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TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANIT ´ ARIO E AVALIAC ¸ ˜ AO DA TOXICIDADE DO EFLUENTE BRUTO E TRATADO Alessandra Cristina Silva TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAC ¸ ˜ AO DOS PROGRAMAS DE P ´ OS-GRADUAC ¸ ˜ AO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESS ´ ARIOS PARA A OBTENC ¸ ˜ AO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL Aprovada por: Prof. Geraldo Lippel Sant’Anna Jr., Dr.Ing Prof. Fl´ avio C´ esar Borba Mascarenhas, D.Sc Prof. Jo˜ ao Alberto Ferreira, D.Sc Prof. Juacyara Carbonelli Campos, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JUNHO DE 2002

TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANITARIO´ E … · de em auxiliar o trabalho de tese e pela ajuda na realizac¸˜ao dos testes de toxicidade, e tamb´em aos amigos Alexandre,

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TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANITARIO EAVALIACAO DA TOXICIDADE DO EFLUENTE BRUTO E

TRATADO

Alessandra Cristina Silva

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENACAO DOS

PROGRAMAS DE POS-GRADUACAO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSARIOS PARA A OBTENCAO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA

CIVIL

Aprovada por:

Prof. Geraldo Lippel Sant’Anna Jr., Dr.Ing

Prof. Flavio Cesar Borba Mascarenhas, D.Sc

Prof. Joao Alberto Ferreira, D.Sc

Prof. Juacyara Carbonelli Campos, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JUNHO DE 2002

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SILVA, ALESSANDRA CRISTINA

Tratamento do Percolado de Aterro

Sanitario e Avaliacao da Toxicidade�Rio de Janeiro � 2002

IX, 79 p., 29,7 cm, (COPPE/UFRJ,

M.Sc., Engenharia Civil, 2002)

Tese - Universidade Federal do Rio

de Janeiro, COPPE

1. Tratamento de Efluente;

2. Toxicidade

I. COPPE/UFRJ II. Tıtulo (serie)

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Dedicatoria:

Dedico esta Tese a Deus, a Minha Famılia e ao Valentim, meu Companheiro.

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Agradecimentos:

A Deus por esta maravilhosa oportunidade ımpar na minha vida de aprendizado. Este

trabalho seria muito mais difıcil de ser realizado sem a valiosa ajuda dos muitos amigos

que fiz durante sua execucao. A todos eles meus sinceros agradecimentos e especialmente

aos seguintes:

Aos meus orientadores, Prof. Geraldo Lippel e Prof. � Marcia Dezotti pelos conse-

lhos, atencao, incentivo e muito carinho na orientacao deste trabalho. A Gleidice pelo

carinho, amizade e pelos conselhos imprescindıveis, demonstrando sempre boa vonta-

de em auxiliar o trabalho de tese e pela ajuda na realizacao dos testes de toxicidade, e

tambem aos amigos Alexandre, Paulo, Fernando, Barbara e Fabiane(LABPOL/COPPE),

pela colaboracao, dedicacao e agradavel companhia durante o tempo convivido.

As minhas amigas, sempre presentes nos bons e maus momentos Ana Paula Marques,

Ana Paula Lou e em especial a Michely Libos pelo apoio na decisao de vir para o Rio de

Janeiro, redirecionando toda a minha vida e pelo companheirismo de juntas fazermos o

mestrado na COPPE/UFRJ.

Aos amigos do Programa de Recursos Hıdricos (PEC/COPPE/UFRJ) Sergio, Carlos,

Honorio, Patrick, MaxMiliano, Mariela e Roberta pelo conhecimento adquirido que com-

partilhamos juntos.

Toda equipe do setor de projetos do Laboratorio de Hidrologia(PEC/COPPE/UFRJ)

pelo apoio, amizade e utilizacoes do laboratorio.

Aos amigos do Laboratorio de Controle de Poluicao de Aguas (PEQ/COPPE/UFRJ),

Joao Luiz, Eduardo, Flavia, Daniele, Alessandra Lima, Alessandra Magda, Lenise, Ja-

queline, Antonio e Erica, pelo companheirismo e ajuda nos momentos difıceis.

A FEEMA e a Petroflex S/A, pela realizacao de algumas analises.

A White Martins e ao Dr. Filipe Montalvao pela oportunidade de utilizacao dos labo-

ratorios do Centro Tecnologico da White Martins de Gases Industriais S/A.

Aos amigos do Laboratorio da White Martins, Carla, Diogenes e Ana Cecılia, pelo

auxılio nos ensaios experimentais de ozonizacao.

Ao Prof. Paulo Modesto (DESA/UFMT) que durante a graduacao sempre incentivou

a fazer o mestrado.

A Prof. � Eliana Beatriz e Dr. Peter Zeihofer (DESA/UFMT) coordenadores do mes-

trado Interinstitucional/COPPE/UFRJ pela participacao como aluna especial, incentivan-

do a fazer o mestrado na COPPE/UFRJ.

As amigas Liliana, Gersina, Cleide, Katia, Cristina, Suzele pelo incentivo para fazer

o mestrado.

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Aos amigos do Laboratorio de Informatica (PEC/COPPE/UFRJ) Thelmo, Jonny,

Celio pelo apoio tecnico.

A direcao do Aterro de Gramacho, pela autorizacao para realizacao das coletas.

Aos funcionarios do setor de transporte da (COPPE/UFRJ), principalmente ao Laerte,

que se mostrou sempre disposto em ajudar.

Ao amigo Eduardo da secretaria do PEQ, pelo apoio durante o desenvolvimento deste

trabalho.

Ao Prof. Flavio Mascarenhas, ao Dr. Joao Alberto e a Dr. Juacyara por terem aceito

fazer parte da banca de tese.

A todos os professores e funcionarios administrativo do PEC, em especial, Rita, Vil-

ma, Bete e Jairo pelo auxılio de sempre.

A Capes pelo convenio MINTER que possibilitou a bolsa de auxılio ao mestrado.

Aos meus pais, as minhas irmas, ao meu sobrinho, pelo apoio e compreensao. E

finalmente ao meu companheiro Valentim pelo carinho e apoio diario durante a realizacao

deste trabalho.

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Resumo da Tese apresentada a COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessarios para

a obtencao do grau de Mestre em Ciencias (M.Sc.)

TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANITARIO E AVALIACAO DA

TOXICIDADE DO EFLUENTE BRUTO E TRATADO

Alessandra Cristina Silva

Junho/2002

Orientador: Geraldo Lippel Sant’Anna Jr.

Marcia Dezotti

Programa: Engenharia Civil

Neste trabalho foi realizada a caracterizacao fısico-quımica do lıquido percolado (cho-

rume) do Aterro Metropolitano de Gramacho (RJ) e foram estudadas diferentes tecnicas

para tratamento desse efluente, de modo a deixa-lo em condicoes adequadas para o

lancamento no corpo receptor. Os processos de coagulacao/floculacao, ozonizacao e ar-

raste por ar (remocao de amonia) foram investigados. O desempenho desses processos

foi feito monitorando-se as remocoes de materia organica (DQO e COT), do teor de ni-

trogenio e dos teores de metais. Ademais, empregou-se a ecotoxicidade aguda como

indicador do desempenho das tecnicas de tratamento. Buscou-se, atraves da tecnica de

fracionamento por membranas, determinar as faixas de massa molar dos poluentes pre-

sentes no efluente e verificar a toxicidade associada a essas fracoes. Os testes de avaliacao

da ecotoxicidade mostraram-se um valioso indicador para inferir o impacto do lancamento

do efluente bruto e tratado no corpo receptor, a Baıa de Guanabara, cuja qualidade ambi-

ental esta bastante comprometida.

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Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

TREATMENT OF THE SANITARY LANDFILL LEACHATE AND EVALUATION

OF THE RAW AND TREATED EFLUENT’S TOXICITY

Alessandra Cristina Silva

June/2002

Advisor: Geraldo Lippel Sant’Anna Jr.

Marcia Dezotti

Department: Civil Engineering

This work deals with the physical and chemical characterization of the leachate from

Gramacho Metropolitan Landfill (RJ) and with the treatment of this effluent by different

techniques, which can produce an effluent suitable for discharge in the water receiving

body. Coagulation and flocculation, ozonization and air stripping (for ammonia remo-

val) were the treatment techniques investigated. The treatment performance was assessed

by monitoring the removal of organic matter (COD and TOC), ammonium nitrogen and

metals. The determination of acute toxicity was also performed and used as an indicator

of treatment efficacy. The technique of membrane fractionation was employed to infer

the molecular mass range of the pollutants found in the effluent and verify the toxicity

associated to these mass molecular fractions. The ecotoxicity assays showed to be a vali-

ous indicator to forecast the environmental impact of leachate discharge in the Guanabara

Bay, a heavily polluted water system.

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Sumario

1 INTRODUCAO E OBJETIVO 1

2 REVISAO BIBLIOGRAFICA 32.1 Percolados de Aterros Sanitarios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.1.1 Caracterısticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 Recalcitrancia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2.1 Desafios do Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.2.2 Variabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.3 Aterro Metropolitano de Gramacho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.4 Tecnicas empregadas para tratar o percolado . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.4.1 Tratamento Primario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.4.2 Tratamentos Oxidativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.4.3 Tratamento Biologico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.4.4 Processos de Separacao com Membranas . . . . . . . . . . . . . 17

2.4.5 Evaporacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.4.6 Recirculacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.4.7 Neutralizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.4.8 Eletroquımico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.4.9 Wetlands . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.4.10 Remocao de Volateis e Amonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.5 Remocao de Metais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.6 Consideracoes sobre as tecnicas de tratamento de chorume . . . . . . . . 25

2.7 Toxicidade: Conceitos e Metodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.7.1 Toxicidade aguda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.7.2 Toxicidade cronica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2.7.3 Organismos Padronizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

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2.7.4 Leis Federais e Estaduais Para Avaliacao da Toxicidade . . . . . . 35

3 Materiais e Metodos 373.1 Procedimentos de Coleta e Preservacao das Amostras de Chorume . . . . 37

3.2 Caracterizacao do Chorume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3.3 Tratamento Primario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3.4 Ozonizacao do Efluente Pre-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.4.1 Planta Piloto de Ozonizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.4.2 Procedimento experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3.5 Fracionamento com Membranas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3.5.1 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

3.6 Arraste da Amonia com Ar das Fracoes Percoladas . . . . . . . . . . . . 46

3.7 Bioensaios para determinacao da toxicidade . . . . . . . . . . . . . . . . 47

3.7.1 Organismos testados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

3.7.2 Procedimento dos Testes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

3.7.3 Tratamento Estatıstico dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

3.8 Metodologia Analıtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.8.1 DQO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.8.2 COT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.8.3 pH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.8.4 Cor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.8.5 Cloreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

3.8.6 Amonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

3.8.7 Metais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4 RESULTADOS e DISCUSSAO 534.1 Caracterizacao do efluente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

4.2 Tratamento primario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

4.3 Ozonizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

4.4 Fracionamento com membranas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

4.5 Arraste da amonia das amostras fracionadas em membranas . . . . . . . . 74

4.6 Toxicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

4.6.1 Efluente Bruto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

4.6.2 Efluente Pre-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.6.3 Efluente Ozonizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

4.6.4 Efluente Fracionado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

4.6.5 Permeados submetidos ao arraste com ar para remocao de amonia 88

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4.6.6 Efluente pre-tratado submetido ao arraste com ar para remocao de

amonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

4.7 Comentarios finais sobre os tratamentos realizados . . . . . . . . . . . . 92

5 CONCLUSOES E SUGESTOES 99

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Lista de Figuras

2.1 Daphnia Similis: diversas fases da vida do organismo . . . . . . . . . . . 31

3.1 Local de Amostragem do Chorume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3.2 Teste de Coagulacao/Floculacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.3 Planta Piloto instalada na White Martins . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3.4 Coluna de Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3.5 Diagrama esquematico da unidade piloto de ozonio da White Martins . . 42

3.6 Coluna de Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3.7 Esquema da unidade empregada nos ensaios de micro e ultrafiltracao. . . 45

3.8 Representacao Esquematica da Celula de Permeacao . . . . . . . . . . . 45

3.9 Esquema do Sistema Utilizado para o Arraste da Amonia . . . . . . . . . 46

3.10 Artemia salina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.11 Daphnia similis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3.12 Brachydanio rerio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3.13 Vibrio fisheri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4.1 Fotografia ilustrativa da remocao de cor do chorume promovida pelo pro-

cesso de coagulacao/floculacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

4.2 Remocao dos parametros analisados no processo de

coagulacao/floculacao do chorume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

4.3 Remocao de DQO obtida nos testes para diferentes dosagens de ozonio . 67

4.4 Comportamento da DQO do chorume pre-tratado e ozonizado em dife-

rentes condicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

4.5 Variacao do COT do chorume pre-tratado e ozonizado em diferentes

condicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

4.6 Remocao de cor no processo de ozonizacao do efluente pre-tratado para

diferentes dosagens de ozonio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

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4.7 Variacao da cor do efluente com o pre-tratamento e posterior ozonizacao

com diferentes dosagens de ozonio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4.8 Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com

diferentes cortes (primeira amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

4.9 Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com

diferentes cortes (segunda amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

4.10 Variacao do teor de amonia no decorrer do ensaio de arraste com ar para

o chorume pre-tratado e posteriormente fracionado em membranas com

diferentes cortes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.11 Piramide representativa dos organismos em determinados nıveis troficos,

destacando-se aqueles utilizados neste trabalho . . . . . . . . . . . . . . 76

4.12 Resultados de toxicidade do chorume bruto para os diferentes organismos

testados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.13 Comportamento da toxicidade do chorume pre-tratado para os diferentes

organismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

4.14 Variacao da toxicidade para primeira amostragem . . . . . . . . . . . . . 82

4.15 Variacao da toxicidade para segunda amostragem . . . . . . . . . . . . . 83

4.16 Resposta do parametro efeito toxico para amostras ozonizadas em dife-

rentes condicoes (�

� amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

4.17 Valores da DQO do chorume submetido a diferentes tratamentos . . . . . 95

4.18 Resultados da Toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na � �

amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

4.19 Resultados da toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na�

amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

4.20 Resultados da toxicidade para os efluentes submetidos ao arraste de

amonia com ar em ambas as amostragens . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

4.21 Resultados do Efeito observado no teste de toxicidade para Artemia Sali-

na para os efluentes submetidos ao arraste de amonia nas duas amostragens 98

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Lista de Tabelas

2.1 Ions presentes no chorume e suas principais fontes . . . . . . . . . . . . 7

2.2 Potencial de remocao dos processos por membranas . . . . . . . . . . . . 18

2.3 Sumario das tecnicas de tratamento empregadas para tratar chorume . . . 26

3.1 Descricao do Coagulante e do Polieletrolito utilizados nos testes de

coagulacao/floculacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3.2 Relacao de membranas usadas para microfiltracao(MF) e ultrafiltracao(UF). 44

4.1 Caracterizacao do Chorume: valores medios dos parametros fısico-

quımicos de duas amostras distintas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.2 Caracterizacao do chorume do Aterro de Gramacho feita em diferentes

perıodos por pesquisadores e tecnicas distintas . . . . . . . . . . . . . . . 57

4.3 Dados recentes sobre parametros caracterısticos dos chorumes gerados

em aterros de diferentes regioes brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

4.4 Resultados das analises de metais presentes nas amostras de chorume do

Aterro de Gramacho e limites de lancamento de alguns poluentes . . . . . 59

4.5 Resultados das analises de metais presentes na amostra de chorume do

Aterro de Gramacho e limites de lancamento de alguns poluentes . . . . . 61

4.6 Resultados do processo de coagulacao/floculacao aplicado a primeira

amostra do chorume: remocao de materia organica, cor e cloreto . . . . . 62

4.7 Resultados do processo de coagulacao/floculacao aplicado a segunda

amostra do chorume: remocao de materia organica, cor e cloreto . . . . . 63

4.8 Resultados das analises de metais presentes nas amostras de chorume pre-

tratado e limites de lancamento de alguns poluentes. . . . . . . . . . . . . 66

4.9 Remocao percentual de parametros fısico-quımicos de interesse observa-

dos no processo de fracionamento por membranas . . . . . . . . . . . . . 73

4.10 Valores dos parametros fısico-quımicos analisados nos permeados apos o

arraste da amonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

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4.11 Resultados dos testes de toxicidade aplicados as amostras de chorume bruto 77

4.12 Resultados de toxicidade por Daphnia similis empregando-se correcao de

salinidade para o chorume bruto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4.13 Resultados dos testes de toxicidade aplicados as amostras de chorume

pre-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

4.14 Resultado de toxicidade para Daphnia similis com correcao da salinidade

do chorume pre-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

4.15 Resultados de toxicidade obtidos com o chorume pre-tratado e ozonizado

em diferentes condicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

4.16 Avaliacao global da toxicidade do chorume pre-tratado e ozonizado (di-

ferentes dosagens) para Daphinia similis. Amostras com salinidade cor-

rigida (�

� Amostragem). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

4.17 Toxicidade avaliada nos permeados obtidos nos processos de permeacao

com membranas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

4.18 Toxicidade para Daphnia similis das diferentes fracoes permeadas apos o

ajuste da salinidade (�

� amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4.19 Resultados de toxicidade para amostras permeadas e submetidas ao arras-

te com ar (primeira e segunda amostragens) . . . . . . . . . . . . . . . . 89

4.20 Toxicidade dos permeados para Daphnia similis apos o ajuste de salinidade 89

4.21 Resultados de toxicidade para Artemia salina expressos em termos de

diversos parametros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

4.22 Resultados da toxicidade para o efluente pre-tratado e submetido ao ar-

raste com ar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

4.23 Resultados da toxicidade para Artemia salina determinados para o choru-

me pre-tratado e submetido ao arraste com ar. . . . . . . . . . . . . . . . 91

4.24 Resultados de toxicidade para Daphnia similis com amostras do efluen-

te pre-tratado e submetido ao arraste com ar. Amostras com salinidade

corrigida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

4.25 Sumario dos principais parametros monitorados nos diversos

tratamentos( � � amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

4.26 Sumario dos principais parametros monitorados nos diversos

tratamentos(�

� amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

xiv

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Lista de Abreviaturas

CE50 Concentracao Efetiva em 50% dos organismos testados

CENO Maior Concentracao do efeito nao observado

CEO Menor Concentracao do efeito observado

CL50 Concentracao Letal em 50% dos organismos testados

CO � Dioxido de Carbono

COT Carbono de Organico Total

DBO Demanda Bioquımica de Oxigenio

DE50 Dose Efetiva em 50% dos organismos testados

DL50 Dose Letal em 50% dos organismos testados

DQO Demanda Quımica de Oxigenio

FEEMA Fundacao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

H � O Agua

H � O � Peroxido de Hidrogenio

IBGE Instituto Brasileiro Geografia e Estatıstica

LABPOL Laboratorio de Poluicao das Aguas

MAP (fosfato/ amonia/ magnesio)

MF Microfiltracao�����

Amonia livre������ Amonia ionizada

NT Normas Tecnicas

O�

Ozonio

O � Oxigenio

OD Oxigenio Dissolvido OH Radical Hidroxila

pH Potencial de Hidrogenio

PM Peso Molecular

POAs Processos Oxidativos Avancados

PtCo Platina Cobalto

R Radical

UF Ultrafiltracao

UT Unidade de Toxicidade

UV Radiacao Ultra Violeta

COMLURB Companhia de Limpeza Urbana do Municıpio

xv

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Capıtulo 1

INTRODUCAO E OBJETIVO

O crescimento urbano, a industrializacao e a decorrente elevacao dos patamares de

consumo, vem provocando o aumento da geracao de resıduos solidos, principalmente nas

regioes metropolitanas, impondo grandes demandas, tanto pela quantidade, quanto pelas

caracterısticas dos resıduos gerados.

A falta de uma polıtica para o gerenciamento dos resıduos solidos contribui para a

poluicao do ar, da agua e do solo. A decomposicao desses resıduos gera um lıquido de-

nominado chorume, cuja composicao e variada e complexa. A presenca de diversos polu-

entes no chorume impoe a necessidade de tratamento adequado antes de seu lancamento

no corpo receptor.

O chorume, gerado nos aterros sanitarios e locais de disposicao denominados lixoes,

apresenta grande variabilidade no tocante a sua composicao quımica, que, por sua vez,

depende de varios fatores como a idade do aterro, as condicoes geologicas locais e eventos

climaticos diversos.

Vale ressaltar que mesmo quando os resıduos solidos sao depositados no solo adequa-

damente e o aterro encerra suas atividades no tempo certo, a geracao do chorume nao se

extingue e, em geral, quanto mais velho o aterro, menos biodegradavel e esse efluente,

necessitando de processos de tratamento mais complexos.

Ate bem pouco tempo a agua era vista como um recurso ilimitado, agora, diante do

conhecimento da sua escassez e do estabelecimento da polıtica de Recursos Hıdricos ha

uma expectativa de que haja um maior e mais rigoroso controle da poluicao hıdrica.

Logo, espera-se que os esforcos para controlar a poluicao das aguas sejam expandi-

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dos, para que haja protecao da qualidade das aguas. Os resıduos solidos urbanos com-

prometem a qualidade dos cursos hıdricos, de modo muito intenso, sobretudo quando o

gerenciamento desses resıduos e precario.

Constitui-se como objetivo deste trabalho investigar tecnicas de tratamento do choru-

me e avaliar o seu desempenho nao somente atraves de parametros fısico-quımicos, como

tambem atraves da determinacao da toxicidade aguda atraves de bioensaios empregan-

do alguns organismos padronizados como os microcrustaceos Daphnia similis e Artemia

salina, a bacteria Vıbrio fisheri e o peixe Brachydanio rerio.

A introducao de bioensaios de toxidade na rotina do controle de efluentes de chorume

e muito importante para a preservacao da qualidade de corpos receptores, assegurando o

equilıbrio quımico do ambiente, condicao indispensavel e urgente para preservar a vida

na terra.

Esta dissertacao esta dividida em capıtulos, cujos contudos sao sumarizados em se-

guida.

No capıtulo 2 sao apresentados algumas das caracterısticas do percolado gerado no

Aterro Metropolitano de Gramacho (RJ), e sao descritas as tecnicas investigadas nes-

te estudo: pre-tratamento de coagulacao/floculacao para remocao de parte do material

organico e metais, ozonizacao do chorume para remocao de cor e materia organica, fraci-

onamento por membranas para tentar identificar relacoes entre recalcitrancia e toxicidade

com a massa molecular dos poluentes e arraste da amonia com ar. Nesse capıtulo tambem

sao comentadas outras tecnicas que estao sendo investigadas por diversos autores, pa-

ra o tratamento de chorumes gerados em varios aterros e que apresentam caracterısticas

de recalcitrancia. Finalmente, sao apresentados os testes de ecotoxicidade, considerados

ferramenta essencial para a avaliacao da eficiencia dos tratamentos testados.

No capıtulo 3 estao descritos os procedimentos experimentais e as metodologias

analıticas e as tecnicas utilizadas nos tratamentos estudados e tambem os metodos to-

xicologicos empregados. Os resultados obtidos neste estudo estao descritos e discutidos

no capıtulo 4.

No ultimo capıtulo sao apresentados as conclusoes do trabalho e sao feitas sugestoes

para trabalhos futuros.

2

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Capıtulo 2

REVISAO BIBLIOGRAFICA

2.1 Percolados de Aterros Sanitarios

Os percolados de aterros sao lıquidos escuros e turvos, de odor desagradavel, que

apresentam em sua composicao altos teores de compostos organicos e inorganicos, nas

suas formas dissolvida e coloidal, liberados no processo de decomposicao do lixo.

Para a formacao do chorume contribui tambem a agua de chuva que entra pela face

superior do aterro, atraves da chuva, provocando a lavagem do material aterrado, aumen-

tando assim o volume do percolado e, consequentemente, diminuindo a concentracao de

muitos ıons presentes.

A composicao do chorume esta condicionada a uma serie de fatores e sua composicao

quımica e variavel, dependendo muito dos tipos de resıduos que sao depositados no ter-

reno. Para que se tenha um controle da situacao, torna-se necessario o gerenciamento

ambiental do percolado, monitorando-se, dentre outros fatores, a qualidade e a quantida-

de de chorume produzida.

