Text of UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ARQUITETURA SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA RODRIGO DE PAULA FERREIRA SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. de Pesquisa: Projeto, produção e representação. Grupo de Pesquisa CNPQ: Arquitetura: abordagens alternativas e transdisciplinares na condição contemporânea. SÃO PAULO 2020 CONTEMPORÂNEA PAULISTANA DO SÉCULO XXI: O RETROFIT SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA TADEU PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ARQUITETURA E CIDADE. APROVADO EM: BANCA EXAMINADORA PROF. DR.:______________________INSTITUIÇÃO: _____________________ JULGAMENTO: ___________________ASSINATURA: _____________________ PROF. DR.:______________________INSTITUIÇÃO: _____________________ JULGAMENTO: ___________________ASSINATURA: _____________________ PROF. DR.:______________________INSTITUIÇÃO: _____________________ JULGAMENTO: ___________________ASSINATURA: _____________________ “Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento;” (Provérbios 3:13) AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus por me dar saúde e condições de participar desta etapa de minha vida. À Universidade São Judas por me proporcionar um aperfeiçoamento com excelência. À prof.ª Drª Paula de Vincenzo Fidelis Belfort Matos, coordenadora do Programa de Mestrado no primeiro período do curso, pela receptividade. Ao prof. Dr Fernando Guillermo Vazquez Ramos, coordenador do programa no segundo período, pelos ensinamentos. À prof.ª Drª Edite Galote Carranza, minha orientadora, pelos seus ensinamentos e reflexões, um exemplo de pessoa e profissional. Ao corpo docente, pelos ensinamentos acadêmicos e profissionais que transmitiram. Ao prof. Dr. José Augusto Fernandes Aly pela contribuição. Ao prof. Dr. Renan Pícolo Salvador pela colaboração. Prof. (a) Dr.(a) Prof. Dr. Dimas Alan Strauss Rambo pela contribuição. Aos colegas de mestrado, que apoiaram e enfrentaram as dificuldades desta etapa de vida juntos. Aos meus familiares, pai, mãe e irmão pelo apoio neste período contínuo de estudos. À minha noiva Érica pela parceria nesses anos, apoiando e tendo paciência em cada momento no decorrer deste período. RESUMO Após a Conferência das Partes em 2015, o Brasil se tornou signatário do Acordo de Paris que estabeleceu metas para o Desenvolvimento Sustentável (DS) em diversas áreas inclusive na Arquitetura e Urbanismo. A Agenda 2030 determina por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) a busca por Cidades e Comunidades Sustentáveis na ODS 11. Em síntese: na preservação do ambiente natural e melhoria na qualidade do ambiente construído. Neste contexto, uma técnica de reforma atual denominada de retrofit pode ser utilizada na arquitetura contemporânea paulistana como um meio de atualizar edificações ao aplicar tecnologias que contribuem para a sustentabilidade. Esta dissertação tem por objetivo investigar a importância da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) na aplicação em conjunto com a técnica de retrofit, a fim de cotejar a aplicabilidade na arquitetura contemporânea paulistana como resposta às metas estabelecidas para o ODS 11. O estudo colabora com as pesquisas em sustentabilidade na arquitetura contemporânea paulistana, uma vez que discute através de um recorte os impactos ambientais causados pela arquitetura, intensificados pela longevidade perdida das construções existentes. Desta forma, este trabalho demonstrará estudos de caso em que os resultados apontam o sucesso da aplicação do retrofit concomitante a ACV, norteado pela certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) em contribuição para a sustentabilidade na arquitetura contemporânea paulistana. Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Avaliação do Ciclo de Vida; Retrofit; Arquitetura Contemporânea Paulistana. ABSTRACT Following the 2015 Conference of the Parties, Brazil became a signatory to the Paris Agreement, setting its goals for Sustainable Development (SD) in several areas, including Architecture and Urbanism. The 2030 Agenda determines through the Sustainable Development Goals (SDGs) the search for Sustainable Cities and Communities in SDG 11. In short: preserving the natural environment and improving the quality of the built environment. In this context, a current reform technique called retrofit can be used in contemporary São Paulo architecture as a means of upgrading buildings by applying technologies that contribute to sustainability. This dissertation aims to investigate the importance of the Industrial Life Cycle Assessment (LCA) methodology in its application in conjunction with the retrofit technique, and to demonstrate that retrofit can contribute to sustainability in São Paulo's contemporary architecture as a response to the goals established in the. Paris agreement. The study collaborates with research on sustainability in contemporary architecture in São Paulo, as it discusses through a clipping the environmental impacts