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| Recursos Espirituais 1 Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais Jesus – Nosso Modelo para o Ministério | George Wood | p.03 O Aconselhamento Cristão Cristocêntrico | Richard Dobbins | p.08 O Conselheiro Cristão Competente | Donald Lichi | p.15 Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas | Doug Wiegand | p.19 Abordagem Convencional, Complementar e Alternativa para Cura | Christina Powel | p.24 Girolamo Savonarola – O Profeta de Florença | William Farley | p.29 Os Pecados da Maldição Hereditária | W. Nunnally | p.32 www.enrichmentjournal.ag.org Novembro/2010

Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

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Page 1: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 1

Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

• Jesus – Nosso Modelo para o Ministério | George Wood | p.03

• O Aconselhamento Cristão Cristocêntrico | Richard Dobbins | p.08

• O Conselheiro Cristão Competente | Donald Lichi | p.15

• Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas | Doug Wiegand | p.19

• Abordagem Convencional, Complementar e Alternativa para Cura | Christina Powel | p.24

• Girolamo Savonarola – O Profeta de Florença | William Farley | p.29

• Os Pecados da Maldição Hereditária | W. Nunnally | p.32

www.enrichmentjournal.ag.org

Novembro/2010

Page 2: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

2 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

É um prazer poder levar até você a 4ª edição da

revista Recursos Espirituais, originalmente

publicada pelas Assembleias de Deus dos EUA,

em inglês, sob o título Enrichment Journal.

Após trabalho cuidadoso da equipe editorial,

este número expõe em nosso idioma artigos

simplesmente imperdíveis.

Num momento em que vivenciamos na mídia

uma discussão acirrada sobre inúmeros assuntos

polêmicos, abarcando as mais diferentes áreas da

vida, os autores trazem luz às necessidades dos

pastores, dos professores de seminários e dos

demais obreiros da Igreja que ministram ao povo

de Deus, disponibilizando pesquisas relevantes e

atuais, fortemente baseadas nas Sagradas

Escrituras.

De igual modo, os estudantes de Teologia

também são contemplados com uma rica coleção

de material que dará um suporte consistente à sua

incansável e necessária busca pelo conhecimento

sadio da Palavra de Deus.

Em 30 anos envolvido com o meio teológico,

pude presenciar a publicação de inúmeros artigos

que dizendo-se cristãos, na verdade, traziam

sorrateiramente ideologias totalmente contrárias à

Agora você pode acessar online Recursos Espirituais em 14 idiomas. Visite o website do Enrichment Journal e teclena opção desejada. Você será direcionado para um dos treze idiomas que selecionar: português, tcheco, espanhol,

francês, alemão, russo, ucraniano, romeno, húngaro, croata, tâmil, bengalês, malaio ou hindi.Você terá oportunidade para ler os periódicos online ou pode ainda transferir os arquivos, para sua conveniência.

As informações para contato encontram-se no site: www.enrichmentjournal.ag.org

Equipe Editorial / Versão em PortuguêsTradução: Nadja Matta e Bruno Ferrari

Revisão de textos: Martha Jalkauskas e Rejane Eagleton

Diagramação: ©MMDesign

Revisão: Neide CarvalhoCoordenação Geral: Márcio Matta

Entre em contato conosco para obter informações adicionais ou fazer perguntas através do [email protected]

Life Publishers International© Copyright Life Publishers 2010Publicado por Life Publishers, Springfield, Missouri (EUA)Todos os direitos reservados.

sã doutrina, promovendo desta forma prejuízos

irreparáveis na vida de muitos crentes.

Assim, devido a necessidade de critérios

rígidos para a escolha de uma boa literatura cristã,

esta publicação se apresenta como um subsídio

valioso para dirimir questionamentos e dúvidas

que surgem no dia-a-dia de nossa caminhada

cristã.

Os pontos de vista apresentados em cada

artigo, embora do contexto assembleiano norte-

americano, levam o leitor a construir suas ideias

a partir de princípios bíblicos e experiências

pessoais que o incentivam à inspiração para sua

própria jornada espiritual.

Tenho convicção de que os artigos das áreas

ministerial, aconselhamento pastoral, ética mé-

dica, história e teologia, além de serem agradável

à leitura, serão uma verdadeira bênção para você.

Aprecie sem moderação!

márciomattaeditor | versão em português

Editorial

2 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Page 3: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 3

— Nosso Modelopara o Ministério

Por GEORGE O. WOOD

Três elementos essenciais do modelo de Jesus para oministério servem de exemplo de cuidado pastoral para nós.

Jesus

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 3

Page 4: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

4 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Livros e seminários de lide-

rança dominam a leitura pas-

toral, e isso é bom. A máxi-

ma de que uma organização

ou igreja não cresce mais que seu líder

é verdadeira. Mas liderança e ministé-

rio são a mesma coisa? Creio que não.

Ministério inclui muito mais.

Quando procuro um exemplo ou

protótipo para o ministério, primeiro

olho para Jesus. Como era Seu ministé-

rio? Que tipo de ministro era Ele? Se

Ele é o Supremo Pastor e eu, um subal-

terno, que tipo de pastor ou ministro

devo ser? Se devo andar em Seus pas-

sos, quais foram eles?

Deixe-me extrair de Seu ministério

um breve momento que encapsula a

preocupação pastoral de Jesus. Não pre-

tendo que esse perícope represente a

verdade total sobre Jesus como nosso

modelo para o ministério, mas encontro

nele três pontos essenciais que nos ser-

vem como exemplo.

O caso que examinaremos é o da

mulher com fluxo de sangue, relatado

em Marcos 5:21-34.

Tempo Toda pessoa engajada em ministério é

ocupada. Todos os dias nossa agenda

está cheia desde a manhã até à noite:

oração, estudo, compromissos, telefone-

mas, reuniões – e interrupções.

À medida que a igreja que eu

pastoreava crescia, descobri que pode-

ria delegar cada vez mais. Isso permitiu

que me tornasse mais focado em meus

dons e áreas de interesse. Gastava a mai-

or parte do tempo administrando minha

própria agenda. Minha lista de tarefas

estava sempre cheia e o calendário re-

pleto. Eu permitia algumas interrup-

ções de grandes emergências e de pes-

soas que realmente precisavam falar co-

migo, mas, caso contrário, era dono do

meu próprio tempo.

Esse exemplo é um bom sinal de

liderança eficiente e eficaz – delegar

responsabilidade e autoridade, e se con-

centrar nos pontos fortes. É o exemplo

de Êxodo 18 quando Jetro disse a

Moisés que bons líderes não tentam fa-

zer tudo, ou a instrução de Efésios 4:11,

12 de que liderança ministerial implica

em ser o treinador de uma equipe em

vez de ser a estrela.

Deixei o pastorado e fui para lide-

rança distrital como superintendente ad-

junto. Das cerca de 30 pessoas que fazi-

am parte de minha equipe de suporte

da igreja, agora eram apenas eu e meu

secretário. Trouxe meu modelo pasto-

ral para essa nova função e chegava em

meu escritório todos os dias com minha

lista de coisas para fazer. Mas o telefone

tocava continuamente. Muitas pessoas

me procuravam.

Fiquei frustrado. Eles estavam to-

4 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Page 5: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 5

mando o tempo da minha agenda. Não

conseguia terminar as coisas que havia

estabelecido. Comecei a me aborrecer

com as interrupções.

O que mudou a minha vida foi um

devocional dado por um amigo, T. Ray

Rachels (superint. distrital). Ele fala que

o ministério de Jesus fluía das interrup-

ções. Isso chamou minha atenção.

Nenhum dos milagres de Jesus es-

tava na lista de coisas para fazer. Ele não

se levantava pela manhã e dizia: “Bom,

hoje preciso curar 10 leprosos, 2 cegos,

curar um paralítico e libertar várias pes-

soas possessas.”

O mesmo era

verdadeiro quanto

aos Seus ensina-

mentos. Sim, Ele fez

um discurso siste-

mático no Sermão do

Monte, nas parábo-

las do Reino e no ser-

mão do Monte das

Oliveiras (Mt 5-7, 13,

24, 25), porém obser-

ve uma amostra do que ensinou como

resultado das respostas às interrupções.

Um expert da Lei O testou quando dis-

se: “Quem é o meu próximo?” e assim re-

cebemos a parábola do Bom Samaritano

(Lc 10). Os fariseus e os mestres da Lei

murmuraram contra Ele quando aco-

lheu os pecadores e Ele respondeu com

estórias da Ovelha Perdida, da Moeda

Perdida e do Filho Pródigo (Lc 15).

Teríamos perdido o discipulado de

Mateus e de Zaqueu se Jesus não tives-

se interrompido Seus compromissos.

Não teríamos o ensinamento sobre o

novo nascimento se Jesus não tivesse

passado algum tempo com Nicodemos

(Jo 3), ou então o ensinamento sobre

adoração se tivesse ignorado a mulher

samaritana (Jo 4).

O melhor exemplo de Jesus tirando

um momento e respondendo às inter-

rupções veio quando a mulher com flu-

xo de sangue abordou-O a caminho da

casa de Jairo.

Marcos observa que a filha de Jairo

tinha 12 anos e a mulher sofria, ha 12

anos, de uma hemorragia.

O pedido de Jairo foi uma interrup-

ção na agenda de Jesus. O Senhor che-

gou do outro lado do lago e uma grande

multidão veio recepcioná-lO. Lideran-

ça exige que demos prioridade à multi-

dão, mas o ministério ordena prioridade

ao necessitado. Então Jesus afastou-se

da multidão e acompanhou Jairo.