Determinar o volume de percolado gerado no aterro nao e uma tarefa facil, para tanto,

varios pesquisadores vem estimando a producao do percolado com aplicacao de modelos

matematicos. Segundo NETO et al. [1] esta ferramenta ainda apresenta imprecisoes,

decorrentes da diferenca dos cenarios para a aplicacao do modelo e do grande numero de

variaveis envolvidas.

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2.1.1 Caracterısticas

Para bem determinar as caracterısticas e o volume do percolado, e necessario avaliar

as particularidades de cada aterro.

Para evitar a contaminacao do solo e da agua sao necessarios estudos de reconheci-

mento do perfil do solo e do subsolo, onde o aterro sera construıdo. Alem disso, deve-

se avaliar parametros como: constituicao do solo, permeabilidade, capacidade de car-

ga, nıvel do lencol freatico e localizacao de jazidas de material para cobertura, grau de

compactacao, condicoes meteorologicas do lugar, condicoes de operacao do aterro, tipos

de equipamentos, tipo de recirculacao do lixiviado, natureza dos resıduos solidos (tipo,

umidade, nıvel de materia organica, outras caracterısticas), topografia (area e perfil do

terreno), qualidade e quantidade de reciclaveis e ainda habitos da populacao, numero de

habitantes, bem como seu desenvolvimento economico-socio-cultural [2].

O conhecimento de todas as caracterısticas dos resıduos solidos, assim como de suas

tendencias futuras, possibilita calcular a capacidade e selecionar o tipo dos equipamentos

de coleta, tratamento e destinacao final mais adequados.

2.2 Recalcitrancia

A presenca de substancias recalcitrantes em chorumes gerados em aterros velhos foi

apontada na literatura [3, 4]. A dificuldade ou impossibilidade de degradacao de certas

substancias quımicas na natureza associa-se o termo recalcitrancia. Como os microorga-

nismos sao os principais agentes dos processos de degradacao e reciclagem de nutrientes,

sua incapacidade de degradar ou transformar essas substancias e o indıcio de sua recal-

citrancia ou persistencia no meio ambiente. As substancias podem oferecer dificuldade a

biodegradacao em decorrencia de diversos fatores, a saber:

i) estrutura quımica complexa desprovida de grupos funcionais reativos;

ii) a molecula pode exercer uma acao toxica sobre a microflora ou ainda inativar enzimas-

chaves do metabolismo celular;

iii) a molecula pode se complexar ou interagir com elementos ou compostos quımicos

tornando-se pouco acessıvel as enzimas extracelulares e a posterior metabolizacao.

No caso dos chorumes, alguns autores afirmam que a recalcitrancia estaria associada

a presenca de compostos de elevada massa molecular com estruturas muito complexas

como e o caso das substancias humicas [5].

4

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As substancias humicas constituem uma importante fracao do material organico dis-

solvido nas aguas naturais. Sao definidas como macromoleculas polifuncionais que alte-

ram com frequencia as suas conformacoes em funcao das interacoes que ocorrem entre

os grupos funcionais presentes na sua estrutura. Essas substancias possuem estruturas

complexas e heterogeneas, compostas de carbono, oxigenio, hidrogenio e algumas vezes

pequenas quantidades de nitrogenio, fosforo e enxofre. Ocorrem nos solos e aguas na-

turais como consequencia da decomposicao de resıduos de plantas e animais atraves de

processos quımicos, fısicos e biologicos [6, 7, 8, 9].

Sao divididas em tres classes de materiais:

acidos fulvicos - materiais soluveis em agua em todas as condicoes de pH;

acidos humicos - sao soluveis em pH � 2;

humus - soluveis em qualquer pH.

Segundo JONES et al. [6] essas macromoleculas possuem uma certa complexi-

dade quımica e estrutural que torna difıcil a sua caracterizacao. Varios metodos de

determinacao de massa molecular de polımeros tem sido aplicados para substancias, in-

cluindo a medida de propriedades coligativas, tecnicas de cromatografia, ultrafiltracao,

ultracentrifugacao, viscometria e microscopia eletronica. Os metodos oxidativos - CuO

e a pirolise sao largamente usados para caracterizar componentes individuais do material

humico [10, 8, 11].

CINTRA et al.[12] evidenciou em seus experimentos que se deve ter mais cuidado na

realizacao da analise de ������� de lixiviados provenientes de aterros sanitarios, visto que

o consumo de oxigenio por microorganismo na estabilizacao do substrato organico no

perıodo de cinco dias de incubacao da amostra, pode nao ser verdadeira, porque a carga

organica e medida indiretamente no teste, devido a pequena concentracao ou mesmo a

ausencia de uma biomassa aerobia adaptada as condicoes adversas: toxicidade e substrato

pouco assimilavel pela cultura microbiana.

2.2.1 Desafios do Tratamento

No Brasil sao produzidos diariamente cerca de 241 mil toneladas de lixo, das quais

90 mil sao de origem domiciliar. Em termos medios, a producao nacional de resıduos

domesticos por habitante estaria em torno de 600 g/dia [13].

Dados do IBGE (1991) revelam que no Brasil, 99% dos resıduos solidos sao depo-

sitados diretamente no solo, sendo que a maioria (89%) e disposta a ceu aberto ou em

5

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aterros controlados, e apenas 10% vao para aterros sanitarios [3]. Dentre as alternati-

vas tecnologicas para disposicao de resıduos solidos urbanos, o aterro sanitario ainda e

a tecnica mais utilizada mundialmente. A sua construcao baseia-se na criacao de uma

estrutura impermeabilizada seguindo criterios de engenharia e normas de operacao, cujo

objetivo e impedir que elementos toxicos, produzidos pela decomposicao do lixo, entrem

em contato com a agua e o solo, poluindo o meio ambiente. Durante a sua vida util e

apos cessar o seu funcionamento, e necessario que haja um monitoramento cuidadoso dos

gases, bem como o emprego de tecnicas de tratamento dos lıquidos percolados gerados.

O chorume gera impactos ambientais por apresentar elevado poder de poluicao das

aguas. A percolacao do lıquido no aterro pode provocar a poluicao das aguas subterraneas

e superficiais, sendo que uma das primeiras alteracoes observadas e a reducao do teor de

oxigenio dissolvido, que pode prejudicar a fauna e a flora aquatica.

Outros poluentes presentes no chorume sao os metais, que podem se apresentar em

diversas formas (livres, complexados, nao solubilizados). Esses poluentes devem ser mo-

nitorados com rigor face aos danos ambientais que promovem.

Fatores fısicos, como a temperatura, tambem sao importantes, pois muitos ıons nao

sao soluveis em temperaturas baixas, enquanto outros tem a sua solubilidade reduzida

em temperaturas elevadas. O chumbo ( ��� � � ), por exemplo, e soluvel em agua quente na

forma de cloretos, enquanto a prata ( ��� � ) e o mercurio (� � � ) nao o sao.

Devido a sua complexidade, o chorume formado nos aterros deve ser tratado antes de

seu lancamento em corpos receptores.

2.2.2 Variabilidade

A variabilidade da composicao dos resıduos aterrados, pode produzir chorumes com

elevados teores de metais toxicos, xenobioticos (substancias quımicas produzidas pelas

atividades humanas) e microorganismos perigosos a saude. No chorume, os ıons presentes

em grandes quantidades percolam pelo solo e combinam-se com especies doadoras de

eletrons, como o ıon � ��� , formando complexos (p.ex. �� � � + � ����� ���� � � ).

Tambem podem se ligar a cadeias curtas de carbono, o que os torna soluveis em tecidos

animais, podendo atravessar membranas biologicas (p. ex. � � � - S - Pb - S - � � � ) [14].

A reciclagem que e realizada em alguns depositos, onde parte do lixo e separado em

esteiras para reter materiais de valor comercial, como alumınio, pilhas, vidros e plasticos,

representa uma importante etapa, que contribui muito para abrandar a composicao do

chorume em metais e materiais de difıcil degradacao. Os ıons que podem ser encontrados

6

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no chorume e suas possıveis origens estao ilustrado na Tabela 2.1[15]. 1

Tabela 2.1: Ions presentes no chorume e suas principais fontes

Ions Fontes

��� �,� �

, � � � � , � � � � Material organico, entulhos de construcao, cascas de ovos

� �� �� ,� �� �

, � � � �� Material organico

��� � � , ��� � � , � � � Material eletronico, latas, tampas de garrafas

� � � � , �� � � Pilhas comuns e alcalinas, lampadas fluorescentes

�� � � , �� � � , ��� � � Baterias recarregaveis (celular, telefone sem fio, automoveis)

���� �

Latas descartaveis, utensılios domesticos, cosmeticos, embalagens

laminadas em geral

��� � , ��� � , ��� � Tubos de PVC, negativos de filmes de raio-X

���� �

, �� �

, ����� � Embalagens de tintas, vernizes, solventes organicos

2.3 Aterro Metropolitano de Gramacho

Buscando um meio viavel para dar destino final ao lixo, em 1933 surgiram na cidade

do Rio de Janeiro os dois primeiro aterros sanitarios; Praia do Retiro Saudoso e Parada

do Amorim, localizados no bairro do Caju. Foram considerados aterros, porque o lixo

recolhido era espalhado sobre o terreno pantanoso e coberto por uma camada de barro e

areia, material este que era extraıdo de um terreno onde estava localizado o cemiterio de

Sao Francisco Xavier.

Em novembro de 1978 foi criado no Rio de Janeiro, em uma area de 1.300.000 � � do-

ada pelo INCRA, o Aterro Metropolitano de Gramacho, construıdo a 10 metros do nıvel

do mar e situado no bairro Jardim Gramacho, no municıpio de Duque de Caxias, no km1http://www.messiaah.org/

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4,5 da Rodovia Washigton Luıs (Rio-Petropolis), com objetivo de receber resıduos domi-

ciliares dos municıpios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niteroi, Sao Goncalo, Sao

Joao do Meriti e Nilopolis, sendo depositados naquela epoca, em media 5.000 toneladas

de lixo por dia [16]. 2

Devido a ausencia de polıticas permanentes de saneamento por parte das prefei-

turas dos municıpios mencionados acima, o aterro foi operado de forma deficiente,

transformando-se num deposito de lixo a ceu aberto, com alto potencial poluidor, tan-

to para a atmosfera (biogas, particulados, produtos de combustao) como para o corpo

receptor, posto que o chorume produzido escorria para o Rio Iguacu e o Rio Sarapuı e

chegava ate a Baıa de Guanabara com consequencias danosas para o manguezal e para a

flora e a fauna.

Este quadro so comecou a ser revertido na decada de 80, quando a COMLURB decidiu

assumir a responsabilidade de recuperar a area degradada pela disposicao descontrolada

de resıduos, inclusive industriais, garantindo a operacao regular do Aterro, em conformi-

dade com as normas tecnicas e a legislacao vigente.

Em 1996 iniciaram-se as obras de recuperacao do Aterro, que contemplavam a

construcao da barreira de contencao ao seu redor feita de argila organica, de modo a

evitar o escoamento nao controladodo chorume para a Baıa de Guanabara e a construcao

de uma Estacao de Tratamento do percolado, buscando atender o programa de monito-

ramento ambiental, com objetivo de garantir a qualidade da agua dos corpos receptores

no entorno do aterro. Apos a sua recuperacao, o aterro teria capacidade de receber 8.000

toneladas diarias de lixo e sua vida util foi estimada entre 8 e 10 anos [17]. 3

A Baıa de Guanabara segundo BILA [4] e CAMMAROTA et al, [18], recebia apro-

ximadamente 800 ��/dia de um chorume altamente toxico antes da construcao de uma

barreira de contencao em volta do aterro, resultante da percolacao de lıquido do Aterro

Metropolitano de Gramacho, considerada uma das principais fontes de poluicao desse

corpo receptor.

Os dados apresentados por BILA [4] e pela COMLURB, revelam que a quantidade de

resıduos depositada no aterro, atualmente, esta compreendida na faixa de 5.500 a 6.700

toneladas diarias de lixo.

Segundo CHARLET et al. [19], o aterro de Gramacho possui quase a metade de

sua area total ocupada por lixo velho, com mais de 10 anos, gerando chorume com alta

salinidade e alta concentracao de compostos nitrogenados. O material organico e consi-

derado recalcitrante, pois apresenta baixa biodegradabilidade, indicando que o tratamento2http://www.rio.rj.gov/comlurb/arti12.htm3http://www.signuseditora.com.br/Sa-57/SAgramac.htm

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do chorume gerado, por suas caracterısticas, representa um desafio.

2.4 Tecnicas empregadas para tratar o percolado

O chorume e um efluente muito complexo, apresentando ainda variabilidade de

composicao, uma vez que cada aterro gera chorume com caracterısticas particulares, o

que demanda uma avaliacao do tipo de tratamento viavel e eficiente para cada caso.

Os trabalhos sobre chorume apresentados na literatura ressaltam que as caracterısticas,

como a idade do aterro, tem influencia significativa na composicao quımica do chorume e

consequentemente em sua tratabilidade. Portanto, a escolha entre as diversas alternativas

de tratamento depende de parametros tecnicos e economicos [20, 21].

A seguir sao descritas algumas das tecnicas mais utilizadas relatadas na literatura para

o tratamento de chorume.

2.4.1 Tratamento Primario

A finalidade do tratamento primario e remover partıculas coloidais, material solido

em suspensao e ajustar o pH para o posterior tratamento do efluente.

A coagulacao e um processo muito utilizado por promover a clarificacao de efluentes

industriais contendo partıculas coloidais e solidos em suspensao. Este processo consiste

na adicao de agentes quımicos para neutralizar as cargas eletricas das partıculas, ocorren-

do ligacoes quımicas e absorcao das cargas superficiais presentes, havendo necessidade

de aplicacao de elevada energia a mistura.

O coagulante mais popularmente utilizado nos dias atuais para o tratamento de aguas

residuarias e o sulfato de alumınio. Segundo DEZOTTI et al. [22], para favorecer a

coagulacao sao usados ıons de alta valencia ( ��� ��

e ��� ��) pois quanto maior a valencia

do ıon maior sera a sua capacidade de coagulacao.

O valor do pH exerce um papel muito importante na coagulacao. O sulfato de

alumınio, encontrado sob a forma quımica de � � � � � ��� ����� � � � , pode atuar, tanto pa-

ra as condicoes acidas como basicas. A utilizacao em condicoes acidas exige uma certa

alcalinidade para a solucao, ja nas condicoes basicas a solucao pode apresentar baixa al-

calinidade [23]. De todo modo e importante que a agua que sera submetida a coagulacao

contenha alguma alcalinidade, para que o sulfato de alumınio possa reagir e formar o

precipitado.

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Nao e possıvel estimar com exatidao a quantidade de sulfato de alumınio necessaria

para promover uma perfeita coagulacao, mas a literatura relata que sao necessarios teori-

camente cerca de 20 mg/L de sulfato de alumınio comercial para 7,7 mg/L de alcalinidade

na forma de � � � � � [24].

A adicao de alcalinidade para melhorar a coagulacao, podera implicar no aumento da

cor do efluente. Outra desvantagem e que o controle da coagulacao atraves do ajuste do

pH e uma tarefa difıcil, devido a pequena faixa de valores adequados do pH e a tendencia

de diminuicao do pH associada a adicao do sulfato [24].

Vale ressaltar que os componentes quımicos utilizados para promover a coagulacao,

agem tambem como aceleradores de floculacao, que consiste na formacao de macroflocos.

As partıculas formadas na coagulacao possuem tamanho da ordem de 1 � m, porem

sob lenta agitacao essas partıculas tendem a se aglomerar formando flocos visıveis. Um

fator fısico muito importante para a formacao dos flocos e a velocidade moderada propor-

cionada pela agitacao mecanica do meio, formando flocos com tamanho levemente maior

que uma cabeca de alfinete, pois turbulencia maior pode provocar a ruptura dos flocos em

partıculas menores que sao de difıcil decantacao, dificultando a sua remocao. As melhores

condicoes para a formacao dos flocos podem ser determinadas em ensaios laboratoriais,

visto que a duracao do perıodo de floculacao dependera tambem das caracterısticas do

efluente, da quantidade de coagulante utilizado e do tipo de floculante [24].

Temperaturas moderadas sao mais satisfatorias porque favorecem a rapida formacao

de flocos, na etapa posterior a coagulacao (floculacao). O surgimento destes flocos esta

diretamente relacionado com a concentracao do ıon-hidrogenio e as relacoes anionicas e

cationicas [24].

Para auxiliar no tratamento de coagulacao/floculacao estao sendo de largo emprego os

compostos sinteticos, denominados polieletrolitos, que sao substancias polimericas com

alto peso molecular, soluveis em agua, contendo cargas eletricas em sua estrutura.

O polieletrolito e uma substancia que nao e afetada pelo pH do meio e pode servir

como coagulante, pois pode reduzir a carga efetiva das partıculas coloidais [23].

Com relacao as cargas, o polımero pode ser classificado como cationico e anionico.

Na ausencia de cargas os polımeros denominam-se nao-ionicos.

i) cationico: possui cargas positivas capazes de absorver os flocos coloidais com

partıculas negativas;

ii) anionico: possui cargas negativas e realiza a troca destas cargas das partıculas coloi-

dais e permite a formacao de pontes de hidrogenio entre o coloide e o polımero.

Segundo REIS [25], a interacao dessas moleculas com a materia coloidal presente no

10

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efluente favorece a neutralizacao das cargas ou facilita a formacao de ligacoes (pontes)

com as partıculas individuais para formar um visıvel precipitado insoluvel, ou floco.

Os polımeros sinteticos apresentam uma importante vantagem de mercado, porque

essas moleculas podem ser produzidas sob medida, atingindo os requisitos especıficos

para determinada aplicacao. O aumento do tamanho e da densidade do floco e um dos

principais motivos que levam a utilizar os polieletrolitos sinteticos como auxiliares no

tratamento primario.

Os polieletrolitos quando combinados com eletrolitos inorganico oferecem vantagens,

como a de reduzir o consumo de eletrolito inorganico e consequentemente o volume do

precipitado, e a de condicionar a formacao de flocos com caracterısticas adequadas a

operacao de separacao dos solidos formados [22].

A coagulacao e a floculacao do chorume do Aterro de Gramacho foi investigada em

dois trabalhos anteriores. CAMMAROTA et al. [26] testou varias dosagens de coagulan-

tes em diferentes valores de pH, sendo que o tratamento se mostrou eficaz, observando-se

razoaveis remocoes de DQO (40%) com o coagulante cloreto ferrico e (25%) com sulfato

de alumınio a um valor de pH de 4,0 - 4,5 e dosagem de 400-500 mg/L. A utilizacao

dos agentes coagulantes de forma combinada e o emprego de polieletrolitos nao contri-

buıram para aprimorar a qualidade do efluente tratado. Este trabalho tambem verificou

que o chorume gerado no Aterro Sanitario de Gramacho apresentou caracterısticas fısicas

e quımicas bastante distintas daquelas apresentadas por outros chorumes e reportadas na

literatura.

Com objetivo de remover material organico recalcitrante presente no chorume por pro-

cesso de coagulacao/floculacao, BILA [4], em seu estudo, realizou varios experimentos

testando as melhores condicoes de pH, a concentracao dos agentes empregados e o me-

lhor conjunto de coagulantes e polieletrolito. Dos produtos testados o sulfato de alumınio

foi o que apresentou o melhor desempenho, com a faixa de pH otimo entre 4,5 - 5,0, e

com uma dosagem otima entre 700 - 950 (mg/L). As maiores remocoes foram obtidas

utilizando um polieletrolito cationico da Nalco denominado 7128. O estudo apresentou

bons resultados em termos de remocao de DQO e COT, boa clarificacao do efluente, e

mostrou-se adequado quanto a formacao e tamanho dos flocos.

2.4.2 Tratamentos Oxidativos

Em busca de tecnologias limpas, com alto poder de destruicao dos poluentes, surgiram

os Processos Oxidativos Avancados (POAs), altamente eficientes para destruir substancias

organicas de difıcil degradacao e gerar como produtos finais da reacao � � � e�� � [27].

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Os POAs sao processos que geram radicais hidroxila ( OH) altamente oxidantes, ca-

pazes de oxidar completamente as moleculas organicas presentes em aguas poluıdas. A

oxidacao com ozonio, com peroxido de hidrogenio combinados ou nao com radiacao ul-

tra violeta (UV), bem como a fotocatalise se constituem nos POAS com alto potencial de

uso.

Segundo DEZOTTI [28] e STEENSEN [27] algumas vantagens desses processos po-

dem ser destacadas, como:

Nao requerem a transferencia de fase do poluente (como a absorcao em carvao

ativo);

Apresentam alto potencial de oxidacao;

Nao formam sub-produtos solidos (lodo);

Podem levar a mineralizacao completa dos poluentes, se necessario, ou a formas

biodegradaveis ou a compostos nao toxicos;

Promovem a remocao de cor;

Removem Ferro e Manganes.

Dentre os POAS a ozonizacao e uma das tecnicas mais difundidas. O ozonio e comu-

mente produzido por descarga eletrica no ar ou oxigenio puro:

� ���� O + O

Esta reacao pode ser catalisada por radiacao, ultrasom,�� � � e catalisadores homogeneos

(metais).

Quando o ozonio se decompoe sao gerados radicais de grande poder oxidativo. Estas

reacoes sao ilustradas abaixo:

� � � � � + O

O +�� � � 2HO

Dentre os tratamentos terciarios existentes, a aplicacao do ozonio tem se destacado

como a segunda tecnica mais importante em nıvel industrial. Esta etapa de tratamento e

exigida quando os nıveis de poluentes nos efluentes industriais a serem descartados estao

acima dos valores estabelecidos pelos orgaos ambientais. A aplicacao do ozonio promove

tambem, alem da remocao da DQO e da DBO, o aumento do teor do oxigenio dissolvido,

a remocao de cor, odor, sabor e turbidez.

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No estudo desenvolvidos por RIBEIRO [29] verificou-se a remocao de toxicidade,

em casos onde foram utilizados peroxido de hidrogenio como agente oxidante em uma

solucao de metionina e ozonio em amostras contendo compostos aromaticos.

As reacoes quımicas do ozonio com contaminantes organicos ocorre atraves de dois

mecanismos. Um deles e o mecanismo direto, com o ozonio na forma molecular, cujas

reacoes sao altamente seletivas. Outro mecanismo a de acao indireta, pois acontece a

decomposicao do ozonio formando radicais livres altamente oxidantes. Solucoes com pH

acido, constituıdos de radicais destruidores, como o carbonato e o bicarbonato, tenderao

a favorecer as reacoes diretas com ozonio molecular. Ja as solucoes que apresentarem

pH alcalino, incidencia de luz ultravioleta, altas temperaturas e presenca de catalisadores

como o peroxido de hidrogenio, promovem a decomposicao do ozonio favorecendo as

reacoes indiretas.

Sendo assim, fica difıcil estabelecer qual das duas formas de reacao predomina em

situacoes particulares, visto que as reacoes indiretas com formacao de radicais livres,

predominam na utilizacao do ozonio em reacoes de oxidacao de sistemas aquosos, e as

reacoes diretas com ozonio molecular, formam radicais organicos e inorganicos como

produtos, processando assim reacoes pelo mecanismo de radicais livres.

O ozonio reage com quase todos os elementos da tabela periodica, com excecao de

um membro da serie dos haletos, o fluor, que possui potencial de oxidacao mais elevado

que o ozonio. Quanto ao ıon cloreto, e oxidado muito lentamente em solucoes acidas.

O ozonio tambem nao reage com metais alcalinos e alcalinos terrosos, porque possuem

apenas um estado de oxidacao.

Para as especies inorganicas que se apresentam na forma reduzida, o ozonio e um

excelente oxidante, por gerar compostos com baixa solubilidade, que na forma de preci-

pitados podem ser removidos facilmente do meio aquoso pelo processo de filtracao.

Os processos oxidativos vem sendo empregados em muitas plantas de tratamento de

aguas residuarias, para remover os metais de transicao (como o ferro e o manganes) que

se encontram entre essas especies.

