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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU USJT PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO EDEYN MICHELE TENEDINI PLATAFORMA BIM E A PERSPECTIVA DE UMA ARQUITETURA SUSTENTÁVEL: O CASO DO EDIFÍCIO DO BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) EM MANAUS SÃO PAULO - SP 2019

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU USJT PROGRAMA DE PÓS ... · construção civil. De acordo com o Anuário de Arquitetura e Urbanismo 2018, elaborado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo

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  • UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU – USJT

    PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

    MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    EDEYN MICHELE TENEDINI

    PLATAFORMA BIM E A PERSPECTIVA DE UMA ARQUITETURA

    SUSTENTÁVEL: O CASO DO EDIFÍCIO DO BANCO

    INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) EM MANAUS

    SÃO PAULO - SP

    2019

  • EDEYN MICHELE TENEDINI

    PLATAFORMA BIM E A PERSPECTIVA DE UMA ARQUITETURA

    SUSTENTÁVEL:O CASO DO EDIFÍCIO DO BANCO

    INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) EM MANAUS

    Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade São Judas Tadeu, para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

    Área de concentração: Arquitetura e Cidade.

    Linha de Pesquisa: Projeto, produção e representação.

    Grupo de pesquisa CNPQ: Arquitetura: abordagens alternativas e transdisciplinares.

    Orientador: Prof. Dr. Luís Octavio de Faria e Silva.

    SÃO PAULO - SP

    2019

    http://lattes.cnpq.br/1819856357349357

  • Agradecimentos

    Agradeço ao Grupo Alexander Justi por ceder um projeto para servir de exemplo em estudo de caso, pela atenção e todos os materiais disponibilizados; a Quali-a por enviar vídeos e imagens do processo sustentável; a Profª Dra. Regina Ruschel pelas valiosas dicas; a todos os pesquisadores que contribuíram com minha dissertação; e a você, Rê, que me ajudou a tornar mais uma vez um sonho possível.

  • RESUMO

    Nas últimas décadas a sociedade, o governo e o mercado vêm se

    preocupando com o desenvolvimento sustentável do planeta. Nesse contexto, a

    construção civil se destaca como um setor de grande importância nos aspectos que

    envolvem esse desenvolvimento sustentável, principalmente, por gerar grandes

    impactos ambientais negativos. Dessa forma, o projeto de edificações sustentáveis

    se tornou relevante para os empreendedores desse setor, sendo um fator

    determinante para o mercado. O presente trabalho expõe a importância e a

    necessidade de se definir indicadores, padrões e normas como uma forma de

    mensurar o desempenho das ações sustentáveis implementadas em um

    empreendimento. O instrumento que está sendo utilizado é a Certificação Ambiental

    das edificações, que através da definição de critérios, seguindo estratégias e

    regulamentos, identificam e apontam objetivamente os resultados obtidos a partir

    das ações implantadas, quantificando a eficiência da edificação. Com base nessas

    diretrizes definidas pelas certificações e através de simulações com softwares BIM

    será demonstrado como é possível auferir o nível de sustentabilidade de uma

    edificação. O BIM será apresentado como uma solução capaz de realizar a

    avaliação e o monitoramento do desempenho das edificações, sendo uma

    importante ferramenta para o gerenciamento das informações no desenvolvimento

    de projetos sustentáveis. O estudo será realizado através da análise do projeto do

    Edifício do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, desenvolvido pelo

    Grupo Justi, que utilizou a plataforma BIM em seu projeto e, seguindo os requisitos,

    parâmetros e critérios definidos, alcançou a Etiqueta PBE Edifica de eficiência

    energética nível A e a Certificação AQUA. Através desse estudo verificou-se que a

    utilização do BIM pode auxiliar significativamente na obtenção de certificações,

    otimizando tempo e recursos, apesar de terem sido identificadas dificuldades sobre

    a implantação e utilização do BIM pelos escritórios de arquitetura.

    Palavras-Chaves: BIM, Sustentabilidade, Simulação Computadores, Etiqueta.

  • ABSTRACT

    In the last decades the society, government and the market has been worrying

    about the sustainable development of the planet. In this context, construction stands

    out as a sector of great importance in the aspects that involve this sustainable

    development, mainly for generating large negative environmental impacts. In this

    way, the project of sustainable buildings became relevant for the entrepreneurs of

    this sector, being a determining factor for the market. The present work exposes the

    importance and necessity of defining indicators, standards and norms as a way of

    measuring the performance of the sustainable actions implemented in an enterprise.

    The instrument that is being used is the Environmental Certification of buildings,

    which through the definition of criteria, following strategies and regulations, identify

    and objectively identify the results obtained from the implemented actions,

    quantifying the efficiency of the building. Based on these guidelines defined by the

    certifications and through simulations with BIM software will be demonstrated how it

    is possible to obtain the level of sustainability of a building. BIM will be presented as

    a solution capable of performing the evaluation and monitoring of the performance of

    the buildings, being an important tool for information management in the

    development of sustainable projects. The study will be carried out by analyzing the

    project of the Inter-American Development Bank (BID) Building, developed by the

    Justi Group, which used the BIM platform in its project and, following the

    requirements, parameters and criteria defined, level A and AQUA Certification.

    Through this study it was verified that the use of BIM can significantly help in

    obtaining certifications, optimizing time and resources, although difficulties have been

    identified regarding the deployment and use of BIM by architecture offices.

    KeyWords: BIM, Sustainability, Computer Simulation, Label.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Ciclo de Processo de projeto na plataforma BIM...................................... 45

    Figura 2 - Carta bioclimática apresentando ..........................................................

    Erro! Indicador não definido.8

    Figura3 - Zona bioclimática 8....................................................................................58

    Figura 4 - Carta solar de Manaus Fonte - relatório BID............................................

    622

    Figura 5 – O Retangulo, área destinada a sede do BID, com as cartas solares sem

    considerar elemento de sombreamento. Fonte - Relatório BID.................................

    633

    Figura 6 - Estudo do ângulo de sombreamento solar por meio de cartas solares. O

    Retangulo a indicação da área do terreno. Fonte – Relatório BID........................... 633

    Figura 7 - Estudo de proteção de fachadas. Fonte - Relatório BID..........................

    644

    Figura 8 – brises. Fonte - Relatório BID....................................................................

    655

    Figura 9 - Perspectiva modelo 3D Rhino - DIVA. Fonte - Relatório BID...................

    688

    Figura 10 - Modelo tridimensional, DesignBuilder. Fonte - Relatório BID.................

    699

    Figura 11 - Simbologia etiqueta PBE Edifica. Fonte - Relatório BID........................ 71

    Figura 12 - Webprescritivo - Labeee UFSC.............................................................. 72

    Figura 13 - Estruturas Revit.......................................................................................

    Erro! Indicador não definido.

    Figura 14 – Modelo Federado ..................................................................................

    Erro! Indicador não definido.4

    file:///C:/Users/Michele/Documents/Trabalhos%20Mi/BIM%20mestrado/ALTERAÇÕES%2024_10/30.10.18_quase.docx%23_Toc528701806file:///C:/Users/Michele/Documents/Trabalhos%20Mi/BIM%20mestrado/ALTERAÇÕES%2024_10/30.10.18_quase.docx%23_Toc528701806

  • Figura 15 - Resultado final BID................................................................................114

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    2D - Duas dimensões - bidimensional

    3D - Três dimensões – tridimensional

    4D – Quatro dimensões

    5D – Cinco Dimensões

    6D – Seis Dimensões

    7D – Sete Dimensões

    ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

    AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção Civil

    ASBEA – Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura

    BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento

    BIM - Building Information Modeling

    BN BIM – Biblioteca Nacional - BIM

    BPA - Building Performance Analysis

    CAD - Computer Aided Design ou Projeto Auxiliado por Computador

    CAU/BR – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

    CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção

  • CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

    Desenvolvimento

    COTE - Comitê do Meio Ambiente

    DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

    ENCE - Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

    ENIC – Encontro Nacional da Industria da Construção

    HQE - Haute Qualité Environnmentale ou Alta Qualidade Ambiental

    HVAC - Heating, ventilation, and air conditioning

    IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IE – TRIPLE - Institute of Electrical and Electronics Engineers

    IFC - Industry Foundation Classes.

    INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

    ISO – Organização Nacional de Normatização

    LABEEE - Laboratório de Eficiência Energética em Edificações

    LaBIM – PR – Laboratório BIM do Paraná

    LEED - Leadership in Energy and Environmental Design

    LEED-CS - Projetos da envoltória e parte central do edifício;

    LEED-NC - Novas construções novas e grandes projetos de renovação;

    LEED-CI – Edifícios comerciais e projetos de interiores;

    LEED-Schools – Projetos de Escolas

    LEED Healthcare – Unidades de Saúde;

    LEED EB_OM – Operação e Manutenção de Edifícios Existentes;

    LEED for Homes – para Residências;

    LEED-Retail NC e CI – para Lojas de Varejo;

  • LEED-NB – Para Desenvolvimento de Bairros.

    MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exteriror

    MOU – Memorandum of Undertanding

    NZEB - Nearly Zero Energy Buildings ou Energia Zero Fonte Líquida

    OIA - Organismo de Inspeção Acreditado

    PBE Edifica – Programa Brasileiro de Etiquetagem nas Edificações

    PIB – Produto Interno Bruto

    POC – Percentual de Horas em Conforto

    PROCEL EDIFICA - Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações

    RAC-C – Regulamento de Avaliação da Conformidade do Nível de Eficiência

    Energética de Edifícios Comerciais

    RAC–R - Regulamento de Avaliação da Conformidade do Nível de Eficiência

    Energética de Edificações Residenciais.

