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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
JULIANA NICOLAU FERRARA
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO: produção científica na Revista Psicologia Ciência e Profissão (2000 – 2004).
São Paulo
2006
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA
JULIANA NICOLAU FERRARA
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO: produção científica na Revista Psicologia Ciência e Profissão (2000 – 2004).
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade São Judas Tadeu como um dos requisitos para obtenção do grau de psicólogo. Área de concentração – Psicologia Escolar.
Orientadora: Dra. Carla Witter
São Paulo
2006
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA
JULIANA NICOLAU FERRARA
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO: produção científica na Revista Psicologia Ciência e Profissão (2000 – 2004).
Banca Examinadora
São Paulo, 06 de Novembro de 2006.
__________________________________
Dra. Alacir Villa Valle Cruces
__________________________________
Ms. Luís Antônio Gomes Lima
__________________________________
Orientadora: Dra. Carla Witter
São Paulo
2006
iv
FERRARA, J. N. 2006. FORMAÇÃO E ATUAÇÃO: produção científica na Revista Psicologia Ciência e Profissão (2000 – 2004). Trabalho de conclusão de curso (Formação de Psicólogo). Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, 2006: vii + 36 pgs.
RESUMO Este trabalho de conclusão de curso trata da análise da produção científica na revista do
Conselho Federal de Psicologia “Psicologia Ciência e Profissão” no período de 2000 a 2004.
O estudo da produção científica permite a análise do estado da arte de qualquer área do
conhecimento. O pesquisador quando finaliza esse tipo de pesquisa, oferece para o meio
científico sugestões de novos estudos, evitando repetições e assim contribuindo para a
evolução da ciência. Sendo assim, unir produção científica ao tema formação e atuação do
psicólogo é relevante, pois ajuda a entender o que a classe tem discutido, as falhas e
conquistas da área. Os objetivos desse estudo foram: levantar a quantidade de artigos sobre
formação e atuação; classificar as pesquisas quanto ao delineamento e tratamento dos dados,
quando estas eram pesquisas e, por fim, criar e analisar as categorias temáticas. Para a
fidedignidade da pesquisa, participaram dois juízes. A metodologia foi fundamentada na
análise de conteúdo. Dos resultados, obteve-se um total de 200 artigos, sendo que 55 eram
sobre formação e atuação, ou seja, 28% da publicação total. Desses, a maior parte dos
trabalhos concentram-se no tipo de trabalho teórico representando 68%, em seguida 25% dos
trabalhos são as pesquisas de levantamento e 11% são os relatos de experiência. Com relação
aos resultados obtidos nas categorias criadas pela autora, encontram-se mais discussões sobre
atuação do que formação. A categoria que mais teve artigos classificados foi a de Atuação
Clínica (18%) e em segundo lugar a de Atuação em Saúde (16%). Por outro lado, as
categorias que obtiveram menor freqüência de artigos foram as de Formação: Especialização
e Curricular com 2%. Com os resultados obtidos pode-se concluir que ainda há uma
preferência dos profissionais em atuar na área clínica; que a área da saúde é bastante
discutida, pois esta seria uma “ramificação” da atuação clínica. Quanto ao delineamento dos
artigos, a concentração dos trabalhos teóricos traz uma reflexão sobre o perfil dos
pesquisadores. Conclui-se também que existe uma demanda da sociedade para a atuação do
psicólogo, mas há dificuldades de inserção para os profissionais recém formados em áreas
diferentes das tradicionais. Enquanto a discussão ficar mais focada na atuação deixando de
rever as questões da formação, será mais difícil compreender que a psicologia pode estar em
qualquer lugar, seja em consultórios, seja em equipes multidisciplinares.
Palavras-Chave: Metaciência, Psicologia, História.
v
FERRARA, J. N. 2006. FORMATION AND ATUACTION: cientific production in Journal Psicologia Ciência e Profissão (2000 – 2004). Paper of course conclusion (Psychology Graduation). College of Human and Social Sciences, São Judas Tadeu University. São Paulo, 2006: vii + 36 pgs.
ABSTRACT This course conclusion paper deals with the analysis of the scientific production in the journal
of the Federal Council of Psychology “Psychology Science and Profession” in the period of
2000 to 2004. The study of the scientific production allows the analysis of the state of the art
of any area of the knowledge. The researcher, when finishes this type of research, offers for
the scientific community suggestions to new studies preventing thus, repetitions and
contributing for the evolution of science. In that way, joining scientific production to the
subject formation and actuation of the psychologist is relevant, because it helps to understand
what the colleagues had argued, the imperfections and achievements of the area. The
objectives of this study had been: to survey the amount of articles on formation and actuation;
to classify the research into the delineation and treatment of the data when these were research
and, finally, to create and to analyze the thematic categories. For the validation of the
research, two judges had participated. The methodology was based on the analysis of the
content. From the results, in a total of 200 articles, was gotten that 55 were on formation and
actuation, that is, 28% of the total publication. Of these, most of the studies are concentrated
in the type of theoretical research, representing 68%, after that 25% of the papers are the
survey research and 11% are the experience stories. With regard to the results gotten in the
categories created by the author, more quarrels meet on actuation of what formation. The
category that had most classified articles was Clinical Actuation (18%) and in second
Actuation in Health (16%). On the other hand, the categories that gotten minor article
frequency had been Formation: Curricular Specialization with 2%. With the results it can be
concluded that still it has a preference of the professionals in acting in the clinical area; that
the area of the health is sufficiently argued because this would be a “ramification” of the
clinical actuation. About the delineation of articles, the concentration of the theoretical studies
brings a reflection on the profile of the researchers. It is also concluded that a demand of the
society for the actuation of the psychologist exists, but there are difficulties of insertion for
the professionals just formed in different areas than traditional. While the quarrels keep
focused in the actuation omitting to review the quarrels of the formation, will be more
difficult to understand that psychology can be in any place, either in consultation rooms,
either in multidisciplinary teams.
Key-Word:Methascience,Psychology,History.
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................... IV
ABSTRACT.................................................................................................................v
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................9
INTRODUÇÃO .........................................................................................................12
Psicologia e Produção Científica.......................................................................................................... 12
Breve Histórico da Psicologia Brasileira e Formação e Atuação do Psicólogo ................................ 15
OBJETIVOS..............................................................................................................25
MÉTODO ..................................................................................................................26
Juízes ...................................................................................................................................................... 26
Material.................................................................................................................................................. 26
Procedimento......................................................................................................................................... 27
RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................32
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................37
REFERÊNCIAS.........................................................................................................39
9
APRESENTAÇÃO
O tema desta pesquisa surgiu a partir de dois trabalhos de iniciação científica
realizados na graduação pela autora: um relacionado à formação e atuação do psicólogo, e o
outro, à produção científica e envelhecimento. Após a conclusão destes estudos, outra
inquietação surgiu: como está a discussão sobre formação e atuação do psicólogo nos
periódicos científicos? E, a partir desta questão, foram levantadas e analisadas as publicações
da revista do Conselho Federal de Psicologia (CFP): Psicologia, Ciência e Profissão.
