Uma Filosofia de Arquivos Audiovisuais

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Original: Ingls

[CII/INF-98/WS/6] Paris, Junho de 1998

UMA FILOSOFIA DE ARQUIVOS AUDIOVISUAISRay Edmondson e membros do AVAPIN

Programa Geral de Informao e UNISIST United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

Entrada de catlogo recomendada: Edmondson, Ray Filosofia de Arquivos Audiovisuais, Uma / preparada por Ray Edmondson e membros do AVAPIN [para o] Programa Geral de Informao e UNISIST. - Paris: UNESCO, 1998. - v, 60 p.; 30 cm. - (CII/INF-98/WS/6) III Ttulo UNESCO, Programa Geral de Informao e UNISIST UNESCO, 1998

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SumrioPREFCIO ...................................................................................................................................................... ii NOTAS EDITORIAIS................................................................................................................................. iv A: INTRODUO........................................................................................................................................... 1 1 Enquadramento ..................................................................................................................................... 1 2 Pressupostos e questes bsicas ............................................................................................................. 2 3 Definies e Termos.............................................................................................................................. 4 3.2 Definio de documentos audiovisuais ........................................................................................... 4 3.3 Definio de patrimnio audiovisual .............................................................................................. 7 3.4 Definio de arquivo audiovisual ................................................................................................... 8 3.5 Definio de arquivista audiovisual................................................................................................ 9 4 Arquivar audiovisuais uma profisso ? .............................................................................................. 11 B: O ARQUIVO AUDIOVISUAL.................................................................................................................. 14 1 Definio e Tipologia.......................................................................................................................... 14 1.4 Abordagem segundo o "perfil " .................................................................................................... 16 2 Emergncia Histrica .......................................................................................................................... 19 3 Natureza da Indstria Audiovisual ................................................................................................... 21 4 Viso Mundial e Paradigma................................................................................................................. 23 4.1 Introduo ................................................................................................................................... 23 C: A PROFISSO.......................................................................................................................................... 30 1 Natureza dos Documentos audiovisuais ............................................................................................... 30 1.2 Pro-action.................................................................................................................................... 30 1.3 Progresso do formato ................................................................................................................. 30 1.4 Forma fsica................................................................................................................................. 31 1.5 Percepo subjectiva.................................................................................................................... 31 1.6 Acessibilidade e replicao .......................................................................................................... 32 2 Princpios das Directivas ..................................................................................................................... 33 2.1 Essencialidade da seleco........................................................................................................... 33 2.2 Conceito de obra ......................................................................................................................... 34 2.3 Princpio do Suporte / Contedo................................................................................................... 35 2.4 Princpio de qualidade.................................................................................................................. 36 2.5 Princpio de sobrevivncia ........................................................................................................... 37 2.6 Princpio do paralelismo .............................................................................................................. 37 2.7 Princpio de Controlo / descrio.................................................................................................. 38 2.8 Princpio de documentar .............................................................................................................. 38 2.9 Descrever para o utilizador........................................................................................................... 39 3 Perfil, formao e qualificaes ........................................................................................................... 39 3.5 Motivao ................................................................................................................................... 40 3.6 Conhecimentos fundamentais....................................................................................................... 40 3.7 Especializaes ........................................................................................................................... 41 4 Relao com outras profisses ............................................................................................................. 42 Percepes populares .............................................................................................................................. 42 Legitimidade, aceitao, reconhecimento,................................................................................................ 43 Terminologia .......................................................................................................................................... 43 Valores partilhados ................................................................................................................................. 43 D: TICAS..................................................................................................................................................... 45 1 GERAL............................................................................................................................................... 45 2 Institucional ........................................................................................................................................ 45 3 PESSOAL........................................................................................................................................... 46 3.1 Responsabilidade para com o pblico........................................................................................... 46 3.2 Responsabilidade para com o empregador .................................................................................... 46 3.3 Responsabilidade para com o material da coleco ....................................................................... 47 3.4 Conduta e valores profissionais .................................................................................................... 48 APNDICES.................................................................................................................................................. 50 Apndice 1 ................................................................................................................................................. 50 Definio de documentos audiovisuais .................................................................................................... 50 Appendix 2................................................................................................................................................. 52 Tabela comparativa: arquivos audiovisuais, arquivos em geral, bibliotecas e museus................................ 52

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PREFCIO1 "Filosofia", de acordo com o Dicionrio Conciso de Oxford, "o amor da sabedoria ou do conhecimento, especialmente aquele que lida com a ltima realidade, ou com as causas mais gerais e princpios de coisas ". Tal como outros aspectos de coleccionar e preservar a memria de humanidade, arquivar audiovisuais tem por base certas "causas gerais e princpios". Para que a arquivstica audiovisual possa ter um lugar, a ateno e o reconhecimento geral, estas causas e princpios devero ser conveniente codificados. 2 A necessidade de empreender esta codificao tem, nos ltimos anos, ganho tal aceitao que os arquivistas audiovisuais (em vrios forums internacionais) comearam a ponderar a sua identidade, imagem e filiao profissionais, a considerar a base terica e tica do seu trabalho, e a encarar questes prticas de formao e certificao. Este documento uma resposta especfica necessidade de uma codificao: a primeira publicao sobre uma filosofia de arquivos audiovisuais. 3. Os seus antecedentes directos, durante os ltimos cinco anos, so os desenvolvimentos da troca de ideias e escritos dentro da Rede de Interesse na Filosofia de Arquivo de Audiovisuais (AVAPIN), uma rede informal que foi crescendo, atingindo mais de 60 arquivistas de filme e de arquivos sonoros, e outras interessados em investigar e definir as bases tericas no campo dos arquivos audiovisuais. Embora esta seja uma rede das pessoas cujo interesse puramente individual, a maioria de seus membros tambm tem ligaes pessoais ou institucionais com as principais associaes profissionais activas neste campo. (Estas so apresentada em Apndice 7, e so referidas ao longo do documento). Eu tenho at data funcionado como coordenador da rede AVAPIN, e a minha entidade empregadora, o National Film and Sound Archive of Australia (NFSA), e suportou os encargos relativos ao secretariado e portes de correio. 4 Nos finais de 1993, surgiu a oportunidade, atravs de uma bolsa da Australian Public Service Commission, que me permitiu passar algum tempo na Europa durante o ano de 1994, a escrever sobre estas questes. Nesta tarefa, juntaram-se-me os membros do AVAPIN Sven Allerstrand, Helen Harrison, Rainer Hubert, Wolfgang Klaue, Dietrich Schller, Roger Smither e Paolo Cherchi Usai que integraram o Grupo de trabalho ad-hoc "1994 Philosophy Working Group". Atravs de alargada discusso e/ou reaco escrita ao texto provisrio, em diferentes alturas, cada membro do grupo contribuiu para a sntese que o documento inicial representou. O projecto de 1994 comeou com sesses no congresso da FIAF (Federao Internacional de Arquivos de Filme) em Bolonha, Itlia, em Abril /Maio. O texto foi finalizado no final de Julho, e discutido em trs seminrios durante a conferncia conjunta da IASA - Associao Internacional de Arquivos Sonoros e a FIAT - Associao Internacional de Arquivos de Televiso em Bogensee, Alemanha, em Setembro. A discusso nos seminrios foi documentada e, juntamente com outras contribuies subsequentes, foi usada como a base para reviso. Este segundo documento, provisrio, foi debatido num seminrio na Conferncia da AMIA - Associao de os Arquivistas de Imagens em Movimento Toronto, Canad, em Outubro de 1995.

ii

5 Eu preparei o presente texto sob o patrocnio da UNESCO, e em consultoria com um grupo editorial que inclui Ernest J. Dick (Canad), Annella Mendoza (Filipinas), Robert H J Egeter-van Kuyk (Pases Baixos), Paolo Cherchi Usai (EUA), Dietrich Schller (ustria), Roger Smither e Helen Harrison (Gr-Bretanha), e beneficiando de comentrios de alguns outros membros do Grupo de Trabalho Original de 1994 "Philosophy Working Group". Enquanto todas estas pessoas deram as suas contribuies com base nas suas capacidades pessoais, a sua experincia profissional deu-lhes acesso aos pontos de vista de todas as principais associaes profissionais no campo dos arquivos audiovisuais. Tambm agradeo os comentrios detalhados no texto de Wanda Lazar e Paul Wilson, e os comentrios perspicazes de colegas do NFSA bem como em todos os outros pontos em que evoluiu o documento. 6 Desde Setembro de 1994, ambas as primeira e segunda verses receberam gradualmente alargamentos provenientes de uma, ainda que informal, circulao Internacional. Foram traduzidas partes em outros idiomas para uso local, enquanto o texto na ntegra foi incorporado em currculos de formao desenvolvidos pelo NFSA Association of South Esat Asian Nations Committee (ASEAN-COC), The University of New South Wales, Sydney, Austrlia e o George Eastman House School of Film Preservation, Rochester, EUA. Foram includas partes da segunda verso provisria no livro Audiovisual Archives : A practical reader compilado por Helen Harrison (UNESCO, 1997). A publicao do presente texto pela UNESCO um passo lgico e vital formalizando o documento completo, tornando-o acessvel a um pblico mais alargado. 7 Oferecendo uma base terica documentada do campo e profisso de arquivar audiovisuais, esta publicao s pode ser a "primeira palavra", no a "palavra final". Se tiver alguma aceitao e estimular o debate ter provado seu valor. As prticas e experincias de arquivo de audiovisuais, e as contribuies intelectuais de indivduos e grupos, continuaro enriquecendo a teoria. Definir os princpios de qualquer disciplina nova um processo a longo prazo. Temos esperana que, no futuro, haver outras e melhores codificaes de uma teoria de arquivos audiovisuais. 8 A prpria natureza de um documento como este significa que as limitaes na investigao e reflexo sempre existiro, e esperamos, suscitar outras reaces e perspectivas de outros. Ter sublinhado estes, para que possam ser debatidos na literatura profissional, e levando em conta futuras revises, parte do processo de desenvolvimento de uma maturao terica. Eu terei muito prazer em receber comentrios e para esse efeito os meus contactos so indicados abaixo. 9 Trazendo o trabalho de cinco anos fase de publicao, agradeo reconhecidamente o apoio financeiro e prtico da Australian Public Service Commission, a NFSA, e FIAF (especialmente a sua secretaria de Bruxelas) que tornou possvel o projecto de 1994 e a primeira verso provisria. Agradeo aos muitos colegas do AVAPIN, cujos pontos de vista contriburam para a segunda verso provisria. Desejo agradecer a todos os colegas, acima mencionados, que deram o seu tempo e energia, contribuindo editorialmente para esboar o texto de publicao: em todos os casos esteve um trabalho apaixonado de pessoas muito ocupadas. Finalmente, desejo agradecer UNESCO o seu apoio e viso, determinantes para publicar este documento.iii

Ray Edmondson Canberra, Abril de 1998Contacto: Ray Edmondson National Film and Sound Archive GPO Box 2002 Canberra ACT 2601 Australia Phone 61 2 6209 3040 Fax 61 2 6209 3165 E-mail: [email protected]

NOTAS EDITORIAIS AV ou audiovisual: Ao longo deste documento a palavra "audiovisual" usada preferencialmente abreviatura "AV" Embora no campo dos arquivos audiovisuais . ambos os termos sejam usados indistintamente, adoptmos este procedimento nesta publicao para a tornar consistente, bem como para normalizar a terminologia. Meios, documentos ou material: Igualmente, o termo "documentos audiovisuais" foi usado ao longo do texto preferencialmente aos termos "meios audiovisuais" ou "materiais audiovisuais". Esta foi uma escolha em funo da consistncia, mais do que um julgamento de valor. Acredito que na maioria dos casos, no em todos, que os termos so intermutveis, mas h diferenas subtis nas suas conotaes que exigem reflexo subsequente. A urgncia em finalizar o documento determinou esta escolha .