No caminho houve uma interrupção

à interrupção. A mulher passou pela

multidão e tocou na barra de Suas ves-

tes. Ele poderia ter continuado, mas não

o fez. Por quê?

Porque ministério se faz com pesso-

as – uma de cada vez. A missão de Jesus

incluía momentos não planejados quan-

do respondia às necessidades dos indi-

víduos.

Um homem idoso caminhava pela

praia logo de manhã recolhendo estre-

las do mar e as jogava novamente no

oceano. Ele sabia que, se não fossem

devolvidas à água, o sol as secaria e mor-

reriam.

Um jovem passou e disse: “Ei, se-

nhor! O que está fazendo? Existem mi-

lhões de estrelas do mar na praia. O que

você está fazendo não faz a mínima di-

ferença.” O homem respondeu, en-

quanto jogava na água mais uma estrela

do mar: “Faz diferença para esta aqui.”

Um amigo missionário me contou

que estava sentado no escritório de Jim

Cymbala em um domingo de manhã

antes do Natal. Pastor da Igreja Brooklyn

Tabernacle, Jim ministra para milhares

de pessoas em múltiplos cultos todo

domingo. Entre um culto e outro uma

jovem mãe negra com seus quatro fi-

lhos entrou no escritório de Jim. Estava

sem dinheiro e chorava porque seus fi-

lhos não teriam nada de Natal. Jim dis-

se: “Carol e eu iremos ao seu apartamen-

to na noite de Natal e levaremos um

peru para o jantar. Jantaremos com vocês

e haverá presentes para seus filhos.”

Meu amigo missionário disse que

chorou enquanto observava a conversa.

Imagine que o pastor de uma das maio-

res igrejas dos EUA teria tempo para al-

guém que não poderia fazer nada por

ele!

A liderança diz:

“Passe tempo com

pessoas influentes,

pois elas podem dar-

lhe algo em troca”. O

ministério diz: “Aju-

de pessoas que não

podem fazer nada

por você”.

Jesus doou Seu

tempo para outras pessoas.

Por que é importante notarmos algo

tão óbvio? Porque, às vezes, ficamos tão

ocupados no ministério que esquece-

mos que o ministério se faz com pes-

soas.

Você não está no ministério para

construir prédios para a igreja (mesmo

que isso seja necessário), ou para ocu-

par uma posição, ou para se consumir

com assuntos ou causas que te afastam

de sua responsabilidade mais importan-

te que é ministrar às pessoas.

Recebo longas cartas de pessoas

que passam o tempo tentando endirei-

tar procedimentos ou opinião de outras

pessoas. Uma pessoa regularmente me

envia 24 páginas datilografadas em es-

paço simples, argumentando porque a

versão da Bíblia que usa é a única inspi-

rada. Quando leio essas críticas severas

me pergunto o que aconteceria se esses

santos saíssem de seus computadores,

ou deixassem a caneta de lado, e fos-

O melhor exemplo de Jesus tirandoum momento e respondendo às

interrupções veio quando a mulhercom fluxo de sangue abordou-O acaminho da casa de Jairo.

Jesus: Nosso Exemplo para o Ministério

Page 6: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

6 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

sem ganhar almas para o Senhor Jesus.

ToqueJesus permitiu que as pessoas chegas-

sem até Ele. Sejamos sinceros: nossos

modelos de ministério são os conside-

rados ministérios de sucesso. Existe uma

tendência recente de pastores importan-

tes contratarem guarda-costas. O minis-

tro entra no culto na hora da sua partici-

pação e deixa a igreja pela porta lateral

quando termina.

Jesus passou tempo com o indi-

víduo. Seu ministério exigiu algo dele.

O texto diz: “Jesus, reconhecendo imedia-

tamente que dele saíra poder.” (Mc 5:30).

William Barclay explica: “Essa passa-gem nos diz algo sobre Jesus; fala sobre ocusto da cura. Toda vez que Jesus curou al-guém, algo foi exigido dEle. Aqui está uma re-gra universal da vida: nunca produziremosnada de grande a não ser que estejamos pre-parados para investir algo de nossa vida ou denossa própria alma... Nenhum pregador quejá tenha pregado um verdadeiro sermão des-ceu do púlpito sem um sentimento de que foiesvaziado de algo. Se pretendermos ajudaras pessoas, devemos estar prontos para gas-tar um pouco de nós mesmos. ... A grandezade Jesus foi que Ele estava preparado parapagar o preço para ajudar aos outros e essepreço foi sua própria vida. Só seguimos emseus passos quando estamos preparados aempregar não apenas de nossas posses, masde nossa alma e nossa força.”

Uma criança da igreja que eu pas-

toreava perdeu a mãe. Sua adolescên-

cia foi turbulenta e eventualmente ele

cometeu um crime que resultou em sua

prisão por 17 anos. Esse homem conhe-

ceu a Jesus e agora é uma testemunha

fiel na prisão. Escrevi para o pastor na

cidade onde a prisão está localizada pe-

dindo que fosse lhe fazer uma visita. Ele

nunca foi.

A tia da minha esposa sofreu um

AVC. Por causa de sua saúde já não ia à

igreja há alguns anos. (Quantas pessoas

são esquecidas porque não podem mais

contribuir?) Sua família contatou um

pastor e perguntou se ele poderia lhe

fazer uma visita. Ele nunca foi. Final-

mente, a família encontrou um pastor

presbiteriano que o fez.

Um amigo me disse que seu irmão

foi à igreja em um domingo quando sua

família veio visitá-lo. O irmão já era ido-

so, mas naquele dia entregou sua vida

ao Senhor. Meu amigo, também pas-

tor, ligou para o pastor daquela igreja e

perguntou se ele poderia fazer o

discipulado do novo convertido. Nada

aconteceu. O pastor disse que estava

muito ocupado, quando meu amigo

conversou com ele. Descobri que aquela

igreja possuía 50 membros.

Quantas vezes os pastores deixam

de ligar para pessoas que precisam de

ajuda, não respondem cartas ou e-mails,

e não retornam os telefonemas? Que o

Espírito nos mova contra a letargia e a

indiferença.

Devemos estar dispostos a tocar na

vida das pessoas, por Jesus e em nome

dEle.

TransformaçãoAdoro o título que William Barclay deu

a esta passagem sobre a mulher com o

fluxo de sangue. Chamou-a de “A Últi-ma Esperança de uma Sofredora.” Certa-

mente, Jesus era a última esperança pa-

ra essa mulher, assim como para a filha

de Jairo.

Note o humor sutil no relato da mu-

lher passando pela multidão para tocar

a barra das vestes de Jesus.

De acordo com a lei de Moisés, essa

mulher era considerada impura pelo flu-

xo de sangue (Lv 15). Na maioria das

vezes no AT, quando uma pessoa con-

taminada tocasse em algo, significava

que transferia a contaminação para

aquilo que era puro ou inocente. Por

exemplo, um leproso que tocasse um

não leproso tornava a pessoa saudável

impura.

Uma pessoa ritualmente pura não

poderia tocar em mulher após o parto,

nem em algum gentio, nem mesmo em

um vaso que tivesse sido tocado por um

gentio, em certos animais ou em cadá-

ver. Um indivíduo que tenha sido con-

taminado pelo toque de alguma coisa

ou alguém impuro teria que passar por

Jesus: Nosso Exemplo para o Ministério

6 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Page 7: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 7

Devemos estar dispostos a tocar na vidadas pessoas, por Jesus e em nome dEle.

GEORGE O. WOOD

Doutor em Teologia Prática

Presidente da Convenção Geral das Assembleias deDeus dos EUA.Springfield, Missouri (EUA)

um procedimento longo e detalhado de

purificação.

Jesus ficou contaminado no mesmo

instante em que a mulher com o fluxo

de sangue tocou Suas vestes e também

contaminou a Si mesmo quando tocou

a mão da menina morta (Mc 5:41).

Evidentemente, a mulher pensou

que poderia tocar nas vestes de Jesus,

ser curada e então misturar-se à multi-

dão sem ser notada. No entanto, Jesus

parou e perguntou: “Quem me tocou nas

vestes?” (Mc 5:30).

Os discípulos acharam a pergunta ab-

surda, pois muitas pessoas empurravam-

se ao Seu redor. Mas a mulher sabia o

que tinha acontecido e por esta razão o

texto diz que “atemorizada e tremendo,

cônscia do que nela se operara, veio, pros-

trou-se diante dele e declarou-lhe toda a

verdade.” (Mc 5:33).

Por que estaria atemorizada? Ela sa-

bia que havia ritualmente contaminado

um homem santo. Se Jesus fosse um

fariseu, Ele a teria insultado: “Como ou-

sas me tocar? Você me contaminou. Saia

de perto de mim!”

Sob a Lei, se o impuro tocasse o puro,

então o puro se tornava impuro. Mas

com Jesus, se o contaminado tocasse o

puro, então o puro descontaminaria o

contaminado.

Existe uma força inversa entre a Lei

o serão. Se formos confiantes que o Se-

nhor pode e realmente liberta das dro-

gas, do álcool e outros tipos de depen-

dências, então elas serão libertas de to-

das essas doenças da alma e do espírito.

Se orarmos pelos doentes com fé, os do-

entes serão então curados. Se desper-

tarmos o dom do Espírito que está em

nós, pessoas serão então batizadas no Es-

pírito e permanecerão fervorosas no Se-

nhor. Se demonstrarmos e ensinarmos

o discipulado, mais pessoas se tornarão

discípulos de Jesus. Se testemunharmos

aos perdidos, nossas ovelhas também o

farão. Se tivermos uma mente missio-

nária, nosso povo também a terá.