O ozonio pode ser empregado tanto para o tratamento de agua como de esgoto, com a

finalidade de obter na etapa final das plantas de tratamento, o polimento dos efluentes e a

purificacao das aguas.

Uma das mais recentes aplicacoes do ozonio em tratamento de agua e efluente, con-

siste em promover o aumento da biodegradabilidade dos compostos organicos. Porem,

em alguns casos onde foi utilizado o ozonio para desinfeccao final, verificou-se a possi-

bilidade de crescimento biologico extensivo, o que pode acarretar serios problemas.

KUO [30] comparou duas maneiras de adicionar ozonio no tratamento de um efluente

visando a remocao de DQO e COT. Na primeira adicionando ozonio atraves do borbulha-

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mento no fundo do reator com auxılio de um agitador magnetico, na segunda empregando

a injecao em fluxo descendente, aplicando pressao no topo do reator. O segundo teste

apresentou os melhores resultados, devido a melhor transferencia de massa obtida da fase

gas para a fase lıquida.

PERKOWSKI et al. [31] confirmaram a aplicacao da oxidacao com resultados po-

sitivos na decomposicao dos poluentes contidos nos efluentes gerados nos processos de

tingimento e lavagem de uma industria textil. Quando combinou-se os tres POAs, houve

quase remocao completa da cor, dos surfactantes presentes no efluente proveniente do

tingimento e obteve-se tambem 80% de remocao da DQO.

Para que ocorra a oxidacao da amonia, e preciso que seja considerado o pH e a

presenca de outras substancias oxidaveis no meio aquoso. O pH alcalino na faixa en-

tre 7 e 9, favorece o deslocamento da curva de equilıbrio, aumentando a concentracao de

amonia livre, podendo-se observar nessas condicoes razoaveis taxas de reacao.

A amonia e dificilmente oxidada na presenca de substancias organicas, devido a

cinetica de oxidacao de compostos organicos ser muito mais rapida do que a da reacao

entre o ozonio e a amonia. Assim, nessas condicoes, a amonia nao e praticamente oxidada

[29].

2.4.3 Tratamento Biologico

De acordo com a literatura, o tratamento biologico tem se mostrado pouco eficiente

para chorumes provenientes de aterros velhos, devido a presenca de compostos recalci-

trantes. Dentre os processos biologicos encontrados na literatura para o tratamento de

chorume destacam-se: lodos ativados, lagoas aeradas e filtros biologicos.

CAMMAROTA et al. [18] nao encontrou resultados satisfatorios para o tratamento

biologico aerobio, pois verificou que com o aumento da concentracao de chorume no meio

de alimentacao do reator biologico, a eficiencia de remocao da DQO era reduzida. Os

resultados obtidos nesse estudo, com testes de biodegradabilidade, levaram a conclusao

de que o tratamento biologico do chorume “in natura” nao deve se constituir na primeira

etapa da sequencia de tratamento a que deve ser submetido este efluente.

Nos testes de tratabilidade biologica realizados por BILA [4] com amostra de choru-

me pre-tratado pelo processo de coagulacao/floculacao, observou-se que o lodo ativado

foi perdendo sua atividade com o aumento da concentracao de chorume na alimentacao

do reator. Estas conclusoes foram subsidiadas por observacoes do lodo, que constataram

escassez de flocos, que quase nao apresentaram filamentos estruturais, e ausencia de pro-

tozoarios no lodo, indicativos de lodo com mas caracterısticas. A natureza recalcitrante

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do chorume e sua possıvel toxicidade foram sugeridas em funcao da pequena quantidade

de lodo presente no reator no final do teste de tratabilidade.

BILA [4] tambem investigou o comportamento do lodo biologico face ao chorume

pre-tratado com diferentes dosagens de ozonio (0,5; 1,5; e 3,0 g/L). Para a menor do-

sagem de ozonio baixas remocoes de DQO e COT foram observadas com prejuızo das

caracterısticas do lodo biologico. As caracterısticas do lodo melhoraram quando o rea-

tor foi alimentado com efluente tratado com as maiores dosagens de ozonio. Neste caso,

os flocos se apresentaram bem formados, com a presenca de filamentos estruturais e de

protozoarios. Os nıveis mais elevados de ozonizacao parecem ter contribuıdo para pro-

mover uma reducao da recalcitrancia e da toxicidade do efluente. No entanto, foi possıvel

observar que mesmo com o aumento da biodegradabilidade do chorume proporciona-

da pela ozonizacao, este efluente ainda apresentava compostos recalcitrantes de difıcil

biodegradacao.

A legislacao norueguesa de 1994 estabeleceu como ideal para o tratamento de cho-

rume, o emprego de tecnicas que possam ser facilmente adaptaveis, pouco sensıveis

as variacoes de vazao e concentracao com capacidade de remover um grande numero

de compostos que podem impactar o meio ambiente, de facil operacao e de pouca

manutencao, e ainda de baixo consumo de energia e custos compatıveis. HAARSTAD

& MAEHLUM [32] buscando simplicidade e baixo custo, verificaram que as tecnicas

adequadas para as condicoes da Noruega seriam a utilizacao de lagoas aeradas em

combinacao com sistemas naturais tais como: infiltracao no solo, irrigacao, filtracao e

wetlands (leitos alagados com plantas aquaticas).

A utilizacao das lagoas aeradas e bastante utilizada como etapa que precede a

disposicao final do chorume em estacoes de tratamento de esgotos, onde bons resulta-

dos de biodegradacao sao obtidos para chorumes provenientes de aterros jovens.

ROBINSON [33] verificaram que nos aterros de grande porte, os sistemas adota-

dos para o tratamento do chorume envolvem, alem das lagoas e tanques de aeracao, os

wetlands e tratamento com ozonio para reduzir a massa molar de compostos toxicos,

transformando-os em moleculas organicas menores.

O processo biologico nitrificacao/desnitrificacao foi investigado por ILIES e MA-

VINIC [34], IM et al. [21] como metodo economico e mais efetivo para remocao

de nitrogenio, no tratamento de chorume produzido em aterro sanitario contendo altas

concentracoes de amonia. Nesse estudo em que o efluente apresentava 2200mg/L de

amonia, conseguiu-se com o tratamento uma remocao de 50%.

McBEAN et al. [35] verificaram que os filtros biologicos, alem de eficientes na

remocao de compostos organicos biodegradaveis, podem promover a nitrificacao. Mas

os autores ressaltam que a sua utilizacao no tratamento de chorume, pode ficar compro-

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metida pela facilidade de entupimento do filtro.

Algumas instalacoes que operam segundo o princıpio dos filtros biologicos de

percolacao tem sido divulgadas, sem, no entanto, se informar a eficiencia de operacao

desses sistemas. No aterro de Holstinharjn, na Finlandia, foi construıda uma torre de 10m

de altura, preenchida com galhos de salgueiro. O chorume era bombeado para o topo da

torre, percolado pelo recheio, sendo aerado e sofrendo decomposicao biologica (Jornal

DEMARI, 29/8/97 apud [36]).

Utilizando o mesmo princıpio citado acima, uma empresa da Suecia (GEODESIG-

NAB), construiu uma torre com modulos de vigas de concreto preenchidos com um meio

filtrante (argila expandida ou galhos de arvore) formando uma especie de filtro biologico,

sendo o chorume lancado no topo da torre e escorrendo pelo meio filtrante. O tratamento

dava-se por evaporacao, aeracao e decomposicao biologica [36].

O tratamento anaerobio tambem tem sido considerado como tecnica de tratamento de

chorumes com alta percentagem de materia organica biodegradavel. As lagoas anaerobias

podem vir a apresentar bons resultados quando empregadas como uma etapa subsequente

de tratamento do chorume, promovendo adequada degradacao da materia organica [36].

Os filtros anaerobios e os sistemas hıbridos tem se mostrado eficientes na remocao de

metais (na forma de sulfetos) e DQO. Isso ficou evidenciado em um tratamento realiza-

do com o chorume do Aterro Sanitario de Bandeiras-SP, utilizando um reator anaerobio

hıbrido de fluxo ascendente com manta de lodo e filtro. A remocao de 66% de DQO (inici-

al de 15.500 mg/L) e de cerca de 70% de DBO (inicial de 10.200mg/L) tornou viavel essa

tecnica como pre-tratamento para o chorume (MORAES e GOMES,1993, apud [36]).

BORZACCONI et al. [37] utilizando um reator anaerobio seguido de um reator

aerobio rotativo de contato, obtiveram em 1 ano de teste, com adicao de fosforo, uma

reducao de 80% de DQO para carga de 20kg DQO �� ��� , e em torno de 94% de efi-

ciencia de remocao para o conjunto todo. Ademais, os autores afirmam que houve baixo

consumo de energia e reduzida producao de lodo.

Apesar das diferencas entre os chorumes gerados nos aterros, o tratamento biologico

e muito citado na literatura como opcao de tratamento. No entanto, FERREIRA et al.

[36] aponta que este tipo de tratamento pode ser ineficiente em se tratando de chorumes

provenientes de aterros de meia-idade e velhos, pelo fato do despejo apresentar-se mais

resistente a biodegradacao.

Outros aspectos negativos, apresentados pelos processos biologicos sao:

Nao apresentam bom desempenho na presenca de metais toxicos (ex: Cu, Zn e Ni

podem inibir a nitrificacao);

Demandam a adicao de fosforo para assegurar o tratamento aerobio, visto que e

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frequente a deficiencia desse elemento no chorume;

Podem levar a formacao de espuma na aeracao artificial;

Pode ocorrer precipitacao de � � � � � com prejuızo ao equipamento de aeracao;

A aeracao artificial e de alto custo.

2.4.4 Processos de Separacao com Membranas

O fracionamento e uma tecnica laboratorial que permite estimar os intervalos de massa

molar dos componentes de uma mistura. Para tal, utiliza-se um processo de separacao

por membranas, que em funcao das suas caracterısticas podem ser classificadas como:

microfiltracao, ultrafiltracao, nanofiltracao e osmose inversa.

Nos ultimos 30 anos, os processos com membranas tem atingido patamares de cres-

cimento devido a diversos fatores, como o menor consumo energetico em comparacao

com os outros processos de separacao tradicionais, a flexibilidade operacional pelo fato

do sistema ser mais compacto e a obtencao de produtos finais de melhor qualidade.

As membranas apresentam caracterısticas distintas para cada tipo de processo. Para

microfiltracao, ultrafiltracao e nanofiltracao o principal fator na separacao e a dimensao

dos permeantes, com o uso tradicional de membranas porosas. No transporte dos perme-

antes, os materiais devem apresentar estabilidade a diferentes solventes e valores de pH,

para que nao ocorram alteracoes estruturais [38].

A ultrafiltracao (UF) tem como finalidade purificar e fracionar solucoes contendo ma-

cromoleculas pelo processo de separacao por membranas. O diametro dos poros de uma

membrana de ultrafiltracao (UF) varia na faixa entre 1 a 100nm, sendo mais fechados do

que os das membranas de microfiltracao (MF) [39, 40].

Em funcao do tamanho do poro, a pressao exercida para o processo pode estar entre

2 e 10 bar. Por sua vez, a capacidade seletiva da membrana esta diretamente relacionada

com as relacoes entre o tamanho das especies e as dimensoes dos poros da membrana

(CAMPOS [41]), podendo ocorrer retencao de maneira distinta de solutos com pesos

molares diferentes.

A eficiencia de uma dada membrana e determinada por dois parametros: seletividade

e fluxo de permeacao.

A seletividade de uma membrana por uma mistura e geralmente expressa, no caso de

membranas porosas, pela rejeicao (R). Onde o soluto e parcialmente ou completamente

retido, enquanto o solvente (geralmente agua) passa pela membrana, portanto o coefici-

ente de rejeicao pode ser definido pela formula abaixo:

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��� ��� ����

��� ����

�(2.1)

onde ��

e a concentracao de soluto na alimentacao e ��� e a concentracao de soluto no

permeado.

As membranas sao especificadas atraves da massa molecular de corte ou “cut off”que

pode ser definido como sendo valor da massa molecular para a qual a membrana apresenta

um coeficiente de rejeicao de 95%.

O processo com membranas tem tambem como objetivo a remocao de organismos

patogenicos incluindo protozoarios, bacterias e vırus, conforme indicado na Tabela 4.9.

Tabela 2.2: Potencial de remocao dos processos por membranas

Membrana Porosidade Material retido

Microfiltracao 0,1 � m - 0,2 � m Protozoarios, bacterias, vırus (maioria),

partıculas

Ultrafiltracao 1.000 - 100.000Da Material removido na MF + coloides

+ totalidade de vırus

Nanofiltracao 200 - 1.000Da Ions divalentes e trivalentes, moleculas

organicas com tamanho maior do que a

porosidade media da membrana.

Osmose reversa � ����� � � Ions, praticamente toda a materia

organica

Fonte:SCHNEIDER & TSUTIYA [40].

Uma serie de testes empregando varios tipos de membranas de microfiltracao e

ultrafiltracao com a porosidade nominal compreendida entre 0,2 � m e 100kDa, desen-

volvido por Jacangelo et al, (1995) para remocao de protozoarios e vırus, obteve sucesso

com a remocao completa dos protozoarios Cryptosporidium e Giardia e das bacterias

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Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli. A remocao de vırus geralmente e alcancada

com membranas de UF [40].

Vale ressaltar que o permeado nao e uma solucao completamente esteril, isto e, pode

conter microorganismos, mesmo em baixo numero, pelo fato das membranas nao serem

fabricadas em ambientes e com materiais totalmente estereis.

Segundo SCHNEIDER & TSUTIYA [40] as membranas de microfiltracao e

ultrafiltracao sao muito eficientes para remover o material organico responsavel pela tur-

bidez da agua. Alem da remocao de contaminantes biologicos, estas membranas removem

tambem contaminantes que englobam todas as substancias ou partıculas nao biologicas

como:

carbono organico dissolvido de baixa massa molar;

substancias soluveis que dao cor inaceitavel para os padroes de consumo;

toxinas soluveis de algas;

metais pesados reduzidos como por exemplo o manganes e o ferro;

sais de calcio e magnesio, que aumentam a dureza da agua.

-Nanofiltracao

Na literatura ha informacoes que a osmose reversa gera um permeado de alta qualida-

de, mas e considerada cara. No entanto alguns autores tem mostrado que altas remocoes

de poluentes podem ser alcancadas com nanofiltracao, especialmente no caso de choru-

me velho. A nanofiltracao exige menor pressao que a osmose reversa, menor custo de

operacao e causa menos entupimento nas membranas MARTTINEN et al. [42].

A literatura relata que a nanofiltracao e eficiente na remocao de carga organica, pois

este processo consegue separar os ıons monovalentes e bivalentes agregados no material

organico, dificultando assim a remocao do cloreto e do sodio, que sozinhos podem passar

livremente pelos poros das membranas utilizadas neste processo PETERS [43].

Segundo URASE et al. [5] nos experimentos usando nanofiltracao a remocao do

ıon cloreto foi zero, porque os tamanhos dos poros das membranas usadas neste processo

favoreceram a passagem desses sais, e a repulsao de cargas foi enfraquecido pela presenca

de sais, obtendo baixas remocoes e um volume menor do lıquido permeado, devido a

elevada concentracao de sais no chorume.

De acordo com o estudo realizado por [43] a aplicacao de modulos com membrana

de nanofiltracao para efluentes especıficos como o chorume, deve ser projetada de forma

adequada para otimizar a interacao dos fluxos e de parametros tais como: o fluxo de

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agua atraves da membrana, a queda de pressao, a limpeza eficiente das membranas, a

possibilidade de operar com micro-partıculas e tambem a obtencao de uma boa relacao

entre custo/desempenho.

Uma parte do chorume produzido pelo Aterro Metropolitano de Gramacho, atualmen-

te e tratado pela tecnica de nanofiltracao como um processo terciario, apos passar por um

tratamento biologico. Segundo FERREIRA [36] o volume obtido apos a permeacao cor-

responde a 60% do volume inicial, isento de coliformes e totalmente clarificado, sendo

em seguida lancado na Baıa de Guanabara. O rejeito do sistema retorna ao tratamento

biologico.

MARTTINEN et al. [42] observaram em seus estudos, que o tipo de membrana afeta

significativamente na separacao dos compostos organicos, bem como nos parametros ope-

racionais. A combinacao do pre-tratamento biologico com nanofiltracao apresentou uma

remocao de 90% para DQO total, de 27-50% para nitrogenio amoniacal, considerada mai-

or que a esperada, visto que a remocao de sais de amonia do chorume por nanofiltracao

depende da sua complexidade. A remocao da condutividade foi baixa, uma vez que a

maior parte dos ıons soluveis no chorume passou pela membrana.

- Osmose Reversa

A osmose reversa e utilizada para dessalinizar aguas com salinidade elevada. Tem

sido recentemente aplicada em tratamento terciario, quando se exigem concentracoes de

substancias inorganicas muito baixas.

O chorume produzido em aterro sanitario usualmente contem alta concentracao de

sais, cuja pressao osmotica e de 2 a 10 bar. Portanto este valor tende a aumentar durante

o processo, sendo necessario operar com elevada pressao. O processo utilizando osmose

reversa para o tratamento do chorume tem sido empregado na Alemanha com grande

eficiencia, utilizando uma pressao de operacao de 120 bar [5].

Segundo PETERS [43] a taxa de recuperacao do permeado entre 95 e 97% indica

que a combinacao de osmose reversa com nanofiltracao e cristalizacao e o processo mais

economico para tratar o chorume produzido em aterro sanitario na Alemanha. Com base

nesses estudos, algumas companhias colocaram a disposicao do mercado o sistema “own

and operate”, onde o cliente paga um preco por ��

do chorume tratado sem perda de

capital e com o mınimo de envolvimento operacional.

AMOKRANE et al. [44], em seu estudo verificaram que a osmose reversa removeu

95% de DQO e solidos dissolvido totais, para um chorume pre-tratado por microfiltracao

e ultrafiltracao. Na literatura consta que na Franca e em toda Europa e na America, o

tratamento do chorumes provenientes de aterros, com 10 anos ou mais, utilizando, pro-

cessos biologicos de degradacao, tratamento fısico-quımico e adsorcao por carvao ati-

vado mostraram-se raramente efetivos. Portanto, o tratamento pelo processo com mem-

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branas vem ganhando destaque. Entretanto, para se obter maior eficiencia no proces-

so com osmose reversa para chorumes, os mesmos devem ser devidamente pre-tratados.

Frequentemente, o tratamento biologico tem se mostrado ineficiente como pre-tratamento

para a osmose reversa, mas a coagulacao/floculacao ou precipitacao quımica tem tido

exito. A adequacao da coagulacao/floculacao como pre-tratamento deve-se a remocao

de partıculas coloidais, que sao as principais impurezas do chorume retidas na osmose

reversa.

O permeado resultante do processo de osmose reversa contem nıveis muito baixos de

contaminantes organicos e inorganicos, portanto, pode contribuir muito para resolver o

problema da poluicao das aguas. A eficiencia deste processo pode ser facilmente avaliada

pela medida da condutividade eletrica do permeado [43].

Modulos tubulares foram os primeiros usados em sistema de osmose reversa para

purificacao de chorume de aterro, a partir de 1984. Em 1997 foi relatado que o DT-modulo

representa mais de 80% da capacidade total instalada para purificacao de chorume por

osmose reversa. Uma planta instalada no aterro Kolenfelder na Alemanha, que comecou a

operar em fevereiro de 1990, indicou eficiencia sempre maior que 98% para condutividade

eletrica e de 99% para DQO. Novas membranas foram instaladas depois de mais de 3 anos

de operacao em funcao da queda do fluxo do permeado. Este dados de longos tempos de

experiencia tem sido confirmados pelos resultados de mais de 120 sistemas que estao em

operacao em diferentes aterros e pelos dados coletados durante numerosos testes com

plantas piloto por toda Europa, America do Norte e alguns paıses do Leste Europeu [43].

2.4.5 Evaporacao

E um processo de destinacao do chorume que pode ser considerado para regioes em

que as condicoes climaticas favorecem a evaporacao.

Esta tecnica consiste na utilizacao de tanques abertos para evaporacao do lixiviado.

Em lugares com alto ındice pluviometrico usam-se instalacoes cobertas para que tambem

ocorra a evaporacao do lixiviado durante o perıodo chuvoso. O mau cheiro e a desvan-

tagem apresentada pela implantacao desta tecnica (TCHOBANOGLOUS et al., [45]). A

ocorrencia de aumento da concentracao de sais soluveis, tais como cloreto de sodio, pode

conduzir a nıveis inibidores a acao microbiana sobre o resıduo nao evaporado.

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2.4.6 Recirculacao

A recirculacao do chorume, segundo alguns autores, pode ser considerado um metodo

de tratamento. Alem de reduzir o volume por evaporacao, aumenta a degradacao anarobia

no interior do aterro com a conversao dos acidos organicos em � � � e � � � , promo-

vendo a melhor distribuicao de nutrientes e umidade. E uma tecnica que se adapta as

condicoes ambientais do Brasil, como temperatura, ventos e irradiacao solar que favore-

cem a evaporacao [14, 39, 36, 26].

No Estado do Rio de Janeiro esta tecnica de recirculacao foi implantada no Aterro

Metropolitano de Gramacho desde 1997 com grande eficacia, atualmente sao recirculados

cerca de 600 ��/dia de chorume, e o aterro ainda conta com um sistema de 10 aspersores

com vazao de 1 ��/h, recirculando por volta de 110 �

�/dia, contribuindo para a reducao

do volume do chorume a ser tratado. [36].

Verifica-se que nos aterros que empregam esta tecnica, os mecanismos de remocao

primaria de metais sao a precipitacao como sulfeto e hidroxido. Observa-se tambem

uma maior producao de gas. A geracao de gas pode ser vista como um ponto positivo,

contribuindo para minimizar o impacto ambiental se o gas produzido for empregado de

maneira adequada.

Estudos mostraram que esta tecnica aumentou a eficiencia de compactacao do aterro,

facilitando o reaproveitamento posterior do terreno, e a recirculacao e capaz de reduzir

o tempo necessario para estabilizacao do aterro desde algumas decadas para 2 a 3 anos

(REINHART & AL-YOUSFI,1996, apud [36]).

2.4.7 Neutralizacao

A neutralizacao e um metodo de tratamento mais simples e comum para contami-

nantes inorganicos, que envolve a adicao de acidos ou bases para ajustar o pH em nıveis

aceitaveis entre 6-9 [39, 23]. E uma reacao que produz sais soluveis e insoluveis, sendo

usada no tratamento de chorume, para acondiciona-lo para outras etapas de tratamento

[46].

2.4.8 Eletroquımico

O processo eletrolıtico e mais usado para recuperacao de metais, e consiste na passa-

gem de uma corrente eletrica entre dois eletrodos [46].

22

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TSAI et al. apud [36] utilizaram em seu estudo dois pares de eletrodos para remover a

materia organica do chorume, conseguindo remover moleculas pequenas e grandes, utili-

zando placas de eletrodo de aco carbono, positivas e negativas, Fe-Cu e Al-Cu alcancando

para ambos os casos remocoes na faixa de 30-50% para a DQO.

2.4.9 Wetlands

Os Wetlands sao descritos como sistemas artificiais, que tem como princıpio basico a

modificacao da qualidade da agua que ocorre nos Wetlands naturais como varzeas dos ri-

os, igapos da Amazonia, banhados, pantanos, manguezais etc.. Estes sistemas apresentam

uma acao depuradora devido a absorcao de partıculas pelo sistema radicular das plantas,

pela absorcao de nutrientes e metais pelas plantas, pela acao de microorganismos associa-

dos a rizosfera. Neste sistema o fenomeno natural da evapotranspiracao tambem contribui

para a reducao do volume produzido. E um sistema considerado economicamente viavel

pois apresenta baixo custo de implantacao, alta eficiencia de melhoria dos parametros que

caracterizam os recursos hıdricos, alta producao de biomassa, que pode ser utilizada na

producao de racao animal, energia e biofertilizantes [36, 47]. Segundo FERREIRA et al.

[36] alguns autores destacam o uso deste sistema de Wetlands como um polimento final,

apos um tratamento biologico, para promover a remocao adicional da materia organica

e da amonia, alem de promover a desnitrificacao. O alto teor de amonia encontrado no

chorume pode prejudicar o sucesso desta tecnica quando empregada como a unica forma

de tratamento.