caused by architecture, intensified by the lost longevity of existing buildings. Thus, this work will demonstrate case studies in which the results indicate the success of the application of the concomitant retrofit to the LCA, guided by the Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) certification, contributing to sustainability in São Paulo's contemporary architecture. Contemporary Architecture. Figura 3 Edifício Rochaverá Corporate Towers......................................................35 Figura 4 Edifício Citicenter (Entrada)......................................................................36 Figura 5 – Complexo SESC Pompeia.......................................................................38 Figura 7 – Prédio Esportivo do SESC Pompeia........................................................40 Figura 8 – Fases do Edifício Wilton Paes de Almeida...............................................45 Figura 9 – Planta do Edifício Wilton Paes de Almeida..............................................46 Figura 10 – Fases de uma ACV................................................................................51 Figura 11 – Áreas de Análise da Certificação LEED.................................................63 Figura 12 – Níveis de Certificação.............................................................................64 Figura 14 – Levantamento dos Edifícios Certificados na Avenida Paulista..............65 Figura 15 – Torre Matarazzo e Shopping Cidade São Paulo....................................67 Figura 16 – Edifício Eluma.........................................................................................68 Figura 17 – Edifício CYK...........................................................................................69 Figura 24 – Loja Quem disse, Berenice? do Shopping Cidade São Paulo...............76 Figura 25 – Restaurante Madero...............................................................................77 Figura 28 – Fachada do Edifício Sesc Paulista.........................................................80 Figura 29 – Planta do térreo: acesso aos elevadores, escada e área multiuso com integração à avenida...................................................................................................82 Figura 30 – Planta do 1ºandar – mezanino: atividades de serviços..........................82 Figura 31 – Planta do 2º andar – pilotis: Central de relacionamento SESC e área de convivência.................................................................................................................83 Figura 32 – Planta do 3º andar: espaço para crianças..............................................83 Figura 33 – Planta do 4º andar: salas de cursos e oficinas de tecnologia e arte......84 Figura 34 – Planta do 5º andar: espaço de arte multiuso, cênica, exposições e auditório......................................................................................................................84 Figura 35 – Planta do 6º andar: mezanino do 5º andar – apoio................................85 Figura 36 – Planta do 7º andar: pavimento técnico da equipe de infraestrutura.......85 Figura 37 – Planta do 8º andar: clínica odontológica................................................86 Figura 38 – Planta do 9º andar: administrativo..........................................................86 Figura 39 – Planta do 10º andar: atividades físicas..................................................87 Figura 40 – Planta do 11º andar: atividades físicas..................................................87 Figura 41 – Planta do 12º andar: atividades físicas..................................................88 Figura 42 – Planta do 13º andar: espaço de arte multiuso, cênica, exposições e auditório......................................................................................................................88 Figura 43 – Planta do 14º andar: mezanino do 13º andar – apoio............................89 Figura 44 – Planta do 15º andar: biblioteca...............................................................89 Figura 45 – Planta do 16º andar: comedoria.............................................................90 Figura 46 – Planta do 17º andar: café e terraço, acesso ao mirante........................90 Figura 47 – Área de Convivência do SESC Paulista.................................................91 Figura 48 – Circulação Vertical do SESC Paulista....................................................92 Figura 49 – Pavimento com pé-direito duplo.............................................................93 Figura 50 – Pontuações do SESC Paulista...............................................................94 Figura 51 – “Rasgos” na Fachada do SESC Paulista...............................................96 Figura 52 – Placas Solar do SESC Paulista..............................................................99 Figura 53 – Boilers do SESC Paulista.......................................................................99 Figura 54 – Edifício Citicenter..................................................................................103 Figura 58 – Planta do Térreo Citicenter Alameda Santos.......................................106 Figura 59 – Planta do Térreo Citicenter Avenida Paulista.......................................106 Figura 60 – Planta do Mezanino do Citicenter: agência e autoatendimento...........107 Figura 61 – Planta tipo do 2º ao 10º andar..............................................................107 Figura 62 – Planta tipo do 11º ao 20º andar............................................................107 Figura 63 – Pontuações do Citicenter.....................................................................111 Figura 66 – Envidraçamento da Fachada do Citicenter..........................................118 LISTA DE TABELAS Tabela 2 Domicílios vagos na região metropolitana de São Paulo........................42 Tabela 3 Anexo da lei 619/16. Plano Municipal da Habitação em São Paulo........43 Tabela 4 – Relação dos edifícios certificados na Avenida Paulista...........................65 Tabela 5 – Relação dos edifícios selecionados.........................................................78 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ACV Avaliação do Ciclo de Vida ASBEA Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura ASHRAE Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar-Condicionado CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável CF Constituição Federal CMC Comissão de Mudança do Climática CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento COP Conferência das Partes CVB Companhia Comercial de Vidros do Brasil DDT Diclorodifeniltricloroetano DS Desenvolvimento Sustentável EMPA Laboratórios Federais Suíços de Ciência e Tecnologia de Materiais EUA Estados Unidos da América FGV Fundação Getúlio Vargas GBC Green Building Council GNV Gás Natural Veicular INDC Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas ISO Organização Internacional de Padronização LEED Leadership in Energy and Environmental Design MASP Museu de Arte de São Paulo MMA Ministério do Meio Ambiente MRI Midwest Research Institute PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente QAI Qualidade do Ar Interior QRC Questionário de Responsabilidade Corporativa RES Responsabilidade Social Empresarial RS Relatório de Sustentabilidade SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry SP São Paulo SPOLD Sociedade para a Promoção do Desenvolvimento do Ciclo de Vida SSO Segurança e Saúde Ocupacional USGBC United States Green Building Council SUMÁRIO 2030 ......................................................................................................................... 21 2 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA ....................................................................... 48 2.1 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA: RESPOSTA AOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................................................................................................ 48 2.2 CICLO DE VIDA NA ARQUITETURA ....................................................................... 51 3 O SURGIMENTO DA TÉCNICA RETROFIT E O CONCEITO NA ARQUITETURA ................................................................................................................................. 56 3.2 RETROFIT NO BRASIL EM SÃO PAULO ................................................................. 60 3.3 A CERTIFICAÇÃO LEED COMO PARÂMETRO PARA AS INTERVENÇÕES EM EDIFÍCIOS. 61 4 ESTUDOS DE CASO DE RETROFIT ................................................................... 67 4.1 EDIFÍCIO SESC PAULISTA ................................................................................. 79 4.1.1 FICHA TÉCNICA .............................................................................................. 79 16 Introdução Com a Conferência das Partes realizada em 2015 (COP21), o Brasil, como signatário, apresentou sua meta para redução de emissão de carbono até 2025 em 37% e em 2030, até em 43% (MENDES, 2018). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a arquitetura deve passar por uma remodelação significativa, o que constitui um grande desafio dada a necessidade de essa mudança estar relacionada com a busca da preservação do ambiente natural e com a melhoria na qualidade do ambiente construído (BRASIL, M. M. A., 2018). Contexto Neste sentido, uma técnica de intervenção em edificações denominada de retrofit dá início a um novo setor de atuação de profissionais da arquitetura que engloba desde a manutenção e operação do edifício a qualquer tipo de intervenção na edificação existente: reformas, renovação, revitalização, requalificação até a reabilitação de patrimônios históricos, proporcionando, junto à aplicação da técnica, uma análise de impactos ambientais durante e após a intervenção. Desta forma, o retrofit promove uma operação e uma manutenção atualizada, integrando à sustentabilidade e proporcionando