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    ANARQUISMO VERDE

    Uma Introduo ao Pensamento e Prtica Anarquista Anti-Civilizao

    Green Anarchy Collective Traduzido pelo Coletivo Erva Daninha

    Este texto no para ser "os princpios que definem" um "movimento" anarquista verde, nem

    mesmo um manifesto anti-civilizao; um olhar sobre ideias e conceitos bsicos de membros de

    coletivos que dividem consigo e outros que se identificam com os anarquistas verdes. Ns

    entendemos e celebramos a necessidade de manter nossas vises e estratgias abertas, e

    discusses sempre so bem vindas.

    Ns sentimos que cada aspecto do que pensamos e do que somos precisam ser desafiados e

    permanecer flexveis se ns quisermos crescer. No estamos interessados em desenvolver uma

    nova ideologia, perpetuar uma viso de mundo nica. Ns tambm entendemos que nem todos

    anarquistas verdes so especificamente contra a civilizao (mas custamos a entender como

    algum pode ser contra todo tipo de dominao sem pensar em suas razes: a prpria civilizao).

    At a, entretanto, muito dos que usam o termo "anarquista verde" criticam a civilizao e tudo que

    vem junto com ela (domesticao, patriarquismo, diviso de trabalho, tecnologia, produo,

    representao, alienao, controle, destruio da vida, etc.).

    Enquanto alguns gostariam de falar em termos de democracia direta e jardinagem urbana ns

    achamos que impossvel e indesejvel fazer a civilizao mais "verde" e/ou faz-la mais "justa".

    Ns sentimos que importante mover radicalmente em direo a um mundo descentralizado, para

    desafiar a lgica e a formao de opinio da cultura-da-morte, acabar com toda mediao em

    nossas vidas, e destruir todas as instituies e manifestaes fsicas deste pesadelo. Ns queremos

    nos tornar no-civilizados. Em termos gerais, essa a trajetria da anarquia verde no pensamento e

    na prtica.

    Anarquia vs. Anarquismo

    Um fator que ns achamos ser importante para comear este texto a distino entre "anarquia" e

    "anarquismo". Alguns podero entender isso como uma pura questo trivial ou semntica, mas para

    muitos ps-esquerdistas e anarquistas anti-civilizao, esta diferenciao importante. Enquanto o

    anarquismo serve como um importante ponto de referncia histrica do qual se extrai inspiraes e

    lies, ele tem se tornado muito sistemtico, fixo e ideolgico - tudo o que a anarquia no .

    Admitidamente, a anarquia tem muito pouco a ver com a orientao social/poltica/filosfica do

    anarquismo e mais a ver com aqueles que se identificam como anarquistas. Sem dvida, muitos de

    nossa linhagem anarquista ficariam desapontados por esta tendncia em solidificar algo que deveria estar sempre fluindo. Os primeiros que se identificaram como anarquistas (Proudhon,

    Bakunin, Berkman, Goldman, Malatesta e outros) respondiam a seus contextos especficos com suas

    prprias motivaes e desejos especficos. Muito frequentemente, os anarquistas contemporneos

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    veem estas pessoas como representantes e fundadores da anarquia, e criam uma atitude do tipo "o

    que Bakunin faria" (ou melhor, "pensaria") a respeito da anarquia, o que trgico e potencialmente

    perigoso. Hoje, os que se identificam como anarquistas "clssicos" se recusam a aceitar qualquer

    realizao em um territrio desconhecido dentro do anarquismo (ex.: primitivismo, ps-

    esquerdismo, etc.) ou tendncias que tm estado frequentemente em desacordo com a aproximao

    com o movimento de massa dos trabalhadores (ex.: Individualismo, Niilismo, etc.). Estes anarquistas

    rgidos, dogmticos e extremamente no-criativos foram muito longe em declarar que o anarquismo

    uma metodologia social/econmica de organizar as classes trabalhadoras. Isso obviamente um

    extremo absurdo, mas tais tendncias podem ser vistas nas ideias e projetos de muitos anarco-

    esquerdistas contemporneos (anarco-sindicalistas, anarco-comunistas, plataformistas,

    federacionistas, etc.).O "Anarquismo" como se encontra hoje, uma ideologia muito esquerdista, a

    qual ns devemos ir alm. Em contraste, a "anarquia" uma experincia sem forma, fluda e

    orgnica que abraa vises multifacetadas de libertao tanto pessoal quanto coletiva e sempre

    aberta. Como anarquistas ns no nos interessamos em formar uma nova estrutura ou conjunto de

    regras para viver e seguir, por mais "tica" ou "discreta" que parea ser. Os anarquistas no

    podem oferecer outro mundo para as pessoas, mas ns podemos levantar questes e ideias, tentar

    destruir toda dominao que impede nossas vidas e nossos sonhos e vivermos diretamente

    conectados com nossos desejos.

    O que Primitivismo?