Portanto, este trabalho de conclusão de curso trata da análise de produção científica
focando os temas formação e atuação do psicólogo compreendido entre o período de 2000 a
2004.
Para realização deste estudo foi necessário pesquisar sobre produção científica,
história da Psicologia no Brasil e sobre a formação e atuação do psicólogo, conteúdos que
embasaram teoricamente este estudo.
Este trabalho permitiu que a autora aprofundasse seu conhecimento sobre o
surgimento, desenvolvimento e tendências da psicologia no Brasil, possibilitando a ampliação
do seu saber em relação à formação e atuação do psicólogo nas diversas áreas de atuação
profissional. Portanto, contribuiu para a sua formação e aprofundou seu conhecimento no que
se refere ao processo metodológico de trabalhos sobre produção científica.
O tema formação e atuação do psicólogo sempre esteve em constante discussão, seja
em congressos da própria área de psicologia e saúde, seja em publicações de pesquisas em
livros como, por exemplo, os do Conselho Federal de Psicologia (CFP 1989, 1992, 1994), de
pesquisadores do tema (Witter G. 1997 e Witter, C., 1999) ou ainda, nas aulas de graduação.
Enfim, em todas as ramificações e áreas da psicologia o tema é presente. Isso porque
formação e atuação implicam em reflexões sobre a prática profissional e os serviços
10
psicológicos prestados para a sociedade, assim como sobre a própria identidade profissional.
Unir produção científica ao tema, significa verificar o que foi produzido.
Os estudos em produção científica são relevantes, pois permitem reunir os dados
divulgados no meio científico, podendo assim contribuir para o desenvolvimento da área,
evitando repetições de pesquisas e gerando novas inquietações. Oliveira explica claramente a
idéia exposta:
refletir sobre o conhecimento em uma determinada área e enfocar o
estado da pesquisa sobre um determinado tema permitem não apenas
dimensionar esta área, mas analisar o estado da arte, apontar para
algumas tendências e propor parâmetros de comparação com outros
ramos do saber científico (apud Pacheco, 1999: 9).
A realização de trabalhos científicos na graduação e na pós-graduação sobre uma
mesma temática, ou melhor, dentro de uma linha de pesquisa pré-definida intensifica a
articulação entre estes dois níveis de ensino superior, bem como fortalece a base do
conhecimento científico que é ensinado na graduação, possibilitando o amadurecimento e
desenvolvimento científico crítico do estudante de Psicologia (Witter, C. 1996).
Logo, o presente estudo justifica-se cientificamente pelo fato de contribuir com o
conhecimento científico na área da psicologia, pois ao fazer um trabalho de produção
científica ao longo dos anos de 2000 a 2004, foi possível levantar uma série de fatores e
variáveis importantes sobre o tema pesquisado.
O trabalho foi composto por uma Introdução que apresenta conceitos básicos de
Produção Científica, na qual, também são discutidas questões sobre trabalhos em diferentes
áreas do conhecimento. A seguir, um breve histórico da psicologia, tratando questões de como
e quando a mesma apareceu no Brasil. Além disso, um pequeno panorama das questões
11
importantes sobre a formação e atuação do psicólogo também é abordado. No final, são
apresentados os objetivos: geral e específicos.
Na seqüência é descrito o Método no qual é esmiuçado o percurso metodológico
utilizado na pesquisa, sendo composto por Juizes, Material e Procedimento. Nos Resultados e
Discussão são apresentados e discutidos os artigos levantados e analisados sobre formação e
atuação do psicólogo. Nas Considerações Finais são apresentadas as conclusões principais e
sugestões sobre a temática estudada.
E por fim, consta o pós-texto convencional: referências.
12
INTRODUÇÃO Psicologia e Produção Científica
Os estudos sobre produção científica revelam a produção e divulgação de temas
pesquisados em determinada área do saber, permitindo uma avaliação do estado da arte desse
conhecimento, ou seja, quais os temas que estão ou estiveram sendo discutidos no meio
científico em um determinado período de tempo. Quando se faz um levantamento de algum
assunto da área a ser pesquisada, o estudioso está colaborando para o avanço da ciência, pois
com a análise da produção científica, pode-se fornecer dados de como o assunto em pauta está
sendo pesquisado em diversos aspectos (Witter, C. 1996).
Witter, C. (1996: 15) explica claramente o que isso significa, sendo esses tipos de
trabalhos bastante relevantes, pois,
oferecem com seus resultados, uma possibilidade de análise do
chamado estado da arte, do nível de desenvolvimento do setor, ou área
ou tema estudado. Viabilizam comparações no tempo, entre áreas de
uma mesma ciência e mesmo entre ciências, recorrendo-se a
metanálises avaliativas e comparativas.
Ainda de acordo com Witter, C. (1996), a produção científica é um processo onde há
uma relação entre produtor, produto e consumidores. Sendo o produtor aquele que faz a
ciência, o estudo e oferece um produto de seu trabalho divulgando-o para os chamados
consumidores, que vão usufruir do estudo realizado. O produtor não é necessariamente um
indivíduo, podendo ser um grupo, uma instituição, uma comunidade e assim por diante e
também o produto pode ser um artigo, um livro, uma patente etc.
13
Na graduação, pode-se exemplificar esse processo por meio da identificação de seus
autores, por exemplo, os professores-pesquisadores são produtores de conhecimento, assim
como os alunos quando escrevem relatórios de pesquisa para as disciplinas que assim exigem
e, principalmente, quando para finalizar o curso é necessária a realização de um Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC). Logo, os TCCs, os relatórios, os artigos, os resumos publicados
em eventos científicos são os produtos que, também, são consumidos pelo próprio corpo
discente e docente, além da comunidade acadêmica e da sociedade em geral.
São diversas as áreas do saber que se utilizam da produção científica o que comprova,
mais uma vez, a importância desse tipo de trabalho. Por exemplo, Moura (1997:12) fez um
trabalho sobre produção científica que teve como objetivo “identificar a produção científica
gerada pelos pesquisadores do ITA em São José dos Campos com o fim de verificar os tipos
de documentos e a língua em que foram gerados”. Seus resultados revelam que no período de
1991 a 1995 o ITA gerou 1299 documentos distribuídos entre artigos de periódicos, eventos
científicos, livros, publicação interna, tese de doutorado, dissertação de mestrado e trabalhos
de graduação. O autor apresentou três conclusões que aqui serão descritas de forma sucinta:
que o ITA gera uma produção especializada; o meio de divulgação mais utilizado são as
comunicações por meio dos eventos científicos e que a produção é predominantemente da
língua portuguesa.
Outro exemplo é o trabalho de Lourenço, 1997, sobre a automação de bibliotecas. A
autora fez um levantamento sobre a publicação de automação de bibliotecas no período de
1986 a 1994. Os resultados mostraram que a produção científica produzida sobre o assunto é
escassa e que o mesmo poderia ser mais pesquisado pela área da ciência de informações.
