consistiria em uma operação fenomenológica de caráter destrutivo que procura desvelar as estruturas ontológicas que estão pressupostas em todos os nossos comportamentos para com entes vivos. Nossa comunicação dividir-se-á em três partes: 1) Apresentação do tema de uma possível ontologia da vida na obra de Heidegger; 2) A interpretação privativa enquanto método fenomenológico para se delimitar o lugar de fenomenalização da vida; e 3) por último, faremos algumas breves considerações acerca do complemento metodológico da interpretação privativa, o método comparativo,

Doutorando em Filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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que consiste em uma tematização positiva do estatuto ontológico da vida em cooperação com as ciências biológicas.

Palavras-chave: Ciência; fenomenologia; vida; mundo; privação.

Volume 4, 2012

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Observações sobre o chamado método das indicações formais

Fábio François Mendonça da Fonseca

O trabalho considera a reivindicação de que nas assim chamadas indicações formais a filosofia encontraria um método de investigação e seu procedimento peculiar. Faz-se necessário elucidar de que se trata o alegado caráter indicativo formal das enunciações e conceitos filosóficos, e que ganho metodológico específico ele representa para a argumentação de Ser e tempo. Seguirei como fio condutor inicial o tratamento dado por Daniel Dahlstrom. Três pontos serão examinados: O paradoxo de tematização que ronda o conceito pré-teórico de verdade proposto por Heidegger e que reivindica a consideração metodológica; a função proibitiva-referencial que previne abordagens predicativas encobridoras do modo de ser do ser-aí; a função reversivo-transformacional que conduz o interlocutor a descerrar sua possibilidade mais própria de existência na singularidade histórica da temporalidade originária. Afinal, tentarei propor que, não tanto um método para obter um tipo específico de evidência, a indicação formal é um recurso discursivo não necessariamente restrito à filosofia, e que cumpre um papel retórico necessário, mas não suficiente, na argumentação de Heidegger, que ainda precisa recorrer à hermenêutica da cotidianidade e, em particular, de disposições afetivas

Doutorando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Lógica e Metafísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGLM/IFCS/UFRJ).

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fundamentais, o que por seu lado presume um acesso discursivo a todo desvelamento.

Palavras-chave: Verdade; indicação formal; desvelamento.

Volume 4, 2012

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A abertura heideggeriana à luz de Wittgenstein

Maria Priscilla Vieira Coelho Familiar

Com a ajuda de alguns elementos do pensamento de Wittgenstein, pretende-se repensar a proposta heideggeriana de abertura para o Ser. Tal estudo ganha relevância maior diante da leitura que é feita por Derrida deste projeto como sendo, na verdade, um fechamento. Almeja-se mostrar que tal interpretação, apesar de reconhecer o valor da herança herdada, subestimou as conquistas de Heidegger. Para isso, debruçar-me-ei sobre as noções de negação e totalidade em Wittgenstein e Heidegger. Isso será feito a partir da tradicional questão metafísica: “Por que há antes o ente e não o nada?”. Wittgenstein estabelece a impossibilidade da negação da totalidade das possibilidades de estados-de-coisas. Já o sentimento dessa totalidade como limitada parece ser considerado por ele legítimo. Em que medida isso se aproxima do vislumbre de uma oscilação a que Heidegger se refere no início de Introdução à metafísica? Como as noções de negação e totalidade ajudam a deixar mais claros os termos Ser, ente, outro e Outro? Com o auxílio dessas elucidações, pretende-se alcançar o objetivo proposto.

Palavras-chave: Negação; totalidade; limite.

Mestranda em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeito (PUC-Rio).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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O invisível e o nada: o surgimento do lugar no pensamento de Heidegger

Lis Helena Aschermann Keuchegerian

O trabalho quer apresentar o invisível como o espaço livre, doador de lugar, a partir do qual o visível se ergue e constrói, baseando-se especialmente na obra Observações sobre arte – escultura – espaço. Heidegger dedicou dois escritos seus a esculturas e escultores elucidando e atribuindo novos contornos às idéias de corpo, espaço, verdade e lugar em seu pensamento. A obra de arte, tema de discussão desse texto, reúne em si o visível e o invisível. O invisível delineia o visível a partir do desconhecido, esculpido a partir do nada.

Palavras-chave: Heidegger; espaço; arte.

Doutoranda em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Volume 4, 2012

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Transcendência em Heidegger: sobre o Nada

Luciano Gomes Brazil

A comunicação irá tratar e relacionar os temas da transcendência e do Nada no pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger. Serão usadas passagens da obra Ser e tempo, do ensaio “Sobre a essência do fundamento” e da preleção Os conceitos fundamentais da Metafísica: mundo – finitude – solidão.

Palavras-chave: Heidegger; ontologia; filosofia contemporânea.

Mestrando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF/IFCS/UFRJ).

