65
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO COMPORTAMENTO, DIETA E USO DO ESPAÇO EM UM GRUPO DE GUIGÓ-DE-COIMBRA (CALLICEBUS COIMBRAI KOBAYASHI & LANGGUTH 1999) NO RVS MATA DO JUNCO CAPELA-SE Marina Marques de Santana Mestrado Acadêmico São Cristóvão Sergipe Brasil 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E

CONSERVAÇÃO

COMPORTAMENTO, DIETA E USO DO ESPAÇO EM UM GRUPO DE

GUIGÓ-DE-COIMBRA (CALLICEBUS COIMBRAI KOBAYASHI &

LANGGUTH 1999) NO RVS MATA DO JUNCO CAPELA-SE

Marina Marques de Santana

Mestrado Acadêmico

São Cristóvão

Sergipe – Brasil

2012

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

MARINA MARQUES DE SANTANA

COMPORTAMENTO, DIETA E USO DO ESPAÇO EM UM GRUPO

DE GUIGÓ-DE-COIMBRA (CALLICEBUS COIMBRAI KOBAYASHI

& LANGGUTH 1999) NO RVS MATA DO JUNCO CAPELA-SE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe, como

requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Stephen Francis Ferrari.

SÃO CRISTÓVÃO

SERGIPE – BRASIL

2012

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

S232c Santana, Marina Marques de

Comportamento, dieta e uso do espaço em um grupo de

guigó-de-coimbra (Callicebus coimbrai Kobayashi & Langguth

1999) no RVS Mata do Junco, Capela-SE / Marina Marques de

Santana; orientador Stephen Francis Ferrari. – São Cristóvão,

2012.

66 f.; il.

Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação)-

Universidade Federal Sergipe, 2012.

1. Callicebus coimbrai. 2. Comportamento animal. 3.

Sazonalidade. 4. Dieta animal. I. Ferrari, Stephen

Francis., orient. II. Título.

CDU: 638.12

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

“O importante não é saber se o homem veio do

macaco, mas qual foi a reação do macaco quando se

descobriu que era homem e não mais macaco.”

Karl Jasper

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

Dedico este trabalho a minha família, que sempre

me apoiou e que com certeza poderei contar pelo

resto da vida.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao meu orientador Stephen Francis Ferrari pela confiança e oportunidade

de trabalhar com os guigós. Foi uma experiência com certeza engrandecedora. Também agradeço a

minha família e amigos por estarem sempre do meu lado me apoiando sempre. Obrigado a Raone, a

Andressa Sales, a Renata Chagas e a João Pedro pela ajuda e paciência. Também agradeço ao

pessoal da Mata do Junco que me ajudaram muito dentro da mata acompanhando os guigós,

Marcelão, Marcelo Guigó, Marcelo Siriri. A Genildo, Franklin, Márcio e Derivaldo pelas conversas

boas e risadas. Obrigada a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do estado de Sergipe

(SEMARH) por permitir o desenvolvimento da pesquisa no Junco e por ceder as instalações da

unidade. Agradeço também a Superintendência de Recursos Hídricos pela disponibilização dos

dados climáticos da região. E claro obrigada aos meus guigós do Junco, que apesar de terem dado

bastante trabalho me permitiram acompanhá-los durante o estudo. Agradeço também a CAPES

pela bolsa de mestrado.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

RESUMO

Callicebus coimbrai é uma espécie de primata ameaçada de extinção por conta da contínua

degradação de seus habitats naturais. Foi descoberta há pouco tempo e apesar dos avanços

nos estudos com este primata, ainda se precisa saber mais acerca de sua ecologia. O

presente estudo teve como objetivo avançar nosso conhecimento da ecologia da espécie,

visando principalmente a sua conservação em longo prazo. Um grupo de guigós foi

monitorado no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, no município de Capela. O grupo

de estudo era composto inicialmente por um casal reprodutivo, um adulto, dois subadultos

e um juvenil e foi monitorado de agosto a dezembro de 2011. Dados comportamentais

quantitativos foram coletados em uma amostragem contínua de varredura instantânea, com

amostras de um minuto coletadas em intervalos de cinco minutos. Em novembro, o adulto

não-reprodutivo desapareceu e um par de gêmeos nasceu. Os animais passaram 34,6% do

tempo descasando, 26,9% se alimentando, 22,4% em deslocamento, 6,9% interagindo

socialmente, 4,7% vocalizando e 2,0% forrageando (2,5% outros). A dieta foi composta

por frutos (62,9%), folhas (28,4%), sementes (5,0%) e flores (3,6%), com um total de 21

espécies exploradas. As espécies mais utilizadas eram das famílias Melastomataceae,

Apocynaceae e Dilleniaceae. O consumo de frutos foi significativamente maior durante a

estação chuvosa, enquanto o de folhas e flores foi maior durante a seca. Esta variação foi

acompanhada por mudanças no padrão comportamental, com a alimentação e

deslocamento sendo significativamente mais freqüentes na estação chuvosa, e o descanso

maior na seca. A área de vida registrada durante o estudo foi de 8,7 ha, mas provavelmente

foi subestimada devido à curta duração do estudo. De um modo geral, o comportamento do

grupo de estudo foi típico do gênero Callicebus, embora foram encontradas algumas

diferenças em relação aos estudos anteriores de C. coimbrai, como interações freqüentes

com Callithrix jacchus. Os resultados re-enfatizaram a tolerância desses animais a

fragmentação de habitas baseada em sua flexibilidade comportamental e capacidade de

explorar recursos alternativos. O estudo contribuiu para a consolidação de uma base de

dados sobre a ecologia de C. coimbrai visando garantir a conservação da espécie e dos

ecossistemas que habita em longo prazo.

Palavras-chaves: Callicebus coimbrai, comportamento, dieta, sazonalidade, fragmentação.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

ABSTRACT

Behavioural ecology of a titi group (Callicebus coimbrai Kobayashi &Langguth, 1999)

in eastern Sergipe

Callicebus coimbrai is a recently-discovered primate species endangered with extinction

due to the ongoing degradation of its natural habitat. Despite recent advances in research,

the ecology of this species is still poorly-known. The present study aimed to further our

knowledge of the ecology of the species, with the principal objective of guaranteeing its

long-term conservation. A group of titis was monitored in the Mata do Junco Wildlife

Refige in the municipality of Capela. The study group was initially composed of a

breeding pair, an adult, two subadults, and a juvenile, and was monitored between August

and December, 2011. Quantitative behavioural data were collected using continuous scan-

sampling, with one-minute samples being collected at five-minute intervals. In November,

the non-breeding adult disappeared and a pair of twins was born. The animals spent 34.6%

of their time at rest, 26.9% feeding, 22.4% moving, 6.9% in social behaviour, 4.7%

vocalising, and 2.0% foraging (2.5% miscellaneous). The diet was composed of fruit

(62.9%), leaves (28.4%), seeds (5.0%), and flowers (3.6%), with a total of 21 species being

exploited. The most frequently-used species were of the families Melastomataceae,

Apocynaceae, and Dilleniaceae. Fruit was consumed significantly more frequently during

the rainy season, whereas consumption of leaves and flowers increased during the dry

season. This variation was accompanied by a shift in the activity pattern, with feeding and

moving being significantly more frequent during the rainy season, and rest increasing in

the dry. The home range recorded during the study was of 8.7 ha, but was probably

underestimated due to the short duration of the study. Overall, the behaviour of the study

group was typical of the genus Callicebus, although some differences were observed in

comparison with previous studies of C. coimbrai, such as relatively frequent interactions

with Callithrix jacchus. The results re-emphasised the tolerance of these animals towards

habitat fragmentation, based on the behavioural flexibility and capacity to exploit

alternative resources. The study contributed to the consolidation of a database on the

ecology of C. coimbrai, which should guarantee the conservation of the species and the

ecosystems it inhabits over the long term.

Key Words: Callicebus coimbrai, behaviour, diet, seasonality, fragmentation.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1:DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO CALLICEBUS. BDGEOPRIM (2002). .................. 17

FIGURA 2:DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESPÉCIES DE CALLICEBUS DO GRUPO PERSONATUS

(PRINTES, 2007). ........................................................................................................... 18

FIGURA 3:CALLICEBUS COIMBRAI: A) ILUSTRAÇÃO DE STEPHEN D. NASH (VAN ROOSMALEN

ET AL., 2002); B) FÊMEA ADULTA EM CATIVEIRO (FOTO: L. JERUSALINSKY). ................ 19

FIGURA 4: DISTRIBUIÇÃO DO CALLICEBUS COIMBRAI, A PARTIR DOS LIMITES PROPOSTOS POR

KOBAYASHI & LANGGUTH (1999), PRINTES (2005), BELTRÃO-MENDES (2010) E

SANTOS JR. (2010) (DA ROCHA, 2011). ........................................................................ 20

FIGURA 5: REFÚGIO DA VIDA SILVESTRE MATA DO JUNCO (EM AMARELO) E ASSENTAMENTO

JOSÉ EMÍDIO SANTOS (EM VERMELHO). ........................................................................ 23

FIGURA 6:COMPARAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO MENSAL REGISTRADA NO MUNICÍPIO DE CAPELA,

SERGIPE, NO ANO DE 2011 COM OS VALORES MÉDIOS REGISTRADOS 2003 E 2010

(SEMARH/SE, 2011). .................................................................................................. 24

FIGURA 7:CALLITHRIX JACCHUS E CALLICEBUS COIMBRAI JUNTOS. FOTO: M. MARQUES (MAI,

2011)............................................................................................................................. 32

FIGURA 8: ORÇAMENTO GERAL DE ATIVIDADES DO GRUPO DE ESTUDO DE C. COIMBRAI NA

MATA DO JUNCO. .......................................................................................................... 34

FIGURA 9: COMPORTAMENTO DE CATAÇÃO ENTRE DOIS INDIVÍDUOS DO GRUPO DE C.

COIMBRAI DA MATA DO JUNCO. FOTO: M. MARQUES (SET, 2011). ................................ 35

FIGURA 10: ENROSCAMENTO DE CAUDA ENTRE TODOS OS MEMBROS DO GRUPO DE C.

COIMBRAI NA ÁRVORE DE DORMIDA 2. FOTO: M. MARQUES (SET, 2011). ...................... 36

FIGURA 11: PERCENTUAL DOS ITENS CONSUMIDOS PELO GRUPO DE C. COIMBRAI DA MATA DO

JUNCO. .......................................................................................................................... 38

FIGURA 12: LINHA DELIMITANDO A ÁREA DE VIDA DO GRUPO DE ESTUDO C. COIMBRAI DA

MATA DO JUNCO, MUNICÍPIO DE CAPELA, SERGIPE. (ADAPTADO DE GOOGLEEARTH) .. 41

FIGURA 13: DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA ÁREA DE VIDA DO GRUPO DE ESTUDO, MOSTRANDO

A FREQÜÊNCIA DE VISITAÇÃO EM CADA QUADRANTE DE 50 M X 50 M. .......................... 42

FIGURA 14: FREQÜÊNCIA DE VISITAÇÃO DOS QUADRANTES DA ÁREA DE VIDA EM CADA MÊS

DE ESTUDO. ................................................................................................................... 43

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

FIGURA 15: LOCALIZAÇÃO DAS ÁRVORES DE DORMIDA NA ÁREA DE VIDA (LINHA AMARELA)

DO GRUPO DE C. COIMBRAI DA MATA DO JUNCO. - A.D. 1, - A.D. 2, - A.D. 3 E 4,

- A.D. 5. .................................................................................................................... 45

FIGURA 16: O GRUPO DE ESTUDO (6 INDIVÍDUOS) PERNOITANDO NA ÁRVORE 4. FOTO: M.

