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    Ao e Reao Andr Luiz

    AO E REAO

    Francisco Cndido Xavier

    Ditado pelo esprito Andr Luiz

    FEDERAO ESPRITA BRASILEIRADEPARTAMENTO EDITORIALRua Souza Valente, 1720941-040 - Rio-RJ - BrasilISBN 85-7328-002-6

    20 edioDo 266 ao 276 milheiroCapa de CECCONI

    B.N. 10.83144-AA; 000.5-0; 512000Copyright 1956 61FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA(Casa Mater do Espiritismo)As. L-2 Norte -Q. 603-Conjunto F70830-030 - Braslia, DF - Brasil

    Composio, fotolito, e impresso ofsete dasOficinas do Departamento Grfico da FEBRua Souza Valente, 1720941-040-Rio de Janeiro, RJ-Brasil

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    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTE

    SINDICATO NACIONAL197920.ed.

    98-0733.DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.Luiz, Andr (Esprito)Ao e reao ditado pelo esprito Andr Luiz[psicografado por] Francisco Cndido Xavier.-20.ed.Rio de Janeiro:

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    Federao EspritaBrasileira, 2000ISBN 85-7328-002-61. Espiritismo. 2. Obras psicografadas. Xavier, FranciscoCndido, 1910-. II. Ttulo.

    070598 140598

    CDD 133.93CDD 133.7005212

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    NDICE

    Ante o Centenrio 91 - Luz nas sombras 13

    2 - Comentrios do Instrutor 233 - A interveno na memria 334 - Alguns recm-desencarnados 475 - Almas enfermias 586 - No crculo de orao 737 - Conversao preciosa 858 - Preparativos para o retorno 999 - A histria de Silas 11510 - Entendimento 13111 - O Templo e o Parlatrio 15112 - Dvida agravada 16413 - Dbito estacionrio 175

    14 - Resgate interrompido 18715 - Anotaes oportunas 20116 - Dbito aliviado 21317 - Dvida expirante 22918 - Resgates coletivos 24119 - Sanes e auxlios 25320 - Comovente surpresa 263

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    ANTE O CENTENRIO

    A 18 de abril de 1957, a Codificao Kardequiana, sob a gide do Cristo deDeus, celebrar o seu primeiro centenrio de valiosos servios Humanidade terrestre.

    Um sculo de trabalho, de renovao e de luz.

    Para contribuir nas homenagens ao memorvel acontecimento, grafou AndrLuiz as pginas deste livro.Escrevendo-o, nosso amigo desvelou uma nesga das regies inferiores a que se

    projeta a conscincia culpada, alm do corpo fsico, para definir a importncia daexistncia carnal, como sendo verdadeiro favor da Divina Misericrdia, a fim de quenos adaptemos ao mecanismo da Justia Indefectvel.

    por isso que entretece os fios de suas consideraes com a narrativa dasrelaes entre a esfera dos Espritos encarnados e os crculos de purgao, onde sedemoram os companheiros desenfaixados da carne, que se acumpliciaram nadelinqncia, criando, pelos desvarios da prpria conduta, o inferno exterior, que nadamais que os reflexo de ns mesmos, quando, pelo relaxamento e pela crueldade, nosentregamos prtica de aes deprimentes, que nos constrangem a temporria

    segregao nos resultados deplorveis de nossos prprios erros.Von Liszt, eminente criminalista dos tempos modernos, observa que o Estado,

    em sua expresso de organismo superior, e excetuando-se, como claro, os gruposcriminosos que por vezes transitoriamente o arrastam a funestos abusos do poder, noprescinde da pena, a fim de sustentar a ordem jurdica. A necessidade da conservao doprprio Estado justifica a pena.

    Com essa concluso, apagam-se, quase que totalmente, as antigas controvrsiasentre as teorias de Direito Penal, de vez que, nesse ou naquele clima de arregimentaopoltica, a tendncia a punir congenial ao homem comum, em face da necessidade demanter, tanto quanto possvel, a intangibilidade da ordem no plano coletivo.

    Andr Luiz, contudo, faz-nos sentir que o Espiritismo revela uma concepo dejustia ainda mais ampla.

    A criatura no se encontra simplesmente subordinada ao critrio dos penlogosdo mundo, categorizados coma de cirurgies eficientes no tratamento ou na extirpaoda gangrena social. Quanto mais esclarecida a criatura, tanto mais responsvel, entreguenaturalmente aos arestos da prpria conscincia, na Terra ou fora dela, toda vez que seenvolve nos espinheiros da culpa.

    Suas pginas, desse modo, guardam o objetivo de salientar que os princpioscodificados por Allan Kardec abrem uma nova era para o esprito humano, compelindo-o auscultao de si mesmo, no reajuste dos caminhos traados por Jesus ao verdadeiroprogresso da alma, e explicam que o Espiritismo, por isso mesmo, o disciplinador denossa liberdade, no apenas para que tenhamos na Terra uma vida social dignificante,mas tambm para que mantenhamos, no campo do esprito, uma vida individual

    harmoniosa, devidamente ajustada aos impositivos da Vida Universal Perfeita,consoante as normas de eterna Justia, elaboradas pelo supremo equilbrio das Leis deDeus.

    Eis por que, apresentando-as ao leitor amigo, reconhecemos nos postulados queabraamos no somente um santurio de consolaes sublimes, mas tambm um templode responsabilidades definidas, para considerar que a reencarnao um estgio sagradode recapitulao das nossas experincias e que a Doutrina Esprita, revivendo oEvangelho do Senhor, facho resplendente na estrada evolutiva, ajudando-nos aregenerar o prprio destino, para a edificao da felicidade real.

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    Em sntese, demonstra-nos o Autor que as nossas possibilidades de hoje nosvinculam s sombras de ontem, exigindo-nos trabalho infatigvel no bem, para aconstruo do Amanh, sobre as bases redentoras do Cristo.

    Exaltando, assim, os mritos inestimveis da obra de Allan Kardec, saudamos-lhe, comovidamente, o abenoado centenrio.

    Pedro Leopoldo, 1 de Janeiro de 1957.EMMANUEL

    1 - LUZ NAS SOMBRAS

    - Sim - afirmava-nos o Instrutor Druso, sabiamente -, o estudo da situaoespiritual da criatura humana, aps a morte do corpo, no pode ser relegado a planosecundrio. Todas as civilizaes que antecederam a glria ocidental nos temposmodernos consagraram especial ateno aos problemas de alm-tmulo.

    O Egito mantinha incessante intercmbio com os trespassados e ensinava queos mortos sofriam rigoroso julgamento entre Anbis, o gnio com cabea de chacal, eHrus, o gnio com cabea de gavio, diante de Mat, a deusa da justia, decidindo se

    as almas deveriam ascender ao esplendor solar ou se deveriam voltar aos labirintos daprovao, na prpria Terra, em corpos deformados e vis; os hindus admitiam que osdesencarnados, conforme as resolues do Juiz dos Mortos, subiriam ao Paraso oudesceriam aos precipcios do reino de Varuna, o gnio das guas, para serem insuladosem cmaras de tortura, amarrados uns aos outros por serpentes infernais; hebreus,gregos , gauleses e romanos sustentavam crenas mais ou menos semelhantes, convictosde que a elevao celeste se reservava aos Espritos retos e bons, puros e nobres,guardando-se os tormentos do inferno para quantos se rebaixavam na perversidade e nocrime, nas regies de suplcio, fora do mundo ou no prprio mundo, atravs dareencarnao em formas envilecidas pela expiao e pelo sofrimento.

    A conversao fascinava-nos.Hilrio e eu visitvamos a "Manso Paz", notvel escola de reajuste de que

    Druso era o diretor abnegado e amigo.O estabelecimento, situado nas regies inferiores, era bem uma espcie de

    "mosteiro So Bernardo", em zona castigada por natureza hostil, com a diferena de quea neve, quase constante em torno do clebre convento encravado nos desfiladeiros entrea Sua e a Itlia , era ali substituda pela sombra espessa, que, naquela hora, seadensava, movimentada e terrvel, ao redor da instituio, como se tocada por ventaniaincessante.

    O pouso acolhedor, que permanece sob a jurisdio de "Nosso Lar" (1), estfundado h mais de trs sculos, dedicando-se a receber Espritos infelizes ou enfermos,decididos a trabalhar pela prpria regenerao, criaturas essas que se elevam a colniasde aprimoramento na Vida Superior ou que retornam esfera dos homens para a

    reencarnao retificadora.(1) Cidade espiritual na Esfera Superior. - (Nota do Autor espiritual.)

    Em razo disso, o casario enorme, semelhante a vasta cidadela instalada comtodos os recursos de segurana e defesa, mantm setores de assistncia e cursos deinstruo, nos quais mdicos e sacerdotes, enfermeiros e professores encontram, depoisda morte terrestre, aprendizados e quefazeres da mais elevada importncia.

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    Pretendamos efetuar algumas observaes, com referncia s leis de causa eefeito -o carma dos hindus e, convenientemente recomendados pelo Ministrio doAuxlio, achvamo-nos ali, encantados com a palavra do orientador, que prosseguia,atencioso, aps longa pausa:

    - Acresce notar que a Terra vista sob os mais variados ngulos. Para oastrnomo, um planeta a gravitar em torno do Sol; para o guerreiro um campo de

    luta em que a geografia se modifica a ponta de baionetas; para o socilogo amploreduto em que se acomodam raas diversas; mas, para ns, valiosa arena de servioespiritual, assim como um filtro em que a alma se purifica, pouco a pouco, no curso dosmilnios, acendrando qualidades divinas para a ascenso glria celeste. Por isso, hque sustentar a luz do amor e do conhecimento, no seio das trevas, como necessriomanter o remdio no foco da enfermidade.

    Enquanto nos entendamos, reparvamos l fora, atravs do materialtransparente de larga janela, a convulso da Natureza.

    Ventania ululante, carregando consigo uma substncia escura, semelhante lama aeriforme, remoinhava com violncia, em torvelinho estranho, maneira de trevaencachoeirada...

    E do corpo monstruoso do turbilho terrvel rostos humanos surdiam em

    esgares de horror, vociferando maldies e gemidos.Apareciam de relance, jungidos uns aos outros como vastas correntes de

    criaturas agarradas entre si, em hora de perigo, na nsia instintiva de dominar esobreviver.

    Druso, tanto quanto ns, contemplou o triste quadro com visvel piedade amarear-lhe o semblante.

    Fixou-nos em silncio como a chamar-nos para a reflexo. Parecia dizer-nosquanto lhe doa o trabalho naquela paragem de sofrimento, quando Hilrio interrogou:

    - Por que no descerrar as portas aos que gritam l fora? No este um posto desalvao?

    - Sim - respondeu o Instrutor, sensibilizado -, mas a salvao s realmenteimportante para aqueles que desejam salvar-se.

    E, depois de pequeno intervalo, continuou:- Para c do tmulo, a surpresa para mim mais dolorosa foi essa, o encontro

    com feras humanas, que habitavam o templo da carne, feio de pessoas comuns. Seacolhidas aqui, sem a necessria preparao, atacar-nos-iam de pronto, arrasando-nos oinstituto de assistncia pacfica. E no podemos esquecer que a ordem a base dacaridade.

    Apesar da explicao firme e serena, concentrava-se Druso no painel exterior,tal a compaixo a desenhar-se-lhe na face.

