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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ WEDERSON NEVES DUARTE UNIÃO IBÉRICA: 60 ANOS QUE REVOLUCIONARAM A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

WEDERSON NEVES DUARTE

UNIÃO IBÉRICA: 60 ANOS QUE REVOLUCIONARAM A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA

CURITIBA

2012

WEDERSON NEVES DUARTE

UNIÃO IBÉRICA: 60 ANOS QUE REVOLUCIONARAM A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA

Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Geopolítica e as Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do certificado de conclusão de curso. Orientador: Uraci Castro Bomfim

CURITIBA

2012

Wederson Neves Duarte é graduado em Licenciatura em Geografia pela Universidade Tuiuti do

Paraná UTP / FONE: (41) 3627-5475 / (41) 8480-5377

UNIÃO IBÉRICA: 60 ANOS QUE REVOLUCIONARAM A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA

Wederson Neves Duarte

1. INTRODUÇÃO

Desde que Portugal tomou posse do Brasil em abril de 1500, sempre lhe

foi dado um papel irrelevante no domínio colonial português, isto porque, os

lusos sempre deram prioridade às especiarias das Índias Orientais, aos

escravos e ao ouro da África ocidental. Os espanhóis, por sua vez, deram uma

atenção maior ao Novo Mundo do que seus vizinhos da terra de Camões. Fato

este um tanto quanto natural; até porque a maior parte das colônias de Castela

estava em terras americanas - terras essas, riquíssimas em ouro (México) e

prata (Bolívia, México e Peru). Fora da América, só restavam aos hispânicos

alguns poucos arquipélagos e ilhas isoladas no sudeste asiático, dentre eles, a

atual Filipinas.

A predominância de Portugal na África e Ásia e da Espanha na América

tem uma explicação: o Tratado de Tordesilhas de 1494, que foi firmado na

cidade homônima entre os dois reinos com a bênção do Papa Alexandre VI,

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dividindo o mundo em dois hemisférios. À Portugal coube a parte oriental e à

Espanha coube a parte ocidental.

A linha de Tordesilhas, uma linha imaginária vertical, passava ao norte, onde hoje é a ilha de Marajó no Pará e ao sul, próximo a atual cidade de Laguna em Santa Catarina. O que significa que apenas, aproximadamente, 34% do atual

Em 1578, porém, um acontecimento no distante Marrocos mudou para

sempre o desenho territorial da América portuguesa: o rei D. Sebastião morreu

na batalha de Alcácer-Quibir aos 24 anos de idade, sem deixar herdeiros. De

1578 a 1580 o reino foi governado por D. Henrique, tio-avô de D. Sebastião,

este, porém, morreu em janeiro de 1580 e, a exemplo do sobrinho-neto,

também não deixou herdeiros.

A morte de D. Sebastião com a subsequente de D. Henrique abriu

precedentes para a corrida ao trono português. Os principais concorrentes ao

trono eram D. Antônio, conhecido como Prior do Crato, apoiado pelo populacho

português e D. Filipe II, rei da Espanha, que através de batalhas e largas

concessões aos portugueses conseguiu assegurar a coroa portuguesa para si.

Além de rei da Espanha, Filipe II era também filho de Carlos V, neto de D.

Manuel e genro de D. João III; os dois últimos foram reis de Portugal. Portanto,

o grau de parentesco de D. Filipe com a monarquia portuguesa era grande, o

que o ajudou a subir ao trono luso. A partir daí, os reinos de Portugal e

Espanha tornaram-se um só, sob a jurisdição do rei espanhol. A Espanha

passou a comandar um dos maiores impérios que já existiu, desde os domínios

europeus Espanha, Portugal, Nápoles, Sicília e Sardenha até as Américas

espanhola e portuguesa, as colônias africanas e as possessões ibéricas no

extremo oriente Índia e Filipinas, dentre outras.

A partir de 1580, os portugueses, antes confinados à faixa territorial que

lhes cabia pelo Tratado de Tordesilhas território que abrangia

aproximadamente as atuais regiões Nordeste e Sudeste do Brasil; puderam se

expandir para o lado espanhol da América, já que agora estavam sob a

jurisdição de um único rei. Foi neste contexto que o Sul e a Amazônia

passaram a ser colonizados e/ou explorados por portugueses.

