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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ANDRÉA MARIA NARCISO ROCHA DE PAULA INTEGRAÇÃO DOS MIGRANTES RURAIS NO MERCADO DE TRABALHO EM MONTES CLAROS, NORTE DE MINAS GERAIS: "A Esperança de Melhoria de VidaUBERLÂNDIA 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ANDRÉA MARIA NARCISO ROCHA DE PAULA

INTEGRAÇÃO DOS MIGRANTES RURAIS NO MERCADO DE

TRABALHO EM MONTES CLAROS, NORTE DE MINAS GERAIS:

"A Esperança de Melhoria de Vida ”

UBERLÂNDIA 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ANDRÉA MARIA NARCISO ROCHA DE PAULA

INTEGRAÇÃO DOS MIGRANTES RURAIS NO MERCADO DE

TRABALHO EM MONTES CLAROS, NORTE DE MINAS GERAIS:

"A Esperança de Melhoria de Vida ”

UBERLÂNDIA 2003

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ANDRÉA MARIA NARCISO ROCHA DE PAULA

INTEGRAÇÃO DOS MIGRANTES RURAIS NO MERCADO DE

TRABALHO EM MONTES CLAROS, NORTE DE MINASGERAIS:

“A Esperança de Melhoria de Vida”.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia da Universidade Federal

de Uberlândia, como requisito para a obtenção do

Título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Análise e Planejamento

Sócio-ambiental.

Orientador: Professor Dr. João Cleps Júnior.

UBERLÂNDIA-MG 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ANÁLISE E PLANEJAMENTO SÓCIO-AMBIENTAL

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________________________________ Professor Dr. João Cleps Júnior (Orientador)

Professor Dr. Júlio César de Lima Ramires

Professor Dr. Antônio Nivaldo Hespanhol

Data: 30 de maio de 2003 Resultado: APROVADA COM DISTINÇÃO.

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Dedico esta dissertação a Fábio de Paula Silveira, que foi o principal

incentivador, apontando críticas, problemas e qualidades. Com certeza, foi quem

mais acreditou na viabilidade deste trabalho.

Aos meus filhos Mateus, Natália e Juliana. Não lhes peço desculpas por

minhas ausências, mas agradeço profundamente por estarem tão presentes. Que

minha persistência e meu prazer em realizar aquilo que acredito acompanhem vocês

na trajetória da vida...

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AGRADECIMENTOS:

Agradeço aos meus pais e irmãos que mesmo não entendendo o porque

de "tanto trabalho", não deixaram o desânimo impedir o crescimento. Alcione, minha

irmã que tanto acredita e vibra sempre comigo. Vó Detina que me ensinou a

acreditar nos sonhos.

Agradeço, profundamente, ao meu orientador Professor Dr.João Cleps

Júnior com quem aprendi tanto, não somente sobre o tema da pesquisa, mas que

determinação, rigor metodológico, seriedade e responsabilidade nos levam a fazer o

melhor possível. Obrigada João, a cada correção, obstáculos e satisfação das

publicações de nossos trabalhos crescia a certeza de estar na trilha correta. Talvez

você não tenha percebido, afinal sou apenas mais uma orientanda, mas este

encontro entre uma socióloga e um geógrafo foi muito agradável e importante para

minha carreira. Você mostrou o Norte para esta pesquisa. Tomara que haja mais

trilhas...

Á professora Geisa Cleps, pela disponibilidade e carinho de sempre. Ao

professor Júlio Ramires que foi fundamental para a execução e realização deste

trabalho através das orientações na defesa e qualificação desta pesquisa. As

professoras e amigas Luciene Rodrigues e Ângela Dumont pela sensibilidade, pelo

exemplo e carinho.

Ao escritor e educador popular Carlos Rodrigues Brandão que através de

seus livros de educação, antropologia, poemas, pesquisas de campo tem me

ensinado o fascínio e prazer pela pesquisa e pela “gente querida”.

O meu imenso carinho para minha irmã-amiga Ana Paula pela partilha e

acolhida em sua casa; a José Ribeiro da Secretaria de Planejamento da Prefeitura

de Montes Claros; a Suzana dos Anjos, gerente do SINE-Moc; as amigas Maria das

Graças Campolina Cunha Gama e Jaqueline Araújo.

Aos acadêmicos do curso de Geografia que auxiliaram na pesquisa de

campo: Rejane Soares Ruas, Tarcísio Lopes Lessa e Denise Mendes Veloso. Aos

acadêmicos que me auxiliaram com gráficos e tabulações: Elaine, Paola, Tatiane,

Joyce, Rodrigo, Veridiana, Dilma, Rosângela e Milena.

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Agradeço imensamente todos os acadêmicos com quem divido dúvidas,

conhecimentos e satisfações no cotidiano da Universidade Estadual de Montes

Claros. Acredito em vocês e no desenvolvimento da ciência através da pesquisa,

ensino e extensão para transformação da realidade que vivemos.

Assino este trabalho, mas é importante ressaltar que esta pesquisa é

resultado do trabalho de muitas pessoas que apoiaram e acreditaram sempre.

Os versos de Adélia Prado são pertinentes para o expressar o meu

carinho e respeito a todos:

Eu sempre sonho uma coisa que gera, nunca nada está morto. O que parece vivo, aduba. O que parece estático, espera.(...); Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. (PRADO, 1991:17)

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Sertanejos, mire, veja: o sertão é uma espera enorm e.

(João Guimarães Rosa)

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SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ....................................................................................... X

LISTA DE TABELAS .............................................................................................. XII

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................... XIII

RESUMO .............................................................................................................. XIV

ABSTRACT ........................................................................................................... XV

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 18

CAPÍTULO 1

VIDAS SECAS: MIGRAÇÕES INTERNAS E A EXPANSÃO CAPITA LISTA NO CAMPO BRASILEIRO ........................................................................................ 25 1-1- A Modernização Agrícola e as Migrações em Busca de Trabalho ............... 29

1.2- As Migrações Campo-Cidade: diferentes enfoques interpretativos............... 35

1.3- A Problemática do Desemprego e as Transformações do Lugar ................. 41

CAPÍTULO 2

RAÍZES DO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS E DINÂMICA DO MERCADO DE TRABALHO ............................................................................................................ 46

2.1- As Concepções e Transformações no Mundo do Trabalho.......................... 47

2.2- Políticas Públicas de Emprego e Renda e as Mudanças no Mercado de Trabalho no Brasil .................................................................................. 54 2.3- As Políticas de Combate às Secas no Nordeste: Uma breve revisão.......... 58

CAPÍTULO 3

GRANDE SERTÃO: A REGIÃO MINEIRA DO NORDESTE ............................... 65

3.1- A Ocupação e Desenvolvimento do Território do Sertão Norte Mineiro....... 65

3.2- A Organização Produtiva da Região Mineira do Nordeste............................ 69

3.3- A Casa e a Rua: norte-mineiros na busca por trabalho ............................... 76

3.3.1- O Caminho da Roça: o Lugar, a Ação Social, a Reprodução das Relações Sociais de Produção.............................................................................................. 76

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3.4- A procura por Trabalho: as diferenças entre o mundo da casa e o mundo da rua......................................................................................................................... 81

3.5- - Admirável Mundo Novo, o pré-modernismo no mundo do migrante rural no século XXI .............................................................................................. 88

CAPÍTULO 4

ESPERANÇA DE MELHORIA DE VIDA: O MIGRANTE RURAL NA BUSCA DE TRABALHO NA CIDADE DE MONTES CLAROS (MG) ...................................... 92

4.1- A Mudança de Rota da Migração: Montes Claros, de Cidade Sertão para Centro Regional Urbano........................................................................................ 92 4.1.1- O Processo de Desenvolvimento do Município de Montes Claros............. 93 4.1.2- A Trajetória da Migração para Montes Claros............................................ 100

4.2- Quem são os Migrantes Rurais em Montes Claros: Marias, Josés, Franciscos, Raimundos, Helenas ............................................................................................ 102

4.3- O Acréscimo de Mulheres e Jovens na Migração para Montes Claros........ 111

4.4- Política Pública de Emprego do SINE: Posto de Montes Claros- A Expectativa de Trabalho ....................................................................................................... 115 4.5- A Integração dos Migrantes Rurais no Mercado de Trabalho: As Possibilidades!................................................................................................ 120

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 124

6- BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 132

7-- ANEXOS.......................................................................................................... 141

ANEXO A -Álbum de Fotografia: diferentes origens, desejos, colocações; Partilha da Sobrevivência dos Migrantes na Cidade de Montes Claros (MG)....................142

ANEXO B -Questionário Utilizado na Pesquisa de Campo.................................. 152

ANEXO C-Texto /Depoimentos de funcionários em relação ao SINE ..................155

ANEXO D- Figura 31- Estado de Minas Gerais - Microrregião Geográfica do Norte de Minas e Localização do Município de Montes Claros...................................... 158 ANEXO E-Figura 32 -Região Mineira do Nordeste - ADENE/2003.................... 159

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRÁFICO 1....................................................................................................... 28 Distribuição Percentual Dos Fluxos De Emigrantes Segundo Unidade da Federação De Destino – Minas Gerais - 1960-1970, 1970-1980, 1980-1991 GRÁFICO 2...................................................................................................... 96 Evolução Demográfica de Montes Claros GRÁFICO 3...................................................................................................... 103 Origem Racial do Migrante Rural em Montes Claros -2000/2001 e 2002 GRÁFICO 4 .................................................................................................... 103 Distribuição da População Migrante Rural por Tipo de Sexo GRÁFICO 5..................................................................................................... 104 Forma de Moradia da População Rural Migrante de Montes Claros(MG) GRÁFICO 6 ..................................................................................................... 104 Número de Pessoas na Família do Migrante Rura -Montes Claros(MG) GRÁFICO 7..................................................................................................... 105 Percentual do Número de Filhos de Migrantes Rurais - Montes Claros(MG) GRÁFICO 8 .................................................................................................... 106 Rendimento Mensal do Migrante Rural por faixas de SM GRÁFICO 9..................................................................................................... 106 Migração Anterior do Migrante Rural à Montes Claros (MG) GRÁFICO 10.................................................................................................... 107 Local de Nascimento dos Migrantes Rurais residentes em Montes Claros(MG) GRÀFICO 11 .................................................................................................. 108 Relação de Migrante Rural com a Propriedade Rural em Montes Claros(MG.) GRÁFICO 12 .................................................................................................. 108 Valor do aluguel pago pelo Migrante Rural -Montes Claros(MG) GRÁFICO 13 ................................................................................................. 109 Grau de Escolaridade dos Migrantes Rurais em Montes Claros(MG) GRÁFICO 14.................................................................................................. 110 Religião do Migrante Rural -Montes Claros(MG) GRÁFICO15................................................................................................... 110 Maior Problema enfrentado pelos Migrantes Rurais em Montes Claros(MG) GRÁFICO 16 .................................................................................................. 112 Número de Migrações Anteriores a Montes Claros(MG)

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GRÁFICO 17................................................................................................... 113 Principal Motivo da Saída dos Migrantes Rurais do seu Local de Origem GRÁFICO 18 .................................................................................................. 114 Faixa Etária dos Migrantes Rurais em Montes Claros(MG) GRÁFICO 19................................................................................................... 116 Principais Dados do Atendimento no Posto do SINE de Montes Claros(MG) GRÁFICO 20 ................................................................................................... 117 Opinião do Migrante Rural sobre o Atendimento do Posto do SINE de Montes Claros(MG) GRÁFICO 21............................................................................................. ..... 117 Frequência de procura dos Migrantes no Posto do SINE de Montes Claros(MG)

GRÁFICO 22 ................................................................................................... 118 Oportunidades de Empregos Oferecidas pelo SINE - Montes Claros(MG). FIGURA 01............................................................................................................... 21 Mapa Urbano de Montes Claros: Localização da Pesquisa de Campo FIGURA 02............................................................................................................. 24 Fotografias de Montes Claros (MG). FIGURA 03-........................................................................................................ 29 Fotografia de Migrantes Rurais em direção a Montes Claros (MG) FIGURA 04....................................................................................................... 34 Fotografia da chegada de Migrantes Rurais em Montes Claros (MG) FIGURA 05......................................................................................................... 36 Mapa- Principal Unidade da Federação/Região de Origem dos Imigrantes Interestaduais – Minas Gerais – 1986-1991 FIGURA 06......................................................................................................... 38 Esquema do Processo de Migração Interna FIGURA 07......................................................................................................... 44 Meio Rural de Montes Claros (MG)- Moradia de trabalhadores de Carvoaria FIGURA 08....................................................................................................... 53 Praça Dr. Carlos, local de concentração de trabalhadores ambulantes do mercado informal. FIGURA 09.................................................................................................... 61 Mapa da Região do Polígono das Secas/ Brasil ano de 2002.

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FIGURA 10..................................................................................................... 64 Ambulantes na Praça Dr. Carlos, Centro de Montes Claros (MG).

FIGURA 11..................................................................................................... 73 Mapa do IDH do Estado de Minas Gerais e dos Municípios da ADENE/RMNE FIGURA 12..................................................................................................... 75 Fotografia de Migrantes Rurais do Norte de Minas partindo para outras Regiões a procura de Trabalho FIGURA 13.................................................................................................... 81 Fotografia das Festas de Agosto em Montes Claros(MG)- Catopês e Marujos FIGURA 14................................................................................................... 85 Mapa com as Principais Rotas das Migrações de trabalhadores do Norte de Minas Gerais- 2000 e 2001 FIGURA 15..................................................................................................... 91 Fotografia da cidade de Montes Claros - maio de 2002 FIGURA 16-.................................................................................................... 92 Fotografia de Migrantes rurais - Preenchendo fichas de cadastro no SINE/MOC:Migrante Rural /Montes Claros(MG) FIGURA 17..................................................................................................... 100 Fotografia da Cidade de Montes Claros (MG) - Morro Dois Irmãos. FIGURA 18..................................................................................................... 114 Fotografia de Migrante Rural em Montes Claros FIGURA 19...................................................................................................... 143 Fotografia: Esperança na Chegada de Migrante Rural em Montes Claros FIGURA 20..................................................................................................... 144 Fotografia: Expectativa da trabalhadora à procura de emprego em Montes Claros(MG) FIGURA 21.................................................................................................... 145 Fotografia do Posto do SINE em Montes Claros (MG) FIGURA 22.....................................................................................................146 Fotografia: a realidade o mercado informal de trabalho em Montes Claros(MG) FIGURA 23................................................................................................. 147 Fotografia: O viver na favela de Montes Claros- migrante rural

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FIGURA 24................................................................................................. 148 Fotografia: O viver na Cidade, a segregação sócio-espacial

FIGURA 25.................................................................................................. .. 149 Fotografia da pesquisa no Posto do SINE- Montes Claros- MG FIGURA 26......................................................................................................150 Fotografia da Pesquisa de Campo: Acadêmico entrevistando migrante rural em Montes Claros (MG) FIGURA 27................................................................................................... 151 Fotografia do Shopping popular, na Praça Dr. Carlos em Montes Claros- MG

FIGURA 28 .................................................................................................... 158 Mapa do Estado de Minas Gerais com as Localizações do Norte de Minas e de Montes Claros

FIGURA 29...................................................................................................... 159 Região Mineira do Nordeste- ADENE/2003

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LISTA DE TABELAS E QUADROS TABELA 1 ........................................................................................................... 33 Brasil - População residente, por situação do domicílio (1940-2000) TABELA 2 ...................................................................................................... 35 Brasil -População Economicamente Ativa Ocupada, por Setor de Atividade e Situação do Domicílio (1992 e 1995) TABELA 3 .................................................................................................... 87 Variação da População dos Municípios do Norte de Minas Gerais:1996 a 2000 TABELA 4 ...................................................................................................... 93 Comparativos de Variação Populacional entre 1996 e 2000 em Montes Claros, Minas Gerais e Brasil-. TABELA 5 ...................................................................................................... 97 Evolução da População de Minas Gerais, RMNE e Montes Claros no Período de 1970 a 2000. TABELA 6 ....................................................................................................... 98 População Ocupada por Setores Econômicos em Montes Claros (MG)-1991

QUADRO 1-......................................................................................................84 Destino e Ocupação Pretendida pelos Migrantes do Sertão Mineiro QUADRO 2 .....................................................................................................115 Atendimento do Posto do SINE- MOC no Período de 01/01/2001 a 31/12/2002

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS:

ADENE - Agência de Desenvolvimento do Nordeste. AMANS - Associação dos Municípios da Área Mineira da SUDENE. CODEVASF - Companhia de desenvolvimento do Vale do São Francisco. CTPS- Carteira de Trabalho e Previdência Social. FJP - Fundação João Pinheiro - Governo de Minas Gerais. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. INDI - Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais. MOC - Montes Claros. MTB - Ministério do Trabalho. PMMC - Prefeitura Municipal de Montes Claros. PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio/IBGE. RMNE - Região Mineira do Nordeste. RURALMINAS - Fundação Rural Mineira. SETASCAD - Secretaria de Estado do Trabalho, Assistência Social, Criança e Adolescente de Minas Gerais. SEDESE - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esporte de Minas Gerais. SEPLAN - Secretaria de Estado do Planejamento de Minas Gerais. SINE - Sistema Nacional de Emprego. SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. SUDENOR - Superintendência de Desenvolvimento do Norte de Minas.

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RESUMO:

Este trabalho apresenta reflexões sobre a dinâmica interna rural no Brasil

com ênfase para o Norte de Minas Gerais. A reflexão sobre a migração rural na

cidade do sertão de Minas Gerais corrobora a hipótese das migrações estarem

ocorrendo cada vez mais dentro das próprias regiões, em função do crescimento

incentivado pelo Estado em algumas cidades e também a desilusão com as

metrópoles, conseqüência do processo de organização do trabalho que produz uma

combinação perversa cuja principal causa e conseqüência é o desrespeito aos

trabalhadores migrantes. A análise do perfil sócio-econômico do migrante rural e a

sua integração no mercado de trabalho, as possibilidades, colocações e o mercado

informal como via de sub-integração, revelam que as relações sócio espaciais

continuam marginalizando os trabalhadores oriundos do meio rural, limitando sua

inserção no mercado de trabalho. Esse fenômeno tem levado a profundas diferenças

sociais e econômicas, que são percebidas no espaço social, através da segregação

urbana. As entrevistas sobre a experiência de trabalho dos migrantes rurais em

Montes Claros revelam a formação da sociedade brasileira do terceiro milênio como

uma história da (re) produção de indignas condições de vida.

Palavras-chaves : migrações internas, políticas públicas, trabalho, mercado de

trabalho, desemprego, Montes Claros.

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ABSTRACT:

This piece of work presents reflections about the rural internal dynamics in

Brazil with emphasis to the North of Minas Gerais. The reflection about the rural

migration in the city of the outback's of Minas Gerais proves the hipothesis that the

imigration is taking place more and more inside the regions, due to the growth

impelled by the state in some cities and also the delusion with the metropolis, as a

consequence of the process of organization of the work which produces a perverse

combination whose main cause and consequence is the disrespect to the migrant

workers. The analisys of the rural migrant sócio-economic profile and his integration

in the workmarket, the possibilities, placement and the informal market as via of de

sub integration, reveals that the social spacial relations keep segregating workers

coming from the rural áreas, limiting their insertion in the workmarket. This

fenomenon has led to deep social and economic differences, which are noticed in the

social space, through the urban segregation. The interviews about the work

experience of the rural migrants reveals the formation of the Brazilian society of the

third millenium as a history of the (re)production of unfair life conditions.

Key Words : internal migrations, public policies, work market, unemployment, market,

Montes Claros.

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INTRODUÇÃO

Migrar (...) é viver, em espaços geográficos diferentes (...) é viver como presente e sonhar como ausente. É, até mesmo, partir sempre e não chegar nunca. José de Souza Martins1

Mais de um bilhão de pessoas, literalmente, não tem o que comer. A

fome, “mal do século”, é o grande paradoxo de nosso planeta: a criatividade

humana, as novas tecnologias e o fenomenal progresso científico convivem com a

inegável incompetência para combater a pobreza extrema.

Em nosso país, os indicadores econômicos e sociais confirmam e

denunciam a precariedade das condições de vida em que sobrevivem parcelas

significativas da população. A mobilidade espacial da população brasileira está

relacionada com a luta pela sobrevivência. As pessoas chegam e partem em função

da esperança de encontrar melhores oportunidades.

Estas indagações e incertezas que acompanham a trajetória dos

migrantes rurais para a cidade de Montes Claros, no sertão mineiro, são objeto de

investigação deste trabalho. Pretende-se discutir a migração rural para Montes

Claros no Norte de Minas Gerais, a busca de emprego na cidade e o processo de

inserção no mercado de trabalho local.

O Norte de Minas Gerais, embora pertença à região mais próspera do

País -o Sudeste, é reconhecidamente uma de suas áreas mais pobres, tendo

inclusive incentivo do poder público federal, como se do Nordeste fizesse parte. “O

Norte de Minas Gerais constitui região de transição entre o Sudeste e o

Nordeste”,(RODRIGUES,2000:108). Os processos de modernização da pequena

produção e a transferência de grande parte da população rural para as cidades

redefinem uma nova dinâmica da sociedade: campo e cidade, trabalhadores rurais

nas cidades, camponeses que se tornam operários, pequenos produtores que se

tornam assalariados, trabalhadores que se tornam migrantes sem ocupação, vivendo

de “bicos”; todos atores sociais diferentes que encontram no Estado e em suas

políticas a homogeneização de propostas, uma mesma denominação: populações

marginais migrantes sem ocupação. Os modelos de industrialização e urbanização

1 Conferir em MARTINS, José de Souza. Não há terra, para plantar neste verão. 2.ed. Petrópolis:Vozes,1988.p-46.

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vigentes são insuficientes para as necessidades das pessoas que estão no campo e

para a grande “massa” que ao longo dos anos foi inflando os centros urbanos.

O Estado tem sido inoperante diante das proposições que permitam

avanços para a população excluída. As homogeneizações das propostas referentes

a emprego/desemprego não levam em consideração a heterogeneidade dos

trabalhadores.

Das ações governamentais, relativas ao Trabalho e Geração de Renda,

destaca-se o Sistema Nacional de Emprego -SINE, que é gerenciado em todo o

Brasil pelo Ministério do Trabalho. Em Minas Gerais o SINE conta com 60 postos de

atendimento. A informatização tornou o atendimento rápido, ampliado e

modernizado, embora tais ações não apresentem resultados significativos no

combate ao desemprego que mereçam comemorações.

O Posto do SINE em Montes Claros é totalmente informatizado e possui

atendimento para os trabalhadores em todas as linhas de ações do sistema de

emprego, desde emissão de carteira de trabalho, seguro desemprego e programa de

intermediação de emprego, serviço que oferece aos trabalhadores desempregados,

por meio de colocação, "recolocação" e qualificação, possibilidades no mercado de

trabalho. São realizados ainda o Programa de Qualificação Profissional e o

Programa de Geração de Emprego e Renda. Em Montes Claros o atendimento do

SINE funciona integrado com outros serviços de órgãos públicos estaduais.

O referencial metodológico desta pesquisa vem da pesquisa dedutiva-

exploratória, baseada no universo de trabalhadores rurais inscritos no SISTEMA

NACIONAL DE EMPREGO (SINE) Posto de Montes Claros, nos anos de 2000 e

2001. Vale ressaltar que para conhecer as diferenças nas colocações dos

trabalhadores migrantes rurais em Montes Claros, foram pesquisados migrantes

rurais do mercado informal de trabalho, como ambulantes, “biscateiros”, e os

naturais e não provenientes do campo que freqüentam o Posto do SINE (sem serem

cadastrados) em busca de trabalho.

Com o objetivo de estudar o perfil do migrante rural em Montes Claros e

suas expectativas em relação ao mercado de trabalho formal, a partir da política

pública de emprego do SINE, foi elaborado um questionário semi-estruturado

(ANEXO B), aplicados nos períodos de novembro-dezembro/2000, janeiro-

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fevereiro/2001 e abril-maio/2002. O questionário que foi utilizado nas entrevistas foi

estruturado em três blocos de perguntas contemplando: I) perguntas que procuraram

determinar o perfil sócio-econômico do migrante rural; II) questões sobre trabalho e

migração; III) perguntas abertas com o objetivo de colher expectativas e

experiências do migrante.

A população da pesquisa, de acordo com os dados do posto do SINE, é

composta de 917 (novecentos e dezessete) migrantes rurais, destacados de todas

as pessoas que procuraram o órgão em busca de trabalho nos anos de 2000 e

2001. Utilizou-se a amostragem probabilística proporcional, com seleção aleatória

dos migrantes rurais a serem entrevistados. A amostra apontou o número de 116

(cento e dezesseis) migrantes rurais como representativos do universo da pesquisa.

A pesquisa foi aplicada no Posto do SINE e nas residências dos entrevistados,

maioria moradores das favelas da periferia da cidade (Ver Figura 1).

Também se realizou entrevista complementar em alguns tradicionais

“pontos” da cidade onde ocorrem concentração de migrantes rurais, totalizando-se

trinta pessoas entrevistadas.

Através de médias aritméticas simples estabeleceu-se generalizações

para o universo a partir das respostas dos 116 questionários aplicados. Para as

questões abertas (relativas às experiências, situações das migrações e da busca por

trabalho) utilizou-se a análise e o aproveitamento das ocorrências com maior número

de repetições, de ponderações idênticas e/ou semelhantes2.

2 Aplicação dos questionários foram em número de 15 na Praça Dr. Carlos (centro de Montes Claros, local de concentração de migrantes rurais ambulantes) e 15 no Terminal Rodoviário de Montes Claros (MG). Para o cálculo da amostra utilizou-se a formula: n= N. P. Q. Z² / (N-1).e² + P.Q.Z², onde N é população; e: erro máximo permitido; p: percentagem em que o fenômeno ocorre; Q: percentagem complementar e Z: nível de confiança. Baseado em REZENDE, João Batista.Medidas Estatísticas.Belo Horizonte:FJP,1983.

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FIGURA 1- Mapa Urbano de Montes Claros- (MG), local ização dos pontos de Aplicação da Pesquisa de Campo. Fonte: Adaptação do mapa urbano de 2002 – Secretaria Municipal de Planejamento/ Janeiro de 2003.

A elaboração do roteiro de entrevista correspondeu à etapa de

investigação relacionada às políticas públicas de emprego. Foram entrevistados o

gerente e os funcionários de atendimento do SINE, além de autoridades municipais

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e estaduais. As entrevistas auxiliaram o processo de delimitação dos objetivos da

pesquisa, visando identificar os pontos essenciais a serem abordados no trabalho.

O trabalho divide-se em capítulos que trazem em seus títulos referências

as grandes obras literárias sobre o semi-árido brasileiro, que retratam a realidade do

povo sertanejo. O primeiro capítulo propõe traz a reflexão histórica da dinâmica

migratória brasileira e apresenta as novas discussões sobre o rural e urbano,

conseqüência da modernização agrícola que redefine os espaços urbanos e rurais,

entendidos como espaços subordinados pelas relações de capital. Discute-se ainda

as transformações na agricultura que contribuem para modificar as relações de

trabalho e os CAIs- complexos agroindustriais que concorrem para modificar as

relações de produção e expulsão do homem do campo.

O segundo capítulo discute as políticas públicas, as raízes históricas que

fazem com que o trabalhador passe a ser apenas uma peça da industrialização do

campo, não sendo mais o agente transformador do processo agrícola. São cada vez

mais utilizadas as máquinas e menos trabalhadores. O capitalismo no campo torna

inviável a permanência dos pequenos produtores e trabalhadores rurais.

No terceiro capítulo estuda-se a região Norte Mineira, território de

transição, pertencente geograficamente ao Sudeste do Brasil, “Polígono das Secas”,

considerada, para efeito de análise, como RMNE - Região Mineira do Nordeste,

onde os programas governamentais foram responsáveis pela riqueza de poucos e

pobreza de muitos. A RMNE é uma região migratória, exportadora para canaviais e

cafezais, de trabalhadores, que na maioria das vezes vivem em péssimas condições

de trabalho e não conseguem remuneração nem mesmo para o retorno.

Estuda-se também as migrações internas no Norte de Minas, como forma

de entender a mobilidade espacial, conseqüência do sonho de mobilidade social e

econômica dos trabalhadores. As diferenças entre o mundo da casa (o local de

origem) e o mundo da rua (o lugar de destino) que resulta na dura realidade da vida.

