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Universidade São Judas Tadeu Faculdades de Ciências Biológicas e da Saúde Mestrado em Educação Física COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE TRATAMENTO COM EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA PROGRESSIVA E CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH NO TORQUE MUSCULAR E NA FUNÇÃO MOTORA GROSSEIRA EM CRIANÇAS PORTADORAS DE DIPLEGIA ESPÁSTICA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu da Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Física. Autor: Moisés Veloso Fernandes Orientador: Prof. Dr. Ulysses Fernandes Ervilha São Paulo 2009

Universidade São Judas Tadeu Faculdades de Ciências

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Universidade São Judas Tadeu

Faculdades de Ciências Biológicas e da Saúde

Mestrado em Educação Física

COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE TRATAMENTO COM

EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA PROGRESSIVA E CONCEITO

NEUROEVOLUTIVO BOBATH NO TORQUE MUSCULAR E NA FUNÇÃO

MOTORA GROSSEIRA EM CRIANÇAS PORTADORAS DE DIPLEGIA

ESPÁSTICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação Stricto Sensu

da Universidade São Judas Tadeu, como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Educação Física.

Autor: Moisés Veloso Fernandes

Orientador: Prof. Dr. Ulysses Fernandes Ervilha

São Paulo

2009

Fernandes, Moisés Veloso Comparação entre as técnicas de tratamento com exercício de resistência

progressiva e conceito neuroevolutivo Bobath no torque muscular e na função

motora grosseira em crianças portadoras de diplegia espástica / Moisés Veloso

Fernandes. - 2009.

xi, 98 f. il ; 30 cm

Orientador: Ulysses Fernandes Ervilha.

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São

Paulo, 2009.

1. Educação física - Exercícios. 2. Paralisia cerebral – Tratamento. I. Ervilha,

Ulysses Fernandes. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Educação Física. III. Título

CDD- 796

CDD- 796

Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878

II

DEDICATÓRIA

À Keity, meu eterno e grande amor.

Aos filhos Ana Clara e Miguel, nossa razão de viver.

Aos meus pais e irmãs, pelos princípios e grandes ensinamentos.

III

AGRADECIMENTOS

.Aos pacientes, alunos, funcionários, parentes e professores que diretamente ou

indiretamente participaram deste estudo.

Ao Prof. Dr. Luís Mochizuki e Prof. Dr. Renato José Soares, pela participação e

atenção dispensada durante a fase final deste projeto.

Ao Prof. Dr. Rubens Corrêa Araújo, pelo convite e oportunidade de participar do

Programa de Pós-graduação e Mestrado em Educação Física, bem como pelo carinho

e competência dispensada na análise e correções do projeto de dissertação de

mestrado.

Ao Professor Dr. Ulysses Fernandes Ervilha, pela confiança, paciência e

dedicação durante o desenvolvimento deste estudo, compartilhando todos os

momentos com amizade, respeito e postura de um grande profissional.

IV

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA..................................................................................................................II

AGRADECIMENTOS.......................................................................................................III

LISTA DE TABELAS.......................................................................................................VI

LISTA DE FIGURAS......................................................................................................VII

LISTA DE ABREVIAÇÕES, SIGLAS E DEFINIÇÕES....................................................IX

RESUMO.........................................................................................................................X

ABSTRACT....................................................................................................................XI

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1

1.1 Paralisia cerebral...................................................................................................1

1.2 Quadro clínico - Diplegia......................................................................................5

1.3 Fraqueza muscular e espasticidade....................................................................7

1.4 Tratamento da espasticidade na diplegia.........................................................11

1.5 Força, função e relação com diplegia espástica..............................................13

1.7 Reabilitação neurológica....................................................................................20

1.7.1 Métodos de reeducação neurológica..............................................................22

1.7.2 Conceito neuroevolutivo Bobath.....................................................................24

1.8 Treinamento para aumento de força muscular................................................26

1.8.1 Exercícios de resitência progressiva...............................................................26

1.9 Problema..............................................................................................................35

1.10 Hipótese.............................................................................................................36

2. OBJETIVOS................................................................................................................37

2.1 Geral.....................................................................................................................37

2.2 Específicos...........................................................................................................37

3. MATERIAIS E MÉTODOS..........................................................................................38

3.1 Amostra................................................................................................................38

3.2 Critérios de inclusão e exclusão........................................................................38

3.3 Instrumentação....................................................................................................39

3.4 Procedimentos.....................................................................................................39

V

3.5 Posicionamento...................................................................................................42

3.6 Protocolos de tratamento...................................................................................43

4. RESULTADOS............................................................................................................51

5. DISCUSSÃO...............................................................................................................58

6. CONCLUSÕES...........................................................................................................66

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................67

8. ANEXOS.....................................................................................................................79

8.1. ANEXO A. Parecer do COEP............................................................................79

8.2. ANEXO B. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.............................80

8.3. ANEXO C. Gross Motor Function Measure.....................................................83

8.4. ANEXO D. Mini Exame do Estado Mental.......................................................86

8.5. ANEXO E. Protocolo de Exercícios de Resistência Progressiva..................87

VI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação da distribuição dos pacientes (n=11) de acordo com os percentuais

(%) e entre os níveis I, II e III do GMFCS (Gross Motor Classification System)

de acordo com os protocolos de tratamento aplicados nos grupos Exercícios de

resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5).....................................................53

Tabela 2 – Distribuição das médias dos pacientes (n=11) em percentuais (%) da escala

GMFM de acordo com o escore total das dimensões D e E e no escore total

meta (D + E) em percentuais (%), relacionadas durante o período de

intervenção dos protocolos de tratamento aplicados nos grupos Exercícios de

resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5).....................................................53

Tabela 3 – Distribuição dos pacientes (n=11) de acordo com os níveis do GMFCS

(Gross Motor Classification System); tipo de protocolo de tratamento aplicado;

escore total das dimensões D e E e escore total meta em percentuais (%) e

total de pontos nas dimensões D e E , durante o período de

intervenção.........................................................................................................56

VII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma do protocolo de pesquisa com as etapas e análise da coleta de

dados...................................................................................................................42

Figura 2 - Ilustração da condição experimental. Monitor do dinamômetro isocinético

fornecendo feedback visual do torque extensor de joelho gerado.....................44

Figura 3 - Ilustração da condição experimental. Fisioterapeuta realizando etapas de

adequação de tônus dos membros inferiores (1) e treino de marcha com

dispositivo auxiliar do tipo andador (5) adotando a técnica Bobath no paciente

do protocolo neuroevolutivo (esquerda para direita,

respectivamente)................................................................................................48

Figura 4 - Ilustração da condição experimental. Paciente do protocolo de Exercícios de

resistência progressiva, realizando fortalecimento com tornozeleiras utilizando

cargas ajustáveis para fortalecimento isotônico concêntrico de quadríceps na

postura sentada..................................................................................................51

Figura 5. Escore total na escala GMFM (Gross Motor Function Measure) nas dimensões

D e E antes e após aplicação dos protocolos de tratamento de 9 semanas.

Significantemente maior do que os valores GMFM pré e pós tratamento na

dimensão D, bem como pré-tratamento na dimensão E. # Significantemente

maior do que a condição pré e pós-tratamento na dimensão D (n=12; p <

0,05)....................................................................................................................52

Figura 6 – Distribuição dos pacientes (n=11) de acordo com as diferenças das médias

em percentual (%) da escala GMFM (Gross Motor Function Measure) no escore

total das dimensões D e E e escore total meta (D + E), relacionadas durante o

período de intervenção dos protocolos de tratamento aplicados nos grupos

Exercícios de resistência Progressiva (n=6) e Bobath (n=5),

respectivamente.................................................................................................54

VIII

Figura 7 – Distribuição dos pacientes (n=11) correspondente ao total do aumento de

pontos (escala ordinal e crescente) nas dimensões D e E do GMFM e a soma

do total entre as duas dimensões (D + E) nos grupos Exercícios de resistência

Progressiva (n=6) e Bobath (n=5). Representação do número de itens com

aumento de escores em cada dimensão (D e E), durante o período de

intervenção.........................................................................................................55

Figura 8 – Distribuição da freqüência (percentual) dos pacientes (n=11) com aumento

de escore na escala do GMFM (Gross Motor Function Measure) de acordo com

a classificação dos níveis do GMFCS (Gross Motor Function Classification

System), durante o período de intervenção dos protocolos de tratamento nos

grupos Exercícios de resistência Progressiva (n=6) e Bobath (n=5) aplicados

separadamente e em conjunto, respectivamente...............................................57

Figura 9 - Correlação entre escore total meta em número de pontos na escala do

GMFM (Gross Motor Function Measure) na dimensão D e o percentual do pico

de torque isocinético extensor do joelho (N/m) na velocidade de 30º/s, de

ambos os protocolos dos grupos Exercícios de resistência Progressiva e

Bobath................................................................................................................58

IX

LISTA DE ABREVIAÇÕES, SIGLAS E DEFINIÇÕES

SNC Sistema Nervoso Central

PC Paralisia Cerebral

NMS Neurônio Motor Superior

NMI Neurônio Motor Inferior

GMFM Medidas para determinar função motora (Gross Motor Function

Measure)

RDS Rizotomia Dorsal Seletiva

GMFCS Sistema de classificação da função motora grossa (Gross Motor

Function Classification Systems)

ADM Amplitude de Movimento

AVD Atividades de Vida Diária

TNE Tratamento Neuroevolutivo

ERP Exercícios de Resistência Progressiva

RM Resistência Máxima

MMSE Miniexame do Estado Mental (Mini Mental State Examination)

EIAS Espinha Ilíaca Ântero Superior

TCM Teste de Carga Máxima

N/m Newtons por metro

X

COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE TRATAMENTO COM EXERCÍCIO DE

RESISTÊNCIA PROGRESSIVA E CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH NO

TORQUE MUSCULAR E NA FUNÇÃO MOTORA GROSSEIRA EM PORTADORES

DE DIPLEGIA ESPÁSTICA

Candidato: Moisés Veloso Fernandes

Orientador: Prof. Dr. Ulysses Fernandes Ervilha

RESUMO

A Paralisia cerebral apresenta em uma de suas formas clínicas a diplegia espástica,

onde as seqüelas neurológicas são predominantes nos membros inferiores e interferem no

prognóstico de marcha. Os métodos tradicionais de intervenção fisioterapêutica dão ênfase às

técnicas de reeducação neurológica em detrimento dos exercícios de resistência progressiva

(ERP). Objetivo: Comparar a efetividade destas técnicas na função motora por meio da escala

Gross Motor Function Measure (GMFM) nas dimensões D e E e do torque muscular com uso da

dinamometria isocinética. Métodos: A amostra foi composta de 11 crianças com diplegia

espástica divididas em dois grupos, submetidas a duas sessões semanais durante nove

semanas de treinamento, sendo seis pacientes para aplicação do método Bobath e cinco, para

o protocolo no músculo quadríceps. Resultados: Foram observadas mudanças

estatisticamente significantes em ambos os grupos (F(1,11) = 17; p<0,001) nos valores do

GMFM. A média (± DP) foi de 34 ± 24 para 35 ± 25 na dimensão E e de 62 ± 17 para 67 ± 18 na

dimensão D, foi significantemente maior (F(1,11)=45; p<0,001). O teste post hoc TSD mostrou

que a dimensão D teve seus valores significantemente maiores (p<0,01). Na correlação entre

escore total dimensão D com o pico de torque extensor do joelho (N/m), com velocidade angular

de 30º/s, o coeficiente de correlação de Pearson (R=0.38) não foi significante. Discussão: Ao

analisar as melhoras dos grupos ERP e Bobath nos escores da dimensão D da escala GMFM,

estas podem ter ocorrido devido ao aumento do pico de torque extensor do joelho solicitado nas

tarefas dos itens do GMFM. Os escores inferiores no GMFM do grupo Bobath, em comparação

com o grupo ERP, podem estar associados a variáveis, como tempo de tratamento e

capacidade funcional. Conclusão: Os grupos dos respectivos protocolos ERP e Bobath

apresentaram melhoras na função motora grosseira do GMFM na dimensão D e aumento no

pico de torque isocinético extensor do joelho durante a intervenção realizada.

Palavras-chave: Paralisia cerebral, Bobath, Diplegia, Dinamometria, Exercícios de Resistência

Progressiva e Fisioterapia

XI

COMPARASION BETWEEN TREATMENT USING PROGRESSIVE RESISTENCE

EXERCISES AND BOBATH NEUROEVOLUTIVE CONCEPT IN THE MUSCULAR

TORQUE AND GROSS MOTOR FUNCTION IN SPASTIC DIPLEGIC CHILDREN

Candidate: Moisés Veloso Fernandes

Advisor: Prof. Dr. Ulysses Fernandes Ervilha

ABSTRACT

The cerebral palsy presents in one in its clinical ways the spastic diplegia, where the

neurological sequels are predominant in the lower limbs and interfere in the prognosis for

ambulation. The traditional methods of intervention by physical theraphy give emphasis to the

techniques of neurological reeducation to the detriment of the progressive resistance of

exercises (PRE). Objective: To compare the effectiveness of these techniques in the motor

function through the scale Gross Motor Function Measure scale (GMFM) in the dimensions D

and E and of the muscular torque with use of the isokinetic dynamometer. Methods: The

sample was composed of 11 children with spastic diplegia divided in two groups, submitted to

two weekly sessions for nine weeks of training, being six patients for the application of the

Bobath method and five for the protocol in the quadriceps muscle. Results: Statistically

significant changes were observed in both groups (p <0,001) in the values of GMFM. The mean

(± DP) was of 34 ± 24 to 35 ± 25 in the dimension E and of 62 ± 17 to 67 ± 18 in the dimension

D which was significantly higher (p <0,001). The post hoc test TSD showed that the dimension D

had its values significantly higher (p <0,01). In the correlation among score total dimension D

with the knee extensor peak torque (N/m), with angular velocities of 30º/s, the Pearson

correlation coefficient of (R=0.38) was not significant. Discussion: When analyzing the

improvements of PRE and Bobath groups in the scores of the dimension D in the GMFM scale,

these might have happened due to the increase of the peak torque extensor of the knee

requested in the tasks of the items from GMFM. The inferior scores in GMFM of the Bobath

group, in comparison with the PRE group, can be associated to variables such as time of

treatment and functional capacity. Conclusion: The groups of the respective protocols PRE and

Bobath presented improvements in the gross motor function of GMFM in the dimension D and

increase in the peak torque isokinetic knee extensor during the accomplished intervention.

Key-words-: Cerebral Palsy, Bobath, Diplegia, Dinamometry, Progressive Resistance Exercises

and Physiotherapy.

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Paralisia cerebral

O desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) recebe contribuições de

diferentes sistemas. Pesquisas buscam examinar os movimentos sob diferentes níveis

do controle motor (DAMIANO et al., 1995 b).

A síndrome do neurônio motor superior (NMS) é uma das características das

lesões corticais. Suas sequelas neurológicas compreendem as mudanças secundárias

das unidades musculotendinosas em suas propriedades elásticas, dando origem às

contraturas, redução ativa e passiva das amplitudes de movimentos e rigidez muscular,

as quais levam às dificuldades de produção de força (CROMPTON et al., 2007;

DAMIANO et al., 2002; TONER et al., 1998; MACPAHIL, KRAMER, 1995).

Outros fatores incluem a diminuição da eferência para os músculos, devido à

lesão do trato piramidal, com alterações nas inibições recíprocas provocando co-

contração da musculatura agonista-antagonista, responsáveis pelas altas respostas dos

músculos aos estiramentos, com surgimento do quadro de hipertonia (DAMIANO et al.,

2002; MACPAHIL, KRAMER, 1995). Em pacientes com Paralisia cerebral (PC)

espástica, isto é, com lesão de neurônios motores superiores (NMS), estas

características clínicas são marcantes (MACPAHIL, KRAMER, 1995).

Existem várias definições de espasticidade na literatura (FOWLER et al., 2001).

Podemos conceituá-la como a velocidade-dependente da hiperexcitabilidade do reflexo

de estiramento do músculo (hiperatividade do neurônio motor inferior - NMI - gama)

2

que, por sua vez, denota uma excessiva e inapropriada contração muscular involuntária

e associação com a paralisia ou síndrome do NMS, ou seja, falta de inibição pré-

sináptica do NMI alfa (FLETT, 2003; FOWLER et al., 2001).

