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FERRAMENTA DE SIMULAÇÃO PARA AUXILIAR O PRODUTOR BRASILEIRO DE SOJA NO DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIA LOGÍSTICA E FINANCEIRA DE COMERCIALIZAÇÃO DE UMA SAFRA DO PRODUTO A GRANEL Edson José Dalto Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Orientador: Prof. Eduardo Saliby, Ph. D. Rio de Janeiro, RJ – Brasil Dezembro de 2003

Tese Edson Dalto

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  • FERRAMENTA DE SIMULAO PARA AUXILIAR O PRODUTOR

    BRASILEIRO DE SOJA NO DESENVOLVIMENTO DE ESTRATGIA

    LOGSTICA E FINANCEIRA DE COMERCIALIZAO DE UMA SAFRA DO

    PRODUTO A GRANEL

    Edson Jos Dalto

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Instituto COPPEAD de Administrao

    Orientador: Prof. Eduardo Saliby, Ph. D.

    Rio de Janeiro, RJ Brasil

    Dezembro de 2003

  • iii

    Dalto, Edson Jos

    Ferramenta de Simulao para Auxiliar o Produtor Brasileiro de Soja no Desenvolvimento de Estratgia Logstica e Financeira de Comercializao de uma Safra do Produto a Granel / Edson Jos Dalto Rio de Janeiro, 2003.

    xvii, 230 f.: il.

    Tese (Doutorado em Administrao) Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Instituto COPPEAD de Administrao, 2003.

    Orientador: Eduardo Saliby

    1. Logstica Empresarial. 2. Agronegcios. 3. Simulao. 4. Administrao Teses.

    I. Saliby, Eduardo (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administrao. III. Ttulo.

  • iv

    Dedico este trabalho a minha me, Dona Isaura, como homenagem pstuma.

    Dela guardo as melhores lembranas de minha formao.

    A minha irm Rita que, na ausncia de Dona Isaura, assumiu o papel de me para mim.

    Carinhosa, apoiando-me, aconselhando-me em cada passo e sempre pendente dos

    resultados.

    Ao meu pai, Seu Luiz, que apostou em minha escolha, viabilizou financeiramente boa

    parte desse caminho e transmitiu-me os seus valores, sempre muito importantes em

    minha vida

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Ao professor Eduardo Saliby, amigo e bom guia nesta longa e difcil trajetria do

    Doutorado. Agradeo-o pelo acolhimento desde quando o procurei com a inteno de

    iniciar o curso, por ter apostado em mim, pelos ensinamentos transmitidos, pelo apoio,

    proteo e orientao que recebi, por ter sabido dividir comigo as alegrias e dificuldades

    do processo e por ter-me ouvido nas angstias que fazem parte desse caminho.

    Ao Prof. Nlio Pizzolato, membro da banca de Tese, do Exame de Qualificao e do

    Projeto de Tese. Obrigado pelos conselhos e pelas diversas ajudas sempre que fui

    procur- lo e por ter se interessado, de verdade, pelo meu trabalho. Penso que posso

    cham-lo de co-orientador.

    Ao Prof. Licnio Portugal, membro da banca e amigo das horas difceis. Meus sincero

    agradecimento por ter aceitado participar da banca, apesar do convite em uma hora

    intempestiva e pelos conselhos relevantes durante a defesa.

    Ao Professor Celso Lemme, membro da banca de Tese e do Projeto de Tese. Sempre

    muito prestativo, oferecendo-me bons conselhos, ajuda efetiva e deslindando horizontes

    mais amplos para o meu trabalho. Suas colocaes durante as defesas do Projeto e da

    Tese foram muito agudas e oportunas.

    Ao Prof. Virglio que me acompanhou durante o Exame de Qualificao, Projeto de

    Tese e formou parte da banca de Defesa de Tese. Agradeo pelas sugestes,

    esclarecimentos e por ter-me ouvido sempre que necessitei.

    Ao Prof. Carlos Nassi que, embora no tenha podido participar da Banca de Defesa de

    Tese um amigo por quem guardo muita admirao.

    Aos professores do Instituto COPPEAD que compartilharam conosco seus

    conhecimentos e nos ensinaram a tomar um gosto ainda maior pela pesquisa e o estudo.

  • vi

    Aos funcionrios do Instituto COPPEAD que prestaram sua valiosa colaborao nas

    diversas tarefas de apoio. Gostaria de fazer uma referncia especial a Cida, por sua

    extraordinria dedicao.

    Aos colegas de curso, com quem muitas vezes compartilhamos dores e alegrias neste

    longo caminho e que, pela compreenso, apoio e reciprocidade tornaram-se grandes

    amigos. Destaco deste grupo, meu grande amigo Paulo Roberto, referncia imediata nas

    minhas necessidades de comunicao.

    Ao CNPq, pelos quase 4 anos de apoio financeiro.

    A todos os amigos que prestigiaram minha defesa e vieram dar o seu apoio neste

    momento muito importante e queles que, querendo participar, no puderam estar

    presentes. Lamento no poder destacar seus nomes. Foram inmeros.

    queles que involuntariamente omiti e que, de alguma forma, me ajudaram no

    desenvolvimento deste trabalho, meus mais sinceros agradecimentos.

    Agradeo sobretudo a Deus a quem devo em primeiro lugar tudo o que de bom h em

    mim.

    Finalmente, gostaria de afirmar que me sinto muito orgulhosos e honrado em participar

    desta seleta comunidade, o Instituto COPPEAD de Administrao, que me

    proporcionou os mais ricos anos de formao profissional em minha vida.

  • vii

    RESUMO

    Esta pesquisa visa a apresentar o projeto de uma ferramenta de simulao, em

    forma de planilha, para que um produtor de soja possa, em cada regio de cultivo e de

    acordo com seu perfil de averso ao risco e necessidade de formao de capital de

    custeio, desenvolver uma estratgia logstica e financeira de comercializao de uma

    safra do produto a granel, com o propsito de maximizar sua receita de venda. Atravs

    desse instrumento o produtor ter a possibilidade de decidir sobre a forma de

    comercializao (venda especulativa, antecipada, futura ou opo de venda), o local de

    entrega do produto e as quantidades vendidas em cada poca, em uma deciso

    reavaliada ms a ms. As premissas para a tomada desse conjunto de decises

    fundamentam-se na considerao das expectativas de valor futuro da cotao do gro na

    Bolsa de Chicago e nos mercados locais, da taxa de cmbio e dos custos logsticos nos

    canais de escoamento do produto. O modelo contempla as principais reas produtoras

    de soja do pas, porm a anlise individual para a regio escolhida. O ambiente de

    planejamento envolve um horizonte de 18 meses onde, para cada ms, so

    contabilizados receitas e custos provenientes da produo e da venda do produto.

  • viii

    ABSTRACT

    The objective of this research is the proposal of a simulation tool, in spreadsheet

    form, so that a soybean producer might be able to develop a logistical and financial

    strategy of commercialization of the harvest in bulk form, in a way to maximize its

    gross income, in accordance of the region selected for analysis and the producers

    profile of risk aversion and his necessity of expenditure capital. Through this model, the

    producer will decide on the commercialization form (speculative, anticipated, future or

    selling option), the place of delivery of the product and the amounts sold at each time, in

    a month by month reevaluation decision. For taking decisions, the assumptions used in

    the model are based on the expectations about future values of the grain in the Chicago

    Board of Trade and in local markets, the exchange rate and the logistical costs of

    transporting the product to the closest port. The model contemplates the main producing

    areas of soybean of the country, however the analysis is specialized for the chosen

    region. The planning environment involves a horizon of 18 months where, for each

    month, accounted incomes are forecasted and costs proceeding from the production and

    selling of the product are taken into consideration.

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Figura I.1 Evoluo da produo de Soja dos trs principais pases produtores

    Figuras II.1 a), b) e c) Principais produtores, exportadores e importadores de soja

    estimados para a safra 2002/03

    Figuras II.2 a), b) e c) Evoluo comparada da rea cultivada, produo e

    produtividade da soja entre as regies Sul e Centro-Oeste do Brasil

    Figura II.3 Evoluo da produo da soja nos principais estados do Brasil

    Figura II.4 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por estados do

    Brasil

    Figura III.1 Custos comparativos de produo de soja no Brasil, EUA e Argentina

    Figura III.2 Matriz de Transportes para a soja entre os pases exportadores

    Figura III.3 Evoluo na participao dos portos dos portos brasileiros na exportao

    de soja em gros

    Figura III.4 Principais reas produtoras de soja do Cerrado e corredores da malha

    brasileira de escoamento de gros

    Figura III.5 Valor no tempo de uma opo

    Figura IV.1 Cotaes da Soja em gros na CBOT

    Figura IV.2 Cotaes da Soja em gros em Chicago e Paranagu e Cotao do Dlar

    em uma situao hipottica

    Figura V.1 Painel Formas de Comercializao ilustrando o acesso por via de atalho

    Figura V.2 Ilustrao da forma de insero de dados em um formulrio

    Figura V.3 Mapa do Brasil com todas as regies produtoras de soja contempladas pelo

    modelo e rede logstica para exportao

    Figura V.4 Tela para insero das Informaes Iniciais para o planejamento

    Figura V.5 Tela para insero de Distncias e Cotaes Iniciais

    Figura V.6 Tela para insero da rea Plantada e Volume Colhido

    Figura V.7 Tela mostrando o Ambiente de Planejamento

    Figura V.8 Tela de aviso alertando sobre a contratao de transporte sem uma

    correspondente venda no porto para a data

    Figura V.9 Tela de aviso alertando sobre a venda de parte da produo para entrega no

    porto sem contratao de transporte para a data

    Figura V.10 Tela de aviso alertando sobre o saldo negativo em caixa

  • x

    Figura V.11 Tela indicando o final da etapa de planejamento

    Figura V.12 Informaes acessadas atravs do boto Analisar Grfico

    Figura V.13 Grfico acessado pelo acionamento do boto Cotaes em US$

    Figura V.14 Tela de interface para seleo de Formas de Comercializao

    Figura V.15 Tela de aviso mostrada ao se acionar o boto Refazer, alertando sobre as

    conseqncias dessa deciso

    Figura V.16 Tela de interface para contratao de CPR

    Figura V.17 a), b) e c) Telas de aviso mostrando a necessidade de alguma deciso

    prvia para dar continuidade ao planejamento

    Figura V.18 Tela de aviso mostrando a disponibilidade de volume para a Forma

    Contratual pretendida

    Figura V.19 Tela de interface para contratao de CPR Financeira

    Figura V.20 Tela de interface para contratao de Futuro

    Figura V.21 Tela de interface para contratao de Opo

    Figura V.22 Tela de interface para contratao de CPRF + Seguro de Preo

    Figura V.23 Tela de interface para comercializao Spot

    Figura V.24 Tela de interface para contratao de transporte

    Figura V.25 rea de Informaes sobre Frete Multimodal

    Figura V.26 rea de Informaes sobre Frete Rodovirio

    Figura V.27 rea de Informaes sobre disponibilidade de transporte multimodal na

    planilha Sazonalidades

    Figura V.28 Processo de clculos dos missing values para a Cotao Paranagu

    Figura V.29 Custos Unitrios de Produo considerados no modelo

    Figura V.30 Exemplo ilustrativo da construo das variveis do Painel de Tendncias

    Figura V.31 Curva de atenuao de probabilidade de acerto nas previses de Longo

    Prazo

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela II.1 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por empresas no

