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4º SIMPÓSIO DE ARQUITETURA E URBANISMO | SENAC | 2012 1 Uma linha que se torna lago, uma linha que se torna cidade Estratégias para o Parque Del Lago em Quito (1) Daniel Corsi “Todo es puerta todo es puente Ahora marchamos en la otra orilla Mira abajo correr el río de los siglos El río de los signos Mira correr el rio de los astros Se abrazan y separan vuelven a juntarse Hablan entre ellos un lenguaje de incendios Sus luchas sus amores Son la creación y la destrucción de los mundos” Octavio Paz (2) O projeto para o Parque do Lago nasce de uma linha urbana existente. A linha do Vale de Quito, a linha do aeroporto, a linha da história e da cidade. Uma busca por transformar uma fronteira em oportunidade de união, e mais: uma linha viva que nos oferece uma nova espacialidade se irradiando pela cidade. A oportunidade de reconquistar uma condição de unidade e conhecimento para a população de Quito. Sua água volta à superfície numa aliança entre origem e modernidade, fazendo com que o antigo lago tectônico - que no passado fez surgir a cidade - volte a formar parte da vida de seus cidadãos e que dele se apropriem como se sempre, ainda que por muito tempo abaixo da terra, houvesse estado ali. A intervenção propõe redesenhar essa existência de maneira simples, utilizando recursos tecnológicos auto-suficientes e buscando a essência do lugar: um presente sem limites. Uma linha que se torna lago.

Uma linha que se torna lago, uma linha que se torna cidade · a linha do aeroporto, a linha da história e da cidade. Uma busca por transformar uma fronteira em ... principal elemento

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4º SIMPÓSIO DE ARQUITETURA E URBANISMO | SENAC | 2012

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Uma linha que se torna lago, uma linha que se torna cidade

Estratégias para o Parque Del Lago em Quito (1)

Daniel Corsi

“Todo es puerta todo es puente

Ahora marchamos en la otra orilla

Mira abajo correr el río de los siglos

El río de los signos

Mira correr el rio de los astros

Se abrazan y separan vuelven a juntarse

Hablan entre ellos un lenguaje de incendios

Sus luchas sus amores

Son la creación y la destrucción de los mundos”

Octavio Paz (2)

O projeto para o Parque do Lago nasce de uma linha urbana existente. A linha do Vale de Quito,

a linha do aeroporto, a linha da história e da cidade. Uma busca por transformar uma fronteira em

oportunidade de união, e mais: uma linha viva que nos oferece uma nova espacialidade se

irradiando pela cidade. A oportunidade de reconquistar uma condição de unidade e

conhecimento para a população de Quito.

Sua água volta à superfície numa aliança entre origem e modernidade, fazendo com que o

antigo lago tectônico - que no passado fez surgir a cidade - volte a formar parte da vida de seus

cidadãos e que dele se apropriem como se sempre, ainda que por muito tempo abaixo da terra,

houvesse estado ali.

A intervenção propõe redesenhar essa existência de maneira simples, utilizando recursos

tecnológicos auto-suficientes e buscando a essência do lugar: um presente sem limites.

Uma linha que se torna lago.

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1 | ESTRATÉGIA DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO

A apropriação do lugar se desenvolve de

maneira linear. A partir da pista principal do

atual Aeroporto Mariscal Sucre se desenha

um eixo principal de ocupação onde se

estabelecem seis pontos principais de

apropriação. Considerando a enorme

extensão do território, sua importância no

contexto urbano e a particularidade das

áreas vizinhas situadas ao seu redor, estes

pontos definem regiões de influência capazes

de criar usos e sentido ao longo de todo o

novo parque, evitando que numa área tão

ampla apareçam espaços subutilizados ou

sem o devido aproveitamento de sua

potencialidade espacial e social.