MARQUES (SET, 2011). ................................................................................................. 46

FIGURA 17: USO DO ESTRATO VERTICAL PELOS MEMBROS DO GRUPO ESTUDADO DE

CALLICEBUS COIMBRAI NA UC RVS MATA DO JUNCO, CAPELA, SERGIPE. .................... 47

FIGURA 18: COMPARAÇÃO DO USO DO ESTRATO ENTRE AS ESTAÇÕES SECA E CHUVOSA. ..... 47

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

LISTA DE TABELAS

TABELA 1:CATEGORIAS DOS COMPORTAMENTOS E ATIVIDADES A SEREM AMOSTRADOS

(MODIFICADAS DE SOUZA-ALVES (2010). ..................................................................... 26

TABELA 2: CLASSES DE ALTURA. .......................................................................................... 27

TABELA 3: DIAS DE MONITORAMENTO, VARREDURAS E REGISTROS MENSAIS DO GRUPO DE

ESTUDO C. COIMBRAI MATA DO JUNCO. ......................................................................... 33

TABELA 4: DURAÇÃO DO PERÍODO DE ATIVIDADE DIURNA DO GRUPO DE C. COIMBRAI DA

MATA DO JUNCO. .......................................................................................................... 33

TABELA 5: NÚMERO DE REGISTROS DOS COMPORTAMENTOS AO LONGO DOS MESES DE

ESTUDO (N = 3484 REGISTROS). ..................................................................................... 37

TABELA 6: VALORES DE Z BINOMIAL COMPARANDO OS REGISTROS ENTRE AS ESTAÇÕES

CHUVOSA (AGOSTO E SETEMBRO) E SECA (NOVEMBRO E DEZEMBRO). ........................ 37

TABELA 7: LISTA DE ESPÉCIES CONSUMIDAS PELO GRUPO DE CALLICEBUS COIMBRAI DA MATA

DO JUNCO. ..................................................................................................................... 39

TABELA 8: NÚMERO DE REGISTROS DE CADA ITEM ALIMENTAR POR MÊS. ............................ 40

TABELA 9:VALORES DE Z BINOMIAL PARA A COMPARAÇÃO DA PROPORÇÃO DOS ITENS

CONSUMIDOS NA ESTAÇÃO CHUVOSA (AGOSTO E SETEMBRO) E SECA (NOVEMBRO E

DEZEMBRO). ................................................................................................................. 40

TABELA 10: MÉDIA MENSAL DO PERCURSO DIÁRIO DO GRUPO DE ESTUDO DE C. COIMBRAI DA

MATA DO JUNCO. .......................................................................................................... 44

TABELA 11: ÁRVORES DE DORMIDA USADAS PELO GRUPO DE ESTUDO E FREQÜÊNCIA DE

UTILIZAÇÃO. .................................................................................................................. 46

TABELA 12: PADRÃO COMPORTAMENTAL PARA AS ESPÉCIES DE CALLICEBUS. ..................... 49

TABELA 13: COMPOSIÇÃO DA DIETA EM DIFERENTES ESPÉCIES DO GÊNERO CALLICEBUS. .... 51

TABELA 14: MÉDIA DOS PERCURSOS DIÁRIOS PARA ESPÉCIES DE CALLICEBUS. ..................... 55

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14

1.1. A MATA ATLÂNTICA ................................................................................................. 14

1.2. O GÊNERO CALLICEBUS ............................................................................................. 16

1.2.1. Callicebus coimbrai ........................................................................................... 19

2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 22

2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 22

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 22

3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 23

3.1. ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................................... 23

3.2. ESTUDO COMPORTAMENTAL ...................................................................................... 25

3.2.1. Grupo de Estudo................................................................................................. 25

3.2.2. Habituação do Grupo......................................................................................... 25

3.3.3. Dados comportamentais ..................................................................................... 26

3.3.3.1. Amostragem comportamental...................................................................... 26

3.3.3.2. Uso do espaço .............................................................................................. 27

3.4. ANÁLISE DE DADOS .................................................................................................... 28

3.4.1. Padrão de atividades .......................................................................................... 28

3.4.2. Uso do Espaço .................................................................................................... 29

4. RESULTADOS .............................................................................................................. 30

4.1. O GRUPO DE ESTUDO .................................................................................................. 30

4.1.2. Relações interespecíficas ................................................................................... 31

4.2. ORÇAMENTO DE ATIVIDADES .................................................................................... 32

4.2.1. Padrões gerais.................................................................................................... 32

4.2.2. Variação sazonal ................................................................................................ 36

4.3 – COMPORTAMENTO ALIMENTAR ............................................................................... 38

4.3.1. Composição da dieta .......................................................................................... 38

4.3.2. Variação Sazonal na Utilização dos Recursos Alimentares .............................. 39

4.4. USO DO ESPAÇO ......................................................................................................... 41

4.4.1. Área de vida ....................................................................................................... 41

4.4.2. Percurso Diário.................................................................................................. 43

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

4.4.3. Sítios de Dormida ............................................................................................... 44

4.4.4. Uso do Espaço Vertical ...................................................................................... 47

5. DISCUSSÃO .................................................................................................................. 48

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 57

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 58

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

14

1. INTRODUÇÃO

1.1. A Mata Atlântica

A Mata Atlântica é considerada a segunda maior floresta pluvial tropical do

continente americano. É um complexo bioma constituído por uma grande diversidade de

ecossistemas. Segundo a classificação da legislação brasileira, o bioma Mata Atlântica é

formado por vários tipos de ecossistemas associados a formações florestais nativas

vegetais, como floresta ombrófila (densa, mista e aberta), floresta estacional (semidecidual

e decidual), bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos dealtitude,

brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste (Brasil, 2006; 2008).

Originalmente a Mata Atlântica estendia-se ao longo da costa brasileiraoriental,

chegando até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina, cobrindo mais de 1,5 milhões de

km², ou seja, aproximadamente 15% do território nacional (Fundação SOS Mata Atlântica

& INPE, 2009; Galindo-Leal & Câmara, 2003).

Considerada como um dos biomas mais ameaçados do planeta (Mittermeier et al.,

1999), a Mata Atlântica vem sendo reduzida a fragmentos desde a colonização do Brasil

pelos europeus (Dean, 1997). Segundo Câmara (2003) no século XX mais de 90% da Mata

Atlântica brasileira já tinha sido destruída.

Fragmentação é a divisão de um habitat continuo em manchas, as quais variam em

tamanho, forma, grau de conectividade, matriz circundante, qualidade da borda e nível de

conservação(Cerqueiraet al., 2005). Este processo provoca efeitos de perda de habitat, pois

altera padrões de migração e funções ecológicas (Ranta et al., 1998).

As atividades antrópicas são uma das principais causas da perda de hábitat e

consequente fragmentação como: retirada de madeira, desmatamentos e realização de

queimadas para agricultura, pastagens e construção imobiliária, abertura de estradas e

rodovias. São ações impactantes que provocam a degradação das florestas e a perda

progressiva de recursos naturais (Tabarelli et al., 1999; Tabarelli & Gascon, 2005).

A fragmentação das florestas tropicais representa uma grande ameaça para a

biodiversidade do planeta, principalmente pela alteração das relações ecológicas animal-

planta, que subsidiam a auto-sustentação do ecossistema. Particularmente, as espécies

frugívoras como os primatas, sofrem com a rápida fragmentação e destruição das florestas

(Terborgh,1986).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

15

Mesmo em condições preocupantes, a Mata Atlântica ainda apresenta uma rica e

complexa biota, com mais de 8000 espéciesendêmicas, sendo consideradaum hotspotpara a

conservação da biodiversidade no planeta(Myers et al., 2000).São 250 espécies de

mamíferos (55 endêmicas), 340 de anfíbios (90 endêmicas), 1.023 de aves (188

endêmicas), 350 de peixes (133 endêmicas) e 197 de répteis, das quais,60 endêmicas

(MMA/SBF, 2002). Das 633 espécies de animais ameaçadas de extinção no Brasil, 383

ocorrem nesse bioma (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2009).

A Mata Atlântica nordestina ainda surpreende pela diversidade de sua flora e fauna,

inclusive de primatas. Entre os avanços mais importantes dos últimos anos, destacam-se a

descoberta de uma espécie endêmica, Callicebus coimbrai (Kobayashi & Langguth, 1999)

e a “redescoberta” de outra, Cebus flavius (Oliveira & Langguth, 2006). Devido à perda de

hábitat, o risco de extinção dos primatas desse bioma é alto, sendo que a maioria das

espécies nordestinas está classificada em alguma categoria de ameaça de extinção (IUCN,

2008). Somado a este cenário, faltam informações básicas, até mesmo sobre a distribuição

geográfica das espécies, necessárias para o desenvolvimento de estratégias de conservação

efetivas.

Em Sergipe, a MataAtlântica encontra-se reduzida a 8% de sua cobertura original

que se distribuem numa estreita faixa litorânea (Santos 2009). Mesmo tendo sofrido grande

redução de vegetação remanescente e apesar de sua pequena extensão territorial, o Estado

de Sergipe ainda possui uma fauna de primatas relativamente rica, dentre eles o guigó-de-

sergipe (Callicebus coimbrai), o guigó da caatinga (Callicebus barbarabrownae) o

macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e o sagüi comum (Callithrix

jacchus).

Descoberta há apenas treze anos, Callicebus coimbraiparece ser endêmica dos

remanescentes da Mata Atlântica de Sergipe e do nordeste da Bahia, embora os limites de

sua distribuição geográfica – original ou atual – permaneçam mal conhecidos. As

evidências disponíveis (Sousa, 2000, 2003; Printes, 2005; Jerusalinsky et al., 2006;

Beltrão-Mendes, 2010 e Santos Jr., 2010) indicam que a área de distribuição da espécie

não ultrapassa 20.000 km². Atualmente sabe-se da existência de 80 populações

remanescentes de C. coimbrai no estado, sobrevivendo em fragmentos de tamanhos

variados até menores que 10 hectares (Jerusalinsky et al., 2006; Beltrão-Mendes, 2010 e

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

16

Santos Jr., 2010). Frente a esta situação, a espécie foi alocada à categoria “ameaçada de

extinção” pela UICN (Veiga et al., 2008).

Algumas espécies já estudadas do gênero Callicebus apresentaram o

comportamento de emigrar de seu grupo natal ao atingir maturidade sexual. Esse

comportamento, de acordo com Jerusalinsky et al. (2006) associado a sua distribuição em

fragmentos isolados pode, a longo prazo, comprometer a sobrevivência da espécie, por

isso,estudos sobre ecologia e comportamento dos guigós-de-sergipe são de grande

relevância, pois poderá se saber sobre a viabilidade de grupos que habitam pequenos

fragmentos ajudando a subsidiar ,estratégias de conservação e manejo da espécie.

1.2. O Gênero Callicebus

A ordem Primates compreende animais forrageadores generalistas, com cérebros

relativamente grandes e sofisticados sistemas sociais (Campbell et al., 2011). Dentro desta

ordem existem duas subordens, Strepsirrhini representada pelos galagos, lêmures e társios,

também chamada de prossímios e Haplorrhini que são os símios. Esta última é composta

pelas infraordens Catarrhini (símios do Velho Mundo) e Platyrrhini (símios do Novo

Mundo). São 19 gêneros de platirrineos, atualmente classificados em quatro famílias:

Callitrichidae,Cebidae,Pitheciidae e Atelidae (Rylands et a.l, 2000; Campbell et al., 2011).

Todos são arborícolas, com peso variando entre 100 g e 10 kg (Fleagle, 1999; Hartwig,

2007).

Pithecia, Chiropotes, Cacajao e Callicebus são os gênerospertencentes à família

Pitheciidae (Rylands et al., 2000). CallicebusThomas, 1903 engloba um grupo complexo

de espécies que se distribui principalmente nas florestas da Amazônia, onde são

conhecidos como macacos zogue-zogues, e da Mata Atlântica brasileira, sendo chamados

de sauás e guigós. Hershkovitz (1990) reconheceu 13 espécies agrupadas em quatro

grupos, mas revisões e descobertas recentes como a de Defler et al., 2010, elevaram estes

números para 30 espécies, sendo atualmente distribuídas em cinco grupos,donacophilus,

torquatus, moloch, cupreus e personatus (Kobayashi & Langguth, 1999; van Roosmalen et

al., 2002; Wallace et al., 2006). Estes cinco grupos se distribuem nas florestas tropicais das

bacias Amazônica e do Orinoco, no Chaco e nas florestas secas do Paraguai e Bolívia, e

naMataAtlântica brasileira(Figura 1).

O grupo personatus écomposto por cinco espécies – Callicebus personatus,

Callicebus nigrifrons, Callicebus melanochir, C. barbarabrownae e C. coimbrai, todos

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

17

endêmicos da Mata Atlântica e áreas vizinhas de Caatinga e Cerrado, distribuídos pela

Região Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e Nordeste –

Bahia e Sergipe (Kinzey, 1981; Hershkovitz, 1990; van Roosmalen et al. 2002; Figura 2).

Figura 1:Distribuição geográfica do Callicebus. BDGEOPRIM (2002).

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

18

Figura 2:Distribuição geográfica das espécies de Callicebus do grupo personatus (Printes,

2007).

Os guigós, sauás ou zogues-zogues são primatas de pequeno a médio porte,

monomórficos,medindo entre 287-390 mm de comprimento (cabeça-corpo), a cauda pode

chegar a um terço desse comprimento e pesam entre 1 a 2 kg (Kinzey, 1981, 1997; Kinzey

& Becker, 1983).A cauda não é preênsil e a forma de locomoção é, essencialmente,

quadrúpede, podendo saltar e escalar sendo extremamente ágeis e silenciosos ao se

deslocarem.

Os guigós formam pequenos grupos, variando entre dois a seis indivíduos que são

compostos pelo casal monogâmico e sua prole imatura. Geralmente a cada ano o casal gera

um filhote e o período gestacional da fêmea dura por volta de 4,3 meses (Vallegia et al.,

1999). A prole emigra do seu grupo ao atingir a maturidade sexual entre o segundo e quarto ano de

vida (Bicca-Marques & Heymann, no prelo). São animais de hábitos arborícolas e diurnos

podendo ser encontrados em diversos tipos de hábitat como florestas tropicais primárias e

secundárias, florestas decíduas, semidecíduas e perenifólias, entre outras, sendo

relativamente tolerante à fragmentação de habitats (Ferrari et al. 2000; Heiduck, 2002).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

19

Os Callicebus gastam em torno de 75% do seu tempo com alimentação. São

basicamente frugívoros, mas complementam sua dieta com folhas ou insetos(Müller &

Pissinatti, 1995; Heiduck, 1997; Cardoso, 2003; Souza-Alves, 2010). Os frutos mais

consumidos são os das famílias Moraceae, Leguminosae e Sapotaceae (Kinzey, 1978,

1981). Na estação seca, quando os frutos são escassos, observa-se principalmente o

aumento no consumo de folhas, que é o segundo recurso mais consumido, atrás dos frutos,

4-66% dependendo da estação do ano e da espécie de Callicebus. (Kinzey, 1978, 1981;

Müller & Pissinatti, 1995). Geralmente, os animais deste gênero dedicam maior parte do

seu tempo entre as categorias comportamentais de alimentação, locomoção e descanso,

com ênfase para a última, quenormalmente supera 50% do orçamento total com exceção do

C. brunneus, commenos de 40% (Bicca-Marques & Heymann, no prelo).

1.2.1. Callicebus coimbrai

Kobayashi e Langguth descreveramoCallicebus coimbrai em 1999. É um primata

de médio porte e pesa cerca de 1 kg. Apresentam pelagem bege com patas, testa, topo de

cabeça e orelhas negras; uma faixa zebrada no dorso; um halo esbranquiçado em volta da

face; e uma cauda alaranjada (Kobayashi & Langguth 1999; van Roosmalen et al., 2002;

Figura 3).