Caderno de Resumos da Jornada Heidegger

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Sobre a tematização heideggeriana da historiografia

Marcelo de Mello Rangel

Trataremos do parágrafo 76 de Ser e tempo, evidenciando a compreensão heideggeriana de que a historiografia é, em seu fundamento, uma possibilidade aberta pela historicidade própria do ser-aí. Sendo ainda mais claro, a historiografia é possível a partir da existência do ser-aí, antecipando-se ao mundo que é o seu “hoje”. Antecipando-se ao mundo que é o seu, no interior do qual se encontra na origem e na maioria das vezes, o ser-aí se abre para um conjunto finito de possibilidades até então obscurecidas no interior do impessoal. Antecipando-se, o ser-aí libera sentidos e significados rearticulando, através da própria historiografia, o passado, no presente, em nome do futuro, temporalizando a temporalidade, e isto no caso da historiografia própria. Enfim, evidenciaremos que a tematização da historiografia no interior do texto heideggeriano possui os objetivos específicos de: 1) evidenciar que o passado aparece e é organizado pela historiografia já a partir da existência do ser-aí, ou melhor, da relação fundamental entre a negatividade do ser-aí e sua situação; e 2) preparar a destruição da História da Filosofia, fundada em estruturas interpretativas prévias, ou ainda, em versões finais dos sistemas filosóficos disponibilizados pelo presente, incessantemente.

Palavras-chave: Historicidade; historiografia; fenomenologia.

Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e doutorando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF/IFCS/UFRJ). Atualmente em estágio pós-doutoral na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

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Heidegger e Hegel: a crítica à “Metafísica do Absoluto”

Fábio Coelho Malaguti

A crítica de Heidegger ao pensamento de Hegel através da noção de “onto-teo-logia” e sua interpretação do sistema hegeliano como “Metafísica do Absoluto” são o objeto da comunicação. A partir de alguns textos e anotações de Heidegger recém-publicados, busco melhor compreender as relações entre os pensamentos de Heidegger e Hegel. Minha exposição consiste em dois momentos. Primeiramente, organizarei os principais movimentos da crítica de Heidegger à “Metafísica do Absoluto”, tal como expressos nos seguintes escritos publicados no volume 86 da Heidegger-Gesamtausgabe: o “Colóquio sobre Dialética” (“Colloqium über Dialektik”), de 1952, “Verdade do ser” (“Wahrheit des Seins”), de 1956, e “Conversa com Hegel sobre a questão do pensamento” (“Gespräch von der Sache des Denkens mit Hegel”), do semestre de inverno 1956/57; posteriormente, farei a comparação de tal interpretação do sistema hegeliano com a nova recepção da obra de Hegel, que se caracteriza pela nova edição do corpus hegeliano.

Palavras-chave: Dialética; ser; pensamento.

Doutorando em Filosofia no Arquivo-Hegel/Centro de Pesquisas de Filosofia Clássica Alemã da Ruhr-Universität Bochum, Alemanha.

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Heidegger e a onto-teo-logia

Frederico Pieper

A comunicação trata da apropriação e significado da expressão “onto-teo-logia” no pensamento de Heidegger. Num primeiro momento, busca-se mostrar como, no diálogo estabelecido na década de 20 com textos de Aristóteles, Heidegger define os termos aqui envolvidos apontando a tensão entre ontologia e teologia na filosofia primeira, apontando na direção de uma ontologia desvinculada da teologia. No entanto, na virada para década de 30, com a leitura de filósofos do idealismo alemão (principalmente Hegel), aprofunda-se esta primeira perspectiva passando a pensar a unidade entre teologia e ontologia como estrutura da metafísica e aquilo que é “mais digno de ser pensado”. Neste contexto, interessa a ele a unidade causal estabelecida pelo “e” na afirmação de que a metafísica estuda os entes no sentido daquilo que possuem em comum e do ente na totalidade. A comunicação objetiva indicar como, neste contexto de diálogo com Hegel e para expressar esta unidade, Heidegger se apropria da expressão kantiana “onto-teo-logia”, conferindo-lhe sentido mais amplo. Como consequência, seu projeto filosófico não tem mais em vista a possibilidade de uma ontologia desvinculada da teologia, mas se iniciam os primeiros movimentos na direção de proposição de superação da metafísica.

Palavras-chave: Onto-teo-logia; metafísica; unidade.

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e doutorando em Filosofia na Universidade de São Paulo (USP).

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A cotidianidade e a transformação dos conceitos filosóficos (1929-1930)

Itamar Soares Veiga

A cotidianidade em Ser e tempo integra a condição de ser-no-mundo do ser-aí. Ela é uma positividade. Esta positividade evita um afastamento entre ser-aí e o mundo. Na obra de 1929-30, Conceitos fundamentais da metafísica, o propósito é diferente e provoca um destaque para elementos implícitos de Ser e tempo. Isto ocorre porque se exemplifica os modos de ser do Dasein em função do caráter comparativo com os seres animados e inanimados. No parágrafo 70 da obra de 29/30, Heidegger diz que os conceitos filosóficos são indicações-formais. Diante deste contexto, esta pesquisa objetiva estabelecer as vinculações entre ambas as obras. Assim, a pergunta condutora é: qual é o papel da cotidianidade frente à interpretação tradicional dos conceitos filosóficos no parágrafo 70 do curso de 29/30? A referência explícita à decaída (Verfallenheit) no texto de 1929-30 exige uma passagem do âmbito da descrição ontológico-existencial para o âmbito abstrato da discussão filosófica. A resposta deve mostrar que a decaída, que é um existencial e, por isso, uma indicação-formal, serve como uma explicação da ausência de radicalidade dos conceitos concebidos pela tradição filosófica. Isto aproxima ambas as obras.