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A: INTRODUO1 Enquadramento

1.1 Durante os anos noventa o desenvolvimento de uma teoria codificada para arquivos audiovisuais tornou-se uma preocupao prioritria, por vrias razes. Primeiro, a importncia bvia e crescente dos documentos audiovisuais, como uma parte da memria do mundo, conduziu a uma expanso rpida da actividade arquivstica, especialmente relevante nas estruturas comerciais ou semi-comerciais, fora do mbito dos arquivos institucionais tradicionais. Foram gastas grandes quantidades de dinheiro, mas na ausncia de referncias profissionais definidas e aceites, talvez nem sempre com o melhor efeito. Dcadas de experincia prtica acumulada em arquivos audiovisuais proporcionaram at agora uma plataforma que permite realar, sistematizada esta experincia, as possibilidades de maximizar os ganhos potenciais e as consequncias de perder as oportunidades. 1.2 Em segundo lugar, os gestores de arquivos audiovisuais tm falta de uma clara identidade profissional e reconhecimento geral dentro das profisses afins, do governo, das indstrias audiovisuais e da comunidade em geral. Tambm falta um ponto de referncia crtico, uma sntese terica dos valores, ticas, princpios e percepes, implcitos no campo vital para alcanar esse reconhecimento. Esta ausncia tornou-os intelectual e estrategicamente vulnerveis. Diminuiu tambm a sua imagem pblica e o estatuto da rea resultando num vazio aparente no seu mago. Embora as vrias federaes de arquivos audiovisuais1, do mesmo modo arquivos isolados, tenham desenvolvido polticas, regras e procedimentos, houve pouco tempo para criar um distanciamento e ponderar na teoria sobre a qual estes eram baseados. O aparecimento de organizaes2 visando colmatar estas necessidades profissionais especficas, foi um sinal de mudana. 1.3 Em terceiro lugar, a falta de padres formais de formao e cursos para praticantes emergiu como um assunto relevante, e incitou a UNESCO a iniciar trabalhos que se traduziram em publicaes3 sobre o papel e a situao legal dos arquivos audiovisuais e o desenvolvimento de currculos de formao para o seu pessoal. Tais cursos4, medida1

Neste documento o termo "federaes refere-se a ONG (organizaes no governamentais) que operam exclusivamente no domnio dos Arquivos Audiovisuais, tais como a IASA (Federao Internacional dos Arquivos Sonoros e Audiovisuais) , a FIAT (Federao Internacional dos Arquivos de Televiso) e a FIAF (Fedrao Internacional dos Arquivos de Filme). Quando apropriado, inclui tambm os Comits da FLA (Federao Internacional de instituies e Associaes de Bibliotecas) e ICA (Conselho Internacional de Arquivos) e corpos regionais como a SEAPAVAA (Assoiciao de Arquivos do Sudoeste Asitico). A maior parte destas organizaes esto representadas na Mesa Redonda da UNESCO sobre Documentos Audiovisuais. 2 Tal como a Associao de Arquivistas de Imagens em Movimento (AMIA) SEAPAVAA e a Sociedade Filipina de Arquivistas de Filme (SOFIA) 3 As publicaes so Curriculum development for the training of personnel in moving image and recorded sound archives (1990) e Legal questions facing audiovisual Archives (1991) 4 Intensivos, de estilo "Cursos de Vero" internacionais e seminrios [workshops] foram iniciados pela FIAF em 1973 e continuam a existir. Esta modalidade foi a seguir adoptada por outros, nomeadamente no quadro de um ciclo de seminrios organizados durante trs anos 95-97 no sudoeste asitico sob os aupcios da ASEAN-COCI. O autor tem conhecimento de uma srie de cursos universitrios inovadores na Europa, nos Estados Unidos e na Austrlia, bem como cursos de vero organizados por alguns arquivos. Ele prprio participou em alguns projectos deste tipo na Austrlia. Os primeiros cursos permanentes comearam a aparecer: actualmente 1

que forem surgindo, precisam tanto de textos tericos de referncia como dos meios para ensinar as competncias prticas. 1.4 Em quarto lugar, a rpida mudana tecnolgica desafiava velhos preconceitos medida que a "auto-estrada da informao avanava. Os Arquivos de mltiplos suportes5 tomavam cada vez mais o lugar das velhas cinematecas e fonotecas onde tinha sido originados, ao mesmo tempo que se diversificavam os modos de organizao e as prioridades. A IASA e a FIAT esto a reexaminar o seu papel e o seu futuro. 1.5 Esta preocupao levou, entre outras coisas, criao do AVAPIN no incio de 1993, como tambm a uma crescente e visvel discusso terica e filosfica na literatura profissional. Embora os primeiros arquivos audiovisuais (ver a definio nesta seco) aparecessem h um sculo atrs, pode dizer-se que esta rea campo tem desenvolvido a sua conscincia desde os anos 30, e o seu crescimento, contnuo, basicamente um fenmeno da segunda metade do sculo. como tal um campo jovem, que se desenvolve e muda rapidamente, com recursos e contornos muito desigualmente espalhados por todo o globo. 1.6 A viso da gerao pioneira que estabeleceu o conceito do arquivo de filme e arquivo sonoro foi enriquecida, modificada e desenvolvida com o tempo, experincia, tentativa e erro. Os arquivistas audiovisuais de hoje so um crculo muito maior, ainda abrindo caminho, enfrentando tarefas mais complexas, e com necessidades novas que o tempo e as circunstncias trouxeram. O desafio ir ao encontro dessas necessidades dentro um imenso e constantemente evolutivo ambiente audiovisual no limiar do sculo XXI. 2 Pressupostos e questes bsicas

2.1 A preparao deste documento aconteceu em circunstncias particulares e foi necessariamente baseado nalguns pressupostos. importante desde j t-las presentes e de forma claras. 2.2 Este documento uma sntese dos pontos de vista de muitos indivduos que falam a ttulo pessoal e no como representantes de instituies ou das federaes. No tem nenhum estatuto oficial, no sentido de representar as vises formais desta ou aquela organizao. O seu propsito simplesmente o de fornecer uma base de discusso, estruturado naquilo que parece ser (nesta fase) uma ordem lgica.

Universidade da East Anglia (Bretanha) oferece um MA em arquivo de filme, a escola Jeffrey Selznick of Film Preservation na George Eastman House (EUA) comeou em 1996 e o curso de ps-graduao em Administrao de Audiovisuais do National Film and Sound Archive / University of New South Wales comeou em 1997. (Os dois primeiros so cursos de tempo inteiro, o terceiro feito por ensino distncia atravs da Internet) 5 O termo "mltiplos suportes" usado para evitar confuso com multimedia (um termo novo que normalmente significa um CD-ROM interativo que contm sons, imagens em movimento, texto e grficos) 2

2.3 O documento adopta a posio da UNESCO concebendo os arquivos audiovisuais como um nico campo dentro do qual vrias federaes e uma variedade de tipos de arquivo institucionais operam, e onde vlido ver uma nica profisso com pluralidade e diversidade prprias. ( reconhecido que alguns colegas tm outros pontos de vista vendo, por exemplo, os arquivos sonoros, de filme e de televiso como campos completamente separados.) 2.4 Considera-se que arquivar audiovisuais , na prtica, ainda que no formalmente, uma profisso de direito prprio. Daqui decorre que arquivo de audiovisuais no visto como um subconjunto especializado de uma profisso existente, tal como as outras profisses afins, arquivstica, biblioteconomia ou museologia, mas que est intimamente relacionada com elas. 2.5 As respectivas federaes e associaes so foruns apropriados para a discusso e desenvolvimento subsequente de uma filosofia de arquivos audiovisuais. Porm, reconhecido que muitos arquivos audiovisuais, por vrias razes, no pertencem nem a um nem a outro destes agrupamentos: este documento no menos pertinente em relao a tais instituies e aos seus funcionrios cujas perspectivas so no menos vlidas. 2.6 Esta discusso filosfica desenrola-se numa altura em que o panorama geral est a mudar e as federaes, velhas e novas, esto a avaliar a sua orientao futura. O desenvolvimento de edies futuras desta publicao um projecto pertinente no qual poderiam ser reunidos os representantes das federaes para lidar com assuntos de preocupao comum. 2.7 A inteno , tanto quanto possvel, documentar o que hoje existe, em lugar de inventar ou impr teorias ou construes: ser descritivo em lugar de prescritivo6. A filosofia de arquivos audiovisuais pode ter muito em comum com a de outras profisses afins, mas preconiza-se que deve surgir da natureza dos documentos audiovisuais, e no por analogia automtica com essas profisses. Igualmente, a inteno foi tentar descrever os documentos audiovisuais em termos do que so, em lugar do que no so, e consequentemente evitar frases como "no livro", "no texto" ou "materiais especiais". Seria igualmente lgico, mas igualmente intil , descrever, por exemplo, livros ou correspondncia como "materiais no-audiviosuais". O que se deve concluir que aquele tipo de material "normal" ou "padro", enquanto tudo o resto, estando definido em referncia quele, tem menos "status". 2.8 difcil compilar uma terminologia comum, uma vez que termos como "filme", cinema", "audiovisual", "programa", "registo", etc. significam coisas diferentes para pessoas diferentes. No entanto, uma terminologia profissional comum facilita a clareza de comunicao e conceitos.