O estudo sobre produção científica assim como toda ciência foi se desenvolvendo no
decorrer das décadas e segundo Witter, C. (1996), na década de 70 os trabalhos tinham um
caráter mais sistemático passando na década de 80 e 90 para uma análise cientométrica, ou
14
seja, uma análise com cálculos e estatísticas mais precisas e refinadas. O mesmo ocorreu com
os delineamentos dos estudos que foram aprofundados, sendo utilizados os testes não
paramétricos que permitem o cruzamento de diversas variáveis, como por exemplo: qüi-
quadrado, ANOVA e MANOVA.
Na área da Psicologia diversos temas têm sido estudados, como o estudo de Nakano
(2005) que levantou a produção científica sobre criatividade na base de dados da CAPES no
período de 1996 a 2001. A autora levantou e analisou 94 trabalhos, com o objetivo de
verificar o ano de maior produção com o tema da criatividade. Concluiu que a área está em
crescimento e que a maior concentração está nos trabalhos de mestrado. A autora analisou
também o desempenho de cada universidade que estava no banco de dados da CAPES,
concluindo que há uma superioridade das universidades publicas com relação à produção das
universidades particulares.
A pesquisa de Witter, Bassit, Tiscar, Ferrara e Negrão (2006) investigou a produção
científica sobre envelhecimento em nove periódicos na área da Psicologia, Educação e Saúde
Coletiva, no período de 1999 a 2003. Concluiu-se que de um total de 1944 artigos apenas 52
eram sobre envelhecimento, com prevalência na área da saúde, sendo esta a que mais
publicou artigos sobre o tema. Na área da psicologia foram analisadas cinco revistas e poucos
artigos foram encontrados. Foram analisados também outros aspectos como o gênero dos
pesquisadores, encontrando diferença significante com predominância do gênero feminino.
Ferreira e Theodório (2005) também realizaram estudo sobre produção científica
escrevendo um trabalho com o título “Estresse em estudantes universitários: análise de
produção científica”. Neste estudo as autoras levantaram os trabalhos relacionados ao tema
estresse em universitários que estavam na base de dados PsycInfo, analisando em específico
como foi a divulgação do trabalho, a autoria quanto ao gênero e número de autores e os
instrumentos utilizados para a avaliação do estresse segundo os artigos. As autoras concluíram
15
que o veículo de publicação são artigos, teses, livros e capítulos de livros. Quanto à autoria
referente ao número e ao gênero não obtiveram diferença no total. Para descrever os
instrumentos foram criadas quatro categorias: Questionário, Escalas, Inventários e Outros
instrumentos, sendo que Questionário foi o instrumento mais utilizado. Contudo, concluíram
também que a área está em desenvolvimento, recomendando grupos de pesquisas para uma
maior evolução do conhecimento na área estudada.
Diversos produtos têm sido objeto de metaanálise na área de Psicologia,
principalmente as bases de dados como o banco de Teses da Capes, o PsycInfo, o ERIC,
assim como os diversos periódicos que publicam artigos da área de Psicologia e afins. No
presente estudo optou-se por analisar a Revista do Conselho Federal de Psicologia com a idéia
de tentar traçar o histórico da própria evolução da ciência e profissão psicológica no país,
como inclusive sugere o título do próprio periódico. Infelizmente, este objetivo não pode ser
concretizado devido aos problemas operacionais para a realização do TCC, principalmente em
tempo hábil para a realização da defesa pública, além do volume de material para ser
analisado e a dificuldade de acesso aos exemplares mais antigos, da década de 70 quando teve
início a revista.
Dessa forma, julgou-se oportuno apresentar um breve histórico da Psicologia no Brasil
para contextualizar o atual estado da arte do conhecimento sobre formação e atuação do
psicólogo.
Breve Histórico da Psicologia Brasileira e Formação e Atuação do Psicólogo
Temas como a história da psicologia, a formação e atuação do psicólogo no Brasil são
importantes para a compreensão do desenvolvimento da ciência psicológica no país. Escrever
16
sobre o assunto em pauta é sempre algo desafiador, uma vez que o mesmo está vinculado ao
contexto da própria história do Brasil.
Autores como Massini (1990), por exemplo, em seus trabalhos traz dados relevantes
para a construção da história da psicologia no Brasil desde a época colonial. Não há, aqui, a
intenção de se fazer esse estudo, mas pretende-se traçar um panorama histórico da psicologia
com os principais fatos que marcaram a sua constituição como uma ciência autônoma, o que
conduzirá ao entendimento da formação e atuação do psicólogo no Brasil. Para isso, divide-se
a discussão em duas partes: antes e após a regulamentação da profissão.
Inicia-se então com alguns pontos do século XIX, como, por exemplo, a questão da
psicologia dentro das ciências médicas e na educação, pois segundo Antunes (2004) as idéias
psicológicas existentes nessas áreas contribuíram para que a psicologia se tornasse uma
ciência autônoma. Posteriormente, passa-se para a década de 30 do século XX, pois nesta
época no Brasil segundo Cabral (2004: 41) “os vinte anos a partir da revolução de 30 são os
mais significativos na história da psicologia e de suas aplicações no Brasil”.
Em 1832 foram fundadas as faculdades de medicina do Rio de Janeiro e Bahia. Para a
formação dos doutores era necessária a apresentação de uma tese, e por meio dessas, algumas
idéias psicológicas começaram a aparecer. Os trabalhos apresentavam conteúdos psicológicos
como, por exemplo, o trabalho de Manoel Ignácio de Figueiredo Jaime que foi sobre “As
paixões e afetos d’alma em geral e em particular sobre o amor, amizade, gratidão e o amor
da pátria” (Antunes, 2003).
Outras contribuições da medicina para a psicologia foram os estudos da medicina
social mais preocupada com a prevenção e esta mais voltada para a saúde do que para a
doença. Idéias essas que mais tarde fundamentaram a psicologia social.
A área da medicina social era composta principalmente pelos médicos higienistas, que
tinham a preocupação de “limpar” a cidade, uma vez que esta, segundo eles, tinha que se
17
organizar. Para isso foram criados os hospitais, cemitérios, prisões, enfim, instituições
chamadas sociais (Antunes, 2003).
Seguindo o mesmo raciocínio das idéias psicológicas presentes na Medicina, segundo
Antunes (2004) a psiquiatria foi uma área que muito contribuiu para a constituição da
psicologia. O distanciamento entre as duas áreas foi se intensificando a tal ponto que alguns
médicos no início do século XX passaram a dedicar-se somente à psicologia. São exemplos,
os doutores Henrique Roxo, Oscar Freire de Carvalho, Plínio Olinto que se dedicaram mais
tarde somente para a ciência psicológica e, também, publicaram teses sobre temas
psicológicos que depois vieram a ser temas da psicologia social. Nesta época a psicologia era
“vista como subsidiária da Medicina, interpretação esta que em verdade perdurou ainda por
muito tempo” (Antunes, 2004: 118).