Entre o lugar de origem e o trecho a ser seguido, a escolha não é

possível. O lugar significa os laços de família, a afetividade, as tradições; O trecho

significa a possibilidade de ganho, o capital, o único caminho de retornar ao lugar ou

(re) construir um novo lugar.

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O quarto capítulo refere-se à pesquisa de campo. Descreve-se o perfil do

migrante rural em Montes Claros e a mudança de rota da migração, ou seja, a

migração dentro da própria região.

Montes Claros é considerada como cidade “dique”, um local que barra as

migrações para o Sul, recebendo assim grande contingente de trabalhadores rurais

no espaço urbano. Analisa-se, principalmente nesse último capítulo, a política

pública do SINE - Sistema Nacional de Emprego/Posto de Montes Claros, as vagas

oferecidas, as ocupações conseguidas pelos trabalhadores oriundos do campo, as

expectativas dos migrantes rurais, o mercado informal de trabalho, os ambulantes e

as modificações no espaço urbano em função dos novos citadinos.

Realizada a pesquisa de campo, nas considerações finais há necessária

avaliações dos resultados obtidos, as expectativas levantadas, os anseios dos

trabalhadores e como tem sido a resposta do poder público para o homem do meio

rural que se encontra no meio urbano.

Sertanejo é todo homem que vive no sertão. Como sertaneja, espero que

este trabalho seja agradável na leitura, reflexivo nas abordagens e incentivador de

outros trabalhos que ofereçam, o conhecimento da realidade do povo do sertão

norte-mineiro.

(...) perguntas-e não foram poucas-que ficaram sem respostas pelo simples fato de que então e até agora eu não sabia e não sei ainda respondê-las. Que elas e outras se tornem, no espelho de nossos rostos refletidos uns nos outros, respostas boas de serem de novo perguntadas.Haverá na natureza, existirá dentro de nós e haverá entre nós algum rio com uma terceira margem, como na bela história de João Guimarães Rosa? Não sabemos, mas bem podemos suspeitar. Afinal, a vida e os rios são cheios de surpresas.

(BRANDÃO, 2002:43). \

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FIGURA 2-Imagens de Montes Claros(MG)- Novembro de 2002 FONTE:Prefeitura Municipal de Montes Claros- Nov. 2002.

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CAPÍTULO 1

VIDAS SECAS: MIGRAÇÕES INTERNAS E A EXPANSÃO CAPITA LISTA NO CAMPO BRASILEIRO

(...) E o sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos (...).

Graciliano Ramos3.

No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o sertão era visto com a

vida muito movimentada em função da busca da sobrevivência. O livro inicia com o

capítulo "Mudanças" e termina com um título sugestivo de capítulo cujo nome é "A

fuga", revelando a realidade histórica do sertanejo que busca através da mobilidade

espacial escapar das perversas condições sociais de vida, conseqüência da grande

concentração de terra.

Ao longo da história do Brasil foi se consolidando uma estrutura fundiária

altamente concentradora. As capitanias hereditárias, as sesmarias, o fim da

escravidão e as leis de terras de 1850, incentivaram uma distribuição desigual da

terra. Grandes extensões de terra foram entregues a poucos proprietários. “O

cativeiro humano termina, começa o cativeiro da terra”.(FERNANDES, 2001:2).

Desde o século XVI os camponeses resistem contra a expropriação

produzida pelo capitalismo. Fernandes (2001) chama a atenção para entender que a

migração funcionava como forma de sobrevivência e resistência aos enfrentamentos

que geraram mortes e massacres. Quilombo dos Palmares, Canudos, Cangaço, são

alguns exemplos históricos de resistência e organização dos trabalhadores do

campo. Os trabalhadores colocam o pé na estrada migrando por florestas, caminhos

e sendo responsáveis pelo desbravamento de muitas regiões.

O modo de produção capitalista, desde o capitalismo mercantilista, já

privilegiava determinado produto de exportação em detrimento de outros produtos.

Estes períodos chamados de “ciclos econômicos” funcionavam como fator de

atração para a migração. Os ciclos da cana de açúcar, do ouro, do café e da

borracha são responsáveis por grandes correntes migratórias.4

3 Conferir em RAMOS, Graciliano.”Vidas Secas". São Paulo: Record, 2000. 4

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O ciclo da cana-de-açúcar fez com que o Brasil fosse dividido em

capitanias hereditárias, beneficiando a pecuária através da grande disponibilidade

de terras e a concessão de sesmarias. O ciclo do ouro tem importância com as

descobertas de jazidas de ouro e diamantes pelas bandeiras paulistas, no final do

século XVII, nos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. As principais

correntes migratórias que partiram para estes Estados, principalmente para Minas

Gerais, foram portugueses, paulistas e nordestinos.

O café representou também mais uma estratégia de alavancar a

economia do país. Na metade do século XIX os cafezais representavam grande fator

econômico em Minas Gerais e no interior de São Paulo, terras estas conhecidas

como ”terras roxas”. É neste período que ocorre o avanço da ferrovia, que torna

mais fácil o escoamento da produção, o deslocamento das populações e também a

urbanização das cidades onde havia estações. Já o ciclo da coleta de látex

(borracha natural) tem seu apogeu com a revolução industrial no final do século XIX

e começo do século XX que, com a indústria automobilística descobriu a maior

reserva de seringais do mundo na Amazônia. São os nordestinos os principais

migrantes que foram para a extração da borracha na Amazônia.

Os ciclos econômicos são substituídos pela modernização agrícola a

partir da década de 1960 com o intenso processo de atividades agrícolas, baseadas

no paradigma da Revolução Verde. A principal característica desse processo

continua sendo a concentração de terras. Portanto, a migração campo-cidade se

intensifica, os nordestinos continuaram migrando para a região Sudeste em direção

ao Estado de São Paulo. Não é por acaso que a maior cidade do Brasil, São Paulo,

é conhecida também como capital dos migrantes nordestinos.

Já estive antes em São Paulo, umas cinco vezes. Quando a saudade aperta, dou um pulo até minha terra, mas não posso mais morar lá. Depois que a gente pisa São Paulo, e conhece os costumes daqui, não há meios de se viver mais em qualquer outro lugar do Norte.(PIERSON, 1972:69).

O movimento migratório contextualizado demonstra que a origem da

maioria dos migrantes é do Nordeste. O objetivo do deslocamento espacial é sempre

a busca do trabalho. As disparidades econômicas regionais como dificuldades

Conferir no Livro “Migrações Internas no Brasil” de SOUZA, Itamar. Petrópolis, 1980: 47.

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climáticas e estratificação social baseada no coronelismo concentraram a terra,

inviabilizando a permanência no campo de milhares de trabalhadores rurais.

No auge dos anos de 1960/1970 o “milagre econômico” na economia

urbana e a revolução verde atuando sobre a ocupação e emprego no campo,

fizeram com que os lavradores do Nordeste mineiro procurassem os destinos

urbanos na região Sudeste. Os trabalhadores (Gráfico 1) eram requisitados para um

mercado que exigia pouca escolaridade, dispensando capacitação prévia e registros

anteriores na carteira de trabalho.

Basicamente, os fluxos emigratórios, ou seja, o movimento das pessoas para fora de Minas Gerais, na década de sessenta, tinham como destino os estados de São Paulo (39%) e Rio de Janeiro (19%), em função do potencial industrial crescente, Paraná (12%) e Goiás (11%), áreas em plena expansão agrícola. Na década de setenta, Rio de Janeiro e Paraná perdem importância relativa no que se refere a serem destino dos emigrantes de Minas Gerais, de forma mais acentuada esse último, provavelmente pelo esgotamento de sua capacidade de absorção de mão-de-obra pelo setor agrícola. O Rio de Janeiro, apesar da queda relativa, continua respondendo por cerca de 14% do destino dos emigrantes, caindo também à participação de Goiás e dos demais estados da região Centro-Oeste. Em contrapartida, aumenta significativamente o percentual de São Paulo, responsável pelo destino da metade dos emigrantes que deixam o estado. Vale destacar também a crescente participação das regiões Norte e Nordeste (FJP, 2000: 4).

As décadas de 80 e 90 são marcadas pela intensificação da urbanização

brasileira. Embora com novas características, no final dos anos 80 e toda a década

de 90 as migrações intensificaram-se intra–regionalmente e continuaram a ocorrer

às migrações sazonais. Abramovay (1999) enfatiza que a saída do meio rural não

significa o acesso às condições mínimas próprias da vida urbana, ou seja:

”desruralização nem sempre é sinônimo, neste sentido, de urbanização”,

(ABRAMOVAY,1999:2).

Em função da “desruralização”, desde os anos de 1980 os trabalhadores

migrantes começam lento movimento de retorno. Regressam em virtude do

insucesso da experiência migratória.

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GRÁFICO 1

Distribuição Percentual dos Fluxos de Emigrantes de Minas Gerais segundo Unidade da Federação de Destino – 1960-1970, 1970-1 980, 1980-1991.

Os censos populacionais (1980-91) trabalhados pelo Núcleo de Estudos

da População da Unicamp indicam que São Paulo continuou a ser o Estado que

mais recebeu migrantes na última década e ao mesmo tempo, foi o que mais

perdeu, confirmando os dados da FJP, no gráfico 1. Entre os que deixaram o

Estado, destacam-se aqueles que voltaram para seu local de origem – a chamada

"migração de retorno".

As modificações tecnológicas na cidade e no campo expulsam o

trabalhador do campo, mas também o recusa nas metrópoles, uma vez que fica mais

difícil encontrar “serviço” nas cidades grandes para aqueles que têm pouca

escolaridade e quase nenhuma qualificação profissional. A construção civil e as

indústrias principalmente as automobilísticas, não contratam mais. Pelo contrário,

demitem em massa.

A população migrante retorna para sua região, o que não quer dizer

retornar para os seus municípios de origem, mas sim para as cidades de porte

médio que oferecem melhores condições de saúde, educação e trabalho. O

processo de desruralização persiste na virada do milênio em todo o Brasil, embora

concentre na região Nordeste e Norte de Minas Gerais suas maiores taxas.

Período

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1960-1970 1970-1980 1980-1991

OutrosReg. NorteReg. NordesteParanáDistrito FederalGoiásEspírito SantoRio de JaneiroSão Paulo

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A importância do êxodo rural é confirmada quando se examinam os dados dos últimos 50 anos: desde 1950, a cada 10 anos, um em cada três brasileiros vivendo no meio rural opta pela emigração. Os anos 90 não arreferam em muito esta tendência: se as taxas de evasão do meio rural observada entre 1990 e 1995 persistirem pelo restante da década, quase 30% dos brasileiros que então viviam no campo em 1990 terão mudado seu local de residência na virada do milênio. (ABRAMOVAY,1999:1)

i

1.1- A Modernização Agrícola e as Migrações em Busc a de Trabalho

As relações capitalistas incentivam a mobilidade espacial da população.

Os trabalhadores migram em busca de trabalho em função do modo de produção

capitalista que unifica o mercado de trabalho urbano e o mercado de trabalho rural.

O capitalismo industrial, com a polarização em determinadas regiões,

aumentou as disparidades regionais elevando o fluxo migratório em direção aos

FIGURA 3: Migrantes rurais em direção à cidade de Montes Claros Fonte: Revista Montes Claros em Foco, Novembro de 1979. (Rilson Santos).

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centros urbanos. A urbanização incentiva à modernização da agricultura, baseada

na produtividade, na melhoria da tecnologia agrícola, no uso de maquinaria e na

utilização de menor número de trabalhadores.

O desenvolvimento da agricultura passa a depender da dinâmica da

indústria. Nesse processo as modificações são irreversíveis na base técnica, tanto

no processo de trabalho através da passagem da subordinação indireta à

subordinação direta do trabalho ao capital.

Graziano da Silva (1998) resume a passagem da agricultura brasileira,

baseada no complexo rural para o agroindustrial a partir dos seguintes fatores: o

desenvolvimento do mercado interno no capitalismo; em 1850 a suspensão efetiva

do tráfico negreiro, a crise de 1929 e em 1950 a consolidação da constituição de um

mercado interno; as participações do Estado, através das formulações de políticas

específicas para os complexos agroindustriais com objetivo de regularização geral e

fixação de preços. Além da decomposição do complexo rural através dos seguintes

fatos: redução do trabalho escravo e a introdução do trabalho livre nas fazendas de

café, o complexo cafeeiro e a ampliação de atividades urbanas e em 1930/60-

integração dos mercados nacionais. Com a queda das exportações de café, surge a

necessidade de constantes desvalorizações cambiais e controle de mercados de

divisas que favoreceu a industrialização; em 1965 foi criado o SNCR-Sistema

Nacional de Crédito Rural - o principal veículo do projeto modernizador para a

agricultura; e levou a conglomeração empresarial ou territorialização da burguesia.

Os principais grupos empresariais com atividades rurais possuem também

empreendimentos em outras atividades: D1- Departamento produtor de bens de

capital e insumos para a agricultura; - A constituição dos CAIs e a industrialização da

agricultura tornam-se “os novos determinantes da dinâmica da agricultura”.

A Constituição dos “Complexos Agroindustriais”(CAIs),a partir da

implantação da “indústria para a agricultura” direciona para a lógica do capital

interligada pelo capital financeiro, fortemente subsidiado pelo Estado, que promove a

integração dos capitais industriais, agrários, bancários, etc.

O Estado passa a desempenhar novos papéis visando financiar,

patrocinar, administrar e subsidiar as margens de lucro na agricultura, beneficiando

os capitais integrados e garantindo sua valorização.

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Para Bernado Sorj (1986) o desenvolvimento agrícola brasileiro

caracteriza-se, cronologicamente da seguinte forma: no período de 1961 a 1964, as

estratégias estatais eram baseadas em dois projetos. O primeiro projeto favorecia

um caminho distributivista, ou pelo menos de eliminação dos setores latifundiários

mais atrasados. O segundo projeto orientou-se fundamentalmente para a integração

vertical (setores dependentes) e para o incremento da produção através do aumento

da produtividade. No período de 1964 a 1969 não houve efetivação de política de

reforma agrária; de 1970 a 1973 ocorreu à substituição de uma proposta de reforma

agrária por programas localizados, orientados para resolver problemas fundiários em

locais específicos. De 1973 a 1978, inverteram-se os termos do problema fundiário

como este sendo causado pelo minifúndio:

A forma específica pelo quais essas coordenadas se realizam, na agricultura, está determinada pelo padrão de acumulação industrial, centrado no desenvolvimento de um complexo agroindustrial liberado pelas grandes empresas estrangeiras e pela correlação de forças sociais no campo, totalmente favoráveis aos grandes proprietários,

(SORJ, 1986: 69).

O autor destaca que o sentido fundamental das políticas públicas tem

sido o de articular a expansão agrícola com o complexo agroindustrial e a

necessidade de abastecimento interno e a exportação através de um conjunto de

medidas entre as quais o crédito rural ocupa um lugar privilegiado.

Mas o avanço do capitalismo no campo não diminuiu as desigualdades

no meio rural, pelo contrário, continuou incentivando as velhas oligarquias, que

legitimadas pelo Estado em favor do “crescimento econômico” da nação expulsaram

o homem do campo. O avanço do capitalismo não modificou as antigas relações de

dominação e exploração, mas “balizaram, suscitaram, motivaram a consolidação

mundial do Estado”. (LEFEBVRE apud MARTINS, 1996:56).

A migração do homem do campo incentivada pelo Estado para as

cidades (Tabela 1) transformou o país agrícola em "nação urbana", causando êxodo

rural, ou seja, o abandono do campo em busca das cidades. A industrialização no

meio urbano “parece” oferecer melhores condições de trabalho e de qualidade de

vida. Os retirantes do campo abandonam o meio rural e sonham com o conforto da

cidade. Carregados de familiares, muitos não conseguem o trabalho esperado,

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vivendo em precárias condições. A busca por um território familiar, um lugar de vida

e de trabalho, faz com que famílias inteiras de trabalhadores percorram “longos,

constantes e sucessivos deslocamentos espaciais” (WANDERLEY, 1999:43).

As principais conseqüências do êxodo rural, para o meio rural, são: a

perda de população, de mão-de-obra e diminuição de agricultura de subsistência. No

espaço urbano, as conseqüências são os empregos e subempregos insuficientes

para a demanda de mão-de-obra, causando índices elevados de desemprego,

faltam habitações o que gera aumento de especulação imobiliária, formação de

favelas e bairros operários sem infra-estrutura básica, deficiência nos serviços

públicos, marginalidade social, prostituição infanto-juvenil, mendicância, aumento de

números de famílias abaixo da linha de pobreza e, ainda, aparecimento de

trabalhadores rurais que moram nas periferias das cidades e que trabalham no

campo, os chamados bóias-frias5. Os deslocamentos desses trabalhadores entre o

espaço da cidade e do campo, na maioria das vezes, são feitos de forma arriscada,

em veículos sem regulamentação e sem segurança.

Conforme mostra a Tabela 1, desde a década de 60 observamos a

ocorrência de um intenso processo migratório campo-cidade no Brasil. Os dados

revelam que a década de 80 também chamada de “década perdida”, foi marcada por

intenso fluxo migratório rural-urbano em decorrência da estagnação econômica

aliada ao forte papel do Estado. A ocorrência mais significativa da industrialização do

campo foi a “mudança no processo de trabalho agrícola”. Graziano da Silva

(1998:34) entende que o trabalhador deixa de ser um agente ativo para se tornar um

apêndice das máquinas. Não é o homem do campo fundamental para a produção

agrícola, mas, sim, as máquinas agrícolas.

5 Os trabalhadores são chamados de BÓIA FRIA porque saem bem cedo de suas residências com a comida pronta. Daí no horário de almoço, geralmente dentro das lavouras, a comida, ou seja, a bóia está fria.

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São novas formas de produção baseadas na tecnologia e no aumento da

produtividade, através de mais máquinas e menos trabalhadores; são velhas formas

de dominação onde os pequenos produtores e trabalhadores rurais tornam-se

subordinados ao capital, pressionados, incentivados e levados "A caminho da

Cidade". O discurso do desenvolvimento sustentável fica apenas nas teorias, que

ainda não se efetivou.

(...) desenvolvimento sustentável está intimamente relacionado à necessidade de controle da população, eliminação da miséria e aumento da capacidade das populações rurais de influenciar e controlar o seu futuro (...) dessa forma, constata-se uma forte correlação entre manutenção da saúde, e integridade do ecossistema e melhoria na condição de vida das populações rurais pobres.

(CLEPS JR;DANTAS,1999:201)

TABELA 1 Brasil- População residente, por situação do domicí lio (1940-2000)

ANO

TOTAL URBANA RURAL

1940 41.236.315 12.880.182 28.356.133

1950 51.944.397 18.782.891 33.161.506

1960 70.070.457 31.303.034 38.767.423

1970 93.139.037 52.084.984 41.054.053

1980 119.002.706 80.436.409 38.566.297

1991 146.825.475 110.990.990 35.834.485

1996 157.070.163 123.076.831 33.993.332

2000 169.799.170 137.953.959 31.845.211

FONTE: População presente - BIBLIOGRAFIA: - "Estatísticas Históricas do Brasil" Volume-3 - Rio de Janeiro: IBGE, 1987.

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A industrialização do campo retira o homem do meio rural através da

diminuição das oportunidades de trabalho agrícola, incentivando o êxodo rural e a

procura constante pelo emprego urbano, (Tabela 2). Apesar das grandes

modificações introduzidas na estrutura produtiva do campo, o padrão de distribuição

fundiária preservou sua principal característica: a forte concentração das terras. Os

trabalhadores são expulsos da terra e migram para as cidades, onde esperam

encontrar melhores condições de vida (Ver Figura 4).

De acordo com Graziano da Silva ”eram milhares de pequenos

camponeses que, expulsos do campo, não conseguiam encontrar trabalho produtivo

na cidade” (1994:14). Reportagem do Jornal "Folha de São Paulo", de 26/11/2001,

constatou-se que apenas 45% dos moradores da maior cidade do País (São Paulo)

FIGURA 4- Chegada de Migrantes em Montes Claros (MG) FONTE: Revista Montes Claros em Foco (foto de Rilson Santos)- Novembro de 1979.

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nasceram na metrópole e cerca de 70% das pessoas vindas de outros Estados

alimentam o sonho de regresso aos locais de nascimento.

1.2- As Migrações Campo-Cidade: Os diferentes enfoq ues interpretativos

Nos últimos anos as migrações campo-cidade continuaram a ocorrer,

embora apresentando novas características. Segundo dados do censo demográfico

de 2000, do IBGE, as pessoas passaram a migrar mais em suas próprias regiões. O

sonho da década de 70 de deixar a terra com destino à cidade grande em busca de

uma vida melhor não se realizou e a migração começa a revelar atualmente novos

movimentos. A cidade grande já não causa tanta esperança, os sonhos tornaram-se

impossíveis de serem realizados e os caminhos e os destinos se multiplicaram em

direções às cidades de porte médio localizadas em sua própria região.

As condições da industrialização e da urbanização impuseram ao campo

a expulsão dos seus moradores através de invasão de terras por parte de

fazendeiros, falsificadores de títulos de terra e pela própria transformação das

relações de trabalho no campo. O meio rural vem se modernizando e incorporando

novas técnicas de produção, o que levado inúmeros trabalhadores a se dirigirem

para os centros urbanos. Muitos terão as ruas como destino.

TABELA 2 Brasil-População Economicamente Ativa Ocupada, por Setor de

Atividade e Situação do Domicílio: 1992 e 1995

AGRÍCOLA NÃO-AGRÍCOLA TOTAL

BRASIL Rural Urban

o Total Rural Urbano Total Rural

Urban

o Total

1992 (1) 13.51

5 4.984 18.500 3.546 43.350 46.895

17.06

1 48.334 65.395

1995 (1)

13.32

0 4.834 18.154 3.930 47.545 51.474

17.24

9 52.379 69.629

Taxa Cresc. -0,5 -1,0 -0,6 3,5 3,1 3,2 0,4 2,7 2,1

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A migração campo-cidade precisa ser entendida como forma de exclusão

dos pobres que não encontram possibilidades de sobrevivência no lugar de origem e

também não encontram oportunidades no lugar de destino. O lugar de destino que

quase sempre é provisório, pois os migrantes são “incentivados” e “empurrados” a

continuar no trecho, sem saber para onde estão indo.

No início do século XXI, famílias inteiras de trabalhadores rurais,

camponeses e pequenos agricultores continuam “correndo trecho”, buscando fugir

da miséria, tentando manter a esperança de algum dia voltar ao campo, ao

município de origem. Sonhando com a possibilidade de ascensão social e

econômica na cidade, de um jeito ou de outro, chegam e partem ávidos por

condições dignas de vida (Figura 5). Para Wanderley (1999) a migração continua a

funcionar com duas faces: “esperança e fracasso”.

FIGURA 5- Estados de Origem dos Imigrantes - MG (ac umulado 1986-1991) Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI).

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Entende-se por migração o deslocamento espacial das pessoas, este ir e

vir em busca de melhores oportunidades. Souza (1980:35) define o migrante como

“sendo aquele indivíduo de qualquer classe social, que resolve abandonar o seu

município de nascimento para fixar residência noutro".

A mobilidade espacial das populações sempre ocorreu ao longo da história

humana. O fenômeno migratório analisado por Ravenstein, geógrafo inglês

(1980:65), em 1885, apresentou “As Leis da Migração” considerando a distância, a

migração por etapas, fluxos e contrafluxos, tecnologia e motivos econômicos como

fatores de atração para as cidades. Essa teoria enfoca sempre o indivíduo,

desconsiderando as estruturas históricas do contexto social como fator de migração.

Becker (1997), chama a atenção para a necessidade de entender o

processo migratório, através dos enfoques neoclássico e neomarxista. A autora

enfatiza que a mobilidade espacial neoclássica caracteriza-se pelos fatores pessoais

dos migrantes: o desejo pessoal de migrar, desconsiderando a complexidade social.

A mobilidade espacial neomarxista aborda o contexto "histórico-estrutural"

considerando o processo social e entendendo a migração como resultante da

introdução das relações capitalistas de produção no campo e da expropriação dos

trabalhadores rurais.

Fala-se agora da “mobilidade forçada” em oposição à visão neoclássica das migrações como um ato de decisão pessoal. A migração passou a ser entendida como a crescente sujeição do trabalho ao capital.

(BECKER, 1997:334).

A autora destaca que os enfoques neoclássico e neomarxista tendem a

explicações essencialmente gerais sendo, portanto, necessário o estudo dos níveis

microrregionais e locais. Faz-se também necessária a análise do “não migrar” como

forma de resistência dos trabalhadores aos conflitos sociais nas áreas de origem.

Singer (1998) caracteriza as migrações campo-cidade através de fatores

de expulsão e fatores de atração correlacionados com o modo de produção

capitalista que desemprega no campo e cria esperança de trabalho na cidade. Nesta

perspectiva, emerge o espaço não mais apenas como lugar de partida e destino ou

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como superfície de medida entre estes dois pontos. O recorte espacial é o país

retomado como um todo.

A FIGURA 6 resume a proposta metodológica de Singer para a análise

das migrações internas, relacionando o capitalismo e a migração. Para o autor, as

migrações campo-cidade são resultantes da estagnação da agricultura familiar e do

avanço do capitalismo no campo, transformando a agricultura em um ramo da

indústria. As mudanças nas indústrias diminuíram o número de funcionários nos

mais diversos segmentos, sobrando como alternativa de ocupação os setores de

serviços e comércio, que não conseguem absover a mão-de-obra que estava

empregada no setor fabril.

ESQUEMA DO PROCESSO DE MIGRAÇÃO INTERNA

FATORES DE EXPULSÃO FATORES DE ATRAÇÃO MECANIZAÇÃO MERCADO DE FORÇAS AGRÍCOLA PRODUTIVAS ÊXODO RURAL URBANIZAÇÃO DESORDENADA

POLÍTICAS PÚBLICAS DESENVOLVIMENTISTAS GERAM MAIS MIGRAÇÕES

CAMPO CIDADE

MUDANÇA:CONCENTRAÇÃO DE TERRAS, DO

CAPITAL,CONCENTRAÇÃO ESPACIAL.

ESTAGNAÇÃO: INCAPACIDADE DA ECONOMIA DE

SUBSISTÊNCIA DE ELEVAR A PRODUTIVIDADE

DAS TERRA

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Para Martins (2002) a migração é um problema social pela dificuldade da

inclusão dos trabalhadores, em função do "estreitamento das possibilidades de

ascensão social".

Talvez devamos entendê-las como deslocamentos sociais que se tornam problemáticos para o próprio ser humano quando esses processos ocorrem em sociedades que estão passando por demorado período de estreitamento das oportunidades de vida, como a nossa. É preciso pensar o deslocamento espacial, isto é, pensar nos fatores propriamente sociais, culturais e políticos embutidos no processo de migração.

(MARTINS, 2002:133)

Portanto, as modificações no campo e na cidade introduzem novas

formas de contextualização do rural e do urbano. “As cidades não se transformam,

pois, em sua maioria, persistem como centro de organização do meio rural e não

possuem vida própria”, (QUEIRÓZ, 1969:15). Entre o meio rural e meio urbano

sempre haverá diferenças embora ”(...) não mais devido a sua localização no espaço

e a sua forma de habitat, e sim devido às peculiaridades da organização do

trabalho”,(Ibidem, 1969:6).

Para a geógrafa Ana Fani A. Carlos (1999) a cidade é a materialização

das condições gerais do processo de produção, dadas as seguintes características:

a segregação espacial; tendência do espaço urbano de (re) produzir e ampliar a

distância entre o local de moradia e o local de trabalho e o espaço urbano se

reproduzir na contradição e luta.

A reflexão sobre a concepção social de cidade, conforme Weber (1973),

remete a um local de comércio e inserção do excedente produzido, por meio de um

aparato legal e político que controla as atividades produtivas e a circulação das

mercadorias.

A urbanização brasileira transformou grandes centros urbanos com

características rurais e também áreas rurais com características urbanas: Pesque-

pague e hotéis-fazenda são exemplos de novas atividades não agrícolas no campo.

Mendras (1969:9) cita que o meio rural se define em função da cidade, sendo

FIGURA 6 - Esquema do Processo de Migração Interna FONTE: SINGER, Paul,1999,p.29-59-elaboração da autora.