    Brasil

    Tabela III.1 Custos de produo da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99

    Tabela III.2 - Custos de exportao da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99

    Tabela III.3 - Produo de soja no Brasil, segundo a condio de posse e rea do

    produtor (Safra 95/96)

    Tabela III.4 rea cultivada com soja, segundo grupos de rea total dos

    estabelecimentos nos estados de maior participao na produo - 1995/96 (mil ha)

    Tabela III.5 - Plantio e colheita de soja por regio brasileira

    Tabela III.6 - Ciclo produtivo da soja nos principais pases produtores

    Tabela III.7 Paridade para Exportao x Mercado Interno

    Tabela III.8 Participao dos principais portos brasileiros na exportao do complexo

    soja no ano de 2001

    Tabela III.9 Exemplo ilustrativo da formao de hedge em mercado futuro com ganho

    na Bolsa

    Tabela III.10 Exemplo ilustrativo da formao de hedge em mercado futuro com

    perda na Bolsa

    Tabela III.11 Meses de expirao para contratos futuro e de opo e para sries de

    opes da soja a granel negociados na CBOT

  • xii

    LISTA DE ANEXOS

    Figura 1 Mapa geral dos produtos originados da soja

    Figura 2 Histrico de valores do Dlar, Prmio em Paranagu e cotao da soja em

    diversos pontos de venda

    Figura 3 Prmio no preo da soja por porto de embarque

    Figura 4 reas de Informaes apresentadas na planilha Real

    Figura 5 a) reas de Informaes apresentadas na planilha Sazonalidade

    Figura 5 b) reas de Informaes apresentadas na planilha Sazonalidade

    Figura 6 reas de Informaes apresentadas na planilha Produo

    Figura 7 a) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago

    Figura 7 b) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago

    Figura 7 c) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago

    Figura 7 d) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago

    Figura 7 e) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago

    Figura 8 a) Valores histricos de volatilidade da soja na Bolsa de Chicago

    Figura 8 b) e c) Valores histricos de volatilidade da soja na Bolsa de Chicago

    Figura 9 a), b), c) e d) Estatsticas geradas no processo de calibrao da Cotao

    Chicago

    Figura 10 a) e b) Calibrao dos parmetros da equao da Cotao Paranagu

    Figura 10 c) Calibrao dos parmetros da equao da Cotao Paranagu

    Figura 11 a), b), c) e d) Estatsticas geradas no processo de calibrao da Cotao

    Paranagu

    Figura 12 a), b), c) e d) Estatsticas geradas no processo de calibrao da Cotao

    Dlar

    Figura 13 a) Comparaes de Cotaes da soja em Paranagu, Maring, Mogiana,

    Passo Fundo e Rondonpolis

    Figura 13 b) Comparaes de Cotaes da soja em Paranagu, Maring, Mogiana,

    Passo Fundo e Rondonpolis

    Figura 14 a) Clculo dos valores de frete em cada ms e ligao

    Figura 14 b) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 c) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 d) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

  • xiii

    Figura 14 e) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 f) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 g) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 h) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 i) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao

    Figura 14 j) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao na ligao

    de curta distncia

    Figura 15 a) Clculo dos valores de Frete Ferrovirio em cada ms e ligao

    Figura 15 b) Clculo dos valores de Frete Ferrovirio em cada ms e ligao

    Figura 15 c) Clculo dos Fatores Sazonais Ferrovirios

    Figura 16 a) Clculo dos valores de Frete Hidrovirio em cada ms e ligao

    Figura 16 b) Clculo dos valores de Frete Hidrovirio em cada ms e ligao

    Figura 16 c) Clculo dos Fatores Sazonais Hidrovirios

    Figura 17 Processo de construo da varivel Auxiliar1

    Figura 18 Exemplo de Restrio imposta por Auxiliar1 para Volume Disponvel para

    Venda Spot

    Figura 19 Processo de construo da varivel Auxiliar2

    Figura 20 Exemplo de Restrio imposta por Auxiliar2 para Volume Disponvel para

    Venda CPR

    Figura 21 Exemplo de clculo da varivel Volume Disponvel para Venda na Fazenda

    Figura 22 Exemplo ilustrativo do Volume Disponvel para Venda no Porto

    Figura 23 Ilustrao do preenchimento do vetor Disponibilidade Multimodal

    Figura 24 Exemplo ilustrativo dos valores assumidos pela varivel Volume

    Disponvel para Transporte

    Figura 25 Exemplo ilustrativo da composio da varivel Futuro e Opo a partir das

    informaes sobre os Contratos

    Figura 26 Equao de regresso para o clculo do Custo da Terra

    Figura 27 Utilizao da equao de regresso para o clculo do Custo da Terra

    Figura 28 Processo de Clculo dos Custos Fixos

    Figura 29 Relao de atenuao dos Custos Fixos com o tamanho do lote

    Figura 30 Processo construtivo do Cronograma de Desembolso para os Custos de

    Produo

  • xiv

    SUMRIO

    I INTRODUO...........................................................................................................1

    I.1 CONTEXTUALIZAO DO TRABALHO..................................................1

    I.2 OBJETIVO DA PESQUISA...........................................................................3

    I.3 IMPORTNCIA DA PESQUISA...................................................................4

    I.4 ESTRUTURA E CONTEDO DO TRABALHO..........................................5

    II O AGRONEGCIO DA SOJA..................................................................................6

    II.1 HISTRICO DO DESENVOLVIMENTO DA SOJA..................................6

    II.2 A SOJA COMO PROPULSIONADORA DO AGRONEGCIO

    BRASILEIRO..........................................................................................................7

    II.3 ESTRUTURA DA OFERTA E DEMANDA MUNDIAL E NACIONAL...8

    II.4 O PROCESSO INDUSTRIAL.....................................................................12

    III FATORES DA COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO DA SOJA....................15

    III.1 INTRODUO..........................................................................................15

    III.2 ESTRUTURA AGRRIA NA PRODUO DA SOJA...........................17

    III.3 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE PRODUO..........................20

    III.3.1 Plantio Direto..................................................................................22

    III.3.2 A Soja Transgnica.........................................................................23

    III.4 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE MERCADO............................26

    III.5 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE COMERCIALIZAO.........31

    III.5.1 Logstica para o Escoamento da Soja.............................................32

    III.5.2 Instrumentos Financeiros para a Comercializao da Soja............38

    III.5.2.1 Venda Especulativa............................................................40

    III.5.2.2 Mercado Futuro..................................................................41

    III.5.2.3 Mercado de Opes............................................................45

    III.5.2.4 Mercado a Termo...............................................................51

    III.5.2.5 A Utilizao dos Mecanismos de Comercializao...........54

    IV PROPOSTA CONCEITUAL DE UM MODELO DE SIMULAO PARA

    COMERCIALIZAO DE SOJA EM GRO..............................................................57

    IV.1 O PROCESSO DE COMERCIALIZAO DA SOJA EM GRO..........57

    IV.2 CARACTERIZAO DO MODELO PROPOSTO..................................60

    IV.2.1 Caractersticas gerais da modelagem..............................................61

  • xv

    IV.2.2 Horizonte de Planejamento.............................................................62

    IV.2.3 Condies de Venda.......................................................................62

    IV.2.4 Regies Contempladas...................................................................63

    IV.2.5 Opes de Escoamento para Exportao........................................64

    IV.2.6 Formas Comerciais Adotadas.........................................................65

    IV.2.7 Custos de Produo........................................................................67

    IV.2.8 Estrutura de Armazenagem............................................................68

    IV.2.9 Cotaes Futuras............................................................................69

    V CONSTRUO E CALIBRAO DO MODELO................................................76

    V.1 ASPECTOS GERAIS DO MODELO..........................................................76

    V.2 DESCRIO DO FUNCIONAMENTO DO MODELO............................80

    V.2.1 Regies Produtoras de Soja.............................................................81

    V.2.2 Informaes Iniciais.........................................................................82

    V.2.3 Distncias e Cotaes Iniciais..........................................................84

    V.2.4 rea Plantada e Volume Colhido....................................................86

    V.2.5 Ambiente de Planejamento..............................................................88

    V.2.5.1 Informaes Estticas..........................................................91

    V.2.5.2 Informaes sobre os Volumes...........................................92

    V.2.5.3 Informaes sobre Cotaes................................................92

    V.2.5.4 Informaes sobre Formas Comerciais...............................92

    V.2.5.5 Informaes sobre Localidades de Venda...........................93

    V.2.5.6 Informaes sobre Transportes...........................................93

    V.2.5.7 Informaes sobre Armazenagem.......................................94

    V.2.5.8 Informaes sobre Fluxos Contratuais................................94

    V.2.5.9 Informaes sobre Custos...................................................95

    V.2.5.10 Informaes sobre o Caixa................................................96

    V.2.5.11 Informaes sobre os Contratos........................................97

    V.2.6 Boto Prximo Ms.........................................................................98

    V.2.7 Boto Analisar Grfico..................................................................100

    V.2.8 Boto Formas Comerciais..............................................................103

    V.2.8.1 Forma de Comercializao CPR.......................................104

    V.2.8.2 Forma de Comercializao CPR Financeira.....................106

  • xvi

    V.2.8.3 Forma de Comercializao Futuro....................................107

    V.2.8.4 Forma de Comercializao Opo....................................107

    V.2.8.5 Forma de Comercializao CPRF + Seguro de Preo.......108

    V.2.8.6 Forma de Comercializao Spot........................................109

    V.2.9 Boto Transporte............................................................................109

    V.3 ESTRUTURAO DO MODELO...........................................................110

    V.3.1 Planilha Mapa................................................................................111

    V.3.2 Planilha Modelo.............................................................................111

    V.3.3 Planilha Real..................................................................................112

    V.3.4 Planilha Fretes................................................................................114

    V.3.5 Planilha Sazonalidade....................................................................115