O desenho do Lago, principal elemento do

parque, é concebido como uma ação

diretamente relacionada com a linearidade

da ocupação, onde sua forma responde às

necessidades específicas do contexto urbano

criando simultaneamente o que é o lago,

presente em toda a extensão, e os demais

espaços de atividades. O movimento de suas

linhas e dos espaços gerados por elas buscam

potencializar os dois lados do eixo,

dinamizando a conexão entre ambos e

dissipando a ruptura Leste / Oeste hoje

existente.

Assim, as presenças do eixo e do desenho do

lago se convertem numa superfície de união

entre os dois lados, uma transposição

contínua presente em toda sua extensão e

que define um espaço urbano unificado para

o pedestre e para o automóvel, em suas

devidas escalas.

O programa aparece como elemento dorsal

da proposta. A maneira como é distribuído

faz com que todo o parque possa ser provido

de usos, atividades e funções. Uma

implantação flexível que se define mais como

um sistema de apropriação de seu território

do que uma configuração limitada, podendo

se adaptar, modificar ou renovar com o

tempo e segundo novas necessidades. Para

isso, o programa ecoa em todos os elementos

da proposta: no eixo principal, nas áreas de

recreação, atividades e esportes, no lago,

além das áreas específicas culturais e

institucionais. Sem isto um parque cujas

dimensões que se configuram como um

grande território da cidade não poderia

manter-se dinâmico e pleno de sentido.

Croquis de concepção (3)

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2 | CORREDOR VERDE

A área do Parque del Lago já tem em si

mesma a particularidade de se constituir

como um parque linear. Considerando sua

extensão de mais de três quilômetros, este

parque oferece a oportunidade de conectar

grande parte do setor norte da cidade, seja

em seu sentido transversal ou longitudinal,

algo impossível hoje. Propõem-se um corredor

verde que se inicia no Panecillo e segue pelas

Avenidas América, Diez de Agosto e

Amazonas, conectando o Centro Histórico da

cidade, os parques La Alamenda, El Ejido, La

Carolina com o novo Parque del Lago. A

partir deste, o corredor continua ao norte

alcançando a Avenida Diego de Vasquez e

conectando-se com a zona do Estádio L.D.U. -

de grande potencial verde - podendo seguir

sua linearidade até o vale do Rio Villorita.

Conjuntamente, eixos verdes transversais

podem conduzir os parques altos de Quito,

como o Parque Metropolitano e o Itchimbia,

ao novo corredor verde.

3 | CONECTIVIDADE E ACCESIBILIDADE

O projeto se configura como uma articulação

de acessos e conexões capaz de voltar a

integrar os dois lados da área norte de Quito.

Assim, pedestres, ciclistas e veículos podem

circular e transitar a longitude do parque da

maneira que corresponda a sua condição e

velocidade, sem gerar conflito entre os

mesmos.

Pedestres - os acessos para pedestres buscam

a conectividade da malha urbana conside-

Corredor Verde

rando o parque como interface de transição

e paisagem entre as duas porções da cidade

e minimizando as distancias por suas

localizações. No Leste são propostos cinco

acessos conectando as principais ruas. No

Oeste são seis, considerando a presença das

estações de transporte público situadas na

Avenida de La Prensa. O Norte e o Sul

também se abrem à cidade como acessos

importantes do eixo principal. Através deste

eixo que tudo se conecta ao parque e onde

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todos os acessos, lagos, programas,

circulações se encontram. No centro está a

praça monumental de contemplação do

lago e da paisagem. A partir de cada

entrada, caminhos cruzam toda a extensão

do parque levando ao eixo principal, a outros

caminhos secundários, aos programas ou

simplesmente como transposição de seu

território.

