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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ WILLIAN VANDERLEI MEIRA RELAÇÃO ENTRE O METABOLISMO ENERGÉTICO E A MELANOGÊNESE EM CÉLULAS DE MELANOMA (B16-F10) CURITIBA 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

WILLIAN VANDERLEI MEIRA

RELAÇÃO ENTRE O METABOLISMO ENERGÉTICO E A MELANOGÊNESE EM

CÉLULAS DE MELANOMA (B16-F10)

CURITIBA

2019

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WILLIAN VANDERLEI MEIRA

RELAÇÃO ENTRE O METABOLISMO ENERGÉTICO E A MELANOGÊNESE EM

CÉLULAS DE MELANOMA (B16-F10)

Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação em Ciências- Bioquímica, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciências- Bioquímica. Orientadora: Profª. Drª. Glaucia Regina Martinez Coorientadora: Profª Drª. Silvia Maria Suter Correia Cadena

CURITIBA

2019

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Dedico essa tese aos meus pais, meus exemplos de vida.

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AGRADECIMENTOS

À toda minha família, em especial aos meus pais, que sempre me

incentivaram e sacrificaram muito por mim. Não há palavras pra descrever a

importância de vocês em minha vida.

Aos meus ex-mestres, principalmente à Drª. Mariza Boscacci e à Drª.

Julianne Milléo, que foram inspiração.

À minha orientadora, Drª. Glaucia Regina Martinez, pela confiança,

dedicação e, principalmente, paciência durante todos esses anos. Foi uma jornada

de muita aprendizagem.

Às demais professoras do grupo de oxidações biológicas, em especial à Drª.

Sílvia Cadena, pela coorientação; e às professoras Drª. Guilhermina Noleto e Drª.

Sheila Winnischofer, partes da minha banca interna, pelas correções e contribuições

nesse trabalho.

Às minhas queridas amigas Marina e Janaina, que desde o mestrado tem

sido meu apoio, sempre com um conselho e um sorriso no rosto, apesar de toda

dificuldade. Eu tenho certeza que não teria ido até o final se vocês não estivessem

ao meu lado, muito obrigado!

Dentre tantas pessoas especiais que passaram pelo laboratório durante

esses anos não posso deixar de agradecer à família que a pós-graduação me deu.

Principalmente às minhas amigas Carolina, Paloma, Juliana e Elaine, que além de

toda amizade e ajuda, dentro e fora do laboratório, me pouparam muito tempo e

esforço através das caronas muito mais que bem-vindas. Agradeço também a minha

amiga Monique, por toda amizade e auxílio no laboratório e por ter sido uma ponte

importante para a realização do meu período sanduíche na França. Além disso,

preciso agradecer a todos os outros membros que passaram pelo laboratório

durante esses anos, incluindo alunos e técnicos, que sem dúvida tiveram alguma

participação nesse trabalho.

Aos meus mentores na França, Dr. Jacques Pouysségur e à Drª. Maša

Ždralević, pela oportunidade de realizar o estágio sanduíche, pela confiança e por

terem me recebido tão bem no laboratório. Esse agradecimento estendo também à

toda equipe do laboratório de Nice (Tumour Hypoxia & Cancer Metabolism) e

Mônaco (Hypoxie tumorale et métabolisme), por toda hospitalidade e ajuda em tudo

que precisei, dentro e fora do laboratório. Fiz grandes amigos durante esse período

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e gostaria de deixar um agradecimento especial à Lucilla Fabbri, minha grande

amiga, sem você esse período longe de casa teria sido muito mais difícil.

À Drª. Nadja C. Souza-Pinto do Departamento de Bioquímica (IQ) da

Universidade de São Paulo (USP) e a Aline, pela ajuda com os experimentos de

dano ao mtDNA.

Ao Engenheiro Dr. Jérôme Durivault, do laboratório do Centre Scientifique de

Monaco, por desenhar os primers para os silenciamentos por CRISPR/Cas9.

À Dr. Konstantina Fragaki do laboratório de genética mitocondrial do Centre

Hospitalier Universitaire de Nice (CHU), pela ajuda na realização dos experimentos

de atividade da ATPase.

Ao técnico da plataforma FACS do IRCAN, Ludovic Cervera, pela ajuda nos

experimentos de citometria.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências- Bioquímica da Universidade

Federal do Paraná.

Às agências financiadoras, Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES) e Fundação Araucária. Em particular, ao Programa de

Doutorado Sanduíche no Exterior (PSDE) da CAPES.

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“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a

sociedade muda”

Paulo Freire

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RESUMO

A melanina é um polímero sintetizado nos melanócitos e derivado da reação de

oxidação do aminoácido L-tirosina pela enzima tirosinase. Esse pigmento confere

cor à pele, olhos e pelos e desempenha uma função fotoprotetora nas células

epiteliais contra danos provocados pela radiação UV. Entretanto, estudos têm

mostrado que a presença de melanina em melanoma está associada a diversos

efeitos celulares, como inibição na respiração celular, diminuição na proliferação

celular e aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (ROS). Visando

elucidar um mecanismo de resposta celular frente ao estímulo melanogênico, esse

trabalho teve como objetivo geral verificar o papel da via melanogênica na alteração

do metabolismo energético de células de melanoma B16-F10, com enfoque na

glicólise aeróbica. Nesse trabalho, as células B16-F10, submetidas ao estímulo

melanogênico, apresentaram aumento de danos mitocondriais, maior produção de

ânion superóxido pela mitocôndria e indução no metabolismo glicolítico em

detrimento à fosforilação oxidativa, compatíveis com a diminuição no consumo de

oxigênio e aumento na produção de lactato. Essa mudança é acompanhada pelo

acúmulo de Nrf2 e HIF-1α. Além disso, o comprometimento do metabolismo

energético celular promoveu alterações no processo melanogênico e inibição na

produção de melanina, como demonstrado através da quantificação da produção de

melanina nos mutantes B16-F10 GPi-KO e ATP5A1-KO, onde a glicólise e a

fosforilação oxidativa estão comprometidas, respectivamente. Esses resultados

mostram que as células de melanoma murino B16-F10 apresentam uma resposta de

defesa frente ao estresse celular causado pelo estímulo melanogênico e aumento de

ROS, alterando seu metabolismo energético em favorecimento ao metabolismo

glicolítico, garantindo às células maior resistência a esses efeitos, assim como uma

vantagem em ambientes adversos, como por exemplo, sob baixas concentrações de

oxigênio, agregando um papel mais amplo ao processo de melanogênese no

melanoma.

Palavras-chave: Melanina; Efeito Warburg; Glicólise; Forscolina; ROS; HIF-1α.

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ABSTRACT

Melanin is a polymer synthesized in melanocytes and derived from the oxidation

reaction of the amino acid L-tyrosine by the tyrosinase. This pigment gives color to

the skin, eyes and hair and performs a photoprotective function on the epithelial cells

against damage caused by UV radiation. However, studies have shown that the

presence of melanin in melanoma is associated with several cellular effects, such as

inhibition of cell respiration, decreased cell proliferation and increased production of

reactive oxygen species (ROS). Aiming to elucidate a mechanism of cellular

response to melanogenic stimulation, this study aimed to verify the role of the

melanogenic pathway in altering the energy metabolism of B16-F10 melanoma cells,

focusing on aerobic glycolysis. In this study, B16-F10 cells submitted to melanogenic

stimulation showed increased mitochondrial damage, higher production of

superoxide anion by mitochondria and induction in glycolytic metabolism over

oxidative phosphorylation, compatible with decreased oxygen consumption and

increased lactate production. This change is followed by the accumulation of Nrf2

and HIF-1α. In addition, the impairment of cellular energy metabolism promoted

changes in melanogenic process and inhibition of melanin production, as

demonstrated by quantifying melanin production in B16-F10 GPi-KO and ATP5A1-

KO, where glycolysis and oxidative phosphorylation are impaired, respectively.

These results show that B16-F10 murine melanoma cells show a defensive response

to cellular stress caused by melanogenic stimulation and increased ROS, altering

their energy metabolism in favor of glycolytic metabolism, ensuring cells greater

resistance to these effects, thus as an advantage in unfavorable environments, such

as under low oxygen concentrations, adding a broader role to the melanogenesis

process in melanoma.

Key words: Melanin; Warburg Effect; Glycolysis; Forskolin; ROS; HIF-1α.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. REPRESENTAÇÃO DA LOCALIZAÇÃO DOS MELANÓCITOS NA

EPIDERME E SUA INTERAÇÃO COM OS QUERATINÓCITOS ...... 23

FIGURA 2. ESTRUTURA MOLECULAR DOS ELEMENTOS CONSTITUINTES DA

MELANINA ......................................................................................... 24

FIGURA 3. ESQUEMA DAS REAÇÕES NA BIOSÍNTESE DE MELANINA.............. 25

FIGURA 4. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA REGULAÇÃO DA

MELANOGÊNESE PELA ATIVAÇÃO DO RECEPTOR MCR1 .......... 27

FIGURA 5. ESQUEMA DA PROGRESSÃO DO MELANOMA A PARTIR DE

MELANÓCITOS NORMAIS ............................................................... 30

FIGURA 6. COMPARAÇÃO ENTRE MELANOMAS E NEVO BENIGNOS ............... 31

FIGURA 7. ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTABILIZAÇÃO E DEGRADAÇÃO

DE HIF-1α REGULADAS PELAS CONCENTRAÇÕES DE OXIGÊNIO

........................................................................................................... 36

FIGURA 8. IMAGENS REPRESENTATIVAS DO PELLET DE CÉLULAS APÓS O

ESTÍMULO ......................................................................................... 50

FIGURA 9. DOSAGEM DE MELANINA TOTAL EM CÉLULAS TRATADAS COM L-

TIROSINA E NH4Cl ............................................................................ 51

FIGURA 10. MEDIDA DA ATIVIDADE DA ENZIMA TIROSINASE ........................... 52

FIGURA 11. DOSAGEM DE MELANINA TOTAL EM CÉLULAS TRATADAS COM

FORSCOLINA .................................................................................... 53

FIGURA 12. EFEITO DO ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE SOBRE A

VIABILIDADE DAS CÉLULAS B16-F10 ............................................. 54

FIGURA 13. EFEITO DO ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE SOBRE A

PROLIFERAÇÃO DAS CÉLULAS B16-F10 ....................................... 55

FIGURA 14. ENSAIO CLONOGÊNICO DAS CÉLULAS B16-F10 COM

MELANOGÊNESE ESTIMULADA ..................................................... 57

FIGURA 15. NÍVEIS DE RADICAL SUPERÓXIDO EM MITOCÔNDRIAS DE

CÉLULAS ESTÍMULADAS COM L-TIROSINA E NH4Cl .................... 60

FIGURA 16. NÍVEIS DE RADICAL SUPERÓXIDO EM MITOCÔNDRIAS DE

CÉLULAS ESTÍMULADAS COM FORSCOLINA ............................... 61

FIGURA 17. EXPRESSÃO DE NRF2 APÓS O ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE . 62

FIGURA 18. DANOS AO MTDNA INDUZIDOS PELA MELANOGÊNESE ............... 65

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FIGURA 19. TAXA DE CONSUMO DE OXIGÊNIO (OCR) DAS CÉLULAS

SUBMETIDAS AO ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE ..................... 68

FIGURA 20. TAXA DE ACIDIFICAÇÃO EXTRACELULAR (ECAR) ......................... 69

FIGURA 21. ENSAIO CLONOGÊNICO DAS CÉLULAS B16-F10 ESTIMULADAS NA

AUSÊNCIA DE GLUCOSE ................................................................ 70

FIGURA 22. NÍVEIS DE LACTATO EXTRACELULAR APÓS O ESTÍMULO

MELANOGÊNICO .............................................................................. 71

FIGURA 23. EXPRESSÃO DE HIF-1Α E GLUT1 APÓS O ESTÍMULO DA

MELANOGÊNESE ............................................................................. 72

FIGURA 24. POSSÍVEIS RESPOSTAS CELULARES DAS CÉLULAS B16-10

FRENTE AO ESTÍMULO MELANOGÊNICO ..................................... 76

FIGURA 25. ATIVIDADE DA ENZIMA TIROSINASE APÓS SILENCIAMENTO DA

ENZIMA ............................................................................................. 78

FIGURA 26. DOSAGEM DE MELANINA TOTAL APÓS SILENCIAMENTO DA

ENZIMA TIROSINASE ....................................................................... 79

FIGURA 27. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ESTRUTURA DA ATP

SINTASE ............................................................................................ 81

FIGURA 28. IMAGEM REPRESENTATIVA DA EXPRESSÃO DE ATP5Α APÓS

SILENCIAMENTO POR CRISPR/Cas9 ............................................. 82

FIGURA 29. ATIVIDADE DA ATPASE E CITRATO SINTASE NOS MUTANTES

ATP5A1-KO ....................................................................................... 83

FIGURA 30. TAXA DE CONSUMO DE OXIGÊNIO (OCR) DAS CÉLULAS B16-F10

APÓS SILENCIAMENTO DA GENE ATP5Α...................................... 85

FIGURA 31. TAXA DE ACIDIFICAÇÃO EXTRACELULAR (ECAR) APÓS O

SILENCIAMENTO DO GENE ATP5A ................................................ 86

FIGURA 32. NÍVEIS DE LACTATO EXTRACELULAR DAS CÉLULAS B16-F10

ATP5A1-KO ....................................................................................... 87

FIGURA 33. PROLIFERAÇÃO CELULAR DAS CÉLULAS ATP5A1-KO EM

NORMÓXIA E HIPÓXIA ..................................................................... 88

FIGURA 34. CAPACIDADE CLONAL DOS MUTANTES ATP5A1-KO ..................... 89

FIGURA 35. DOSAGEM DOS NÍVEIS DE MELANINA INTRACELULAR DOS

MUTANTES GPI-KO E ATP5A1-KO .................................................. 90

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. SEQUÊNCIA DOS PRIMERS E PROGRAMA DO TERMOCICLADOR . 45

TABELA 2. SEQUÊNCIA DO RNA GUIA (gRNA) ..................................................... 48

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LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

ARD1 - Arrest-defective-1 protein

BCL-2 - B-cell lymphoma protein 2

CREB- Proteína de ligação de resposta a cAMP

CRISPR/Cas9- Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats

DCT- Dopacromo tautomerase

DOPA - L-3,4-dihidroxifenilalanina

ECAR - Taxa de acidificação extracelular

FCCP - Carbonil cianeto p-trifluormetoxifenilhidrazona

FK - Forscolina

GLUT1- Transportador de glucose 1

GLUT4- Transportador de glucose 4

HIF-1α- Fator induzível por hipóxia 1 alfa

HK - Hexoquinase

MAPK -Proteína quinase ativada por mitógeno

MITF - Fator de transcrição de microftalmia

MTT - 3-metil-[4-5-dimetiltiazol-2-il]-2,5 difeniltetrazólio

Nfr2 - Nuclear factor erythroid 2-related factor 2

OXPHOS - Fosforilação oxidativa

OCR - Taxa de consumo de oxigênio

PBS - Tampão fosfato

pCREB- Proteína de ligação de resposta a cAMP fosforilada

PDH- Prolil hidroxilases

pH - Potencial hidrogeniônico

PK - Piruvato quinase

PKA - Proteína quinase A

ROS - Espécies reativas de oxigênio

SFB - Soro fetal bovino

TYRP1- Proteína relacionada a tirosinase 1

TYRP2- Proteína relacionada a tirosinase 2

UV - Radiação ultravioleta

VHL- Proteína Von Hippel-Lindau

ΔΨm - Potencial de membrana mitocondrial.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16

2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS ............................................................................ 19

3 ESTRATÉGIA EXPERIMENTAL ........................................................................... 21

3.1 OBJETIVO 1 ........................................................................................................ 21

3.2 OBJETIVO 2 ........................................................................................................ 21

4 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 22

4.1 MELANINA E A MELANOGÊNESE .................................................................... 22

4.2 MELANOMA ........................................................................................................ 28

4.3 METABOLISMO ENERGÉTICO EM CÉLULAS DE MELANOMA ...................... 32

4.4 FATOR INDUZÍVEL POR HIPÓXIA (HIF-1) ........................................................ 34

5 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 39

5.1 MATERAIS E REAGENTES ................................................................................ 39

5.2 CULTIVO DE CÉLULAS ...................................................................................... 39

5.3 ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE ..................................................................... 40

5.4 QUANTIFICAÇÃO DE MELANINA ...................................................................... 40

5.5 ATIVIDADE DA TIROSINASE ............................................................................. 41

5.6 VIABILIDADE E PROLIFERAÇÃO CELULAR .................................................... 41

5.7 ENSAIO CLONOGÊNICO ................................................................................... 42

5.8 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS DE RADICAL SUPERÓXIDO (O2•-)

MITOCONDRIAL ....................................................................................................... 43

5.9 AVALIAÇÃO DOS DANOS OXIDATIVOS AO DNA MITOCONDRIAL ................ 44

5.10 ANÁLISE METABÓLICA: TAXA DE RESPIRAÇÃO CELULAR E

ACIDIFICAÇÃO EXTRACELULAR ........................................................................... 45

5.11 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS DE LACTATO EXTRACELULAR ................... 46

5.12 DETERMINAÇÃO DA EXPRESSÃO DE PROTEÍNAS POR WESTERN

BLOTTING ................................................................................................................ 46

5.13 SILENCIAMENTO DOS GENES TYR E ATP5A1 POR CRISPR/CAS9............ 47

5.14 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA ATPASE E CITRATO SINTASE .......... 48

5.15 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................... 49

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 50

6.1 EFEITOS DA MELANOGÊNESE SOBRE A VIABILIDADE E PROLIFERAÇÃO

CELULAR .................................................................................................................. 50

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6.2 EFEITOS DA MELANOGÊNESE SOBRE O METABOLISMO OXIDATIVO ....... 58

6.3 EFEITOS DA MELANOGÊNESE SOBRE O METABOLISMO ENERGÉTICO

CELULAR .................................................................................................................. 65

6.4 SILENCIAMENTO DA ENZIMA TIROSINASE .................................................... 77

6.5 EFEITOS DO COMPROMETIMENTO NO METABOLISMO ENERGÉTICO

SOBRE A PRODUÇÃO DE MELANINA EM CÉLULAS B16-F10 ............................. 79

7 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 92

8 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 93

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16

1 INTRODUÇÃO

A estimativa da American Cancer Society apontou um aumento de 5% no

número de diagnósticos de melanoma nos Estados Unidos para o ano de 2019,

enquanto que, no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou o surgimento

de 6.260 novos casos de melanoma em 2018, representando um aumento de,

aproximadamente, 10% (INCA, 2017; SIEGEL et al., 2019). Apesar da sua baixa

incidência, a mortalidade de pacientes diagnosticados tardiamente é alta, sendo que

apenas 17% apresentam uma sobrevida de até 5 anos (SIEGEL e MILLER; JEMAL,

2018).

Os melanomas são tumores derivados dos melanócitos, células produtoras de

melanina. Esse pigmento confere coloração à pele, cabelos e olhos e é sintetizado

em organelas especializadas, os melanossomos, através de um processo conhecido

como melanogênese, que envolve diversas reações enzimáticas e não enzimáticas.

O processo se inicia a partir da hidroxilação da L-tirosina ou oxidação da L-3,4-

dihidroxifenilalanina (L-DOPA) pela enzima tirosinase (ITO e WAKAMATSU, 2008),

onde dois polímeros principais podem ser gerados, a eumelanina e a feomelanina.

Sendo a eumelanina composta de unidades de 5,6-dihidroxi-indol (DHI) e ácido 5,6-

dihidroxi-indol-2-carboxílico (DHICA) e a feomelanina composta por unidade de

benzotiazinas, esta última gerada pela incorporação de L-cisteína nas reações.

Em condições normais, a função mais bem elucidada da melanina é proteger

a célula de possíveis danos causados pela radiação ultravioleta (UV), tanto por

absorver parte dessa radiação, como através do sequestro de espécies reativas de

oxigênio (ROS) (WANG et al., 2008).

Além do papel fotoprotetor, a melanina desempenha outras funções celulares.

Estudos realizados com as duas formas de melanina, eumelanina e a feomelanina, e

com o seu precursor, o DHICA, mostraram que esses compostos são capazes de

promover quebras no DNA, possivelmente através de reações do tipo Fenton, e

ainda prejudicam a ação de enzimas de reparo sobre essas lesões (PELLOSI et al.,

2014; SUZUKAWA et al., 2012).

Em relação ao tratamento de melanomas, a presença da melanina pode

proteger a célula tumoral, aumentando sua resistência a terapias. Particularmente

em relação à terapia fotodinâmica (PDT), esta proteção poderia estar associada à

sua capacidade de absorção em certos comprimentos de onda, o que poderia

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ WILLIAN VANDERLEI …

17

diminuir a eficiência de alguns fotossensibilizadores, como a hipericina (BROZYNA

et al., 2016; HADJUR et al., 1996). Além disso, células de melanoma com maior

conteúdo de melanina são mais resistentes aos efeitos de ROS, indicando que o

poder antioxidante da melanina é outro fator de resistência contra o estresse

oxidativo induzido por essas terapias (HADJUR et al., 1996; HUANG et al,.2013).