A definição de Paralisia cerebral (PC) ainda é imprecisa (FLETT, 2003). O

tradicional conceito a define como uma encefalopatia crônica não progressiva que leva

a desordem neurológica ocasionada por uma lesão estática no SNC (ROMEO et al.,

2008; SCHOLTES et al., 2008; FLETT, 2003; SHOEN et al., 2003; DAMIANO et al.,

2002; DODD et al., 2002; DARRAH et al., 1999; SOUZA, FERRARETO, 1998). Surge

na primeira infância até os dois anos de vida, influenciada pela referida lesão que

interfere na maturação neurológica do SNC, afetando principalmente áreas

responsáveis pela função motora (DAMIANO et al., 2006; MOURA, SILVA, 2005; SÁ,

SANTOS, 2004; FLETT, 2003; DODD et al., 2002; SAKATA, 1999; DAMIANO, ABEL,

1998; DAMIANO et al., 1995 b).

As seqüelas neurológicas são de transtorno persitente, porém não variável, que

produz uma incapacidade primária como distinção característica das alterações e

desenvolvimento motor normal dos reflexos primitivos, tônus e controle postural, que

provoca déficits dos padrões de movimentos e posturas anormais (ROMEO et al., 2008;

SCHOLTES et al., 2008; BEGNOCHE, PITETTI, 2007; BEKUNG et al., 2007; DAMIANO

et al., 2006; FLETT, 2003; DAMIANO et al., 2002; DODD et al., 2002; PALISANO et al.,

1997; SOUZA, FERRARETO, 1998).

Condições secundárias, como distúrbios associados às alterações sensitivas,

perceptuais e cognitivas podem existir e influenciar nas habilidades motoras,

compreensão, bem como numa ampla variedade de transtornos musculoesqueléticos

3

(CROMPTON et al., 2007; SÁ, SANTOS, 2004; FLETT, 2003; ALLEGRETTI et al.,

2002; DARRAH et al., 1999; SOUZA, FERRARETO, 1998).

A PC é a causa mais comum de distúrbios do movimento na infância. As

incidências nas últimas décadas têm mostrado uma prevalência de aproximadamente

1,5 a 2,5 para cada mil nascimentos, em países desenvolvidos (DAMIANO et al.,1998;

BEKUNG et al., 2007; FLETT, 2003; MORTON et al., 2005; SCHOLTES et al., 2008;

SOUZA, FERRARETTO, 1998).

Os fatores etiológicos mais comuns da PC ocorrem nos períodos pré, peri ou

pós-natal até dois anos de idade, e afetam a maturação estrutural e funcional do SNC

(ALLEGRETTI et al.,2002; DENISLIC, MEH, 1995).

Em particular a leucomalácia periventricular (intrauterina), quando desenvolvida

no terceiro trimestre gestacional, aumenta a prevalência de PC (ROMEO et al., 2008;

SHOEN et al., 2003; DAMIANO et al., 2006). Infecções pós-natais, como as meningites

e causas pré-natais, como eclâmpsia e diabetes são condições que também levam a

um quadro de PC, porém com menor prevalência se comparados à leucomalácia

periventricular (SOUZA, FERRARETO, 1998).

O diagnóstico de PC depende do período em que ocorreu e da extensão das

lesões cerebrais, bem como do quadro clínico apresentado (FLETT, 2003; DAMIANO et

al., 2001). Essas condições resultam no esforço e necessidade de classificá-la em

subgrupos homogêneos, que são justificáveis e importantes para os avanços de

pesquisas e práticas clínicas, bem como nas respostas diante das intervenções

adotadas (DAMIANO et al., 2006; DAMIANO et al., 2001).

Em termos de desordens motoras, os distúrbios são classificados e diferenciados

topograficamente de acordo com a distribuição e o envolvimento dos membros do corpo

4

que apresentam déficits de movimentos (DAMIANO et al., 2006; SHOEN et al., 2003).

Nesse caso podemos citar as condições de hemiplegia (que incluem entre 25 e 40%

dos casos), com acometimento de um hemicorpo ipsilateral, ou seja, um membro

superior e um inferior; diplegia (entre 10 e 33%), com envolvimento maior dos membros

inferiores quando comparados com os superiores; e a quadriplegia (tem incidência entre

9 e 43%), com limitação dos dois membros superiores e inferiores (ROMEO et al., 2008;

DAMIANO et al., 2006; FLETT, 2003; SOUZA, FERRARETO, 1998; CARLSON et al

1997; KUBAN, LEVITON, 1994).

Em relação às tradicionais diferenciações tônicas apresentadas nos quadros

dessa enfermidade, podemos citar como predominante a forma espástica, sendo a mais

comum decorrente das lesões do trato piramidal (córtico-espinhal), tendo um sinal

clínico adicional que inclui encurtamento, fraqueza muscular e diminuição da

seletividade do controle motor (SCHOLTES et al., 2008; FLETT, 2003; DAMIANO et al.,

2002). As crianças com lesão do trato extrapiramidal (DAMIANO et al., 1998), tem

como característica clínica a presença de tônus muscular anormal associado a

movimentos involuntários, o que gera discinesias, ataxias, atetoses e hipotonias

(SHOEN et al., 2003; DAMIANO et al., 2006).

Por isso, vários déficits subjacentes aos prejuízos motores na PC incluem não só

problemas neurológicos como a espasticidade, mas também musculoesqueléticos,

como contraturas musculares, deformidades ósseas e fraquezas musculares (FLETT,

2003; DODD et al., 2002; TONER et al., 1998). Com o tempo, influenciada por esses

componentes neuromusculares, começam a se estabelecer os padrões motores

anormais, manifestados durante a execução dos movimentos voluntários e involuntários

(BEGNOCHE, PITETTI, 2007; MAHONEY et al., 2004; SAKATA, 1999). Estas alterações

5

e déficits do controle motor são mais evidentes nos pacientes com maior número de

segmentos acometidos neurologicamente, podem ter um significante impacto na

independência funcional e interferir diretamente em sua participação na sociedade

(ALLEGRETTI et al., 2002; DAMIANO et al., 2002; DARRAH et al., 1999; EMONS et al.,

1998).

1.2 Quadro clínico - Diplegia

A diplegia espástica é forma clínica altamente prevalente no diagnóstico de PC

(DAMIANO et al., 1995 a). Dentre os seus principais sintomas, mediados centralmente,

podemos citar: o desequilíbrio das forças dos músculos motores principais dos

membros inferiores, que ocasiona aumento de tônus muscular e resistência passiva ao

estiramento dos grupos sinérgicos deste segmento, menor seletividade do controle

motor e déficits nas reações de equilíbrio (SHOEN et al., 2003; SOUZA, FERRARETO,

1998; DAMIANO et al., 1995 a; DAMIANO et al., 1995 b).

A maioria das crianças com diplegia tem espasticidade bilateral, cerca de 70%

têm comprometimento e prejuízos motores bilaterais em membros inferiores, sendo

hábeis para deambular, embora a marcha possa ser tardia (DAMIANO et al., 2006). Os

padrões de marcha destes pacientes são diferentes do normal, pois a fraqueza

muscular é um sintoma sempre frequente nos deambuladores funcionais, na maioria

dos grupos musculares dos membros inferiores afetados (DAMIANO et al., 1998;

DAMIANO et al., 1995 a).

6

Os desequilíbrios musculares funcionais nessa topografia na marcha incluem

exagerada flexão, adução, rotação medial do quadril, excessiva flexão do joelho

adquirindo postura “agachada” durante a bipedestação, sendo provavelmente as

articulações mais prejudicadas associadas com o aumento do equinismo de tornozelo

(DAMIANO et al., 2006; TONER et al., 1998; DAMIANO et al., 1995 a; DAMIANO et al.,

1995 b). A fraqueza dos grupos musculares antagonistas, abdutores/extensores do

quadril e extensores do joelho resulta em reduzida movimentação no plano sagital

destas articulações; por isso são consideradas de fundamental importância para a

bipedestação e a marcha (BERRY et al., 2004; DAMIANO et al., 1995 b). Nesse caso, a

deambulação destes pacientes, devido às alterações posturais e musculoesqueléticas,

deteriora com a idade e sua massa corporal aumenta desproporcionalmente em relação

à força muscular (DAMIANO et al., 1995 a).

Para melhora destes padrões posturais e da marcha na PC, a deambulação com

auxílio de órteses, andadores e muletas são frequentemente prescritas, não só para

aumentar a estabilidade e a base de suporte, mas também para amenizar a instalação

de deformidades articulares e previní-las (RUSSEL, GORTER, 2005).

Uma grande variedade dos estudos de intervenção direciona-se nas mudanças

de força em extensores do joelho e flexores na PC. Outros músculos das extremidades

inferiores também são investigados, como dorsiflexores de tornozelos e extensores do

quadril, mas são testes isocinéticos não confiáveis, por causa das altas taxas de erros

em aproximadamente 70 % das análises (CROMPTON et al., 2007).

Enfoque maior tem sido dado ao músculo quadríceps, por ser um importante

grupo muscular solicitado nas atividades funcionais, principalmente, quando

correlacionado com os graus da postura flexora nos padrões dos membros inferiores na

7

marcha (FOWLER et al., 2001). Embora a fraqueza do músculo quadríceps não tenha

sido considerada como um fator primário em tal postura, a hipótese de que seu

fortalecimento pode melhorar a marcha de crianças com PC é levantada, porém a exata

causa ainda é desconhecida, ou não têm sido bem documentada (DAMIANO et al.,

1995 a; DAMIANO et al., 1995 b).

Algumas pesquisas demonstram que a ação do quadríceps em antagonismo com

os músculos isquiostibiais, tem um papel chave no controle da articulação do joelho, e

tem sido pesquisada por ser adversamente afetada na PC (MORTON et al., 2005). Em

estudo de Ross & Engsberg (2007), moderada correlação foi observada entre

extensores de joelho em força e na função motora na escala Gross Motor Function

Measure (GMFM), enquanto não se foi encontrada a mesma correlação significante

quando comparados os mesmos parâmetros com os músculos isquiostibiais.

1.3 Fraqueza muscular e espasticidade

A espasticidade tem um componente tanto neurofisiológico quanto

musculoesquelético. No caso de crianças com PC, juntamente com a fraqueza, tem

sido considerada um prejuízo primário, pois está relacionada inversamente com a força,

função motora e a marcha, ou seja, quanto maior a espasticidade, menor a função dos

membros inferiores, e consequentemente pior o desempenho do paciente na marcha

(FLETT, 2003). Estudos demonstram que se a espasticidade fosse reduzida, a função

motora melhoraria automaticamente. Por exemplo, a espasticidade de isquiostibiais tem

8

sido atribuída à marcha com padrão de flexão dos joelhos e a dos flexores plantares

com o predomínio de equinismo na marcha, ambos limitantes funcionais (ROSS,

ENGSBERG, 2007; SOUZA, FERRARETO, 1998).

Em estudo de Damiano et al., (2002), a força dos músculos isquiostibiais foi

mensurada após fortalecimento dos músculos quadríceps, apesar de a tradicional

contraindicação, por aumentar co-contração e espasticidade do seu antagonista flexor

do joelho. Entretanto o grupo extensor treinado mostrou um acréscimo de 50 % de

força, sem aumento de hipertonia dos flexores do joelho.

Importante relação de força muscular, redução da espasticidade e melhora da

função motora representada na mensuração dos resultados funcionais, foram

demonstradas em estudo de Nordmark et al., (2000) em um grupo de crianças PC

levemente comprometidas, após um período de intervenção com técnicas de

reeducação neurológica. Resultados semelhantes Abel apud Ross & Engsberg (2007)

também encontrou ao realizar a comparação dos escores da escala de Ashworth nos

grupos musculares abdutores, extensores/flexores do quadril, extensores do joelho e

flexores plantares, que não apresentavam correlação entre variação nos graus de

espasticidade com interferência na função motora grossa no GMFM em 126 pacientes.

Damiano apud Ross & Engsberg (2007) também correlacionou

espasticidade com parâmetros funcionais de marcha durante a resposta ao estiramento

dos músculos quadríceps e isquiostibiais, apresentando valores significantes

observados com a diminuição da velocidade angular na fase de balanceio da marcha.

Uma das características dos padrões de marcha típica para estas alterações em

crianças com PC são as várias estratégias adotadas na redução da velocidade pela

diminuição da amplitude de passos compensada pelo aumento da frequência de passos

9

devido à espasticidade, considerada o principal fator limitante (DAMIANO et al., 1998;

DAMIANO et al., 1995 b).

Esta relação deve ser considerada principalmente nos testes isocinéticos em

velocidades mais lentas abaixo de 90 graus/s, que têm sido mostrados como confiáveis

em desordens espásticas para seletividade dos grupos musculares (DAMIANO et al.,

2002).

No entanto as incapacidades motoras no quadro clínico de diplegia, bem como as

desordens do SNC provocadas pela espasticidade, relacionadas em pesquisas com

motricidade e GMFM (ROSS, ENGSBERG, 2007), muitas vezes ignoram os sintomas

negativos da fraqueza muscular, que têm apresentado relação com esta limitação

funcional (DAMIANO et al., 1995 b). Recentes revisões mostram que os músculos

fracos e não espásticos causam maior restrição da função motora na PC, apresentando

a força relação direta com estas variáveis. Isso tem mudado o foco na direção do

tratamento e no treinamento de força nestas crianças (SCHOLTES et al., 2008; ROSS,

ENGSBERG, 2007).

A fraqueza, citada por vários autores, tem sido reconhecida como um sinal clínico

universal de crianças com PC e uma característica clínica primária, como evidencia a

própria terminologia cerebral, que significa fraqueza originada pelo cérebro (MORTON

et al., 2005; BERRY et al., 2004; DAMIANO et al., 2001).

É importante que a precisa etiologia deste sintoma em PC seja decifrado, pois

está diretamente ligado às estratégias de intervenção, porém, as suas causas

raramente são bem avaliadas e quantificadas com precisão na reabilitação (DAMIANO,

ABEL, 1998; DAMIANO et al., 1995 b).

10

A fraqueza pode ser decorrente do reduzido grau de mobilidade funcional que

contribui para a diminuição do trofismo muscular com mudanças histológicas

secundárias nas mesmas fibras. Primariamente direciona-se para os músculos fortes e

origina a instalação de contraturas e posteriormente promove o aparecimento de

deformidades ortopédicas nas articulações dos membros inferiores envolvidas

(DAMIANO et al., 2002; DAMIANO et al., 1995a; 1995 b).

A instalação do equinovarismo de tornozelos-pés é a mais comum das

deformidades decorrentes desse processo, que limita consideravelmente os padrões de

marcha e o prognóstico de locomoção do paciente diplégico (DAMIANO et al., 1998;

SOUZA, FERRARETO, 1998; TONER et al.,1998). Nesse caso, a posição de

manutenção da flexão plantar devida à hipertonia dos gastrocnêmios, encurta as fibras

musculares destes grupos, provocando fraqueza secundária dos dorsiflexores durante a

tentativa de vencer a resistência do seu antagonista, com decorrente limitação da

função dorsiflexora dos tornozelos (TONER et al., 1998).

Segundo Voorman et al. (2007), é interessante que o paciente com PC consiga

manter certo nível de mobilidade, manutenção das amplitudes articulares dos músculos

da cadeia flexora dos membros inferiores, mudanças regulares de posturas e uso

adequado de equipamentos (órteses), como forma preventiva de evitar a aceleração do

processo de instalação destas deformidades secundárias (KNOX, EVANS, 2002).

Uma outra possibilidade das causas da fraqueza muscular inclui sua relação

neurofisiológica com a espasticidade (resposta involuntária ao estiramento), provocando

co-contração, e assim, perda da seletividade do controle motor e inibição da habilidade

para produzir força agonista (DAMIANO et al., 2002; DAMIANO et al., 2001). Nesse

caso, sob o ponto de vista das validades dos testes de força em PC, a fraqueza tem

11

sido o maior fator de contestação, pois esta co-contração excessiva, provocada pela

espasticidade, tem sido tratada como a causa primária das disfunções motoras

(DAMIANO, ABEL, 1998). Porém, na prática clínica e nas evidências dos treinamentos

de força, isso não é observado, pois os resultados evidenciam o aumento das medidas

de força em muitos indivíduos com PC, sem prejuízos na função motora.