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Partindo de princpios ticos (ver seco D) abandono a descrio por julgamentos de valor sobre as atitudes apropriadas, mas sempre a partir de uma abordagem descritiva adoptado no documento em geral. 3

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Definies e Termos

3.1 Uma seco posterior deste documento incluir um glossrio de termos comuns usados na profisso. Todavia, algumas definies chave so essenciais, desde j, como uma base para discusso subsequente. 3.23.2.1

Definio de documentos audiovisuais

H muitas definies e hipteses sobre, este termo que muitas vezes adaptado para abranger (a) imagens em movimento, quer filme ou electrnicas, (b) apresentaes de diapositivos, (c) imagens em movimento e/ou registos sonoros em vrios formatos, (d) rdio e televiso, (e) fotografias e grficos, (f) vdeo jogos (g) CD-ROM multimedia (h) qualquer coisa projectada num cran (i) ou todas elas. Alguns exemplos de definies so dadas a seguir: sem dvida h muitas outras. Estas definies so dadas puramente como exemplos para ilustrar a gama de percepo; no as subscrevemos nem comentamos.

Definio 1 [documentos audiovisuais so:] gravaes visuais (com ou sem banda de som [soundtrack]) independente [da sua base fsica] do seu suporte e processo de gravao usado, como filmes, [filmstrips] diafilme, microfilmes, diapositivos, fitas magnticas, cinescpios [kinescopes], videogramas [videograms], videotapes - fitas de vdeo (videotape, videodiscos), discos pticos legveis por laser (a) planeados para recepo pblica quer atravs de televiso ou por meio de projeco em crans ou por quaisquer outros meios (b) destinados a ser postos disposio do pblico gravaes sonoras independente [da sua base fsica] do seu suporte e processo de gravao usado, como filmes, [filmstrips] diafilme, microfilmes, diapositivos, fitas magnticas, cinescpios [kinescopes], videogramas [videograms], videotapes - fitas de vdeo (videotape, videodiscos), discos pticos legveis por laser (a) planeados para recepo pblica quer atravs de televiso ou por meio de projeco em crans ou por quaisquer outros meios (b) destinados a ser postos disposio do pblico Todos estes materiais so materiais culturais. Pretende-se que esta definio cubra um mximo de formas e formatos... Imagens em movimento... constituem a forma clssica de material audiovisual e so a forma principal explicitamente includa na Recomendao da UNESCO de 1980... na realidade, incluem tambm, necessariamente, gravaes sonoras. (From Kofler, Birgit: "Legal questions facing audiovisual archives" Paris, UNESCO,1991, pp10-13)4

Definio 2 [Uma obra audiovisual uma obra] que apela ao mesmo tempo ao ouvido e viso e consiste numa srie de imagens relacionadas e sons acompanhantes registada em material apropriado. (From World Intellectual Property Organization (WIPO) "Glossary of Terms of the Law of Copyright and Neighbouring Rights") Definio 3 [O patrimnio audiovisual] inclui filmes produzidos, distribudos, transmitidos [radiodifundidos] ou noutros casos tornados disponveis ao pblico... [filme definido como] uma srie de imagens em movimento fixadas ou armazenadas num suporte (qualquer seja o mtodo de gravao e a natureza do suporte usado para os fixar inicialmente ou em ltimo lugar) , com ou sem som acompanhante que, quando projectado, d uma impresso de movimento... . (From an early text of the Draft Convention for the Protection of the European Audio-visual Heritage)7

3.2.2 O espectro parece abranger desde qualquer coisa com imagens e/ou sons por um lado, at imagem em movimento com som ou passagem de diapositivos, por outro. Nos seus contextos respectivos tais definies podem ser teis, mas em condies filosficas e termos prticos os arquivos audiovisuais precisam de uma definio que esteja de acordo com realidade do trabalho e positivamente afirme a autonimia dos media audiovisuais no seu direito prprio. 3.2.3 Nesta conformidade, avana-se a seguinte definio profissional de documentos audiovisuais8: Documentos audiovisuais so obras incluindo imagens e/ou sons reproduzveis incorporados num suporte9 , cujo: registo, transmisso, percepo e compreenso normalmente requerem um dispositivo tecnolgico

7 Verso provisria elaborada pelo Comit de Peritos em Cinema do Conselho de Europa em Estrasburgo. Esta a traduo do escritor a partir do texto em francs. 8 Para comparao, a definio de acordo com a primeira verso deste documento era a seguinte: Meios audiovisuais so obras inclundo imagens e sons, ou ambos, cujo: - gravao e/ou transmisso, e usualmente cuja percepp ou compreenso, requerem a interpolao de um dispositivo tecnolgico, - contedo a reproduo de um entidade visual e/ou auditiva, produzida e percebida num dado perodo de tempo - propsito a comunicao desse contedo visual e auditivo, mais do que o mero uso da tecnologia para comunicar informao textual ou grfica 9 Suporte [carrier] significa a unidade fsica discreta e.g. disco, cassete ou bobine de banda magntica, bobina de pelcula onde a imagem ou som transportada. Uma nica obra pode encontrar-se num ou mais suportes; por vezes um nico suporte pode conter mais do que uma obra. 5

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o contedo visual e/ou sonoro tem durao linear cujo propsito a comunicao daquele contedo, mais do que a utilizao da tecnologia para outros propsitos.

3.2.4 O termo obra implica uma entidade conscientemente criada, e discutvel que nem todos os filmes, vdeo ou gravaes sonoras tenham contedo intelectual deliberado ou inteno. Por exemplo: um registo do som de um tubo de escape na rua, cujo contedo acidental. (A conversao tambm poderia ser discutida: que intencionalidade - o mero acto de colocar uma mquina fotogrfica ou um microfone para fazer uma gravao - evidncia suficiente de inteno intelectual). 3.2.5 A noo de que um trabalho audiovisual s pode ser feito e percebido diacronicamente durante um lapso de tempo - foi difcil de definir. Uma formulao alternativa para esta frase tambm foi proposta: contedo fundamentalmente um espelho objectivo de uma realidade visual e/ou audvel, que um continuum linear, susceptvel ou no de ser manipulado subsequentemente. 3.2.6 Aceitando que uma definio perfeita impossvel, a mesma tem de ter como propsito decisivamente, incluir gravaes sonoras convencionais, imagens em movimento (sonoras ou mudas), vdeos e programas de radiodifuso, tanto publicados como inditos, em qualquer formato. Significa decisivamente excluir material de texto per se, independentemente do meio de comunicao utilizado (quer se trate de papel, microforma, formatos digitais, grficos ou diapositivos, etc. a distino conceptual mais do que tecnolgica, embora para grande parte tambm exista uma diviso tecnolgica). Tambm significa excluir a conotao popular do termo "media" que inclui tanto os jornais como a rdio e a televiso. Programas de rdio e televiso - incluindo programas de notcias, sero, claro, includos na definio de documentos audiovisuais. 3.2.7 Entre estes dois grupos, existe naturalmente um espectro de materiais e trabalhos que so menos automaticamente a preocupao dos arquivos audiovisuais, e que, dependendo da percepo de cada pessoa, podem ou no enquadrar-se completamente na anterior definio. Neles se incluem jogos de vdeos, multimedia / CD ROM, rolos de piano e msica mecnica, e o tradicional [tape-slide] diapositivo audiovisual. CD-ROMs, jogos de vdeo e outros produtos de software so, por definio, no-lineares na sua construo, e a capacidade para arrastar" ou randomizar a apresentao de contedo de CDs udio ou vdeo um aspecto standard da tecnologia. Mesmo assim, os fragmentos resultantes das imagens em movimento e sons, no importa quanto breves, permanecem lineares dentro deles prprios, e uma sucesso de fragmentos - intencional ou no - tambm linear. 3.2.8 Tal espectro inclui tambm fotografia, que muitos considerariam um meio de comunicao [medium] audiovisual, quer as fotografias sejam coleccionadas de seu direito prprio, ou como material relativo aos documentos audiovisuais prpriamente dito (ver a definio de patrimnio audiovisual e outras seces). O material disponvel na World Wide Web pode tambm ser includo dependendo do entendimento que dele se6

tiver. 3.3 Definio de patrimnio audiovisual

3.3.1 Os documentos audiovisuais, como acima definido, podem ser entendidos como o ncleo de uma gama maior de material e informao reunida e abrangida pelos arquivos e arquivistas de audiovisuais. Esta gama maior o patrimnio audiovisual. proposta a seguinte definio10:O patrimnio audiovisual inclui, mas no limitado a, o seguinte: (a) Som gravado, rdio, filme, televiso, vdeo ou outras produes que incluem imagens em movimento e/ou registos sonoros, quer tenham sido ou no intencionalmente concebidas para divulgao pblica. (b) Objectos, documentos, trabalhos e elementos intangveis relacionados com os documentos audiovisuais, quer vistas de um ponto de vista tcnico, industrial, cultural, histrico ou outro; isto incluir material relativo ao filme, radiodifuso e indstrias de gravao, como literatura, guies, fotografias, cartazes, materiais publicitrios, manuscritos, e artefactos como equipamento tcnico ou roupas11. (c) Conceitos como a perpetuao de ambientes em via de desaparecimento associados com a reproduo e a apresentao12 destes meios.

3.3.2 Claramente, de acordo com esta definio, o patrimnio audiovisual inclui tanto material de texto como materiais intermdios acima mencionados, entre outras coisas, que se relacionam com os documentos audiovisuais. Por exemplo, guies [scripts] so parte do patrimnio porque so guies de programas de rdio ou programas de televiso ou de filmes: no porque so escritos de per se. 3.3.3 Consequentemente, a maior parte, se no todos, os arquivos audiovisuais poriam esta definio pelos seus prprios parmetros particulares para os adaptar isto sua situao, por exemplo, dando uma qualificao geogrfica (quer dizer, o patrimnio de um pas, uma cidade ou uma regio), uma limitao temporal (quer dizer, o patrimnio dos anos trinta como uma era), ou uma especializao temtica de assunto (talvez, o patrimnio radiofnico pr-televiso como um fenmeno social).