Você não pode dar aos outros aquilo

que não possui, mas aquilo que tem.

Quando meu filho se tornou pastor,

eu lhe disse: “Pastorear não é como ci-

ência quântica (mas também não é fá-

cil). As duas coisas mais importantes são:

ame a Jesus e ame as pessoas.”

Amamos as pessoas quando passa-

mos algum tempo com elas, individual-

mente. O Senhor nos usa para tocar a

vida das pessoas e para sermos agentes

que trazem transformação pelo poder do

Espírito Santo.

Com certeza, nunca devemos parar

de aprender tudo o que podemos sobre

liderança eficaz, mas não nos esqueça-

mos de que liderança é apenas um as-

pecto do ministério. Nosso modelo de

ministério deve sempre ser Jesus. Ele

passa tempo com as pessoas. Ele toca

em suas vidas. Ele transforma.

e o Evangelho. Em vez da impureza da

mulher ter contaminado Jesus, a santi-

dade dEle a purificou. Jesus faz o mes-

mo com nosso pecado: nos torna justos

em vez de nós o tornarmos pecador.

O ministério traz transformação. Tra-

zemos as boas novas de que Jesus é o

Salvador, que batiza com o Espírito San-

to e nos cura. Jesus nos disse para impor

as mãos sobre os doentes. Este é um

sinal físico da saúde que nEle se encon-

tra, passando para o doente, fazendo

com que entre a saúde em vez de reinar

a morte.

Pastores que têm o maior efeito nas

pessoas transmitem a vida de Jesus no

poder do Espírito Santo através de seus

exemplos e ensinamentos.

Vários anos atrás, eu reclamava ao Se-

nhor que, quando impunha as mãos nas

pessoas em uma fila de oração, elas não

caíam. Ah, de vez em quando, até acon-

tecia, mas era raro. Senti que o Senhor

me disse: “George, é muito mais fácil

cair do que ficar de pé. Você está aju-

dando pessoas a ficarem de pé, portan-

to, não pense que precisa imitar outros

com os quais trabalho de maneira dife-

rente.”

Nossa tarefa é realizar uma longa

transferência de nosso próprio caminhar

com Deus na vida das pessoas para

quem ministramos. Se amarmos a Je-

sus, provavelmente irão também amá-

lo. Se demonstrarmos uma atitude cor-

reta, também a mostrarão. Se formos

cheios do Espírito Santo, elas também

Jesus: Nosso Exemplo para o Ministério

Page 8: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

8 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

O Aconselhamento Cristão

CRISTOCÊNTRICO

Qualquer esforço sério para fazer com que o aconselhamento sejaverdadeiramente cristão envolverá um olhar cuidadoso na maneira

como Cristo desempenhou Seu ministério de aconselhamento.

O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

Por RICHARD D. DOBBINS

8 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Page 9: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 9

Nos dias de hoje, poderí-

amos descrever mais

precisamente o que se

passa sob a rubrica de

aconselhamento cristão como um

aconselhamento feito por psicólogos

cristãos e conselheiros profissional-

mente treinados. Geralmente são pro-

fissionais bem formados com excelen-

tes técnicas de aconselhamento e ex-

periência muito rica. Frequentemente

aconselham em igrejas ou em lugares

relacionados a elas. É assim, infelizmen-

te, que algumas pessoas definem o

aconselhamento cristão.

Em muitos casos, porém, existe um

hiato enorme entre a fé cristã e a prática

do aconselhamento. Podem ser cristãos

devotos e excelentes conselheiros, mas

há pouco em seu aconselhamento que

seja caracterizado como cristão, pois se-

pararam seu aconselhamento de sua fé

pessoal. O que está faltando nesses ca-

sos é a integração í ntima desses dois

aspectos em suas práticas.

Como Obter a Integraçãode Fé e Aconselhamento?Primeiramente, para fazer com que o

aconselhamento seja verdadeiramente

cristão devemos unir nossa fé e nosso

aconselhamento em nossas mentes. Isso

começa com o reconhecimento de que

Cristo é o único grande Conselheiro. Ele

se torna nosso modelo. Não apenas o

fazemos Senhor de nossas vidas, mas

também Senhor de nossa formação clí-

nica e da nossa prática em aconselha-

mento. Olhamos para Ele como nosso

supervisor clínico que supervisiona tudo

o que ouvimos e dizemos no consultó-

rio ou escritório.

Independentemente da orientação

teórica de nosso treinamento (dinâmi-

ca, cognitiva, comportamental, objeto

terapia, eclética, etc.) precisamos colo-

car tudo o que aprendemos sobre acon-

selhamento a partir de nossos estudos,

treinamento e experiência, nas mãos de

Cristo. Em seguida, podemos confiar

nele para nos ajudar a aplicar nossas ha-

bilidades, da forma como Ele deseja,

enquanto ministramos aos que procu-

ram nossa ajuda.

Em cada sessão devemos fazer um

esforço consciente para vermos as pes-

soas através dos olhos do Senhor e

entendê-las através do coração e da

mente dEle. Isso nos ajudará a melhor

servir a Deus e às pessoas.

Quando assumimos esta postura es-

piritual, Cristo nos capacita a sermos um

canal eficaz que liga o coração e a men-

te da pessoa aconselhada com o coração

e a mente de Deus. Quando somos bem

sucedidos nesta tarefa, os recursos ili-

mitados de Sua sabedoria, poder e gra-

ça incrementam sobrenaturalmente

nosso treinamento e experiência no pro-

cesso de aconselhamento, levando-o a

outro patamar. Num ambiente espiri-

tualmente enriquecido, o poder de

Deus desfaz a escravidão dos aconse-

lhados, cura suas mágoas e providencia

a orientação que precisam para resolver

outras dificuldades na vida.

Sem um esforço consciente de nos-

sa parte para invocar esta dimensão di-

vina no processo de aconselhamento,

limitamos a ajuda que podemos ofere-

cer aos aconselhados às habilidades pro-

fissionais que tenham sido desenvolvi-

das pelos nossos estudos, nosso treina-

mento e nossa experiência. Como po-

dem observar, Deus desafia cada um de

nós a descobrir caminhos para consci-

entemente reconhecermos o envolvi-

mento de Cristo em nosso relaciona-

mento com as pessoas aconselhadas.

No meu trabalho de aconselha-

mento, lembro-me, no início de cada

sessão, de que Cristo está ali comigo e

com a pessoa que irei aconselhar. Ele

conhece as pessoas da maneira que pre-

ciso conhecê-las. Sabe como motivá-las

a usar sua dor como o caminho de pe-

dras que poderá conduzi-las de onde

estão para onde Deus sabe que pode-

rão estar.

Em cada sessão procuro me consci-

entizar da minha necessidade da cons-

ciência espiritual que permitirá que o

Senhor compartilhe informações comi-

go. Esse é o meu objetivo. Também ter-

mino toda sessão orando e pedindo para

que Deus me ajude a servir a pessoa,

ou o casal, da maneira que Ele quer que

Num ambiente espiritualmenteenriquecido, o poder de Deus

desfaz a escravidão dos aconselhados,cura suas mágoas e providencia aorientação que precisam para resolveroutras dificuldades na vida.

Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico:O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

Page 10: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

10 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

eu os sirva. Peço para que me ajude a

ser para eles o que Ele quer que eu

seja. Isso me mantém ciente das mi-

nhas limitações e também me lembra

que dependo do Senhor para dire-

ção.

Tal oração também centraliza a

atenção da pessoa em Jesus como sua

fonte primária de ajuda. Isso diminui a

tendência da pessoa aconselhada de cri-

ar uma dependência nociva de mim e

a encoraja a construir uma dependên-

cia saudável de Jesus.

Qualquer esforço sério para fazer

com que o aconselhamento seja ver-

dadeiramente cristão também envol-

verá um olhar cuidadoso na maneira

como Cristo realizou seu ministério de

aconselhamento.

Como Foi que CristoAbordou o Aconselhamento?Os Evangelhos indicam claramente

que compaixão foi a característica do-

minante do ministério de aconselha-

mento de Cristo. Pelo menos quatorze

vezes no NT os escritores usaram al-

guma forma da palavra compaixão para

descrever a interação de Cristo com as

pessoas.

O que é compaixão? É a capacida-

de de se colocar, o máximo possível,

no lugar de outra pessoa.

Conselheiros compassivos são com-

preensivos com as pessoas que acon-

selham e sensíveis às suas necessida-

des. Em sua mente, invertem os pa-

péis com os aconselhados. Usam as in-

formações que coletaram sobre eles e

imaginam como deveria ser estar no

lugar deles, naquela situação.

A compaixão de Cristo é clara em

seu diálogo com a mulher que estava

junto ao poço (Jo 4) e a mulher pega

em adultério (Jo 8).

Jesus não concordou com os múlti-

plos casamentos da primeira mulher e

nem aprovou o relacionamento com o

Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico:O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

10 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Page 11: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 11

homem com quem vivia. Também não

aprovou o adultério da mulher em João

8. Contudo foi sensível e compreensi-

vo em sua abordagem a essas mulhe-

res.

Jesus geralmente condenava a jus-

tiça própria dos fariseus. Estes não es-

tavam entre suas pessoas favoritas. Po-

rém, quando Nicodemos solicitou sua

ajuda (Jo 3), Jesus tratou-o com com-

paixão, mesmo sendo Nicodemos um

fariseu.