1.4 Tratamento da espasticidade na diplegia

A variedade de intervenções antiespasticidade é bastante complexa e tem sido

usada para melhorar a função motora em crianças com PC (FLETT, 2003).

(NORDMARK et al., 2000).

Dentre os principais tratamentos conservadores podemos incluir a tradicional

fisioterapia com o recurso da cinesioterapia motora. Além desta, a prescrição de talas

para estabilidade dos membros no treinamento, órteses prevenindo deformidades e

otimização da função, mas que em algumas condições podem exacerbar a fraqueza

dos músculos, devida à imobilidade (FLETT, 2003; DAMIANO et al., 2002).

A utilização de medicamentos orais, e até o uso de baclofen intratecal, amenizam

os efeitos neuromusculares com redução temporária da espasticidade, assim como os

bloqueios com agentes neurolíticos (fenolização e toxina botulínica tipo - A), porém

podem produzir efeitos adversos e negativos diretos na força muscular (ROSS,

ENGSBERG, 2007; FLETT, 2003; SOUZA, FERRARETO, 1998).

12

Dentre os procedimentos cirúrgicos, a rizotomia dorsal seletiva (RDS) tem-se

apresentado como uma técnica opcional, para diminuir a espasticidade pela separação

e secção das raízes posteriores e anteriores de L2 a L5, que apresentam repostas

neuromusculares anormais (PINA, LOUREIRO, 2006; NORDMARK et al., 2000;

DAMIANO et al., 1995 a; DAMIANO et al., 1995 b). Impressões clínicas de pacientes

submetidos a RDS, relatam surgimento de fraqueza pós-operatória, principalmente dos

músculos antigravitários de suporte (DAMIANO et al., 2001; DAMIANO et al., 2002).

Estudos, com resultados preliminares, que comparam a eficácia da fisioterapia quando

se instituem os programas de fortalecimento pós-operatório com aplicação isolada,

relatam que esta técnica pode ser a responsável por muitos resultados positivos em

relação à performance muscular dos pacientes (DAMIANO, ABEL, 1998).

Uma segunda forma de cirurgia consiste na técnica de alongamento distal dos

tendões, conhecida como tenotomia. Neste procedimento comum, restaura-se o

alongamento dos músculos encurtados (DAMIANO et al., 1995 b; 2002). Os grupos

musculares mais submetidos à técnica são os isquiostibiais, que com o efeito de sua

maior extensibilidade, substituem a posição flexora dos joelhos pela maior amplitude

articular extensora (DAMIANO et al., 1995 b). Nesse caso, a troca no equilíbrio das

forças musculares no joelho pode ter um efeito negativo na postura “agachada”, isto é,

flexora, como no caso de alguns relatos de estudos de pacientes submetidos à

liberação do músculo reto femoral, que evoluem com fraqueza do mecanismo extensor

do joelho (DAMIANO et al., 1995 a).

Segundo Damiano et al., (1995 b), clinicamente, na maioria das vezes, as

intervenções para redução da espasticidade não restauram o controle motor normal e

13

nem a seletividade da atrofia da fibra muscular, mas em vez disso descobrem e

evidenciam a fraqueza dos músculos comprometidos.

1.5 Força, função e relação com diplegia espástica

Força é a habilidade que tem o músculo ou grupo muscular para desenvolver

tensão resultante em um esforço, tanto de forma dinâmica quanto estática, em relação

às demandas que lhe são feitas (BERRY et al., 2004; KISNER, COLBY, 1998).

À medida que um músculo se contrai e desenvolve tensão, ele produz uma força,

que depende de uma variedade de fatores biomecânicos, fisiológicos e

neuromusculares, que podem influenciar na produção maior ou menor da quantidade de

força (GUYTON, HALL, 2002; KISNER, COLBY, 1998).

Dentre estes fatores que determinam a quantidade de força a ser gerada,

podemos citar os fisiológicos e neuromusculares (tamanho da área seccional

transversal do músculo, quantidade e tamanho das unidades motoras recrutadas,

frequência de estimulação nervosa, coordenação intermuscular, composição das fibras

musculares), bem como os biomecânicos (tipo de alavanca – interfixa, inter-resistente

ou interpotente) e os psicológicos (motivação) (RAMOS, 2000; KISNER, COLBY, 1998).

Em relação ao controle motor normal, a força é um essencial componente que é

deficiente na PC (DAMIANO, ABEL, 1998). Segundo Damiano et al., (2001), pessoas

com PC podem aumentar a força gerada pelo músculo agonista na mesma taxa que as

pessoas com fraqueza que não têm desordens no sistema nervoso central (DAMIANO

14

et al., 2001; DAMIANO et al., 2002). Apesar da insuficiente seletividade do controle

motor em alguns grupos musculares na execução de algumas tarefas, observada em

crianças de menor gravidade com PC, as limitações deste controle não são um fator

substancial na habilidade em gerar força (DAMIANO et al., 2002).

A quantificação dessa grandeza em PC ou em crianças com desordens do SNC

é essencial para identificação dos grupos musculares alvo nos treinos em programas de

fortalecimento e determinação da intensidade de carga, com base na capacidade

máxima do músculo, monitoramento do progresso clínico e ajuste dos programas de

exercícios (BERRY et al., 2004).

Evidências científicas têm mostrado que a fraqueza muscular está diretamente

relacionada com os desempenhos motor e funcional dessa população (DAMINANO,

ABEL, 1998; DAMIANO et al., 2001).

Uma das definições mais aceita para função, no âmbito terapêutico, é a de que

ela representa a habilidade para desempenhar atividades da vida diária de forma

independente e segura no ambiente, ou seja, é uma interação dinâmica entre a

condição de saúde e os fatores contextuais do meio (NORDMARK et al., 2000).

Portanto, as limitações funcionais surgem como dificuldades em execução destas

atividades, tarefas ou ações, somadas às restrições no envolvimento do paciente com

situações da vida diária (DODD et al., 2002).

15

1.6 Avaliação da função motora grosseira e força muscular na diplegia

A avaliação do paciente é um processo contínuo de coleta de informações que

contribui de forma determinante no planejamento de um programa terapêutico. Os

métodos de avaliação são diversos e cabe a cada terapeuta escolher o ideal para

aplicar na sua prática profissional, observando sua população e objetivos com o teste,

bem como suas implicações clínicas e áreas avaliadas (PINA, LOUREIRO, 2006).

Particularmente, em crianças com PC, o monitoramento da função motora é um

trabalho a mais e complexo (NORDMARK et al., 2000).

Em crianças com PC, o Gross Motor Function Measure (GMFM) tem sido o

instrumento de avaliação quantitativo mais indicado para ser usado na detecção e

mensuração de mudanças na função motora grosseira (DAMIANO et al., 2006; PINA,

LOUREIRO, 2006; NORDMARK et al., 2000). É uma escala funcional que pode auxiliar

na avaliação dos efeitos de várias intervenções em PC, bem como na análise das

respostas frente às intensidades, frequências e modalidades dos tratamentos

fisioterapêuticos e na análise do plano de tratamento, visando melhora da função e

qualidade de vida (BEKUNG et al., 2007; PINA, LOUREIRO, 2006; RUSSEL, GORTER,

2005; MACPAHIL, KRAMER, 1995). O seu uso e aplicação têm mostrado confiabilidade

clínica para mensurar essas alterações, apresentando relevância nas pesquisas,

validade e sensibilidade para mudanças clínicas importantes na função motora

(NORDMARK et al., 2000).

16

A proposta principal do GMFM é desenvolver um sistema para quantificar a

função motora e não saber como a criança desempenha esta função, descrever seu

nível de função, sem considerar a qualidade de sua performance (BEKUNG et al., 2007;

PINA, LOUREIRO, 2006).

A primeira versão é conhecida como GMFM-88, baseada em uma avaliação

contendo 88 itens que são mensurados pela observação das crianças e classificados

em uma escala ordinal de quatro pontos sendo os escores de: zero - não realiza a

tarefa solicitada; 1 - realiza menos de 10 % da tarefa solicitada; 2 - realiza de 10 % a 90

% da tarefa; 3 - realiza 100 % da tarefa. Os itens são divididos em cinco grupos, de

acordo com a posição adotada durante a realização das tarefas: grupo - A deitado e

rolando; B - sentado; C - engatinhando e ajoelhando; D -em pé; E - andando, correndo

e pulando (BEKUNG et al., 2007; VOORMAN et al., 2007; CURY, MANCINI, 2006;

PINA, LOUREIRO, 2006; RUSSEL, GORTER, 2005; BERRY et al., 2004; NORDMARK

et al.,2000).

Para determinar um escore total, devemos somar os escores do item dentro das

dimensões. Um escore percentual é então calculado dentro de cada uma das cinco

dimensões. Então é calculada a média do escore percentual total de cada dimensão

para obter o escore total (PINA, LOUREIRO, 2006; RUSSEL, GORTER, 2005;

STOCKES, 2000).

Alguns especialistas que aplicam o GMFM têm escolhido somente aquelas

dimensões que são mais importantes e relevantes para seus pacientes. Esse processo

permite eliminar itens que não são relevantes às intervenções terapêuticas (PINA,

LOUREIRO, 2006). Seguindo este princípio, MacPhail & Kramer (1995) registraram

correlação de 0,58 para 0,68 entre torque extensor isocinético do joelho na soma

17

somente das dimensões D e E para 17 adolescentes diplégicos com comprometimento

moderado em PC (BERRY et al.,2004).

Harries apud Pina & Loureiro (2006) utilizou essa escala para examinar a

evolução motora das mudanças ao longo do tempo na função de crianças com PC,

sendo que os escores do GMFM melhoraram significantemente, o que demonstrou

sensibilidade da mensuração para detectar as alterações de acordo com o grau de

gravidade de cada criança. O melhor prognóstico da função motora grosseira alcançou

o platô na idade de seis a sete anos.

Segundo Bekung et al. (2007), apesar de o GMFM contemplar a importância na

pratica clínica da mensuração da função motora com segurança e validade, houve a

necessidade de se criar novos modelos internacionais simplificados para classificar

funcionalmente a PC.

Um desses instrumentos é a representação destas categorias por meio do

GMFCS, que foi desenvolvido para fornecer uma padronização da classificação dos

padrões da incapacidade motora na PC na idade de um a 12 anos (BEKUNG et al.,

2007). A proposta do GMFCS é a prescrição de taxas de desenvolvimento motor

grosseiro e estimar o prognóstico para futuras funções motoras, agrupando crianças

com notáveis diferenças de apresentação clínica e diferentes perfis de lesões cerebrais

(DAMIANO et al., 2006).

A escala divide-se em cinco níveis, descritos em ordem decrescente, os quais

representam os níveis de independência e funcionalidade da criança com PC. A

classificação no nível I denota que ela consegue locomover-se sem restrições; no nível

II apresenta limitação na marcha em ambiente externo; o nível III é designado para

aquelas que necessitam de apoio para locomoção; no nível IV há necessidade de

18

equipamentos de tecnologia assistiva para mobilidade e no nível V a criança apresenta

restrição grave de movimentação, mesmo com tecnologias mais avançadas (BEKUNG

et al., 2007; DAMIANO et al., 2006).

Romeo et al., (2008), utilizando os níveis do GMFCS, encontraram a seguinte

correlação da distribuição topográfica dos pacientes com paralisia cerebral: diplégicos

com frequência respectiva de 14% no nível I; 45 % no nível II; 41 % no nível III, seguido

das topografias com quadriplegia nível III- 5%; nível IV- 40 % e nível V- 55 %. Esse

perfil demonstrou uma proporção em aumento do nível na escala à medida que o grau

de comprometimento motor se tornou-se mais grave.

No estudo de Palisano et al., (1997) do tipo prospectivo longitudinal, foi analisada

a mobilidade baseada numa população com mais de 650 crianças com PC para cada

nível de classificação funcional do GMFCS, nas faixas etárias de dois a 12 anos. A

maior variabilidade em meios de mobilidade ocorreu entre crianças dos níveis II, III e IV.

(TIEMAN et al., 2007; DODD et al., 2002).

Juntamente com a avaliação funcional, a mensuração da variação de força

muscular tem sido reconhecida como um pré-requisito para observação de melhoras

funcionais nos pacientes neurológicos, o que está se tornando uma prática comum

(DARRAH et al., 1999; DVIR, 2002; MCARDLE et al., 1998; DAMIANO et al., 1995 a).

Segundo Berry et al., (2004), para determinar se a mensuração desta grandeza é

confiável, a relação entre esta variável e as medidas das habilidades motoras

grosseiras precisam ser comparadas.

Não só a força, mas também o torque muscular, que é uma variável física que

representa a produção de força através da medida da distância do eixo articular, têm-se

mostrado na interação com habilidades motoras grosseiras (BERRY et al., 2004). Essa

19

análise pode ser reconhecida no estudo de MacPhail & Kramer (1995), que

demonstraram valores significantes na correlação entre torque isocinético extensor do

joelho, não só na função motora, adotando a escala GMFM, mas também na eficiência

dos padrões lineares da marcha em adolescentes com PC do tipo diplegia espástica.

O dinamômetro isocinético tem sido frequentemente utilizado e indicado como

instrumento no estudo da função muscular dinâmica no ambiente de pesquisa. Este

recurso permite a avaliação do torque máximo.

A principal aplicação deste dispositivo isocinético tem sido na realização de

testes monoarticulares para as diversas articulações do corpo humano. Estes testes

fornecem informações sobre o torque máximo produzido, trabalho e potência

musculares produzidos durante toda a amplitude de movimento (DVIR, 2002;

MCARDLER et al., 1998). A avaliação destas variáveis tem possibilitado comparações

entre músculos agonistas e antagonistas, e entre membros contralaterais, com o

objetivo de determinar possíveis assimetrias entre membros e desequilíbrios na

geração de forças entre agonistas e antagonistas (ALESSANDRO et al., 2005; DVIR,

2002).

McCubbin & Shasby (1985), analisando os efeitos dos exercicios isocinéticos em

adolescentes com PC, sugeriram que a resposta fisiológica do músculo se dá pela

atribuição da resistência, e não meramente com o aprendizado motor, pois a repetição

isolada sem o uso de resistência não significa melhora significante na produção do

torque muscular,

Entretanto algumas dificuldades podem surgir na mensuração de força em

crianças com PC, como a capacidade de compreender e cumprir repetidamente a

produção de esforço máximo, além das variações dos testes de posição e a colocação

20

do dinamômetro que também têm confundido os efeitos para a comparação dos

resultados de força muscular nos estudos de intervenção (CROMPTON et al., 2007;

DAMIANO et al., 2002)

1.7 Reabilitação neurológica

A Academia Americana de Paralisia Cerebral evidencia e registra a eficácia de

várias intervenções para o tratamento da PC e outros distúrbios do desenvolvimento

(BEGNOCHE, PITETTI, 2007). O desenvolvimento do SNC ocorre em etapas, que

refletem as aquisições motoras, sensoriais e cognitivas de uma criança. As dificuldades

nestas aquisições podem ser amenizadas, pois o SNC é uma estrutura plástica e

responsiva à estimulação ambiental a qual proporciona a reorganização desse sistema

(SÁ, SANTOS, 2004).

A intervenção fisioterapêutica precisa ser uma forma de estimulação, que age

diretamente nas múltiplas deficiências motoras, com o objetivo de levar o máximo de

controle motor, buscando o maior grau de independência nas várias atividades motoras

e posturas, especialmente na postura bípede e marcha (SÁ, SANTOS, 2004,

O’SULLIVAN, SCHMITZ, 1999)

No entanto é necessário que seja feita uma clara descrição e utilizados

instrumentos de avaliação com validade e confiabilidade, devido às diferentes causas

de desordens motoras e uma ampla variedade de formas de tratamento, para que os

efeitos da fisioterapia possam ser demonstrados com clareza em crianças com PC

21

(TAYLOR et al., 2005; KNOX, EVANS, 2002). Hur apud Knox & Evans (2002) revisou

37 estudos de intervenção e concluiu que a maioria dos estudos tinha uma pequena

amostra, não foi adequadamente controladas para análise de suas variáveis e faltou

rigor nos protocolos de tratamento.