    RTQ-C – Regulamento Técnico de Qualidade para o Nível de Eficiência Energética

    de Edifícios Comerciais de Serviços e Públicos

    RTQ-R - Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética

    de Edificações Residenciais.

    SEIL – Secretária de Estado de Infraestrutura e Logística

    USGBC - United States Green Building Council

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9

    2. SUSTENTABILIDADE ................................................................................... 12

    2.1. HISTÓRICO E CONCEITOS .................................................................. 12

    2.2. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL ........................................................... 16

    2.3. PROJETO DE EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS .......................................... 19

    2.4. ETIQUETAGEM E CERTIFICAÇÃO ...................................................... 22

    2.4.1. Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – ENCE ................ 23

    2.4.2. AQUA – Alta Qualidade Ambiental ................................................ 24

    2.4.3. LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) – E.U.A 25

    2.5. O USO DO BIM EM PROJETOS SUSTENTÁVEIS ............................... 27

    3. A PLATAFORMA BIM - “BUILDING INFORMATION MODELING” ............. 30

    3.1 HISTÓRICO E CONCEITOS SOBRE BIM .......................................................... 30

    3.2 MODELAGEM PARAMÉTRICA ........................................................... 33

    3.3. O PROCESSO COLABORATIVO E A INTEROPERABILIDADE .......... 34

    3.4. A COMPATIBILIZAÇÃO E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO................... 38

    3.5. EVOLUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA PLATAFORMA BIM ................. 40

    3.6. COMO O BIM É CONSTITUÍDO – AS DIMENSÕES DO MODELO ...... 41

    3.7. O BIM E O CICLO DE VIDA DAS EDIFICAÇÕES ................................. 43

    3.8. EXEMPLOS DE SOFTWARES ............................................................. 45

    3.9 OS PROBLEMAS DA IMPLEMENTAÇÃO DO BIM ............................................. 49

    3.10 - O CENÁRIO DO BIM NO BRASIL ...................................................... 51

  • 4. ESTUDO DE CASO - BID .............................................................................. 55

    4.1. ESTUDO DE SUSTENTABILIDADE... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

    4.1.1. Caracterização climática de Manaus ............................................ 57

    4.1.2. Diretrizes de sustentabilidade ....................................................... 59

    4.1.3. – Avaliação bioclimática urbana ................................................... 60

    4.1.4. – Estudo para proteções solares .................................................. 61

    4.1.5. Avaliação de iluminação natural ................................................... 66

    4.1.6. – Avaliação de conforto térmico. ................................................... 68

    4.1.7. – Avaliação preliminar em relação ao método. ............................. 69

    4.2 INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES ENTRE AS DISCIPLINAS .............................. 72

    5. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………74

    REFERÊNCIAS…………………………………………………………………... 77

    ANEXOS Pranchas BID………………..…….……………………………………84

  • 9

    1. INTRODUÇÃO

    O cenário atual da Arquitetura no Brasil demonstra um grande crescimento

    desta área e uma valorização enorme no desenvolvimento de projetos para a

    construção civil. De acordo com o Anuário de Arquitetura e Urbanismo 2018,

    elaborado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil CAU/BR, no último

    ano, foi constatado que a Arquitetura conseguiu retomar o seu crescimento. Foram

    realizadas 1,4 milhão de atividades, entre elas, a atividade de Execução de Obras foi

    uma das que mais cresceu, sendo registradas 6% mais atividades que o que foi

    realizado em 2016.

    Outrossim, segundo os dados do IBGE, a construção civil é um dos setores

    econômicos mais relevantes do país, contribuindo com até 6,5% de participação no

    PIB (IBGE) e 8,5% dos empregos (IBGE). Segundo o mesmo instituto, é responsável

    também por grandes impactos ambientais, como a geração de resíduos sólidos,

    consumo de recursos naturais e emissão de gases do efeito estufa. Ainda é comum

    a adoção de técnicas e processos manuais que geram grande quantidade de

    resíduos (160 kg/m², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),

    intenso retrabalho, queda na produtividade e consequente perda de competitividade.

    Dessa forma, além de ter que atender a grande demanda gerada pelo

    crescimento do setor, a arquitetura e construção civil enfrentam o desafio da busca

    de novas práticas visando o desenvolvimento sustentável. Conforme publicado por

    Gerson Castanho, em seu artigo Inovação e sustentabilidade na construção civil!

    (AECWEB, 2018), o segmento da construção civil é um dos que mais geram impacto

    ambiental, com isso a ideia da inovação aliada à sustentabilidade é um processo

    urgente e irreversível. Conclui-se que, com a aplicação de práticas inovadoras, a

    melhoria do produto, a qualificação profissional, a redução de custos, o aumento de

    resultados e a maior satisfação dos clientes são significativos.

    Apesar dessa inovação, a adoção de novas práticas e processos

    modernos traz uma certa complexidade aos projetos e exige novos procedimentos

    que viabilizem uma gestão integrada e um trabalho compartilhado entre os

    profissionais envolvidos nestes projetos. Para que se consiga uma diminuição

  • 10

    desses problemas é necessário melhorar a comunicação entre especialistas, assim

    como o compartilhamento de informação (SANTOS; FERREIRA, 2008).

    Diante da dessa situação atual, surgem, como possíveis soluções, novas

    tecnologias capazes de trazer ganhos em todas as etapas do ciclo de vida de um

    empreendimento. O presente trabalho tem como hipótese que a utilização da

    Plataforma BIM é uma solução que, por meio de inovações, traz vários benefícios

    para a coordenação dos processos e para o gerenciamento das informações no

    desenvolvimento de projetos sustentáveis.

    Nesse sentido, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica

    pesquisando-se sobre o histórico e os conceitos de sustentabilidade e suas

    aplicações no desenvolvimento de projetos sustentáveis; assim como temas

    relativos aos conceitos, características e funcionalidades da Plataforma BIM e sua

    utilização no mercado nacional e internacional. Posteriormente foi realizada uma

    pesquisa junto aos profissionais de arquitetura no Brasil com a finalidade de se

    identificar um Empreendimento defendido como energeticamente eficiente que

    tivesse sido projetado, desenvolvido e executado utilizando-se das propriedades,

    princípios e funcionalidades da Plataforma BIM e os conceitos de projetos

    sustentáveis. A partir daí, foi selecionado o Edifício do Banco Internacional de

    Desenvolvimento – BID, localizado na cidade de Manaus-AM, que atendeu os

    requisitos desejados para a realização da pesquisa em tela. Por fim, para se cumprir

    o que foi proposto no presente trabalho, será demonstrado que o uso da Plataforma

    BIM auxilia os profissionais envolvidos, clientes e investidores na tomada de

    decisões desde a criação do projeto até a execução e gestão do edifício com o

    cunho da sustentabilidade.

    Esta dissertação contém a introdução, que descreve os problemas e questões

    a serem tratados no cenário atual da arquitetura - da aplicação de uma tecnologia

    como hipótese de solução para esses problemas; os objetivos e a metodologia

    empregada na realização dessa pesquisa, e possui mais três capítulos.

    O Capítulo 1 apresenta os históricos e conceitos da sustentabilidade, discorre

    sobre a Arquitetura Sustentável e seus projetos, a utilização da Plataforma BIM no

    desenvolvimento sustentáveis e descreve o sistema de certificação ambiental para

    edificações.

  • 11

    O Capítulo 2 trata da pesquisa bibliográfica sobre histórico, conceitos,

    fundamentos, constituição e exemplos da Plataforma BIM, enquanto o Capítulo 3

    apresenta o estudo de projeto energeticamente eficiente desenvolvido com a

    utilização da Plataforma BIM, o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, que

    seguiu as diretrizes da Etiqueta PBE Edifica e o selo AQUA.

    Por fim são apresentadas as considerações finais sobre a pesquisa realizada,

    assim como as principais conclusões alcançadas.

  • 12

    2. SUSTENTABILIDADE

    2.1 HISTÓRICO E CONCEITOS

    Em sua longa peregrinação pelo planeta, o homem, que apenas compunha o

    equilíbrio ecológico e os elementos da natureza, com o seu modo de vida focado

    apenas em sua subsistência, não representava perigo algum para o ambiente que

    vivia, e a natureza facilmente recompunha as áreas por ele utilizadas. Com o passar

    do tempo, porém, ele tornou-se mais organizado, adquirindo uma maior capacidade

    de pensar, e alterar o meio no qual vivia. Passou a construir agrupamentos cujas

    necessidades deviam ser supridas, e então, surgiram aldeias, vilas, cidades e com

    elas a necessidade crescente de consumir e alterar o meio ao seu redor. E assim,

    pouco a pouco, o equilíbrio ambiental cedeu seu lugar ao quadro de desarmonia que

    encontramos hoje.

    Até o início dos anos 1960, a sociedade em geral ainda não se preocupava

    diretamente com a sustentabilidade, surgindo apenas ações isoladas que não se

    convertiam em respostas efetivas. A partir daquela década começam a surgir, por

    parte da população, ações envolvendo questões de sustentabilidade levando a

    algumas mudanças favoráveis. Simultaneamente a comunidade internacional

    começou a se movimentar e discutir sobre essa realidade de desequilíbrio,

    intensificando as discussões sobre a sustentabilidade até a década seguinte,

    culminando com a conferência sobre o meio ambiente em Estocolmo no ano de

    1972, que tratou do direito das gerações futuras e atual em usufruir criteriosamente

    os recursos naturais visando evitar sua extinção, e onde foram discutidas as ações

    dos países ricos com relação ao consumo desregulado e dos países pobres com

    relação ao seu crescimento populacional, dentro da realidade ambiental.

