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1 Velhos Tempos... Belos Dias O s v a l d o I z i d r o d a S i l v a V e l h o s t e m p o s . . . B e l o s d i a s

Velhos Tempos, Belos Dias

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Autor: Osvaldo Izidro: Este livro não tem a pretensão de ser uma biografia, pois não sou nenhuma celebridade ou pessoa pública. É uma viagem no tempo, recordação de fases da vida e resgate de um passado, vivido com a intensidade da juventude e desafios impostos pela dinâmica do tempo e da própria vida.

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1Velhos Tempos... Belos DiasOsvaldo Izidro da Silva

Velhos tempos...Belos dias

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Este livro não tem a pretensão de ser uma biografia, pois não sou nenhuma celebridade ou pessoa pública.

É uma viagem no tempo, recordação de fases da vida e resgate de um passado, vivido com a intensidade da juventude e desafios impostos pela dinâmica do tempo e da própria vida.

Osvaldo Izidro da Silva

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Agradecimento

A Deus, pela vida, inteligência e sabedoria.Aos meus pais, pela educação e formação que nos deu,

pelo respeito aos princípios éticos, morais e principalmente pela valorização da família.

À minha esposa, pois, sem a sua presença em minha vida, nada faria sentido.

Aos meus filhos, por terem acreditado nos meus ensinamentos e se tornarem pessoas conscientes de sua cidadania e princípios éticos e morais.

À minha irmã Fátima, pela incansável insistência em acreditar e me incentivar a escrever este livro.

À minha sobrinha Ilka, pelo suporte técnico e o entusiasmo com que abraçou esta causa.

Aos meus irmãos, pelo carinho e entusiasmo demonstrado pelo projeto deste livro, também agradecido pela jornada de nossas vidas, sempre unidos em todas as circunstâncias, nos momentos de felicidade e dor, porém, sabendo sempre preservar incólume, a estrutura fraternal construída por nossos pais.

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Prefácio

Prefaciar esta obra, de suma importância pelo seu valioso conteúdo para todos nós, rio-tintense e paraibanos, deixou-me imensamente honrada e orgulhosa, face à grande responsabilidade a mim imputada.

Não vou negar que fiquei muito vaidosa por ter sido escolhida pelo Autor para apresentar à família e amigos este seu trabalho, que, além de resgatar histórias preciosas da nossa querida terra Rio Tinto, relata a sua vida na infância, passando pela adolescência e culminando na fase adulta.

Assim podemos voltar ao tempo e navegar neste livro que retrata a família, os amigos e as histórias vividas, contadas sabiamente em entrelinhas que o tempo jamais apagará.

Neste contexto, nos deparamos com relatos de quem sabe aproveitar o sentido da vida e nos faz refletir o quão precioso é o fruto oriundo de uma trajetória compartilhada de bons e inesquecíveis momentos.

Maria Gorete da Silva Silveira

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Capítulo I

O BerçoRIO TINTO – PARAÍBA – BRASIL

Município do litoral norte da Paraíba, de privilegiada localização geográfica, cuja história é pautada no apogeu e no declínio da Companhia de Tecidos Rio Tinto.

A cidade foi fundada pelos irmãos Arthur e Frederico Lundgren, de descendência sueca, para sediar o maior parque industrial têxtil do Estado da Paraíba.

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Planejada e urbanizada por arquitetos e engenheiros alemães, tinha bosques de eucaliptos para drenagem do solo de várzea e que também erradicava os mosquitos, além de exalar um agradável aroma no ar, que se sentia logo ao chegar à cidade. O casario de tijolo aparente obedecia aos padrões típicos de arquitetura do interior da Alemanha (chalés que serviam de residência para os Diretores e Técnicos estrangeiros). As demais casas, para o pessoal administrativo e operário, todas em alvenaria e com padrão de conforto.

Diferente da maioria das cidades do interior do Estado (Décadas de l940 e l950), a cidade de Rio Tinto dispunha de rede de esgoto própria e também de estação de tratamento de água. O manancial oriundo da mata atlântica era represado num grande tanque com pedras calcárias, que filtravam a água que, posteriormente, era canalizada para as residências e também para os chafarizes que serviam as ruas. Tinha dois portos fluviais para atracação dos barcos, que transportavam de Recife, toda a demanda de material necessário, uma pista de pouso para as aeronaves da Companhia e uma linha férrea (própria), com duas locomotivas, utilizadas para o transporte de material - dos portos até a fábrica.

O Cine Teatro Orion, o maior do Estado, tinha toda a infraestrutura de equipamentos: um grande palco para shows, lanchonete e uma cabine de projeção com a melhor tecnologia da época e recebia diretamente das distribuidoras, os últimos lançamentos cinematográficos do mercado. A entrada da cidade sempre foi uma atração para os visitantes, pela beleza e altivez das palmeiras imperiais.

A área urbana era dividida em dois núcleos habitacionais: O primeiro, ficava na parte plana e linear e centralizava toda atividade socioeconômica e cultural da cidade. O outro núcleo,

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chamado Vila Regina, situava-se no alto do Monte Mor, uma colina que se destacava por sua imponente localização geográfica. No Monte Mor, também ficava uma unidade fabril, o Tiro de Guerra, uma Capela considerada das mais antigas do Brasil e o Palacete dos Lundgren: construção sofisticada, erguida no topo da colina, com uma vista panorâmica de toda a região e que seria presente de casamento para a filha de Arthur Lundgren.