    Enquanto nem todos os anarquistas verdes se identificam especificamente como "Primitivistas",

    muitos reconhecem a importncia que a crtica primitivista tem tido nas perspectivas anti-

    civilizao. O primitivismo simplesmente uma anlise antropolgica, intelectual e experimental das

    origens da civilizao e das circunstncias que levaram ao pesadelo que ns atualmente vivemos. O

    primitivismo reconhece que na maior parte da histria humana, ns vivamos em comunidades face-

    a-face, em harmonia uns com os outros e com o nosso redor, sem hierarquias e instituies para

    mediar e controlar nossas vidas. Os primitivistas querem aprender atravs das dinmicas que

    ocorreram no passado e em sociedades contemporneas coletoras-caadoras/primitivas (aquelas

    que existiram e ainda existem fora da civilizao). Enquanto alguns primitivistas querem um retorno

    completo e imediato s sociedades coletoras-caadoras, muitos primitivistas sabem que um

    conhecimento do que foi bem-sucedido no passado no determina exatamente o que funcionar no

    futuro. O termo "Futuro Primitivo" criado pelo autor anarco-primitivista John Zerzan faz aluso de

    que uma sntese de tcnicas e ideias primitivas pode ser unida com conceitos e motivaes

    anarquistas contemporneos situaes descentralizadas saudveis, sustentveis e igualitrias.

    Aplicadas no ideologicamente, o anarco-primitivismo pode ser uma importante ferramenta no

    projeto de descivilizao.

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    O que Civilizao?

    Os anarquistas verdes tendem a ver a civilizao como os aparatos lgicos, institucionais e fsicos

    da domesticao, controle, e dominao. Enquanto diferentes indivduos e grupos priorizam aspectos

    distintos da civilizao (ex. os primitivistas tipicamente se focam na questo das origens, as

    feministas primeiramente se focam nas razes e manifestaes do patriarquismo, e os anarquistas

    insurrecionalistas se focam principalmente na destruio das atuais instituies de controle),

    muitos anarquistas verdes concordam que ela a base do problema ou a raiz das opresses, e que

    precisa ser desmantelada. A ascenso da civilizao pode muito bem ser descrita como a mudana

    dos ltimos dez mil anos de uma existncia profundamente conectada com a teia da vida, para outra

    separada e em controle do resto da vida. Antes da civilizao existia um amplo tempo livre, uma

    considervel autonomia e igualdade sexual, uma aproximao no-destrutiva do mundo natural, a

    ausncia de violncia, nenhuma instituio mediadora ou formal, e uma sade vigorosa. A civilizao

    iniciou a guerra, a subjugao da mulher, o crescimento populacional, o trabalho forado, os

    conceitos de propriedade, hierarquias, e praticamente todas as doenas conhecidas, isso para citar

    apenas algumas das suas consequncias devastadoras. A civilizao conta e comea com uma

    renncia forada do instinto da liberdade. Ela no pode ser reformada, portanto nossa inimiga.

    Biocentrismo vs. Antropocentrismo

    Um modo de analisar a extrema discordncia entre as vises de mundo das sociedades primitivas e

    da civilizao por meio de vises biocntricas vs. antropocntricas. O biocentrismo uma

    perspectiva que nos coloca e nos conecta com a terra e a complexa teia da vida, enquanto o

    antropocentrismo, a viso dominante do mundo, da cultura ocidental, coloca o foco na sociedade

    humana excluindo outras formas de vida. Uma viso biocntrica no rejeita a sociedade humana,

    mas a retira do status de superioridade e a coloca em equilbrio com as outras formas de vida. Ela

    coloca uma prioridade em uma viso biorregional, profundamente conectada com as plantas, os

    animais, insetos, clima, condies geogrficas, e o esprito do lugar que habitamos. No h diviso

    entre ns e o meio ambiente, ento no pode haver modernizao ou diversidade da vida. Onde a

    separao e a modernizao so as bases da nossa habilidade de dominar e controlar, a

    interconexo um pr-requisito para uma profunda educao, ateno e compreenso. A anarquia-

    verde se esfora para ir alm das ideias e vises antropocntricas para um profundo respeito por

    toda vida e as dinmicas dos ecossistemas que nos sustentam.

    Uma Crtica a Cultura Simblica

    Outro aspecto de que como ns vemos e relacionamos com o mundo que pode ser problemtico, no

    sentido de que somos separados de uma interao direta com o mundo, a nossa mudana em

    direo uma quase que exclusiva cultura simblica. Muitas vezes a resposta a esse

    questionamento "Ento vocs s querem reclamar?" o que talvez seja a inteno de alguns, mas

    essa crtica um olhar para os problemas inerentes com uma forma de comunicao e

    compreenso que confia primordialmente no pensamento simblico ao custo (e excluso) de outros

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    meios sensuais e no mediados. A nfase no simblico um movimento da experincia direta para a

    experincia mediada, na forma de linguagem, arte, nmero, tempo etc. A cultura simblica filtra toda

    a nossa percepo atravs de smbolos formais e informais. Est alm de simplesmente dar nome

    as coisas, mas ter uma relao inteira com o mundo que visto atravs das lentes da

    representao. questionvel se os seres humanos so como peas do pensamento simblico, ou se esse pensamento se desenvolveu como uma mudana ou adaptao cultural, mas o modo

    simblico de expresso e compreenso certamente limitado, e sua dependncia leva objetivao,

    alienao e a uma cegueira da percepo. Muitos anarquistas verdes promovem e praticam a

    aproximao e a reanimao de mtodos dormentes e inutilizados de interao e percepo, como o

    toque, olfato, e telepatia, bem como desenvolver mtodos nicos e pessoais de compreenso e

    expresso.