Figura 3:Callicebus coimbrai: a) Ilustração de Stephen D. Nash (van Roosmalen et al.,

2002); b) Fêmea adulta em cativeiro (Foto: L. Jerusalinsky).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

20

Inicialmente, C. coimbrai era conhecido somente do extremo oriente do Estado de

Sergipe (Kobayashi & Langguth, 1999), mas após uma série de levantamentos,

principalmente aquele de Printes (2005), sabe-se que sua distribuição se estende para o sul

ao longo do litoral da Bahia.Atualmente os limites conhecidos para sua distribuição

geográfica são o Rio São Francisco ao norte, rio Paraguaçu ao sul e o Oceano Atlântico a

lestee o limite entre a Mata Atlântica e a Caatinga a Oeste (Printes, 2005; Jerusalinsky et

al., 2006; Beltrão-Mendes, 2010; Santos Jr., 2010; Figura 4).

Figura 4: Distribuição do Callicebus coimbrai, a partir dos limites propostos por

Kobayashi & Langguth (1999), Printes (2005), Beltrão-Mendes (2010) e Santos Jr. (2010)

(Da Rocha, 2011).

Callicebus coimbrai, inicialmente,foi alocado à categoria “criticamente ameaçada”,

mas após avanços no conhecimento sobre a distribuição geográfica, a espécie foi

reclassificada e atualmente ocupa a categoria em “perigo de extinção” (IUCN 2008), sendo

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

21

os principais motivos desse nível de ameaça, a contínua fragmentação e degradação dos

ambientes florestais ao longo de sua restrita distribuiçãogeográfica, desde o início da

colonização européia no século XVI (Coimbra-Filho & Câmara, 1996). A partir do

levantamento Jerusalinsky et al.(2006), estima-se que a área total de floresta ocupada pela

espécie não ultrapassa 15.000 ha, distribuída em dezenas de pequenos fragmentos isolados.

Também foi estimada que a população total remanescente está entre 500 a 1000

indivíduos.

Apesar dos avanços em relação à distribuição geográfica da espécie, suas

características ecológicas são ainda pouco conhecidas embora já existam alguns estudos

sobre a ecologia de C. coimbrai, principalmente sobre a densidade de populações (Chagas,

2009 e Rocha, 2011) e alguns aspectos de sua ecologia comportamental (Souza-Alves,

2010; Fontes, 201). No entanto, ainda há necessidade de desenvolver estudos em longo

prazo para um melhor entendimento sobre os efeitos da fragmentação sobre as

características ecológicas da espécie e conseqüentemente o desenvolvimento de estratégias

eficazes de conservação e manejo da espécie. Aliado a isso também é de grande

importância a conservação dos ecossistemas para que a espécie consiga se manter ao longo

do tempo.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

22

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Expandir o conhecimento da ecologia de Callicebus coimbrai e subsidiar a

conservação da população residente no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (RVS

Mata do Junco), Capela, Sergipe.

2.2. Objetivos específicos

Descrever os padrões de comportamento e uso de habitats dos membros de um grupo de

C. coimbrai residente no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, Capela, Sergipe;

Avaliar a composição da dieta do grupo de estudo, variações sazonais nesta composição

e possíveis mudanças de comportamento associadas;

Identificar fatores chaves que possibilitam a tolerância da fragmentação de habitat pela

espécie;

Fornecer subsídios para a conservação da espécie e dos ecossistemas que habita,

principalmente no contexto local do RVS Mata do Junco.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

23

3. METODOLOGIA

3.1. Área de estudo

O Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco se localiza no município de Capela no

leste do Estado de Sergipe (10º32’S, 37º03’W) a aproximadamente 67 km da capital

Aracaju. Além dos remanescentes florestais, o RVS Mata do Junco abrange também parte

do Assentamento José Emídio dos Santos criado pelo INCRA no ano de 2005 em uma área

pertencente à Usina Santa Clara(Figura 5).

Figura 5: Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (em amarelo) e Assentamento José

Emídio Santos (em vermelho).

Segundo o SNUC (2002), um Refúgio da vida Silvestre é uma unidade de

conservação de proteção integral que objetiva proteger os ambientes naturais onde se

asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades de flora

local e da fauna residente ou migratória. O Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, uma

unidade de conservação estadual, foi criado em 26 de Dezembro de 2007, por meio do

decreto 24.944. A unidade é um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do estado

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

24

possuindo em torno de 766 ha (SEMARH/SE, 2011). A Mata do Junco éuma floresta de

Tabuleiro que sofreu forte pressão antrópica devido a exploração intensiva de madeira e

atualmenteé caracterizada por possuir manchas de remanescentes florestais em diferentes

níveis de regeneração(Santos, 2009). Está inserida na unidade de relevo denominada

Depressão Sertaneja apresentando solos de característica arenosa (SEMAHR/SE, 2011). O

estudo foi realizado dentro do maior fragmento da unidade, que possui cerca de 522 ha de

área florestada.

Dados de precipitação do município de Capela, a cerca dos anos de 2003 a 2010

mostraram que a precipitação média anual na região é de 1323,8 mm. O ano do estudo,

2011 teve uma precipitação media de 1527,6 mm, um pouco maior do que a média de 2003

a 2010 (SEMARH/SE, 2011) (Figura 6).

Observa-se que a região da área de estudo apresenta duas estações bem definidas,

uma mais úmida que abrange os meses de abril a setembro e uma estação seca que vai do

mês de outubro a março. De acordo com o gráfico de precipitação de 2011, é possivel

verificar que o ano todo foi caracterizado por um índice anormal de chuvas nos meses de

fevereiro e março sendo que o resto do ano seguiu um padrão normal relacionado com a

média (Figura 7).

Figura 6:Comparação da precipitação mensal registrada no município de Capela, Sergipe,

no ano de 2011 com os valores médios registrados 2003 e 2010 (SEMARH/SE, 2011).

0

50

100

150

200

250

300

Pre

cip

ita

ção

(m

m)

média de

precipitação

2003 a 2010

precipitação

2011

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

25

3.2. Estudo comportamental

3.2.1. Grupo de Estudo

Dentro do RVS Mata do Junco ocorrem duas espécies de primatas, Callithrix

jacchus e Callicebus coimbrai que já foram estudadas anteriormente, através de Soares et

al. (2011) que realizou uma avaliação preliminar de uso de habitat de Callicebus coimbrai

e Callithrix jacchus eRocha (2011) que fez um levantamento das populações de Callicebus

dentro da UC. O grupo foi escolhido devido a facilidade de acesso a área de vida, por ser

relativamente fácil encontrá-los dentro da mata e devido aos indivíduos serem

parcialmente acostumados a presença humana.

A área que o grupo habita localiza-se próximo a portaria da UC e envolve a área

onde se encontram as instalações da unidade. Inicialmente o grupo era composto de seis

indivíduos e ao final do período de estudo passou a incluir sete animais.

3.2.2. Habituação do Grupo

A habituação foi feita por meio da “perseguição intensiva” (veja Souza-Alves &

Ferrari, 2010) durante os meses de maio, junho de 2011. No primeiro mês, um playback foi

utilizado para atrair o grupo, mas nos meses seguintes esta estratégia foi descartada, pois os

animais passaram a não responderem mais aos chamados. Para achar os indivíduos, a

pesquisadora e o mateiro procuravam cuidadosamente pela mata, atentos a barulhos, como

movimentação pelos galhos ou vocalizações intragrupo. Ao ser achado, o grupo era

perseguido até que se recolhesse para dormir ou até que fosse perdido o contato visual.

Os animais passaram a tolerar a presença do observador a partir do momento em

que pararam de se distanciar de sua presença ou de apresentar vocalização de alarme.

Segundo Setz (1991) os sujeitos foram considerados habituados a partir do momento em

que o observador conseguiu manter contato continuo com os animais a uma distância que

permitia o monitoramento do seu comportamento sem provocar mudanças no mesmo. Uma

vez habituados, o monitoramento sistemático e coleta de dados quantitativos foram

iniciados.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

26

3.3.3. Dados comportamentais

3.3.3.1. Amostragem comportamental

A coleta de dados comportamentais foi realizada entre os meses de agosto a

dezembro de 2011. Cada amostra mensal era constituída por quatro ou cinco dias

completos de monitoramento, nos quais os sujeitos eram acompanhados desde o

amanhecer até a hora de se recolherem na árvore de dormida.

O método utilizado para a coleta de dados quantitativos foi o de varredura

instantânea (Altmann, 1974; Setz, 1991), que consiste em um registro instantâneo do

estado comportamental dos sujeitos a intervalos pré-determinados. Neste estudo, foi

utilizado o mesmo esquema amostral adotado por Souza-Alves (2010) e Fontes (2011) no

monitoramento de C. coimbrai, por ser um método comprovado para o gênero e para

garantir uma melhor comparação entre os estudos. A varredura tinha duração de um

minuto e as amostras foram realizadas continuamente ao longo do período de atividade do

grupo.

Em cada varredura, registrou-se a data, o horário e a posição do grupo marcado

através GPS. Para cada sujeito avistado durante a varredura foram coletados os seguintes

dados: (i) sua identificação ou classe sexo-etária; (ii) seu estado comportamental (Tabela

1); (iii) a altura do individuo em relação ao chão e (iv) a distância do sujeito avistado para

o indivíduo mais próximo. As categorias utilizadas abaixo foram modificadas do estudo de

Souza-Alves (2010). Os materiais utilizados para o trabalho foram um caderno de campo,

relógio com cronômetro, GPS, binóculos e máquina fotográfica digital.

Tabela 1:Categorias dos comportamentos e atividades a serem amostrados (modificadas

de Souza-Alves (2010).

Categoria (Código)

Descrição

Deslocamento (DL) Animal se locomovendo

Forrageamento Animal procurando por itens alimentares manualmente (FM) ou

visualmente (FV)

Alimentação Animal ingerindo insetos (CI), sementes (CS), frutos (CFR), folhas

(CF), galho (CG), vertebrados (CV), água (BA)

Interação social Animal interagindo com outro membro de seu grupo (ou de outro

grupo, devidamente anotado): catação (CAT); interação agressiva

(IA); brincadeira (BRI); interação sexual (SEX)

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

27

Categoria (Código)

Descrição

Autocatação

(AUTCAT)

Animal catando ectoparasita de seu próprio pêlo

Entrelaçamento de

cauda

(EC)

Animal com a cauda entrelaçada com aquela de outro indivíduo,

podendo estar envolvido em comportamento de dueto

Repouso (RE) Animal sentado ou deitado de olhos abertos sem qualquer atividade

adicional

Sono (SO) Animal deitado, de olhos fechados, sem qualquer movimento

Vocalização (VOX) Animal emitindo sons pelo aparelho vocal

Outro (OU) Animal desenvolvendo qualquer outra atividade não prevista acima,

como interação interespecífica, evacuação, etc.

Em eventos de alimentação, o item ingerido foi identificado até o menor nível

taxonômico possível e amostras foram coletadas para identificação. As plantas exploradas

para alimentos foram devidamente marcadas com fita colorida para poderem ser coletadas

uma exsicata para posterior identificação junto ao herbário da Universidade Federal de

Sergipe (UFS) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

3.3.3.2. Uso do espaço

Os dados de altura foram organizados em classes de cinco metros (Tabela 2) e

expresso graficamente utilizando a porcentagem de uso de cada categoria.

Tabela 2: Classes de altura.

Classes Altura (metro)

1 0 – 5

2 6 – 10

3 11 – 15

4 ≥16

O percurso diário do grupo foi amostrado por meio da marcação dos pontos, em

um GPS, em cada varredura. Os pontos foram passados para o programa GPS Trackmaker

onde se analisou a trajetória feita pelos animais, obtendo-se a trajetória percorrida em cada

dia de monitoramento, a partir daí obteve-se a média mensal dos percursos diários do

grupo.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

28

A área de vida também foi estimada por meio detodos os pontos marcados pelo

GPS em cada varredura.

As árvores de dormida do grupo tiveram suas coordenadas registradas com a ajuda

do GPS. Foram marcadas com fita amarela e coletadas para posterior identificação.

3.4. Análise de dados

Os dados foram transcritos para planilhas do programa Excel para organização e

análise preliminar, e as análises estatísticas realizadas no programa BioEstat 5.3 (Ayres et

al., 2006). Inicialmente, os dados foram analisados mensalmente, e depois por estação

climática e para o período de estudo como um todo.