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necessário distinguir algumas características do meio rural como: submissão ao

espaço, confusão de papéis econômicos e sociais, mudança e penetração pela

sociedade global.

Tais características do meio rural sucita também a necessidade de

entender que no campo e na cidade existe um ambiente natural e um segundo

ambiente - o ambiente técnico- onde “(...) o indivíduo se vê encerrado numa rede de

técnicas complexas que tendem para a automatização”,(MENDRAS, 1969:69).

Ou seja, os conceitos de rural e urbano tendem a ser transformados

através da organização do trabalho. A automatização do campo prevê um ambiente

técnico não somente na cidade. Graziano da Silva (1999), enfoca a distinção entre o

rural e o urbano como uma divisão secundária, ressaltando que hoje a relação

passou a ser nos “espaços que dão suporte físico aos fluxos econômicos e sociais”6.

O autor afirma que a industrialização do campo é um processo dialético onde o

conhecimento e controle da natureza leva a uma submissão da agricultura pela

indústria.

São, portanto dois processos: um de destruição da economia natural, pela retirada progressiva dos vários componentes que asseguravam a “harmonia” da produção assentada na relação homem-natureza (e suas contradições); e o outro, de uma nova síntese, de recomposição de uma outra “harmonia” - também permeada por novas contradições baseadas no conhecimento e no controle cada vez maior da natureza e na possibilidade da reprodução artificial das condições naturais da produção agrícola. A esta passagem se denomina industrialização da agricultura. (GRAZIANO DA SILVA, 1998::3).

Na verdade, o capital modifica drasticamente a contextualização do que

seja rural e urbano. O ambiente natural e o ambiente técnico são definidores

também destas modificações que irão nortear os deslocamentos populacionais rurais

para a cidade, em função, principalmente, da organização do trabalho. Um exemplo

disto é citado por Andrade (1998:312) quando ressalta que a renda média do

habitante da cidade é superior à renda do habitante do campo, enfocando que existe

uma dominação da cidade sobre o campo. O lugar de produção do capital é visto

6 Maiores informações sobre este assunto no artigo “As Atividades Rurais não-agrícolas e as Transformações do Espaço Rural: Perspectivas Recentes de Sérgio Schneider. O artigo se constitui em um dos resultados do Projeto Caracterização do Novo Rural Brasileiro- Projeto Rurbano. Projeto temático de equipe coordenado pelo Professor José Graziano da Silva, do Instituto de Economia da UNICAMP. Maiores informações estão disponíveis na home-page :http://www.eco.unicamp.br/projetos/rurbano.

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pelos trabalhadores sempre no meio urbano: é este o lugar procurado para a

“melhoria de vida”.

1.3- A Problemática do Desemprego e as Transformaçõ es do Lugar

Os anos 90 foram marcados pela integração da economia ao processo de

globalização e pela busca da "estabilidade financeira"7. Em decorrência dessa

dinâmica, o emprego e a força de trabalho se deslocaram, essencialmente, do setor

secundário para o comércio e prestação de serviços (economia informal). O homem

do campo continuou a migrar para as grandes cidades (Tabela 1), configurando uma

nova forma de inserção no mercado de trabalho:categorias de empregadores e de

empregados transformam-se em “autônomos”, embora grande parte dos pequenos

negócios não consegue sobreviver ao primeiro ano de funcionamento. Os

trabalhadores, sobrevivem então de “bicos”, pequenos serviços informais. O

desemprego cresce enormemente nestes anos chamados de “década do ajuste”.

Assim, no final do século XX e inicio do século XXI, o desemprego vem

elevando a cada dia o número de pessoas sem teto, sem terra, sem escola e sem

comida. São famílias inteiras nas ruas das grandes, médias e até pequenas cidades,

"empurradas" por falta de oportunidades e iludidas com falsas perspectivas. A

maioria desinstalada geograficamente, moralmente e com fome de comida e de

trabalho. Ativamente, ou como vítimas, passam a contribuir para elevar os índices de

violência e prostituição, alimentando outras discriminações sociais.

Pastore, citado por Jannuzzi (2000), chama a atenção para a mobilidade

social da migração, citando dois momentos: um primeiro momento nas décadas de

50, 60 e parte de 70, onde houve mobilidade ascendente para os migrantes e um

segundo momento, em meados de 70, onde a mobilidade social passa a ficar cada

vez mais difícil.

(...) Esses anos dourados passaram, e a realidade atual é bastante diferente. A mobilidade ascendente é mais difícil por três motivos. Em

7 Milton Santos (1999) chama atenção para três tipos de globalização: a fábula (discurso político, aldeia global); a perversidade (os excluídos, os sem-terra, os sem-teto, etc.) e a possibilidade (construir um mundo melhor, a humanização, a resistência).

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primeiro lugar, porque o ponto de partida é mais alto. Em segundo lugar, porque as oportunidades de trabalho são menores. Em terceiro lugar, porque para uma pessoa subir começa a ser necessário que outra desça, morra ou se aposente.

(PASTORE apud JANNUZZI, 2000:25).

A migração, que foi incentivada pelo Estado para promover urbanização

e industrialização, encontra-se agora “barrada”, sendo considerada como grave

problema social. “Aqui reside a nosso ver a diferença fundamental do momento em

que vivemos hoje: a equação fordista mais investimentos = maior produção = maior

nível de emprego já é coisa do passado (...)”, (GRAZIANO DA SILVA, 1994:26).

A problemática do desemprego é um fenômeno global, mas que manifesta

suas particularidades no lugar. Considerando Santos (1999:12), "cada lugar é a sua

maneira, o mundo", ou seja, um fenômeno global, manifesta-se também no local (...).

A uma maior globalidade corresponde uma maior individualidade.

Os problemas locais são influenciados pelas decisões globais. Aos

pobres, os não-naturais das cidades, restam a tentativa apenas de sobreviver,

porque bem-estar é um sonho que vai ficando cada dia mais distante. A globalização

econômica, não vem auxiliando na resolução de problemas básicos para maioria da

população como alimentação, saúde, habitação e educação.

A alternativa tem sido as políticas sociais compensatórias, sem dúvida necessárias nessa circunstância, por meio das quais se procura atenuar os efeitos danosos do modelo econômico. Elas apenas confirmam e legitimam a exclusão por meio de benefícios que não constituem legítima apropriação social dos resultados da economia,

(MARTINS, 2002:14).

A sociedade moderna capitalista criou grandes desencontros entre o

social e o econômico. A visão antropocêntrica do homem não conseguiu combater

as desigualdades sociais. A crise agrária brasileira, liberando grande número de

população rural do campo, causou um aumento do desemprego provocando um

desequilíbrio na organização dos espaços sociais tanto nas cidades como no

campo8.

O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina

8 GRAZIANO DA SILVA (1996) distingue “questão agrária” e “questão agrícola”. Para o autor, a questão agrária está ligada às transformações nas relações de produção, como se produz, de que forma se produz; a questão agrícola diz respeito às mudanças na produção em si mesmas, o que produz e quanto produz.

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o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência,

(MARX, 1977:301).

Os estratos empobrecidos da população não conseguem ter acesso ao

mercado de trabalho. Os obstáculos são às próprias políticas públicas do Estado, e

as barreiras sociais. A sociedade se fecha, restringindo as possibilidades de

mobilidade sócio-espacial das pessoas:

A produção e a reprodução do capital estão num lugar e a reprodução da força de trabalho está fundamentalmente em outro lugar. A reprodução da força de trabalho está parcialmente separada da produção e reprodução do capital. A reprodução da força de trabalho não corresponde à recriação do capital variável e não se dá, em grande parte, no mesmo processo de trabalho e de valorização em que se reproduz o capital constante e se extrai a mais-valia,

(MARTINS:1988:55).

Conseqüentemente, a migração continua a ocorrer em função da

reprodução do capital que cada dia mais se dá no “mercado de forças produtivas” na

cidade. As atividades vinculadas à agricultura familiar são poucas, impulsionando a

saída para o meio urbano como locus de produção de oportunidades de trabalho.

A pobreza rural e a miséria de grande parte da população urbana

encontram suas raízes novamente no desequilíbrio de propostas públicas que

sempre beneficiam pequenos grupos nacionais e multinacionais. Constata-se que o

programa de Reforma Agrária, que foi desenvolvido pelo Estado nas últimas

décadas, vem sendo executado em função da pressão dos movimentos sociais, mas

ainda não foi desvinculado dos interesses dos velhos coronéis da terra, que sempre

foram os grandes beneficiários do poder público. O campo se esvazia de famílias de

pobres e a cidade se metropoliza de miséria.

O “Estado Mínimo”, agora tenta viabilizar políticas públicas de emprego,

renda e agricultura para manter o homem no campo ou apoiá-lo na cidade.

Os “bicos”, pequenos trabalhos, domésticas que trabalham pela comida e

moradia e um número grande de bóias-frias que se “escravizam” em fazendas,

viajando em condições irregulares de trabalho, levados pelos ”gatos” e trabalhadores

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de carvoarias (Ver Figura 7), fazem a realidade do migrante rural nos centros

urbanos9.

O lugar se transforma através da práxis dos homens, que são totalmente

alienadas ao capital, através da ideologia de uma sociedade urbana, mundializada,

tecnificada e ilusoriamente “promissora”.

9O "gato”, como é conhecido em diversas regiões, opera como um agenciador de trabalhadores.

FIGURA 7- Meio Rural de Montes Claros (MG) - Moradia Improvisada dos Trabalhadores de Carvoaria. Fonte: Revista Montes Claros em Foco ( Rilson Santos)- Nov. 1979

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A busca de trabalho provoca a mobilidade espacial de milhares de

famílias que sem muitas esperanças no campo seguem para a cidade em busca de

algo que não sabem aonde encontrar, mas sabendo que não podem aguardar no

meio rural. Incessantemente, permanecem chegando e partindo na procura de

trabalho, de bico, de alguma forma de sobreviver. Não escolhem ocupações,

aceitam qualquer tipo de serviço.

(...) Severino, retirante, o meu amigo é bem moço, sei que a miséria é mar largo.Não sei como qualquer poço; Mas sei que para cruzá-la, vale bem qualquer esforço (...). (MELLO NETO, 1997:506).

O movimento da população é estimulado pela ação de integração do

Estado, através da expansão horizontal do capital, a utilização do espaço para o

crescimento econômico que não veio acompanhado do desenvolvimento social.

Mercados de terra, de mão-de-obra, fazem da população migrante "um exército

industrial de reserva, com grande mobilidade, que permite uma permanente

renovação da mão-de-obra e a manutenção de baixos salários” (ANDRADE,

1998:122).

(...) E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela, (RAMOS, 2000:126).

Como os personagens do romance Vidas Secas, hoje muitas famílias

de trabalhadores rurais seguem migrando do campo para a cidade. Carregados de

sonhos, ansiedades, medos e principalmente esperança de enfim conseguir

trabalho.

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CAPÍTULO 2 RAÍZES DO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS E DINÂMICA DO MERCADO DE TRABALHO

"Para o empregador moderno o empregado é um simples número: a relação humana desaparece (...).somos ainda hoje desterrados em nossa terra".

Sérgio Buarque de Hollanda10

No livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Hollanda faz uma

diferenciação entre o trabalhador e o aventureiro desde a época da colonização do

Brasil. Os aventureiros eram os portugueses movidos pela audácia e instabilidade; já

os trabalhadores eram o povo brasileiro (negros e índios) que tinham a vida

conduzida através do método, racionalidade dominada. Portanto, assim começa a

desvalorização do trabalho no Brasil.

Arendt (1991), distinguindo labor e trabalho, faz uma reflexão da

sociedade moderna onde o barateamento e a exploração da mão-de-obra revela

uma concepção do trabalho convertido em uma forma de poder e de exploração. O

pensamento da filosofa alemã mostra que os gregos possuíam três concepções para

a idéia do trabalho: labor, poiesis e praxis.

Por labor, entendia-se o esforço físico voltado para a sobrevivência do

corpo, sendo, portanto, uma atividade passiva e submissa ao ritmo da natureza.

Em poiesis, a ênfase recai sobre o fazer, o ato de fabricar, de criar alguma

coisa ou produto, com o uso de algum instrumento ou com as próprias mãos.

10 Conferir em HOLLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil . 19 ed. Rio de Janeiro, J. O: 1987.

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Praxis, por sua vez, significava aquela atividade que tem a palavra como

seu principal instrumento, isto é, que utiliza o discurso como um meio para encontrar

soluções voltadas para o bem-estar dos cidadãos.

Desde os gregos, para quem o trabalho manual era algo penoso e vil,

devendo ser executado pelos escravos, passando pela tradição judaica até épocas

mais recentes, como o período feudal, em que a Igreja considerava o trabalho como

resultado do pecado original, o trabalho manual foi visto como uma verdadeira

tortura, conforme o significado da própria palavra latina (Tripallium-instrumento de

tortura-) que lhe dá origem. Entretanto, as mudanças ocorridas nas relações sociais,

em que o trabalho passou a ser visto como criador de toda a riqueza, resultou na

discussão sobre o significado do trabalho.

2.1- As Concepções e Transformações no Mundo do Tra balho

As concepções do trabalho como vocação e dever (WEBER: 1980) auxilia

a burguesia comercial e depois a industrial, que precisava de trabalhadores

dedicados, sóbrios, dóceis em relação as condições de trabalho e aos baixos

salários. A concepção da ciência, da técnica, das artes mecânica proposta pelos

iluministas de transformar a natureza através do domínio do homem sobre ela, por

meio do trabalho, seja ele manual ou intelectual.

A concepção de trabalho tem modificações fundamentais com o

aparecimento das cidades, o que já confirma que o rural e o urbano transformam

todas as relações de produção, os objetos, os instrumentos, as formas de produção

a organização do trabalho alteraram-se profundamente.

A primeira revolução industrial foi a da máquina a vapor, a segunda, a do

trabalho em larga escala, a terceira, a da microeletrônica, da inteligência artificial, de

empresas não mais mecânicas, mas mais inteligentes. Estas revoluções ressaltam a

importância do mundo do trabalho para a compreensão do atual quadro de

mudanças na sociedade contemporânea. A automação, a industrialização do século

XX modificou e diminuiu a quantidade de seres humanos no mercado de trabalho.

É o modo de produção que vai definir a forma, os meios e a força de

trabalho necessário para a produção. ”Mas o trabalhador livre se vende a si mesmo

e, ademais, vende-se em partes. Leiloa 8,10,12,15 horas de sua vida, dia após dia,”

(MARX,1975:75).

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Alguns autores contemporâneos, como Habermas (1989), Offe (1989) e

Kurz (2001), falam do desaparecimento da categoria trabalho. São teóricos que

refletem sobre a perda da centralidade do trabalho. As abordagens enfocam que a

modernização tecnológica promoveu a desconstrução do mundo do trabalho. A

aparência necessária “da negação do trabalho” sob o capitalismo tardio promoveu a

desproletarização do trabalho industrial fabril, nos países de desenvolvimento de

capitalismo avançado e subproletarização do trabalho, em função do trabalho

parcial, precário, terceirizado, nos países em desenvolvimento, como é o caso do

Brasil.

Atualmente, grande parte da população vive e trabalha em condições

precárias, conduzidas pela lógica da produção de mercadorias e do supremo valor

do capital. O desenvolvimento do sistema fabril intensificou o modelo de acumulação

de capital. O modelo fordista caracterizava-se pela produção baseada na

concentração de decisão, padronização do trabalho, grande estoque, produtividade

do trabalho. Há, neste contexto, juntamente com o taylorismo, forte expansão de

empregos na indústria. Com o advento da cibernética, a sociedade contemporânea

sofre grandes transformações, principalmente, nas relações de trabalho. Passou a

haver a predominância do setor de serviços, envolvendo atividades das áreas de

comunicação, informação, finanças, saúde, educação, lazer, comércio, etc. O

cotidiano do homem transformou-se, passando a ser marcado pela automação em

todas as esferas da vida social. As máquinas constituem o intermediário constante

entre o homem e o mundo. Como conseqüência desta modernidade tecnológica,

milhões de pessoas não sabem o que farão amanhã.

”Será útil viver, quando não se é lucrativo ao lucro ?” (FORRESTER,

1997:44). A solução seria então exterminar os pobres? Segundo Forrester, no seu

livro "O Horror Econômico”, mais de um terço da humanidade está excluída do

mercado de produção e de consumo, não sendo, portanto, necessários de existir

para a sociedade capitalista. O exército de reserva que se configura muito mais

como exércitos de excluídos, mas que se pensado sob a ótica da tendência à

ubiqüidade dos investimentos tem-se uma disponibilidade também ao mesmo tempo

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em toda parte para atender à velocidade do fluxo de capitais e investimentos. O

novo contexto inclui precarização do trabalho, desemprego e uma "nova pobreza"11.

Um desempregado, hoje, não é mais objeto de uma marginalização; provisória, ocasional, que atinge apenas alguns setores; agora, ele está às voltas com uma implosão geral, com um fenômeno comparável com as tempestades, ciclones e tornados, que não visam ninguém em particular, mas aos quais ninguém pode resistir. Ele é objeto de uma lógica planetária que supõe a supressão daquilo que se chama trabalho; vale dizer, emprego,

(FORRESTER, 1997:11)

As transformações no mundo do trabalho provocam um desequilíbrio nas

relações sociais. Para Matoso (1989) surge um novo trabalhador, mais completo,

multifuncional e de outro lado, novas relações de trabalho baseadas na

desestruturação das relações salariais.

A situação do trabalho torna-se frágil. As alterações do novo cenário

produtivo levaram a flexibilização no mercado de trabalho e nas relações de

trabalho. Sofre-se com o desemprego e com a reestruturação da produção. Nos

locais de trabalho, ferramentas e máquinas evoluem com muita rapidez. Há uma

redução drástica no número de postos de trabalho. Nascem outras funções, muitas

desaparecem.

O Estado de Bem-Estar Social tornou-se uma lembrança, substituído pelo

inabalável e abstrato mercado do neoliberalismo. Os direitos sociais do trabalhador

são substituídos pela flexibilização de direitos, ou ausência de direitos.

Produtividade, qualidade e colaboração são lugares-comuns que entram no

repertório de todos que trabalham e também dos que não trabalham e querem

trabalhar.

Na dialética global/local, chama a atenção à redefinição do papel do

Estado, das fronteiras nacionais, das culturas locais. A reorganização e disputa dos

mercados, a divisão internacional do trabalho e o livre fluxo de capitais são

11 No livro O Horror Econômico, a autora Viviane Forrester faz uma análise deste novo mundo do trabalho, onde tudo é descartável em função do lucro, chamando atenção para os milhões de desempregados que são consideráveis não úteis, portanto aceitando assim qualquer coisa para fazer, a qualquer preço, para autora sempre o menor.

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problemas que aparecem, permitidos pelos avanços tecnológicos no mundo do

trabalho.

Antunes (2000) analisa as novas tendências no mundo do trabalho

relacionando à realidade econômica a partir da década de 1970. Para ele, a nova

realidade seria acompanhada de novas formas de gerenciamento da produção, além

de determinar mudanças nas relações de trabalho. Neste aspecto o movimento

sindical passou a ter uma postura defensiva, deixando de lado o confronto e

bandeiras anticapitalistas. O autor, situando o Brasil, argumenta que ocorreram

mudanças estruturais no mercado de trabalho, na década denominada de ajuste, em

substituição à chamada década perdida (os anos 80), como a deterioração da

qualidade do emprego.

Pode-se sintetizar as principais características em relação ao trabalho

durante a década de 90, da seguinte forma: 1º) maior concentração de trabalhadores

nos setores de comércio e serviços; 2º) deslocamento dos trabalhadores de

profissões formais para atividades sem relação com a qualificação anterior; 3º)

declínio no nível de emprego; 4º) aumento significativo do setor informal; 5º)

aumento de empregos atípicos, com contratos de curta duração ou emprego em

tempo parcial.

Portanto, as mudanças em curso configuram dois processos. De um lado,

a redução da classe operária tradicional e, de outro, a crescente heterogeneização e

subproletarização do trabalho decorrente das formas atípicas como o trabalho

parcial, o contrato temporário, precarizado, a subcontratação e a terceirização.

Conseqüentemente há uma fragmentação do trabalho .

Assim, pode-se considerar que o mundo do trabalho tem sofrido

mudanças substantivas que apresentam como conseqüência o que Offe (1989)

denomina de “fim da sociedade do pleno emprego”. As mudanças na organização do

processo produtivo são evidentes e, ao gerar a redução da oferta de postos de

trabalho formais, levam não só à perda da centralidade do trabalho, mas,

igualmente, à perda da centralidade do assalariamento.

O atual mundo do trabalho é caracterizado pelo trabalhador integrado,

polivalente, em equipe flexível e estressante. O volume de investimento é altíssimo,

com fortes tendências de terceirização e formação de megablocos comerciais e

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monopólios em escala internacional, global. A produtividade acontece em ritmo

vertiginoso, de grande escala de elevação, embora não desencadeando ciclo de

crescimento.

O emprego sofre forte retração na indústria, aumentando o trabalho

parcial, precário, informal, sem as garantias sociais mínimas. O incremento da

produtividade do trabalho penetrou não somente na indústria, mas atingiu os

serviços, que não conseguem absorver a massa redundante de trabalho vivo, que

passa a constituir o desemprego estrutural. Os novos postos de trabalho

caracterizam-se por maior rotatividade de empregos.

O contexto social hoje aponta como tendência do capitalismo tardio em

crise, a precarização das relações de trabalho, como perspectiva dialética do

trabalho e a criação do valor tende a ser suprimida, mas não anulada pelo capital. O

desemprego estrutural que atinge grande parcela da força de trabalho instaura o que

Matoso (1989) chama de “desordem do trabalho”, caracterizado pela precarização e

insegurança no mercado de trabalho, no emprego e na representação do trabalho.

Entretanto, Antunes (2002) destaca a necessidade de compreender que

ao contrário de muitos autores contemporâneos que prevêem o fim do proletariado

(Gortz é um deles), o que está em mudança é o perfil da classe que vive do trabalho.

Para o autor, o que se pode verificar no mundo moderno é uma maior inter-relação e

maior interpenetração entre atividades produtivas e não produtivas, ou seja, trabalho

vivo e trabalho morto, entre atividades laborativas e de concepção que estão em

expansão neste contexto de reestruturação produtiva do capital.

Antunes (2000) continua sua análise através da distinção entre o trabalho

concreto e o trabalho abstrato, enfocando que o caráter útil do trabalho, a relação de

intercâmbio homem-natureza efetiva o trabalho concreto, em sua dimensão

qualitativa. Na dimensão abstrata, o trabalho é deixado de lado no caráter útil,

utilizando apenas da força humana produtiva, física ou intelectual em um universo

de sociabilidade produtora de mercadorias. Na sociedade capitalista o trabalho

concreto é subordinado pelo trabalho abstrato. O homem, cada vez mais, tem

encontrado dificuldades de inserção na busca por colocações. Aos trabalhadores

rurais resta o trabalho abstrato procurado nas cidades.

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As divisões do trabalho intensificadas pelas modificações tecnológicas

incentivam o emprego urbano, provocando grandes aglomerações nos meios

urbanos. O capital, juntamente com a modernização tecnológica, auxilia as grandes

empresas e prejudica os pequenos produtores e agricultores. O Estado torna-se

também um aliado dos grandes grupos empresariais intensificando, através de

políticas públicas a modernização agrícola e a urbanização das cidades, mas não

auxiliando na distribuição das terras que, conseqüentemente, aumenta também as

disparidades sociais.

O emprego torna-se cada vez mais seletivo. Escolaridade e formação

profissional são determinantes para o ingresso no mercado de trabalho formal. Os

trabalhadores rurais não possuindo esses requisitos encontram maiores dificuldades

de inserção e permanência no mercado de trabalho:

Além disso, entre o emprego formal e o desemprego também cresce um setor difuso, que já é velho conhecido dos países do Terceiro Mundo e que, nas sociedades marcadas pelo “apartheid" social de uma minoria que toma parte no mercado globalizado, ganhou o rótulo de "economia informal" dos excluídos, os quais vegetam abaixo do nível de miséria. Os camelôs nas calçadas, os garotos que limpam pára-brisas nos cruzamentos, a prostituição infantil ou o sistema semilegal de reaproveitamento de sucata e lixo compõem essa categoria, (KURZ, 1999:18).

O mercado de trabalho formal exclui grande parte dos trabalhadores que,

para sobreviverem, são levados à informalidade, aos biscates, às baixas

remunerações, às péssimas condições de trabalho. Os trabalhadores do campo

ficam assim impedidos de integrarem ao mercado de trabalho formal em função das

imensas disparidades entre os trabalhadores urbanos e rurais. Para o sociólogo

Robert Kurz, os trabalhadores passam a ser “descartáveis e degradados”. O

desemprego passa a ser o principal fator motivação de deslocamento para as

cidades e ao mesmo tempo fator de repulsão nas cidades dos trabalhadores que

saem do meio rural. Os índices de desemprego urbano demonstram que o espaço

urbano não resolve o problema de emprego para as populações rurais, pelo

contrário, dificulta a vida de rurais e urbanos.

O processo migratório que troca o campo pela cidade é também uma

troca de problemas: dos velhos pelos novos. E a melhoria incondicional que todos

esperam, torna-se uma viagem arriscada e repleta de incertezas.

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As oportunidades de trabalho ficam cada vez mais difíceis, necessitando

repensar políticas públicas para os espaços rurais e urbanos, considerando que as

atividades sejam não só agrícolas ou urbanas, mas, fundamentalmente, ocupações

que possibilitem a fixação das pessoas nos seus lugares de origem ou de residência.

E não apenas biscates e trabalho informal (Ver Figura 8).

Arendt (1991) defende a necessidade de pensar melhor o trabalho como

meio de liberdade e transformação, sendo importante entender a esfera pública.

A esfera pública, enquanto mundo comum, reúne-nos na companhia uns dos outros e, contudo evita que colidamos uns com os outros, por assim dizer. O que torna tão difícil suportar a sociedade de massas não é o número de pessoas que ela abrange, ou pelo menos não é este o fator fundamental; antes, é o fato de que o mundo entre elas perdeu a força de mantê-las juntas, de relacioná-las umas às outras e de separá-las , (ARENDT, 1991:62).

A política pública tem sempre um caráter de Estado, ações políticas e

estratégias estabelecidas para fomentar o desenvolvimento de programas, projetos e

atividades que visa o desenvolvimento. O investimento público no setor primário

precisa ser entendido como alocação de recursos não só na agricultura e pecuária,

mas também em atividades que possibilitem a permanência do homem no campo.

Uma política pública que reflita sobre o trabalho, emprego e renda, têm que se

pautar na discussão do rural e do urbano.

As políticas públicas de emprego no Brasil possuem alvo duplo: as

necessidades do mercado de trabalho competitivo e as disparidades sociais da

população. A política pública de emprego define-se através de:

(...) políticas passivas para o mercado de trabalho, ou seja, tomam o nível de desemprego como um dado e procuram minimizar os seus efeitos.(...) políticas ativas, com o objetivo de modificar as condições de oferta e procura., (TEIXEIRA, AZEREDO, 1999:96).

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2.2- Políticas Públicas de Emprego e Renda e as Mud anças no Mercado de Trabalho no Brasil

O desemprego é atualmente um problema de ordem mundial. Os países

industrializados têm enfrentado o desemprego aberto, através de contratos de tempo

parcial para aumentar a flexibilidade do trabalho. Na América Latina, com a

diminuição do trabalho formal, aumentou o emprego informal, o que contribuiu para a

precariedade das relações de trabalho. Os anos 80, de crescimento estagnado

deram lugar à "década de ajuste" dos anos 90.

A década de 90 foi rica em fatos que marcaram sobremaneira o destino

da economia mundial e nova hierarquização dos espaços envolvendo globalização,

formação de blocos econômicos, fragilização do Estado-nação, novos espaços sub-

nacionais, transformação do papel da metrópole, reforço do papel das cidades e

uma gradual reconstituição dos espaços comunitários. Estes anos foram marcados

pelo deslocamento do trabalho de forma:1-setorial; 2- ocupacional e 3-regional.