    A Domesticao da Vida

    A domesticao o processo que a civilizao usa para doutrinar e controlar a vida de acordo com

    a sua lgica. Esses mecanismos aperfeioados de subordinao incluem: domesticao, criao,

    manipulao gentica, intimidao, extorso, aprisionamento, adestramento, coero, chantagem,

    escravido, governo, terrorismo, assassinato - a lista continua, incluindo quase todas as interaes

    sociais civilizadas. Suas aes e efeitos podem ser examinados e sentidos por toda sociedade,

    reforada pelas vrias instituies, rituais e costumes. tambm o processo pelo qual populaes

    humanas antes nmades se mudaram para uma existncia sedentria e assentada atravs da

    agricultura e criao de animais. Este tipo de domesticao requer uma relao totalitria com a

    terra, com as plantas e os animais sendo domesticados. Ao passo que em um estado selvagem toda

    vida divide e compete por recursos, a domesticao destri esse balano. A paisagem domesticada

    (ex.: terras pastoris/campos de agricultura, e em um nvel menor, horticultura e jardinagem) requer

    o fim da livre diviso dos recursos que antes existiam; onde antes era "tudo de todos", agora

    "meu". No romance Ismael, o autor Daniel Quinn fala sobre essa transformao dos "largadores"

    (aqueles que aceitavam o que a Terra oferecia) aos "pegadores" (aqueles que exigiam da Terra o

    que eles queriam). Essa noo de posse o que levou a fundao da hierarquia social enquanto a

    propriedade e o poder emergiam.

    A domesticao no somente muda a ecologia de uma ordem livre para uma ordem totalitria, como

    escraviza as espcies que so domesticadas. De modo geral, quanto mais um ambiente controlado,

    menos sustentvel ele se torna. A prpria domesticao humana envolve vrios tipos de posses e

    controles, em comparao com o modo de vida nmade e coletor. No de se esperar que muitas

    alteraes feitas de uma vida nmade-coletora para vida domesticada no foram feitas de forma

    autnoma, mas foram feitas atravs da lmina da espada e da mira das armas. Considerando que

    somente h 2.000 anos atrs a maior parte da populao do mundo era composta de coletores-

    caadores, agora no chega a 0.01%. O caminho da domesticao uma fora colonizadora que tem

    trazido uma grande quantidade de patologias para as populaes dominadas e para os criadores

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    dessa prtica. Vrios exemplos incluem um declnio na sade nutricional devido ao uso de dietas no

    diversificadas, cerca de 40 a 60 tipos de doenas foram integradas nas populaes humanas

    atravs de animais domesticados (como a influenza, gripe comum, tuberculose e a gripe aviria), o

    aumento dos excedentes que poderiam ser usados para alimentar a populao desequilibrada, o que

    invariavelmente envolve a propriedade e o fim da diviso incondicional.

    As Origens e Dinmicas do Patriarquismo

    Para o incio da mudana para a civilizao, uns dos primeiros produtos da domesticao o

    patriarquismo: a formalizao da dominao masculina e o desenvolvimento das instituies que a

    reforam. Criando falsas distines e divises sexuais entre homens e mulheres, a civilizao

    novamente cria um "outro" que pode ser "coisificado", controlado, dominado, utilizado e

    transformado em produto. Isso ocorre paralelamente domesticao de plantas na agricultura e

    animais para criao, em uma dinmica geral, e tambm especfica, como o caso do controle da

    reproduo. Como em outras regies de estratificao social, papis so definidos s mulheres para

    que assim se estabelea uma ordem rgida e previsvel que beneficie a hierarquia. As mulheres

    passam a ser vistas como propriedade, assim como os campos de trigo ou as ovelhas no pasto. A

    posse e o controle absoluto tanto da terra quanto dos animais, escravos, crianas ou mulheres,

    parte da dinmica estabelecida da civilizao. O patriarquismo exige a subjugao feminina e a

    usurpao da natureza, nos impulsionando a aniquilao total. O patriarquismo define o poder, o

    controle e o domnio sobre a vida selvagem, a liberdade e a vida. O condicionamento patriarcal

    domina todas as nossas interaes; com ns mesmos, nossa sexualidade, nossa relao uns com os

    outros e a nossa relao com a natureza. Isso limita severamente o espectro de possveis

    experincias. A relao interconectada entre a lgica da civilizao e o patriarquismo inegvel; por

    milhares de anos eles transformaram cada nvel da experincia humana, do nvel institucional ao

    pessoal, enquanto devoravam a vida. Para ser contra a civilizao devemos ser contra o

    patriarquismo; e para se questionar o patriarquismo se deve questionar a civilizao.