3.4.1. Padrão de atividades

O parâmetro comportamental básico é o orçamento de atividades, que é baseado

nafreqüência relativa dos registros de cada categoria comportamental. Neste caso, a

porcentagem de categoria i é fornecido por pi = ni/N × 100, onde ni = o número de registros

de varredura da categoria i durante o período sob análise, e N = o número total de registros

de varredura durante o mesmo período. Possíveis diferenças entre estações no

orçamentoforam analisadas usando o z binomial ou, para períodos múltiplos, a análise de

variância não-paramétrico de Kruskal-Wallis. Estes testes verificam a significância das

variações ocorridas entres as estações.

A composição da dieta foi estimada da mesma forma, onde a porcentagem de item i

é fornecido por pi = ni/N × 100, onde ni = o número de registros de varredura do item i

durante o período sob análise, e N = o número total de registros de alimentação durante o

mesmo período conforme, Cullen Jr. & Valadares-Pádua (1997). Para verificar mudanças

sazonais na composição da dieta, os dados foram analisados usando o z binomial.

A duração média do período de atividades (entre inicio e termino das atividades

diárias) do grupo também foi comparada entre os meses de estudo analisando-se a

significância de variação do período de atividade entre as estações seca e chuvosa.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

29

3.4.2. Uso do Espaço

A preferência por determinados estratos da vegetação foi analisada por meio das

porcentagens de utilização de cada classe de altura. Para verificar possíveisdiferenças na

utilização do estrato entre asestações seca e chuvosa, foi utilizado o teste Kruskal-Wallis.

A área de vida foi estimada por meio da plotagem de um grid de 50m x 50m sobre a

área utilizada pelos guigós no programa GPS Trackmaker, em seguida os pontos marcados

pelo GPS durante as amostragens foram lançados nesse grid e a partir daí fez-se a

contagem dos quadrantes onde os pontos ocorriam e obteve-se a área utilizada pelos

guigós.

Os percursos diários foramanalisados por meio dos pontos marcados pelo GPS ao

longo do período de estudo. Os pontos foram lançados no programa GPS Trackmaker,

onde através de uma ferramenta do programa estes pontos foram ligados e suas distancias

somadas, com isso obteve-se o percurso diário de cada dia de monitoramento.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

30

4. RESULTADOS

4.1. O grupo de estudo

Em maio de 2011, o grupo de estudo era composto por seis indivíduos: um casal de

adultos, um adulto, dois subadultos e um juvenil com pouco mais de um ano de idade. Em

novembro, o adulto maduro já não estava mais junto ao grupo, restando cinco membros.

No mesmo mês a fêmea deu luz a gêmeos, sendo que, até o final do período de estudo, o

grupo continuava com sete membros.

Para identificar os indivíduos do grupo foi preciso analisar as características

peculiares de cada sujeito, pois a similaridade entre animais é grande devido a fatores

como a falta de dimorfismo sexual na espécie. O macho adulto possui a ponta do rabo

entortada, assim ele foi denominado de “Rabo Torto”. O juvenil por ter um tamanho menor

e também por possuir a mesma característica do rabo do pai era facilmente identificado e

ganhou o apelido de “Juju”. Os demais indivíduos do grupo não tiveram uma classificação

sistemática devido a falta de características individuais que os diferenciassem, exceto em

determinadas situações, como quando a fêmea reprodutora estava junto ao macho

repousando, catando ou amamentando.

Em maio foi observado um comportamento de cópula entre o casal. O macho e a

fêmea juntamente com o juvenil estavam se deslocando, quando em determinado momento

a fêmea parou em um galho. Logo em seguida o macho se aproximou montando na fêmea

e realizando movimentos pélvicos por cerca de 5 segundos.

Em geral o grupo se apresentou coeso, padrão típico do gênero, com dispersão em

torno de 15 m de distância. Em algumas ocasiões os subadultos se separavam pela manhã e

perto do final das atividades se encontravam com o casal. O macho e a fêmea reprodutores

sempre andavam próximos ao longo do dia, interagindo socialmente, efetuando

comportamentos de catação em momentos de repouso.

O macho reprodutor carregava os dois filhotes na maior parte do tempo. A fêmea só

foi observada carregando os gêmeos em momentos de amamentação. O juvenil também

carregou os irmãos, mas somente em ocasiões de repouso.

O grupo não possuía um padrão diário de vocalização de território (o dueto),

geralmente eles eram estimulados por vocalizações de grupos vizinhos, poucas vezes as

vocalizações foram por iniciativa do grupo. O dueto era praticado pelo casal, mas em

algumas ocasiões a prole também participava com exceção do juvenil. Quando ocorria

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

31

encontro com grupo vizinho o casal logo se juntava fazendo uma vocalização de atenção e

em seguida praticava o dueto. Por algum motivo, talvez por proteção, o juvenil se

mantinha uma certa distancia de onde o casal estava. Além da vocalização de dueto, outro

tipo de vocalização foi notado, o “piado” (Souza-Alves, 2010). São pequenos assobios

emitidos pelos indivíduos a fim de se situarem em relação ao resto do grupo. Quando o

sujeito percebe que o grupo está fora do alcance de sua visão o animal logo emite o piado

para que alguém responda. Quando a resposta não ocorre o animal faz a vocalização dueto,

a qual sempre era respondida.

4.1.2. Relações interespecíficas

Durante o estudo ocorreram alguns momentos de sobreposição de área entre o

grupo estudado e outros grupos de guigós vizinhos. No total foram pelo menos cinco

encontros sendo um deles bem inusitado. Três desses encontros foram com guigós vizinhos

vocalizando dentro da área de vida do grupo estudado, imediatamente o grupo se deslocava

em direção aos guigós vizinhos e respondiam a vocalização, nessas ocasiões além do casal

praticar o dueto um dos subadultos também participava.

Normalmente, nesses encontros, o grupo conseguia afastar os “invasores”, mas

houve uma situação em que os guigós vizinhos conseguiram fazer com que o grupo de

estudo se afastasse. Um outro momento de encontro houve a participação de mais de um

grupo vizinho, ao todo eram dois grupos vocalizando além do grupo estudado.

O quinto encontro ocorreu com apenas um único guigó. O mais interessante é que

este sujeito era um guigó infante que se encontrava sozinho. O grupo estudado apresentou

um certo interesse, num primeiro momento, mostrando um cuidado com o sujeito, até

mesmo resgatando-o num momento de queda. Em seguida o grupo que estava em repouso,

voltou as atividades de deslocamento, forrageio e alimentação deixando o infante solitário

pra trás. Este tentava acompanhar o grupo fazendo uma vocalização parecida com “choro”,

mas pelo seu tamanho e suas dificuldades em se locomover não conseguia alcançar, isso

ocasionou mais três quedas seguidas, sendo que dessa vez o infante voltou ao alto das

árvores sem o resgate de nenhum dos indivíduos do grupo.

Dentro da área de vida dos guigós estudados existe pelo menos três grupos de

sagüis (Callithrix jacchus). O guigós se encontraram com os sagüis em todos os dias de

monitoramento durante o estudo. A presença do C. jacchus não parecia alterar o

comportamento dos guigós continuando suas atividades normalmente. Os sagüis por outro

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

32

lado pareciam bastante curiosos quanto aos guigós chegando a se aproximarem bastante.

Houve até mesmo uma situação, durante a habituação, em que um dos indivíduos do grupo

estudado estava se alimentando de determinado fruto e um sagüi que se encontrava no

mesmo galho bem próximo ao sujeito requisitou o mesmo fruto que o guigó comia. O

indivíduo calmamente deu as costas ao sagüi não permitindo que o mesmo se apossasse de

seu alimento (Figura 8).

Figura 7:Callithrix jacchus e Callicebus coimbrai juntos. Foto: M. Marques (Mai, 2011).

4.2. Orçamento de Atividades

4.2.1. Padrões gerais

Durante o período de estudo, o grupo foi monitorado durante 24 dias completos. Ao

todo foram 3981 registros comportamentais coletados em 2051 varreduras, sendo 8,76%

dessas sem registro (Tabela 3).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

33

Tabela 3: Dias de monitoramento, varreduras e registros mensais do grupo de estudo C.

coimbrai Mata do Junco.

Mês

Dias de

monitoramento

Varreduras

Registros

Registros por

varredura

Agosto 4 225 432 1,92

Setembro 5 284 536 1,89

Outubro 5 424 938 2,21

Novembro 5 554 987 1,78

Dezembro 5 564 1088 1,92

Total 24 2051 3981 1,94

Tipicamente, o período de atividade diurna começava um pouco depois do sol

nascer e acabava aproximadamente uma hora antes do por de sol (Tabela 5), de forma que

o período médio de atividade diurna do grupo durou um pouco menos de onze horas

(Tabela 4). Ao deixarem a árvore de dormida o grupo geralmente se movimentava em

direção a fontes de alimentação e ao longo dia entre um evento de alimentação e outro, os

animais descansavam e se deslocavam. Na metade do dia percebia-se que os animais

descansavam por mais tempo comparando com o resto do dia. No período da tarde, o

grupo se movimentava bastante à procura de alimentos, mas ao se aproximar o horário de

dormida era possível observar os animais mais quietos e silenciosos até a hora de todos se

juntarem na árvore de dormida escolhida.

Tabela 4: Duração do período de atividade diurna do grupo de C. coimbrai da Mata do

Junco.

Mês

Hora máxima – mínima de: Duração média ±DP do

período de atividade Início Término

Agosto 5:40-5:45 16:55-17:25 10:37±0:17

Setembro 5:20-6:05 16:05-17:25 10:37±0:53

Outubro 5:10-5:20 16:45-17:15 10:55±0:14

Novembro 5:25-5:50 17:00-17:40 10:52±0:11

Dezembro 5:00-5:45 17:25-17:50 11:25±0:14

Geral 5:00-6:05 16:05-17:50 10:50±1:04

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

34

O orçamento geral das atividades teve as categorias de repouso, alimentação e

deslocamento como as mais registradas, semelhante ao observado nos estudos de Kinzey

et. al (1977), Kinzey & Becker (1983), Souza-Alves (2010), Caselli & Setz (2011) e

Fontes (2011) (Figura 8).

Figura 8: Orçamento geral de atividades do grupo de estudo de C. coimbrai na Mata do

Junco.

A catação foi interação social mais registrada e podia ser observada em três

momentos: antes de iniciar as atividades diárias na árvore de dormida, nos períodos de

descanso e após a chegada à árvore de dormida. Ocorreutrês registros de interação

agressiva, dois deles entre o macho reprodutor e o terceiro adulto e o outro registro

aconteceu entre um indivíduo do grupo juntamente com um sagüi (Callithrix jacchus) de

um grupo que vive dentro da área de vida dos guigós. Outra ocasião de agonismo

aconteceu fora da amostragem envolvendo o macho reprodutor e um dos subadultos

(Figura 10).

34,6

26,9

22,4

6,9 4,7

2,0 1,4 1,0 0,1 0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

Fre

qu

ênci

a r

ela

tiv

a (

%)

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

35

Figura 9: Comportamento de catação entre dois indivíduos do grupo de C. coimbrai da

Mata do Junco. Foto: M. Marques (Set, 2011).

O forrageio foi uma das categorias com menos registros. Foi observado que este

comportamento era feito de maneira bem discreta, ao contrario de outros primatas que

forrageiam de maneira a vasculhar todo o ambiente, o guigó apenas observava o ambiente

ao seu redor e ao visualizar uma fonte seguia em direção a ela.

O enroscamento de cauda foi um comportamento pouco observado durante as

atividades diárias. Apenas três registros no mês de setembro, nos quais o casal estava

praticando a catação. Também foi observado que o enroscamento de cauda sempre ocorre

entre todos os indivíduos do grupo quando estão na árvore de dormida no amanhecer ou

final do dia (Figura 10).

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

36

Figura 10: Enroscamento de cauda entre todos os membros do grupo de C. coimbrai na

árvore de dormida 2. Foto: M. Marques (Set, 2011).

4.2.2. Variação sazonal

O comportamento de repouso foi a atividade mais registrada em quase todos os

meses de estudo, com exceção do mês de setembro no qual a alimentação excedeu o

repouso.

As vocalizações tiveram um pico no mês de Novembro. Neste mês foi registrado

em quase todos os dias de monitoramento o grupo vizinho vocalizando muito próximo e

até mesmo dentro da área de vida do grupo estudado estimulando o grupo a vocalizar em

resposta (Tabela 5).

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

37

Tabela 5: Número de registros dos comportamentos ao longo dos meses de estudo (n =

3484 registros).

* Tabela sem registros de comportamento não identificado, autocatação e sono.

Comparando os comportamentos entre a estação chuvosa e seca foi constatado que

apenas houve diferença significativa entre as categorias de alimentação e deslocamento

(Tabela 6). Souza-Alves (2010) constatou diferenças em quase todas as categorias exceto

forrageio e vocalização. As categorias de Fontes (2011) também variaram

significativamente com exceção da interação social.

Tabela 6: Valores de z binomial comparando os registros entre as estações chuvosa

(Agosto e Setembro) e seca (Novembro e Dezembro).