A determinação do tipo de terapia e sua duração (semanas ou meses), a

frequência (sessões por semana), o tempo por sessões, e a intensidade (tempo,

frequência e duração) são imperativos para que as pesquisas e o tratamento clínico

sejam bem estabelecidos (BEGNOCHE, PITETTI, 2007; MAHONEY et al., 2004).

Em relação aos enfoques dados aos objetivos do tratamento, a literatura tem

citado alguns estudos comparando várias abordagens diferentes. Pesquisadores

compararam a evolução motora das três topografias de crianças com PC, sendo um

grupo treinado com a fisioterapia funcional (trocas posturais, ortostatismo e treino de

marcha), enquanto no outro grupo foi dado enfoque ao tratamento com fisioterapia

convencional (alongamentos passivos, exercícios ativos assistidos e livres). O resultado

foi igual no desempenho motor baseado na escala do GMFM, porém na escala para

mensurar as atividades de vida diária (AVD), as crianças do grupo funcional tiveram

resultados mais significativos na evolução motora (PINA, LOUREIRO, 2006).

Bower et al., (1996), realizaram trabalho semelhante e compararam a influência

do fator frequência das sessões semanais em dois protocolos de tratamento divididos

em: fisioterapia convencional (duas sessões/semanais) e fisioterapia intensiva (quatro

sessões/semanais), tratados ambos os grupos com metas gerais versus metas

específicas. Durante duas semanas a fisioterapia intensiva produziu ligeiramente

melhor efeito do que a convencional, principalmente no fator metas específicas. Pina &

22

Loureiro (2006) encontraram a mesma relação entre intensidade e aquisição motoras,

utilizando para validação dos resultados funcionais a escala do GMFM.

Trahan & Malouin (2002), avaliaram mudanças na função motora de crianças

tetraparéticas, depois de um período intensivo de tratamento com quatro sessões

semanais durante quatro meses, e de intervalo longo sem sessões durante dois meses.

Os resultados no GMFM foram mantidos e mostraram que este último tipo de

frequência adotada foi bem tolerado, mesmo quando separadas por este período.

Segundo Begnoche & Pitetti (2007), em algumas situações, o aumento da frequência e

intensidade das sessões podem melhorar e alterar os resultados de suas intervenções.

1.7.1 Métodos de reeducação neurológica

Por décadas a reabilitação de pessoas com lesão de NMS foi dominada por

algumas publicações que têm dado enfoque à espasticidade, pela suposição de que

esta seja a causa primária observada nas disfunções motoras (DAMIANO et al., 2002;

DAMIANO et al., 2001; KANDEL et al., 2000; LUNDY, 2000). O problema primário do

paciente foi a produção do movimento voluntário limitado pelo antagonista, e não a

ação da musculatura agonista com fraqueza. Assim, as intervenções terapêuticas com

enfoque nos padrões ineficazes de movimentos, na prevenção de posturas anormais e

excessiva co-contração muscular tornaram-se dominante (BEGNOCHE, PITETTI, 2007;

FOWLER et al., 2001).

23

Os tradicionais métodos de tratamento baseados nas técnicas de reeducação

neurológica incluem uma combinação de conceitos neurofisiológicos e da visão

desenvolmentista do comportamento motor através da sequência e cronologia das

aquisições e etapas motoras (LEITE, PRADO, 2004; HOFFMAN, HARRIS, 2002;

STOCKES, 2000; BLY, 1997; BOBATH, 1978).

As reações reflexas são consideradas a base do equilíbrio nos seres humanos.

Este modelo é baseado na ontogenia dos reflexos do equilíbrio em uma criança com

desenvolvimento normal e propõe uma relação entre o amadurecimento desses reflexos

e a sua capacidade de rolar, arrastar-se, sentar-se, levantar-se e andar (SHUMWAY-

COOK, WOOLLACOTT, 2003; STOCKES, 2000).

Com o desenvolvimento das ciências do controle e aprendizado motor, o modelo

hierárquico, baseado no processo de neuroevolução das etapas do desenvolvimento

motor normal, foi sendo substituído pela teoria dos sistemas dinâmicos. Assim, no

tratamento da PC, o comportamento motor é dito como resultado entre cooperações

dinâmicas de todos os subsistemas (SNC, biomecânico, fisiológico e ambiente-social)

dentro do contexto especifico da tarefa, conhecido como teoria de sistemas dinâmicos

(BEGNOCHE, PITETTI, 2007). Estes programas motores têm sido hipotetizados

podendo ser iniciados pelos processos centrais, mediados pelo sistema nervoso, sem

necessidade de informação via aferente (feedback system), para o desempenho da

prática funcional de tarefas via eferente (feedforward system) (BEGNOCHE, PITETTI,

2007; KANDEL et al., 2000).

Neste modelo de desempenho funcional, a criança precisa de participação ativa

e do fornecimento de oportunidades para repetição, prática da tarefa específica de

várias maneiras, sempre na ordem do aprendizado motor. Assim, se o objetivo do

24

tratamento é a marcha, o indivíduo precisa praticá-la em todos os planos, amplitudes e

ambientes (SHUMWAY-COOK, WOOLLACOTT, 2003; KANDEL et al., 2000; LUNDY,

2000; STOCKES, 2000).

1.7.2 Conceito neuroevolutivo Bobath

Dentre as técnicas de intervenção fisioterapêutica, baseadas no

neurodesenvolvimento, ou seja, nos princípios que buscam a melhora das capacidades

motoras na PC adotando a cronologia do desenvolvimento motor normal, podemos citar

o tratamento neuroevolutivo (TNE), também conhecido como “Conceito Bobath”.

Tradicionalmente, é um modelo comumente utilizado na prática profissional e uma das

técnicas mais difundidas em neurologia (BEGNOCHE, PITETTI, 2007; MAHONEY et

al., 2004; SÁ, SANTOS, 2004; LANGHAMMER, 2003; FOWLER et al., 2001; BLY,

1997; BOBATH, 1978).

Defensores desse tratamento tradicionalmente reconhecem a hipertonia e co-

contração como causas primárias da disfunção do movimento, e a fraqueza muscular

representa uma condição secundária, adquirida como consequência da resistência

excessiva oferecida pelos grupos musculares sinérgicos espásticos. (MCPAHIL,

KRAMER, 1995). Por isso, a técnica não preconiza a aplicação de resistências externas

ao movimento, pois alega-se que tal procedimento provoca aumento do tônus muscular

e fraqueza dos grupos agonistas e antagonistas (SÁ, SANTOS, 2004; BOBATH, 1978).

25

A abordagem do Conceito Bobath foi baseada na visão hierárquica do controle

motor (SHUMWAY-COOK, WOOLLACOTT, 2003; FOWLER et al., 2001; BOBATH;

1978). A forma clássica do método envolve os princípios do manuseio de crianças, por

meio da inibição (modulação) da atividade reflexa anormal, do tônus anormal e de

padrões posturais anormais, com subsequente facilitação de movimentos com padrões

motores adequados, no estímulo das reações posturais (endireitamento, equilíbrio e

proteção) e atividades motoras (MAHONEY et al., 2004; SÁ, SANTOS, 2004;

BEGNOCHE, PITETTI, 2007; LEITE, PRADO, 2004, SÁ, SANTOS, 2004; BLY, 1997).

O manuseio adequado das técnicas promoverá uma melhora da força muscular,

flexibilidade da ADM articular, para restituição das capacidades motoras básicas na

mobilidade funcional (SÁ, SANTOS, 2004; LEITE, PRADO, 2004; DAMIANO et al.,

2001).

Segundo Begnoche & Pitetti (2007), a manutenção do TNE em associação com

intervenções baseadas na teoria de sistemas dinâmicos torna-se também necessária,

mas pouco explorada, o que pode produzir novos tipos de tarefas específicas para o

aprendizado motor em PC. Por isso, atualmente o Conceito Bobath tem enfatizado mais

a observação e análise funcional imediata do paciente no desempenho motor, para

identificação de metas terapêuticas eficientes (KNOX, EVANS, 2002).

26

1.8 Treinamento para aumento de força muscular

É de senso comum, que os exercícios podem ser definidos como alguma ou toda

atividade envolvendo geração de força por ativar músculos que resultam no rompimento

do estado de equilíbrio (O’CONNEL, BARNHART, 1995).

O levantamento de peso pode envolver um trabalho muscular tanto estático

(isométrico) quanto dinâmico (isotônico). Nessa condição, os exercícios indicados

podem ser classificados em três categorias: isométricos, isotônicos e isocinéticos

(POWERS, HOWLEY, 2000).

O exercício isométrico ocorre quando se desenvolve uma tensão, porém sem

qualquer modificação no comprimento externo do músculo que permanece constante,

não acontecendo movimento articular (DAMIANO et al., 2002; SMITH, 1997). É um tipo

de contração estática normalmente usada na manutenção das posturas (HALL, 2000;

GARDINER, 1995).

O exercício isotônico é um dos tipos mais familiares de contração. É aquela que

produz o mesmo grau de tensão durante o encurtamento ao superar uma resistência

constante. Nesta condição o músculo se contrai e seu comprimento muda, havendo

também mudança no ângulo articular (FOWLER et al., 2001; SMITH, 1997; LIPPERT,

1996).

A forma de exercício isocinético é uma condição de contração dinâmica em que a

velocidade de encurtamento ou alongamento do músculo é gerenciada por um

dispositivo que controla o movimento em velocidade constante. A força muscular

27

normalmente usada para acelerar um membro é encontrada como resistência. Uma das

vantagens desta modalidade é que permite que um grupo muscular exerça sua máxima

potência através de toda ADM da articulação (HALL, 2000; KISNER, COLBY, 1998).

O isolamento de grupos musculares fracos acomoda a resistência provida da

máxima resistência através da ADM exercitada e permite quantificação do torque, do

trabalho e da potência, identificando os desequilíbrios musculares. Embora o exercício

isométrico aumente a força, os exercícios isotônicos e isocinéticos são

preferencialmente empregados nos treinamentos, pois o exercício isométrico não

aumenta a força em toda a amplitude do movimento; isso acontece somente em

determinado ângulo articular mantido durante o treinamento (POWERS, HOWLEY,

2000).

Na realização das atividades dos grupos musculares, estas envolvem uma fase

muscular concêntrica e outra excêntrica (HILLMAN, 2002; WILMORE, COSTILL, 2001).

A fase concêntrica, também conhecida como contração positiva, envolve

encurtamento do músculo durante o movimento e produz variação da amplitude

articular quando a tensão aumenta (SMITH, 1997; LIPPERT, 1996). A ação muscular

ocorre com aproximação dos pontos de origem e inserção, causando aceleração de

segmentos dos corpos (movimento) e força (HILLMAN, 2002; MCARDLE et al., 1998;

SMITH, 1997).

Na fase de contração excêntrica, também conhecida como negativa, uma força

produz alongamento do músculo enquanto ele se contrai. O músculo precisa gerar

força, embora esteja trabalhando com a força da gravidade, para desacelerar

(“mecanismo de freio”) os segmentos do corpo e fornecer absorção de choque

(HILLMAN, 2002; SMITH, 1997). Sendo assim, a atividade muscular excêntrica

28

caracteriza-se quando o torque de uma articulação excede àquele produzido pela

tensão no músculo, gerando alongamento (LIPPERT, 1996).

Na excentricidade, a capacidade do músculo de resistir à força é

aproximadamente 30% maior do que nas ações concêntricas. Teoricamente,

submetendo-se o músculo a esse maior estímulo de treinamento, obtém-se um maior

ganho de força (HILLMAN, 2002; WILMORE, COSTILL, 2001).

1.8.1 Exercícios de resistência progressiva

Dentro do enfoque da área de cinesioterapia e dos fundamentos e técnicas dos

exercícios terapêuticos, vários pesquisadores estudaram o desenvolvimento de

métodos mais efetivos e eficientes de aumentar a força muscular, potência e resistência

à fadiga (LEITE, PRADO, 2004; KISNER, COLBY, 1998; MACARDLE et al., 1998).

Como o fator essencial no desenvolvimento da força é a magnitude da resistência, esta

precisa ser aumentada progressivamente (O’CONNEL, BARNHART, 1995). Dentre os

métodos mais usados para promovê-la, recentemente difundidos na área de neurologia,

podemos citar uma das modalidades e regimes de treinamento que são conhecidos

como Exercícios de Resistência Progressiva (ERP) (TAYLOR et al., 2005; DARRAH et

al., 1999; KISNER, COLBY, 1998; GARDINER, 1995).

Esta modalidade de exercício estabelece o princípio de que o desempenho

muscular não pode ser melhorado a não ser que o músculo seja exigido além da

capacidade diária usual. A parte distal do membro movido pelo músculo ou grupo

29

muscular a ser treinado é submetido à sobrecarga de diversos modos (KISNER,

COLBY, 1998; MACARDLE et al., 1998).

DeLorme (1945) descreveu uma técnica de exercício resistido que traz em seu

protocolo o uso da sobrecarga progressiva sobre o músculo para aumento da produção

de força (MACARDLE et al., 1998; KISNER, COLBY, 1998). Desde então, a técnica tem

permanecido inalterada há quase 60 anos (TAYLOR et al., 2005; KISNER, COLBY,

1998; DELORME, 1945).

Os princípios do ERP preconizam algumas condições fundamentais para a sua

excecução e efetividade, tais como: realizar um pequeno número de repetições até a

fadiga; permitir suficiente repouso entre os exercícios para recuperação e para

aumentar a resistência na habilidade para gerar aumento de força (TAYLOR et al.,

2005; DELORME, 1945).

Inicialmente, o método inclui em seus protocolos três séries de exercícios,

consistindo cada série em 10 repetições realizadas consecutivamente, sendo a primeira

com 50% do peso da resistência máxima (RM); a segunda série com 75 % do peso de

10 RMs; enquanto a última série é feita com a carga máxima de 10 RMs (RAMOS,

2002; MCARDLE et al., 1998; KISNER, COLBY, 1998). Atualmente, as indicações e

prescrições detalhadas seguem a orientação do American College of Sports Medicine,

onde são recomendadas de duas a três séries, oito a 12 RMs, com treinamento

variando a frequência de dois ou três dias por semana (TAYLOR et al., 2005).

Segundo a Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics),

os riscos e benefícios do fortalecimento têm também suas controvérsias e tópicos no

desenvolvimento de crianças e adolescentes na puberdade, devido aos traumas nas

30

epífises de crescimento, porém na literatura, nenhum estudo é conclusivo (DAMIANO et

al., 2002).

Há mais de 50 anos, Phelps apud Damiano et al., (2002) afirmou que os

exercícios resistidos desenvolviam aumento de força no comportamento dos músculos

fracos ou grupos musculares prejudicados, e isto seria uma parte a integrar o

tratamento de crianças com PC. Entretanto a eficiência e segurança do ERP para

pacientes durante a fisioterapia não são totalmente conhecidas (TAYLOR et al., 2005;

KISNER, COLBY, 2000; MACARDLE et al., 1998).

Embora o número de estudos a partir do início da década de 90 fosse muito

limitado, o conceito de que o ERP é inapropriado devido ao aumento da espasticidade

em PC, não é suportado pelos resultados das recentes pesquisas. Os programas de

treinamento resistido têm demonstrado melhorar a força dos músculos dos membros,

sem aumentar a hipertonia e sem provocar efeitos adversos na PC ou em outras lesões

do NMS (SCHOLTES et al., 2008; MORTON et al., 2005; DAMIANO et al., 1998;

DAMIANO et al., 1995 a).

Nesse contexto, resultados positivos têm sido documentados relacionados aos

programas de fortalecimento com os parâmetros da marcha, que têm demonstrado

aumentar a amplitude do passo, retificar a postura “agachada” (flexora), reduzir o gasto

energético com maior eficiência para deambulação e altos escores no GMFM

(DAMIANO et al., 1998). Estudo de Abel & Damiano (1998), em um grupo de 11

crianças com PC, seis diplégicos e cinco hemiplégicos, as medidas do pico de torque de

oito grupos musculares (extensores/flexores e abdutores/adutores do quadril,

extensores/flexores do joelho e dorsiflexores/flexores plantares) foram avaliadas e

apresentaram relação significante com a velocidade da marcha e moderadamente com

31

escores na dimensão E do GMFM. McCubbin & Shasby (1985) também descreveram

um significante aumento na velocidade de movimento e no torque muscular isocinético

após treinamento com ERP em um grupo de crianças com PC, sem efeitos adversos.

