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ArtigosBreve notícia sobre a descoberta de um novo dinossáurio Ornitópode no Cabo Espichel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

A Avifauna Plistocénica da Gruta Nova da Columbeira . . . . . . 17

Nomes da Paleontologia e Arqueologia PortuguesaCarlos Teixeira (1910-1982) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

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Artigos

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Resumo

Apresentam-se os primeiros resultados do estudo preliminar acerca da descoberta de um conjunto de ossos de um novo dinos-sáurio do Cabo Espichel, decorrente dos trabalhos de inves-tigação de campo desenvolvidos naquela zona pelo Centro Português de Geo-História e Pré-História (CPGP) no ano de 2007. Os dados permitem concluir que estamos perante um dinossáurio ornitópode.

Palavras-Chave: Espichel, Cretácico, Dinossáurios, vertebrados.

Abstract

We present the first results of a preliminary study about the discovery of a set of bones of a new dinosaur in Cabo Espichel, resulting from research field developed in that area by Centro Português de Geo-História e Pré-História (CPGP) in year 2007. The data shows that we have a dinosaur ornithopod.

Key-words: Espichel, Cretaceous, Dinosaurs, vertebrates.

Breve notícia sobre a descoberta de um novo dinossáurio Ornitópode no Cabo Espichel

Silvério Figueiredo *

* Presidente do Centro Português de Geo-História e Pré-História, Investigador Responsável pelo Projecto do CPGP de investigação Paleontológica e Arqueológica do Espichel, Prof. Assistente do Instituto Politécnico de Tomar.

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Introdução

O cabo espichel possui um património paleontológico de relevância nacional e internacional. Neste conjunto de fósseis destacam-se os res-tos fossilizados de vertebrados. Ali foram encontrados restos de peixes, de pterossauros, de crocodilos, de tartarugas e de diversos dinossáurios.

As primeiras investigações levadas a cabo na zona do Espichel remontam ao século XIX, com os trabalhos de levantamento para a Carta Geológica de Portugal. H. E. Sauvage (1897, 1898) faz referên-cia a ossos e dentes de dinossáurios e de crocodilos na Boca do Chapim. Mais tarde, A. F. de Lapparent e G. Zbyszewski (1957) referem, para além dos restos de dinossáurios, a presença de dentes e ossos de tarta-rugas e crocodilos. Dos restos de dinossáurios destacam-se os de carní-voro (Megalosauridae – dois fragmentos de dentes) e de alguns grupos de herbívoros (Iguanodon – dentes, vértebras caudais e a extremi-dade distal de um fémur direito). Um dos dentes inicialmente atribuído a Iguanodon (dente n.º 10) foi, mais tarde atribuído a um saurópode, Cf. Pelorosaurus (FIGUEIREDO, 2000). Outros Saurópodes (Astrodon (=Pleurocoelus) valdensis) – três dentes. Estes materiais encontram-se no Museu Geológico, em Lisboa.

Fragmentos de um maxilar e mandíbula da Boca do Chapim des-cobertos por Sauvage e, por ele, considerados como sendo de um cro-codilo, Suchosaurus girardi, (SAUVAGE, 1898), foram, em 2007, revistos por E. Buffetaut, que os atribuiu a Baryonyx com base nas semelhanças que apresentam com o holótipo do Baryonyx walkeri, do Barremiano inglês (BUFFETAUT, 2007). Mais recentemente Octávio Mateus reporta a descoberta de um conjunto de ossos (esqueleto cranial e póscranial) atribuídos também Baryonyx walkeri, um pouco a norte na Praia das Aguncheiras (MATEUS et al., 2011, p.58).