O palacete foi saqueado e parcialmente danificado, quando de uma rebelião do operariado, revoltado com os alemães, no período da Segunda Guerra Mundial. O incidente ficou conhecido como “O Quebra”.

Num dos flancos da encosta do Monte Mor, ficava o Sítio da Jaqueira, onde estava o Haras que abrigava os cavalos ‘puro sangue’ dos Lundgren, que competiam nos páreos do Jóquei Clube do Recife, e, quando não participavam da competição, iam para Rio Tinto e eram disponibilizados para cavalgadas. Solicitávamos um animal e o tratador ia deixá-lo em nossa casa, já devidamente equipado. Passeávamos pelas ruas, o que chamava a atenção das pessoas, pelo porte e elegância do trote dos animais.

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Capítulo II

O Começo

Ouviu-se o choro de um recém-nascido, na casa de número 869, da Rua de Santa Rita. Era o sétimo filho do casal Manoel Izidro da Silva e Laura Lima da Silva, início do signo de gêmeos.

A criança, do sexo masculino, foi recebida com alegria e

21/MAIO/1942

Eu ao lado de meus pais, avó, irmães e irmãos - 1953

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grande expectativa, pois dos seis filhos das gestações anteriores, somente sobreviveram duas meninas: Maria de Lourdes e Nilza. As quatro crianças do sexo masculino, Rui, Eurico, Antonio e José, morreram nos primeiros meses de vida, para sofrimento e angústia dos seus pais que indagavam a causa da ocorrência, apesar das gestações terem sido intercaladas e sem nenhuma explicação de conhecimento médico.

O recém-nascido desenvolveu-se e cresceu saudável, física e mentalmente, quebrando o tabu, pois, três e seis anos após o seu nascimento, vieram à luz mais dois meninos, igualmente saudáveis: Izidro Manoel da Silva (Neneo) e Antonio Izidro da Silva, duas meninas, Maria de Fátima Silva e Maria Gorete Silva, que com os cinco irmãos: Moisés, Edite, Severino, Edson e Maria das Neves, do casamento anterior, formaram o Clã Izidro.

O “galego de Manoel Izidro”, assim o chamavam, por ser branco e ter os cabelos louros. No batismo, recebeu o nome de Osvaldo Izidro da Silva.

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A mais remota lembrança de minha infância, entre os três e quatro anos de idade, é a da liberdade de andar nu pela calçada da rua, com os cabelos compridos e ondulados, sem nenhum pudor ou censura, pois era comum, na época, esse comportamento para os meninos. Somente às meninas, era proibido fazê-lo. Quanto ao cabelo longo, foi cumprimento de uma promessa feita por minha mãe a São Severino do Ramo. Caso a gestação fosse de um menino e que sobrevivesse, deixaria o cabelo crescer até os seis anos, quando o cortaria e o levaria em agradecimento, para colocar no altar da igreja do município de mesmo nome do santo, no Estado de Pernambuco.

Brincadeiras, brinquedos e lazerO país, assim como o mundo, vivia a recessão do pós-guerra

(2ª Guerra Mundial). Não existiam conglomerados industriais, nem diversidade de produtos que atendesse às necessidades da população, além da falta de brinquedos, principalmente na Região Nordeste, e, em particular, nas cidades do interior.

Cozinhava-se com fogo de lenha e os utensílios, na maioria, eram de barro (panelas, filtro de água, etc.), salvo algumas caçarolas e pratos de ágata. Chaleiras e ferro de passar roupa, eram de ferro fundido, muito pesados. O ferro de

Capítulo III

A Infância

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‘engomar’ era aquecido com carvão em brasa. Os utensílios de alumínio, somente apareceram muitos anos depois. Tudo era muito artesanal. Os brinquedos eram improvisados e fruto da criatividade infantil. Consequentemente, as opções de lazer das crianças eram as lúdicas e quase sempre coletivas, tais como:

“Esconde-esconde” – uma criança do grupo era escolhida para se esconder, enquanto as demais iam procurá-la e assim sucessivamente.

“Tica” (Pega) – marcava-se um ponto central, as crianças formavam um círculo em volta deste ponto e escolhia-se alguém para começar a brincadeira – ser o tica. Todos corriam para não serem tocados, pois o tocado seria o novo tica. Os que atingissem o ponto central determinado, estavam isentos de serem tocados.

“Pelada” (Futebol) – jogava-se com bolas feitas de meias de seda femininas, cheias de trapo ou algodão, dando-se a forma arredondada até o tamanho desejado. Então, dobrava-se a meia, sucessivamente, até o final do seu comprimento e a amarrava. Havia também “Cavalo de Pau”, feito com cabo de vassoura, brincadeira de “Pular Corda” entre outras.

“Cantigas de Roda”: Passarás, Ciranda-Cirandinha, todas lúdicas e de indeléveis lembranças.

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Os nossos pais sempre nos proporcionavam alguma forma de lazer, principalmente nos finais de semana, quando contávamos a companhia paterna. Ele programava passeio para tomar banho no Rio Vermelho, dentro da Mata Atlântica. Convidava alguns amigos, a garotada da vizinhança e quase sempre fazia um churrasco. Levava a carne de casa, já devidamente tratada e temperada, cavava um buraco no chão, fazia o fogo com gravetos apanhados na mata, armava uma forquilha com galhos para prender a carne, que era assada e degustada por todos.