Em modelo de células de melanoma B16-F10 sob o estímulo da

melanogênese utilizando L-tirosina e cloreto de amônio (NH4Cl), Cunha et al. (2012)

observaram um aumento nas concentrações de ROS, indicando sua produção

durante a melanogênese. Os autores demonstraram ainda que o estímulo da

melanogênese durante 48h resultou na inibição reversível da proliferação celular,

aumentando o número de células na fase G1/G0 do ciclo e também foi capaz de

alterar o perfil de expressão de diversas proteínas relacionadas ao metabolismo

energético, citoesqueleto e progressão do ciclo celular.

Adicionalmente, Meira et al. (2017) demonstraram que o estímulo da

melanogênese utilizando L-tirosina e cloreto de amônio (NH4Cl) por 48h, resultou em

redução, de aproximadamente 50%, no consumo de oxigênio, tanto no estado basal

da respiração como no estado desacoplado de células de melanoma B16-F10, sem

afetar o potencial de membrana mitocondrial (Δψm). Essa inibição na proliferação e

a redução do consumo de oxigênio em células de melanoma, submetidas ao

estímulo na síntese de melanina, sugerem que esse processo pode estar

promovendo uma diminuição no metabolismo aeróbico em favorecimento ao

anaeróbico, tornando a glicólise a principal fonte de ATP da célula (DANG e

SEMENZA, 1999; MEIRA et al., 2017).

Essa alteração no metabolismo é observada em diversos tipos de células

tumorais, sendo conhecida como Efeito Warburg, que é caracterizado pelo aumento

na expressão de transportadores de glucose e de enzimas da via glicolítica, como

GLUT1, Hexoquinase (HK), Fosfofrutoquinase (PFK) e Piruvatoquinase (PK) (DIAZ-

RUIZ et al., 2011; MACHEDA et al., (2005). Nesse contexto, HIF-1α (fator induzível

por hipóxia 1 alfa) têm um papel fundamental. Em baixas concentrações de oxigênio,

HIF-1α promove a transcrição de diversos genes envolvidos no metabolismo

energético, apoptose, angiogênese, crescimento e migração celular (FEIGE et al,

2011; SEMENZA, 2012). Entre os alvos de HIF-1α estão os transportadores de

glucose 1 e 4 (GLUT1 e GLUT4), além de múltiplas enzimas da via glicolítica, que

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18

promovem a transição da oxidação da glucose pela fosforilação oxidativa (OXPHOS)

para o metabolismo glicolítico (SEMENZA, 2012; ZBYTEK et al., 2013).

De fato, Slominski et al. (2014) observaram um aumento na expressão de

HIF-1α em células de melanoma humano SKMEL-188 e AbC1 de hamster,

relacionada à maior produção de melanina e Buscà et al. (2005) demonstraram que,

essa indução de HIF-1α era correlacionado ao aumento na expressão de MITF (fator

de transcrição associado a microftalmia), de forma independente da concentração

de oxigênio.

Embora os estudos descritos tenham abordado respostas celulares frente ao

aumento na melanina e da atividade melanogênica, tanto em células de melanoma

quanto em melanócitos, os efeitos e a relação desse processo com o metabolismo

energético da célula permanecem contraditórios ou desconhecidos. Portanto, esse

trabalho tem como objetivos gerais verificar o papel da via melanogênica na

alteração do metabolismo energético de células de melanoma B16-F10 e os efeitos

de alterações no metabolismo energético no processo melanogênico.

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19

2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS

Os diagnósticos de melanoma vêm crescendo a cada ano e os fatores de

resistência desses tumores contribuem para a baixa eficiência nos tratamentos e

para o alto índice de mortalidade. A presença da melanina nessas células tem sido

considerada por alguns autores como um fator de resistência, devido às suas

características químicas. Entretanto, o processo de melanogênese, também

desencadeia diversas alterações celulares, como aumento nos níveis de ROS,

redução do consumo de oxigênio e inibição na proliferação das células de melanoma

na fase G1/G0 do ciclo celular. Em geral, em células tumorais, uma diminuição no

consumo de oxigênio, frequentemente, está relacionada com uma mudança no

metabolismo oxidativo da glucose, apresentando uma diminuição da fosforilação

oxidativa e um favorecimento da glicólise aeróbica, geralmente associado com

aumento na expressão de HIF-1α, que por sua vez promove a superexpressão de

diversas proteínas envolvidas na via glicolítica.

Visando obter informações que possam delinear uma resposta metabólica das

células de melanoma frente ao estímulo da melanogênese, esse estudo teve como

primeiro objetivo geral verificar o papel da via melanogênica na alteração do

metabolismo energético de células de melanoma B16-F10, com enfoque na glicólise

aeróbica.

Para alcançar esse objetivo, foram traçados objetivos específicos com o

intuito de avaliar:

• A resposta de células submetidas a duas diferentes metodologias de

estímulo da síntese de melanina, pela suplementação do meio de

cultura com L-tirosina e NH4Cl ou pela presença do composto

forscolina;

• Os efeitos do estímulo da melanogênese sobre a proliferação e

capacidade clonogênica das células de melanoma;

• O perfil metabólico das células submetidas à maior produção de

melanina, através da determinação da respiração celular, atividade da

via glicolítica e produção de lactato;

• Os possíveis danos mitocondriais em resposta ao estímulo da

melanogênese e a produção de ROS pela mitocôndria. Além da

expressão de Nfr2 nas células após o estímulo melanogênico;

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ WILLIAN VANDERLEI …

20

• O envolvimento de HIF-1α sobre a resposta celular induzida pela

melanogênese, através da análise da expressão dessa proteína e seu

alvo, GLUT1;

• A resposta do tratamento com forscolina em células B16-F10

incapazes de produzir melanina, através da obtenção e caracterização

do mutante TYR-KO, silenciado para a enzima tirosinase.

Como descrito, a melanogênese desencadeia efeitos importantes nas células,

sugerindo que esse processo pode influenciar o metabolismo energético celular. Por

outro lado, pouco se sabe em relação aos efeitos de alterações no metabolismo

energético na síntese de melanina. A fim de entender melhor essa relação, o

segundo objetivo desse trabalho foi verificar os efeitos de alterações no metabolismo

energético no processo melanogênico, para esse propósito foram traçados objetivos

específicos:

• Obter uma linhagem de células B16-F10 que apresente deficiência na

fosforilação oxidativa (OXPHOS) e consequente inibição na respiração

celular, através do silenciamento da subunidade alfa da ATP sintase

(ATP5α1);

• Caracterizar esse mutante verificando a expressão da proteína

(ATP5α), a capacidade proliferativa e o perfil metabólico em condições

de normóxia (Nx) e hipóxia (Hx);

• Avaliar os efeitos de alterações no metabolismo energético em relação

à síntese de melanina, através da utilização de linhagens knockout das

proteínas GPi (Glucose-6-fosfato isomerase), previamente obtido e

caracterizado por De Pádua et al., (2017), e da subunidade alfa do

complexo V da cadeia de transporte de elétrons (ATP5α1).

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3 ESTRATÉGIA EXPERIMENTAL

3.1 OBJETIVO 1

3.2 OBJETIVO 2

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 MELANINA E A MELANOGÊNESE

A melanina é um polímero sintetizado por diversas espécies entre fungos,

plantas e animais, que apresenta diferentes funções e importância evolucionária. Em

pássaros, por exemplo, a presença desse pigmento nas penas garante a diversidade

de cores, auxiliando a comunicação e reprodução dessas espécies (GALVÁN e

SOLANO, 2016). Já em humanos, a melanina é responsável pela coloração da pele,

olhos e pelos, apresentando grande diversidade entre as populações humanas.

Estudos genéticos nessa área apontam uma variação genética de apenas 10-15%,

sugerindo que a seleção natural, mediada pela pressão geográfica dessas

populações, é responsável por essa diversidade (JORDE e WOODING, 2004;

PARRA, 2007; TISHKOFF e KIDD, 2004).

Na pele, a melanina é sintetizada em células especializadas localizadas na

membrana basal da epiderme, chamadas de melanócitos. Os melanócitos são

células dendríticas que mantêm contato com, aproximadamente, 36 queratinócitos e

uma célula de Langerhans, formando unidades conhecidas como unidades

epidermo-melânicas (Figura 1).

A produção de melanina é restrita a organelas chamadas de melanossomos,

no interior dos melanócitos. Após a maturação dos melanossomos, esses são

transportados, através dos dendritos dos melanócitos, até os queratinócitos

adjacentes, onde os grânulos de melanina se acumulam na região perinuclear

(CICHOREK et al., 2013; MONTAGNA e CARLISLE, 1991; SEIBERG, 2001).

A distribuição dos grânulos de melanina ao redor do núcleo dos queratinócitos

favorece a ação fotoprotetora da melanina frente aos raios UV, protegendo o DNA

dessas células. Essa característica fotoprotetora da melanina é garantida pela sua

estrutura química, que permite a absorção de parte dessa radiação (RILEY, 1997),

mas também através da captação de ROS que são formadas a partir dessa

exposição, como demonstrado por Bustamante et al. (1993) e Tada et al. (2010).

A coloração da pele é determinada por uma mistura de carotenóides, oxi e

desoxi- hemoglobina e em maior extensão pela melanina, mais especificamente,

pela sua distribuição, armazenamento e pela taxa de composição entre os tipos de

melanina (STAMATAS et al., 2004).

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FIGURA 1. REPRESENTAÇÃO DA LOCALIZAÇÃO DOS MELANÓCITOS NA EPIDERME E SUA INTERAÇÃO COM OS QUERATINÓCITOS

FONTE: O autor (2019) baseado em Cichorek et al. (2013) com autorização de The Company of Biologists (número 11820789), ilustrações (https://smart.servier.com/) NOTA: Representação da estrutura da pele humana e das unidades epidermo-melânica, formadas pelos melanócitos, queratinócitos e células de Langerhans. A melanina sintetizada nos melanócitos é transferida dentro dos melanossomos até os queratinócitos adjacentes através das projeções dendriticas. Os grânulos de melanina endocitados se distribuem ao redor do núcleo dos queratinócitos, onde desempenham a função de proteger o DNA dessas células da radiação UV.

Quimicamente, a melanina pode ser dividida em dois tipos principais, a

eumelanina e feomelanina (RILEY, 1997). A eumelanina apresenta coloração

escura, variando do preto ao marrom, e é um polímero heterogêneo formado a partir

de diferentes estados oxidativos do 5,6-dihidroxi-indol (DHI) e do ácido 5,6-dihidroxi-

indol-2-carboxílico (DHICA) (Figura 2), sendo mais abundante em pessoas de pele

escura. Já a feomelanina é encontrada em maior quantidade em pessoas de pele,

cabelos e olhos claros. Apresenta coloração variando do vermelho ao amarelo e sua

estrutura consiste basicamente de unidades de benzotiazina, com menor

contribuição de unidades de benzotiazol e isoquinolinas, apresentando enxofre (S)

como heteroátomo (Figura 2) (ITO e WAKAMATSU, 2008; MORGAN et al., 2013).

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FIGURA 2. ESTRUTURA MOLECULAR DOS ELEMENTOS CONSTITUINTES DA MELANINA

FONTE: Adaptado de Riley (2003) com autorização de John Wiley and Sons (número: 4602100949652) NOTA: Diagrama esquemático da estrutura das unidades de eumelanina e feomelanina. Eumelanina compreende predominantemente subunidades indólicas e a feomelanina, contém átomos de enxofre, principalmente na forma de resíduos de benzotiazinila.

O processo de síntese da melanina é conhecido como melanogênese e,

devido à toxicidade dos intermediários dessa via como o DHICA e quinonas, essa

reação é restrita ao interior de organelas especializadas nos melanócitos, os

melanossomos (RILEY, 1997).

Os melanossomos são organelas tipo lisossomos que contém todas as

enzimas necessárias para o processo melanogênico, como a tirosinase (TYR),

dopacromo tautomerase (DCT) e proteínas relacionadas a tirosinase 1 e 2 (TYRP-1

e 2) (ORLOW, 1995). O processo de maturação dessa organela se dá no interior dos

melanócitos e é finalizado com a transferência dos grânulos de melanina aos

queratinócitos (RAPOSO e MARKS, 2007; WASMEIER et al., 2008).

A síntese, tanto da eumelanina quanto da feomelanina, esquematizada na

figura 3, envolve reações enzimáticas e não enzimáticas, tendo como passo inicial e

limitante a oxidação do aminoácido tirosina à dopaquinona pela metaloenzima

tirosinase (ANCANS et al., 2001). A dopaquinona é uma orto-quinona altamente

reativa que desempenha um papel chave no controle químico da melanogênese. Na

ausência de compostos com grupo sulfidril, como a cisteína, dopaquinona sofre

ciclização para formar ciclodopa que é rapidamente oxidada por reações redox à

dopacromo. Dopacromo então gradualmente e espontaneamente sofre rearranjo

para formar 5,6-dihidroxindol (DHI) e ácido 5,6-dihidroxindol-2-carboxílico (DHICA),

esse rearranjo é determinado pela dopacromo tautomerase, TRP1 e TRP2. A

oxidação e polimerização desses dihidroxindóis produzem eumelanina. Entretanto,

na presença de cisteína, cisteinildopas são oxidadas por reações redox com

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dopaquinonas e cisteinildopaquinonas que, sequencialmente, levam à formação de

feomelanina (ITO e WAKAMATSU, 2008; VIDEIRA et al., 2013).

FIGURA 3. ESQUEMA DAS REAÇÕES NA BIOSÍNTESE DE MELANINA

FONTE: Adaptado de Parra (2007) com autorização de John Wiley and Sons (número: 4602170948154) NOTA: Representação esquemática da síntese de melanina (eumelanina e feomelanina) a partir da oxidação do aminoácido tirosina. Nesse processo, a síntese de feomelanina é favorecida, em detrimento da síntese de eumelanina, na presença de cisteína. Esse processo envolve reações enzimáticas e não enzimáticas. TYR- tirosinase; DQ- dopaquinona; DCT- dopacromo tautomerase; TYRP1- proteína relacionada a tirosinase 1; DHI- 5,6-dihidroxindol; DHICA- 5,6-dihidroxindol-2-carboxílico.

A melanogênese pode ser influenciada por diversos fatores intrínsecos e

extrínsecos, assim como por fatores genéticos, idade e etnia. Fatores extrínsecos

incluem a radiação UV e certos compostos químicos, enquanto fatores intrínsecos

incluem moléculas secretadas pelos queratinócitos e células inflamatórias (D’MELLO

et al., 2016).

A radiação UV é o principal fator regulador da melanogênese epitelial. A

exposição a essa radiação promove a secreção do hormônio α-MSH (hormônio

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estimulante de alfa- melanócitos) pelos queratinócitos que fazem parte das unidades

epidermo-melânicas na pele (SLOMINSKI et al., 2012). Esse hormônio é secretado e

se liga a uma classe de receptores acoplados à proteína-G na membrana plasmática

dos melanócitos, chamados de receptores de melanocortina (MCR), principalmente

MCR1 que apresenta uma maior afinidade por esse hormônio (MILLINGTON, 2006).

A ativação dos receptores MCR1 promove um aumento na síntese de cAMP, através

da enzima adenilato ciclase (AC). O aumento de cAMP intracelular ativa a proteína

quinase A (PKA), que promove a fosforilação de CREB (elemento de resposta ao

cAMP). Por sua vez, pCREB atua como um fator de transcrição de vários genes,

incluindo o fator de transcrição associado à microftalmia (MITF). O aumento na

expressão de MITF promove a expressão de diversas enzimas da via melanogênica

como TYR, TYRP1 e DCT (PARK et al., 2009; VIDEIRA, et al., 2013; YAMAGUCHI,

et al., 2007). A figura 4 mostra um esquema da regulação da melanogênese pelo

hormônio α-MSH e indução de MITF.

Apesar desse processo ser regulado e confinado aos melanossomos,

condições anormais podem facilitar a liberação dos intermediários tóxicos para o

citosol da célula, permitindo a interação desses com os componentes celulares.

Esse é o caso de células de melanoma, que podem apresentar maior expressão das

enzimas da via melanogênica e, consequentemente, maior taxa de produção de

melanina (HARA et al., 1994) associadas com melanossomos estruturalmente

comprometidos (BOROVANSKÝ et al., 1991).

Enquanto a eumelanina é frequentemente associada ao papel fotoprotetor e

antioxidante (MEREDITH e SARNA, 2006), a feomelanina apresenta características

que indicam que sua presença pode trazer danos às células. Ranadive et al. (1986)

e Korytowski et al. (1987) demonstraram que a irradiação de feomelanina por

radiação UVA promoveu a geração de ROS, como radical superóxido (O2∙-) e

peróxido de hidrogênio (H2O2), respectivamente. Além disso, apesar de não

conseguirem comprovar de forma experimental, alguns autores sugerem que a

síntese de feomelanina pode levar à uma depleção de cisteína intracelular, que

comprometeria as defesas antioxidantes celulares, causado pela diminuição na

síntese de glutationa (MORGAN et al., 2013).

Estudos realizados com as duas formas de melanina, eumelanina e a

feomelanina, e com o seu precursor, o ácido 5,6-dihidroxi-indol-2-carboxílico

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(DHICA), mostraram que esses compostos são capazes de promover quebras no

DNA, possivelmente através de reações do tipo Fenton, e ainda interferem na ação

de enzimas de reparo sobre essas lesões (PELLOSI et al., 2014; SUZUKAWA et al.,

2012).

Outras características da melanina envolvem a capacidade de captação de

cálcio intracelular (BUSH e SIMON, 2007; HOOGDUIJN et al.; 2004) e outros íons

metálicos (HONG et al., 2004), além da ligação a xenobióticos (KARLSSON e

LINDQUIST, 2013; LINDQUIST et al., 1986).

FIGURA 4. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA REGULAÇÃO DA MELANOGÊNESE PELA ATIVAÇÃO DO RECEPTOR MCR1

FONTE: O autor (2019), baseado em D’Mello et al. (2016), ilustrações (https://smart.servier.com/) NOTA: Eumelanina e feomelanina são sintetizadas dentro dos melanossomos a partir de reações catalizadas por enzimas specíficas como tirosinase (TYR), proteínas relacionadas a tirosinase (TYRP) e dopacromo tautomerase (DCT). A expressão dessas enzimas está diretamente relacionada à regulação pelo fator de transcrição de microftalmia (MITF). Esse fator é ativado pela fosforilação de CREB, pela proteína quinase A (PKA) em resposta ao aumento nas concentrações de cAMP, promovido pela ativação da adenilato ciclase (AC) pela ligação do hormônio α-MSH nos receptores melanocortina 1 (MCR1).

Além dos efeitos diretos da melanina citados anteriormente, o processo

melanogênico também parece desencadear efeitos importantes no contexto celular.

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Após o estímulo da melanogênese em células de melanoma B16-F10, utilizando L-

tirosina e cloreto de amônio (NH4Cl), Cunha et al. (2012) observaram um aumento

nas concentrações de ROS, indicando sua produção durante a melanogênese. Os

autores demonstraram ainda que, o estímulo da melanogênese durante 48h resultou

na inibição da proliferação celular, aumentando o número de células na fase G1/G0

do ciclo celular, induzindo a célula a um estado de quiescência, e também foi capaz

de alterar o perfil de expressão de diversas proteínas, como ATP sintase, CDK3

(quinase dependente de ciclinas 3) e chaperonas, relacionadas ao metabolismo

energético, citoesqueleto e progressão do ciclo celular.

Utilizando a metodologia de estímulo anterior, Meira et al. (2017),

demonstraram que 48h de indução ao processo melanogênico resultaram em uma

redução de aproximadamente 50% na respiração celular. No entanto, esta inibição

da respiração não afetou o potencial de membrana mitocondrial (Δψm) e ainda

promoveu um aumento na massa mitocondrial das células submetidas ao estímulo,

sugerindo uma indução à biogênese mitocondrial em resposta a este efeito.

Chiarelli-Neto et al. (2014) observaram ainda que células de melanoma

submetidas ao estímulo da melanogênese, com L-tirosina e NH4Cl, tornaram-se

mais sensíveis a ação da radiação visível, promovendo a geração de ROS, aumento

na permeabilidade da membrana plasmática, danos ao DNA e levando a célula à

morte.

Ainda nesse contexto, células de melanoma murino B16-F10 com maior

concentração de melanina parecem apresentar maior sensibilidade à terapia

fotodinâmica (PDT) como demonstrado por Kalegari (2017). Nesse trabalho, a

autora submeteu as células ao estímulo melanogênico, com L-tirosina e NH4Cl, por

48h e, após o tempo de estímulo, as células foram tratadas com o

fotossensibilizador Rosa Bengala acetato (RBAc) e irradiadas por 15 min. Os

resultados mostraram que as células com maior concentração de melanina

apresentaram redução de até 60% na viabilidade celular e aumento no dano

oxidativo ao DNA nuclear, promovendo a formação de 8-oxo-2'-desoxiguanosina (8-

oxodGuo) e de dímeros de pirimidina ciclobutano (CPD).