Em termos paleontológicos, o Cabo Espichel também tem sido conhecido graças às descobertas de vários trilhos de dinossáurios, nas décadas de 1970 e de 1980, na Praia do Cavalo e Pedra da Mua, do Jurássico Superior e Lagosteiros, do Cretácico Inferior (ANTUNES,

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1976, 1990; ANTUNES e MATEUS, 2003; DANTAS, 1990; CARVALHO e SANTOS, 1992 e 1993)

Enquadramento Geológico

A zona a norte do Cabo Espichel até à Praia da Foz é constituída por sequências estratigráficas do Cretácico Inferior. Uma das forma-ções desta zona é a Formação do Papo-Seco, atribuída ao Barremiano Inferior (MANUPPELLA, 1999, et al, p.54), com cerca de 127 milhões de anos. Esta formação, com 18,5 metros de espessura, carac-teriza-se por apresentar margas e argilas siltosas verdes com lenhite e gesso. Apresenta intercalações de arenitos com estratificação hori-zontal (MANUPPELLA, 1999, et al, p.54). A fauna desta formação é constituída por restos de dinossáurios, nas camadas areníticas gros-seiras, e invertebrados (bivalves e gastrópodes) e ostracodos, nas mar-gas. No limite superior desta formação encontram-se camadas de cal-cário siltoso bioturbado e com restos de ostreídeos (MANUPPELLA, 1999, et al, p.54). Estratigraficamente encontra-se entre a formação de Areias do Mastro e a formação da Boca do Chapim. Os ambientes de sedimentação são o lagunar e o estuarino (MANUPPELLA, 1999, et al, p.54 e DINIS, et al, 2006, p.774).

Na base desta formação encontra-se sobre as camadas junto ao mar, ainda pertencentes à Formação de Areia do Mastro e que têm uma fácies calcária carbonatada marinha. A estas camadas sobrepõem-se arenitos indicadores de um ambiente estuarino, que correspondem ao início da Formação do Papo-Seco. Sobre estas camadas encontram-se camadas margosas, onde se encontraram vários restos de vertebrados marinhos e terrestres.

Localização

O achado agora sumariamente apresentado foi encontrado na Boca do Chapim, uma zona da arriba a norte do Cabo Espichel, na

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foz da Ribeira do Chapim, perto do sítio das Aguncheiras (Azóia). Administrativamente localiza-se na freguesia do Castelo, concelho de Sesimbra e distrito de Setúbal.

O novo achado

Desde 1998 que o Centro Português de Geo-História e Pré-História (CPGP) tem realizado trabalhos sistemáticos de investigação paleonto-lógica, dirigidos pelo signatário na área compreendida entre a Boca do Chapim e a Praia do Guincho. Destes trabalhos resultou a identificação de um importante conjunto de restos ósseos de vertebrados. Estes tra-balhos foram enquadrados num projecto mais abrangente do CPGP que incluiu não só a investigação paleontológica, como também a investi-gação da arqueologia pré-histórica de toda a zona do cabo Espichel.

Materiais e métodos

Em 2007, durante os trabalhos de investigação de paleontologia no Cabo Espichel foram descobertos, por Sandro Figueiredo, na Boca do chapim, alguns ossos de um grande vertebrado. Estes ossos foram esca-vados entre 2007 e 2011, tendo sido extraídos cerca de cerca de três dezenas de ossos do mesmo animal do esqueleto pós-craniano (ver-tebras, costela, ílio, ísquio e púbis) Foram também encontrados res-tos de outros vertebrados, como carapaça de tartaruga e dois dentes de terópode.

O material está depositado no CPGP com o número de inventário CPGP.2.07.1.

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Fig. 1 – Localização

e enquadramento

geológico

Fig. 2 – Aspecto da

escavação (levantamento

de um fragmento ósseo).

Fig. 3 – Fotografia dos

elementos esqueléticos do

CPGP 2.07.1.

A – chevron de vértebra

caudal; B – ísquio;

C – fragmento de púbis;

D – apófise neural de

vértebra dorsal;

E – costela;

F – vértebra cervical.