Acesso Principal

Automóveis - As conexões viárias se

apresentam como elementos indispensáveis

para a reconstituição da malha urbana, seja

pelo caráter de desenvolvimento e conexão

ou por seu potencial de movimento nos

espaços em que se encontra. Concebida de

maneira a se equilibrar com os fluxos de

pedestres e ciclistas, a circulação dos veículos

traz a presença de um usuário momentâneo

que pode ficar no parque ou simplesmente

contemplá-lo a partir de sua velocidade

específica. O projeto propõe transposições

que atendam estes dois aspectos ao

configurar um desenho no qual o motorista

transpõe um ‘caminho’ distinto da malha

rígida e não uma via, ficando ainda mais

evidente a partir dos distintos materiais de

suas pavimentações. O parque conecta as

ruas em três pontos: ao norte, ao centro e ao

sul. Nos fins de semana ou dias especiais as

ruas internas podem ser fechadas.

Ciclovia - A rede de ciclovias urbanas de

Quito chega ao novo Parque del Lago pela

Avenida Amazonas e se estende por todo seu

território, podendo também ser acessada

pelas avenidas La Prensa e Ramón Borja,

integrando-se ao Corredor Verde proposto.

Transporte interno – Considerando os três

quilômetros do parque o projeto propõe a

implantação de um sistema de transporte

interno no eixo principal por um veículo leve

movido por tecnologias de energia

sustentável cujas paradas estão localizadas a

cada 500 metros. Torna-se essencial oferecer

ao usuário a possibilidade de percorrer e

conhecer todo o parque num curto período

de tempo, além de tornar acessível a

qualquer um a totalidade de seus espaços.

4 | DESENVOLVIMENTO E CENTRALIDADE

O desenvolvimento de um Plano Especial de

Desenvolvimento Urbano para o entorno do

Parque del Lago é essencial para sua

condição futura de nova centralidade na

cidade e pelo impacto de sua implantação.

Recomenda-se um plano para a área do

entorno com as seguintes diretrizes:

- Restringir a verticalização ao norte e ao sul

do parque a fim de preservar os pontos de

vista e as perspectivas da paisagem, além da

adequada ventilação da área;

- Promover a densidade e a verticalização

controladas mediante o estabelecimento da

máxima altura de 20 andares e 60m;

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- Estabelecer um mínimo valor para o uso do

solo dos novos edifícios, onde a área

construída não deve ser menos que uma vez

a superfície do terreno e a ocupação até 60%

da mesma e deixando ao menos 30% de solo

permeável;

- Permitir uma área construída de até 6 vezes

a superfície do terreno para os edifícios de

escritórios e 4 vezes para os edifícios de

habitação, com o objetivo de potencializar

parte da valorização imobiliária

proporcionada pelas obras do Parque e pela

nova infra-estrutura;

- Incentivar áreas de acesso público e de usos

culturais (teatros, escolas, cinemas) nos térreos

e nos primeiros andares dos edifícios

comerciais, de modo que estas áreas não

sejam consideradas no cálculo de ocupação

máxima;

- Promover a construção de habitações

verticais subsidiadas para as classes populares

sem a obrigatoriedade de outorgas onerosas;

Plano Urbano

5 | PROGRAMA E SISTEMA DE OCUPAÇÃO

Mais que uma definição de usos, o programa

oferece um particular sistema de apropriação

da grande superfície que ocupa o novo

Parque do Lago. Propõem-se uma

possibilidade de ocupação onde prevalece a

presença do lago e de uma nova paisagem

que se define por suas áreas verdes,

atividades, áreas esportivas, de recreação e

contemplação, além de quatro espaços

específicos: o Grande Espaço Aberto ao

centro, a Concha Acústica ao Norte, o

Espaço Aberto ao Sul e o Doca no lago

principal. De acordo com essa condição

territorial se somam sistemas flexíveis definidos

como estruturas suporte para receber os

programas e usos correspondentes. Estas

estruturas podem ocupar-se ou modificar-se

ao longo do tempo e suas localizações

também podem ser redefinidas em ocasiões

futuras para a adequação a novos usos.