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Antes de a União Ibérica ser instaurada em 1580, Portugal mantinha um

intenso comércio açucareiro com a Holanda. A Portugal cabia a produção do

açúcar nos engenhos do nordeste brasileiro, que em seguida vendiam o

produto aos holandeses que refinavam e redistribuíam o produto para o

restante da Europa. Com Portugal sendo atraído para a órbita espanhola, os

portugueses viraram, automaticamente, inimigos dos holandeses, já que esses

eram inimigos mortais dos espanhóis desde que a Holanda tornou-se

independente da Espanha um ano antes. A independência ocorreu porque os

holandeses, em grande parte protestante, cansaram de serem perseguidos

pelo catolicismo fervoroso do rei espanhol Filipe II.

De 1580 a 1621 o comércio do açúcar entre o Brasil Colônia e a Holanda

continuou, embora enfraquecido. Quando Filipe IV subiu ao trono espanhol em

1621 ele tratou de fechar os portos das colônias portuguesas ao comércio

holandês. Isso foi a mola propulsora que fez com que os holandeses

invadissem o nordeste brasileiro, as possessões africanas e portos

portugueses no oriente; portos estes situados nas atuais Malásia e Indonésia.

Pode-se dizer, portanto, que foi durante o reinado de Filipe IV (1621 a

1665) que Portugal experimentou o início de sua derrocada como potência

marítima e que a Holanda foi o principal ator neste processo de decadência

lusitana.

Após a invasão holandesa ao Nordeste brasileiro, a Holanda tomou

posse de boa parte das possessões portuguesas na África, o que reduziu

bastante o fluxo de mão-de-obra africana para o Brasil e, com o tempo, os

Países Baixos se tornaram os principais traficantes negreiros do mundo. A

Holanda precisava destes escravos para trabalhar nos engenhos açucareiros

do Brasil, Suriname e Antilhas. Com essa redução de mão-de-obra advinda da

África, os luso-brasileiros se viram obrigados a se virarem com o que tinham e,

intensificaram dessa forma, as bandeiras de preação rumo ao atual sul do

Brasil. Do outro lado do país, no norte, expedições ao vale amazônico e o início

das missões evangelizadoras no Pará deram início à conquista da Amazônia,

que décadas mais tarde estariam oficialmente sob a égide portuguesa.

Também no norte, os portugueses trataram de destruir fortes holandeses,

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ingleses, irlandeses e franceses, no vale do Amazonas e Xingu, dentre outros

rios. As drogas do sertão, antes exploradas pelos povos acima citados,

começaram também a ser exploradas pelos portugueses. Num primeiro

momento, pelos jesuítas juntamente com os indígenas e, posteriormente por

colonos. Cravo, canela, urucum, guaraná, castanha-do-pará, baunilha,

salsaparrilha e cacau, figuravam entre as principais drogas do sertão. Estas

incursões em terras onde antes era tão somente a América espanhola só foram

possíveis, no entanto, porque existia a União Ibérica que permitia aos

portugueses cruzarem livremente a Linha de Tordesilhas.

O avanço dos portugueses em direção à América espanhola é

corroborado pelos seguintes fatos históricos:

1623 > Luís Aranha de Vasconcelos e Bento Maciel Parente atacaram e

destruíram dois fortes holandeses nas proximidades da foz do rio Xingu.

Posteriormente, Bento Maciel construiu outro forte no mesmo local.

1628 > Manuel Preto e Antonio Raposo Tavares destruíram as reduções

do Guairá, no atual Paraná.

1636 > Padre da Ordem Inaciana Luís Figueira fez peregrinações

religiosas no vale do rio Xingu.

1636 - 1639 > Bandeiras de Antonio Raposo Tavares e Fernão Dias

Paes assediam as reduções do Tape, no atual estado do Rio Grande do Sul.

1637 - 1639 > O português Pedro Teixeira fez uma expedição ao vale

amazônico. A viagem começou em Cametá, próximo a Belém e, terminou em

Quito.

1639 > Pedro Teixeira coloca um marco na margem esquerda do rio

Napo, nas proximidades da foz do rio Aguarico. Este local hoje se encontra na

província equatoriana de Orellana, junta à divisa do departamento peruano de

Loreto.

1639 > Religiosos denominados Capuchos de São José se instalam na

região onde em pouco tempo se desenvolveria a aldeia de Muturu, futuro

município de Porto de Moz PA.