Outros passeios eram verdadeiras aventuras, sendo o meu pai quem administrava toda a infraestrutura de suprimentos, tanto na cidade, como nas propriedades rurais da Companhia. Eram comuns as visitas periódicas a estas propriedades e, por conseguinte, os convites para passarmos um dia de lazer em Jaraguá, Tatu Peba, Engenho Novo, Engenho Piabuçú, Taberaba, Gameleira, Jacaré de são Domingos, etc.

JaraguáInesquecíveis passeios de canoa, deslizando suavemente

sobre as águas, vendo o céu refletido no rio, observando o manguezal, com a movimentação dos caranguejos na lama, o silêncio total e absoluto, quando muito, cortado pelo canto de

Capítulo IV

Passeios

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um pássaro e os gritos dos saguis (macacos). Somente agora, me dou conta da importância desses momentos em minha vida.

Tatu Peba Era excitante as caminhadas no sítio, para colher frutas

diretamente das árvores, ir à ‘casa de farinha’ e acompanhar todo o processo artesanal da produção da farinha de mandioca, desde a chegada dos tubérculos até a retirada das cascas, lavagem, corte, passagem pelo Rodete (cilindro cheio de pontas afiadas, para triturar a mandioca), moagem e colocação da massa na prensa, para extração de todo o líquido, levando a massa já enxuta, para o forno (plataforma circular feita de alvenaria, com uma base de igual dimensão, tendo, embaixo, espaço com abertura específica para uso do fogo à lenha). A massa era constantemente mexida com grandes rodos, movimentados por pessoas experientes nesta tarefa, até que a farinha estivesse seca e pronta para ser ensacada.

Interessante observar que, enquanto os homens executavam tais tarefas, as mulheres se ocupavam em ralar coco e preparar a massa para assar deliciosos “Beijus” no forno quente, e, quando prontos, nos serviam. Fazíamos a farra! Delícia!

Engenho NovoQuando íamos lá, a festa era tomar o caldo de cana extraído

na hora, chupar rolete de cana, beber o mel de engenho e comer rapadura. Uma coisa nos impressionava! Como a cana era branca, o caldo verde e o melado e a rapadura marrom escuro? Coisas de criança!

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Engenho Piabuçú Este, por ser desativado, tinha como atração o banho de

açude e depois do almoço, a subida para a varanda do primeiro andar da casa grande, de onde tínhamos uma vista panorâmica da região.

Taberaba (O falso estrangeiro)A propriedade era conhecida por ter as melhores,

maiores e mais saborosas goiabas, o que despertava a vontade de saboreá-las.

Estávamos estudando, em gramática, o uso dos Pronomes Oblíquos: Próclise, Ênclise, Mesóclise. Organizamos uma expedição composta de seis colegas, onde fiz um personagem estrangeiro, devidamente caracterizado, acompanhado de um séquito de vassalos, no qual se destacava um colega mulato, conduzindo um para-sol branco sobre mim.

Quando víamos uma goiabeira carregada de frutos, parávamos em frente à casa, um colega batia palmas, o morador vinha atender e então eu falava: Próclise, Ênclise, Mesóclise. Imediatamente, o colega traduzia como: “Ele está dizendo que aqui tem belas goiabas”. A pessoa, então, nos oferecia as melhores goiabas. Repetimos a cena em outras casas, com o mesmo resultado. A expedição voltou carregada de goiabas.

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A casa do tio José OlintoEra o local predileto, onde encontrávamos mais

divertimento, pois o quintal era um pequeno sítio onde subíamos nos cajueiros, caramboleiras, mangueiras, umbuzeiros, goiabeiras e outras árvores frutíferas. Pulávamos no riacho que entrecortava os leirões de inhame e batata, as plantações de banana e mamão. Quando cansados, voltávamos para o lanche que a Tia ‘do Carmo’, já havia preparado.

A casa da tia jovem (Joventina)Era outra visita sempre esperada com muita ansiedade,

pois a viagem de ônibus até Mamanguape, já era uma grande diversão. Lá, havia no quintal um cacimbão grande e profundo, onde nós, crianças, ignorando o perigo, ficávamos debruçados na borda para vermos a nossa imagem refletida na água do fundo do poço, ou então jogávamos pedra, para ouvir o barulho da queda e acompanhar o deslocamento da água formando círculos. À tarde, íamos para a igreja em frente, numa elevação, cujo adro formava uma escadaria em meio círculo, onde subíamos e descíamos correndo continuamente.

Capítulo V

As visitas sociais

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A mansão de D. Alice LundgrenAlice era a única da família Lundgren que tinha residência

fixa em Rio Tinto, na Praça da Vitória. Os demais membros da família, moravam todos em Recife, capital de Pernambuco.

Era uma senhora com hábitos aristocráticos, refinada, elegantemente vestida e sempre maquiada. Apesar de a cidade ser pequena e as distâncias curtas, só saia de casa de carro com o seu motorista particular.

Frequentava a nossa casa com a maior simplicidade, pois tinha uma grande consideração e estima por meus pais, inclusive,

Casal Alice Lundgren e Eduardo Ferreira

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fez questão de ser madrinha de batismo da minha irmã caçula Gorete. Era recebida em nossa casa com carinho e sempre servida de um lanche especial. Reciprocamente, convidava a minha mãe para passar uma tarde em sua mansão, mandava o motorista nos apanhar em casa, quando nos era oferecido um café ou chá, acompanhado de bolos e biscoitos feitos por sua cozinheira, sempre servidos em serviço de porcelana.