4.2 MELANOMA

Diversos dos estudos realizados para elucidar o papel da melanina e da

melanogênese foram realizados em modelo de células de melanoma e voltados ao

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tratamento antitumoral. Nesse contexto, Riley (1991) sugere que o processo

melanogênico poderia ser um possível alvo na terapia antitumoral, devido ao seu

poder nocivo e a sua alta atividade em células malignas. De fato, o autor cita dois

modelos para essa abordagem. O primeiro modelo (Calcanhar de Aquiles), baseia-

se no uso de substratos análogos para a tirosinase, que são projetados para

maximizar a geração de produtos reativos de oxidação da ortoquinona. Esses

produtos então, seriam liberados no citoplasma, através das membranas defeituosas

dos melanossomos, com um potencial para reagir com componentes celulares vitais

e causar danos irreversíveis. Já a segunda abordagem (Cavalo de Tróia), tem como

princípio o uso de precursores de melanina contendo radioisótopos que são

incorporados ao pigmento sintetizado e em conjunto ao tratamento radioterápico,

promovem danos e a morte das células tumorais (RILEY, 2003).

O melanoma é um dos mais raros e agressivos tumores de pele, sua

incidência é de apenas 2% quando comparado a outros tipos de tumores cutâneos

(SIEGEL, MILLER e JEMAL, 2018), entretanto, sua letalidade pode chegar a 86%

em pacientes diagnosticados tardiamente, já na fase metastática. Quando

diagnosticado precocemente, as chances de cura são de 95% (SATYAMOORTHY e

HERLYN, 2002).

Os melanomas são derivados dos melanócitos, que, em humanos, não se

dividem rapidamente, mas fatores ambientais, como a radiação UV, podem

promover a proliferação e induzir as células a sintetizar pigmentos citoprotetores. A

transformação maligna dos melanócitos é resultado de uma complexa interação

entre fatores genéticos e ambientais (SATYAMOORTHY e HERLYN, 2002).

A radiação UV, principalmente UVA (320-400nm) e UVB (280-320nm), tem

múltiplos efeitos sobre a pele, incluindo indução de mudanças genéticas, formação

de ROS, alterações na função imune e produção de fatores de crescimento (LO e

FISHER, 2014).

Mutações, deleções genéticas e o histórico familiar também estão associados

ao aparecimento do melanoma. Entre os genes que aparecem frequentemente

mutados nessas células estão os genes CDKN2A, PTEN, TP53, BRAF (HILL et al.,

2013; LO e FISHER, 2014). O histórico familiar de melanoma e tumores prévios

também são considerados fatores de risco associados a essa doença (LEONG et al.,

2012; THOMPSON, SCOLYER e KEFFORD, 2005).

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O modelo aceito para explicar a progressão do melanoma, desde as primeiras

alterações no melanócito até o desenvolvimento da capacidade de invasão e

metástase, foi proposto por Clark et al. (1984). Nesse modelo, ilustrado pela Figura

5, alterações fenotípicas nos melanócitos, em resposta a mutações no DNA, levam à

proliferação clonal aberrante dessas células, formando o chamado nevo benigno,

que não progride, possivelmente devido à ativação do processo de senescência.

Melanócitos alterados são predispostos a danos acumulativos no DNA, que podem

resultar em um nevo displásico. Este, por sua vez, pode progredir para um estágio

de crescimento superficial (RGP- radial growth phase) que é limitado à epiderme e

tem baixíssimo potencial invasivo. Finalmente, células no estágio de crescimento

radial adquirem a habilidade de invadir a derme, passando para o estágio de

crescimento vertical (VGP- vertical growth phase), podendo alcançar os vasos

sanguíneos e sofrer metástase, colonizando outros órgãos, como o pulmão

(THOMPSON et al., 2005; ZAIDI et al., 2008).

FIGURA 5. ESQUEMA DA PROGRESSÃO DO MELANOMA A PARTIR DE MELANÓCITOS NORMAIS

FONTE: Adaptado de Zaidi et al. (2008) com permissão de Macmillan Publishers Ltd: Journal of Investigative Dermatology NOTA: Progressão do melanoma, no qual, o melanócito sofre sucessivos e acumulativos danos ao DNA, podendo adquirir a capacidade de invadir a derme e sofrer metástase. RGP- fase de crescimento superficial; VGP- fase de crescimento vertical.

Em relação ao diagnóstico do melanoma, o autoexame é aconselhável, uma

vez que a detecção precoce aumenta consideravelmente as chances de cura e a

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expectativa de vida dos pacientes. Para uma avaliação prévia a fim de identificar

alguma pigmentação suspeita, a regra utilizada é a do ABCDE: A- assimetria; B-

bordas irregulares; C- coloração diferenciada; D- diâmetro maior que 6mm; E-

evolução (Figura 6) (RIGEL et al., 2010; TRONNIER et al., 2013). Quando há

suspeita de melanoma, a confirmação do diagnóstico pode ser realizada através de

microscopia epiluminescente, dermoscopia digital, análise histopatológica ou

imunohistoquímica utilizando marcadores específicos (TRONNIER et al., 2013).

FIGURA 6. COMPARAÇÃO ENTRE MELANOMAS E NEVO BENIGNOS

FONTE: O autor (2019), baseado em RIGEL et al. (2010), ilustrações (https://smart.servier.com/) NOTA: A figura mostra a comparação entre a morfologia das manchas características de melanoma e os nevos benignos, apresentando, o primeiro, morfologia ABCD: A- assimetria; B- bordas irregulares; C- mais de uma coloração; D- dimensões maiores que 6mm.

O tratamento do melanoma varia de acordo com o estágio do tumor. Para

tumores em estágios iniciais, com crescimento ainda radial, a melhor opção é a

excisão cirúrgica total (TRONNIER et al., 2013). No caso de melanomas em estágio

avançado e metastáticos, o tratamento se torna difícil, uma vez que essas células

apresentam resistência a terapias convencionais, devido a sua resistência à

apoptose, capacidade de evadir o sistema imune e habilidade angiogênica

(MÁRQUEZ-RODAS et al., 2011). Dacarbazina, temozolomida e fotemustina são os

quimioterápicos largamente utilizados no tratamento sistêmico contra melanoma

devido à baixa toxicidade (SARGSYAN et al., 2015). Quimioterápicos que atuam nos

genes BRAF como o Vemurafenib e o Dabrafenib, apresentam maior eficiência e

menor toxicidade quando comparados às terapias usuais, em casos de pacientes

que apresentam mutações nesse gene (LO e FISHER, 2014).

Recentemente, a imunoterapia tem surgido como uma forma promissora no

combate ao melanoma. A imunoterapia consiste em uma variedade de abordagens

que abrangem agentes modificadores imunológicos (citocinas e vacinas), vírus

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32

oncolíticos, bem como inibidores de checkpoints imunológicos. O termo "terapia

passiva" refere-se à administração de citocinas, anticorpos e células imunes para

iniciar uma ação antitumoral sem gerar uma memória imunológica. Em contraste, a

imunoterapia "ativa" estimula o sistema imunológico do paciente a produzir um efeito

antitumoral específico ao antígeno, resultando em uma resposta duradoura

(CONSTANTINIDOU et al., 2018).

A presença da melanina pode proteger a célula tumoral, aumentando sua

resistência a terapias, como a terapia fotodinâmica (PDT), através da sua

capacidade de absorção em certos comprimentos de onda, o que poderia diminuir a

eficiência de alguns fotossensibilizadores, como a hipericina (BROZYNA et al., 2016;

HADJUR et al., 1996). Além disso, células de melanoma com maior conteúdo de

melanina são mais resistentes aos efeitos de ROS, indicando que o poder

antioxidante da melanina é outro fator de resistência contra o estresse oxidativo

induzido por essas terapias (HADJUR et al., 1996; HUANG et al., 2013).

Diversos mecanismos de resistência a apoptose foram caracterizados em

melanoma, como a capacidade de ligação da melanina ao cálcio, um importante

sinalizador das vias apoptóticas, demonstrado por Hoogduijn et al. (2004), a

superexpressão de fatores antiapoptóticos como Bcl-2 e Mcl-1 e a super-expressão

de transportadores ABC, responsáveis pelo efluxo de drogas das células

(GROSSMAN e ALTIERI, 2001; SOENGAS e LOWE, 2003; BEBES et al. 2011;

PINON et al., 2011; HUANG et al., 2013).

4.3 METABOLISMO ENERGÉTICO EM CÉLULAS DE MELANOMA

O ATP é a principal fonte de energia para as células e é produzido,

principalmente, através do metabolismo oxidativo e não oxidativo da glucose. A

fosforilação oxidativa produz até 32 moléculas de ATP por unidade de glucose,

enquanto a glicólise resulta em apenas 2 moléculas de ATP (NELSON e COX,

2018).

Uma característica das células tumorais é a capacidade de apresentar

glicólise aeróbica altamente ativa, através do aumento na captação de glucose e

regulação de enzimas da via glicolítica, em detrimento à fosforilação oxidativa

(OXPHOS), mesmo na presença de oxigênio, esse efeito é conhecido como Efeito

Warburg (glicólise aeróbica) (DIAZ-RUIZ et al., 2011).

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Por unidade de glucose, a glicólise aeróbica é um meio ineficiente de gerar

ATP, quando comparada à quantidade obtida através da respiração mitocondrial. No

entanto, a taxa de metabolismo da glucose é maior, de tal forma que a produção de

lactato, a partir da glucose, ocorre 10 a 100 vezes mais rápido que a oxidação

completa da glucose na mitocôndria. Assim, essa diferença inerente à cinética é

umas das hipóteses que justificaria o motivo pelo qual as células empregariam a

glicólise aeróbica como fonte de ATP (LIBERTI e LOCASALE, 2016; NAYAK et al.,

2018).

Além da geração de energia, o efeito de Warburg foi proposto como um

mecanismo de adaptação a fim de suportar as exigências biossintéticas da

proliferação descontrolada. Neste cenário, o aumento do consumo de glucose é

usado como uma fonte de carbono para os processos anabólicos, necessários para

suportar a proliferação celular. Esse excesso de carbono é desviado para a geração

de nucleotídeos, lipídios e proteínas (EPSTEIN et al., 2017; LIBERTI e LOCASALE,

2016; NAYAK et al., 2018).

Essas mudanças no metabolismo energético têm como objetivo a produção

de precursores essenciais para a biossíntese de moléculas, a fim de sustentar a

sobrevivência, a rápida proliferação, invasão e metástase das células tumorais

(PAVLOVA e THOMPSON, 2016; SCHULZE e HARRIS, 2012), permitindo que as

células tumorais se adaptem às novas condições do microambiente tumoral

(PAVLOVA e THOMPSON, 2016).

Em células de melanoma, essa característica não parece ser exclusiva e o

balanço entre o metabolismo aeróbio e anaeróbio parece variar em resposta as

mudanças adversas no ambiente a fim de promover o crescimento e sobrevivência

do tumor (THEODOSAKIS et al., 2014). Moura et al. (2012), observaram que quando

comparadas à melanócitos normais, células de melanoma metastático WM1158

apresentaram níveis da atividade da OXPHOS maiores, ao mesmo tempo que

demais linhagens de melanoma apresentam maior captação de glucose e um

aumento relativo no metabolismo anaeróbico e produção de ácido lático (HALL et al.,

2013; THEODOSAKIS et al., 2014).

Poucos estudos focam nos efeitos do processo melanogênico sobre o

metabolismo celular. Além do trabalho de Meira et al. (2017), que evidenciou a

redução no consumo de oxigênio por células de melanoma murino B16-F10

submetidas ao estímulo da síntese de melanina; Aliprandini (2010), em condições

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experimentais similares, observou uma diminuição na relação ATP/ADP nas células

B16-F10 submetidas ao estímulo melanogênico, quando comparadas às células não

estimuladas.

Em relação aos parâmetros mitocondriais, Daniele e Schiaffino (2014)

mostraram, através de tomografia eletrônica, que mitocôndrias de melanócitos

estabelecem contato físico com os melanossomos, através de pontes fibrilares de

mitofusina 2 (Mfn2), o que facilitaria a ação da melanina ou de intermediários da sua

síntese sobre a mitocôndria dessas células.

Boulton e Birch-Machin (2015) verificaram o impacto da hiperpigmentação,

induzida por L-tirosina e cloreto de amônio (NH4Cl), sobre a geração de ânion

superóxido e sobre os complexos enzimáticos da cadeia de transporte de elétrons

em 3 linhagens de melanoma humano (CHL1, FM55 e FM94), e concluíram que a

hiperpigmentação aumentou a produção de ânion superóxido pelo complexo II, cuja

expressão também estava aumentada nestas células.

Diversas alterações intracelulares estão relacionadas ao efeito Warburg, entre

elas, a desregulação do gene c-Myc e a atividade do fator induzível por hipóxia (HIF-

1α) (BRAHIMI-HORN, et al., 2011; HEIDEN et al., 2009; HSIEH et al., 2015). Esses

mecanismos ainda não estão completamente esclarecidos. O efeito de Warburg tem

sido ligado à hipóxia, entretanto, Lu et al. (2002) demonstraram que os produtos da

glicólise, lactato e piruvato, podem também regular a expressão gênica induzida pelo

fator induzível por hipóxia 1 (HIF-1), um importante fator de transcrição que regula

positivamente uma série de genes envolvidos no metabolismo, angiogênese,

sobrevivência celular e eritropoiese (SEMENZA, 2012). Sugerindo outras

possibilidades relacionadas ao efeito Warburg, além da condição de hipóxia

geralmente associada à transformação maligna.

4.4 FATOR INDUZÍVEL POR HIPÓXIA (HIF-1)

O fator de transcrição HIF-1 é um heterodímero composto por subunidades de

120 e 90 kDa, denominadas de HIF-1α e HIF-1β, respectivamente (WANG e

SEMENZA, 1995). Enquanto que HIF-1β é expresso constitutivamente, HIF-1α é

regulado conforme a disponibilidade de oxigênio.

Em condições de normóxia, HIF-1α encontra-se ligado à proteína Von Hippel-

Lindau (VHL) e está sujeito a poliubiquitinação, mediada por esta proteína, levando à

sua degradação proteossomal. A formação do complexo HIF-1α e pVHL é garantida

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35

pela ação de prolil hidroxilases (PHD) que promovem a hidroxilação de resíduos de

prolina (P402/P564) em HIF-1α. Esses resíduos de hidroxiprolinas se ligam então ao

núcleo hidrofóbico de pVHL. As prolil hidroxilases (PHD) são dioxigenases que

requerem oxigênio e 2-oxoglutarato como substrato. Essas enzimas transferem um

átomo de oxigênio para o resíduo de prolina e o segundo átomo de oxigênio reage

com o 2-oxoglutarato, gerando succinato. Portanto, atividade de PHD em hidroxilar

HIF-1α depende da concentração de O2 e em condições de hipóxia, a degradação

de HIF-1α é interrompida, pela estabilização e desligamento da proteína VHL, o que

promove a sua ativação (Figura 7) (FEIGE et al., 2011; LEE et al., 2004; MASOUD e;

LI, 2015; SEMENZA, 2012).

Entre os alvos de HIF-1α estão diversas proteínas envolvidas no metabolismo

da glucose, como os transportadores de glucose 1 e 4 (GLUT1 e GLUT4), as

enzimas lactato desidrogenase A (LDH-A), piruvato desidrogenase quinase

isoenzima 1 (PDK1), hexoquinase 2 (HK2), os transportadores de monocarboxilato 4

(MCT4), e fatores angiogênicos, incluindo fator de crescimento vascular endotelial A

(VEGF), que promovem a transição do metabolismo oxidativo para o metabolismo

glicolítico (SEMENZA, 2012; SLOMINSKI et al., 2014; ZBYTEK et al., 2013).

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36

FIGURA 7. ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ESTABILIZAÇÃO E DEGRADAÇÃO DE HIF-1α

REGULADAS PELAS CONCENTRAÇÕES DE OXIGÊNIO

FONTE: O autor (2019), baseado em Huang et al. (2017) com permissão de Spring Nature (nùmero: 4602500512467) NOTA: Em condições de normóxia (20% de oxigênio), HIF-1α sofre degradação proteossomal, pela ação das polihidroxilases e consequente ligação com a proteína Von Hipple- Lindau (VHL). Em condições de hipóxia, VHL é S-nitrozilado perdendo sua função, impedindo sua ligação a HIF-1α, que então é translocado para o núcleo se ligando ao HIF-1β (constitutivamente expresso e não regulado pelas concentrações de O2), levando a expressão de inúmeros genes, incluindo aqueles relacionados à via glicolítica, como por exemplo, os transportadores GLUT1-4 (transportadores de glucose 1 e 4), LDH (lactato desidrogenase), piruvato desidrogenase quinase isoenzima 1 (PDK1), HK (hexoquinase) e fator de crescimento vascular endotelial A (VEGF).

Além disso, HIF-1α tem como alvo direto o gene que codifica para a enzima

piruvato desidrogenase quinase 1 (PDK1), promovendo sua expressão. Essa enzima

é responsável por fosforilar e modular negativamente o complexo piruvato

desidrogenase (PDH), que catalisa a conversão de piruvato à acetil-coenzima A

(Acetil CoA). Dessa forma, o metabolismo do piruvato através do ciclo do ácido

tricarboxílico (TCA) é desfavorecido, comprometendo a respiração mitocondrial (KIM

et al., 2006; PAPANDREOU et al., 2006).

Dessa forma, HIF-1α desempenha um papel importante no crescimento e na

progressão maligna dos tumores, induzindo a transcrição de genes que atuam na

adaptação de células a um microambiente deficiente em oxigênio (KOYASU et al.,

2018; PARKS et al., 2013; PARKS, CORMERAIS e POUYSSÉGUR, 2017).

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37

Em melanócitos e em células de melanoma, HIF-1α parece desempenhar um

papel importante, também na presença de oxigênio. Slominski et al. (2014)

observaram que após estímulo na síntese de melanina através da suplementação do

meio de cultivo com L-tirosina, houve um acúmulo de HIF-1α e indução na

expressão dos seus genes alvos em células de melanoma humano SKMEL-188 e

melanoma de hamster AbC1. Os autores também verificaram, através de ensaios de

imuno-histoquímica em amostras de pacientes, uma relação positiva entre o estágio

do melanoma e a expressão de HIF-1α.

De fato, Buscà et al. (2005) já haviam demonstrado que, de forma restrita à

melanócitos, HIF-1α é alvo de MITF (fator de transcrição associado a microftalmia),

que regula HIF-1α de forma transcricional e independente da concentração de

oxigênio. MITF também desempenha um papel chave na síntese de melanina,

regulando proteínas chaves na melanogênese como a tirosinase (HSIAO e FISHER,

2014), assim como na diferenciação e sobrevivência de melanócitos (BUSCÀ et al.,

2005).

Ainda, estudos realizados por Feige et al. (2011) mostraram que a expressão

de HIF-1α era inversamente proporcional a de MITF, indicando que essa regulação

ocorria de forma mútua, sendo que a superexpressão de HIF-1α promoveu a inibição

na expressão de MITF.

Cheli et al. (2012) relataram que células de melanoma murino B16-F10

submetidas à hipóxia apresentam maior poder tumorigênico e metastático em

ensaios “in vivo”, sugerindo ainda que células de melanoma que apresentam taxa de

proliferação mais lenta ou paradas na fase G1/G0 do ciclo celular teriam maior

capacidade de formar tumores e progredir para metástases. De fato, HIF-1α pode

promover o crescimento de diversos tumores de diferentes formas: através da

regulação da captação de nutrientes, atuando sobre transportadores de glucose

GLUT1 e GLUT4 e transportadores de aminoácidos como LAT1 (transportador de

aminoácido tipo-L 1); modulando a expressão de proteínas envolvidas na via

glicolítica como PDH (piruvato desidrogenase) e LDH (lactato desidrogenase);

promovendo a maior resistência a apoptose, através da indução da fissão

mitocondrial e recrutamento dos fatores BNIP3 e BNIP3L para a membrana da

mitocôndria; e através da regulação de pH intra e extracelular através da regulação

de transportadores de lactato, como MCT1 e MCT4 (transportadores de

monocarboxilatos 1 e 4), e de transportadores anidrase carbônica IX e XII ligadas à

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38

membrana (CHICHE et al., 2010; PARKS et al., 2016; PARKS et al., 2013;

SEMENZA, 2012).

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39

5 MATERIAL E MÉTODOS

5.1 MATERAIS E REAGENTES

Células de melanoma murino B16-F10 foram cedidas pelo Professor Dr.

Roger Chammas da Universidade de São Paulo (USP). Essa linhagem foi obtida a

partir de camundongos da linhagem C57BL/6.