Número (% total) de registros para cada estação

Categoria Chuvosa Seca z (p)

Repouso1 277(28,62) 670(32,29) -2,0385(0,042)

Alimentação 285(29,44) 512(24,67) 2,7858(0,005)

Deslocamento 242(25,00) 420(20,24) 2,9635(0,003)

Int. Social 42(4,34) 111(5,35) -1,1881(0,235)

Vocalização 34(3,51) 104(5,01) -1,8517(0,064)

Forrageio 25(2,58) 36(1,73) 1,5539(0,120)

1 Inclui os registros de enroscamento de cauda.

Categorias

Número (% total) de registros coletados para cada mês

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Repouso 143(35,22) 125(25,05) 333(39,78) 317(28,98) 341(34,97)

Alimentação 86(21,18) 199(39,88) 181(21,62) 229(20,93) 283(29,03)

Deslocamento 111(27,34) 131(26,25) 151(18,04) 177(16,18) 243(24,92)

Int. Social 34(8,37) 8(1,60) 99(11,83) 61(25,32) 50(5,13)

Vocalização 23(5,67) 11(2,20) 32(3,82) 66(6,03) 38(3,90)

Forrageio 9(2,22) 16(3,21) 12(1,43) 22(2,01) 14(1,44)

Enr. de cauda 0(0) 9(1,80) 29(3,46) 6(0,55) 6(0,62)

Total* 406 499 837 1094 975

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

38

58,3

26,3

3,4 4,6

0,0

7,4

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

fruto folha flor semente inseto não ind.

reg

istr

os

(%)

4.3 – Comportamento Alimentar

4.3.1. Composição da dieta

Ao todo foram 978 registros de alimentação, dos quais 75 itens (7,4%) não foram

identificados devido a dificuldades de visualização, muitas vezes a vegetação densa e a

altura impediam que o observador conseguisse analisar o tipo de alimento que os animais

estavam ingerindo. Os frutos foram o item mais consumido durante todo o período de

estudo, o que indica uma forte preferência do animal por este alimento. As folhas foram o

segundo alimento mais importante da dieta do grupo, havendo um maior consumo de

folhas jovens do que folhas maduras (86,5% e 13,5% respectivamente). As flores foram o

terceiro alimento mais consumido e os insetos não obtiveram registros (Figura 11).

Figura 11: Percentual dos itens consumidos pelo grupo de C. coimbrai da Mata do Junco.

Ao longo do estudo 21 espécies botânicas foram registradas sendo sete delas ainda

em processo de identificação, fora as espécies que não foram coletadas por dificuldades

encontradas pelo pesquisador (Tabela 7).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

39

Tabela 7: Lista de espécies consumidas pelo grupo de Callicebus coimbrai da Mata do

Junco.

Família Espécie Nome vulgar Hábito Item*

Anarcadiaceae Tapirira guianensisAubl. Pau-pombo Arbóreo Foj

Annonnaceae Xylopia aromática Pindaíba Arbóreo Fr

Apocynaceae Himatanthus sp. 1 Peroba arbóreo Foj

Himatanthus sp. 2 Peroba arbóreo Foj

Araliaceae Didymopanax morototoni

(Aubl.) Decne. & Planch.

Pé-de-galinha arbóreo Fr

Dilleniaceae Davilla kunthiiA.St.-Hil. Cipó caboclo Cipó Fr

Fabaceae sp.01 Favinha arbóreo Fr

Bowdichia

virgilioidesKunth

Sucupira arbóreo Fr

Melastomataceae Micônia sp.1 * arbóreo Fr

Micônia sp.2 * arbóreo Fom

Micônia sp.3 * arbóreo Fr

Nyctaginaceae Guapira noxia(Netto)

Lundell

João-mole arbóreo Foj

Sapotaceae sp.02 Massaranduba arbóreo Bofl/Brf

Polygonaceae Coccoloba striata Cipó bugio Cipó Fr

Simaroubaceae Simarauba versicolor Paraiba arbóreo Fr * Foj = folha jovem; Fr = fruto; Fom = folha madura; Bofl = botão floral; Brf = broto foliar.

Das famílias mencionadas acima que tiveram os maiores registros foram:

Annonaceae, Apocynaceae, Araliaceae, Dilleniaceae e Melastomataceae. Dentre as

espécies identificadas no presente trabalho algumas foram também registradas nos estudos

de Souza-Alves (2010) e Fontes (2011), dentre elas o Pau-pombo (Tapirira guianensis),a

Pindaíba (Xylopia aromática), o Cipó caboclo (Davilla kunthiia)e o João-mole(Guapira

noxia).

4.3.2. Variação Sazonal na Utilização dos Recursos Alimentares

Fruto foi o alimento mais consumido em todos os meses com exceção do mês de

Novembro onde as folhas excederam o registro de frutos (Tabela 8). Os maiores picos de

alimentação por fruto (incluindo sementes), foram nos meses de Agosto e Setembro época

de frutificação de alguns cipós importantes para a dieta do grupo, com destaque para o cipó

caboclo (Davilla kunthii) e o cipó bugio (Coccoloba striata). As flores passaram a entrar

na dieta a partir do mês de Outubro, sendo seu consumo maior no mês de dezembro.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

40

Tabela 8: Número de registros de cada item alimentar por mês.

Número (% total) de registros coletados em cada mês

Item Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Fruto 77(89,53) 153(76,88) 108(59,67) 81(35,37) 152(53,71)

Folha 8(9,30) 11(5,53) 54(29,83) 106(46,29) 80(28,27)

Flor 0(0,00) 0(0,00) 3(1,66) 7(3,06) 27(9,54)

Semente 0(0,00) 23(11,55) 0(0,00) 2(0,87) 11(3,89)

Inseto 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00)

Não identif. 1(1,16) 12(6,03) 16(8,84) 33(14,41) 13(4,59)

Total 86 199 181 229 283

As folhas jovens foram o alimento alternativo mais importante para a dieta dos

guigós. O consumo de folhas jovens dos cipós e das árvores obteve índices quase

similares: 49,1% para cipós e 50,9% para árvores. Diferente do que foi descrito no estudo

de Souza-Alves (2010) onde as folhas jovens dos cipós tiveram mais da metade dos

registros em relação às das árvores. Este alto consumo de folhas jovens de árvores

ligeiramente mais alto do que dos cipós deve-se a presença da espécie Himatanthus sp.,

popularmente conhecida como Peroba, que passou a ser bastante consumida pelo grupo a

partir do mês de Outubro. Comparando as estações todos os itens consumidos variaram

significativamente. Os frutos foram mais consumidos na estação chuvosa, ao contrario das

folhas e flores que tiveram maiores registros na estação seca (Tabela 9).

Tabela 9:Valores de z binomial para a comparação da proporção dos itens consumidos na

estação chuvosa (Agosto e Setembro) e seca (Novembro e Dezembro).

Número (% total) de registros coletados na estação

Item Chuvosa Seca z(p)

Fruto 230(80,70) 233(45,51) 8,2074(0,000)

Folha 19(6,66) 186(36,33) -9,5553(0,000)

Semente 36(10,84) 11(2,18) 5,1099 (0,000)

Flor 0(0,00) 34(6,64) -4,4544(0,000)

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

41

4.4. Uso do Espaço

4.4.1. Área de vida

A área ocupada pelo grupo de estudo, de aproximadamente 8,7 ha, coincide com o

extremo setentrional do RVS Mata do Junco, que engloba as instalações da unidade e uma

estrada de serviço do SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto da cidade de Capela

(Figura 12), e é limitada em dois lados por estradas de acesso a povoados e propriedades

vizinhas. Apesar desta configuração, áreas mais próximas à estrada principal foram entre

as mais visitadas pelo grupo de estudo (Figura 13). De fato, os animais apresentaram uma

tolerância considerável à presença de pessoas, veículos e animais domésticos (exceto

cachorro) nestas áreas. No último mês de monitoramento, a estrada principal passou por

obras, mas os sujeitos passaram boa parte de seu tempo na proximidade da borda

juntamente com a movimentação e barulho das máquinas e trabalhadores.

Figura 12: Linha delimitando a área de vida do grupo de estudo C. coimbrai da Mata do

Junco, município de Capela, Sergipe. (Adaptado de GoogleEarth)

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

42

Figura 13: Diagrama esquemático da área de vida do grupo de estudo, mostrando a

freqüência de visitação em cada quadrante de 50 m x 50 m.

A área de vida do grupo estudado foi ocupada de forma diferente durante os meses

de estudo (Figura 14). Conseqüentemente o tamanho da área usada também variou, entre

4,8 a 6,3 ha. Já o tamanho das áreas utilizadas nas estações chuvosa e seca não teve uma

diferença muito grande variando entre 7 e 7,3 ha. Analisando os valores estatisticamente, o

teste de Kruskal-Wallis confirmou que realmente não houve variação significativa dos

tamanhos das áreas entre as estações (Kruskal-Wallis: H = 2.4000; p = 0,121; g.l.= 1).

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

43

Figura 14: Freqüência de visitação dos quadrantes da área de vida em cada mês de estudo.

Agosto e setembro tiveram as menores áreas utilizadas (4,8 e 5,5 respectivamente)

pelo grupo de estudo. Isso está relacionado a alta disponibilidade de frutos observada

durante as amostragens.

4.4.2. Percurso Diário

O percurso diário do grupo variou entre 1040,3m a 1298m, durante o estudo, com

uma média total de 1212,3m, resultado que está dentro do padrão encontrado para o gênero

(Tabela 10). Como se pode perceber, não houve variação sazonal significativa entre as

estações (Kruskal-Wallis: H= 2.400; p= 0,1213; g.l.= 1).

Um fato interessante que se observou, foi que na estação chuvosa o grupo teve as

menores áreas de vida utilizadas, devido a alta disponibilidade de frutos dentro do sítio, e

os percursos diários não apresentaram grandes variações entre as estações sendo o mês de

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

44

setembro a segunda maior média em percurso diário. Isso significa que os animais estão

utilizando uma menor área na estação chuvosa, mas se movimentando bastante dentro do

sítio, ou seja, os animais podem estar voltando às mesmas árvores para se alimentarem, ao

contrário de explorar novas áreas.

Tabela 10: Média mensal do percurso diário do grupo de estudo de C. coimbrai da Mata

do Junco.

Média mensal do percurso diário (m) e desvio

padrão

Mês Média (m)±Dp

Agosto 1040,3±179,7

Setembro 1275,7±763,4

Outubro 1237,3±578,6

Novembro 1210±259,6

Dezembro 1298±174,9

4.4.3. Sítios de Dormida

Durante o estudo o grupo utilizou cinco árvores de dormida (Figura 15), todas de

diferentes espécies e relativamente altas pelos padrões do habitat local, diferente do que

analisou Souza-Alveset al., (2011), onde os animais utilizaram árvores de mesma espécie

(Tabela 11). Apesar de selecionar um total de cinco árvores diferentes em 28 noites, o

grupo apresenta uma preferência forte pelas árvores 3 e 4 que são localizadas próximas

uma da outra de forma que suas copas se interligam. Foi observado também que cada

árvore de dormida possui um galho específico escolhido pelos guigós para passarem a

noite (Figura 16), todos sempre juntos e com suas caudas enroscadas.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

45

Figura 15: Localização das árvores de dormida na área de vida (linha amarela) do grupo

de C. coimbrai da Mata do Junco. - A.D. 1, - A.D. 2, - A.D. 3 e 4, - A.D. 5.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

46

Tabela 11: Árvores de dormida usadas pelo grupo de estudo e freqüência de utilização.

Figura 16: O grupo de estudo (6 indivíduos) pernoitando na árvore 4. Foto: M. Marques

(Set, 2011).

Árvore

Nome vulgar

Espécie

Família

Altura

No. de noites em

que foi utilizada

1

Louro Cagão

Ocotea

glomerata

(Nees) Mez

Lauraceae

15

1

2

Peroba

Himatanthus

sp.

Apocynaceae

18

3

3

-

Espécie não

identificada

-

18

11

4

Massaranduba

Pouteria

grandiflora(A.

DC.) Baehni

Sapotaceae

18

10

5

Sucupira

Bowdichia

virgilioidesKu

nth

Fabaceae

17

3

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

47

4.4.4. Uso do Espaço Vertical

Em boa parte dos registros (74,13%), os animais foram observados utilizando o

estrato mediano da floresta (Figura 17). Foram poucos os registros abaixo dos cinco metros

sendo todos eles comportamentos de alimentação. Também não foram observados, em

nenhum momento, os animais realizando atividades no chão ao contrário do que observou

Souza-Alves (2010) e Fontes (2011). Como pode se perceber não houve diferença

significante na variação do uso do estrato entre as estações seca e chuvosa (Kruskal-

Wallis: H= 0,0833; p = 0,7728; g.l.= 1) (Figura 18).

Figura 17: Uso do estrato vertical pelos membros do grupo estudado de Callicebus

coimbrai na UC RVS Mata do Junco, Capela, Sergipe.

Figura 18: Comparação do uso do estrato entre as estações seca e chuvosa.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

48

5. DISCUSSÃO

Em geral, o grupo de C. coimbrai monitorado no presente estudo apresentou

padrões de comportamento típicos do gênero Callicebus, sendo caracterizado como um

animal relativamente pouco ativo, frugívoro com tendência para folivoria, que utiliza

preferencialmente o estrato médio da floresta dentro de áreas de vida relativamente

pequenas (Tabela 12). Além do padrão típico do gênero, foi registrado um padrão bem

consistente com os resultados dos estudos anteriores da espécie (Souza-Alves, 2010;

Fontes, 2011; Souza-Alves et al., 2011). Talvez o aspecto mais divergente foi a área de

vida relativamente pequena registrada no presente estudo (Tabela 12), embora esta

divergência poderia ter sido provocada, pelo menos em parte, pelo período reduzido do

presente estudo (cinco meses), especialmente considerando que Fontes (2011) registrou

uma área maior para o mesmo grupo monitorado por Souza-Alves (2010), mas durante um

período bem maior de monitoramento. Ou seja, o tamanho da área de vida parece ser

influenciado pelo período de estudo, o que sugere que o valor registrado no presente estudo

possa ter sido subestimado em 20-30%.