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Pode concluir-se que enquanto os portugueses durante o reinado de

Filipe IV assistiam sua decadência no oriente, perdendo importantíssimos

portos de especiarias para os holandeses e posteriormente para os ingleses e,

possessões na África ocidental e boa parte do comércio de escravos também

para a Holanda; no Brasil, eles começavam a lançar as bases das fronteiras do

atual território brasileiro, expulsando as potências europeias do vale do

Amazonas, construindo fortes, começando a catequização dos índios naquela

região e explorando comercialmente as drogas do sertão, além da

importantíssima expedição portuguesa de Pedro Teixeira que fez uma incrível

viagem de conhecimento ao vale amazônico. Somente Francisco de Orellana,

a serviço da Espanha, quase um século antes já havia feito uma viagem

semelhante ao Amazonas, só que no sentido contrário. No sul, as bandeiras

paulistas destruíram as reduções jesuíticas e capturaram milhares de índios

para trabalharem nos engenhos de açúcar, desta forma conhecendo o território

que mais tarde faria parte da importantíssima região sul do Brasil.

Em 1640, quando a monarquia portuguesa foi restaurada e D. João IV

foi aclamado rei da nova monarquia de Portugal, inaugurando desta forma, a

longa e famosa dinastia dos Bragança, a mesma que D. João VI, D. Pedro I e

D. Pedro II, conhecidíssimos pelos brasileiros, fazem parte, Portugal já havia

avançado muito em terras espanholas, já que durante a União Ibérica (1580

1640) a linha de Tordesilhas deixou de existir.

Desta forma, em meados do século XVII, Portugal já havia perdido a

hegemonia no que tange ao comércio das especiarias no oriente e havia

perdido também boa parte do comércio de escravos na África, agora em mãos

holandesas. Restava agora à Portugal investir na sua principal colônia

remanescente de seu outrora extenso império o Brasil.

Para impulsionar o projeto de exploração da sua colônia americana, os

portugueses precisavam restabelecer o fluxo de escravos africanos para o

Brasil. Para tanto, durante a guerra Luso-Holandesa, os portugueses

conseguiriam retomar alguns portos escravagistas na África, entre eles, Luanda

em Angola.

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Pouco depois da Restauração monárquica, nas décadas de 40 e 50 do

século XVII, outras bandeiras adentraram o sertão da América do Sul em busca

de ouro e prata para a recém-renovada monarquia portuguesa. A principal

bandeira deste período foi sem dúvida a de Antonio Raposo Tavares, que

desbravou o sertão da região central do atual Brasil e também a Amazônia

entre os anos de 1648 a 1651. Portugal tinha a intenção nessa época de

expandir seu território na América do Sul, já que a Ásia estava praticamente

perdida. As expedições realizadas anteriormente, durante o período da União

Ibérica, no sul e no norte, foram essenciais para esta expansão.

Posteriormente, diversos tratados foram firmados entre Portugal,

Espanha e outras potências, levando a linha divisória entre as duas Américas

portuguesa e espanhola, cada vez mais para o oeste, como queriam os

portugueses.

1713 Tratado de Utrecht - a França reconhece o rio Oiapoque como

fronteira natural entre as possessões francesas e portuguesas na América do

Sul. E a Espanha reconhece a posse para Portugal das terras entre os rios

Amazonas e Oiapoque.

1715 Segundo Tratado de Utrecht a Espanha devolve a Colônia de

Sacramento atual Uruguai, para Portugal.

1750 Tratado de Madri Portugal devolve a Colônia de Sacramento

para a Espanha. E os espanhóis reconhecem a soberania portuguesa sobre as

terras conquistadas por sertanistas, missionários e bandeirantes; ou seja, boa

parte dos atuais Sul, Centro-Oeste e Norte brasileiros. Para conseguir realizar

este desejo reivindicado junto aos espanhóis, os portugueses se valeram do

princípio de uti possidetis, onde cada parte deveria ficar com o que havia

povoado, usando para tanto, limites naturais como rios e montanhas para

delimitar as fronteiras.

1777 Tratado de Santo Ildefonso Portugal reafirma a posse da

Colônia do Sacramento à Espanha e cede a região dos Sete Povos das

Missões à mesma.

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1801 Tratado de Badajoz Sete Povos das Missões, região

atualmente localizada no oeste do Rio Grande do Sul, passa agora para os

domínios portugueses. As fronteiras gaúchas ficam praticamente delimitadas

como nos dias atuais.

A imagem de satélite da próxima página mostra os principais avanços

dos portugueses em direção a América Espanhola durante a União Ibérica.