Meio RPMI-1640 foi adquirido da Cultilab (Campinas, Brasil). Soro fetal

bovino (SFB) e gentamicina, ambos da Gibco® foram adquiridos da Induslab (Brasil).

Ácido (4-(2-hidroxietil)-1-piperazineetanesulfônico (HEPES), bicarbonato de

sódio (NaHCO3), tripsina, melanina sintética, cristal violeta, brometo de 3-metil-[4-5-

dimetiltiazol-2-il]-2,5 difeniltetrazólio (MTT), dimetilsulfóxido (DMSO) rotenona, ADP,

carbonil cianeto p-trifluormetoxifenilhidrazona (FCCP), antimicina A, nicotinamida

adenina dinucleótido hidreto (NADH), nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+),

foram adquiridos da Sigma-Aldrich (Brasil). Forscolina, Ácido Kójico, meio DMEM

básico, sem glucose, glutamina, NaHCO3 ou HEPES (D5030) foi adquirido de Sigma

(França).

MitoSOXTM Red, kit Taq DNA Polymerase (Invitrogen™) e anticorpo primário

anti-tirosinase adquiridos da ThermoFisher (Brasil).

Anticorpos primários monoclonais anti-Glut-1 e anti-Nrf2, anti-tirosinase

foram adquiridos pela Abcam (França), anticorpos primários policlonais anti-HIF-1α

(RICHARD et al. 1999) e ARD-1 foram produzidos no laboratório de Tumor Hipóxia e

Metabolismo (Nice –França) (BILTON et al. 2005)

Anticorpos secundários: anti-rato e anti-coelho foram adquiridos pela

Promega (França).

5.2 CULTIVO DE CÉLULAS

As células de melanoma B16-F10, foram mantidas em meio RPMI-1640

suplementado com 7,5% (v/v) de soro fetal bovino, 0,8mM de bicarbonato de sódio,

20mM de HEPES (pH 7.4) e 50μg/mL de gentamicina, acondicionadas em

incubadora umidificada, contendo 5% (v/v) CO2 à 37°C (CUNHA et al. 2012). Para

alguns ensaios, as células foram mantidas em atmosfera de 1% de O2 em câmara

anaeróbica (Ruskinn Technology Ltd, Bridgend, South Wales) onde o ar foi

substituído por N2. O CO2 foi mantido a 5% em uma temperatura de 37ºC.

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40

5.3 ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE

O estímulo da síntese de melanina, foi realizado de duas maneiras. Pelo

tratamento das células com meio de cultura RPMI-1640 suplementado com L-

tirosina e NH4Cl nas concentrações de 0,4mM e 10mM, respectivamente, pelo

período de 24 ou 48h (Cunha et al. 2012). O cloreto de amônio (NH4Cl), uma base

lisossomotrófica, aumenta o pH do melanossomo e promove a maturação

melanossomal, enquanto a adição de L-Tirosina, um substrato da síntese de

melanina cria um ambiente ótimo para a enzima tirosinase (ANCANS et al. 2001;

KONGSHOJ et al. 2007).

Outra forma de estímulo utilizada foi a incubação das células B16-F10 com 25μM

do composto forscolina, por 24 ou 48h. A forscolina é um diterpeno, permeável à

membrana plasmática, e funciona como ativador da enzima adenilato ciclase (AC).

Da mesma maneira que ocorre in vivo, através do hormônio α-MSH, a ativação da

adenilato ciclase pela forscolina, promove o aumento nos níveis de cAMP

intracelular, ativando o fator de transcrição MITF, responsável pela diferenciação dos

melanócitos e indução da expressão das enzimas da via melanogênica, como

tirosinase, TYRP1 e TYRP2, promovendo dessa forma, o aumento na síntese de

melanina (BERTOLOTTO et al. 1996; BUSCÀ et al. 2005; D’ORAZIO, 2015 e PINTO

et al. 2008).

Para alguns experimentos, foi também utilizado ácido kójico na concentração

de 200μM a fim de inibir a produção de melanina. O ácido kójico (5-hidroxi-2-

(hidroximeti1)--pirone) é um metabólito de origem fúngica, com poder quelante de

cobre, que apresenta característica inibitória da atividade de monofenolase da

enzima tirosinase e uma inibição mista da sua atividade de difenolase (CHANG,

2009 e SINGH et al. 2016).

5.4 QUANTIFICAÇÃO DE MELANINA

Para a medida da concentração de melanina, as células foram plaqueadas

(3x105 céulas/ placa) em placas de 60mm. Após 24 ou 48h de estímulo, as células

foram lavadas com PBS, tripsinizadas e centrifugadas a 1200rpm por 5 min. As

células foram lisadas com 300μL de solução de NaOH 1M contendo 10% de DMSO.

Uma alíquota de 10μL foi retirada para quantificação posterior de proteínas. O

restante (290μL) foi incubado a 90ºC por 1h ou 37ºC overnight. Após o tempo de

incubação, a absorbância foi lida a 450nm usando leitor de microplacas (EPOCHTM).

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41

Para determinar a concentração de melanina, a absorbância foi comparada a uma

curva padrão de melanina sintética (Sigma) e o dados normalizados pela

concentração de proteínas. Os resultados foram expressos em μg de melanina/μg

de proteína (HOSOI, ABE e SUDA, 1985; YOO et al., 2007).

5.5 ATIVIDADE DA TIROSINASE

A atividade da tirosinase foi determinada como atividade de DOPA- oxidase,

como descrito por Takashi e Parsons (1992) e Winder e Harris (1991), com

pequenas modificações. Nesse ensaio, as células B16-F10 foram plaqueadas a uma

densidade de 3x105 células por placa em placas de 60mm e submetidas ou não ao

estímulo da melanogênese por 48h. Após o período de incubação, as células foram

lavadas duas vezes com PBS e lisadas por gelo-degelo em solução de PBS 0,1M

pH 6.8 contendo 0,1% de Triton X-100 e inibidores de proteases. O lisado foi então

centrifugado a 10.000g por 10 min. Em uma placa de 96 poços, 50μL do lisado foi

adicionado juntamente com 100μL de PBS 0,1M pH 6.8 e 50μL da solução de L-

DOPA (concentração final= 10mM), preparada poucos minutos antes do

experimento. Após a 30 min de incubação a 37ºC, a atividade da tirosinase foi

avaliada espectrofotometricamente pela oxidação de DOPA a dopacromo a 475nm,

utilizando leitor de microplacas (EPOCHTM). Os valores foram normalizados pela

concentração de proteínas e os resultados expressos em % da atividade da

tirosinase comparado ao controle.

5.6 VIABILIDADE E PROLIFERAÇÃO CELULAR

A viabilidade celular foi monitorada através do método do MTT (brometo de

3-metil-[4-5-dimetiltiazol-2-il]-2,5 difeniltetrazólio). Segundo o princípio do método, as

células viáveis e metabolicamente ativas reduzem o sal de tetrazólio a formazan,

cristais solúveis em DMSO, que podem ser quantificados a 550nm (MOSMANN,

1983).

As células foram plaqueadas (5x10³ células/poço) em placas de 96 poços e

após 24h para adesão, o meio de cultura foi substituído pelo meio suplementado

com 25μM de forscolina e/ ou 200μM de ácido kójico. Após 24 e 48h de estímulo, o

meio foi retirado e substituído por solução de 0,5mg/mL MTT em HBSS. As culturas

foram então incubadas a 37°C, em atmosfera de 5% de CO2 durante 3h. Após o

tempo de incubação, o meio foi retirado e os cristais de formazan dissolvidos em

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42

200μL de DMSO e absorbância mensurada em leitor de microplacas (EPOCHTM) a

550nm, utilizando DMSO como branco. Os resultados foram expressos em

porcentagem de células viáveis, considerando 100% para o controle.

Já a proliferação celular foi determinada pelo método do cristal violeta que

cora ácidos nucléicos de células aderidas e fixadas, de acordo com Gillies et al.

(1986). Para esse experimento, células B16-F10 foram plaqueadas (5x10³

células/poço) em placas de 96 poços e após 24h de adesão foi realizado o estímulo

da síntese de melanina durante 24 e 48h, com 25μM de forscolina ou a inibição

desse estímulo através da suplementação do meio com 200μM de ácido kójico,

inibidor competitivo da enzima tirosinase. Após os tempos de estímulo, as células

foram lavadas com PBS e fixadas com metanol absoluto (100μL/poço) durante

10min em temperatura ambiente. Em seguida, o metanol foi removido e adicionado

100μL de cristal violeta (0,2% diluída em etanol 2%) por 3 min. Por fim, as células

foram submetidas a sucessivas lavagens com PBS, para retirada do excesso e o

corante foi eluído com a adição de citrato de sódio 0,05M em etanol 50%. A

absorbância foi mensurada em leitor de microplacas (EPOCHTM) a 550nm e os

resultados expressos em porcentagem de células viáveis (células aderidas),

considerando 100% para o controle.

Em relação aos mutantes B16-F10 WT e ATP5A1-KO, a viabilidade e

proliferação celular foram determinadas como descrito a seguir. As células foram

plaqueadas em placas de 6 poços a uma densidade de 4x104 células/poço. Após o

tempo de adesão de 24h, as células foram mantidas em condições de normóxia ou

hipóxia (1% de oxigênio), em câmara anaeróbica (Ruskinn Technology Ltd,

Bridgend, South Wales) por 24, 48 e 72h. O número de células totais e de células

viáveis, medida através da marcação com iodeto de propídeo, foi determinada pelo

equipamento ADAM-MC (Digital Bio, NanoEnTek Inc., Seoul, Korea). A taxa de

proliferação celular foi obtida através da razão entre o número total de células

obtidas em cada período em relação ao número total de células em 24h (resultado

no tempo x/ resultado em 24h = taxa de dobramento).

5.7 ENSAIO CLONOGÊNICO

A capacidade de formar colônias a partir de células individuais na presença

de indutores da via melanogênica foi determinada por ensaio clonogênico, de acordo

com De Padua et al. (2017). As células B16-F10 foram plaqueadas em baixa

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43

densidade (1000 células/ placa) em placas de 60mm. Após o tempo de adesão

(24h), o meio de cultura foi suplementado com os compostos indutores (25μM de

forscolina ou 10mM de NH4Cl e 0,4mM de L-tirosina), na presença ou não de 200μM

de ácido kójico. A incubação foi mantida até a visível formação de colônias no grupo

controle (7 dias), sem substituição do meio nesse período, e então coradas com

corante cristal violeta (0,2% diluída em etanol 2%). Esse ensaio também foi

realizado em células mantidas em meio RPMI-1640 não contendo glucose ou na

presença de 3μM de oligomicina.

Em relação ao ensaio clonogênico realizado com o mutante B16-F10

ATP5A1-KO, as células foram plaqueadas em uma densidade baixa (1000 células/

placa) em placas de 60mm. Após 24h para adesão, o meio de cultivo foi substituído

por meio contendo ou não glucose, glutamina e 3μM de oligomicina. As células

foram mantidas em condições de normóxia e hipóxia (1% de O2) e a formação de

clones foi observada após 7 dias, sem substituição do meio nesse período, através

da coloração com o corante Giemsa (Sigma-Aldrich, Hannover, Germany).

5.8 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS DE RADICAL SUPERÓXIDO (O2•-)

MITOCONDRIAL

A produção de radical superóxido foi mensurada através da utilização da

sonda MitoSOXRed (TermoFisher) de acordo com as especificações do fabricante.

As células foram plaqueadas (5x10³ células/ poço) em placas pretas de 96 poços e

após o tempo de adesão submetidas ao estímulo da melanogênese por 12, 15, 24 e

48h com 0,4mM de L-Tirosina e 10mM de NH4Cl ou 25μM de forscolina, na

presença ou não de ácido kójico. Após esse período, o meio de estímulo foi retirado

e as células lavadas 1 vez com PBS, e então incubadas com 5μM de MitoSOXRed

por 10 min a 37ºC. A intensidade de fluorescência foi obtida em leitor de microplacas

TECAN (Infinity) com valores de excitação e emissão de 510/580nm. Os valores

foram normalizados pela concentração de proteínas.

A sonda MitoSOXRed (Molecular Probes) é um composto derivado do

brometo de etídio que apresenta uma alta afinidade pela mitocôndria e, nesta

organela é oxidado especificamente por radicais superóxido, e não por outras

espécies reativas de oxigênio ou nitrogênio. O produto oxidado torna-se fluorescente

ao ligar-se ao DNA mitocondrial (ROBINSON et al. 2008).

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44

5.9 AVALIAÇÃO DOS DANOS OXIDATIVOS AO DNA MITOCONDRIAL

A determinação dos níveis de dano ao DNA mitocondrial (mtDNA) após o

estímulo da melanogênese foi realizada em colaboração com a Profª. Drª. Nadja C.

Souza-Pinto do Departamento de Bioquímica (IQ) da Universidade de São Paulo

(USP). O principio desse método se baseia na utilização de uma Taq polimerase de

alta afinidade capaz de amplificar longos fragmentos de mtDNA (10Kb). A

inabilidade de amplificar o DNA a partir de um dano oxidativo, resulta na

amplificação de pequenos fragmentos de DNA que após a corrida em gel de

agarose e marcação com brometo de etídio, resulta em uma banda com intensidade

inversamente proporcional ao número de danos. Um fragmento curto de 128bp

também foi amplificado e utilizado como normalizador, uma vez que por

probabilidade, apresenta menor chance de sofrer danos (KOVALENKO e SANTOS,

2009).

As células B16-F10 foram plaqueadas (5x105 células/ placas) em placas de

100mm e submetidas ao estímulo da melanogênese através da suplementação do

meio de cultura com 10mM de NH4Cl e 0,4mM de L-tirosina. Após 48h de estímulo,

as células foram tripsinizadas, centrifugadas a 1200rpm por 5 min e o pellet

congelado a -80ºC até o momento do experimento.

O DNA total de células, foi extraído através da utilização do kit DNeasy Blood

and Tissue (Qiagen). As amostras foram diluídas em água ultrapura (Milli-Q) a uma

concentração final de 6ng/μL de DNA.

O fragmento curto de mtDNA amplificado foi o Ms Sml mt RNR1, de tamanho

128bp, uma região não codificante para proteínas (www.genecards.org). Para esse

fim, foi realizado uma PCR utilizando-se o kit Taq DNA Polymerase (Invitrogen;

#10342-053), com uma Taq polimerase padrão, 10μM dos primers (forward e

reverse), 10mM dNTP, 50mM MgCl2 e 6ng/μL DNA. Após a amplificação foi

realizada uma eletroforese do produto em gel de poliacrilamida 10%, não

desnaturante durante 2h a 60V. Para a corrida as amostras foram marcadas com

Orange DNA Loading Dye (Thermo, #R0631) e como padrão de peso molecular,

GeneRuler Low Range DNA Ladder (Thermo, #SM1193). A sequência dos primers e

o programa utilizado no termociclador estão mostrados na tabela 1.

Em relação ao fragmento longo de mtDNA (Ms XLmt), o fragmento

amplificado tem tamanho de 10090bp, nesse caso, foi realizado uma PCR overnight

utilizando-se o kit AccuPrime Taq DNA Polymerase High Fidelity (Invitrogen,

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45

#12346086), 10μM primer forward, 10μM primer reverse, 10mM dNTP, 50mM MgCl2

e 6ng/μL DNA. Após a amplificação, o produto foi fracionado em gel de agarose 1%,

corado com Orange DNA Loading Dye (Thermo, #R0631) e marcador de padrão de

peso molecular, Lambda DNA/HindIII. A corrida foi realizada a 80V por 2h. A

sequência dos primers e o programa utilizado no termociclador estão mostrados na

tabela 1.

Em ambas as PCRs, foram realizadas reações controle com a metade de

DNA das amostras da condição controle.

Após o fracionamento das regiões amplificadas, por gel de poliacrilamida ou

agarose, os géis foram incubados em solução de brometo de etídio 4μg/mL por

cerca de 15 min e fotografados sob luz UV em aparelho fotodocumentador. A

intensidade/ área das bandas foram quantificadas por meio do software ImageJ e os

resultados para o fragmento longo normalizados em relação aos resultados do

fragmento curto.

ALVO SEQUÊNCIA DOS PRIMERS PRODUTO PROGRAMA

MsSmlmt

RNR1

Fw AACCTCCATAGACCGGTGTAAAA

128bp

94ºC por 30min (1 ciclo);

94ºC por 30seg, 55ºC por

30s, 72ºC por 1min (22

ciclos).

Rv TTTATCACTGCTGAGTCCCGT

MsXLmt

Fw GCCAGCCTGACCCATAGCCATA

ATAT 10090bp

94ºC por 3s (1 ciclo); 94ºC

por 30s, 55ºC por 30 s,

68ºC por 18min (22

ciclos).. Rv

GAGAGATTTTATGGGTGTAATG

CGG

TABELA 1. SEQUÊNCIA DOS PRIMERS E PROGRAMA DO TERMOCICLADOR

FONTE: O Autor (2019)

5.10 ANÁLISE METABÓLICA: TAXA DE RESPIRAÇÃO CELULAR E

ACIDIFICAÇÃO EXTRACELULAR

As taxas de consumo de oxigênio (OCR) e de acidificação extracelular

(ECAR) das células B16-F10 após o estímulo da melanogênese foram realizadas

através do equipamento Seahorse XF24 extracellular flux analyzer (Seahorse

Bioscience, MA, USA) de acordo com protocolo utilizado por DE PADUA et al.

(2017). Para esse experimento as células foram plaqueadas em uma densidade de

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46

3x104 células em placas de 24 poços próprias do aparelho, para que em 72h a

confluência total fosse atingida. Após 24h do plaqueamento, as células foram

incubadas por 48h com 25μM de forscolina e 200μM de ácido kójico, quando

necessário. Uma hora antes da análise, o meio de cultura foi substituído pelo meio

de ensaio (sem glucose, piruvato, soro fetal bovino ou tampão, D5030- Sigma) e as

placas foram incubadas a 37ºC na ausência de CO2. Os níveis basais de OCR e

ECAR foram medidos por 24 min, seguido do ensaio de estresse mitocondrial

(10mM glucose, 1μM oligomicina, 3μM FCCP, 1μM rotenona/1μM antimicina A). Os

resultados foram normalizados pela concentração de proteínas e representados

como mpH/min/μg protein para ECAR e como pMoles O2/min/μg protein para OCR.

No caso dos ensaios com os mutantes knockout da subunidade alfa da ATP-

sintase (B16-F10 ATP5A1-KO), a densidade celular para a linhagem selvagem (WT)

foi de 105 células/poço e para as células mutantes 1,5x105 células/poço. O ensaio foi

realizado após 24h ao plaqueamento.

5.11 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS DE LACTATO EXTRACELULAR

As células B16-F10 (106) foram plaqueadas em placas de 100mm e após o

tempo para adesão (24h) foram estimuladas por 48h com 25μM de forscolina, na

presença ou não de 200μM de ácido kójico. Os sobrenadantes foram centrifugados

(8000g, 4°C, por 5 min) e analisados pelo equipamento Cobass c701 instrument

(Roche), em colaboração com o laboratório de Bioquímica da Universidade de Nice.

Este método é baseado na conversão enzimática de lactato a piruvato pela lactato

oxidase, juntamente com a reação colorimétrica de peróxido de hidrogênio formado

na primeira reação, resultando em um composto colorido, cuja intensidade é medida

espectrofotometricamente e é diretamente proporcional à concentração de lactato.

Em relação aos experimentos realizados com o mutante ATP5A1-KO, as

células foram plaqueadas (106) e o sobrenadante analisado após 3, 6 e 24h. Os

resultados foram normalizados pela quantidade de proteína e expressos em mM de

lactato/ μg de proteína.

5.12 DETERMINAÇÃO DA EXPRESSÃO DE PROTEÍNAS POR WESTERN

BLOTTING

Para obtenção dos extratos proteicos, as células foram plaqueadas em placas

de 60mm e lisadas em tampão Leammli 1,5x (65,8mM Tris-HCl, pH 6.8, 2.1% SDS,

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47

26.3% (w/v) glicerol, 0,01% azul de bromofenol). A determinação de proteínas foi

realizada através do kit BCA (Thermo Scientific Pierce BCA Protein Assay Kit)

seguindo as especificações do fabricante.