A mansãoNo meu universo infantil, era como um sonho ultrapassar

aqueles majestosos portões de ferro, para, em seguida, percorrer uma alameda ladeada de palmeiras imperiais, em cujos troncos enraizavam-se orquídeas brancas e roxas. Existia ainda, um amplo e bem cuidado jardim até chegar à entrada da casa.

A casa, de arquitetura alemã, era de tijolo aparente, sendo internamente, toda revestida de papel de parede, importado da Europa. Tinha várias telas de pintura clássica, tapetes e um mobiliário conservador.

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Capítulo VI

Alfabetização

Os primeiros ensinamentos da alfabetização foram realizados através da “Cartilha do ABC”, pela professora, D. Severina Coutinho, a educadora mais respeitada de Rio Tinto.

Ela, como de costume, na época, usava métodos muitos severos de disciplina. Não era permitido conversar durante as aulas, mesmo sendo para tirar uma dúvida ou consultar um colega. Caso o aluno se distraísse do assunto, era comum ela vir por trás e torcer a sua orelha ou então, bater nas juntas dos dedos, com um lápis grosso que existia para correção de provas.

Nas aulas de Matemática, formava um círculo com os alunos, para sabatinar as quatro operações: adição, subtração, multiplicação e divisão. A pergunta era feita a um aluno. Se ele respondesse errado, imediatamente ela repetia a pergunta a outro que acertasse, ela entregava uma régua grande e preta, para que ele batesse com força na mão do que errou – era a famosa ‘palmada ou bolo’ e assim sucessivamente, até terminar o círculo. Havia também os castigos: Obrigar o aluno a ficar de costas para a classe, olhando para a parede com os braços estendidos, até que ela decidisse suspender a punição.

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Certa vez, havia terminado a prova final do ano letivo e, já dispensado por ela, saí da classe e fiquei no pátio da escola. Ela me chamou e me fez ficar na porta da classe segurando um filtro de cerâmica com água, somente porque eu ainda não tinha ido para casa.

Eu tinha apenas oito ou dez anos e era considerado um bom aluno, sem contar que a professora era comadre dos meus pais e diariamente tomava o café da manhã na nossa casa, quando voltava da missa.

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Capítulo VII

Herança CulturalO gosto pela leitura, herdei do meu pai. Ele, semanalmente,

comprava as revistas e jornais de circulação nacional: “O Cruzeiro”, “A Noite Ilustrada”, “Seleções” e, posteriormente, a revista “Manchete”. Comprava também as revistas infantis, com histórias em quadrinhos, para nos incentivar a ler: Pinduca, Capitão Marvel, Batman, O Reizinho, Pernalonga, etc.

Ele tinha um acervo de romances da literatura mundial, os

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quais lia e depois me sugeria. Assim, antes mesmo dos doze anos, eu já havia lido as seguintes obras dos seguintes autores:

A Ilha do Tesouro – Robert Louis StevensonPor quem os sinos dobram – Ernest HemingwayO velho e o mar – Ernest HemingwayO Conde de Monte Cristo – Alexandre DumasO Máscara de Ferro – Alexandre DumasOs Três Mosquiteiros – Alexandre DumasO Corcunda de Notre Dame –Victor HugoRobinson Crusoé – Daniel DefoeTarzan (Várias edições) – Edgar Rice BurroughsNessa fase da minha vida, tive vários heróis que alimentavam

a minha imaginação, embora todos fictícios.

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Ele não era do cinema, da literatura ou das histórias em quadrinhos. Era um personagem real, um herói verdadeiro, que me enchia de orgulho, e, ao mesmo tempo, me causava frustração e angústia, por não conhecê-lo pessoalmente: O meu irmão, Moisés Izidro da Silva.

Quando nasci e ainda muito pequeno, o mundo estava vivenciando os piores momentos da Segunda Guerra Mundial, na Europa. O austríaco-germano Adolf Hitler, fundou o Nazismo, partido político e racista, com o propósito de fazer da raça ariana, uma raça pura, dominadora e hegemônica.

Hitler começou a invadir os países vizinhos, ampliando seu território e perseguindo judeus, negros, homossexuais e todos que considerasse de sub-raça. Matou milhões de pessoas – homens, mulheres e crianças – nas câmaras de gás e fornos crematórios dos campos de concentração e também por fuzilamento. Este episódio ficou conhecido como “Holocausto”.

Capítulo VIII

Um herói ausente real

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Por circunstâncias nunca bem esclarecidas, o Brasil teve dois navios fundeados em águas territoriais brasileiras, sendo atribuído o ataque, a submarinos alemães. Existem suspeitas de que esta operação foi armação do governo americano, para obrigar o Brasil a se aliar a eles e usarem Natal-RN, como base estratégica, para suas incursões na Europa.

O fato levou o Presidente Getúlio Vargas a declarar, oficialmente, guerra contra o Eixo. Assim era conhecida a aliança com a Alemanha.

Em todo o território nacional, começou o recrutamento de jovens, para formar o contingente que iria lutar na Europa, representado pela FEB - Força Expedicionária Brasileira.

O meu herói-irmão decidiu apresentar-se voluntariamente e foi lutar na Itália, enfrentando todas as adversidades climáticas, jamais imaginadas por um nordestino. Completou o ciclo de heroísmo: lutou, venceu e voltou. Porém, ficou no Rio de Janeiro, então Capital da República do Brasil, onde casou com Leda e constituiu uma linda e querida família:

- Vera, casada com William, que tiveram Bianca como filha.- José Luiz, casado com Tânia, que tiveram os filhos, Marcos

Vinícius e Marcela.- Fátima, esposa de Cláudio, que geraram Frederico e

Fernanda. - Paulo Sérgio, casado com Jô.Acompanhei, desde pequeno, tudo o que ele escrevia para

o meu pai, desde as cartas dos Campos de Guerra na Itália, com fotografias, até as notícias de sua vida na Cidade Maravilhosa. Somente na adolescência, pude abraçar e sentir o prazer de ver e estar com o Meu Herói Verdadeiro.