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Imagem de Satélite com as principais entradas portuguesas rumo à América Espanhola durante a União Ibérica

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2. ANÁLISE GEOPOLÍTICA DO BRASIL PRÉ-UNIÃO-IBÉRICA

Como mostrado nas páginas anteriores, se Portugal tivesse mantido

com a Espanha as fronteiras de seus impérios baseadas na Linha de

Tordesilhas, as delimitações prováveis do Brasil, utilizando-se dos acidentes

naturais como base de limites demarcatórios de fronteiras, hoje seriam as

seguintes:

Ilha de Marajó e rios Tocantins, das Almas, Corumbá, Paranaíba e

Paraná a oeste, Rio Paranapanema, Serra do Mar, rio Itajaí do Sul e Serra

Geral ao sul e o oceano Atlântico a leste e norte.

O mapa da página 13 mostra sucintamente, como as fronteiras do Brasil

provavelmente seriam se a União Ibérica jamais tivesse existido.

É importante notar que este sistema de divisas territoriais através de

acidentes geográficos, como rios e montanhas, muito utilizado na América do

Sul, traria vantagens e desvantagens para o Brasil. O país ganharia terras a

oeste de Tordesilhas, ao passo que perderia terras a leste para os hispânicos.

Desta maneira, o Brasil teria em seu território terras majoritariamente

localizadas nas atuais regiões Nordeste e Sudeste. O restante, uma faixa

litorânea no Sul; o oeste dos estados de Goiás e Tocantins; a ilha de Marajó e

nordeste do Pará constituiria o restante do território.

Baseado nessas fronteiras fictícias, o Brasil hoje teria uma análise

geopolítica mais ou menos assim:

Bacias Hidrográficas: a bacia do São Francisco seria a principal bacia

hidrográfica do Brasil. Importantes rios da bacia Atlântica também fariam parte

integralmente deste Brasil, destaque para os rios Paraíba do Sul, Doce,

Jequitinhonha, Pardo, das Contas, Jacuípe e Gurupi. Outra bacia que estaria

na íntegra dentro deste Brasil seria a bacia do Parnaíba. Já a bacia do

Tocantins-Araguaia, hoje totalmente brasileira, teria de ser compartilhada com

outros vizinhos. Assim como a bacia do rio Ribeira, na divisa dos atuais

estados do Paraná e São Paulo.

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Conclui-se que o chamado rio da integração nacional, assim continuaria

maior extensão e o rio com maior potencial hidrelétrico, devido às suas

características de rio de Planalto. Já os outros rios que deságuam no Atlântico,

pouco teriam a oferecer neste quesito, já que são, via de regra, de curta

extensão e pouco declive.

Forma do Território: o Brasil teria a forma Alongada no Sentido dos

Meridianos. Esta forma traz antagonismos culturais, devido principalmente às

diferenças quanto ao clima. No Brasil deste cenário, o Nordeste canavieiro e

com grande população negra descendente de escravos africanos,

provavelmente se oporia ao Sudeste, onde a mineração sempre foi forte e onde

. A estreita faixa de terra, no extremo sul, teria

probabilidade de se separar do restante do país. Quanto mais estreita a área,

maior é a probabilidade de seção territorial.

Continentalidade ou Maritimidade: com aproximadamente 60% de

maritimidade e 40% de continentalidade, o Brasil possuiria um patamar misto,

como tem hoje. Isto facilita o comércio com outros países pela parte marítima,

mas também possibilita conflitos com os países vizinhos pela parte terrestre. A

diferença deste Brasil fictício para o Brasil contemporâneo é que a

porcentagem de continentalidade e maritimidade no Brasil de hoje é inversa:

60% de continentalidade contra 40% de maritimidade.

Relevo: essencialmente planáltico, este país teria pouquíssimas e pequenas

planícies, principalmente na região dos atuais estados do Maranhão e do Pará.

Portanto, ficaria difícil uma mecanização agrícola voltada para exportação; haja

vista que é difícil mecanizar um solo de relevo acidentado, o que ocorre

principalmente no estado de Minas Gerais; o Nordeste, embora tenha terras

boas para o plantio no que diz respeito a relevo e fertilidade, possui um grande

déficit hídrico, seria necessário, portanto, uma forte irrigação dessas terras. As

únicas exceções seriam o oeste paulista, que tem um planalto suave; o

Triângulo Mineiro; o oeste do Maranhão e as regiões costeiras que vão da foz

do rio Doce no Espírito Santo à baía de Marajó no Pará. A bacia do São

Francisco poderia ser utilizada para a construção de hidrelétricas, assim como

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acontece hoje. A construção de termelétricas seria quase inevitável. Já que

sem Itaipu, o Brasil provavelmente não conseguiria viver economicamente só

com a energia advinda do Velho Chico.