Palavras-chave: Cotidianidade; indicações-formais; conceitos filosóficos.

Doutor em Filosofia, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

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Sobre as conferências de Bremen

Alfredo Henrique de Oliveira Marques

No ano de 1949, Heidegger proferiu, desde o título Einblick in das was ist (Lançar um olhar para dentro do que é), quatro conferências, a saber, “Das Ding” (“A coisa”), “Das Ge-Stell” (“O dispositivo”), “Die Gefahr” (“O perigo”), “Die Kehre” (“A volta”). Apesar de, ainda hoje, ser inédita a terceira conferência, o chamamento desta está presente não somente nas conferências em Bremen, mas em toda sua obra. O que se pretende por cá é trazer à frente o cordão semântico que sustenta os anúncios de Heidegger no inverno de 1949, isto é, pensar a noção fundamental que anuncia o verdadeiro perigo de nossa época.

Palavras-chave: Volta; metafísica; possibilidade.

Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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A interpretação fenomenológica heideggeriana do movimento existencial no livro X das Confissões

de Santo Agostinho

Suelma de Souza Moraes

O artigo versa sobre uma interpretação heideggeriana do “conhecimento de si mesmo” em duas obras: Ser e tempo e Fenomenologia da vida religiosa. De modo significativo contribui com uma análise crítica para a compreensão do movimento do sentido existencial na interpretação do livro X das Confissões, desenvolvendo duas interpretações de compreensão fenomenológicas: a primeira, a historialidade; e, a segunda, a fenomenologia da intencionalidade com base na faticidade, em que apresenta as inquietações da fala interior da confissão. Heidegger procura concretamente os graus possíveis de interpretação que mostrem a relação com “si mesmo” e que sejam capazes de guiar o interpretar genuíno e convertê-lo em algo especial. Desse modo, procura mostrar como vem fundamentado o confitere (confessar-se) e o considera como ponto de partida fundamental para a interpretação do livro X: “quæstio mihi factus sum” (“converti-me num problema para mim mesmo”). Esse ponto de partida passa a ser algo determinante na interpretação dos nexos entre a experiência do mundo compartilhado e o conhecimento disponível sobre o mundo ao redor. Para tanto, apresenta como diferenciais para a interpretação: a memória e a vontade.

Palavras-chave: Confissão; presença; vontade. Doutora em Ciências da Religião, professora na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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O pensamento filosófico e a pré-compreensão a partir de Heidegger e Agostinho

Thiago Leite Cabrera Pereira da Rosa

Pensar filosoficamente, segundo certa interpretação corrente, consiste em explicitar, desdobrar o implícito, aquilo que está desde sempre fundamentalmente vigente. A busca de Deus na memória e a investigação do tempo, empreendidas por Agostinho nos livros X e XI das Confissões, são bons exemplos dessa interpretação da filosofia. Inegáveis fontes de Heidegger para a sua tese sobre o esquecimento do ser, estas extraordinárias passagens do texto agostinano talvez merecessem ser repensadas a partir de noções heideggerianas como a pré-compreensão e o horizonte. Ao aproximar e contrastar os dois filósofos, pretende-se reformular a questão agostiniana do conhecimento a priori nos termos possivelmente mais originários da reflexão filosófico-hermenêutica defendida por Heidegger desde Ser e tempo.

Palavras-chave: Pré-compreensão; horizonte; pensamento.

Doutorando em Filosofia no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF/IFCS/UFRJ) e professor substituto do curso de Filosofia da mesma instituição.

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O peso da facticidade

Marcos Daniel Lopes

Trataremos do sentido da mobilidade daquilo que Heidegger chamou de “vida fáctica” nas primeiras preleções de Friburgo (1919-1921). As indicações que ali ganham forma apontam para fenômenos como o decair (Abfallen) e a preocupação (Bekümmerung) – precursores da decadência (Verfallenheit) e da cura (Sorge) em Ser e tempo. Recorreremos, pois, à coletânea de preleções reunidas no tomo 60 da Gesamtausgabe, sobretudo ao curso sobre o Livro X das Confissões de Agostinho. Buscando a reverberação dos motivos agostinianos nas acepções conceituais esquematizadas por Heidegger, pensamos poder conquistar uma melhor compreensão acerca do sentido interpretativo que perpassa as suas considerações sobre a vida fáctica: a dispersão, o peso e o conflito.

Palavras-chave: Decadência; tentação; cura.

Mestrando em Filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR).


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