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Capítulo IX

Adolescência

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial1956-1958

Sendo Rio Tinto um centro fabril, dispunha de uma unidade do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, dirigido pelo Professor Rogé Maciel Pinheiro, para formação profissional dos jovens, capacitando-os tecnicamente, para exercerem as diversas funções na área industrial.

Eu e a mana Lourdes na conclusão do curso profissional na escola SENAI, em Rio Tinto 27/09/1958

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O ensino abrangia o currículo das matérias didáticas em nível do segundo grau, além das de caráter profissionalizante, com aulas teóricas e práticas dos cursos de Desenhista Industrial, Marceneiro, Serralheiro e Torneiro Mecânico. O curso tinha a duração de três anos. Havia ainda as atividades físicas: ginástica, corrida, futebol, vôlei e futebol americano. Tínhamos também aulas de canto orfeônico e de música com o maestro Estolano, na qual, optei pelo aprendizado com clarinete.

No último semestre do curso, tivemos aulas de etiqueta social, ministrada por D. Penha, uma Assistente Social do SESI, que nos ensinou as regras de comportamento social e promovia aulas de dança, para que, no baile de encerramento do curso, no Tênis Clube, soubéssemos dançar todos os ritmos da época.

Concluí o curso com formação em Serralharia, porém, por ter sido o aluno com melhores notas em Desenho Industrial, fui contratado, nesta atividade, pela Companhia de Tecidos Rio Tinto, com apenas quinze anos de idade.

Final da década de 1950 - Início da década de 1960Os famosos “Anos Dourados”, posteriormente consagrados

em filmes, novelas e séries da televisão.

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Capítulo X

Rio Tinto Tênis ClubeHavia em Rio Tinto, vários clubes sociais: Rio Tinto

Esporte Clube, América Clube, Ipiranga Clube e o Vila Regina, todos para atender o lazer da classe operária, em suas diferentes categorias. O Rio Tinto Tênis Clube era diferenciado, por ser frequentado exclusivamente pela Diretoria, Técnicos, Gerentes e Pessoal Administrativo da Companhia e funcionários públicos municipais, estaduais e federais da própria cidade e de Mamanguape.

O Tênis Clube tinha uma estrutura física completa de lazer:

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Salão com pista de dança e palco para orquestra, bar, salão de jogos e varanda coberta. Oferecia aos associados várias atividades esportivas, com quadra polivalente de basquete e vôlei, futebol de salão, quadra de saibro para tênis e salão de boliche e pingue-pongue (tênis de mesa). As atividades sociais eram diárias, pois, apesar de o Bar fechar às 22:00h nos dias úteis, nossa turma saía do cinema e íamos para lá – com a concessão do arrendatário – onde ficávamos até a madrugada, dançando no salão, ou improvisando brincadeiras.

Os grandes bailes, com orquestras contratadas, vindas geralmente de apresentações nos clubes Internacional e Português de Recife/PE, ou dos clubes Astréa e Cabo Branco de João Pessoa/PB, arregimentavam a sociedade e consequentemente provocava a expectativa da beleza e elegância das jovens e senhoras, sempre bem penteadas e maquiadas, desfilando figurinos bem produzidos.

Destacavam-se as duas irmãs, Else e Ingrid Hoffmann, as quais, respectivamente, concorreram ao título de Miss Paraíba e Miss Pernambuco, dentre outras belas moças, Ingeborg Willamowius, Irene Koehler, Karin Bakke, as irmãs Martha e Willfried Klosterman, Luzinete Jacob entre outras.

Minha irmã Lourdes, na véspera dos bailes, ia para a Capital, João Pessoa, fazer o penteado, no salão de beleza. Quando saía de casa para o clube, as pessoas ficavam esperando para vê-la passar, sempre desfilando vestidos deslumbrantes, sapatos altíssimos e, dependendo da formalidade do evento, usando luvas e echarpe. Anualmente, havia dois grandes bailes:

O Baile do Algodão, no qual era eleita a Rainha do Algodão, entre jovens candidatas, previamente selecionadas e treinadas por senhoras da sociedade. Todas as candidatas eram produzidas pela Companhia.

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O Baile da Primavera, sempre com uma grande atração especial. Certa vez, foi convidada a Miss Paraíba do ano, a belíssima Kalina Lígia, que morava em Campina Grande. Em outro ano, a atração foi uma orquestra internacional que estava em turnê no Brasil, a Marimba Mexicana Alma Latina.

Outros grandes eventos culturais, foram os bailes carnavalescos, uma profusão de alegria, confetes, serpentinas, lança perfume (ainda não era proibido o uso), muitas fantasias individuais e blocos super produzidos.

TeatroO Palco do Tênis Clube serviu para a apresentação de uma

peça de teatro, pela primeira e única vez, com um grupo formado exclusivamente por jovens da sociedade local.

Por iniciativa dos irmãos Gerthy e Ingeborg Willamowius, que se encarregaram da montagem, figurino, cenário, escolha do elenco – do qual, eu fiz parte – e ensaios, foi exibida a peça de William Shakspeare, “Sonho de uma noite de verão”, que fez um grande sucesso.