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Baseada numa definio publicada originalmente em Time in our hands (National Film an dsound Archive of Australia, 1985), e revista por Brigit Kofler em Legal questions facing audiovisual Archives (UNESCO, Paris, 1991, pp 8-9) 11 Um outro enunciado para a segunda parte da clasula (b) foi sugerido por wolfgang Klaue: .. isto dever incluir materiais resultantes da produo, gravao, transmisso, distribuio, exposio, e transmisso de meios audiovisuais como guies, manuscritos, pontuaes, desenhos, artigos, fotografias, posters, materiais publicitrios, comunicados de imprensa, documentos de censura, artefactos como equipamento tcnico, palcos, suportes, objectos de filmes de animao, efeitos especiais, roupas. 12 Klaue sugere aqui produo, reproduo e apresentao 7

3.4

Definio de arquivo audiovisual

3.4.1 No existe nenhuma definio sucinta e genricamente aceite de arquivo audiovisual. As constituies da FIAT, FIAF e IASA descrevem muitas caractersticas e expectativas, mas no fornecem nenhuma definio para a instituio prpriamente dita. A constituio do SEAPAVAA, 1996, define ambos audiovisual e arquivo, relativamente s competncias dos seus prprios membros. Citando:" Artigo 1b: Audiovisual aqui refere-se a imagens em movimento, registos sonoros, gravados em filme, fita magntica, disco, ou qualquer outro medium agora conhecido ou a ser inventado Artigo 1c: Arquivo aqui refere-se a uma organizao ou unidade de uma organizao que vocacionada para coleccionar, administrar, preservar e garantir acesso a ou fazer uso de uma coleco de materiais audiovisuais e relacionados. O termo inclui organizaes governamentais e no governamentais, comerciais e culturais que exeram estas quatro funes. As regras [ao abrigo dos estatutos] podem providenciar para a aplicao precisa desta definio determinando elegibilidade como membro da organizao.

3.4.2 O uso do termo arquivo [archive], singular ou plural, em linguagem comum, em si mesmo problemtico por causa das suas mltiplas associaes. Em uso popular, tem largas conotaes com um lugar onde o "velho", ou onde materiais no correntes so guardados. Com as suas conotaes populares de p, teias de aranha e decadncia, de material esquecido, fechadas e de acesso remoto, a palavra frequentemente uma desvantagem nas relaes pblicas. Falar de material "descoberto" ou "desenterrado nos arquivos no reflecte a preciso, orientao para o utilizador e o dinamismo de um arquivo bem gerido. 3.4.3 No mbito da profisso da cincia arquivstica, porm, o termo archive alcanou um significado profissional e legal bastante preciso13. Quando foi adoptado pelos primeiros administradores de arquivos audiovisuais no escapou concerteza a associao anterior; agora conota frequentemente a velha e a nova imagem. Faltando um rtulo internacional que os poderia definir facilmente como um tipo institucional, os arquivos audiovisuais recorreram a uma gama de rtulos entre os quais fonoteca, cinemateca, videoteca, museu, e biblioteca. Porm, desde que o palavra "arquivo" integrada historicamente nos ttulos de IASA, FIAT, FIAF, AMIA, SEAPAVAA e outros, o termo arquivo audiovisual parece o mais adequado at ao presente14. 3.4.4 A falta de uma palavra ou expresso sucinta, reconhecida internacionalmente paraPara uma introduo terminologia, perspectivas e conceitos da cincia arquivstica, uma boa referncia Keeping Archives (Second edition, ed. Judith Ellis. Port Melbourne: D W Thorpe, 1993), sobretudo o Captulo I. interessante comparar os diferentes modelos expostos nesta obra com os do presente documento. O termo coleccionar por exemplo, tem na arquivstica conotaes especficas que no tem forosamente nas outras disciplinas. 14 Seria preciso para substituir o termo archive encontrar um frmula que inclua as noes de conservao e acessibilidade; expresses como banco audiovisual ou fundo audiovisual ou mesmo a criao anglo-saxnica avarchive, respondem be a este objectivo, mas tem um aspecto artificial. A resposta talvez resida em associaes completamente novas. O New Zealand Film Archive conhecido em linguagem Maori como Nga Kaitiaki O Nga Taonga Whitiahua: literalmente os guardies dos tesouros de luz 813

descrever o conceito de um arquivo audiovisual da mesma forma que as palavras "biblioteca" ou "museu" que suscitam reconhecimento imediato, provavelmente a desvantagem principal. A palavra certa sem dvida a inventar e que poderia ganhar aceitao corrente - poderia livrar-nos desta profuso de rtulos, e associaes equvocas dos termos audiovisual e arquivo. 3.4.5 Prope-se ento a seguinte definio: Um arquivo audiovisual uma organizao ou departamento de uma organizao que vocacionada para coleccionar, administrar, preservar e prover acesso a um conjunto de documentos audiovisuais e patrimnio audiovisual. 3.4.6 H dois aspectos chave. Primeiro, um arquivo audiovisual uma organizao no uma coleco privada a cargo de um indivduo. Segundo, o conjunto coleccionar / administrar / preservar / fornecer acesso a documentos audiovisuais seu principal objectivo - no s uma actividade acessria entre outras. A palavra de ligao e, no ou: o arquivo faz tudo, no algumas, destas coisas, e isto por sua vez implica que recolhe material na gama de formatos adequados quer para preservao e acesso. Isto significa que coleces de materiais audiovisuais somente em formatos de acesso ou de consumidor, mantidos essencialmente para emprestar para propsitos de acesso, e como tal sem uma inteno de preservao subjacente, no so arquivos audiovisuais. Exemplos de tais coleces poderiam ser o inventrio de um distribuidor de filme, um registo ou coleco de vdeos numa biblioteca pblica, ou uma biblioteca audiovisual para estudantes. (Estes termos e as suas implicaes so exploradas na Seco C, e chamada ateno definio no glossrio em Apndice 6). 3.4.7 A tipologia de arquivos audiovisuais (ver seco C) mostra que dentro desta definio existem numerosas diferenas em termos de funcionamento e de prioridades. Por exemplo, alguns arquivos audiovisuais centram-se em determinado tipo de media como filme, rdio, televiso, som, enquanto outros cobrem vrias tipos de documentos. Alguns cobrem uma vasta gama de contedos enquanto outros so priveligiam determinado centro de interesse. Enfim, existem arquivos audiovisuais pblicos, privados comerciais ou com fins no lucrativos. O importante aqui so as funes, no as polticas que determinam essas funes. Por exemplo, alguns arquivos audiovisuais no provem acesso pblico, estando limitados por uma poltica de servir apenas utilizadores internos. Pelo contrrio, alguns arquivos pblicos ou institucionais escolhem fornecer acesso a simples utilizadores, mas no a empresas comerciais. Em ambos os casos, a funo de acesso, per se, a mesma. 3.5 Definio de arquivista audiovisual

3.5.1 Enquanto termos "arquivista de filme", "arquivista de som" e "arquivista audiovisual" so de uso vulgar, dentro da rea e sua literatura, parece no haver nenhuma definio destes termos adoptada pelas federaes, ou pela UNESCO, ou at mesmo entre os praticantes. Tradicionalmente, so conceitos subjectivos e flexveis que evidentemente significam coisas diferentes para pessoas diferentes: designam mais uma identidade pessoal ou percepo que uma qualificao explcita.9

3.5.2 A ilustr-lo, note-se que a AMIA, a Associao de Arquivistas de Imagens em Movimento, est aberto a "todos os indivduos interessados....." sem que qualquer qualificao adicional seja necessria15. A qualidade de membro individual da IASA est aberta a "pessoas que profissionalmente se ocupam do trabalho de arquivos, e a outras instituies que preservam documentos sonoros ou audiovisuais, ou pessoas que tm um interesse srio nos propsitos declarados da Associao"16 (o termo "arquivos" no tem qualquer outra definio). A SEAPAVAA aceita na qualidade de membro quem "subscreve os objectivos da Associao e cumpre as suas regras". Quem pretende ser scio tm que dar detalhes da sua afiliao institucional, um de currculum vitae, e uma referncia de apoio de um membro institucional j admitido17. A FIAF e a FIAT no admitem membros individuais. 3.5.3 Para alm disso, e ao contrrio dos parentes de biblioteconomia, museologia e cincia arquivstica, a formao ao nvel acadmico s agora est emergindo, e ainda no existe nenhuma qualificao formal internacionalmente aceite ou credenciao, pela qual sejam reconhecidos em qualquer lado os "arquivistas audiovisuais". (Realmente, um termo novo ajudaria consideravelmente criando a percepo de uma profisso distinta!) Normas de formao foram j alvo de Recomendaes18 mas a sua traduo na prtica s comeou recentemente19. 3.5.4 Neste contexto, proposta a definio seguinte:

Um arquivista audiovisual uma pessoa ocupada a nvel profissional num arquivo audiovisual, na construo, aperfeioamento, controlo, administrao ou preservao da sua coleco; ou na tarefa de garantir a sua acessibilidade, ou a servir a sua clientela.

3.5.5 Os arquivistas que trabalham com audiovisuais - incluindo todos os que trabalharam neste documento! - provm de ambientes diversos. Alguns acadmicos: alguns aprenderam a profisso no trabalho desenvolvido ao longo de muitos anos. Pode considerar-se vlido o desenvolvimento de um corpo de opinio e princpios adquiridos (do qual este documento poderia formar uma parte) que os arquivistas audiovisuais poderiam assimilar nas suas qualificaes e experincia actuais. 3.5.5 Ao fim e ao cabo, pareceria lgico que uma qualificao formal ou certificao, baseada na formao de nvel universitrio, pelo menos comparvel das outras profisses similares, constituisse a condio mnima de admissibilidade. At l, o termo arquivista audiovisual e suas variantes no tero um significado bvio ou credvel, pois no se apoiam numa referncia precisa. Uma hiptese poderia ser que o termo fosse15

Fonte: Anurio AMIA 1994-95 Fonte: Constituio da IASA adoptada a 8 de Dezembro de 1995 17 Fonte: Constituio e regras da SEAPAVAA, adoptada a 20 de Fevereiro 1996 18 Curriculum development for the training of personel in moving image and recorded sound archives: Paris, UNESCO, 1990 19 Ver referncia anterior sobre cursos actualmente existentes. A Universidade de New South Wales tem-se esforado por introduzir um curso de arquivos audiovissuais nas estrituras dos cursos das profisses que coleccionam; o sistema desenvolvido na George Eastman House conjuga um curso oficial com um estgio de um ano na sua filmoteca; por fim a Universidade de East Anglia adoptou um a abordagem semelhante propondo cursos sobre arquivos cinematogrficos como opo curricular do curso de Cinema.16

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aplicado a pessoas cujas experincia, perfil, conhecimento, responsabilidade ou posio nos foros internacionais pertinentes, correspondendo globalmente s normas estabelecidas no documento da UNESCO acima citado, bem como aos futuros padres universitrios. Dependeria das federaes e associaes o estabelecimento de mecanismos efectivos de credenciao. 3.5.6 Tal como os arquivistas, bibliotecrios e muselogos, os arquivistas audiovisuais poderiam seguir qualquer especializao, apropriada s suas possibilidades, preferncia e conhecimento de causa, identificando-se de acordo com elas. Assim, por exemplo, poderiam compartilhar uma rea terica comum, uma histria e conhecimento tcnico comuns, mas poderiam escolher seguir carreiras de som, filme, televiso, radiodifuso, multimedia ou documentao, ou ainda de administradores, tcnicos, gerentes ou outra especializao. 4 Arquivar audiovisuais uma profisso ?