    Logo aps, recompondo a expresso fisionmica, o Instrutor aduziu:- Somos hoje defrontados por grande tempestade magntica, e muitos

    caminheiros das regies inferiores so arrebatados pelo furaco como folhas secas no

    vendaval.- E guardam conscincia disso? - indagou Hilrio, perplexo.- Raros deles. As criaturas que se mantm assim desabrigadas, depois do

    tmulo, so aquelas que no se acomodam com o refgio moral de qualquer princpionobre.

    Trazem o ntimo turbilhonado e tenebroso, qual a prpria tormenta, em razodos pensamentos desgovernados e cruis de que se nutrem.

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    Odeiam e aniquilam, mordem e ferem. Aloj-los, de imediato, nos santurios desocorro aqui estabelecidos, ser o mesmo que asilar tigres desarvorados entre fiis queoram num templo.

    - Mas conservam-se, interminavelmente, nesse terrvel desajuste? - insistiu meucompanheiro agoniado.

    O orientador tentou sorrir e respondeu:

    - Isso no. Semelhante face de inconscincia e desvario passa tambm como atempestade, embora a crise, por vezes, persevere por muitos anos. Batida pelo temporaldas provaes que lhe impem a dor de fora para dentro, refunde-se a alma, pouco apouco, tranqilizando-se para abraar, por fim, as responsabilidades que criou para simesma.

    - Quer dizer, ento - disse por minha vez -, que no basta a romagem depurgao do Esprito depois da morte, nos lugares de treva e padecimento, para que osdbitos da conscincia sejam ressarcidos...

    - Perfeitamente - aclarou o amigo, atalhando-me a considerao reticenciosa -,o desespero vale por demncia a que as almas se atiram nas exploses de incontinnciae revolta. No serve como pagamento nos tribunais divinos. No razovel que odevedor solucione com gritos e improprios os compromissos que contraiu mobilizando

    a prpria vontade. Alis, dos desmandos de ordem mental a que nos entregamos,desprevenidos, emergimos sempre mais infelizes, por mais endividados.

    Cessada a febre de loucura e rebelio, o Esprito culpado volve ao remorso e penitncia. Acalma-se como a terra que torna serenidade e pacincia, depois deinsultada pelo terremoto, no obstante amarfanhada e ferida. Ento, como o solo queregressa ao servio da plantao proveitosa, submete-se de novo sementeirarenovadora dos seus destinos.

    Atormentada expectao baixara sobre ns, quando Hilrio considerou:- Ah! se as almas encarnadas pudessem morrer no corpo, alguns dias por ano,

    no maneira do sono fsico em que se refazem, mas com plena conscincia da vidaque as espera!...

    - Sim - ajuntou o orientador -, isso realmente modificaria a face moral domundo; entretanto, a existncia humana, por mais longa, simples aprendizado em queo Esprito reclama benficas restries para restaurar o seu caminho. Usando novamquina fisiolgica entre os semelhantes, deve atender renovao que lhe diz respeitoe isso exige a centralizao de suas foras mentais na experincia terrena a quetransitoriamente se afeioa.

    A palavra fluente e sbia do Instrutor era para ns motivo de singularencantamento, e, porque me supunha no dever de aproveitar os minutos, ponderava emsilncio, de mim para comigo, quanto qualidade das almas desencarnadas que sofriama presso da tormenta exterior.

    Druso percebeu-me a indagao mental e sorriu, como a esperar por minhapergunta clara e positiva.

    Instado pela fora de seu olhar, observei, respeitoso:- Diante do espetculo penoso a que nos dado assistir, somos naturalmenteconstrangidos a pensar na procedncia dos que experimentam o mergulho nessetorvelinho de horror... So delinqentes comuns ou criminosos acusados de grandesfaltas? Encontraramos por a seres primitivos como os nossos indgenas por exemplo?

    A resposta do amigo no se fez esperar.- Tais inquiries - disse ele -, quando de minha vinda para c, me assomaram

    igualmente cabea. H cinqenta anos sucessivos estou neste refgio de socorro,orao e esperana. Penetrei os umbrais desta casa como enfermo grave, aps o

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    desligamento do corpo terrestre. Encontrei aqui um hospital e uma escola. Amparado,passei a estudar minha nova situao, anelando servir. Fui padioleiro, cooperador dalimpeza, enfermeiro, professor, magnetizador, at que, de alguns anos para c, recebi

    jubilosamente o encargo de orientar a instituio, sob o comando positivo dosinstrutores que nos dirigem. Obrigado a pacientes e laboriosas investigaes, por forade meus deveres, posso adiantar-lhes que s densas trevas em torno somente aportam as

    conscincias que se entenebreceram nos crimes deliberados, apagando a luz doequilbrio em si mesmas. Nestas regies inferiores no transitam as almas simples, emqualquer aflio purgativa, situadas que se encontram nos erros naturais dasexperincias primrias. Cada ser est jungido, por impositivos da atrao magntica, aocrculo de evoluo que lhe prprio. Os selvagens, em grande maioria, at que se lhesdesenvolva o mundo mental, vivem quase sempre confinados a floresta que lhes resumeos interesses e os sonhos, retirando-se vagarosamente do seu campo tribal, sob a direodos Espritos benevolentes e sbios que os assistem; e as almas notoriamente primitivas,em grande parte, caminham ao influxo dos gnios benemritos que as sustentam einspiram, laborando com sacrifcio nas bases da instituio social e aproveitando oserros, filhos das boas intenes, maneira de ensinamentos preciosos que garantem aeducao dessas almas. Asseguro-lhes, assim, que, nas zonas infernais propriamente

    ditas, apenas residem aquelas mentes que, conhecendo as responsabilidades morais quelhes competiam, delas se ausentaram, deliberadamente, com o louco propsito deludibriarem o prprio Deus. O inferno, a rigor, pode ser, desse modo, definido comovasto campo de desequilbrio, estabelecido pela maldade calculada, nascido da cegueiravoluntria e da perversidade completa. A vivem domiciliados, s vezes por sculos,Espritos que se bestializaram, fixos que se acham na crueldade e no egocentrismo.Constituindo, porm, larga provncia vibratria, em conexo com a humanidadeterrestre, de vez que todos os padecimentos infernais so criaes dela mesma, esteslugares tristes funcionam como crivos necessrios para todos os Espritos queescorregam nas deseres de ordem geral, menosprezando as responsabilidades que oSenhor lhes outorga. Dessa forma, todas as almas j investidas no conhecimento daverdade e da justia e por isso mesmo responsveis pela edificao do bem, e que, naTerra, resvalam nesse ou naquele delito, desatentas para com o dever nobilitante que omundo lhes assinala, depois da morte do corpo estagiam nestes stios por dias, meses ouanos, reconsiderando as suas atitudes, antes da reencarnao que lhes compete abraar,para o reajustamento to breve quanto possvel.

    - Desse modo... Dispunha-se Hilrio a ensaiar concluses, mas Druso,apreendendo-lhe a idia, atalhou, sintetizando:

    - Desse modo, os gnios infernais que supem governar esta regio, com poderinfalvel, aqui vivem por tempo indeterminado. As criaturas perversas que com eles seafinam, embora lhes padeam a dominao, aqui se deixam prender por largos anos. Eas almas transviadas na delinqncia e no vcio, com possibilidades de prximarecuperao, aqui permanecem em estgios ligeiros ou regulares, aprendendo que o

    preo das paixes demasiado terrvel. Para as criaturas desencarnadas desse ltimotipo, que passam a sofrer o arrependimento e o remorso, a dilacerao e a dor, apesar deno totalmente livres das complexidades escuras com que se arrojaram s trevas, ascasas de fraternidade e assistncia como esta funcionam, ativas e diligentes, acolhendo-as quanto possvel e habilitando-as para o retorno s experincias de natureza expiatriana carne.

    Lembrava-me do tempo em que perlustrara, por minha vez, semiconsciente econturbado, os trilhos da sombra, quando de meu desligamento do veculo fsico,

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    confrontando meus prprios estados mentais do passado e do presente, quando oorientador prosseguiu:

    - Segundo fcil reconhecer, se a treva a moldura que imprime destaque luz, o inferno, como regio de sofrimento e desarmonia, perfeitamente cabvel,representando um estabelecimento justo de filtragem do Esprito, a caminho da VidaSuperior. Todos os lugares infernais surgem, vivem e desaparecem com a aprovao do

    Senhor, que tolera semelhantes criaes das almas humanas, como um pai que suportaas chagas adquiridas pelos seus filhos e que se vale delas para ajud-los a valorizar asade. As Inteligncias consagradas rebeldia e criminalidade, em razo disso, noobstante admitirem que trabalham para si, permanecem a servio do Senhor, que corrigeo mal com o prprio mal. Por esse motivo, tudo na vida movimentao para a vitriado bem supremo.

    Druso ia prosseguir, mas invisvel campainha vibrou no ar e, mostrando-sealertado pela imposio das horas, levantou-se e disse-nos simplesmente:

    - Amigos, chegou o instante de nossa conversao com os internados que j serevelam pacificados e lcidos. Dedicamos algumas horas, duas vezes por semana, asemelhante mister.

    Erguemo-nos sem divergir e acompanhamo-lo, prestamente.

    2 - COMENTRIOS DO INSTRUTOR

    O recinto a que demandramos era confortvel e amplo; mas a expressivaassemblia que o lotava era, em grande parte, desagradvel e triste.

    Ao claro de vrios lampadrios, podamos observar, do largo estrado em quenos instalramos com o orientador, os semblantes disformes que, em maioria, ali secongregavam.

    Aqui e ali se acomodavam assistentes e enfermeiros, cuja posio espiritual erafacilmente distinguvel pela presena simptica com que encorajavam os sofredores.

    Calculei em duas centenas, aproximadamente, o nmero de enfermos que nossa frente se reuniam.

    Mais de dois teros apresentavam deformidades fisionmicas.Quem ter visitado um sanatrio de molstias da pele, analisando em conjunto

    os doentes mais graves, poder imaginar o que fosse aquele agregado de almassilenciosas e dificilmente reconhecveis.

    Notando a quase completa quietude ambiente, indaguei de Druso quanto tempestade que se contorcia l fora, informando-me o generoso amigo que nosachvamos em salo interior da cidadela, exteriormente revestido de abafadores de som.

    Integrando a equipe dirigente, Hilrio e eu passamos a conhecer companheirosagradveis e distintos, os Assistentes Silas e Honrio e a irm Celestina, trs dos maisdestacados assessores na conduo daquela morada socorrista.