longevidade de edifícios ao alterar o ciclo de vida linear para um ciclo de vida circular, caracterizado pelo recomeço de uso da edificação (BARRIENTOS; QUALHARINI, 2004). No entanto, cabe salientar que é importante compreender o conceito de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) que surge no setor industrial bem como destacar também o conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS). Ambos precedem o surgimento da técnica retrofit desde a década de 1960, sendo que os primeiros exemplares de retrofit na arquitetura surgem apenas na década de 1990, nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa. O tema Desenvolvimento Sustentável que, em síntese, integra o crescimento econômico e as preocupações ambientais, é discutido no cenário internacional desde 1960, quando ocorreu a Conferência da Biosfera em Paris e o surgimento do Clube de Roma: grupos de líderes empresariais e governamentais que se reuniram para debater as questões do meio ambiente. Um reflexo destes debates à época acontece 17 no setor industrial diante dos impactos causados ao meio ambiente pela indústria de embalagens. O setor industrial foi pioneiro no desenvolvimento do método de Avaliação do Ciclo de Vida na mesma década, método este que permite analisar aspectos e impactos ambientais de um produto mediante a um Inventário do Ciclo de Vida (ICV) em cada etapa do produto (NBR ISO 14040, 2009). A ACV acompanhou a evolução dos debates sobre o meio ambiente e passou por aprimoramentos dentro da própria metodologia. Em 1987, ocorreu um marco nos debates sobre DS: foi realizada a primeira Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), sendo elaborado o Relatório de Brundtland. (BRUNDTLAND, 1991). Segundo Arantes (2008), as definições sobre DS estabelecidas no Relatório de Brundtland começaram a nortear o setor da indústria de embalagens, uma das principais causadoras do efeito estufa atrelado à economia na década de 1980. Assim, por iniciativa governamental, o Laboratório Federal Suíço para Teste e Investigação de Materiais (EMPA) publica nesse período um relatório sobre ACV cujo objetivo é estabelecer uma primeira base de dados para os materiais de embalagens mais importantes: alumínio, vidro, plásticos, papel e cartão, com parâmetros para os níveis de emissões no ar e na água dentro de uma normalização durante o beneficiamento dos materiais. Em 1992, durante o contexto de preocupação global sobre as emissões de carbono na Conferência no Rio de Janeiro (Rio 92/ Eco 92), ou como conhecida Cúpula da Terra, é que se consolida a Sociedade para a Promoção do Desenvolvimento do Ciclo de Vida (sigla em inglês SPOLD) com a missão de juntar recursos para acelerar o desenvolvimento da metodologia ACV como uma abordagem de gestão aceita para ajudar nas tomadas de decisões. O Brasil passa a compreender a ACV e o DS exatamente neste contexto. Segundo Boff (2016), os resultados da Rio 92 não foram tão promissores, pois o sistema capitalista com predominância econômica, gerava um conflito na busca por fortalecer o lucro sobre os recursos naturais e o equilíbrio necessário para restabelecer o meio ambiente com a colaboração nas emissões de gases. O Brasil somente se posicionou no cenário mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2016, quando passou a ser signatário do Acordo de Paris. 18 Com a ratificação do Acordo, o Brasil deve se preocupar com as metas estabelecidas para o setor da arquitetura em busca de Cidades e Comunidades Sustentáveis. O MMA afirma que “a construção e o gerenciamento do ambiente construído devem ser encarados dentro da perspectiva de ACV.” (BRASIL. M. M. A, 2018, p.1). A partir do entendimento do MMA, a ACV compreende o campo da arquitetura, uma vez que promove uma nova perspectiva no ciclo de vida de edificações por meio da inserção da técnica retrofit, que permite tornar a vida edifícios em estado de obsolescência ou atualizar edificações existente para sua longevidade, ambas permitindo uma aproximação com a sustentabilidade. Objetivo Geral Pelo exposto do cenário delineado acima, o objeto principal da pesquisa é investigar a importância da metodologia industrial de ACV na aplicação da técnica de retrofit e discutir essa técnica na arquitetura contemporânea paulistana como resposta às metas estabelecidas no Acordo de Paris. A pesquisa contextualiza as discussões mundiais sobre o DS desde o surgimento até o presente e as possíveis influências no projeto do espaço construído na arquitetura contemporânea paulistana. Ela demonstra a transposição da metodologia de ACV da indústria para a arquitetura e analisa as legislações e normalizações que definem e norteiam a técnica de retrofit, bem como, o uso da certificação LEED como norteador para aplicação do retrofit concomitante à ACV nos aspectos que tangem o DS na arquitetura. Objetivos Específicos Para atingir o objetivo geral da pesquisa, alguns objetivos específicos foram determinados, são eles: Discutir o surgimento do tema sustentabilidade. Contextualizar a transposição da metodologia ACV da indústria em geral para a indústria da construção civil em particular. Discutir o surgimento da técnica retrofit. Compreender a definição do que é efetivamente o retrofit. Entender como a técnica pode contribuir para a sustentabilidade da arquitetura contemporânea paulistana, tendo como base os parâmetros estabelecidos pela certificação LEED. Demonstrar a certificação, mais especificamente na categoria GB+C e O+M (Prós e Contras). Apresentar dois estudos de caso que compreendem o retrofit no entendimento da dissertação. 