    V.3.6 Planilha Produo..........................................................................117

    V.4 METODOLOGIA CONSTRUTIVA E CALIBRAO DO MODELO..118

    V.4.1 Regies Produtoras de Soja...........................................................118

    V.4.2 Informaes Estticas....................................................................119

    V.4.3 Informaes sobre os Volumes......................................................122

    V.4.4 Informaes sobre Cotaes..........................................................122

    V.4.4.1 Cotao Chicago................................................................122

    V.4.4.2 Cotao Paranagu............................................................124

    V.4.4.3 Cotao Dlar....................................................................127

    V.4.4.4 Cotao Porto....................................................................128

    V.4.4.5 Cotao Fazenda................................................................129

    V.4.4.6 Cotao Rodovirio...........................................................129

    V.4.4.7 Cotao Multimodal..........................................................134

    V.4.5 Informaes sobre Formas Comerciais..........................................136

    V.4.6 Informaes sobre Localidades de Venda.....................................139

    V.4.7 Informaes sobre Transportes......................................................141

    V.4.8 Informaes sobre Armazenagem.................................................143

    V.4.9 Informaes sobre Fluxos Contratuais..........................................144

    V.4.10 Informaes sobre Custos............................................................147

    V.4.10.1 Custo de Produo...........................................................147

    V.4.10.2 Custo de Armazenagem e de Estoque.............................151

  • xvii

    V.4.10.3 Custo de Transportes.......................................................152

    V.4.10.4 Custo Contratuais e Custo Total......................................153

    V.4.11 Informaes sobre o Caixa..........................................................153

    V.4.12 Informaes sobre os Contratos...................................................154

    V.4.12.1 CPRs...............................................................................154

    V.4.12.2 Futuro..............................................................................155

    V.4.12.3 Opo...............................................................................158

    V.4.12.4 Spot..................................................................................160

    V.4.13 Informaes sobre Tendncias.....................................................160

    VI CONCLUSES E RECOMENDAES.............................................................166

    RERERNCIAS............................................................................................................171

    ANEXOS.......................................................................................................................178

  • 1

    CAPTULO I

    INTRODUO

    I.1 CONTEXTUALIZAO DO TRABALHO

    O Brasil vem ocupando a cada ano uma posio de maior destaque entre os

    principais produtores mundiais de soja, impulsionado pelo forte aquecimento da

    demanda mundial, com preos recompensadores. A produo nacional, estimada

    preliminarmente para a safra de 2002/03, segundo o Departamento de Agricultura dos

    Estados Unidos (USDA, 2003, p.6), ser de 52,5 milhes de toneladas, enquanto os

    Estados Unidos produziro 74,8 milhes de toneladas (USDA, 2003, p.6). Soma-se

    ainda que a possibilidade de expanso produtiva mundial est quase toda no Brasil, em

    termos topogrficos, meteorolgicos, de disponibilidade de terras e tecnolgicos, que

    propiciam o cultivo em larga escala, tendncia mundial na produo de gros

    (EMBRAPA, 2001).

    A figura I.1 ilustra a evoluo comparada da produo de soja dos trs principais

    pases produtores, desde a safra de 99/00, at aquela prevista para o ano safra 03/04.

    Figura I.1 Evoluo da produo de Soja dos trs principais pases produtores

    Evoluo da Produo de Soja

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    99/00 00/01 01/02 02/03 03/04

    Safras

    Milh

    es

    de

    To

    nel

    adas

    Estados Unidos Brasil Argentina

    Fonte: USDA.

  • 2

    Estima-se que sistema agro-industrial brasileiro, como um todo, contribua com

    35% no valor total do PIB, ou seja, US$ 163 bilhes do PIB projetado para 2003 de

    US$ 467 bilhes. Desse total, a cadeia agro- industrial da soja participa com pelo menos

    16%, o que significa um montante de US$ 26 bilhes anuais (EMBRAPA, 2001). Esses

    nmeros mostram a importncia econmica da soja para o Pas.

    As projees para a safra de 2002/03 indicam que o Brasil bater novos recordes

    de exportao, atingindo 21 milhes de toneladas de soja em gro (57%), 13,75 milhes

    de toneladas de farelo (37 %) e apenas 2,25 milhes de toneladas de leo (6%), de um

    total de 37 milhes de toneladas exportadas, representando acrscimo de 21% sobre as

    exportaes da safra anterior e superando as exportaes dos EUA, que registraro para

    o complexo soja (gros, farelo e leo), 35 milhes (USDA, 2003). Em valores

    monetrios, as exportaes de soja brasileira devem situar-se perto de US$ 8 bilhes

    contra US$ 7,2 bilhes dos norte-americanos.

    Com a atual safra de gros prevista em 122,2 milhes de toneladas (IBGE,2003),

    o Agronegcio brasileiro dever atingir em 2003 um supervit comercial de US$ 25

    bilhes, contra US$ 20,3 bilhes de 2002 (mais de 23 % em um ano), sendo o mercado

    exportador mais dinmico da economia brasileira. O agronegcio representa mais de

    40% da pauta de exportaes e 11% de importaes.

    Costuma-se afirmar que o agricultor brasileiro extremamente competitivo da

    porteira para dentro da fazenda e os nmeros da produtividade comparada dos trs

    principais players confirmam essa informao1. Entre os elementos que propiciam essa

    posio de relevo na agricultura mundial, destacam-se o desenvolvimento de sementes

    adequadas a cada regio, resistentes s doenas; o tratamento cientfico dos solos; o

    sistema inovador de plantio direto2 e a intensa mecanizao da lavoura (PAULA e

    FAVERET, 2000, p.1).

    Por outro lado, o aspecto da comercializao da produo no acompanha o

    mesmo desenvolvimento contemplado no campo. As deficincias no sistema de

    armazenagem obrigam o produtor a vender quase a totalidade de sua safra no momento

    1 As produtividades em toneladas por hectare, para os Estados Unidos, Brasil e Argentina, nesta ordem, os maiores produtores mundiais, foram, para a safra 2002/03, respectivamente de: 2,55; 2,85 e 2,82. 2 Ver item III.3.1.

  • 3

    da colheita, quando os preos so mais baixos e os fretes mais caros; a restrio nas

    opes de compradores, devido a uma viso do negcio muito regionalizada, sem

    considerar a possibilidade de exportao direta; as dificuldades da operacionalizao

    logstica e os altos volumes exigidos em uma exportao; o elevado custo de

    escoamento, devido escassez de modais mais baratos, condies inadequadas de

    estradas e custos excessivos de terminais porturios; o desconhecimento dos sistemas de

    proteo de preo em mercado futuro; as elevadas taxas de desconto cobradas pelos

    mecanismos de antecipao da venda para custeio da lavoura; a escassa ou ineficiente

    assistncia de cooperativas em algumas regies produtoras, entre outros problemas,

    fazem com que o produtor perca boa parte da competitividade alcanada na produo.

    I.2 OBJETIVO DA PESQUISA

    O principal objetivo desta tese consiste no desenvolvimento de uma ferramenta

    de simulao, em forma de planilha, que auxilie o produtor na determinao de uma

    estratgia de venda, ms a ms, de uma safra de soja a granel.

    Com o apoio desse instrumento, o produtor ter a possibilidade de decidir sobre

    a forma de comercializao (venda especulativa, antecipada, futura ou opo de venda),

    o local de entrega do produto e as quantidades vendidas em cada poca, em uma deciso

    reavaliada ms a ms. As premissas para a tomada desse conjunto de decises

    fundamentam-se na considerao das expectativas de valor futuro, para cada ms, da

    cotao do gro na Bolsa de Chicago e nos mercados locais, da taxa de cmbio e dos

    custos logsticos nos canais de escoamento do produto.

    O modelo contempla as principais reas produtoras de soja do pas, porm a

    anlise individual para a regio escolhida. O ambiente de planejamento envolve um

    horizonte de 18 meses onde, para cada ms, so contabilizados receitas e custos

    provenientes da produo e da venda do gro.

  • 4

    I.3 IMPORTNCIA DA PESQUISA

    A literatura concede grande importncia ao estudo dos aspectos de

    competitividade na produo e comercializao da soja, encarada, sobretudo, em uma

    perspectiva macroeconmica. No entanto, estudos relacionados competitividade do

    produtor so escassos. Este trabalho pretende abordar o problema das decises logsticas

    e financeiras que afetam o produtor de soja, em sua estratgia de comercializao de

    uma safra, particularizando cada regio produtora e poca do ano, com o apoio de um

    modelo de simulao em forma de planilha eletrnica.

    Ao planejar a comercializao de uma safra anual de soja, o modelo permite ao

    analista considerar, em suas especificidades logsticas, cada uma das principais regies

    produtoras do pas, delimitadas pelo critrio da homogeneidade dos canais de

    escoamento para exportao. O decisor pode escolher entre os locais de venda na

    fazenda ou no porto, analisando os custos comparados do deslocamento do produto por

    um processo multimodal ou exclusivamente rodovirio.

    Simultaneamente, o programa facilita a anlise do papel que a armazenagem

    desempenha, como vantagem comercial para o produtor, na reteno da venda, em cada

    poca do ano.

    Alm das decises relacionadas ao ponto de venda, reteno de estoques e

    escolha modal, o modelo permite a considerao, de maneira integrada, sobre a

    utilizao de formas de comercializao (venda especulativa, antecipada, formao de

    hedge e seguro de preo) e a quantidade negociada em cada etapa da venda.

    Esse painel abrangente de decises, que devem ser tomadas de forma integrada,

    em um cenrio mutante, constitui um problema muito complexo para o analista, da a

    convenincia de que ele disponha de uma ferramenta que o auxilie no sentido de

    maximizar sua receita comercial, de forma coerente com sua necessidade de formao

    de capital de custeio para a safra e seu perfil de averso ao risco.

  • 5

    I.4 ESTRUTURA E CONTEDO DO TRABALHO

    Esta tese foi organizada em seis captulos, mais uma parte de anexos.

    O captulo de introduo situa o trabalho no contexto do agronegcio brasileiro e

    apresenta os objetivos e a importncia da pesquisa. O captulo seguinte revela um

    aspecto da reviso de literatura, apresentando uma breve histria do desenvolvimento da

    soja. A seguir destaca o papel desta commodity como propulsionadora do agronegcio

    brasileiro, apresenta a estrutura da oferta e demanda mundial e nacional e o processo

    industrial da soja. No terceiro captulo, segue-se outra abordagem da reviso de

    literatura relacionada aos fatores de competitividade do complexo da soja,

    apresentando-se a estrutura agrria na produo desta oleoginosa e os fatores de

    competitividade de produo, de mercado e de comercializao.