Para a realização do ensaio, 40μg/mL de proteínas foram separadas em uma

eletroforese em gel de 10% SDS-PAGE e transferidas em uma membrana de PVDF

(Millipore). As membranas foram bloqueadas utilizando 5% de leite desnatado em

tampão TN (50mM de TRIS-HCl pH 7,4, 150mM de NaCl). Os anticorpos primários

para HIF-1α (anticorpo policlonal produzido no laboratório), NRF2 (Abcam,

ab137550), GLUT-1 (Abcam, ab652), tirosinase (Abcam, ab180753 e TermoFisher

T311), ATP5A1 (Abcam, ab14748) e o loading control ARD1 (produzido em

laboratório) foram incubados overnight em câmara fria a 4ºC. Os anticorpos

secundários anti-mouse e anti-rabbit (Promega) foram incubados por 1h a

temperatura ambiente e as bandas imunoreativas detectadas pelo sistema ECL

(Amersham Biosciences). A quantificação das bandas foi realizada utilizando o

software ImageJ e normalizados pela intensidade do loading control, ARD1. ARD1

(arrest-defective-1 protein) é uma acetil-transferase, utilizada como loading control

em técnicas de western blotting em alguns trabalhos, tanto pelo reduzido tamanho

(~33kDa) como pela não regulação em condições de hipóxia (BILTON et al., 2005;

DE PADUA et al., 2017)

5.13 SILENCIAMENTO DOS GENES TYR E ATP5A1 POR CRISPR/Cas9

Para o silenciamento dos genes TYR e ATP5A1, que codificam para a enzima

tirosinase e para a subunidade alfa da ATP sintase, respectivamente, as células

B16-F10 foram plaqueadas (1x106 células/ placa) em placas de 100mm e após o

tempo de adesão (24h) foram transfectadas com o plasmideo pSpCas9(BB)-2A-GFP

(PX458). Esse plasmideo contendo a região codificante para a proteína fluorescente

GFP e o gRNA para os genes de interesse foi desenhado Engenheiro Dr. Jérôme

Durivault, do laboratório do Centre Scientifique de Monaco, utilizando a ferramenta

CRISPR Design Tool (http://crispr.mit.edu), as sequências do gRNA estão

apresentadas na tabela 2.

Para a transfecção foi utilizado o kit JetPRIME® (Poly plus transfection,

Illkirch, France) seguindo as especificações do fabricante. No dia seguinte, as

células GFP positivas foram selecionadas através de cell sorting (FACS) e

adicionadas individualmente a cada poço de 4 placas de 96 poços contendo meio

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RPMI-1640 que foram condicionadas em incubadora umidificada, contendo 5% (v/v)

CO2 à 37°C. Os clones que surgiram foram analisados por western blotting, no caso

do knockout para o gene ATP5A1, ou análise enzimática, no caso do silenciamento

da enzima tirosinase. Por fim, dois clones de cada silenciamento foram escolhidos

para a realização dos ensaios.

ALVO SEQUÊNCIA DO gRNA

TYR TCTGCCTGAAAGCTGGCCGC (AGG)

ATP5A1 GCCGTGCCCTCCCTCGACGGG

TABELA 2. SEQUÊNCIA DO RNA GUIA (gRNA)

FONTE: O autor (2019).

5.14 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA ATPASE E CITRATO SINTASE

A avaliação da atividade do complexo V da cadeia de transporte de elétrons

mitocondrial foi realizada em colaboração com Dr. Konstantina Fragaki do

laboratório de genética mitocondrial do Centre Hospitalier Universitaire de Nice

(CHU). A análise da atividade do complexo V foi realizada de acordo com Barrientos

et al. (2009), medindo-se a hidrólise de ATP, espectrofotometricamente, de forma

indireta pela oxidação do NADH em um ensaio acoplado a reação de redução do

piruvato a lactato, mediada pela lactato desidrogenase (LDH). Nesse sistema, o ATP

é hidrolisado pela ATPase em ADP + Pi. O fosfoenolpiruvato é convertido a piruvato

com a produção de novo ATP (sistema regenerador para não limitar o ATP no

sistema). O piruvato formado é reduzido a lactato (devido a presença de LDH), com

a oxidação do NADH a NAD+. Assim, a quantidade de piruvato formado é

dependente da disponibilidade de ADP proveniente da atividade da ATPase e a sua

redução (com a oxidação de NADH) reflete indiretamente a atividade da ATPase

(hidrólise de ATP).

Para esse experimento, a linhagem parental (WT) e o mutante B16-F10

ATP5A1-KO, foram cultivados em placas de 150mm até atingir a confluência. As

células foram então, lavadas com PSB, tripsinizadas e centrifugadas a 1400rpm por

7 min a 4ºC. O pellet de células foi submetido a imersão em nitrogênio líquido por 15

min e posteriormente congelado a -80ºC até o momento do uso. No dia da análise,

as células foram suspendidas e lisadas utilizando tampão específico (20mM Tris-

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HCl, 0,25M sucrose, 40mM KCl, 2mM EGTA, pH 7.2) suplementado com digitonina,

um detergente não iônico usado para permeabilizar membranas celulares. Após 10

min em gelo, as células foram centrifugadas 2x a 5000rpm durante 5 min a 4ºC e

ressuspensas em 100μL do mesmo tampão, sem digitonina. Em uma cubeta foram

adicionados a amostra (10μL) e o tampão de reação para dar início a reação, a

37ºC. Esse tampão continha, 50mM Tris·Cl, pH 8, 5mg/ml BSA, 20mM MgCl2, 50mM

KCl, 15μM CCCP, 5μM antimicina A, 10mM PEP, 2,5mM ATP, 4U lactato

desidrogenase e piruvato quinase e 1mM NADH. A leitura da absorbância em

340nm foi realizada durante 3 min. Após o período de incubação, foram adicionados

3μM de oligomicina e a leitura realizada por mais 3 min, a fim de subtrair a atividade

de ATPase não acoplada a cadeia de transporte de elétrons. Os resultados foram

normalizados pela concentração de proteínas e mostrados como nmol de NADH

oxidado/min/mg de proteína, sendo que cada nmol de NADH oxidado

correspondente a 1nmol de fosfato liberado.

A atividade da citrato sintase também foi avaliada como marcardor da

atividade do ciclo do ácido tricarboxílico (TCA). A amostra de células foi incubada

por 5 min a 30ºC solução contendo 10mM Tris-HCl, pH 7.5, 0,2% Triton X-100,

0,1mM DTNB, 0,2mM acetil-CoA. O baseline foi mensurado a 412nm por 5 min. A

reação foi iniciada com a adição de 0,5mM de oxalacetato, preparado pouco antes

do uso, e acompanhada por 5 min a 412nm. A taxa de atividade da citrato sintase foi

expressa em nmol de DTNB reduzido/ minuto/ mg de proteína (BARRIENTOS et al.

2009).

5.15 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram analisados utilizando o software GraphPad Prism 6, e

submetidos a análise estatística através do Student's T test ou ANOVA seguido do

teste de Tukey. Níveis de significância estão mostrados nas legendas das figuras.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 EFEITOS DA MELANOGÊNESE SOBRE A VIABILIDADE E PROLIFERAÇÃO

CELULAR

A melanina é um polímero não proteico sintetizado a partir da oxidação do

aminoácido L-tirosina pela enzima tirosinase (D’MELLO et al., 2016). Sua síntese

pode ser induzida em culturas de melanócitos ou em células de melanoma de

diferentes maneiras, como por exemplo, utilizando-se agonistas dos receptores

MCR, como os hormônios α-MSH e adrenocorticotrópico (ACTH), ou ainda através

da irradiação das células por radiação UV (MILLINGTON, 2006; VILLAREAL et al.,

2017).

Neste estudo, foram utilizados dois diferentes protocolos de indução do

processo melanogênico. O primeiro, foi descrito por Kongshoj et al. (2007) e

adaptado por Cunha et al. (2012). Nesse protocolo, células de melanoma murino

B16-F10 foram cultivadas na presença de 0,4mM de L-tirosina e 10mM de cloreto de

amônio (NH4Cl) por 24 ou 48h. O cloreto de amônio, uma base lisossomotrófica,

aumenta o pH do melanossomo e promove a maturação melanossomal, enquanto a

adição de L-tirosina, um substrato da síntese de melanina, cria um ambiente ótimo

para a enzima tirosinase (ANCANS et al., 2001 e KONGSHOJ et al., 2007). De fato,

como representado na Figura 8 A-B, é possível observar a coloração escura no

pellet de células após 24 e 48h de estímulo, indicando a maior produção de

melanina por essas células.

FIGURA 8. IMAGENS REPRESENTATIVAS DO PELLET DE CÉLULAS APÓS O ESTÍMULO

FONTE: Meira et al. (2017) NOTA: (A-B) Imagens representativas do pellet celular após 24h (A) e 48h (B) de estímulo na síntese de melanina utilizando 0,4mM de L-tirosina e 10mM de NH4Cl.

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A concentração de melanina intracelular foi mensurada,

espectrofotometricamente, após o tempo de estímulo de 24 e 48h. Os resultados

mostram que há um aumento significativo na produção de melanina em 24h

(aproximadamente 5 vezes) e, após 48h de tratamento com 0,4mM de L-tirosina e

10mM de NH4Cl, esse aumento torna-se ainda mais expressivo, chegando a 10

vezes quando comparado ao grupo controle (Figura 9 A-B).

FIGURA 9. DOSAGEM DE MELANINA TOTAL EM CÉLULAS TRATADAS COM L-TIROSINA E NH4Cl

FONTE: O Autor (2019) NOTA: Analise espectrofotométrica da concentração de melanina intracelular no lisado de células após 24 e 48h de estímulo. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos como μg de melanina/ μg de proteína (*p≤0,005;***p≤0,001; ****p≤0,0001).

Neste trabalho, a melanogênese também foi induzida pela incubação das

células B16-F10 com o composto forscolina, numa concentração de 25μM, conforme

descrito por Buscà et al. (2005). A forscolina é um composto diterpeno, permeável à

membrana plasmática, conhecido pelo seu papel ativador da enzima adenilato

ciclase. Essa enzima catalisa a conversão de ATP a cAMP, uma importante

molécula de sinalização celular envolvida em diversas funções como diferenciação,

crescimento e metabolismo celular (HANOUNE e DEFER, 2001; SUNAHARA et al.,

1996). Essa ativação não é específica, uma vez que a forscolina é capaz de ativar 8

das 9 isoformas da enzima adenilato ciclase expressas em células de mamíferos

(PINTO et al., 2008). O aumento nos níveis de cAMP intracelular, promove a

ativação de MITF (fator de transcrição associado a microftalmia) induzindo a

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expressão das enzimas da via melanogênica, como a tirosinase e as proteínas

relacionadas a tirosinase (TYRP1 e TYRP2) (BERTOLOTTO et al., 1996; D’ORAZIO

et al., 2006; PINTO et al., 2008).

A incubação das células de melanoma murino B16-F10, por 48h, com 25μM

de forscolina promoveu um aumento de, aproximadamente, 50% na atividade

difenolásica da enzima tirosinase, medido através da oxidação de L-DOPA a

dopacromo, como mostrado na figura 10. Podemos observar também que, a

presença de ácido kójico, inibidor competitivo da enzima tirosinase (TAKASHI e

PARSONS, 1992; WINDER e HARRIS, 1991), foi capaz de inibir sua atividade para

o nível do grupo controle.

FIGURA 10. MEDIDA DA ATIVIDADE DA ENZIMA TIROSINASE

FONTE: O Autor (2019) NOTA: Analise espectrofotométrica da atividade de oxidação de L-DOPA a dopacromo pela enzima tirosinase após 48h de estímulo com 25μM de forscolina, na presença ou não de 200μM de ácido kójico. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos em porcentagem em relação ao controle em normóxia (***p≤0,001; ****p≤0,0001).

A produção de melanina também foi avaliada nas células B16-F10 tratadas

com 25μM de forscolina, os resultados após 24 e 48h de estímulo estão

representados na Figura 11. Não foi observado estímulo na produção de melanina

durante 24h, mas é possível notar que houve um aumento significativo, de

aproximadamente 2 vezes, na concentração de melanina em células estimuladas

por 48h, quando comparadas ao grupo controle. Esse efeito foi reduzido

significativamente (30%), na presença de 200μM de ácido kójico.

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FIGURA 11. DOSAGEM DE MELANINA TOTAL EM CÉLULAS TRATADAS COM FORSCOLINA

FONTE: O Autor (2019). NOTA: Analise espectrofotométrica da concentração de melanina intracelular no lisado de células após 24 e 48h de estímulo na presença de 25μM de forscolina e/ ou 200μM de ácido kójico. Os dados correspondem a média ± SD de quatro experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos como μg de melanina/μg de proteína (**p≤0,005; ***p≤0.0005; ****p≤0,0001).

Há uma diferença em relação à produção de melanina entre as duas

metodologias de estímulo (Figuras 9-11). As células submetidas ao tratamento com

0,4mM de L-tirosina e 10mM de NH4Cl, quando comparadas as células B16-F10

tratadas com 25μM de forscolina, apresentam quase 2 vezes mais melanina ao final

de 24h de estímulo, chegando a um aumento de 3,2 vezes após 48h. Essa diferença

deve-se, provavelmente, ao fato de as células cultivadas em meio suplementado por

L-tirosina não apresentarem restrição de substrato para a enzima tirosinase, que

pode ser uma limitação para as células tratadas com forscolina, uma vez que o meio

de cultivo, RPMI-1640, não foi acrescido desse aminoácido.

Entretanto, uso da forscolina como indutor da melanogênese apresenta a

vantagem de mimetizar o que ocorre in vivo, através da ativação da adenilato

ciclase, da mesma maneira que o hormônio α-MSH liberado pelos queratinócitos,

mas sem a dependência de receptores de membrana, uma vez que seu caráter

apolar confere permeabilidade através da membrana plasmática (D’MELLO et al.,

2016; HANOUNE e DEFER, 2001).

A viabilidade celular foi mensurada através da metodologia do MTT, que

avalia a redução do sal de tetrazólio a formazan pelas células viáveis e, como

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representado na figura 12, não houve diferença significativa na viabilidade celular

após 24 ou 48h de estímulo melanogênico por forscolina. Ainda, a inibição da

melanogênese por ácido kójico não foi diferente da observada para os demais

grupos.

FIGURA 12. EFEITO DO ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE SOBRE A VIABILIDADE DAS CÉLULAS B16-F10

FONTE: O Autor (2019) NOTA: A viabilidade das células B16-F10 foi determinada, espectrofotometricamente a 550nm, através do método MTT após 24 e 48h de estímulo da melanogênese por 25μM de forscolina, as células também foram tratadas com 200μM de ácido kójico, um inibidor competitivo da enzima tirosinase. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em triplicata e os resultados foram expressos em % de células viáveis em comparação ao grupo controle.

Já o efeito do estímulo na síntese de melanina sobre a proliferação celular foi

avaliado utilizando o corante cristal violeta (CV). O CV é um corante de ácidos

nucléicos, permeável às membranas biológicas, que cora o DNA das células viáveis

e aderidas à placa de cultura. A incorporação do corante é proporcional a

quantidade de DNA, oferecendo uma estimativa da proliferação e viabilidade das

células (GILLIES et al., 1986). Os resultados, mostrados na figura 13, não

evidenciam diferença significativa na proliferação celular após 24h de estímulo. Em

48h, uma diminuição na proliferação de, aproximadamente, 24% foi observada nas

células tratadas com 25μM de forscolina, que se manteve na presença de ácido

kójico.

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FIGURA 13. EFEITO DO ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE SOBRE A PROLIFERAÇÃO DAS CÉLULAS B16-F10

FONTE: O autor (2019) NOTA: A viabilidade das células B16-F10 foi determinada, espectrofotometricamente a 540nm, através do método cristal violeta (CV) após 24h (gráfico A) e 48h (gráfico B) de estímulo da melanogênese por 25μM de forscolina, as células também foram tratadas com 200μM de ácido kójico, um inibidor competitivo da enzima tirosinase. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em triplicata e os resultados foram expressos em % de células viáveis em comparação ao grupo controle (p≤0,05).

O efeito do estímulo da melanogênese, induzida pela forscolina sobre a

viabilidade das células B16-F10 foi diferente do observado quando o estímulo foi

obtido pela suplementação do meio com L-tirosina e NH4Cl, como descrito por

Cunha et al. (2012) e Meira et al. (2017), que observaram uma redução significativa,

de 30% e 72%, respectivamente, na viabilidade das células estimuladas avaliadas

pelo MTT.

Entretanto, corroborando com o presente estudo, os autores também

observaram uma diminuição da proliferação através do cristal violeta. Ainda, Cunha

et al. (2012) relacionaram a inibição na proliferação, após 48h de estímulo, ao

aumento do número de células na fase G1 do ciclo celular, atribuindo esse efeito a

entrada das células com maior conteúdo de melanina em um estado de parada

reversível de proliferação conhecido como quiescência. Porém, em células B16-F10

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estimuladas por forscolina, o ciclo celular e a entrada em quiêscencia não foram

avaliados.

Neste trabalho, foi determinada a capacidade de células B16-F10 de formar

clones na presença de indutores da melanogênese (Figura 14). Para isso, o meio foi

suplementado com 0,4mM de L-tirosina e 10mM de NH4Cl (Figura 14A) ou 25μM de

forscolina e 200μM de ácido kójico (Figura 14B), quando necessário.

Independentemente da metodologia de estímulo, as células induzidas

apresentam uma menor capacidade clonal quando comparadas ao grupo controle

(Figura 14). É possível observar também que o efeito inibitório, na formação de

clones, não foi revertido na presença do inibidor da enzima tirosinase (Figura 14B),

sugerindo que o efeito sobre a proliferação em células tratadas com forscolina

poderia ser consequência da ativação da adenilato ciclase. Sabe-se que a ativação

da enzima adenilato ciclase e consequente aumento nos níveis de cAMP promovem

uma inibição na proliferação celular através de diferentes vias de sinalização, como

por exemplo a inibição da via MAPK (proteína quinase ativada por mitógeno)

mediada por PKAs (proteína quinase dependente de cAMP) (SCHMITT e STORK,

2001), o que poderia explicar os efeitos observados.

Entretanto, estudos anteriores mostram efeitos contraditórios em relação aos

efeitos de agentes indutores de cAMP e a ativação da via MAPK em células B16-

F10. Englaro et al. (1995), observaram que em células de melanoma B16-F10

tratadas com compostos que estimulam a síntese de cAMP como forscolina (10µM)

e IBMX (isobutilmetilxantina), apresentaram aumento na síntese de melanina e

estimulo das vias MAPK, através da ativação de MEK/ERK1 (quinase ativadora de

MAP quinase). Nesse trabalho, os autores sugeriram uma regulação da

melanogênese induzida por cAMP mediada pela via MAPK. Entretanto, essa

hipótese foi refutada em trabalhos posteriores do mesmo grupo, que observaram

que mesmo na presença de um inibidor de MEK (PD98059), o tratamento com

forscolina (10µM) foi capaz de induzir a melanogênese em células B16-F10. Nesse

mesmo trabalho os autores também demonstraram que a ativação da via Ras/MAPK

promoveu uma inibição na síntese de melanina dessas células, sugerindo uma

importância da via melanogênica no controle de diferenciação das células de

melanoma B16-F10 (ENGLARO et al., 1998).

Adicionalmente, Flori et al. (2017) observaram que o hormônio αMSH atuou

como mitógeno em culturas primárias de melanócitos (NHM 1 e NHM 2) e promoveu

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a inibição da proliferação de células de melanoma B16-F10 e Mel13-SM,

aumentando o número de células na fase G1/G0 do ciclo celular. Contrariamente, o

tratamento das células com 1µM de forscolina estimulou a proliferação nas células

de melanoma, após 24 e 48h, promovendo um aumento de células na fase G2/M do

ciclo celular, o que apresenta divergência com os resultados apresentados nas

figuras 13 e 14.

FIGURA 14. ENSAIO CLONOGÊNICO DAS CÉLULAS B16-F10 COM MELANOGÊNESE ESTIMULADA

FONTE: O autor (2019) NOTA: Imagens representativas do poder clonal das células B16-F10 na presença ou não de indutores melanogênicos. As células B16-F10 foram plaqueadas a uma densidade de 10³ células e, após o tempo de aderência (24h), foram incubadas ou não com 0,4mM de L-tirosina e/ou 10mM de NH4Cl (A); 25 μM de forscolina e 200μM de ácido kojico (B) por 7 dias. (C) Após 48h de estímulo da melanogênese com 25μM de forscolina, as células foram tripsinizadas e novamente plaqueadas a uma densidade de 103 células e mantidas na presença ou ausência de forscolina por 7 dias. Imagens representativas de dois experimentos independentes em duplicata.

Entretanto, a diminuição na proliferação (Figura 13) e na formação de clones

(Figura 14), também foi observada nas células tratadas com L-tirosina e NH4Cl

(Figura 14A), que promovem o aumento na produção de melanina pela

disponibilidade de substrato e não pela ativação de AC. Além disso, os efeitos

clonais se mantém mesmo após a remoção da forscolina, prolongando-se por até

sete dias após a incubação, como demonstrado pelo ensaio clonogênico onde as

células foram tratadas previamente com forscolina por 48h, tripsinizadas,

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plaqueadas em baixa densidade (10³ células/ placa) e cultivadas em meio contendo

ou não forscolina (Figura 14C).

Ainda em relação ao ensaio clonogênico, foi possível observar que o

tratamento apenas com 10mM de NH4Cl causou um forte efeito inibitório na

formação de clones, semelhante ao tratamento combinado com L-tirosina (Figura

14A). Entretanto, como mostrado na Figura 8, a presença do NH4Cl foi capaz de

induzir a melanogênese em células B16-F10 e esse estímulo pode ser o responsável

pelos efeitos observados.