Algumas melhoras têm sido relatadas não somente na marcha, mas também no

controle e simetria postural durante a atividade da marcha dentro dos programas de

treinamento resistido (TONER et al., 1998).

Métodos para alcançar os benefícios do ERP são usados em conjunção com

tratamentos tradicionais, nos quais os alvos são as restrições físicas que limitam as

atividades motoras (TONER et al., 1998). Nesse caso, o aumento da ADM ativa em

graus no treinamento resistido com carga, tem sido mostrado com evidências de

resultados favoráveis (DAMIANO et al., 1995 a). Em estudo de Toner et al., (1998) os

autores observaram esta correlação em um grupo de seis pacientes com PC durante

seis semanas com aumento de ADM na dorsiflexão de tornozelos/pés e consequente

melhora nas fases da marcha durante o choque de calcanhar.

Não obstante a efetividade do fortalecimento através de múltiplos músculos e

categorias de diagnóstico em PC, estes grupos ainda não foram totalmente

estabelecidos (DAMIANO, ABEL, 1998). Alguns autores relatam que estudos

precedentes têm documentado efeitos positivos do ERP, entretanto a maioria destes,

focados somente na musculatura do joelho de crianças e adolescentes deambuladoras

com espasticidade média e moderada em diplegia (MORTON et al., 2005; DAMIANO,

ABEL, 1998).

MacPhail & Kramer apud Fowler et al., (2001), usaram a versão modificada da

escala de Asworth para medir os efeitos da resistência na espasticidade para os

movimentos passivos do joelho antes e depois de oito semanas de treinamento em

32

crianças com PC de comprometimento moderado. Registraram que houve decréscimo

dos resultados na escala em um grau na espasticidade, após programa de

fortalecimento de quadríceps femoral e nos músculos isquiotibiais, porém os resultados

devem ser interpretados com cautela, por ser uma escala de parâmetros manuais de

caráter subjetivo.

Em outro estudo sobre força muscular em crianças com PC, depois de oito

semanas em um programa de exercícios de fortalecimento em musculatura antagonista

à espástica, foi observado que não houve também alterações nos graus de hipertonia,

com consequente aumento da ADM (DAMIANO et al., 2002; FOWLER et al., 2001).

Segundo Morton et al., (2005), uma revisão do treinamento de força em PC e

sobreviventes de traumas mostrou uma melhora na força sem nenhum efeito

desfavorável relacionado ao aumento da espasticidade, podendo ser considerado um

modo efetivo de intervenção para pacientes neurológicos.

A partir da década de 90 a relação de causa entre treinamento de resistência e

melhora da função motora, entretanto, não tinha sido previamente bem estabelecida por

alguns estudos, e precisava ser mais difundida nas pesquisas (DAMIANO et al., 1995

b). Por isso, a partir deste período, os programas de treinamento com força têm sido

defensores de um modo de maximizar a função em PC (DAMIANO et al., 2002).

Segundo Damiano (2002), os ERPs foram relatados como uma intervenção que pode

produzir efeitos com aumento da capacidade muscular demostrada pelo nível funcional

na marcha, habilidades motoras e no condicionamento (DAMIANO et al., 2002).

MacPhail e Kramer (1995) correlacionaram, em um grupo de 17 crianças com

PC, as forças de extensores do joelho (concêntrica e excêntrica), e foram encontrados

valores diretamente proporcionais aos altos escores do GMFM.

33

Investigações têm demonstrado os benefícios dos exercícios individuais de

fortalecimento na PC, com aumento da força muscular e função motora através do

treinamento resistido, adotando várias modalidades de exercícios: isotônicos,

isométricos e/ou isocinéticos e a combinação de exercícios isotônicos com pesos e

máquinas (BERRY et al., 2004; FOWLER et al., 2001; DAMIANO et al., 1998;

DAMIANO et al., 1995 a; FOWLER et al., 2001).

Segundo Forlwer et al., (2001), benefícios funcionais são registrados e

observados para os exercícios isotônicos, usando análise da marcha, e para exercícios

isocinéticos, usando o GMFM (FOWLER et al., 2001).

Healy (1958) comparou associação de técnicas de treinamento de força

isotônicos e isométricos em cinco crianças com PC espástica. Após oito semanas de

treinamento em extensores de joelho, os valores foram significantes com ganhos de

força de 56 para 59% no pico de torque muscular, utilizando um dinamômetro

isocinético com velocidade angular constante.

No caso da produção de força isométrica, algumas correlações significantes

existem entre esta modalidade e a máxima velocidade de deambulação em crianças

(O’CONNEL, BARNHART, 1995). Porém resultados conflitantes foram encontrados em

fortalecimento isométrico, GMFM, padrões e fases de marcha, muito provavelmente

pelas diferenças relevantes da característica do treinamento, nos tipos, intensidade,

progressão e duração dos treinamentos (SCHOLTES et al., 2008).

Mudanças foram observadas na modalidade de exercícios isocinéticos quando

direcionados para a melhora da função motora grosseira e eficácia da marcha,

principalmente, com uso do GMFM (FOWLER et al., 2001). Horvat apud Damiano et al.,

(1995b) também encontrou ganho similar de torque muscular comparando treinamento

34

com pesos leves e treinamento isocinético de equivalente intensidade em indivíduos

com PC.

MacPhail & Kramer (1995) analisaram mudanças na força muscular dos

extensores/flexores de joelho em resposta a um programa de treinamento isocinético. A

velocidade da eficácia de marcha não foi alterada e o pico de torque dos grupos

analisados passou de 15% para 17%. A melhora nas habilidades motoras foi mantida

por três meses após o termino do programa. Tuzson apud Ross & Engsberg (2007)

também relacionou testes isocinéticos com função nos grupos musculares de

quadríceps e isquiostibiais, e encontrou relação com o GMFM e velocidade de marcha.

Os tipos de contrações solicitadas durante os programas de fortalecimento de

crianças com PC, têm demonstrado que os efeitos do treinamento resistido no

desempenho neuromuscular são similares aos encontrados em crianças sadias

(DAMIANO et al., 1995 a). No caso do treino com resistência a contração concêntrica

tem apresentado significante melhora no pico de torque isocinético muscular

(O’CONNEL & BARNHART, 1995). Porém, quando considerado o aumento da

velocidade angular em relação à força, o torque isocinético concêntrico é relativamente

mais prejudicado do que o excêntrico; essa diferença pode ser explicada pelas altas

respostas ao estiramento do músculo espástico durante este tipo de contração

(DAMIANO et al., 2002; DAMIANO et al., 2001).

35

1.9 Problema:

A reabilitação neurológica tem evoluído nos últimos anos, e as contribuições

científica e tecnológica facilitam o diagnóstico, intervenção e seguimento de pacientes

com paralisia cerebral.

Entretanto, a necessidade de buscar informações, especialmente ao comparar

técnicas de tratamento neurológico, e seus efeitos, norteou o desenvolvimento desta

pesquisa, na qual o autor visa comparar técnicas de fortalecimento muscular,

treinamento da função motora e sua influência na postura bípede e na marcha.

Estudos científicos mostram que o Conceito Neuroevolutivo Bobath dedica-se

aos resultados funcionais e qualitativos, de maneira abrangente e a médio prazo,

enquanto o treinamento muscular por meio de técnicas de resistência progressiva

busca resultados quantitativos, em grupos musculares específicos, por meio da

investigação de variáveis, como o pico de torque, que representa a força muscular.

Algumas questões permanecem sem respostas, como por exemplo: o tratamento

por meio do Conceito Neuroevolutivo Bobath pode aumentar o pico de torque dos

músculos extensores de joelhos?

O Exercício de Resistência Progressiva pode aumentar o desempenho funcional

dos membros inferiores na postura bípede e na marcha?

36

1.10 Hipótese

O Conceito Neuroevolutivo Bobath aumenta o desempenho funcional e não a

força dos músculos extensores de joelhos, enquanto o Exercício de Resistência

Progressiva aumenta a força muscular de tais músculos e não o desempenho funcional

na postura bípede e na marcha.

37

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Analisar os efeitos do Conceito Neuro-evolutivo Bobath e dos Exercícios de

Resistência Progressiva sobre a força muscular e função motora grosseira nos

membros inferiores de pacientes com Paralisia Cerebral do tipo Diplegia Espástica na

postura bípede e na marcha.

2.2 Específicos

Mensurar o pico de torque isocinético extensor de joelho (concêntrico) na

velocidade angular de 30°/s, antes e após treinamento dos pacientes com paralisia

cerebral do tipo Diplegia Espástica pelo Conceito Neuroevolutivo Bobath e Exercícios

de Resistência Progressiva.

Avalilar o desempenho funcional motor grosseiro por meio da escala GMFM

(Gross Motor Function Measure) nas dimensões D e E, antes e após treinamento pelo

Conceito neuroevolutivo Bobath e Exercícios de Resistência Progressiva.

38

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Amostra

Este estudo caracteriza-se como quantitativo/ prospectivo clínico, cuja amostra é

classificada como não-probabilística, intencional, por agrupamento. A amostra foi

composta por voluntários (sete do gênero masculino e quatro do feminino) portadores

de PC do tipo diplegia espástica, com idade entre seis e 21 anos (média 9,8 e desvio-

padrão 4).

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade São

Judas Tadeu (ANEXO A). A todos os participantes e responsáveis foram esclarecidos

os objetivos da pesquisa e preenchido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(ANEXO B). Foram avaliados pacientes encaminhados à Clínica de Fisioterapia no

setor de Neurologia Infantil da Universidade São Judas Tadeu.

3.2 Critérios de inclusão e exclusão

Como critérios de inclusão: todos os participantes deste estudo apresentaram

diagnóstico médico de Paralisia Cerebral do tipo diplegia espástica, com capacidade

para realizar marcha domiciliar e/ou comunitária com ou sem dispositivos auxiliares;

classificação pelo GMFCS nos níveis I, II e III; capacidade básica de cognição para

seguir simples comandos verbais. Critérios de exclusão: foram excluídos pacientes

39

submetidos a intervenções cirúrgicas dos tipos osteotomias, tenotomias e rizotomias ou

bloqueios neurolóticos dos membros inferiores nos últimos 12 meses.

3.3 Instrumentação

A avaliação da função motora grosseira consistiu na aplicação da escala GMFM-

88 (ANEXO C), utilizando as seções das dimensões D (bípede) e E (andando, correndo

e pulando) (RUSSEL et al., 1989). A classificação dos níveis de independência e

funcionalidade das crianças foi realizada adotando a escala do GMFCS (BEKUNG et

al., 2007; DAMIANO et al., 2006).

Para mensuração do pico de torque isocinético muscular gerado durante a ação

concêntrica dos grupos musculares extensores dos joelhos, avaliados bilateralmente, foi

utilizada a dinamometria isocinética (Biodex_sytem 3, Medical Systems, Shirley, NY,

AZ, USA) (MCPHAIL, KRAMER, 1995).

3.4 Procedimentos

Os pacientes foram tratados no ambulatório na sala de neurologia infantil da

Clínica de Fisioterapia da Universidade São Judas Tadeu. As avaliações foram

realizadas no Laboratório de Biomecânica da mesma universidade.

Inicialmente, foi aplicado o Mini Mental State Examination (MMSE) para avaliar o

grau de capacidade básica de cognição dos participantes. O MMSE é composto por

questões agrupadas em sete categorias, planejadas para avaliar funções cognitivas

específicas: orientação para tempo (5 pontos), orientação paralocal (5 pontos), registro

40

de três palavras (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), lembrança das três palavras

(3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto). O escore do

MMSE pode variar de zero até 30 pontos (ANEXO D) (FOLSTEIN et al., 1975).

Posteriormente os voluntários foram classificados funcionalmente de acordo com

a escala GMFCS entre os níveis de I a III.

Em seguida, um grupo de cinco voluntários foi tratado aplicando-se o Conceito

Neuroevolutivo Bobath e o outro grupo de seis pacientes foi tratado pela técnica de

fortalecimento de Exercício de Resistência Progressiva. As atividades de outras

especialidades terapêuticas não foram interrompidas durante a realização deste estudo.

Os dois grupos foram submetidos a um período de treinamento de dez semanas

com uma frequência de duas sessões semanais de 50 minutos entre as avaliações

inicial e final do tratamento,

A avaliação pré e pós-tratamento consistiu na aplicação da escala GMFM nas

dimensões D e E para análise da função motora grosseira e dos testes de dinamometria

isocinética, na condição isotônica/concêntrica, com velocidade angular de 30º/s para

análise do pico de torque extensor de joelho.

41

Figura 1 – Fluxograma do protocolo de pesquisa com as etapas da coleta e análise de dados.

11 pacientes

5 pacientes: Grupo Bobath

6 pacientes: Grupo Exercícios

de Resistência Progressiva

Miniexame do Estado Mental

Níveis I, II e III no GMFCS

2 sessões por 9 semanas Total = 18 sessões

Avaliação pré e pós

tratamento

GMFM

Dinamometria: Isocinético a 30º/s

Torque Extensor

de joelho

Dimensões

D e E

42

3.5 Posicionamento

O movimento adotado para análise do torque isocinético foi de extensão de

joelhos em sedestação. Para avaliar o torque extensor da articulação do joelho, os

pacientes foram orientados a sentar verticalmente, apoiando-se no encosto da cadeira,

com as costas reclinadas posteriormente a 80º graus. O tronco e a coxa foram fixados

na cadeira por um cinto de segurança próprio do dinamômetro, e as coxas apoiadas no

assento com 90º graus de flexão de quadril, evitando o mínimo de efeito vertical e

possibilidade de tensão dos isquiostibiais (figura 2) (FOWLER, NWIGWE e DOREY,

2001).

Figura 2 - Ilustração da condição experimental. Monitor do dinamômetro isocinético fornecendo

feedback visual do torque extensor de joelho gerado.

O membro inferior a ser testado foi estabilizado na altura da coxa por uma cinta

com velcro, e o membro inferior não testado apoiado adequadamente no assento. Os

membros superiores foram apoiados lateralmente a uma alavanca própria da cadeira. O

eixo de rotação do dinamômetro foi alinhado com a articulação do joelho a ser avaliada.

43

Seu eixo de rotação (a linha lateral do joelho testado) foi determinado pela palpação do

espaço articular, e posicionado com o braço de alavanca do aparelho fixado, seguindo a

linha longitudinal lateral da tíbia na direção do maléolo lateral, fixado e seguro no terço

distal pelas tiras de velcro do dispositivo. A ADM partiu de zero grau (extensão total) a

90º graus de flexão do joelho (DVIR, 2002).

Cinco repetições para cada tipo de exercício foram realizadas para os pacientes

familiarizarem-se com o protocolo de teste e o aparato. Receberam incentivos verbais

para realizarem o máximo de força possível durante o teste, bem como feedback visual

através do monitor que oferecia na imagem a representação do esforço máximo

(FOWLER et al., 2001).

A avaliação isocinética de extensão do joelho foi feita e preconizada com

velocidade angular de 30º/s, devido à maior confiabilidade dos valores e menor

interferência da espasticidade nos grupos musculares testados ao estiramento (ROSS,

ENGSBERG, 2007; DAMIANO et al., 2001; MACPHAIL, KRAMER, 1995). Iniciando da

posição descrita, com ação da gravidade neutra e aproximadamente 90º graus de

flexão da articulação em repouso. Os pacientes foram instruídos para extender e

flexionar, respectivamente, seus joelhos o mais rapidamente e distante possível (figura

2).

3.6. Protocolos de tratamento

Durante os dois meses de treinamento seguido do programa de fortalecimento

com ERP e aplicação da técnica Bobath, os pacientes foram solicitados para continuar

44

com suas atividades diárias normais. Eles não foram instruídos em nenhum exercício

específico nem foram requisitados para participar em atividades adicionais. As dores

do joelho e os músculos fracos foram avaliados em cada sessão de treinamento. Se a

dor persistisse por mais de dois treinamentos consecutivos, o exercício particular que

causava dor seria omitido durante as próximas uma ou duas sessões.