Fronteiras: As fronteiras deste Brasil fictício seriam quase todas naturais,

majoritariamente hídrica. Exceção de fronteiras não hídricas se faz a:

Serra Geral;

Serra do Mar e;

Pequena área da Serra dos Pirineus em Goiás, entre as nascentes dos

rios Corumbá e das Almas.

Essas fronteiras hídricas são excelentes para que os países vizinhos

não reivindiquem terras adjacentes. Já nas regiões de serras, ocorre

frequentemente alguns litígios. Sempre há dúvidas quanto a quais cumes se

deve seguir para constituir as fronteiras nacionais.

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3. ANÁLISE GEOPOLÍTICA DO BRASIL PÓS-UNIÃO IBÉRICA:

BRASIL VERSÃO ESTENDIDA

Com uma ajudinha da História, o Brasil que hoje conhecemos é muito

mais forte política e economicamente do que aquele que seria se a União

Ibérica nunca tivesse existido. Abaixo está a análise geopolítica do Brasil

contemporâneo. É importante salientar que não foram usados todos os

elementos de uma análise geopolítica porque não há como fazer uma análise

países, por exemplo. Haja vista que o Brasil pré-União Ibérica não tem vizinho

algum definido.

Bacias Hidrográficas: no Brasil versão estendida, a bacia do Tocantins-

Araguaia agora é totalmente brasileira. O Brasil ganhou a maior parte da bacia

Amazônica, ampliou consideravelmente seu território na bacia do Paraná e,

ganhou terras nas bacias do Paraguai e Uruguai. Isto assegurou ao Brasil rios

com alta potencialidade para a construção de hidrelétricas; como as de Itaipu

pré-União Ibérica.

Forma do Território: o Brasil hoje possui um formato Compacto. Este formato

é bem melhor do que o Alongado no Sentido dos Meridianos, como era o Brasil

na época pré-União Ibérica, pois assegura uma maior coesão cultural ao país.

Diminuindo a probabilidade de movimentos separatistas vingarem.

Continentalidade e Maritimidade: como dito em páginas anteriores, a

proporção de território fronteiriço limítrofe ao oceano Atlântico é de

aproximadamente 40%, contra 60% de fronteiras terrestres.

Relevo: o Brasil contemporâneo tem muito mais território plano do que aquele

do Brasil pré-União Ibérica. Planícies e planaltos mais suaves garantem ao

Brasil de hoje uma posição de destaque na agropecuária mundial. As atuais

região Sul e Centro-Oeste são hoje uma importante fonte de produtos rurais,

como soja, milho e carnes de boi, porco e frango. Estes produtos são

destinados ao mercado interno e externo. Safras invejáveis são produzidas em

áreas antes dominadas pelo Cerrado, Mata Atlântica e Floresta de Araucária.

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Essas áreas, no entanto, pertenciam em sua maioria, pelo menos

nominalmente, à América Espanhola antes de 1580.

Fronteiras: as fronteiras brasileiras podem ser consideradas mistas, isto

porque boa parte das fronteiras do Brasil são artificiais, embora, a grande

maioria seja natural. Os estados com a maior proporção de fronteiras artificiais

são: Amazonas, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Quanto às fronteiras naturais, a grande maioria são rios, destaque para os rios

Uruguai, Paraná, Paraguai, Guaporé, Mamoré, Javari e Oiapoque. Algumas

serras também fazem papel de elemento divisório, principalmente as Serras do

Divisor, Pacaraima, Acari e de Tumucumaque na região Norte.

As características dessas fronteiras asseguram um bom relacionamento

com os nossos vizinhos sul-americanos, já que a fronteira hídrica é uma das

melhores para delimitar um limite nacional. Quanto às fronteiras artificiais, boa

parte delas foi conquistada através de querelas do passado, que já foram

resolvidas, como as linhas de divisa internacional no Mato Grosso do Sul e

Acre. Fronteiras conquistadas na Guerra do Paraguai e na Questão do Acre,

respectivamente.