    No nos foi possvel qualquer entendimento, alm das saudaes comuns,

    porque o orientador, aps indicar um dos enfermos para proferir a orao de incio, queouvimos emocionadamente, tomou a palavra e falou com naturalidade, qual se estivesseconversando numa roda de amigos:

    - Irmos, continuemos hoje em nosso comentrio acerca do bom nimo. Nome creiam separado de vocs por virtudes que no possuo. A palavra fcil e bem posta, muita vez, dever espinhoso em nossa boca, constrangendo-nos reflexo e disciplina. Tambm sou aqui um companheiro espera da volta. A priso redentora dacarne acena-nos ao regresso. que o propsito da vida trabalha em ns e conosco,atravs de todos os meios, para guiar-nos perfeio. Cerceando-lhe os impulsos,

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    agimos em sentido contrrio Lei, criando aflio e sofrimento em ns mesmos. Noplano fsico, muitos de ns supnhamos que a morte seria ponto final aos nossosproblemas, enquanto outros muitos se acreditavam privilegiados da Infinita Bondade,por haverem abraado atitudes de superfcie, nos templos religiosos. A viagem dosepulcro, no entanto, ensinou-nos uma lio grande e nova - a de que nos achamosindissoluvelmente ligados s nossas prprias obras. Nossos atos tecem asas de

    libertao ou algemas de cativeiro, para a nossa vitria ou nossa perda. A ningumdevemos o destino seno a ns prprios. Entretanto, se verdade que nos vemos hojesob as runas de nossas realizaes deplorveis, no estamos sem esperana. Se asabedoria de nosso Pai Celeste no prescinde da justia para evidenciar-se, essa mesma

    justia no se revela sem amor. Se somos vtimas de ns mesmos, somos igualmentebeneficirios da Tolerncia Divina, que nos descerra os santurios da vida para quesaibamos expiar e solver, restaurar e ressarcir. Na retaguarda, aniquilvamos o tempo,instilando nos outros sentimentos e pensamentos que no desejvamos para ns, quandono estabelecamos pela crueldade e pelo orgulho vasta sementeira de dio eperseguio. Com semelhantes atitudes, porm, levantamos em nosso prejuzo adesarmonia e o sofrimento, que nos sitiam a existncia, quais inexorveis fantasmas. Opretrito fala em ns com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas

    cabeas os frutos amargos da plantao que fizemos... Da, os desajustes e enfermidadesque nos assaltam a mente, desarticulando-nos os veculos de manifestao. Admitamosque a transio do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos o Esprito, masressuscitamos no corpo sutil de agora com os males que alimentamos em nosso ser.Nossas ligaes com a retaguarda, por essa razo, continuam vivas. Laos deafetividade mal dirigida e cadeias de averso aprisionam-nos, ainda, a companheirosencarnados e desencarnados, muitos deles em desequilbrios mais graves econstringentes que os nossos. Nutrindo propsitos de regenerao e melhoria, somoshoje criaturas despertando entre o Inferno e a Terra, que se afinam to entranhadamenteum com o outro, como ns e nossos feitos. Achamo-nos imbudos do sonho derenovao e paz, aspirando imerso na Vida Superior, entretanto, quem poderiaadquirir respeitabilidade sem quitar-se com a Lei? Ningum avana para a frente sempagar as dvidas que contraiu. Como trilhar o caminho dos anjos, de ps amarrados aocarreiro dos homens, que nos acusam as faltas, compelindo-nos a memria ao mergulhonas sombras?!...

    Druso fez ligeira pausa e, depois de significativo gesto, como que indicando atorturada paisagem exterior, prosseguiu em tom comovente:

    - Em derredor do nosso pouso de trabalho e esperana, alongam-se flagelosinfernais... Quantas almas petrificadas na rebelio e na indisciplina a se desmandam noaviltamento de si mesmas? O Cu representa uma conquista, sem ser uma imposio. ALei Divina, alicerada na justia indefectvel, funciona com igualdade para todos. Poresse motivo, nossa conscincia reflete a treva ou a luz de nossas criaes individuais. Aluz, aclarando-nos a viso, descortina-nos a estrada. A treva, enceguecendo-nos,

    agrilhoa-nos ao crcere de nossos erros. O Esprito em harmonia com os DesgniosSuperiores descortina o horizonte prximo e caminha, corajoso e sereno, para diante, afim de super-lo; no entanto, aquele que abusa da vontade e da razo, quebrando acorrente das bnos divinas, modela a sombra em torno de si mesmo, insulando-se empesadelos aflitivos, incapaz de seguir frente. Definindo, assim, a posio que nos peculiar, somos almas entre a luz das aspiraes sublimes e o nevoeiro dos dbitosescabrosos, para quem a reencarnao, como recomeo de aprendizado, concesso daBondade Excelsa que nos cabe aproveitar, no resgate imprescindvel. Em verdade, pormuito tempo ainda sofreremos os efeitos das ligaes com os nossos cmplices e

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    associados de intemperana e desregramento, mas, dispondo de novas oportunidades detrabalho no campo fsico, possvel refazer o destino, solvendo escuros compromissos,e, sobretudo, promovendo novas sementeiras de afeio e dignidade, esclarecimento eascenso. Sujeitando-nos s disposies das leis que prevalecem na esfera carnal,teremos a felicidade de reencontrar velhos inimigos, sob o vu de temporrioesquecimento, facilitando-se-nos, assim, a reaproximao preciosa. Depender, desse

    modo, de ns mesmos, convert-los em amigos e companheiros, de vez que, padecendo-lhes a incompreenso e a antipatia, com humildade e amor, sublimaremos nossossentimentos e pensamentos, plasmando novos valores de vida eterna em nossas almas.

    Ante a pausa que o Instrutor imprimiu s suas consideraes, voltei-me para aassemblia que o escutava, suspensa nas flamas de elevada meditao.

    Alguns dos enfermos ali enfileirados tinham lgrimas nos olhos, enquantooutros mostravam o semblante exttico dos que se conservam entre o consolo e aesperana.

    Druso, que tambm sentia o efeito das suas palavras nos ouvintesreconfortados, continuou:

    - Somos Espritos endividados, com a obrigao de dar tudo, em favor da nossarenovao. Comecemos a articular idias redentoras e edificantes, desde agora,

    favorecendo a reconstruo do nosso futuro. Disponhamo-nos a desculpar os que nosofenderam, com o sincero propsito de rogar perdo s nossas vtimas. Cultivando aorao com servio ao prximo, reconheamos na dificuldade o gnio bom que nosauxilia, a desafiar-nos ao maior esforo. Reunindo todas as possibilidades ao nossoalcance, espalhemos, nas provncias de treva e dor que nos rodeiam, o socorro da precee o concurso do brao fraternal, preparando o regresso ao campo de luta - o plano carnal-, em que o Senhor pela bno de um corpo novo nos ajudar a esquecer o mal ereplantar o bem. Para ns, herdeiros de longo passado culposo, a esfera das formasfsicas simboliza a porta de sada do inferno que criamos. Superando nossasenfermidades morais e extinguindo antigas viciaes, no triunfo sobre ns mesmos,acrisolaremos nossas qualidades de esprito, a fim de que, em nos elevando, possamosestender mos amigas aos que jazem na lama do infortnio. Ns, que temos errado nassombras, atormentados viajores do sofrimento, ns, que conhecemos o deserto de gelo eo suplcio do fogo na alma opressa, poderamos, acaso, encontrar maior felicidade que ade subir alguns degraus no Cu, para descer, com segurana, aos infernos, de modo asalvar aqueles que mais amamos, perdidos hoje quais nos achvamos ontem, nas furnasda misria e da morte?

    Dezenas de circunstantes entreolhavam-se, admirados e felizes.A essa altura, mostrava-se o mentor nimbado de doce claridade a se lhe irradiar

    do trax em cintilaes opalinas.Fitei meu companheiro e, reparando-lhe os olhos enevoados de pranto, busquei

    sufocar minha prpria comoo.O Instrutor no falava como quem ensinasse, teorizando. Estampava na voz a

    inflexo de quem trazia uma dor imensamente sofrida e dirigia-se aos companheiroshumildes, ali congregados, quais se lhe fossem, todos eles, filhos queridos ao corao.- Supliquemos ao Senhor - prosseguiu, comovidamente - nos conceda foras

    para a vitria -, vitria que nascer em ns para a grande compreenso. Somente assim,ao preo de sacrifcio no reajuste, conseguiremos o passaporte libertador!...

    Calando-se o dirigente da casa, levantou-se da assemblia uma senhora triste, e,caminhando at ns, dirigiu-se a ele em lgrimas:

    - Meu amigo, releve-me a intromisso. Quando partirei para o campo terrestrecom meu filho? Tanto quanto posso, visito-o nas trevas... No me v, nem me escuta...

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    Sem se dar conta da misria moral a que se acolhe, continua autoritrio e orgulhoso...Paulo, no entanto, no para mim um inimigo... um filho inolvidvel... Ah! comopode o amor contrair tamanho dbito?!...

    - Sim... - exclamou Druso, reticencioso -, o amor a fora divina quefreqentemente aviltamos. Tomamo-la pura e simples da vida com que o Senhor noscriou e com ela inventamos o dio e o desequilbrio, a crueldade e o remorso, que nos

    fixam indefinidamente nas sombras... Quase sempre, mais pelo amor que nosenredamos em pungentes labirintos no tocante Lei... amor mal interpretado... malconduzido...

    Como se voltasse de rpida fuga ao seu mundo interior, acendeu novo brilho noolhar, afagou as mos da torturada mulher e anunciou:

    - Esperamos possa voc reunir-se, em breve, ao seu rapaz na valiosa empresado resgate. Pelos informes de que dispomos, no se demorar ele nas inibies em queainda se encontra. Tenhamos serenidade e confiana...

    Enquanto a pobrezinha se retirava com um sorriso de pacincia, o Instrutorponderou conosco:

    - Nossa irm possui excelentes qualidades morais, mas no soube orientar osentimento materno para com o filho que jaz nas sombras. Instilou nele idias de

    superioridade mals, que se lhe cristalizaram na mente, favorecendo-lhe os acessos derebeldia e brutalidade. Transformando-se em tiranete social, o infeliz foi fisgado, semperceber, ao pntano tenebroso, em seguida morte do corpo, e a desventuradagenitora, sentindo-se responsvel pela sementeira de enganos que lhe arruinou a vida,hoje se esfora por reav-lo.

    - E realizar semelhante propsito? - perguntou Hilrio com interesse.- No podemos duvidar - replicou nosso amigo, convincente.- Mas... como?- Nossa amiga, que amoleceu a fibra da responsabilidade moral no excesso de

    reconforto, voltar reencarnao em crculo pauprrimo, recebendo a, quandonovamente mulher jovem, ento desprotegida, o filho que ela prpria complicou nasantigas fantasias de mulher ftil e rica. Ser-lhe-, na carncia de recursos econmicos, ainspiradora de herosmo e coragem, regenerando-lhe a viso da vida e purificando-lheas energias na forja da dificuldade e do sofrimento.

    - E vencero no difcil tentame? - indagou meu companheiro, de novo,evidentemente intrigado.

    - A vitria a felicidade que todos lhes desejamos.- E se perderem na batalha projetada?- Decerto - falou o orientador com expressiva inflexo de voz - regressaro em

    piores condies aos precipcios que nos circundam...Depois de um sorriso triste, Druso ajuntou:- Cada um de ns, os Espritos endividados, em renascendo na carne, transporta

    consigo para o ambiente dos homens uma rstia do cu que sonha conquistar e um vasto

    manto do inferno que plasmou para si mesmo. Quando no temos fora suficiente paraseguir ao encontro do cu que nos confere oportunidades de ascenso at ele,retornamos ao inferno que nos fascina retaguarda...

    Nosso anfitrio ia continuar, no entanto, um velhinho cambaleante veio at nse disse-lhe humildemente:

    - Ah! meu Instrutor, estou cansado de trabalhar nos tropeos daqui!... H vinteanos carrego doentes loucos e revoltados para este asilo!... Quando terei meu corpo naTerra para descansar no esquecimento da carne, aos ps dos meus?...