    Sachs (1986) publica, na década de 1980, uma importante obra sobre o tema

    considerando a sustentabilidade um conceito dinâmico que apresenta cinco

    dimensões:

    - Sustentabilidade social — maior equidade na distribuição de renda e bens;

    - Sustentabilidade econômica — redução dos abismos norte/sul, por meio de um

    fluxo permanente de investimentos públicos e privados;

  • 13

    - Sustentabilidade ecológica — qualidade do meio ambiente e preservação das

    fontes de recursos energéticos e naturais;

    -Sustentabilidade espacial — melhor distribuição territorial dos assentamentos

    humanos;

    - Sustentabilidade cultural — evitar conflitos culturais.

    Naquele momento, falava-se muito em sustentabilidade, mas as pessoas

    relacionavam esta palavra apenas à emissão de gases nocivos à atmosfera,

    acreditando que este fosse o único problema para a qualidade de vida da população.

    Ocorre que esta percepção é equivocada, apesar de este ser um dos principais

    problemas. Na realidade existe uma questão mais abrangente que é o

    desenvolvimento sem nenhuma consciência por parte do homem, que não respeita

    os limites e está apenas preocupado com suas necessidades, ambições e metas,

    criando impactos negativos para o meio ambiente.

    Promover o desenvolvimento sustentável passou a ser uma grande

    preocupação e importante fonte de discussões em todo o mundo. É importante

    destacar que desenvolvimento sustentável não se restringe apenas a uma ação,

    como reduzir as emissões de gases. O termo desenvolvimento sustentável abrange

    um conceito mais amplo, determinando requisitos de utilização dos recursos

    existentes visando atender as necessidades das pessoas. Segundo Brundtland

    (1987) este termo surgiu no relatório da Organização das Nações Unidas que definiu

    o desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que "satisfaz as

    necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras

    satisfazerem as suas próprias necessidades".

    O Relatório de Brundtland1, enumera uma série de medidas que devem ser

    adotadas pelos países visando promover o desenvolvimento sustentável, entre elas

    pode-se citar o estabelecimento de limites para o crescimento populacional; a

    garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; a

    preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; a redução do consumo de

    energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas

    renováveis; o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com

    1 Também conhecida como World Commission on Environment Development (WCED) em menção à

    Gro Harlen Brundtland, coordenadora dos trabalhos e então primeira ministra da Noruega. Esta comissão elaborou o documento denominado “Our Common Future”, o qual tem servido de guia para a teoria e prática do desenvolvimento sustentável).

  • 14

    base em tecnologias ecologicamente adaptadas; o controle da urbanização

    desordenada e integração entre campo e cidades menores; o atendimento das

    necessidades básicas (saúde, escola, moradia).

    No início dos anos 1990, em 1994, John Elkington criou o termo “triple botton

    line”, que seria a definição da sustentabilidade em três esferas, a sustentabilidade

    ambiental, econômica e social (LIBRELOTTO, 2005), ou seja, o desenvolvimento

    sustentável deve considerar a sustentabilidade ambiental, econômica e sociopolítica.

    Ressaltando que a questão ambiental engloba tudo que nos cerca (água, ar, solo,

    florestas e oceanos). Portanto, as sustentabilidades econômica e sociopolítica só

    fazem sentido se a sustentabilidade ambiental for alcançada.

    Nessa mesma década aconteceu a Conferência das Nações Unidas para o

    Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada de Rio-92 ou

    Eco-92. Considerada uma das principais e maiores conferências sobre questões

    ambientais, pretendia promover o conceito do desenvolvimento sustentável. A Rio

    92 contou com a presença maciça de Chefes de Estado, fator que atribuiu muita

    importância a essa reunião.

    Como resultado da Rio-92, tem-se o documento da Agenda 21, com 2500

    recomendações de estratégias de conservação do ambiente e metas de exploração

    sustentável dos recursos naturais que não impeçam o desenvolvimento de nenhum

    país. Esse documento tem como vertente principal a viabilização da formação de um

    plano de ação e um planejamento participativo global, nacional e local, que

    possibilite o início de um ciclo de desenvolvimento satisfatório e equilibrado.

    Em 1997, na Conferência de Kyoto, foi assinado o Protocolo de Kyoto, um

    tratado internacional que tinha como objetivo fazer como que os países

    industrializados se comprometessem a reduzir a emissão de gás carbônico em 5%

    até 2012. Este protocolo também pretendia reformar os setores de energia e

    transportes, promover o uso de fontes energéticas renováveis, entre outras metas.

    Apesar dos diversos conceitos, a busca por uma concretização prática do

    desenvolvimento tem sido demonstrada por vários documentos, propostas,

    declarações e metas elaborados por diferentes países.

    Diante desse cenário, em 2005, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento

    Social definiu três principais áreas que influenciam diretamente o desenvolvimento

    sustentável. Ficou estabelecido que são sobre essas áreas que se deve pautar as

    soluções para os principais desafios que vem surgindo atualmente.

  • 15

    O Desenvolvimento Econômico, pode ser considerado a área com maior

    número de desafios, uma vez que se refere a incentivar as organizações a se

    envolver com as questões sustentáveis, se enquadrar em suas exigências legais e

    ainda fazer com que a sociedade em geral faça a sua parte, reduzindo o consumo

    desordenado de recursos. O desenvolvimento econômico será plenamente

    alcançado quando se puder satisfazer as necessidades e desejos da população sem

    reduzir a qualidade de vida ou aumentar os custos.

    Outra área considerada como um dos pilares da sustentabilidade é o

    Desenvolvimento Social, a qual possui inúmeras questões. É imprescindível que

    aconteça a conscientização das pessoas com relação à legislação contra atividades

    negativas para o meio ambiente por parte das organizações, com intuito de garantir

    a saúde e bem-estar das pessoas. Além disso é importante oferecer acesso a

    recursos básicos sem comprometer a qualidade de vida, focando na construção de

    casas mais sustentáveis com a utilização de materiais menos nocivos. Outra

    questão seria a educação, incentivando as pessoas a se envolverem com a

    sustentabilidade ambiental, e orientando sobre os perigos de não agir de forma

    sustentável.

    A terceira área pilar é a ambiental, e pode ser considerada a principal

    preocupação para se alcançar os objetivos de um desenvolvimento sustentável. A

    Proteção ambiental deve definir como proteger os ecossistemas e os recursos

    disponíveis, assim como estudar os fatores que prejudicam o meio ambiente.

    É muito importante reconhecer também que a tecnologia é a responsável

    para promover avanços para o futuro e o desenvolvimento dessa tecnologia é

    imprescindível para a sustentabilidade. Aliado a isso deve haver uma mudança de

    paradigma, tanto social quanto econômico, no sentido de preservar o meio ambiente

    contra potenciais danos que poderão ocorrer.

    A conservação do meio ambiente deve fazer parte da política de

    desenvolvimento do país, mas é importante destacar que ela não pode ser

    responsabilidade de apenas um grupo, ou segmento da sociedade. O meio ambiente

    deve ser uma preocupação de todos. Toda a sociedade deve estar constantemente

    preocupada com os perigos das atitudes mais corriqueiras que são tomadas junto ao

    meio ambiente. A implementação de uma mentalidade sustentável consiste em atos

    e ações simples, como quando se vai a um supermercado, no uso racional de água

  • 16

    nas residências, a manipulação adequada do lixo e projetos arquitetônicos

    eficientes.

    Ao se aplicar o conceito de desenvolvimento sustentável à construção,

    constata-se que é necessário se utilizar de sistemas ou ferramentas que possibilitam

    analisar e avaliar a alteração, aproveitamento e consumo de recursos naturais de

    todos os processos de construção que intervêm no ciclo de vida de uma

    determinada construção (obras de edificação, obras civis e infraestruturas, …).

    Observa-se que, no caso de construção de edifícios, existe uma capacidade

    significativa de se alterar o ambiente natural, sendo extremamente importante

    realizar o controle de todos os processos de desenvolvimento para que eles causem

    o menor impacto ao meio ambiente, buscando uma maior conscientização por parte

    da sociedade com relação a utilização dos recursos disponíveis (ZIGURAT, 2015).

    Diante do acima exposto, constata-se que o desenvolvimento sustentável

    passa por várias questões, sendo que sempre se deve alinhar para a preservação

    do meio ambiente. Ocorre que, mesmo com as diversas advertências de grupos

    ambientalistas, a população mundial só começou a tomar consciência do real

    problema com as graves alterações climáticas que vem ocorrendo no mundo.

    Dentro deste contexto, a implantação da sustentabilidade na construção civil

    está se tornando uma necessidade imediata e é um passo importante. Na maioria

    dos casos, esta implantação é iniciada pelo arquiteto responsável pela criação do

    projeto. Em razão da sua formação acadêmica, o arquiteto tem como premissa um

    olhar global sobre as diversas atividades que envolvem a construção de uma

    edificação (ASBEA, 2012).

    2.2 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL

    É de conhecimento geral que a Construção Civil é uma área de grande

    importância na economia brasileira, sendo responsável pela geração de inúmeros

    empregos. Em contrapartida, ela é também responsável pelo elevado consumo de

    recursos naturais, enorme geração de resíduos e desperdícios diversos, causando

    um imensurável impacto ambiental negativo.

    Segundo Lamchipadi et al. (2012) a construção civil utiliza até 60% dos

    materiais brutos extraídos da terra. Ressaltando ainda que grande parte das

  • 17

    atividades realizadas na construção geram resíduos, em decorrência do seu

    tamanho e da ineficiência de alguns de seus processos, sendo que, estes resíduos

    equivalem a 40% de todo o resíduo sólido gerado no mundo, de acordo com Wong e

    Zhou (2015). Além disso, segundo Graf et al. (2012), os edifícios gastam mais de

    50% da energia consumida em países mais desenvolvidos.