Outra característica proeminente do

aconselhamento de Cristo é o que cha-

mo de confronto amoroso. Por exem-

plo, mesmo que os múltiplos casamen-

tos e o relacionamento atual da mulher

fossem assuntos delicados, Jesus con-

frontou-a, pedindo-lhe que chamasse

seu marido.

Reconheceu também o estado pe-

caminoso da mulher pega em adulté-

rio, ordenando que fosse e que não pe-

casse mais. Jesus lembrou Nicodemos

da diferença entre o nascimento natu-

ral e o espiritual, confrontando-o com

o fato da necessidade de nascer de

novo.

Jesus sempre encontrou uma ma-

neira de confrontar amorosamente as

pessoas com a verdade. Nunca foi rude

ou insensível com aqueles que eram

honestos o bastante para confessar os

pecados e admitir a necessidade de aju-

da. Não permitia, no entanto, que evi-

tassem os assuntos que os trouxeram a

Ele.

Tanto compaixão como confronto

amoroso são necessários para ajudar as

pessoas a encarar as circunstâncias e os

relacionamentos difíceis da vida.

Conselheiros cristãos precisam con-

tinuamente pedir ao Senhor que am-

plie essa graça na vida deles. Isso é de

fundamental importância.

Qual o Envolvimento doEspírito Santo noAconselhamento?Em João 14:26 Jesus disse: "mas o

Consolador, o Espírito Santo, a quem

o Pai enviará em meu nome, esse vos

ensinará todas as coisas e vos fará lem-

brar de tudo o que vos tenho dito."

O Espírito Santo é um professor.

Não apenas trará à memória os

ensinamentos de Cristo, como também

coisas que precisamos lembrar sobre

nossos aconselhados.

O Espírito Santo pegará as coisas

que aprendemos nas ciências sociais e

nos ensinará a traduzi-las para termos

uma percepção espiritual mais ampla.

Mais especificamente, se tivermos ou-

vidos para ouvir o que diz o Espírito,

Ele nos ensinará como levar, a um pa-

tamar mais alto, tudo que aprendemos

sobre desenvolvimento humano, do-

enças mentais, diagnósticos e técnicas

de aconselhamento.

Assim como o Espírito Santo age

na mente do conselheiro, age também

na mente do aconselhado. Em João

16:8 Jesus diz, "Quando ele vier, con-

vencerá o mundo do pecado, da justi-

ça e do juízo:" À medida que confron-

tar compassivamente e amorosamen-

te a pessoa com as circunstâncias que a

fizeram procurar ajuda, você poderá

contar com o Espírito Santo para criar

níveis desconfortáveis de tensão den-

tro da pessoa para que ela se motive a

fazer as mudanças que Jesus quer que

ela faça para encontrar a cura e liberta-

ção que precisa.

Ao mesmo tempo, você pode con-

tar com o Espírito Santo para lhe dar

força interior necessária para tolerar ní-

veis crescentes de estresse criados pe-

las tentativas conflitantes do aconselha-

do para escapar de sua dor espiritual e

emocional, mas ao mesmo tempo lidar

com elas. Sem a capacidade de lidar

com seus próprios níveis crescentes de

ansiedade, a sua necessidade de con-

forto pode levá-lo a evitar áreas na vida

da pessoa aconselhada que precisem

ser mais bem investigadas. Neste pon-

to os limites de seu nível de conforto

interferem no nível crescente de

estresse necessário para provocar mu-

danças na pessoa. Permitir que o Espí-

rito Santo o ajude a desenvolver tole-

rância aos níveis crescentes de tensão

quando enfrentar momentos difíceis de

aconselhamento, o tornará mais eficaz

em acelerar as mudanças redentoras

que Cristo quer trazer aos seus aconse-

lhados.

Lembre-se, até que a dor de per-

manecer na mesma situação doa mais

que a dor da mudança, as pessoas pre-

ferirão permanecer como estão. Níveis

intoleráveis de dor são essenciais para

mover as pessoas de onde estão para

onde Deus quer que estejam. Desen-

volver um nível de tolerância maior para

conflitos e estresse do que o do acon-

Assim como o Espírito Santo agena mente do conselheiro, age

também na mente do aconselhado.

Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico:O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

Page 12: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

12 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

selhado lhe capacitará a ajudá-lo com

compaixão através dos períodos difíceis

da vida que o fizeram procurar ajuda. É

bom saber que, durante momentos

desconfortáveis do aconselhamento, as

pessoas podem lidar mais facilmente

com situações desagradáveis de certeza

do que com as de incerteza. Um acon-

selhamento bem sucedido conduz a

pessoa da incerteza para a certeza.

Dons Espirituais no Proces-so de AconselhamentoOs dons do Espírito Santo também são

recursos valiosos para o conselheiro, par-

ticularmente para aqueles que são

pentecostais ou carismáticos. Em 1

Coríntios 12:7-12, o apóstolo Paulo de-

fine três conjuntos de dons espirituais.

Os dons da mente incluem a palavra da

sabedoria, palavra da ciência e o dom

de discernir espíritos. Três dos dons são

verbais: variedade de línguas, interpre-

tação de línguas e profecia. Finalmen-

te, existem os dons de poder: fé, opera-

ção de milagres e dons de curar. Todos

estes enriquecem sobrenaturalmente o

aconselhamento.

Os capítulos 12-14 da primeira carta

aos Coríntios tratam do uso ordenado

desses dons na adoração pública e na

vida privada do crente. Uma compre-

ensão bíblica de como esses dons fun-

cionam no relacionamento de aconse-

lhamento pode nos capacitar a ser con-

selheiros mais eficazes.

Discernimento de EspíritosOs dons da mente podem aumentar

grandemente o processo diagnóstico.

Um clínico treinado desenvolve habili-

dades em suas percepções visual, audi-

tiva e tátil quando diagnostica os pro-

blemas de uma pessoa. Quando o dom

de discernimento de espíritos se torna

parte deste processo, a capacidade

diagnóstica é levada a um patamar su-

perior.

A abordagem secular ao aconselha-

mento vê a atividade mental atual de

uma pessoa como um desenvolvimen-

to natural da interação entre sua história

pessoal, as circunstâncias atuais da vida

e os processos neuroquímicos do cére-

bro. Não existe reconhecimento de ne-

nhum impacto espiritual ou sobrenatu-

ral neste processo.

Apesar de os conselheiros cristãos

reconhecerem o papel importante des-

ses elementos naturais na atividade

mental de uma pessoa, acreditamos que

é principalmente o espírito da pessoa

que dirige o processo mental. O ato de

pensar é sempre uma guerra espiritual.

Em 1 Coríntios 6:19 e 20, Paulo dei-

xa claro que o propósito do corpo é ma-

nifestar a presença de Deus na terra.

Em Romanos capítulos 6 e 7, porém,

Paulo reconhece o papel poderoso do

pecado tentando fazer com que nosso

corpo sirva ao mal. Em Romanos 6:16,

ele declara o dilema humano: “Não

sabeis que daquele a quem vos ofereceis como

servos para obediência, desse mesmo a quem

obedeceis sois servos, seja do pecado para a

morte ou da obediência para a justiça?”

Ao mesmo tempo em que vida eter-

na estimula a mente a entreter desejos,

fantasias e ideias que resultariam em

expressão de vida divina, o pecado esti-

mula a mente a entreter desejos, fanta-

sias e ideias que resultariam em expres-

são do mal. A vontade humana se en-

contra no meio desta batalha.

A vontade determina a expressão da

mente ou do espírito à medida que es-

colhas são transmitidas através do cére-

bro para serem expressas no corpo. Ob-

servando as atitudes e o comportamen-

to expressados através do corpo de uma

pessoa, pode-se determinar a influên-

cia espiritual que está ganhando na ba-

talha pela vontade dela.

O dom de discernir espíritos é uma

ferramenta valiosa para o conselheiro

cristão para ajudar a entender o status

atual da batalha espiritual do aconselha-

do. O clínico não deixa de lado suas ha-

bilidades neste processo; ao contrário, o

Espírito Santo os amplia.

Palavra de ConhecimentoClínicos excelentes se tornam experts

em unir os pontos da história de uma

pessoa para ter o retrato do presente

dela, porém, uma palavra de conheci-

mento, vinda do Espírito Santo, a res-

O dom de discernir espíritos é umaferramenta valiosa para

o conselheiro cristão para ajudar aentender o status atual da batalhaespiritual do aconselhado.

Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico:O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

Page 13: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 13

peito da pessoa, amplia essas habilida-

des. Tal palavra geralmente encontra

seu caminho na mente do conselheiro

sob a forma de palpite ou intuição.

É por isso que o conselheiro precisa

ter cuidado ao determinar como e quan-

do introduz tal palavra à pessoa. O con-

selheiro nunca deve impor essa palavra

de conhecimento. Apresentá-la como

sugestão dá ao aconselhado a oportuni-

dade de aceitá-la ou rejeitá-la.

Palavra de SabedoriaQualquer um que aconselha outras pes-

soas sabe que existem momentos críti-

cos na terapia. Como conselheiro, ad-

quire-se sabedoria natural para adminis-

trar estas situações. O conselheiro cris-

tão, contudo, não é limitado à sabedoria

natural que vem da experiência.

Tiago nos lembra que a sabedoria

de Deus está disponível para aqueles

que se humilham suficientemente para

pedi-la. “Se, porém, algum de vós necessita

de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá

liberalmente e nada lhes impropera; e ser-

lhe-á concedida.” (Tg 1:5).