Para Posthuma (1999), estas três tendências definem o novo momento do

emprego no Brasil onde,

(...) O trabalho está mudando da indústria para o comércio e os serviços. Em segundo, os trabalhadores estão se deslocando de profissões específicas e formalizadas para atividades sem relação com sua ocupação anterior (...) Em terceiro lugar, os trabalhadores estão migrando das regiões

FIGURA 8- Praça Dr. Carlos, no Centro de Montes Claros -MG, local de concentração de trabalhadores ambulantes do mercado informal .

FONTE: Secretaria Municipal de Planejamento da Prefeitura de Montes Claros/Assessoria de Imprensa-(maio de 2002).

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que passam por ajustes estruturais profundos para novos pólos de crescimento“, (POSTHUMA, 1999:16).

Estas novas tendências modificam os conceitos de qualidade de

emprego, emprego atípico, bem como, emprego padrão. A qualidade no emprego

define-se através de um forte impacto na vida do trabalhador. Hoje um emprego de

qualidade caracteriza-se pela renda, benefícios e proteção social, embora tal

ocupação diminua as horas de lazer e convívio familiar.

O emprego padrão definido por Reinecke (1999) é aquele com apenas um

empregador, contrato de trabalho, seguridade social e um único local de trabalho. O

emprego padrão diminuiu drasticamente na década do ajuste aumentando o

emprego atípico. “Emprego atípico, geralmente, implica um nível mais baixo de

proteção legal e de cobertura das conquistas sindicais históricas” (REINECKE,

1999:125).

Analisando os dados da PNAD-Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicilio, no ano de 1995, Reinecke traça um panorama do trabalho no Brasil: 51,1

milhões de pessoas estão ocupadas em empregos não agrícolas; 29,6 milhões são

homens e 21,5 são mulheres; 15% dos trabalhadores sem carteira assinada, deste

número, 22% são autônomos; 44% de trabalhadores assalariados possuem

emprego não agrícola.

Os dados comprovam o deslocamento do emprego do setor primário para

o setor secundário e, principalmente, para o terciário. Confirma ainda o aumento de

empregos sem carteira profissional. Hoje, cada vez mais com as entradas e saídas

do mercado de trabalho, existe o perfil de um trabalhador que está sempre em busca

de trabalho (MARTINS: 2002).

No Brasil, a principal política pública de emprego baseia-se em quatro

programas financiados pelo Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e que são

coordenados pelo CODEFAT-Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo do

Trabalhador, através do Sistema Nacional de Emprego-(SINE)12:

12 O Sistema Nacional de Emprego foi criado em 8 de outubro de 1975, através do Decreto Lei N. º 76.409, ratificado na Constituição Federal de 1988, artigo 22, inciso XVI. A implantação, em Minas Gerais, ocorreu em 1977. De lá para cá muita coisa mudou, com os serviços cada vez mais informatizados e o atendimento ampliado e modernizado. Atualmente há 59 postos no Estado de Minas Gerais. Dentre suas linhas de ação do SINE, destaca-se o Programa de Intermediação de

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• Programa de Seguro Desemprego;

• Programa de Intermediação de Emprego;

• Programa de Qualificação Profissional;

• Programa de Geração de Emprego e Renda.

O Seguro desemprego foi instituído em 1996 e representou o “eixo

organizador de todo o processo de desenvolvimento de políticas ativas e passivas

para o mercado de trabalho”,(TEIXEIRA; AZEREDO, 1999:312). Mesmo com a

criação do programa de intermediação de emprego na década de 70 a política de

emprego continuou a funcionar de forma precária.

O PROGER-Programa de Geração de Emprego e Renda, instituído a

partir de 1994, torna-se um programa nacional com significativo volume de recursos.

Os investimentos são direcionados para o setor de serviços e comércio. O

PLANFOR-Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador é o mais novo dos

programas de política pública de emprego e renda. Em 1996, com a assinatura de

um plano plurianual com os Estados, efetivou-se o PLANFOR para um público de

desempregados, trabalhadores do mercado formal e informal e micro e pequenos

empresários.

A falta de articulação entre os programas tem impedido um melhor

desempenho do SINE, conforme se observa:

Pensar o atendimento ao trabalhador de forma integrada, incorporando o seguro-desemprego, quando for o caso, a intermediação e à qualificação do trabalhador, e também aos programas de geração de emprego e renda, a partir dos governos locais, parece ser o caminho mais indicado para o aumento da eficiência e da eficácia destes programas, (AZEREDO; TEIXEIRA, 1999:314).

Nota-se que o desenvolvimento de políticas públicas no Brasil é marcado

pelas disparidades regionais. A região Sudeste é a maior beneficiária de recursos do

PROGER, comprovando que essa política pública não é executada da mesma forma

em todo o país. Observa-se também uma grande preocupação com o meio urbano,

não havendo os mesmos mecanismos de inserção de programas para o meio rural.

Emprego. O serviço oferece aos trabalhadores desempregados, por meio de colocação, "recolocação" e qualificação, possibilidades no mercado de trabalho.

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O PROGER rural e o PRONAF-Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura familiar são as propostas do governo para o desenvolvimento rural. Os

programas começaram a ser implantados em 1994, com incremento de recursos em

1997 e 1998. O PRONAF utiliza recursos do FAT embora mantenha as

características de outras propostas de políticas públicas do Estado, como

desproporcionada distribuição de recursos entre as regiões.

(...) Mais de 80% dos recursos utilizados são provenientes do FAT. (...) A participação das regiões na distribuição dos contratos coloca o Nordeste em uma posição de nítida inferioridade. Dados comparativos mostram que a região Nordeste obteve apenas 16,5% e 4,3% dos contratos, com 10,1% e 37,5% dos recursos, respectivamente, aos anos de 1997 e 1998. (...) Dados preliminares preparados com base no censo 1985 pelo convênio FAO/INCRA, conforme mencionado anteriormente, mostram que a região Nordeste concentra a maior porcentagem de estabelecimentos familiares do Brasil. (GRAZIANO DA SILVA, 2000:97).

As políticas públicas implantadas no Brasil confirmam a concepção de

Furtado (1981) de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Embora as políticas

busquem o desenvolvimento econômico, que não que dizer desenvolvimento social,

muitas são as áreas de subdesenvolvimento econômico social no Brasil. Para

Furtado (1981) a concepção de desenvolvimento possui três importâncias: a eficácia

do sistema social de produção, a satisfação das necessidades primárias da

população e a aspiração de grupos dominantes de uma sociedade que para isso

utilizam recursos escassos.

(...) a concepção de desenvolvimento de uma sociedade não é alheia a sua estrutura social, e, tampouco as formulações, de umas políticas de desenvolvimento e suas implantações são concebíveis sem preparação ideológica. O aumento da eficácia do sistema de produção-comumente apresentada como indicador principal do desenvolvimento – não é condição suficiente para que sejam mais bem satisfeitas as necessidades elementares da população, (FURTADO, 1981:16 -17).

No Brasil de hoje, o modelo dos grandes fluxos e das grandes distâncias

parece acabado como predominância. Especialistas apontam para a situação de

"migrações de curta distância", predominantemente intra-regionais; podendo ser

sazonais em áreas de modernização agrícola ou intermunicipais em áreas de maior

urbanização. O controle territorial de populações visa progressivamente à

desocupação e não à ocupação de território, produzindo uma população de

trabalhadores errantes. Modelo disso é a região do semi-árido brasileiro que convive

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com desenvolvimento e subdesenvolvimento. A região Nordeste e o Norte de Minas

Gerais fazem parte do semi-árido e pertencem ao Polígono das Secas. Portanto, são

regiões beneficiadas com políticas públicas compensatórias que tentam amenizar as

longas estiagens e o permanente movimento migratório de sua população.

Desenvolvimento e subdesenvolvimento, na região Nordeste e Norte de

Minas Gerais, referem-se também a uma minoria em desenvolvimento e uma

maioria excluída, com índices elevados de subdesenvolvimento social.

Desenvolvimento e subdesenvolvimento, como expressão de estruturas sociais, viriam a ser as resultantes da prevalência de um ou outro desses dois processos.(...) Portanto para compreender as causas da persistência histórica do subdesenvolvimento, faz-se necessário observá-lo como parte que é de um todo em movimento, como expressão da dinâmica do sistema econômico mundial engendrado pelo capitalismo industrial,

(FURTADO,1981:23).

A disparidade entre dois mundos: desenvolvido e subdesenvolvido é a

realidade da região. Se, de um lado, houve um progresso intenso de industrialização

no campo e na cidade, beneficiando alguns, de outra parte, existem grandes

números de migrantes rurais. O alto índice de trabalhadores no mercado informal,

um número ainda crescente de trabalhadores sazonais em épocas de colheitas de

cana e café, o aumento das favelas, mendigos, crianças e famílias na rua, violência

e aumento de criminalidade indicam que o desenvolvimento baseado nas políticas

públicas, não conseguiu ainda extrair o Polígono das Secas da situação de

subdesenvolvimento.

Os incentivos fiscais e financeiros oriundos dos recursos federais

promoveram a expansão do capitalismo na região, determinando profundas

transformações na estrutura industrial, privilegiando o capital intensivo, em

detrimento da abundante mão-de-obra existente e da estrutura produtiva regional.

As propostas públicas sempre objetivaram o combate à seca, embora, sempre foram

políticas de acomodação.

2.3- Políticas de Combate às Secas no Nordeste: Uma breve revisão

O planejamento governamental começou a partir de 1958, devido às

disparidades de desenvolvimento entre as regiões no Brasil. As secas de 1952 e

1958, no Nordeste, levaram à necessidade de criação da SUDENE. Após vários

estudos sobre o Nordeste, o economista Celso Furtado, primeiro superintendente do

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órgão, resolveu apontar uma política de reestruturação agrária, desenvolvimento

industrial e a implantação de infra-estrutura.

Em 1959, surgiu a SUDENE/Superintendência do Desenvolvimento do

Nordeste, englobando o Nordeste do Brasil e o Norte de Minas como área de

Polígono da Secas.13

(...) com a criação da SUDENE, surge um fato novo capaz de promover modificações na estrutura produtiva regional, aos poucos, foram geradas as condições para o desenvolvimento da indústria e para a instalação de grandes projetos agropecuários, através da ampliação significativa da atuação do Estado, (REIS, 1997:38).

A SUDENE, foi parte de uma política pública que visava ações que

possibilitassem o desenvolvimento do Nordeste do Brasil e do Norte de Minas

Gerais. A SUDENE possuía dois objetivos principais: “coordenar a ação do Governo

Federal e administrar os recursos transferidos para a região”,(RODRIGUES,

2000:119).

Para industrializar a região foi criado um sistema de incentivos fiscais,

consolidados no FINOR - Fundo de Investimentos do Nordeste, por outro lado,

visando solucionar os problemas agrícolas da região, foi adotada a estratégia

formulada pelo GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste. Os

pontos centrais desta política de desenvolvimento basearam-se em grandes projetos

agropecuários, industrialização, reflorestamento e projetos de irrigação.

Com o regime militar, a SUDENE e demais órgãos de fomento desviaram

seus objetivos e direcionaram suas ações para a “valorização do grande capital”,

(RODRIGUES, 2000:170).

A Ação da SUDENE determina um surto de crescimento, através da

instalação de Indústrias dinâmicas com as mais variadas ramificações, refletindo

muito mais a transferência de empresas não integradas ao potencial dos recursos

humanos e naturais e à estrutura produtiva da região. É o momento dos programas

localizados, com público alvo de pequenos produtores: os PDRIs-Programa de

13 De acordo com ANDRADE (1988:6) o Polígono da Secas muda a concepção de Nordeste, envolvendo uma maior área da Bacia do São Francisco, englobando o território Nordestino e ampla área do território de Minas Gerais,(Ver FIGURA 9).

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Desenvolvimento Rural Integrado, e tantos outros programas de desenvolvimento

baseados nos recursos do Banco Mundial para a América Latina.

O Programa de Apoio ao Pequeno Produtor- PAPP- viabilizado para a

área da SUDENE e financiado pelo Banco Mundial, é um exemplo destes programas

específicos. O PAPP visava o fortalecimento da pequena produção através do

associativismo e cooperativismo, com o atendimento de demandas locais e política

de emprego e renda nas localidades rurais. Os trabalhadores, através de suas

representações, votavam nos projetos prioritários. Mas, o caráter assistencialista do

programa, foi aos poucos desarticulando os trabalhadores e concentrando o poder

decisório nos técnicos do Estado, responsáveis pela execução e avaliação.

O Norte de Minas Gerais (Ver Figura 9) é considerado também como

RMNE - Região Mineira do Nordeste - e pertence, para fins de planejamento e

alocação de recursos públicos, à região Nordeste do Brasil. As políticas públicas de

desenvolvimento para o Norte Minas não têm demonstrado eficiência, uma vez que

as empresas que se instalam na região, motivadas pela isenção de impostos e

demais facilidades oferecidas pelo poder público, instalam-se nos municípios norte-

mineiros por períodos determinados (enquanto vigoram os incentivos fiscais) e

depois “correm” para outras regiões do país.

Os grandes projetos implementados na região têm sido questionados,

reavaliados e não conseguem atender à população carente da região.

Conseqüentemente a renda continua cada vez mais concentrada.

A caracterização da região norte mineira como área de transição, ou seja,

geograficamente localizada no Sudeste, mas com características da região

Nordeste, demonstra que “(...) a paisagem do Norte de Minas é muito mais próxima

dos hábitos do nordestino do que dos próprios mineiros (...)”, (GERSAISE apud

OLIVEIRA, 2000:176). O Sertão das Gerais representa a porção pobre do Sudeste,

embora com todos os incentivos públicos do Nordeste, para a maioria da população

sertaneja ainda não são visíveis a melhoria da qualidade de vida. Muitos são os

retirantes norte-mineiros que seguem migrando por rotas já conhecidas, para

canaviais de cana de açúcar ou percorrendo as cidades de porte médio da região

onde se concentram os pólos industriais, hoje incentivados pela ADENE/Agência de

desenvolvimento do Nordeste, em substituição à SUDENE.

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A transformação da Sudene em Agência de Desenvolvimento do

Nordeste, envolta em escândalos de corrupção e favorecimento de empresas de

velhos coronéis da região, não traz boa nova para a maioria da população sertaneja.

Como em um túnel do tempo, continua-se a observar os deslocamentos de

trabalhadores do campo e suas famílias rumo ao município mais urbanizado de sua

região ou, então, para o Sudeste do Brasil. Mudam-se as relações de trabalho, na

medida que cada vez mais diminuem as ocupações com carteira profissional e

aumenta a informalidade.

De acordo com Martins (2002), continua-se a ver, no Brasil, a escravidão

de seres humanos em fazendas, em casas de família, em regime de semi-

FIGURA 09- Mapa da Região do Polígono das Secas, se gundo: susceptibilidade às Secas - Br asil / ano de 2002. FONTE: Adaptação. Mapa Disponível em<www.desert.org.br>Acesso em 02/08/2002

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escravidão, trabalhando apenas para sobreviver: por comida, teto e despesas de

saúde. A maioria dos migrantes rurais não encontra vagas, de acordo com suas

habilidades. Então, buscam vagas desqualificadas, com baixa remuneração e sem

nenhuma regulamentação. Nota-se que a não qualificação dos trabalhadores rurais,

juntamente com pouca escolaridade, faz com que pareça ser “culpa” dos mesmos a

não colocação no mercado de trabalho urbano.

A precarização das relações de trabalho começa já na saída do homem

do campo, através da substituição dos trabalhadores por máquinas e continua com a

impossibilidade de acesso à terra para a agricultura familiar, através de

financiamentos com juros exorbitantes e, conseqüentemente, o abandono dos

oriundos do campo nas cidades, com a exclusão para as periferias e para o mercado

informal de trabalho. No contexto urbano, a impossibilidade de sobrevivência mesmo

nas periferias torna-se para muitos migrantes em incentivo para continuar na busca

de um lugar e também na aceitação de "qualquer trabalho" que possa garantir a

sobrevivência.

O tema do trabalho, especificamente do emprego, em suas múltiplas

dimensões, se inscreve, hoje, mais do que nunca, como questão vital para os

trabalhadores, suas famílias, sociedade civil e Estado. O trabalho, emprego e

ocupação deveriam ser questões centrais do planejamento público e da política

sócio-econômica.

O Estado continuou com políticas públicas baseadas nas velhas formas

de dominação. Na região do Norte de Minas continuam as políticas públicas de

dominação e paternalismo, que pouco modificam as estruturas sociais básicas. As

políticas públicas estão voltadas para um problema que se apresenta sem solução:

“as secas”. Como estratégia de sobrevivência os trabalhadores procuram o mercado

informal, o comércio ambulante, (Ver FIGURA 10).

O mercado ambulante cresce demasiadamente em todo o Brasil. Em

Montes Claros, são os migrantes rurais os principais trabalhadores desse setor. Na

sua maioria trabalham para terceiros, os médios e grandes empresários do comércio

local e regional; que colocam suas mercadorias em bancas para serem vendidas em

praças públicas.

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O trabalho exercido nas vias públicas coloca os camelôs em situação

diferente dos trabalhadores formais pois não aparecem nas estatísticas sobre

desemprego. "Os bicos" garantem a sobrevivência, mas são questionados não só

pelo poder público, em função da sonegação de impostos, mas também pela

população que vive "exprimida" nas ruas por estes mesmos trabalhadores.

O trabalho exercido nas vias públicas proporciona a visibilidade de

aspectos fundamentais do trabalho informal. A rua é local de quem não tem seus

direitos garantidos sob a proteção das leis trabalhistas ou dos sindicatos e que,

portanto, tem sua cidadania comprometida.14

O que a sociedade capitalista propõe hoje aos chamados excluídos está nas formas crescentemente perversas de inclusão, na degradação da pessoa e na desvalorização do trabalho como meio de inserção digna na sociedade, (MARTINS, 2002:124).

Para Martins(2002), os trabalhadores aceitam esta condição de

submissão pelo profundo estreitamento das oportunidades de vida que levam. A

cumplicidades dos trabalhadores com a questão da informalidade se dá na falta de

expectativa de melhores colocações no mercado de trabalho e na necessidade de

sobrevivência que leva a exploração e degradação dos mesmos.

A produção em larga escala, a organização de grandes massas de trabalho e complicados mecanismo para colossais rendimentos, acentuou, aparentemente, e exacerbou, a separação das classes produtoras, tornando inevitável um sentimento de irresponsabilidade, da parte dos que dirigem, pelas vidas dos trabalhadores manuais.(...) No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o desenvolvimento da urbanização-que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influência das cidades - ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje,

(HOLLANDA,1987:102).

As raízes no Brasil deixam suas marcas na diferenciação entre os

trabalhadores rurais e urbanos e as oportunidades de trabalho. As cidades atraem

grande número de trabalhadores, mas não conseguem inseri-los no mercado de

trabalho. O desequilíbrio social causa efeitos perversos nas populações rurais e

urbanas e o Estado não consegue gerenciar e nem possibilitar políticas públicas que

diminuam estas disparidades.

14 A etimologia da palavra cidadania está associada há uma separação entre o homem urbano e o homem rural, uma vez que a palavra vem substitui o termo burguês. Para Norberto Bobbio "o direito do cidadão é a conversão universal, em direito positivo, dos direitos humanos”,(1995:17).

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O trabalho exercido nas vias públicas proporciona ua é local de quem não

FIGURA 10- Ambulantes - “Camelôs” na Praça Dr. Carlos, Centro de Montes Claros (MG ).

FONTE: Secretaria Municipal de Planejamento-Prefeitura Municipal de Montes Claros, (maio de 2002).

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CAPÍTULO 3

GRANDE SERTÃO: A REGIÃO MINEIRA DO NORDESTE

Senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por campos-gerais o fora (...) sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso...(...) Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães é questão de opiniães.(sic). O sertão está em toda à parte. João Guimarães Rosa15.

Guimarães Rosa, no livro Grande Sertão: Veredas propicia o

entendimento da identidade sertaneja, descrevendo o povo do sertão como forte e

guerreiro. O personagem Riobaldo diz que lugar de ficar é a grota onde está a roça e

que lugar de passagem do homem e do demo é a chapada. O sertão norte mineiro

transforma-se a partir das novas relações campo-cidade que faz com que a chapada

seja o lugar de ir e o lugar de ficar, a cidade. O grande sertão passa então por

profundas transformações. O sertanejo deixa a roça e vai para a cidade. Para

Santos (1994), tem sido o modelo econômico exportador ao incrementar culturas

agrícolas modernas e o conseqüente crescimento de aglomerações urbanas

correspondentes que introduz uma nova forma de regulação ao território.

15 GUIMARAES ROSA, João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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3.1- A Ocupação e Desenvolvimento do Território do Sertão Norte-Mineiro

O início do processo de desenvolvimento e povoamento do território norte

mineiro foi baseado em dois importantes fatos: a expansão da pecuária bovina

extensiva e a disponibilidade de terras livres. A vegetação original favorecia a

pecuária que fornecia o gado para as atividades da zona açucareira, a criação

bovina era criada em campo aberto, fora das plantações de cana de açúcar.

A formação do povo no Norte de Minas foi através dos indígenas, estes

em maioria, dos europeus, predominantemente portugueses, e dos africanos,

baseados na mão-de-obra escrava. Os fazendeiros eram os detentores do poder,

das riquezas e de grandes extensões de terra.

As bandeiras paulistas e baianas nos séculos XVI e XVII começaram a

desbravar a região em busca de riquezas e de posses das terras. Já no século XVIII,

originou-se um período de isolamento da região norte-mineira, com a dominação da

mineração em detrimento do ciclo da cana de açúcar. A atividade mineradora foi

importante para o Norte de Minas como região de fornecimento de produtos

agropecuários para as minas, mas com os contrabandos de ouro e a sonegação de

impostos, houve um período de restrição ao comércio da região.

Com a cultura algodoeira, no século XVIII, a região foi responsável por

uma parcela importante da produção para exportação. O algodão trouxe incremento

das atividades têxteis em alguns municípios. Mas, foi o advento da ferrovia, no início

do século XX, que permitiu uma grande difusão econômica, principalmente para as

cidades localizadas às margens do Rio São Francisco. A ferrovia proporcionou a

interação com o restante do país, auxiliando também no povoamento de áreas ainda

não ocupadas.

Em 1918 a ferrovia chegou à cidade de Pirapora e em 1926 à cidade de

Montes Claros. Estes dois municípios tornaram-se então os mais importantes da

região. A ferrovia beneficiava também a pecuária da região e auxiliava o escoamento

da produção.

No final dos anos 50, começou a intervenção efetiva do Estado, através

do investimento no problema da seca. As regiões Nordeste do Brasil e Norte de

Minas Gerais, já conhecidas como subdesenvolvidas, foram beneficiadas com

estratégias governamentais de combate a longos períodos de estiagens.

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Em 1960 começou o grande incentivo governamental na região norte-

mineira. Até então, a região era apenas fornecedora de mão-de-obra e capital. Com

a criação da SUDENE e o desenvolvimento de planos diretores começou uma

expansão capitalista impulsionada pelo Estado. A política federal de

desenvolvimento da SUDENE era baseada em quatro pontos: 1)Colonizações das

terras despovoadas existentes no Maranhão e no Oeste da Bahia; 2)

Aproveitamento das bacias dos açudes e irrigação nos Vale dos rios São Francisco

e Paraíba; 3) Aproveitamento dos tabuleiros costeiros do Nordeste; 4)

Reorganização fundiária do Semi-árido e da Zona da Mata.

O Norte de Minas, para efeito de planejamento16, abrange três regiões:

1-Bacia do São Francisco, que envolve sete unidades da federação (alguns

municípios do Norte de Minas);

2-Vale do São Francisco, que abrange parte da região Nordeste, parte do Polígono

das Secas e parte da região Sudeste;

3- Semi-árido Brasileiro, que compreende o Polígono das Secas.

O discurso estatal baseava-se na possibilidade de integração da região

com a economia nacional. O desenvolvimento almejado fez com que o Estado

facilitasse o ingresso de capitais nacionais e internacionais. Os pequenos

agricultores e produtores rurais eram os principais beneficiados dos Programas

Especiais.

Alguns órgãos como CODEVASF e SUDENE impulsionaram políticas que

viabilizavam incentivos fiscais e financeiros para o fomento da atividade econômica,

principalmente dos setores agroindustrial de reflorestamento e irrigação.

A política estatal reduziu a população rural, diminuindo as atividades do

setor primário, incrementando as atividades dos setores secundário e terciário. A

intervenção do Estado provocou a modernização tecnológica na agricultura e na

indústria e também aumento de serviços públicos, embora continuou concentrando

16 O Estado de Minas Gerais é dividido para o planejamento estadual em dez regiões, de acordo com a Fundação João Pinheiro. São elas: I-Região central; II-Região da Mata; III-Sul de Minas; IV-Triângulo; V-Alto Paranaíba VI--Centro-Oeste de Minas; VII-Noroeste de Minas; VIII-Norte de Minas ; IX-Jequitinhonha/ Mucuri e X-Rio Doce.

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as terras, expulsando do campo pequenos produtores, trabalhadores rurais e

camponeses.

Os governos, municipais, estaduais e federal foram parceiros nos

incentivos de produção e reprodução do capital no Norte de Minas, expandindo as

empresas rurais e urbanas e explorando a força de trabalho humano.

Na década de 70 o governo mineiro concedeu muitas áreas de

propriedade estatal para empresas reflorestadoras, o que contribuiu para o êxodo

rural. O número de proprietários de terras no Norte de Minas foi maior em relação a

outras regiões do Estado, o que não aconteceu em relação à ocupação. "Verifica-se,

portanto, uma distribuição assimétrica entre o número de estabelecimentos e a área

correspondente, o que demonstra uma forte concentração de terras”, (RODRIGUES,

2001:14).

O processo de concentração de terras refletiu no crescimento da principal

atividade agropecuária da região: a pecuária bovina de corte juntamente com as

atividades reflorestadoras. Paralelamente ao reflorestamento surgiu a modernização

da agropecuária regional, dos projetos aprovados pela SUDENE, que contemplou

grandes unidades produtivas, o que contribuiu para a concentração da posse de

terras.

A modernização proposta pelo Estado, que levaria ao desenvolvimento da

região Norte Mineira, diminuiu a oferta de trabalho rural, aumentando os empregos

temporários. A região passou a ser palco de conflitos constantes por posses de

terras. As terras eram disputadas pelos trabalhadores e também pelos grileiros que

possuíam muitas vezes apoio do Estado.

Cada vez mais os minifúndios, propriedades de pequeno porte que

utilizam mão-de-obra familiar, não conseguiam conviver com os grandes

latifundiários, responsáveis pelos grandes projetos de reflorestamento, irrigação,

agroindústria e pecuária do território Norte Mineiro.

A concentração de terra liberou grande parcela da força de trabalho. No

ano de 1996, as terras eram ocupadas por grandes proprietários.

No Norte de Minas, 83,87% dos estabelecimentos no estrato até 100 hectares, ocupavam 16,26% da área. No estrato de 5.000 hectares ou mais, tinha-se 0,23%, dos estabelecimentos ocupando 26,36% da área total. Portanto os dados mostram uma quantidade relativamente maior de minifúndios na região e concentração maior da área nos estabelecimentos

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de grande porte. No estado de Minas Gerais, a concentração de área ocorre nos estabelecimentos de médio porte,

(RODRIGUES,2001:50).

A forma de organização produtiva da região explica a subordinação dos

trabalhadores ao capital em condições precárias de vida. A intervenção

governamental na região através da SUDENE, embora, com o objetivo de superar o

desequilibro sócio-econômico, beneficiou os grandes proprietários em detrimento

dos trabalhadores rurais. A estrutura fundiária agravou a situação de opressão e

“escravidão” dos trabalhadores do campo.

3.2-Organização Produtiva da Região Mineira do Nord este:

Como se demonstrou, a estrutura fundiária concentrada e o fluxo

migratório rural regional possuem vínculos históricos. No período de 1970 a 1980

houve um decréscimo de 0,96% na população rural da região e, no período de 1980

à 1990, um decréscimo de 0,32% de acordo com dados do INDI- Instituto de

Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais. A população urbana começa a crescer

na década de 1970 com a incrementação da industrialização e modernização

agrícola.

Nos períodos correspondentes às décadas de 50 a 70 predominava a

pecuária no Norte de Minas como a maior fonte econômica produtiva. De acordo

com Stralen apud Cardoso (2001), as áreas regionais ocupadas com pastagens, na

região, eram de 52,69%, enquanto que as lavouras correspondiam a 4,56%, sendo

que restante das áreas (42,75 %) era ocupada por matas e florestas.

