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TRANSPORTES "Caminhamos para a criação de um seguro de mobilidade" A mudança do ecossistema de mobilidade e a perda de peso do automóvel obrigam a repensar o conceito de seguro. A Fidelidade quer fazer parte desta revolução. Texto: Jorge Flores/Motor 24 Num mundo automóvel cada vez mais elétrico, conectado e autóno- mo, onde não faltam inúmeras so- luções de mobilidade, como antevê uma seguradora o futuro do negó- cio? Para Paulo Figueiredo, diretor da área automóvel da Fidelidade, a resposta é simples: "Fazendo par- te da evolução" e caminhando para a criação de um seguro de mobili- dade. "O automóvel, como meio de transporte individual, tende a per- der, de forma muito expressiva, o papel central que adquiriu para a mobilidade dos cidadãos", explica. A perda do peso do automóvel entre as opções dos cidadãos de- corre, na sua opinião, de uma "perda de apetite pela aquisição de veículos por parte das gerações mais novas". Além disso, as faixas etárias mais jovens da sociedade atribuem, hoje, uma maior im- portância a temas como a "sus- tentabilidade e a ecologia, em es- pecial, os relacionados com a ne- cessidade de reduzirmos a polui- ção e o ruído nas cidades e com as emissões de gases que contri- buem para o efeito de estufa". Por outro lado, acrescenta Pau- lo Figueiredo, "também assisti- mos ao crescimento do peso de instrumentos de economia parti- lhada (de que são exemplo o car- sharing ou mesmo a partilha de boleias), que vieram para ficar e que são dificilmente enquadrá- veis numa visão mais tradicional sobre a mobilidade". Na sua perspetiva, atualmente, é evidente que "as jornadas de

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TRANSPORTES

"Caminhamos paraa criação de um segurode mobilidade"A mudança do ecossistema de mobilidade e a

perda de peso do automóvel obrigam a repensaro conceito de seguro. A Fidelidade quer fazer

parte desta revolução. Texto: Jorge Flores/Motor 24

Num mundo automóvel cada vezmais elétrico, conectado e autóno-

mo, onde não faltam inúmeras so-

luções de mobilidade, como antevê

uma seguradora o futuro do negó-cio? Para Paulo Figueiredo, diretorda área automóvel da Fidelidade,a resposta é simples: "Fazendo par-te da evolução" e caminhando paraa criação de um seguro de mobili-dade. "O automóvel, como meio de

transporte individual, tende a per-der, de forma muito expressiva,o papel central que adquiriu para a

mobilidade dos cidadãos", explica.A perda do peso do automóvel

entre as opções dos cidadãos de-

corre, na sua opinião, de uma"perda de apetite pela aquisiçãode veículos por parte das geraçõesmais novas". Além disso, as faixasetárias mais jovens da sociedade

atribuem, hoje, uma maior im-portância a temas como a "sus-tentabilidade e a ecologia, em es-

pecial, os relacionados com a ne-cessidade de reduzirmos a polui-ção e o ruído nas cidades e com as

emissões de gases que contri-buem para o efeito de estufa".

Por outro lado, acrescenta Pau-lo Figueiredo, "também assisti-

mos ao crescimento do peso deinstrumentos de economia parti-lhada (de que são exemplo o car-

sharing ou mesmo a partilha de

boleias), que vieram para ficar e

que são dificilmente enquadrá-veis numa visão mais tradicionalsobre a mobilidade".

Na sua perspetiva, atualmente,é evidente que "as jornadas de

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mobilidade são caracterizadas peladiversidade, no sentido em queos cidadãos utilizam múltiploscanais para efetuar o seu transpor-te, sejam de bicicleta (elétrica ounão) sejam de trotinete".

Ecossistema de mobilidadePaulo Figueiredo acredita que o

conceito de mobilidade urbanaestá em processo de mutação."Neste contexto de florescimentode meios de mobilidade alternati-

va, mas, também, de desenvolvi-mento de veículos conectados

(que, necessariamente, levarão aodesenvolvimento de uma tecno-

logia de redução de acidentes e

mesmo ao aparecimento de veícu-los sem condutor) e de redesenhodas próprias infraestruturas rodo-

viárias, de molde a permitir a sã

convivência desta revolução queapenas mal se começa a desenhar,é natural que estando o futuro do

automóvel a ser questionado,também tenhamos de questionaro futuro do seguro automóvel."