O número de indivíduos do grupo estudado é considerado relativamente grande em

comparação com maioria dos outros estudos inclusive os de Souza-Alvez (2010) e Fontes

(2011). No mês de novembro o indivíduo mais velho da prole dispersou do grupo e neste

mesmo mês a fêmea reprodutora deu luz a gêmeos. O nascimento de gêmeos não é típico

dentro do gênero Callicebus, pois geralmente as fêmeas dão luz a apenas um único

indivíduo (Campbell et al. 2011). Esse pode ser o primeiro registro de gêmeos para o

gênero Callicebus. Mas esse episódio não parece ser inédito para o grupo estudado, pois o

fato de existir dois subadultos de tamanhos semelhantes dentro do grupo, indica que já

houve nascimento de gêmeos anteriormente. Talvez isso explique o porquê do grupo

possuir um número relativamente alto de indivíduos.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

49

Tabela 12: Padrão comportamental para as espécies de Callicebus.

Percentual de tempo gasto em:

Área de

vida (ha)

Duração do

estudo (meses)

Espécie Repouso Alimentação/forrageio

Deslocamento Interação Social Fonte

C. ornatus 48 20 20 11 14 6 Polanco-Ochoa (1993)

C. lugens 54 18 23 5 22 12 Palacios et al. (1997)

C. lucifer 63

16

16

5

18 14 Easley (1982)

C. personatus 62 21 15 2 5 2 Kinzey & Becker (1983)

C. melanochir 40 27 32 1 24 11 Müller (1995, 1996a)

C. nigrifrons 35 26 33 6 - 12 Souza et al. (1996)

29 40 25 6 48 5 Neri (1997)

C. coimbrai 47 26 18 8 11,7 6 Souza-Alves (2010)

C. coimbrai 34 33 25 7 13,5 11 Fontes (2011)

C. coimbrai 37 31 24 7 8,7 5 Presente estudo

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

50

As vocalizações de território foram mais freqüentes no período da manhã,

muitas vezes estimuladas por vocalizações de grupos vizinhos, em outros estudos de

Callicebus também foi encontrado o mesmo padrão (Kinzey & Becker, 1983; Prince &

Piedade, 2001b; Souza-Alves, 2010; Fontes, 2011).

Algumas atividades variaram sazonalmente como a alimentação e o

deslocamento, estas duas categorias também variaram nos estudos de Souza-Alves

(2010) e Fontes (2011). Estes dois comportamentos apareceram em maiores proporções

na estação chuvosa,provavelmente devido a uma maior disponibilidade de frutos

fazendo com que os animais se deslocassem em busca destas fontes e conseqüentemente

repousassem menos. Ao contrario da estação chuvosa a estação seca teve uma

diminuição na alimentação e no deslocamento e um ligeiro aumento no repouso. Isso

mostra que os animais escolheram, nesta estação, minimizar o gasto energético, visto

que seu alimento mais importante energeticamente, os frutos, provavelmente estão

disponíveis em menores quantidades.

A dieta do grupo estudado consistiu de frutos, folhas (jovens e maduras), flores e

sementes, não havendo consumo de presas animais (insetos). Os frutos (juntamente com

as sementes) foram o item mais consumido em quase todos os meses de estudo, isso

reforça o padrão frugívoro do gênero. As folhas foram o segundo item mais registrado e

por ultimo aparecem as flores. Na maioria das espécies estudadas de Callicebus, as

folhas aparecem como recurso complementar na dieta, as flores e insetos geralmente

possuem pequenos registros, com exceção do estudo de Neri (1997) com C. nigrifrons,

no qual as flores foram o segundo item mais consumido pelos animais (Tabela 13).

As folhas jovens foram o item preferido na complementação da dieta de C.

coimbrai do presente estudo. Souza-Alvez et al., (2011) também identificou essa

preferência e ainda verificou que as folhas jovens oriundas de cipós foram as mais

ingeridas. O autor considerou isso um fator chave na tolerância a fragmentação de

habitat. No presente estudo também ocorreu uma preferência por folhas jovens, mas

neste caso, as folhas jovens dos cipós e das árvores foram consumidas quase que

igualmente. Isso devido a duas espécies de árvores Himatanthus sp1 e Himatanthus sp2,

as quais os animais consumiram bastante no período seco. Por sinal, estas duas espécies

não ocorreram nos estudos deSouza-Alvez et al., (2011). Apesar de os sítios de estudo

da Trapsa e da Mata do Junco terem tamanhos diferentes e uma provável estrutura de

habitat também diferentes, acredita-se ainda que o fator chave para a tolerância a

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

51

fragmentação seja a alta exploração de folhas jovens, no caso do presente estudo, folhas

jovens tanto oriunda das árvores como dos cipós.

A exploração de sementes parece ser dependente do sítio em que os animais

vivem, mais do que uma característica da espécie. Alguns autores citaram que espécies

Amazônicas possuem uma maior tendência para o consumo de sementes (Kinzey, 1977;

Palacios et al., 1997; Palacios & Rodriguez, no prelo), mas altas taxas foram

registradas para C. melanochir (Muller, 1996a; Heiduck, 1997), espécie vizinha do C.

coimbrai. Apesar dos valores baixos registrados para C. coimbrai, pode existir uma

tendência para o maior consumo de sementes pelos Callicebus nordestinos em

comparação com as populações do Sudeste. Já o consumo de insetos parece ocorrer ao

acaso, pois irá depender da disponibilidade de fontes lucrativas, como no caso do

registro que ocorreu com o C. coimbrai da fazenda Trapsa (Souza-Alves, 2010; Fontes,

2011), no qual os animais se deparam com larvas lepidópteras dispostas em uma árvore.

Tabela 13: Composição da dieta em diferentes espécies do gênero Callicebus.

Percentual de itens consumidos

Espécie Fruto Folha Flor Inseto Semente Fonte

C. ornatus 81 8 2 9 - Polanco (1992)

apud Defler (2004)

C. brunneus 54 28 2 17 - Wright (1985)

50 39 - 11 - Crandlemire-Sacco

(1988)

C. lugens 59 6 4 3 27 Palacios et al.

(1997)

34 10 3 4 48 Palacios &

Rodriguez (no

prelo)

C. lucifer 30 13 - 14 37

Kinzey (1977)

74 9 <1 16 - Easley (1982)

C.

personatus

55

18

22

-

-

Price & Piedade

(2001a)

57 26 2 - - Price & Piedade

(2001a)

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

52

Percentual de itens consumidos

Espécie Fruto Folha Flor Inseto Semente Fonte

81 18 1 - - Kinzey & Becker

(1983)

C.

melanochir

43 17 - - 34

Müller (1996a)

59

14 <1 <1 26 Heiduck (1997)

C. nigrifrons 46 33 11 10 -

Souza et al. (1996)

64 5 24 3 - Neri (1997)

C. coimbrai 55 19 2 5 8 Souza-Alves

(2010)

C. coimbrai 66 26 7 1 8 Fontes (2011)

C. coimbrai 58 26 3 - 5 Presente estudo

A composição da dieta variou entre as estações. Os frutos foram o item mais

consumido nas duas estações, sendo que constituíram mais da metade dos registros na

estação chuvosa. Já as folhas e as flores tiveram seus maiores índices na estação seca e

as sementes, assim como os frutos, na estação chuvosa. O mesmo padrão pode ser

observado nos estudos de C. coimbrai (Souza-Alves, 2010; Fontes, 2011), apenas

ocorrendo diferenças na quantidade ingerida de cada item e também na ausência da

ingestão de presas animais (insetos).

A variação sazonal na composição da dieta influenciou na utilização do espaço

pelos guigós, pois percebeu-se que os animais usaram uma menor área na estação

chuvosa (agosto e setembro), isso está relacionado com uma maior disponibilidadede

frutos observada durante as amostragens nesta estação. Os meses secos (novembro e

dezembro) tiveram as maiores áreas, mostrando que os guigós utilizaram outras áreas a

procura de fontes alternativas de alimento em decorrência da escassez do seu recurso

alimentar preferido.

As fontes de alimentação geralmente ocorrem nos estratos mediano da floresta.

Os guigós estudados utilizaram, na maior parte do tempo, justamente os estratos

medianos. O mesmo foi observado nos estudos de Müller (1996), Neri (1997), Souza-

Alves (2010) e Fontes (2011). Os estratos abaixo de cinco metros e acima de 16 metros

tiveram baixos índices e não houve em nenhum momento registro de animais no chão.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

53

Algumas espécies de plantas identificadas no presente estudo também ocorreram

nos estudos de C. coimbrai da fazenda Trapsa (Souza-Alves, 2010; Fontes, 2011).

Dentre elas a Tapirira guianensis, Xylopia aromática,Davilla kunthii, Guapira

noxiaeCoccoloba striata.Das espécies registradas as mais consumidas pelos guigó do

presente estudo foram a Miconia sp.1, a Himatanthussp.2 e a Davilla kunthii.Nenhuma

destas três espécies apareceram como mais importantes nos estudos deSouza-Alves

(2010) e Fontes (2011) duas delas inclusive não obtiveram nenhum registro.

Comparando com outros estudos de Callicebus, principalmente o C. coimbrai da

fazenda Trapsa no sul de Serpipe, a área de vida dos guigós da Mata do Junco (presente

estudo) se apresentou relativamente pequena, apesar de estar localizada dentro de uma

área de floresta contínua (Tabela 12). Alguns fatores podem ter influenciado esse

pequeno tamanho, como a presença de grupos residentes e o comportamento

territorialista destes animais, já que a densidade das populações de C. coimbrai da Mata

do Junco é maior do que, por exemplo, a da fazenda Trapsa. Essa maior densidade no

Junco pode ser explicada por um maior número de habitats apresentando condições

favoráveis a sobrevivência da espécie, ou seja, ambientes com bom estado de

conservação. Vale também ressaltar que esta área pode vir a ser maior em decorrência

de uma maior duração do estudo como ocorreu com Souza-Alves (2010) e Fontes

(2011) que estudaram o mesmo grupo, sendo o último com maior duração e

conseqüentemente uma maior área de vida registrada. Alguns estudos registraram áreas

de vida menores do que a do presente estudo, por exemplo, Bilbao et al. (2005)

registraram uma área de 3,3 ha para C. discolor em floresta continua no Equador e

Kinzey & Becker (1983) uma de 5 ha para C. personatus no Brasil (embora este estudo

tenha durado apenas dois meses).

Os guigós do presente estudo dividem sua área de vida com cerca de três grupos

de sagüis (Callithrix jacchus). Quanto as presença destes indivíduos, os guigós não se

mostraram incomodados. Durante quase todos os dias de monitoramento ocorreram

encontros entre as duas espécies e um registro de interação social, na maioria das vezes

os encontros ocorreram de maneira rápida.

O encontro entre estas duas espécies pode ser considerado um comportamento

de associação. A associação entre espécies de primatas simpátricos e com habitats

similares já foi documentada para diversas espécies (Waser, 1987; Heymann, 1990;

Lopes & Ferrari, 1994). Estas associações podem trazer benefício, em alguns casos,

parece trazer benefícios mútuos e em outros casos unidirecionais.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

54

Segundo Waser (1987) nas associações podem ser observadas diversas

interações como: esquiva, aproximações, expulsões, forrageamento catação,

brincadeiras e até mesmo acasalamentos. Essas associações podem ser breves, porem

freqüentes, ou permanentes.

Terborgh (1983) identificou uma forte associação entre Saguinos imperator e

Saguinos fisicollis onde os animais realizavam suas atividades juntos. No caso do

presente estudo os encontros entre Callicebus coimbrai e Callithrix jacchuseram

caracterizados pela passagem dos sagüis junto ao grupo de guigós ou vice versa, até

mesmo ocorrendo viagens juntos por um curto espaço de tempo.

Existem vários estudos que mostram a associação entre primatas de diferentes

espécies que dividem o mesmo território. No caso dos guigós e dos sagüis, essa relação

entre estas duas espécies pode ser chamada de associação. Percebeu-se que os sagüis

são muito mais ativos que os guigós, talvez por esse motivo os encontros não sejam

muito demorados.

Nos estudos de Souza-Alves (2010) e Fontes (2011) os encontros com os sagüis

não foram tão freqüentes quanto o presente estudo, pelo fato desta área possuir poucas

populações de Callithrix jacchus (Chagas, 2009). Segundo Chagas (2009) a presença de

C. coimbrai no fragmento poderia ser um dos fatores que influenciaria no baixo numero

de populações de sagüis. Isso contraria o que ocorre na Mata do Junco onde se observa

um bom numero de populações de sagüis convivendo diariamente com os guigós.

O percurso diário do grupo estudado está dentro do padrão para o gênero, sendo

um dos maiores percursos registrados para as espécies de Callicebus já estudadas

(Tabela 14).Esses altos números registrados pode ter sido influenciado pela metodologia

utilizada no estudo, como no caso o uso do GPS. A maioria dos estudos anteriores não

utilizaram métodos confiáveis o que pode ter subestimado os resultados no final. A

estação chuvosa apresentou as menores áreas utilizadas e os percursos diários tiveram

uma pequena diferença entre as estações, isso significa que os animais podem estar

utilizando as mesmas áreas, ao invés de explorar novas áreas. Isso pode ser verificado

através da plotagem dos pontos do GPS no programa Trackmaker, onde pode se

observar a trajetória feita pelos animais em cada dia de monitoramento e observou-se

trajetórias não lineares na estação chuvosa, onde os pontos se repetem muitas vezes

numa mesma área.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

55

Tabela 14: Média dos percursos diários para espécies de Callicebus.