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Implantação Geral

Eixo - O eixo principal do parque se divide em

duas partes: uma grande circulação e um espaço

suporte com praças e usos infra-estruturais:

central de informações, sanitários, segurança,

primeiros socorros, espaço para feiras

temporárias, bar/café, paradas do transporte

interno. Uma marquise se desenvolve sobre

sua extensão variando em alturas,

conectando espaços abertos, semi-cobertos

e fechados, para oferecer proteção e

possibilitar sua ocupação variada.

Equipamentos - A intervenção propõe três

Equipamentos Grandes e cinco Pequenos,

com atividades de nível nacional e

internacional e podendo ser considerados

fortes promotores dos usos que se encontram

no parque. Podem abrigar Museus, Teatros,

Salas de Concerto, Bibliotecas, Auditórios,

Pavilhões para Eventos e Exposições, Escolas e

outros Usos Institucionais ou Culturais. Suas

localizações, quantidades e escalas estão

implantadas na proposta de maneira que

melhor se relacionam com os diversos

aspectos do projeto e da ocupação do

parque, mas suficientemente flexível para se

adequarem a outras necessidades.

Comunidades - Para a total integração da

população com o novo Parque del Lago,

nele estão dispostas 6 estruturas destinadas às

comunidades vizinhas: Cotocollao,

Ponceano, Concepción, Kennedy,

Rumipamba y Jipijapa. Cada uma poder se

apropriar a sua maneira e desenvolver suas

atividades. Constituem-se como elementos de

muita importância para o significado e

preservação da identidade do parque, assim

como para a cultura de Quito e de todo o

Equador.

Lago - É o principal elemento do parque e

nele se propõe uma interação entre o usuário

e a água. A proximidade entre ambos ocorre

ao longo de todas as circulações, produzindo

sempre um contato intenso com o lago. Nele

se dispõem elementos como pontes,

descansos, margens, criando-se atividades

como passeios de bote, recreação,

pequenas praias e mirantes. A intenção é que

o usuário também possa se apropriar do lago.

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Vista Aérea da área do Aeroporto Internacional de Quito transformada no Parque del Lago

Especiais - A proposta considera três áreas de

importante potencial para equipamentos que

agregariam ao parque diversas possibilidades

de uso durante o dia e a noite: a implantação

de um Hotel ao lado do Centro de

Convenções; a ocupação de parte do Porto

do lago principal por serviços como

Restaurantes, Cafés ou Bares e a presença de

um museu de importância internacional no

terreno vizinho à Avenida 10 de Agosto,

somando ao parque uma área privada e de

importante visibilidade para a cidade.

Centro de Convenções (Antigo Terminal de Passageiros)

‘Porto’ do Lago Central

Concha Acústica

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6 | ETAPAS E TÉCNICAS DE EXECUÇÃO

As etapas de execução para a construção

do Parque del Lago se concebem segundo a

maneira mais eficiente de conectar a malha

urbana da cidade e priorizar a implantação

dos principais elementos do projeto. A

primeira fase consiste na execução

temporária das transposições de pedestres e

das vias do tecido circundante, para

solucionar imediatamente a ruptura urbana

existente. A segunda instaura um viveiro para

o cultivo de plantas que abastecerão o futuro

parque. As fases subseqüentes configuram 4

setores de implantação: os setores centrais e

posteriormente as extremidades norte e sul.

Para a execução de cada um destes

sucedem as fases: (1) remodelação da

superfície da pista principal do aeroporto

para receber as novas funções, (2)

escavação das áreas do lago, (3)

implantação das turbinas eólicas para

obtenção da água a partir do lençol freático,

(4) adequação da topografia, (5) plantação

da vegetação, (6) execução definitiva das

transposições e vias, (7) implantação dos

equipamentos, (8) plantação da vegetação

nas zonas envoltórias dos edifícios construídos.