    No quarto captulo, comea-se a esboar a ferramenta proposta, com a

    proposio conceitual um modelo de simulao para comercializao de soja em gros,

    esmiuando-se as etapas deste processo e caracterizando-se a sua estrutura terica,

    acompanhada de uma declarao de escopo.

    O quinto captulo o cerne da metodologia do trabalho e intitula-se Construo

    e Calibrao do Modelo. Inicialmente so apresentados os aspectos gerais da

    modelagem, com nfase para as caractersticas adotadas na programao;

    posteriormente, descreve-se o funcionamento do modelo, sua estruturao em mdulos

    e, encerrando o captulo, a metodologia construtiva e o processo de calibrao do

    modelo.

    O sexto captulo reservado s concluses e recomendaes, destacando as

    principais virtudes e limitaes do modelo e proposies sobre as caractersticas a serem

    consideradas em novos estudos.

    Finalmente, nos anexos, so apresentadas algumas figuras que complementam o

    entendimento do texto da tese.

  • 6

    CAPTULO II

    O AGRONEGCIO DA SOJA

    II.1 HISTRICO DO DESENVOLVIMENTO DA SOJA

    De acordo com a Embrapa (2001, p.1), a soja uma leguminosa cultivada pelos

    chineses h cerca de cinco mil anos. Sua espcie mais antiga, a soja selvagem, crescia

    principalmente nas terras baixas e midas, junto aos juncos nas proximidades dos lagos

    e rios da China Central. H trs mil anos a soja se espalhou pela sia, onde comeou a

    ser utilizada como alimento. Foi no incio do sculo XX que passou a ser cultivada

    comercialmente nos Estados Unidos. A partir de ento, houve um rpido crescimento na

    produo, com o desenvolvimento das primeiras cultivares comerciais.

    No Brasil, o feijo chins, como algumas vezes chamada a soja, chegou em

    1882, implantado na Bahia. Em 1941, apareceu pela primeira vez nas estatsticas

    oficiais do Rio Grande do Sul (VERNETTI, 1977), onde, neste mesmo ano, foi

    construda a primeira fbrica de processamento de soja.

    O gro de soja d origem a subprodutos dos quais os principais so o farelo e o

    leo. Outros, mais elaborados, so utilizados pela agroindstria de alimentos e indstria

    qumica. A protena de soja d origem a produtos comestveis (ingredientes de padaria,

    massas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentao para

    bebs, confeces e alimentos dietticos). utilizada tambm pela indstria de adesivos

    e nutrientes, alimentao animal, adubos, formulador de espumas, fabricao de fibra,

    revestimento, papel, emulso para tintas e outras aplicaes. A soja integral utilizada

    pela indstria de alimentos em geral e o leo bruto se transforma em leo refinado e

    lecitina, que d origem a inmeros outros produtos (EMBRAPA, 2001, p.1).

    A figura 1 dos Anexos apresenta um mapa geral dos produtos originados da soja.

    O interesse do Governo brasileiro pela expanso na produo da soja para

    atender indstria fez com que a leguminosa ganhasse cada vez mais incentivos

    oficiais. Para atender s exigncias de produo de uma cultura altamente demandante

  • 7

    de tecnologia, foi criado, em 1975, em Londrina, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja

    (atual Embrapa Soja), como uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa

    Agropecuria (Embrapa). Sua principal incumbncia era conquistar a independncia

    tecnolgica para a produo brasileira, que at ento estava concentrada nos estados do

    Sul do Pas, aproveitando a entressafra da cultura do trigo que, na poca, recebia

    incentivos do governo. A boa adaptao da soja nas terras do Sul do pas e a crescente

    demanda dos mercados interno e externo deram estabilidade aos preos do produto, o

    que incentivou o aumento de rea.

    Em pouco tempo, os cientistas no s criaram tecnologias especficas para as

    condies de solo e clima do Sul, como conseguiram desenvolver a primeira cultivar

    para regies tropicais brasileiras, que viabilizou a produo no Cerrado, onde antes a

    planta no se desenvolvia. A criao de novas sementes fez muito mais do que

    desbravar as novas fronteiras agrcolas do Brasil, at ento consideradas improdutivas;

    levaram a soja a todas as regies de clima tropical do mundo.

    II.2 A SOJA COMO PROPULSIONADORA DO AGRONEGCIO

    BRASILEIRO

    De acordo com Paula e Faveret (2000, p.1) Pode-se dizer, sem medo de errar,

    que a expanso da cultura da soja foi a principal responsvel pela introduo do

    conceito de agronegcio no pas, no s pelo volume fsico e financeiro envolvido, mas

    tambm pela necessidade da viso empresarial de administrao da atividade por parte

    dos produtores, fornecedores de insumos, processadores da matria-prima e

    negociantes, de forma a manter e ampliar as vantagens competitivas da produo.

    O processo de mecanizao da agricultura brasileira e a introduo de tcnicas

    modernas de plantio, colheita e processamento de gros devem-se, em grande parte,

    expanso do cultivo de soja ocorrido nas ltimas trs dcadas.

    Os setores agro- industriais relacionados produo de carnes consolidaram-se e

    expandiram-se, graas oferta abundante de raes obtidas atravs da soja.

  • 8

    Cooperativas e traders ampliaram significativamente suas atividades, apoiadas

    na oferta interna de gros e na facilidade de comrcio desta commodity, tanto no

    mercado interno como para exportao.

    A conquista do oeste brasileiro ocorreu no rastro do ouro-verde, que hoje j

    procura as fronteiras do Norte para ocupar seu espao (PAULA e FAVERET, 2000,

    p.1).

    Estruturas de armazenagem, processamento, transporte e exportao foram

    bastante ampliados a partir do significativo aumento da produo e expandiram-se fora

    das regies tradicionais de plantio, acompanhando a ampliao da fronteira agrcola,

    embora em ritmo descompassado.

    A competio acirrada no comrcio internacional exige grande dinamismo de

    todos os fatores, razo pela qual a pesquisa tecnolgica, especialmente agronmica,

    desenvolveu-se no mesmo diapaso, oferecendo novas tcnicas e cultivares adequados

    s regies, de diversas especificaes (conforme o uso pretendido) e resistentes s

    doenas.

    II.3 ESTRUTURA DA OFERTA E DEMANDA MUNDIAL E NACIONAL

    Estados Unidos, Brasil, Argentina e China lideram a produo mundial de soja,

    respondendo, em mdia, por 91% do total produzido, conforme estimativas do United

    States Department of Agr iculture (USDA, 2003) para a safra de 2002/03. Estes mesmos

    pases, com exceo da China, lideram o ranking de exportao. Entre os principais

    importadores do complexo soja, a Unio Europia, China, Japo e Mxico respondem

    por 57% do volume total. As figuras II.1 a), b) e c) ilustram essas informaes.

    A Unio Europia a grande importadora, com uma parcela superior a 30%. A

    China tornou-se forte importadora no incio do sculo, assumindo cerca de 18% do total

    comercializado, como resultado do grande crescimento da demanda interna de carnes.

    Japo e Mxico tm parcelas semelhantes, em torno de 4%. Pases da Oceania, embora

  • 9

    no apaream no grfico, importam perto de 8 milhes de toneladas de farelo de soja,

    para alimentao de seu expressivo rebanho bovino.

    Figuras II.1 a), b) e c) Principais produtores, exportadores e importadores de

    soja estimados para a safra 2002/03

    Fonte: USDA

    Dentre as naes que se destacam como as mais promissoras importadoras de

    soja para o futuro, esto a China, os pases do Leste Europeu, Norte da frica, Oriente

    Mdio e Amrica Latina, particularmente o Mxico. Nesses pases, a maior parte da

    populao apresenta alta elasticidade-renda na demanda de alimentos, principalmente de

    origem animal. Dessa forma, o aumento esperado da renda per capita desses pases,

    causar um aumento sem precedentes na demanda de oleaginosas (EMBRAPA, 2001).

    De acordo com dados do USDA (2003), a produo brasileira de soja alcanar

    60 milhes de toneladas na safra de 2003/04, ocupando uma rea de 21 milhes de

    hectares com uma produtividade de 2,86 t/ha.

    A evoluo da rea cultivada, produo e produtividade da soja brasileira,

    apresentadas em forma comparativa entre as regies Sul e Centro-Oeste, podem ser

  • 10

    acompanhadas nas figuras II.2 a), b) e c), extrada do relatrio Agriculture in Brazil and

    Argentina: Developments and Prospects for Major Field Crops (USDA, 2001).

    Figuras II.2 a), b) e c) Evoluo comparada da rea cultivada, produo e produtividade da soja entre as regies Sul e Centro-Oeste do Brasil

    A expanso da rea cultivada de soja no Brasil resultado tanto da incorporao

    de novas reas, nas regies Centro-Oeste e Norte, quanto da substituio de outras

    culturas, na Regio Centro-Sul, segundo a Embrapa (2001). Quanto ao aumento da

    produtividade o fator decisivo foi o sistema de pesquisa da Embrapa (PAULA e

    FAVERET, 2000, p.5).

  • 11

    Em termos regionais, a figura II.3 revela a evoluo da produo nos principais

    estados onde a soja cultivada.

    Figura II.3 Evoluo da produo da soja nos principais estados do Brasil

    Soja - Evoluo da Produo nos principais estados

    0

    1.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    6.000

    7.000

    8.000

    9.000

    10.000

    11.000

    12.000

    13.000

    14.000

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

    ano

    mil

    ton

    Fonte: IBGE e CONAB

    MT

    PR

    RS

    GO

    MS

    BA

    Cabe destaque ao crescimento da produo e da produtividade no Mato Grosso

    que assumiu, na safra de 1999/00, a posio de maior produtor brasileiro de soja, com

    um volume de 8,77 milhes de toneladas em uma rea plantada de 2,91 milhes de

    hectares, perfazendo uma produtividade superior a 3 t/ha, quando a mdia nacional

    naquela safra foi de 2,34 t/ha. Tecnologia, terras planas, grandes lotes e regularidade

    climtica explicam a liderana na produtividade e o crescimento da produo neste

    estado.

    O Rio Grande do Sul, bero da cultura da soja, apresenta grandes variaes de

    produo e produtividade em razo de flutuaes climticas prejudiciais cultura na

    poca da colheita.