Entretanto, existe uma palavra es-

pecial de sabedoria que o Espírito San-

to pode nos dar nos momentos de

aconselhamento, quando precisamos de

sua direção. Ela altera o que normal-

mente iríamos dizer ou fazer. Em

retrospecto, reconhecemos facilmente

sua origem divina pelo impacto de cura

que sua implementação tem na pessoa

aconselhada.

Línguas, Interpretação eProfeciaEsses dons verbais colocam à disposi-

ção do conselheiro um nível de fluência

além de sua habilidade natural. Isso é

RICHARD D. DOBBINS, Ph.D.Fundador do EMERGE e atualmente diretor do Richard D. DobbinsInstitute of Ministry, em Naples, Flórida (EUA), fundado por eleem 2007.Visite seu website: www.drdobbins.com

especialmente útil para disciplinar e di-

rigir o diálogo entre o conselheiro e o

aconselhado.

O dom de falar em línguas em parti-

cular também proporciona ao conselhei-

ro pentecostal ou carismático um meio

maravilhoso para se analisar após cada

sessão. Durante este tempo ele pode li-

berar ao Senhor a tensão e o estresse de

sessões anteriores que seriam difíceis de

articular. Pode também usar esse dom

pessoal para interceder por seus acon-

selhados segundo a vontade de Deus

(Rm 8:26,27).

Fé, Operação de Milagres eDons de CuraSegundo Hebreus 11:1, “...a fé é a certe-

za de coisas que se esperam, a convicção de

fatos que se não vêem.” Para que os conse-

lheiros sejam eficazes, é necessário que

sejam pessoas de fé. Até mesmo conse-

lheiros seculares precisam ser capazes

de inspirar esperança nas pessoas.

Note o relacionamento entre fé e

esperança. A fé vem da esperança. Uma

das prioridades no início do processo de

aconselhamento é estimular a esperan-

ça nas pessoas. Esperança inspirada pelo

Espírito Santo pode fazer nascer o dom

de fé que permite tanto ao conselheiro

quanto ao aconselhado acreditarem que

a recuperação esperada se tornará reali-

dade.

Em raras ocasiões existe um resulta-

do inesperado divino que vai além da

fé e esperança – o milagre. Lembro-me

de ter recebido, alguns anos atrás, uma

família missionária das Ilhas Salomão.

Certo dia, já bem tarde da noite, quatro

cidadãos bêbados invadiram a casa e

aterrorizaram a família, de todas as ma-

neiras imagináveis, até ao amanhecer.

Em três dias já estavam no Emerge.

O que não sabiam é que, um ano antes

desta tragédia, Deus havia trazido uma

psiquiatra pediátrica cristã da Albânia

comunista para estar naquele local, na-

quela hora, para ajudar os filhos daque-

le casal. O governo comunista não só ha-

via pago as despesas de viagem da fa-

mília dessa psiquiatra, como também os

custos com seu treinamento cristão. Os

filhos daqueles missionários responde-

ram bem à terapia. Hoje ambos servem

ao Senhor.

Coisas como esta não acontecem fre-

quentemente. Por isso as chamamos de

milagres.

Além disso, o Espírito Santo distri-

bui dons de cura para nossos aconselha-

dos. Embora tenhamos, como conse-

lheiros cristãos, uma parte no processo

de trazer cura às pessoas, devemos re-

conhecer que o dom da cura concedida

aos nossos aconselhados vem do Espí-

rito Santo – e não de nós.

O aconselhamento cristocêntrico re-

quer mais que cristãos devotos bem trei-

nados nos campos de aconselhamento

profissional. É a infusão da presença de

Cristo e do Espírito Santo no processo

de aconselhamento que faz um aconse-

lhamento cristocêntrico.

Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico:O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

Page 14: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

14 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 201014 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Page 15: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 15

O fato de que os pastores gas-

tam um bom tempo acon-

selhando é comprovado.

Apesar de um número cres-

cente de sistemas de saúde mental (psi-

cólogos cristãos, conselheiros, especia-

listas em relações humanas, personnal

coach", etc.), a maioria das pessoas ainda

vêem em seu pastor a primeira opção

para um aconselhamento e cuidado da

alma. A razão para isso é fácil de se en-

tender. O acesso natural dos pastores à

vida das pessoas através das pregações,

nascimento de filhos, desenvolvimen-

to infantil, adolescência, formatura, noi-

vado, casamento, novo casamento, cri-

ses, cerimônias, visitas hospitalares,

morte e serviços fúnebres fazem do pas-

tor a primeira opção óbvia em tempos

difíceis.

O pastor está em posição única para

oferecer cuidados abrangentes da alma

porque ele está atento semanalmente

(senão diariamente) ao membro. Dife-

rentemente da maioria dos terapeutas,

o pastor alimenta o rebanho com comi-

da espiritual e cuida para que o mesmo

esteja protegido das astutas ameaças

espirituais.

De diversas maneiras o pastor-pro-

fessor cuida do rebanho a longo prazo,

geralmente do seu nascimento à morte.

Como fundador do ministério EMER-

GE, o Dr. Richard D. Dobbins afirma:

“O pastor está em uma posição única parainfluenciar a horrível imagem negativa que umapessoa tem de Deus, as ideias distorcidas, oshábitos destrutivos e lembranças dolorosas dopassado”.

De um modo geral as pessoas confi-

am a seus pastores o cuidado de suas

almas. Os problemas apresentados ao

pastor não são diferentes dos apresen-

tados a um conselheiro profissional. Pre-

paração pré-nupcial, problemas matri-

moniais, relacionamento pai e filho, an-

siedade, culpa, depressão, vocação, pro-

blemas sexuais, vícios (incluindo porno-

grafia) e questões de fé estão no topo da

lista das principais preocupações.

Enquanto que igrejas maiores têm

mais pastores preparados e disponíveis

para prestar este tipo de serviço, em sua

maioria, o pastor típico da Assembleia

de Deus oferece aconselhamento den-

tre suas muitas responsabilidades. Mas

como o pastor fornece conselhos cris-

tãos eficazes?

O Que É AconselhamentoCristão Competente?Não demora muito para as pessoas des-

cobrirem que após a sua conversão elas

continuam lutando contra os maus há-

bitos de antes da conversão. Infelizmen-

te, problemas pós-conversão geralmen-

te levam os fiéis a duvidarem da sua sal-

vação.

Um cristão ainda carrega influênci-

as de seu histórico familiar, experiênci-

as de família e uma vida de escolhas.

Muito de sua história está enraizada na

estrutura de seus hábitos.

Todos têm, afinal de contas, uma

história que inclui o bem, o mau e o feio.

Tragédias e depressão são situações que

levam os membros da igreja a questio-

narem o amor e o cuidado de Deus.

Com frequência procuram o pastor em

busca de reafirmação, resgate e recupe-

ração.

O aconselhamento cristão compe-

tente exige que passemos além do sim-

ples gerenciamento de pecados ou mu-

dança de comportamento. O aconselha-

mento cristão competente deve ofere-

cer uma direção e meios para que se ini-

cie um programa de desenvolvimento

CompetenteO Conselheiro Cristão

Quais são as competências e qualidades essenciaisde um conselheiro pastoral eficaz?

Por DONALD A. LICHI

Page 16: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

16 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

espiritual intencional e consciente onde

o amor de Cristo venha antes de qual-

quer coisa. O efeito será o tipo de for-

mação espiritual no aconselhado ao lon-

go do tempo onde se desenvolve cará-

ter, mente e hábitos

santos com-

patíveis

com a

vida

de

Cristo.

Em suma, Deus

abençoou a igreja com diversos minis-

térios (apóstolos, profetas, evangelistas

e pastores-mestres) com o propósito de

completar e aperfeiçoar os santos, para

o trabalho do ministério.

Concordo com o Dr. Gary Collins,

pioneiro e líder na área de saúde men-

tal cristã, que oferece a seguinte defini-

ção de aconselhamento cristão: “A tenta-tiva de definir ou descrever o aconselhamentocristão tende a enfatizar a pessoa que acon-selha, as técnicas ou habilidades que são pra-ticadas e as metas a serem alcançadas com oaconselhamento. A partir dessa perspectiva oconselheiro cristão é:

• Um servo de Jesus Cristo profunda-mente comprometido, guiado pelo e cheio doEspírito Santo.

• Aquele que usa seus dons, habilida-des, treinamento, conhecimento e ideias da-

dos por Deus.• Aquele que ajuda os outros a alcan-

çarem inteireza pessoal, competência nos re-lacionamentos interpessoais, estabilidademental e maturidade espiritual.”

Gerard Egan afirma: “Conselheiros sãoeficazes na medida em que seus clientes, atra-vés da interação conselheiro-cliente, estão emmelhor condição de gerenciar suas situaçõesproblemáticas e/ou desenvolver suas ferra-mentas e oportunidades ociosas de maneiramais eficaz.”

O aconselhamento cristão compe-

tente auxilia no diagnostico de proble-

mas, determinando expectativas, defi-

nindo pontos fortes e desenvolvendo es-

tratégias de tratamento que permitem

o aconselhado a melhor atingir seu po-

tencial no Reino. Abordaremos esses as-

pectos mais detalhadamente abaixo.

O Propósito doAconselhamento CristãoPara que propósito Deus presenteou a

igreja com o pastor (do qual aconselhar

é uma função principal)? A resposta está

em Efésios 4:12 onde encontramos a fra-

se “... para o aperfeiçoamento dos santos.”