    Dessa forma, constata-se a necessidade prática de construções mais

    preocupadas com o meio ambiente, levando os profissionais da área de Arquitetura,

    Engenharia e Construção a considerarem o impacto ambiental das edificações

    projetadas.

    Por este motivo, a Construção Civil está sempre envolvida nas discussões

    sobre desenvolvimento sustentável, principalmente, no que diz respeito a diminuição

    desses impactos negativos gerados por esta atividade.

    Dentro da indústria da Construção Civil, a Arquitetura é uma disciplina que

    está sempre interessada em trazer soluções inteligentes e práticas visando atender

    as necessidades dos clientes, investidores, usuários e da sociedade em geral. No

    âmbito da engenharia, Arquitetura e Construção a definição de “sustentabilidade”

    nem sempre foi prioridade na elaboração dos projetos e construções, porém, devido

    a essas questões ambientais, sociais e econômicas, nos dias atuais, este conceito

    vem sendo utilizado com grande destaque como referencial de projetos.

    O trabalho do arquiteto é fundamental para um projeto sustentável, é baseado

    nele que as premissas da sustentabilidade são implementadas. É evidente que a

    complexidade das soluções adotadas para os projetos sustentáveis aumentou nos

    últimos anos, mas, esses projetos ainda devem seguir as premissas do tripé da

    sustentabilidade ambiental, social e econômica (ASBEA, 2012).

    A arquitetura que desenvolve empreendimentos dentro do conceito de

    sustentabilidade está comprometida, inicialmente, em projetar espaços saudáveis,

    confortáveis, economicamente viáveis e sensíveis às necessidades sociais. Ao

    aplicar as premissas da sustentabilidade no ato de projetar é necessário que se

    extrapole o edifício a ser construído. Neste conceito deve-se realizar estudos sobre

    o entorno, o bairro e a cidade.

    Segundo o Guia de Sustentabilidade na Arquitetura (ASBEA, 2012) o

    desenvolvimento de um projeto dentro do conceito de arquitetura sustentável deve

    seguir diretrizes de projeto que englobam aspectos urbanos, paisagem e mobilidade;

    acessibilidade e desenho universal; segurança; uso de materiais renováveis; destino

  • 18

    correto dos resíduos; águas e efluentes; energia (eficiência energética); conforto

    térmico, visual, acústico e olfativo; salubridade; operação e manutenção e o ciclo de

    vida do edifício.

    Resta claro que, para se desenvolver projetos inteiramente sustentáveis, que

    atendam a todos os requisitos e diretrizes necessários, são exigidas análises e

    processos. O Desenho Bidimensional Assistido por Computador (CAD – 2D),

    ferramenta tradicional e amplamente utilizada pelos profissionais da área,

    geralmente não é capaz de executar nas etapas iniciais do projetos estas análises,

    pois demandam uma grande quantidade de informação que não estão disponíveis

    nesta tecnologia.

    Segundo Azhar et al. (2011, p. 217-224):

    “isto traz ineficiência ao processo, pois leva a utilização de métodos de tentativa e erro na projeção do desempenho ambiental e causam retrabalho devido a necessidade de alterações posteriores para se alcançar os requisitos de eficiência.”

    A construção de edificações sustentáveis exige a implementação de novas

    técnicas e ferramentas para a análise dos edifícios, avaliando a edificação como um

    todo e buscando uma visão melhor sobre o seu desempenho geral; a utilização de

    novos materiais e soluções técnicas modernas; a integração de novos agentes e de

    incorporadores, projetistas e construtoras; o desenvolvimento de competências e

    disseminação do conhecimento sobre construção sustentável por profissionais

    envolvidos; determinação de novos processos, tais como certificação ambiental e

    controle da qualidade (PAULA; UECHI; MELHADO, 2013).

    Os agentes envolvidos devem ter competência para tomar decisões corretas

    em seus projetos, com a colaboração de todos os interessados. E é dentro deste

    cenário que a Modelagem da Informação da Construção (BIM) entra como opção,

    uma vez que, segundo Azhar et al. (2011), proporciona que informações de diversas

    disciplinas sejam compartilhadas num modelo único, promovendo a incorporação de

    ações sustentáveis durante todo o processo de realização do projeto.

  • 19

    2.3. PROJETO DE EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS

    Como já foi descrito no presente documento, a Sustentabilidade tem um

    conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos,

    sociais, culturais e ambientais da sociedade humana.

    O diálogo e a preocupação sobre sustentabilidade e construções verdes

    ganharam força no início da década de 90 com a criação do Comitê do Meio

    Ambiente (COTE) e a Formação do Conselho de Construção Verde dos EUA

    (USGBC), uma organização sem fins lucrativos, formada em 1993, que surgiu com a

    intenção de definir e promover práticas de construção sustentável. Surge assim uma

    grande melhoria da forma como as construções são pensadas, ao invés de se falar

    apenas em verde e utilizar materiais recicláveis, fala-se na sustentabilidade que

    abrange todo o ciclo de vida do produto. Considera-se a extração de matéria-prima,

    localização, clima, processo de fabricação, durabilidade, reaproveitamento, levando-

    se em conta uma maior variedade de impactos do que apenas aqueles que

    sobrecarregam o ambiente natural. A melhor definição sobre Designer Sustentável

    seria a da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também

    conhecida como a Comissão Brundtland em 1987.

    Na prática atual, muitos modelos digitais de construção não contêm

    informações suficientes para a construção de análise e avaliação de desempenho.

    Como acontece com os modelos e desenhos físicos tradicionais, avaliando o

    desempenho do edifício com base na representação gráfica das soluções

    convencionais, o qual requer uma grande intervenção humana e interpretação, o que

    torna as análises muito dispendiosas e demorada. Por outro lado, o modelo digital

    de construção paramétrico Revit representa um edifício como um banco de dados

    integrado de informação coordenada. Este modelo também representa graficamente

    o design e um protótipo virtual. Assim grande parte dos dados necessários para

    apoiar o design sustentável é capturado naturalmente à medida que o projeto se

    desenvolve.

    É possível utilizar-se diversos termos ou definições para identificar um edifício

    sustentável entre os diferentes critérios existentes para essa definição, destaca-se

    os

  • 20

    seguintes: edifícios eficientes, eco construções, edifícios verdes, edifícios low

    carbon, edifícios ecológicos e edifícios bioclimáticos. O cumprimento dos critérios

    que definem cada tipo de edifício não implica que se trata de um edifício sustentável,

    mas pode ser interpretado, em maior ou menor grau, como edifícios que contribuem

    para o desenvolvimento sustentável (ZIGURAT, 2015).

    No processo de desenvolvimento é de fundamental importância que se

    consiga minimizar o consumo de recursos, maximizar a reutilização dos recursos,

    proteger o ambiente natural, criar um ambiente saudável e não tóxico, utilizar

    recursos renováveis e recicláveis, fomentar a qualidade ao criar o ambiente

    construído; e para que possamos usufruir de tais benefícios é preciso que a

    sociedade no geral se adéque a esse novo cenário, com a utilização da tecnologia

    BIM, desde o cliente ao empreiteiro. Cada um deve perceber todos os benefícios

    advindo desse processo, e que além de um avanço na sustentabilidade, o BIM traz

    consigo benefícios em várias outras áreas. É sabido, contudo, que um dos desafios

    que será apresentado durante esse processo será conseguir com que os

    profissionais envolvidos tenham facilidade no acesso à tecnologia a ser utilizada,

    assim como o devido conhecimento das ferramentas necessárias.

    Tendo em vista que os edifícios são projetados para pessoas, e essas

    pessoas estão tentando realizar uma tarefa - seja criando uma família, trabalhando

    em um escritório ou produzindo um produto, o prédio precisa manter as pessoas

    confortáveis, eficientes, saudáveis e seguras à medida que definem suas tarefas.

    O design sustentável busca criar edifícios que mantenham as pessoas

    confortáveis, minimizando os impactos ambientais negativos. A título de exemplo

    cita-se o conforto térmico de um edifício. Manter o conforto térmico de uma pessoa

    significa garantir que eles não sintam muito calor ou muito frio. Isso significa manter

    a temperatura, umidade, fluxo de ar e fontes radiantes dentro de um alcance

    aceitável.

    Criar condições confortáveis é um dos maiores usos da energia em edifícios,

    e também é crítico para a felicidade e a produtividade de seus usuários. Muitas

    vezes, fatores como fluxo de ar e temperatura radiante são ignorados em um

    projeto, levando a um maior consumo de energia e a insatisfação de ocupação. Para

    manter as pessoas à vontade, termicamente é necessário fornecer um equilíbrio de

    temperatura, umidade, temperatura radiante e velocidade do ar.

  • 21

    Algumas maneiras de manter as pessoas confortáveis são usar o calor do sol

    para aquecê-los, usar ventiladores de vento ou de teto para mover o ar quando está

    muito quente e manter as superfícies envolventes a temperatura correta com um

    bom isolamento. Os equipamentos HVAC, como caldeiras, ventiladores e trocadores

    de calor podem temperar a temperatura e a umidade do ar, mas as temperaturas da

    superfície e o ar em movimento devem ser considerados também. Os edifícios usam

    energia, materiais, água e terra para criar o ambiente certo para seus ocupantes.

    Todos esses recursos custam dinheiro - e todos têm um impacto ambiental. O uso

    de materiais mais sustentáveis, o uso de menos material e o uso de materiais nas

    construções corretas podem melhorar os impactos ambientais da construção de

    edifícios, vida e fim de vida.