19 Metodologia A compilação de dados teóricos desta pesquisa é feita por meio de fontes secundárias com referência em material bibliográfico e normativas. As discussões, além das fontes secundárias, são feitas por meio de visitas técnicas e conversas com pesquisadores e especialistas que perpassam sobre os temas: DS, ACV e retrofit. Para o estudo de caso, foram selecionados os edifícios SESC Paulista (Cultural) e Citicenter (Corporativo), nos quais foram realizadas pesquisas de campo para coleta de dados com o foco em dialogar com o material disposto por escritórios e empresas responsáveis pelo projeto de arquitetura, construção e retrofit dos exemplares. Estrutura Este trabalho divide-se em Introdução, quatro capítulos que abordam o tema, Considerações Finais, Referências, Apêndices e Anexos. Sobre os capítulos, após a Introdução, o primeiro contextualiza as discussões mundiais sobre a sustentabilidade com base nos posicionamentos de três teóricos do meio ambiente (Leonardo Boff, John Elkington e William Mcdonough) e o surgimento da ACV diante das questões sobre o meio ambiente até a transposição para a arquitetura. O segundo e terceiro capítulos discutem sobre o histórico do retrofit e a evolução das legislações que definem e norteiam-no. Analisa a aproximação da técnica com a sustentabilidade seguindo os critérios da certificação LEED na categoria de Operação e Manutenção (O+M) e discute a contribuição social do retrofit diante da relação déficit habitacional X edifícios obsoletos. O quarto capítulo analisa exemplares de retrofit na Avenida Paulista que cumpriram os critérios e pré-requisitos para obtenção da certificação LEED. A escolha dos exemplares se deu em função das categorias de uso existentes até o presente: edifícios corporativos e edifícios culturais. O capítulo demonstrará os resultados obtidos entre as tipologias existentes e permitirá um comparativo entre as técnicas e tecnologias mais adequadas para cada caso, assim como, uma perspectiva sobre a ampliação do tema no cenário da arquitetura contemporânea paulistana. 20 Resultados Este trabalho visa demonstrar, portanto, a importância do conhecimento e aplicação da técnica do retrofit, pois compreende que permite uma continuidade no ciclo de vida de edifícios com aplicação de técnicas e tecnológicas que proporcionam condições mínimas de saúde e segurança ocupacional bem como evita a obsolescência de edificações, o que resulta na demolição e reconstrução contínua na arquitetura com altos impactos ambientais. Contribui ainda com a conscientização de que as atividades de operação, manutenção ou reforma do patrimônio edificado podem beneficiar o ambiente construído das cidades e o ambiente natural. A pesquisa integra os trabalhos do grupo de pesquisa CNPQ. Arquitetura: abordagens alternativas e transdisciplinares, que resultaram nas dissertações: Edifícios Inteligentes e Sustentáveis na Arquitetura Paulistana Contemporânea (2017); Avenida Paulista: observações sobre arquitetura, cultura e sustentabilidade no contexto século XXI (2019); Plataforma BIM e a perspectiva de uma arquitetura sustentável: o caso do banco interamericano de desenvolvimento BID em Manaus (2019) e a pesquisa de iniciação científica Edifícios Corporativos: Estudo de caso – retrofit do Citicorp Center (2018). O estudo colabora, desta forma, com a propagação da pesquisa científica, contribuindo em uma lacuna sobre a importância da compreensão sobre a técnica retrofit concomitante à ACV no cenário da arquitetura paulistana contemporânea. 21 1.1 Desenvolvimento Sustentável: Discussões Globais e Locais O Dicionário Aurélio (2010) define sustentabilidade com dois sentidos: ativo, referenciando que a sustentabilidade está nas ações humanas em conservar e manter; passivo, que remete ao que a Terra faz para que o ecossistema não decline. Estes sentidos são empregados hoje em dia em sustentabilidade e trazem em si o entendimento de equilíbrio entre ações humanas e a capacidade do meio ambiente em regenerar-se. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. (CARTA DA TERRA, 2000. p.7) Segundo Boff1 (2016, p.25) o ser humano viveu três fases de uma vivência entre homem e natureza: inicialmente denomina-se uma relação de interação que estabelecia uma cooperação entre eles; a segunda foi de intervenção, momento em que o ser humano passa a modificar a natureza; a terceira fase, atual, caracteriza-se pela agressão, quando o ser humano usa de recursos tecnológicos para submeter…