E vai mais longe. "É nesse sen-tido que começamos a falar na

construção de um seguro de mobi-

lidade; ou de forma mais alargada,da construção de um ecossistema

de mobilidade, em que esta, ver-dadeiramente, começa a ser pen-

sada mais como um conjunto de

serviços do que como um seguroisolado. Os serviços de seguro não

esgotam os que queremos prestarcom a construção desse ecossiste-

ma", revela."Com este enquadramento",

refere, "faz todo o sentido que o

seguro tenha apetência para cobrir

as jornadas diárias de mobilidadedos nossos clientes, com indepen-dência dos meios de transporteque eles utilizem para concretizara sua necessidade de mobilidade".

Um ano depois, trêsempresas de trotinetasjá saíram do paísWind, Tier e Bungodeixaram o mercadoportuguês nos últimosmeses. Logística sememissões é o próximopasso para plataformas.Passou um ano desde que as troti-netas partilhadas começaram a

aparecer nas ruas portuguesas. Pri-

meiro, em Lisboa; nos meses a se-

guir, em cidades do litoral norte,centro e sul. A Lime foi a primeirae juntaram-se mais oito platafor-mas, praticamente todas apenasem Lisboa. Mas três já desistiramdo mercado português - Wind,Tier e Bungo.

"As operações em Lisboa estão

suspensas até à chegada do nosso

próximo modelo", explica fonteoficial da Wind ao Dinheiro

Vivo. As trotinetas daTier deixaram de servistas há algumas se-

manas na capital.A experiência da

Bungo em Paços deFerreira e Ermesinde

acabou por não ter efeito.Lime e Voi também chegaram a

ter operações em Coimbra e Faro,respetivamente, mas acabaram pordesistir de cada uma destas cidades.

A nível nacional, apenas a Circ vai

além de Lisboa: está sozinha emCoimbra, Faro, Almada, Cascais,

Portimão, Figueira da Foz, Erme-

sinde, Vila Nova de Gaia e Braga.Só na capital portuguesa há per-

to de quatro mil trotinetas elétri-cas partilhadas, um quarto das

quais da Lime. Miguel Gaspar, ve-reador da Mobilidade, admite que,no primeiro trimestre, "houve umabuso do espaço público, dos pas-seios, que fez as pessoas ficaremmuito desconfortáveis".

A situação acabou por ser resol-

vida, nos últimos meses, com a

"criação de cerca de mil lugares de

estacionamento para trotinetas".

Bastou, para isso, retirar cerca de50 lugares de estacionamento paraautomóveis - em cada lugar cabem

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20 trotinetas.Resolvido o problema do esta-

cionamento, começam a surgir de-safios ambientais e de integraçãona mobilidade.

No ambiente, os colaboradoresda Hive vão começar a utilizar bi-cicletas de carga elétrica ainda nes-te mês para recolher as trotinetas.A Voi também pretende seguireste exemplo, mas ainda não temdata. A Lime já faz isso há algunsmeses mas apenas com a patrulhaque faz a manutenção - os juicersutilizam meios próprios, nem

sempre amigos das emissões.A Circ, nesta área, lembra que

faz parte do projeto Ayr, do CEiiA,em que as emissões de dióxido de

carbono poupadas ao ambiente emMatosinhos são transformadas emcréditos para pagar a licença.

Para ganhar peso no mercado,no entanto, "a trotineta tem de sermais do que um meio de diverti-mento e tem de se integrar com os

transportes públicos", avisa Rosá-

rio Macário, professora de Econo-mia dos Transportes do IST - Insti-tuto Superior Técnico.

Miguel Gaspar diz que a Câma-ra Municipal de Lisboa "está a tra-balhar num catálogo de mobilida-de para dar visibilidade a todos os

operadores de partilha de veícu-los" e está a elaborar um estudo

com o IST "para avaliar os impac-tos destes transportes na cidade".

Só em Lisboa, calcula-se que seis

em cada dez viagens de trotinetaacabam junto a uma paragem deautocarro ou estação de metro//comboio, segundo a Voi e a Lime.

Diogo Ferreira Nunes