Aqui é usado o termo katartismon que

não é encontrado em nenhum outro lu-

gar do NT, apesar de verbos similares

serem encontrados em outros versos (Mt

4:21, “consertando alguma coisa”;

Hebreus 11:3, “trazendo o universo no iní-

cio à sua forma e ordem desejada.”; e

Gálatas 6:1, “restaurar a vida espiritual

de uma pessoa que caiu”).

Lembre-se que, a missão evange-

lística da igreja á apresentar Cristo aos

perdidos enquanto a que missão pasto-

ral (a qual inclui o aconselhamento) aju-

da os crentes a alcançar o seu potencial

no Reino. A boa nova é que Cristo pode

salvar o pecador e transformá-lo a ima-

gem de Cristo. O Espírito de Deus tra-

balha para transformar a pessoa por in-

teiro. Ele cura o corpo, a mente, as emo-

ções, os relacionamentos e a nossa ca-

minhada com Jesus Cristo. Encorajar o

aconselhado a colocar sua confiança em

Cristo é um privilegio maravilhoso e res-

ponsabilidade do pastor.

Idealmente, a pessoa que procura

ajuda pastoral amadurece e adquire uma

condição de aptidão para o exercício das

suas funções no Corpo de Cristo. Em

outras palavras, a cura de uma pessoa

nunca favorece somente a ele. Mais do

que isso, Deus traz cura para a vida de

uma pessoa para o bem de outros tam-

bém.

O Planejamento e oProcesso doAconselhamento CristãoCompetentePara muitos pastores, a ideia de aconse-

lhar tem um certo glamour. Afinal de

contas, as pessoas procuram sua sabe-

doria e direção para as complexas ques-

tões da vida. No livro BUILDING YOUR

CHURCH THROUGH COUNSEL AND CARE

(CONSTRUINDO SUA IGREJA ATRAVÉS DE

ACONSELHAMENTO E CUIDADO), Randy

Alcorn escreve que, “Para quem vê de lon-ge, aconselhar é muito bonito – parece miste-rioso, estimulante e desafiador. Mas de pertose vê as imperfeições.” Sendo o aconse-

lhamento difícil, cansativo e algumas

vezes frustrante, é fácil perder o senso

de glamour. ... Eu considerava o

aconselhamento como apenas uma das

fases do ministério pastoral. Agora eu sei

que isso pode facilmente sobrepor não

O Espírito de Deus trabalha paratransformar a pessoa por inteiro.

O Conselheiro Cristão Competente

Page 17: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 17

somente seu ministério como também

sua vida inteira. É como o camelo pro-

verbial que enfia o nariz na tenda e, uma

vez dado esta liberdade, continua enfi-

ando os ombros e as patas dianteiras,

empurrando até que não haja mais es-

paço na tenda.

Eu aconselho pastores a não gastar

mais do que 4 a 6 horas por semana em

sua tarefa de aconselhamento. Também

sugiro que limitem a duração de acon-

selhamento individual para 3 a 5 ses-

sões. Se o problema não estiver basica-

mente resolvido neste período, pode ser

a hora de encaminhar.

Não subestime os efeitos de seus ser-

mões no aconselhado para tratar de suas

dúvidas corriqueiras. Lembre-se, acon-

selhamento individual pode consumir

o seu tempo. O aconselhamento é so-

mente uma dentre várias responsabili-

dades que você tem.

Para manter as expectativas realis-

tas, escreva um documento com alguns

princípios básicos que você usará no

aconselhamento.

Uma vez explicadas as expectativas,

o pastor deve estruturar a relação do

aconselhamento. Aqui está uma breve

amostra da estrutura que eu costumo

utilizar no inicio de uma relação de

aconselhamento:

O processo de aconselhamento con-

siste em três partes: a sua parte, a minha

parte e as coisas nas quais iremos traba-

lhar juntos.

• A sua parte é discutir aberta e

honestamente as suas preocupações.

• A minha parte é ouvir e tentar

entender. É por isso que faço pergun-

tas e anotações durante a sessão de

aconselhamento.

• A terceira parte é uma respon-

sabilidade compartilhada e inclui sigilo,

tomada de decisão e aprendizado. Sigi-

lo significa que eu não irei compartilha-

rei com outras pessoas as coisas que con-

versamos na terapia. (Nota: as exceções

a esta regra incluem: risco de suicídio,

homicídio e abuso ou maus tratos infan-

tis.) Trabalharemos diligentemente jun-

tos para tomar decisões, mas a respon-

sabilidade pelas decisões é sua. Final-

mente, é meu desejo que você aprenda

uma série de coisas nas sessões de

aconselhamento que poderá aplicar em

outras áreas de sua vida.

Após estabelecer a estrutura, uma

boa maneira de iniciar o processo de

aconselhamento é perguntar: “Porque

você está aqui?”; “Como posso serví-

lo?”; “O que lhe trouxe aqui?” Eu per-

mito o aconselhado a dar uma breve ex-

plicação de suas preocupações. Em se-

guida, uso uma abordagem focada na

solução e peço ao aconselhado para ima-

ginar qual seria o resultado se ele pu-

desse solucionar o problema. Curiosa-

mente, as pessoas geralmente não pen-

sam em soluções ou situações preferi-

das quando focam somente seu proble-

ma.

Em seguida vem o planejamento das

metas. Eu oriento o aconselhado a de-

senvolver metas claras e gerenciáveis

que levem a solução do problema e to-

mada de decisão. Juntamente com o es-

tabelecimento das metas, trabalho com

o aconselhado para restaurar intencio-

nalmente uma saúde equilibrada do

corpo, mente, emoções, relacionamen-

tos e especialmente em sua caminhada

pessoal com Jesus Cristo. Portanto, é

comum que no início de cada sessão

subsequente eu faça perguntas sobre

estas cinco dimensões: física (alimenta-

ção, sono, exercício e descanso), inte-

lectual (pensamentos, anotações em for-

ma de diário, obsessões, leitura), emo-

cional (humor, energia), social (relacio-

namentos mais importantes, vida no tra-

balho, vida em casa e amizades) e espi-

ritual (vida devocional, oração, leitura

O Conselheiro Cristão Competente

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 17

Page 18: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

18 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

bíblica, disciplinas espirituais). Tam-

bém trabalho com o aconselhado para

desenvolver metas mensuráveis em

cada um desses cinco aspectos.

Lembre o aconselhado que a força

de vontade é uma parte essencial do

aconselhamento, mas é insuficiente para

lidar com hábitos de pecado que estão

enraizados. A vontade humana nunca

pode suprir o que a graça de Deus pode.

Viver e andar nos caminhos de Deus,

da graça disciplinada, produz em nós

uma disposição a agir e fazer a Sua von-

tade (Fp 2:13).

Ao final de cada sessão, dê uma li-

ção para casa. Isso demonstra que você

espera que ele assu-

ma responsabilidade

no processo de acon-

selhamento. A lição

de casa é um voto de

confiança de que ele

pode fazer mudanças

saudáveis em sua vida com a ajuda de

Deus.

Saúde equilibrada, ao longo do tem-

po, reverte muitas das consequências

dos hábitos não saudáveis e constrói uma

estrutura de hábitos bíblicos na vida do

aconselhado.

A sessão de aconselhamento termi-

na com uma oração que pede ao Espíri-

to Santo de Deus que lembre, auxilie,

conforte, convença e desafie o aconse-

lhado. A oração também proporciona a

oportunidade de resumir os pontos im-

portantes da sessão de aconselhamento.

A Dor do AconselhamentoCristão CompetenteO aconselhamento cristão competente

é arriscado. Algumas vezes é doloroso.

O desapontamento principal que os pas-

tores enfrentam é quando as pessoas

começam a fazer algum progresso e de-

pois começam a falhar, voltam atrás ou

simplesmente rejeitam o trabalho que

foi feito.

O apóstolo Paulo sentiu algo similar

após dedicar sua vida e coração às igre-

jas dos Gálatas e descobrir que eles ha-

viam rejeitado a verdade simples da sal-

vação pela fé em Cristo Jesus. Ele so-

freu ao testemunhar membros da igreja

retroceder e voltar para os “rudimentos

fracos e pobres.” de suas vidas passadas

(Gl 4:8,9). Ele comparou sua dor com

“dores de parto até Cristo ser formado em

você.” (Gl 4:19). Talvez você tenha sen-

tido o mesmo, tendo doado seu coração

no aconselhamento de alguém em sua

congregação e em seguida vê-lo rejeitar

a sabedoria divina e retroceder a sua for-

ma de vida antiga. Descanse, certo da

verdade da palavra de Deus e de Seus

caminhos.

Continue encorajando, rogando, avi-

sando, admoestando e expondo ao acon-

selhado as previsíveis consequências de

suas escolhas.

Deixe-o avisado de que se continu-

ar alimentando o “velho eu”, isso o le-

vará a uma quebra de relacionamento

com Deus e terá outras consequências

negativas (ver Gl 5:16ss). Por outro lado,

se o aconselhado sabiamente se subme-

ter a palavra de Deus e caminhar com o

Espírito Santo, sua vida irá produzir o

fruto do Espírito (Gl 5:22ss).