4.1 "Profisso" uma palavra muito banal, mas, neste caso, eis a pergunta concreta: arquivar audiovisuais um dos aspectos das profisses existentes que coleccionam , ou suficientemente distinta para se considerar uma profisso de direito prprio? Que a resposta "sim" j foi afirmado. Mas, como pode tal ser demonstrado? 4.2 laia de teste, consideremos que uma profisso, no nosso contexto, tem as seguintes caractersticas distintivas: corpo de conhecimento cdigo de tica princpios e valores terminologia e conceitos viso geral ou paradigma uma codificao escrita da sua filosofia competncias , mtodos, normas e procedimentos forums (por exemplo, literatura e associaes profissionais) formao e normas de credenciao

Este documento afirma que arquivar audiovisuais responde essencialmente, ou est em vias de responder, a todos estes items, embora com reservas nos ltimos dois. Antes de os discutir, convm determo-nos sobre alguns elementos histricos de identidade. 4.3 Os Arquivos Audiovisuais so oriundos de uma variedade de ambientes institucionais. Na falta de uma alternativa, era, e ainda , natural para seus praticantes ver e interpretar o seu trabalho do ponto de vista da sua prpria formao e das instituies donde vieram. Esta especializao tem fundamento, segundo os casos, numa formao em biblioteconomia, museologia, arquivstica, histria, fsica e qumica, administrao e tcnicas de udio, radiodifuso e filme. Pode acontecer tambm que no tenha havido qualquer formao como no caso dos autodidactas ou entusiastas.20 Quando20

Para que conste, o autor tem um diploma de ps-graduao em Biblioteconomia, adquirido em 1968 quando a sua entidede empregadora, o actual NFSA, era ento parte da Biblioteca Nacional da Austrlia. Contudo a teoria 11

interrogados sobre a situao profissional, os arquivistas audiovisuais podem recorrer sua qualificao - se a tiverem - ou identificar-se apondo palavra arquivista o epteto de som / filme / audiovisual / arquivista de televiso, ou semelhante. Alguns podem citar as suas ligaes a um ou mais das federaes como testemunho do seu de estatuto profissional. 4.4 Os Arquivistas audiovisuais em termos colectivos ou nas suas chamadas especialidades - esto longe de ter uma clara e inequvoca identidade profissional. Contudo muitos de entre eles com um formao universitria - em posies responsveis, tm a ntida percepo que no so nem bibliotecrios, nem arquivistas tradicionais ou museolgos, mesmo se tm qualificaes reconhecidas nesses campos. O recurso frequente a uma identificao atravs de frases como "arquivista de filme" ou "arquivista de som" - ainda que possam no ser definidas nem sejam auto-explicativas so um modo de declarar a percepo de uma identidade. 4.5 Claramente nenhuma das profisses existentes pode preencher o vazio a contento da maioria dos interessados. Nem, na nossa opinio, tal seja desejvel se a profisso , realmente, autnoma. 4.6 Voltando problemtica do estatuto profi sional (par. 1.2), nota-se que existe uma s crescente literatura profissional em arquivos audiovisuais, na qual so debatidos assuntos de teoria e prtica. Esta inclui os jornais das federaes. Contudo, enquanto estas fornecem forums para debate e cooperao e do alguma forma ao campo dos arquivos audiovisuais, nenhuma das Federaes assume o papel de associao profissional no sentido de dar certificao e apoiar indivduos, ou representar e promover uma profisso claramente definida. Tal associao profissional parece ser uma caracterstica essencial de uma profisso. Parece no haver nenhuma razo pela qual uma ou mais das federaes existentes no possa desenvolver uma actuao neste sentido: em alternativa, uma sociedade separada poderia ser criada para desenvolver este papel. 4.7 Recentemente, surgiram cursos de formao profissional oficiais. Pode esperar-se que evoluam consideravelmente durante os prximos anos acompanhando as ideias testadas e desenvolvidas nos cursos actualmente existentes em biblioteconomia, arquivstica e museologia21. 4.8 Estas qualificaes sugerem que arquivar audiovisuais ainda uma profisso emergente: existe na realidade, mas ainda est em vias de conseguir mecanismos formais que a tornam visvel e inequvoca. Isto j no um assunto que se compadea com lentas contemplaes. H necessidades prticas que urge resolver. Mais, os perigos de confiar numa filosofia no codificada, com os riscos acrescidos de intuio e idiossincrasia, so muitos. interessante ponderar por que, depois de um sculo de actividade de arquivo audiovisual, questes de identidade profissional, formao reconhecida e credenciao s agora sejam assuntos trazidos a lume. Talvez que, num campo cujo caminho foi aberto por uma gerao de indivduos apaixonados, ase prtica em arquivos audiovisuais, foi adquirida ou talvez melhor dizendo descoberta no trabalho desenvolvido ao longo dos anos. 21 Cf. Nota em A:1.3 12

mudanas, no sentido de uma maior confiana numa teoria formal e estruturas, tenham sido lentas. Nisto residem algumas perspectivas aliciantes de investigao na histria e naturaza dos arquivos audiovisuais.

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B: O ARQUIVO AUDIOVISUAL1 Definio e Tipologia1

1.1 Os Arquivos audiovisuais englobam uma pluralidade de modelos institucionais, tipologias e interesses. Reconhecendo que toda organizao nica, e que qualquer tipologia pode ser muito arbitrria e artificial, so porm discernvis naturalmente algumas categorias. Tal categorizao pode ser uma maneira til de descrever esta actividade. Como explcito na definio em A: 3.4.3, todos eles tm funes de coleccionar, administrar, preservar e provr acesso. 1.2 A tipologia seguinte apresentada sem ordem especial, e a partir de duas perspectivas. bvio que cada instituio pode ajustar-se simultaneamente a uma ou vrias categorias. 1.3 Categorias

1.3.1 Apresentam-se vrias categorias rotuladas de uso mais comum numa profisso que fornece uma tipologia global. Para cada uma , atribudo um "rtulo" seguido de uma breve descrio. 1.3.2 Arquivos de emissoras: contm principalmente um inventrio de programas de rdio e/ou televiso seleccionados e gravaes de comerciais guardadas para propsitos de emisso. Alguns arquivos so departamentos de organizaes emissoras - variando de redes principais a pequenas estaes de rdio para um pblico pequeno, enquanto outros tm graus variados de independncia. O objectivo normalmente, fornecer um recurso activo para apoiar a produo de programas e actividade comercial, e administrar um recurso corporativo diversificado. Informao, cpias e outros servios de acesso so oferecidos - principalmente "a clientes internos", embora tambm possam estar disponveis servios de acesso ao pblico. As coleces tambm podem incluir "material em bruto" como entrevistas e/ou efeitos sonoros, ou tambm material associado como guies, manuscritos ou documentao dos programas. 1.3.3 Arquivos de programao: so arquivos de filme ou arquivos de televiso bem caracterizados em primeiro lugar por uma nfase na qualidade no plano da investigao e da apresentao nos seus prprios crans ou salas de exibio como meio de acesso pblico. As exibies podem ser caracterizadas por refinamentos como acompanhamento ao vivo para filmes mudos, comentrios sobre as exibies e um esforo pela obteno de cpias de melhor qualidade. Muitos destes arquivos operam em cinemas especializados capazes de exibir formatos obsoletos e evocar uma atmosfera contempornea ao material que est a ser exibido. Podem ter uma nfase na fico (por

Material nesta seo utiliza o artigo A brief typology of sound archives by Grace Koch (Phonographic Bulletin No 58, June 1991 e outras fontes de pesquisa notadas naquele artigo, como tambm na tipologia de Paolo Cherchi Usai de arquivos de filme no seu livro Burning Passions.1

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oposio a documentrio)2. 1.3.4 Museus audiovisuais: o tnica para estas organizaes a preservao e exibio de artefactos como mquinas fotogrficas, projectores, fongrafos, cartazes, publicidade e ephemera, fantasias, ou memorabilia e a apresentao de imagens e sons num contexto de exibio pblico, ambos com propsitos educacionais e de entretenimento. Artefactos como lanternas mgicas e brinquedos pticos - o preldio para advento de gravao de som e cinema - so muitas vezes includos para recriar o contexto histrico. Dentro desta categoria, os museus de filme formam um grupo reconhecido e crescente, enquanto outros enfatizam os media de radiodifuso ou som registrado. Algumas coleces e exibies so impressionantes De certo modo, a maior parte dos arquivos audiovisuais - uma vez que mantm tecnologia obsoleta, de facto trabalham como museu de audiovisuais. 1.3.5 Arquivos audiovisuais nacionais: so organizaes de largo mbito, frequentemente grandes, operando ao nvel nacional, com um objectivo de documentar, preservar e tornar publicamente acessvel o todo - ou uma parte significante - do patrimnio audiovisual do pas. So frequentemente fundados pelos governos e incluem muitos dos melhores e mais conhecidos filmes do mundo, da televiso e dos arquivos sonoros. Se forem aplicadas leis de depsito legal, estes arquivos so como que os receptores do material. Os servios de acesso podem ser alargados, e cobrir o espectro inteiro da exibio pblica, comercializao, apoio profissional e servio de pesquisa privado. Podem incluir servios tcnicos e servios de consultoria especializados: frequentemente complementam, servem e coordenam as actividades de arquivo de audiovisuais de outras instituies no pas. O papel anlogo ao das bibliotecas nacionais, arquivos ou museus: em alguns casos, estes arquivos so departamentos destas organizaes, noutros casos so instituies separadas com estatuto e autonomia comparveis. 1.3.6 Arquivos acadmicos e universitrios: em todo o mundo, h numerosas universidades e instituies acadmicas que possuem arquivos sonoros, filme, vdeo ou audiovisuais em geral. A maioria nasceu da necessidade de apoio s actividades acadmicas, mas alguns cresceram, com o passar do tempo, tornando-se autnomos com um perfil nacional e internacional, tendo desenvolvido uma base diversa de financiamento em programas de preservao e restauro. Outros seguiram o "caminho da programao", desenvolvendo grande especializao nesta rea. Outros ainda continuaram com uma pequena dimenso, focalizando a sua actividade numa determinada rea e nela desenvolvendo uma profunda especializao3. 1.3.7 Arquivos temticos e especializados: este tambm um grupo grande e variado de arquivos que no tratam do patrimnio audiovisual em geral, mas ao contrrio optaram por uma clara e s vezes alta especializao. Pode ser um tema ou um assunto, uma2