Atualmente, o Tênis Clube, ironicamente, retrata o fim de uma época áurea da cidade. Em sua reclusão social, abriga uma igreja evangélica.

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Capítulo XI

Juventude incansávelDiariamente, tínhamos nossos encontros, no clube ou

em nossas casas, quando fazíamos os “Assustados”- encontros dançantes - com a presença e autorização dos nossos pais. A iluminação era colorida e o som de uma vitrola ABC.

A bebida, coquetéis de vodka, rum ou um ‘ponche’ de frutas com champanhe e guaraná. Os petiscos, palitos de queijo com azeitonas ou salsichas, espetados num mamão descascado, pastéis, etc.

Passeio com a turma de amigos Gherthy, Hertha, Ingeborg, Ângela, eu e Dieter, na Baía da Traição - 1962

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Aos domingos, íamos às praias de Baía da Traição e Miriri, praia privativa da Companhia, dotada de chalés exclusivos e um pavilhão para projeção de filmes. Em Baía da Traição, alugávamos barcos dos pescadores, para velejar em alto mar.

Num desses passeios, com mar agitado, o Dieter Koehler – mais de 1,90m de altura – pulou no mar para nadar, ignorando totalmente o perigo. Foi rapidamente envolvido por uma onda e afastado do barco. Sempre que tentava se aproximar, era novamente envolvido pela água revolta e afastado. Essa situação demorou até que o pescador jogasse uma corda que, com muita dificuldade, conseguiu segurar, para alívio da nossa turma: Eu, Mocinha (Ângela), Gerthy, Ing e a Sra. Hertha Willamowius.

Baía Formosa – Rio Grande do NorteOutra aventura de alto risco. Alugamos um barco e fomos

para o alto mar, então o barco começou a tomar água e para nosso desespero, o pescador começou uma discussão com o outro, dizendo que o barco não era para ter feito este passeio, pois estava com o porão carregado de sacas de sal e muito pesado. Graças a Deus, conseguiram controlar a situação e chegamos sãos e salvos.

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Capítulo XII

Colégio Herman Lundgren

CURSO BÁSICO DE CONTABILIDADE1960 - 1963

Fundado pelo primeiro Juiz de Direito da cidade, Dr. Hermilo de Carvalho e sua esposa, Dra. Wilma de Farias Ximenes.

O Corpo Docente era constituído por ilustres personalidades: os próprios fundadores, o Promotor de Justiça, Dr. Ginaldo Ferreira Soares, o advogado da Companhia, Dr.

Conclusão do curso ginasial, no forúm de Rio Tinto com minha prima Lourdinha - 21/121963

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José Campelo, o Dentista Antonio Lima, o vereador, Sr. Alcides entre outros.

Fiz parte da turma fundadora. Tivemos uma esmerada educação, pois a responsabilidade e o objetivo da Diretoria era despertar nos jovens alunos, a consciência de cidadania e a formação da personalidade, pautados em princípios éticos, morais e sociais. Nessa escola, me foi delegada a missão de representar a minha cidade, junto à Associação dos Estudantes da Paraíba, com sede em João Pessoa. A experiência mudou a minha personalidade de jovem do interior, em outro, com responsabilidade representativa e ampla visão social e política.

O conhecimento adquirido facultou o direito de, no término do curso, com mais cinco colegas – Miguel Fernandes, Damião, Severino Ramos, Severino Herculano e Josias Bezerra - sermos indicados pelo Dr. Hermilo, diretor do Colégio e Juiz de Direito, para fazermos o ensino médio (científico ou clássico), no Liceu Paraibano, em João Pessoa, com o privilégio da dispensa do Exame de Admissão, que era obrigatório e equivalente a um vestibular, tamanha era a concorrência de vagas, por jovens da Capital e de todo o interior do Estado.

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Capítulo XIII

João Pessoa

A chegada em João Pessoa, representou uma ruptura na minha vida: da minha adolescência efervescente, dos meus amigos, das festas. Começava uma nova fase, que era enfrentar os desafios, construir outro estilo de vida, ocupar um espaço no cotidiano da cidade grande. Antes, porém, passei um tempo morando em Bayeux, na casa da minha tia Olímpia, a quem devo imensurável reconhecimento e gratidão (In- memória), pelo carinho e dedicação que me foram dispensados.

MARÇO 1964

Pavilhão do Chá

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A adaptação foi sofrida e prazerosa:Sofrida, pela dilacerante ausência da minha família, da

minha casa, da liberdade inconsciente que desfrutava; pelos momentos nostálgicos da lembrança de minha querida Rio Tinto, do cheiro dos eucaliptos, do clima, da Mata Atlântica, do Rio do Gelo; pela saudade dos amigos, dos passeios e dos encontros no Cine Orion e no Tênis Clube.

Prazerosa, por descobrir e usufruir das muitas opções de entretenimento, oferecidas pela cidade: os passeios na Lagoa, na Bica, no Ponto de Cem Réis, os vários cinemas, bares, lanchonetes e principalmente a Praia de Tambaú, como era denominada toda a orla, pois a divisão de Manaíra e Cabo Branco só ocorreria depois da urbanização da área.

O Liceu ParaibanoBerço da cultura de muitas personalidades da História, da

Política e da Sociedade do Estado da Paraíba, dirigido então, pela ilustre e consagrada mestra, Daura Santiago Rangel, reconhecida como uma das mais brilhantes e profícua administração do vetusto educandário.