    A análise de energia de construção leva em consideração as

    interdependências do edifício como um sistema inteiro, por isso é uma maneira

    particularmente útil se "manter a pontuação" à medida que se trabalha para reduzir o

    uso de energia no edifício. Outros estudos de desempenho, como iluminação natural

    e radiação solar, podem ajudar a melhorar os aspectos do projeto. Estes estudos

    são mais eficazes quando realizados em conjunto com a análise de energética.

    Um objetivo cada vez mais popular para a construção ecológica é alcançar o

    fator Nearly Zero Energy Buildings - NZEB 2(Energia Zero Fonte Líquida) – quando o

    prédio é eficiente em energia e gera energia suficiente no local para igualar suas

    necessidades energéticas. Os edifícios de energia zero são altamente eficientes em

    termos de energia que usarão, ao longo de um ano, tecnologias renováveis para

    produzir a energia que consomem da rede.

    A chave para a concepção de edifícios de energia líquida zero é, em primeiro

    lugar, reduzir a demanda de energia tanto quanto possível e depois escolher boas

    fontes de energia. Um exemplo seria: Reduzir as cargas de energia, otimizar o

    design para estratégias passivas, otimizar o design de sistemas ativos, recuperar

    energia, gerar energia no local, comprar compensações de energia.

    O processo de construção foi refinado ao longo de milhares de anos. Embora

    o processo de cada projeto seja ligeiramente diferente, os projetos geralmente

    2 Prédios quase sem energia (NZEBs) têm desempenho energético muito alto. A baixa quantidade de

    energia que esses edifícios exigem vem principalmente de fontes renováveis. < https://ec.europa.eu/energy/en/topics/energy-efficiency/buildings/nearly-zero-energy-buildings>

  • 22

    progridem ao longo de fases estabelecidas. É importante conhecer o tipo certo e o

    nível de informação necessário em cada fase para adicionar o maior valor. No setor

    de construção, o processo de design é descrito pelas fases de pré-design, design

    conceitual, desenvolvimento de design e design final. O processo do ciclo de vida do

    edifício é descrito pelas fases de projeto, construção e operação de construção. É

    importante que se realize uma análise do local que inclua minimamente a

    investigação de radiação solar, padrões de vento, presença e condição das

    estruturas existentes, inventando a vegetação existente e documentando quaisquer

    desafios acústicos que existam.

    Ações importantes que devem ser analisadas nestes estudos são: Investigar

    quais estratégias de design sustentável seriam aplicáveis tanto à localização

    geográfica como à zona climática do projeto. Fazer uso da ferramenta de clima e a

    paleta 20303. Estabelecer tabelas de medição que devem ser utilizadas ao longo da

    duração do projeto para confirmar que os objetivos de projeto sustentável estão

    sendo contabilizados.

    As ferramentas de modelação paramétrica tridimensional passaram a

    incorporar motores de cálculo que permitem executar simulações energéticas

    preliminares, assim a equipe de arquitetura, tem uma intervenção direta e de forma

    integrada no workflows das análises energéticas, enquanto o método CAD

    geralmente impossibilita análises energéticas nas fases iniciais do projeto, estas,

    tipicamente são realizadas depois dos projetos de arquitetura estarem prontos o que

    resulta numa ineficácia no processo de alteração com consequências econômicas.

    2.4 ETIQUETAGEM E CERTIFICAÇÃO

    Os sistemas de certificação ambiental para edificações, utilizados por muitos

    países ao redor do mundo com o intuito de simplificar o processo de avaliação de

    impactos, avaliam o consumo energético, eficiência hídrica, uso de materiais, entre

    outros, “além disso, o uso de ferramentas de simulação computacional de

    desempenho ambiental, nas várias fases do projeto, tem tido um papel crucial de

    3 A paleta 2030 é uma plataforma on-line gratuita que coloca os princípios e as ações por trás de

    ambientes construídos com carbono neutro e resiliente ao alcance de projetistas, planejadores, construtores e formuladores de políticas em todo o mundo. < http://2030palette.org/>

  • 23

    acentuar as vantagens de soluções verdadeiramente integradas entre arquitetura e

    engenharia” (GONÇALVES; BODE, 2015, p. 237)

    Esses sistemas de certificação têm como finalidade promover as práticas de

    construções sustentáveis; estabelecer padrões e criar estratégias para mensurar a

    eficiência de uma edificação; atestar a responsabilidade dos empreendedores com

    relação à sustentabilidade através de critérios objetivos pré-determinados e

    evidenciar o atendimento a requisitos de desempenho estabelecidos em normas e

    regulamentos técnicos.

    Atualmente o Brasil se destaca na utilização de certificações verdes sendo

    que as principais são: Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), Alta

    Qualidade Ambiental (AQUA) e Leadership in Energy and Environmental Design

    (LEED)

    2.4.1. Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – ENCE

    No Brasil, a Eletrobras desenvolveu um selo energético para edificações

    dentro do programa Procel Edifica – Eficiência Energética em Edificações (PROCEL,

    2011). Esse programa é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, em parceria

    com o LABEEE (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações).

    A Instrução Normativa nº 02 de 04 de junho de 2014, publicada no Diário

    Oficial da União, torna obrigatória a Etiquetagem para todos os prédios construídos

    ou adaptados com recursos públicos federais, com área construída maior que

    500m².

    Para se obter esse selo, as edificações que pretendem ser enquadradas

    como energeticamente eficientes devem atender os requisitos descritos nos

    seguintes documentos:

    - RTQ-C: Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de eficiência

    energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos;

    - RTQ-R: Regulamento Técnico da Qualidade para o nível de eficiência

    energética em edificações residenciais;

    - RAC-C: Regulamento de Avaliação da Conformidade do nível de eficiência

    energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos;

    - RAC-R: Regulamento de Avaliação da Conformidade do nível de eficiência

    energética de edificações residenciais.

  • 24

    Os tópicos abaixo relacionados também são abordados em Guias Procel

    Edifica, fornecidos pela Eletrobrás. Estes guias em conjunto com os regulamentos

    supracitados, orientam o desenvolvimento de projetos de edificações de alto

    desempenho com enfoque em acústica arquitetônica; clima urbano; desempenho

    térmico; equipamentos; ventilação natural; sustentabilidade.

    Gonçalves e Bode (2015) afirmam que essas referências servem de base na

    utilização das ferramentas de simulação que auxiliam na tomada de decisões

    durante a fase de projeto de edificações mais sustentáveis.

    Os regulamentos acima relacionados determinam que a classificação de

    edifícios se dá através da análise da eficiência de três sistemas: envoltória,

    iluminação e condicionamento de ar. As exigências são avaliadas por um laboratório

    de inspeção designado ou pelo Inmetro. A Certificação das edificações acontece

    tanto na fase de projeto, quanto após a construção do edifício – avaliação in loco.

    Para se obter a certificação é necessário contratar um Organismo de Inspeção

    Acreditado pelo Inmetro (OIA). O valor cobrado por esses organismos para realizar

    esse trabalho varia de acordo com a área construída.

    O PBE Edifica pretende informar o nível de eficiência energética das

    edificações; reduzir o consumo de energia; aprimorar o conforto térmico; incentivar

    inovações tecnológicas eficientes; garantir edificação energeticamente mais

    eficiente.

    2.4.2. AQUA – Alta Qualidade Ambiental

    O processo AQUA, criado em abril de 2008, é uma certificação internacional

    da construção sustentável desenvolvida a partir da certificação francesa Démarche

    HQE (Haute Qualité Environnmentale ou Alta Qualidade Ambiental) e aplicada no

    Brasil exclusivamente pela Fundação Vanzolini.

    Para obtenção do certificado é necessário o controle total do projeto,

    atendendo 14 critérios para edifícios. São eles:

    Eco construção:

    - Relação com o entorno;

    - Escolha integrada de produtos, processos e sistemas construtivos;

    - Canteiro de obras com baixo impacto ambiental

  • 25

    Eco gestão:

    - Da energia;

    - Da água;

    - De resíduos de uso e de operação;

    - Manutenção com permanência do desempenho ambiental

    Conforto:

    - Térmico;

    - Acústico;

    - Visual;

    - Olfativo

    Saúde:

    - Qualidade sanitária dos ambientes;

    - Qualidade sanitária do ar;

    - Qualidade sanitária da água

    2.4.3. LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) – E.U.A

    O United States Green Building Council (USGBC) foi criado com o intuito de

    promover e fomentar práticas de construção sustentável. Uma vez que era preciso

    viabilizar a ideia para a indústria, de maneira que tais práticas se tornassem

    palpáveis e, acima de tudo mensuráveis, foi necessária a criação de um sistema.

    Assim foi introduzida a classificação LEED (Leadership in Energy and Environmental

    Design ou Liderança em Energia e Design Ambiental), como forma de estabelecer

    estratégias e padrões para criar edifícios sustentáveis. Busca-se definir “edifícios

    verdes” através do estabelecimento de um padrão comum, promover práticas de

    projeto e de construção integrativas, estimular a concorrência verde, sensibilizar

    consumidores para os benefícios de uma construção sustentável, reconhecer a

    liderança ambiental na indústria da construção, propagar a visão sobre o

    desempenho de um edifício ao longo do ciclo de vida, transformar o mercado da

    construção.

    O LEED foi desenvolvido nos Estados Unidos pela USGBC em 1993. É uma

    organização não governamental com reconhecimento internacional com foco na

  • 26

    sustentabilidade de edifícios, empreendimentos imobiliários e planejamento urbano.

    Sua primeira versão é de janeiro de 1999, desde então o LEED, vem atualizando-se,

    sendo que a última versão foi implantada em junho de 2013 (GBCBRASIL, 2010).

    O LEED orienta e testa o comprometimento de uma edificação com os

    princípios da sustentabilidade para construção civil antes, durante e depois de suas

    obras.