Por vezes usado o termo cinemateca ou videoteca para caracterizar este tipo de arquivos. Contudo, estes termmos so mais usados por entidades que no so Arquivos: por exemplo cinemas especializados ou casa de aluguer de video, que no tm por misso conservar ou preservar. 3 Estes so distinctos de coleces de recursos audiovisuais, uma caracterstica comum nas universidades, muitas vezes relacionada com o campus ou a biblioteca. Estas coleces tem por finalidade o emprstiomo ou o acesso, mas pouca preocupao com a preservao. 15

localidade, um perodo cronolgico particular, um filme particular, um formato vdeo ou udio. Pode ser em material relativo a grupos culturais especficos, disciplinas acadmicas ou campos de pesquisa. Disso so exemplos coleces de histria oral, coleces de msica folclrica, materiais etnogrficos. A maioria so, provavelmente , departamentos de organizaes maiores, embora alguns sejam organizaes independentes. Uma caracterstica deste tipo de arquivos a nfase em servir a investigao acadmica ou privada. 1.3.8 Arquivos de estdios: algumas das maiores produtoras, por exemplo na indstria de filme, levaram a cabo uma abordagem consciente preservao da sua prpria produo criando unidades de arquivo ou divises dentro das suas organizaes. Tal como nos arquivos de emissoras, o objectivo normalmente preservar as produes da prpria empresa, mais do que cumprir um objectivo cultural per se. 1.3.9 Arquivos regionais, municipais e locais: operam normalmente a um nvel regional ou local. Podem surgir de circunstncias particulares, administrativas ou polticas governamentais (como programas de descentralizao) e os seus objectivos tendero a ser focalizados de acordo com a sua natureza. Tm a vantagem particular de poder mobilizar apoio e interesse das comunidades locais com quem podem relacionar de certo modo a actividade que no podem relacionar a nvel nacional, mais remoto, ou a instituies especializadas. Como resultado, muito material de valor inestimvel e material privado pode vir a lume e encontrar o seu lugar em tais arquivos. 1.3.10 "Grandes coleces": este o grupo mais difcil para descrever, mas no entanto um grupo tambm susceptvel de ser reconhecido. Pode incluir arquivos em quaisquer das categorias precedentes que ganharam dimenso pela sua qualidade, riqueza, coeso ou raridade das propriedades. Alguns arquivos foram fundados em grandes coleces privadas e cresceram continuando o trabalho e perspectiva do coleccionador original. Outros, por circunstncias fortuitas, tornaram-se guardies de acervos ricos e sem igual que no sobrevivem em nenhuma outra parte. Da mesma maneira que muitas grandes bibliotecas do mundo, ou coleces de museu constituram os seus acervos com o patrocnio de um gnio, assim a qualidade de muitas das grandes coleces audiovisuais est ligada na pratica ao trabalho de uma personalidade dominante e perspicaz. 1.4 Abordagem segundo o "perfil "

1.4.1 A segunda abordagem, complementar, consiste em determinar um perfil organizacional de acordo com vrios indicadores: 1.4.2 Estatuto institucional: uma gama de arquivos audiovisuais que vai desde pequenos departamentos de grandes organizaes at entidades principais que so instituies autnomas de seu prprio direito. O seu grau de autonomia para determinar as suas prprias prioridades, procedimentos, polticas e cultura interna variar de acordo com as respectivas autoridades administrativas. No uma equao simples; algumas pequenas entidades podem ser altamente autnomas, enquanto outras maiores, formalmente independentes, podem ser constrangidas por polticas do governo e prioridades em curso,.16

1.4.3 Fonte de financiamento: os arquivos audiovisuais com motivao cultural , por definio, no podem ser auto-financiveis e dependem de fundos governamentais, de beneficincia ou outros. Para alguns, o financiamento vem inteiramente ou em grande parte de governo: outros, podem beneficiar de fontes de financiamento complementares do governo, de doaes, fontes de rendimento corporativas ou prprias. As fontes de financiamento podem, em contrapartida, afectar as polticas e prioridades do arquivo. 1.4.4 Gama de suportes: os arquivos Audiovisuais diferem na gama de suportes que cobrem. Por exemplo, alguns so focalizados estritamente em "filme" ou "som"; alguns so arquivos de mltiplos suportes que abraam todos os formatos de gravao de som e imagem em movimento; outros situam-se entre estes extremos. 1.4.5 nfase no utilizador e clientela: os arquivos audiovisuais podem servir uma ou vrias clientelas: por exemplo, o investigador acadmico, o produtor comercial, o distribuidor, o pblico comprador, o cliente da prpria organizao, organizaes educacionais, radiodifuso, o audifolo e o cineasta. H uma relao entre a cultura de um servio de arquivos e a sua clientela. 1.4.6 Estatuto nacional / regional: alguns arquivos coleccionam material e fornecem servios numa perspectiva nacional, quer global ou altamente especializados; outros consagram-se numa rea geogrfica particular e constroem a sua coleco e base de conhecimento de um modo que nunca encontraria lugar numa instituio nacional. Estes so modos complementares de contribuir para uma tarefa nacional global. 1.4.7 Propsito e motivao: os arquivos audiovisuais comearam como um movimento motivado culturalmente, procurando a preservao do patrimnio audiovisual pelo seu valor intrnseco, independentemente do seu potencial comercial. Enquanto estes valores permanecem ainda como primeiros, na maioria dos arquivos, as coleces e programas crescem mais rpido que subsdios. Este facto exige-lhes cada vez mais que administrem os rendimentos prprios de modo a cobrir as suas despesas, e nada indica que esta tendncia possa inverter-se. Ao mesmo tempo, a eles se juntam arquivos e agncias de servios que tm uma motivao comercial e pragmtica: protegendo e servindo os bens dos seus patres (como sejam produtores de filme ou cadeias de radiodifuso) e cobrindo os custos de manuteno com as verbas obtidas. Aquilo que j em tempos foi claro na diviso destes grupos est a tornar-se mais esbatido. Ainda que as perspectivas difiram, contudo, em ambos os casos est envolvida a sobrevivncia do patrimnio audiovisual, os mesmos perfis e valores profissionais. Uma vez ultrapassados os limites da rentabilizao do custo comercial, a proteco do material cultural ainda um custo para o Estado e entidades financiadoras. (A questo da motivao conduz questo de tica, abordada na Seco D). 1.5 As definies acima no so co-extensivas com a qualidade de membro de qualquer das federaes. Em graus variados, estas fundam as exigncias das suas sociedades em alguns parmetros destas tipologias. As suas abordagens diferem, tendo em conta factores como a autonomia organizacional, motivao, e prioridades do arquivo em causa. A presente tipologia descritiva, no prescritiva, e inclui entidades que podem17

no pertencer e podem no ser elegveis para pertencer a quaisquer das federaes.

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Emergncia Histrica

2.1 Os arquivos audiovisuais no tiveram um comeo formal. Emergiram de fontes difusas, em parte sob os auspcios de uma larga variedade de instituies de recolha, instituies acadmicas e outras, como uma extenso natural do seu trabalho. Desenvolveram-se em paralelo, com algum atraso, ao crescimento em popularidade e alcance dos prprios documentos audiovisuais. Arquivos de som, filme, rdio e posteriormente arquivos de televiso em primeiro lugar tendem a ser institucionalmente distintos uns dos outros, reflectindo o carcter diverso de cada media e suas indstrias associadas. Desde os anos 30 em diante, ganharam uma identidade mais visvel estabelecendo federaes internacionais4 para representar os respectivos media5. Tambm, progressivamente foram reconhecidos pelas federaes internacionais de arquivos e bibliotecas em geral. 2.2 Os arquivistas audiovisuais, como um grupo profissional, tambm no tiveram nenhum comeo formal e esto ainda a desenvolver um sentido de identidade. Aqueles que se identificam com a nomenclatura ou suas variantes, em todo o mundo, vm de formaes muito diversas. Alguns tm qualificaes reconhecidas em uma ou mais das profisses que coleccionam; outros no. 2.3 Nos primeiros anos do sculo no era, de todo, evidente que as gravaes de som e filmes tivessem algum valor duradouro. Enquanto a sua inveno era, em certo grau, o resultado da curiosidade e experincia cientfica, o seu rpido crescimento decorre da sua explorao como um meio de entretenimento popular. 2.4 Houve desde muito cedo tentativas para incutir o valor dos materiais audiovisuais em instituies coleccionadoras. Por exemplo, em Viena em 1899 o sterreichische der de Akademie Wissenschaften estabeleceu seu Phonogrammarchiv6 para coleccionar gravaes etnogrficas de som (provavelmente o primeiro arquivo de som deliberadamente estabelecido no mundo, ainda activo hoje). Ao mesmo tempo, em Londres, o Museu britnico tentava reunir uma coleco de imagens em movimento como um registo histrico, enquanto em Washington a Biblioteca do Congresso no sabia o que fazer com as primeiras bobinas de filme depositadas para registo de direitos autorais. 2.5 Um jornal dirio britnico da poca dava conta do dilema nos seguintes termos:

Ver Nota em A:1.3 Enquanto nominalmente a FIAF, FIAT e ISAS representam respectivamente filme, televiso e som , as suas funes relativas so mais complexas. A FIAT com efeito uma associao da indstri de televiso. A FIAF um forum para arquivos de filme e de televiso que procuram desempenhar uma funo mais autnoma enquanto instituies pblicas e guardies culturais. O critrio para ser membro da IASA mais aberto e inclui organizaes e indivduos interessados na preservao do som e, muitas vezes, noutros documentos audiovisuais. Alguns arquivos de mltiplos suportes pertencem a mltiplas federaes. O ICA e a IFLA tem forums para arquivos audiovisuais que tem ligaes ao mundo da arquivistica e biblioteconomia em geral 6 Desde o incio o seu propsito era conseguir permanncia das gravaes, criar documentao para ajudar a pesquisa e seguir um programa. Em linguagem actual, corresponderia definio de reunir, administrar, preservar e prover acesso na definio de arquivo audiovisual (ver A:3.4.3)5