    Diviso de Trabalho e Especializao

    A desconexo da habilidade de cuidarmos de ns mesmos e prover as nossas necessidades uma

    tcnica de separao e enfraquecimento perpetuado pela civilizao. Ns somos mais teis ao

    sistema, e menos teis a ns mesmos, se estivermos alienados dos nossos desejos e das outras

    pessoas pela diviso do trabalho e especializao. No estamos mais aptos a sair pelo mundo e

    fornecer a ns mesmos e a nossos queridos o alimento e as provises necessrias para a

    sobrevivncia. Ao invs disso, ns somos empurrados a um sistema de produo e consumo de

    mercadorias ao qual estamos sempre em dbito. Injustias da influncia direta que se d atravs do

    poder efetivo das vrias categorias de "experts". O conceito de um especialista inerentemente cria

    uma dinmica poderosa que enfraquece as relaes igualitrias. Enquanto a Esquerda s vezes

    possa reconhecer esses conceitos politicamente, eles so vistos como dinmicas necessrias, para

    manter ou regular, enquanto os anarquistas verdes tendem a ver a diviso de trabalho e a

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    especializao como problemas fundamentais e irreconciliveis, decisivos para as relaes sociais

    na civilizao.

    A Rejeio da Cincia

    Muitos anarquistas anti-civilizao rejeitam a cincia como um mtodo para compreender o mundo.

    A cincia no neutra. carregada com motivos e conceitos que so criados, e reforam a

    catstrofe da dissociao, enfraquecimento e morte consumvel da qual ns chamamos "civilizao".

    A cincia assume o afastamento, que construdo atravs da prpria palavra "observao".

    "Observar" algo percebe-lo enquanto uma pessoa distanciada emocionalmente e fisicamente,

    para ter um nico canal de "informao", vindo do que observado para essa pessoa, que definida

    como no sendo parte do que foi observado.Essa viso mecnica e baseada na morte uma religio,

    a religio dominante do nosso tempo. O mtodo cientfico lida somente com o quantitativo. Ele no

    admite valores ou emoes, ou, por exemplo, o modo como o ar cheira quando comea a chover quando ela lida com essas coisas, ela lida transformando-as em nmeros, tornando a singularidade

    do cheiro da chuva em uma preocupao abstrata com a frmula qumica para o oznio, tornando o

    modo como ele faz voc sentir, em uma ideia intelectual de que as emoes so somente uma iluso

    vinda do aquecimento dos neurnios. O prprio nmero em si no real, mas um estilo de

    pensamento que foi escolhido. Escolhemos um hbito mental que foca nossa ateno em um mundo

    fora da realidade, onde nada possui qualidade ou vida prpria. Escolhemos transformar a vida na

    morte. Os cientistas mais cautelosos podem admitir que o que eles estudam no passa de uma

    simulao limitada do mundo real complexo, mas poucos deles percebem que esse foco limitado

    auto-alimentador, que ele construiu sistemas tecnolgicos, econmicos e polticos que trabalham

    juntos, que sugam nossa realidade para eles mesmos. To limitado quanto o mundo dos nmeros, o

    mtodo cientfico nem ao menos permite todos os nmeros somente os nmeros que so reproduzveis, previsveis, e a mesma coisa para todos os espectadores. Claro que a prpria

    realidade no reproduzvel ou previsvel ou a mesma para todos os espectadores. Mas tampouco

    so mundos de fantasia derivados da realidade.

    A cincia no pra em nos colocar em um mundo de sonhos ela vai alm, e faz desse mundo de sonhos o nosso pesadelo, onde seus contedos so selecionados para a serem previsveis,

    controlveis e uniformes. Toda a surpresa, tudo relativo aos nossos sentidos so reprimidos. Por

    causa da cincia, os estados de conscincia que no podem ser seguramente determinados so

    classificados como insanos, ou, na melhor das hipteses, incomuns, e excludos. Experincias anormais, ideias anormais, e pessoas anormais so rejeitadas ou destrudas como se fossem

    componentes defeituosos de uma mquina. A cincia somente uma manifestao, que est presa a

    uma nsia por um controle que ns temos desde que comeamos a cultivar terras e cercar animais

    ao invs de explorarmos o mais imprevisvel (mas mais abundante) mundo da realidade, ou

    natureza. E a partir da, essa nsia conduziu cada deciso, do que se diz progresso, at e incluindo a reestruturao gentica da vida.

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    O Problema da Tecnologia

    Todos os anarquistas verdes de alguma forma questionam a tecnologia. Enquanto h aqueles que

    ainda propem noes de tecnologias "verdes" ou "apropriadas" e buscam anlises racionais para

    se apegarem por formas de domesticao, muitos rejeitam completamente a tecnologia. A

    tecnologia muito mais do que fios, silicone, plsticos e ao. Ela um sistema complexo que envolve

    diviso de trabalho, extrao de recursos, e a explorao dos outros para benefcio daqueles que

    executaram seu processo. A interface e o resultado da tecnologia sempre uma realidade alienada,

    mediada e distorcida. Apesar do que dizem os apologistas ps-modernos e outros tecnfilos, a

    tecnologia no neutra. Os valores e objetivos daqueles que produzem e controlam a tecnologia

    esto sempre embutidos nela.