Em 1842 no Rio de Janeiro foi fundado o primeiro hospital psiquiátrico: o Hospício
Pedro II, que tinha por objetivo isolar, vigiar e reprimir os internos. “Considerava-se a
necessidade de afastar o ‘louco’ das causas da loucura, isto é, da sociedade e da família, e
romper com seus hábitos para realizar-se o tratamento” (Antunes, 2003: 30). Em 1852, cria-se
em São Paulo o Asilo Provisório de Alienados da Cidade de São Paulo, cujo objetivo era
exclusivamente de tirar o “louco” das ruas da cidade. Esse hospital conhecido como “hospício
velho” passou por inúmeros problemas como: alta taxa de mortalidade, violência, epidemias,
superlotação e rebeliões. Em 1862, o hospital mudou-se para Laderina Tabatinguera, mas
os problemas e a falta de terapêutica permaneceram. A entrada do médico alienista Francisco
Franco da Rocha, contribuiu para que o hospital passasse por uma fase de caráter médico
terapêutico.
No final do século XIX, por volta dos anos de 1890 a 1892, doutores como José
Estelita Tapajós, Veríssimo Dias de Castro, Manuel Pereira de Melo Morais e Adolpho
Porchat Assis, apresentaram teses que já continham idéias que poderiam ser consideradas
18
próprias da psicologia. O conteúdo desses trabalhos era voltado para as emoções, percepções
e personalidades (Antunes, 2004).
De acordo com a mesma autora, os hospitais psiquiátricos também produziram
conhecimentos psicológicos na época por meio de laboratórios de psicologia. Um laboratório
significativo foi o da Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro em 1923.
Esse laboratório foi dirigido pelo psicólogo polonês Waclaw Radecki,
tendo produzido um significativo rol de pesquisas abrangendo várias
temáticas da Psicologia, como estudos sobre seleção e orientação
profissional, fadiga em trabalhadores menores de idade, seleção de
aviadores, psicometria, etc (Antunes, 2004: 118).
Em 1923 criou-se outro laboratório dirigido para a psiquiatria, no qual, diversos
seminários ocorreram com o objetivo de divulgar os estudos e pesquisas científicas. Em 1938
cria-se a Clínica de Orientação Infantil, voltada para crianças com deficiência mental
(Antunes, 2004).
Como já descrito, a medicina teve grande importância na constituição da psicologia
como uma ciência autônoma, uma vez que os laboratórios e as teses dos doutores publicadas
foram aos poucos separando a psicologia da medicina (Antunes, 2004). Este fato deve ser
considerado e enfatizado, pois leva à compreensão da influência e o modelo de atuação que
ficou marcado na história da psicologia.
Segundo Cabral (2004: 52), “a contribuição dos médicos à psicologia no Brasil é larga
e valiosa, mas encontra-se, como é natural, nos campos ligados à prática médica e à
psicopatologia: nas técnicas de psicodiagnóstico e psicoterapia, na prática analítica e na
higiene mental”.
19
Assim como a medicina, a educação também contribuiu com a autonomia da
psicologia como ciência. A preocupação com a educação no período Imperial se intensifica,
porque neste momento a corte estava no Brasil. Antunes (2003: 24) descreve as características
desse momento com relação à educação:
Pode-se dizer que foi a partir desse momento que efetivamente foram
criados os cursos superiores no país (...). O ensino secundário manteve
ainda por bom tempo a herança das aulas avulsas, de caráter
precipuamente propedêutico, voltado para o ensino quase exclusivo dos
alunos de sexo masculino e sob domínio da iniciativa privada,
sobretudo da Igreja católica.
Com a Proclamação da República, reformas educacionais ocorreram. Os problemas
deixados na educação na época da colônia e do império continuaram, e o fato mais importante
era a ausência de um projeto educacional nacional, fato este que veio ocorrer somente no final
dos anos 30 (Antunes, 2004).
Um marco importante para a psicologia foi a reforma de Benjamim Constant em 1890
que “transformou a disciplina Filosofia em Psicologia e Lógica; mais tarde, isso se
desdobraria na introdução das disciplinas Psicologia e Pedagogia nas escolas normais”
(Antunes, 2004: 112).
As idéias na educação sofreram grande influência do pensamento europeu
principalmente do positivismo e do liberalismo. As Escolas Normais foram fundamentais para
a psicologia tornar-se uma ciência autônoma, pois “sua tarefa consistiu em divulgar e difundir
o conhecimento psicológico produzido na Europa e nos Estados Unidos por meio do ensino,
20
da produção de obras e da vinda de importantes psicólogos estrangeiros” (Antunes, 2004:
117).
O Pedagogium também foi um marco importante para a psicologia, pois foi o primeiro
laboratório de pedagogia fundado no Rio de Janeiro (Lourenço Filho, 2004; Cabral, 2004;
Antunes 2004).
Segundo Antunes (2003: 25), havia uma preocupação com os métodos e a formação
dos educadores e educandos. Os conteúdos presentes na formação versavam sobre “educação
com as faculdades psíquicas, aprendizagem e utilização de recompensas e castigos como
instrumentos educativos”. Ao final do século XIX início do XX há uma intensificação dos
métodos aumentando ainda mais a relação entre as duas áreas: educação e psicologia.
Segundo Melo (1975), na década de 30 o Brasil estava passando por um período de
aceleração econômica o que trouxe uma maior importância para a formação de especialistas,
enfatizando o ensino e a educação.
De acordo com a mesma autora, em 1931, a psicologia começa a aparecer nos
currículos da Escola Normal da Cidade de São Paulo e como disciplina em alguns cursos
superiores. A psicologia era, portanto, uma teoria auxiliar para as outras áreas do saber e em
1947,
foi criado, junto à cadeira educacional um curso de especialização
para a formação de profissionais, abertos aos graduandos em
pedagogia. Esse foi o primeiro curso superior a oferecer alguma
formação mais voltada para a aplicação da psicologia, porém ainda
teórica na ausência de qualquer serviço destinados aos estágios ou à
prática da psicologia em situações reais (Melo, 1975: 37).
21
Ainda a mesma autora complementa que em 1958 formavam-se profissionais teóricos
na área. O currículo formava em três anos o bacharel (possibilidade de atuar em pesquisas) e
em quatro anos capacitação para a licenciatura (dar aulas).
Complementa Antunes (2004), que em 1920 os primeiros profissionais ligados à
educação começam a surgir vindos da medicina e do direito criando uma entidade que
representaria a classe de educadores. Na década de 30 a psicologia passa a ser disciplina nos
cursos superiores de Filosofia e Letras.
Segundo Antunes (2003: 87), ainda na década de 30 do século XX a psicologia do
trabalho também começa a ter mais força e “neste momento, a psicologia estabeleceu-se
definitivamente no pensamento brasileiro, ampliando-se em várias direções e explicitando
suas possibilidades de aplicação as necessidades impostas pela vida social”.