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" O filme no era nem uma impresso nem um livro, na realidade, ningum poderia dizer que no o era; mas ningum poderia dizer o que era. O objecto no tiha um lugar previsto. A dificuldade real que ningum podia dizer a qual lugar pertencia ". (The Era, 17 de Outubro de 1896) e alguns meses depois a Gazeta de Westminster (20 Fevereiro. 1897) viu isto como: " ... o trabalho ordinrio na sala de impresso do Museu britnico bastante desorganizado pela coleco de fotografias animadas que tm afludo aos funcionrios confusos(...) a degradao daconsagrada a Drer, Rembrandt e outras mestres... [onde o pessoal) de m vontade cataloga 'The Prince's Derby', 'The Beach at Brighton', 'The Buses of Whitehall', e as outras cenas atraentes que deleitam o corao do pblico dos musicais.... seriamente, esta coleco de lixo no se tornar uma ninharia absurda "? 2.6 Os documentos audiovisuais no se ajustaram facilmente aos princpios de funcionamento das bibliotecas, arquivos e museus de princpios do sculo XX, e embora houvesse excepes, o seu valor cultural foi amplamente desconsiderado. Em 1978, o arquivista de filme pioneiro da Biblioteca Nacional de Austrlia, Rod Wallace, recordou os anos cinquenta: "As atitudes do pblico em relao ao material histrico eram ento muito diferentes, particularmente no mundo do filme. No princpio tivemos de confrontar-nos com muita apatia. Ns somos vistos como doidos, e tal foi-nos dito em vrias ocasies. Eu nunca esquecerei a altura em que um teatro cheio de pessoas da indstria de filme assistiu a um programa de filmes antigos recuperados pela biblioteca e ento um homem perguntou-me porque que no tinhamos lanado o lote na sargeta. (Os outros concordaram com ele!)" 2.7 Os arquivos de filme, enquanto organizaes distintas das instituies que coleccionam mais tradicionais, emergiram primeiro na Europa e Amrica do Norte, um fenmeno visvel antes dos anos trinta, enquanto os arquivos sonoros, numa variedade de formas organizacionais, foram evoluindo separadamente. Depois da Segunda Guerra Mundial o movimento espalha-se ao resto do mundo, local por local, instituio por instituio, separadamente. Lentamente, e em fases, o valor cultural das documentos audiovisuais ganhou legitimidade e larga aceitao. O desenvolvimento da rdio dos anos vinte em diante, com a gravao e a distribuio de programas, criou gneros completamente novos de material de potencial preservao, enquanto a popularizao da televiso dos anos cinquenta fez o mesmo para a imagem em movimento. Tambm fez qualquer outra coisa: trouxe de novo para a viso do pblico o contedo esquecido de bibliotecas de estdio e sensibilizou uma gerao para importncia de preservar o patrimnio flmico em riscos de desaparecer. As mudanas nos formatos de gravao, e a passagem de nitrato celuloso para triacetato celuloso para a fixao das pelculas, reforaram as preocupaes crescentes da sobrevivncia e acessibilidade futura. 2.8 Foi esta aco dos arquivos audiovisuais, frequentemente enfrentando a indiferena - at mesmo obstinada oposio - de filme, televiso e produtores de gravaes, receosos que o seu material do com direitos de autor passasse para outras mos, que resultou no final das contas em fontes inesperadas de rendimento para esses20

mesmos produtores. Isto comeou a acontecer quando as cadeias de televiso, e depois os consumidores e os distribuidores de udio e vdeo comearam a explorar as riquezas do filme e dos arquivos sonoros a nvel mundial, demonstrando a justificao econmica para a preservao do audiovisual. 2.9 O cenrio hoje muito complexo, como a tipologia apresentada anteriormente aponta. A actividade dos arquivos audiovisuais tem lugar num amplo espectro de tipos institucionais: est constantemente a desenvolver-se medida que as possibilidades de distribuio - tal como cabo, satlite e Internet - se expandem. Um nmero crescente de casas de produo e redes emissoras tem vindo a entender o valor comercial de proteger os seus acervos e esto elas prprias montando os seus prprios arquivos. 2.10 A histria dos arquivos audiovisuais difere grandemente de pas a pas, e est longe de ter sido completamente investigada e registada (uma tarefa que excede o mbito deste documento!). Em pases geografica e culturalmente diversos como (por exemplo) ustria, Gr Bretanha, China, ndia, EUA e Vietnam, h grandes instituies e programas j estabelecidos. Em outros, igualmente diversos, locais as instituies e programas so mais recentes; em outros ainda, o trabalho tem ainda que comear. Genricamente poder-se-ia dizer que, at agora, o patrimnio audiovisual da Amrica do Norte a da Europa est relativamente em melhor situao que o resto do mundo em termos de preservao e acesso. Considerando, porm, a taxa de percas em todo o mundo, talvez isso no queira dizer muito. 2.11 As razes para o crescimento desigual do campo so mltiplas - entre elas so as circunstncias polticas, histricas e econmicas de certos pases (e as suas indstrias de mdia), realidades climticas (materiais audiovisuais deterioram-se rapidamente em zonas tropicais) e consideraes culturais. A aceitao popular do valor de preservao cultural, combinada com a vontade poltica, essencial para o crescimento da actividade de arquivar audiovisuais. Mas para fazer avanar este movimento, contra tudo e todos, so necessrios pioneiros convictos e ainda os h.3

Natureza da Indstria Audiovisual

3.1 Dependendo da natureza dos seus fundos e das suas actividades, os arquivos audiovisuais podem ter relaes de funcionamento muito ntimas com a indstria audiovisual, e na verdade podem mesmo fazer parte dela. Tal como outras indstrias, no nem linear nem monoltico, nem particularmente fcil definir, mas pode ser considerado util incluir os tipos seguintes ou organizaes: Emissores e distribuidores: as estaes e cadeias de TELEVISO e suas extenses - Televiso por cabo e satlite, sectores adicionais recentes. Companhias de produo: Os fabricantes de filmes, documentrios, sries de televiso, Companhias de gravao e vdeo: Os criadores e vendedores de CDs e vdeos. Distribuidoras: as "companhias de intermedirios" que controlam o marketing, vendas e aluguer de filmes de cinema e sries de televiso Exibidores: os cinemas21

Retalhistas: discotecas e lojas de vdeos e lojas de aluguer Os fabricantes e engenheiros: os fabricantes e fornecedores filme, cassetes, CD brancos e artigos de consumo: os fabricantes e fornecedores da gama vasta de udio, filme e equipamento tcnico vdeo. Estdios: as instalaes de produo e casa da especialidade, grandes e pequenas Infra-estruturas de suporte: a gama enorme de servios de apoio indstria, desde laboratrios de processo de filme a publicistas, dos fabricantes de cartazes de cinema, aos fabricantes das cadeiras dos cinemas. 3.2 A indstria tambm pode ser descrita, de outro ponto de vista, pelas competncias ou reas de trabalho que abarca: Actividade criativa (Produo, talentos, escritores, os directores etc.) Programao (planeamento estratgico, imagem) Promoo (marketing, vendas) Servios tcnicos (engenharia, operaes) Administrao (planeamento, poltica) Servios de apoio (administrao, finanas)

3.2 Bibliotecas e arquivos podem ser vistos como parte das reas tcnicas e/ou de apoio da indstria, tal como a informtica e das comunicaes, ainda que prestar servios a esta indstria seja apenas uma das suas funes.

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4 4.1

Viso Mundial e Paradigma7 Introduo

4.1.1 Uma caracterstica da definio das vrias profisses que coleccionam a perspectiva particular, paradigma ou viso geral que acarretam e que afecta a vasta quantidade de material de seu potencial interesse, o que lhes permite seleccionar, organizar e prover acesso a esses materiais de modo significativo. Elas tm muito em comum: a construo das coleces, a administrao e conservao dos materiais dessas coleces, o fornecimento de acesso aos utilizadores, so elementos comuns. Respondem a motivaes culturais e ticas que transcendem o mecnico ou utilitrio; devem administrar as exigncias com escassos recursos. As diferenas surgem do modo como estas funes so conduzidas. 4.1.2 Embora influenciados pela tradio e histria, estes modelos no so determinados no essencial pelo formato fsico do material: bibliotecas, arquivos, museus e arquivos audiovisuais, todos recolhem formatos baseados em papel, formatos audiovisuais e formatos baseados em computador, por exemplo, e cada vez mais todos estaro adquirindo e distribuindo material via Internet. Arriscando uma demasiada simplificao, sugerem-se algumas comparaes8. Alm dos comentrios aqui expostos, merecem uma anlise adicional. 4.2 Bibliotecas

4.2.1 Bibliotecas, tradicionalmente o repositrio do livro (da o seu nome), a palavra escrita e impresso, tambm so fornecedores de informao em todos os formatos. Lidam com material que na sua maior parte publicado e/ou projectado para disseminao, criado com inteno consciente para informar, persuadir, entreter. A unidade bsica da coleco de biblioteca o livro publicado, peridico, programa, gravao, mapa, quadro, vdeo etc. Embora um determinado livro possa ser includo na coleco de centenas de bibliotecas diferentes, cada coleco nica em carcter, enquanto reflecte a sua clientela, responsabilidades e polticas administrativas, e a qualidade do perfil da seleco da biblioteca. As disciplinas de catalogao e bibliografia prevm, para controle e acessibilidade, campos de informao significantes que so o editor, autor, assuntos, data e lugar de publicao. 4.3 Arquivos 9

4.3.1 Os Arquivos lidam em grande parte com material indito, documentos acumulados decorrentes da actividade social ou organizacional, que foram julgados de valor continuo. Mais do que obras autnomas conscientemente criadas para publicao, o seu interesse o rasto colectivo das actividades. Este material seleccionado, administrado e acedido7

Na preparao desta seco, uma fonte muito til foi Ellis, J(ed.): Keeping Archives, publicada por D W Thorpe / Australian Society of Archivists, 1993 8 A mesma fonte inclui uma grelha salientando as diferenas essenciais entre arquivos, bibliotecas e museus. Uma variante desta grelha foi includa no Apndice 2, estabelecendo uma comparao com os arquivos audiovisuais.9

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no contexto - a ligao com o seu criador, actividade, ou outros documentos relacionados so as consideraes principais e os fundos arquivsticos, so desenvolvidos e administrados de acordo com estes conceitos. Por exemplo, uma srie de correspondncia pode ser parte de um fundo particular criado por um agente de governo em circunstncias ou em um momento particular. Saber isto e usar o material dentro daquele contexto essencial para um entendimento completo e prprio dos documentos. Em vez de catlogos so usados Instrumentos de Descrio como ponto de entrada para o utilizador. 4.4 Museus

4.4.1 Pode dizer-se que os museus lidam com objectos mais do que documentos ou publicaes per se: coleccionam, pesquisam, documentam, exibem. A conservao uma disciplina e actividade central, e as actividades de exibio pblica sob condies ambientais controladas para propsitos educacionais so uma razo de ser fundamental. O uso de tecnologia audiovisual para propsitos de exibio uma caracterstica sempre crescente. 4.5 Arquivos audiovisuais