    A tecnologia se difere dos instrumentos simples em vrios aspectos. Uma ferramenta simples e o

    uso temporrio de um elemento em um nosso meio para uma tarefa especfica. Ferramentas simples

    no envolvem sistemas no qual alienam o usurio do ato. Esta separao absoluta na tecnologia,

    criando uma experincia doentia e mediada, o que resulta em vrias formas de autoridades. A

    dominao aumenta toda vez que uma nova tecnologia criada, necessitando a construo de mais

    tecnologia para o suporte, abastecimento e reparo de tal tecnologia. Isto tem levado rapidamente ao

    estabelecimento de um sistema tecnolgico complexo que parece ter uma existncia independente

    dos humanos. Dejetos-produtos da sociedade tecnolgica esto poluindo tanto nosso ambiente fsico

    quanto nosso ambiente psicolgico. Vidas so roubadas a servio da maquina e do efluente txico do

    combustvel tecnolgico - ambos esto nos chocando. A tecnologia hoje tem multiplicado a si mesma,

    com algo semelhante a uma sinistra "sensibilidade". A sociedade tecnolgica uma infeco

    planetria, impulsionada adiante pelo seu prprio mpeto, rapidamente ordenando um novo tipo de

    ambiente desenvolvido para a eficincia mecnica e expansionismo tecnolgico. O sistema

    tecnolgico metodicamente destri, elimina e subordina o mundo natural, construindo um mundo que

    sirva somente para as maquinas. O ideal que o sistema tecnolgico aponta a mecanizao de tudo

    aquilo que encontra.

    Produo e Industrialismo

    Um componente-chave da estrutura tecno-capitalista moderna o Industrialismo, o sistema

    mecanizado construdo no poder centralizado e na explorao de pessoas e da natureza. O

    industrialismo no pode existir sem genocdio, ecocdio e colonialismo. Para mant-lo, a coero,

    desapropriao de terras, trabalho forado, destruio cultural, assimilao, devastao ecolgica

    e o mercado so aceitos como necessrios ou mesmo benficos. A padronizao da vida pelo

    industrialismo transforma a vida em objeto e um bem de consumo, encarando toda vida como

    potenciais recursos. Uma crtica do industrialismo uma extenso natural da crtica anarquista ao

    estado, pois o industrialismo inerentemente autoritrio. Para manter uma sociedade industrial,

    deve-se conquistar e colonizar terras para (geralmente) conseguir recursos no-renovveis para

    abastecer e lubrificar as mquinas. Este colonialismo racionalizado pelo racismo, sexismo, e o

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    chauvinismo cultural. No processo para adquirir esses recursos, as pessoas devem ser foradas a

    sarem de suas terras. E para fazer as pessoas trabalharem nas fbricas que produzem as

    mquinas, elas devem ser escravizadas, devem tornar-se dependentes e sujeitas ao sistema

    industrial txico e degradante. O industrialismo no pode existir sem uma massiva centralizao e

    especializao. A dominao de classes uma ferramenta do sistema industrial que nega s pessoas

    acesso a recursos e conhecimento, transformando-as em impotentes e fceis de explorar. Alm

    disso, o industrialismo requer que recursos sejam distribudos ao longo de todo globo para

    perpetuar sua existncia, e este globalismo enfraquece e destri a autonomia local e sua

    autossuficincia. uma viso do mundo mecnica, que est atrs do industrialismo. essa mesma

    viso de mundo que justifica a escravido, extermnio e subjugao da mulher. Deveria ser bvio

    para todos que o industrialismo no apenas opressivo com os humanos, mas que tambm

    ecologicamente destrutivo.

    Alm do Esquerdismo

    Infelizmente, a maior parte dos anarquistas continuam sendo vistos e vendo a si mesmos como

    parte da esquerda. Esta tendncia est mudando, como os anarquistas ps-esquerda e anti-

    civilizao fazem uma distino clara entre suas perspectivas e a falida orientao socialista e

    liberal. A esquerda no tem apenas provido a si mesma um monumental fracasso em seus objetivos,

    mas obvio pela sua histria, pelas suas prticas atuais, e sua estrutura ideolgica, que (enquanto

    apresenta a si mesma como altrusta e promotora de "liberdade") atualmente a anttese da

    libertao. A esquerda, fundamentalmente, nunca questionou a tecnologia, a produo, organizao,

    representao, alienao, autoritarismo, moralismo, ou o progresso, e no tem quase nada a dizer

    sobre ecologia, autonomia, ou individualidade em alguma agenda "progressista", frequentemente

    usando aproximaes coercivas e manipuladoras para criar uma falsa "unidade" ou a criao de

    partidos polticos. Enquanto os mtodos e os exageros de implementao podem ser diferentes, o

    esforo total o mesmo, a instituio da viso do mundo coletivizada e monoltica baseada na moral.

    Contra a Sociedade de Massas

    A maioria dos anarquistas e "revolucionrios" gastam uma parte significante de seu tempo

    desenvolvendo esquemas e mecanismos para a produo, distribuio, julgamento e a comunicao

    entre um grande nmero de pessoas; em outras palavras, o funcionamento de uma sociedade

    complexa. Mas nem todos anarquistas aceitam a premissa da coordenao e interdependncia

    social, poltica e econmica global (ou mesmo regional), ou a organizao necessria para sua

    administrao. Ns rejeitamos a sociedade de massa por razes prticas e filosficas.