    Druso afagou-lhe a cabea e respondeu, comovido:

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    - No desfalea, meu filho! Console-se! Tambm ns, faz muitos anos, estamospresos a esta casa, por injunes de nosso dever. Sirvamos com alegria. O dia de nossamudana ser determinado pelo Senhor.

    Calou-se o ancio, de olhos tristes.Logo aps, o orientador fez vibrar pequena campainha e a assemblia se

    colocou vontade para a livre conversao.

    Um moo de expresso simptica abeirou-se de ns e, depois de saudar-nosafetuosamente, observou, inquieto:- Instrutor amigo, ouvindo-lhe a palavra educativa e ardente, fico a cismar nos

    enigmas da memria... Por que este olvido para c da morte fsica? Se tive existnciasoutras, antes da ltima, cujos erros agora procuro reparar, por que razo me no lembrodelas? Antes de partir para o campo fsico, na romagem que me fixou o nome pelo qualhoje respondo, devo ter deixado bons amigos na vida espiritual, assim como algumque, viajando na Terra de um continente para outro, comumente deixa no cais afeiesqueridas que no o esquecem... Como justificar a amnsia que me no permite recordaros companheiros que devo possuir a distncia?

    - Bem -, ponderou o interpelado, sabiamente -, os Espritos que na vida fsicaatendem aos seus deveres com exatido, retomam pacificamente os domnios da

    memria, to logo se desenfaixam do corpo denso, reentrando em comunho com oslaos nobres e dignos que os aguardam na Vida Superior, para a continuidade do serviode aperfeioamento e sublimao que lhes diz respeito; contudo, para ns, conscinciasintranqilas, a morte no veculo carnal no exprime libertao. Perdemos o carrofisiolgico, invisvel de nossas culpas; e a culpa, meu amigo, sempre uma nesga desombra eclipsando-nos a viso. Nossas faculdades mnemnicas, relativamente s nossasquedas morais, assemelham-se, de certo modo, s conhecidas chapas fotogrficas, asquais, se no forem convenientemente protegidas, sempre se inutilizam.

    O mentor fez breve pausa em suas consideraes e continuou:- Imaginemos a mente como sendo um lago. Se as guas se acham pacificadas e

    lmpidas, a luz do firmamento pode retratar-se nele com segurana. Mas, se as guasvivem revoltas, as imagens se perdem ao quebro das ondas mveis, principalmentequando o lodo acumulado no fundo aparece superfcie. A rigor, somos aqui, nas zonasinferiores, seres humanos muito distantes da renovao espiritual, no obstantedesencarnados.

    O consulente escutava-o, visivelmente surpreendido, e dispunha-se a formularinterrogaes novas, ante a pausa que se fizera, mas Druso, antecipando-se-lhe palavra, acentuou em tom amigo:

    - Observe a realidade em si mesmo. A despeito dos estudos a quepresentemente se confia e apesar das sublimes esperanas que lhe ocupam agora ocorao, seu pensamento vive preso aos stios e paisagens de que, pela morte,supostamente se desvencilhou. Em pleno caminho da espiritualidade, voc se identificacom as escuras reminiscncias que permanecem ao longe, no tempo: o lar, a famlia, os

    compromissos imperfeitamente solucionados... Tudo isso lastro, inclinando a suamente para o mundo fsico, onde nossos dbitos reclamam sacrifcio e pagamento.- verdade, verdade... - suspirou o rapaz, compungidamente.Mas o Instrutor prosseguiu:- Sob a hipnose nossa memria pode regredir e recuperar-se por momentos.

    Isso, porm, um fenmeno de compulso... E em tudo convm satisfazer sabedoriada Natureza. Libertemos o espelho da mente que jaz sob a lama do arrependimento, doremorso e da culpa, e esse espelho divino refletir o Sol com todo o esplendor de suapureza.

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    Druso ia continuar, mas a chegada de um colaborador impeliu-nos conclusodo assunto.

    3 - A INTERVENO NA MEMRIA

    O novo companheiro que o dirigente da casa nos apresentou como sendo o

    Assistente Barreto, exibindo recndita aflio a sombrear-lhe os olhos, comunicou:- Instrutor Druso, na Enfermaria Cinco, trs dos irmos recm-acolhidosentraram em crise de angstia e rebeldia...

    - J sei - replicou o interpelado -, a loucura por telepatia alucinatria. Aindano se encontram suficientemente fortes para resistir ao impacto das foras perversasque lhes so desfechadas, a distncia, pelos companheiros infelizes.

    - Que fazer?- Retire os enfermos normais e aplique na enfermaria os raios de choque.No dispomos de outro recurso.Despedia-se o mensageiro, renteando conosco, e outro funcionrio j se

    apresentava, notificando:- Instrutor, a tela de aviso que no funcionava, em conseqncia da tormenta

    agora em declnio, acaba de transmitir aflitiva mensagem... Duas das nossas expediesde pesquisas esto em dificuldade nos desfiladeiros das Grandes Trevas...

    - A posio foi precisamente indicada?- Sim.- Conduza os textos recebidos considerao do diretor de operaes urgentes.

    O auxlio deve ser enviado o mais breve possvel.De inesperado, outro colaborador veio at ns e pediu:- Instrutor, rogo-lhe providncias na soluo do caso Jonas. Recolhemos agora

    um recado de nossos irmos, cientificando-nos de que a reencarnao dele talvez sejafrustrada em definitivo.

    Pela primeira vez, notei que o dirigente da Manso mostrou intensapreocupao no olhar. Patenteando enorme surpresa, indagou do emissrio:

    - Em que consiste o obstculo?- Cecina, a futura mezinha, sentindo-lhe os fluidos grosseiros, nega-se a

    receb-lo. Estamos presenciando a quarta tentativa de aborto, no terceiro ms degestao, e vimos fazendo o que possvel por mant-la na dignidade maternal.

    Druso esboou no semblante um sinal de serena firmeza e acentuou:- intil. A jovem me aceit-lo-, segundo os compromissos dela prpria.

    Alm disso, precisamos da internao de Jonas, no corpo fsico, pelo menos durante seteanos terrestres. Tragam Cecina at aqui, ainda hoje, logo se entregue ao sono natural,para que possamos auxili-la com a necessria interveno magntica.

    Outros elementos de servio vinham chegando e, faminto de esclarecimentos,qual me achava, procurei um recanto prximo, em companhia do Assistente Silas, a

    quem crivei de indagaes em tom discreto, de modo a no perturbar o recinto.Quem eram aqueles funcionrios? Seria justo que o diretor da casa fossemolestado, assim, com tantas consultas, quando os trabalhos de administrao poderiamser compreensivelmente subdivididos?

    O amigo deu-se pressa em elucidar-me, informando que os mensageiros noeram simples tarefeiros, mas condutores de servio em subchefias determinadas, todoseles Assistentes e Assessores, cultos e dignos, com enormes responsabilidades, e quesomente demandavam a presena de Druso depois de movimentarem todas as

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    providncias cabveis no mbito da autoridade a eles inerente. O problema no era, pois,de centralizao, mas de luta intensiva.

    - E aquele caso de reencarnao pendente? - ousei perguntar, respeitoso. - Acasa podia opinar com segurana na soluo de semelhante assunto?

    O interpelado sorriu, benevolente, e respondeu:- Para que me faa compreendido, convm esclarecer que, se existem

    reencarnaes ligadas aos planos superiores, temos aquelas que se enrazam diretamentenos planos inferiores. Se a penitenciria vigora entre os homens, em funo dacriminalidade corrente no mundo, o inferno existe, na Espiritualidade, em funo daculpa nas conscincias. E assim como j podemos contar na esfera carnal com uma

    justia sinceramente interessada em auxiliar os delinqentes na recuperao, atravs dolivramento condicional e das prises-escola, organizadas pelas prprias autoridades quedirigem os tribunais humanos em nome das leis, aqui tambm os representantes doAmor Divino podem mobilizar recursos de misericrdia, beneficiando Espritosdevedores, desde que se mostrem dignos do socorro que lhes abrevie o resgate e aregenerao.

    - Quer dizer - exclamei - que, em boa lgica terrena, e utilizando-me de umalinguagem de que usaria um homem na experincia fsica, h reencarnaes em perfeita

    conexo com os planos infernais...- Sim. Como no? Valem como preciosas oportunidades de libertao dos

    crculos tenebrosos. E como tais renascimentos na carne no possuem senocaractersticas de trabalho expiatrio, em muitas ocasies so empreendimentosplanejados e executados daqui mesmo, por benfeitores credenciados para agir e ajudarem nome do Senhor.

    - E, nesses casos - aduzi -, o Instrutor Druso dispe da necessria delegao decompetncia para resolver os problemas dessa espcie?

    - Nosso dirigente - falou o amigo prestimoso -, como razovel, no goza defaculdades ilimitadas e esta instituio suficientemente ampla para absorver-lhe osmaiores cuidados. Entretanto, nos processos reencarnatrios, funciona como autoridadeintermediria.

    - De que modo?- Duas vezes por semana reunimo-nos no Cenculo (2) da Manso e os

    mensageiros da luz, por instrumentos adequados, deliberam quanto ao assunto,apreciando os processos que a nossa casa lhes apresenta.

    (2) Templo ntimo da instituio. (Nota do autor espiritual.)

    - Mensageiros da luz?- Sim, so prepostos das Inteligncias anglicas que no perdem de vista as

    plagas infernais, porque, ainda que os gnios da sombra no o admitam, as foras doCu velam pelo inferno que, a rigor, existe para controlar o trabalho regenerativo naTerra.

    E, sorrindo:- Assim como o doente exige remdio, reclamamos a purgao espiritual, a fim

    de que nos habilitemos para a vida nas esferas superiores. O inferno para a alma que oerigiu em si mesma aquilo que a forja constitui para o metal: ali ele se apura e semodela convenientemente. . .

    O companheiro ia continuar, mas estranho rudo nos tomou a ateno, aomesmo tempo que um emissrio varou uma das portas, situada rente a ns, e, abeirando-se de Druso, anunciou:

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    - Instrutor, depois de amainada a tormenta, voltou o assalto dos raiosdesintegrantes...

    O orientador esboou um gesto de preocupao e recomendou:- Liguem as baterias de exausto. Observaremos a defensiva, instalados na

    Agulha de Vigilncia.Em seguida, convidou-nos a acompanh-lo.

    Silas, Hilrio e eu seguimo-lo sem hesitar.Atravessamos vastssimos corredores e largos sales, em sentido ascendente,at que comeamos a subir de maneira direta.

    O local conhecido por Agulha de Vigilncia era uma torre, provida de escadariahelicoidal, algumas dezenas de metros acima do grande e complicado edifcio. No topo,descansamos em pequeno gabinete, em cujo recinto interessantes aparelhos nosfacultaram a contemplao da paisagem exterior.

    Assemelhavam-se a telescpios diminutos, que funcionavam como lanadoresde raios que eliminavam o nevoeiro, permitindo-nos exata noo do ambienteconstrangedor que nos cercava, povoado de criaturas agressivas e exticas, que fugiam,espavoridas, ante vasto grupo de entidades que manobravam curiosas mquinas guisade canhonetes.