  • 12

    II.4 O PROCESSO INDUSTRIAL

    O processo de industrializao da soja, de acordo com Paula e Faveret (2000,

    p.14) inicia-se pela secagem e limpeza do gro, quebra e prensagem. Desse

    processamento resulta o leo e uma massa que lavada com solvente. O leo passa por

    um sistema de retirada de goma (degomagem) para alcanar o estgio de leo bruto,

    enquanto a massa, aps secagem e tostagem, resulta no farelo. A goma tanto pode ser

    utilizada para a produo de lecitina de soja quanto ser adicionada ao farelo. No incio

    do processo industrial pode ser feita a retirada da casca do gro, resultando em um

    farelo de maior quantidade de protena (hi-pro).

    O destino do leo o refino e o farelo vai para a alimentao animal,

    diretamente ou atravs das misturas feitas pelas fbricas de rao. O aproveitamento

    mdio do gro resulta em 79% de farelo e 19,8% de leo bruto.

    A cadeia no pra nestes dois produtos. O leo segue seu caminho, sendo

    transformado em vrios subprodutos, dos quais a margarina se coloca em maior

    destaque.

    Esmagamento

    Boa parte das esmagadoras funciona com capacidade ociosa acima de 40%,

    iniciando em maro e parando em setembro, perodo que coincide com escoamento da

    safra, quando cerca de 79% de toda a soja esmagada. O volume restante, processado

    nos outros meses, origina-se da soja precoce no ms de fevereiro (4% a 5% do

    esmagamento total), drawback e estoques (PAULA e FAVERET, 2000, p.15).

    O motivo bsico para o superdimensionamento das plantas industriais a

    concorrncia pela compra da matria-prima no incio da safra, quando os preos so

    mais favorveis. Alm disso, a maioria das plantas so conversveis para o

    processamento de outras oleaginosas, no demandando maiores modificaes de fluxo

    para esmagar soja, milho ou girassol.

    A indstria do esmagamento da soja bastante concentrada, tanto em termos de

    empresas quanto de localizao.

  • 13

    Quanto localizao, a figura II.4 ilustra os estados com suas respectivas

    capacidades instalada de processamento.

    Figura II.4 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por estados

    do Brasil

    Fonte: ABIOVE

    O fato das grandes firmas poderem integrar as cadeias de gros e carnes a

    partir da produo de leo e farelo confere a elas uma enorme capacidade de gerar

    sinergias. Sendo os conglomerados transnacionais os lderes nesses mercados, como

    ilustra a tabela II.1.

    Tabela II.1 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por

    empresas no Brasil

    t/dia %Bunge 29.180 24,8%Louis Dreyfus 8.350 7,1%ADM 6.890 5,8%Cargill 6.700 5,7%Outras 66.755 56,6%Total 117.875 100,0%

    Capacidade de EsmagamentoEmpresa

  • 14

    Refino

    A concentrao na rea do refino de leos no muito diferente do que ocorre

    no setor de esmagamento, embora o nmero de empresas que trabalham com refino seja

    menor: 47 refinadoras contra 67 esmagadoras (PAULA e FAVERET, 2000, p.22).

    As quatro maiores refinadoras detm 46% da capacidade instalada. As tradings

    concentram 34%, participao menor que no setor de esmagamento, e a Bunge sozinha

    detm 28%.

  • 15

    CAPTULO III

    FATORES DA COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO DA SOJA

    III.1 INTRODUO

    A competitividade no mercado de commodities, tal como apresentado pelo

    Relatrio Agriculture in Brazil and Argentina: Developments and Prospects for Major

    Field Crops (2001, p.53) resultado da influncia de muitos fatores, como a

    disponibilidade de recursos naturais e condies agroclimticas, o impacto de polticas

    macroeconmicas (que afetam a taxa de cmbio, mercado de trabalho, investimentos,

    disponibilidade e custos de energia etc.), polticas especficas do setor (tais como

    crditos subsidiados, taxas de importao e exportao para insumos e produtos

    acabados), infra-estrutura (para armazenagem e transporte) e instituies de suporte

    (tais como crditos, regulamentao, notcias e informaes etc.) que ajudam os

    mercados a operar eficientemente. A conquista de mercados e o crescimento tambm

    dependem da demanda interna, da remunerao relativa a outras culturas e outras

    condies.

    No entanto, de forma mais simples, a competitividade no mercado internacional

    consiste na capacidade de colocar o produto no ponto de venda ao mais baixo custo

    possvel, isto , com o mais baixo custo combinado no nvel de produo na fazenda,

    transporte e custos de comercializao. Neste sentido, a anlise comparada da estrutura

    de custos entre Brasil, Argentina e Estados Unidos, para a safra de 1998/99, relativa

    produo, transporte e comercializao de soja desde as principais reas de plantio at

    um porto de exportao comum, Roterd, sugere que os EUA ficam ligeiramente atrs

    de Argentina e Brasil, conforme ilustram as tabelas III.1 e III.2 apresentadas a seguir.

  • 16

    Tabela III.1 Custos de produo da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99

    Itens de custo

    Custos variveis:Sementes 19,77 16,69 11,23 n/d 17,90Fertilizantes 8,22 20,66 44,95 n/d 0,00Produtos Qumicos 27,31 20,56 39,97 n/d 16,90Mquinas Operao/Reparos 20,19 26,88 18,22 n/d 24,00Juros 1,81 5,63 12,11 n/d n/dMo-de-obra contratada 1,29 22,72 5,58 n/d 4,30Colheita n/d n/d n/d n/d 22,24Outros n/d 2,00 n/d n/d n/dTotal de custos variveis 78,59 115,14 132,06 96,29 85,34

    Custos fixos:

    47,99 41,04 8,97 19,08Custo da terra (taxa de aluguel) 87,96 14,28 5,84 62,72Taxas e seguro 6,97 1,63 0,55 n/dOverhead 13,40 n/d n/d 20,67Total de custos fixos 156,32 56,95 30,01 102,47

    Custo total de produo 234,91 172,09 162,08 198,76

    Produtividade (bushels/acre) 46,00 41,35 41,65 50,60Custo varivel por bushel 1,71 2,78 3,17 1,90Custo fixo por bushel 3,40 1,38 0,72 2,02Custo total por bushel 5,11 4,16 3,89 3,92Fonte: USDA

    US$ / acre

    Depreciao de mquinas e equipamentos

    Brasil Argentina

    Paran Mato Grosso

    Norte de Buenos

    Aires e Sul de Santa F

    Chaco

    Principal rea

    Produtora dos EUA

    Tabela III.2 - Custos de exportao da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99

    Itens de custo

    Custos de Produo:Custos Variveis 1,71 2,78 3,17 1,90Custos Fixos 3,40 1,38 0,72 2,02Custo Total de Produo 5,11 4,16 81 3,89 76 3,92 7 7

    Transporte interno e comercializao 0,43 0,85 1,34 0,81Custo a bordo 5,54 5,01 90 5,23 94 4,73 8 5

    Custo de Frete para Roterd 0,38 0,57 0,57 0,49Preo em Roterd 5,92 5,58 94 5,80 98 5,22 8 8Fonte: USDA

    % Custo EUA

    Principal rea Prod.

    dos EUAParan

    ArgentinaBrasil

    Mato GrossoBuenos Aires e

    Santa F

    US$/bu US$/bu US$/bu US$/bu% Custo

    EUA% Custo

    EUA

    De acordo com o relatrio da Embrapa (2001), a produo brasileira de soja,

    bem como seus derivados semi- industrializados e industrializados, sofre forte

    concorrncia mundial, com tendncias a se acirrar na primeira dcada do novo milnio.

  • 17

    As polticas dos pases desenvolvidos que procuram restringir o acesso aos seus

    mercados domsticos, agravadas pelos subsdios s exportaes; a estabilizao do

    consumo de protenas de origem animal nos pases de alta renda per capita, o

    surgimento de produtos substitutos dos leos vegetais e protenas para rao animal e o

    aumento de produo dos pases competidores, so alguns fatores que pressionam a

    posio brasileira no mercado mundial de soja e seus derivados.

    Internamente, a necessidade de reestruturao do sistema industrial para fazer

    frente globalizao tambm afeta a cadeia agro- industrial da soja. Essa combinao de

    competitividade externa, aliada situao interna, exige a crescente busca de vantagens

    comparativas por parte dos setores e empresas participantes da cadeia da soja, e de

    polticas pblicas que garantam suporte e incentivo para sua capacitao competitiva.

    III.2 ESTRUTURA AGRRIA NA PRODUO DA SOJA

    De acordo com a Embrapa (2001) difcil conhecer o nmero de pessoas

    ocupadas na produo de soja, j que no existem estatsticas que forneam essa

    informao de maneira direta. possvel, no entanto, estimar este valor. Segundo o

    Censo Agropecurio do IBGE, o pessoal ocupado com lavouras temporrias no Brasil,

    no ano de 1996, era de 6 780 333 trabalhadores, em 1 844 451 estabelecimentos

    agropecurios. Isto significa aproximadamente 3,67 pessoas por estabelecimento.

    Sabendo-se que existiam, entre estes estabelecimentos, 242 998 unidades que se

    dedicavam tambm ou exclusivamente ao cultivo de soja (13,17%), pode-se estimar a

    existncia de 891 802 pessoas ocupadas diretamente com a produo de soja no Pas.

    Naturalmente, essa uma estimativa baseada em apenas um critrio e sujeita a erros.

    Sabe-se que a soja uma cultura totalmente mecanizada, no possuindo, portanto, o

    mesmo nmero de pessoas ocupadas quando comparado com outras culturas.

    Embora a produo de soja tenha aumentado significativamente de 1996 para

    2003, no se acredita que o nmero de pessoas diretamente envolvidas com essa

    produo tenha crescido. Ao contrrio, estima-se que a expanso da soja na Regio

  • 18

    Centro-Oeste e a diminuio das pequenas propriedades da Regio Sul tenham

    contribudo para a queda do nmero de pessoas envolvidas diretamente com a cultura.

    A partir dos dados censitrios de 1996, observa-se que o produtor mdio de soja

    ocupou uma rea de 38,02 ha e produziu 88,84 toneladas de gros, equivalente a uma

    produtividade de 2 273 kg/ha (Tabela III.3).

    Tabela III.3 - Produo de soja no Brasil, segundo a condio de posse e rea do

    produtor (Safra 95/96)

    Com relao situao de posse da terra dedicada soja nota-se, com os dados

    do censo de 1996, que os proprietrios representavam 82,26% dos produtores,

    produzindo 84,81% da safra total e ocupando 84,57% da rea total destinada cultura.