2.4.10 Remocao de Volateis e Amonia

Resultante dos processos bioquımicos, o nitrogenio contribui muito para a poluicao

das aguas, podendo ser encontrado na agua residuaria sob a forma de nitrogenio organico,

amonia ou ainda na forma de nitritos e nitratos. A amonia apresenta-se na forma livre

(��� �

) e/ou ionizada (��� �� ).

A amonia livre (� ���

) dissolvida na agua, pode ser toxica aos peixes, mesmo em bai-

xas concentracoes. Segundo SEIFFERT (2000) a agencia americana de protecao ambien-

tal estabelece um limite de 0,02 ppm de N na forma de (� � �

) em aguas, para protecao

da vida aquatica.

O nitrogenio amoniacal pode ser removido das aguas residuarias por volatilizacao.

Este processo de arraste da amonia envolve a elevacao do pH para nıveis altos, usualmente

na ordem de 10,5 a 11,5 [47, 48].

23

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A amonia pode ser removida por arraste (stripping), por cloracao ou ainda por outros

metodos previos de remocao de metais [23].

Arraste com ar consiste em um processo fısico de transferencia dos compostos

organicos volateis com a injecao de ar na agua atraves de difusores ou outros mecanismos

de aeracao.

Segundo alguns autores, os fatores responsaveis pela eficiencia de remocao dos com-

postos organicos volateis envolve a area de contato (gas de arraste - lıquido), a solubili-

dade do contaminante na fase aquosa, a difusividade do contaminante no ar e na agua, a

turbulencia das fases e a temperatura ambiente de operacao.

O processo de arraste e simples, mas a literatura apresenta algumas vantagens e des-

vantagens [47]. As desvantagens podem ser relacionadas como:

elevado custo de operacao e manutencao, pois requer cal para o controle do pH;

e limitado para um caso especial que requer o pH elevado para outras reacoes;

o processo e sensıvel a temperatura, pois a solubilidade da amonia com a

diminuicao da temperatura;

acumulacao do carbonato de calcio causando entupimento na tubulacao; potencial

problemas com ruıdo e estetico.

Algumas vantagens consideradas:

o processo pode ser controlado para se obter uma determinada remocao da amonia;

a maioria da aplicabilidade e requerida em combinacao estacinaria com sistema de

cal para remocao de fosforo;

o processo pode ser alcancar o padrao necessario para lancamento;

nao e sensıvel para substancias toxicas.

A preocupacao com aumento da poluicao do ar, liberando amonia para atmosfera e

o aumento de carbonato de calcio pela adicao de cal para elevar o pH, levaram alguns

autores a buscarem outras alternativas para remover a alta concentracao de amonia do

chorume, usando a tecnica fosfato/ amonia/ magnesio (MAP) para precipitacao da amonia

formando compostos insoluveis que podem ser facilmente separados da agua. O emprego

desse precipitante (MAP), demonstrou uma remocao muito satisfatoria para amonia, para

uma concentracao inicial de 5618 mg/L de amonia contida no chorume bruto foi reduzida

rapidamente para 112mg/L em um perıodo de 15 minutos com pH controlado entre 8,5 e

9,0 [49].

24

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2.5 Remocao de Metais

A precipitacao quımica e a tecnica mais comumente usada para a remocao de me-

tais pesados de aguas residuarias. Uma remocao mais eficiente pode ser obtida com a

precipitacao na forma de sulfetos, mas a precipitacao na forma de hidroxidos, usando cal

ou soda caustica, e a mais usada. Isto se deve ao fato da precipitacao com sulfeto ser

de maior custo e poder gerar gas sulfıdrico, enquanto que a precipitacao com hidroxido

apresenta menor custo e e menos perigosa.

No caso dos chorumes, a concentracao de metais depende do tipo de lixo depositado

no aterro, sendo relativamente baixas para o lixo domestico, podendo aumentar para os

despejos industriais e variar de acordo com o estagio de decomposicao do lixo, sendo

maiores durante a fase de fermentacao acida, quando estes elementos estao mais soluveis

e menores nas ultimas fases de estabilizacao, quando o pH normalmente e mais alcalino

[50].

Empregando somente o tratamento fısico-quımico, nao se consegue alcancar grande

eficiencia na reducao da carga organica poluidora e da toxicidade do chorume, mas seu

emprego nao deixa de ser necessario para remover os metais e hidrolisar alguns compostos

organicos.

Os metais pesados encontrados estao presentes tanto na forma dissolvida, mais fa-

cilmente incorporada pela fauna e a flora, quanto na forma particulada associados a

partıculas em suspensao.

Cada compartimento ambiental apresenta uma limitada capacidade de suportar a acao

dos metais, que ameacam o ecossistema e consequentemente podem atingir o homem pelo

acumulo na cadeia alimentar [50].

A desvantagem do emprego da precipitacao quımica e a producao de lodo, que deve

ser tratado como resıduo perigoso devido ao seu conteudo de metais pesados.

2.6 Consideracoes sobre as tecnicas de tratamento de

chorume

A Tabela 2.3 apresenta um resumo das varias tecnicas utilizadas para o tratamento do

chorume produzido em aterro sanitario.

25

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Tabela 2.3: Sumario das tecnicas de tratamento empregadas para tratar chorume

Processo de Tratamento Aplicacao Observacao

Processos Biologicos Remocao de substancias Podem ser necessarios aditivos

(Lodos ativados) organicas biodegradaveis (anti-espumantes)

Processos Biologicos Remocao de substancias Similar a lodos ativados,

(Reator Batelada organicas biodegradaveis somente e aplicavel para vazoes

Sequencial-RBS) de operacao nao muito elevadas

Processos Biologicos Remocao de substancias Requer uma grande area

(Aeracao prolongada) organicas biodegradaveis

Processos Biologicos Remocao de substancias Frequentemente utilizado para

(filtros percoladores, organicas biodegradaveis efluentes industriais similares

contactores biologicos ao lixiviado, porem nao muito

rotativos) testados com lixiviados

de aterros

Processos Biologicos Remocao de substancias Requer menor energia e produz

(Lagoas anaerobias) organicas biodegradaveis menos lodo que os sistemas

aerobios; possui maior potencial

para a instabilizacao do processo;

mais lento que os sistemas

aerobios

Processos Biologicos Remocao de nitrogenio A nitrificacao/desnitrificacao

(Nitrificacao/ pode ocorrer simultaneamente

desnitrificacao) com a degradacao da materia

organica

Processos quımicos Controle de pH De aplicacao limitada para a

(Neutralizacao) maioria dos lixiviados

Processos fısico- Remocao de metais e Produz um lodo, que pode

quımicos (Precipitacao) alguns anions requerer descarte como

resıduo perigoso

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Tabela 2.3 - Continuacao

Processos Quımicos Remocao de compostos Funciona melhor com resı-

(Oxidacao) organicos;detoxificacao e duos diluıdos; o uso de cloro

remocao de algumas pode provocar a formacao

especies inorganicas de organo-clorados

Processos Quımicos Degradacao de compostos De alto custo; funciona bem

(Oxidacao por ar umido) organicos com poluentes organicos

resistentes

Processos Fısicos Separacao do material Tem aplicacao limitada;

(sedimentacao/flotacao) em suspensao pode ser utilizado conjun-

tamente com outros proces-

sos de tratamento

Processos Fısico- Separacao do material Somente util como processo

Quımicos (Filtracao) de refino

Arraste por ar Separacao de amonia e Pode requerer equipamento

compostos organicos de controle da contaminacao

volateis atmosferica

Separacao por vapor Separacao de compostos Alto custo energetico;

organicos volateis o vapor condensado requer

tratamento adicional

Absorcao Remocao de compostos Tecnologia aprovada; custos

organicos variaveis de acordo com

lixiviado

Troca ionica Remocao de substancias e Util somente como processo

ıons inorganicos dissolvidos de polimento

Ultrafiltracao Separacao de bacterias e de Propenso a entupimento;

compostos organicos com aplicacao limitada para

alta massa molar alguns lixiviados

Evapotranspiracao Quando nao se permite a O lodo resultante pode ser

descarga de lixiviados perigoso; e viavel normalmente

apenas em regioes aridas

Osmose reversa Remocao de substancias Custo elevado; e necessario

organicas e dessalinizacao pre-tratamento extensivo

Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. [45]

27

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2.7 Toxicidade: Conceitos e Metodos

Devido a complexibilidade e a variabilidade apresentada pelos compostos organicos

e inorganicos que podem estar presentes num efluente ou no corpo hıdrico, recomenda-se

que a caracterizacao dessas aguas seja complementada por testes biologicos para obter

informacoes nao reveladas pela simples caracterizacao fısica e quımica. Esta necessida-

de tem estimulado a realizacao de testes de toxicidade, atualmente considerados como

analises indispensaveis para se obter um controle mais abrangente das fontes de poluicao

das aguas. Atraves desses testes determina-se o potencial toxico de um agente quımico

ou de uma mistura complexa, sendo os efeitos desses poluentes mensurados atraves da

resposta de organismos vivos.

Nem sempre as tecnicas de tratamento empregadas asseguram que o efluente e des-

provido de toxicidade. Impoe-se, portanto, o controle da toxicidade do efluente lıquido,

tornando compatıvel seu lancamento com as caracterısticas do corpo receptor, de tal for-

ma que este nao cause efeitos toxicos de natureza aguda ou cronica a biota aquatica,

principalmente, quando um dos seus principais usos se referir a protecao da flora e da

fauna.

A contaminacao quımica, indubitavelmente, tem merecido maior atencao em nossa

sociedade, devido ao aumento, quase exponencial, do numero de substancias sintetizadas

pelo homem no ultimo seculo. Para que se tenha uma ideia, das 6 milhoes de substancias

conhecidas, 63 mil sao de uso cotidiano, e ainda e importante citar que apenas 2 mil

foram bem estudadas do ponto de vista ecotoxicologico. Tomando como base 118 agentes

quımicos, 103 organicos e 15 inorganicos, considerados mundialmente como prioritarios

para efeito de controle, verifica-se que a maioria deles e persistente e acumulativa no meio

aquatico, sendo assim pode-se constatar que a biota aquatica pode estar sujeita aos efeitos

dessas substancias por prolongados perıodos de tempo em diferentes locais [51].

O grau da toxicidade pode ser avaliado atraves do efeito que a dose ou concentracao

de uma certa substancia causara a determinado organismo num dado intervalo de tempo.

Esses efeitos podem ser classificados em agudos e cronicos.

2.7.1 Toxicidade aguda

A toxicidade aguda corresponde a uma resposta severa e rapida dos organismos

aquaticos a um estımulo, que se manifesta, em geral, num intervalo de 0 a 96 horas.

A letalidade e um dos indicadores utilizados para avaliar a resposta dos organismos a

toxicidade aguda provocada por um composto ou um efluente. Pode ser expressa atraves

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do parametro CL50 que corresponde a concentracao que causa o efeito (letalidade) a 50%

da populacao testada [52].

Quando se observa o efeito do agente toxico sobre as funcoes vitais ou funcionais

dos organismos teste, utiliza-se o ındice de toxicidade CE50 ou DE50, que corresponde a

concentracao ou dose efetiva que causa efeito em 50% dos organismos testados [53].

A DL50 por sua vez e a dose letal do toxico administrada diretamente nos experimen-

tos com animais, com efeito letal para 50% da populacao exposta sob diferentes condicoes

do teste [54].

2.7.2 Toxicidade cronica

A toxicidade cronica corresponde a resposta a um estımulo prolongado ou contınuo,

por um longo perıodo de tempo, podendo abranger parte ou todo ciclo de vida do orga-

nismo.

Os testes de toxicidade sao bioensaios que consistem na exposicao do organismo teste

a diferentes concentracoes de uma ou mais substancias ou fatores ambientais por um de-

terminado perıodo de tempo, visando observar os efeitos sobre as funcoes biologicas fun-

damentais como mudanca de apetite, crescimento, metabolismo reprodutivo, diminuicao

da taxa de natalidade em decorrencia de alteracoes nas fases meioticas das celulas re-

produtoras e/ou por anomalias no processo de desenvolvimento embrio-larval, bem como

mutacoes ou morte [55, 52].

Ja foi evidenciado na literatura que os organismos-teste reagem de forma diferente

para um mesmo composto, em testes realizados em laboratorio ou em meio natural, por-

tanto, a utilizacao de metodos de ensaio, que se aproximem das condicoes reais, pode

trazer respostas mais precisas do efeito causado ao ecossistema.

O lancamento de efluentes lıquidos, mesmo que tratados, de forma contınua no am-

biente aquatico, pode causar efeitos cronicos, uma vez que os organismos sao expos-

tos a baixas concentracoes de determinados poluentes durante longos perıodos de tem-

po. Se estes poluentes forem degradaveis, ocorrera equilıbrio a uma certa distancia

do ponto de lancamento, mas, no trecho ou area em que esse fenomeno se proces-

sa, os organismos poderao enfrentar impedimentos ou dificuldades para se manter no

ambiente, levando a alteracoes na estrutura e funcionamento do ecossistema aquatico.

O lancamento de substancias persistentes ou bioacumulaveis poderas causar efeitos

drasticos nas populacoes expostas [56, 57, 52].

O efeito cronico deve ser objeto de verificacao quando os testes de toxicidade aguda

nao forem suficientes para caracterizar um efeito toxico mensuravel.

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Tem aumentado o emprego dos testes de toxicidade nos ultimos anos, que encontram-

se padronizados e podem detectar a toxicidade de efluentes lıquidos em organismos

aquaticos vivos, permitindo inclusive acoes de controle. Desta forma e possıvel exer-

cer o mesmo nıvel de controle para diferentes efluentes lıquidos e para diferentes corpos

d’agua [52].

Os organismos aquaticos apresentam sensibilidade diferentes as propriedades toxicas

das substancias quımicas. Essas diferencas de uma especie para outra, ocorrem justa-

mente pela especificidade de seus metabolismo e pela natureza de seus “habitats”, que

depende das caracterısticas particulares de cada ecossistema aquatico. E recomendavel,

sempre que possıvel, avaliar o efeito agudo e cronico em sistemas de fluxos contınuos,

com mais de uma especie representativa da biota aquatica, atendendo diferentes nıveis

troficos, para que se possa, atraves do resultado obtido com o organismo mais sensıvel,

estimar com maior seguranca o impacto desse efluente no corpo receptor [58, 56, 57, 52].

Alem das informacoes sobre os efeitos causados a diferentes organismos, estes testes

podem prever um impacto ambiental, fornecendo informacoes referentes a ocorrencia ou

nao de bioacumulacao e ao transporte e bioamplificacao do agente nas cadeias alimentares

[59].

2.7.3 Organismos Padronizados

Os testes de toxicidade sao realizados com diversos organismos e as metodologias

ja estao padronizadas pelos orgaos ou institutos ambientais. Abaixo estao relacionados

alguns organismos pertencentes a diferentes nıveis troficos, mais utilizados em testes de

toxicidade, que foram avaliados neste trabalho.

Os microcrustaceos Daphnia e Artemia sao considerados consumidores primarios ou

secundarios, e constituem um importante elo entre os nıveis inferiores e superiores da

cadeia alimentar de um ecossistema [51].

Daphnia similis

Segundo DAMATO [60] Daphnia similis e uma especie de microcrustaceo da famılia

Daphnidae, pertence a ordem Cladocera (Crustacea-Branchiopoda) e exerce um papel

fundamental na comunidade zooplanctonica.

Este microcrustaceo esta presente em todos ambientes de agua doce, e facilmente

encontrado em lagos, represas, rios e planıcies inundadas. Conhecido popularmente como

pulga d’agua, mede cerca de 0,5 a 5,0 mm de comprimento e alimenta-se basicamente de

algas, bacterias, protozoarios e detritos organicos, os quais sao capturados por processo de

filtracao (comum nos microcrustaceos). A natacao e feita pela movimentacao das longas

30

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antenas, que funcionam como remos.

O ciclo de vida deste organismo, pode variar de tres a cinco semanas, sua populacao

e composta de femeas, porque a forma de reproducao e partenogenese, isto e, assexuada.

As femeas produzem celulas diploides que originam femeas com o mesmo genotipo. A

Figura 2.1 ilustra as diversas fases da vida desses organismos.

Figura 2.1: Daphnia Similis: diversas fases da vida do organismo

Daphnia e um organismo muito sensıvel. Alteracao no manuseio da cultura, nao dis-

ponibilidade de nutrientes, mudancas de temperatura, na qualidade da agua etc., podem

influenciar a reproducao deste organismo, provocando o surgimento de machos e femeas

com ovulos constituıdos de celulas haploides. Com a presenca de machos, esses ovulos

sao fecundados, e posteriormente recobertos com uma carapaca quitinosa escura, visıveis

no saco embrionario das femeas adultas, resultante entao de reproducao sexuada, deno-

minada efıpio [61, 62, 63, 64].

Artemia

Artemia salina e um pequeno crustaceo marinho caracterıstico de pocos e pequenos

lagos de agua salgada. Este organismo apresenta uma grande adaptacao as variacoes de

salinidade (igual ou maior que 5 g/kg). Os nauplius da Artemia salina sao utilizados

31

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internacionalmente em testes de toxicidade por apresentarem caracterısticas significativas

como: os seus organismos adultos tem um grande potencial reprodutivo; sao de facil

aquisicao no mercado e manutencao em laboratorio; os cistos (ovos) sao de facil eclosao

e os testes apresentam uma boa reprodutividade [65, 66, 55, 67].

Para determinar a faixa de concentracao que sera utilizada no teste, deve-se verificar as

concentracoes de uso do produto e as observadas em campo. Em se tratando de efluentes,

amostras ambientais e extratos sao normalmente avaliados nas concentracoes de 1%, 10%,

30%, 50%, 70%, e 100% v/v. Na realizacao dos testes, as analises fısico-quımicas para

determinacao de pH, cloretos, oxigenio dissolvido (OD), devem ser feitas para controlar

as condicoes basicas de exposicao dos organismos-teste e subsidiar a interpretacao dos

resultados.

Peixes

Sao organismos consumidores, componentes da comunidade nectonica, constituem

o nıvel superior na cadeia alimentar de um ecossistema aquatico e tem grande interesse

economico [51].

Com base nos estudos desenvolvidos pela FEEMA, a fim de estabelecer limites de

toxicidade para o lancamento de efluentes industriais em corpos receptores, o peixe zebra

(Brachydanio rerio) foi considerado o organismo mais resistente e, portanto padronizado

pelo orgao ambiental para testes de toxicidade aguda. Os resultados dos testes sao expres-

sos em Unidade de Toxicidade (UT) “considerando-se como seu limite superior o valor 8

(oito) e inferior o valor 2 (dois)” , conforme a NT 213 - Criterios e Padroes para Controle

da Toxicidade de Efluentes Lıquidos Industriais [68].

��� � � ���

��� ��� (2.2)

Os peixes por serem considerados como importante recurso alimentıcio, podem ser a

principal via de contaminacao de metais pesados para o homem, donde a sua importancia

como organismos indicadores, utilizados em bioensaios para verificar a presenca ou a

ausencia de efeitos aparentes dos contaminantes sobre os organismos vivos.

O aumento da contaminacao nos ambientes aquaticos evidencia-se pela reducao da

populacao de animais residentes e especies migratorias de peixes.

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Bacterias

As bacterias sao microorganismos que podem transformar substancias organicas com-

plexas em elementos dissociados na forma oxidada (mineralizacao). Esses organismos

podem estar presentes em todas as partes de um corpo d’agua [51].

Vibrio fisheri e uma bacteria bioluminescente de origem marinha, anaerobia, Gran-

negativa, pertencente a famılia das Vibrinaceae, que emite luz e apresenta vida livre ou

associada com outros organismos superiores [69, 70, 67, 71].

Nestas bacterias, a enzima luciferase catalisa a reacao da flavina (mononucleotıdeo)

com um aldeıdo e o oxigenio, obtendo-se um acido organico, agua e a emissao de luz. A

reacao em questao faz parte da cadeia transportadora de eletrons e a emissao de luz esta

associada ao metabolismo celular. A acao de um toxico em qualquer nıvel celular afetara

a bioluminescencia. A inibicao de uma enzima qualquer deste processo ira causar uma

diminuicao na taxa de emissao de luz, que pode ser quantificada em um sistema com um

fotomultiplicador e um fotometro [72, 73, 74, 75].

O teste de toxicidade com bacterias luminescentes mais difundido e o Microtox, consi-

derado simples e reprodutivo. Segundo REIS [73], MUNKITTRICK et al. [76], ARGESE

et al. [77], STEVENS [78] os ensaios sao bastante rapidos, pois, apos a exposicao a uma

pequena amostra, o organismo responde rapidamente a um vasto numero de substancias,

podendo o efeito ser determinado num tempo de 5 a 15 minutos.

Algumas desvantagens citadas na literatura (REIS [73]) para este teste sao:

a necessidade do aumento da salinidade de algumas amostras, para um nıvel com-

patıvel com as exigencias da bacteria utilizada, pode favorecer a precipitacao de

metais pesados;

a bio-luminescencia das bacterias diminui com o tempo, requerendo um contro-

le preciso da duracao do teste e limitando o numero de amostras que podem ser

processadas simultaneamente;

a cor do efluente a ser testado influencia na medida da luz emitida pelas bacterias

marinhas.

Segundo MUNKITTRICK et al. [76] a U.S. Agencia de Protecao Ambiental tem

recomendado os testes com Microtox, para avaliar a toxicidade de aguas residuarias e

chorumes gerados em aterros sanitarios.

No teste Microtox a CE50 e obtida pela razao corrigida entre a reducao da quan-

tidade de luz e a quantidade de luz remanescente expressa em um grafico, em funcao

da concentracao da amostra. A partir de entao, pode-se obter a concentracao efetiva da

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amostra que causa uma reducao de 50% na quantidade de luz emitida apos os perıodos

de exposicao determinados para o teste. A nao ocorrencia de decrescimo na producao de

luz, pelo organismo teste, significa ausencia de efeito toxico. 4

Existe um grande interesse no teste com bacterias luminescentes, devido a rapidez de

resposta. As principais bacterias sao: Photobacterium fisheri, Photobacterium phospho-

reum, Spirillum volutans e Beneckea harveyi [69, 73].

E comum encontrar-se na literatura testes utilizando Photobacterium phosphoreum,

mas a partir de dois anos para ca, foi introduzida no mercado a bacteria Vibrio fisheri que

apresenta maior sensibilidade. Ambas sao bacterias marinhas pertencentes a famılia dos

Vibrionaceae [79].

A toxicidade e inversamente proporcional ao valor de � ��� � ����� ou ��� ����� , ou se-

ja, quanto menor o valor da � ��� � ����� ou ��� ����� , mais toxica e a amostra. A maior

concentracao do efeito nao observado e designada como CENO, e o parametro CEO cor-

responde a menor concentracao de efeito observado.

A cada serie das amostras testadas e realizado um teste de toxicidade com um padrao,

com o objetivo de verificar se os organismos estao respondendo na faixa de toxicidade

previamente estabelecida para as condicoes de laboratorio. Considera-se que:

i) amostras que apresentam 0 a 10% de mortalidade na concentracao de 100% do produto

bruto testado sao consideradas nao toxicas;

ii) para valores entre 11% e 29%, considera-se baixo indıcio de toxicidade;

iii) entre 30% e 49%, alto indıcio;

iv) as amostras que apresentam entre 50% e 79% sao consideradas toxicas;

v) sao muito toxicas as amostras cujos ındices estao entre 80% e 100%.