A atual pista do aeroporto se apresenta como

um importante equipamento preparado para

uma ocupação estratégica no projeto do

parque. A reforma de sua estrutura explora

sua potencialidade além de aproveitar sua

resistente materialidade disponível. Metade

de sua dimensão é mantida em sua

totalidade tornando-se um grande eixo de

circulação. Na outra metade, duas

intervenções são necessárias: a perfuração

para as turbinas eólicas e a retirada da

camada asfáltica de 40cm para a

implantação do espelho d’água presente no

eixo entre os equipamentos nele proposto.

Corte Transversal da Pista do Aeroporto remodelada

7 | ECOSSISTEMAS: ELEMENTOS ÁGUA E VENTO

A seqüência de 12 turbinas ou geradores

eólicos a cada 250m ao longo do eixo da

pista desativada consistem em elementos

verticais que extraem a água subterrânea

disponível no lençol freático até a superfície,

possibilitando a criação dos seis lagos - de

diferentes tamanhos e profundidades -

através da utilização da energia eólica e,

portanto, evitando o uso de energias

convencionais. A água bombeada à

superfície é, posteriormente, devolvida ao

lençol freático por meio de uma infiltração

controlada na parte inferior dos lagos,

coberta com argila semi-permeável, similar ao

solo já existente.

Sistema de águas

Por mais que os ventos não alcancem

grandes velocidades e provenham de

diferentes direções, o campo aberto da área

do aeroporto oferece condições favoráveis

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de ventilação para o aproveitamento da

energia eólica com a aplicação de turbinas

‘Helix Wind’ de alto rendimento, inclusive em

condições de ventos leves ou de várias

direções. O projeto propõe uma solução

técnica que adapta e atualiza um simples

sistema utilizado durante séculos: o momento

de rotação eólica é conduzido por um Eixo-

Cardã em direção diagonal, propulsando

Parafusos de Arquimedes que trazem a água

para cima. Caso o vento seja excessivo, a

energia excedente gerada pode converter-se

em energia elétrica. Além destas funções, as

turbinas ao longo da pista podem ser vistas

como esculturas simbólicas e como

evocação do aeroporto que ali um dia existiu.

8 | O LAGO

O desenho das linhas busca a expressão da

aparição natural de um lago, como poços

que se estendem pelo território e florescem

do solo, definindo um trajeto de água no

meio da cidade onde a presença desta se

encontra hoje quase oculta. Uma variedade

de margens define o grau de integração

entre o usuário e a água: mirantes, pequenas

praias com areia, pedras ou vegetação para

que se possa alcançar a água. Isso se

intensifica a partir da variação do nível

d’água: na medida em que este diminui

novas linhas de integração se revelam,

obtendo novos desenhos de lago e,

conseqüentemente, de paisagem, como um

elemento vivo e dinâmico. O lago, além de

ser o principal elemento de uso,

contemplação e simbolismo, se torna

também uma maneira de se olhar para o

parque que muda espontaneamente.

Variação do Nível da Água dos Lagos

9 | PAISAGISMO

O projeto paisagístico tem como objetivo criar

uma continuidade das coberturas vegetais

existentes, considerando as zonas ecológicas

da região, ponto fundamental não só para a

adaptação e desenvolvimento das espécies,

mas também para o meio ambiente no

âmbito da cidade. A implantação de massas

mais densas, como áreas de reflorestamento,

principalmente nos limites com a malha

urbana, inicia o processo de recomposição

O Lago e suas linhas

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da vegetação recuperando a forma típica

das matas existentes. No contexto urbano, a

intenção de formar um corredor verde e de

utilizar árvores frutíferas ao longo de todo o

parque favorecem o desenvolvimento da

flora e principalmente da fauna.

O conceito adotado é o de um desenho

dinâmico da vegetação, onde existam

diferentes tamanhos, texturas e cores para a

contemplação dos visitantes, além da sua

utilização apropriada para as diferentes

funções definidas. Também são propostas

árvores de grande altura para canalizar os

ventos em lugares estratégicos, além da

marcação de acessos e equipamentos de

destaque.