    No Brasil, a organização que coordena e valida o LEED, é o GBC Brasil,

    criada em 2007, com sede na cidade de São Paulo. Para certificar o selo LEED a

    documentação é encaminhada ao GBC Brasil, na plataforma LEED Online, referente

    ao seu tipo de empreendimento, de acordo com as categorias:

    LEED-CS - Projetos da envoltória e parte central do edifício;

    LEED-NC - Novas construções, novos e grandes projetos de

    renovação;

    LEED-CI – Edifícios comerciais e projetos de interiores;

    LEED-Schools – projetos de escolas;

    LEED Healthcare – unidades de saúde;

    LEED EB_OM – operação e manutenção de edifícios existentes;

    LEED for Homes – para residências;

    LEED-Retail NC e CI – para lojas de varejo;

    LEED-NB – Para desenvolvimento de bairros.

    A edificação encaminhada para certificação passa pelo processo de

    avaliação. O método de avaliação se dá pela somatória de pontos atribuídos em

    atendimentos dos requisitos. Os requisitos, num total de sete são os seguintes:

    Espaço Sustentável;

    Uso Racional da Água;

    Energia e Atmosfera;

    Materiais e Recursos;

    Qualidade Ambiental Interna;

    Inovação e Processo do Projeto;

    Crédito Regionais.

    O empreendimento para ser avaliado tem que atender a pré-requisitos

    obrigatórios. Sem a obtenção de oito pré-requisitos os empreendimentos não podem

  • 27

    dar prosseguimento na certificação. Os pontos são distribuídos de forma desigual

    entre as categorias.

    A pontuação máxima é de 110 pontos, sendo que, para receber a certificação

    LEED, além dos pré-requisitos obrigatórios, é necessário obter pontuação superior a

    40 pontos. A pontuação é que define os quatro tipos de níveis de selo a ser

    conquistado:

    Selo LEED – superior a 40 pontos

    Selo LEED Silver – superior a 50 pontos

    Selo LEED Gold – superior a 60 pontos

    Selo LEED Platinum – superior a 80 pontos.

    2.5 O USO DO BIM EM PROJETOS SUSTENTÁVEIS

    A otimização do tempo nos trabalhos coorporativos executados por pessoas

    de múltiplas disciplinas, de vários lugares do mundo, utilizando tecnologias

    avançadas, visando a plena satisfação e conforto dos usuários, com custos baixos e

    sem impactos ambientais, tem sido a grande busca do mercado mundial e todo meio

    científico. Dentro deste contexto mundial é de grande relevância a realização de

    estudos elaborados com a utilização de uma tecnologia moderna, no presente caso

    a plataforma BIM, para se alcançar a interoperabilidade na realização de um projeto

    inteiramente sustentável e eficiente, de forma ágil.

    Desenvolver projetos sustentáveis exige a integração entre os profissionais

    envolvidos. A tecnologia BIM permite que todos os agentes possam trabalhar em um

    único modelo virtual. A implantação desta tecnologia promove a gestão integrada, o

    controle e verificação das diretrizes e dos requisitos de sustentabilidade.

    Utilizar a tecnologia BIM como facilitador no processo de produção de

    edificações mais sustentáveis, principalmente nas etapas iniciais de projeto, traz

    como uma das principais vantagens a obtenção de análises precisas em

    conformidade com as características de cada objeto, o que auxilia na tomada

    decisões complexas em qualquer das disciplinas envolvidas.

    No núcleo do BIM a informação é armazenada no modelo. Todos esses

    dados são armazenados e referenciados em um banco de dados que é parte

  • 28

    integrante do modelo. O BIM usa um modelo central que pode ser estendido para

    múltiplos propósitos, incluindo análise de desempenho. As informações neste

    modelo podem ser: a geometria do projeto (formas, layout), as propriedades físicas

    dos materiais (construções de paredes, propriedades térmicas, propriedades

    visuais), o tipo de espaços no prédio. Outras entradas que podem ser parte do

    modelo incluem a localização dos arquivos de construção e clima, que contêm

    informações detalhadas sobre características ambientais como a temperatura, o

    caminho do sol e padrões de vento. Usando essa informação, os mecanismos de

    análise podem executar simulações em coisas como dimensionamento de HVAC,

    uso de energia, uso de água, sombreamento e níveis de iluminação. Pode-se então

    tomar melhores decisões, analisando e documentando o desempenho esperado do

    projeto em elaboração.

    A utilização de modelos matemáticos de fenômenos do mundo real, como o

    BPA (Building Performance Analysis) e o BIM podem auxiliar na previsão do

    desempenho e do custo de um projeto de construção durante o processo de design.

    Uma das promessas emocionantes do BIM é que ele fornece aos usuários a

    capacidade de analisar o desempenho do edifício no início do projeto, quando as

    mudanças no design podem ser mais fáceis, menos dispendiosas e mais

    impactantes. Com o BIM, é possível construir um modelo e visualizar esse modelo

    de várias maneiras diferentes (planos de piso, elevações, horários), porque as

    partes do modelo sabem onde estão localizadas em relação uma à outra e como

    elas se parecem na seção. Uma mudança na definição de um objeto irá propagar

    essa alteração em todas as visualizações desse objeto no modelo.

    O uso de BIM no desenvolvimento de projetos sustentáveis promove a

    otimização do uso de energia, água, solo e materiais; e o monitoramento,

    acompanhamento e melhoramento do desempenho através de modelos inteligentes

    tridimensionais. Outra vantagem é a antecipação de problemas, ineficiências e erros

    muitas vezes percebidos apenas no canteiro de obras, que pode gerar a redução

    nos custos da construção e no gasto de materiais, havendo ganho na qualidade das

    obras e economia de recursos, favorecendo a sustentabilidade das edificações

    (CARVALHO; SCHEER, 2015; LIU; MENG; TAM, 2015).

    Justi (2008) também destaca como vantagens a maior rapidez na entrega do

    projeto, custos menores, aumento na produtividade por causa da utilização de um

  • 29

    único modelo, maior qualidade e, por tudo isso, mais oportunidades de negócios,

    assim como menor retrabalho.

    Segundo Dowsett e Harty (2013), Azhar, Farooqui e Brown (2009) e Marinho

    (2014), a tecnologia BIM oferece as informações necessárias ao projeto sustentável

    disponíveis de forma rotineira, como um subproduto do processo existente.

    Todos os modelos gerados no BIM são aproximações da realidade.

    Compreender como fazer o modelo de construção e aproximar este modelo da

    realidade física pode contribuir para a criação de uma edificação com maior

    desempenho.

    A utilização da Tecnologia BIM no desenvolvimento de projetos sustentáveis

    deve ser encarada como uma possibilidade de integrar os diversos profissionais da

    AEC, com o intuito de facilitar o compartilhamento de informações entre eles através

    de técnicas e ferramentas específicas para este fim, promovendo, desta forma, uma

    descentralização na tomada de decisões, uma vez que cada um dos agentes

    envolvidos pode atuar na sua área.

    As ferramentas de análise e simulações de desempenho, presentes nos

    softwares que trabalham com a tecnologia BIM podem trazer uma melhora

    significativa na concepção da instalação e no consumo de energia durante o ciclo de

    vida da edificação.

    O importante é que essa tecnologia se torne uma ferramenta de utilização

    rotineira dos profissionais da AEC visando disseminar, entre todos os envolvidos,

    inclusive para o pequeno construtor, seus conceitos e funcionalidades, tornando-a

    mais democrática. O BIM poderá ser aplicado a todo tipo de edificação, mesmo que

    algumas delas não sejam avaliadas e certificadas, a facilitação da realização de

    projetos e obras mais sustentáveis já contribuirá com a diminuição dos impactos

    ambientais gerados pela construção dos empreendimentos.

  • 30

    3. A PLATAFORMA BIM - “BUILDING INFORMATION MODELING”

    3.1 HISTÓRICO E CONCEITOS SOBRE BIM

    Há alguns anos os projetos, mesmo os mais complexos, eram executados

    baseando-se em técnicas que proporcionavam a correta realização dos trabalhos,

    porém eram pouco aprimoradas. Projetava-se sem um planejamento específico,

    utilizando-se do conhecimento prático dos agentes da construção civil. Os desenhos,

    feitos nas pranchetas, em escalas reduzidas, demandavam muito tempo, exigiam

    dos profissionais grande habilidade e experiência, e eram os instrumentos utilizados

    como representação do conceito que deveria ser executado, o que gerava maiores

    dificuldades para a comunicação entre os envolvidos e menor agilidade na detecção

    de problemas na execução.

    Com o passar do tempo, começou-se a utilizar computadores para este

    processo e então as pranchetas foram trocadas pelos softwares CAD (desenho

    assistido por computador) que ofereceram avanços e vantagens para os projetos

    das edificações, porém ainda havia grande probabilidade de se incorrer em erros na

    execução dos projetos, causados principalmente, pela dificuldade na troca de

    informações entre os entes envolvidos no desenvolvimento do empreendimento.

    Os conceitos da plataforma BIM - “Building Information Modeling”, assim

    como suas funcionalidades e significados são vistos atualmente, principalmente no

    Brasil, como uma novidade para a área de Arquitetura, Engenharia e

    Construção Civil (AEC), porém sua origem foi detectada no começo da década

    de 1970 (EASTMAN et al., 2008) .

    O primeiro registro dos conceitos utilizados na tecnologia conhecida

    atualmente como BIM foi o modelo “Building Description System”, publicado nos

    anos de 1970 por Charles Eastman, e que já apresentava a possibilidade

    de atualização dos desenhos após alterações no objeto modelado, a criação

    de vistas com definições variadas e o acesso a quantitativos precisos de um

    modelo tridimensional único com base em informações constantes em um banco de

    dados.