LAMBOLEZ et al. [80] estudaram o efeito toxico em 15 amostras de chorume de

varios aterros, avaliando a toxicidade aguda com o Microtox e o microcrustaceo Daphnia

e tambem a realizando testes cronicos com microalgas. Os resultados foram distintos para

as diferentes amostras testadas e em muitos casos nao foi possıvel correlacionar os resul-

tados dos testes de toxicidade com os parametros fısico-quımicos. Tambem foi verificado

que quatro amostras apresentavam produtos mutagenicos. A presenca desses produtos

nos resultados, evidencia a importancia do monitoramento utilizando testes de toxicidade

em conjunto com analises fısico-quımas no gerenciamento dos resıduos solidos.4Efeito toxico observado: e a razao entre o total de organismos afetados pelo total de organismos testa-

dos

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2.7.4 Leis Federais e Estaduais Para Avaliacao da Toxicidade

Legislacao Federal

Esta fundamentado para aguas de classe 2 e 3 que a “ Resolucao CONAMA���

20

[81] permite, como uso preponderante, a preservacao de peixes em geral e outros elemen-

tos da fauna e flora, bem como a protecao de comunidades aquaticas”. Nos artigos 18 e

23 da mesma resolucao esta estabelecido “que os efluentes, nao obstante atenderem aos

limites fixados para substancias especıficas, nao poderao conferir ao corpo receptor ca-

racterısticas em desacordo com o enquadramento do mesmo na classificacao das aguas”.

E o seu artigo 12 reforca as argumentacoes ligadas a classificacao dos corpos d’agua,

estabelecendo que as eventuais acoes sinergicas entre substancias especıficas de um eflu-

ente, citadas ou nao na legislacao, nao poderao conferir as aguas caracterısticas capazes

de causar efeitos letais ou alteracoes de comportamento, reproducao ou filosofia de vida”.

Verifica-se portanto, que os ensaios de toxicidade nao sao exatamente mencionados, mas

nao deixam de ser contemplados [82].

Para efeito de enquadramento de um lancamento, que causa efeito toxico em um corpo

receptor, deve-se considerar as legislacoes estaduais.

Estado de Sao Paulo

A Legislacao Ambiental do Estado de Sao Paulo (Regulamentada da Lei � 997,

31/5/76, aprovado pelo Decreto � 8468, de 8/9/76) e similar a Lei Federal (Resolucao

CONAMA���

20), na qual os ensaios de toxicidade nao sao citados textualmente. Des-

ta forma, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) continua

a controlar os agentes toxicos nos efluentes lıquidos, atraves dos padroes de emissao e

de qualidade das aguas, como tambem, atraves do controle da toxicidade mesmo sem

exigencia legal [82, 73]. Segundo ZIOLLI e JARDIM [83] o Estado de Sao Paulo iniciou

em 1996 uma revisao na Lei � 997 de 1976, objetivando contemplar os testes de toxi-

cidade no controle dos poluentes, a qual entraria em vigor em junho de 1998. A revisao

desta lei significa um ganho importante na preservacao do meio ambiente.

Estado do Rio de Janeiro

A NT 202 R10, Criterios e Padroes para Lancamento de Efluentes Lıquidos, da

Fundacao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), publicada em 12/12/86,

35

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indica no Item 3.6: “A FEEMA podera estabelecer exigencias quanto a reducao de to-

xicidade dos efluentes lıquidos, ainda que os mesmos estejam dentro dos padroes pre-

conizados por esta Norma Tecnica”. Na NT 213 R4, publicada em 18/10/90, o orgao

ainda estabelece Criterios e Padroes para Controle da Toxicidade em Efluentes Lıquidos

Industriais, utilizando testes de toxicidade com organismos vivos, de modo a proteger os

corpos d’agua da ocorrencia de toxicidade aguda ou cronica. A NT 213 estabelece um

limite maximo de toxicidade para efluentes industriais e considera ainda que esse valor

pode ser restrito, conforme o potencial de diluicao do efluente no corpo receptor.

36

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Capıtulo 3

Materiais e Metodos

Neste capıtulo e descrita toda a parte experimental desenvolvida neste trabalho, as

formas de tratamento estudada, os testes de toxicidade e as demais metodologias analıticas

empregadas.

3.1 Procedimentos de Coleta e Preservacao das Amostras

de Chorume

A coleta foi realizada no Aterro Metropolitano de Gramacho - Duque de Caxias RJ.

No perıodo estudado foram realizadas duas coletas de amostras nos meses de maio e ou-

tubro de 2001. As amostras utilizadas neste estudo foram coletadas em um valao proximo

a canaleta lateral. As amostras foram armazenadas em bombonas de plasticos e preserva-

das abaixo de� � � assim que transferidas para o laboratorio, para posterior utilizacao. A

figura 3.1 ilustra o local de amostragem no referido aterro.

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Figura 3.1: Local de Amostragem do Chorume

3.2 Caracterizacao do Chorume

A caracterizacao do chorume foi feita com base nos seguintes parametros: pH, deman-

da quımica de oxigenio (DQO), carbono organico (dissolvido) total (COT), cor, nitrogenio

amoniacal (N-NH4+), metais pesados e cloreto. Os teores de metais pesados foram deter-

minados por espectrofotometria de absorcao atomica. Todos os procedimentos analıticos

utilizados se basearam no AWWA (APHA[84]). Foram realizados bioensaios de toxicida-

de para avaliar a toxicidade aguda do chorume aos organismos aquaticos Daphnia similis,

Artemia salina, Brachydanio rerio e bacterias luminescente Vibrio fisheri (Sistema Mi-

crotox).

38

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3.3 Tratamento Primario

A primeira abordagem usada para o tratamento do chorume consistiu da utilizacao

da tecnica fısico-quımica. Os testes de coagulacao/floculacao foram realizados em um

aparelho Jar Test, marca Digimed, modelo Modulo Floculador MF-01. Este equipamen-

to tem a capacidade de realizacao de 6 ensaios simultaneos, podendo tratar 1000mL da

amostra em becheres de 2 litros,como mostra a Figura 3.2, com controle individual de

rotacao (agitacao mecanica) ajustavel de 0 a 150 rpm. Estes testes foram realizados no

Laboratorio de Controle de Poluicao de Aguas (LABPOL) do PEQ/COPPE/UFRJ. Com

base em um estudo de BILA [4], foi utilizado neste trabalho o coagulante ( � � � � � � � �- Sulfato de Alumınio), com uma dosagem otima de 700 mg/L, sob agitacao rapida de

aproximadamente 150 rpm por 5 minutos, acarretando a formacao de pequenos flocos.

Em seguida ocorre a floculacao, que promove a aglomeracao das partıculas, facilitando

a sua sedimentacao. Nesta etapa aplicou-se agitacao branda de 15 rpm por 15 minutos,

acompanhada da adicao de polieletrolito cationico em uma concentracao de 3,0 mg/L. As

amostras de chorume bruto submetidas a este teste tiveram o pH ajustado para 4,5, consi-

derado otimo. O tempo de decantacao do efluente, apos o perıodo de agitacao, foi de 30

minutos. A descricao do material utilizado neste ensaio encontra-se na tabela 3.1.

Tabela 3.1: Descricao do Coagulante e do Polieletrolito utilizados nos testes de

coagulacao/floculacao

Nome do Produto Descricao Procedencia

Sulfato de Alumınio Coagulante Inorganico VETEC

Nalco 7128 Polımero Cationico Nalco Brasil Ltda

39

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Figura 3.2: Teste de Coagulacao/Floculacao

Foram realizados varios experimentos para obter-se o volume necessario para

realizacao dos tratamentos posteriores. As amostras do sobrenadante foram armazena-

das, sendo submetidas as seguintes analises: DQO, COT, N-� � �� , cor, cloretos, metais e

testes de toxicidade.

3.4 Ozonizacao do Efluente Pre-tratado

3.4.1 Planta Piloto de Ozonizacao

Utilizou-se a ozonizacao por ser uma tecnica de oxidacao quımica que promove a

decomposicao parcial ou completa de poluentes organicos de difıcil degradacao. Os tes-

tes de ozonizacao do chorume foram realizados no CTR - Centro de Tecnologia da Whi-

te Martins, localizado em Duque de Caxias/RJ. A empresa possui uma planta piloto de

ozonizacao para realizar ensaios com efluentes. A planta piloto utilizada e composta de

4 partes principais: um gerador de ozonio, dois analizadores de ozonio, uma unidade de

distribuicao de ozonio e uma coluna de contato, ilustradas nas Figuras 3.3 e 3.4

40

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Figura 3.3: Planta Piloto instalada na White Martins

Figura 3.4: Coluna de Contato

Gerador de Ozonio: O gerador de ozonio usado foi do tipo PCI, no qual sao gerados

ate 40g/h de ozonio, sendo usado oxigenio comercial como gas de alimentacao. O pro-

cesso de geracao de ozonio ocorre atraves de descargas eletricas no gas de alimentacao,

que quebram as ligacoes duplas das moleculas de oxigenio e, assim, os atomos gerados

reagem com outras molecula de oxigenio formando o ozonio.

Analisadores de Ozonio: As quantidades de ozonio na alimentacao e na corrente de

saıda da coluna de contato foram medidas atraves de um monitor PCI, esse instrumento

41

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e controlado por um computador e baseia-se na absorcao de ozonio na faixa do UV. A

absorcao de UV na amostra gasosa e medida e a concentracao de ozonio e calculada

utilizando a lei de Beer.

Coluna de Contato: No ensaio utilizou-se uma coluna de acrılico de 1,0 m de altura

por 0,1 m de diametro. O difusor localizado na parte inferior da coluna constitui-se de um

disco poroso de aco inox 316 L com 10 micrometros de diametro de poro, gerando bolhas

da ordem de 3 mm de diametro.

Unidade de Destruicao de Ozonio: Tanto os gases que saem da coluna de contato

como dos analisadores de ozonio passam atraves de uma unidade catalıtica de destruicao

de ozonio, a qual contem dioxido de manganes, dioxido de cobre e dioxido de alumınio.

Somente apos a sua destruicao, os gases sao lancados na atmosfera.

AT 286

destruiçãoUnidade de

Monitoramento

Unidade de

Gerador de

Ozônio

Ozônio

Célula

de

Contato

O2

O2

Figura 3.5: Diagrama esquematico da unidade piloto de ozonio da White Martins

42

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3.4.2 Procedimento experimental

Foram realizados ensaios de ozonizacao com o chorume previamente submetido a eta-

pa de coagulacao/floculacao. Com base nos experimentos realizados por BILA [4], foram

empregadas quatro dosagens de ozonio (0,1; 0,5; 1,5 e 3,0 g de ozonio absorvido/litro

de efluente) em ensaios que tiveram duracao de 15 a 150 min. Foram ozonizados 5,5

litros de amostra para cada concentracao de ozonio absorvido e durante a realizacao do

teste o chorume promoveu a geracao de espumas. Para elimina-la adicionou-se 2mL de

anti-espumante (Nalco718) na amostra de efluente antes de ser introduzida na coluna de

contato. A Figura 3.6 mostra o efluente na coluna de contato em operacao em dois ensaios

tıpicos. Todos os ensaios de ozonizacao foram realizados na temperatura ambiente com

pH do efluente corrigido para valores da ordem de 4,5.

Figura 3.6: Coluna de Contato

As amostras de chorume ozonizadas foram monitoradas pelos seguintes parametros:

DQO, COT, cor e toxicidade.

3.5 Fracionamento com Membranas

Os processos de separacao por membranas sao utilizados quando se deseja separar

moleculas com diferentes tamanhos de uma dada solucao. Neste estudo, o chorume pre-

43

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tratado (coagulacao/floculacao) foi filtrado previamente em papel de filtro e posterior-

mente filtrado em membrana de microfiltracao de 0,22 � � (Osmonics) ou 0,45 � �(Milipore), com objetivo de remover materiais em suspensao. Em seguida, com pH o

ajustado em 7,0 foi realizado o processo de ultra filtracao de membranas com diferentes

cortes (cutoff ), a saber: 50.000, 20.000 e 5.000 Da, conforme indicado na Tabela 3.2. As

amostras de efluente ultrafiltrado (permeado) tiveram as suas caracterısticas determinadas

(toxicidade e parametros fısico-quımicos).

Tabela 3.2: Relacao de membranas usadas para microfiltracao(MF) e ultrafiltracao(UF).

Membrana Material Corte nominal Procedencia

MF ester de celulose 0,22 � m Osmonics

UF polisulfona 5 kDa Osmonics

UF polisulfona 20 kDa Osmonics

UF polisulfana 50 kDa Osmonics

3.5.1 Procedimento Experimental

O sistema de separacao por membranas usado neste trabalho foi de fluxo cruzado

onde a unidade de permeacao era constituıda basicamente de um vaso de alimentacao,

bomba de engrenagem, rotametro, manometros e celula de permeacao como ilustrada

na Figura 3.7 . Os experimentos foram efetuados a temperatura ambiente e o efluente

que nao era permeado pela membrana, retornava ao vaso de alimentacao. A celula de

permeacao foi construıda em acrılico, e possuıa uma area util de membrana de 0,004738

� � . A alimentacao era efetuada por um orifıcio ligado a uma canaleta para distribuicao

uniforme no interior do modulo. No outro extremo da celula uma canaleta semelhante

coletava o efluente conduzindo-o ao orifıcio de saıda, como ilustra a Figura 3.8.

44

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Figura 3.7: Esquema da unidade empregada nos ensaios de micro e ultrafiltracao.

Figura 3.8: Representacao Esquematica da Celula de Permeacao

45

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Apos o efluente pre-tratado ter sido submetido ao processo de ultrafiltracao com uma

dada membrana, os seguintes parametros eram monitorados: DQO, COT,cor,N-� � �� e

toxicidade.

3.6 Arraste da Amonia com Ar das Fracoes Percoladas

Com o intuito de reduzir o alto teor de nitrogenio amoniacal presente no chorume

bruto e no chorume tratado, foram feitos ensaios de remocao da amonia por arraste com

ar. O arraste consiste na transferencia da amonia da fase lıquida para a fase gasosa por

injecao de ar no efluente. Este processo so ocorre em altos pH, entre 10,5 e 11,5. O

volume de amostra submetido ao arraste foi de aproximadamente 600 mL com uma perda

entre 100 e 150 mL, a amostra de chorume foi colocada em um recipiente com capacidade

de 10 litros, devido a grande producao de espuma durante a aeracao. A Figura 3.9 mostra

o esquema do sistema utilizado para arraste da amonia. O pH foi corrigido para 11 a

cada 24 horas, juntamente com avaliacao do teor de amonia, ate alcancar nıveis abaixo de

5ppm, cada teste teve uma duracao de ate 7 dias.

Frasco

Bolhas de Ar

Pedra Porosa

Figura 3.9: Esquema do Sistema Utilizado para o Arraste da Amonia

46

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3.7 Bioensaios para determinacao da toxicidade

Foram realizados bioensaios de toxicidade para avaliar a potencia relativa de agen-

tes quımicos sobre organismos vivos, observada atraves de efeito agudo (exposicao do

organismo-teste ao efluente por perıodo de 48 ou 96 horas). Estes testes foram aplicados

para o efluente bruto, pre-tratado, ozonizados, fracionado por membranas e submetido ao

arraste para remocao da amonia.

3.7.1 Organismos testados

Levando em consideracao os efeitos que um agente pode causar a biota aquatica,

atingindo uma comunidade em diferentes nıveis e maneiras, recomenda-se realizar testes

com organismos representativos de diferentes nıveis troficos (produtores, consumidores

primarios e consumidores secundarios). Os organismos utilizados neste estudo foram: Ar-

temia salina, Daphnia similis, Brachydanio rerio e a bacteria luminescente Vibrio fisheri.

3.7.2 Procedimento dos Testes

Todos os testes foram realizados em uma sala aclimatada com uma temperatura de��� �

C.

i) Artemia salina Os testes de toxicidade foram realizados com organismos jovens de Ar-

temia tambem conhecido como camarao duende, microcrustaceo de agua salgada,

provenientes de cistos liofilizados (ovos) comprados no mercado MACAU/RN, que

quando colocados para eclodir, apos 24 horas de eclosao em fase larvar obtem-se os

nauplios II-III, para serem usados nos testes. A exposicao destes organismos foram

realizadas diferentes diluicoes da amostra com agua do mar sintetica e expostos

em cinco concentracoes, foram separados 10 mL e transferidos para os becheres, e

para cada concentracao foram montadas cinco replicas, onde 10 organismos foram

introduzidos com auxılio de uma pipeta Pauster, tendo ainda um grupo controle

executado com cinco replicas contendo apenas agua do mar. Os testes foramreali-

zados num sistema estatico por um perıodo de 24 e 48 horas. A toxicidade e me-

dida em termos de efeitos sobre a mortalidade, atraves dos seguintes parametros:

- ��� ��� Concentracao inicial de amostra que causou letalidade a 50 dos organis-

mos expostos; - CENO-Maior concentracao de efeito nao observado; - CEO-Menor

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Page 63: TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANITARIO´ E … · de em auxiliar o trabalho de tese e pela ajuda na realizac¸˜ao dos testes de toxicidade, e tamb´em aos amigos Alexandre,

concentracao de efeito observado. A Figura 3.13 apresenta uma fotografia do mi-

crocrustaceo Artemia salina.

Figura 3.10: Artemia salina

ii) Daphnia Similis: Nos testes de toxicidade foram utilizadas jovens de Daphnia similis,

microcrustaceo de agua doce, com idade entre 6 e 24 horas. Para realizacao dos

testes as amostras foram submetidas a diferentes diluicoes da amostra com agua

reconstituıda e expostos em cinco concentracoes, 10 mL foram transferidos para

os becheres, e para cada concentracao foram montadas cinco replicas, onde 5 or-

ganismos foram introduzidos em cada replicacao, e um grupo controle executado

com cinco replicas contendo apenas agua reconstituıda, num sistema estatico, ou

seja, um sistema fechado no qual nao ocorre a renovacao da solucao teste por um

perıodo de 24 e 48 horas. A toxicidade e medida em termos de efeitos sobre a

mobilidade, onde a ��� ��� -Concentracao inicial que causou efeito adverso a 50 %

dos organismos expostos, CENO-Maior concentracao de efeito nao foi observado

eCEO-Menor concentracao de efeito observado . A Figura3.13 apresenta uma fo-

tografia do microcrustaceo Daphnia similis.

48

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Figura 3.11: Daphnia similis

iii) Brachydanio rerio: Os peixes de agua doce,Brachydanio rerio mais conhecido como

paulistinha ou peixe zebra, submetidos ao teste, tinham um comprimento de 30

a 35 mm e peso de 0,1 a 0,3g, foram adquiridos em piscicultura e aclimatados

em laboratorio, o fornecedor esta localizado no bairro Vista Alegre (RJ), e possui

capacitacao tecnica para fornecer estes organismos. Foram realizados testes com

diferentes concentracoes da amostra diluıdas com agua reconstituıda a um volume

total de 3000 mL em becheres de 4000 mL. Em cada becher foram adicionados 10

organismos e os efeitos foram observados por um perıodo de 24 a 96 horas, num

sistema estatico. A toxicidade foi medida em termos de efeitos sobre a letalidade

, � � ��� e CENO. Foram realizados testes com grupos controle com apenas agua

reconstituıda. A Figura 3.13 apresenta uma fotografia do peixe Brachydanio rerio.

Figura 3.12: Brachydanio rerio

49

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iv) Microtox: O sistema Microtox e um fotometro de precisao, especialmente desenvol-

vido para realizacao deste bioensaio. O organismo usado neste teste e a Vibrio

fisheri, bacteria de origem marinha que emite luz naturalmente. Neste teste uma

pequena quantidade de amostra exposta ao teste com as bacterias bioluminescente,

as quais emitem luminosidade proporcional as suas reacoes. A avaliacao do efeito

e dada em 5 e 15 minutos onde se observa uma consequente reducao na emissao

de luz, indicando assim a quantidade de organismos que podem estar afetados pela

carga toxica. O teste de referencia foi conduzido com sulfato de cobre com quatro

diluicoes (0,9; 0,45; 0,225 e 0,112 mg/L de Cu) e mais um grupo controle. A to-

xicidade e medida em CE50, observando a reducao da luminescencia das bacterias.

Caso nao haja decrescimo na producao de luz pelo microorganismo teste, significa

ausencia de efeito toxico. A Figura 3.13 apresenta uma fotografia do Vibrio fisheri

Figura 3.13: Vibrio fisheri

3.7.3 Tratamento Estatıstico dos Dados

Para obter o valor da CL 50 e da CE 50 determinados na avaliacao da toxicidade aguda,

os resultados obtidos foram submetidos a testes estatısticos, empregando-se o metodo de

ajuste Sperman-Karber, que fornece tambem o intervalo de 95 % de confianca [85]. Os

resultados dos testes com peixe, tambem podem ser expressos em UT, que corresponde

ao fator de diluicao da amostra, em numero inteiro.

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3.8 Metodologia Analıtica

3.8.1 DQO

As determinacoes da demanda quımica de oxigenio(DQO) foram feitas segundo o

metodo 5220 D (metodo colorimetrico) descrito pela AWWA (APHA [58]), empregando-

se equipamento da HACH, modelo 45600, para a digestao das amostras e um espectro-

fotometro visıvel, modelo DR/2000 da HACH.

3.8.2 COT

O teor de carbono organico foi determinado por tecnica instrumental, empregando-se

um analisador de COT Shimadzu, modelo 5000 A. Todas as amostras foram previamente

filtradas atraves de membranas com diametro de poro igual a de 0,45 � m (Milipore),

obtendo-se desta maneira, o teor de carbono organico dissolvido.

3.8.3 pH

A determinacao do pH foi feita pelo metodo potenciometrico em um medidor de pH

da marca Digimed, modelo DMPH-2, previamente calibrado com solucao tampao de pH

7,0 e pH 4,0.

3.8.4 Cor

A cor foi determinada de acordo com o metodo padrao Platium-Cobalt secao 2120 C,

AWWA (APHA [58]). Este metodo se baseia na determinacao da absorbancia de uma uma

solucao e sua correlacao com absorbancia de uma solucao padrao de platina e cobalto. As

absorbancias foram determinadas em um espectrofotometro HACH, modelo DR/2000, em

um comprimento de onda de 455 nm. O pH das amostras foram previamente corrigidos

para 7,0. O resultado e expresso em unidades de cor (UNITS PtCo COLOR).

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3.8.5 Cloreto

O teor de cloretos foi determinado pelo o metodo argentometrico,secao 4500-Cl- B

AWWA (APHA [58]).

3.8.6 Amonia

Para determinar a concentracao de N-� � �� , utilizou-se um eletrodo de ıon seletivo

(Orion Model 720).Antes de realizar o teste, foi necessario fazer uma curva de calibracao,

para isso foram preparados padroes de concentracoes 1ppm, 10ppm, 100ppm de amonia,

e no momento da leitura adicionou-se 0,2ml de solucao ISA(Ionic Strengh Adjustor) e

manteve-se em agitacao moderada. Introduziu-se o eletrodo tomando cuidado de evitar

a formacao de bolhas na parte inferior do mesmo. A leitura dos padroes determinou os

coeficientes A e B da equacao 3.1 para calcular a concentracao (em ppm) de amonia das

amostras.

� ��� � � � � ��� � ����� � ��� � ��� � (3.1)

3.8.7 Metais

De acordo com os levantamentos bibliograficos feitos com o chorume de Gramacho,

verificou-se a importancia da analisar a concentracao de metais pesados, visto que eles

podem contribuir para a toxicidade deste efluente. Os metais Al, Ba, Cu, Pb, Cu, Cr,

Sn, Fe, Mn, Hg, Ni, K, S, Zn, Ca e Mg foram avaliados nos chorume bruto e pre-

tratado (coagulacao/floculacao), pelo metodo de Espectrometria de Absorcao Atomica

com chama de Ar-Acetileno e Oxido Nitroso. Essas determinacoes foram realizadas em

laboratorios externos como o da FEEMA (Fundacao Estadual de Engenharia do Meio

Ambiente) e o da Petroflex S.A.

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Capıtulo 4

RESULTADOS e DISCUSSAO

Os resultados experimentais obtidos serao apresentados a seguir, de acordo com as

tecnicas de tratamento empregadas neste estudo, bem como o comportamento da toxici-

dade do chorume bruto e tratado pelas tecnicas investigadas.

4.1 Caracterizacao do efluente

Neste estudo, realizado com o chorume proveniente do aterro Metropolitano de Gra-

macho coletado em duas amostragens em diferentes epocas do ano, foi evidenciada eleva-

da concentracao de material organico recalcitrante, metais pesados, bem como elevados

teores de amonia. Os resultados da caracterizacao dos parametros fısico-quımicos das

amostras do chorume estao apresentados de uma forma resumida na Tabela 4.1.