Avaliando oAconselhamento CristãoCompetentePara avaliar um aconselhamento Cris-

tão competente o pastor precisa verifi-

DONALD A. LICHI,Ph.D.Psicólogo evice-presidente doEmerge Ministries,Inc.,em Akron, Ohio (EUA).

car se o aconselhado alcançou os resul-

tados esperados. É importante verificar

o que você esperava. O que funcionou

e o que não funcionou? O aconselhado

progrediu na obtenção de seus objeti-

vos? Você percebe os efeitos de uma

vida transformada e o desenvolvimen-

to de novos e bons hábitos? Você per-

cebe o fruto do Espírito na vida do acon-

selhado (Gl 5:16-26)? Você vê o acon-

selhado tomando decisões que negam

o antigo “eu” e reforçam o novo? Ele

evita a imoralidade, o egocentrismo e

os vícios? Ele desenvolve afeição pelos

outros, prazer em viver e serenidade?

Existe o desejo de perseverar nas as coi-

sas de Deus? Existe

compaixão em seu co-

ração? Resumindo, o

aconselhado ama as

coisas que Deus ama

e rejeita as coisas que

Deus rejeita? Ele se

entristece com as coisas que entristecem

o Espírito Santo?

Por causa da sua dependência no

Santo Espírito, o pastor deve esperar

progresso sobrenatural em situações di-

fíceis no aconselhamento.

O aconselhamento Cristão compe-

tente depende do Espírito Santo para

dar poder, conforto e discernimento. O

pastor é um canal importante através do

qual o Espírito Santo ministra efetiva-

mente às antigas feridas do aconselha-

do, provê capacitação para as lutas da

vida atual e oferece esperança para um

futuro glorioso.

A vontade humana nunca podesuprir o que a graça de Deus pode.

O Conselheiro Cristão Competente

Page 19: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 19

De todas as necessidades

trazidas ao pastor, poucas são

tão complexas e difíceis de li

dar quanto aquelas de doenças

e dores crônicas. Doença crônica e dor crônica

(DC/DC) tem um impacto tremendo na qua-

lidade de vida de um indivíduo. Só de saber

que provavelmente terão que viver a vida toda

(salvo um milagre de cura) lidando com a des-

truição da doença ou da dor é um fardo enor-

me de se carregar. Portanto, a cosmovisão da-

queles com DC/DC, até mesmo a do crente

cheio do Espírito Santo, é bastante diferente

daquela de uma pessoa saudável. Aqueles com

DC/DC pertencem a uma população sui-

generis que os coloca à parte da maioria das

outras pessoas.

As duas pragas – DC/DC – existem em

proporções epidêmicas nos Estados Unidos.

De acordo com os Centers for Disease Control

(Centro de Controle de Doenças) e o National

Center for Chronic Disease Prevention and

Health Promotion (Centro de Prevenção de

Doenças Crônicas e Promoção da Saúde), o

número de indivíduos que sofrem com doen-

ças crônicas varia entre 54 milhões (1 em cada

5 americanos) e 90 milhões (1 em cada 3 ame-

ricanos). A doença crônica é definida como

qualquer incapacidade física, psiquiátrica ou

cognitiva que interfira significantemente no

dia-a-dia do indivíduo. Portanto, doença crô-

nica engloba um grande número de doenças,

incluindo: doenças cardíacas, diabetes,

esclerose múltipla, distrofia muscular, mal de

Parkinson, cegueira, lesões cerebrais traumá-

ticas, malformações congênitas e um grande

número de doenças mentais.

De acordo com a American Chronic Pain

Association (Associação Americana para Dor

Crônica), aproximadamente 50 milhões de

americanos vivem com dor crônica. A dor crô-

nica é definida como desconforto físico contí-

nuo suficientemente severo para interferir nas

atividades normais da vida de um indivíduo.

Pode incluir: lesões da coluna, artrite reuma-

tóide, neuropatia, câncer, distúrbios gastro-in-

testinais e enxaqueca. Dois terços desses 50

milhões convivem com dor crônica há mais

de 5 anos. Uma vez que nossa percepção de

tempo é relativa, imagine a “eternidade” que

5 anos de dor podem parecer.

Uma Abordagem de AconselhamentoPastoral para Aqueles com Dores e

Doenças Crônicas

Os Grandes Desafios do Cuidado Pastoral / DOUG WIEGAND

A dor crônicaaumenta otormentodaqueles queconvivem comdoença crônica.

DOUG WIEGAND, Ph.D.Conselheiro profissional em Pittsburgh, Pennsylvania (EUA).

Page 20: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

20 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Muitos que sofrem de DC/DC têm receio

de discutir seus problemas com qualquer pes-

soa. O medo de não ser compreendido, a ver-

gonha e sentimentos de fracasso são as razões

mais comuns para não procurarem ajuda. Po-

rém, um pastor compassivo, disposto a lidar

com os problemas esmagadores encarados por

alguém que sofre de DC/DC, tem uma opor-

tunidade única de ministrar esperança ao de-

sesperado.

A dor crônica aumenta o tormento daque-

les que convivem com doença crônica. Inde-

pendentemente de ser moderada ou mesmo

agonizante, a dor constante pode desgastar até

o cristão mais fiel.

A citação a seguir, de um de meus clien-

tes, demonstra o quão difícil é conviver com

neuropatia crônica: “Às vezes, acho que não vouaguentar. Dia após dia a dor me desgasta. Está sem-pre lá. Me dilacera. Alguns dias são piores que ou-tros, mas está sempre lá. Às vezes, é uma dor monó-tona latejante, como uma dor de dente. Aí, digo amim mesmo: Não está tão ruim. Você aguenta. Masa qualquer momento aquela dor piora sem aviso pré-vio e sinto uma pontada, como uma navalha afiada,me cortar. Eu tento não gritar, mas às vezes suspirosurpreso e agarro minha perna. A expressão de tris-teza da minha esposa é pior que a dor.” (TRUCKDOWN BUT NOT DESTROYED!: A CHRISTIAN

RESPONSE TO CHRONIC ILLNESS AND PAIN.)

Baseado nas estatísticas da citação acima,

as chances são grandes de que você seja cha-

mado para cuidar de um indivíduo com DC/

DC. A doença crônica dessa pessoa pode ter

limitado severamente sua mobilidade. Talvez

a dor crônica tenha tirado a capacidade para

trabalhar. Quando você enfrentar problemas

difíceis ao ajudar um membro da igreja com

DC/DC, certamente precisará da sabedoria do

Espírito Santo para ser eficaz.

É difícil para aqueles que são relativamente

saudáveis entenderem as experiências de vida

daqueles que sofrem de DC/DC.

Existe um padrão de atitudes, crenças e

comportamentos comuns aos doentes crôni-

cos ou aos que sofrem de dor crônica. A com-

preensão desses temas ajudará o pastor a es-

tar mais bem preparado para o aconselha-

mento.

A angústia de tentar suportar a dor inces-

sante é prejudicial ao ser humano. Dividi a

personalidade humana em três dimensões

fundamentais que são negativamente impac-

tadas por DC/DC: espiritual, relacional e emo-

cional.

A Dimensão EspiritualA dimensão espiritual contém os esforços e

desejos sobrenaturais da alma humana. Aque-

les com DC/DC frequentemente têm mui-

tas dúvidas sobre a natureza ou até a realida-

de de Deus. É vital, portanto, que logo no

início de um processo de aconselhamento, o

pastor, respeitosamente, procure uma opor-

tunidade para conversar sobre crenças espiri-

tuais e seu relacionamento com Jesus.

À medida que progredir o aconselha-

mento, o pastor terá preparado o cenário para

apresentar o plano de salvação ou então forta-

lecer a fé do crente.

É somente quando se permite que Jesus

carregue o fardo, que uma pessoa poderá en-

contrar força para suportar a dor ou o sofrimen-

to constante.

Por que?

O pastor conselheiro provavelmente terá que

lidar com os por quês. Especificamente, “Por

que eu preciso sofrer com essa dor e doen-

ça?” Existem muitos outros por quês que se-

rão feitos: “Por que eu não sou curado?”“Por

que um Deus de amor permite dor e sofri-

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Muitos quesofrem de DC/DC

têm receio dediscutir seus

problemas comqualquer pessoa.

Page 21: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 21

mento?” Essas questões estão entre as mais

importantes em todo o cristianismo. Falo de-

talhada-mente sobre elas em meu livro,

STRUCK DOWN BUT NOT DESTROYED!: A

CHRISTIAN RESPONSE TO CHRONIC ILLNESS AND

PAIN (ABATIDOS, PORÉM NÃO DESTRUÍDOS: UMA

RESPOSTA CRISTÃ À DOR E À DOENÇA CRÔNI-

CA).

A seguir estão três explicações bíblicas do

por quê das DC/DC estarem presentes no

mundo:

1. Vivemos em um mundo contami-

nado pelo pecado. O paraíso terreno perfeito

que Deus criou (o Jardim do Éden) foi perdi-

do. Paulo explica que “por um só homem (Adão)

entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte,

assim também a morte passou a todos os homens,

porque todos pecaram.” (Rm 5:12). Todas as

pessoas no mundo (com intensidades diferen-

tes) lidam com doença, dor, envelhecimento

e morte por causa do pecado original de Adão

e Eva.

2. Ter DC/DC não é uma indicação

da punição de Deus por causa de seu pecado

individual. Como afirma Paulo na carta à Igreja

em Roma, “pois todos pecaram e carecem da gló-

ria de Deus.” (Rm 3:23). Se DC/DC fosse pu-

nição por pecado individual, então todos teri-

am a mesma oportunidade de serem acome-

tidos dessas enfermidades.