Espécie Média do percurso diário (km) Fonte

C. ornatos 0,85 Polanco-Ochoa (1993)

C. brunneus 0,641

Wright (1985, 1986)

C. lucifer 0,68 Kinzey (1977), Kinzey et al. (1977)

0,82 Easley (1982)

C. torquatus 0,80 Kinzey (1981)

C. personatus 1,00 Price & Piedade (2001a)

0,69 Kinzey & Becker (1983)

C. melanochir 1,00 Müller (1995, 1996a), Müller &

Pissinatti (1995)

C. nigrifrons 1,27 Neri (1997)

C. coimbrai 1,21 Presente estudo

1Médiapara dois grupos de estudo.

O número de árvores de dormida ao longo do período de estudo é semelhante ao

apresentado porSouza-Alves et al. (2011) e Heiduck (2002). Um fato interessante é que

os guigós costumavam repetir a mesma árvore por várias noites consecutivas, o mesmo

ocorreu nos estudos de Souza-Alves et al. (2011). Geralmente espécies de pequenos

primatas platirríneos (Ferrari &Lopes, 1990; Heymann 1995; Smith etal,.2007) tendem

a apresentar um grande numero de sítios de dormida e não costumam repetir a mesma

árvore utilizada na noite anterior. Esse comportamento é considerado uma estratégia

para evitar uma provável predação no sítio de dormida (Heymann 1995; Zhang 1995; Di

Bitetti et al. 2000).Isso não ocorreu com os indivíduos do presente estudo e o de Souza-

Alves et al. (2011) que concluíram que o padrão de seleção e uso de sítios de dormida

foi determinado principalmente pela ameaça de predação pelas populações locais de

Cebus xanthosternos. No entanto, no presente estudo, não se observou nenhuma ameaça

de predação, o que não quer dizer que não exista, mas se existir, as ameaças podem ser

relativamente baixas o que faz com que os animais não precisem usar de

comportamentos estratégicos, como no caso da repetição das mesmas árvores de

dormida em noites consecutivas.

Sabe-se que a principal ameaça as populações de C. coimbrai é a perda continua

de habitat através da destruição das florestas em que habitam. Para que haja manutenção

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

56

da espécie, medidas precisarão ser tomadas, como por exemplo, a implementação de

reservas protegidas (como é o caso da UC Mata do Junco), a aplicação de estratégias de

manejo metapopulacional, como translocação ou reintrodução e a aplicação de

corredores ecológicos interligando fragmentos florestais.

Para a implementação dessas medidas é preciso que haja a realização de estudos

ecológicos e comportamentais a fim de conhecer melhor a espécie e para que ela seja

manejada da forma correta. Com por exemplo, a partir dos estudos de C. coimbrai,

sabe-se que estes animais funcionam como um importante dispersor de sementes. Eles

são verdadeiros “jardineiros” das florestas, contribuindo para a regeneração de hábitats.

O estudo também reforçou, de forma geral, o que outros autores já tinham confirmado,

que é a habilidade que a espécie tem de sobreviver em habitats impactados sendo as

diferenças entre os grupos determinada principalmente por fatores locais, como por

exemplo, a composição da floresta e da comunidade de primatas. Sabe-se que estes

primatas conseguem sobreviver em ambientes impactados, mas não se sabe se a espécie

conseguirá se manter nessas mesma condições a longo prazo.

O presente estudo também forneceu dados a cerca das espécies de plantas que

fazem parte da dieta desses animais. Essa informação é de grande importância para o

planejamento de corredores ecológicos que poderão utilizar justamente as espécies que

foram identificadas na área de vida do grupo estudado.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

57

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco é um dos maiores remanescentes de

Mata Atlântica do Estado de Sergipe sendo uma área de grande importância em termos

de conservação de ecossistemas. É formado por vários fragmentos de mata

remanescentes em diferentes estágios de regeneração (Santos, 2009), visto que já sofreu

forte pressão antrópica.

Avaliando os resultados do presente estudo, verificou-se que o grupo de estudo

de C. coimbrai apresentou um padrão comportamental e dieta típicos do gênero (e da

espécie), sendo caracterizado como um animal pouco ativo, frugívoro/folívoro, que

utiliza áreas pequenas de floresta. Frente à variação sazonal na disponibilidade de

recursos, o grupo se adaptou, principalmente por meio da substituição sistemática de

recursos preferenciais (frutos) por alternativos, principalmente folhas. O aumento na

proporção de folhas na dieta foi acompanhado por um aumento no tempo gasto em

repouso, sugerindo uma redução de atividade em resposta a uma dieta de menor

qualidade energética, e a possível adoção de uma estratégia de forrageio minimizador de

tempo.

De um modo geral os estudos de C. coimbrai da fazenda Trapsa e da Mata do

Junco apresentaram resultados bem parecidos, como a questão do padrão de atividades,

a composição da dieta e o número de sítios de dormida. Algumas diferenças foram

notadas como a presença de infantes gêmeos no grupo e também um número alto de

indivíduos compondo o grupo da Mata do Junco.

Com as informações sobre o comportamento da espécie e principalmente do que

estes animais se alimentam, poderão ser implementadas medidas que ajudarão na

conservação da espécie como a aplicação de corredores ecológicos e a reintrodução ou

translocação das espécies. A UC RVS Mata do Junco é formada por vários fragmentos,

a partir dos estudos de grupos de C. coimbrai locais, as espécies de plantas

identificadas, que fazem parte da dieta desta espécie, poderão ser utilizadas na

restauração destas áreas degradadas a fim de interligar os fragmentos da Mata do Junco

O presente estudo então contribuiu para a base de dados da espécie C. coimbrai.

Mas apesar dos avanços no conhecimento da espécie, ainda se faz necessário estudos

contínuos com o mesmo grupo que já está em andamento (R. Chagas com. Pess.) e até

mesmo com outros grupos, para uma caracterização mais confiável sobre a ecologia da

espécie.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

58

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Altmann, J. Observational study of behavior: sampling methods.Behaviour, 49: 227-

267, 1974.

Arruda, M. B.; Nogueira de Sá, L.F.S.; (organizadores) Corredores Ecológicos: uma

abordagem integradora de ecossistemas no Brasil. Brasília. Ibama, 220p, 2004.

Ayres, M.; Ayres Jr., M.; Ayres D. L.; Santos, A. S. BioEstat 3.0: aplicações estatísticas

nas áreas das ciências bio-médicas. Belem, PA: Sociedade Civil Mamirauá. 2003.

Beltrão-Mendes, R. Caracterização da estrutura de hábitat ao longo de um gradiente

ambientale análise de sua influência na distribuição das espécies ameaçadas de

guigós (Callicebus spp.) do nordeste brasileiro. São Cristóvão – SE: Ecologia e

Conservação, Universidade Federal de Sergipe (UFS), 2010. Dissertação de

Mestrado.

BDGEOPRIM 2002. BDGEOPRIM Database of Georreferenced Occurrence Localities

of Neotropical Primates. (Banco de Dados Georreferenciado das Localidades

deOcorrência de Primatas

Neotropicais).www.icb.ufmg.br/zoo/primatas/callicebus_map.htm. Acessado em: 19

de Março de 2010

Bicca-Marques, J. C. & Heymann, E. W. (no prelo). Ecology and Behaviour of titi

monkey (genus Callicebus). In: Evolutionary Biology and Conservation of Titis,

Sakis, and Uacaris, A. Barnett, L. M. Veiga, S. F. Ferrari & M. Norconk (eds.).

Cambridge: Cambridge University Press.

Brasil. Lei Federal n° 11428, de 22 de dezembro de 2006.

Brasil. Decreto n° 6660, de 21 de dezembro de 2008.

Caselli, C. B., Setz E. Z. F. Feeding ecology and activity pattern of black-fronted titi

monkeys(Callicebus nigrifrons) in a semideciduous tropical forestof southern

Brazil. Primates 52: 351-359, 2011.

Chagas, R. R. D. Levantamento das populações de Callicebus coimbrai Kobayashi e

Langguth, 1999 em fragmentos de Mata Atlântica no sul do estado de Sergipe,

Brasil. São Cristovão, SE: Universidade Federal de Sergipe, (UFS), 2009. 64p.

Dissertação de Mestrado.

Coimbra-Filho, A. F. & Câmara, I. G. Os limites originais do bioma Mata Atlântica na

região nordeste do Brasil. Fundação Brasileira para a Conservação daNatureza,

Brasil, 1996.

Crandlemire-Sacco, J. An ecological comparison of two sympatric primates Saguinus

fuscicollis and Callicebus moloch of Amazonian Peru. Primates, 29, 465-475, 1988.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

59

Cullen Junior, L.; Padua, C. V. Métodos para estudos de ecologia, manejo e

conservação de primatas na natureza. Claudio Valladares Padua; Richard Ernest

Bodmer; Laury Cullen Junior. (Org.). Manejo e Conservação de Vida Silvestre no

Brasil. 1 ed. Belém: Sociedade Civil Mamirauá, CNPq, MCT, v. 1, p. 239-269, 1997

Campbell, C. J.; Fuentes, A.; Mackinnon, K. C.; Panger, M.; Bearder, S. K. (eds.)

Primates in Perspective. Oxford University Press, New York, 2007.

Da Rocha, J. C. A. G. Distribuição e Densidade de Populações de Callicebus coimbrai

Kobayashi & Langguth 1999, na Região do Refúgio de Vida Silvestre Mata do

Junco, Sergipe. São Cristóvão – SE: Ecologia e Conservação, Universidade Federal

de Sergipe (UFS), 2011. Dissertação de Mestrado.

Dawson, G.A. The use of times and space by the Panamanian tamarin,

Saguinusoedipus.Folia Primatology, Switzerland, 31: p.253 -284, 1979.

Dean, W. With broadax and firebrand: The destruction of the Brazilian Atlantic

Forest.University of California Press, Berkeley, 460p, 1997.

Easley, S. P. Ecology and behavior of Callicebustorquatus, Cebidae,

Primates.Unpublished Ph.D. thesis, Washington University, 1982.

Fleagle, J. G. Primate Adaptation and Evolution. 2ª ed. Academic Press: San Diego,

596 p, 1999.

Ferrari S. F., Lopes M. A. Predator avoidance behaviour in thebuffy-headed marmoset,

Callithrix flaviceps. Primates31:323–338, 1990.

Ferrari, S. F., Iwanaga, S.; Messias, M. R.; Ramos, E. M.; Ramos, P.C. S.; Cruz Neto,

E.H.; Coutinho, P.E.G. Titi monkeys (Callicebus spp., Atelidae: Plathyrrini) in the

Brazilian State of Rondônia.Primates, 41(2): p.229-234, 2000.

Ferrari, S. F.Parque Nacional Serra de Itabaiana – o futuro. C.M. Carvalho & J.C. Vilar

(eds.) Parque Nacional Serra de Itabaiana - Levantamento da Biota. IBAMA e

Biologia Geral e Experimental – UFS, Aracaju, p. 121-131, 2005.

Fontes, I. P. Variação de curto e longo prazo na ecologia de Callicebus coimbrai

Kobayashi e Langguth 1999: Implicações para a conservação de populações na

paisagem fragmentada da Mata Atlântica de Sergipe. São Cristóvão, SE:

Universidade Federal de Sergipe, (UFS), 2011. Dissertação de Mestrado.

Fundação SOS Mata Atlântica & INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e ecossistemas associados no

período de 2005–2008.Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, São Paulo, 2009.

Galindo-Leal, C. &I.G. Câmara.Atlantic forest hotspots status: an overview.in C.

Galindo-Leal & I.G. Câmara (eds.).The Atlantic Forest of South America:

biodiversity status,threats, and outlook. pp. 3-11. Center for Applied

BiodiversityScience e Island Press, Washington, D.C, 2003.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

60

Guimarães, M. A. de B. V. Reprodução de primatas não-humanos.Rev. Bras Reprod

Anim, Belo Horizonte, v.31, n.3, p.339-343, 2007.

Hartwig, W. Primate Evolution. In: Campbell, C. J.; Fuents, A.; MacKinnon, K.

C.; Panger, M. & Bearder, S. K. (eds.). Primates in Perspective.Oxford

University Press, 2007.

Heiduck, S.Food choice in masked titi monkeys (Callicebus personatus melanochir):

Selectivity or opportunism? International Journal of Primatology, 18, 487-502,

1997.

Heiduck, S.The use of disturbed and undisturbed forest by masked titi monkey

Callicebus personatus melanochir is proportional to food availability.Oryx, 36:133-

139, 2002.

Hershkovitz P., Titis, New World monkeys of the genus Callicebus (Cebidae,

Platyrrhini): a preliminary review. Field. Zool., New Series, 55: p. 1-109, 1990.

Heymann E. W. Interespecific relations in a mixed species troop of moustached

tamarins, Saguinus mystax, and saddle back tamarins, Saguinus fuscicolis

(Platyrrini: Callithrichidae), at Rio Blanco, Peruvian Amazonia. American Journal

of Primatology 21, 115-127, 1990.