A pecuária trouxe ao mesmo tempo riqueza, prosperidade, problemas

ambientais e desigualdades sociais e econômicas. Poderosos grupos econômicos

faziam a exploração da atividade, conseqüentemente deixando sem terra e sem

trabalho grande número de posseiros, meeiros e arrendatários.

A SUDENE, na década de 60, incentivou a pecuária com recursos

públicos, principalmente entre os anos de 1966 e 1968, através de políticas de

crédito e financiamentos. As invernadas contribuíram para que a pecuária

mantivesse características tradicionais, como a prática extensiva e ausência de

especialização produtiva.

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A partir da década de 70 e até meados de 1990, a pecuária continuou

representando uma das principais atividades da região, embora mesmo com novas

tecnologias, como melhorias genéticas e novas pastagens, a bovinocultura ganhou

mais espaço que a pecuária de corte.

Em estudo da Fundação João Pinheiro, em 1990, o Norte de Minas

continuou sendo caracterizado como “espaço econômico apoiado na pecuária de

corte extensiva e por uma cultura calçada em produtos alimentares básicos”,(FJP,

1990:53).

O carvão vegetal foi explorado em áreas de expansão da fronteira

agrícola e intensificou-se no decorrer da década de 70, principalmente em função do

parque siderúrgico mineiro e também da pecuária bovina. As matas nativas do Norte

de Minas, já em 1970, passam a ser exploradas para a produção de lenha e carvão,

incentivada pela quantidade de terras disponíveis aliado aos incentivos

governamentais.

O reflorestamento/eucalipto provocou a desarticulação e

desmembramento de pequenas unidades produtivas, uma vez que eram os grandes

empresários urbanos e rurais responsáveis pela atividade, que também representou

a penetração de grandes empresas em áreas devolutas.

Além dos problemas ambientais causados pelo desmatamento e

reflorestamento, “a degradação ambiental no período de 1985-1989 chegava à cerca

de 990.000 hectares”,(OLIVEIRA,2000:33). As carvoarias também trouxeram

grandes problemas sociais para o Norte de Minas, como o trabalho infantil e as

péssimas condições de trabalho que famílias inteiras encontravam nos fornos de

carvão17.

Em relação ao setor industrial, é a partir da década de 60 que se tem o

grande impulso no Norte de Minas através da criação da SUDENE, com planos

diretores que previam criar infra-estrutura econômica, investir no setor de transporte,

aumentar a oferta de energia, água e saneamento e disponibilizar um grande

número de empresas para alguns municípios da região. Foi em 1970, implantada em

17 Ver Figura 5, com improvisação de moradia de trabalhadores de carvoarias no Norte de Minas Gerais, a fotografia encontra-se no capítulo 1, como forma de retratar as Vidas Secas no contexto geral no Brasil.

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Montes Claros a primeira unidade financiada pela SUDENE: o FRIGONORTE -

Frigorífico Norte de Minas.

Nos anos 80, o setor secundário passa a ter mais importância econômica

regional que o setor primário. Os municípios que possuíam os maiores pólos

industriais foram Montes Claros, Pirapora, Várzea da Palma e Bocaiúva. Sendo que

todos os empreendimentos sempre contaram com os incentivos da SUDENE,

através do Fundo de Investimento do Nordeste-FINOR.

A industrialização proporcionou o processo de urbanização. Os migrantes

buscam, além do Sul do país, também os municípios com mais indústrias na região,

sempre em busca de emprego. Essa mobilidade espacial desorganiza os municípios

que não dispõem de infra-estrutura para receber novos habitantes.

Conseqüentemente, houve a concentração em alguns municípios dos setores de

melhor qualidade de serviços. Neste período, as microrregiões que apresentaram

maiores taxas de crescimento populacional foram as de Pirapora (73%) e Montes

Claros (43%), onde localizavam os dois únicos distritos industriais da “Área Mineira

de Atuação da SUDENE”. Montes Claros passa a ser o centro de serviços de saúde,

educação e concentração de órgãos públicos estaduais e federais, para a região

norte-mineira e para o sul da Bahia.

O IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, criado pela UNESCO, desde

1990, é considerado como fator de referência para apontar a qualidade de vida dos

países. O Estado de Minas Gerais é considerado como faixa média de

desenvolvimento, embora o Norte de Minas apresenta-se como de baixo

desenvolvimento.18

O IDH para a região indica, ainda, índices que confirmam a permanência

da região entre as mais pobres do país, conforme mostra a FIGURA 11. Afirma a

Fundação João Pinheiro que: “As piores condições de vida do Estado concentram-

se nos municípios das regiões Norte e Nordeste de Minas Gerais e são similares

àqueles prevalecentes no Nordeste brasileiro”, (FJP, 1996:22-23).

Os projetos localizados e direcionados pelo Estado em parcerias com

organismos internacionais de capitais não modificam estruturas sociais tradicionais.

18 Consultar REIS. Geraldo, In: SANTOS, Gilmar. Trabalho, Cultura e Sociedade Norte /Nordeste de Minas. Montes Claros: BEST, 1997:57.

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Considerando Celso Furtado (1981), é necessário entender as causas, para se atuar

no local, percebendo todas as dimensões globais dos fenômenos sociais. Porém

alguns aspectos de desenvolvimento regional devem ser ressaltados, como o

avanço significativo que o Norte de Minas experimentou com relação à expectativa

de vida.

Entre 1960-1970 o habitante na região vivia, em média, apenas 56,2

anos, e na década seguinte, 63,7 anos; esperança de vida superior à média do

Nordeste (59,1 anos).

O avanço na educação também foi bastante significativo, segundo

OLIVEIRA19 (2000:81), o índice de analfabetismo em 1980 era de 45,27%,

semelhante ao do Nordeste e, na cidade de Montes Claros, a taxa era, na mesma

época, de 22,17%.

Estudo da Fundação João Pinheiro, instituição do Governo do Estado

de Minas Gerais, demonstram que o Norte de Minas continua a ser uma região com

disparidades em relação as outras regiões do Estado, embora, haja significativas

melhoras de indicadores sociais a partir de 1970 e em 1991. Nesse período, diminui

a mortalidade infantil e, conseqüentemente, cresce a esperança de vida.

Entre 1970 e 1991, observa-se que a taxa de crescimento da população

urbana aumentou em ritmo bem mais rápido à rural, (Gráfico 2). Em 1970, o

contingente urbano abrangia 27,6% da população total; em 1991, alcançou 54,7%,

evidenciando o rápido processo de urbanização da região, porém inferior à taxa de

urbanização do Nordeste (60,65%).

Tais condições, demonstradas por instituições do próprio Estado,

reforçam a mobilidade espacial e, para muitos, as expectativas das políticas públicas

só podem ser vislumbradas em alguns espaços urbanos na busca de inserção sócio-

econômica. O IDH (Figura11) dos municípios reforça as diferenças nos índices de

qualidade de vida das populações.

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Figura 11- Mapa do IDH do Estado de Minas Gerais (M G) Municípios da ADENE/RMNE.

Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento- Montes Claros- MG - Dezembro de 2002

Grande parte dos lavradores migrou para as cidades à procura de uma

oportunidade de trabalho, engrossando as massas marginalizadas que vivem em

condições sub-humanas nas favelas, alagados, em loteamentos clandestinos,

cortiços e nas senzalas modernas dos canteiros de obras da construção civil.

No caso brasileiro, computando unicamente os números relatados pelos trabalhadores que fugiram das fazendas em que havia ou há trabalho escravo, e que sobrevivem no caso da fuga, contei oitenta mil trabalhadores cativos. Compra-se e vende-se trabalhador. Trabalhadores são surrados, amarrados, castigados e até assassinados porque tentam fugir ou porque não produzem o tanto que supostamente deveriam produzir, (MARTINS, 2002:125).

19 Consultar OLIVEIRA (org).Formação Social e Econômica do Norte de Minas. Montes Claros: Unimontes, 2000.

ESCALA 1:10.000.000

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O desenraizamento do povo gera insegurança pelo rompimento dos

vínculos sociais e perda dos pontos de referência culturais, sociais e religiosos,

levando à dispersão e a perda de dignidade e identidade.

O migrante perde a paisagem natal, a roça, as águas, as matas, a caça, a lenha, os animais, a casa, os vizinhos, as festas, a sua maneira de vestir, o entoado nativo de falar, de viver, de louvar a seu deus. Suas múltiplas raízes se partem. Na cidade, a sua fala é chamada “código restrito” pelos lingüistas; seu jeito de viver, “carência cultural”; sua religião, crendice ou folclore. Seria mais justo pensar a cultura de um povo migrante em termos de desenraizamento. Não buscar o que se perdeu: as raízes já foram arrancadas, mas procurar o que pode renascer nesta terra de erosão,

(BOSI, 2002:24).

É a busca de novos locais de destinos. Novos pólos de atração surgem

localizados tanto em novas cidades da fronteira agrícola, quanto pela redefinição

econômica e ampliação da prestação de serviços em cidades de porte médio do

interior dos Estados brasileiros. Estes núcleos urbanos surgem compondo um novo

cenário de oportunidades e melhor qualidade de vida que antes se restringiam, no

senso comum, às metrópoles e às principais capitais dos Estados mais

industrializados.

As migrações sazonais ocorrem na região, buscando trabalho e as

migrações intra-regionais buscando oportunidade da industrialização nos municípios

pólos, financiados pelos programas de incentivos fiscais do Estado, em especial,

Montes Claros. Os trabalhadores expulsos e explorados do sertão migram para a

cidade, caminhantes incessantes e permanentemente à procura da ”integração com

o mercado de trabalho”.

A família da figura 12 retrata a migração sazonal que continua a ocorrer

na região, estão partindo (mais uma vez) do meio rural de Montes Claros para o

interior de São Paulo, para trabalharem temporariamente, vão se submeter à mais

de 10 horas de trabalho diariamente, inclusive as crianças.

Vira Usinas comer.As terras que iam encontrando; Com grandes canaviais.Todas as várzeas ocupando O canavial é a boca.Com que primeiro vão devorando Matas e capoeiras.Pastos e cerrados; Com que devoram a terra.Onde um homem plantou seu roçado, Depois os poucos metros.Onde ele plantou sua casa; Depois o pouco espaço de que precisa um homem sentado; Depois os sete palmos onde ele vai ser enterrado(...)

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para trás vai ficando a triste povoação daquela usina. (...) de gente que, cada ano, o tempo da safra é que vive, que na braça da vida tem marcado curto limite(...)

Poema o Rio de João Cabral de Mello Neto.

FIGURA 12- Migrantes rurais do Norte de Minas que estão de partida mais uma vez para outra região em busca de trabalho tempo rário. FONTE: Jornal Estado de Minas/Caderno Gerais de junho de 2001.

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3.3- A casa e a rua: os norte-mineiros na busca d e trabalho

(...) de fato, a categoria rua indica basicamente o mundo, com seus imprevistos, acidentes e paixões, ao passo que casa remete a um universo controlado, onde as coisas estão nos seus devidos lugares.(...) Mas a rua implica uma certa falta de controle e um afastamento. É o local do castigo, da “luta” e do trabalho. Numa palavra, a rua é o local daquilo que os brasileiros chamam de dura realidade da vida. Roberto da Matta20

No livro a Casa e a Rua, Roberto da Matta faz uma reflexão sobre o que é

permanente e o temporário para as pessoas. Os permanentes são os laços da

família, o lugar de origem, as relações familiares e o temporário é à busca da

sobrevivência, o trabalho temporário que possibilita a volta para o permanente. As

migrações ocorrem sempre em função dos trabalhadores que vão procurar

sobrevivência dos que ficam. As típicas migrações do Norte de Minas Gerais, as

migrações sazonais, já são consideradas pelos trabalhadores como "caminho da

roça " de tantas idas e vindas.

3.3.1- O Caminho da Roça: o lugar, a ação social e a reprodução das relações sociais de produção

É no local que as relações sociais capitalistas se manifestam, reproduzem

ou se transformam. O lugar apresenta a dimensão central da vida social. O lugar de

vida e de trabalho, esta é a busca constante dos migrantes. Todos partem e chegam

à procura de um lugar onde se possa encontrar condições dignas de vida.

O lugar da roça, do campo, torna-se cada vez mais difícil de fixar moradia,

pois a concentração da terra inviabiliza a permanência das famílias camponesas,

restando então, a possibilidade do lugar urbano, a cidade.

20 Conferir em DA MATTA, Roberto. A Casa e A Rua. Rio de Janeiro; Guanabara/Koogan, 1991.

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A cidade grande é onde se instala a técnica, a modernidade, mas é o

“espaço onde os fracos podem subsistir” (SANTOS, 1999:58). No lugar está o global

e o local, o particular e o geral. É onde as ações sociais racionais apresentam-se e

os sujeitos produzem os fenômenos sociais no espaço. De acordo com Weber, todo

fenômeno social refere-se às ações que os constituem: "A ação social (incluindo

tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, que podem ser passadas,

presentes ou esperadas como futuras" (WEBER,1999:139).

São as ações sociais de vários sujeitos que irão proporcionar as relações

sociais: “Por relação social deve-se entender uma conduta de vários -referida

reciprocamente conforme seu conteúdo significativo, orientando-se por essa

reciprocidade”, (WEBER,1999:42). Os conteúdos significativos das relações sociais

balizam a reprodução das relações. Assim, as relações sociais tornam-se a

produção e a re-produção das relações de mercado:

(...) uma relação, ao mesmo tempo, aparentemente igual entre pessoas iguais, mas que produz resultados econômicos profundamente desiguais entre si, que são o salário e o lucro (o valor a mais criado pelo trabalhador e que não fica com ele, a chamada mais valia) personificado por pessoas, de fato, desiguais, que são o trabalhador e o capitalista, (MARTINS,1995:155).

As relações capitalistas geram as desigualdades sociais, perpetuando a

antiga relação de dominados e dominantes, expressa também na segregação do

espaço. Percebendo o espaço, de acordo com Lefébvre:

(...) do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um objeto ou uma soma de objetos...não se pode dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais importante de todos os instrumentos, o pressuposto de toda a produção de todo o intercâmbio. Estaria essencialmente vinculado com a reprodução das relações (sociais) de produção. (LEFEBVRE apud CORREA, 1995:25)

O espaço é um campo social, com grandes distorções entre os estratos

sociais e onde priorização das relações de produção, valorizam os mecanismos de

poder que sustentam uma minoria em condições de extremo bem-estar.

É a reprodução das relações desiguais sociais:

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(...) não pode haver re-produção das relações sociais nem por simples inércia, nem por recondução tácita. Esta re-produção não se dá sem modificações que excluem tanto o processo automaticamente reprodutivo no interior do modo de produção constituído (sistema) como a eficácia imediata de um “núcleo gerador”. As contradições também se re-produzem, não sem modificações. Antigas relações há que degeneram ou se dissolvem (por exemplo: a cidade, o natural e a natureza, a nação, a miséria quotidiana, a família, a cultura, a mercadoria e o “mundo dos signos”). Outras há que se constituem de maneira que há produção de relações sociais no seio da re-produção (por exemplo: o urbano, as possibilidades do quotidiano, o diferencial). Estas novas relações emergem no seio das que se dissolvem (...) É a marcha especifica das contradições ampliadas.Ampliadas - a quê? Ao espaço. Ao mundo: ao mundial. (LEFÉBVRE, 1999:252).

O espaço torna-se então capitalista; as contradições da re-produção das

relações sociais causam modificações na paisagem local e global; as modificações

no espaço em função dos sujeitos sociais irão determinar a manutenção ou a

transformação do espaço social. Portanto, são os sujeitos sociais que irão

implementar a realidade social.

O sujeito é o desejo do indivíduo de ser ator. A subjetivação é o desejo de individualização, e esse processo pode desenvolver-se apenas se existir uma interface suficiente entre o mundo da instrumentalidade e o da identidade (...) se produz uma dupla exclusão, em relação ao meio de partida que se afasta e ao meio de chegada que se recusa a integrar o recém-chegado, (TOURAINE, 2000:86).

A sociedade moderna capitalista vive um grande paradoxo: a criatividade

humana, as novas tecnologias e o fenomenal progresso científico convivem com a

inegável incompetência em combater a pobreza extrema. Para Cristóvam Buarque,

“Cada um dos seis bilhões de seres humanos é um ponto na geografia da

ignorância. Inteligência não falta, mas falta decência no uso dela”,(2001:3).

O mundo da técnica não consegue racionalizar o bem-estar material para

a maioria, promessa premente do modo de produção capitalista. O sujeito, através

de sua ação social racional, manifesta no lugar, modifica o espaço e transforma as

relações sociais em relações sociais de produção. Nesta paisagem de mercado,

imperam os competentes e os não competentes. Os sujeitos oriundos do campo são

considerados incompetentes e ficam fora do mercado de produção.

Um verdadeiro “apartheid social”, onde as contradições da re-produção

das relações sociais ficam cada vez mais evidentes: de um lado a tentativa de fixar a

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população excedente no meio rural, dando condições de acesso a terra, para que se

possa garantir a sobrevivência do homem do campo, do outro lado tentar no meio

urbano a “integração da marginalidade”, daqueles que vivem à margem do processo

social capitalista. De acordo com o pensamento de Lefébvre: ”há produção de

relações sociais no seio da re-produção”, (ibidem,1999).

O espaço vivido das relações sociais de produção e reprodução do capital

imobiliza grande parte da população, fazendo com que a mobilidade espacial e

ocupacional sejam sempre transitórias. Neste contexto turbulento, inconstante e de

“falsa aparência” da culpa dos próprios trabalhadores, por não terem acompanhado

a modernização tecnológica no campo e não possuírem qualificação profissional

necessária na cidade, emerge a necessidade de uma revisão das políticas públicas

de desenvolvimento do meio rural, bem como de políticas públicas de emprego e

renda, principalmente nas regiões consideradas como exportadoras de força de

trabalho, hoje, trabalhadores completamente descartáveis.

O Polígono das Secas (ocorrência de secas periódicas), que faz parte do

semi-árido brasileiro (que representa 18% do território nacional), possui uma área

estimada em 1.083.709,7 Km².21 Engloba a região Nordeste do Brasil e o Norte e

Nordeste de Minas Gerais (Ver Figura 9). É lugar onde a migração rural-urbana tem

destaque em todo o país. É lugar do grande sertão, lugar de conflitos de terras, lugar

da indústria da seca. É também o lugar das políticas públicas desenvolvimentistas

que objetivaram a transformação da região e não transformaram a qualidade da vida

da população sertaneja.

Os sertanejos são pessoas que ocuparam o território nordestino e o

Polígono das Secas, sendo que a forma de estruturação de seu modo de vida,

através da criação do gado, a sobrevivência em ambientes naturais difíceis e a

vivência social intensa entre os grupos sociais locais caracterizam um povo

guerreiro, forte, religioso e perseverante.

O Polígono das Secas é o lugar deste povo sertanejo, onde a cultura

sertaneja é composta de lendas, tradições, saberes regionais, características rurais

e permanentes movimentos migratórios em busca de trabalho. É uma região do país

onde persistem baixos índices de qualidade de vida para a maioria da população e,

21 Conferir no site www.desert.org.br, acesso em 2/02/2002.

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ao mesmo tempo, é o lugar de grandes proprietários de terra, de famílias oligarcas

que dominam os meios de comunicação e que fazem da política uma forma de

apadrinhamento e assistencialismo.

O povo sertanejo norte-mineiro, como o nordestino, é sofrido, guerreiro e

participante dos deslocamentos populacionais em direção ao Sul. É um povo que

resiste bravamente em abandonar suas raízes culturais independentemente de onde

estejam, mas que não conseguem melhores oportunidades de trabalho.

A cultura aqui denominada sertaneja será o resultado do caldeamento de modo de comportamento, relações, saberes e fazeres de etnias diferenciadas que se colocaram em contato no território norte-mineiro bem como as transformações verificadas, com o passar do tempo, em função das articulações das populações existentes com homens de outras regiões,

(COSTA, 1997:82).

Portanto, importante entender no processo migratório campo-cidade “o

não discutido” e formular o “não formulado”. A Pós-modernidade no capitalismo

levou milhares de pessoas em busca do meio urbano, que percorre a destruição que

também pode levar à construção. A realidade é um processo dinâmico e dialético.

Segundo Harvey (1992:307) “O capital é um processo, e não uma coisa. É

processo de reprodução da vida social por meio da produção de mercadorias em

que todas as pessoas do mundo capitalista avançado estão profundamente

implicadas”. No conceito de pós-modernidade é necessário entender o capital como

um processo não só de produção de bens, mas também de reprodução de

desigualdades. É necessário conhecer a lógica regional, perpassando pela cultura

regional (Ver FIGURA 13) para possibilitar o entender da dinâmica populacional,

agora, intra-regional.

Exemplo da cultura regional são as festas de Agosto (FIGURA 13), que

fazem parte do calendário turístico da cidade de Montes Claros. Em agosto, o mês

do folclore,pelas ruas de Montes Claros, os catopês, marujos e caboclinhos,

cantando e dançando, como a cinqüenta anos, prestam homenagem a Nossa

Senhora do Rosário, São Benedito, Divino Espírito Santo, ao balanço de fitas

coloridas, pela fé nos Santos de sua devoção.

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No rosto de cada trabalhador na maioria oriundos do meio rural lê-se

nitidamente a história do sofrimento diário do povo humilde, que caleja almas e mãos

o ano todo, conduzindo carroças, trabalhando a madeira de sol a sol, construindo

casas alheias e pintando sonhos pálidos nas paredes frias e intermináveis,

esperando pacientemente agosto, quando ‘cumpre”, mais uma vez, a missão de

homenagear os Santos de sua devoção e o Divino Espírito Santo. Pelas ruas da

cidade em direção a Igreja do Rosário, mantém a tradição do cortejo, nas cores azul

para o 1° dia que é o da Nossa Senhora, rosa para o 2° dia – São Benedito e

finalmente o vermelho para o Divino Espírito Santo. Mas as festas de agosto acabam

sendo apenas uma atração turística, onde os principais personagens da festa, as

rainhas e reis, princesas e príncipes são filhos e filhas da elite local e regional.

FIGURA 13 -Festa de Agosto em Montes Claros (MG) Catopês, Maru jos

e Caboclinhos FONTE: Prefeitura Municipal de Montes Claros.Disponível em < ww.moc.gov.mg>.Acesso 02/12/2002.

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3.4- Procura por Trabalho: As diferenças entre mund o da casa e o mundo da rua

O Estado de Minas Gerais foi considerado como maior exportador de

mão-de-obra no Brasil na década de 70 e 80, concentrando nas regiões Norte e

Nordeste do Estado, os lugares de maiores saídas de trabalhadores sazonais,

principalmente, para o interior do Estado de São Paulo e para região mineira do

Triângulo Mineiro.

Os trabalhadores sazonais, em sua maioria, são transportados em

condições irregulares e recebem míseros salários. Muitos são mantidos como

escravos, em cativeiros, trabalhando para pagarem dívidas de medicamentos,

alimentação e moradia. Deixam famílias inteiras para trás. As chamadas “viúvas de

maridos vivos”, que passam a tomar conta da terra, dos filhos e vivem a esperar pelo

marido e pelo rendimento que este espera receber.

No lugar de onde eu vim, a terra para plantar é pouca porque há muitas fazendas de criação e o gado toma conta de toda a terra e bebe toda a água. Mas o gado dá carne, dá dinheiro. E assim, as fazendas são grandes e sobra pouca terra para os pobres plantar, (PIERSON, 1972:63).

As migrações sempre ocorreram como forma de tentar reproduzir o capital

que, com a seca, a industrialização do campo, tornou-se inviável. Na tentativa de

permanecer no meio rural migra apenas o chefe da família, tornando, assim, a

mulher, responsável pela terra e filhos, enquanto o homem segue “correndo trecho”

em busca da “tar melhoria de vida”.22

Os constantes deslocamentos modificam as relações da família rural, por

tempo determinado. Enquanto o homem parte em “busca” da sobrevivência, a

mulher assume posições tradicionalmente desempenhadas pelo “chefe” da família.

Mas, com a sua chegada, tudo retorna aos papéis antes desempenhados.

Para Da Matta (1983), a migração sazonal corresponde à busca do

mundo da rua, para possibilitar a melhoria no mundo da casa. Como se as relações

familiares ficassem estáticas durante todo o período de migração dos trabalhadores.

22 Frase repetida diversas vezes nos relatos dos migrantes rurais durante a pesquisa de campo, que representa bem a esperança da vida melhorar na cidade. A melhora para a maioria deles é conseguir um trabalho.

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O período de concentração da migração sazonal no Norte de Minas

Gerais acontece entre os meses de abril a dezembro, geralmente quando o migrante

passa a desempenhar trabalhos de plantio e colheita agrícola, principalmente, nas

lavouras de café e cana-de-açúcar.

Os membros da família que permanecem, ficam para cultivar a terra,

cuidam do mundo da casa . Os que saem para o mundo da rua, sonham e buscam

retornarem para a casa, ou seja, tanto os que partem, como os que ficam, querem

estar no mundo da casa e a migração só acontece em função da necessidade de

enfrentar a ”dura realidade da vida”, quer seja a ausência dos entes queridos, quer

seja o trabalho quase sempre mal remunerado e em péssimas condições. A

concepção de lugar torna-se novamente importante para contextualizar a migração.

O lugar é a casa, as relações de família, a terra, o município de origem, as raízes,

enquanto o trecho, as idas e vindas, significam o mundo, o trabalho temporário, a

possibilidade, a expectativa, à vontade de retornar sempre para o lugar de origem23.

São 40 milhões de migrantes no Brasil-Pessoas que vivem fora do lugar em que nasceram.Quantos desses saíram para voltar?Quantos são os que pensam que chegaram a seu destino, como aqueles que encontrei, e que estão partindo de novo? (MARTINS, 1988:2).

O Jornal Estado de Minas, na edição de 08 de julho de 2001, divulgou o

que foi chamado de “Mapa da Fuga”. Os jornalistas chamam atenção para a

continuação da migração do Norte de Minas para outras regiões do País, em

situação irregular de trabalho, e com salários míseros, deixando também parentes

em extrema pobreza, aguardando a volta com “algum dinheiro”. A reportagem do

Jornalista e escritor Luiz Ribeiro analisando a fuga de milhares de migrantes rurais

do Norte de Minas para outras regiões do País demonstra que a principal rota é para

Palmas/Tocantins (Quadro 1).

Os dados sobre as rotas migratórias no período de dezembro de 2000 a

junho de 2001 divulgados pela Associação dos Municípios da Área Mineira da

Sudene AMANS, utilizados pela reportagem, demonstram também a diminuição da

população em vários municípios da região, ressaltando que no início do século XXI a

23 As noções de lugar de origem e lugar de destino associadas às categorias casa e rua, já foram trabalhadas por Maia::2000.

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migração continua ocorrendo, sempre em busca da integração com o mercado de

trabalho. Os trabalhadores oriundos do meio rural, camponeses, pequenos

produtores, cidadãos de aglomerados rurais de pequenos municípios do interior,

possuem mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho, mas continuam no

trecho em “busca de algum tipo de rendimento”. A sobrevivência de milhares de

famílias ainda é os constantes deslocamentos espaciais, sem direito às escolhas de

para onde ir e quando voltar.

QUADRO 1

Destino e Ocupação pretendida pelos Migrantes do Se rtão Mineiro

LOCAL DE DESTINO OCUPAÇÃO PRETENTIDA

São Paulo (capital) Qualquer trabalho

Ribeirão Preto e interior de SP Corte de cana

Campinas-SP Emprego em hortifrutigranjeiros

Brasília (DF) Trabalho doméstico, sitiante

Goiás (Formosa) Trabalho na agricultura

Mato Grosso do Sul (Rio Brilhante) Corte de cana

Pará Trabalho em fazendas de gado e retirada de madeira

Tocantins Pessoas que querem investir em algum negócio

FONTE: Adaptação da autora, de acordo com o Jornal Estado de Minas, Encarte: Gerais, do dia 8 de julho de 2001.

Conforme se observa na Figura 14, a rota da fuga acumula cerca de 80

mil pessoas, desde de dezembro de 2000, se deslocando do Norte de Minas para

outras regiões. Vários são os municípios que tiveram diminuição da população

(Tabela 3). A migração sazonal é uma estratégia dos trabalhadores de manutenção

na terra e de reproduzirem enquanto grupo social, permanecendo camponeses.