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A minha turma era formada por cinquenta rapazes e uma moça chamada Alfa, natural de Santa Rita, que pediu transferência na segunda semana de aula, tamanho era o assédio.

A turma estudava do turno da manhã e era constituída em 90% (Noventa por cento), por estudantes oriundos das várias regiões do interior do Estado, o que naturalmente nos propiciava um intercâmbio, rico de informações das características geográficas, culturais e socioeconômicas de cada cidade.

Passeio com a turma do Liceu para Campina Grande - 1967

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Capítulo XIV

O Golpe Militar

A Ditadura MilitarPrimeiro mês de aula. Estávamos ainda nos adaptando às

novas disciplinas, ao sistema didático dos professores e já nos preparando para as provas mensais.

Manhã do dia 31 de marçoChegando ao Liceu, assustei-me com a maciça presença

de soldados do Exército, armados, ocupando a Avenida Getúlio Vargas e todas as dependências do colégio. Os alunos eram encaminhados para as salas de aula e informados da suspensão das atividades, sendo orientados a voltarem para casa e não permanecerem nas ruas. A cidade estava completamente ocupada por soldados e a população reprimida, sem entender o que estava acontecendo. Somente depois da divulgação de um Boletim Oficial, soube-se que o Presidente João Goulart, havia sido deposto do cargo, logo assumido por uma Junta Militar. Era o início de um período triste e macabro da História do Brasil: A Ditadura Militar - mais uma na América Latina, subvencionada pelos Estados Unidos.

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A CausaO mundo acompanhava a chamada Guerra Fria, entre as

maiores potências mundiais:URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Bloco

dos países comunistas do Leste Europeu, com sede na Rússia.EUA – Estados Unidos da América.Capitalista e

centralizador.Estas potências disputavam a supremacia política e

desenvolvimentista, visando expandir seus domínios e interesses, nas regiões menos desenvolvidas do planeta: África, Ásia e América Latina. Formaram cada uma, verdadeiros arsenais de armamentos nucleares e rede de espionagem.

O governo americano criou um programa para a América Latina, denominado “Aliança para o progresso” (Deles!). Através desse programa, enviava toneladas de leite em pó e achocolatado para distribuição gratuita nas escolas dos mais recônditos lugares, angariando a simpatia da população pobre e carente. Paralelamente, enviava jovens americanos, sempre em pequenos grupos, para estas localidades e facilmente adquiriam a simpatia e confiança da população – principalmente dos jovens – o que lhes permitia toda informação de seu interesse, as quais eram passadas em relatórios para as centrais de investigação dos Estados Unidos.

As consequências Deflagrado o golpe militar e implantada a Ditadura,

a população ficava à mercê de um sistema de repressão e perseguição, cruel e desumano, muitas vezes, vitimando pessoas injustamente, por falsas informações. A censura a qualquer

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forma de expressão cultural, na música, na literatura e em toda atividade artística, como no cinema, no teatro e na televisão, foi severa.

Reiniciadas as aulas, passamos a viver uma realidade completamente diferente do cotidiano da nossa juventude. A geração brasileira dos Beatles e dos Rolling Stones, estava cerceada do sonho da liberdade de viver num país livre e sem fronteiras ideológicas.

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Capítulo XV

Retomada

Este ano foi muito significativo em minha vida! O Liceu lançou, em comemoração ao centenário de nascimento do Presidente Epitácio Pessoa, um concurso de múltiplas atividades, para homenagear o ilustre filho de Umbuzeiro.

Concorri na área de desenho. Retratei um busto do presidente em cartolina, com bico de pena em tinta nanquim e obtive o 1º lugar, recebendo como prêmio, um exemplar do livro de Antoine Sant-Exupéry, “ O Pequeno Príncipe”, mas, a emoção maior, foi a divulgação e exposição desse trabalho no painel do Colégio e participar, no Auditório, da solenidade de premiação e encerramento do evento, com a presença de várias autoridades.

Outro fato marcante, foi conseguir um emprego numa empresa multinacional, a Dezwaan S/A, de uma holding do grupo holandês HVA Nederland, onde fui contratado como tesoureiro. Transferi o turno de estudo da manhã para a noite e, a partir daí, minha vida mudou radicalmente. Já moravam comigo, as minhas irmãs Lourdes e Nilza. Daí, não demorou para que viesse de Rio Tinto, o restante da família e retomássemos a nossa convivência, com o amor, o respeito e a alegria de sempre.

1965

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Morávamos no Bairro de Miramar, mas, com a chegada da família, nos mudamos para o Bairro do Roger – onde fizemos muitas amizades e tínhamos a consideração de muitos vizinhos. Permaneci no bairro até o meu casamento.

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Já casado, com um filho de 1 ano e 7 meses e uma filha de apenas 1 mês e poucos dias, ingressei na Universidade. Esta foi uma conquista da minha esposa, pois eu já havia decidido não mais estudar. O trabalho e a família, demandavam tempo e dedicação, porém, ela sempre me aconselhava e demonstrava a vontade de que eu concluísse os meus estudos. Fiz vestibular no mês de janeiro e no mês de março iniciei os estudos do Curso de Direito.

Capítulo XVI

UFPB - Universidade Federal da Paraíba

1975

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Foram anos de dedicação, muito esforço e superação, pois saía de manhã para trabalhar, deixando as crianças dormindo. Almoçava no refeitório da empresa e quando no final do expediente, ia direto para a Universidade, só voltando para casa quando já estavam novamente dormindo, o que me disponibilizava apenas no final de semana, para usufruir do prazer de lhes dar o meu amor e de compartilhar dos seus momentos e crescimento.