    - Estaremos assediados por um exrcito atacante? - perguntei, intrigado.- Isso mesmo - confirmou Druso, calmamente -, esses ataques, porm, so

    comuns. Com semelhante invaso, pretendem nossos irmos infelizes deslocar nossacasa e levar-nos inrcia, a fim de senhorearem a regio.

    - E aquelas equipagens? que vm a ser? - enunciou meu companheiro,assombrado.

    - Podemos defini-las como canhes de bombardeio eletrnico - informou oorientador. - As descargas sobre ns so cuidadosamente estudadas, a fim de que nosatinjam sem erro na velocidade de arremesso.

    - E se nos alcanassem? - perguntou meu colega.- Decerto provocariam aqui fenmenos de desintegrao, suscetveis de

    conduzir-nos runa total, sem nos referirmos s perturbaes que estabeleceriam emnossos irmos doentes, ainda incapazes de qualquer esforo para a emigrao, porque osraios desfechados contra ns contm princpios de flagelao, que provocam as piorescrises de pavor e loucura.

    No longe de ns, rudo soturno vibrava na atmosfera.Tnhamos a impresso de que milhares de projteis invisveis cortavam o ar,

    violentamente, sibilando a reduzida distncia e acabando em estalidos secos, a nosinfundirem pavorosa impresso.

    Talvez porque Hilrio e eu demonstrssemos insofrevel espanto, Drusoponderou, paternal:

    - Estejamos tranqilos. Nossas barreiras de exausto funcionam com eficincia.E designou-nos ao olhar assustadio longa muralha, constituda por milhares de

    hastes metlicas, cercando a cidadela em toda a extenso, qual se fosse larga srie depra-raios habilmente dispostos. Em todos os lances do flanco atacado, surgiam fascaseltricas, a fulgurarem nos pontos de contacto, atradas pelas pontas a prumo. Oespetculo, em sua beleza terrvel, caracterizava-se, a olho nu, pela cintilao doscontrastes, entre a sombra imensa e a luz relampagueante.

    - Os conflitos aqui so incessantes - disse-nos o orientador com dignidadeserena -; no entanto, temos aprendido nesta Manso que a paz no conquista dainrcia, mas sim fruto do equilbrio entre a f no Poder Divino e a confiana em nsmesmos, no servio pela vitria do bem.

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    Nesse instante, porm, um servidor da casa penetrou no recinto e disse:- Instrutor Druso, conforme as recomendaes havidas, o doente recolhido na

    noite passada foi instalado no gabinete de socorro magntico, aguardando-lhe ainterveno.

    - Conseguiu dizer algo?- No. Continua apenas com os gemidos peridicos.

    - Nenhum indcio de identificao?- Nenhum.O mentor infatigvel convidou-nos a segui-lo, explicando que a operao em

    perspectiva poderia oferecer importantes elementos de estudo ao trabalho que nospropnhamos realizar. A breve trecho de tempo, vimo-nos os quatro numa sala deregulares propores, que primava pela simplicidade e pelo azul repousante.

    Em mesa desmontvel, um homem disforme estirava-se em decbito dorsal,respirando apenas. Para referir-nos com franqueza criatura sob nossos olhos, cabe-nosafirmar que o aspecto do infeliz chegava a ser repelente, apesar dos cuidados de que jfora objeto. Parecia sofrer inqualificvel hipertrofia, mostrando braos e pernasenormes. Entretanto, onde o aumento volumtrico do instrumento perispirtico se faziamais desagradvel era justamente na mscara fisionmica, em que todos os traos se

    confundiam, qual se estivssemos frente de uma esfera estranha, guisa de cabea.Seria um homem desencarnado em algum atropelamento terrestre, aguardando,

    ali, o imediato alivio que se deve aos acidentados comuns?Druso sentiu-nos a pergunta silenciosa e explicou:- Trata-se de um companheiro, dificilmente identificvel, trazido at aqui por

    uma de nossas expedies socorristas.- Mas ter sido recentemente liberto do mundo fsico? indagou meu colega,

    tanto quanto eu, dolorosamente impressionado.- Por enquanto, no sabemos - elucidou o orientador. - uma dessas pobres

    almas que ter deixado o crculo carnal sob o imprio de terrvel obsesso, to terrvelque no ter podido recolher o amparo espiritual das caridosas legies que operam nostmulos. Indubitavelmente, largou o corpo denso sob absoluta subjugao mental,caindo em problemas angustiantes.

    - Mas, por que semelhante calamidade? - inquiriu Hilrio, empolgado deassombro.

    - Meu amigo - replicou Druso, benevolente -, no ser mais justo sondar osmotivos pelos quais nos decidimos a contrair dbitos, assim to escabrosos?

    E, modificando o tom de voz que se fez algo triste e comovedor, aconselhou:- As regies infernais esto superlotadas do sofrimento que ns mesmos

    criamos. Precisamos equilibrar a coragem e a compaixo no mesmo nvel, para atendercom segurana aos nossos compromissos nestes lugares.

    Fitei o irmo desventurado que se mantinha em funda prostrao, qual enfermoem estado de coma, e, considerando os imperativos de nosso aprendizado, indaguei:

    - Poderemos conhecer a razo da surpreendente deformidade sob nosso exame?O orientador percebeu a essncia construtiva de minha perquirio e respondeu:- O fenmeno, todo ele, de natureza espiritual. Recorda-se voc de que a dor

    no veculo fsico um acontecimento real no encfalo, mas puramente imaginrio norgo que supe experiment-la. A mente, atravs das clulas cerebrais, registra adesarmonia corprea, constrangendo a urdidura orgnica ao servio, por vezes torturadoe difcil, do reajuste. Aqui, tambm, o aspecto anormal, at monstruoso, resulta dosdesequilbrios dominantes na mente que, viciada por certas impresses ou vulcanizadapelo sofrimento, perde temporariamente o governo da forma, permitindo que os

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    delicados tecidos do corpo perispirtico se perturbem, tumultuados, em condiesanormais. Em tal situao, a alma pode cair sob o cativeiro de Inteligncias perversas eda procedem as ocorrncias deplorveis pelas quais se despenha em transitriaanimalizao por efeito hipntico.

    Notei, contudo, que o Instrutor, compadecido, no desejava alongarentendimentos que se no reportassem ao socorro devido ao infortunado, e calei-me.

    Druso inclinou-se sobre ele com a ternura de algum que auscultasse um irmomuito amado, e anunciou:- Procuremos ouvi-lo.Incapaz de conter o assombro que me empolgava, inquiri:- Ele dorme?O mentor fez um gesto afirmativo, notificando:- Nosso desventurado amigo encontra-se sob terrvel hipnose.Inegavelmente, foi conduzido a essa posio por adversrios temveis, que,

    decerto, para tortur-lo, fixaram-lhe a mente em alguma penosa recordao.- Mas - insisti, emocionado - semelhante martrio poderia sobrevir, sem razo

    justa?- Meu amigo - falou o orientador, expressivamente -, com exceo do caminho

    glorioso das grandes almas, que elegem no sacrifcio prprio o apostolado de amor comque ajudam os companheiros da Humanidade, no se ergue o espinheiro do sofrimentosem as razes da culpa. Para atingir a miserabilidade em que se encontra, nosso irmoter acumulado dbitos sobremaneira escabrosos.

    Em seguida, contrariando-nos qualquer propsito de divagao, acentuou:- Desintegremos as foras magnticas que lhe constringem os centros vitais e

    ajudemo-lhe a memria, para que se liberte e fale.E talvez porque o meu olhar lhe endereasse mudo apelo a esclarecimento mais

    amplo, acrescentou:- No seria lcito agir base de hipteses. indispensvel ouvir os delinqentes

    e as vtimas, a fim de que, atravs das informaes deles mesmos, saibamos por ondecomear a obra de auxlio.

    Procurei sopitar inquiries extemporneas e entreguei-me expectativa.Logo aps, o Assistente, Hilrio e eu, de maneira instintiva, estabelecemos uma

    corrente de orao, sem prvia consulta, e nossas foras reunidas como que fortaleciamo Instrutor, que, demonstrando fisionomia calma e otimista, passou a operar,magneticamente, aplicando passes dispersivos no companheiro em prostrao.

    O enfermo reagiu, com movimentao gradativa, qual se acordasse de longosono. Decorridos alguns minutos, o orientador pousou a destra sobre a cabea disforme,como se lhe chamasse a memria ao necessrio despertamento e, logo em seguida, odesventurado comeou a gemer, revelando o pavor de quem suspira por desvencilhar-sede um pesadelo.

    Porque Druso interrompesse a operao, detendo-o nesse estado, Hilrio

    indagou, aflito:- Dever permanecer, ento, assim, beira da viglia, sem reapossar-se de simesmo?

    - No lhe convm o imediato retorno realidade - esclareceu o mentor amigo. -Poderia sofrer deplorvel crise de loucura, com graves conseqncias. Conversarconosco, assim qual se v, com a mente enovelada idia fixa que lhe encarcera ospensamentos no mesmo crculo vicioso, a fim de que lhe venhamos a conhecer oproblema crucial, sem qualquer distoro.

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    A palavra do orientador denotava grande experincia na psicologia dosEspritos vitimados nas trevas.

    Depois de nova interveno do mentor sobre a glote, o infeliz descerrou asplpebras e, mostrando os olhos esgazeados, comeou a bramir:

    - Socorro! socorro!... sou culpado, culpado!... No posso mais... Perdo!perdo!

    Dirigindo-se a Druso, e tomando-o decerto por magistrado, exclamou:- Senhor juiz, senhor juiz!... at que enfim, posso falar! Deixem-me falar!...O dirigente da Manso afagou-lhe a cabea atormentada e replicou em tom

    amigo:- Diga, diga o que deseja.O rosto do asilado cobriu-se de lgrimas, entremostrando a superexcitao dos

    sonmbulos que transformam a prpria fraqueza em energia inesperada, e comeou afalar, compungidamente:

    - Sou Antnio Olmpio... o criminoso!... Contarei tudo. Em verdade, pequei,pequei... por isso justo... que eu sofra no inferno... O fogo tortura minhalma semconsumi-la... E o remorso, bem sei... Se eu soubesse, no teria... cometido a falta...entretanto, no pude resistir ambio... Depois da morte de meu pai... vi-me

    obrigado... a partilhar nossa grande fazenda com meus dois irmos mais novos...Clarindo e Leonel... Trazia, porm, a cabea... dominada de planos... Pretendiaconverter a propriedade... que eu administrava... em larga fonte de renda, contudo... apartilha me estorvava... Notei que os manos... tinham idias diferentes das minhas... ecomecei a maquinar o projeto que acabei... executando...