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Descrição Estratigráfica

Estas ossadas estavam na parte superior de camadas margosas de cor cinzenta. A camada onde se encontraram os fósseis é constituída por argilas-margosas de fácies carbonatada de fracção fina, o que indica ambiente lagunar aberto à influência marinha. Mais tarde este ambiente evoluiu para um ambiente marinho costeiro, como o indicado pelas camadas arenosas situadas por cima da camada dos ossos.

Descrição e Taxonomia

Os ossos fossilizados deste dinossáurio foram totalmente recu-perados em escavação e encontram-se actualmente em recupe-ração, reconstituição e estudo, laboratório. Dos ossos recupe-rados e já estudados conclui-se que estamos perante um grande ornitópode. O ísquio é claramente ornitísquio: é longo e estreio; a extremidade proximal é larga de forma triangular e dividida em dois processos sub-rectangulares; as vertebras são altas e estreitas, o corpo vertebral, de forma oval, é alto e estreito e a apófise neural é bastante desenvolvida (MELENDEZ, 1986; CURRIE, P. K., 1997).

Dinosauria (Owen, 1842)Ornitischia (Seeley, 1888)

Neornithischia (Cooper, 1985)Cerapoda (Sereno, 1986)

Ornithopoda (Marsh, 1881)

Conclusões

Os ornitópodes compreendem formas bípedes e semi-bípedes, que terão vivido entre o Triásico Superior e o fim do Cretácico. As patas posteriores terminavam em 3 dedos terão aparecido no Triásico Superior (MELENDEZ, 1986, NORMAN, 1985; CURRIE, P. K., 1997).

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Em Portugal são conhecidos ornitópodes no Jurássico Superior e do Cretácico (inferior e Superior). O registo destes animais em Portugal é muito fragmentado e, nalguns casos só estão identificados dentes ou ossos isolados. No Cabo Espichel estão descritos restos de Iguanodon, na Boca do Chapim (LAPPARENT, F. & ZBYSZEWKI, G. 1957) e um fragmento de maxilar e dois dentes em Areias de Mastro (FIGUEIREDO, 2003, 2004 e 2005).1

Este achado assume-se de importância para o conhecimento dos dinossáurios portugueses, uma vez que é o esqueleto mais completo de ornitópode descoberto até à data em Portugal e um dos mais completos dinossáurios do cretácico português.

Este é apenas uma apresentação de um estudo prévio, de um con-junto de restos de um dinossáurio, ainda em estudo. Com o decorrer do estudo novas informações a nível da taxonomia e da tafonomia irão trazer novos dados acerca deste dinossáurio e, consequentemente, dos ornitópodes do Cretácico Inferior de Portugal.

1 Nestes artigos, por engano a toponímia referida não é Areias de Mastro, mas sim Praia das Aguncheiras.

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Introdução

O presente estudo tem por objectivo apresentar os dados sobre a análise efectuada às aves encontradas na Gruta Nova da Columbeira, estação arqueológica do concelho do Bombarral, datada do Paleolítico Médio e descoberta por Veiga Ferreira, em 1962.

As escavações foram dirigidas por V. Ferreira e por G. Zbyszewski, nas décadas de 60 e 70. Ali foi encontrada uma importante indústria mustierense e uma colecção faunística de grande valor. Nesta estação foram identificadas, por Veiga Ferreira, entre outras as espécies Ursus arctus, Hyaena striata, Rhinoceros sp, Bos primigenius, Equus caval-lus, Cervus elaphus e Canis sp.

As espécies de avifauna da Gruta Nova da Columbeira

No que respeita à avifauna foram identificadas 13 espécies a partir de um universo de 232 ossos, que se encontram no Museu Municipal do Bombarral. A maioria destes ossos estão muito fragmentados e não foi possível, nesta primeira abordagem, identifica-los. Os restantes foram identificados a nível do género, mas comparando com a avifauna pre-sente noutras estações do mesmo período, foi possível chegar à identi-ficação da espécie, em grande parte dos ossos estudados.

A Avifauna Plistocénica da Gruta Nova da Columbeira

Silvério Figueiredo *

* Presidente do Centro Português de Geo-História e Pré-História, docente do Instituto

Politécnico de Tomar.