4.5.1 evidente que a totalidade dos arquivos audiovisuais, por necessidade, abraa aspectos de todos os trs conceitos. Por exemplo, o material com que eles lidam pode ser publicado" ou "indito" - a distino nem sempre bvia ou importante; o conceito de um "original" (um negativo de filme ou um master de gravao) tambm significativa. As actividades de descrio, catalogao e controle de inventrio so to essenciais em arquivos audiovisuais como em bibliotecas, museus e arquivos. Uma vez que lidam com um meio tecnolgico, conceptualmente impossvel separar a tecnologia do seu produto. Como tal as disciplinas de museologia so tambm relevantes. As mecnicas e modos de acesso, tanto para indivduos ou grupos de pequenas ou grandes vrias dimenses, so mltiplas. Para alm disso, existem distines (ver Seco C) que surgem da natureza dos suportes. 4.5.2 Igualmente, dentro desta amlgama, h aspectos de cada uma das profisses tradicionais que no so to pertinentes. Por exemplo, os conceitos de cincia arquivstica de documento, ordem original e respeito dos Fundos podem limitar os do arquivo audiovisual e nem sempre so pertinentes para as suas necessidades. Os conceitos de biblioteconomia de informao e administrao das coleces tm limitaes. Os servios de acesso podem ser muito caros, e como tal a tica do acesso livre ao pblico tradicionalmente comum em arquivos e bibliotecas pode no ser pratica. 4.5.3 As comparaes so instrutivas e mereceriam estudo. Um exemplo hipottico a ilustra-lo. Um mesmo programa de televiso poderia encontrar um lugar legitimo em todos os quatro tipos de instituio. Dentro de uma biblioteca, pode representar informao, registo histrico ou uma criao intelectual ou artstica. Dentro de um arquivo, pode incluir parte dos documentos de uma organizao em particular. Dentro de um museu, pode ser uma obra de arte exibvel. Cada uma destas maneiras de ver legtimo e apropriada ao contexto respectivo: o mesmo trabalho visto de perspectivas diferentes dentro da24

perspectiva de determinada profisso que o tratou adequadamente. Os arquivos audiovisuais vem isto ainda de maneira diferente, na sua prpria viso que igualmente legitima e apropriada: uma sntese destas disciplinas. 4.6 O paradigma do arquivo audiovisual

4.6.1 O arquivo audiovisual est em posio de ver o hipottico programa em seu prprio direito e no como um aspecto de qualquer outra coisa. Ento, pode no o ver principalmente como informao, ou documento histrico, ou arte, ou registo organizacional. Pode v-lo como um programa de televiso que todas estas coisas, e mais, determina em funo disso os seus mtodos e seus servios. A natureza do domnio audiovisual e seus produtos o primeiro ponto de referncia para arquivos audiovisuais: da mesma maneira que, sculos atrs, o carcter do livro impresso, como um fenmeno, foi o ponto de partida para as bibliotecas tal como as conhecemos agora. 4.6.2 Indo ainda mais longe, consideremos, por exemplo, o modo como os arquivos audiovisuais tratam os materiais sobre papel - peridicos, cartazes, fotografias, manuscritos e afins. Estes artigos no so percebidos principalmente no seu prprio direito mas no aspecto em que servem para ampliar o valor das gravaes, filmes ou programas com os quais se relacionam. Um cartaz de filme tem valor num arquivo audiovisual por causa do filme com o qual se relaciona. Pode ter valor bastante diferente, como arte, em uma galeria de arte. 4.6.3 At que ponto este paradigma opera na prtica varia de acordo com as circunstncias e escolhas do arquivo audiovisual. Arquivos audiovisuais autnomos sejam eles de um s ou de mltiplos suportes, que tm independncia e estatuto comparvel s bibliotecas principais, arquivos e museus esto na melhor posio para pr em pratica este modelo: o audiovisual tem o mesmo estatuto cultural que as tcnicas que o precederam. Os arquivos audiovisuais que so parte de organizaes maiores encontram o seu lugar entre este paradigma e a viso da sua instituio-me. Obviamente os documentos audiovisuais, como outras mdia, retm a sua natureza independentemente do contexto organizacional: a pergunta at onde aquele contexto pode, ou deve, reflectir toda aquela natureza. (Os profissionais em bibliotecas, arquivos e museus que so partes de organizaes maiores enfrentam assuntos comparveis.) 4.7 Outras perspectivas de arquivos audiovisuais

4.7.1 A viso geral dos arquivos audiovisuais contm muitos outros elementos que, em maior ou menor extenso, so a sua caracterstica ou caractersticas por definio. So ilustrativas as seguintes. 4.7.2.1 O meio ambiente da indstria audiovisual: Os Arquivos audiovisuais so parte do mundo das instituies que coleccionam, consciente das responsabilidades sociais e ticas de servio pblico que caracteriza aquele mundo. Mas eles so tambm, em graus variados, parte de outro mundo: as indstrias audiovisuais internacionais e a sua cultura. A recrutam pessoal, falam a sua linguagem, servem as suas necessidades. Reflectem seu esprito empresarial e paixo pelos media. Ao mesmo tempo,25

especialmente para arquivos audiovisuais que so parte de organizaes maiores, os imperativos de (por exemplo) gerar receitas ou servir as prioridades por aquela estabelecidas podem ter precedncia sobre as responsabilidades sociais. 4.7.2.2 ...e a sua histria. Enquanto existem algumas excepes notveis, a lio da experincia que as indstrias de audiovisuais esto to preocupadas com a sua produo que h frequentemente pouco tempo, ou inclinao, para enfatizar histria corporativa e o produto de ontem, de um ponto de vistas cultural, histrico ou at mesmo comercial. Assim so os arquivos audiovisuais e arquivistas que tm que garantir esta dimenso se a memria pblica ser preservada, e "cultura popular" (por oposio "cultura elevada") mantida acessvel. Os desafios e tenses para os arquivistas audiovisuais podem ser profundas. 4.7.3.1 Cultura incorporada: A fragilidade e natureza precria dos documentos audiovisuais, o sentido pioneiro de arquivar audiovisuais, a falta frequente de recursos e insegurana de emprego, o desenvolvimento rpido da paisagem tecnolgica e organizacional, e os seus pequenos nmeros relativamente dimenso da tarefa do aos arquivos audiovisuais e seus arquivistas um sentimento de misso e urgncia. "Tanto para fazer, to pouco tempo". Eles so constantemente confrontados pelas implicaes das suas prprias aces, inaces e limitaes: precisam convencer, mudar atitudes e modelar o seu ambiente. tpica no seu campo uma muitas vezes apaixonada advocacia. . 4.7.3.2 Versatilidade e polivalncia. preciso, por exemplo, com um conhecimento tcnico geral bsico, um conhecimento histrico dos media e da arquivstica audiovisual, independentementea rea de especializao da pessoa. essencial uma tica exigente e escrupulosa num domnio onde se manipula informao comercial confidencial, onde as transaes para acesso ou aquisio podem envolver somas considerveis, onde preciso sem hesitao fazer um julgamento e onde numerosos depositantes importantes (como coleccionadores privados) preferem confiar em indivduos em lugar de instituies. O compromisso exigido para operar com sucesso neste ambiente tende a excluir aqueles a quem falta entusiasmo pessoal pelas documentos audiovisuais e sua preservao. 4.7.4.1 Preservao: A tenso entre preservao e acesso pertinente maioria das instituies que coleccionam. Acesso acarreta riscos e custos, sejam grandes ou pequenos: contudo preservao sem perspectiva de acesso insensata. Porque os documentos audiovisuais so baseadas na tecnologia, as realidades de preservao encontram-se em todas as funes de um arquivo audiovisual de um modo particular: eles so integrantes das operaes do dia a dia na operao diria, mais do que uma tarefa suplementar. A preservao delineia as percepes de um arquivo: o acesso ao material tem sempre implicaes tecnolgicas e custos, pequenos ou grandes. Os modos possveis de acesso so muitos: desde o retirar uma cassete da estante para, fazer uma nova impresso de filme a partir de materiais de preservao e alocando um cinema durante vrias horas para sua projeco. Qualquer que seja a escolha, o modo de acesso deve ser tal que no ponha a sobrevivncia do trabalho sob risco inaceitvel. Se o custo no pode ser garantido naquele momento, o acesso pode no assegurado at que aquele possa ser suportado e tenha prioridade suficientemente alta que o justifique.26

4.7.4.2 De facto, por causa da sua base tecnolgica os arquivos audiovisuais so frequentemente distinguidos pelo seu carcter como centros especializadas e de equipamento tcnico especializado: como lugares onde tecnologia obsoleta e processos so, por necessidade, mantidos e nutridos por forma a que o material em todos os formatos audiovisuais possa ser restaurado e reproduzido. At quando tal perdurar, uma vez que os arquivos so dependentes de uma ampla infra-estrutura industrial para fornecimento de stock de filme e peas de substituio, no pode ser previsto a longo prazo. OS Arquivos tero que gerir ambos os imperativos ticos e econmicos que os confrontam como as opes digitais cada vez mais diversificadas, e com a proliferao de formatos. Certamente o efeito de inrcia de armazenar, manter e copiar sempre quantidades crescentes de materiais audiovisuais em formatos obsoletos desencorajar julgamentos apressados num futuro previsvel. Para alm disso, as caractersticas estticas, conhecimento histrico e julgamentos ticos envolvidos no trabalho de preservao so integrantes da natureza dos documentos audiovisuais e sempre sero precisos. (Veja tambm C: 2.3 para uma discusso do princpio de suporte / contedo]). 4.7.5 Perspectiva tcnica: uma caracterstica relacionada a mente tecnolgica dos arquivistas audiovisuais: a capacidade para pensar constantemente em termos tcnicos, operar uma variedade de equipamento tcnico, entender as consequncias directas de um armazenamento imprprio, equipamento maltratado ou mal utilizado numa variedade de circunstncias. uma caracterstica que vai bem mais longe do que se poderia esperar como norma em outras profisses que coleccionam. 4.7.6.1 Abordagem baseada nos factos: de maneira lgica e justificada, os arquivos audiovisuais usam mtodos e princpios de aquisio, de administrao da coleco, de documentar e assegurar servios, que nascem da natureza dos documentos audiovisuais e seu contexto fsico, esttico e legal. Estes mtodos podem diferir ento, em grau ou em tipo, das correspondentes abordagens das outras profisses que coleccionam. Tal parece uma evidncia, mas do facto que os arquivos audiovisuais tenham surgido a partir dessas profisses, resultou que as concepes divergentes (por vezes incompatveis) destas ltimas foram aplicadas, por analogia automtica, no domnio do audiovisual. 4.7.6.2 Um exemplo disto a prtica (agora felizmente obsoleta) dos bibliotecrios que insistem que os filmes sejam catalogados de acordo com o que foi encontrado num genrico ou escrito na caixa de lata. O