Estudava à noite e estávamos no auge do rigor da Ditadura Militar, que impunha normas rígidas na rotina do Campus Universitário. A cada aula, o aluno trocava de turma e se deslocava correndo para outros blocos de Departamentos diferentes, para não perder o início da próxima aula que poderia ser no Departamento de Física, Química ou da Área de Saúde. O objetivo desta rotina era evitar que o alunado estabelecesse vínculos de amizade e coesão de grupos de classe.

Graduei-me como Bacharel em Direito, consciente da missão cumprida e agradecido à minha esposa e a minha família, pelos momentos em que supriram a minha ausência e pelo estímulo recebido.

Saudades dos amigos e parceiros de estudo extra classe: Claudemir Meller, Geraldo Gustavo de Almeida e Marcelo Gondim.

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Capítulo XVII

Uma história de amor

Morávamos na mesma rua, em Rio Tinto. Nossos pais eram amigos e compadres, pois os pais de Odinha – José Antonio de Oliveira e Anália Lima de Oliveira – eram padrinhos de batismo de um dos filhos do primeiro casamento do meu pai e também foram padrinhos do casamento dos meus pais.

OSVALDO E ODINHA

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Logo cedo, Odinha foi estudar em João Pessoa e só nas férias escolares, voltava e se integrava ao nosso grupo. Éramos jovens adolescentes e tínhamos um vínculo de amizade e afeto muito forte. Participávamos do mesmo grupo de amigos, que incluía os nossos irmãos.

Fazíamos pic-nic, passeios, íamos aos bailes do Tênis Clube, sessões do Cine Teatro Orion e quando não havia nenhum outro programa, nos reuníamos na calçada da rua, para improvisarmos brincadeiras, cantar ou simplesmente conversar.

Num passeio rural, peguei na sua mão para ajudá-la no caminho e senti uma sensação diferente, desde aquele momento. Comecei a vê-la com um sentimento diferente, que me causava alegria e inquietação. Não a via mais somente com os olhos, mas também com a alma. Estava descobrindo o AMOR. Ficamos nos correspondendo através de cartas, trocávamos fotografias, mas tudo com a pureza da nossa amizade.

Já morando em João Pessoa, sempre estávamos nos encontrando, íamos à praia, etc. Namoramos pessoas diferentes, mas sintonizados um com o outro. Para os nossos familiares e nosso círculo de amizade, era um namoro não assumido por nós, mas vivido por nossas almas.

Em 1970, descobrimos finalmente que éramos almas gêmeas e assim começamos nosso namoro oficial.

O casamentoEm 18 de dezembro de 1971, casamos no religioso com

efeito civil, com cerimônia na Igreja de Nossa Senhora de Lourdes. A Lua de Mel, passamos no Mar Hotel, na Praia de Boa Viagem, em Recife. Nossa história de amor foi coroada com o nascimento dos nossos três filhos: Andréa, Arthur e Alexandre, este casado com Nadja e pai de Alice, minha neta.

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São decorridos até então, quarenta e dois anos de um amor pautado no respeito,

carinho e consideração mútua, que o tempo só reforçou, deixando-nos cada vez mais,

felizes e apaixonados.

João Pessoa, abril de 2014.

Minha amada família: Alexandre, Nadja (nora), Alice (neta), Andrea, Odinha, Osvaldo e Arthur

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A Família

AVÓS PATERNOS: Antonio Florêncio da Silva e Francisca Maria da Conceição;AVÓS MATERNOS: Olinto e Áurea Lima da Silva;TIOS: José Olinto, Joaquim Olinto, Olímpia, Joventina e Lucas;IRMÃOS: Severino Izidro da Silva; Edson Izidro da Silva; Edite Izidro da Silva - Filhos: Manoel (Neneu), Maria José e Kátia; Moisés Izidro da Silva (Casado com Lêda) - Filhos: José Luiz, Vera, Fátima e Paulo Sérgio; Maria das Neves (Casada com Irmo) - Filhos: Ronaldo, Donaldo, Fátima, Dione, Rosângela, Rejane, Claudete, Inaldo, Pedro Alberto e Irma; Maria de Lourdes - Filho: Carlos Frederico; Nilza Izidro (Casada com Everaldo) - Filhos: José Germano, Maria das Graças e Sandra Cristina; Izidro Manoel da Silva - Neneu (casado com Gláucia) - Filhos: Ricardo, Cristiane, Gerlane, Rômulo e Ilka; Antonio Izidro da Silva (Casado com Ângela) - Filhos: Érica e Emmanoel; Maria de Fátima; e Maria Gorete (Casada com José Silveira) - Filhos: Manoel Izidro (Neto) e Leonor.

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Eu me lembro com saudade o tempo que passouO tempo passa tão depressa, mas em mim deixou

Jovens tardes de domingo, tantas alegriasVelhos tempos, belos dias

Canções usavam formas simples pra falar de amorCarrões e gente numa festa de sorriso e corJovens tardes de domingo, tantas alegrias

Velhos tempos, belos dias

Hoje os meus domingos são doces recordaçõesDaquelas tardes de guitarras, sonhos e emoçõesO que foi felicidade, me mata agora de saudade

Velhos tempos, belos diasVelhos tempos, belos dias

Jovens Tardes de Domingo Roberto Carlos