    Nessa mesma década, em países tecnologicamente mais desenvolvidos no

    setor da construção civil, surge a necessidade de se melhorar a tomada de

  • 31

    decisões, na medida em que aumenta o volume das informações disponíveis e a

    exigência do mercado com relação a novas disciplinas como, por

    exemplo, segurança e sustentabilidade, entre outros (CAMPESTRINI, 2015).

    Em meados dos anos 1980 esses conceitos passam a ser empregados em

    conformidade com o que é utilizado atualmente e eram conhecidos, nos Estados

    Unidos, como “Building Products Models”.

    Ao se iniciar a década de 1990, passou-se a utilizar softwares que

    disponibilizavam a elaboração de projetos em três dimensões, mas somente com o

    emprego de objetos vetoriais, sem a utilização de informações relacionadas ao

    projeto. Nessa época, os softwares de modelagem passaram a oferecer novas

    funcionalidades, tais como, a possibilidade de se ter uma maior quantidade de

    informações geradas no processo da modelagem. O desenvolvimento

    de tecnologias que oferecem a integração de todas essas informações passou a

    ser indispensável ao se projetar uma edificação única, para que todos

    os setores envolvidos possam trabalhar de forma articulada durante o processo

    (EASTMAN; TEICHOLZ; SACKS, 2011) .

    Segundo Eastman (2011) o BIM seria “um modelo digital que representa um

    produto, que, por sua vez, seria o resultado do fluxo de informações do

    desenvolvimento do seu projeto”, ou seja, as informações ou parâmetros criados no

    desenvolvimento do projeto deveriam representar o produto e como ele seria

    executado na realidade (CBIC, 2017).

    Com a chegada dos anos 2000, essas características, abordagens e

    conceitos de modelagem passaram a ser conhecidas como BIM, e a terminologia

    “Building Information Modeling”, passou a ser adotada entre os profissionais da já

    mencionada área AEC.

    Jernigan (2008) afirma que a sigla BIM foi popularizada a partir de 2002, e

    envolve os conceitos de planejamento, projeto, construção, e gestão do mundo

    construído, utilizando software em sistemas de hardware compatíveis.

    Essa terminologia conhecida nos dias atuais deriva das características e dos

    próprios conceitos que englobam todo o processo de desenvolvimento utilizado

    nessa plataforma. Ao retirar o termo Models e utilizar o termo Modeling pretendeu-se

    demonstrar a integração dinâmica entre todas as fases do desenvolvimento

    do projeto, a ação de projetar, construir e gerenciar todo o processo, englobando as

    etapas do ciclo das edificações (EASTMAN; TEICHOLZ; SACKS, 2011).

  • 32

    Esta metodologia fomenta uma interoperabilidade entre as variadas

    disciplinas participantes no processo e suas diferentes ferramentas, alcançando-se,

    com ela, uma integração de todos os produtos gerados no projeto, nas várias etapas

    do seu desenvolvimento, e promovendo a qualidade do produto final.

    O termo Information, por sua vez, demonstra a característica mais expressiva

    da tecnologia em estudo, que é a ligação existente entre o modelo e as informações,

    que mostram efetivamente as várias propriedades dimensionais e materiais que

    compõem o objeto modelado. Utilizando-se da parametrização dos objetos, atualiza-

    se automaticamente os modelos e o banco de dados do projeto através da variação

    dos parâmetros e regras definidas e alteradas pelo usuário. “Esta característica pode

    ser considerada o divisor de águas entre os softwares de desenvolvimento

    de projetos CAD e os da plataforma BIM”. (EASTMAN; TEICHOLZ; SACKS, 2011).

    Com base nos fundamentos acima descritos, é possível definir o BIM como

    uma metodologia que gerencia todo o ciclo de vida de um empreendimento a partir

    da combinação de um conjunto de políticas, processos e tecnologias, utilizando-se

    de plataformas digitais. O BIM possibilita a modelagem, o armazenamento e o

    compartilhamento de informações a respeito de uma edificação, através da

    utilização de novos softwares ou ferramentas dotadas de funcionalidades

    específicas que oferecem maior eficácia e eficiência do desenvolvimento do projeto.

    Resta claro que o BIM é uma tecnologia que vai além de simples modelagem,

    representando um novo paradigma para o enriquecimento do desenvolvimento de

    um projeto, agregando novas funcionalidades que auxiliam a completa integração de

    todas as etapas do processo, promovendo o sincronismo entre os agentes e

    disciplinas envolvidos, gerando um produto final com maior eficiência e qualidade.

    Esta plataforma não é um produto, ela pode ser definida como um processo de

    desenvolvimento de projetos que prevê a elaboração de um modelo virtual, fiel à

    edificação, ou seja, um protótipo virtual, que contenha a totalidade das

    informações sobre esse produto, desde características dos materiais empregados,

    técnicas construtivas, características termoacústicas, manutenção, entre outras

    informações relevantes. Enfim, é uma tecnologia baseada em softwares de banco de

    dados que permitem processar uma grande quantidade e variedade de informações

    para auxiliar na comunicação e na tomada de decisões dos especialistas que

    trabalham no projeto, além de permitir uma apresentação de resultados mais

    eficiente através de uma visualização amigável, em 3D.

  • 33

    A partir das definições e características elencadas nos parágrafos acima

    pode-se ressaltar a existência de três pilares na conceituação da Plataforma BIM:

    Modelagem paramétrica, Interoperabilidade e Gestão da Informação.

    3.2. MODELAGEM ORIENTADA A OBJETOS

    A modelagem orientada a objetos utiliza o desenvolvimento de um modelo

    onde cada objeto é definido individualmente pelos seus detalhes e, esses objetos

    são organizados e classificados de acordo com a similaridade ao comportamento e

    característica sendo definidos atributos fixos e variáveis aos objetos. Os atributos

    são informações relativas às diversas características destes objetos. Os atributos

    fixos são definidos a partir de propriedades como forma, custo, utilidade, entre

    outras; os atributos variáveis são estabelecidos a partir de parâmetros e regras de

    forma que os objetos possam ser automaticamente ajustados de acordo coma as

    alterações do projeto efetuadas pelo usuário (EASTMAN et al., 2011). O grau de

    precisão da modelagem paramétrica será determinado pela variedade e a

    qualidade das regras e parâmetros estabelecidos (RUSCHEL et al., 2010).

    “Em um desenho 3D de CAD tradicional cada aspecto do elemento deve ser editado manualmente e, no projeto criado num modelador paramétrico, a geometria se ajusta automaticamente dependendo do contexto e com alto grau de controle do usuário”. (EASTMAN; SACKS, 2011).

    A diminuição dos erros de desenho e a facilidade nas modificações de projeto

    são apontadas como maiores benefícios da utilização do BIM. A título de exemplo, é

    possível citar os desenhos gerados instantaneamente a partir da geometria

    modelada, tais como as plantas, cortes e elevações, e que podem ser modificados a

    partir da alteração das regras paramétricas.

    Ocorre que, Jernigan (2008) afirma que o BIM não é perfeito, uma vez que

    essa inserção de informações pelo usuário pode acarretar a ocorrência de erros, e

    quanto maior a necessidade dessa interferência humana, maior a possibilidade de

    inconsistências. O mesmo autor relata a importância de minimizar a entrada dos

  • 34

    dados para que se consiga capturar o conhecimento com rapidez e reduzir os erros

    na inserção das informações.

    A modelagem orientada a objetos permite também que cada objeto, insumo e

    material sejam dimensionados e quantificados de forma automática pelo próprio

    software. Essa característica, além de tornar o trabalho dos orçamentistas mais ágil,

    possibilitará a obtenção de estimativas de custo mais próximas à realidade e com

    menor margem de erros, reduzindo prejuízos e aumentando o lucro do projeto.

    Ruschel et al. (2010) afirma que, na modelagem orientada a objetos, os

    profissionais envolvidos inserem suas informações através de objetos além de

    inserir regras para a ordenação das informações. As regras definem o

    comportamento dos objetos, possibilitando que, ao se modificar alguma informação,

    o usuário, tenha consciência do problema e que, a partir disso, conjuntos lógicos

    sejam gerados. Estes conjuntos lógicos representam as prováveis soluções dos

    problemas do projeto.

    Segundo Eastman et al. (2011) para um objeto ser paramétrico ele deve

    satisfazer algumas condições tais como ser constituído por dados e regras

    associados; não deve possuir inconsistências; seus parâmetros e seus componentes

    devem ser definidos em diferentes níveis; não pode ser definido ou alterado fora das

    especificações e requisitos de tamanho, fabricação ou qualquer outra regra proposta

    e deve ter a capacidade de conectar, receber e exportar um conjunto de atributos,

    tais como componentes estruturais, dados sobre acústica e energia, para outras

    aplicações e modelos.

    3.3 O PROCESSO COLABORATIVO E A INTEROPERABILIDADE

    O desenvolvimento do projeto de um empreendimento é uma atividade

    extremamente complexa não só pelas suas peculiaridades e dimensão, mas

    também pela diversidade de disciplinas e áreas direta e indiretamente envolvidas na

    execução do projeto. Este processo refere-se a um único modelo, que é o produto a

    ser desenvolvido, sendo trabalhado por vários profissionais ao mesmo tempo,

    executando atividade complementares, gerando partes que comporão o

    empreendimento. Diante dessa realidade constata-se a necessidade

    de integração entre esses profissionais participantes do processo.

  • 35

    A comunicação e a colaboração entre as diversas áreas envolvidas no

    planejamento, projeto e execução do empreendimento devem ser valorizadas e

    incentivadas para que o produto final apresente os resultados esperados, dentro dos

    prazos definidos e com custos baixos.