A criação de um viveiro para o cultivo já nas

primeiras etapas de implantação possibilitará

a produção de espécies para reposição,

além de poder atender a outros parques e

praças públicas da cidade e possibilitar

trabalhos educacionais para as

comunidades, estimulando a criação de

hortas nas áreas comunitárias.

Espécies do Projeto Paisagístico

10 | SIGNIFICADO E IDENTIDADE

A cidade se oferece como paisagem para a

proposta do Parque do Lago. Um lugar sem

limites espaciais ou sociais, da qual toda a

comunidade possa desfrutar. Um lugar de

identificação e prazer. Um desenho de

linguagem simples e dinâmica para que nele

o cidadão possa se reconhecer, seja o

usuário das comunidades locais ou o

passageiro, tornando-se um ponto de forte

confluência turística da cidade de Quito.

Grande Cubo D’Água

Grande Mirante do vento

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Vista do Lago Central

Um lugar onde os quatro elementos se unem

e se concedem ao homem: (1) o Grande

Cubo D’Água no meio do lago acessível por

um caminho único configura um espaço de

puro recolhimento e contemplação do

elemento; no mesmo eixo Norte-Sul, que

remete à histórica Estrada Real Pré-

Colombiana, se localiza (2) o Grande Mirante

do Vento com uma altura de 60m capaz de

observar todo e parque e a cidade, e

também com o propósito de demarcar um

novo parque nas grandes distâncias urbanas;

(3) os espaços de contemplação dos vulcões

trazem o símbolo do fogo e (4) o parque,

definido como solo, território e lugar, faz com

que a terra seja o elemento de mais intensa

apropriação por parte o usuário.

Uma oportunidade de se criar, a partir da

estratégia do desenho, um fato de

identificação da população oferecendo uma

nova maneira de se olhar para a cidade, um

símbolo moderno de Quito e do indivíduo

equatoriano.

Vista Aérea da Cidade de Quito

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Notas:

(1) Dados do Projeto: Concurso Público Internacional para el Parque Del Lago | Municipalidad Del

Distrito Metropolitano De Quito, Equador | Ano: 2008 | Área do Terreno: 1.260.000 m² | Área do

Projeto: 1.260.000 m² | Equipe: Daniel Corsi, Dani Hirano, Jörg Spangenberg, Reinaldo Nishimura,

Danilo Terra, Pedro Tuma, Candi Hirano, Gabriela Ornaghi, Juliana Assali, Luiz Guilherme Rivera de

Castro (Consultor Urbanismo), André Biselli Sauaia, Amanda Higuti, Camila Costa, Lidia Neves

Martello, Pamela Kaninski,Tatiana Hummel (Colaboradores).

(2) Trecho do poema ‘Noche en Claro’ de Octavio Paz.

(3) Fonte das ilustrações: Corsi Hirano Arquitetos

Daniel Corsi | Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie

em 2003 com os Prêmios Miguel Forte e Telésforo Cristófani. Mestre pela FAU-USP em 2012. Professor

das FAU-Mackenzie e FAU-Senac desde 2010. Trabalhou com Biselli + Katchborian (São Paulo),

Gaeta-Springall + Higuera-Sanchez (México D.F) e Cloud9 | Enric Ruiz-Geli (Barcelona). Sócio

fundador do escritório CHN Arquitetos (2007) e, posteriormente, do CORSI HIRANO ARQUITETOS

(2010). Premiado em diversos concursos públicos nacionais e internacionais como o 1º Prêmio -

Concurso Público Nacional para o Complexo Trabalhista do TRT-Goiânia (2007) e o 1º Prêmio -

Concurso Público Internacional para o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp | Campinas

(2009). Seus projetos já foram expostos em Bienais de Arquitetura no Brasil e no exterior, entre elas a

12ª. Mostra Internazionale di Architettura della Biennale di Venezia (2010).