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4. O BRASIL AOS OLHOS DO MUNDO

O Brasil do século XXI é um Brasil arrojado, respeitado por muitos,

nossa economia passou a do Reino Unido e, somos hoje a sexta economia do

mundo; recém passamos o Reino Unido em 2011. Na página 19 há uma tabela

mostrando a evolução do PIB brasileiro em meio às 15 maiores economias

globais. A compilação dos dados foi feita de acordo com o PIB dos anos de

1990, 2000 e 2010, ano em que o Brasil ainda era a sétima economia global.

Analisando os dados comparativos da tabela podemos observar que o

Brasil vem tendo uma evolução econômica boa comparada a outros países. De

2000 para 2010 o Brasil mais que triplicou o seu PIB, enquanto outros países,

como México, Itália, Alemanha e Coreia do Sul não conseguiram nem dobrar.

Os outros três países do BRIC, assim como o Brasil, apresentam uma evolução

impressionante, principalmente a China, que em dez anos quase que

quintuplicou seu PIB; a Índia triplicou e a Rússia, que nem aparece na lista de

2000 por ter apresentado neste ano meros 259 bilhões de dólares, mais que

quintuplicou seu PIB. Ou seja, se Brasil e Índia apresentam um crescimento

econômico bom, China e Rússia estão tendo taxas de crescimento muito

superiores. Embora o crescimento chinês e russo seja um tanto quanto

diferente, já que a China cresce vertiginosamente desde 1990 e já ultrapassou

todos os ricos da Europa e, a Rússia vem se recuperando de uma transição

socialista para capitalista e, está muito longe dos líderes mundiais.

Segundo uma matéria sobre Nova Ordem Mundial publicada na

conceituada revista americana Newsweek em 2010, o Brasil está classificado

no seleto grupo dos países que possuem características únicas, não podendo,

portanto, ser agrupado a algum de seus vizinhos. Neste grupo estão ainda,

França, Suíça, Índia, Japão e Coreia do Sul. A revista deu o nome de Stand

Alone para estes países. Outro grupo peculiar, é o das Cidades-estado, que

tem Londres, Paris, Cingapura e Tel-Aviv como seus representantes. Os outros

países agrupados em distintos grupos como Nova Liga Hanseática, Áreas de

Fronteira, Repúblicas da Azeitona, Aliança Norte-Americana, Liberalistas,

Repúblicas Bolivarianas, Império Russo, Oriente Selvagem, Iranistão, Grande

Arábia, Novos Otomanos, Império Sul-Africano, África Subsaariana, Cinturão

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Magrebiano, Reino Médio, Cinturão da Borracha e Países Sortudos podem ser

agrupados mais homogeneamente tendo como base seus laços culturais

semelhantes e proximidade geográfica.

O Brasil, portanto, é reconhecido como uma potência latino-americana

sem paralelo. Na página 20 há uma imagem onde dá para ver melhor a

localização desses agrupamentos, que segundo a Newsweek, estão hoje mais

ligados a laços culturais, raciais, étnicos e religiosos do que nunca.

Segundo pesquisas realizadas em livros americanos, principalmente no

livro Brazil as an Economic Superpower? - o Brasil é hoje uma economia

diferenciada por uma série de fatores:

1. Possui Grande Extensão Territorial: com a quinta maior extensão

territorial do mundo, atrás apenas de Rússia, Canadá, China e EUA. O

Brasil tem um território ímpar. Em sua grande maioria, o solo brasileiro é

cultivável. Sendo que Rússia e Canadá, apesar de grandes, possuem

grande parte de seus territórios cobertos por neve boa parte do ano. A

China tem um planalto muito seco no centro e no oeste do país, e os

Estados Unidos têm o Alasca extremamente gelado e, extensos

desertos no oeste do país, o que dificulta os cultivos intensivos.

2. Boa infraestrutura de pesquisa agropecuária: desde a década de

1970 o Brasil criou a Embrapa para auxiliar no desenvolvimento de

novas sementes e técnicas mais refinadas de plantio; além de pesquisas

satisfatórias em relação às pragas agrícolas principalmente às pragas

tropicais. Hoje o Brasil colhe os frutos dessas pesquisas.

3. Iniciativas isoladas de industrialização: a Embraer, sediada em São

José dos Campos e, que fabrica aviões comerciais que são exportados

para o mundo todo, é um bom exemplo da incipiente indústria de ponta

brasileira.