    Os arrendatrios constituam 8,68% dos produtores e produziam 12,12% da soja, com

    um volume mdio de 124,06 toneladas. A produtividade do produtor arrendatrio era de

    2 304 kg/ha, muito prxima do valor dos proprietrios que era de 2 343 kg/ha,

    indicando que a tecnologia utilizada semelhante. Os parceiros constituam 5,70% dos

    produtores, mas sua produo atingiu apenas 2,13% da produo total, o que

    corresponde observao de que o tamanho mdio da rea do produtor parceiro estava

    bem abaixo da mdia geral, j que a produtividade dessa categoria foi de 2 293 kg/ha,

    indicando o uso da mesma tecnologia das categorias anteriores. Os ocupantes

    constituam 3,36% dos produtores de soja, gerando apenas 0,90% do volume colhido. A

    rea mdia ocupada foi a mais baixa entre os quatro grupos, o mesmo ocorrendo com a

    produtividade que foi de 2 252 kg/ha.

    Totais 242.998,0 21.588.193,0 9.240.289,0 88,8 38,0

    Proprietrios 199.884,0 18.309.949,0 7.814.314,0 91,6 39,1 2.343 Arrendatrios 21.101,0 2.617.882,0 1.136.301,0 124,1 53,9 2.304 Parceiros 13.839,0 460.868,0 201.002,0 33,3 14,5 2.293 Ocupantes 8.174,0 199.494,0 88.672,0 24,4 10,8 2.252

    Ganho %Menos de 10 ha 57.203,0 356.726,0 195.068,0 6,2 3,4 1.830 - 10 a 100 ha 157.147,0 5.059.819,0 2.337.097,0 32,2 14,9 2.165 18,34%100 a 1000 ha 24.713,0 8.602.393,0 3.759.820,0 348,1 152,1 2.288 5,66%1000 a 10000 ha 3.774,0 6.656.601,0 2.809.816,0 1.763,8 744,5 2.369 3,54%Mais de 10000 ha 153,0 912.441,0 386.171,0 5.963,7 2.524,0 2.363 -0,26%No informado 8,0 213,0 96,0 26,6 12,0 2.218

    Fonte: FIBGE - Censo Agropecurio do Brasil de 1995/96.

    rea Mdia (ha)

    Condio do produtor

    Grupos de rea

    Produtividade (kg/ha)

    Nmero de Informantes

    Produo (t) rea (ha)Produo Mdia (t)

  • 19

    Observa-se, com base nos dados anteriores, um ganho de produtividade

    decrescente ao se passar dos estratos de menor rea para as maiores glebas. O efeito

    positivo da rea sobre a produtividade justifica-se pelo emprego de um melhor nvel de

    tecnologia, que se manifesta at um determinado tamanho de propriedade, a partir do

    qual desprezvel.

    A tabela III.4 revela a distribuio dos tamanhos de propriedades que cultivam

    soja nos principais estados produtores.

    Tabela III.4 rea cultivada com soja, segundo grupos de rea total dos

    estabelecimentos nos estados de maior participao na produo - 1995/96 (mil ha)

    Analisando-se a tabela III.4, pode ser observado que, no Rio Grande do Sul e no

    Paran, os produtores que trabalhavam reas menores que 100 ha representavam quase

    50% da rea cultivada com soja. Os produtores que trabalhavam reas entre 100 ha e

    1 000 ha representavam 41% da rea total cultivada no Rio Grande do Sul e 44% no

    Paran. Os produtores com mais de 1 000 ha representavam 10% e 8%,

    respectivamente, da rea cultivada. No entanto, a produo nas reas acima de 100 ha,

    representava, respectivamente, 51% e 53% do total.

    No Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e em Gois, a rea cultivada por

    produtores de menos de 100 ha representava uma parcela muito reduzida da rea total,

    sendo esses valores, respectivamente, 0,3%, 6,7% e 3%. A rea cultivada entre 100 ha e

    Grupos de rea Brasil RS PR MT MS GO Outros0 - 10 ha 195 112 72 1 3 - 7 10 - 100 ha 2.168 1.070 1.002 4 47 26 19 100 - 1000 ha 3.759 977 1.007 383 332 392 668 1000 - 10000 ha 2.810 244 182 122 315 429 518 10000 ha e mais 383 - 5 230 50 16 83 sem dados 1 - - - - - - Total 9.316 2.403 2.268 1.740 747 863 1.295

    0 - 10 ha 2,09 4,67 3,17 0,06 0,40 - 0,5410 - 100 ha 23,27 44,53 44,18 0,23 6,29 3,02 1,47100 - 1000 ha 40,35 40,66 44,40 22,01 44,44 45,42 51,581000 - 10000 ha 30,16 10,14 8,02 64,48 42,18 49,71 40,0010000 ha e mais 4,12 0,00 0,23 13,22 6,69 1,85 6,41sem dados 0 - - - - - - Total 100 100 100 100 100 100 100Fonte: IBGE - Censo Agropecurio do Brasil de 1995/96.

    Em percentuais de produo

    Valores em Hectares

  • 20

    1 000 ha representava, respectivamente, 22%, 44% e 45%. A rea cultivada por

    produtores, cuja propriedade possua mais de 1 000 ha, representava 77% no caso do

    Mato Grosso, 49% no Mato Grosso do Sul e 52% em Gois.

    Observa-se assim que os produtores do Centro-Oeste (principalmente no caso do

    Mato Grosso) ocupavam reas bem maiores do que os da Regio Sul. Essa observao

    permite inferir que a grande expanso da soja no Centro-Oeste se realizou e est se

    realizando com base em cultivos extensivos, aproveitando economias de escala,

    enquanto que no Sul houve e continua havendo uma tendncia de aumento da rea das

    propriedades produtoras de soja, pois a produo de gros no se sustenta mais em

    pequenas propriedades que procuram fazer dessa atividade a sua principal fonte de

    receita (EMBRAPA, 2001).

    Para se ter uma idia da tendncia da produo de soja quanto aos parmetros

    analisados, procura-se compar- los com os dados do Censo Agropecurio de 1985. Os

    dados comparativos dos dois Censos indicam que houve uma diminuio de 177 206

    estabelecimentos que produziam soja de 1985 a 1996. Naturalmente, a maior parte

    desses estabelecimentos possua pequenas reas. Por exemplo, as propriedades de reas

    abaixo de 100 ha diminuram, nesse perodo, em 13,50%. As reas, na faixa de 100 ha a

    1 000 ha permaneceram no mesmo percentual, em torno de 40%. No entanto, as reas

    acima de 1 000 ha passaram de 18% para 30%. Na verdade, a grande produo de soja a

    partir dos anos 90 est concentrada em propriedades cuja rea est acima de 200 ha

    (65%) e a tendncia que a produo se concentre cada vez mais em propriedades

    acima dos 500 ha (EMBRAPA, 2001).

    III.3 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE PRODUO

    A competitividade na produo da soja, enquanto matria-prima, no consiste no

    maior problema da cadeia produtiva deste insumo, como pode ser visto na tabela III.1.

    O Brasil est na vanguarda mundial da tecnologia de produo desta oleoginosa nas

    regies tropicais. A potencialidade do aumento de produo de soja no mundo est

    localizada entre os paralelos 20S e 20N (EMBRAPA, 2001). Estima-se que o Brasil

  • 21

    possua entre 90 e 100 milhes de hectares de Cerrado para explorao agrcola, o que

    permitiria aumentar em at dez vezes a produo atual de soja (WARNKEN, 2000,

    P.62).

    Levantamentos sobre custos de produo demonstram que, ao contrrio do que

    se poderia imaginar, no so to grandes as diferenas entre o Cerrado e o Sul. Os dados

    do conta de custos na faixa de US$ 5,31 a US$ 6,01 por saca, para uma produtividade

    de 55 sc/ha em plantio direto. A razo principal que os custos se compensam:

    enquanto o Sul tem custos menores de insumos, no Cerrado o custo de mo-de-obra e

    remunerao da terra so mais baixos. A figura III.1 ilustra comparativamente os custos

    de produo para diversos estados brasileiros, para a mdia brasileira e para EUA e

    Argentina.

    Figura III.1 Custos comparativos de produo de soja no Brasil, EUA e

    Argentina

    Existem algumas variedades de sementes que viabilizam um ciclo de produo

    mais curto ou mais longo, conforme as necessidades. As cultivares precoces possuem

    um ciclo de produo de 110 dias, as semi-precoces de 130 dias e as tardias de 145 dias.

  • 22

    Estima-se que, na safra 01/02, 42% das reas brasileiras foram cultivadas com sementes

    de ciclo mdio, 29% com ciclo tardio, 23% com precoces e 2% com superprecoces

    (SOUZA, 2003).

    Regionalmente, os ciclos de plantio e colheita variam como indica a tabela III.5.

    Tabela III.5 - Plantio e colheita de soja por regio brasileira

    Regies Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezNorte P C C C P P PNordeste P C C C P P PSudeste C C C C C P P P PSul C C C C P P P PCentro-Oeste C C C C C P P P PLegenda: P = Plantio; C = Colheita

    Fonte: EMATER

    Comparativamente entre Brasil, EUA e Argentina, o ciclo completo de produo

    mostrado na tabela III.6.

    Tabela III.6 - Ciclo produtivo da soja nos principais pases produtores

    Ciclo produtivo da soja nos principais pases produtoresPases Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezEUA P P C/F V G H HBrasil F V G H H P P CArgentina C F V G H H P PLegenda: P = Plantio; C = Crescimento; F = Florescimento; V = Emisso de Vagens;

    G = Formao de Gros; H = ColheitaFonte: USDA

    Fonte: USDA

    III.3.1 Plantio Direto

    De acordo com Paula e Faveret (2000, p.32), preocupados com os custos de

    mecanizao, uso de insumos e degradao do solo com as sucessivas safras a campo

    aberto, pesquisadores e agricultores uniram-se na busca de novas tcnicas de plantio e

    manejo. A tcnica do plantio direto consiste em plantar, sem utilizao das operaes

    usuais de gradagem e arao, sobre os restos de uma cultura anterior, que fazem a

    cobertura do solo, evitando o seu ressecamento e a evaporao de nutrientes.

  • 23

    A maioria dos estudos apontam significativas vantagens desse sistema em

    comparao ao convencional. Alm da diminuio dos custos de mecanizao, a

    dispensa de operaes de gradagem e arao traz vantagens como a no compactao do

    solo em virtude de menor trnsito de tratores pesados. Com a manuteno da palha

    sobre o solo e a conseqente criao de condies para desenvolvimento e manuteno

    da fauna microbiana, as pesquisas constataram maior aerao do solo e melhor

    distribuio dos nutrientes, o que traz como resultado menor necessidade de adubao e

    calagem.

    Outra observao importante, tanto em benefcio ambiental como econmico,

    que, com cobertura, o solo fica menos suscetvel a perdas por carregamento pelas

    chuvas que provocam lixiviao (perda de nutrientes) e assoreamento dos rios.