    Uma crise de soluos embargou-lhe a voz, mas Druso, amparando-omagneticamente, insistiu:

    - Continue, continue...- Admiti - continuou o enfermo com acento mais firme - que somente poderia

    ser feliz, aniquilando meus irmos e... quando o inventrio estava prestes a decidir-se,convidei-os a passear comigo... de barco... inspecionando grande lago de nosso stio...Antes, porm, dei-lhes a beber um licor entorpecente... Calculei o tempo que a drogareclamaria para um efeito seguro e... quando a nossa conversao ia acesa...percebendo-lhes os sinais de fadiga... num gesto deliberado desequilibrei a embarcao,em conhecido trecho... onde as guas eram mais fundas... Ah! que calamidadeinesquecvel!... Ainda agora, escuto-lhes os brados arrepiantes de horror, implorandosocorro... mas... de nervos dormentes... a breves minutos... encontraram a morte... Nadeide conscincia pesada, mas firme em meus aloucados propsitos... abordando a praia eclamando por auxlio... Com atitudes estudadas, pintei um imaginrio acidente... Foiassim que me apossei da fazenda inteira, legando-a, mais tarde, a Luis... o meu filhonico... Fui um homem rico e tido por honesto... O dinheiro granjeou-me consideraessociais e privilgios pblicos que a poltica distribui com todos aqueles que se fazemvencedores no mundo... pela sagacidade e pela inteligncia... De quando em quando...

    recordava meu crime... nuvem constante a sombrear-me a conscincia... mas... emcompanhia de Alzira... a esposa inolvidvel... procurava distraes e passeios que metomassem a ateno... Nunca pude ser feliz... Quando meu filho se fez jovem... minhamulher adoeceu gravemente... e da febre que a devorou por muitas semanas... passou loucura... com a qual se afogou no lago... numa noite de horror. Vivo... perguntava amim mesmo se no estava sendo joguete... do fantasma de minhas vtimas... entretanto...temia todas as referncias em torno da morte... e busquei simplesmente gozar a fortunaque era bem minha...

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    O infeliz entregou-se a larga pausa de repouso, diante de nossa expectativa,continuando, logo aps:

    - Ai de mim, porm!... To logo cerrei os olhos fsicos... diante do sepulcro...no me valeram as preces pagas... porque meus irmos que eu supunha mortos... sefizeram visveis minha frente... Transformados em vingadores, ladearam-me otmulo... Atiraram-me o crime em rosto... cobriram-me de improprios e flagelaram-me

    sem compaixo... at que... talvez... cansados de me espancarem... conduziram-me atenebrosa furna... onde fui reduzido ao pesadelo em que me encontro... Em meupensamento... vejo apenas o barco no crepsculo sinistro... ouvindo os brados de minhasvtimas... que soluam e gargalham estranhamente ... Ai de mim! ... estou preso terrvel embarcao... sem que me possa desvencilhar... Quem me far dormir oumorrer?...

    Como se o trmino da confisso lhe trouxesse algum descanso, arrojou-se odoente a enorme apatia.

    Druso enxugou-lhe o pranto, dirigiu-lhe palavras de consolo e carinho erecomendou ao Assistente recolh-lo enfermaria especializada e, em seguida, falou-nos, pensativo:

    - J sabemos o necessrio para estabelecer um ponto de partida na tarefa

    assistencial.Tornaremos ao caso em momento oportuno.E acrescentou, cismativo, depois de longa pausa:- Que Jesus nos ampare.No nos foi possvel, contudo, aditar observaes, porque um mensageiro vinha

    comunicar ao Instrutor que uma caravana de recm-desencarnados estava prestes achegar e acompanhamo-lo ao servio que ele nomeou como sendo "tarefa de inspeo".

    4 - ALGUNS RECM-DESENCARNADOS

    Atingramos largo recinto construdo feio de um ptio interior depropores corretas e amplas.

    Tive a idia de penetrar em enorme trio, algo semelhante a certas estaesferrovirias terrestres, porque nas acomodaes marginais, caprichosamente dispostas,se encontravam dezenas de entidades em franca expectativa.

    A dizer verdade, no vi sinais de alegria completa em rosto algum.Os grupos variados, alguns deles em discreto entendimento, dividiam-se entre a

    preocupao e a tristeza.De passagem, podamos ouvir dilogos diferentes.Em crculo reduzido, registramos frases como estas:- Acreditas possa ela, agora, devotar-se mudana justa?- Dificilmente. Centralizou-se, por muito tempo, no descontrole da prpria vida.Mais alm, escutamos dos lbios de uma senhora que se dirigia a um rapaz de

    agoniado semblante:- Meu filho, guarde serenidade. Segundo informaes do Assistente Cludio,seu pai no vir em condies de reconhecer-nos. Precisar muito tempo para retornar asi.

    Em trnsito, no assinalava seno alguns retalhos de conversao como esses.A certa altura, na praa em movimentao, Druso, generoso, confiou-nos aos

    cuidados de Silas, mencionando obrigaes urgentes que lhe absorveriam a ateno.Encontrar-nos-amos no dia seguinte, informou.A promessa gentil obrigou-me a considerar o aspecto do tempo.

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    Pela sombra reinante, no poderamos saber se era dia, se era noite.Por isso, o grande relgio, ali existente, com largo mostrador abrangendo as

    vinte e quatro horas, funcionou aos meus olhos como a bssola para o viajante,deixando-me perceber que estvamos em noite alta. (3)

    (3) Reportamo-nos a regies encravadas nos domnios do prprio globo terrestre, submetidas s

    mesmas leis que lhe regulam o tempo. - (Nota da Autor espiritual.)

    Sons de campanas invisveis cortavam agora o ar e, assinalando-nos acuriosidade, Silas esclareceu que a caravana-comboio penetraria no recinto em algunsminutos.

    Aproveitei os momentos para indagaes que julguei necessrias.Que espcie de criaturas aguardvamos, ali? recm-desencarnados em que

    condies? como se organizaria a caravana-comboio? vinha diariamente instituioatendendo a horrio certo?

    O companheiro, que se dispusera a assistir-nos, informou que as entidadesprestes a entrarem integravam uma equipe de dezenove pessoas, acompanhadas por dezservidores da casa, que lhes orientavam a excurso, tratando-se de recm-desencarnados

    em desequilbrio mental, mas credores de imediata assistncia, de vez que no seachavam em desesperao, nem se haviam comprometido de todo com as forasdominantes nas trevas. Notificou, ainda, que a caravana se constitua de trabalhadoresespecializados, sob a chefia de um Atendente, e que viajavam com simplicidade, semcarros de estilo, apenas conduzindo o material indispensvel locomoo no pesadoambiente das sombras, auxiliados por alguns ces inteligentes e prestimosos.

    A Manso contava com dois grupos dessa natureza.Diariamente um deles atingia aquele domiclio de reajuste, revezando-se no

    piedoso mister socorrista. Entretanto - aclarou -, no possuam horrio certo para achegada, de vez que a peregrinao, pelos domnios das trevas, obedecia comumente afatores circunstanciais.

    Mal terminara o interlocutor e a expedio penetrava o enorme trio.

    Os cooperadores responsveis estavam aparentemente calmos, evidenciandoalguns, entretanto, no olhar, funda preocupao. Os recolhidos, no entanto, exceo decinco que vinham de maca, desmemoriados e dormentes, revelavam perturbaesmanifestas que, em alguns, se expressavam por loucura desagradvel, se bem quepacfica.

    Enquanto os enfermeiros se desvelavam em ajud-los, carinhosos e atentos, e osces se deitavam, extenuados, aqueles seres recm-chegados falavam e reclamavam,demonstrando absoluta ausncia mental da realidade e provocando piedade econstrangimento.

    Silas convidou-nos movimentao.Efetivamente, cabia-nos algo fazer na cooperao.O chefe da caravana aproximou-se de ns e o Assistente no-lo apresentou num

    gesto amigo.Era o Atendente Macedo, valoroso condutor de tarefas socorristas.Afeioados e parentes dos recm-vindos cercavam-nos, agora, com expresses

    de alegria e sofrimento.Algumas senhoras que vira, antes, em ansiosa expectativa, derramavam

    lgrimas discretas.

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    Notei que as criaturas recm-desligadas do corpo denso, conturbadas qual seachavam, traziam consigo todos os sinais das molstias que lhes haviam imposto adesencarnao.

    Ligeiro exame clnico poderia sem dvida favorecer a leitura da diagnoseindividual.

    Dama simptica abeirara-se de uma jovem senhora que vinha amparada pela

    ternura de uma das enfermeiras da instituio, e, abraando-a, chorava sem palavras.A moa recm-liberta recebia-lhe os carinhos, rogando, comovente:- No me deixem morrer!... no me deixem morrer!...Mostrando-se enclausurada na lembrana dos momentos derradeiros no corpo

    terrestre, de olhos torturados e lacrimosos, avanou para Silas, exclamando:- Padre! padre, deixa cair sobre mim a bno da extrema-uno; contudo,

    afasta de minhalma a foice da morte!... Tentei apagar minha falta na fonte da caridadepara com os desprotegidos da sorte, mas a ingratido, praticada com minha me, falamuito alto em minha conscincia infeliz!... Ah! por que o orgulho me encegueceu,assim tanto, a ponto de conden-la misria?!... Por que no possua eu, h vinte anos, acompreenso que tenho agora? Pobrezinha, meu padre! Lembra-se dela? Era uma atrizhumilde que me criou com imensa doura!... Concentrou em mim a existncia... Da

    ribalta festiva, desceu a rude labor domstico para conquistar nosso po... Tinha asociedade contra ela, e meu pai, sem nimo de lutar pela felicidade de todas ns,deixou-a arrastar-se na extrema pobreza, acovardado e infiel aos compromissos quelivremente assumira...

    A infortunada criatura fez ligeiro interregno, misturando as prprias lgrimascom as da nobre matrona que a conchegava de encontro ao peito e, demente aprisionada confisso que fizera "In extremis", continuou qual se tivesse o sacerdote ao p de si:

    - Padre, perdoe-me, em nome de Jesus, entretanto, quando me vi jovem esenhora do vultoso dote que meu pai me conferira, envergonhei-me do anjo maternalque sobre os meus dias estendera as brancas asas e, aliando-me ao homem vaidoso quedesposei expulsei-a de nossa casa!... Oh! ainda sinto o frio daquela terrvel noite deadeus!... Atirei-lhe ao rosto frases cruis... Para justificar minha vileza de corao,caluniei-a sem piedade!... Pretendendo elevar-me no conceito do homem que desposara,menti que ela no era minha me! apontei-a como ladra comum que me roubara aonascer!... Lembro-me do olhar de dor e compaixo que me lanou ao despedir-se... Nose queixou, nem reagiu... Apenas contemplou-me, tristemente, com os olhos trgidos dechorar!...

    Nessa altura, a dama que a sustentava afagou-lhe os cabelos em desalinho ebuscou reconfort-la:

    - No se excite. Descanse... descanse...- Ah! que voz esta? bradou a desvairar-se de angstia.E, tateando as mos afetuosas que lhe acariciavam as faces, exclamou, sem v-

    las:

    - Oh! padre, dir-se-ia que ela se encontra aqui, junto de mim!...E, voltando para o alto os olhos apagados e splices, rogava em pranto:- Deus, no me deixeis encontr-la, sem que pague os meus dbitos!...

    Senhor, compadecei-vos de mim, pecadora que Vos ofendi, humilhando e ferindo aamorosa me que me destes!...

    Com o auxlio de duas enfermeiras, porm, a simptica senhora que aacalentava situou-a em leito porttil e f-la emudecer, fora de inexcedvel ternura.

    Percebendo-me a emotividade, Silas, depois de amparar o servio deacomodao da doente, explicou:

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    - A dama generosa que a recolheu nos braos a genitora que veio ao encontroda filha.

    - Que nos diz?! - exclamou Hilrio, assombrado.- Sim, acompanh-la-, carinhosamente, sem identificar-se, para que a pobre

    desencarnada no sofra abalos prejudiciais. O traumatismo perispirtico vale por muitotempo de desequilbrio e aflio.