4. Matriz energética dinâmica: com a crise internacional do petróleo na

década de 1970 o Brasil passou a investir na produção e no consumo do

álcool produzido a partir da cana-de-açúcar. O impulsionamento para

esta empreitada veio por parte do programa governamental denominado

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Pró-Álcool que ajudou o Brasil a se desvincular da dependência do

petróleo estrangeiro. Associado a isto, o Brasil conseguiu galgar

rapidamente e conquistar o seu lugar ao sol entre os países com grande

produção de petróleo, graças, obviamente, a Petrobras que aumenta a

cada ano a sua produtividade, principalmente em águas profundas.

Hoje, cerca de 92% do petróleo brasileiro vem do mar. Boa parte do

consumo energético brasileiro vem de hidrelétricas, como as de Itaipu e

Tucuruí. O Brasil possui o terceiro maior potencial hidrelétrico do mundo,

atrás apenas de Rússia e China. O Brasil possui ainda boas reservas de

Urânio, o que torna viável a construção de mais usinas nucleares.

5. diferentemente de seus principais concorrentes

agrícolas que dependem de irrigação maciça, o Brasil possui uma

agricultura baseada na rega totalmente ou parcialmente natural (água

proveniente das chuvas). Poucas são as regiões do Brasil que se valem

totalmente ou principalmente da irrigação, como é o caso da fruticultura

no vale do São Francisco, na região de divisa dos estados da Bahia e

Pernambuco.

6. Multinacionais Pontuais: embora em pouco número ainda, as

multinacionais brasileiras vêm crescendo sua participação na produção

e no comércio mundial, principalmente a mineradora Vale, a petrolífera

Petrobras e as construtoras Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade

Gutierrez, além de Votorantim, Gerdau, entre outras empresas de

expressão internacional.

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OV

A O

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GU

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DE

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5. SMART-POWER BRASILEIRO

Para se entender o Smart-Power Brasileiro é preciso primeiro

compreender o que é Smart-Power. Segundo Joseph Nye, o Smart-Power é a

fusão do Hard-Power com o Soft-Power. Mas o que são estes dois termos?

Vejamos:

Hard-Power é o poder que uma nação tem sobre as demais por meio

militar e político-econômico, usando estes requisitos para coagir os países em

geral. O melhor exemplo deste tipo de poder é sem dúvida os Estados Unidos.

O poder militar do Brasil frente à América Latina pode ser mensurado

pelos gráficos abaixo:

0

5

10

15

20

25

30

35

Gastos Militares em 2011 (em bilhões de

dólares)

Brasil

Colômbia

Chile

México

Argentina

Venezuela

Equador

Peru

Uruguai

República Dominicana

Fonte: SIPRI

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Efetivo Militar Ativo em 2008 (em

milhares de indivíduos)

Brasil

Colômbia

México

Venezuela

Peru

Argentina

Chile

Equador

República Dominicana

Cuba

Fonte: Informationisbeautiful.net

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0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

PIB em 2010 (em trilhões de dólares)

Brasil

México

Venezuela

Argentina

Colômbia

Chile

Peru

Cuba

Equador

República Dominicana

Fonte: National Accounts Main Aggregates Database

Analisando os gráficos apresentados, pode-se concluir que o Brasil tem

um Hard-Power fortíssimo frente aos demais países da América Latina, seu

gasto militar de 31,6 bilhões de dólares no ano de 2011 é equivalente a

aproximadamente 45% do que os países da América Latina gastaram juntos

em 2011. O gasto brasileiro do Brasil neste setor foi muito superior ao que o

segundo e o terceiro colocado gastaram, Colômbia 10,3 bilhões e Chile 7,4

bilhões, respectivamente.

O Efetivo militar brasileiro na ativa de 326 mil soldados, só encontra

paralelos na Colômbia 267 mil e, no México 256 mil soldados; segundo

dados de 2008.

E quanto ao PIB? Bem, quanto ao PIB o Brasil é disparado o país mais

rico da América Latina com mais de 2 trilhões de dólares de PIB em 2010. Com

1 trilhão a menos, o México vem logo atrás. Os demais países da América

Latina estão bem distantes destes dois gigantes Latino-Americanos. Ou seja, o

Hard-Power brasileiro é forte no âmbito da América Latina no que concerne a

assuntos militares e também econômicos.

Soft-Power é o poder de sedução de uma nação frente às outras. Essa

sedução pode ser feita por meio de ações diplomáticas ou culturais. O Brasil

vem nos últimos anos, agindo por via diplomática ativamente no G-20; é um

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dos líderes dos países emergentes e tem um discurso defensor dos países

menos favorecidos economicamente em fóruns sociais e encontros

internacionais na ONU e em outras partes do mundo.