    A Plataforma BIM possibilita o desenvolvimento de um processo colaborativo,

    integrado e com compartilhamento do conhecimento. É muito importante analisar e

    definir a participação de cada profissional no processo de desenvolvimento, uma vez

    que o empreendimento deve ser executado com uma atuação multidisciplinar, onde

    os envolvidos tenham uma visão geral do modelo.

    De acordo com Andrade & Ruschel (2009), a plataforma BIM, enquanto

    processo de trabalho, envolve, sobretudo, a comunicação e a colaboração entre

    diferentes profissionais e empresas ligadas à área de Arquitetura, Engenharia e

    Construção (AEC); e um dos desafios mais relevantes no desenvolvimento de

    sistemas que utilizam a plataforma BIM é o pouco entendimento destes profissionais

    da AEC dessa tecnologia.

    A partir do momento em que os participantes conseguem compartilhar

    informações de forma eficaz, é possível desenvolver o projeto em uma única

    plataforma, o que acarretará a diminuição das omissões e de erros decorrentes da

    interpretação incorreta da informação, otimizando a construção do modelo à medida

    que se alimenta o banco de dados.

    “As ferramentas da plataforma BIM possibilitam a utilização de toda a informação em um modelo único e, atualmente, já surgem funcionalidades que promovem a unificação de vários projetos, e a verificação da compatibilidade de modelos, apontando inconsistências no projeto global”. (RUSCHEL et al., 2009)

    Várias atividades são trabalhadas simultaneamente no planejamento e

    diversas tarefes são executadas paralelamente na elaboração do projeto. Em

    decorrência desse volume de trabalho é gerada uma enorme quantidade de

    informações, sendo de extrema importância que estas informações sejam

    acessíveis e de fácil compreensão para toda a equipe participante do

    desenvolvimento, para isto é necessária uma tecnologia que ofereça a confiabilidade

    e rapidez requerida, trabalhando estas informações com segurança.

    Uma demanda muito relevante para o gerenciamento de projeto colaborativo

    é a melhoria nessa comunicação entre as áreas envolvidas no processo, o que

  • 36

    permite o compartilhamento da informação de forma organizada. A plataforma BIM

    oferece soluções que possibilitam a disponibilização dessas informações aos

    profissionais do projeto do empreendimento de forma adequada e confiável. Para

    Wong & Fan (2013), é importante destacar o que se entende por uma forma

    adequada de compartilhar as informações do projeto, cada equipe ou área terá

    acesso às informações necessárias ao desenvolvimento do seu trabalho,

    diminuindo a perda de dados e impossibilitando acessos a elementos não relevantes

    àquela área e tornando todo esse conjunto de informações altamente confiáveis.

    Por tudo o que foi exposto, constata-se que o processo colaborativo,

    característica que pode facilmente ser implementada em uma ferramenta que utiliza

    a plataforma BIM, se mostra essencial nos projetos desenvolvidos atualmente, ainda

    mais porque algumas equipes que participam das atividades da construção de

    um empreendimento nem sempre estão próximas umas das outras.

    Para que a plataforma BIM atenda esta demanda descrita no presente item e

    promova o trabalho em colaboração com a perfeição desejada é necessário que

    haja a Interoperabilidade.

    Segundo o Institute of Electrical and Electronics Engineers (I-E triplo)

    interoperabilidade é definida como "a capacidade de dois ou mais sistemas ou

    componentes trocarem informações e usarem as informações que foram trocadas.”,

    ou seja, para que a informação seja compartilhada corretamente entre os

    participantes é imprescindível a atuação da interoperabilidade dos sistemas

    utilizados. De acordo com Eastman et al. (2011), a interoperabilidade pode ser

    entendida como uma funcionalidade de identificar os dados necessários para serem

    passados entre os aplicativos.

    Andrade e Ruschel (2009) afirmam que é com a interoperabilidade que os

    profissionais de todas as disciplinas envolvidas no processo conseguem acessar e

    atualizar os dados do modelo único conforme o seu projeto específico, contribuindo

    para o empreendimento global, de forma ágil e colaborativa. Sabe-se que cada

    profissional em sua área trabalha com diferentes tipos de ferramentas, e os dados

    gerados devem ser compartilhados, ou seja, é necessário que as ferramentas

    identifiquem o tipo de arquivo gerado por outros programas, isto é alcançado com a

    interoperabilidade que elimina o retrabalho de replicar dados de projeto que já

    tenham sido gerados e facilita, de forma automatizada e sem obstáculos, o fluxo de

    trabalho entre diferentes aplicativos, durante o processo de projeto.

  • 37

    O que ocorre é que a troca de dados, ou de modelos, entre os

    diferentes softwares utilizados atualmente, continua sendo um dos maiores desafios

    da área de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) para alcançar a colaboração

    totalmente integrada entre equipes de projetos. Existem inúmeros esforços para o

    estabelecimento de padrões, protocolos e boas práticas em toda a área de AEC.

    “A maioria das tarefas executadas pelos profissionais da AEC nos aplicativos

    BIM se limita àquelas disponibilizadas internamente nos softwares utilizados, sendo

    pouco comum o uso de arquivo visando à interoperabilidade.” (KIVINIEMI et al.,

    2008).

    Uma das soluções criadas para a identificação e a troca dos dados e

    informações gerados pelos especialistas do projeto foi a utilização de um padrão

    neutro, com formato aberto e comum a todos os softwares, o IFC4. Ele é

    um protocolo de padrão internacional, certificado pela ISO (16739:2013), criado

    especificamente para esta troca de arquivos entre ferramentas que utilizam a

    plataforma BIM, evitando a perda de inúmeras informações, assim como facilitando

    a incorporação dos dados dos especialistas ao modelo principal para viabilizar a

    interoperabilidade e o trabalho colaborativo.

    As especificações IFC foram desenvolvidas e estão em contínua evolução e

    manutenção. De acordo com Khemlani (2004), o IFC foi criado utilizando uma

    linguagem de modelagem de dados que é legível por máquinas e possui múltiplas

    implementações, é um formato de arquivo orientado a objetos 3D, aberto, público e

    padronizado, que pretende abranger cada aspecto do projeto dentro da área de

    AEC.

    “O IFC permite o compartilhamento de geometria, topologia, elementos estruturais, espaços, terreno, estrutura, sistemas, móveis, tempo, restrições, análise, pessoas, planos de trabalho, custos, dados externos, relacionamentos entre essas coisas e mais” (JERNINGAN, 2008).

    A utilização do formato IFC promove uma melhora na comunicação,

    incrementa a produtividade, diminui o prazo de entrega do projeto e agrega

    4 O Industry Foudation Classes (IFC) é um padrão de protocolo internacional de trocas de dados. Um modelo de dados baseado em objetos, não proprietário. (ANDRADE; RUSCHEL, 2009).

  • 38

    qualidade a todas as etapas do desenvolvimento do projeto de uma edificação;

    além de preservar as informações trocadas entre os participantes do processo. O

    modelo IFC representa não apenas elementos de construção, tais como paredes,

    janelas, portas, e outros, mas também elementos mais conceituais, tais como

    organização, horários, custos da obra, entre outros. É essa grande variedade de

    representações que possibilita a integração de diversas disciplinas da construção.

    Ocorre que, segundo Kiviniemi et al.(2008), apenas um terço dos arquitetos

    que usam o BIM empregam arquivos no formato IFC. Para Jerningan (2017) o IFC é

    atualmente um ambiente de desenvolvimento complicado e muitos especialistas

    acham que as dificuldades superam os benefícios.

    A partir dos estudos da bibliografia selecionada a autora considera que o

    desafio para a aplicação do modelo IFC, além de intensificar sua utilização entre os

    profissionais da AEC, tem sido conseguir aliar a dinâmica do trabalho por

    módulos com a estrutura rígida do modelo para assegurar a consistência dos dados

    após a integração dos diversos módulos.

    3.4 A COMPATIBILIZAÇÃO E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO

    Os projetos de Arquitetura, Engenharia e Construção Civil (AEC) que utilizam

    a tecnologia tradicional, bidimensional, são desenvolvidos, nos dias atuais, de forma

    fragmentada e segregada, apresentando diversos projetos complementares

    realizados individualmente pelos vários especialistas que, geralmente, não se

    comunicam entre si na elaboração do seu trabalho específico.

    As atividades ligadas à área AEC envolvem uma variedade de profissionais,

    trabalhando com um enorme volume de dados e informações; e contribuindo com

    opiniões, produtos, conhecimentos e habilidades específicos. No decorrer

    do processo, essas informações devem ser compartilhadas, interpretadas,

    transformadas, corretamente utilizadas e bem preservadas, para que ocorra a

    completa integração e correta definição de cada etapa do projeto e desenvolvimento

    da edificação.

    Diante de toda essa complexidade de atividades e diversidade de agentes é

    necessário padronizar todos os tipos de dados, o que significa convertê-los para a

    linguagem que pode ser devidamente compreendida na tarefa que está sendo

  • 39

    executada. Entretanto, essa conversão pode gerar erros ou até

    mesmo perdas, pois o processo de compatibilização da diversidade de dados não é

    simples. Uma dificuldade é apresentada quando diferentes ações realizadas em um

    mesmo modelo utilizam informações inconsistentes ou até mesmo dicotômicas,

    gerando atrasos e custos maiores da obra. Por tudo o que foi exposto,

    é imprescindível possuir um instrumento eficiente e correto de troca de informações

    entre os agentes participantes do processo de construção da edificação, ou seja, um

    banco de dados que gerencie com menor possibilidade de erros todas as

    informações do modelo.

    O modelo BIM pode ser considerado com