Fatos também marcaram aspectos da psicologia organizacional na década de 1910,
portanto, também deve ser considerado. Após este período, houve uma organização das
classes trabalhadoras, com fundação de sindicatos, organizações trabalhistas, associações e
etc. Por outro lado os empresários com sentimento de ameaça pela classe começam a procurar
meios científicos para controlar a situação. Com isso mais à frente instalam-se as idéias
Tayloristas e Fordistas, ou seja, uma forma científica de administração (Antunes, 2003).
Após a regulamentação da profissão com a Lei nº 4.119 de 27/08/1962, começaram a
se constituir os cursos de graduação que capacitariam o profissional a atuar nas três grandes
áreas estabelecidas na Psicologia: a Clínica, a Escolar e a Organizacional. Um breve
retrospecto histórico revela essas transformações, porém ainda insuficientes para compor um
quadro definitivo (Mello, 1975).
Silva (1996) apresentou em um encontro científico um histórico que ajuda a
compreender os fatos que foram ocorrendo ao longo das décadas. Na década de 50, a USP
formava em três anos o bacharel e em quatro anos o licenciado em psicologia. Essa formação
22
permitia ao profissional lecionar em escolas ou em cursos de graduação. Como já citado, a
década de 60 marcou a regulamentação da profissão e a formação de profissionais psicólogos.
Na década seguinte, ocorreu a formação dos primeiros profissionais. Desde então, iniciaram-
se pesquisas com o objetivo de traçar o perfil dos formandos. Mello (1975) revela dados sobre
o assunto, como por exemplo: a preferência pela área clínica; a possibilidade dos profissionais
em manterem outras atividades; a grande maioria de profissionais ser composta quase que
exclusivamente pelo gênero feminino. No decorrer do tempo, a pesquisa de Carvalho (1984),
destacou questões a respeito da limitação do profissional em relação às áreas clássicas,
sugerindo aos profissionais irem em busca de outras formas de atuação, além das já
estipuladas.
Na década de 80, surgiram intensas discussões sobre formação e atuação em dois
pontos principais: as práticas psicológicas e as funções sociais da profissão, havendo
restrições dos profissionais em relação às novas áreas de atuação (Silva, 1996).
As mudanças mais significativas ocorreram na década de 90: a psicologia clínica passa
a criticar o modelo médico de atuação; a psicologia escolar passa a criticar a questão da
atuação com o chamado “aluno problema”; a psicologia organizacional começa a dar atenção
a outros aspectos da psicologia organizacional deixando de cuidar somente do recrutamento e
seleção. A Psicologia passou neste momento a se preocupar com as camadas desfavorecidas
da população, exigindo desse profissional, novos saberes e novos fazeres (Silva, 1996).
[...] Novas práticas da psicologia estavam em consolidação:
Psicologia Comunitária, Psicologia da Saúde Pública e/ou Coletiva,
Psicologia Ambiental, Psicologia do Trabalho e Saúde, Psicologia
nos movimentos sociais e práticas com novas populações: como
23
movimentos de mulheres, com jovens de ruas, com populações da
terceira idade entre outras (Silva, 1996: 99).
Outros trabalhos também são referências no assunto e não podem deixar de ser citados
como as publicações do Conselho Federal de Psicologia (1989, 1992, 1994).
Percebe-se que a justificativa desses trabalhos gira em torno da formação ser voltada
para a atuação clínica (dá-se muita ênfase nos diagnósticos e atendimentos) e da atuação ser
voltada para um trabalho autônomo, marcado por um modelo clínico-médico. Sendo assim, os
formandos procuram pela atuação clínica, pela “segurança” de modelos teóricos e evitando
novas atuações devido ao receio e insegurança da atuação o que confirma mais uma vez a
ênfase na formação clínica (Cruces, 2006)
Segundo a autora a crítica a esse modelo clinicalista é presente desde a década de 70
do século XX, o que contribuiu para o início de uma reflexão sobre o campo de atuação
psicológica.
A discussão sobre a formação e atuação do psicólogo esteve sempre na pauta dos
debates da área, seja de forma sistemática ou em eventos científicos, inclusive nas pesquisas e
publicações do CFP/ 06 (1988, 1992 e 1994) e do CRP (1984). Além disso, há diversos
estudos, como o clássico de Sylvia Leser de Mello (1975), e só para citar algumas pesquisas
realizadas em nível de pós-graduação stricto-senso, temos: as dissertações de Campos (1989)
e Benchaya (1993) e as teses de Campos (1994), Witter, C. (1996) e de Cruces (2006).
Também há diversos artigos publicados nos periódicos científicos da área da Psicologia, os
quais foram objetos de estudo deste trabalho de produção científica.
Botomé (1988: 276) destaca que a psicologia atinge pouco a área social e as limitações
em procurar novas áreas de atuação seriam decorrentes dos graduandos terem uma “limitada
compreensão do que é possível fazer com o domínio do conhecimento psicológico”, pois falta
24
a conceituação da atuação para além do tradicional. Considera que enquanto a formação
estiver voltada para um modelo clássico, será difícil o profissional voltar-se para o inovador.
Cruces (2006) complementa afirmando que a formação dá muita ênfase aos
diagnósticos e atendimentos clínicos reforçando esse tipo de pensamento e atuação. Sendo
assim, os formandos procuram a atuação clínica pela “segurança” de modelos teóricos
aprendidos e praticados durante a graduação e acabem evitando novas formas de atuação
devido ao receio do fracasso profissional.
Neste sentido, semelhante à tese de Witter, C. (1996) que procurou estudar como
estava a produção científica sobre formação e atuação do psicólogo, em específico na área da
Psicologia Escolar, na tentativa de estabelecer diretrizes para o fomento de pesquisas sobre
temas pouco investigados na área Escolar, esta pesquisa levantou a mesma temática da
formação e atuação do psicólogo na revista do Conselho Federal de Psicologia. A idéia foi
verificar, comparar e discutir os resultados obtidos neste trabalho de conclusão de curso com a
literatura científica produzida e divulgada na área da psicologia.
25
OBJETIVOS
Para a realização da pesquisa de produção científica sobre formação e atuação do
psicólogo na Revista do Conselho Federal de Psicologia foram estabelecidos o objetivo geral
e os específicos para a análise dos dados levantados, os quais são aqui apresentados.
OBJETIVO GERAL
Levantar e analisar a produção científica sobre formação e atuação do psicólogo,
publicada na revista “Psicologia: Ciência e Profissão” no período de 2000 a 2004.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
(1) levantar e categorizar os temas dos artigos sobre formação e atuação do
psicólogo;
(2) classificar e analisar o tipo de trabalho (teórico ou de pesquisa) e
(3) verificar o tipo de análise de dados realizada.
26
MÉTODO
Foi estabelecido o seguinte percurso metodológico para a análise da produção
científica.