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Gráfico 1 – Estado de conservação dos ossos

Foi realizado um estudo do número de indivíduos por espécies, con-cluindo-se que as espécies mais representadas são o Pyrhycorax pyrhy-corax e o Corvus munedula.

Gráfico 2 – Número de indivíduos por espécies representa-

dos na colecção da Gruta Nova da Columbeira.

A parte do esqueleto mais representativa é o esqueleto apendicular, em especial os úmeros, este facto está certamente relacionado com as características destes ossos que lhes permite conservarem-se melhor do que os outros.

Gráfico 3 – Partes do esqueleto representadas.

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Estas camadas foram descritas por Veiga ferreira, no seu caderno de campo de 1962, da seguinte forma:

→ C. 6 – Brechas compactas, com numerosos fragmentos e concreções de calcário, ossos, carvões e industrias mustie-renses (0,80 – 1,00 m);

→ C. 7 – nível arenoso, castanho-acinzentado, com numerosos ossos e abundante industrias mustierenses (0,20 m);

→ C. 8 – Terra castanha-escura e negra, mais ou menos consoli-dada, com acumulações de cinzas (0,30);

→ C. 9 – Nível estalagmítico. (CARDOSO, RAPOSO & FERREIRA, 2002, p. 39).

As datações obtidas sobre as recolhas efectuadas em 1971, pelo método de radiocarbono foram as seguintes:

→ Gif 2703 (nv. 16) 26.400 +/- 750 BP → Gif 2704 (nv. 20) 28.900 +/- 950 BP

(CARDOSO, RAPOSO & FERREIRA, 2002, p. 45).

Estratigrafia e datações

O estudo foi feito por camadas, das quais a que maior número de aves apresentava era a camada 7.

Gráfico 4 – Distribuição do número de indivíduos por camada

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Interpretação paleoambiental

As aves, ao longo da sua evolução desenvolveram característi-cas adaptativas específicas, a nível da sua morfologia e da sua bio-logia, que as diferencia dos restantes grupos de vertebrados. Por outro lado, algumas espécies adaptaram-se a ambientes específi-cos, podendo-se através da identificação da avifauna determinar o paleoambiente de um local.

As espécies de aves identificadas na Gruta Nova da Columbeira indicam, em termos ambientais, que a Gruta Nova da Columbeira apresentava um cariz claramente de mais de interior, como era de esperar devido à sua localização geográfica.

Gráfico 5 – Zonas ambientais das espécies presentes na

Gruta Nova da Columbeira.

Ao analisarmos este gráfico verificamos que a grande maioria das espécies (cerca de dois terços) habita zonas de interior, havendo, no entanto algumas espécies de zona litoral.

As espécies são maioritariamente de clima temperado frio, o que revela que há cerca de 28 000 anos as temperaturas seriam um pouco mais baixas que as actuais.

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Conclusão

O estudo paleontológico de jazidas com aves, em contexto arqueo-lógico, permite-nos retirar algumas ilações acerca dos paleoambien-tes em que viveu determinada comunidade humana. Exemplo disto foi o estudo da Gruta Nova da Columbeira. Foram estudados 232 ossos identificados como pertencentes a 13 espécies diferentes. Os estudos taxonómicos revelaram que predominam os passeriformes, e dentro destes, a família corvidae e as espécies dominantes são o Pyrrhycorax pyrrhycorax e o Corvus munedula. A maior parte dos ossos pertence ao esqueleto apendicular, com especial relevo para os úmeros.

A grande maioria das espécies (cerca de dois terços) habita zonas de interior, havendo, no entanto, algumas espécies de zona litoral. Por outro lado, as espécies identificadas são maioritariamente de clima temperado frio. O que permite concluir que para além do clima no Paleolítico Médio ser mais frio que o actual, a linha de costa estaria mais afastada que na actualidade.