6.2 EFEITOS DA MELANOGÊNESE SOBRE O METABOLISMO OXIDATIVO

ROS são constantemente geradas a partir do metabolismo ou por agentes

externos. Em células normais, ROS são produzidas de maneira controlada e

algumas atuam como importantes moléculas sinalizadoras para regular processos

como divisão celular, inflamação, função imunológica, autofagia e resposta ao

estresse (FINKEL, 2011). A produção descontrolada de ROS resulta em estresse

oxidativo, que altera as funções celulares e danifica biomoléculas como lipídeos,

proteínas e ácidos nucléicos, incluindo o DNA (THANNICKAL e FANBURG, 2008).

É evidente o envolvimento de ROS na melanogênese, trabalhos apontam que

ROS são formados durante esse processo (PAVEL et al., 2004; SZATROWSKI e

NATHAN, 1991). De fato, Cunha et al. (2012), observaram a produção de ROS

durante a melanogênese através da sonda fluorescente DCFH-DA. Outros estudos

mostraram também, que o tratamento de células de melanoma com compostos

antioxidantes como retinol, hesperidina e NAC foram capazes de inibir a produção

de melanina induzida pelo hormônio α-MSH (CHEN et al., 2014; KIM et al., 2014;

Lee et al., 2015).

No presente estudo, verificou-se a produção específica do radical superóxido

(O2•-) pela mitocôndria das células submetidas ao estímulo melanogênico. O radical

superóxido (O2•-) é uma das principais ROS formadas nas células, principalmente

nas mitocôndrias, através do vazamento de elétrons pela ETC e redução do oxigênio

molecular (O2). Apesar das baixas taxas de reação do O2•- com moléculas

biológicas, a reação de dismutação do O2•-, tanto espontânea como catalisada pela

enzima superóxido dismutase (SOD), geram peróxido de hidrogênio (H2O2), uma

espécie reativa de alta taxa de difusão que pode promover o aumento de espécies

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mais reativas, como o radical hidroxila (OH•) através de reações do tipo Fenton

(HERMES-LIMA, 2005).

A determinação dos níveis de O2•- foi realizada através da utilização da sonda

MitoSOX Red. A sonda MitoSOXRed (Molecular Probes) é um composto derivado do

brometo de etídio, que apresenta uma alta afinidade pela mitocôndria e, nesta

organela, é oxidada especificamente por radicais superóxido, e não por outras

espécies reativas de oxigênio ou nitrogênio. O produto oxidado torna-se fluorescente

ao ligar-se ao DNA mitocondrial (ROBINSON et al., 2006).

Os resultados deste ensaio evidenciaram um aumento de, aproximadamente,

80% nos níveis de ânion superóxido em células de melanoma B16-F10 após 24h de

estímulo com 0,4mM de L-tirosina e 10mM de NH4Cl, seguido de um aumento ainda

mais significativo, aproximadamente 190%, após 48h do estímulo melanogênico

(Figura 15).

Ainda em relação aos resultados da Figura 15, nota-se que as células na

presença de apenas NH4Cl já apresentam um aumento significativo nos níveis de

ânion superóxido, a partir de 15h, que permanecem estáveis até 48h de estímulo. É

importante salientar que o tratamento com NH4Cl é suficiente para promover um

aumento na síntese de melanina, como observado na Figura 8 e, portanto, esse

aumento na formação de radical superóxido pode ser devido ao aumento na

concentração de melanina intracelular ou ativação das vias melanogênicas.

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FIGURA 15. NÍVEIS DE RADICAL SUPERÓXIDO EM MITOCÔNDRIAS DE CÉLULAS ESTÍMULADAS COM L-TIROSINA E NH4Cl FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 12, 15, 24 e 48h, através da suplementação do meio de cultivo com 0,4mM de L-tirosina e 10mM de NH4Cl, e os níveis de radical superóxido foram mensurados a partir da intensidade de fluorescência da sonda MitoSOX Red. O composto antimicina A (2μM), inibidor do complexo III da cadeia de transporte de elétrons foi utilizado como controle positivo da produção de ROS mitocondrial. Os valores foram normalizados pelo número de células viáveis. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em quadruplicata e os resultados são expressos como intensidade de fluorescência do MitoSOX Red em % em relação ao controle. Quando não indicada pela linha, a diferença estatística foi comparada ao grupo controle (*p≤0.05; ***p≤0,01; ****p≤0,001).

Os níveis de radical superóxido também foram avaliados em células B16-F10

estimuladas com 25μM de forscolina, na presença ou não de 200μM de ácido kójico.

Os resultados estão mostrados na figura 16 e apontam uma diferença em relação às

duas metodologias de estímulo. No caso das células estimuladas por forscolina,

houve um aumento significativo, de aproximadamente 196%, nos níveis de radical

superóxido após 15h de indução, que foi revertido na presença de ácido kójico,

indicando que esse efeito é devido a atividade da enzima tirosinase. Após 24 e 48h

de estímulo a produção de O2•- retornou aos níveis basais.

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FIGURA 16. NÍVEIS DE RADICAL SUPERÓXIDO EM MITOCÔNDRIAS DE CÉLULAS ESTÍMULADAS COM FORSCOLINA

FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 12, 15, 24 e 48h, através da suplementação do meio de cultivo com 25μM de forscolina e/ 200μM de ácido kójico, e os níveis de radical superóxido foram mensurados a partir da intensidade de fluorescência da sonda MitoSOX Red. O composto antimicina A (2μM), inibidor do complexo III da cadeia de transporte de elétrons foi utilizado como controle positivo da produção de ROS mitocondrial. Os valores foram normalizados pelo número de células viáveis. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em quadruplicata e os resultados são expressos como intensidade de fluorescência do MitoSOX Red em % em relação ao controle. Quando não indicada pela linha, a diferença estatística foi comparada ao grupo controle (*p≤0,05; ****p≤0,001).

O restabelecimento dos níveis basais de radical superóxido após o pico em

15h de estímulo pode ser resultado da ativação de mecanismos antioxidantes. As

células apresentam diversos mecanismos de defesa contra o aumento de ROS

intracelular, uma vez que essas espécies altamente reativas são capazes de causar

danos a diversas biomoléculas (EKOUE et al., 2017; JONES, 2008; POPRAC et al.,

2017).

Nesse contexto, o fator de transcrição Nfr2 (nuclear factor erythroid 2 (NFE2)-

related factor 2) é importante na percepção e ativação de mecanismos antioxidantes.

Em condições fisiológicas normais, Nrf2 é constantemente sintetizada. No entanto,

seu nível no citoplasma é regulado pela formação do complexo Nrf2-Keap1. A

ligação de Keap1 ao fator de transcrição Nrf2 inibe diretamente sua atividade, uma

vez que Keap1 medeia a poliubiquitinação e degradação proteossomal de Nrf2. No

entanto, um aumento de ROS intracelular pode levar à oxidação de resíduos de

cisteína em Keap1, alterando sua conformação e causando a dissociação de Nrf2 do

complexo. Nrf2 livre não pode ser ubiquitinado e degradado. Por sua vez, é

translocado para o núcleo, promovendo a expressão de proteínas importantes para

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detoxificação de ROS e RNS (espécies reativas de nitrogênio) como por exemplo,

glutationa S-transferase (GST), glutationa peroxidase (GPX) e a superóxido

dismutase (SOD) (GĘGOTEK e SKRZYDLEWSKA, 2015; KLOSKA et al., 2018; Ma,

2013).

Devido ao importante papel de Nfr2 sobre o metabolismo oxidativo e ao

aumento na produção de ROS observado durante a melanogênese (Figura 15-16), a

expressão de Nrf2 em células submetidas ao estímulo melanogênico por 48h com

forscolina foi analisada através de western blotting.

É possível observar um aumento significativo, de aproximadamente 12 vezes,

no acúmulo de Nrf2 nas células B16-F10 submetidas ao estímulo melanogênico por

48h com 25μM de forscolina. (Figura 17).

FIGURA 17. EXPRESSÃO DE NRF2 APÓS O ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE

FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 48h com 25μM de forscolina,na presença ou não de 200μM de ácido kójico, inibidor da enzima tirosinase, e então lisadas com tampão Laemmli. (A) Imagem representativa da análise de western blotting do fator de transcrição Nrf2 (~110kDa). (B) Quantificação da intensidade das bandas através do Software ImageJ e normalizadas pelo loading control ARD1 (~33 kDa). Os valores foram normalizados pelo controle. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes. (***p≤0,001; ***p≤0,0001).

Curiosamente, os efeitos do tratamento com forscolina sobre a expressão de

Nrf2 foram parcialmente revertidos, na presença do inibidor da enzima tirosinase

(Figura 17).

Kokot et al. (2009) observaram em ensaios in vivo e em culturas de

melanócitos que a irradiação por radiação UVB promoveu, de forma não esperada,

uma supressão na expressão de Nfr2 nessas células. Além disso, os autores

relataram que a presença do hormônio α-MSH foi rapaz de reverter totalmente essa

supressão, promovendo a expressão de Nfr2 de forma transcricional. Indicando uma

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correlação entre a sinalização de cAMP e o aumento da expressão de Nfr2,

entretanto, a inibição por ácido kójico sugere uma associação mais próxima com o

processo melanogênico.

Estudos anteriores mostram que melanócitos deficientes na maquinaria de

autofagia sofrem diminuição da proliferação, aumento de ROS, p62 e Nrf2 (ZHANG

et al., 2015). Dessa forma, torna-se também interessante relacionar os resultados

com uma possível ativação não canônica de Nrf2 (DODSON e ZHANG, 2017), na

qual uma disfunção autofágica leva a agregação ou acumulação de p62 no

autofagossomo que então sequestra KEAP1, resultando numa ativação prolongada

de NRF2.

Para esclarecer melhor esse cenário, seria interessante avaliar a autofagia

nessas células e também verificar a ativação de Nrf2 em células com melanogênese

estimulada na presença de algum agente antioxidante. O principal problema dessa

abordagem é que diversos estudos mostram que compostos antioxidantes, como os

fenóis, apresentam propriedades antimelanogênicas, geralmente atribuídas à

captação de ROS (PILLAIYAR et al., 2017; ZOLGHADRI et al., 2019), então a

dissociação dos fenômenos seria complexa.

Kalegari (2017) verificou que células com maior conteúdo de melanina são

mais sensíveis a ação do fotossensibilizador rosa bengala acetato (RBAc), uma vez

que após a irradiação no comprimento de onda de luz visível, foi observado um

aumento no dano oxidativo ao DNA nuclear, promovendo a formação de 8-oxo-2'-

desoxiguanosina (8-oxodGuo) e de dímeros de pirimidina ciclobutano (CPD). Ainda

nesse trabalho, a autora também verificou que após o estímulo da melanogênese e

irradiação das células, a atividade das enzimas GRed e GPx estavam diminuídos,

sugerindo um comprometimento da defesa antioxidante dessas células após a

melanogênese.

O aumento nos níveis intracelulares de ROS e comprometimento das defesas

antioxidantes podem trazer danos a diversas biomoléculas. Estudos apontam que o

DNA mitocondrial (mtDNA) é mais suscetível ao dano causado por ROS quando

comparado ao DNA nuclear, devido à falta de histonas, da interação transitória com

membrana interna mitocondrial e a proximidade dos sítios de produção de ROS

(ANSON et al., 2000; BOHR et al., 2002; SANTOS et al., 2006).

Assim, para verificar os possíveis danos oxidativos ao mtDNA em células

após o estímulo da melanogênese, o DNA total de células B16-F10, submetidas ou

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não ao tratamento com 0,4mM de L-tirosina e 10mM de NH4Cl por 48h, foi extraído e

uma qPCR de longa extensão foi realizada. Foram utilizados primers mitocondriais

(Tabela 1) a fim de amplificar dois fragmentos do mtDNA, um longo de,

aproximadamente 10Kbp e outro curto, de 128bp. Após o fracionamento dos

produtos de amplificação em eletroforese de gel de agarose e a marcação por

brometo de etídio, as bandas foram quantificadas. Nesse método, a inabilidade da

enzima polimerase em amplificar regiões do mtDNA que contenham danos, produz,

após o fracionamento, bandas de intensidade inversamente proporcional ao número

de danos daquele grupo (KOVALENKO e SANTOS, 2009).

Os resultados estão apresentados na Figura 18, na qual se observa uma

diminuição na intensidade das bandas após o estímulo da melanogênese por 48h

(Fig. 18A, painel superior), quando comparadas com o mtDNA controle, indicando

um maior dano ao mtDNA das células estimuladas. Após a normalização das

bandas com o fragmento de amplificação mais curto (Fig. 18A, painel inferior), os

dados plotados no gráfico mostram uma diminuição significativa na amplificação

relativa do mtDNA das células B16-F10 após 48h de estímulo da melanogênese,

mostrando que esse processo é capaz de induzir danos ao mtDNA, provavelmente

resultado do aumento de ROS (Figura 15).

O tratamento apenas com NH4Cl foi utilizado como controle nesse

experimento, uma vez que a presença desse composto foi capaz de induzir um

aumento significativo na produção de radical superóxido (Figura 15). Mas nesse

caso, os níveis de ROS gerados pelo tratamento apenas como NH4Cl não foi capaz

de induzir danos ao mtDNA (Figura 18).

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FIGURA 18. DANOS AO MTDNA INDUZIDOS PELA MELANOGÊNESE

FONTE: O autor (2019). NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 48h e os níveis de dano ao mtDNA foram avaliados por qPCR. (A) Imagens representativas do gel de agarose após a corrida do produto de amplificação do fragmento longo (10Kb), painel superior, e do gel de poliacrilamida do fragmento curto (128bp), painel inferior, mostrando a intensidade das bandas após marcação com brometo de etídio. (B) Os valores foram normalizados pela intensidade das bandas do fragmento curto. # controle de amplificação contendo metade da concentração de DNA total (3ng). Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos em % de amplificação relativa comparado com o controle (**p≤0.005).

Danos ao mtDNA podem promover uma amplificação do estresse oxidativo

através da diminuição da expressão de proteínas críticas para o transporte de

elétrons levando ao ciclo vicioso de produção de ROS (HOUTEN et al., 2006).

6.3 EFEITOS DA MELANOGÊNESE SOBRE O METABOLISMO ENERGÉTICO

CELULAR

Os danos mitocondriais podem contribuir para a diminuição na respiração,

como observado por Meira et al. (2017) em células B16-F10 estimuladas com L-

tirosina e NH4Cl por 48h. Nesse estudo, as células de melanoma com maior

concentração de melanina apresentaram uma redução de 50% da respiração, tanto

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no estado basal, quando no estado desacoplado, na presença de FCCP, condição

em que as taxas respiração celular são máximas. Os autores sugeriram uma

possível mudança do metabolismo aeróbio para o metabolismo anaeróbio, mesmo

na presença de oxigênio.

De fato, uma característica das células tumorais é a capacidade de

apresentar glicólise aeróbica altamente ativa, através do aumento na captação de

glucose e regulação positiva da expressão de enzimas da via glicolítica, em

detrimento à fosforilação oxidativa (OXPHOS), mesmo na presença de oxigênio,

efeito conhecido como Efeito Warburg (DIAZ-RUIZ et al., 2011). Mas em células de

melanoma essa característica não parece ser exclusiva e, apesar da elevada

captação de glucose e atividade glicolítica, células de melanoma parecem manter

altas taxas de respiração (MOURA et al., 2012; SCOTT et al., 2011). Ainda nestas

células, o balanço entre o metabolismo aeróbico e anaeróbico parece variar em

resposta às mudanças adversas no ambiente a fim de promover o crescimento e

sobrevivência do tumor (THEODOSAKIS et al., 2014). Tendo isso em vista, no

presente trabalho, foram investigados os efeitos do estímulo da melanogênese,

induzida por forscolina por 48h, sobre o metabolismo energético das células de

melanoma murino B16-F10. Dessa forma, foi possível determinar a taxa de consumo

de oxigênio (OCR), que é um reflexo da atividade da fosforilação oxidativa e a taxa

de acidificação extracelular (ECAR), que reflete a atividade glicolítica das células.

Estes ensaios foram realizados em equipamento Sea Horse (Seahorse

Bioscience, MA, USA) em células aderidas. De acordo com as adições realizadas, é

possível determinar o OCR durante os seguintes estados da respiração: basal, ATP-

linked, próton-leak e da respiração máxima (desacoplado). (BRAND E NICHOLLS,

2011; e SEAHORSE, 2017), (Figura 19-B). A Respiração Basal corresponde a

demanda energética sem a adição de qualquer substrato ou inibidor, medida pelo

consumo de oxigênio em reflexo à demanda de ATP e o do próton leak mitocondrial;

Respiração ATP-linked, representa a porção basal da respiração utilizada para a

produção de ATP, calculada subtraindo-se os valores do consumo de oxigênio após

a adição de oligomicina (inibição da ATP sintase) dos valores da respiração basal;

Próton-Leak é definido como a respiração não acoplada à produção de ATP, em

resposta a inibição da ATP sintase pela oligomicina e o fluxo de prótons através da

membrana mitocondrial interna em direção a matriz. O próton leak pode refletir dano

mitocondrial; Capacidade máxima respiratória é a taxa máxima de consumo de

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oxigênio, obtida pela adição de FCCP (carbonil cyanida-4-(trifluorometoxi)

phenilhidrazona), um desacoplador da fosforilação oxidativa. O FCCP possibilita o

livre movimento de prótons através da membrana mitocondrial interna, o que resulta

na atividade máxima do complexos da cadeia de transporte de elétrons com o

objetivo de restabelecer o gradiente eletroquímico de prótons, com consequente

aumento no consumo de oxigênio e oxidação dos substratos. Uma diminuição na

capacidade respiratória máxima é então um forte indicador de disfunção

mitocondrial. Por fim, para cessar a atividade da cadeia de transporte de elétrons, é

adicionado rotenona e antimicina A, inibidores dos complexos I e III,

respectivamente. O consumo de oxigênio neste estado não reflete a respiração

mitocondrial (BRAND E NICHOLLS, 2011; e SEAHORSE, 2017).

Como representado na Figura 19-A, houve uma inibição no consumo de

oxigênio na respiração basal, ou seja, previamente à adição de qualquer substrato

ou inibidor, das células submetidas ao estímulo da melanogênese, quando

comparadas ao grupo controle. No entanto, esta inibição não foi restrita apenas a

este estado. A figura 19-B, mostra que as células B16-F10 submetidas ao estímulo

por 48h apresentaram uma inibição de, aproximadamente, 50% na respiração

associada à produção de ATP e também na respiração máxima, em presença do

desacoplador FCCP. Esse resultado foi o mesmo observado por Meira et al. (2017)

em células de melanoma submetidas a indução melanogênica com L-tirosina e

NH4Cl por 48h, indicando que ambos os métodos de estímulo, sendo um atuando no

início da via melanogênica e outro no fim, apresentam o mesmo efeito sobre o

consumo de oxigênio das células de melanoma. Da mesma forma, Meira et al.

(2017) também não relataram diferenças significativas sobre o estado próton-leak da

respiração, sugerindo que essa inibição não é resultado de alterações na

permeabilidade da membrana mitocondrial interna.

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FIGURA 19. TAXA DE CONSUMO DE OXIGÊNIO (OCR) DAS CÉLULAS SUBMETIDAS AO ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE

FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 48h com 25μM de forscolina e 200μM de ácido kójico, e então a taxa de consumo de oxigênio foi medida pelo equipamento Seahorse XF24 bioanalyzer. (A) Perfil metabólico das células após o estímulo. Glc: glucose; oligo: oligomicina, inibidor da ATP sintase; FCCP: desacoplador; rot/antA: rotenona e antimicina A, inibidores dos complexos I e III, respectivamente. (B) Parâmetros mitocondriais medidos a partir dos resultados de OCR. Respiração basal- calculada pela subtração dos valores após total inibição mitocondrial com rotenona e antimicina A dos valores basais. Respiração ATP- linked- calculada subtraindo-se os valores de OCR após adição da oligomicina dos valores basais. Próton leak- consumo de oxigênio após a adição de oligomicina. Capacidade máxima respiratória- calculado a partir dos valores de OCR no estado desacoplado (FCCP) menos os valores no estado inibido (Rotenona e antimicina A). Os resultados são representados em % comparados ao controle. Valores referentes a média ± SD de quatro experimentos independentes em duplicata (*p≤0,05).

Vale destacar também que todos os efeitos sobre o consumo de oxigênio,

observados, quando a melanogênese foi estimulada por forscolina, foram

parcialmente revertidos na presença de 200μM de ácido kójico, indicando que de

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fato, a inibição da tirosinase e consequente interrupção da via melanogênica ou

ainda, a ausência de melanina, desempenha um importante papel nesse processo

inibitório, não sendo resultado de um efeito secundário do tratamento com a

forscolina (Figura 19).