“Vão trabalhar em terras alheias para poderem continuar ligados à sua, viram

empregados por uns tempos para poderem continuar para sempre camponeses”.

(RIBEIRO,1996:32).

A migração sazonal sempre condicionada aos trabalhadores do Norte de

Minas, agora já não é a modalidade migratória mais freqüente nos municípios norte-

mineiros. Os trabalhadores rurais em suas idas e vindas começam a fazer a opção

de migrar dentro da própria região.

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Ressalta-se que as migrações para as capitais, o interior de São Paulo e

novos pólos no Norte do Brasil, continuam a acorrer, mas as migrações intra-

regionais, confirmadas pelo censo 2000, tornaram-se mais constantes.

As migrações continuam a ocorrer em busca de trabalho, seja temporário

ou permanente (Figura 12). Muitos migrantes retornam para a região. Os

trabalhadores voltam ao sertão mineiro quase sempre desprovidos de recursos

financeiros e de motivação e não regressam aos seus municípios de origem (Ver

Tabela 3). Muitos permanecem em Montes Claros que, de cidade de passagem para

o Sul, torna-se. centro de serviços da região, centro receptor de migrantes,

principalmente rurais, aonde todos vem em busca de trabalho, de bico, do biscate,

de educação, de saúde, enfim, de qualidade de vida.

A urbanização do município se deve em grande parte aos deslocamentos

espaciais dos trabalhadores entre o rural e o urbano; tantos são os trabalhadores

que migram pela primeira vez do campo para a cidade, quanto aqueles que em sua

maioria já migraram antes para outras regiões e agora resolvem permanecer em sua

própria região, mas não em seus municípios de origem, conforme a tabela 3.

Nos últimos anos o grau de urbanização da cidade vem aumentando

significativamente. Em 1996 do total de 271.608 habitantes, 75% estavam no meio

urbano, ou seja, 253.082; já no ano de 2000 de acordo com o Censo do IBGE do

total de 306.730 habitantes, 289.006 estão no meio urbano e somente 17.724 estão

no meio rural, sendo que 85,63% da população residem no espaço urbano.

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FIGURA 14- Principais Rotas das Migrações de Traba lhadores do Norte de Minas Gerais-2000

Fonte: Adaptado do Jornal Estado de Minas Gerais (Cadernos Gerais.ed 08.jul.2000:16).

Ao migrante que retorna a sua região, sempre fica o desejo de que nesse

“novo” lugar, agora na sua própria região, haverá novas oportunidades. As políticas

públicas de emprego e renda no meio urbano transformam-se em esperança de

melhoria de vida e os programas do meio rural não passam de expectativas. As

expectativas e esperanças se confundem e muitos são os trabalhadores que sentem

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grandes frustrações em permanecer na cidade. Procuram ficar em Montes Claros

que diferentemente de outros municípios da região aumenta o numero de habitantes

enquanto muitas são as cidades que registraram redução da população, conforme

mostra a Tabela 3.

TABELA 3

Variação da População dos Municípios do Norte de Mi nas Gerais: 1996- 2000

MUNICÍPIO 1996 2000 % variação

Cônego Marinho 6.497 6.484 - 0,20

Coração de Jesus 26.071 25.678 -1,50

Espinosa 31.550 30.979 -1,80

Francisco Sá 23.708 23.559 -0,62

Fruta de Leite 7.175 6.778 -5,53

Itacambira 4.816 4.558 -5,35

Januária 63.896 63.458 -0,68

Japonvar 8.549 8.119 -5,02

Joaquim Felício 4.063 3.854 -5,14

Lontra 7.012 6.768 -3,47

Mamonas 6.505 6.130 -5,76

Matias Cardoso 9.668 8.587 -11,18

Montalvânia 16.297 16.027 -1,65

Monte Azul 23.935 23.727 -0,86

Montezuma 6.656 6.572 -1,26

São João do Pacuí 3.682 3.670 -0,32

Serranópolis 4.141 3.979 -3,91

Ubaí 10.916 10.770 -1,33

TOTAL 272.720 269.959 -1,16

FONTE: Adaptação da autora, Jornal Estado de Minas, Encarte: Gerais edição de 8 de julho de 2001.

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3.5- Admirável Mundo Novo, o pré-modernismo no mund o do migrante rural no

século XXI

Velhos mapas e cartas que guiaram os seres humanos pela vida individual e coletiva não mais representam a paisagem na qual nos movemos, o mar em que navegamos. Em que não sabemos aonde nos leva, ou mesmo aonde deve levar-nos, nossa viagem. (HOBSBAWN, 1995:23).

As migrações rurais internas que continuam a ocorrer no Norte de Minas

Gerais em direção aos canaviais e lavouras de café, do interior de São Paulo, e na

própria região do Norte de Minas, em direção à cidade pólo de Montes Claros,

comprovam que a modernidade tecnológica do terceiro milênio revela uma

racionalidade instrumental, já vislumbrada por Max Weber. É uma racionalidade

técnica baseada na lógica do capital, onde a maioria dos trabalhadores encontra-se

sem oportunidades nos locais de origem e excluídos do mercado de trabalho.

Para Durham (1984), a migração se apresenta como um capítulo do

desenvolvimento do capitalismo industrial e agrícola. A racionalidade instrumental

associada à modernidade tecnológica resulta no incremento das desigualdades

regionais e na constituição de grandes metrópoles.

Os migrantes rurais em busca de sobrevivência, são forçados a desistirem

de sua “identidade”. Segundo Ortiz (1989), a identidade se define em relação a algo

que lhe é exterior. Ela é uma diferença. A identidade possui uma dimensão interna,

não basta sermos diferentes, é necessário nos identificarmos como diferentes.

Os norte-mineiros possuem tradições, credos, crenças que se apóiam na

transmissão de uma cultura regional baseada na construção simbólica de uma

pluralidade de identidades construídas por diferentes grupos sociais em diferentes

momentos históricos.

Esses contextos históricos são construídos através de relações culturais

que perpassam relações de poder. A região sempre foi definida por políticas

tradicionalistas para os grandes proprietários de terra que pressionaram e

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pressionam os pequenos agricultores e trabalhadores rurais, através de péssimas

condições de trabalho e total impossibilidade de acesso à terra.

Aos pobres fica apenas a opção de migrar. Se nas décadas de 60 e 70 o

destino era principalmente São Paulo, hoje, o destino é a sua própria região.

A escolha de para onde migrar resulta da possibilidade da procura pelo

“desenvolvimento! Mais próximo de casa”. Como diz um migrante em um

depoimento:

“A gente procura na verdade é o moderno. A cidade tem médico, dentista, luz, televisão, um montão de prédio (sic). Sei que tem muita gente, que tá difici (sic), mas tem muita chance, prá quem quer vencer.” 24

O moderno é definido como a busca do desenvolvimento, a busca da

melhoria. Para Harvey, de acordo com Bermam, a modernidade é:

Uma modalidade de experiência vital - experiência do espaço e do tempo, do eu e dos outros, das possibilidades e perigos da vida-que é partilhada por homens e mulheres em todo mundo atual. Denominarei esse corpo de experiência “modernidade”. (...) ser moderno é ser parte de um universo em que como disse Marx, “tudo que é sólido desmancha no ar”, (BERMAM In: HARVEY, 2001: 21).

Portanto, a procura do moderno leva os trabalhadores a percorrerem

trechos, caminhos na busca permanente da sobrevivência mínima. Segundo Harvey

“A única coisa segura na modernidade é a sua insegurança”,(2001:20).

O processo de mobilização de bens, pessoas e informações no interior

da sociedade, junto com a diferenciação da divisão social do trabalho, definem

status e papéis sociais que serão desempenhados de acordo com a qualificação e

de forma “livre” e racional pelos sujeitos sociais.

A racionalidade está sempre presente na discussão da modernidade.

Considerando Bourricaud (1993), a racionalidade é uma estratégia que garante risco

mínimo, dependendo da estrutura das situações. É uma crença, um mito, uma teoria

representando interpretações desenvolvidas ou, conforme o caso, aceitas pelos

24 Depoimento de migrante rural ambulante na Praça Dr.Carlos, vendedor de mercadorias do Paraguai, para terceiros.

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sujeitos, em função de sua situação, tal como a percebem e a interpretam. Essas

interpretações fornecem guias eficazes para a ação.

A ação de migrar, de partir, é racional no sentido das poucas

possibilidades de sobreviver no campo. Mas, a busca da modernidade é ilusória, a

partir da constatação do “simulacro” nas cidades.

A realidade brasileira e, especificamente, do Norte de Minas e dos

migrantes rurais, demonstra a miséria extrema que a maioria sobrevive no caos

urbano do progresso técnico da modernidade.

Ressalta-se que, na cidade, os trabalhadores oriundos do campo

conseguem afirmar as suas identidades culturais e regionais, haja vista as festas de

agosto (Ver figura13), as festas religiosas, as comidas típicas, etc., o que demonstra

uma resistência dos grupos populares contra a homogeneização culturais proposta

pelo capitalismo.

“O mais legal de São Paulo é voltar com aquele som, cheio de coisas, a gente tem respeito quando chega aqui. Mas nóis não esquece as rezas, as crenças e a vontade de volta." 25

Estas redescobertas das diferenças culturais não se manifestam quanto à

categoria trabalho. A inserção no mercado de trabalho urbano continua difícil. A

baixa escolaridade, qualificação deficiente e profunda discriminação social impedem

a entrada no mercado formal de trabalho. Neste contexto, a busca do moderno, na

perspectiva da racionalidade instrumental técnica, não se concretiza e, no inicio do

terceiro milênio, continua-se com trabalhadores e trabalhadoras em condições da

pré-modernidade.

O admirável mundo novo, proposto pelo projeto iluminista de fraternidade,

liberdade e igualdade não se concretizou, pelo contrário, a realidade é dura, fria. O

mundo novo para milhares de pessoas que buscam apenas o sobreviver nas

cidades torna-se um perverso drama social.

É neste espaço urbano (Ver FIGURA 15), construído e modificado

também por migrantes rurais, que iremos analisar as políticas públicas de emprego e

renda para o migrante, através do SINE e também, o perfil do migrante rural na

cidade e sua integração com o mercado de trabalho.

25 Depoimento de migrante rural retornando de São Paulo para "tentar a sorte" em Montes Claros.

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Assim, tacitamente ameaçados, estamos imobilizados. Dentro de espaços sociais condenados, locais anacrônicos.Que se autodestroem, mas onde temos o estranho e apaixonado; desejo de permanecer, enquanto o futuro se organiza, debaixo de nossos olhos, em função de nossa ausência já programada de maneira mais ou menos consciente,

(FORRESTER,1999:135).

Montes Claros é a cidade pólo da região do Norte de Minas Gerais. Aqui,

muitos trabalhadores rurais migrantes chegam em busca da modernidade, do

desenvolvimento, da qualidade de vida. Como o personagem Riobaldo do Livro

Grande Sertão:Veredas, não desanimam, persistem, encaram com coragem as

dificuldades e incertezas da vida urbana.

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

(GUIMARAES ROSA,1986: 278)

FIGURA 15- A Cidade de Montes Claros-maio de 2002 FONTE: Secretaria Municipal de Planejamento/Prefeitura de Montes Claros – Maio /2002).

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CAPÍTULO 4 ESPERANÇA DE MELHORIA DE VIDA! O MIGRANTE RURAL NA BUSCA DE TRABALHO NA CIDADE DE MONTES CLAROS (MG)

Que beleza, Montes Claros, como cresceu Montes Claros. Quanta indústria em Montes Claros. Montes Claros cresceu tanto. Ficou urbe tão notória, Prima-rica do Rio de Janeiro que já tem cinco favelas por enquanto, e mais promete.

Carlos Drummond de Andrade.26

Sentado à espera de atendimento no Posto do SINE- Sistema Nacional

de Emprego em Montes Claros, o Sr José relembra a “roça” de algodão deixada em

Janaúba. A seca fez com que nada fosse possível de colher. A informação de que

em Montes Claros teria um emprego, fez com que viesse com a família para a casa

do primo que está na cidade já alguns anos. O Sr. José tem 39 anos, 05 filhos e

uma companheira. Está há um mês na cidade e até agora “nada” de trabalho. Ele

vem todos os dias ao Posto do SINE para saber quais as vagas oferecidas. “Sabe

dona, não tenho estudo, mas tenho braços forte, de plantar roça”: Quando

perguntado porque veio para a cidade, ele responde: “Na roça acabou tudo, não tem

trabalho, não tem comida, e a terra já não é mais nossa, tivemos que sair. Falaram

prá esperar, que vai vim um programa, que vai ter melhora, mas... já é velha esta

história. De esperança a gente vévé, de expectativa não”.

FIGURA 16: Migrantes rurais – Preenchendo fichas de cadastro no SINE/

MOC -MG FONTE: Foto da autora/novembro de 2002.

26 ANDRADE, Carlos Drummond de. O Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984.

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4.1- A Mudança de Rota da Migração: Montes Claros, de Cidade Sertão para

Centro Regional Urbano.

O município de Montes Claros está situado na Bacia do Alto São

Francisco, classificado pelo IBGE como pertencente a macrorregião geográfica

Nordeste e microrregião Montes Claros. A vegetação varia entre o cerrado e a

caatinga; o clima é quente e seco. De acordo com resultados do Censo 2000, a

população residente é de 306.258 habitantes, com 288.534(94,21%) pessoas

residindo na área urbana e 17.724 pessoas (5,79%) na área rural. Com relação à

migração, considerando pessoas residentes no município em setembro/1991, são

19.835 pessoas, (dados do Censo 2000).

A cidade expandiu consideravelmente o seu tecido urbano (TABELA 4)

conseqüência do significativo aumento populacional, decorrente do crescimento

econômico e da migração campo-cidade determinada pela seca e pelo desemprego

existente na região e no Nordeste brasileiro.

TABELA 4 Montes Claros, Minas Gerais e Brasil - Comparativos de Variação

Populacional entre 1996 e 2000.

População 1996 2000 %

Brasil 157.079.573 169.544.443 (+) 7.36

Minas Gerais 16.673.097 17.835.488 (+) 6.52

Montes Claros 271.608 306.258 (+)11.46

FONTE: Adaptação do site disponível em<http: //www.montesclaros.mg.gov.br.> .Acesso em: 25/09/2002

O processo de urbanização do município ampliou-se na última década,

concomitantemente a um aumento da industrialização. Paralelamente, formou-se

uma rede intra e inter-regional de transportes. Expandiu-se a malha vicinal

possibilitando o aumento da polarização de Montes Claros e o fortalecimento dos

vínculos da região e, conseqüentemente, da cidade com os mercados do Centro-Sul.

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O fato de Montes Claros ser rota obrigatória de vários movimentos

migratórios, registrados ao longo da história, favoreceu a construção de uma

identidade própria e singular. O homem sertanejo gerou uma cultura rica e regional,

levando em consideração a religiosidade e a solidariedade, que perpassaram todas

as camadas sociais. As manifestações culturais sempre se guiaram pelos ciclos

agropecuários e vão perdendo espaço com a industrialização. Os eventos continuam

a ocorrer, embora agora não mais com caráter integrador da comunidade, mas como

manifestação de determinados segmentos da comunidade atual sem conseguir,

contudo, integrá-la como um todo. Montes Claros transforma-se em uma sociedade

urbana, mas ainda com fortes características culturais rurais.

4.1.1- O Processo de Desenvolvimento do Município d e Montes Claros

A ocupação do Município de Montes Claros ocorreu a partir da expansão

da pecuária extensiva, que desde os séculos XVI e XVII começou a subir o rio São

Francisco. As populações originárias do Nordeste do país e do Sul do Estado, que

procuravam possibilidades de fixarem propriedades e expandir a área de criação de

gado, encontraram condições satisfatórias na região.

A cidade surgiu como um povoado e se desenvolveu em torno de uma

capela de fazenda à margem direita do rio Vieira, entre os córregos Vargem Grande

e Lages. Tropeiros, mineiros e toda sorte de aventureiros percorreram aqueles

sertões em busca de riquezas sem fim. Logo, a Fazenda dos Montes Claros

transformou-se no maior centro comercial de gado, no Norte de Minas Gerais.

Em 13 de outubro de 1831, foi criada a “Vila das Formigas” e em 03 de

Julho de 1857, a vila foi elevada à categoria de cidade, recebendo o nome de

Montes Claros. A economia baseava-se, à época, na criação de gado para atender à

demanda dos distritos especializados na extração de ouro no Estado, estando os

mineradores sujeitos a preços elevados de alimentos, o que explica, em parte, a

constituição de grandes fortunas naquele período.

Diversos caminhos de tropas interligavam Montes Claros à região de

mineração e dirigindo-se até o Nordeste do país. Rota vital para escoamento da

produção, definindo a cidade, desde seus primórdios, como centro regional de

comercialização e de serviços para os fazendeiros da área. A unidade econômica

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era a grande fazenda de criação, em condições de muita rusticidade. O principal

fator de produção, a terra, era livre e apropriável.

A elevação de Montes Claros como centro regional, aconteceu de

maneira gradual e em decorrência de alguns fatores ocorridos no século XIX: 1) O

afastamento do eixo econômico do “rio para o sertão”; 2) A estrada para a Bahia, 3)

As jazidas minerais descobertas em Itacambira, Leste de Montes Claros; 4) A

mudança de eixo econômico para o Rio de Janeiro e Zona da Mata, sendo que as

ligações eram feitas por Montes Claros. Nesse período, a base econômica do

município era a pecuária extensiva, as atividades da cana de açúcar e o algodão,

(OLIVEIRA, 2000).

No final do século XIX, a cidade era “o principal centro urbano e

comercial” (OLIVEIRA, 2000:26). Sua primeira indústria foi instalada em 1882 e

contava com 72 teares, 127 operários e produzia 30 mil metros de tecido por mês, a

fábrica do Cedro. O telégrafo chegou logo depois da República, em 1892. No

começo do século já havia luz elétrica, jornais e mesmo um cinema.

Mas o maior incremento para as atividades econômicas e comerciais

acontece em 1926, com a chegada da ferrovia.”(...) para Montes Claros a chegada

das paralelas de aço e sua interrupção aqui, por quase 20 anos, consolidou em

definitivo sua posição de centro coletor regional e distribuidor de bens

importados.(...)”. (FERREIRA apud OLIVEIRA, 2000: 27).

A importância da cidade como centro comercial e de serviços passa a ser

reforçada também como centro industrial com a chegada da SUDENE. “É a cidade

centro, polarizadora de atração dos recursos de Minas Gerais, não é Belo Horizonte,

que fica fora da área de jurisdição da SUDENE, mas justamente Montes Claros”,

(ANDRADE, 1982:402).

O fato de encontrar-se a mais de 420 Km da capital Belo Horizonte e não

ter próximas outras cidades de porte médio favoreceu para que a cidade tornasse:

(...) um ponto de convergência de pessoas e mercadorias que, de uma área muito

extensa do Norte de Minas, demandam Belo Horizonte e, em menor escala, o Rio de

Janeiro e São Paulo, “(ANDRADE, 1982:398)”.

A SUDENE, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, incluiu a

área do Polígono das Secas de Minas Gerais em sua jurisdição e, na década de 60,

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abriu seu escritório em Montes Claros, estimulando a vinda de dezenas de empresas

para o município.

É em Montes Claros que se concentram os melhores indicadores de

qualidade de vida da região, embora ainda sendo uma área considerada

subdesenvolvida (considerando o IDH). Uma cidade que cresce demasiadamente

em função do deslocamento dos trabalhadores que, para seguirem a rota do sul do

país, passam por Montes Claros, e muitos ficam na cidade (Ver gráfico 2).

GRÁFICO-2 Evolução Demográfica de Montes Claros- MG

Fonte: Secretária Municipal de Planejamento de Montes Claros- MG /Nov.2002

Os incentivos da SUDENE, através do FINOR/Fundo de Investimento do

Nordeste, transformaram o espaço de Montes Claros. A industrialização provocou

uma grande migração para a cidade. OLIVEIRA (2000), demonstra que a taxa de

urbanização em 1960 era de 40,66%, em 1980 chegava há 87,60%. No período de

1970 a 1996, a população urbana aumentou 297% e a população rural diminuiu em

59% (Ver Tabela 5). Os dados da TABELA 5 demonstram um crescimento da

população de Montes Claros superior ao da região norte-mineira, confirmando a

característica da cidade como recebedora de contingente de trabalhadores oriundos

de outros lugares.

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000

1960

1970*

1980

1990

2000

Décadas

Habitantes

Zona rural

Zona urbanaZ

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97

TABELA 5 Evolução da População de Minas Gerais, RMNE e Monte s Claros no

Período 1970/ 2000

ANO / Período MINAS GERAIS

RMNE MONTES

CLAROS MONTES CLAROS

POPULAÇÃO % em relação a MG

% em relação a RMNE

1970 11.487.415 693.912 116.486 1,0 12,0

Urbana 6.060.300 268.226 85.154 0,7 31,7

Rural 5.427.115 695.686 31.332 0,5 4,5

1980 13.378.553 1.111.255 177.308 1,3 15,9

Urbana 8.892.134 485.105 155.313 5,4 32,0

Rural 4.396.419 626.150 21.995 0,5 3,5

1991 15.731.961 1.338.659 249.565 1,5 18,6

Urbana 11.776.538 736.072 227.295 1,9 30,8

Rural 3.955.423 602.587 22.270 0,5 3,6

1996 16.598.852 1.387.180 271.608 1,62 19,57

Urbana 13.074.245 893.960 253.082 1,9 28,3

Rural 3.598.852 493.220 18.526 0,5 3,7

2000 17.835.443 ... 306.730 1,72

...

Urbana ... ... 289.006 ...

...

Rural ... ... 17.724 ... ...

FONTE: IBGE- Censo Demográfico/adaptação da autora. RMNE: Região Mineira do Nordeste ... símbolo utilizado por não dispor dos dados se gundo FRANÇA,2001:94

Montes Claros faz ligação direta com a rodovia Rio-Bahia, com o Norte,

com o Sul, com o Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. A cidade funciona como ponto

de chegada e partida, principalmente para os sertanejos migrantes do Norte da

região e do Sul da Bahia. A industrialização recente de Montes Claros, baseada em

unidades produtivas intensivas em capital e, portanto, pouco absorvedoras da mão-

de-obra existente (Tabela 7), proporciona a marginalização de um considerável

contingente populacional do processo industrial, forçando a baixa dos salários.

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As indústrias aqui instaladas se consolidaram e, entre elas destaca-se a

maior fábrica de Leite Condensado do Mundo (NESTLÉ), uma das três fábricas de

insulina da América Latina (BIOBRÁS), uma das mais modernas fábricas têxtil

(COTENOR) e a quinta maior fábrica de cimento do Brasil (MATSULFUR).

TABELA 6

População ocupada por setores econômicos em Montes Claros/MG

1991 SETORES Nº. de PESSOAS

Agropecuário 10.489

Industrial (1) 23.300

Comércio de Mercadorias 16.279

Transporte, Comunicação e Armazenagem 4.165

Outros Serviços (2) 40.685

TOTAL 94.918 Fonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estatísticas e Informações - CEI (1) Inclui indústria de transformação, mineração, construção e serviços industriais de utilidade pública (2) Inclui prestação de serviços, atividades sociais, administração pública e outras atividades

Aliado à industrialização, ocorre um processo de concentração fundiária,

que determina a desestruturação e, até mesmo, o desaparecimento da pequena

produção, proporcionando a expulsão do homem do campo e um intenso fluxo

migratório, com uma parcela considerável da população regional concentrando-se

em Montes Claros e pressionando a demanda por equipamentos e serviços sociais

básicos.

O dados do Censo Agropecuário em 1996 verificou que dos

estabelecimentos rurais existentes em 1996, 1.466 propriedades, ou seja, 77,33%

são pequenas propriedades, ocupando uma área de 42.654 ha, equivalente a

19,77% da área total.

Por outro lado, 430 grandes produtores ocupam uma área de 173.039, ha

equivalendo a 80,23% da área total, sendo a média de área ocupada pelas grandes

propriedades acima de 100 hectares.

A ação do Estado incentiva a migração do homem do campo para a

cidade, uma vez que nela está a escola, o emprego, o médico, enfim a melhoria de

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vida esperada27. Depoimentos de pessoas da família ou amigos que vieram para a

cidade, incentivam que novos migrantes também venham, fazendo com que haja

uma rede de informação que funciona também para receber em suas casas os

novos moradores e apresentá-los à cidade.

Em Montes Claros os migrantes rurais auxiliam na transformação do

espaço urbano, trazendo grande diversidade cultural, introduzindo costumes,

modificando valores, fazendo história, mas muitos permanecem às margens do

mercado de trabalho. Enquanto suas festas, danças e músicas são referenciadas e

aplaudidas pelas camadas dominantes da população, como nas famosas “festas de

agosto” com seus catopês, caboclinhos e marujos, os trabalhadores e trabalhadoras

rurais continuam servindo de reserva de mão-de-obra.

As empregadas domésticas que trabalham pela comida e moradia,

trabalhadores da construção civil com precárias condições de trabalho, são alguns

dos muitos exemplos encontrados em depoimentos de trabalhadores rurais no Posto

SINE de MOC.

Os trabalhadores rurais ficam também segregados espacialmente,

morando sempre nas periferias da cidade e em favelas com poucas condições

básicas de saúde e educação. Montes Claros, segundo dados da Prefeitura

Municipal, possui 23 favelas.

Algumas delas concentram maior números de migrantes rurais de acordo

com depoimento de funcionário da Secretária Municipal de Planejamento da

Prefeitura Municipal de Montes Claros. São elas: Vila São Francisco de Assis

(conhecida como Morro do Frade); Alto dos Morrinhos; Cidade Cristo Rei (conhecida

com Feijão Semeado); Vila Itatiaia; Santa Cecília; Vila Alice; uma parte do Chiquinho

Guimarães; Vila Santa Luzia (em baixo da ponte saída para BH); Uma parte da Vila

Mauricéia (em baixo da rede de transmissão da Cemig); Vila Castelo Branco (em

baixo da rede de transmissão da Cemig); uma parte do Bairro Major Prates (entre os

bairros Major Prates e São Geraldo).

27 O Censo demográfico de 2000 confirma que a taxa de alfabetização de Montes Claros é de 91%, maior que do Estado de Minas Gerais que atinge 89,1%.

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100

4.1.2- A Trajetória da Migração para Montes Claros

O processo de urbanização regional teve início com a migração para o

Sudeste, especialmente para a cidade de São Paulo. No Norte de Minas Gerais, a

cidade de Montes Claros foi o espaço urbano que mais desenvolveu em decorrência

da migração para o Sul e da industrialização regional incentivada pelo Estado.

As migrações dos nordestinos para o Sudeste ocorreram principalmente

nas décadas de 1930 e 1940 de duas formas: 1º) através da “estrada líquida” ou

seja, o Rio São Francisco; 2º) através da cidade de Montes Claros que já era o

maior ponto de concentração de trabalhadores com destino ao Sul do país.

FIGURA 17 - Cidade de Montes Claros/Morro Dois Irmãos - Vi sta da Periferia FONTE: Secretaria Municipal de Planejamento/Prefeitura de Montes Claros/maio-2002

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101

De acordo com o Boletim do Serviço de Imigração e Colonização de 1941,

os municípios de Urandi e Condeúbas, no Estado da Bahia, eram os principais

municípios que exportavam trabalhadores, principalmente, para São Paulo, através

de Montes Claros: ”(...) nesta cidade, não só se modificam os meios de locomoção,

como também o indivíduo migrante começa a receber a assistência por parte do

governo” (DANTAS, 1941:84).

O trabalhador que se deslocava para Montes Claros, partia de sua

localidade para uma outra próxima, onde se reunia com outros trabalhadores e

continuavam a viagem alugando caminhões para levá-los para a cidade.

A viagem era feita sempre de forma muito desagradável, tumultuada e

perigosa, conforme relatos da época. No trajeto costumavam pernoitar em barracões

rústicos. Nessa época, as migrações ocorriam com grupos numerosos de famílias.

Quando chegavam a Montes Claros, os migrantes ficavam em pensões, quartos

alugados ou mesmo sob copas de árvores, enquanto aguardavam a ida para São

Paulo.