    Observaes de pesquisa chegam a detectar perdas de 18,4 toneladas/hectare/ano de

    solo no plantio convencional, contra 0,14 tonelada/hectare/ano no plantio direto sobre a

    palha.

    Esta melhoria, alm do aspecto de menor custo proporciona uma melhor

    produtividade, como confirma um estudo de Richetti e Mello Filho (2002).

    Comparaes entre os sistemas de plantio direto e convencional para Dourados (MS)

    revelam custos de US$ 343,85/ha e uma produtividade de 50 sc/ha, para o plantio

    convencional, contra um custo de US$ 322,93/ha e uma produtividade de 55 sc/ha para

    o plantio direto.

    III.3.2 A Soja Transgnica

    Das novas tecnologias aplicadas ao cultivo da soja, destaca-se a criao de

    sementes geneticamente modificadas, nas quais genes da planta original so

    modificados a fim de se obter maior rendimento na extrao de leo ou maior

    resistncia a doenas.

    Das chamadas variedades transgnicas, destaca-se o cultivar da Monsanto, a

    Roundup Ready (RR), geneticamente modificado para resistir ao herbicida da empresa.

  • 24

    Grandes polmicas tm sido travadas sobre os limites da manipulao gentica e

    seus efeitos sobre o biossistema, tanto pelos ambientalistas como tambm por tcnicos e

    estudiosos da agricultura. A polmica principal, por parte dos ambientalistas, a

    conseqncia que a modificao gentica pode trazer na alimentao humana,

    principalmente em relao sade. Os tcnicos argumentam que ainda no est

    devidamente provado que a resistncia a herbicidas no ser expandida para o ambiente,

    tornando outras plantas, inclusive as invasoras, resistentes tambm (PAULA e

    FAVERET, 2000, p.30).

    No Brasil, a definio est a cargo da Comisso Tcnica Nacional de

    Biossegurana (CTNBIO), que tem permitido alguns experimentos de pesquisa com a

    soja geneticamente modificada.

    Discute-se a rotulao de produtos que utilizem insumos modificados

    geneticamente, de forma que o consumidor possa ter informao sobre o contedo do

    alimento que est comprando.

    De acordo com o USDA (PESSA, 2001), 78% do volume plantado nos EUA

    na safra de 00/01, foi de soja transgnica. Na Argentina, esse percentual excede 95%.

    No Brasil, especula-se que seja entre 15% e 20%, cultivados sobretudo no Rio Grande

    do Sul, onde o percentual ultrapassa os 70%.

    Unio Europia e Japo mantm resistncia ao consumo de produtos

    transgnicos e, em decorrncia, sua importao. A liberao do plantio, no Brasil,

    podesignificar uma eventual restrio s exportaes para aqueles mercados. Ser mais

    difcil assegurar a no contaminao dos produtos, estando liberado seu plantio no

    pas. A maior parte das exportaes agrcolas brasileiras (cerca de 60% da soja, 75% do

    farelo de soja e 60% do total de exportaes agr colas) so dirigidas Europa

    (ARAJO, 2001, p.33).

    Discute-se, no entanto, este impacto, uma vez que, de acordo com Pessa

    (2001), a Unio Europia tem adquirido cada vez mais soja Norte Americana e

    Argentina e sabe-se que menos de 10% da soja no transgnica certificada nesses

    pases. Se houvesse, de fato, restrio, deveramos estar enfrentando uma gigantesca

  • 25

    presso sobre a cotao da soja brasileira com prmios nas alturas, mas no isso que

    temos visto. O que vimos foi a Unio Europia comprando mais e mais soja transgnica

    americana e argentina. Portanto, o bom senso exige uma reflexo desapaixonada de qual

    , de fato, o tamanho do mercado de no transgnicos hoje e no futuro, pois estou

    convencido de que esse ser muito pequeno, apenas um nicho de mercado.

    Ainda de acordo com Pessa (2001), nos EUA, onde j existia a prtica de

    segregao de tipos diferentes de produto, antes mesmo da existncia dos transgnicos,

    o prmio pago por produto no transgnico, segregado desde o plantio, passando pela

    armazenagem e contando com certificao at a chegada ao porto de exportao ou

    porta da fbrica, gira entre 1,0 e 3,0% no caso da soja, e chega a 6% no caso do milho,

    sobre o valor do produto no segregado e no certificado. Ressalte-se que esse prmio,

    na maioria dos casos, mal cobre os custos relativos sua segregao e certificao.

    De fato, se comparados os preos cotados na Chicago Board of Trade (CBOT)

    com aqueles praticados em Paranagu, para o perodo entre janeiro de 1998 e setembro

    de 2003, observa-se para aqueles uma mdia de 191,42 US$/t, contra 201,79 para

    Parangu, uma diferena de 5,4% (ABIOVE, 2003). Deve-se ressaltar que os preos da

    CBOT tambm levam em considerao a produo brasileira e que influenciam nestes

    valores questes logsticas e aspectos particulares do mercado nacional. No entanto, a

    diferena nas mdias indica a existncia de um prmio maior para a soja convencional.

    Recentemente surgiu um atrito na exportao de soja brasileira para a China,

    uma vez que esta nao baixou uma nova regulao que exige do pas de origem uma

    certificao de que o produto no traz riscos sade humana, sade animal e ao meio

    ambiente. O governo brasileiro entrou em acordo com o governo chins para emitir um

    certificado provisrio, atestando que a soja exportada preponderantemente

    convencional, mas que pode haver contaminao, em algumas cargas, de soja

    transgnica e que, se isso ocorrer, ser com a soja do tipo Roundup Ready, que j

    recebeu da CTNBio um atestado de que no traz riscos para a sade humana, animal ou

    ao meio ambiente, sendo do mesmo tipo que os chineses esto importando regularmente

    dos EUA e da Argentina.

  • 26

    O aspecto mais importante, do ponto de vista econmico, relacionado liberao

    ou no da soja geneticamente modificada, reside nos custos de produo, com

    diminuio do uso de herbicidas. Um estudo desenvolvido pela Embrapa (ROESSING,

    2002, p.17), sinaliza uma reduo de custos de produo da ordem de 17% (US$

    6,05/saca de 60 Kg para soja convencional e US$ 5,02/saca de 60 Kg para soja

    transgnica).

    III.4 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE MERCADO

    De acordo com Paula e Faveret (2000, p.11), os preos no Brasil guardam

    relao direta com os internacionais e so praticados em estreita sintonia com a Bolsa de

    Chicago, o que reflete a grande importncia das exportaes como destino da produo

    (cerca de 71% da safra de 02/03). Trata-se de um dos produtos com maior exposio

    internacional.

    Os preos pagos ao produtor so baseados no preo internacional, descontados

    os valores referentes a frete e impostos, que levam ao chamado preo de internalizao

    ou de paridade, conforme ilustra a tabela III.7.

    O prmio uma varivel de ajuste na negociao internacional que leva em

    conta a origem e o destino do produto exportado, a qualidade e a oportunidade. A

    incluso da varivel de ajuste da negociao internacional nas compras nacionais (que

    no sejam para exportao) procura adequar o preo pago ao produtor com o valor

    internacional do produto. Assim, a tendncia de preos da soja no mercado interno

    segue a mesma verificada do mercado mundial.

    Deve ser observado, como nota o Relatrio Agriculture in Brazil and Argentina:

    Developments and Prospects for Major Field Crops (2001, p.44) que a taxa de ICMS

    (Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios) causa distores no mercado

    para as indstrias esmagadoras domsticas.

    O ICMS representa a principal fonte de recurso dos estados e varia de 5% a 13%

    dependendo do produto e se este vendido no limite do estado, para outro estado ou se

  • 27

    exportado. No entanto, a Lei 87 (conhecida com lei Kandir) promulgada em setembro

    de 1996, isenta dessa taxa a exportao de insumos e produtos semimanufaturados.

    Tabela III.7 Paridade para Exportao x Mercado Interno

    FARELO LEO

    1 - Fechamento Chicago* 642,50 642,50 642,50 156,20 28,372 - Prmio/Desconto -9,00 -5,00 -9,00 -16,50 1,003 - Converso (US$/Tonelada) 232,77 234,24 232,77 153,99 647,494 - Relao Cambial 1,15 1,15 1,15 1,15 1,155 - Receita Bruta (R$/Tonelada) 266,41 268,09 266,41 176,24 741,056 - DespesasICMS 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Fretes 26,00 19,00 54,00 10,50 10,23Despesas Porto 8,01 8,01 8,01 8,01 11,45PISTaxas/Comisses 0,57 0,57 0,57 0,57 1,14Corret. Cmbio 0,50 0,50 0,50 0,33 1,39Cofins7 - Despesa Total 35,08 28,09 63,08 19,41 24,218 - Receita Lquida 231,32 240,00 203,32 156,83 716,849 - Paridade/60 Kg 13,88 14,40 12,2010 - Mercado Interno 13,80 14,50 11,90 180,00 720,0011 - Relao % (10)/(9) -0,57 0,69 -2,45 14,77 0,44Fonte: Safras & Mercado.* Em US$ cents/bushel para soja, US$/tonelada curta para farelo e US$ cents/libra para leo.

    Referncia: 05/1998

    Ponta Grossa

    Ponta Grossa

    SOJA EM GRO

    CascavelPasso Fundo

    Rondonpolis

    As esmagadoras, quando compram a soja de outros estados para reexport- lo,

    pagam o ICMS, recuperando-o em data posterior. Entretanto, como sustenta o referido

    relatrio (2001, p.45), o sistema de recuperao desse imposto no funciona bem. As

    esmagadoras, quando supridas por insumos de um outro estado, acumulam os

    descontos, em forma de bnus, at que efetivamente exportem o produto final. Para

    evitar esta restrio no fluxo de caixa, as esmagadoras competem por insumos dentro do

    prprio estado, o que pode fazer com que o preo local aumente, se a capacidade de

    esmagamento dentro do estado grande, relativamente ao suprimento. Assim, os

    pequenos esmagadores esto em desvantagem, uma vez que suas margens apertadas no

    lhes permitem pagar o mesmo preo pago pelas trading companies no mercado

    internacional. Grandes empresas multinacionais que tanto esmagam quando

    comercializam internacionalmente so menos afetadas.

  • 28

    A peculiaridade dessa taxa tem encorajado produtores brasileiros a investir em

    fazendas de soja nos vizinhos pases Paraguai e Bolvia. A soja importada para o Brasil

    no taxada com ICMS se o produto, processado ou no, reexportado. Este fato tem

    estimulado a importao de soja paraguaia e boliviana para as plantas brasileiras.