Outro parâmetro analisado foi a taxa de acidificação extracelular (ECAR), que

determina as mudanças de pH no meio extracelular induzidas pela adição de

substratos e inibidores mitocondriais. Este parâmetro, em conjunto com os

resultados de OCR, fornece um perfil energético celular. Quando a glucose é

adicionada como substrato, o ECAR reflete a atividade glicolítica das células.

Na figura 20 temos os resultados referentes à taxa de acidificação celular

(ECAR) das células B16-F10 após 48h de estímulo melanogênico com 25μM de

forscolina. Apesar de não haver diferença significativa, é possível observar que, em

comparação as células controle, a taxa de acidificação tende a ser maior após a

adição de glucose (Glc) no grupo tratado, sugerindo um aumento na atividade da

glicólise nas células estimuladas. Novamente, a inibição da enzima tirosinase, com

ácido kójico, foi capaz de inibir esse efeito.

FIGURA 20. TAXA DE ACIDIFICAÇÃO EXTRACELULAR (ECAR)

FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 48h com 25μM de forscolina e 200μM de ácido kójico, e então a taxa de acidificação extracelular foi medida pelo equipamento Seahorse XF24 bioanalyzer. Glc- glucose; Oligo- oligomicina. Valores referentes a média ± SD de quatro experimentos independentes em duplicata.

A fim verificar a importância da glicólise para as células B16-F10 submetidas

ao estímulo da melanogênese foi realizado um ensaio clonogênico na ausência de

glucose. Para esse ensaio, as células foram plaqueadas em baixa densidade (1000

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células/ placa 60mm) e após o tempo de adesão, o meio foi substituído ou não por

meio RPMI 1640 sem glucose, como indicado, e a melanogênese foi induzida por

25μM de forscolina. As células foram mantidas nessas condições por 7 dias e então,

coradas com giemsa.

Os resultados apresentados na figura 21 mostram que as células, na

presença de forscolina, são mais dependentes de glucose do que as células em

condições controle, uma vez que não foram capazes de gerar clones na ausência de

glucose, fortalecendo a hipótese de que as células após o estímulo da

melanogênese tendem a utilizar a glicólise como fonte de energia em detrimento da

OXPHOS, mesmo na presença de oxigênio.

FIGURA 21. ENSAIO CLONOGÊNICO DAS CÉLULAS B16-F10 ESTIMULADAS NA AUSÊNCIA DE GLUCOSE

FONTE: O autor (2019) NOTA: Imagens representativas do poder clonal das células B16-F10 na presença ou não de forscolina cultivadas na ausência de glucose. As células B16-F10 foram plaqueadas a uma densidade de 103 células, após o tempo de aderência (24h), foram incubadas ou não com 25μM de forscolina por 7 dias. As células foram mantidas em meio não contendo glucose durante todo o experimento, quando indicado. Glc- glucose. Imagens representativas de dois experimentos independentes.

Em seguida, a fim de confirmar esse aumento nas taxas glicolíticas e

mudança do metabolismo energético induzidas pelo estímulo da melanogênese,

foram determinados os níveis de lactato em células B16-F10 após a indução na

síntese de melanina mediada por forscolina, uma vez que, o estímulo da via

glicolítica e diminuição no consumo de oxigênio resultaria em um acúmulo de

lactato, como produto desse processo (DIAZ-RUIZ et al., 2011). Os resultados

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destes ensaios estão representados na Figura 22, em que se observa um aumento

significativo, de aproximadamente 50%, na produção de lactato, após 48h de

estímulo, em acordo com os resultados anteriores. Da mesma forma, esse efeito foi

revertido pela inibição da enzima tirosinase pela ação do ácido kójico, demonstrando

novamente que os efeitos observados são resultado da atividade da tirosinase e

indução da melanogênese.

FIGURA 22. NÍVEIS DE LACTATO EXTRACELULAR APÓS O ESTÍMULO MELANOGÊNICO

FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 48h com 25μM de forscolina, na presença ou não de ácido kójico (200μM) e os níveis de lactato no sobrenadante medidos pelo equipamento Cobass c701 instrument (Roche). Os valores foram normalizados pela concentração de proteínas e estão representados como % na produção de lactato em relação ao controle. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata (*p≤0,05).

Essa mudança no metabolismo energético em favorecimento ao metabolismo

anaeróbico pode ser resultado de diversas alterações intracelulares, entre estas o

crescimento celular descontrolado, a má regulação dos genes c-Myc e a atividade

do fator induzível por hipóxia (HIF-1α) (BRAHIMI-HORN et al., 2011; HEIDEN et al.,

2009; HSIEH et al., 2015).

HIF-1α é um fator de transcrição chave, em condições onde a concentração

de oxigênio é baixa, para a expressão de diversas proteínas envolvidas no

metabolismo energético como os transportadores de glucose 1 e 4 (GLUT1 e

GLUT4), além de múltiplas enzimas da via glicolítica, que promovem a transição do

metabolismo oxidativo para o metabolismo anaeróbico. Em condições de normóxia,

HIF-1α encontra-se ligado à proteína Von Hippel-Lindau (VHL) e está sujeito a

poliubiquitinação, mediada por VHL, levando à sua degradação. Já na ausência de

oxigênio, a degradação de HIF-1α é interrompida, pela estabilização e desligamento

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da proteína VHL, o que promove sua ativação (FEIGE et al., 2011; SEMENZA,

2012).

Devido ao potencial envolvimento de HIF-1α no contexto deste estudo, a

expressão dessa proteína foi avaliada nas células submetidas ao estímulo

melanogênico, em condições de normóxia e hipóxia (1% de O2), considerando seu

acúmulo em resposta a esta última condição (controle). Para esse ensaio, as células

foram incubadas por 48h com 25μM de forscolina, na presença ou não de ácido

kójico, e a expressão de HIF-1α e um dos seus alvos, o transportador de glucose

(GLUT1), foi determinada por técnica de western blotting.

Como mencionado, em normóxia HIF-1α é normalmente degradado,

entretanto, os resultados mostraram que a expressão dessa proteína está

significativamente aumentada nas células B16-F10 após 48h de estímulo, mesmo na

presença de oxigênio (Figura 23). Assim como a expressão do seu alvo, o

transportador de glucose1 (GLUT-1).

FIGURA 23. EXPRESSÃO DE HIF-1Α E GLUT1 APÓS O ESTÍMULO DA MELANOGÊNESE

FONTE: O autor (2019) NOTA: Células B16-F10 foram submetidas ao estímulo melanogênico por 48h com 25μM de forscolina, em condição de normóxia ou 1% de oxigênio (Hx), e então lisadas com tampão Laemmli. (A) Imagem representativa da análise de Western Blotting do fator de transcrição HIF-1α (~110 kDa), GLUT1 (~55 kDa). (B-C) Quantificação da intensidade das bandas através do Software ImageJ e normalizadas pelo loading control ARD1 (~33 kDa). Os valores foram normalizados pelo controle em condição de nórmóxia. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes. (*p≤0.05; **p≤0.01; ***p≤0,005).

Buscà et al. (2005) demonstraram que, de forma restrita aos melanócitos, o

aumento de cAMP intracelular é capaz de induzir a expressão de HIF-1α, através da

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ativação do fator de transcrição MITF (fator de transcrição de microftalmia). Os

autores concluíram que a ativação de MITF devido ao aumento de cAMP, induzido

pelo hormônio α-MSH, regula positivamente a transcrição de HIF-1α, independente

da concentração de oxigênio, de forma transcricional, diferentemente da regulação

usual em condições de hipóxia, que ocorre de forma pós-traducional.

Entretanto, no presente estudo, foi observado que a inibição da enzima

tirosinase, pelo ácido kójico, foi suficiente para reverter, parcialmente, a expressão

de HIF-1α em condições normais de oxigênio. Esse resultado pode sugerir que a

regulação de HIF-1α, na verdade, ocorre a jusante à reação de oxidação de L-

tirosina pela enzima tirosinase, e não necessariamente à expressão de MITF, devido

ao acúmulo de melanina, aos intermediários da via melanogênica ou mais

provavelmente, pela formação de ROS durante esse processo, uma vez que

trabalhos anteriores demonstraram que espécies reativas de oxigênio podem

promover a estabilização de HIF-1α em algumas linhagens tumorais (JUNG et al.,

2008; MOVAFAGH et al., 2015).

A estabilização de HIF-1α pelas ROS se dá pela oxidação de íons de ferro

nos centros catalíticos de prolilhidroxilases (PHD), promovendo a inativação e

impedindo a hidroxilação de prolinas necessárias para a ligação de HIF-1α ao fator

Von Hippel-Lindau (VHL). Essa regulação de HIF-1α é reversível e independente da

concentração de oxigênio (COMITO et al., 201; LU et al., 2005). Ainda nesse

contexto, foi observado que o estímulo da melanogênese promove a formação de

ROS por vias mitocondriais (Figuras 15-16). Foi relatado que a formação de ROS

pela mitocôndria, mais precisamente pelo complexo III da cadeia de transporte de

elétrons, é essencial para a estabilização e regulação de HIF-1α. Nesses estudos os

autores verificaram que células Rho (ρ0), que apresentam função mitocondrial

comprometida pela ausência de mtDNA, eram incapazes de estabilizar HIF-1α e,

através da utilização de antioxidantes com afinidade mitocondrial e inibidores dos

complexos mitocondriais, concluíram que as espécies reativas formadas pelo

escape de elétrons no complexo III desempenham papel importante na sinalização e

inativação das PHDs (CELESTE e SIMON, 2006; COMITO et al., 2011;

DEGENHARDT et al., 2010; KLIMOVA e CHANDEL, 2008)

A estabilização e ativação de HIF-1α, além de contribuir para o aumento na

atividade glicolítica, através da indução na expressão das proteínas envolvidas

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74

nessa via, também pode ser responsável pela inibição na respiração observada em

células submetidas ao estímulo melanogênico (Figura 19). Dois trabalhos publicados

simultaneamente, Kim et al. (2006) e Papandreou et al. (2006), demonstraram que

HIF-1α tem como alvo direto o gene que codifica para a proteína piruvato

desidrogenase quinase 1 (PDK1), promovendo sua expressão. Essa proteína é

responsável por fosforilar e inibir a proteína piruvato desidrogenase (PDH), que

catalisa a conversão de piruvato à acetil-CoA. Dessa forma, o metabolismo do

piruvato através do ciclo do ácido tricarboxílico (TCA) é diminuído, comprometendo

então, a respiração mitocondrial.

Apesar dos dados apontarem um aumento no metabolismo anaeróbico

induzido pelo estímulo da melanogênese, Cunha et al. (2012) relataram dados

controversos. Em seu estudo, células B16-F10, submetidas a melanogênese com L-

tirosina e NH4Cl, apresentaram menores níveis da enzima lactato desidrogenase

(LDH) através de análises proteômicas, assim como menor atividade enzimática.

Essa enzima é responsável pela conversão de piruvato a lactato em uma reação

reversível acoplada à oxidação/redução de NADH (ŽDRALEVIĆ et al., 2018). Além

disso, Cunha et al. (2012) também verificaram, por RT-PCR, que outra enzima

importante na via glicolítica, a piruvatoquinase, apresentava níveis diminuídos após

48h de tratamento com L-tirosina e NH4Cl. Essas discordâncias podem ser resultado

das diferentes metodologias de estímulo da melanogênese, enquanto a forscolina

atua no início da via de sinalização, promovendo um aumento de MITF, que por sua

vez regula, HIF-1α; a utilização do substrato L-tirosina e do NH4Cl promovem um

aumento na síntese de melanina pela disponibilidade de substrato, sendo

desconhecido seu efeito sobre MITF ou HIF-1α.

Os resultados obtidos até aqui sugerem que o estímulo da melanogênese

está promovendo um estado intracelular de hipóxia, através do aumento de ROS e

acúmulo de HIF-1α. Células tumorais submetidas a condições de hipóxia geralmente

apresentam fenótipo mais resistente e agressivo.

De fato, o ambiente com menor concentração de oxigênio e consequente

indução de HIF-1, promovem alterações celulares relacionadas ao poder

metastático, como por exemplo, (i) ativando o metabolismo glicolítico, permitindo a

sobrevivência em condições de hipóxia; (ii) aumentando a expressão de

metaloproteínases que promovem a degradação e remodelamento da matrix

extracelular; (iii) e finalmente, contribuí para a angiogênese tumoral, através da

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75

indução de VEGF (COMITO et al., 2011; HUANG et al., 2009; OKAMOTO et al.,

2017; PENNACCHIETTI et al., 2003).

Comito et al. (2011), observaram que células de melanoma Hs29-AT

submetidas a hipóxia por 24h apresentavam um fenótipo maior de invasão e

agressividade. Kuphal et al. (2010), utilizando diferentes linhagens de melanoma

(Mel Im, Mel JU, HMB2 e 501 Mel) com diferentes graus de malignidade,

observaram que a expressão de HIF-1α era maior nas células com fenótipo

metastático, sugerindo uma relação entre a expressão dessa proteína e a

malignidade dessas células.

Em resumo, as informações discutidas nessa seção foram reunidas e estão

representadas na figura 24.

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76

FIGURA 24. POSSÍVEIS RESPOSTAS CELULARES DAS CÉLULAS B16-10 FRENTE AO ESTÍMULO MELANOGÊNICO

FONTE: O autor (2019) NOTA: (1) A forscolina (FK), um diterpeno permeável a membrana plasmática, promove a ativação da proteína de membrana adenilato ciclase (AC), gerando um aumento nos níveis de cAMP intracelular (2) (PINTO et al., 2008). Esse aumento nos níveis de cAMP ativam a proteína PKA (3) (proteína quinase A) que ativam MITF (fator de transcrição de microftalmia) através da fosforilação de CREB (4)(D’MELLO et al., 2016), PKA também é responsável pela inibição da proliferação mediada pela inativação das vias MAPK (17) (SCHMITT e STORK, 2001). Após a ativação de MITF, esse fator de transcrição é translocado para o núcleo onde promove a expressão de proteínas envolvidas na melanogênese (5), como TYR (tirosinase) e TYR1-2 (proteínas relacionadas a tirosinase 1 e 2) (D’MELLO et al., 2016), além de promover a regulação de forma transcricional de HIF-1α (fator de indução de hipóxia alfa) (6) (BUSCÀ e BALLOTTI, 2000). Nos melanossomos, o aumento na expressão das enzimas envolvidas na melanogênese promovem um aumento na síntese de melanina (7), juntamente com o aumento na formação de espécies reativas durante esse processo (8) (CUNHA et al., 2012; MEIRA et al., 2017). Esse aumento de ROS intracelular pode promover a estabilização de HIF-1α (9), através da oxidação de centros catalíticos de prolilhidroxilases (PHD) (ZBYTEK et al., 2013). O acúmulo de HIF-1α promove a transcrição de genes e aumento da expressão de proteínas envolvidas no metabolismo oxidativo da glucose, como os transportadores GLUT1 (10), além da PDK (piruvato desidrogenase quinase isoenzima 1), levando um aumento das vias glicolíticas (11) e diminuindo a respiração (12), através da fosforilação e inativação da enzima piruvato desidrogenase (PDH) (KIM et al., 2006; PAPANDREOU et al., 2006). A inibição da respiração é acompanhada pelo aumento dos níveis de radical superóxido mitocondrial (13), que podem levar a danos as mtDNA (14), criando um ciclo vicioso de inibição da respiração (15). Esses danos mitocondriais acompanhados da inibição da respiração, também podem promover uma inibição na proliferação e crescimento celular (16).

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77

6.4 SILENCIAMENTO DA ENZIMA TIROSINASE

Devido aos efeitos induzidos pelo estímulo da melanogênese em células de

melanoma B16-F10 terem sido total ou parcialmente revertidos na presença do

inibidor da enzima tirosinase, ácido kójico, outro objetivo desse trabalho foi silenciar

o gene responsável pela expressão dessa enzima, a fim de verificar se os resultados

observados seriam repetidos em células de melanoma onde não houvesse ativação

da via melanogênica, tampouco a produção de melanina.

Os ensaios de silenciamento da enzima e caracterização dos mutantes foram

iniciados no Laboratório de Hipóxia e Metabolismo Tumoral, em Nice/FR, sob

supervisão do Dr. Pouysségur e deveriam ter sido finalizados no Brasil. No entanto,

devido a problemas de importação das células, os experimentos não foram

concluídos. A seguir, serão discutidos os resultados preliminares de caracterização.

A tirosinase é uma proteína de membrana, codificada pelo gene Tyr, de

aproximadamente 60 kDa, ancorada à membrana dos melanossomos, que contém

dois átomos de cobre no seu centro catalitico. A reação que catalisa é a de

conversão de monofenóis, como o aminoácido L-tirosina, em o-difenóis, L-DOPA

(atividade de monofenolase), seguindo-se a oxidação desse o-difenóis em sua o-

quinona correspondente, no caso, dopaquinona (atividade de difenolase). Assim,

esta enzima é responsável pelo passo inicial e limitante da via melanogênica (LAI et

al., 2018; NIU e AISA, 2017).

Utilizou-se a técnica do CRISPR/Cas9 como ferramenta para o silenciamento

da enzima tirosinase nas células de melanoma murino, B16-F10. Como descrito na

seção 5.12 do Material e Métodos, após transfecção do plasmídeo, foi realizado o

sorting das células GFP-positivas em 4 placas de 96 poços. Foram obtidos no total,

45 clones, que foram, em seguida, submetidos ao screening para determinação da

efetividade do silenciamento.

Geralmente, é utilizada a técnica de western blotting para determinação do

knockout homozigoto dos genes após utilização da ferramenta de edição genética.

Entretanto, os anticorpos utilizados anti-tirosinase não foram específicos o suficiente

para uma conclusão. Durante os experimentos, foram utilizados dois anticorpos

policlonais de diferentes procedências, mas após a revelação das membranas,

durante o western blotting, foram observadas diversas bandas inespecíficas (dados

não mostrados).

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78

Portanto, optou-se em realizar o screening dos clones através da avaliação da

atividade da enzima tirosinase. A atividade de difenolase da tirosinase foi

mensurada, espectrofotometricamente, em todos os clones obtidos, através da

oxidação de L-DOPA a dopacromo (dados não mostrados).

Para a realização dos demais experimentos, foram escolhidos os dois clones

que apresentaram menor atividade, representados aqui como clones #13 e #30. Os

resultados da atividade da enzima tirosinase para esses dois clones estão

mostrados na Figura 25. É possível observar que a atividade foi praticamente nula

em ambos os casos. Sugerindo que a depleção ocorreu da maneira pretendida.

FIGURA 25. ATIVIDADE DA ENZIMA TIROSINASE APÓS SILENCIAMENTO DA ENZIMA

FONTE: O autor (2019) NOTA: Analise espectrofotométrica da atividade de oxidação de L-DOPA a dopacromo pela enzima tirosinase dos mutantes, 13, 30, após o silenciamento do gene responsável pela expressão da enzima, comparados a atividade da linhagem selvagem (WT), na presença ou não de ácido kójico (KA). Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos em porcentagem em relação ao WT (*p≤0,05; **p≤0,005).

Além da atividade da tirosinase, a capacidade dos clones, #13 e #30, em

sintetizar melanina foi mensurada através da determinação espectrofotométrica da

produção de melanina após estímulo da melanogênese com o composto forscolina

(25μM), por 48h. Confirmando o resultado anterior, os dados mostrados na Figura 26

mostram que ambos os mutantes não apresentaram aumento na produção de

melanina, mesmo após indução da via melanogênica, induzida por forscolina,

indicando uma deficiência nessa via.

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FIGURA 26. DOSAGEM DE MELANINA TOTAL APÓS SILENCIAMENTO DA ENZIMA TIROSINASE

FONTE: O autor (2019) NOTA: Analise espectrofotométrica da concentração de melanina intracelular no lisado de células após 48h de estímulo. Os dados correspondem a média ± SD de quatro experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos como μg de melanina/ μg de proteína (*p≤0,05;**p≤0,005; ***p≤0.001; ****p≤0.0001).

Xiu-Hua et al. (2010), utilizando células de melanoma B16-F10, realizaram o

knockdown da enzima tirosinase através de RNA de interferência (siRNA),

entretanto, a atividade da enzima tirosinase apresentou diminuição de,

aproximadamente 40%, interferindo parcialmente na produção de melanina. Além

disso, os efeitos do knockdown não foram permanentes, sendo revertidos após 72h.

Os resultados referentes a edição genética por CRISPR/Cas9, mostram a

eficiência do silenciamento da enzima tirosinase e os mutantes obtidos poderão ser

utilizados como modelos experimentais de células B16-F10 incapazes de produzir

melanina em futuros experimentos envolvendo o processo melanogênico.

6.5 EFEITOS DO COMPROMETIMENTO NO METABOLISMO ENERGÉTICO

SOBRE A PRODUÇÃO DE MELANINA EM CÉLULAS B16-F10

No decorrer desse trabalho, foi demonstrado que a indução da melanogênese

é capaz de promover alterações no metabolismo energético celular através do

favorecimento do metabolismo anaeróbico, mesmo na presença de oxigênio,

mediado pela ativação de HIF-1α.