    Primeiramente, rejeitamos a representao necessria para o funcionamento de situaes fora do

    domnio da experincia direta (modos de existncia completamente descentralizados). Ns no

    queremos controlar a sociedade ou organizar uma sociedade diferente, ns queremos uma

    estrutura completamente diferente. Queremos um mundo aonde cada grupo seja autnomo e decida

    com seus prprios meios como viver, com todas as interaes baseadas em afinidades, livres e

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    abertas, e no coercitivas. Queremos uma vida na qual de fato vivemos no uma que sobrevivemos.

    A brutalidade da sociedade de massas colide no apenas com a autonomia e individualidade, mas

    tambm com a Terra. Simplesmente no sustentvel (em termos de recursos, extrao,

    transporte, e sistemas de comunicao necessrios para qualquer sistema econmico global)

    continuar, ou prover planos alternativos para a sociedade de massas. Novamente, a

    descentralizao radical parece ser a chave para a autonomia, promovendo mtodos de

    subsistncia sustentveis e no hierrquicos.

    Liberao vs. Organizao

    Somos seres empenhados para um rompimento profundo e total com a ordem civilizadora,

    anarquistas desejando liberdade irrestrita. Ns lutamos por liberao, por uma relao

    descentralizada e sem mediaes com o nosso meio e com aqueles que amamos e com quem

    partilhamos afinidades. Os modelos organizacionais nos oferecem apenas mais da mesma

    burocracia, controle e alienao que recebemos da organizao vigente (civilizao). Enquanto

    talvez ocorra uma boa inteno ocasional, o modelo organizacional vem de uma mentalidade

    inerentemente desconfiada e paternalista, o que parece contraditrio com a anarquia. As

    verdadeiras relaes de afinidade surgem de uma profunda compreenso entre as pessoas, atravs

    de relaes ntimas baseadas nas necessidades da vida diria, e no relacionamentos baseados em

    organizaes, ideologias ou ideias abstratas. Tipicamente, o modelo organizacional reprime as

    necessidades e desejos individuais para "o bem do coletivo" padronizando tanto a resistncia quanto

    o ponto de vista. Dos partidos, a plataformas, a federaes, parece que na medida em que a escala

    dos projetos aumenta, o significado e a relevncia que tm pelo indivduo e sua vida diminui. As

    organizaes so meios para estabilizar a criatividade, o controle de dissidncia e a reduo de

    "tangentes contra-revolucionrias" (como os quadros de elites ou lideranas determinam). As

    organizaes tipicamente se apiam no quantitativo, ao invs do qualitativo, e oferece pouco espao

    para a ao ou pensamento independente. Informalmente, as associaes baseadas em afinidades

    tendem a minimizar a alienao das decises e processos, e reduz a mediao entre nossos desejos

    e nossas aes. Relacionamentos entre grupos de afinidade so mais orgnicos e

    temporais, ao invs de fixos e rgidos.

    Revoluo vs. Reforma

    Como anarquistas, somos fundamentalmente contra governos, da mesma forma, contra qualquer

    espcie de colaborao ou mediao com o estado (ou qualquer instituio de hierarquia e

    controle). Esta posio determina certa continuidade ou direcionamento de estratgia, que

    historicamente conhecemos como revoluo. Este termo, quando mal entendido, diludo e agregado

    por vrias ideologias e agendas, ainda tem significado para os anarquistas e para as atividades

    prticas no-ideolgicas. Por revoluo, entendemos como a luta constante para mudar a paisagem

    social e poltica de um modo fundamental; para os anarquistas significa seu completo

    desmantelamento. A palavra "revoluo" dependente da posio da qual direcionada, bem como a

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    atividade "revolucionria". Novamente, para os anarquistas, isso atividade que direcionada para

    a completa dissoluo do poder. A reforma, por outro lado, permite qualquer atividade ou estratgia

    direcionada ao ajustamento, a alterao, ou seletividade, mantendo os elementos do atual sistema,

    tipicamente usando os mtodos e aparatos dele. As metas e mtodos da revoluo no podem ser

    ditadas nem realizadas nos contextos do sistema. Para os anarquistas, a revoluo e a reforma

    invocam mtodos e direes incompatveis, e apesar de certas aproximaes anarco-liberais, no

    existe continuidade. Para os anarquistas anti-civilizao, as questes de atividade revolucionria

    desafiam e trabalham para desmantelar todo o cenrio ou paradigma da civilizao. A Revoluo

    tambm no um evento singular ou remoto que construmos ou preparamos para as pessoas, pelo

    contrrio, um estilo de vida ou prtica de abordar situaes.

    Resistindo Mega Mquina

    Os Anarquistas em geral, e em particular anarquistas-verdes, adotam a ao direta em vez de

    formas mediadas ou simblicas de resistncia. Vrios mtodos e abordagens, incluindo subverso

    cultural, sabotagem, insurreio, "violncia" poltica, (embora no sejam limitados somente a esses

    mtodos) tm sido e permanecem como parte do arsenal de ataque anarquista. Uma nica ttica no

    pode ser efetiva em alterar significantemente a ordem ou sua trajetria. Mas estes mtodos,

    combinados com transparncia e crtica social, so importantes.