    O farelo segue as mesmas tendncias do gro, pois no tem no mercado, como

    fonte protica para rao animal, concorrentes de peso, sendo o preo do gro o

    determinante para o farelo. J o leo sofre a concorrncia dos diversos tipos de leos

    vegetais, seja para uso basicamente domstico (colza, girassol e oliva) ou misto, como

    palma, algodo, coco e amendoim. Desta maneira, seu preo sofre a influncia da oferta

    de outros leos, alm da atividade industrial do setor de alimentos.

    Alm dos fatores de formao de preo, a questo da carncia de estrutura de

    armazenagem para muitos produtores, os fora comercializao durante a safra,

    quando os preos do produto esto mais baixos e os fretes so significativamente mais

    caros, em funo do aumento da demanda por transporte Caixeta Filho et al. (2001,

    p.136). Nos Estados Unidos, os produtores maximizam a lucratividade conjugando a

    armazenagem na fazenda com o transporte da safra via ferrovia-hidrovia. J no Brasil s

    os grandes produtores dispem de estrutura de armazenagem na fazenda, enquanto os

    pequenos e mdios defrontam-se com duas opes: ou fazem a venda logo aps a

    colheita, ou utilizam armazns de terceiros.

    Dados de mercado (Gazeta Mercantil, 27 mai. 2003) registram que, no Brasil,

    apenas 5% da capacidade total de armazenagem est dentro das fazendas entre 30 e 500

    hectares, contra uma mdia de 65% nos EUA, 50% na Europa e 25% na Argentina.

    Por outro lado, as cooperativas e empresas privadas possuem uma boa

    capacidade de armazenamento da soja, fazendo com que as unidades agrcolas sejam as

    que mais sofrem com esta descompensao nos fretes.

    Do lado da demanda por transportes, esto os produtores rurais, as agroindstrias

    e as tradings e, ofertando estes servio, encontram-se as transportadoras e os autnomos

    e seus agenciadores. Os produtores rurais, individualmente, movimentam baixos

    volumes de carga, e dificilmente colocam sua produo em pontos distantes de sua

  • 29

    fazenda ou de l trazem mercadorias. Podem realizar o transporte atravs de uma

    cooperativa, agroindstria ou pulverizadamente, sendo comum, nestes casos, o

    agricultor se responsabilizar pelos custos de transporte, mas com a agroindstria ou

    tradings representando-o nas negociaes.

    A agroindstria exerce a atividade mais abrangente no setor, sendo um elemento

    bastante capacitado para administrar o abastecimento de matrias-primas ou o

    escoamento da produo. Quanto s tradings, que se caracterizam por serem grandes

    compradores de commodities, suas operaes proporcionam menor volatilidade ao

    mercado de frete e o uso de menor nmero de veculos, alm da possibilidade de

    utilizao de outros modais, o que seria ainda pouco vivel aos agricultores.

    Principalmente no caso de distncias maiores, o comprador da soja adquire o produto

    FOT (Free on Truck), responsabilizando-se assim pelo transporte (CAIXETA FILHO et

    al., 2001, p.138).

    Segundo Soares & Caixeta Filho (1996), a diferena entre transportadoras e os

    motoristas autnomos (carreteiros) reside no preo do frete. As transportadoras so

    empresas que concentram a maior parte do transporte nos veculos da prpria frota,

    controlam seus custos e oferecem seguro por perdas que possam ocorrer em funo de

    quebras durante o transporte. Mas a frota das transportadoras no suficiente para

    movimentar o volume gerado pelas safras, fazendo com que os motoristas autnomos

    desempenhem uma importante funo na oferta de veculos. No transporte de gros e

    outras mercadorias ensacadas, os autnomos acabam por dominar o mercado, tendo

    como principal fator de competitividade o baixo preo a que se sujeitam a operar. O

    contato entre os motoristas autnomos e os embarcadores implementado pelos

    agenciadores, que intermedeiam as negociaes entre os carreteiros e os proprietrios de

    cargas. Esses agenciadores no se responsabilizam por quebras de transporte, havendo

    necessidade de que os embarcadores providenciem o seguro, caso desejem. Mas,

    segundo os demandantes, a perda obtida com transporte de cargas de baixo valor

    agregado no significante, sendo prefervel assumir o risco de se trabalhar com

    autnomos (EMBRAPA, 2001).

    O pico da safra de soja comea na segunda quinzena de maro e vai at a

    segunda quinzena de abril. A primeira etapa consiste no transporte entre o produtor e a

  • 30

    indstria de esmagamento, ou armazenamento do produto. Essa fase representa um

    custo mais elevado, em decorrncia das estradas rurais no serem pavimentadas,

    ocasionando deslocamento mais lento, perodos de interrupo por causa das chuvas,

    alm de elevao dos custos de manuteno do caminho. A segunda etapa caracteriza-

    se pelo transporte do gro armazenado para a indstria de processamento ou dos

    armazns e indstrias aos portos, com destino ao mercado externo. Ao contrrio do que

    acontece com o milho, existe maior capacidade de armazenagem de soja graas s

    instalaes de cooperativas e outras empresas. Isso implica em que o verdadeiro pico no

    mercado de frete, ocorra nos trechos que tm como origem a unidade agrcola.

    Com relao produtividade dos veculos, o fato do carregamento se realizar na

    prpria lavoura, devido j referida carncia de armazenagem, restringe a velocidade de

    operao da carga, sendo comum que as ms condies climticas impeam a operao

    das mquinas que efetuam a colheita.

    O escoamento do farelo de soja no tem como caracterstica picos de atividade,

    pois a soja em gros estocada de modo a estabilizar a produo das esmagadoras. Seu

    armazenamento, por outro lado, torna-se dispendioso, em virtude de sua baixa relao

    valor/volume, havendo algumas implicaes de ordem logstica. Dessa forma, os

    administradores devem operar de modo a minimizar o tempo de estocagem do produto

    dentro da empresa.

    O mercado de frete para o farelo de soja distinto do da soja em gro. O farelo

    sai da esmagadora e vai para a fbrica de rao ou armazm. No so envolvidos

    agricultores, com o produto sendo escoado conforme as condies de mercado.

    Naturalmente, em uma situao em que o produto esteja bem cotado, a solicitao de

    transporte aumenta.

    O caminho utilizado exatamente o mesmo da soja e do milho em gros.

    Normalmente, os agentes do mercado de farelo entram no mercado spot de fretes,

    procurando motoristas que efetuem o servio.

  • 31

    O transporte de farelo de soja tende a concentrar a procura por transportes em

    ofertantes da prpria regio de origem, j que as distncias envolvidas so relativamente

    menores. A soja em gros, ao contrrio, atrai caminhes de diversificada gama de plos.

    Outra questo que tambm interfere na rentabilidade do produtor, de acordo com

    Paula e Faveret (2000, p. 16), e que passa despercebida na maioria das anlises, o

    nvel de juros praticado pelo mercado, o que se explica pelo fato de que a anlise

    clssica leva em conta, no clculo dos juros do custeio da safra, a taxa praticada para o

    crdito rural, determinado pelo plano de safra nacional, atualmente em 8,75% ao ano.

    Porm, sendo a soja uma produo de larga escala, mdios e grandes produtores tm

    necessidade de custeio superior ao limite fixado pelo Conselho Monetrio Nacional e,

    para se financiarem, recorrem ao mercado bancrio comum, ou utilizam outros

    instrumentos de financiamento, sujeitando-se s taxas de juros normais, que, nos

    ltimos tempos, esto bastante elevadas.

    Ainda outra questo importante sob a tica comercial que, de acordo com

    Warnken (2000, p.64), nenhuma outra poltica econmica pode ter um impacto

    potencial maior sobre o setor da soja brasileira do que o preo da moeda do pas. A taxa

    de cmbio o preo mais importante no Brasil e, no caso do setor da soja, vital para

    alcanar, manter ou perder a posio competitiva no mercado internacional.

    III.5 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE COMERCIALIZAO

    Na perspectiva de aumento da competitividade da soja brasileira do ponto de

    vista da comercializao, dois aspectos mostram-se fundamentais. Em um primeiro

    plano reside o melhor equacionamento da rede logstica, que, como pode ser observado

    na tabela III.2, onera significativamente o ciclo produo-comercializao da safra

    nacional, principalmente a partir das grandes distncias a serem percorridas das

    fronteiras agrcolas at os portos de embarque para exportao. Por outro lado, conciliar

    uma demanda estvel com uma oferta agrcola que flutua sazonalmente o outro

    desafio da comercializao de produtos agro- industriais. De um modo geral, os

    mecanismos financeiros de comercializao foram desenvolvidos para dar conta do

  • 32

    descasamento entre procura e oferta. Como as margens de lucro envolvidas no

    agronegcio so geralmente estreitas, garantidas pelo esforo de reduzir os custos de

    produo, muitas vezes a no utilizao ou escolha equivocada de um mecanismo de

    comercializao pode pr tudo a perder. A eficincia de um negcio, portanto, mais

    abrangente do que simplesmente seu desempenho produtivo.

    III.5.1 Logstica para o Escoamento da Soja

    O transporte da soja brasileira, desde a lavoura aos armazns e da para as

    indstrias esmagadoras ou aos portos para a exportao, onera o produto, como j visto,

    e afeta a sua competitividade. Na verdade, esse problema logstico reflete a situao

    geral do escoamento de gros no pas, com a concentrao no uso do modo rodovirio.

    Para efeito de comparao, considerando-se uma mesma distncia da regio

    produtora ao porto (1 400 km), o frete no Brasil custa em torno de US$ 50/t, enquanto o

    produtor do Mississipi (Estados Unidos) despende apenas US$ 6,60/t, segundo dados da

    Companhia Vale do Rio Doce (PAULA e FAVERET, 2000, p.23). A figura III.2 ilustra

    comparativamente a matriz de transportes para a soja entre os principais exportadores.

    Figura III.2 Matriz de Transportes para a soja entre os pases exportadores

    Rodovia Ferrovia Hidrovia

    Fonte: Associao Nacional de Exportadores de Cereais (Anec)

    Distncia Mdia ao Porto

    900 a 1 000 Km 1 000 Km 250 a 300 Km

    Como a Soja chega ao Porto

    Estados Unidos

    16%

    23%61%

    Brasil

    60%33%

    7%

    Argentina

    82%

    16% 2%

  • 33

    O custo do frete por tonelada de gros em geral, em trecho mdio de mil

    quilmetros, de US$ 32,00 pelo modal rodovirio; US$ 15,00 a 18,00 por ferrovia e

    apenas US$ 7,00 a 8,00 na hidrovia (A Granja, abr 2001). No caso dos sojicultores, o

    valor do frete chega a r