3.6.1 Grupo – Bobath

Todas as posturas e atividades motoras tiveram uma característica funcional e

foram escolhidas pelo fisioterapeuta. Se a criança não fosse capaz de realizar os

exercícios unilaterais, o exercício da passagem sentado para bípede poderia ser

realizado no lugar deste. Para a postura bípede e/ou marcha foi utilizada uma tala de

lona para estabilizar os joelhos, no caso dos pacientes que não sustentavam o peso

nas posturas solicitadas e nas atividades motoras eleitas (SCHOLTES et al., 2008)

Para dar início à aplicação das técnicas de: 1) adequação tônica dos membros

inferiores; 2) inibição de padrões posturais anormais e reflexos primitivos (padrões de

inibição reflexa - PIR); 3) facilitação de movimentos com pontos chaves articulares A

sessão foi iniciada com as seguintes condutas (SOUZA, FERRARETO, 1998; BLY,

1997; BOBATH, 1978):

1) O paciente foi colocado na posição inicial em decúbito ventral, com apoio do tronco e

os membros superiores (repouso) na bola terapêutica; seus membros inferiores foram

estendidos (passivamente) com apoio nas pernas do terapeuta; as mãos do terapeuta

foram colocadas na face lateral do fêmur, logo acima da articulação dos joelhos (ponto

chave de controle), abduzindo os membros inferiores e promovendo a rotação externa

45

do quadril com abdução e extensão, mantendo-o na postura com extensão dos joelhos

(FINNIE, 2000; BLY, 1997). A manutenção desta postura (cinco minutos) facilitou o

movimento passivo de abdução do quadril, bem como a dorsiflexão dos tornozelos,

para inibição da atividade reflexa tônica anormal dos membros inferiores (figura 3)

(FINNIE, 2000; BOBATH, 1978 ).

2) O paciente foi mantido na posição inicial de decúbito ventral. A seguir, o terapeuta

posicionou as mãos na cintura pélvica (ponto chave controle) do paciente e iniciou os

movimentos de dissociação passiva da cintura pélvica e de um membro em relação ao

outro (BLY, 1997; BOBATH, 1978); logo em seguida, realizou no sentido próximo-distal

o alongamento passivo (bilateral) dos seguintes grupos musculares: adutores do

quadril, iliopsoas, isquiostibiais e gastrocnêmios (oito minutos) (BLY, 1997; SOUZA,

FERRARETO, 1998);

3) Mantendo a posição inicial (2), na sequência do procedimento, o terapeuta facilitou a

rotação externa de um dos membros inferiores em flexão, abdução e rotação externa do

quadril, flexão dos joelhos e dorsiflexão dos pés, alinhando a tíbia perpendicular ao

solo, e colocando o pé com apoio plantar completo (FINNIE, 2000; BLY, 1997); o

membro contralateral permaneceu na posição inicial, com manutenção da extensão do

joelho e quadril em leve abdução, para alongamento passivo (bilateral) de grande

dorsal, iliopsoas, adutores de quadril e gastrocnêmios, para inibição do padrão postural

anormal do membro (cinco minutos), alternando os lados no posicionamento (SOUZA,

FERRARETO, 1998; DAVIES, 1996; BOBATH, 1978). A passagem da postura sentada

para bípede foi realizada cinco vezes e houve um tempo de permanência na

bipedestação de três minutos. A transição do posicionamento de sentado para bípede

foi contada como uma repetição (SCHOLTES et al., 2001).

46

4) Na sequência do tratamento, o terapeuta posicionou os pacientes para a realização

da marcha lateral com apoio dos membros superiores na barra paralela. As mãos do

terapeuta foram colocadas na face lateral dos joelhos (ponto chave controle) para

facilitar o movimento de flexão, abdução e rotação externa do quadril, bem como a fase

de balanceio do passo adiante, assim que o peso fosse transferido para a borda lateral

do pé do membro assistido (BLY, 1997; DAVIES, 1996; BOBATH, 1978). Os pacientes

realizavam cinco passos para o lado direito e cinco passos para o lado esquerdo,

consecutivamente. Um movimento completo, balanceio e apoio do membro, foi contado

como uma única repetição (SCHOLTES et al., 2001).

5) Após este procedimento, foi realizada marcha anterior com ou sem dispositivos

auxiliares, de acordo com o grau de independência durante a locomoção do paciente. O

terapeuta posicionou-se no banco (com rodízios) atrás do paciente que permaneceu em

bipedestação à frente; o fisioterapeuta colocou o tornozelo/pé de um dos membros

inferiores do paciente entre a base de apoio para inibição do padrão anormal de adução

e rotação interna de quadril (FINNIE, 2000; BOBATH, 1978). Em seguida colocou suas

mãos na cintura pélvica do paciente, acima das cristas ilíacas posteriores (ponto chave

de controle), e facilitou a dissociação do quadril, ou seja, enquanto o peso do paciente

permanecia no membro esquerdo o membro direito estava em balanceio. A seguir, a

mão direita facilitava uma posteriorização com pressão posterior no lado direito da

pelve. A mão esquerda simultaneamente facilitava a anteriorização da pelve esquerda

com a transferência de peso para o membro esquerdo na fase de apoio (BLY, 1997;

DAVIES, 1996). Os pacientes realizaram por três vezes, treino de marcha, por cinco

minutos, com intervalos de um minuto de repouso (figura 3) (SCHOLTES et al., 2001).

47

Figura 3 - Ilustração da condição experimental. Fisioterapeuta realizando etapas de adequação de

tônus de membros inferiores (1) e treino de marcha com dispositivo auxiliar do tipo andador (5)

adotando a técnica Bobath no paciente do protocolo neuroevolutivo (esquerda para direita,

respectivamente).

3.6.2 Grupo – ERP:

Para execução do programa de exercícios de resistência progressiva proposto

por Delorme (KISNER, COLBY, 1998; DELORME, 1945), foi realizado o seguinte

protocolo de avaliação:

1) Para análise do teste de carga máxima (TCM) dos grupos musculares extensores

dos joelhos (direito e esquerdo), o paciente permaneceu em sedestação, tronco

apoiado posteriormente, com membros inferiores pendentes, com quadril e joelhos em

90º graus de flexão, e pés sem apoio na superfície plantar (figura 4) (DAMIANO, ABEL,

1998; DAMIANO et al., 1995).

2) A determinação da força muscular foi realizada por meio do TCM para 1 RM, de

forma crescente (MARINS, GIANNICHI, 2003; DAMIANO, ABEL, 1998; DAMIANO et al.,

1995); para determinar uma RM, a criança iniciou com três repetições (sem carga) para

praticar a correta performance: cada repetição tinha que ser realizada através de toda a

48

ADM (se possível), com adequada velocidade (velocidade de repetição: movimento de

extensão: dois a três segundos e movimento de flexão: dois a três segundos).

Na sequência, foi colocada uma carga mínima na tornozeleira (marca Carci

Products®) com massa de 250 gramas, e foi solicitado ao paciente que executasse os

movimentos concêntricos e isotônicos de extensão dos joelhos, consecutivamente. A

seguir, a carga foi aumentada gradativamente (500g, 1000g, 2000g e 3000g) até que se

alcançasse o peso máximo que o paciente pudesse elevar de uma só vez nas

articulações envolvidas. Portanto, se a criança realizou uma correta repetição, 5% a 10

% da carga foi aumentada ou reduzida, respectivamente. Depois de três minutos de

descanso, o teste foi repetido até que a criança não fosse capaz de realizar novamente

uma repetição completa. Este processo determinou o peso necessário para 1 RM. O

treinamento foi baseado pela força de 1 RM, sendo que a criança deveria repetir o

levantamento de 65% de 1 RM, citado com um mínimo de valor necessário para

produzir ganho de força e preconizado na literatura para a doença em questão

(SCHOLTES et al., 2008; MORTON et al., 2005; DAMIANO et al., 1995; O´CONNEL,

BARNHART, 1995). Levando-se em conta que pode ser indesejável ou pouco prático

para tais pacientes 1 RM, esta resistência pode ser calculada e estimada como um

esforço submáximo, pois nestes indivíduos destreinados, o treinamento altera a relação

entre o desempenho submáximo e o máximo (MCARDLE, KATCH, 1998). O valor

máximo de força foi reavaliado a cada quatro semanas durante o programa de

treinamento de seis semanas e o treinamento de peso reajustado em 65 % para um

novo valor (DAMIANO et al., 2002; DAMIANO, ABEL, 1998);

3) Posteriormente, após determinada a carga de 6 RMs necessárias para se executar

10 repetições, ou seja, a carga máxima que poderia ser levantada 10 vezes pelo

49

paciente, foi adotada para inicio do ERP a mesma postura proposta em sedestação

para o TCM citado anteriormente (figura 4).

Figura 4 - Ilustração da condição experimental. Paciente do protocolo de exercícios de resistência

progressiva, realizando fortalecimento com tornozeleiras com cargas ajustáveis para

fortalecimento isotônico concêntrico de quadríceps na postura sentada.

Para cada grupo muscular treinado em uma sessão, o programa de exercícios

consistiu em um total de 30 repetições por sessão de treinamento, divididas em três

séries com 10 repetições de 6-RM, para cada membro, assim divididas em relação à

carga (SCHOLTES et al., 2008; MORTON et al., 2005; O´CONNEL, BARNHART,

1995):

(a) 1ª série com ½ do peso de 6 RMs;

(b) 2ª série com ¾ do peso de 6 RMs;

(c) 3ª série com 100 % do peso de 6 RMs.

Os pacientes foram encorajados para completar todas as repetições requisitadas

e minimamente assistidos em cada atividade. Se a repetição fosse realizada

incorretamente, não seria contada; e se duas consecutivas repetições fossem

realizadas incorretamente, o teste seria finalizado. O critério para considerar a repetição

incorreta foi a realização incompleta da ADM ativa com velocidade inadequada (muito

50

lento ou rápido). Os exercícios foram completados numa posição antes de mudarem

para outra; a posição inicial do membro treinado primeiro foi variada em cada sessão

para redução dos efeitos da ordem adotada (SCHOLTES et al., 2008).

Cada sessão de treinamento durou aproximadamente 50 minutos e foi precedida

por um aquecimento similar ao do procedimento do teste de fortalecimento. O tempo de

duração de cada sessão foi dividido assim: 12 minutos de alongamento passivo da

musculatura extensora e flexora de joelhos; 10 minutos para a realização das três

séries de 10 repetições do exercício resistido, para cada grupo muscular (20 minutos

para extensores de joelho D-E), com um intervalo de 2 minutos e meio a cada duas

séries de repetições, tendo cada sessão a duração total de 50 minutos (SCHOLTES,

DALLMEIJER, RAMECKERS et al., 2008; MCPHAIL & KRAMER, 1995)

3.7 Análise estatística

Os valores de torque isocinéticos foram comparados, utilizando-se Análise de

Variância (ANOVA, 2 x 2 x 2), considerando-se os fatores grupo (ERP e Bobath),

tratamento (pré e pós-tratamento) e dimensão (D e E). Comparações múltiplas, através

do teste post hoc de Tukey significant difference, foram realizadas quando o nível de

significância obtido foi menor do que 0,05.

O teste de correlação de Pearson foi aplicado para as variáveis escore total meta

GMFM-D e % da variação do pico de torque.

51

4. RESULTADOS

Os valores são apresentados de acordo com a Análise de Variância realizada,

bem como de forma descritiva, para melhor entendimento.

Conforme figura 5, ambos os grupos aumentaram significantemente (F(1,11) =

17; p<0,001) os valores GMFM se comparados antes e após o tratamento. Os valores

médios (± DP) pré e pós-tratamento foram respectivamente iguais a 62 ± 17 e 67 ± 18

para a dimensão D e de 34 ± 24 e 35 ± 25 para a dimensão E, sendo que a dimensão D

foi significantemente maior (F(1,11)=45; p<0,001) do que a dimensão E. O teste post

hoc TSD (Tukey honest significant difference test) para comparações múltiplas mostrou

que apenas a dimensão D teve seus valores significantemente (p<0,01) maiores após o

tratamento quando comparados ao pré-tratamento.

20

30

40

50

60

70

80

90

# *

TratamentoPós

dimensão D

dimensão E

Esc

ore

to

tal (

GM

FM

)

Pré

Figura 5. Escore total na escala GMFM (Gross Motor Function Measure) nas dimensões D e E

antes e após aplicação dos protocolos de tratamento de nove semanas. Significantemente maior

do que os valores GMFM pré e pós-tratamento na dimensão D, bem como pré-tratamento na

dimensão E. # Significantemente maior do que a condição pré e pós-tratamento na dimensão D

(n=12; p < 0,05).

E D

52

Conforme a tabela 1, os pacientes do nível II GMFCS apresentaram maior

freqüência na amostra na soma entre duas abordagens dos grupos com total de 54,4 %

(n=6) de voluntários, seguido pelo nível III 36,2% (n=4) e nivel I com 9,0 % (n=1). Em

relação aos programas de treinamento, o nível II do GMFCS predominou no grupo ERP

com 36,3% (n=4) superior ao grupo Bobath com 18,1% (n=2), porém em relação ao

nível III ambos os protocolos apresentaram igual distribuição de pacientes com 18,1%

(n=2). O nível I somente esteve frequente no grupo Bobath com 9,0% (n=1) dos

voluntários.

Tabela 1 – Relação da distribuição dos pacientes (n=11) de acordo com os percentuais (%) e entre

os níveis I, II e III do GMFCS (Gross Motor Classification System) de acordo com os protocolos de

tratamento aplicados nos grupos Exercícios de resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5).

Considerando as médias dos escores total das dimensões D e E do GMFM

analisadas separadamente, entre o período pré e pós-tratamento, observam-se na

tabela 2 e figura 6, os valores superiores do grupo onde foi aplicada a intervenção ERP,

com um aumento de 59,3% para 68,3% (±9,7%) e de 27,0% para 29,1% (±2,1%)

respectivamente nas duas dimensões.

Tabela 2 – Distribuição das médias dos pacientes (n=11) em percentuais (%) da escala GMFM de

acordo com o escore total das dimensões D e E e no escore total meta (D + E) em percentuais (%),

relacionadas durante o período de intervenção dos protocolos de tratamento aplicados nos

grupos Exercícios de resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5).

53

Embora o grupo do protocolo Bobath também tenha apresentado aumento na

média de escore total nestes valores em ambas as dimensões, a média da soma destes

percentuais foi inferior na soma do total na dimensão D do GMFM. Porém na dimensão

E foi superior ao escore total meta quando comparadas com o protocolo ERP, sendo a

média dos escores aumentada de 56,3% para 58,9% (±2,0%) e de 32,2% para 32,4%

(±0,2%) respectivamente para o grupo Bobath, conforme tabela 2 e figura 6.

Figura 6 – Distribuição dos pacientes (n=11) de acordo com as diferenças das médias em

percentual (%) da escala GMFM (Gross Motor Function Measure) no escore total das dimensões D

e E e escore total meta (D + E), relacionadas durante o período de intervenção dos protocolos de

tratamento aplicados nos grupos Exercícios de resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5),

respectivamente.

Em relação ao escore total meta que corresponde à média da soma de duas

dimensões D e E (tabela 2, figura 6), analisadas separadamente entre os períodos pré e

pós-tratamento, o grupo ERP prevaleceu também sobre o grupo Bobath, com diferença

na média passando de 43,1% inicialmente para 48,7% (±4,8%), ao passo que o

protocolo Bobath aumentou seu escore meta correspondente somente de 44,2% para

46,6% (±2,3%).

9

2,1

5,6

2,6

0,2

2,4

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Pré/Pós - Dim D Pré-Pós - Dim E Pré/Pós Meta

(D+E)

Escore total ERP

Escore total Bobath

54

A dimensão D prevaleceu quando comparada com a E do GMFM (figura 7) em

relação ao total do número de pontos ganhos no período de intervenção dos dois

protocolos sendo de 3,5 e 1,5 pontos para o grupo ERP e de 1,0 e 0,2 pontos para o

grupo Bobath, o que totalizou nas duas dimensões um aumento de 5,0 e 1,2 pontos,

respectivamente para cada grupo. A dimensão D apresentou cinco itens com aumento

de escores, enquanto que a dimensão E, somente dois itens.

Figura 7 – Distribuição dos pacientes (n=11) correspondente ao total do aumento de pontos

(escala ordinal e crescente) nas dimensões D e E do GMFM e a soma do total entre as duas

dimensões (D + E) nos grupos Exercícios de resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5).

Representação do número de itens com aumento de escores em cada dimensão (D e E), durante o

período de intervenção.