Há casos ainda, especialmente em Montes Claros em que os trabalhadores alugam por alguns tostões a sombra de árvores situadas nos quintais das casas, afim de não ficarem inteiramente desabrigados, (DANTAS, 1941:86).

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pelas migrações para o Sul

do Brasil. O campo se esvaziou. Montes Claros, além de cidade-rota para a

migração, começa a receber também seus novos citadinos.

Já na década de 70, com os incentivos públicos, os empresários rurais,

impulsionados pela industrialização do campo, culpavam as leis trabalhistas pelo

esvaziamento do meio rural. Em reportagem à revista “Montes Claros em Foco”,

edição de novembro de 1979, o Presidente da Sociedade Rural de Montes Claros,

citava que o Estatuto do Trabalhador Rural dificultava e onerava para os fazendeiros

a colocação de trabalhadores, impossibilitando, assim, que os mesmos mantivessem

muitos trabalhadores.

“A maioria dos fazendeiros não tem condição de comprar trator e precisa mesmo é de mão-de-obra humana. Se não consegue quem trabalhe, não pode produzir. Entre correr o risco de perder a fazenda em causas trabalhistas e não produzir, ele prefere a segunda opção, pois sempre resta a alternativa de engordar bois, que necessita de pouca mão-de-obra”. (Entrevista com o Sr.Saul Dias, Revista Montes Claros em Foco, edição de novembro de 1979).

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O relato de uma trabalhadora migrante28 demonstra que para os

fazendeiros, importa apenas a produtividade, daí o grande incentivo para aquelas

famílias que não possuem terra ou possuem pouca terra, desfazerem destas e

partirem rumo à cidade. O depoimento corrobora as dificuldades dos migrantes

rurais em viver em Montes Claros.

“Saímos da roça porque o patrão mandou, não precisava mais da gente, aí viemos pra cidade, tentar.Meu marido tem problema de diabete, mancha na coluna e desgaste de osso, ele não trabalha há 15 anos, e, eu vivo naquela batalha; um dia tem faxina, no outro não tem. A gente passa aquela vida difícil. Eu trabalho na feira livre, só no domingo”. -Você vende uma coisinha lá, o que você faz? “Eu vendo só tempero, corante, é o que eu trabalho, mas agora tem muita concorrência e caiu muito a venda pra mim. Aí eu passo uma dificuldade muito grande, às vezes esses meninos mesmo, a gente tem vontade de ajudar, mas, a vida da gente é de muita baixa renda”. -Quantos filhos você tem? “São oito”. - Oito? E netos você tem quantos? “Neto são onze”. E os filhos estão todos aqui em volta ou foram... “Os meus filhos estão tudo aqui”

4.2– Quem são os Migrantes Rurais em Montes Claros: Marias, Josés, Franciscos, Raimundos, Helenas...

A pesquisa de campo realizada com migrantes rurais no Sistema Nacional

de Emprego (Posto de Montes Claros) e com migrantes rurais ambulantes do

mercado informal, procurou traçar um perfil do sujeito social migrante oriundo do

meio rural, que busca inserção na cidade de Montes Claros. De acordo com a

análisedos dados da pesquisa verificou-se velhos preconceitos, novos paradigmas e

antigas e urgentes indagações. A esperança do trabalhador é pelo mercado formal,

embora a realidade seja sempre o mercado informal.

A maioria dos migrantes são da etnia negra ( Gráfico 3), sendo ainda

maior o número de homens,embora há um grande aumento de mulheres, (Gráfico

4). Entre os entrevistados muitos consideraram-se pardos e não, negros. Cerca de

35% consideraram-se negros e 34% consideram-se pardos. Sendo que 22%

declararam-se brancos. Pode-se verificar que há uma grande quantidade de negros

entre os que se consideraram pardos e brancos.

28 Depoimento de Maria Ferreira ao Programa da Tv Cultura –Caminhos e Parcerias, disponível em: <www.tvcultura.com.br>. Acesso em: 20/06/2002.

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103

GRÁFICO 3 – Origem Étnica do Migrante Rural em Mon tes Claros ( MG)

São ainda maior número de homens considerados “chefes da família” que

continuam migrando e trazendo consigo filhos, companheiras e demais parentes

(Gráfico 4). Nota-se, entretanto, um aumento do número de mulheres que migram

para Montes Claros, sozinhas ou seguindo com filhos na busca de qualidade de

vida, são cada vez mais jovens. Os homens ainda são os que decidem a migração,

embora não venham sozinhos e sim acompanhados de suas famílias. Estabelecem

na cidade, com a esperança de emprego para todos os membros da família. As

filhas adolescentes são oferecidas para serem domésticas em casa de conhecidos

e os filhos são encaminhados para trabalhos de prestação de serviços no comércio

ambulante.

GRAFICO 4- Distribuição da População Migrante por Sexo-Montes Claros (MG)

3 5 %

2 2 %

3 4 %

6 %

3 %

AM AR E L A

IN D ÍG E N A

P AR D A

B R AN C A

N E G R A

FONTE:Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)-anos 2000/2001e 2002

58%

42%F E M IN IN O

M A S C U LINO

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- anos de 2000/2001 e 2002.

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104

Os migrantes são influenciados por parentes e amigos para virem para a

cidade e ficam hospedados em barracões cedidos por conhecidos da família ou com

os próprios parentes(Gráfico 5). Quando começam a trabalhar ou arranjar algum

”bico”, alugam casas ou cômodos, conforme mostra os dados do Gráfico 5.

GRÁFICO 5- Forma de Moradia da População Migrante d e Montes Claros(MG)

As famílias migram completas (Gráfico 6), o que demonstra a vontade de

permanecer em Montes Claros. São famílias extensas, com média de 6 a 10

pessoas, compostas geralmente de pai, mãe, filhos e muitas vezes primos e

parentes mais velhos(avós e avôs).

GRÁFICO 6- Número de Pessoas da Família do Migrante Rural em Montes Claros(MG)

3%

12%

9%

46%

30%

PRÓPRIA

ALUGUEL

PARENTE

FAVOR

IMPROVISADA

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- Anos de 2000/2001 e 2002.

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105

9%

3%

15%

18%

55%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

S E IS A D E ZC INC OQ UA TR OTR Ê SD O IS

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- anos de 2000/2001 e 2002.

As famílias têm em média, 4 a 6 filhos (Gráfico 7). São na maioria

crianças e adolescentes que não frequentavam a escola quando estavam no meio

rural ou então que deixaram de estudar.

A maioria dos migrantes rurais já possuiram terras anteriormente e, hoje,

não possuem casa própria na cidade, mas a quase totalidade dos entrevistados

possuem televisão e geladeira, o que demonstra a vontade de estabelecer relações

urbanas através daquilo que foi caracterizado nos depoimentos como “moderno e

desenvolvido”.

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- anos de 2000/2001 e 2002.

GRÁFICO 7- Percent ual de Números de Filhos por Família de Migrante -Montes Claros (MG)

2 4 %

9 %

1 2 %

1 5 %

4 0 %

Q U A T R O A S E IS

T R Ê S

D O IS

U M

N E N H U M

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Quando perguntados sobre o rendimento mensal do entrevistado, o valor

médio é de 2 salários mínimos (Gráfico 8). As pessoas moram em comodos

pequenos e dividem com outras famílias o local de moradia, pagam aluguel no valor

médio de R$100,00 (Cem Reais), mesmo quando em casas de parentes.

GRÁFICO 8- Rendimento Mensal do Migrante Rural por faixas de Sálario em Montes Claros (MG)

Dos migrantes entrevistados, a maioria é do interior de Minas Ge

rais e do

Dos migrantes entrevistados, a maioria vem do interior de Minas Gerais e

A faixa etária entre 20 a 40 anos, a maioria portanto não é aposentada,

(Gráfico 18). Os dados demonstram também que todos os entrevistados votam nos

municípios de origem, forma de voltarem ali e, geralmente, têm as despesas de

transporte pagas pelos candidatos. Consideram desemprego como o maior

problema do momento, tanto na cidade quanto no campo. E muitos acreditam que é

possível resolver este problema através de algum ”candidato amigo”.

GRÁFICO 09- Local de Moradia Anterior do Migrante R ural de Montes Claros (MG)

1 5 %

9 %

3 3 %

4 0 %

3 % A C I M A D E 5 S M2 a 4 S . M1 S . MM E N O S D E 1 S . MS E M S A L À R I O

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- anos de 2000/2001e 2002.

Nota: Valor Médio do Salário Miníno:ano 2000=R$ 150,00;ano 2001=R$180,00 e ano 2002=R$200,00.

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107

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- anos de 2000/2001e 2002.

Os trabalhadores saem de seu lugar de origem e buscam permanecer em

Montes Claros, impulsionados pela urbanização rápida do município e o aumento no

campo de atividades agrícolas e não agrícolas proporcionadas por grandes

empresários rurais (Gráfico 9). Observa-se também que 61% dos migrantes tem

proviniência rural e 39% vêem de outras cidades. As novas atividades no rural

brasileiro ainda não fizeram grandes diferenças para os trabalhadores do campo,

que por não terem qualificação e nem recursos para arcarem com seus próprios

negócios acabam saindo do campo. Em alguns relatos dos migrantes rurais, há

sempre uma grande saudade do lugar de nascimento e poucas boas lembranças

dos lugares aonde já moraram por terem que migrarem sempre.

Dos migrantes pesquisados 82% são nascidos em Minas Gerais, grande

parte destes são de Montes Claros do meio rural, como mostra os dados do gráfico

10.

GRÁFICO 10- Local de Nascimento dos Migrantes Rurai s em Montes

Claros(MG)

42%

40%

9%

3%

6%

DF/CEARÁ

SP

BA

MG

MG(MOC)

35%

23%

26%

3%

13%

CIDADE DE OUTROESTADOMEIO RURAL/OUTROESTADOCIDADE MG

MEIO RURAL MG

MEIO RURAL MO C

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108

e

A maioria dos entrevistados já possuiu pequenas extensões de terra,

sendo que poucos os que mantém as propriedades,( Gráfico 11). Vendem a terra e

mudam para a cidade, pagando aluguel sem conseguirem conquistar moradia

própria no meio urbano.

GRÁFICO 11- Relação do Migrante com a Propriedade Rural em Montes Claros (MG)

Os números demonstram que os migrantes rurais são sujeitos do campo,

que viviam da agricultura familiar e por falta de opção, deixaram o meio rural. Os

recursos financeiros conseguidos com a venda da terra são insuficientes para

comprar uma moradia na cidade e acabmam servindo para abertura de pequenos

negócios que sem a devida orientação encerram as atividades no primeiro ano de

funcionamento. Os que ainda possuem terras no campo são porque ainda mantem

alguém da família no lugar ou são herdeiros. Os que nunca possuíram terras sempre

viveram no meio rural trabalhando para terceiros e, hoje, na busca de mehores

oportunidades estão no espaço urbano.

71%

Possui

Não

Já Possuiu

20%

9%

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- Anos de 2000/2001 e 200

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109

GRÁFICO 12- Valor do Aluguel(em R$) pago pelo Migra nte Rural em Montes Claros(MG)

Os trabalhadores do campo buscam em Montes Claros uma ocupação

profissional permanente. Depois de tantas idas e vindas pelas metrópoles, canaviais,

cafezais e em municípios de outras regiões do país, esperam que em Montes

Claros não precisem continuar partindo, e sim estabeler relações permanentes.

Mas a escolaridade é um fator inibidor da entrada no mercado formal.

Segundo os depoimentos, 40% dos migrantes possui ensino médio e 30% possui

ensino fundamental incompleto (Gráfico 13). As informações demonstram que

muitos migrantes tentam conseguir alguma vaga de emprego simulando um grau de

escolaridade maior, principalmente aqueles que preenchem fichas no Posto do

SINE.

GRAFICO 13- Grau de Escolaridade do Migrante Rural -Montes Claros (MG)

FONTE: Pesquisa de Campo /Montes Claros(MG)- Anos de 2000/2001 e 2002.

14 %

58%

14%

Até R$ 50,00

Até R$ 100,00

Até R$ 150,00

Até R$ 200,0014%

FONTE: Pesquisa de Campo /Montes Claros(MG)- Anos de 2000/2001 e 2002.

30%

18%

A na lfabe to

N íve l Fundam en ta l C om p le to

N íve l Fundam en ta lIncom p le toN íve l M éd io C om p le to

N íve l M éd io Incom p le to

6%

40%

6%

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)-Anos de 2000/2001 e 2002.

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110

A tentativa de melhorar a vida na cidade faz com que os migrantes

procurem na religião um elo para conseguir enfrentar as perversas condições de

vida. Os dados mostram que a maioria dos migrantes são católicos, embora venha

crescendo o número de evangélicos(Gráfico 14). Quando vindos diretamente do

meio rural permanecem na religião católica. O credo, independemente de qual seja,

acaba sendo um apoio para os momentos de desesperança. Muitos depoimentos de

migrantes rurais que mudaram de religião acreditam que em razão dessa mudança

encontraram empregos.

Os católicos sentem maior resignação e são os que mantem maiores

laços culturais com suas crenças e ritos. Dentre aquels quee mudam de religião

alguns viram pastores e fazem disto sua profissão.

GRÁFICO 14- Religião do Migrante Rural-Montes Cla ros(MG)

6 %

69 %

15% EVA NGÉLICO

OUTRAS

C ATÓLICO

C AND OMBLÉ

10%

Fonte: Pesquisa de Campo/Montes Claros (MG)- Anos de 200/2001 e 2002.

“O Viver na cidade não é fácil”, esta é uma afirmativa dos entrevistados,

mesmo com todas as promessas, penitências e devoções aos Santos, o emprego

continua sendo o maior problema enfrentado em Montes Claros. Sentem muita

insegurança em função dos locais de moradia e acreditam que a violência e todos os

demais problemas são frutos da falta de emprego.

GRÁFICO 15- Principal Problema Enfrentado na Cidade pelo Migrante Rural-Montes Claros (MG)

5 %

2 4 %

S E G U R A N Ç A

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111

De acordo com as entrevistas realizadas e dados coletados e analisados,

o que se verificou é que o migrante rural em Montes Claros, em sua maioria, possui

as seguintes características: é negro, sem escolaridade básica, geralmente

proveniente da região-o Norte de Minas e geralmente já havia migrado antes.

Exemplo é o relato da “Dona Helena”, negra, mãe de 8 filhos, residente na

Vila Castelo Branco, periferia de Montes Claros, com 38 anos, está na cidade há 6

meses e ainda não conseguiu nenhum “bico”. O marido está na construção civil em

obra de “particular”. O rendimento mensal da família é de R$150,00 ( Cento e

cinquenta reais), conforme depoimento:

“O homem tira 100 reais na obra, e a minha menina mais véia(sic) de 14 anos mora na casa de uma dona lá de nosso município(São João do Paraíso) aqui num bairro bom e uma vez por mês traz 50 real(sic). Prá ela tá bom, tá estudando, tem, comida. A preocupação minha é com os outros que tão pequeno não dá ainda prá trabalhar, mas tem dois que já tão na praça pedindo.(...) A gente quando veio prá cá tinha fé que tudo ia ser melhor. Deus ajuda. Os vizinhos ajuda. Pelo menos de fome aqui a gente não morre. Lá na roça, o homem já tinha ido prá São Paulo, umas seis vezes, mais nunca voltava com nada, então resolvemos vim todo mundo, não sei se é pior ou meior, só sei que tô viva.”

4.3- O Acréscimo de Mulheres e Jovens na Migração para Montes Claros

Dentre os entrevistados, pelo menos o chefe da famiíia já havia migrado

pelo menos uma vez, ou com toda a familia, ou com algum membro da família. Um

aspecto interessante nas informações colhidas é que muitas mulheres já haviam

migrado sozinhas, deixando os filhos e companheiros para trás, a fim de trabalhar

por período determinado em casas de famílias, principalmente nas cidades de São

Paulo, Belo Horizonte e Brasília.

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112

O motivo das mudanças anteriores sempre foi a busca por trabalho

temporário. Mas, quando questionados sobre o motivo de mudança para Montes

Claros, a resposta, em sua maioria, é a busca de trabalho permanente.

GRÁFICO 16- Número de Migrações Anterior à Montes Claros(MG)- (Últimos 5 anos)

Os dados comprovam a grande evasão da população do meio rural para a

cidade, causando um processo que Abramovay (2000) chamou de “desruralização

da população”. No Norte de Minas, a consequência deste processo é o aumento do

número de mulheres e jovens nas áreas urbanas e a crescente masculinização do

meio rural.

Este dado que não é exclusivo da região norte-mineira, vem

acentuando-se nas úlltimas décadas na região. O rejuvenescimento dos migrantes

rurais confirma à hipótese de que os programas rurais não têm contribuído para a

permanência dos jovens no campo. A falta de expectativas no meio rural faz com

que cada vez mais jovens deixem o campo. As atividades agrícolas e não agrícolas

são preenchidas por pessoas do meio urbano que vão para o campo e as vagas

menos especializadas são geralmente oferecidas aos homens.

3 4 %

1 9 %

2 7 %

2 0 %A c im a d e T rê s V e ze s

T R Ê S

D U A S

U M A

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- Anos de 2000/2001 e 2002

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113

GRÁFICO 17- Principal Motivo de Mudança dos Migrant es Rurais para Montes Claros(MG)

FONTE: Pesquisa de campo realizada entre 2000/2001 e 2002

Historicamente o estudo do êxodo rural demonstra, com Ravenstein, que

são os homens que partem para trabalhar fora. Mendras, citado por Abramovay

(1999), explicita vários exemplos na Europa, onde o êxodo rural tem sido

compreendido como um movimento fundamentamente masculino. Abramovay(2000),

estudando o fenômeno migratório brasileiro, levanta três hipóteses para os

deslocamentos de mulheres e jovens para o meio urbano: 1) As migrações

relacionadas com a oferta de trabalho em residências e no setor de serviços; 2) As

mulheres jovens deixam a casa paterna no meio rural, procurando independência

econômica e sendo estimuladas pela própria familia; 3) Valorização do movimento

migratório das mulheres para a cidade para estudar em relação aos homens:

Dados da Cepal, mostram que o Brasil rural 55% dos rapazes tem menos de quatro anos de estudo. A precariedade da situação educacional das moças tambem é grave, mas menos que a dos rapazes: 42% das jovens têm menos de quatro anos de estudo. Para que se tenha idéia da posição

5%

15%

10%

30%

40%

Busca por condições de saúde/educação

Trabalho temporário

Influências de familiares/amigos

Melhoria de vida

Trabalho permanente

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114

do Brasil na América Latina quanto a este aspecto, no Chile apenas 5% dos rapazes (4% das moças) estão nesta situação e mesmo no México as cifras são bem menos graves que no Brasil :27% dos rapazes e 21% das moças.

(ABRAMOVAY,1999:14). GRÁFICO 18- Faixa Etária dos Migrantes Rurais em Mo ntes Claros(MG)

O considerável número de jovens no meio urbano, reforça a falta de

expectativas no meio rural e a ansiedade por melhores condições de saúde e

educação, principalmente, no meio urbano( Gráfico 17). Ressalta-se que muitos são

os jovens que estão chegando à cidade de Montes Claros e aqui constituem família

muito cedo, demonstrando a falta de condições de educação e consequentemente

de informações sobre educação sexual. A s hipoteses estudadas por Abromovay

são confirmadas também no sertão das Gerais.

Esses “jovens, que não se limitarão a representar “os jovens”, mas que se tornarão adultos, que envelhecerão se suas vidas lhes proporcionar vida, terão que carregar, como todo ser humano, o peso cada vez maior dos dias futuros.(...) Que podem esperar eles do futuro? Como será a sua velhice, se chegarem até lá?

(FORRESTER,1997: 58)

6%

5%

19%

23%

21%

14%

6%

6%

10-14 anos

15-19 anos

20-24 anos

25-29 anos

30-39 anos

40-49 anos

50-59 anos

60 anos acima

FONTE: Pesquisa de campo realizada entre 2000/2001 e 2002

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115

4.4- Política Pública de Emprego do SINE: Posto de Montes Claros- A Expectativa de Trabalho!

O Posto do SINE/Moc, de acordo com dados fornecidos pelo próprio

órgão, no período de 1995-2000 (Ver gráfico 19), registrou uma grande procura de

trabalhadores rurais e urbanos em busca de trabalho, embora o órgão não tenha

conseguido colocações para a maioria dos inscritos.

O número de inscritos em 2000 no SINE, foi de 6.134 pessoas, sendo que

apenas 265 pessoas foram colocadas no mercado formal de trabalho. Entre 1995-

2000, houve um aumento do número de trabalhadores que se inscreveram em

busca de colocações e também aumentou consideravelmente o número de

requerentes de seguro-desemprego e procura pela emissão de carteira profissional.

O número de vagas teve um crescimento lento, embora não houvesse nenhum

crescimento no número de colocados. No período de janeiro de 2001 a dezembro de

2002, o SINE/Moc inscreveu 22.347 trabalhadores, captou 2.220 vagas e colocou

654 trabalhadores no mercado de trabalho, conforme o Quadro 2.

QUADRO 2-

Atendimento do Posto do SINE em Montes Claros (MG) Período: 01/01/2001 a 31/12/2002

Total de Trabalhadores Incluídos: 22.347

Total de Retornos ao Posto (Atendimentos): 15.198

Total de Convocações: 176

Total de Encaminhamentos: 5.748

Total de Colocações: 654

Total de Requisições de Seguro Desemprego: 8.610

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116

Total Geral de Trabalhadores no Cadastro: 22.371

Total de Vagas Captadas: 2.220

Total de Atendimentos: 37.545

Fonte: Posto de atendimento do SINE/Montes Claros- Janeiro de 2003.Pesquisa de Campo-Anos 2000/2001 e 2002

A demanda por serviços no meio urbano tem aumentado, mas os dados

de emprego do SINE demonstram a falta de eficácia e eficiência do programa, que

funciona com recursos do trabalhador. Nota-se que entre 1995 a 2002 as

propostas de integração entre inscrição, colocação, qualificação não se efetivaram,

sendo que os trabalhadores tornam-se pessimistas e desmotivados a procurar vagas

através do Sistema Nacional de Emprego.

GRÁFICO 19- Principais dados sobre o Atendimento d e Pessoas no Posto SINE/MOC(MG)-Período1995-2000

O objetivo da política de enfrentamento do desemprego, através de um

conjunto de ações preventivas e alternativas, não tem sido eficaz para a maioria dos

trabalhadores. Em relação aos trabalhadores oriundos do meio rural a situação é

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

1995 1996 1997 1998 1999 2000

INSCRITOS

VAGAS

COLOCADOS

ENCAMINHADOS

REQUERENTES

CTPS

Fonte: Dados SINE- Montes Claros(MG)-.Novembro de 2002.

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117

ainda pior. Não existem dados, nem ações especificas, que possam auxiliá-los na

inserção no mercado de trabalho urbano.

GRÁFICO 20- Opinião do Migrante Rural sobre o Aten dimento no Posto do SINE de Montes Claros - MG

Os trabalhadores, ao procurarem o Posto do SINE, esperam encontrar

colocações e cursos de qualificações, mas na realidade encontram um local onde as

expectativas não se tornam realidade. Mas continuam sempre indo ao SINE, na

esperança de qualquer emprego. Não reclamam do atendimento, mas não

conseguem resolver o problema do emprego,( Gráfico 20). Não mudam mais de

cidade, mas percorrem todos os dias o SINE na esperança que “quem sabe hoje

aparece alguma coisa”.

GRÁFICO 21- Frequência dos Migrantes Rurais no Pos to do SINE/Montes Claros(MG)- Período de 2000/2001 e 2002

3 5 %

3 %

4 6 %

1 6 % b o m e r e s o lv e

b o m , m a s n ã o r e s o lv e

p é s s im o

Pr o c u r o u p e la 1 ª v e z

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros(MG)- Anos de 2000/2001 e 2002.

Duas vezes

Três a dez

Acima de vinte

Uma vez

Nunca visitou

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A política pública de emprego e renda não consegue reveter o quadro de

inserção no mercado de trabalho dos migrantes rurais; sendo também não

satisfatória para a maioria dos trabalhadores inscritos no programa. As

oportunidades de emprego

oferecidas não condizem com a qualificação dos trabalhadores rurais e os cursos

oferecidos também são dificéis e acabam não inserindo os trabalhadores rurais.

GRÁFICO 22- Oportunidade de Empregos oferecidas pel o SINE/MOC(MG)

A falta de dados oficiais no SINE sobre a população migratória impede a

inserção dos trabalhadores rurais no mercado de trabalho formal. O Estado não

consegue operacionalizar o Sistema para a qualificação e colocação dos

trabalhadores.

Os dados oficiais do Posto do SINE em Montes Claros demonstram que

no período de 2001/2002, do total de inscritos, 45 % são mulheres, na faixa etária

28%

34%

38%

0% 10% 20% 30% 40%

Nenhuma

Apenas uma

Nunca procurou oSINE para emprego

FONTE: Pesquisa de Campo/Montes Claros9MG)-Anos de 2000/2001 e 2002.

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119

entre 18 a 29 anos. Dos que tem 2º grau completo, 57% são mulheres, sendo que

apenas 45% do total possuem 2º grau completo.

Embora as mulheres tenham escolaridade mais elevada, as vagas

oferecidas são, em sua maioria, para os homens. As vagas mais ofertadas surgem

do setor de comércio.

Em entrevista à analista de planejamento e gerente do Posto do SINE em

Montes Claros, ficou constatada que a falta de informações sobre a população

migrante rural faz com que o mesmo não seja prioridade para política pública de

emprego e renda:

“O SINE – Sistema Nacional de Emprego, programa do Ministério do Trabalho e Emprego, mantido com o recurso do FAT – Fundo de Amparo do Trabalhador, em Minas Gerais está vinculado a SEDESE- Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (antiga SETASCAD), é hoje uma das políticas públicas mais importantes do país: A POLÍTICA DO ENFRENTAMENTO DO DESEMPREGO”.

Essa política tem como objetivo amenizar os efeitos do desemprego, como também tentar a (re) colocação do trabalhador no mercado de trabalho e/ou criar alternativas para os trabalhadores desocupados, criando um conjunto de ações preventivas, uma vez que não basta conceder o benefício do Seguro-Desemprego, mas é preciso, com os mesmos recursos facilitar o acesso dos trabalhadores ao emprego e à renda, retirando do benefício qualquer conotação paternalista.

Em resposta a essas atribuições, o SINE disponibiliza, gratuitamente, os seguintes serviços: Intermediação de Mão-de-obra; Seguro-desemprego; Qualificação Profissional; Emissão de Carteira Trabalho; Geração de Emprego e Renda, Tele-atendimento 0800 para informações ao trabalhador.

Em Montes Claros, No período de maio/2001 a dezembro/2002, no SINE/Montes Claros inscreveram 24.122 trabalhadores a procura de emprego, o SINE captou 2.220 vagas e colocou 654 trabalhadores no mercado de trabalho.

Verificamos que do total do número de inscritos 45% são de mulheres e a faixa etária predominante é de 18 a 29 anos.

Observamos também que somente 45% do total de trabalhadores inscritos tem o 2º grau completo e, deste total 57% é do sexo feminino.

Constatamos que a maioria das vagas ofertada foi para o sexo masculino, o que dificultou a colocação de um número maior de mulheres no mercado de trabalho, neste período, apesar de estarem elas com a escolaridade mais elevada.

Isto significa que as mulheres estão buscando seu espaço no mercado de trabalho, e para tanto, melhoraram o seu grau de escolaridade, mas o mercado continua tendencioso ao sexo masculino, talvez em função dos tipos de vagas ofertadas. Notamos que há uma urgente necessidade de se avaliar a questão dos trabalhadores advindos do interior, para que se possa traçar uma política específica de atendimento e acompanhamento dos trabalhadores rurais migrantes para intermediação deste, ao trabalho e ao programa de qualificação profissional, visto que a maioria dos cursos demandados no

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município, não atendem esta clientela, e que nosso programa não possibilita o levantamento e avaliação dos dados da procedência, e dados quantitativos destes trabalhadores.

(Entrevista com a Gerente do Sistema Nacional de Emprego-Posto de Montes Claros em janeiro de 2003).

4.5- A Integração dos Migrantes Rurais no Mercado d e Trabalho: As Possibilidades!