Gráfico 6 – Comparação dos ambientes das espécies

de aves da Gruta Nova da Columbeira.

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Nomes da Paleontologia

e Arqueologia Portuguesa

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Carlos Teixeira nasceu em Aboim (Fafe) em 23 de Setembro de 1910.

Este minhoto, defensor da natureza e amante da sua terra, conhecido pela sua frontalidade e persistência, gostava principalmente do trabalho de geologia de campo.

Segundo Zbyzewski & Gonçalves (1983), ele foi o investiga-dor, no domínio das Geociências, que maior número de trabalhos deu à estampa à data de seu falecimento.

Fez um percurso brilhante tendo sido um grande impul-sionador das Geociências, nomeadamente na sua divulga-ção e ensino em Portugal. Empenhou-se no desenvolvimento da Geologia Portuguesa bem como o reconhecimento da profissão de Geólogo. Esforçou-se pelo avanço na compreensão e renova-ção da Geologia, como ciência, tendo realizado estudos de revisão e actualização dos conhecimentos existentes sobre a Geologia de Portugal. Ao longo de sua vida representou Portugal em várias reuniões e congressos no estrangeiro tendo trocado correspondência e contactos com cientistas nacionais e internacionais.

Licenciou-se em ciências Histórico-Naturais pela Faculdade de ciências do Porto em 1933. Os seus primeiros trabalhos relacionaram-se

Carlos Teixeira (1910-1982)

Sandra Moreira *

Professora do 3º Ciclo e Secundário do grupo disciplinar Biologia/Geologia; Colaboradora do Centro Português de Geo-História e Pré-História

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com a antropologia1 , Pré-História e etnografia sob orientação do Professor Mendes Côrrea.

Foi aluno do Professor Gonçalo Sampaio tendo começado a sua car-reira universitária como assistente extraordinário de Botânica. Iniciou a sua actividade no âmbito da Geologia e Paleontologia trabalhando com o Professor Carrington da Costa Estagiou como bolseiro, sob a orientação de eminentes professores e mestres, na Universidade de Lille (França). Doutorou-se em Ciências Histórico-Naturais pela Faculdade de Ciências do Porto em 1944 2. Foi naturalista do Museu Mineralógico da Universidade do Porto de 1937 a 1946, tendo sido contratado como 1.º assistente da Universidade de Lisboa nesse último ano. A partir daí per-maneceu nessa Universidade, onde foi nomeado Professor Catedrático em 1950, até ter sido jubilado.

Carlos Teixeira fundou a sociedade Geológica de Portugal (com o apoio do professor Carrington da Costa) e a Liga da Protecção da Natureza, defendendo locais de interesse geológico, arqueológico e biológico. Em 1956 criou o Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa tendo sido seu director até 1975, data da sua extinção. Colaborou com os Serviços Geológicos de Portugal desde 1944. Estudou todo o território português mas também os antigos territórios ultramarinos. Devido ao seu estímulo, o Minho foi a primeira região do Pais a ter as Cartas Geológicas 1/50000 que o abrangem publicadas. Deu grande impulso à Cartografia Geológica em Portugal, dinamizando a publica-ção da 4.ª edição da Carta Geológica de Portugal em 1972, cuja a última edição datava de 1899. Foi Vogal da Junta Nacional de Energia Nuclear.

Este cientista foi membro da Academia de Ciências de Lisboa e Madrid. Tal foi o seu prestígio internacional que lhe foi dedicado algu-mas espécies novas da ciência. Iniciou um glossário Geológico que, no entanto, ficou incompleto (existe de A a G excepto a letra C).

1 “Medicina e Superstições de Vieira”2 Apresentou como dissertação “O Antracolitico Continental Português (Estratigráfica-tectónica) ”

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Ao longo de sua vida publicou trabalhos sobre temas diversifica-dos, reflexo das actividades multifacetadas por ele desempenhadas. Pode-se destacar, por exemplo, a descoberta das cascalheiras da baixa praia marinha do ilhéu de Ínsua com indústrias paleolíticas. Fez algu-mas interpretações inovadoras.