Juízes
Participaram da análise dos dados e a da validação das categorias levantadas e
elaboradas pela pesquisadora deste trabalho, dois juízes, sendo um a própria autora que é
quinto-anista de um curso de Psicologia da capital de São Paulo, em uma universidade
particular situada na Zona Leste; e o segundo juiz é doutora em psicologia da aprendizagem e
desenvolvimento humano e desenvolve pesquisas sobre produção científica desde a defesa de
seu doutorado em 1996.
Material
Foi escolhida para a análise da produção científica a revista: “Psicologia Ciência
e Profissão” publicada pelo Conselho Federal de Psicologia. Os critérios de escolha para o
material foram:
(1) revista ter as publicações sem interrupção desde 2000 até 2004;
(2) ter a classificação no Qualis da CAPES com o conceito A Nacional;
(3) o acesso fácil às revistas por meio eletrônico e por constarem na biblioteca da USJT
e da USP;
(4) a publicação é distribuída a todos os psicólogos;
(5) é publicada pelo Conselho Federal de Psicologia e
(6) seu título sugere que trate principalmente sobre formação e atuação.
27
Psicologia: Ciência e Profissão é uma revista publicada pelo Conselho Federal de
Psicologia e distribuída a todos os psicólogos inscritos nos CRPs. Teve como objetivo inicial
“propiciar informação atualizada e de caráter histórico e constituindo um instrumento de
comunicação aberto a todos os psicólogos” (CFP, 1979); a partir de 1984 passa a ser
“destinada a veicular reflexões a respeito do conhecimento e da prática da psicologia
voltados para o desenvolvimento de teorias, métodos e técnicas aplicáveis à realidade
brasileira” (CFP, 1984).
A revista teve sua primeira publicação em dezembro de 1979 e no decorrer
dos anos foi mudando tanto na periodicidade quanto no formato. No período analisado, a
revista tinha periodicidade quadrimestral, com a publicação de quatro números por ano.
Procedimento Foram localizadas e separadas as revistas do período de 2000 a 2004.
Primeiramente o critério para o levantamento dos artigos que entraram para a
análise foi que os mesmos abordassem a formação e/ou atuação do psicólogo. Esta seleção
foi feita por meio dos títulos e resumos dos artigos para obter os estudos referentes ao
assunto. Com os artigos selecionados fizeram-se principalmente três análises: quanto à
quantidade de artigos obtidos em cinco anos de publicação, o tipo de trabalho e por fim
criaram-se categorias de análise temática feitas por meio da análise de conteúdo dos títulos e
resumos dos artigos, ou da leitura do artigo na íntegra se fosse necessário. Essas categorias
estão descritas no final do procedimento, sendo importante destacar que um trabalho poderia
ser incluído em mais de uma categoria.
Como metodologia científica para a validade da pesquisa foi adotada a análise
do conteúdo, por ser a técnica que mais se adequou aos objetivos da pesquisa, pois a análise
28
do conteúdo “é uma técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa
do conteúdo manifesto da comunicação” (Berelson apud Minayo, 1994: 202).
A mesma autora complementa dizendo que
O resumo das técnicas históricas da análise de conteúdo conduz-nos
a uma certeza. Todo o esforço teórico para o desenvolvimento de
técnicas visa ainda que de formas diversas e até contraditórias a
ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na
interpretação e alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação
de documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou
observações (Minayo, 1994 p. 203).
A análise do conteúdo é metodologia derivada da retórica e da lógica, onde a
primeira estuda a fala persuasiva e a segunda estuda os enunciados de um texto. Por isso,
entende-se que há um tratamento especial na análise dos textos (Minayo, 1994).
Para validar os resultados encontrados pela autora, os quais foram levantados e
tabulados em categorias de análise, todos os artigos foram analisados pelo Juiz 2 a partir das
descrições das categorias elaboradas. Para garantir a fidedignidade dos achados utilizou-se a
correlação de Spearman para o cálculo estatístico inter-juízes e intra-juiz para as categorias
de análise temática, sendo o índice de correlação crítico rc = 0,56, para N = 11 e nível de
significância 0,05. A correlação obtida para o cálculo estatístico inter-juiz foi igual a ro = 0,59
e intra-juiz foi ro = 0,95 para as categorias de Formação e de Atuação (Tabela 1).
Segundo Witter (1996: 48) “a realização de validação dos dados por juizes
independentes evita o viés da análise de categorias realizadas por duplas ou grupos, onde a
decisão das respostas nas categorias é consensual”.
29
Tabela 1: Correlação inter juiz e intrajuiz
Categorias N rc J1xJ2 ro Decisão J1xJ1
ro Decisão
Formação e Atuação 11 0,56 0,59 concordam 0,95 concordam
N = número de categorias, sendo o n.sig. = 0,05
Foram criadas onze categorias, sendo que cinco se referem a artigos cujos temas eram
relacionados à Formação e outras seis categorias cuja temática dos estudos publicados
enfocavam problemas de Atuação do Psicólogo. As categorias de análise foram descritas com
exemplos de artigos para facilitar a compreensão do procedimento realizado, bem como
facilitar a leitura dos consumidores de ciência.
Formação Profissional: Incluem-se para esta categoria os artigos que discutem e/ou criticam
a formação em psicologia. Podendo apontar necessidades ou inexistência de um olhar voltado
para a pluralidade. Consideram-se também os trabalhos que simplesmente citam uma
formação profissional, como por exemplo: “A representação social do trabalho do psicólogo”,
no qual os autores, Praça e Novaes (2004), criticam a ausência de uma responsabilidade
social.
Formação Teórica: Estão dentro desta categoria os trabalhos que discutem sobre a
importância da aquisição teórica na formação e a necessidade da relação teoria x prática,
como por exemplo no artigo com o título “Avaliação neuropsicológica nas epilepsias:
importância para o conhecimento do cérebro” (Mader, 2001) . Incluem-se também artigos que
discutem algum tipo de disciplina existente na graduação, como por exemplo, no artigo: “O
ensino do Roschach em uma amostra brasileira” (Castro, 2001).
Formação Especialização: Incluem-se nesta categoria os trabalhos que discutem sobre a pós-
formação em psicologia, apontando a importância da especialização como complemento da
formação do psicólogo, considerando-se todas as áreas possíveis de atuação sejam as
30
tradicionais ou não, por exemplo no artigo “Especializações em psicologia: subsídios para
uma discussão necessária” (Starling, 2002).
Formação Educacional: Inclui-se nesta categoria os artigos que discutem sobre a formação
profissional do psicólogo escolar em especial, como o artigo de Neves, Almeida, Chaperman
e Batista (2002) no artigo “Formação e atuação em psicologia escolar: análises das
modalidades de comunicação nos congressos nacionais de psicologia escolar e educação”.
Formação Curricular: Consideram-se os artigos que discutem e /ou criticam a grade
curricular dos cursos de psicologia. Por exemplo, no artigo “Considerações sobre elaboração
de currículos para a formação de psicólogos: a partir de uma perspectiva didática” (Dias,
2001).