Mas integrar-se a quê? Ao desemprego, à miséria? a rejeição? Às vacuidades do tédio, ao sentimento de ser inútil ou até mesmo parasita? Ao futuro sem projetos? Integrar-se! (...) Integrar-se a essa ordem que, de ofício, nega todo direito ao respeito? (...) aos pobres seja concebida vida de pobre, interesses de pobre(isto é,nenhum interesse) e trabalhos de pobre (se houver trabalho)?

FORRESTER,1997:59)

A migração representa para os trabalhadores a possibilidade de melhoria

de vida. Com a falta de oportunidades no campo, o migrante espera na cidade pela

integração no processo de trabalho urbano. A pesquisa demonstrou que os

familiares ajudam o migrante a estabelecer os primeiros contatos com a cidade, o

lugar para ficar, os principais pontos urbanos.

Porém, a permanência na cidade está sempre condicionada a “conseguir

logo um jeito de ganhar a vida”. Em Montes Claros, percebe-se que os migrantes

chegam já dispostos a permanecer, independemente de colocações. Os

depoimentos mostram que a maioria deseja retornar ao meio rural, mas na

impossibilidade preferem ficar em Montes Claros. Muitos continuam a seguir a rota

da migração para São Paulo e outras regiões por tempo determinado e depois

retornam à Montes Claros.

A justificativa dessa vontade de permancer na cidade, dá-se muito em

função da migração acontecer com toda a família, além do fato da cidade estar

situada em sua região. Outro fator é a desilusão com os grandes centros.

Não diferente de outras cidades, as principais ocupações encontradas

pelos trabalhadores oriundos do campo acontecem no setor terciário, embora a

expectativa dos mesmos é sempre pelo trabalho fabril.

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As modificações no trabalho fabril e a falta de qualificação dos

trabalhadores dificultam a inserção no mercado de trabalho.

O migrante recém-chegado procura rapidamente algum curso de

qualificação que possa auxiliá-lo na busca por colocações, independemente de qual

seja.Quando questionado sobre qual colocação gostaria de obter, geralmente não

sabe responder.

Grande parte dos trabalhadores entrevistados desconhecem as leis

trabalhistas e quais os empregos possivéis de conseguir. O estudo realizado

comprovou que aos migrantes rurais são direcionadas as piores vagas de trabalho,

sem carteira assinada e na marginalidade ocupacional. Os homens conseguem

vagas, geralmente de vigias, frentistas e sitiantes e as mulheres, de domésticas e

babás.

O trabalhador que procura o SINE encontra como benefício um local onde

se emite carteira de identidade e carteira de trabalho, documentos necessários para

o reconhecimento legal do cidadão, e que muitos migrantes rurais ainda não

possuem. Mas, quanto ao sistema ocupacional, continua a dificuldades e

diferenciações entre os trabalhadores rurais e os trabalhadores urbanos.

“Nós temos que lutar muito”, diz uma migrante rural no Posto do SINE,

que todos os dias procura qualquer vaga de trabalho. Há dois meses ela não

trabalha. Veio do meio rural de Quanambi(BA) trabalhar como doméstica, mas nunca

recebeu nenhum salário pela alegação que o salário era a alimentação,

hospedagem e material escolar. Resolveu sair do “emprego” depois que conheceu

uma outra migrante e passou a dividir com ela um pequeno cômodo na periferia da

cidade. Aos 22 anos pretende se formar em auxiliar de enfermagem, está cursando

o ensino fundamental e tem “lavado umas trouxas de roupas” para “ganhar algum”.

Quando questionada se voltaria a viver no campo, a resposta é imediata: “não, lá a

gente não cresce, aqui tem muita labuta, mas acredito que vou ter uma vida melhor

que da minha mãe”.

A pesquisa de campo revelou que 60% dos migrantes rurais

entrevistados voltariam a morar no campo porque sentem como o “seu lugar.”29 “Por

29 Todas expressões em itálico são depoimentos de migrantes rurais no Posto do SINE- Montes Claros, como também na Praça Dr. Carlos e em algumas favelas da cidade.Entrevistados durante a pesquisa de campo.

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causa da tranquilidade”. “Porque a vida piorou depois que veio para cidade” e

“porque na roça as pessoas são mais amigas”.

O restante que não voltaria para o meio rural (40 %), acha que a vida

está melhor em Montes Claros, já que todos tinham migrado antes e afirmam que

no campo “pior estava” e que na cidade “pelo menos aparece um bico para fazer” e

“para quem não exige, sempre tem algum serviço.”

A escolha pela cidade de Montes Claros é totalmente em função da

busca de trabalho em consequência de que “não tinha mais terra para plantar”. O

“trabalho na roça acabou”, “ir prá São Paulo, Uberlândia ou interior de São Paulo é

duro demais, tem gente que volta doente e uns que até morre por lá mesmo,”

“muitos da família já tinham vindo e melhoram muito,” “as indúsrtrias ainda podem

empregar muito.” O “atraso da roça é grande, só na cidade a vida pode ser boa,

ainda mais quando é uma cidade nossa, aqui do sertão mesmo”.

Os trabalhadores do campo expressam a profunda discriminação que

sentem na cidade em relação aos trabalhadores urbanos. “O preconceito contra

gente é muito, tenho até vergonha de falar que vim da roça, mas parece que tá na

nossa cara”. A falta de escolaridade e qualificação profissional é identificada por

eles como forma de discriminação: “Quando a gente chega aqui no SINE, ninguém

pergunta o que nós gostaríamos de aprender, quem sabe se eles escutassem a

gente a coisa melhorava. Eu sei fazer doces, é gostoso, mas não fica muito bonito.

Queria aprender mais”, (Mulher, 23 anos, migrante do meio rural de Salinas -MG).

A esperança na melhoria de vida através da integração com o mercado

do trabalho na cidade de Montes Claros é motor que move famílias rurais para o

meio urbano.

O estar na cidade não significa participar da cidade. O sair do campo,

não significa abandonar a miséria e sim falta de oportunidades.

Existem também relatos de pessoas bem sucedidas em Montes Claros

que foram migrantes rurais, conseguiram principalmente através do setor de serviços

em pequenos e médios negócios a “sonhada melhoria de vida”. Mas a maioria dos

trabalhadores rurais ainda vivem em condições de trabalho injustas e informais. O

SINE ao não conhecer a origem e realidade dos migrantes rurais acaba

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diferenciando os mesmos dos trabalhadores urbanos, embora o discurso oficial diga

que a “intencão é igualar todos os trabalhadores “.

Os migrantes rurais, quando mais jovens, não querem ser os

trabalhadores que foram seus pais e sabem que não o serão nunca. A vinda para

cidade, pretende deixar o “trabalho bruto” por um “trabalho melhor”, o que significa

estar “fora da roça”.

Ainda não há integração do migrante rural com o mercado de trabalho

formal, mas os trabalhadores já não querem continuar migrando, preferem ficar em

Montes Claros, pois na medida em que cada vez mais se abrem às fronteiras, mais

se produzem territórios, mais as relações sociais de produção também ficam mais

desiguais.

Para aqueles, cujo poder de aporte de investimentos na maioria das

vezes significa apenas a venda da força de trabalho, a migração é uma estratégia,

uma resistência, uma eterna possibilidade ou impossibilidade de ficar ou sair. Não

querem mais o “vôo das andorinhas” (MARTINS: 2000), isto é, na construção de

diferentes territorialidades nacionais, ficar indo e vindo não tem melhorado a

situação das famílias rurais, em um mundo cuja concepção corrente o trata como

cada vez mais desterritorializado e sem fronteiras. Mundo que desata referências e

reconstroem outras e, juntamente com elas, desata famílias e indivíduos que muitas

vezes são sua única referência.

Como o sertão é grande...Viver é muito perigoso..Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar concertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum modo.(...).Sempre nos gerais, é pobreza, à tristeza. Uma tristeza que até alegra. Mas, então, para uma safra razoável (...) reconselho de o senhor entestar viagem mais dilatada. Não fosse meu despoder (...) aí eu ia. Eu guiava o senhor até tudo. (GUIMARÃES ROSA,1986:p.17 e 496).

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124

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês Que andava preso em liberdade pela cidade. Mas o modo como olhava para as casas, E o modo como reparava nas ruas, E a maneira como dava pelas pessoas, (...) E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando. (...) Por isso ele tinha aquela grande tristeza. Que ele nunca disse bem que tinha, Mas andava pela cidade como quem não anda no campo E triste como esmagar flores em livros E por plantas em jarros... Fernando Pessoa/Alberto Caeiro30

Este estudo analisou as migrações internas no Norte de Minas Gerais,

especificamente para a cidade de Montes Claros e a possibilidade de integração dos

trabalhadores rurais no mercado de trabalho nesta cidade. O mercado formal de

trabalho foi investigado, através da Política Pública de Emprego do Sistema Nacional

de Emprego-SINE/Posto de Montes Claros e as estratégias de introdução, colocação

e qualificação dos trabalhadores rurais no mercado de trabalho.

O mercado informal foi estudado através da aplicação de questionários

semi-estruturados e entrevistas com migrantes rurais ambulantes que trabalham na

Praça Dr. Carlos, constatando-se que, em sua maioria, os trabalhadores não são os

proprietários das bancas, mas prestam serviços para terceiros, que são médios e

grandes comerciantes.

Fica evidente que as relações de trabalho no meio rural são muito

menos antagônica do que às relações na cidade. A necessidade de sobrevivência

no meio urbano envolve opções, adaptações que quase sempre levam à submissão,

o que significa uma dependência direta com os mais variados processos de

produção do capital.

30 PESSOA, Fernando. Poesia/Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

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A opção de migrar para Montes Claros, um centro de serviços da

região Norte-Mineira, tem como principal motivo à possibilidade de ocupação com o

mercado de trabalho formal ou informal. A mobilidade social é a grande esperança

dos oriundos do campo na procura de um lugar de destino.

Os “antigos tempos”, como caracterizado nos depoimentos dos

trabalhadores, são retratados como tempos de fartura, de “boa vida”, de muita terra

e de “prato cheio”; o campo era o tempo anterior do passado. A cidade era local para

“fazer a feira” e, de vez em quando, para “ir ao médico” ou ver “novidades”. Os

espaços rurais e urbanos eram completamente separados, caracterizados e

delimitados.

“São tempos que não voltam. Hoje a gente vem, sabe onde termina a cidade. A roça acho que nem existe mais. Pelo menos, aquela com gado, comércio, professora. E minha família toda junta, criando galinha, porco, fazendo queijo, plantando roça. Quando a seca vinha, sempre tinha um patrão para empregar a gente como peão. Agora, tudo é máquina”. Depoimento de um trabalhador rural, ao preencher o cadastro para emprego no Posto do SINE-Moc.

As atividades de produção no tempo antigo eram caracterizadas como

atividades de subsistência e possibilidade de permanência no campo. As relações

de trabalho relatadas não se baseavam apenas nas leis de mercado. As ações

econômicas dos indivíduos baseavam-se também em trocas entre as famílias,

parentes, vizinhos, imbricando valores de cooperação, solidariedade e reciprocidade.

Os dias de hoje, como muitos chamam o presente, são “outros tempos”. De

acordo com os depoimentos dos trabalhadores já “não existe nenhuma”

possibilidade de permanecer no meio rural. A década de 60 e posteriores até 90

demonstraram grandes investimentos públicos na mecanização do campo, nos

projetos de grandes irrigações e reflorestamento, que expulsa as famílias de

pequenos produtores, trabalhadores do campo.

Os enfrentamentos desta perversa realidade foram vivenciados pelos

pequenos agricultores e trabalhadores rurais, através de uma primeira estratégia: a

migração sazonal. Os canaviais e cafezais no interior de São Paulo e Triângulo

Mineiro e as grandes construções nas metrópoles foram à forma encontrada pelo

chefe da família de “buscar dinheiro”, e depois retornar. Tal estratégia pode ser

definida como forma de resistência dos trabalhadores e vontade de permanecer no

campo e de permanecer rural.

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As migrações sazonais sempre foram muito prejudiciais aos trabalhadores

que enfrentavam e, muitas vezes ainda enfrentam, péssimas condições de trabalho,

transporte e remuneração. Os intermediários, os chamados “gatos”, buscavam e

buscam ainda os trabalhadores e estes são iludidos com oportunidades de salário

que depois não se comprovam. Os meses entre abril e dezembro são os mais

comuns deste tipo de fenômeno migratório na região.

O movimento de retorno, iniciado na década de 90, de forma lenta, com a

volta dos trabalhadores das grandes capitais, aumentou as migrações intra-

regionais. A estratégia das migrações sazonais não conseguiu impedir a

industrialização rural, consequentemente, a população rural continuou a se deslocar

para as cidades. As migrações de retorno aumentaram, comprovadas pelo censo

2000, mas devem ser entendidas, pelo menos, em relação a este estudo, como um

movimento populacional de retorno à região e não necessariamente aos municípios

de origem.

Durante a pesquisa, em vários depoimentos, “os novos tempos”. como

também é chamado o presente, são “tempos ruins”, de pouca esperança, onde “não

é possível viver no campo”.

“A terra acabou, não dá para plantar, os fazendeiros empregam pouco, dinheiro não tem quase nenhum, falta de tudo um pouco, o jeito é ir embora, sair para fora (sic) em direção da cidade, sei lá o negócio é não morrer de fome”.

(Depoimento de migrante rural, no Posto do SINE).

De acordo com os depoimentos colhidos e a análise dos dados da

pesquisa, constatou-se a intensa expectativa dos que acabam de chegar em Montes

Claros: a esperança de dias melhores sempre através do emprego. Em relação aos

que já estão na cidade há mais tempo, existe uma acomodação com a situação de

informalidade do mercado de trabalho. Não existem mais expectativas com as

políticas públicas de emprego e não existem mais esperanças de melhoria de vida.

Alegram-se em sobreviver, vivem um dia por vez, procuram biscates que promovam

o “sustento” do dia. Apostam as esperanças nas gerações futuras, nos filhos e

parentes mais novos.

O momento atual é representado pela saída do campo de toda a família.

São homens e mulheres do meio rural que estabelecem residência em Montes

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Claros, sem pensar no retorno ao campo ou aos pequenos municípios de origem.

Não pretendem mais seguir migrando, mesmo com todas as dificuldades ainda

preferem permanecer, “pelo menos”, dentro da própria região.

O “tempo de hoje” mantém em todos os migrantes uma característica das

migrações sazonais e do tempo de antigamente: a intensa vontade de continuar

juntos pela unidade familiar . Antes, o tempo de presença se dava com o retorno

das migrações sazonais. Hoje, o tempo de presença é possibilitado pela migração

em família para Montes Claros.

A “dura realidade da vida” permanece no espaço urbano, mas os

trabalhadores rurais mantêm fortes laços com a cultura regional, com as crenças e

com o parentesco.

A urbanização e industrialização são processos ligados ao crescimento,

desenvolvimento, produção econômica e com toda a vida social. São processos que

estão permanentemente ligados e são ao mesmo tempo conflituosos. A realidade

urbana é totalmente diferente da realidade industrial. Índices de crescimento

econômico, taxas de produção e produtividade se chocam com índices de

desenvolvimento humano e taxas de criminalidade, pobreza e miséria.

Em suma, as migrações campo-cidade para Montes Claros analisadas, neste

estudo, comprovam algumas características básicas:

1) A cidade é a que mais atraí população, ao mesmo tempo ainda é

grande o número de pessoas que deixam o espaço urbano

temporariamente em função de trabalhos em outras regiões;

2) O aumento significativo do número de mulheres migrantes

responsáveis pela família revelam velhas formas de relações de

trabalho, baseadas no pagamento através de moradia e comida,

corroborando a hipótese da trajetória das famílias camponesas como

segregadas no espaço, nas periferias e favelas e, também, com

poucas chances de mobilidade social;

3) A crescente migração de retorno concentra-se nos trabalhadores rurais

na faixa de idade adulta jovem, sendo menor nas faixas de idade mais

avançada;

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4) A maioria dos migrantes rurais são da própria região, que não vem

apenas do meio rural, mas também do meio rural dos municípios

vizinhos, além dos Estados geograficamente mais próximos, como o

caso da Bahia;

5) A mecanização do campo, incentivada pelas políticas públicas, foi

causa principal da migração do campo para a cidade de Montes

Claros, município que recebeu incentivos do Estado para a sua

industrialização e que promoveu rápida urbanização;

6) A falta de políticas propriamente voltadas para os trabalhadores

oriundos do campo faz com que os migrantes continuem segregados

no espaço urbano e na possibilidade da mobilidade social;

7) O Posto do Sine-Moc não diferencia os trabalhadores rurais dos

urbanos, não havendo estatísticas em relação aos mesmos quanto ao

Mercado de Trabalho: Portanto, implementa os mesmos cursos de

qualificação para heterogênea população à procura de trabalho. Os

migrantes rurais concorrem às mesmas vagas com total desvantagem

em escolaridade e qualificação profissional.

8) As vagas mais conseguidas pelos migrantes rurais na faixa de idade

adulta jovem, através do SINE-Montes Claros, são para mulheres, de

empregadas domésticas, babás e, para os homens, frentistas de

postos de gasolina, segurança do comércio local e sitiantes.

“Sertanejos, mirem e vejam o sertão é uma espera e norme ”, dizia

Guimarães Rosa, comprovam os migrantes rurais em Montes Claros. O Estado,

através de políticas públicas, como o Sistema Nacional de Emprego, não conseguiu

diminuir as disparidades entre trabalhadores rurais e urbanos, muito menos integrá-

los no mercado de trabalho. O próprio Estado ”empurra” os migrantes para outros

municípios ou regiões através de recursos públicos como passagens, hospedagens

temporárias, etc.

“Ninguém quer mendigos ou biscateiros em nossa cidade, então auxiliamos com a passagem para que eles continuem viajando. Às vezes não temos passagem para a cidade que ele quer ir, então encaminhamos para uma próxima.·”.

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Depoimento de funcionária do SINE/MOC em dezembro de 2002.

Este constante movimento populacional encontra, na cidade de Montes

Claros, a possibilidade de permanecer, de fixar, de “parar” de andar “sem rumo”. A

expectativa fica nos tempos de hoje, no dia-a-dia, nas idas e vindas ao Posto do

SINE, em busca de colocações.

A desruralização continua marcando o território norte-mineiro, sendo

necessário compreender que o discurso de “fixação do homem no campo”, necessita

de reformulações. A grande porcentagem de jovens e mulheres migrantes

caracteriza a necessidade de construir, no campo, alternativas de condições de vida

básicas em relação à saúde, educação, lazer e, principalmente, integração

econômica, através de atividades agrícolas e não agrícolas.

E necessário insistir que as atividades não-agrícolas não têm sido suficientes

para absorver todo o excedente de mão-de-obra disponível no meio rural, o que se

comprova pela quantidade crescente de pessoas desempregadas. As atividades

rurais não-agrícolas não são preenchidas “automaticamente” pelos trabalhadores

agrícolas que são desempregados pela crescente mecanização. Pelo contrário,

grande parte das novas atividades agrícolas, assim como a maioria das atividades

não-agrícolas, exigem níveis de qualificação e capacidade de empreendimento que

estão muito distantes do perfil dos desempregados rurais que antes se ocupavam

em atividades agropecuárias.

Por fim, concordando com os pesquisadores Mauro Eduardo Del Grossi,

José Graziano da Silva e Clayton Campanhola, é fundamental insistir na proposta

de que além de políticas de qualificação e requalificação de mão-de-obra rural, há

um grande espaço para políticas que estimulem o “empreendedorismo” das

populações locais para abrirem seus próprios negócios.

Ampliar chances de melhoria de vida no campo como um espaço que

desperte nos jovens o interesse de realizar seus projetos de vida, possivelmente

será a alternativa viável para a diminuição dos problemas urbanos e rurais,

garantindo que as famílias tenham o direito de escolher não migrar e\ou de

retornarem ao meio rural.

O meio rural está cada vez mais em contato com o meio urbano. Assim,

necessário se faz que esta proximidade seja entendida pelo Estado, através de

políticas públicas de interação que agreguem o tecido social existente.

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As políticas de fixação do homem no campo, as políticas de emprego e

renda sem definições de prioridades e as diversidade dos trabalhadores, tornam

necessário o aprofundamento do conhecimento sobre as condições de vida das

famílias oriundas do campo que sobrevivem na cidade.

O enfrentamento desta perversa realidade das famílias migrantes rurais

em Montes Claros, conseqüência da histórica política governamental, só será

possível através da viabilização de políticas de desenvolvimento sustentável,

direcionadas para uma autêntica reforma agrária, com terra e condições para

produzir e comercializar.

A grande concentração de terra inviabiliza a permanência no campo das

famílias de pequenos agricultores, transferindo as mesmas para a cidade que não

tem condições de recebê-las. O sertanejo da região Norte Mineira almeja a terra,

mas as políticas públicas aliadas aos grandes complexos agroindustriais inviabilizam

a permanência no meio rural de milhares de famílias do campo, que sem alternativa

continuam “correndo trecho”, esperando, procurando a Melhoria de Vida.

Dos vários depoimentos colhidos no campo, talvez a melhor frase resuma

esta situação e pesquisa:É dona, de esperança a gente veve, de expectativa n ão.

A esperança de melhoria de vida, título deste trabalho, traduz em longa

espera de homens e mulheres no espaço urbano, na busca da reconstrução de suas

vidas, enquanto camponeses que foram, agora como cidadãos urbanos. A

esperança aqui foi utilizada através da formulação feita por José Souza Martins,

onde esperança não é apenas a possibilidade de consumo ou de privilégios, mas a

consciência social, crítica que construa condições sociais dignas através do esforço

de todos e não apenas de alguns.

É a integração com o mercado de trabalho o maior anseio dos

trabalhadores. É o trabalho, o fator que devolveria a auto-estima, o resgate da

cidadania. Por enquanto, ainda é uma expectativa que move uma esperança em

direção a Montes Claros.

Como dizia Guimarães Rosa: “é preciso sair do sertão, mas só se sai

do sertão, tomando conta dele adentro” . Que os migrantes rurais consigam sair

do sertão da miséria, que leva à expulsão do campo das famílias de trabalhadores

rurais, ao preconceito e condições perversas de trabalho na cidade sobre os que são

oriundos do meio rural e que tomem conta do sertão através da dignidade, das

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possibilidades de acesso ao emprego, à educação, a terra, à saúde. Enfim, que não

sejam trabalhadores sem rumo, indo e vindo, mas que encontrem o lugar de destino,

onde almejam, dentro da sua região, preservando a cultura, a unidade familiar e o

principal: "a ter melhoria de vida”.

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7- ANEXOS:

ANEXO A –

Álbum de Fotografia: Diferentes origens, desejos, colocações; Partilha da

Sobrevivência dos Migrantes na Cidade de Montes Claros (MG)

ANEXO B-

Questionário Utilizado na Pesquisa de Campo

ANEXO C-

Texto/Depoimentos de funcionários em relação ao SINE

ANEXO D-

Figura 28- Estado de Minas Gerais-Microrregião Geográficas do Norte de Minas e Localização do Município de Montes Claros

ANEXO E-

Figura 29 -Região Mineira do Nordeste- ADENE/2003

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ANEXO A-

ALBUM DE FOTOGRAFIAS:ALBUM DE FOTOGRAFIAS:ALBUM DE FOTOGRAFIAS:ALBUM DE FOTOGRAFIAS:

Diferentes origens, desejos, colocações:Diferentes origens, desejos, colocações:Diferentes origens, desejos, colocações:Diferentes origens, desejos, colocações:

Partilha da Sobrevivência.Partilha da Sobrevivência.Partilha da Sobrevivência.Partilha da Sobrevivência.

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FIGURA 19- Esperança! Chegada de uma migrante rural em Montes Claros (MG).

FONTE: Foto da autora/Fevereiro/2002. FONTE: Foto da autora/Fevereiro/2002. FONTE: Foto da autora/Fevereiro/2002. FONTE: Foto da autora/Fevereiro/2002.

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FIGURA 20FIGURA 20FIGURA 20FIGURA 20---- Expectativa.Trabalhadora a procura por trabalho Expectativa.Trabalhadora a procura por trabalho Expectativa.Trabalhadora a procura por trabalho Expectativa.Trabalhadora a procura por trabalho em Montes Claros (MGem Montes Claros (MGem Montes Claros (MGem Montes Claros (MG) FONTE: Foto da autora/fevereiro/2002

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FIGURA 21FIGURA 21FIGURA 21FIGURA 21---- O Posto do SINE e O Posto do SINE e O Posto do SINE e O Posto do SINE em Montes Claros (MG)m Montes Claros (MG)m Montes Claros (MG)m Montes Claros (MG)---- A Busca pelo trabalho.A Busca pelo trabalho.A Busca pelo trabalho.A Busca pelo trabalho.

FONTE: Foto da autora/maio/2002.FONTE: Foto da autora/maio/2002.FONTE: Foto da autora/maio/2002.FONTE: Foto da autora/maio/2002.

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FIGURA 22- A realidade: O mercado informal de

trabalho em Montes Claros (MG)

FONTE: Foto da autora/maio/2002.

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FIGURA 23-Viver na Cidade; Migrante Rural,

moradora de Favela em Montes Claros (MG). FONTE: Fotografia da autora/junho/2002.

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FIGURA 24FIGURA 24FIGURA 24FIGURA 24---- Viver na Cidade: aspectos de segregação sócio Viver na Cidade: aspectos de segregação sócio Viver na Cidade: aspectos de segregação sócio Viver na Cidade: aspectos de segregação sócio----espacial na cidade de Montes Claros (MG).espacial na cidade de Montes Claros (MG).espacial na cidade de Montes Claros (MG).espacial na cidade de Montes Claros (MG). FONTE: Foto da autora/junho/2002

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FIGURA 25FIGURA 25FIGURA 25FIGURA 25----A Pesquisa no Posto do SINE/Montes A Pesquisa no Posto do SINE/Montes A Pesquisa no Posto do SINE/Montes A Pesquisa no Posto do SINE/Montes

Claros.(acadêmica do curso de Geografia da UnimontesClaros.(acadêmica do curso de Geografia da UnimontesClaros.(acadêmica do curso de Geografia da UnimontesClaros.(acadêmica do curso de Geografia da Unimontes----

entrevistando migrante do meio rural de Montes Claros, que entrevistando migrante do meio rural de Montes Claros, que entrevistando migrante do meio rural de Montes Claros, que entrevistando migrante do meio rural de Montes Claros, que

reside a 06 mesesreside a 06 mesesreside a 06 mesesreside a 06 meses na cidade e vivendo de na cidade e vivendo de na cidade e vivendo de na cidade e vivendo de ”favor dos parentes” ”favor dos parentes” ”favor dos parentes” ”favor dos parentes”

conforme suas palavras).conforme suas palavras).conforme suas palavras).conforme suas palavras).

Fonte: Foto da autora, maio/2002Fonte: Foto da autora, maio/2002Fonte: Foto da autora, maio/2002Fonte: Foto da autora, maio/2002

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FIGURA 26FIGURA 26FIGURA 26FIGURA 26---- Entrevistador Tarcísio Lopes Lessa (acadêmico curso de Entrevistador Tarcísio Lopes Lessa (acadêmico curso de Entrevistador Tarcísio Lopes Lessa (acadêmico curso de Entrevistador Tarcísio Lopes Lessa (acadêmico curso de

Geografia), ao lado de um migrante rural em Montes Claros Geografia), ao lado de um migrante rural em Montes Claros Geografia), ao lado de um migrante rural em Montes Claros Geografia), ao lado de um migrante rural em Montes Claros (MG)(MG)(MG)(MG)

FONTE: Foto da autora/ junho/2002.

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FIGURA 27 FIGURA 27 FIGURA 27 FIGURA 27---- O Shopping Popular,Local projetado para agregar os “camelôs” que O Shopping Popular,Local projetado para agregar os “camelôs” que O Shopping Popular,Local projetado para agregar os “camelôs” que O Shopping Popular,Local projetado para agregar os “camelôs” que

são na maioria migrantes rurais na Praça Dr.Carlos em Montes são na maioria migrantes rurais na Praça Dr.Carlos em Montes são na maioria migrantes rurais na Praça Dr.Carlos em Montes são na maioria migrantes rurais na Praça Dr.Carlos em Montes Claros (MG).Claros (MG).Claros (MG).Claros (MG).

FONTE: Fotografia da Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Montes Claros/maio/2002.