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Tabela 4.1: Caracterizacao do Chorume: valores medios dos parametros fısico-quımicos

de duas amostras distintas.

Parametros � � Amostragem�

� Amostragem

pH 8,16 8,25

DQO ( � ��� � ) 3455 3470

����� �� � ��� � � 150* 150*

��� ��� ����� � � � ��� � � 23,03 23,13

� ��� ��� ��� � � � ��� � � 0,04 0,04

� � � � � ��� � � 815 1001

� � � � ��� � 0,24 0,29

Cor ( � � ��� � �� � ) 5250 6925� � � ���� � � ��� � � 802 754

Cloretos ( � ��� � ) 4129 5142

�- Resultado de outra amostragem, reportado por BILA [4]

A recalcitrancia do material organico, pode ser ilustrada pela alta razao ��� ��� ����� �tıpica de aterro velho, a qual indica o nıvel de biodegradabilidade de um determinado

efluente. Quanto maior for esta razao, menos biodegradavel e o efluente. Infelizmente nao

foi possıvel, no ambito deste trabalho realizar determinacoes de DBO com as amostras

coletadas. No entanto, mesmo para alguns valores mais elevados reportados na literatura

(Tabela 4.2), da ordem de 500 mg � L, ainda assim fica evidenciada a recalcitrancia.

De acordo com os resultados obtidos, verificou-se que o pH do chorume foi pratica-

mente o mesmo nas duas amostragens.

Na realidade um aterro sanitario funciona como um grande reator biologico, dentro

dele ocorrem processos de conversao anaerobia, caracterizados por varias reacoes sequen-

ciais.

Cada conjunto de reacoes ocorre pela acao de uma populacao bacteriana especıfica,

distinguindo-se quatro etapas diferentes: hidrolise, acidogenese, acetogenese e a meta-

nogenese [86].

Com o conhecimento dos contaminantes potenciais que pode conter o chorume, e

possıvel entender os resultados obtidos neste estudo, relacionando-os com os processos

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descritos acima.

Abaixo encontram-se relacionados tipos de contaminantes potenciais encontrados no

chorume, tal como relatado por BARBOSA et al.[87]:

i) Materia organica dissolvida: medida pela Demanda Quımica de Oxigenio (DQO) e

pela Demanda Bioquımica de Oxigenio (DBO), ou pelo Carbono Organico Total

(COT), incluindo o metano, os Acidos Graxos Volateis (AGV) e outros compostos

organicos;

ii) Componentes Organicos Antropicos (COA):hidrocarbonetos aromaticos, fenois, com-

postos alifaticos clorados, entre outros;

iii) Cations: ��� � , � � , � � � , � � � ,��� �

,� �

,� � � ���� ;

iv) Anions:� � � �� , ��� � , � � �� ;

v) Metais pesados: cadmio, cromo, cobre, chumbo, nıquel e o zinco.

Embora existam compostos toxicos de varias naturezas no chorume, como por exem-

plo metais pesados e alguns compostos organicos, a amonia e tambem preocupante, pois

esta presente em nıveis altos.

CLEMENT et al. [88] relataram que nos trabalhos realizados por varios autores, em

89 amostras de chorume testadas o nıvel de amonia encontrava-se alto, em media 404

mgN/L, nıvel este considerado toxico.

Ainda que os parametros alcalinidade, condutividade e amonia nao estejam menci-

onados no regulamento de descarte de chorume na Franca, CLEMENT, desde 1993,

vem estudando a contribuicao destes parametros, e atraves de calculos utilizando re-

gressao matematica aplicada aos parametros fısico-quımicos e toxicologicos, foi obtida

a confirmacao de que esses parametros podem ser os principais contribuintes a toxici-

dade desses despejos. Portanto, os seus resultados indicaram que o pH e a alcalinidade

do chorume, que sera lancado no corpo receptor, devem ser controlados, para nao criar

condicoes favoraveis para o surgimento de amonia na forma toxica, pois a alcalinidade

e o pH afetam o equilıbrio da amonia (ionizada ou nao). O controle do lancamento no

tocante a amonia pode evitar tambem os riscos de eutrofizacao [88].

Altas concentracoes de nitrogenio amoniacal presentes no percolado podem ser con-

sequencia da degracao biologica de aminoacidos e outros compostos organicos nitroge-

nados, durante a fase acetogenica, podendo ocorrer elevadas concentracoes de amonia

[3, 34, 21].

55

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BAIG et al. [89]., verificaram que o chorume de um aterro pode ser considerado esta-

bilizado quando apresenta valores de ��� � � � ��� � � � � �����, razao ����� ��� ��� � � ���

�e para razao COT/DQO igual a 0,4.

Conforme indicado na Tabela 4.1, a materia organica medida atraves dos parametros

DQO e COT, apresenta valores similares em ambas amostragens. Os resultados indi-

cam que a razao ��� � � ��� ��� encontra-se em torno de 23, cerca de 0,04 para razao

��� � � � ��� � e uma media de 0,27 para a relacao COT/DQO, evidenciando assim, a

baixa biodegradabilidade do chorume. Portanto, este efluente precisa ser submetido a

tratamentos que diminuam a sua recalcitrancia, tornando-o mais biodegradavel.

O valor da DBO registrado na Tabela 4.1 e usado para o calculo das razoes acima

foi obtido do trabalho anterior conduzido no laboratorio com o chorume do Aterro de

Gramacho [4].

Os dados obtidos nesta caracterizacao evidenciaram que os fatores climaticos nao in-

terferiram nas caracterısticas do chorume para as amostras coletadas em diferentes epocas

do ano.

A caracterizacao revela tambem a presenca de altas concentracoes de cloretos e de

intensa cor no chorume.

Os resultados apresentados na Tabela 4.2, revelam as caracterısticas do chorume do

aterro de Gramacho/RJ analisados em perıodos diferentes em nosso laboratorio e por

empresas de tecnologia ambiental.

56

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Tabela 4.2: Caracterizacao do chorume do Aterro de Gramacho feita em diferentes

perıodos por pesquisadores e tecnicas distintas

Amostras

Parametros COPPE-UFRJ CAMMAROTA GEOPROJETOS HIDROQUIMICA TECMA BILA

1991 1994 1995 1997 1998 2000

pH 8,3 8,3 7,9 8,2 8,0 8,2

DQO ( ������� ) 9590 6924 8805 3792 2694 3096��� � � ��������� 360 468 3232 857 494 150���� � ���� � 26,64 14,79 2,72 4,42 5,45 20

� ���������

Cloretos

( ������� )

15540 8169 - - 3534 3700

Sulfatos

( ������� )

2200 1871 - - 500 -

Pode-se observar dos resultados da Tabela 4.2 que parece haver uma tendencia de

decrescimo dos valores de DQO, a medida que a idade do aterro foi aumentando. Para

a DBO nao se observa esta mesma tendencia, isso pode ter acontecido devido a maneira

como foram realizadas as determinacoes deste parametro.

Os dados da Tabela4.2 mostram que para tres dos estudos efetuados, a relacao

��� � � ����� � foi muito elevada (superior a 14) e para apenas um deles foi encontrada

uma relacao baixa (2,7). Os dados deste trabalho apresentados na Tabela 4.1 tambem

confirmam a alta razao obtida para esse parametro, que e indicativo de um efluente de

baixa biodegradabilidade.

No Brasil nao existe uma legislacao que forneca os limites de lancamento para este ti-

po especıfico efluente, devendo-se obedecer as normas estaduais e a legislacao federal. O

valor de lancamento para efluentes de qualquer fonte poluidora estabelecido pelo CONA-

MA N�

20 [81] e de 5,0 mg/L para amonia, e a legislacao Estadual (FEEMA) estabelece

lancamento de 250mg/L para DQO para efluentes de natureza industrial.

Para ilustrar a variabilidade de composicao e caracterısticas dos chorumes, sao apre-

sentados na Tabela 4.3 alguns dados recentes referentes a percolados de diversas pro-

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cedencias. Observa-se que mesmo para os percolados que se encontram em processo de

degradacao anaerobia (fase metanogenica) ha uma apreciavel diferenca nas suas carac-

terısticas.

Tabela 4.3: Dados recentes sobre parametros caracterısticos dos chorumes gerados em

aterros de diferentes regioes brasileiras

Parametros

pH DQO � ��� � � � � � �� Cloretos

( � ��� � ) ( � � � � ) ( � ��� � ) ( � ��� � )

Medias na fase 7,5-9,0 500-4500 20-550 30-3000 100-5000

Metanogenica�

Chorume de 8,0 3275 494 934 3534

Gramacho-RJ �

Chorume do 7,4-7,7 � � 955 �

Jockey Club-DF�

Chorume do 8,5 6027 409 526 4204

Jangurussu-CE�

Chorume de 7,7-8,7 5200-1150 2800-4000 � 22-42

Niteroi-RJ �

Chorume de Sao 5,57-8,4 588-49680 99-26799 0,6-1258 �

Giacomo-RS�

Chorume de 7,6 298 61 47,3 �

Porto Alegre-RS

Chorume de 7,43-7,57 2370-8480 � � �

Biguacu-SC�

�- Nao foi avaliado

Fonte: � EHRIG (apud ���������� ����������� ,1997) apud OLIVEIRA et al.[3]; � FERREIRA et al.[36]; � (SANTOS,

1996)apudOLIVEIRA et al.[3]; � OLIVEIRAet al.[3]; � SISINO et al. [90]; � PESSIN et al. [91]; � KUAJARA et al. [92]; � LUZ [53].

Para os chorumes de Gramacho, Jangurussu e Porto Alegre fica evidenciada a alta

58

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relacao ��� � � ������� . Ademais, os nıveis de nitrogenio amoniacal sao bastante elevados.

Os teores de metais medido neste trabalho para as duas coletas efetivadas no Aterro

de Gramacho encontra-se na Tabela 4.4, que tambem apresenta os limites de descarte

determinados pela legislacao.

Tabela 4.4: Resultados das analises de metais presentes nas amostras de chorume do

Aterro de Gramacho e limites de lancamento de alguns poluentes

Amostras de Chorume Bruto

Parametros Amostra1�

Amostra2�

VMP� �

VMP� � �

(mg � L) (mg � L) (mg � L) (mg � L) (mg � L)

Al � � � � 1,5

Ba � � � � 5

Cd � ��� � � � ��� � � 0,2 0,1

Pb � ��� � � ��� � 0,5 0,5

Co � � � � � ��� �

Cu 0,08 0,1 1 0,5

Cr 0,2 0,1 0,5 0,5

Sn � � � � 4

Fe 5,5 8 15

Mn 0,2 0,05 1

Hg�

2 1,2 0,01 0,01

Ni 0,1 0,25 2 1

K 1700 1900

Na 2700 3200

Zn 0,35 0,25 5 1

Ca 320 240

Mg 97,2 72,9

�- Concentracoes determinadas nolaboratorio da FEEMA em ( � ��� � ), exceto o

Hg( ����� � )

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� �- Valores Maximos Permissıveis por Lei - Fonte: Resolucao CONAMA ��� ��� [81]� ���

- Valores Maximos Permissıveis por Lei - Fonte:NT-202 (FEEMA) [93]

Observa-se na Tabela 4.4 que o teor de metais presentes no chorume bruto e inferior

ao limite estabelecido para todos os metais.

Segundo BAIG et al. [94] em chorumes velhos que apresentam caracterısticas de estar

estabilizados, geralmente podem ser observadas concentracoes elevadas de calcio, ferro,

magnesio, metais pesados, sodio e potassio. No presente trabalho observou-se para ambas

as amostras analisadas teores elevados de Na, K, Ca e Mg.

Foram feitas determinacoes de metais da primeira coleta, logo apos a amostragem,

usando a mesma tecnica analıtica, porem realizadas no laboratorio da Petroflex S.A. Os

resultados mostrados na Tabela 4.5 sao distintos daqueles apresentados na Tabela 4.4, e

importante considerar que as analises foram realizadas em laboratorios diferentes, por

material e pessoas diferentes. Cabe ressaltar que os teores de Al, Cu, Fe, Mn, Ni e Zn

encontram-se abaixo do limite de descarte. Entretanto, os metais Cr e Sn apresentaram-se

em teores superiores ao padrao de lancamento.

60

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Tabela 4.5: Resultados das analises de metais presentes na amostra de chorume do Aterro

de Gramacho e limites de lancamento de alguns poluentes

Amostras de Chorume Bruto

Parametros Amostra1�

VMP� �

VMP� � �

(mg � L) (mg � L) (mg � L) (mg � L)

Al 1,32 1,5

Co 0,25

Cu 0,15 1 0,5

Cr 0,83 0,5 0,5

Sn 6,98 4

Fe 4,63 15

Mn 0,21 0,5

Ni 0,78 2 1

K 1962

Na 1839

Zn 0,21 5 1

Ca 18,7

Mg 87,5 2 1

�- Concentracoes determinadas na Petroflex

� �- Valores Maximos Permissıveis por Lei - Fonte: Resolucao CONAMA ��� ��� [81]

� ���- Valores Maximos Permissıveis por Lei - Fonte:NT-202 (FEEMA) [93]

Os resultados das Tabelas 4.5 e 4.4 apontam que para a maioria dos metais anali-

sados, os teores encontrados no chorume estao aquem do padrao de descarte. Ha uma

preocupacao com o cromo e com estanho, posto que esses dois ultimos mostraram-se ele-

vados em uma das amostras analisadas. E tambem recomendavel que um maior numero

de amostras seja coletada para que possam ser tiradas conclusoes mais definitivas.

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4.2 Tratamento primario

No teste de coagulacao/floculacao ocorreu uma apreciavel remocao da maioria dos

parametros analisados, conforme indicado nas Tabelas 4.6 e 4.7 .

O principal objetivo do tratamento primario e a remocao do material organico recalci-

trante do chorume, que esta diretamente relacionado com as condicoes fısicas e quımicas

do chorume e com as condicoes operacionais. Este tratamento tambem pode remover

alguns metais presentes no chorume bruto.

Segundo KANG e HWANG [95] os processos fısico-quımicos tem sido ideais para

tratar chorumes velhos. Em seus estudos os autores conseguiram remocao de DQO do

chorume atraves da coagulacao em pH otimo na faixa entre 3 a 6.

A escolha do coagulante utilizado neste trabalho, foi ditada pelos resultados obtidos

por BILA [4], em cujo trabalho ficou tambem determinado o ponto otimo da coagulacao

(pH=4,5).

Naquele trabalho, o � � � ( � � ) foi utilizado em pHs baixos, resultando assim na

formacao de um meio com predominancia de cations multivalentes. A natureza das

partıculas presentes no chorume, propiciou a formacao de complexos com esses cations,

resultando na neutralizacao das cargas eletricas das partıculas e consequentemente na

diminuicao das forcas de repulsao, favorecendo a formacao de flocos. Boas remocoes

foram alcancadas tambem com a utilizacao do polieletrolito cationico.

Tabela 4.6: Resultados do processo de coagulacao/floculacao aplicado a primeira amostra

do chorume: remocao de materia organica, cor e cloreto

Coagulacao-Floculacao

Concentracao Remocao

Inicial Final (%)

��� � � 3455 2670 23

� � � � 815 690 15

� � � ��� 5250 1550 70

������� � � � * 4129 3599 13

�concentracoes em ( � ��� � )

� �concentracoes em ( � � � � � � � � )

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Tabela 4.7: Resultados do processo de coagulacao/floculacao aplicado a segunda amostra

do chorume: remocao de materia organica, cor e cloreto

Coagulacao-Floculacao

Concentracao Remocao

Inicial Final (%)

��� � � 3470 2530 27

� � � � 1001 757 24

� � � ��� 6925 2225 69

������� � � � * 5142 4906 5

�concentracoes em ( � ��� � )

� �concentracoes em ( � � � � � � � � )

Com base nos dados encontrados na literatura, a percentagem de remocao para DQO

e COT obtidos na coagulacao/floculacao esta geralmente compreendidas entre 10-25%

para chorume do tipo estabilizado, isto e, proveniente de aterros que apresentam idade

superior a 10 anos [44].

Levando em consideracao as caracteristicas do chorume, a coagulacao/floculacao

apresentou uma boa remocao da materia organica, expressa como DQO e COT. Os nıveis

de remocao da DQO variaram de 23 a 27% e os de COT de 15 a 24% para as amostras 1

e 2 , respectivamente.

Devido ao volume de amostra tratada no laboratorio, o teor de amonia nao foi deter-

minado nesta etapa de tratamento, pelo fato de poder apresentar um valor incorreto.

A remocao de cloretos foi muito pequena, como era de se esperar, ficando proxima da

faixa de erro do metodo.

A remocao de cor foi elevada no pre-tratamento, cerca de 70%. A Figura 4.1 ilustra a

remocao de cor obtida nesse processo. Os dados gerais de remocao de DQO, COT, cor e

cloretos estao representados na forma de grafico de barras na Figura 4.2

63

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Figura 4.1: Fotografia ilustrativa da remocao de cor do chorume promovida pelo processo

de coagulacao/floculacao

Figura 4.2: Remocao dos parametros analisados no processo de coagulacao/floculacao do

chorume

64

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Tal como ilustrado nas Figuras 4.1 e 4.2, verifica-se que o parametro fısico cor, foi o

que alcancou maiores remocoes, na faixa de 69 a 70%.

As concentracoes de metais presentes no chorume, apos o tratamento primario estao

mostradas na Tabela 4.8 , juntamente com os valores maximos de descarte permissıveis.

Observa-se que o tratamento com o coagulante � � � ( � � ) promoveu um elevado au-

mento do teor de Al no efluente tratado em comparacao com o chorume bruto.

A coagulacao/floculacao proporcionou alguma remocao para varios metais analisa-

dos (Cu, Fe, Mn, K, Na, Zn e Ca), em ambas as amostragens, como se depreende da

comparacao dos dados das Tabelas 4.8 e 4.4. Observou-se tambem que para Hg, Mg,

Ni e Cr nao foram observadas remocoes consistentes. Para Ba, Cd, Pb, Co os teores fo-

ram identicos aos encontrados no chorume bruto e estao abaixo do limite de deteccao do

metodo.

65

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Tabela 4.8: Resultados das analises de metais presentes nas amostras de chorume pre-

tratado e limites de lancamento de alguns poluentes.

Amostras de Chorume Pre-Tratado

(Coagulacao � Floculacao)

Parametros Amostra1�

Amostra1�

VMP� �

VMP� � �

(mg � L) (mg � L) (mg � L) (mg � L) (mg � L)

Al 28 40 1,5

Ba � � � � 5

Cd � ��� �� � ��� � � 0,2 0,1

Pb � ��� � � ��� � 0,5 0,5

Co � � � � � ��� �

Cu 0,04 0,06 1 0,5

Cr 0,15 0,2 0,5 0,5

Sn � � � � 4

Fe 2,8 4 15

Mn � � � � � 0,05 1

Hg�

1,6 2 0,01 0,01

Ni 0,15 0,1 2 1

K 1500 1700

Na 2700 2900

Zn 0,1 0,3 5 1

Ca 240 200

Mg 24,3 97,2

�- Concentracoes determinadas no laboratorio da FEEMA em ( � ��� � ), exceto

Hg( ����� � )� �- Valores Maximos Permissıveis por Lei - Fonte: Resolucao CONAMA � � ��� [81]� ���

- Valores Maximos Permissıveis por Lei - Fonte:NT-202 (FEEMA)

66

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4.3 Ozonizacao

A ozonizacao foi empregada com o objetivo de aumentar a biodegradabilidade do

chorume. Esta tecnica tem-se mostrado eficiente para degradar poluentes organicos, mui-

tas vezes presentes no chorume, como os hidrocarbonetos poli-aromaticos e clorofenois,

contribuindo para a reducao da toxicidade do efluente [42, 95, 94, 30].

Os resultados relativos a remocao de DQO do chorume pre-tratado no processo de

ozonizacao estao apresentados na Figura 4.3. Neste grafico pode-se observar que houve

uma reducao nos nıveis de DQO a medida que foi aumentanda a dosagen de ozonio.

Figura 4.3: Remocao de DQO obtida nos testes para diferentes dosagens de ozonio

Observa-se tambem que praticamente nao houve remocao da DQO para as dosagens

de ozonio iguais ou inferiores a 0,5 g/L.

Segundo BILA [4] as baixas remocoes e ate remocoes negativas (aumento da DQO)

observadas para baixas dosagens de � � podem ser atribuıdas a rapida mudanca na estrutu-

ra dos compostos organicos como consequencia de reacoes de formacao de intermediarios

de curta duracao, que sao mais prontamente oxidaveis pelos reagentes de DQO (aumen-

to da DQO detectavel). Quando maiores dosagens sao aplicadas esses compostos sao

oxidados, promovendo uma efetiva reducao de DQO.

KANG e HWANG [95] observaram em seus estudos uma eficiente remocao da DQO

na oxidacao de acordo com o pH da reacao. A oxidacao mais completa foi observada em

pH de aproximadamente 4,0.

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Antes da amostra de chorume pre-tratado pelo processo de coagulacao/floculacao ser

submetida ao processo de ozonizacao, a ela foi adicionado um anti-espumante, afim de

reduzir a formacao de espuma na coluna de contato. Observou-se que apos a adicao

deste produto houve um aumento no valor da DQO, medida em ambas as amostragens

realizadas, de 2700 para cerca de 3000 mg/L. A Figura 4.4 mostra os valores de DQO do

efluente tratado com diferentes dosagens de ozonio.

Figura 4.4: Comportamento da DQO do chorume pre-tratado e ozonizado em diferentes

condicoes

Quanto ao COT, pode-se observar na Figura 4.5, que praticamente nao houve reducao

desse parametro para todas as dosagens de ozonio investigadas, havendo em algumas

condicoes (dosagens intermediarias) ate aumento do seu valor.

68

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Figura 4.5: Variacao do COT do chorume pre-tratado e ozonizado em diferentes

condicoes

O aumento de COT na ozonizacao tambem foi observado por LIMA [96] e RIBEIRO

[29]. Esses autores explicam que o aumento do COT pode ser atribuıdo a presenca de

compostos recalcitrantes que so sao oxidados durante a ozonizacao, e que nao sao oxi-

dados na analise instrumental. Ao serem modificados na ozonizacao, esses compostos

tornam-se menos recalcitrantes e passam a ser quantificados, gerando valores de COT

maiores do que o inicial.

Embora neste trabalho nao tenham sido observadas remocoes de COT na ozonizacao,

na literatura ha relato de apreciavel remocao de COT de chorume, quando combinou-se

� � com UV [97].

O chorume ozonizado, pre-tratado por processo de coagulacao/floculacao, apresentou

um menor nıvel de cor. A remocao de cor aumentou com a dosagem de ozonio, tal como

indicado nas Figuras 4.6 e 4.7.

69

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Figura 4.6: Remocao de cor no processo de ozonizacao do efluente pre-tratado para dife-

rentes dosagens de ozonio.

CHORUMEBRUTO

CHORUMEPRE−

TRATADO

CHORUMEOZONIZADO0,1gO3/L

CHORUMEOZONIZADO0,5 gO3/L

CHORUMEOZONIZADO1,5g O3/L

CHORUMEOZONIZADO3,0g O3/L

Figura 4.7: Variacao da cor do efluente com o pre-tratamento e posterior ozonizacao com

diferentes dosagens de ozonio

ZHOU e SMITH [98] observaram que a ozonizacao foi eficiente no tratamento de eflu-

70

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entes de uma fabrica de polpa de papel, pre-tratado por processos biologicos, alcancando

80% de remocao para cor e 50% de remocao para AOX (haletos organicos adsorvıveis).

A ozonizacao tem se mostrado eficiente para diferentes aguas residuarias inclusive para

chorumes, que possuem matrizes organicas constituıdas por diversos tipos de compostos

altamente complexos.

4.4 Fracionamento com membranas

Os resultados obtidos no fracionamento apresentaram apreciaveis remocoes para os

parametros DQO, COT e cor. Esta remocao pode ser observada a medida que o efluente

foi permeando por membranas de poros mais fechados, como ilustrado nas Figuras 4.8 e

4.9.