Atuação Social: Incluem-se nesta categoria todos os artigos que discutem a função, o papel e
ou a importância da atuação do psicólogo com um olhar voltado para o social. Considera-se
para esta classificação palavras como: assistencialismo e inclusão.
Por exemplo, no artigo “Os meninos e a rua: o psicólogo e os impasses da assistência”
(Ferreira, 2000). Outro exemplo encontra-se no artigo “Psicologia e compromisso social:
educação inclusiva, desafios, limites e perspectivas” (Cavanellas, 2000). Este artigo foi
classificado em mais de uma categoria, no caso, em atuação social e atuação educacional.
Atuação Educacional: Incluem-se nesta categoria os trabalhos que discutem principalmente
a atuação voltada para a educação, seja ela em escolas, creches ou instituições de apoio.
Consideram-se também os artigos que discutem o papel do psicólogo educacional. Por
exemplo o artigo de Santos (2002) sobre a atuação do psicólogo nas escolas públicas.
Atuação Clínica: Incluem-se nesta categoria os artigos que discutem o trabalho e/ou o papel
do psicólogo clínico, como o trabalho de Faleiros com o título “Aprendendo a ser
psicoterapeuta” publicado em 2004.
Atuação Na Saúde: Consideram-se para esta categoria os trabalhos que discutem a atuação
e/ou o papel do psicólogo na área da saúde. Classifica-se como saúde as atuações nas áreas de
saúde pública, promoção de saúde, trabalhos preventivos e psicologia hospitalar. Por
exemplo, “O psicólogo como facilitador da interação familiar no ambiente de cuidados
31
intensivos neonatais” de autoria de Valansi e Morsch (2004), outro exemplo é o artigo
“Estresse ocupacional e Síndrome de Bournot no exercício profissional da psicologia” sendo
esta síndrome que ataca mais os profissionais que atuam na área da saúde, segundo Abreu,
Stoll, Ramos, Baumgardt e Kristensen (2002).
Ética Profissional: Incluem-se para esta categoria os trabalhos que tem como principal ponto
a atuação ética do profissional, criticando ou questionando a atuação ética nas diferentes
situações. Por exemplo, o trabalho de Castro (2001) com o título “Psicologia e ética em
cuidados paliativos”.
Inserção: Consideram-se para a classificação nesta categoria os trabalhos que discutem a
possibilidade de inserção do psicólogo em diferentes áreas que não as tradicionais (Psicologia
Escolar, Clínica e Organizacional). Apresentando as possibilidades de trabalho e ampliando o
campo de atuação para o profissional psicólogo. Por exemplo, o texto intitulado “Narrativa e
Internet: possibilidade e limites do atendimento psicoterápico mediado pelo computador”
(Almeida e Rodrigues, 2003)
32
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 2, mostra por ano o total de artigos que a revista publicou, a freqüência e a
porcentagem dos trabalhos que falam sobre formação e atuação do psicólogo.
Obteve-se ao todo 200 artigos publicados pela revista no período entre 2000 a 2004.
Neste período constatou-se que 55 estudos tratam de formação e atuação, ou seja, 28% dos
artigos.
Tabela 2: Total de artigos, freqüência e porcentagem sobre quantos são sobre formação e atuação por ano.
Desses cinco anos de publicação podemos entender que em 2000 a revista publicou 30
trabalhos ao todo, sendo que 27% representam os trabalhos que discutem sobre formação e/ou
atuação do psicólogo perfazendo um total de oito trabalhos no ano. Em 2001, 32 trabalhos
foram publicados e 38% representam a produção sobre formação e atuação neste ano, ou seja,
12 trabalhos. Em 2002, 42 formam o total de artigos e nove são sobre o tema, que representa
21% da publicação deste ano. Em 2003 e 2004, 48 foi o total de publicações, sendo que 15
trabalhos representam o ano de 2003 com 31% e 11 em 2004 que significam 23% dos
trabalhos sobre formação e atuação.
Observa-se um aumento da publicação total a partir do ano de 2002 quando a revista
passou a publicar 42 artigos, chegando a 48 em 2003 e 2004.
F % 2000 30 8 27 2001 32 12 38 2002 42 9 21 2003 48 15 31 2004 48 11 23 Total 200 55 28
Ano
Artigos sobre Formação e Atuação
Total de Artigos
33
Concluindo esta análise, o ano de 2003 foi o que atingiu maior número de artigos
sobre formação e atuação com um total de 15 trabalhos que representam 27% dos 55
trabalhos publicados. Em contrapartida o menor número de trabalhos foi encontrado nas
publicações do ano 2000 num total de oito artigos que representam 14%.
A Tabela 3 refere-se ao delineamento dos trabalhos publicados, sendo que a
classificação foi feita da seguinte forma: pesquisa, teórico ou relato de experiência. As
pesquisas poderiam ser do tipo: levantamento, correlacional, quase experimental ou
experimental. A Tabela 4 apresenta a análise dos dados dos trabalhos de pesquisa
categorizados em: qualitativa, quantitativa ou mista.
Tabela 3: Delineamento da produção científica sobre formação e atuação levantada na revista Psicologia Ciência e Profissão
f % f % f % f % f % f % f2000 6 75 1 13 - - - - - - 1 13 82001 8 67 2 17 - - - - - - 2 17 122002 7 78 1 11 - - - - - - 1 11 92003 9 60 5 33 - - - - - - 1 7 152004 5 45 5 45 - - - - - - 1 9 11Total 35 64 14 25 - - - - - - 6 11 55
Correl. Quasi
Total de Artigos
Exp.Teórico
PesquisaRelato Exp.
Levant.Ano
Tipo deDelin.
No caso, observou-se que do total de 55 artigos publicados, 64% dos trabalhos são
teóricos mostrando prevalência, 25% são de pesquisa de levantamento e 11% são relatos de
experiência. Não houve trabalhos de pesquisa correlacional, quase experimental e
experimental.
Ao analisar os anos separadamente temos que: em 2000, do total de oito trabalhos,
75% são teóricos, 13% são pesquisas de levantamento e a mesma porcentagem refere-se a
trabalhos de relato de experiência. De 12 artigos do ano de 2001, 67% são teóricos e 17%
referem-se aos relatos de experiência e as pesquisas de levantamento. Em 2002, nove
34
trabalhos foram levantados sendo que 78% são teóricos e 11% são relatos de experiência e a
mesma porcentagem se dá para as pesquisas de levantamento. Em 2003, a prevalência dos
trabalhos teóricos permanece, sendo que de um total de 15 artigos sobre o tema, 60% são
teóricos, 33% são pesquisas de levantamento e 7% são relatos de experiência. Em 2004, de 11
artigos 45% são teóricos e a mesma porcentagem se dá para as pesquisas de levantamento e
9% são relatos de experiência.
Interessante ressaltar que como na Tabela 2, esta análise do delineamento também
mostra que houve um pequeno aumento na produção de pesquisas de levantamento nos anos
de 2003 e 2004.