Conforme a tabela 3, o aumento de escore total do GMFM foi apresentado em

83,3% (n=5) dos pacientes do protocolo ERP, sendo que destes, 66,6 % (n=4) tanto na

dimensão D quanto na E, enquanto alteraram seus escores totais em uma das

dimensões corresponderam igualmente a 16,6% (n=1) na D e 16,6% (n=1) na E. Os

valores do grupo Bobath, quando comparados com o grupo ERP, foram inferiores, onde

3,5

1,5

5

1

0,2

1,2

5

2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Pré/Pós

Dim D

Pré-Pós

Dim E

Pré/Pós

(D+E)

Número de

itens

Grupo - ERP

Grupo - Bobath

Dimensão D

Dimensão E

55

60% (n=3) dos pacientes do protocolo aumentaram seus escores totais do GMFM,

sendo que destes apenas 20,0% (n=1) nas duas dimensões D e E, os outros 40% (n=2)

dos pacientes concentraram-se na dimensão D. Os pacientes do grupo Bobath, que não

alteraram o escore em nenhuma das dimensões, representaram 40,0% (n=2), durante o

período de intervenção.

Tabela 3 – Distribuição dos pacientes (n=11) de acordo com os níveis do GMFCS (Gross Motor

Classification System); tipo de protocolo de tratamento aplicado; escore total das dimensões D e

E e escore total meta em percentuais (%) e total de pontos nas dimensões D e E , durante o

período de intervenção.

Na correlação dos resultados da escala GMFM com a classificação do GMFCS

(tabela 3) a maioria dos pacientes do grupo ERP (n=6) apresentou aumento de escore

tanto na dimensão D quanto na E, correspondendo aos níveis II (50,0%, n=3) e III

(16,6%, n=1). Os pacientes que evoluíram apenas em uma das dimensões

representaram 16,6% (n=1) sendo do nível II na dimensão D e 16,6% (n=1) do nível I da

dimensão E dos pacientes do grupo ERP. Em relação às classificações do GMFCS

deste protocolo (n=6) que aumentaram seu escore sem considerar as dimensões

56

separadas (figura 8) o nível I totalizou 16,6% (n=1), o nível II 66,6% (n=4) e o nível III

16,6% (n=1) dos pacientes.

Figura 8 – Distribuição da freqüência (percentual) dos pacientes (n=11) com aumento de escore na

escala do GMFM (Gross Motor Function Measure) de acordo com a classificação dos níveis do

GMFCS (Gross Motor Function Classification System), durante o período de intervenção dos

protocolos de tratamento nos grupos Exercícios de resistência progressiva (n=6) e Bobath (n=5)

aplicados separadamente e em conjunto, respectivamente.

Apenas 20% (n=1) dos pacientes do protocolo Bobath (n=5) conseguiram

aumento de escore nas duas dimensões D e E, sendo pertencentes ao nível II do

GMFCS (tabela 3). Os demais pacientes evoluíram apenas na dimensão D do GMFM e

pertenciam na sua maioria ao nível II (20,0%, n=1) e nível I (20,0%, n=1). O nível III do

grupo Bobath foi o único que não apresentou aumento de escore em nenhuma das

dimensões do GMFM, correspondendo a 40,0% (n=2) dos pacientes. Considerando a

classificação do GMFCS somente dos pacientes que evoluíram em escore (n=3) o nível

II apresentou maior percentual com 66,6% (n=2), seguido do nível I 33,3% (n=1) e do

nível III sem nenhuma freqüência (figura 8).

Considerando os dois grupos dos protocolos aplicados (ERP e Bobath, n=11) no

aumento de escore em duas dimensões (tabela 3), o nível II com 36,3% (n=4) foi

16,6

33,3

22,2

66,6 66,6 66,6

16,6

0

11,1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

ERP Bobath ERP + Bobath

Nível I

Nível II

Nível III

57

também o que mais predominou, seguido pelo nível III do GMFCS com percentual

7,69% (n=1). As classificações que obtiveram aumento em apenas uma das dimensões

foram distribuídas igualmente e corresponderam aos níveis II (18,1%, n=2) e I (18,1%,

n=2), seguidas do nível III (18,1%, n=2), que não alterou escore em nenhuma das

dimensões. O percentual de frequência da classificação de acordo somente com os

níveis do GMFCS que obtiveram aumento de escore no GMFM (figura 8), sem analisar

as dimensões separadas (n=9) representou em sua maioria o nível II (66,6%, n=6),

seguido do nível I (22,2%, n=2) e nível III (11,1%, n=1) dos pacientes.

Na correlação, conforme figura 9, entre escore total meta da dimensão D do

GMFM considerado em aumento de número de pontos em comparação com a variação

em percentual do pico de torque isocinético extensor do joelho Newtons/metro (N/m), na

velocidade angular de 30º/s, apesar de apresentar um aumento durante o período de

intervenção; o Coeficiente de correlação de Pearson (R=0.38) não apresentou valores

significantes.

-40 -20 0 20 40 60 80

0

5

10

15

Esc

ore

tota

l met

a -

GM

FM

-D

% da variação do pico de torque

Figura 9 - Correlação entre escore total meta em número de pontos na escala do GMFM (Gross

Motor Function Measure) na dimensão D e o percentual do pico de torque isocinético extensor do

joelho (N/m) na velocidade de 30º/s, de ambos os protocolos dos grupos Exercícios de resistência

progressiva e Bobath.

58

5. DISCUSSÃO

A força é um importante aspecto do controle motor normal que tem-se mostrado

deficiente na paralisia cerebral e em outros distúrbios do neurônio motor superior

(DAMIANO, ABEL, 1998).

Em pacientes com diplegia espástica na PC, a força muscular também é como

um importante fator determinante, relacionado com a função motora grosseira,

principalmente quando o treinamento é restrito às extremidades inferiores. O aumento

nos escores de GMFM como instrumento de mensuração funcional tem demonstrado

esta correlação, com aumento de torque muscular em programas de reabilitação nas

suas intervenções (SCHOLTES et al., 2008; MORTON et al., 2005; DAMIANO, ABEL,

1998; DAMIANO et al., 1998; DAMIANO et al., 1995 a; MACPAHIL, KRAMER, 1995).

MacPhail & Kramer (1995) observaram que este aumento do pico de torque

muscular em 10% dos extensores e flexores dos joelhos representou, na escala do

GMFM, uma evolução em 13% do escore. Em estudo similar, Damiano & Abel (1998)

encontraram também correlação dos valores entre medidas de torque muscular de

quadríceps e funcionais no escore total do GMFM, o que vem confirmar os achados

desta pesquisa (figura 9).

A confiabilidade dos resultados de valores de pico de torque isocinético dos

grupos musculares de membros inferiores, não só dos extensores de joelho, mas

também dos abdutores de quadril, também tem sido registrada (BERRY et al., 2004).

Segundo Morton et al., (2005), o fortalecimento muscular na condição isométrica de

59

quadríceps e abdutores do quadril, após seis semanas de treinamento resistido com

pesos leves, demonstrou também o aumento de pico de torque destes grupos

musculares, com mudanças estatisticamente significantes nos escores do GMFM nas

dimensões D e E, passando de 47% para 48% e de 30% para 34%, respectivamente.

Estas variáveis foram analisadas neste estudo, e o aumento do pico de torque

isocinético extensor de joelho foi correlacionado com as alterações funcionais no escore

total da dimensão D do GMFM de ambos os protocolos, porém com valores não

significantes do ponto de vista estatístico. No entanto os dados representam uma

pequena análise e consideram somente a inter-relação das variáveis nos grupos, e não

dos protocolos isoladamente.

Os resultados funcionais desta pesquisa apresentaram melhora de 5,6% e 2,4%

no escore total meta (soma das médias das dimensões D e E), nos dois protocolos de

tratamento ERP e Bobath, respectivamente, conforme mostra a figura 6. Este aumento

pode ser explicado pela ênfase dada aos treinamentos nos dois grupos musculares

(extensores de joelho e abdutores de quadril), que são fundamentais para a execução

das tarefas em bipedestação e marcha, avaliadas pelo GMFM.

Durante a realização dos dois protocolos de tratamento, o grupo muscular

extensor de joelho foi enfaticamente treinado, o que possivelmente explica o aumento

significante do torque muscular com correspondente melhora da função motora na

dimensão D (p< 0,001), conforme figura 5.

Os valores de função motora e pico de torque muscular foram correlacionados

com testes isocinéticos e velocidades angulares na PC nos trabalhos de Damiano et al.,

1995), que observaram aumento no pico de torque isocinético do músculo quadríceps,

devido ao treinamento resistido em crianças com diplegia espástica, durante seis

60

semanas, com velocidades angulares de 30º/s, 60º/s e 90º/s nos testes isocinéticos. Os

autores relataram que estas seriam condições confiáveis para teste por minizar os

efeitos dos reflexos de estiramento e potencializar a resposta motora.

McPhail & Kramer (1995) após três meses de treinamento com exercícios

resistidos em adolescentes com PC, relacionando também diferentes velocidades

angulares com força e função, verificaram que as maiores mudanças do ganho de força

nos extensores e flexores de joelho, ocorreram nas velocidades entre 50º/s e 90º/s. O

treinamento isocinético foi eficiente na melhora da função motora, com consequente

melhora dos resultados representados nos escores das dimensões D e E do GMFM.

Damiano et al. (2001), ao analisar o pico de torque isocinético de extensão do joelho de

quadríceps, porém em altas velocidades angulares de 120º/s, registraram nestas

condições angulares decréscimo voluntário de torque muscular e redução nos escores

do GMFM nas dimensões D e E.

Os resultados desta pesquisa confirmam os achados acima descritos, pois tanto

no grupo submetido ao ERP quanto no grupo submetido ao Bobath em condições

semelhantes, com enfoque específico para este grupo muscular extensor de joelho, no

teste isocinético com velocidade angular a 30º/s, apresentaram aumento no valor do

pico de torque muscular, estatisticamente significante (p < 0,001). A confiabilidade da

eleição do teste isocinético nesta condição angular é confirmada, o que justifica e

corresponde aos estudos citados, devido, principalmente à diminuição das respostas de

estiramento que poderiam influenciar na avaliação dos grupos musculares espásticos,

em velocidades angulares acima de 90º/s.

Segundo Berry et al., (2004), os músculos abdutores do quadril também têm um

papel importante na diplegia espástica, pois auxiliam no suporte de peso e no equilíbrio

61

pélvico em posturas antigravitárias. Este grupo muscular é brevemente solicitado na

dimensão E e em quatro de 13 itens na dimensão D do GMFM.

Em um estudo de revisão, Dodd & Taylor (2007) afirmaram que a dimensão D

pode representar melhor as respostas do fortalecimento dos músculos dos membros

inferiores (abdutores do quadril e extensores do joelho) na diplegia do que a dimensão

E. Além disso, grande parte das tarefas do GMFM requer ações concêntricas e

excêntricas, principalmente dos músculos extensores do joelho.

Esses achados corroboram importantes correlações encontradas na pesquisa em

questão, principalmente no pico de torque isocinético extensor do joelho, quando

relacionado com a função motora na dimensão D do GMFM e também no escore total

meta que corresponde à análise descritiva em percentual (soma das duas dimensões D

e E), em que o grupo do protocolo com ERP obteve um aumento de 5,6% em

comparação ao grupo do protocolo Bobath de 2,4% (figura 6).

Estes resultados foram identificados, nesta pesquisa, nos itens com aumento de

escore no GMFM (figura 7) que se concentraram nos números 53, 54 e 55 (dimensão

D). Tratam-se de tarefas que solicitam descargas de peso unipodal e bipodal durante o

ortostatismo, maior força e tempo de contrações concêntrica e excêntrica do grupo dos

extensores do joelho, que corresponde aos grupos musculares treinados nos dois

protocolos de tratamento.

Os itens 60 e 61 (dimensão D) também obtiveram evolução dos escores,

especialmente nas tarefas que promovem a passagem e trocas posturais de semi-

ajoelhado para bipedestação, e exigem a força dos músculos abdutores do quadril e

dos extensores do joelho para a realização da troca postural, treinados tanto no

protocolo Bobath quanto no ERP, respectivamente.

62

Os itens 65 e 66 também apresentaram evolução dos escores, e correspondem

às atividades em que o paciente realiza a marcha lateral e solicitam as musculaturas

abdutora e extensora do joelho para realização de tarefa em ambos os grupos de

tratamento.

As alterações temporais apresentadas em relação à frequência e duração do

tratamento com pacientes diplégicos, são bem variadas (KNOX, EVANS, 2002;

NORDMARK et al., 2000). Essas mudanças na função motora podem ser substanciais

para alguns sujeitos, representando em alguns programas de fortalecimento o aumento

de até nove pontos nos escores do GMFM num período curto de intervenção de duas a

oito semanas, até registros com mudanças de escores de dois a quatro pontos, que

podem somente ocorrer depois de um longo período de dois anos de tratamento.

Knox & Evans (2002); Nordmarck et al., (2000), em estudos com aplicação de

técnicas baseadas no método Bobath em pacientes diplégicos e ERP, em pós-

operatórios de RDS, registraram significantes alterações de escore no GMFM

observadas, inicialmente, somente após o período entre quatro meses e meio e seis

meses num intervalo de 12 meses. Voorman et al. (2007), relataram em seu estudo de

intervenção com crianças diplégicas, que mudanças pequenas nos escores do GMFM

(± 2 pontos) podem ocorrer também depois de um período de dois anos, sem aplicação

de nenhum protocolo de intervenção. Às vezes estas alterações não correspondem à

expectativa para aquisição de novas habilidades motoras funcionais em PC

(MACPHAIL, KRAMER, 1995; VOORMAN et al., 2007).

Nesta pesquisa, os voluntários do protocolo ERP, em relação à variável tempo de

intervenção, possivelmente foram favorecidos em relação ao aumento de escores do

GMFM, quando comparados ao grupo Bobath, que pode ter sido prejudicado pela

63

reduzida frequência e tempo de tratamento aplicado. Esta relação pode ter sido

representada, não somente na média em percentual maior do grupo ERP em

comparação ao grupo Bobath, mas também na análise descritiva da soma de pontos

das dimensões D e E, com aumento de 5,0 e 1,2 pontos respectivamente para cada

grupo ( figura 7).

Esta correlação temporal também pode ser observada quanto à prescrição do

curto período de nove semanas de treinamento, freqüência de três sessões semanais e

apenas de 45 minutos, baseados nos estudos que adotaram técnicas com ERP. No

caso do grupo Bobath, Knox & Evans (2002) e Nordmarck et al., (2000) demonstram

que os resultados funcionais para este tipo de protocolo com aumento de escores na

escala GMFM, começam a aparecer em tratamentos de médio e longo prazos em

relação a outros protocolos e abordagens com no mínimo quatro e seis meses de

intervenção.

Esta evolução da função motora também pode surgir em protocolos com

aplicação do método Bobath, em curtos períodos de intervenção, menos de seis meses,

desde que sejam direcionados para uma terapia com objetivos específicos, voltados

para o treinamento funcional com atividades em bipedestação e na marcha

(BEGNOCHE, PITETTI, 2007; FOWLER et al., 2001).

Nesta pesquisa, o grupo Bobath foi submetido a um período curto de tratamento

(dois meses e meio) e também apresentou alterações nas duas dimensões do GMFM

com aumento de escore. Possivelmente a prática de tarefas específicas associadas

com a técnica Bobath (trocas posturais, treino de ortostatismo e deambulação), quando

solicitadas no tratamento de pacientes diplégicos podem favorecer a simetria e o

controle postural dinâmico, bem como a amplitude de passos e a cadência da marcha,

64

que podem ter sido representadas nas melhoras funcionais nos escores do GMFM,

principalmente na dimensão D (figuras 6 e 7).

A relação entre função motora grosseira e capacidade funcional tem sido

explorada, como forma de se analisar as respostas e prognósticos motores, de acordo

com o grau de gravidade e comprometimento neurológico dos pacientes diplégicos

espásticos envolvidos nos programas de intervenção. Oeffinger apud Pina & Loureiro

(2006) registrou a relação entre classificação funcional dos níveis I, II e III do GMFCS

com as maiores alterações nos escores do GMFM, principalmente nas dimensões D e

E.