Culturalmente falando, o Brasil é admirado por seu excelente futebol......

tudo bem, nem tão excelente assim nos últimos tempos e, por suas telenovelas

produzidas e exportadas pela rede Globo, principalmente para os países latino-

americanos, do leste europeu e para Portugal e demais países lusófonos.

Resumindo, diplomaticamente e culturalmente, o Brasil vem fazendo sua

parte para galgar um melhor lugar ao sol no que tange ao nosso Soft-Power.

Portanto, somando os nossos Soft e Hard-Powers nós temos um relativo

Smart-Power na América Latina e, porque não dizer, no mundo.

Viviane Pasmanter e Murilo Benício

em cena da novela Por Amor de

1997, exibida pela rede Globo e

exportada para mais de 70 países.

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6. CONCLUSÃO

É difícil fazer conjecturas sobre o que foi ou o que não foi no que diz

respeito à delimitação das fronteiras brasileiras, mas o fato é que hoje o Brasil

é um país de destaque na América Latina e começa a se destacar

mundialmente. Este destaque, não veio por acaso, nosso gigantismo, com uma

abundância de terras planas, chuvas relativamente fartas e regulares são

partes da explicação deste crescimento vertiginoso do Brasil.

Produzimos soja, milho, cana-de-açúcar, feijão, dentre outros grãos e

vegetais, em grande quantidade. Com pastagens naturais no pampa gaúcho e

pastagens artificiais no centro-oeste onde antes abundava o Cerrado, o Brasil

produz muita carne bovina para exportação, grande parte da alimentação deste

gado vem destes pastos, diferentemente da alimentação de bois da Inglaterra e

muitos outros países, por exemplo, que vem de rações. No Paraná e em Santa

Catarina há grande produção de carne de frango e suíno; esta produção está

atrelada à produção de grãos nestes estados o farelo de grãos é muito

utilizado para a alimentação destes animais. No Brasil, há algum tempo, o

crescimento da produção de grãos vem acompanhada com o crescimento na

produção de frangos e suínos.

Outra explicação para o crescimento econômico brasileiro, segundo o

livro Brazil as an Economic Superpower? é o crescimento acentuado da

classe média chinesa e indiana, que consome muito aço e minério de ferro

exportado pelo Brasil e, é claro, os alimentos também.

Embora o Brasil tenha avançado economicamente nas últimas décadas

o crescimento continuado esbarra em problemas crônicos como infraestrutura

precária de transporte, educação deficitária e reforma agrária inconclusa,

segundo analistas, estas são dificuldades que acompanham o Brasil tanto na

indústria como na agricultura, no caso da reforma agrária.

Parece besteira, mas se certo monarca não tivesse morrido no Marrocos

há mais de 400 anos, dando um start para um efeito cascata imenso, talvez

hoje as fronteiras brasileiras fossem muito mais a leste do que são hoje, a

Amazônia jamais seria o maior biom

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em territórios que antes da União Ibérica eram majoritariamente espanhóis e

não portugueses. O Pantanal, talvez fosse hoje 100% boliviano ou paraguaio.

Enfim, o Brasil destaque da América Latina, hoje seria mais um país de pouca

expressão na América do Sul. Claro que a manutenção deste imenso território

do Brasil pós-União Ibérica só foi assegurada, também, devido a dois outros

fatos históricos posteriores, o pulso firme de monarcas e regentes na época do

Brasil Império que sufocaram as revoltas separatistas no período e, a

diplomacia do Barão do Rio Branco no início do Brasil República.

Em suma, o Brasil de hoje, é em grande parte, resultado do período de

60 anos em que o Brasil deixou de ser português para ser espanhol, do período

em que o Brasil não devia obediência a Lisboa e, sim a Madrid.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brasil 500 anos. São Paulo: Editora Abril, 1999.

BRAINARD, LAEL ; MARTINEZ-DIAZ, LEONARD. Brazil as an economic

superpower? Washington, D.C.: Brookings, 2009.

THE new world order. Newsweek Magazine, 2010. Apresenta um artigo sobre a

Nova Ordem Mundial. Disponível em: http://www.thedailybeast.com/newsweek/

2010/09/26/the-new-world-order-a-map.html. Acesso em 01 out. 2012.