    A subverso do sistema pode ocorrer do sutil ao dramtico e pode ser um importante elemento de

    resistncia fsica. A sabotagem sempre tem sido uma parte vital das atividades anarquistas, tanto na

    forma de vandalismo espontneo (pblico ou noturno), ou atravs de uma coordenao ilegal e

    secreta de clulas autnomas. Recentemente grupos como a Frente de Libertao da Terra (ELF, na

    sigla em ingls) um grupo ambientalista radical mantido por clulas autnomas, tendo alvo aqueles

    que lucram com a destruio da Terra, tm causado milhes de dlares em danos a lojas e

    escritrios corporativos, bancos, madeireiras, laboratrios de engenharia gentica, veculos e casas

    luxuosas. Estas aes, que frequentemente so incndios, tm inspirado muitos ao, e so meios

    efetivos de no s trazer ateno degradao ambiental, mas tambm como detentores de

    especficos destruidores da Terra. A atividade insurrecionria, ou a proliferao de momentos

    insurrecionais a qual pode causar uma ruptura na "paz social" da qual a raiva espontnea das

    pessoas pode ser liberada e possivelmente espalhada em condies revolucionrias. A atividade

    insurrecionria, ou a proliferao de momentos insurrecionais que podem causar a ruptura da paz

    social da qual a raiva espontnea das pessoas pode ser liberada e possivelmente propagadas em

    condies revolucionrias, tambm tm aumentado. A revolta de Seattle em 1999, Praga em 2000 e

    Genova em 2001, foram todas (de diferentes maneiras) fascas de atividades insurrecionais, que,

    embora limitados em alcance, podem ser vistos como tentativa para mover em direes

    insurrecionrias e fazer um rompimento qualitativo com o reformismo e todo o sistema escravista.

    A violncia poltica, incluindo o ataque a indivduos responsveis por atividades especficas ou pelas

    decises que levam a opresso, tambm tem sido um foco para os anarquistas historicamente.

    Enfim, considerando a imensa realidade e toda extenso penetrvel do sistema (socialmente,

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    politicamente, tecnologicamente), ataques a redes tecnolgicas e na infraestrutura da mega-

    mquina so de interesse para anarquistas anti-civilizao. Indiferente da aproximao ou

    intensidade, as aes militantes unidas com uma anlise profunda da civilizao esto crescendo.

    A Necessidade de Ser Crtico

    medida que a marcha da aniquilao global avana, a sociedade se torna mais doente, perdemos o

    controle de nossas vidas e falhamos em criar uma resistncia significativa contra a cultura-da-

    morte. vital para ns, sermos extremamente crticos com os movimentos "revolucionrios" do

    passado, com esforos atuais e com nossos prprios projetos, no podemos repetir perpetuamente

    os erros do passado ou sermos cegos para nossas prprias deficincias. O movimento ambientalista

    radical est repleto de campanhas com um s foco e gestos simblicos e a cena anarquista est

    infestada por tendncias esquerdistas e liberais. Ambos continuam insistindo em gestos ativistas

    sem significado, raramente questionando sua (in)eficincia. Frequentemente a culpa e o auto-

    sacrifcio - ao invs de sua liberao e liberdade - guiam esses benevolentes reformadores sociais

    irrealistas, enquanto eles continuam por um caminho que foi esboado por falhas diante deles. A

    Esquerda uma ferida inflamada na bunda da sociedade, os ambientalistas no tm obtido sucesso

    na preservao de nem mesmo fraes de reas selvagens, e os anarquistas raramente possuem

    algo provocativo para dizer, deixemos-os em paz. Enquanto alguns podem discutir contra o

    criticismo porque ele analtico, qualquer verdadeira perspectiva radical veria a necessidade da anlise crtica, em mudar nossas vidas e o mundo que habitamos. Aqueles que desejam acalmar um

    debate at o depois da revoluo, contendo toda a discusso em debates vagos e insignificantes, e reprimir a crtica das estratgias, tticas, ou ideias, no esto indo a lugar algum, e s vo nos

    atrasar. Um ponto essencial de qualquer perspectiva anarquista radical deve ser colocar tudo em

    questo, obviamente incluindo suas prprias ideias, projetos e aes.

    Influncias e Solidariedade

    A perspectiva anarquista-verde diversa e aberta, contudo, contm alguns elementos contnuos e

    primrios. A anarquia-verde tem sido influenciada por anarquistas, primitivistas, luditas,

    insurrecionalistas, situacionistas, niilistas, ecologistas profundos, biorregionalistas, ecofeministas,

    vrias culturas indgenas, lutas anti-colonialismo, os "ferais", os selvagens e a Terra. Os

    anarquistas, obviamente, contribuem para o impulso anti-autoritrio, que desafia todo o poder num

    nvel fundamental, empenhados por relaes verdadeiramente igualitrias e promovendo

    comunidades de apoio mtuo. Os anarquistas-verdes, entretanto, ampliam as ideias de no-

    dominao para todas as formas de vida, no apenas humanos, indo assim alm das anlises

    anarquistas tradicionais. Dos primitivistas, os narquistas-verdes so instrudos com um olhar

    crtico e provocativo das origens da civilizao, para que entendam que confuso essa e como

    chegamos a ela, para ajudar a apontar uma mudana de direo. Inspirados nos Luditas, os

    anarquistas-verdes reacendem uma orientao de ao direta anti-tecnolgica-industrial. Os

    insurrecionalistas introduzem uma perspectiva onde esperam no uma critica positiva e verdadeira,

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    mas identifica espontaneamente as instituies da civilizao que atam nossas liberdades e desejos.