Nos últimos anos de sua vida ficou cego em virtude da sua doença (diabetes) mas isso não o impediu de publicar, continuando a trabalhar quer ditando os artigos quer elaborando-os com ajuda de amigos.

Dado que os seus estudos abrangeram rochas do Pré-Câmbrico, Paleozóico, Mesozóico, um dos seus últimos projectos foi elaborar numa síntese de todo o conhecimento sobre a Geologia de Portugal até então. Publicou após muito esforço e vicissitudes um tratado de Geologia de Portugal 3 englobando aspectos gerais sobre esse tema que foi e continua a ser útil para uma geração de alunos(e não só) das Ciências da Terra a quem dedicou as suas últimas obras.

De facto pode-se afirmar que só com uma determinação e vontade de ferro é que esta obra foi editada pois foi necessário ultra-passar vários obstáculos.

→ Os efeitos da sua doença já se faziam sentir, afectando especial-mente a visão, tendo o seu autor contado com a colaboração do Doutor Francisco Gonçalves com quem trabalhou durante 2 anos;

→ Ocorreu um incêndio na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (18 de Março de 1978) quando estavam prestes a concluir o referido trabalho que destruiu o manuscrito, bibliografia cienti-fica valiosa, mapas, apontamentos e material recolhido no campo 4, bem como a documentação fotográfica que incluiriam na obra 5 , ou que “desapareceram” ficando em poder de outrem indevidamente;

3 Pode-se adivinhar a complexidade de fazer uma breve síntese das características da Geologia deste Pais.4 Alguns, especialmente os fósseis, em fase de estudo aprofundado.5 Muitas das quais acumuladas ao longo de toda a sua vida profissional.

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→ Não conseguiram obter verba para fazer face a esta perda/pre-juízo ou mesmo apoios para conseguir editar a obra.

No entanto recomeçaram a obra, terminaram-na e finalmente o livro foi publicado, valendo-lhe a ajuda de alguns amigos que nunca o aban-donaram. Ainda bem, pois foi responsável pela compreensão e fascí-nio pela Geologia do nosso país, editado por quem a conhecia como a palma das mãos.

Passado um ano, quando terminou a sua carreira de profes-sor universitário, depois de mais de 40 anos em exercício, publi-cou outro livro mais detalhado referente ao Pré-Câmbrico e Paleozóico de Portugal. Eras Geológicas que o autor dedicou mais atenção ao longo da sua vida, considerado pelo próprio como a sua última lição. No entanto, mesmo sob as condições referidas, nomea-damente cegueira, tal não o impediu de reexaminar ele próprio alguns aspectos menos claros que necessitavam de reconhecimento antes de ser publicado este livro. Apesar de ser seu objectivo editar outras publi-cações sobre as restantes Eras Geológicas, deu-se a infelicidade de fale-cer repentinamente no dia 7 de Junho de 1982. Possuía casa em Rossas, Vieira do Minho, localidade onde foi sepultado e onde existe um busto homenageando este cientista. O seu nome figura numa rua da cidade do Porto, junto às traseiras do Parque de Campismo da Prelada.

Bibliografia

Boletim da Associação Portuguesa de Geólogos, n.º 17, Maio – Agosto 2000.Boletim da Associação Portuguesa de Geólogos, n.º 24, Setembro – Dezembro

2000.Teixeira, C. (1981) – Geologia de Portugal, Vol. I Prê-Câmbrico, Paleozóico,

Fundação Calouste Gulbenkian, 629 pp.Teixeira, C. & Gonçalves, F. (1980) – Introdução à Geologia de Portugal,

Instituto Nacional de Investigação Cientifica, 475 pp, Fig. 68.Zbyzewski, G. & Gonçalves, F. (1983) – Carlos Teixeira, Comunicação dos

Serviços Geológicos de Portugal, Tomo 69, Fasc. 1, pp. 173–198.

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