Em seu estudo, Tieman et al. (2007), examinaram a capacidade funcional em

183 crianças com PC na faixa etária de seis a 12 anos, nos níveis II, III e IV do GMFCS

na escala do GMFM com a condição de variabilidade dos meios de mobilidade, após

intervenção baseada no método Neuroevolutivo Bobath. Os pacientes foram

submetidos a um tratamento intensivo de oito semanas com frequência de três sessões

semanais e com duração de 75 minutos. As dimensões do GMFM apresentaram

melhoras no escore total e escore meta, sendo significantemente maiores nas

dimensões D e E.

A capacidade funcional dos pacientes dos níveis I, II e III, quando comparados

com a função motora grosseira, demonstrou aumento dos escores na escala GMFM no

grupo Bobath, porém inferiores em relação ao grupo ERP, quando analisados

isoladamente. Possivelmente estes dados podem ser justificados pelo menor tempo de

terapia aplicado no protocolo Bobath, em torno de 45 a 50 minutos de duração, inferior

ao dos tratamentos neurológicos preconizados (60 a 75 minutos) com o mesmo tipo de

65

intervenção e medidas funcionais descritos nos estudos de Begnoche & Pitetti (2007) e

Tieman et al. (2002).

Não obstante o período de tratamento ter sido curto, somente de nove semanas,

a relação da classificação funcional do GMFCS com o GMFM também pôde ser

observada neste estudo, quando considerados os dois grupos. Nesse caso, os

pacientes com diplegia espástica, de acordo com o GMFCS nos níveis I, II e III,

apresentaram maior predomínio do nível II em ambos os grupos. Essa condição

funcional corresponde a pacientes com menor gravidade do quadro clínico e maior

seletividade motora, portanto mais favoráveis à melhora da função motora e aumento

de escore no GMFM. Esta constatação foi confirmada nos resultados das duas

dimensões analisadas, significantemente maiores na seção D, que ocorreram nos

grupos ERP e Bobath, com p< 0,001 (figuras 5 e 8).

66

6. CONCLUSÕES

Os resultados desta pesquisa permitem concluir que:

Os grupos do protocolo ERP e Bobath apresentaram melhoras na função motora

grosseira na escala do GMFM na dimensão D;

O pico de torque isocinético extensor da articulação do joelho, no teste

isocinético, apresentou aumento após tratamento para ambos os grupos;

Estes resultados refutam a hipótese de aumento de força no ERP e função

motora somente no Bobath. Portanto, os dois protocolos são recomendados para o

aumento de força muscular e função motora em pacientes diplégicos espásticos;

A reduzida frequência e o período de aplicação do tratamento aumentaram o

torque muscular e a função motora nos protocolos ERP e Bobath, no teste isocinético e

GMFM, em pacientes diplégicos espásticos com moderado grau de gravidade motora

na capacidade funcional, avaliados com baixa velocidade angular (30°/s).

67

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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79

ANEXO A

80

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE TRATAMENTO COM EXERCÍCIO DE

RESISTÊNCIA PROGRESSIVA E CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH NO TORQUE

MUSCULAR E NA FUNÇÃO MOTORA GROSSEIRA EM CRIANÇAS PORTADORAS DE

DIPLEGIA ESPÁSTICA

Eu, ___________________________________________________portador de RG _________________,

abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para meu (minha) filho (a) participar como

voluntário (a) do projeto de pesquisa, que tem como título “Comparação entre as técnicas de exercício

de tratamento com exercício de resistência progressiva e conceito neuroevolutivo Bobath no torque

muscular e na função motora grosseira em crianças portadoras de diplegia espástica” sob

responsabilidade dos pesquisadores Prof. Moisés Veloso Fernandes e Prof. Dr. Ulysses Fernandes Ervilha,

docentes da Universidade.

O objetivo deste projeto de pesquisa é comparar dois métodos de tratamento fisioterapêuticos

usados para tratar crianças com seqüelas devido a paralisia cerebral. Um deles, chamado de Conceito

Bobath, estimula o andar através de manuseios e do tato. Isto é, o fisioterapeuta estimula a criança a fazer

determinados movimentos para facilitar a contração muscular através de pequenos toques nos músculos.

O outro método consiste em pedir à criança que realize movimentos de abertura e fechamento das

pernas utilizando tornozeleiras com pesos que variam de meio quilo a três quilos. Também serão

realizados exercícios de esticar o joelho (usando as tornozeleiras).

Não há, até o momento, estudos mostrando a maior eficiência de um método em relação ao outro,

portanto, os participantes do presente estudo serão aleatoriamente sorteados para compor os grupos.

Ambos os métodos são vastamente utilizados há décadas em reabilitação de pacientes portadores de

paralisia cerebral do tipo diplegia espástica e não há relatos de malefícios causados pela aplicação destas

técnicas de tratamento.

Os pacientes selecionados para este estudo realizarão duas sessões semanais de 50 minutos de

duração, por um período de dez semanas. Os tratamentos multidisciplinares médicos e terapêuticos

81

(terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicopedagogia, entre outros) não serão interrompidos. Metade dos

pacientes receberá tratamento pelo método Bobath enquanto o outro grupo será tratado por meio dos

exercícios descritos anteriormente. A disponibilidade para atendimento será as quartas e sextas-feiras entre

8:00 h e 10:00 h e entre 19:00 h e 21:00 h, conforme combinado com os responsáveis pelos pacientes.

A reabilitação neurológica preconiza que as técnicas de tratamento fisioterapêutico podem ser

realizadas isoladamente ou em associação com outras técnicas e recursos, dependendo dos objetivos

estipulados no tratamento. Portanto, seu (a) filho (a) será submetido(a), pelo período de 10 semanas,

exclusivamente a um dos métodos em questão. Enfatizamos que isto não prejudicará de forma alguma o

tratamento que já está em andamento, pois os objetivos iniciais serão mantidos.

Este procedimento tem risco mínimo, porém, poderá induzir a dor muscular de baixa intensidade

que pode persistir por até 24 horas após o final do treinamento. Caso a dor muscular permaneça por mais

de 24 h, meu (minha) filho (a) terá assistência na Clínica de Fisioterapia da Universidade, onde será

atendido (a) pelo pesquisador, fisioterapeuta Prof. Moisés Veloso Fernandes. Caso uma das técnicas

demonstre resultados mais favoráveis, a continuidade do tratamento de seu filho (a) será feita através deste

método.

Obtive todas as informações necessárias para decidir conscientemente sobre a participação do (a)

meu (minha) filho (a) na referida pesquisa.

Estou livre para interromper a qualquer momento tal participação na pesquisa. Os dados pessoais

de meu (minha) filho (a) serão mantidos em sigilo e os resultados gerais da pesquisa serão utilizados

apenas para alcançar os objetivos do trabalho expostos acima, incluída sua publicação na literatura

científica especializada, e disponível a qualquer momento que eu (pai e/ou responsável) julgar necessário.

A vantagem trazida por este estudo é conhecer qual dos dois tratamentos de fisioterapia propostos

para o problema de meu filho (a) é o mais eficiente e indicado. Receberei, ao final do estudo, relatório

completo contendo os resultados obtidos por meu filho (a).

Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa Universidade São Judas Tadeu para apresentar

recursos ou reclamações em relação à pesquisa ou ensaio clínico por meio do telefone (11) 2799-1659.

82

Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Ft. Moisés Veloso Fernandes, sempre

que julgar necessário pelo telefone (11) 2682-7450.

Este Termo de Consentimento é feito em duas vias que uma permanecerá em meu poder e outra

com o pesquisador responsável.

São Paulo, __________de _________ de 2008.

_____________________________________________________________________________

Nome do responsável pela criança e assinatura

____________________________________ _____________________________________

Prof.Dr. Ulysses Fernandes Ervilha Prof. Moisés Veloso Fernandes

83

MEDIÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA GROSSA (MFMG)

GMFM

FOLHA DE REGISTRO DE ESCORE

Nome da criança:___________________________No. De id:___________________________

Data de Nascimento:________________________Data da Avaliação:_____________________

Diagnóstico:______________Comprometimento: ( ) Leve ( ) Moderado ( ) Grave

Nome do Avaliador: ____________________________________________________________

Condições de Teste ( p. ex., sala, vestuário, tempo, outras pessoas presentes):

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________

O GMFM é um instrumento de observação padronizado criado e aprovado para mediar mundança na

função motora grossa que ocorre com o passar do tempo nas crianças com paralisia cerebral.

* TABELA DE PONTUAÇÃO: 0 = não inicia

1 = inicia

2 = completa parcialmente

3 = completa

* A menos que estaja diferentemente especificado, “ inicia” é definido como conclusão de menos de

10 % do item. “ Completa parcialmente” é definido como conclusão de 10% até menos de 100 %.

A tabela de pontuação serve como uma diretriz geral. Entretanto , a maior parte dos itens tem

descrições específicas para cada escore. É imperativo que as instruções sejam usadas para pontuar

cada item.

_____________________________________________________________________________

Endereço para contato:

Dianne Russell, Coordenadora de Pesquisa. Unidade de Pesquisa Clínica de Neurodesenvolvimento.

Departamento de Epidemiologia e Bioestatística e Professora Assistente. Escola da Ciência de

Reabilitação . Mc.Master University, 1280 Main Sy. W., Hamilton. Ontário> Canadá LSS 4 Kl.

_____________________________________________________________________________

Programa de Reabilitação do Desenvolvimento das Crianças no Chedoke- Mac Master Hospitals,

Hamilton, Ontário, Hugh MacMillan Rrehabilitation Centre. Toronto. Ontário. Mc Máster

University, Hamilton, Ontário.

© Gross Motor Measures Group, 1990 Revisado em Setembro, 1993.

ANEXO C

84

ITEM D: EM PÉ ESCORE

_____________________________________________________________________________________

52. NO CHAO: PUXA-SE PARA POSIÇÃO EM PÉ USANDO UM BANCO GRANDE... .0.□1.□2.□3.□

53. EM PÉ: MANTÉM, BRAÇOS LIVRES, 3 SEGUNDOS ................................................. 0.□1.□2.□3.□

54. EM PÉ: SEGURANDO-SE EM BANCO GRANDE COM UMA MÃO ,

LEVANTA O PÉD. 3 SEGUNDOS .................................................................................. 0.□1.□2.□3.□

55. EM PÉ: SEGURANDO-SE EM BANCO GRANDE COM UMA MÃO ,

LEVANTA O PÉ E. 3 SEGUNDOS ............................................................................... .. 0.□1.□2.□3.□

56. EM PÉ: MANTÉM, BRAÇOS LIVRES, 20 SEGUNDOS............................................... 0.□1.□2.□3.□

57. EM PÉ: LEVANTA PÉ E , BRAÇOS LIVRES, 10 SEGUNDOS.................................... 0.□1.□2.□3.□

58. EM PÉ: LEVANTA PÉ D , BRAÇOS LIVRES, 10 SEGUNDOS.................................... 0.□1.□2.□3.□

59. SENTADA EM BANCO PEQUENO: ATINGE POSIÇÃO EM PÉ SEM

USAR OS BRAÇOS ......................................................................................................... 0.□1.□2.□3.□

60. AJOELHADA: ATINGE POSIÇÃO EM PÉ USANDO SEMI-AJOELHADA

SOBRE O JOELHO D, SEM USAR OS BRAÇOS .......................................................... 0.□1.□2.□3.□

61. AJOELHADA: ATINGE POSIÇÃO EM PÉ USANDO SEMI-AJOELHADA

SOBRE O JOELHO E, SEM USAR OS BRAÇOS .......................................................... 0.□1.□2.□3.□

62. EM PÉ:ABAIXA PARA SENTAR-SE NO CHÃO COM CONTROLE,

BRAÇOS LIVRES ............................................................................... ............................ 0.□1.□2.□3.□

63. EM PÉ: ATINGE A POSIÇÃO DE CÓCORAS, BRAÇOS LIVRES............................... 0.□1.□2.□3.□

64. EM PÉ: PEGA OBJETO DO CHÃO, BRAÇOS LIVRES, RETORNA

PARA A POSIÇÃO EM PÉ ............................................................................................... 0.□1.□2.□3.□

DIMENSÃO D TOTAL

85

ITEM E: ANDAR, CORRER E PULAR ESCORE

______________________________________________________________________________________

65. EM PÉ: 2 MÃOS EM UM BANCO GRANDE: ANDA DE LADO 5 PASSOS

PARA D ..................................................................................................................................0.□1.□2.□3.□

66. EM PÉ: 2 MÃOS EM UM BANCO GRANDE: ANDA DE LADO 5 PASSOS

PARA E ..................................................................................................................................0.□1.□2.□3.□

67. EM PÉ: 2 MÃOS SEGURADAS: ANDA 10 PASSOS PARA FRENTE .............................0.□1.□2.□3.□

68. EM PÉ, 1 MÃO SEGURADA: ANDA 10 PASSOS PARA FRENTE...................................0.□1.□2.□3.□

69. EM PÉ: MANTÊM, ANDA 10 PASSOS PARA FRENTE....................................................0.□1.□2.□3.□

70. EM PÉ: MANTÊM, ANDA 10 PASSOS PARA FRENTE, VIRA180º, RETORNA............0.□1.□2.□3.□

71. EM PÉ: MANTÊM, ANDA 10 PASSOS PARA TRÁS ........................................................0.□1.□2.□3.□

72. EM PÉ: ANDA 10 PASSOS PARA FRENTE, CARREGANDO UM OBJETO

GRANDE COM AS DUAS MÃOS ........................................................................................0.□1.□2.□3.□

73. EM PÉ: ANDA PARA FRENTE 10 PASSOS CONSECUTIVOS ENTRE

LINHAS PARALELAS AFASTADAS EM 20,32 CM .......................................................0.□1.□2.□3.□

74. EM PÉ: ANDA PARA FRENTE 10 PASSOS CONSECUTIVOS SOBRE

UMA LINHA RETA COM 1,90 CM DE LARGURA .........................................................0.□1.□2.□3.□

75. EM PÉ:DÁ UM PASSO SOBRE BASTÃO NA ALTURA DO JOELHO, COM PÉ D........0.□1.□2.□3.□

76. EM PÉ:DÁ UM PASSO SOBRE BASTÃO NA ALTURA DO JOELHO, COM PÉ E........0.□1.□2.□3.□

77. EM PÉ: CORRE 4,60 M PARA & RETORNA ............ ........................................................0.□1.□2.□3.□

78. EM PÉ: CHUTA BOLA COM PÉ D .....................................................................................0.□1.□2.□3.□

79. EM PÉ: CHUTA BOLA COM PÉ E .....................................................................................0.□1.□2.□3.□

80. EM PÉ:PULA 30,50CM DE ALTURA COM OS DOIS PÉS JUNTOS................................0.□1.□2.□3.□

81. EM PÉ:PULA 30,50CM PARA FRENTE COM OS DOIS PÉS JUNTOS...........................0.□1.□2.□3.□

82. EM PÉ, SOBRE O PÉ D: SALTA COM O PÉ D 10 VEZES DENTRO DE

UM CÍRCULO DE 61 CM DE DIÂMETRO ........................................................................0.□1.□2.□3.□

83. EM PÉ, SOBRE O PÉ E: SALTA COM O PÉ E 10 VEZES DENTRO DE

UM CÍRCULO DE 61 CM DE DIÂMETRO ........................................................................0.□1.□2.□3.□

84. EM PÉ, SEGURANDO EM UM CORRIMÃO: SOBE 4 DEGRAUS,

SEGURANDO EM 1 CORRIMÃO, ALTERNANDO PÉS..................................................0.□1.□2.□3.□

85. EM PÉ, SEGURANDO EM UM CORRIMÃO: DESCE 4 DEGRAUS,

SEGURANDO EM 1 CORRIMÃO, ALTERNANDO PÉS...................................................0.□1.□2.□3.□

86. EM PÉ: SOBE 4 DEGRAUS, ALTERNANDO PÉS ............................................................0.□1.□2.□3.□

87. EM PÉ: SOBE 4 DEGRAUS, ALTERNANDO PÉS ............................................................0.□1.□2.□3.□

88. EM PÉ: SOBE DEGRAU DE 15,24 CM DE ALTURA: DESCE PULANDO,

DOIS PÉS JUNTOS ............................................................................................................. ..0.□1.□2.□3.□

DIMENSÃO E TOTAL

86

ANEXO D

Mini Exame do Estado Mental

87

ANEXO E

Protocolo de exercícios de resistência progressiva