    - E por que motivo teria a doente decidido confessar-se, dessa maneira? -perguntou meu colega, intrigado.- fenmeno comum - elucidou o Assistente. As faculdades mentais de nossa

    irm sofredora estagnaram-se no remorso, em razo do delito mximo de sua existncialtima, e, desde que foi mais intensamente tocada pelas reflexes da morte, entregou-se,de modo total, a semelhantes reminiscncias. Por haver cultivado a f catlica romana,imagina-se ainda diante do sacerdote, acusando-se pela falta que lhe maculou a vida...

    O espetculo ferira-me, fundo.A rudeza do quadro que a verdade me oferecia obrigava-me a dolorida

    meditao.No havia, ento, males ocultos na Terra!...Todos os crimes e todas as falhas da criatura humana se revelariam algum dia,

    em algum lugar!...Silas entendeu a amargura de minhas reflexes e veio em meu socorro,

    observando:- Sim, meu amigo, voc repara com acerto. A Criao de Deus gloriosa luz.

    Qualquer sombra de nossa conscincia jaz impressa em nossa vida at que a mcula sejalavada por ns mesmos, com o suor do trabalho ou com o pranto da expiao...

    E ante os apelos agoniados e afetivos nos reencontros a se processarem, ali, sobnossos olhos, em que filhos e pais, esposos e amigos se reaproximavam uns dos outros,o Assistente acrescentou:

    - Geralmente a estas plagas de inquietao aportam aqueles que em si mesmoscavaram mais fundos sulcos infernais e que se cristalizaram em perigosas iluses, mas aBondade Infinita do Senhor permite que as vtimas edificadas no entendimento e noperdo se transformem, felizes, em abnegados cireneus dos antigos verdugos. Como fcil verificar, o incomensurvel amor de nosso Pai Celeste cobre, no somente osterritrios glorificados do paraso, mas tambm as provncias atormentadas do infernoque criamos...

    Pobre mulher prorrompeu em choro convulso, junto de ns, cortando a palavrade nosso amigo.

    De punhos cerrados, reclamava a infeliz:- Quem me libertar de Sat? quem me livrar do poder das trevas? Santos

    anjos, socorrei-me! Socorrei-me contra o temvel Belfegor!...Silas convocou-nos ao amparo magntico imediato.Enfermeiros presentes acorreram, solcitos, impedindo o agravamento da crise.

    - Maldito! Maldito!... - repetia a demente, persignando-se.Invocando o socorro divino, atravs da orao, procurei anular-lhe osmovimentos desordenados, adormecendo-a pouco a pouco.

    Asserenado o ambiente, convidou-nos Silas a sondar-lhe a mente conturbada,agora sob o imprio de profunda hipnose.

    Busquei pesquisar-lhe a desarmonia em rpido processo de anlise mental, everifiquei, espantado, que a pobre amiga era portadora de pensamentos horripilantes.Como que a se lhe enraizar no crebro, via escapar-lhe do campo ntimo a figuraanimalesca de um homem agigantado, de longa cauda, com a fisionomia de um caprino

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    Tudo o que nos escravize ignorncia e misria, preguia e ao egosmo, crueldadee ao crime fortalecimento da treva contra a luz e do inferno contra o Cu.

    E talvez porque desejasse ardentemente mais alguma anotao, em torno dotranscendente assunto, Silas ajuntou:

    - Recorda-se de haver lido alguma memria, alusiva s primeiras experinciasde Marconi, nos albores do telgrafo sem fio?

    - Sim - respondi -, lembro-me de que o sbio, ainda muito jovem, se consagrouao estudo das observaes de Henrique Hertz, o grande engenheiro alemo que realizouimportantes experincias sobre as ondulaes eltricas, comprovando as teorias daidentidade da transmisso entre a eletricidade, a luz e o calor irradiante, e sei que, certafeita, tomando-lhe o oscilador e conjugando-o com a antena de Popoff e com o receptorde Branly, no jardim da casa paterna, conseguiu transmitir sem fio os sinais do alfabetoMorse. Mas... que tem isso a ver com o pensamento?

    O Assistente sorriu e falou:- A referncia significativa para as nossas consideraes. Alm dela,

    volvamos televiso, uma das maravilhas da atualidade terrestre...E acrescentou:- Reporto-me ao assunto para lembrar que na radiofonia e na televiso os

    eltrons que carreiam as modulaes da palavra e os elementos da imagem se deslocamno espao com velocidade igual da luz, ou seja, a trezentos mil quilmetros porsegundo. Ora, num s local podem funcionar um posto de emisso e outro de recepo,compreendendo-se que, num segundo, as palavras e as imagens podem ser irradiadas ecaptadas, simultaneamente, depois de atravessarem imensos domnios do espao, emfrao infinitesimal de tempo. Imaginemos agora o pensamento, fora viva e atuante,cuja velocidade supera a da luz. Emitido por ns, volta inevitavelmente a ns mesmos,compelindo-nos a viver, de maneira espontnea, em sua onda de formas criadoras, quenaturalmente se nos fixam no esprito quando alimentadas pelo combustvel de nossodesejo ou de nossa ateno. Da, a necessidade imperiosa de nos situarmos nos ideaismais nobres e nos propsitos mais puros da vida, porque energias atraem energias damesma natureza, e, quando estacionrios na viciao ou na sombra, as foras mentaisque exteriorizamos retornam ao nosso esprito, reanimadas e intensificadas peloselementos que com elas se harmonizam, engrossando, dessa forma, as grades da prisoem que nos detemos irrefletidamente, convertendo-se-nos a alma num mundo fechado,em que as vozes e os quadros de nossos prprios pensamentos, acrescidos pelassugestes daqueles que se ajustam ao nosso modo de ser, nos impem reiteradasalucinaes, anulando-nos, de modo temporrio, os sentidos sutis.

    E, depois de ligeira pausa, concluiu:- Eis por que, efetuada a supresso do corpo somtico, no fenmeno vulgar da

    morte, a criatura desencarnada, movimentando-se num veculo mais plstico einfluencivel, pode permanecer longo tempo sob o cativeiro de suas criaes menosconstrutivas, detendo-se em largas faixas de sofrimento e iluso com aqueles que lhe

    vivem os mesmos enganos e pesadelos. A explicao no podia ser mais clara.Calamo-nos, Hilrio e eu, dominados por igual sentimento de respeito ereflexo.

    Silas percebeu-nos a atitude interior e generosamente convidou-nos ao descansoem que, por algumas horas, conseguiramos repousar e... pensar.

    5 - ALMAS ENFERMIAS

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    Findo o repouso a que nos dedicramos, Silas, por inspirao do dirigente dacasa, veio convidar-nos a rpido passeio pelos arredores.

    Druso, alis, com semelhante lembrete, atendia-nos ao propsito de algoestudar sobre os princpios de causa e efeito, nas criaturas recm-desencarnadas.

    Sabamos que a morte do corpo denso era sempre o primeiro passo para acolheita da vida e, por isso, no ignorvamos que o ambiente era dos mais favorveis

    nossa investigao construtiva, porque o imenso Umbral, sada do campo terrestre,vive repleto de homens e mulheres que vararam a grande fronteira, em plena conexocom a experincia carnal.

    Hilrio e eu, alegremente, pusemo-nos no encalo do companheiro que,transpondo conosco largo porto de acesso ao exterior, nos disse, bem-humorado,decerto ciente de nossos objetivos:

    - Sem qualquer dvida para ns, que voltamos recentemente da Terra, asprovncias infernais, muito mais do que as celestes, so adequadas s nossas pesquisassobre a lei de causa e efeito, de vez que o crime e a expiao, o desequilbrio e a dorfazem parte de nossos conhecimentos mais simples nas lides cotidianas, ao passo que aglria e o regozijo anglicos representam estados superiores de conscincia que nostranscendem a compreenso.

    E, espraiando o olhar pelos quadros tristes em derredor, acrescentou,reconduzindo a frase a comovente inflexo:

    - Estamos psiquicamente mais perto do mal e do sofrimento... Em razo disso,entendemos sem qualquer discrepncia os problemas aflitivos que se multiplicam aqui...

    medida que nos afastvamos, empreendamos mais vasta penetrao nasombra densa, a espessar-se cada vez mais, alumiada, porm, aqui e ali, por tochasmortias, como se a luz, nos stios em torno, lutasse terrivelmente para nutrir-se esobreviver.

    Soluos e gritos, imprecaes e blasfmias emergiam da treva.Compreendemos de relance que o espao ocupado pela instituio era de forma

    retangular e que o terreno sob nosso exame se lhe localizava retaguarda, maneira deenorme povoao extramuros.

    Percebendo-nos a curiosidade e o interesse, o Assistente veio ao encontro denossas indagaes, explicando:

    - Achamo-nos efetivamente na zona posterior ao nosso instituto, em larga faixasuperlotada de Espritos conturbados e sofredores.

    Hilrio, que no se via menos surpreendido que eu, observou sem rebuos:- Mas, toda essa gente parece relegada intemprie.No seria razovel que a Manso se estendesse, abarcando-a com o seu amparo

    e defendendo-a com seus muros?- Logicamente - respondeu Silas sem alterar-se -, esse plano o mais desejvel;

    entretanto, estamos frente de compacta multido de almas em reajuste. Este imensoconglomerado de criaturas sem o corpo de carne comeou num grupo de seres

    desencarnados que clamavam pelo socorro da Manso sem os necessrios requisitospara recolher-lhe a assistncia. Firme na execuo do programa que lhe assiste, nossacasa no lhes podia abrir as portas de imediato, em face do desespero e da revolta emque se comprazem, mas tambm no desdenhava a possibilidade de prestar-lhes a ajudapossvel, fora do campo de ao em que vive sediada. Iniciou-se, dessa forma, apresente organizao, que, contra a nossa vontade, um abismo de sofrimento. Aqui serenem, de maneira indiscriminada, milhares de entidades, vtimas dos seuspensamentos desvairados e sombrios. Quando superam a crise de perturbao ou deangstia de que so portadoras, o que pode perdurar por dias, meses ou anos, so

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    crueldade, do egosmo e da ingratido, fazendo-se temporariamente presas das criaesmentais, insensatas e monstruosas, que para si mesmas teceram.

    Nossa conversao foi interrompida de imediato, frente de pequena casa aconfundir-se com o nevoeiro, de cujo interior brotava reconfortante jorro de luz.

    Ces enormes que podamos divisar c fora, na faixa de claridade bruxuleante,ganiam de estranho modo, sentindo-nos a presena.

    De sbito, um companheiro de alto porte e rude aspecto apareceu e saudou-nosda diminuta cancela, que nos separava do limiar, abrindo-nos passagem.Silas no-lo apresentou, alegremente.Era Orzil, um dos guardas da Manso, em servio nas sombras.A breves instantes, achvamo-nos na intimidade de pouso tpido.Aos ralhos do guardio, dois dos seis grandes ces acomodaram-se junto de

    ns, deitando-se-nos aos ps.Orzil era de constituio agigantada, figurando-se-nos um urso em forma

    humana.No espelho dos olhos lmpidos mostrava sinceridade e devotamento.Tive a ntida idia de que ramos defrontados por um penitencirio confesso, a

    caminho de segura regenerao.

    Na sala estreita e simples, alinhavam-se alguns bancos e, acima deles,destacava-se um nicho ovalado, em cujo bojo havia uma cruz tosca, alumiada por umacandeia estruturada em forma de concha.