    Os anarquistas anti-civilizao devem muito aos Situacionistas, e suas crticas da alienante

    sociedade da mercadoria, a qual podemos romper nos conectando de forma direta com nossos

    sonhos e desejos no-mediados. A recusa niilista em aceitar qualquer realidade demonstra o quo

    profundo o mal dessa sociedade e oferece aos anarquistas verdes uma estratgia que no

    necessita oferecer vises da sociedade, mas ao invs disso, focalizar em sua destruio. A Ecologia

    profunda, apesar de sua tendncia misantrpica, instrui a perspectiva anarquista-verde com um

    entendimento de que o bem-estar e a prosperidade de toda a vida esto ligados ao conhecimento do

    valor inerente e intrnseco do mundo no-humano independente de valor til. A apreciao da

    ecologia profunda pela riqueza e a diversidade da vida contribui para a realizao que a atual

    interferncia humana com o mundo no-humano coercivo e excessivo, com uma condio que se

    agrava rapidamente. O Biorregionalismo nos conduz a uma perspectiva de viver dentro de nossas

    prprias biorregies, e nos tornarmos intimamente conectados com a terra, a gua, o cl ima, as

    plantas, os animais, e outros espcimes da biorregio. O Ecofeminismo tem contribuindo para a

    compreenso das razes, dinmicas, manifestaes e realidade do patriarquismo, e seus efeitos na

    terra, nas mulheres, e na humanidade em geral. Recentemente, a separao destrutiva do homem da

    Terra (civilizao) tem provavelmente sido articulado mais claramente e intensamente por

    ecofeministas. Os anarquistas anti-civilizao tm sido profundamente influenciados por vrias

    culturas indgenas e nativas ao longo da histria e por aquelas que ainda existem. Enquanto

    humildemente aprendemos e incorporamos tcnicas sustentveis de sobrevivncia e maneiras

    saudveis de interagir com a vida, importante no igualar ou generalizar povos nativos e suas

    culturas, respeitar e nos esforar a entender sua diversidade sem agregar identidades e

    caractersticas culturais. Solidariedade, apoio, e tentativas de se conectar com nativos e lutas anti -

    coloniais, que tm sido a linha de frente da luta contra a civilizao, so essenciais enquanto ns nos

    esforamos para o desmantelamento da mquina-de-morte. Tambm importante entender que ns,

    de certa forma, descendemos de povos nativos que foram violentamente retirados de suas conexes

    com a terra, e por isso devemos fazer parte das lutas anti-coloniais. Somos inspirados tambm

    pelos ferais, queles que escaparam da domesticao e se reintegraram com o selvagem. E, claro,

    com os seres selvagens que tornam possvel este lindo organismo azul e verde chamado Terra.

    tambm importante lembrar que, enquanto muitos anarquistas-verdes extraem influencia de fontes

    similares, anarquia-verde algo muito pessoal para aqueles se identificam ou se conectam com

    estas ideias e aes. Perspectivas derivam de nossas prprias experincias de vida na cultura-de-

    morte (civilizao), e os prprios desejos fora do processo de domesticao, so ultimamente os

    mais vividos e importantes no processo de descivilizao.

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    Retorno ao Selvagem e Reconexo

    Para a maioria dos anarquistas verde/primitivistas/anti-civilizao retorno ao selvagem e

    reconexo com a terra um projeto de vida. Isto no limitado a compreenso intelectual ou

    praticas de habilidades primitivas, mas, em vez disso, um profundo entendimento das penetrveis

    maneiras pelas quais somos domesticados, fraturados, e deslocados de ns mesmos, dos outros e

    do mundo,o enorme e dirio desafio de sermos ntegros novamente. Retorno ao selvagem tem um

    componente fsico, o qual envolve habilitadas resgatadas e desenvolvimento para uma coexistncia

    sustentvel, incluindo como obter alimento, abrigo, e nos curar com as plantas, e materiais que

    existem naturalmente em nossas biorregies. O retorno ao selvagem tambm inclui o

    desmantelamento das manifestaes fsicas, dos aparatos, e da infraestrutura da civilizao. O

    retorno ao selvagem tem um componente emocional que envolve nos curar e curar os outros das

    profundas feridas de 10.000 anos, aprendemos a viver juntos em comunidades no-hierrquicas e

    no-opressivas, e desconstruir a mentalidade domesticada do atual modelo social.

    Retorno ao natural envolve priorizar as vontades e experincia direta sobre a mediao e alienao,

    repensando toda dinmica e o aspecto da nossa realidade, conectando com nossa fria feral para

    defender nossas vidas e lutar por uma existncia livre, desenvolvendo mais confiana em nossa

    intuio estando mais conectados com nossos instintos, recuperando o balano que foi virtualmente

    destrudo depois de milhares de anos de controle patriarcal e domesticao. O retorno ao natural

    o processo de se tornar "des-civilizado".

    PELA DESTRUIO DA CIVILIZAO!

    PELA RECONEXO COM A VIDA!

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