Para que haja remocao da amonia no chorume, que foi insignificante por essa tecnica,

deve-se levar em conta alguns fatores que interferem na composicao do chorume, (pH,

temperatura entre outros). Em funcao do tamanho molecular da amonia nao era esperada a

sua remocao, a nao ser que ocorresse complexacao desse ıon ou interacao com compostos

de maior massa molecular.

50.000

5.000

20.000

Permeado − PM < 50.000Efluente

Permeado − PM < 20.000

Permeado − PM < 5.000

COT= 492 mg/Lcor= 630

DQO= 1250 mg/L

DQO= 1310 mg/L

4 + N−NH =1296ppm

N−NH4

cor= 1520

N−NH = 15154

+ ppmcor= 540COT= 485 mg/L

+ =1679ppm

DQO= 1850 mg/LCOT= 845 mg/L

Figura 4.8: Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com dife-

rentes cortes (primeira amostragem)

71

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50.000

5.000

20.000

Permeado − PM < 50.000

Permeado − PM < 20.000

Permeado − PM < 5.000

Efluente

DQO= 1480 mg/L

DQO= 1900 mg/LCOT= 898 mg/Lcor= 2160N−NH

4 =1451ppm

DQO= 1670 mg/LCOT= 629 mg/Lcor= 2040N−NH = 1394ppm4

cor= 790COT= 576 mg/L

4

+

+ ppmN−NH = 1591

+

Figura 4.9: Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com dife-

rentes cortes (segunda amostragem)

A tecnica empregada nao se caracteriza como um metodo de determinacao de mas-

sa molecular. Pode-se com essa tecnica ter uma estimativa nao muito precisa da faixa

de massa molecular dos poluentes presentes no efluente. Fenomenos como a adsorcao de

moleculas na membrana e na camada de ultrafiltracao formada ao longo da operacao (fou-

ling) e possıveis interacoes moleculares durante o processo de concentracao fazem com

que a separacao por massa molecular nao seja absoluta com relacao ao tamanho de corte

da membrana. De todo modo, a tecnica e util para previsoes e estimativas relacionadas ao

tamanho molecular dos compostos presentes no efluente.

Admitindo-se uma alimentacao (chorume pre-tratado) com DQO da ordem de 2600

mg/L, COT de 750 mg/L e cor de 1550 (amostra 1) e 2225 mg PtCo/L (amostra 2),

observam-se as remocoes mostradas na Tabela 4.9

72

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Tabela 4.9: Remocao percentual de parametros fısico-quımicos de interesse observados

no processo de fracionamento por membranas

Parametro Permeado (50.000 Da) Permeado (20.000 Da) Permeado (5.000 Da)

Amostra1 Amostra2 Amostra1 Amostra2 Amostra1 Amostra2

DQO

(mg/L)

29 27 50 36 52 43

COT

(mg/L)

����

���� 34 16 35 23

Cor (mg

PtCo/L)

2 3 59 8 65 64

���� - Nao foi calculado (nao houve remocao)

Dos resultados infere-se que cerca de 50% da DQO do efluente provem da

contribuicao de compostos com massa molecular superior a 5.000Da. Para o COT es-

sa contribuicao e menor, da ordem de 30%. No entanto, para a cor, a contribuicao dos

compostos de alta massa molecular, acima de 5.000 Da, e significativa, da ordem de

65%. A massa molecular de 5.000 Da, a menor investigada no fracionamento, correspon-

de a moleculas organicas grandes, para exemplificar, essa massa corresponde a cerca de

28 moleculas de glicose agrupadas. Talvez, se utilizada uma membrana de corte menor

(2.000 Da), a ultrafiltracao poderia ser uma boa tecnica para o tratamento do chorume,

desde que fluxos adequados de permeado fossem obtidos.

De acordo com alguns trabalhos da literatura e importante considerar o tipo de materi-

al da membrana, para obter melhor desempenho no processo. BOHDZIEWICZ et al. [99]

empregaram tres tipos de membranas: cloreto de polivinila, polisulfona e acetato de celu-

lose no processo de ultrafiltracao, utilizando chorume com caracterısticas recalcitrantes.

Apos o tratamento biologico o melhor resultado quanto a fluxo de permeacao do chorume

foi obtido com uma membrana de polisulfona.

A experiencia com o tratamento biologico nao foi boa para BOHDZIEWICZ et al.[99]

pois apresentou uma pequena remocao de 6,7% de DQO, apresentando valores elevados

para todos os outros parametros analisados. Empregando o processo de ultrafiltracao

na sequencia do tratamento, observou-se melhora nos resultados, mas o pH e o teor de

materia organica dissolvida continuaram elevados. Somente com a posterior aplicacao de

um tratamento de oxidacao quımica foi obtida a remocao da DQO.

Os dados apresentados na literatura sugerem que os processos com membranas, po-

dem ser muito eficientes para o tratamento de chorumes com caracterısticas recalcitrantes.

73

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Conforme ja comentado, neste trabalho foram obtidas apreciaveis remocoes de cor e

DQO para a permeacao em membrana de 5.000Da.

4.5 Arraste da amonia das amostras fracionadas emmembranas

O metodo fısico-quımico mais comum para remocao de amonia do chorume e o arraste

por ar.

O objetivo principal do emprego deste processo de tratamento foi remover a amonia

presente no chorume apos o tratamento primario, visto que o teor de nitrogenio amoniacal

ainda apresentava-se muito elevado, podendo contribuir para a alta toxicidade do efluente.

O arraste com ar aplicado as amostras do chorume fracionado por membranas contribuiu

para uma significativa remocao da amonia, enquanto os demais parametros permaneceram

praticamente inalterados, conforme se constata da comparacao dos resultados expressos

nas Figuras 4.8 e 4.9 com dados da Tabela 4.10. Cabe ressaltar que durante o arraste

ocorre evaporacao da agua e concentracao da amostra. Os valores constantes da Tabela

4.10 foram corrigidos em funcao da variacao de volume da amostra durante o teste.

Tabela 4.10: Valores dos parametros fısico-quımicos analisados nos permeados apos o

arraste da amonia

Parametro Amostra 1 Amostra 2

50.000 Da 20.000 Da 5.000 Da 50.000 Da 20.000 Da 5.000 Da

DQO (mg/L) 1840 1080 1420 1750 1590 1430

COT (mg/L) 607 442 562 860 416 570� � ��� �� (mg/L) 5,0 2,9 1,2 1,5 0,8 2,0

Cor (mg PtCo/L) 1430 608 NC � 1292 580 730

NC � - Nao foi calculado

Conforme anteriormente comentado, praticamente nao houve remocao de DQO e

COT no processo de arraste (Tabela 4.10 e Figuras 4.8 e 4.9). Alguma remocao de cor foi

observada para o chorume permeado proveniente da segunda amostragem, em particular,

para os permeados das membranas de maior corte (50.000 e 20.000 Da).

MARTTINEN et al. [42] alcancaram 93% de remocao de amonia para um chorume

que apresentava alta concentracao inicial. Esta remocao significativa ocorreu em pH 11.

74

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A remocao de DQO foi muito baixa, entre 4-21% indicando assim pouca volatilizacao de

compostos organicos.

Experimentos de arraste com ar feitos por LIAO et al. [100] apresentaram remocao de

90,3% de amonia, em 7h de operacao com pH 11,5 a� � �

C com efluente de suinocultura.

A fim de eliminar a possibilidade da amonia estar contribuindo para a toxicidade

do chorume, ela foi reduzida a valores abaixo de 5mg/L, limite este determinado pela

Resolucao CONAMA� �

20 [81] para que um efluente industrial possa ser lancado no

corpo receptor. O comportamento, ou ainda, a cinetica de remocao da amonia observada

experimentalmente encontra-se ilustrada na Figura 4.10.

a) Pre-Tratado b) Permeado-Membrana de 50.000Da

c) Permeado-Membrana de 20.000Da d) Permeado-Membrana de 5.000Da

Figura 4.10: Variacao do teor de amonia no decorrer do ensaio de arraste com ar para ochorume pre-tratado e posteriormente fracionado em membranas com diferentes cortes

Dos graficos da Figura 4.10 observa-se uma tendencia de se atingir o limite de des-

carte de amonia mais rapidamente para os permeados das membranas, o que ocorre em

praticamente 48 horas.

75

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4.6 Toxicidade

A concentracao de componentes inorganicos do chorume e muito alta, sendo talvez a

principal responsavel pela toxicidade. Levando em consideracao as condicoes do corpo

receptor, esta toxicidade ira afetar organismos que sao produtores primarios, componentes

do fitoplancton, que constituem o elemento basico da cadeia alimentar, transformando a

materia inorganica em organica, para alimentar outros organismos.

Um grande ecologista (Elton, 1927) instituiu o ”princıpio do tamanho trofico”que de-

fine o conceito da piramide dos numeros, onde os organismos se dispoem em quantidade

e classes, estando os animais maiores proximos do fim da cadeia. A cadeia alimentar ou

cadeia trofica e formada por uma serie de organismos desde os produtores ate os consu-

midores finais [101, 102]. Portanto, pode ocorrer a concentracao de toxicos ao longo da

cadeia, fenomeno denominado bioacumulacao.

Os representantes da cadeia trofica empregados neste estudo estao representados na

Figura 4.11.

PLANCTON

FITOPLANCTON

NÉCTON

(Consumidores terciários)

(Consumidores secundários)

(Produtores primários)

Figura 4.11: Piramide representativa dos organismos em determinados nıveis troficos,

destacando-se aqueles utilizados neste trabalho

Na literatura ha poucos trabalhos que correlacionam a tratabilidade dos efluentes com

a sua toxicidade, a grande maioria dos trabalhos aborda principalmente a toxicidade do

efluente final e seu possıvel impacto no corpo receptor.

E importante ressaltar que este estudo nao produziu resultados suficientes para avaliar

a cadeia trofica do corpo receptor que recebe o chorume, porque para obter essas impor-

76

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tantes informacoes seria necessario avaliar tanto a toxicidade aguda como a toxicidade

cronica por um certo perıodo de tempo no corpo receptor. No entanto, este estudo pode

contribuir para a escolha dos organismos que poderiam dar uma resposta adequada num

trabalho futuro mais completo, que podera informar as reais condicoes da poluicao gerada

por este efluente.

Estudos tem demonstrado que nem sempre os resultados obtidos das analises fısico

quımicas podem ser comparados com os dados apresentados nos testes de toxicidade. Os

resultados obtidos neste trabalho procuram levar em conta tanto dados fısico-quımicos

como os resultados dos bioensaios de toxicidade.

4.6.1 Efluente Bruto

A toxicidade do chorume bruto retrata as condicoes em que se encontrava o percola-

do gerado no aterro de Gramacho durante os perıodos de amostragem. Na Tabela 4.11

encontram-se os resultados obtidos nos testes de toxicidade realizados em laboratorio.

Tabela 4.11: Resultados dos testes de toxicidade aplicados as amostras de chorume bruto

Amostra Microtox Daphnia Artemia B.rerio

CE50(%) CE50(%) CL50(%) CL50(%)

� � Coleta 15,02 2,26 11,89 2,24�

� Coleta 11,27 2,04 25,58 2,24

A fase metanogenica propicia condicoes, para reducao do oxigenio a nıveis muito

baixos, favorecendo o aparecimento dos microorganismos anaerobios responsaveis pela

producao de � � � e��� �

, sendo que o��� �

tem um poder muito toxico para quase todos

os animais superiores [103].

Dentre os inumeros compostos presentes no chorume que podem causar toxicidade, a

amonia merece destaque, porque apresenta-se em altas concentracoes.

Em alguns estudos foi verificado o aumento da toxicidade causada pela amonia, que

na forma livre e mais toxica, enquanto que na forma ionica��� �� e levemente toxica para

maioria dos organismos [88, 76, 104].

A amonia e a alcalinidade sao fatores importantes que contribuem para a toxicidade

do chorume como evidenciam alguns resultados encontrados na literatura ( CLEMENT

et al., 1996 apud PIRBAZARI et al. [105]).

77

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Os dados da Tabela 4.11 evidenciam a elevada toxicidade do chorume para todos os

organismos testados, apos 48 h de exposicao. No que se refere ao organismo Brachydanio

rerio a toxicidade foi muito elevada, o teste e expresso em 48 h, porem, podendo ser

estendido ate 96h, e vale ressaltar que os organismos morreram nas primeiras horas de

exposicao. Embora seja um organismo dulcıcula, este peixe pode ser considerado tambem

como um organismo estuarino. Os testes com este organismo foram padronizados pela

FEEMA, com salinidade determinada em 5g/L.

Uma outra resposta muito toxica apresentada por este percolado foi observada pa-

ra o organismo Daphnia similis, o que ja era esperado, pois trata-se de um organismo

dulcıcula, muito sensıvel, que nao suporta alta salinidade.

Vale ressaltar que esse teste foi realizado para se ter uma ideia das consequencias que

o chorume pode trazer para os rios, levando-se em conta que no Brasil os rios sao os

cursos que mais recebem este tipo de efluente. Cabe tambem alertar para o impacto que

o percolado gerado em Gramacho possa ter causado, antes da construcao de uma barreira

de contencao de argila, para os dois rios mais proximos ao aterro que sao o Iguacu e o

Sarapuı.

Para confirmar se o efeito toxico causado com o organismo Daphnia similis foi provo-

cado pela salinidade, foram realizados novos testes com correcao da salinidade. Surpre-

endentemente os resultados foram identicos aos obtidos sem a correcao, como ilustrado

na Tabela 4.12. Portanto, comprovou-se que a toxicidade do chorume bruto para Daphnia

nao foi causada somente pela salinidade. A norma da FEEMA estabelece que a sensibili-

dade deste organismo permanece ate 5g/L (salinidade). Nos testes efetivados trabalhou-se

com concentracao maxima de 3g/L, para nao atingir o limite maximo de tolerancia do or-

ganismo teste.

Tabela 4.12: Resultados de toxicidade por Daphnia similis empregando-se correcao de

salinidade para o chorume bruto

CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

2,05 1 2 100 MT* Pessimo

* - Muito Toxica

Estudos ja realizados revelaram que o organismo Daphnia foi mais sensıvel aos com-

postos inorganicos presentes no chorume, do que bacterias e peixe, exceto para mercurio,

arsenio e cobalto que foram muito toxicos para todos os organismos testados [76, 80].

78

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Alguns autores relatam que a presenca de nıveis elevados de cloretos, potassio, calcio,

magnesio, sodio e metais pesados tornam os efluentes potencialmente toxicos [88, 71].

SVENSON et al. [106] observaram que os metais Zn,Pb e Cu, e elementos como

o enxofre foram indicados como causadores do efeito toxico nos testes realizados com

Microtox.

O organismo Artemia salina que tambem e um microcrustaceo, so que de origem

marinha, nao apresenta valor limite para salinidade, exigindo um mınimo de 6g/L . Este

organismo teve uma melhor resposta a toxicidade do chorume, apresentando na segunda

coleta um resultado cerca de duas vezes melhor do que na primeira Tabela 4.11.

Para o sistema Microtox foram obtidos resultados similares em ambas as coletas. Este

teste foi realizado com bacterias bioluminescentes de origem marinha, portanto resistente

a salinidades entre 10 e 40 g/L. Porem, e sabido que essas bacterias sao muito sensıveis

as variacoes (muito pequenas) na salinidade no efluente.

A matriz organica, constituıda por inumeros compostos distintos, pode contribuir pa-

ra a toxicidade. PIRBAZARI et al. [105] observaram um marcante efeito da materia

organica na toxicidade do chorume.

Esta consideracao pode ser perfeitamente valida para este efluente, pois ele esta cons-

tituıdo de materia organica altamente recalcitrante.

A Figura 4.12 ilustra os resultados mostrados na Tabela 4.11 . Os organismos de agua

doce, evidentemente, foram os mais afetados, mas pode-se afirmar que o efeito toxico do

efluente foi forte para todos os organismos testados para os dois perıodos amostrados.

79

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Figura 4.12: Resultados de toxicidade do chorume bruto para os diferentes organismos

testados.

4.6.2 Efluente Pre-tratado

Os testes de coagulacao/floculacao promoveram uma diminuicao da toxicidade para

os organismos Daphnia, Artemia e Brachydanio rerio. Entretanto, um resultado inverso

foi observado para o Microtox, como mostrado na Tabela 4.13. A Figura 4.13 ilustra os

resultados obtidos para os diferentes organismos testados.

80

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Tabela 4.13: Resultados dos testes de toxicidade aplicados as amostras de chorume pre-

tratado

Amostra Microtox Daphnia Artemia B.rerio

CE50(%) CE50(%) CL50(%) CL50(%)

� � Coleta 0,3 6,42 17,44 7,07�

� Coleta�

2,78 32,21 7,07

�- Toxicidade muito elevada (nao passıvel de calculo)

Figura 4.13: Comportamento da toxicidade do chorume pre-tratado para os diferentes

organismos

O organismo Daphnia similis foi ainda muito afetado pelo chorume, mesmo pre-

tratado. A correcao de salinidade tambem foi feita neste caso, observando-se uma reducao

da toxicidade. Para o chorume pre-tratado observou-se CE50 de 6,42%, no entanto, quan-

do corrigida a salinidade a melhora foi tao significativa que impediu a expressao dos re-

sultados atraves desse parametro. Empregou-se, entao, o efeito toxico observado, que no

caso foi de 40%, indicativo de um alto grau de toxicidade, conforme indicado na Tabela

4.14.

81

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Tabela 4.14: Resultado de toxicidade para Daphnia similis com correcao da salinidade do

chorume pre-tratado

CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

3 4 40 AIT* Regular

* - Alto Indıcio de Toxicidade

Cabe ressaltar que, em geral, o efluente pre-tratado apresentou-se menos toxico do que

o bruto e que a melhora alcancada neste tratamento, ressaltada pelos parametros fısicos-

quımicos, tambem se refletiu nos resultados de toxicidade. O confronto dos resultados de

toxicidade para o chorume bruto e o pre-tratado encontra-se ilustrado nas Figuras 4.14 e

4.15.

Figura 4.14: Variacao da toxicidade para primeira amostragem

82

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Figura 4.15: Variacao da toxicidade para segunda amostragem

BERTOLETTI [107] relatou que pode-se esperar uma variacao na toxicidade de eflu-

entes industriais com a mudanca do pH, particularmente se uma substancia toxica esta

sujeita a ionizacao. Os resultados para amostras com diferentes pHs originais, foram

ajustadas para o pH neutro antes de serem submetidas ao teste de toxicidade e verificou-

se que, em 38% dos casos a toxicidade manteve-se inalterada apos o ajuste do pH; em

52% dos casos houve uma reducao, no entanto, duas amostras mostraram-se mais toxicas

do que as amostras originais, para o organismo teste Daphnia similis. Vale ressaltar que

o pH padronizado para os testes de toxicidade deve obdecer os limites impostos pela

legislacao, e se o ajuste conferir maior toxicidade outras maneiras para solucionar o pro-

blema deverao ser estudadas.

Substancias que tem a sua toxicidade alterada pelo pH podem se apresentar em eleva-

dos teores a medida que o pH diminui. Isto e verificado para certos metais como Al, Hg

e Mg, que se apresentaram com teores muito elevados apos o tratamento primario, que

promoveu alteracao no pH do efluente.

E possıvel, segundo MUNKITTRICK et al. [76], SWEET e MEIER [108] que a

bacteria usada nos teste Microtox, estando na forma liofilizada, mostre um aumento de

sensibilidade, podendo apresentar facilidade para que certos compostos toxicos penetrem

em sua parede celular.

O teste utilizando o sistema Microtox apresentou resultado altamente toxico para o

efluente, isto pode ter ocorrido devido ao aumento dos teores de alguns metais (Al, prin-

83

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cipalmente) observado no efluente apos o processo de coagulacao/floculacao.

4.6.3 Efluente Ozonizado

Metodos de tratamento, nos quais o chorume e modificado quimicamente por ajuste

de pH ou uso de reagente oxidante, podem causar mudancas inesperadas na toxicidade.

Relacionar a toxicidade do chorume com a medida da DQO e mais difıcil do que com

o teor de amonia, que como ja se sabe e toxica para a maioria dos organismos. O valor

da DQO reflete a presenca de diferentes substancias, que podem ser responsaveis pela

diferenca na sensibilidade apresentada pelas diferentes especies de organismos testados.

A excessiva adicao de produtos quımicos, por metodos padronizados como a oxidacao

e a coagulacao, promove a clarificacao do efluente, mas contribui para o aumento da

toxicidade [75].

Apesar da diferenca de sensibilidade dos organismos, os resultados obtidos apos a

ozonizacao apresentaram uma melhora consideravel na toxicidade, de acordo com os va-

lores apresentados na Tabela 4.15.

Tabela 4.15: Resultados de toxicidade obtidos com o chorume pre-tratado e ozonizado

em diferentes condicoes

Dosagens de Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia CL50% B. rerio CL50%

Ozonio Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2

0,1 � � ��� 1,18 3,35 7,88 2,45 19,6 29,8 9,25 13,24

0,5 � � ��� 1,33 2,15 6,13 2,58 26,0 37,35 11,07 10,79

1,5 � � ��� 0,41 1,95 6,30 3,60 29,46 32,77 11,07 14,48

3,0 � � ��� 0,37 1,56 6,30 4,46 43,04 33,36 15,87 14,48

Para as diferentes dosagens de ozonio aplicadas neste trabalho, as bacterias foram

os organismos mais sensıveis quanto a toxicidade. Houve um decrescimo da CE50 nos

testes com Microtox, apresentando-se o efluente mais toxico quando maiores dosagens de

ozonio foram empregadas (1,5 e 3,0 g � � /L), como indicado na Tabela 4.15.

Para Daphnia, Artemia e Brachydanio rerio observou-se um resultado inverso. O

acompanhamento da toxicidade revelou uma tendencia de diminuicao com o aumento na

dosagem de ozonio, com certa estabilidade para as maiores dosagens aplicadas.

84

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Os resultados obtidos com as amostras ozonizadas para Daphnia similis mostrados

na Tabela 4.16, comprovaram uma melhora obtida com este tratamento quando houve

ajuste da salinidade. Neste caso as dosagens de ozonio referentes a 1,5 e 3,0 g � � /L so

apresentaram indıcios de toxicidade. Os resultados relativos ao parametro efeito toxico

encontram-se ilustrados na Figura 4.16.

Tabela 4.16: Avaliacao global da toxicidade do chorume pre-tratado e ozonizado (dife-

rentes dosagens) para Daphinia similis. Amostras com salinidade corrigida (�

� Amostra-

gem).

Amostra CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

0,1 � � ��� 4,6 3 4 68 T* Pessimo

0,5 � � ��� 3,7 1 2 68 T* Pessimo

1,5 � � ��� 4 5 12 BIT** Bom

3,0 � � ��� 3 4 36 AIT* Regular

* - Toxica

* - Baixo Indıcio de Toxicidade

** - Alto Indıcio de Toxicidade

85

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Figura 4.16: Resposta do parametro efeito toxico para amostras ozonizadas em diferentes

condicoes (�

� amostragem)

Nos testes com peixe, a mortalidade foi observada antes mesmo de 24 horas, as demais

leituras mantiveram o resultado, ou seja, o efeito resulta nas primeiras horas.

A ozonizacao do chorume contribuiu para uma certa reducao de sua toxicidade em

relacao ao chorume simplesmente pre-tratado. Para os organismos B.rerio e Artemia a

ozonizacao, mesmo com baixa dosagem (0,1 � � � � � ), promoveu reducao da toxicidade.

Os valores da CE50% se alteraram de 7,07 para 9,25, de 17,44 para 19,60 (amostra 1),

para B.rerio e Artemia, respectivamente.

Para Daphnia o parametro efeito toxicoobservado foi de 40% para o chorume pre-

tratado e 68% para o ozonizado com 0,1 � � � � � , indicando um aumento da toxicidade

com a ozonizacao. No entanto, para as maiores dosagens o efeito observado caiu para 12

e 36% Figura 4.16.

Como comentado, e difıcil saber que compostos organicos contribuem para a toxici-

dade do chorume. Estudos feitos por BOHME et al. [89] e MARTTINEM et al. [42]

empregando cromatografia, revelaram que a ozonizacao foi efetiva para degradar hidro-

carbonetos poli-aromaticos e clorofenois presentes no chorume.