Heymann E. W. Sleeping habits of tamarins, Saguinus mystaxand Saguinus

fuscicollis(Mammalia; Primates; Callitrichidae),in north-eastern Peru. J Zool

237:211–226, 1995.

IUCN.Red List of Threatened Species. IUCN, Gland, Suíça. http://www.redlist.org.

Agosto. 2011.

Jerusalinsky, L., M.M. Oliveira, R.F. Pereira, V. Santana, P.C.R. Bastos & S.F. Ferrari.

Preliminary evaluation of the conservation status of Callicebus coimbrai Kobayashi

& Langguth, 1999 in the Brazilian state of Sergipe. Primate Conservation, 21: p.25-

32, 2006.

Kappeler, P. M.& Heymann, E. W. Nonconvergence in the evolution of primate life

history and socioecology. Biol. J. Linn. Soc. 59: p.297–326, 1996.

Kinzey, W. G. Feedingbehavior and molar features in two species of titi monkey.

Chivers, D. J., and Herbert, J. (eds.), Recent Advances in Primatology, vol. 1.

Academic press, London, pp. 373-385, 1978.

Kinzey, W. G. The titi monkey, genus Callicebus. Ecology and Behavior of Neotropical

Primates Coimra-Filho, A.F. & Mittermeier, R.A. (eds.),pp. 241-276,Academia

Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, 1981.

Kinzey, W. G. New World Primates: Ecology, Evolution and Behaviour. New York,

Aldine de Gruyter, p.440, 1997.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

61

Kinzey, W.G. & Becker, M. Activity pattern of the masked titi monkey, Callicebus

personatus. Primates, 24(3): p.337-343, 1983.

Kobayashi, S e Langguth, A new species of titi monkey in northeast Brazil. Neotropical

Primates, 7(3): p.88-89, 1999.

Lopes M. A. & Ferrari S. F. Forraging behavior of a tamarin group (Saguinus fuscicollis

weddelli) and interactions with marmosets (Callithrix emiliae). International Journal

of Primatology, 15(3): 373-387, 1994.

Myers, N., Mittermeier, R. A.; Mittermeier, C. G.; Fonseca G. A. B. & Kent, J.

Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, 403: 853-845, 2000.

Mittermeier, R. A.; Myers, N.; Gil, P. R e Mittermeier, C G., “hotspots”: Earth’s

Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecoregions.Cemex and

Conservation International.CEMEX S.A Mexico, p.431, 1999.

Müller, K.-H. Ranging in masked titi monkeys (Callicebus personatus) in Brazil. Folia

Primatologica,65, 224-228, 1995.

Müller, K.H. & Pissinati, A Ecology and feeding behavior of masked titi monkeys.

Neotropical Primates, 3 (2): p.51-52, 1995.

Müller, K. H. Diet and feeding ecology of masked titis (Callicebus

personatus).Adaptive Radiations of Neotropical Primates, ed. M. A. Norconk,

Rosenberger A. L. & Garber P. A.New York: Plenum Press, pp. 383-401, 1996a.

Neri, F. M. Manejo de Callicebus personatus, Geoffroy 1812, resgatados: Uma

tentativa de reintrodução e estudos ecológicos de um grupo silvestre na Reserva do

Patrimônio Natural Galheiro - Minas Gerais. Universidade Federal de Minas Gerais,

1997, Dissertação de Mestrado.

Oliveira, M.M. & A. Langguth. Rediscovery of Marcgrave’s capuchin monkey and

designation of a neotype for Simia flavia Schreber, 1774 (Primates, Cebidae).

Boletim do Museu Nacional, 523: p.1 -16, 2006.

Palacios, E., Rodriguez, A., Defler, T.R.,Diet of group of Callicebus torquatus lugens

(Humboldt, 1812) during the annual resource bottleneck in Amazonian Colombia.

International Journal of Primatology, 18: p.503-522, 1997.

Palacios, E. & Rodriguez, A. A. (no prelo). Seed eating by Callicebus lugens at Caparú

Biological Station, on the lower Apaporis river, Colombian Amazonia. In

Evolutionary Biology and Conservation of Titis, Sakis, and Uacaris, ed. A. Barnett,

L. M. Veiga, S. F. Ferrari & M. Norconk. Cambridge: Cambridge University Press.

Polanco-Ochoa, R. Use of space by Callicebus cupreus ornatus (Primates: Cebidae) in

Macarena, Colombia. Field Studies of New World Monkeys, La Macarena,

Colombia, 8, 19-31, 1993.

Primack, R. & Rodrigues, E. Biologia da Conservação. Editora Planta, Londrina, 2001.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

62

Price, E. C. & Piedade, H. M. Diet of northern masked titi monkeys (Callicebus

personatus). Folia Primatologica, 72, 335-338, 2001a.

Price, E. C. & Piedade, H. M.Ranging behavior and intraspecific relationships of

masked titi monkeys (Callicebus personatus personatus). American Journal of

Primatology, 53, 87-92, 2001b.

Printes, R. C. Novos registros sobre a distribuição do guigó da caatinga Callicebus

barbarabrownae (Hershkovitz, 1990) e novo limite sul de Callicebus coimbrai

(Kobayashi & Langguth, 1999). Livro de Resumos do XI Congresso Brasileiro de

Primatologia, p.154, 2005.

Printes, R. C. Avaliação taxonômica, distribuição e status do guigó-da-Caatinga

Callicebus barbarabrownae Hershkovitz, 1990 (Primates: Pitheciidae). Ph.D.

Thesis, Instituto deCiências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais,

2007.

Rylands, A. B.; Schneider, H.; Langguth, A.; Mittermeier, R. A.; Groves, C. P.

&Rodriguez-Luna, E. An assessment of the diversity of New World

primates.Neotropical Primates, 8 (2), 61-93, 2000.

Rímoli, J. Ecologia de Macacos-Prego (Cebus apella nigritus Goldfus, 1809) na

Estação Biológica de Caratinga (MG): Implicações para a Conservação de

Fragmentos de Mata Atlântica. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Pará-

Belém. p. 187, 2001.

Rocha, C. F. D. O Declínio das Populações Animais, a degradação de habitats e as

prioridades de conservação: espécies ou habitats? A Fauna Ameaçada de Extinção

do Estado do Rio de Janeiro.Bergallo, H. G; Rocha, C. F. D.; Alves, M. A. S. &

Sluys, M. V. (orgs.) Edit. Da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ. p.17-

21, 2000.

Santos, A. L. C.Diagnóstico dos fragmentos de mata atlântica de Sergipe através de

sensoriamento remoto. São Cristovão, SE: Universidade Federal de Sergipe, (UFS),

2009. 73p. Dissertação de Mestrado.

Santos Jr., E. M. Mapeamento e caracterização dos fragmentos florestais da Bacia do

Baixo rio São Francisco em Sergipe e suas implicações para conservação de guigós

(Callicebus spp.). São Cristóvão, SE: Universidade Federal de Sergipe (UFS), 2010.

Dissertação de Mestrado.

SEMAHR/ SE (Secretaria do Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos).

Disponível em:

<http://www.semarh.se.gov.br/biodiversidade/modules/tinyd0/index.php?id=11>

Acesso em: 10.nov.2011.

Setz, E. Z. F. Métodos de quantificação de comportamento de primatas em estudos de

campo.A Primatologia no Brasil, Vol. 3. p.411-435, 1991.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

63

Siqueira, E. R. & Ribeiro F. E.A Mata Atlântica de Sergipe.Embrapa Tabuleiros

Costeiros, Aracaju. 2001.

Smith, A. C.; Knogge, C.; Huck, M.; Lo¨ttker, P.; Buchanan-Smith, H. M.; Heymann,

E. W. Long-term patterns of sleeping sites inwild saddleback (Saguinus fuscicollis)

and mustached tamarins(S. mystax): effects of foraging, thermoregulation, predation,

andresource defense constraints. Am J Phys Anthropol 134:340–353, 2007.

Soares, N. M.; Santos Jr., E. M.; Beltrão-Mendes, R., Ferrari, S. T. Avaliação

preliminar de uso de habitat e reações ao playbackem Callicebus coimbrai

Kobayashi & Langguth, 1999 e Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) no Refúgio de

Vida Silvestre Mata do Junco, Sergipe. A Primatologia no Brasil. Vol. 12, 2011.

Souza, S. B., Martins, M. M. & Setz, E. Z. F.Activity pattern and feeding ecology of

sympatric masked titi monkeys and buffy tufted-ear marmosets.Abstracts of the

XVICongress of the International Primatological Society/XIX Conference of the

American Society of Primatologists, abstract 155, 1996.

Souza-Alves, J. P. & Ferrari, S. F. Processo de habituação de guigós silvestres

(Callicebus coimbraiKobayashi & Langguth, 1999) no sul de Sergipe, Brasil. Livro

de Resumos do V Encontro de Pós-graduação.p.228, 2009.

Souza-Alves, J. P. Ecologia alimentar de Callicebus coimbraiKobayashi & Langguth,

1999 no Sul de Sergipe, Brasil: definindo parâmetros para o desenvolvimento de

estratégias de conservação e manejo. São Cristovão, SE: Universidade Federal de

Sergipe, (UFS), 2010. Dissertação de Mestrado.

Souza-Alves J. P., Fontes I. P. & Ferrari S. T. Use of sleeping sites by a titi group

(Callicebus coimbrai) in the Brazilian Atlantic Forest. Primates 52:155–161, 2011.

Souza-Alves, J. P.; Fontes, I. P.; Chagas, R. R. D.; Ferrari, S. F. Seasonal Versatility in

the Feeding Ecology of a Group of Titis (Callicebus coimbrai) in the Northern

Brazilian Atlantic Forest. A merican Journal of Primatology, 73: 1199-1209, 2011.

Sousa, M.C. New localities for Coimbra-Filho´s titi monkey, Callicebus coimbrai, in

North-east Brazil. Neotrop. Primates,8: 151, 2000.

Sousa, M. C. Distribuição do guigó (Callicebus coimbrai) no Estado de Sergipe.

Neotropical Primates,11: p.89-91, 2003.

Sousa, M. C.; Santos, S. S.; Distribuição e variação na pelagem de Callicebus coimbrai

(Primates, Pitheciidae) nos estados de Sergipe e Bahia, Brasil. Neotropical Primates,

15(2): p.54-59, 2008.

Struhsaker, T. T. Conelates of ranging behavior in a group of read Colobus

badiostephrosceles. The American Zoologist 14: p.177-184, 1974.

Tabarelli, M.; Mantovani, W.; Peres, C.A.; Effects of habitat fragmentation on plant

guild structure in the montane Atlantic forest of southeastern Brazil. Biological

Conservation 91p.119-127, 1999.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSERVAÇÃO …

64

Tabarelli, M. & Gascon, G. Lições da pesquisa sobre fragmentação: aperfeiçoando

políticas e diretrizes de manejo para a conservação da biodiversidade.

Megadiversidade, v. 1 (1) p.181-188, 2005.

Tabarelli, M., Pinto, L. P., Silva, J. M. C., & Costa, C. M. R. Espécies ameaçadas

eplanejamento da conservação. Galindo-Leal, C. e Câmara, I. G. editores. Mata

Atlântica: Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas.Fundação SOS Mata Atlântica,

Conservação Internacional, Belo Horizonte. 2005.

Terborgh, J. Five New World primates: a study in comparative ecology. Princeton

University Press, Princeton, New Jersey. 260 p., 1983.

Terborgh, J. Keystone plant resources in the Tropical Forest. In: Soulé, M. (ed.)

Conservation Biology: the Science of Scarcity and Diversity. Sinauer Associates,

Sunderland Mass. p. 330-334, 1986.

Trevelin, L.C., Port-Carvalho, M., Silveira, M. & Morell, E. (submetido). Abundance,

habitat use and diet of Callicebus nigrifrons É. Geoffroy (Primates, Pitheciidae) in

Cantareira State Park, São Paulo, Brazil.

Vallegia, C. R., Mendonza, S. P., Fernadez-Duque, E., Mason, W. A. & Lasley, B.

Reproductive biology os female titi monkeys (Callicebus moloch) in capitivity.

American Jornal of Primatology 47: 183-195, 1999.

Van Roosmalen, M. G. M.; Van Roosmalen T. & Mittermeier R.A., A taxonomic

review ofthe titi monkey, Genus Callicebus Thomas, 1903,with the description of

two new species, Callicebus bernhardi and Callicebus stephennashi, from

BrazilianAmazonia. Neotroical. Primates, 10(suppl.): p.1-52, 2002.

Waser P. M. Interactions among primate species. Primate Societies (Smuts, B.; Cheney,

D.; Seyfarth, R.; Wranghan, R. & Struhsaker, T., eds.). The Univ. Chicago Press,

Chicago, pp. 210-226, 1987.

Wright, P. C. The costs and benefits of nocturnality for Aotus trivirgatus (the night

monkey). Unpublished Ph.D. thesis, City University of New York, 1985.

Wright, P. C. Ecological correlates of monogamy in Aotus and Callicebus. Primate

Ecology and Conservation, ed. J. G. Else & P. C. Lee. Cambridge: Cambridge

University Press, pp. 159-167, 1986.

Zhang, S. Activity and raging patterns in relation to fruit utilization by brown apuchins

(Cebus apella) in French Guiana. Internacional Journal of Primatology, 16 (3):

p.489-507, 1995.