    Afastou-se Orzil para sossegar os grandes animais menos domesticados, nointerior da choupana, e, enquanto isso, o Assistente informou-nos:

    - um amigo de cultura ainda escassa que se comprometeu em delitoslamentveis no mundo. Sofreu muito sob o imprio de antigos adversrios, maspresentemente, aps longo estgio na Manso, vem prestando valioso concurso nestavasta regio em que o desespero se refugia. ajudado, ajudando. E, servindo comdesinteresse e devoo fraternal, no somente se reeduca, como tambm suavizar ocampo da nova existncia que o aguarda na esfera carnal, pelas simpatias que vematraindo em seu favor.

    Vive s? - perguntei, mal sopitando a curiosidade.Dedica-se a meditaes e estudos de natureza pessoal - comentou Silas,

    paciente -, mas, como acontece a muitos outros auxiliares, tem consigo algumas celasocupadas por entidades em tratamento, prestes a serem recebidas em nossa instituio.

    Nesse ponto do entendimento, Orzil voltou at ns e o Assistente interpelou-o,com bondade.

    - Como passamos de servio?- Muito trabalho, chefe - respondeu ele, humilde. - A tempestade de ontem

    trouxe imensa devastao. Creio ter havido muito sofrimento nos pntanos.Percebendo que se referia aos precipcios abismais em que se debatiam

    milhares de almas infelizes e conturbadas, Hilrio perguntou:

    - E no ser possvel atingir semelhantes lugares para aliviar a quem padece?Nosso novo amigo esboou dolorosa carantonha de tristeza e resignao,ajuntando:

    - Impossvel...Como quem se punha em socorro do companheiro, Silas aduziu:- Os que se agitam nestas furnas jazem, de modo geral, quase sempre

    extremamente revoltados e, na insnia a que se entregam, fazem-se verdadeirosdemnios de insensatez. necessrio se disponham conformao clara e pacfica para

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    que, ainda mesmo semi-inconscientes, consigam acolher com proveito o auxlio que selhes estende aos coraes.

    E como se quisesse passar demonstrao do que asseverava, convidou-nos ainspecionar as celas prximas.

    - Quantos doentes agora internados?Orzil, atencioso, respondeu sem titubear:

    - Temos trs amigos em franca situao de inconscincia.Depois de alguns passos, ouvimos gritaria estentrica.As acomodaes reservadas aos enfermos jaziam ao fundo, maneira de largos

    boxes de confortvel cavalaria. Essa a figura mais adequada nossa tarefadescritiva, porque a construo em si denunciava rusticidade e segurana, naturalmenteadstrita aos objetivos de conteno.

    medida que nos acercvamos do refgio, desagradvel odor nos afetava asnarinas.

    Respondendo-nos inquirio ntima, o Assistente salientou:- Vocs no ignoram que todas as criaturas vivem cercadas pelo halo vital das

    energias que lhes vibram no mago do ser e esse halo constitudo por partculas defora a se irradiarem por todos os lados, impressionando-nos o olfato, de modo

    agradvel ou desagradvel, segundo a natureza do indivduo que as irradia. Assimsendo, qual ocorre na prpria Terra, cada entidade aqui se caracteriza por exalaopeculiar.

    - Sim, sim... - confirmamos Hilrio e eu, simultaneamente.Entretanto, o cheiro alarmante de carne em decomposio era para ns, ali, um

    acontecimento excepcional.Silas percebeu-nos a estranheza e endereou interrogativo olhar ao encarregado

    daquele oratrio de purgao, o qual informou, presto:- Temos conosco o irmo Corsino, cujo pensamento continua enrodilhado ao

    corpo sepulto, de maneira total. Enredado lembrana dos abusos a que se entregou nacarne, ainda no conseguiu desvencilhar-se da lembrana daquilo que foi, trazendo aimagem do prprio cadver tona de todas as suas recordaes.

    Silas no teceu qualquer comentrio novo, porque atingamos, de chofre, oprimeiro abrigo, cuja porta gradeada nos deixava contemplar, l dentro, um homemenvelhecido, de cabea pendida entre as mos e a clamar:

    - Chamem meus filhos! chamem meus filhos...- o nosso irmo Veiga - disse Orzil, prestimoso. - Mantm fixa a idia na

    herana que perdeu ao desencarnar: vasta quantidade de ouro e bens que passou propriedade dos filhos, trs rapazes que concorrem no mundo ao melhor e maiorquinho, prevalecendo-se, para isso, de juizes venais e rbulas inconseqentes.

    Acostados agora aos varais da porta, Silas recomendou-nos observar comateno mais detida o ambiente que formava a psicosfera do enfermo.

    Efetivamente, de minha parte percebi quadros que surgiam e desapareciam,

    fugazes, semelhantes s figuraes efmeras que se desprendem, silenciosas, dos fogosde artifcio.Desses painis que se avivavam e se apagavam ao mesmo tempo, transpareciam

    trs jovens, cujas imagens passageiras vagueavam entre documentos esparsos, cdulas ecofres repletos de valores, como que pincelados no ar com tinta tenussima, que seadelgaava e se recompunha, sucessivamente.

    Compreendi que registrvamos as formas-pensamentos, criadas pelasreminiscncias do nosso amigo que, decerto, na situao em que se nos apresentava, no

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    podia, de momento, seno viver o seu drama ntimo, tal a insistncia da fixao mentalem que se encarcerava.

    Amparado evidentemente pelas vibraes de auxlio que o Assistente lheenviava, segundo percebi, esfregou os olhos como quem buscava liberar-se de garoaimperceptvel e assinalou-nos a presena. Avanou de um salto para ns e, apoiando-senas grades que nos separavam, gritou, dementado:

    - Quem sois? Juizes? juizes?...E derramou-se em lamrias que nos tocavam o corao:- Lutei por vinte e cinco anos para reaver a herana que me cabia por morte de

    meus avs... E, quando a vi nas mos, a morte me arrebatou ao corpo, sem piedade...No me resignei a essa injuno e permaneci em minha velha casa... Desejava, pelomenos, acompanhar a partilha do esplio que me interessava, mas meus rapazesamaldioaram-me a influncia, impondo-me, a cada passo, frases venenosas e hostis...No satisfeitos com as agresses mentais que me infligiam, comearam a perseguirminha segunda esposa, que lhes foi me ao invs de madrasta, administrando-lhetxicos por medicao inocente, at que a pobrezinha foi internada numa casa deloucos, sem esperana de recuperao... Tudo por causa do nosso rico dinheiro que osmalandros querem pilhar... Diante de tal injustia, pensei suplicar o favor dos seres que

    povoam as trevas, porque somente os gnios do mal devem ser os fiis executores dagrande vingana...

    Tentou enxugar as lgrimas de desespero e acrescentou:- Dizei-me!... por que motivo terei alimentado infelizes ladres, julgando

    acariciar filhos de minhalma? Casei-me quando moo, acalentando sonhos de amor, egerei espinheiros de dio!...

    E como a voz de Silas se fez ouvir, rogando calma, o infortunado vociferou,desabrido:

    - Nunca! nunca perdoarei!... Recorri aos infernos sabendo que os santos meaconselhariam conformidade e sacrifcio... Quero que os demnios torturem meusfilhos, tanto quanto meus filhos me torturam...

    Transformando o choro convulso em gargalhadas estridentes, passou a bradar:- Meu dinheiro, meu dinheiro, exijo meu dinheiro!O Assistente voltou-se para Orzil e considerou, compadecido:- Sim, por agora a situao de nosso amigo demasiado complexa. No pode

    ausentar-se da grade, sem prejuzo.Deixamos o doente, imprecando contra ns, de punhos cerrados, e abeiramo-

    nos de outra cela.Ante a palavra de Silas, que nos recomendava observar o quadro em foco,

    fitamos o novo enfermo, um homem profundamente triste, sentado ao fundo da priso,de cabea pendida entre as mos e de olhos fixos em parede prxima.

    Seguindo-lhe a ateno no ponto que concentrava os seus raios visuais, a modode espelho invisvel retratando-lhe o prprio pensamento, vimos larga tela viva em que

    se destacava enluarada rua de grande cidade, e, na rua, conseguimos distingui-lo novolante de um carro, perseguindo um transeunte bbado, at mat-lo, sem compaixo.Achvamo-nos diante de um homicida preso a constrangedores quadros mentais que oencerravam em punitivas recordaes. Notava-se-lhe a intraduzvel angstia, entre oremorso e o arrependimento.

    A leve chamado de Silas, despertou como fera roubada quietao do sono.Instintivamente precipitou-se sobre ns, num salto espetaculoso que a enxovia

    conteve, e bramiu:- No h testemunhas... No h testemunhas!...

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    No fui eu quem atropelou o infeliz, no obstante o odiasse com razo... Quepretendem de mim? Denunciar-me? Covardes! Espreitavam, ento, a rua morta?

    No respondemos.Silas, aps fit-lo, compadecido, falou:- Deixemo-lo. Est completamente enleado s recordaes do crime que

    cometeu, crendo continuar, depois da morte, a escarnecer da justia.

    Hilrio, estupefato, interferiu, ponderando:- Naquele doente que vimos, cercado pela figura de trs mancebos, e nestecompanheiro que contempla uma cena de morte...

    Nosso amigo apreendeu-lhe o pensamento e completou-lhe a anotao,asseverando:

    - Vimos dois irmos infelizes, vivendo entre as imagens mantidas por elesmesmos, atravs da fora mental com que as alimentam.

    Nesse instante, alcanvamos o terceiro cubculo, em que um homem feridentoesvurmava as feias chagas, usando as prprias unhas. A atmosfera francamentepestilencial exigia enorme disciplina contra a ecloso de nossas nuseas.

    Assinalando-nos a presena, avanou para ns, clamando amargamente:- Compadecei-vos de mim! Sois mdicos? Atendei-me por amor de Deus! Vede

    os detritos em que me apio!...Voltei-me, de imediato, para o cho, seguindo-lhe os gestos, e notei,

    efetivamente, que o msero se movimentava num monto de sujeira, coberto por filetesde sangue podre.

    Somente depois de mais ampla ateno, averigei que o quadro repugnante eraconstitudo pelas emanaes mentais do companheiro infeliz sob nossos olhos.

    - Doutores! - continuou ele, em tom de splica - h quem diga que roubei dosoutros, a fim de satisfazer meus vcios no alcoice que eu freqentava... Mas mentira, mentira!... Juro-vos que morava no bordel por esprito de caridade... As mulheresdesditosas requeriam defesa... Auxiliei-as quanto pude... Ainda assim, adquiri, juntodelas, a enfermidade que me aniquilou o corpo fsico e que ainda me empesta arespirao, convertendo-se aqui em meu prprio hlito!... Socorrei-me por quem sois!...Socorrei-me por quem sois!...

    A repetio dos rogos, contudo, derramava-se em tom imperativo, como se aspalavras humildes do petitrio fossem apenas o disfarce de uma ordem tiranizante.

    O Assistente convidou-nos retirada e explicou:- um antigo e inveterado gozador que despendeu em prazeres inteis largos

    recursos que lhe no pertenciam. Por muito tempo ainda, a mente dele oscilar entre airritao e o desencanto, nutrindo o ambiente horrvel de que se fez o fulcrodesequilibrado.