Para complementar esta tabela de tipo de delineamento, a Tabela 4 mostra o
tratamento dos dados para as pesquisas de levantamento (N=14). Observa-se uma
predominância na análise qualitativa com 65%. Em seguida constata-se 21% são de análise
quantitativa e 14% são mistas.
Tabela 4: Freqüência e porcentagem da análise dos dados das pesquisas de levantamento
Com relação a esta predominância dos trabalhos teóricos pode-se citar Botomé (1988),
que discute que a formação e atuação pode ser objeto de estudo da Psicologia devido a grande
quantidade de pesquisas produzidas no decorrer do tempo. O autor critica como esses
trabalhos vêm sendo utilizados, pois considera poucas mudanças ocorridas se comparadas
Totalf % f % f % f
2000 - - - - 1 7 1 2001 - - 1 7 - - 2 2002 - - - - 1 7 1 2003 5 36 - - - - 5 2004 4 29 2 14 - - 5 Total 9 65 3 21 2 14 14
Análise dos Dados Levantamento
Qualitativo Quantitativo Mista
35
com a quantidade de trabalhos produzidos. Sugere ainda que, para haver resultados positivos,
deveríamos utilizar da melhor forma possível a produção científica, direcionando-a para evitar
repetições desnecessárias.
O mesmo autor complementa, com a idéia de que a Psicologia atinge pouca a área
social. A limitação dos profissionais em procurar novas áreas de atuação seria decorrente dos
graduandos terem uma “limitada compreensão do que é possível fazer com o domínio do
conhecimento psicológico” (Botomé, 1988: 276), pois falta a conceituação da atuação para
além do tradicional. Considera ainda que enquanto a formação estiver voltada para um
modelo clássico, será difícil o profissional voltar-se para o inovador.
A Tabela 5 mostra a freqüência e a porcentagem das categorias temáticas criadas pela
autora. Percebe-se que, no geral de 96 registros de entrada temática, a maior porcentagem de
freqüência é referente à categoria Atuação Clínica, com 18% do total dos dados tabulados e a
menor é da categoria Formação Especialização e Formação Curricular com 2% de registros
em ambas.
Tabela 5: referente à freqüência e porcentagem das categorias gerais e sub total das mesmas.
Em seguida, da categoria Atuação Clínica, aparece a categoria Atuação Saúde
perfazendo o resultado de 16% do total dos temas levantados. Depois se classifica Atuação
Categorias Gerais Freqüência % Formação Profissional 8 8 Formação Teórica 10 10 Formação Especialização 2 2 Formação Curricular 2 2 Formação Educacional 4 4 Sub Total - Formação 26 27 Atuação Social 10 10 Atuação Educacional 11 11 Atuação Saúde 15 16 Atuação Clinica 17 18 Ética 9 9 Inserção 8 8 Sub Total - Atuação 70 73 Total Geral 96 100
36
Educacional com 11% e Atuação Social com 10%, a categoria Formação Teórica também
obteve a mesma freqüência. As categorias de menor freqüência depois da Formação
Especialização e Formação Curricular foram as categorias Ética com 9%, Inserção e
Formação Profissional com 8% e Formação Educacional com 4%.
Percebe-se que as categorias referentes à Atuação tiveram mais freqüência quando
comparada com as categorias referentes à Formação, sendo interessante observar que a
categoria Atuação Saúde é próxima da categoria Atuação Clínica.
Estes dados corroboram com as constatações das pesquisas de Cruces (2006) e Witter,
C. (1996) que destacam a prevalência da formação e da atuação clínica na área da Psicologia,
levando os egressos a ingressarem nas áreas tradicionais de formação, em especial: a clínica.
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conclusão desse estudo possibilitou uma visão mais sistemática da psicologia no que
se refere à formação e atuação do psicólogo.
Retomando os objetivos deste trabalho pode-se concluir que: no período analisado
(2000 a 2004) o ano que mais produziu artigos sobre o tema foi 2003; há um predomínio dos
trabalhos teóricos; considerando as categorias criadas, a concentração está na discussão da
Atuação Clínica, seguida da Atuação Saúde. Além disso, a ênfase está mais na atuação do que
na formação.
O foco da discussão na atuação clínica revela que os profissionais têm preferência por
essa área. Do mesmo modo, a categoria Atuação Saúde, quando comparada com as demais
apresenta uma maior freqüência e entende-se que esta seja uma ramificação da atuação
clínica.
A atuação clínica é muito forte para o profissional, fato esse extremamente
inquietante, uma vez que aparece como requisito para “ser psicólogo”. Realidade constatada
pela autora em pesquisa, na qual entrevistou quatro profissionais formados no período entre o
final dos anos 70 e início de 80 e atuantes em novas áreas da psicologia. De modo geral a
atuação clínica estava presente em seus discursos como se fizesse parte da identidade do
psicólogo. Exemplo disso está no fato dos entrevistados ressaltarem que em algum momento
atuaram na clínica (Ferrara, 2006).
A prevalência na discussão sobre atuação mostra uma preocupação do profissional
quanto ao trabalho, somando-se a esta a questão da inserção, uma vez que caminham
paralelamente.
38
É evidente uma demanda da sociedade (hospitais, creches, orfanatos, asilos, etc.) pelos
serviços psicológicos, mas, por outro lado, há pouca discussão sobre a formação, o que
dificulta para o profissional recém-formado atuar em outras áreas diferentes das tradicionais.
É importante que os psicólogos tenham um olhar e uma escuta clínica, fato este que é
exclusivo da formação do psicólogo. Pode-se hipotetizar que falta para o aluno a compreensão
de que esta escuta pode ser aplicada em diferentes áreas, como por exemplo, junto às equipes
multidisciplinares.
A sociedade pede ajuda e os psicólogos são capacitados para isso. A formação tem sim
um enfoque clínico como forma de atuação. Fica a sugestão de trabalhar mais, na graduação,
a questão dos papéis do psicólogo para desmistificar essa tendência.
A prevalência dos trabalhos teóricos mostra um perfil dos pesquisadores. Mas para
isso, uma análise mais profunda deveria ser realizada, como por exemplo, verificando a
titulação dos autores, pois muitos dos artigos publicados na revista eram de profissionais
recém formados, apenas com o título de especialista. Portanto, artigo de reflexão teórica de
profissionais da área da psicologia.
A pesquisa de campo dá oportunidade para a classe mostrar efetivamente, por meio da
ciência, o que a psicologia pode fazer. Portanto é fundamental que os profissionais e,
principalmente os pesquisadores e estudiosos de temas psicológicos continuem a produzir
para tornar possível a conquista de novos espaços de atuação. Neste sentido, também, é
importante reforçar a necessidade da realização de maior quantidade de pesquisas empírica
com delineamentos mais aprofundados e não apenas de descrição da realidade como as feitas
pela pesquisas de levantamento.
39
REFERÊNCIAS
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