Outro objetivo desse trabalho foi verificar se mudanças no metabolismo

energético promovem alterações na via melanogênica. Para cumprir esse objetivo,

dois mutantes de células de melanoma B16-F10, com metabolismo comprometido

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em diferentes vias metabólicas, foram utilizados. O mutante GPI-KO, onde a

proteína glucose-6-fosfato isomerase foi silenciada, portanto, tendo seu metabolismo

restrito a fosforilação oxidativa e o mutante ATP5A1-KO, que tem seu metabolismo

sustentado pela via glicolítica, uma vez que a subunidade alfa da ATP sintase foi

silenciada.

O mutante deficiente da proteína glucose-6-fosfato isomerase (B16-F10 GPI-

KO) foi estabelecido e descrito previamente por De Padua et al.(2017). GPI é a

segunda enzima da via glicolítica e catalisa a conversão da glucose-6-fosfato em

frutose-6-fosfato (ŽDRALEVIĆ et al., 2017). No trabalho de De Padua et al. (2017),

os autores demonstraram que o silenciamento da enzima GPI suprimiu fortemente a

glicólise nessas células, mesmo em hipóxia, juntamente com a produção de ácido

lático e foi capaz de promover uma mudança em favorecimento ao metabolismo

oxidativo, promovendo uma maior taxa de respiração a fim de manter a síntese de

ATP sem comprometer o crescimento celular.

Por outro lado, a obtenção do mutante B16-F10 ATP5A1-KO, silenciado para

a subunidade alfa da ATP sintase, foi realizada como parte do presente trabalho e

os resultados de caracterização serão apresentados a seguir.

Segundo a teoria quimiosmótica, a ATP sintase, também conhecida como

complexo V, gera ATP utilizando o gradiente eletroquímico de prótons ~(ΔH+)

formado a partir do transporte de elétrons através dos complexos respiratórios

mitocondriais (MITCHELL, 1961).

A ATP sintase (Figura 27) consiste em dois subcomplexos; Fo, consistindo de

três subunidades (a, b e c) que formam o canal de prótons através da membrana

mitocondrial interna; e o domínio F1, porção polar voltada para a matriz mitocondrial

e que contém o núcleo catalítico, formado por subunidades α(3), β(3), γ(1), δ(1) e

ε(1). As subunidades formadoras da ATP sintase são codificadas tanto por genes

localizados no mtDNA quanto no nDNA, como é o caso do gene ATP5A1,

responsável pela expressão da subunidade alfa (α) da porção F1 (MARTÍNEZ-

REYES e CUEZVA, 2015; MUKHERJEE e WARSHEL, 2017; MÜLLER et al., 2003;

SIGNES e FERNANDEZ-VIZARRA, 2018; VOLKÁN-KACSO e MARCUS, 2017).

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FIGURA 27. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ESTRUTURA DA ATP SINTASE

FONTE: Adaptado de Yoshida et al. (2001) com permissão de Springer Nature (número: 4602460367911) NOTA: A ATP sintase é composta por dois subcomplexos (FoF1) conectados O subcomplexo Fo é hidrofóbico e localiza-se na membrana mitocondrial interna, enquanto que F1, de caráter hidrofílico, está voltado à matrix mitocondrial e contém o centro catalítico da enzima. F1 é composto por cinco subunidades, em uma estequiometria de α3 β3 γ1 δ1 ε1. Já Fo apresenta três tipos de subunidades transmembranas- a, b e c, com uma estequiometria de a1, b2, c10.

Para o silenciamento do gene ATP5A1, foi utilizada a técnica do

CRISPR/Cas9. A linhagem parental das células B16-F10 (WT) foram transfectadas

com plasmídeo contendo, além da maquinaria necessária para o funcionamento do

sistema CRISPR/Cas9, os genes para a proteína fluorescente GFP e o gRNA tendo

como alvo o gene de interesse. Após a transfecção, as células GFP-positivas foram

selecionadas por cell sorting (FACS) e plaqueadas em formato single cell em 4

placas de 96 poços.

Foram obtidos, no total, 62 clones. O screening para determinar a eficiência

do silenciamento foi realizado através de western blotting da subunidade α da ATP

sintase (Anti-ATP5α) e parte dos resultados está apresentado na Figura 28.

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FIGURA 28. IMAGEM REPRESENTATIVA DA EXPRESSÃO DE ATP5Α APÓS SILENCIAMENTO POR CRISPR/Cas9

FONTE: O autor (2019) NOTA: Os clones obtidos após transfecção das células B16-F10 foram lisados com tampão Laemmli. A imagem é representativa da análise de western blotting do da proteína tirosinase, ATP5α, (~60 kDa). Loading control ARD1 (~33 kDa). WT- linhagem selvagem.

Dos mutantes obtidos, foram selecionados dois clones para realização dos

experimentos seguintes (#19 e #33). Como os resultados foram semelhantes, a

partir desse ponto, serão apresentados apenas os resultados para o mutante #33,

renomeado como ATP5A1-KO.

A atividade enzimática da ATP sintase após o silenciamento da subunidade α

foi determinada medindo-se a hidrólise de ATP (atividade de ATPase),

espectrofotometricamente, de forma indireta pela oxidação do NADH (BARRIENTOS

et al. 2009). Os resultados apresentados na figura 29 mostram que há uma redução

significativa, de aproximadamente 50%, na atividade de hidrólise de ATP, pela ATP

sintase, nos mutantes ATP5A1-KO. A atividade da citrato sintase (figura 29) foi

medida como controle. O silenciamento da subunidade α não foi suficiente para

abolir totalmente a atividade do complexo V.

Apesar da atividade remanescente da ATP sintase observada no mutante, as

taxas de consumo de oxigênio e de acidificação extracelular foram traçadas a fim de

verificar o impacto dessa inibição no metabolismo energético celular (figuras 30 e

31). Para esse ensaio, as células B16-F10, tanto WT quanto o mutante, foram

plaqueadas e após 24h, a taxa de consumo de oxigênio (OCR) e a taxa de

acidificação extracelular (ECAR) foram mensuradas pelo equipamento Sea Horse

(Seahorse Bioscience, MA, USA).

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FIGURA 29. ATIVIDADE DA ATPASE E CITRATO SINTASE NOS MUTANTES ATP5A1-KO

FONTE: O autor (2019) NOTA: (A) Atividade do complexo V, nos mutantes ATP5A1-KO e WT, determinada espectrofotometricamente através do acompanhamento da oxidação do NADH a 340nm, a partir da hidrólise de ADP pelo ATP sintase em uma reação acoplada a redução do lactato a piruvato, mediada pela lactato desidrogenase. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata e os resultados são expressos como nmol de NADH oxidado/min/mg de proteína (*p≤0,001). (B) Atividade da enzima citrato sintase, nos mutantes ATP5A1-KO e WT, determinada espectrofotometricamente através do acompanhamento da redução do DTNB a 412nm, mediada pela CoASH. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata e expressos como nM de DTNB reduzido/ minuto/ mg de proteína.

Além dos índices basais, os parâmetros sob estresse mitocondrial, na

presença de inibidores, foram avaliados. Novamente, de acordo com as adições

realizadas, é possível determinar o OCR durante os seguintes estados da

respiração: basal, ATP-linked, próton-leak e da respiração máxima (desacoplado)

(BRAND e NICHOLLS, 2011; SEAHORSE, 2017).

Pelo perfil de consumo de oxigênio apresentado na figura 30 é possível

observar que os mutantes B16-F10 ATP5A1-KO apresentam uma respiração basal

significativamente menor que a linhagem parental (WT), e essa redução se mantém

em todos os outros estados.

A capacidade máxima respiratória, na presença do desacoplador FCCP,

também foi significativamente reduzida, o que não era esperado, uma vez que a

diminuição no estado desacoplado pode indicar uma disfunção mitocondrial (BRAND

e NICHOLLS, 2011; SEAHORSE, 2017), sugerindo que o silenciamento da

subunidade alfa da enzima ATP sintase seja responsável por maiores alterações

mitocondriais além do comprometimento da fosforilação oxidativa, provavelmente

efeito de uma desestabilização da permeabilidade da membrana mitocondrial, uma

vez que o próton-leak nas células silenciadas também apresentou uma diferença

significativa.

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84

A expressão de ambas as subunidades, α e β, que formam região Fo da ATP

sintase parecem necessárias para a montagem da região catalítica. Mutantes de

células HeLa onde a expressão da subunidade β do sítio catalítico da enzima foi

silenciada, através de short hairpin RNA (shRNA), apresentaram redução também

nos níveis de proteínas da subunidade α, de acordo com experimentos de western

blotting. Entretanto, os autores atribuem essa diminuição à degradação da proteína

α livre, incapaz de formar o complexo α-β, e não a uma regulação direta mediada

pelo knockdown da subunidade β. Ainda, os autores relatam que os mutantes

shRNA β, não foram capazes de produzir ATP mitocondrial (FUJIKAWA e

YOSHIDA, 2010; RAK et al., 2011).

Como esperado, a inibição no consumo de oxigênio nos mutantes ATP5A1-

KO foi acompanhado de um aumento significativo na acidificação extracelular após a

adição de glucose (Figura 31), como esse parâmetro é reflexo da atividade

glicolítica, esses dados sugerem que os mutantes apresentam uma dependência

maior à glicólise em detrimento à OXPHOS.

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FIGURA 30. TAXA DE CONSUMO DE OXIGÊNIO (OCR) DAS CÉLULAS B16-F10 APÓS SILENCIAMENTO DA GENE ATP5Α

FONTE: O autor (2019) NOTA: A taxa de consumo de oxigênio das células B16-F10 WT e do mutante onde a subunidade alfa da ATP sintase foi silenciada (ATP5A1-KO) foi medida pelo equipamento Seahorse XF24 bioanalyzer. (A) Perfil metabólico das células após o estímulo. Glc: glucose; oligo: oligomicina, inibidor da ATP sintase; FCCP: desacoplador; rot/antA: rotenona e antimicina A, inibidores dos complexos I e III, respectivamente. (B) Parâmetros mitocondriais medidos a partir dos resultados de OCR. Respiração basal- calculada pela subtração dos valores após total inibição mitocondrial com rotenona e antimicina A dos valores basais. Respiração ATP- linked- calculada subtraindo-se os valores de OCR após adição da oligomicina dos valores basais. Próton leak- consumo de oxigênio após a adição de oligomicina. Capacidade máxima respiratória- calculado a partir dos valores de OCR no estado desacoplado (FCCP) menos os valores no estado inibido (Rotenona e antimicina A). Os resultados são representados em % comparados ao controle. Valores referentes a média ± SD de quatro experimentos independentes em duplicata (*p≤0,05; p≤0,01).

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FIGURA 31. TAXA DE ACIDIFICAÇÃO EXTRACELULAR (ECAR) APÓS O SILENCIAMENTO DO GENE ATP5A

FONTE: O autor (2019) NOTA: A taxa de acidificação extracelular (ECAR) em células B16-F10 (WT e ATP5A1-KO) foi medida pelo equipamento Seahorse XF24 bioanalyzer. Glc- glucose; Oligo- oligomicina. Valores referentes a média ± SD de quatro experimentos independentes em duplicata (*p≤0,05).

Como mencionado anteriormente, o aumento nas taxas glicolíticas em

detrimento à OXPHOS tem como produto um acúmulo de ácido lático (DIAZ-RUIZ et

al., 2011). Por essa razão, os níveis de lactato produzidos pelas células ATP5A1-KO

foram determinados (figura 32). Para esse ensaio, as células foram plaqueadas e os

níveis de lactato extracelular foram avaliados em 3, 6 e 24h de cultivo, através do

equipamento Cobass c701 instrument (Roche).

Os resultados, representados na Figura 32, mostram um aumento significativo

na produção de lactato pelas células mutantes ATP5A1-KO, quando comparadas a

linhagem parental (WT), após 24h de cultivo. Esses dados, juntamente com o perfil

metabólico das células após o silenciamento (Figuras 30-31) sugerem fortemente

uma mudança para o metabolismo anaeróbico, induzido pela deficiência na atividade

da ATP sintase.

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FIGURA 32. NÍVEIS DE LACTATO EXTRACELULAR DAS CÉLULAS B16-F10 ATP5A1-KO

FONTE: O Autor (2019) NOTA: Os níveis de lactato medidos pelo equipamento Cobass c701 instrument (Roche) foram determinados após 3, 6 e 24h de cultivo. Os valores foram normalizados pela concentração de proteínas e estão representados como mM de ácido lático/μg de proteína. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos independentes em duplicata (*p≤0,05).

Primeiramente, o impacto do silenciamento da subunidade alfa da ATP

sintase e a mudança para o metabolismo glicolítico sobre a proliferação das células

foi avaliada durante 24, 48 e 72h, em condições de normóxia e hipóxia (1% de

oxigênio), através da determinação do número de células total, pelo equipamento

ADAM-MC (Digital Bio, NanoEnTek Inc., Seoul, Korea). É possível observar através

dos resultados que os mutantes (ATP5A1-KO), em condições normais de oxigênio

(Figura 33), apresentam um crescimento mais lento em relação à linhagem parental

(WT), não atingindo, mesmo em 72h, confluência semelhante a linhagem controle.

Esse quadro parece ser revertido quando a concentração de oxigênio é mantida

baixa (1%), e os mutantes apresentam um crescimento exponencial maior que a

linhagem parental (WT) após 48h (Figura 33).

Esses resultados de proliferação, em condições de normóxia e hipóxia,

sugerem que os mutantes ATP5A1-KO não apresentam a dependência ao oxigênio

observado no WT.

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FIGURA 33. PROLIFERAÇÃO CELULAR DAS CÉLULAS ATP5A1-KO EM NORMÓXIA E HIPÓXIA

FONTE: O autor (2019) NOTA: Avaliação da proliferação celular (dobramento) das células B16-F10 WT e ATP5A1-KO, em condições de normóxia e hipóxia. A proliferação celular foi monitorada após 24, 48, 72h. Os valores representam a média ± o SD de três experimentos independentes em duplicata e estão representados como dobramento em relação ao tempo de 24h. (***p≤0,005; ****p≤0,001).

Células que utilizam preferencialmente a via glicolítica como fonte de ATP,

apresentam uma dependência pela glucose e tolerância a baixas concentrações de

oxigênio (ŽDRALEVIĆ et al., 2017). Tendo isso em vista, a capacidade clonal do

mutante ATP5A1-KO foi avaliada, por ensaio clonogênico, na ausência de glucose e

em condições de hipóxia (1% O2).

Como apresentado na figura 34, o silenciamento da subunidade α da enzima

ATP sintase foi capaz de promover uma inibição na formação de clones das células

B16-F10 em condições normais de oxigênio. Essa característica foi parcialmente

revertida em condições de hipóxia, corroborando com os dados de proliferação

obtidos e apresentados na figura 33. É importante ressaltar que o grupo controle do

mutante ATP5-KO em condição de hipóxia mostrou crescimento mais acelerado que

o mesmo grupo em hipóxia, devido a essa característica e visando-se manter a

mesma condição experimental de incubação por 7 dias, o resultado foram colônias

maiores que durante a coloração, acidentalmente tiveram o centro lavados das

placas, o que pode levar a uma interpretação errônea de que a formação de colônias

nessa condição foi inibida.

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FIGURA 34. CAPACIDADE CLONAL DOS MUTANTES ATP5A1-KO

FONTE: O autor (2019) NOTA: Imagem representativa do ensaio clonogênico realizado das células B16-F10 WT e ATP5A1-KO. As células foram plaqueadas a uma densidade baixa (103) e após 24h, para adesão, o meio de cultivo foi substituído por meio não contendo glucose ou contendo 3μM de oligomicina, inibidor da ATP sintase. O grupo controle foi mantido em meio normal. Os clones formados foram corados após 7 dias com o corante Giemsa. Imagem representativa de dois experimentos independentes em duplicata.

Os resultados referentes às células ATP5A1-KO mostram que o silenciamento

da subunidade α da ATP sintase foi suficiente para comprometer a OXPHOS,

levando a uma inibição na respiração celular forçando as células a um metabolismo

anaeróbico, mesmo na presença de oxigênio, a fim de sustentar a demanda

energética para o crescimento celular. Como consequência, as células apresentam

maior atividade glicolítica, dependência a glucose e um crescimento celular

comprometido.

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90

A partir da obtenção do mutante ATP5A1-KO (células com capacidade

respiratória deficiente e atividade glicolítica alta) e juntamente com a utilização dos

mutantes GPi-KO (que apresentam a via glicolítica interrompida e tem seu

metabolismo energético baseado na fosforilação oxidativa), foi possível verificar se

alterações no metabolismo energético celular são capazes de promover mudanças

na produção de melanina dessas células.

Para avaliação desse parâmetro, as células B16-F10 WT e os mutantes

ATP5A1-KO e GPi-KO, foram submetidos à indução melanogênica por 48h, através

da utilização de forscolina (25μM) e a produção de melanina foi determinada

espectrofometricamente como descrito no item 5.3 da seção de Material e Métodos.

FIGURA 35. DOSAGEM DOS NÍVEIS DE MELANINA INTRACELULAR DOS MUTANTES GPI-KO E ATP5A1-KO

FONTE: O autor (2019) NOTA: Analise espectrofotométrica da concentração de melanina intracelular no lisado de células após 48h de estímulo com 25μM de forscolina, na presença ou não de 200μM de ácido kójico, inibidor da enzima tirosinase. Os dados correspondem a média ± SD de três experimentos em duplicata independentes e os resultados são expressos como μg de melanina/ μg de proteína (*p≤0,05; **p≤0.01; ***p≤0,005; ****p≤0,001).

Os resultados apresentados na Figura 35 mostram que há uma inibição na

produção de melanina em ambos os mutantes, GPi-KO e ATP5A1-KO, quando

comparados a linhagem WT. Entretanto, o mutante ATP5A1-KO apresentou um

pequeno aumento nos níveis de melanina intracelular após a indução da

melanogênese, comparado com a mesma linhagem na ausência de forscolina,

sugerindo um papel mais importante da via glicolítica no processo melanogênico.

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Essa observação, juntamente com os resultados apresentados na seção 6.3 desse

trabalho, que sugerem uma indução da glicólise mediada por HIF-1α em resposta ao

estímulo da melanogênese por forscolina, reforçam uma possível relação entre o

processo glicolítico e a síntese de melanina.

Além disso, é evidente que o comprometimento do metabolismo energético

geral da célula e, consequentemente, na produção de ATP, é suficiente para inibir a

melanogênese nas células B16-F10. É importante destacar que a indução da

melanogênese pela forscolina é, provavelmente, limitada pela concentração de ATP

intracelular, uma vez que essa molécula é substrato da enzima AC para síntese de

cAMP (PINTO et al., 2008) e a sua depleção, teria efeito inibitória na atividade da

AC, apesar da ativação pela forscolina.

Entretanto, De Padua et al. (2017) mediram os níveis de ATP nas células GPi-

KO e observaram que esse mutante apresentou maiores níveis de ATP intracelular

quando comparados à linhagem parental, o que sugere que nossas observações em

relação à produção de melanina nesse mutante está, possivelmente, mais

relacionado à inibição da via glicolítica do que às concentrações intracelulares de

ATP.

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7 CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos nos experimentos realizados com as células de

melanoma murino B16-F10 submetidas ao estímulo melanogênico, podemos

concluir que o tratamento das células submetidas a duas diferentes metodologias de

estímulo da síntese de melanina, pela suplementação do meio de cultura com L-

tirosina e NH4Cl ou pela presença do composto forscolina são eficientes em

aumentar a pigmentação das células, entretanto, os níveis quantificados mostram

que o estímulo com a forscolina é menor.

O estímulo da melanogênese com forscolina causou menor proliferação e

capacidade clonogênica das células de melanoma. que podem ser resultado do

aumento de cAMP intracelular resultante da ativação da enzima adenilato ciclase,

uma vez que essa inibição não foi revertida na presença do inibidor da tirosinase, o

ácido kójico.

Além disso, o perfil metabólico das células submetidas à maior produção de

melanina mostrou estímulo da glicólise em detrimento da fosforilação oxidativa,

mesmo na presença de oxigênio.

Houve aumento de ROS nas mitocôndrias das células estimuladas, como

indicado pelos níveis de radical superóxido, mais danos no DNA mitocondrial,

aumento na expressão de Nfr2, estabilização e consequente acúmulo de HIF-1α e

de seu alvo (GLUT-1).

Por fim, alterações no metabolismo promoveram inibição na via

melanogênica, uma vez que células cujo metabolismo glicolítico (GPi-KO) e

respiratório (ATP5A1-KO) estavam comprometidos não foram capazes de sintetizar

melanina nas mesmas proporções das células da linhagem parental (WT), mesmo

em condições de indução desta via com o composto forscolina.

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