4.6.4 Efluente Fracionado

Os permeados obtidos por fracionamento em membranas apresentaram menor efeito

toxico observado nos testes com Microtox e com o microcrustaceo Artemia salina.

86

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Para a bacteria do teste Microtox, os dados da Tabela 4.17 indicam que os compostos

de menor massa molecular contribuem mais para a toxicidade do que os de maior massa.

Para Artemia, os resultados de CL50% sao proximos em todas as fracoes permeadas,

no entanto, o simples fracionamento na membrana de corte 50.000 Da ja proporcionou

uma reducao da toxicidade em relacao ao chorume pre-tratado (CL50 passou de 17,44

(Amostra1) e 32,21 (Amostra2) para 39.06 (Amostras 1 e 2)). Portanto, pode-se supor

que ha compostos de alto peso molecular ( � � ��� ����� � � ) conferindo alguma toxicidade ao

chorume.

Para Daphnia os resultados foram inesperadamente piores, ou seja, os valores de CE50

das diversas fracoes diminuıram muito em relacao aos valores obtidos para o efluente

pre-tratado. Esses resultados, de difıcil interpretacao, mostram como efeitos antagonicos

podem ser observados, dependendo do organismo empregado no teste de toxicidade.

Tabela 4.17: Toxicidade avaliada nos permeados obtidos nos processos de permeacao

com membranas

Permeado Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia CL50%

Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2

50.000 Da 15,51 13,24 7,04 0,51 39,06 39,06

20.000 Da 6,82 8,85 0,32 0,32 41,91 39,85

5.000 Da 5,35 5,71 0,32 0,32 35,93 28,42

A complexidade do chorume, dificulta uma analise conclusiva dos resultados, tendo

em vista que efeitos sinergicos poderam estar presentes.

LAGE [38] evidenciou que membranas com corte de 50.000 e 20.000 Da, removem

praticamente todos os compostos que possuem alto peso molecular, mas os cloretos, que

afetam particularmente Daphnias, permeiam livremente pela membrana.

Segundo CARLSON-EKVALL e MORRISON [71] a presenca de ıons cloreto con-

tribui para o aumento da toxicidade, determinada no teste com Microtox, pois ocorre

diminuicao de emissao de luz quando este ıon esta presente em grande quantidade na

amostra, devido a formacao de complexos com ıons de metais dissolvidos.

De acordo com a literatura o cloreto pode ser um dos causadores da toxicidade no

permeado obtido neste processo de tratamento.

MUNKITTRICK et al. [76] verificaram que os testes realizados com Microtox apre-

sentaram maior sensibilidade para certas formulacoes comerciais, como os herbicidas e

87

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pesticidas do que para substancias quımicas isoladas. Analises com Microtox apresenta-

ram maior toxicidade para o chorume do que para compostos quımicos puros.

O mesmo comportamento se repetiu para o organismo Daphnia similis quando sub-

metida, ao ajuste de salinidade, conforme mostrado na Tabela 4.18. Os resultados de

CE50 nela apresentados, quando confrontados com os da Tabela 4.17 (�

� amostragem),

evidenciam que a toxicidade e alta e persiste mesmo apos o ajuste da salinidade.

Tabela 4.18: Toxicidade para Daphnia similis das diferentes fracoes permeadas apos o

ajuste da salinidade (�

� amostragem)

Amostra CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

50.000 Da 0,29 0,01 0,1 100 T* Pessimo

20.000 Da 0,32 0,1 1 100 T* Pessimo

5.000 Da 0,34 0,1 1 100 T* Pessimo

* - Toxica

4.6.5 Permeados submetidos ao arraste com ar para remocao de

amonia

Na Tabela 4.19 encontram-se os resultados obtidos nos ensaios de toxicidade reali-

zados com os efluentes que passaram pelo processo de arraste da amonia, para os orga-

nismos: bacteria Vibrio fisheri (Sistema Microtox) e microcrustaceos Daphnia similis e

Artemia salina. Cabem as seguintes observacoes:

i) houve significativa reducao da toxicidade para Artemia, com drastica reducao do efeito

toxico para os permeados;

ii) para Daphnia similis praticamente nao houve reducao de toxicidade em relacao as

amostras nao submetidas ao arraste;

iii) para o Microtox tambem quase nao houve alteracao nos nıveis de toxicidade.

Nao foram feitos testes com B.rerio por insuficiencia de volume de amostra.

88

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Tabela 4.19: Resultados de toxicidade para amostras permeadas e submetidas ao arraste

com ar (primeira e segunda amostragens)

Permeado Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia Efeito%

Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2

50.000 Da 18,2 5,57 7,75 3,05 11 0

20.000 Da 6,7,67 6,57 0,32 1,36 24 0

5.000 Da 6,57 3,95 0,29 0,33 53 15

Apesar dos efluentes fracionados apresentarem valores de amonia que se enquadram

na legislacao CONAMA� �

20 [81] (5,0 mg/L), estes nao foram suficientes para eliminar

a toxicidade das amostras, com excecao da acao toxica para o organismo Artemia salina.

Os efeitos da salinidade sobre o organismo Daphnia similis, nao foram significativos

neste tratamento, como mostram os resultados na Tabela 4.20.

Tabela 4.20: Toxicidade dos permeados para Daphnia similis apos o ajuste de salinidade

Amostra CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

50.000 Da 3,8 2 3 88 T* Pessimo

20.000 Da 0,65 0,1 1 100 T* Pessimo

5.000 Da 0,32 0,1 1 100 T* Pessimo

* - Toxica

De todos os ensaios evidencia-se que nao se pode atribuir a amonia, isoladamente, a

causa da toxicidade do efluente. A toxicidade do chorume tem sido pouco correlacionada

com a concentracao de amonia e a DQO, no entanto, a remocao conjunta destes dois

parametros parece reduzir a toxicidade do chorume.

Esta hipotese orientou o trabalho desenvolvido por MARTTINEN et al. [42], que em

seu experimento para remocao da amonia por arraste com ar, verificou que o chorume

apresentou uma toxicidade mais elevada para Daphnia, mesmo quando cerca de 89% de

amonia havia sido removida. A justificativa para o efeito toxico observado nesse experi-

mento foi atribuıda ao ajuste de pH, que foi aumentado para 11. Esta variacao pode ter

89

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causado alguma mudanca reversıvel no conteudo organico do chorume e com isso rendido

alguns constituintes no chorume mais toxicos para Daphnia.

No presente trabalho os resultados foram diferentes dos obtidos por alguns autores,

mas a justificativa citada acima pode ser perfeitamente plausıvel, visto que a alteracao de

pH pode provocar mudancas na matriz organica e inorganica do efluente.

Os resultados para o microcrustaceo Artemia salina apos o fracionamento (efeito

toxico) sao absolutamente menores do que para as amostras fracionadas sem remocao

da amonia, mostrando que o arraste fez com que houvesse uma diminuicao consideravel

nos valores de toxicidade. Houve reducao relevante nos valores de CL50, principalmente

na amostra fracionada em uma membrana de 50.000Da, como mostra a Tabela 4.21, cujos

resultados estao expressos em relacao ao efeito toxico observado (em porcentagem), ou

seja, a razao entre o total de organismos afetados pelo total de organismos testados. Baixo

indıcio de toxicidade foi obtido para o permeado da membrana com corte equivalente a

20.000Da. O permeado da membrana com corte de 5.000Da mostrou-se toxico para Arte-

mia salina, mas ainda assim, o arraste da amonia promoveu uma reducao do efeito toxico

para esse efluente.

Tabela 4.21: Resultados de toxicidade para Artemia salina expressos em termos de diver-

sos parametros

Artemia salina�

� Amostragem

Amostra CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

50.000 Da 0 NT* Excelente

20.000 Da 30 50 23 BIT** Bom

5.000 Da 66,71 10 30 53 T*** Ruim

Artemia salina � � Amostragem

Amostra CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

50.000 Da 0 NT* Excelente

20.000 Da 0 NT* Excelente

5.000 Da 50 70 15 BIT** Bom

* - Nao Toxica

* - Baixo Indıcio de Toxicidade

** - Toxica

90

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4.6.6 Efluente pre-tratado submetido ao arraste com ar para

remocao de amonia

Os melhores resultados com relacao a toxicidade, com o emprego da tecnica de ar-

raste, foram obtidos para o efluente pre-tratado por coagulacao/floculacao, para o qual a

toxicidade foi totalmente eliminada para certos organismos, conforme indicam os resul-

tados apresentados na Tabela 4.22.

Tabela 4.22: Resultados da toxicidade para o efluente pre-tratado e submetido ao arraste

com ar.

Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia Efeito%

Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2

29,67 36,21 13,97 11,35 0 4

Esses resultados, obtidos para o efluente pre-tratado, podem ser considerados surpre-

endentes, pois a remocao de toxicidade foi significativa. A CE50 para Daphnia prati-

camente dobrou e houve tambem um aumento muito expressivo deste parametro para

o ensaio Microtox. Para Artemia salina os resultados foram muito bons, so tendo sido

possıvel calcular o efeito observado. Os resultados para este organismo encontram-se

detalhados na Tabela 4.23.

Tabela 4.23: Resultados da toxicidade para Artemia salina determinados para o chorumepre-tratado e submetido ao arraste com ar.

Artemia salina�

� AmostragemCE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

0 NT* ExcelenteArtemia salina � � Amostragem

CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

50 70 4 NT* Excelente

*- Nao Toxico

Os resultados obtidos para Daphnia similis, quando efetivada a correcao de salinidade,

foram excelentes, conforme indicado na Tabela 4.24.

91

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Tabela 4.24: Resultados de toxicidade para Daphnia similis com amostras do efluente

pre-tratado e submetido ao arraste com ar. Amostras com salinidade corrigida.

CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICACAO

TOXICIDADE DA AMOSTRA

5 0 NT* Excelente

*- Nao Toxico

Neste caso (chorume pre-tratado), a contribuicao da amonia para a toxicidade pare-

ce evidente. O mesmo efeito, porem nao foi observado para os permeados do efluente

pre-tratado submetidos ao arraste. E difıcil encontrar explicacoes para esses resultados

somente com base nos dados experimentais coletados. No entanto, pode-se refletir sobre

algumas causas para essa diferenca de resultados.

O fracionamento removeu substancias de alta massa molecular, que poderiam interagir

com ıons presentes no chorume (inclusive o ıon amonio), alterando o equilıbrio ionico da

fase lıquida, com consequente efeito na toxicidade.

Outra possıvel influencia, refere-se ao efeito de consecutivas alteracoes do pH das

amostras, o que pode provocar alteracoes na matriz dos componentes do efluente. Assim,

o chorume pre-tratado e submetido ao arraste teve o seu pH ajustado tres vezes ate o ajuste

para o teste de toxicidade. Para os permeados do pre-tratado submetidos ao arraste, esse

ajuste teve quatro etapas. A variacao do pH previa ao teste de toxicidade pode alterar o

efeito da amonia e, consequentemente, o efeito toxico do chorume para os organismos

teste, como citado na literatura [88, 104].

4.7 Comentarios finais sobre os tratamentos realizados

Com a finalidade de sumarizar os resultados obtidos no conjunto amplo de testes efe-

tuados, encontram-se nas Tabelas 4.25 e 4.26 os principais parametros monitorados e os

respectivos valores, para as amostragens 1 e 2, respectivamente.

92

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Tabela 4.25: Sumario dos principais parametros monitorados nos diversos tratamentos( � �

amostragem)

Parametros Monitorados (Amostra1)

Efluentes DQO COT � ���� Cor Microtox Daphnia Artemia B.rerio

( ����� � ) ( ����� � ) ( ����� � ) ( ������� � � � ) CE50(%) CE50(%) CL50(%)

(Efeito)

CL50(%)

Ch.Bruto 3455 815 802 5250 15,02 2,26 11,89 2,24

Ch.Pre-Tratado 2670 690 * 1550 0,3 6,42 17,44 7,07

Ch.Ozonizado 3025 647 * 930 1,18 7,88 19,55 9,25

(0,1 ��� � )

Ch.Ozonizado 2955 686 * 500 1,33 6,13 26,02 11,07

(0,5 ��� � )

Ch.Ozonizado 2630 856 * 300 0,41 6,3 29,46 11,07

(1,5 ��� � )

Ch.Ozonizado 1970 762 * 250 0,37 6,3 43,04 15,87

(3,0 ��� � )

Permeado 1850 845 1679 1520 15,51 7,04 39,06 *

50.000Da

Permeado 1310 492 1296 630 6,82 0,32 41,91 *

20.000Da

Permeado 1250 485 1515 540 5,35 0,32 35,93 *

5.000Da

Arraste c/ ar 1840 807 4,94 1430 18,15 7,75 (0 � 100) *

50.000Da

Arraste c/ ar 1080 442 2,91 608 7,67 0,32 (23 � 100) *

20.000Da

Arraste c/ ar 1420 560 1,19 * 6,57 0,29 66,71 *

5.000Da

Arraste c/ ar 2480 841 1,0 2275 29,97 13,97 (0 � 100) *

e Pre-Tratado

* - Nao Calculado

93

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Tabela 4.26: Sumario dos principais parametros monitorados nos diversos tratamentos(�

amostragem)

Parametros Monitorados (Amostra2)

Efluentes DQO COT � ���� Cor Microtox Daphnia Artemia B.rerio

( ����� � ) ( ����� � )

( ����� � )

( ��� ��� � � � ) CE50(%) CE50(%) CL50(%)

(Efeito)

CL50(%)

Ch.Bruto 3470 1001 754 6925 11,27 2,04 25,58 2,24

Ch.Pre-Tratado 2530 757 * 2225 0 2,78 32,21 7,07

Ch.Ozonizado

(0,1 ��� � )

2900 898 * 1480 3,35 2,45 29,80 13,24

Ch.Ozonizado

(0,5 ��� � )

3310 957 * 890 2,15 2,58 37,35 10,79

Ch.Ozonizado

(1,5 ��� � )

2710 968 * 540 1,95 3,6 32,77 14,48

Ch.Ozonizado

(3,0 ��� � )

1190 845 * 200 1,56 4,46 33,36 14,48

Permeado

50.000Da

1900 898 1451 2160 13,24 0,51 39,06 *

Permeado

20.000Da

1670 629 1394 2040 8,85 0,32 39,85 *

Permeado

5.000Da

1480 576 1591 790 �������� 0,32 28,42 *

Arraste c/ ar

50.000Da

1750 860 1,45 1292 5,57 3,05 0 � 100 *

Arraste c/ ar

20.000Da

1590 416 0,80 580 6,57 1,36 0 � 100 *

Arraste c/ ar

5.000Da

1430 570 1,96 730 3,95 0,33 15 � 100 *

Arraste c/ ar e

Pre-Tratado

2990 1084 3,91 3100 36,21 11,35 2 � 100 *

* - Nao Calculado

94

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Alguns comentarios podem ser feitos relativamente aos processos de tratamento in-

vestigados.

No tocante a remocao de materia organica (DQO e COT) houve uma pequena, mas

apreciavel, contribuicao do pre-tratamento (coagulacao � floculacao). A ozonizacao,

por sua vez, contribuiu pouco para a reducao da materia organica, obtendo-se resul-

tados mais expressivos para a DQO quando condicoes mais elevadas de dosagem de

ozonio foram empregadas (3,0 ��� � ). A tecnica de ultrafiltracao foi a mais efetiva

para a remocao da materia organica, obtendo-se bons resultados quando utilizada

uma membrana de 20.000Da, que assegura um bom compromisso em termos de

fluxo de permeado e eficiencia. Na Figura 4.17 estao mostrados os valores de DQO

dos efluentes obtidos com diversas tecnicas de tratamento.

Figura 4.17: Valores da DQO do chorume submetido a diferentes tratamentos

�Chorume Bruto; � Chorume Pre-tratado;

�Chorume Ozonizado (3,0 � � ��� );

�Permeado na

membrana de 50.000Da; � Permeado na membrana de 20.000Da;�Permeado na membrana de

5.000Da

A amonia foi removida de modo muito intenso com a tecnica de arraste por ar, que

assegurou, no efluente tratado, nıveis sempre inferiores a 5 � ��� � . No entanto, o

emprego desta tecnica exige aumento significativo do pH e um tempo de operacao

95

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razoavel. Ademais, essa tecnica transfere o poluente para a atmosfera, podendo ser

exigido tratamento da fase gasosa.

A cor foi removida em nıveis elevados por todas as tecnicas testadas. Evidente-

mente, a ozonizacao e o fracionamento por membranas foram muito efetivos para

tal finalidade.

Para a remocao da toxicidade, os melhores resultados foram obtidos para o chorume

pre-tratado (coagulacao � floculacao) e submetido ao arraste com ar para a remocao

da amonia. De um modo geral, os organismos testados tiveram respostas diferentes

em relacao a toxicidade do chorume tratado de diversas formas. Entretanto, todos os

tratamentos investigados contribuıram de algum modo para reducao da toxicidade,

como mostram as Figuras 4.18 a 4.20.

Figura 4.18: Resultados da Toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na � �

amostragem

�Chorume Bruto; � Chorume Pre-tratado;

�Chorume Ozonizado (3,0 � � ��� );

�Permeado na

membrana de 50.000Da (B.rerio nao testado nessa avaliacao)

96

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Figura 4.19: Resultados da toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na�

� amos-

tragem

�Chorume Bruto; � Chorume Pre-tratado;

�Chorume Ozonizado (3,0 � � ��� );

�Permeado na

membrana de 50.000Da (B.rerio nao testado nessa avaliacao)

Figura 4.20: Resultados da toxicidade para os efluentes submetidos ao arraste de amonia

com ar em ambas as amostragens

�PA50.000-Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 50.000Da; � PA20.000-

Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 20.000Da;�PA5.000-Permeado e

submetido ao arraste com ar na membrana de 5.000Da;�PTA- Pre-Tratado e submetido ao arraste

97

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com ar

Figura 4.21: Resultados do Efeito observado no teste de toxicidade para Artemia Salina

para os efluentes submetidos ao arraste de amonia nas duas amostragens

�PA50.000-Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 50.000Da; � PA20.000-

Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 20.000Da;�PA5.000-Permeado e

submetido ao arraste com ar na membrana de 5.000Da;�PTA- Pre-Tratado e submetido ao arraste

com ar

98

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Capıtulo 5

CONCLUSOES E SUGESTOES

Como conclusoes deste trabalho, podemos observar as seguintes constatacoes:

Os dados obtidos neste trabalho revelaram que o chorume gerado no Aterro Me-

tropolitano de Gramacho apresenta um elevado teor de compostos recalcitrantes e

elevada toxicidade para todos os organismos testados.

O pre-tratamento do chorume pelo processo de coagulacao/floculacao promoveu

uma certa remocao da materia organica (de 23 a 27% da DQO e de 15 a 24% do

COT) e uma elevada remocao da cor desse efluente (da ordem de 70%). Como

era esperado, nao houve remocao significativa dos metais presentes no chorume.

Porem, a utilizacao de sulfato de alumınio no processo levou a um expressivo au-

mento do teor de Al no efluente tratado, que atingiu nıveis muito superiores ao

padrao de lancamento.

O pre-tratamento promoveu uma certa reducao da toxicidade do efluente para os

organismos Artemia salina e Brachydanio rerio.

A ozonizacao do chorume pre-tratado nao foi efetiva para remocao da materia

organica. Somente quando elevadas dosagens de ozonio foram empregadas (3 ��� � )

observou-se alguma remocao desses poluentes em termos de DQO (de 36 a 60%).

A remocao de cor foi muito efetiva nesse processo, atingindo-se nıveis de 80 a 90%

para as maiores dosagens de ozonio. Quanto a toxicidade foram observados efeitos

distintos para os diversos organismos testados. Para as dosagens elevadas de ozonio

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houve reducao da toxicidade para Daphnia similis, Artemia salina e Brachydanio

rerio. No entanto, a toxicidade determinada no teste Microtox, em contraste com

as demais, aumentou no efluente ozonizado.

Observou-se apreciavel remocao de materia organica para o efluente permeado,

obtendo-se, em termos de DQO reducoes na faixa de 27 a 52%, com tendencia

crescente para as membranas de menor tamanho de corte. A remocao de cor foi

bastante efetiva para a membrana com corte de 5.000. Esses resultados indicam que

os composto de massa molar maior do que 5.000 Da contribuem significativamente

para o conteudo de materia organica e para a cor do efluente. No que se refere a

toxicidade, este parametro nao mostra uma tendencia clara de variacao nas diversas

fracoes de permeado testadas. Para os organismos Daphnia similis e para a bacteria

Vibrio fisheri (Microtox) houve uma aumento da toxicidade nas fracoes permea-

das. Para Artemia salina houve uma reducao da toxicidade em relacao ao chorume

pre-tratado, no entanto para os diferentes permeados houve uma leve tendencia de

aumento desse parametro com a diminuicao do tamanho de corte da membrana.

Para remover o alto teor de amonia presente no chorume, empregou-se a tecnica

do arraste com ar em pH elevado, visando a reducao da toxicidade do efluente.

Essa tecnica permitiu reduzir a concentracao de amonia para nıveis inferiores a 5

mg/L. O efluente pre-tratado submetido ao arraste com ar teve a sua toxicidade sig-

nificativamente reduzida. Observou-se que o efeito toxico para Artemia salina foi

nulo e para os demais organismos testados (Daphnia similis e Vibrio fisheri) houve

sensıvel aumento do parametro CE50. Para o chorume pre-tratado e posteriormente

fracionado em membranas, observou-se uma reducao marcante da toxicidade para

Artemia salina, em especial para o fracionado na membrana de 50.000 Da. Entre-

tanto, para Daphnia similis e Vibrio fisheri nao foi observada apreciavel reducao da

toxicidade.

Dos organismos testados para avaliar a toxicidade do chorume bruto ou tratado por

diversas tecnicas, a bacteria Vibrio fisheri (Microtox) mostrou-se o mais sensıvel.

Daphnia similis tambem mostrou-se muito sensıvel aos efluentes testados, mes-

mo quando houve a necessaria correcao de salinidade. O peixe Brachydanio rerio

foi menos afetado nos testes em que foi empregado. Trata-se de um organismo

muito adequado para o trabalho de laboratorio e representativo dos ecossistemas

aquaticos. O microcrustaceo Artemia salina foi o organismo menos afetado e per-

mitiu indicar que alguns dos tratamentos efetuados levaram a reducao total do efeito

toxico do efluente. Esses resultados evidenciam a importancia de se trabalhar com

100

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diferentes organismos representativos da cadeia trofica, que podem apresentar res-

postas diferentes quanto a toxicidade dos efluentes.

Com vistas a continuidade deste trabalho, sao feitas as seguintes sugestoes:

Quanto ao tratamento do chorume sugere-se investigar uma combinacao das

tecnicas de precipitacao de metais, na forma de hidroxidos, conjugada com a

operacao de arraste da amonia com ar, visto que esses processos ocorrem em valores

elevados de pH. Evidentemente, o tratamento dos gases devera ser considerado.

Como foi observado, os compostos de alta massa molar presentes no chorume sao

responsaveis por grande parte da cor e da DQO ou COT desse efluente. Assim, a

tecnica de ultrafiltracao pode ser investigada mais detalhadamente, procurando-se

selecionar uma membrana adequada que permita obter remocoes apreciaveis dos

poluentes com um bom fluxo operacional.

A forte presenca de compostos de alta massa molar no chorume nao permitiu que

elevadas eficiencias de mineralizacao fossem obtidas no processo de ozonizacao.

Assim, recomenda-se a utilizacao combinada de ozonio e UV para incrementar as

taxas de oxidacao desses compostos.

A toxicidade do chorume, revelada neste estudo, deve ser melhor avaliada atraves de

monitoramento periodico do chorume, que contemple nao apenas os efeitos toxicos

agudos como tambem aqueles cronicos.

Deve-se estimular os estudos de levantamento de vazoes de efluente e do corpo re-

ceptor, para melhor estimar os efeitos de diluicao. A importancia dos testes de toxi-

cidade, ressaltada neste trabalho, deve ser levada em conta no ambito da legislacao

estadual, de forma clara e regulamentada para prevenir a constante agressao aos

ecossistemas aquaticos e estabelecer criterios de lancamento de efluentes mais se-

guros.

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