A Bíblia descreve circunstâncias em

que o pecado de uma pessoa levou à sua do-

ença. Mas é essencial que essa possibilidade

seja considerada apenas após muita oração e

confirmação do Espírito Santo. Amigos de Jó

podem causar um grande estrago em indiví-

duos com DC/DC que já se encontram isola-

dos.

3. Deus pode permitir que soframos

para trazer benefícios e crescimento espiritu-

ais. De acordo com o salmista, “Foi-me bom ter

eu passado pela aflição, para que aprendesse os

teus decretos.” (Sl 119:71). É muito comum pro-

curarmos o Senhor com sinceridade e fé ape-

nas quando sofremos com um problema e não

temos outra saída.

Quando se aconselha aqueles com DC/

DC, é importante enfatizar que Jesus enten-

de a sua dor e se compadece do seu sofrimen-

to. Ele conheceu toda sorte de sofrimento fí-

sico, emocional e espiritual. O profeta Isaías

O Que Fazer:

1.Estabelecer um relacionamen-to atencioso.

2. Ouvir. Ouvir. Ouvir.

3. Perguntar sobre a dor e a do-ença.

4. Aprender sobre a doença.

5.Encorajá-los a se aconselha-rem com você ou com outrapessoa.

6. Confiar no Espírito Santo paraguiá-lo.

7. Estar alerta para qualquer si-nal de depressão ou pensa-mento suicida.

8. Orar regularmente com eles.

9. Ser flexível e paciente.

10. Estar ciente das necessida- des do cônjuge e filhos.

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

O Que Fazer e o Que

Não Fazer Quando

Aconselhando Pessoas com

Doenças Crônicas e Dor

O Que Não Fazer:

1. Ficar com medo da pessoa.

2. Oferecer chavões superficiais.

3. Ser paternalista.

4. Ficar frustrado e se afastar.

5. Perder o senso de humor.

6. Presumir que conhece o pla-no de Deus para o futuro do so-fredor.

7. Orar somente pela cura. Deve--se orar também para que te-nham forças para perseverar.

8. Esquecer que você pode con-sultar outros profissionais.

9. Esquecer o isolamento daque-les com DC/DC.

10. Esquecer que Deus está com você enquanto você aconse- lha.

DOUG WIEGAND, Ph.D.Conselheiro profissional em Pittsburgh, Pennsylvania (EUA)

Page 22: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

22 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

descreveu Jesus como “homem de dores e que

sabe o que é padecer.” (Is 53:3). Apesar dos sen-

timentos de alienação e solidão que tem a pes-

soa com DC/DC, existe conforto no conheci-

mento de que Jesus “tomou sobre si as nossas

enfermidades e as nossas dores levou sobre si.” (Is

53:4). Jesus está juntamente com a vítima de

DC/DC durante toda sua jornada para ame-

nizar o sofrimento.

Sentimentos de incapacidade e

baixa auto-estima

Quando uma pessoa com DC/DC tenta se

ajustar à vida com grandes limitações, é típico

que sua auto-estima sofra. Vivemos em uma

sociedade que dá alto valor ao sucesso e às

realizações. Nosso senso de valor é geralmen-

te vinculado ao nosso trabalho ou aos nossos

bens. Pessoas que se encontram limitadas a

uma cadeira de rodas ou que necessitam de

um cão guia, não possuem mais a mesma ca-

pacidade de produzir ou competir com uma

pessoa saudável. Portanto, não fazem mais par-

te do grupo.

É importante que o pastor conselheiro lem-

bre a pessoa com DC/DC de que existe um

sistema de valores falso neste mundo. As pes-

soas precisam ser encorajadas ao aprenderem

que seu valor para Deus é incondicional e não

baseado em sua capacidade de produzir.

Os cristãos precisam ser fortalecidos pelo

conhecimento de que nosso valor intrínseco

é baseado em dois fatores. Primeiro, “Criou

Deus, pois, o homem à sua imagem.” (Gn 1:27).

Segundo, “O próprio Espírito testifica com o nosso

espírito que somos filhos de Deus.” (Rm 8:16).

Cada cristão é uma parte única e essencial do

corpo de Cristo, independentemente de

suas limitações.

A doença ou a dor não diminui a impor-

tância do papel que representamos no plano

de Deus.

A Dimensão Relacional

Afastamento

Existe uma forte tendência para aqueles com

DC/DC de se afastar de amigos, vizinhos, co-

legas de trabalho, membros da igreja e famí-

lia. Também se afastam das atividades nas

quais estavam regularmente envolvidos, in-

cluindo a igreja. Os pastores precisam ter cui-

dado para não se ofenderem ou reagirem

exageradamente às suas ausências. Embora

se isolem como mecanismo de proteção, isso

apenas piora seus sentimentos de alienação e

solidão.

O afastamento de uma pessoa com fre-

quência provoca danos severos ao relaciona-

mento com o cônjuge. De acordo com uma

pesquisa recente da National Health Inter-

view, a taxa de divórcio para casamentos onde

um dos parceiros tenha DC/DC é maior que

75%. Assim, o cônjuge é também uma vítima

de DC/DC. O pastor que aconselha casais com

DC/DC precisa considerar a necessidade de

aconselhamento conjugal e familiar (depen-

dendo da idade dos filhos) juntamente com

as sessões individuais.

Hipersensibilidade

Uma pessoa com DC/DC é hipersensível a

qualquer indício de desaprovação ou condes-

cendência. Por exemplo, poucas palavras irão

afastá-los tão rapidamente quanto: “Sei exa-

tamente o que você está passando.” Mesmo

dita pelo pastor mais amável, essa frase pene-

tra como uma facada na pessoa com DC/DC.

O que foi dito com intenção de ser uma pala-

vra de conforto e empatia acaba sendo recebi-

do como um chavão superficial. Para uma pes-

O conselheiropastoral terá

que lidar comos “por quês”

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Page 23: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 23

soa sensível demais que sofre de DC/DC,

serve apenas para afastá-la ainda mais das pes-

soas normais. Porém, o pastor conselheiro com

maturidade espiritual pode agir com a com-

paixão de Jesus. Ele pode ser a ponte que

religa o isolamento causado pela pessoa hi-

persensível. O pastor pode demonstrar o amor

e a aceitação de Deus. O salmista Davi se ale-

grou no amor eterno de Deus pelos Seus fi-

lhos nessas palavras: “Pois a tua misericórdia se

eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nu-

vens.” (Sl 57:10).

A Dimensão Emocional

Depressão e Ansiedade

Em quase todos os casos de DC/DC, a vida

emocional da pessoa é negativamente afeta-

da. Com o passar do tempo, ela perde pro-

gressivamente a capacidade de lidar com o

estresse. Estima-se que 25% daqueles com

DC/DC tem os critérios clínicos para depres-

são crônica (distimia). A maioria das pessoas

com depressão também sofrem de alguma for-

ma de ansiedade. Juntas, essas doenças rou-

bam dessas pessoas recursos espirituais, ener-

gia emocional e foco intelectual necessários

para combater sua dor e doença.

Pessoas com depressão crônica (distimia)

passam pela vida em câmera lenta. Suas rea-

ções emocionais estão comprometidas e uma

nuvem de pessimismo paira sobre suas cabe-

ças. Até mesmo as atividades mais básicas pa-

recem estar além de sua capacidade. Nada traz

alegria e elas se sentem sem esperança.

Agora acrescente os sintomas de ansieda-

de à distimia. Ansiedade faz com que as pes-

soas se sintam nervosas e não se sintam à von-

tade. Preocupam-se com tudo. Suas mentes

correm de um pensamento negativo para ou-

tro. Podem até sofrer um ataque de ansieda-

Quando seaconselha aquelescom DC/DC, éimportanteenfatizar que Jesusentende a sua dore se compadece doseu sofrimento.

de causando taquicardia e tremores de mãos,

consequência da adrenalina que corre pelas

suas veias.

Para combater a depressão e a ansiedade,

o pastor deve ajudar essas pessoas a compre-

enderem que a depressão e ansiedade são re-

ações comuns aos problemas de saúde pelos

quais estão passando. O pastor deve lembrá-

las de que Deus é sua força e esperança sem-

pre presentes em tempos de angústia. O

salmista escreveu, “Bendito seja o Senhor que,

dia a dia, leva o nosso fardo!” (Sl 68:19).

Transtorno de Ajustamento

Essa categoria de sintomas se refere à confu-

são e inatividade que inundam aqueles que

sofrem de DC/DC. Sentindo-se esmagadas

em dúvida, congelam e não fazem nada. Os

que sofrem tornam-se passivos e incapazes

de ajudar na própria recuperação.

Tipicamente, o transtorno de ajustamen-

to ocorre durante o estágio inicial da doença

ou da lesão, logo que se vêem obrigadas a

encarar suas limitações e mudanças no modo

de vida. É importante que o pastor contate o

membro de sua congregação assim que sou-

ber da doença ou do acidente. Nesse estágio

inicial, um alicerce poderá ser estabelecido, o

qual ajudará a acelerar o processo de ajuste à

condição. Quando o transtorno de ajustamen-

to torna-se um estilo de vida de longo prazo é

muito mais difícil ajudá-los.

Conclusão

Está claro que os problemas relacionados à

DC/DC são numerosos e complexos. Apesar

das dificuldades, se o Espírito Santo o capaci-

tou com a habilidade e a compaixão de acon-

selhar, eu o desafio aqui a alcançar os que

estão isolados e que sofrem de DC/DC.

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Page 24: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

24 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Uma boa saúde é um presente

precioso de Deus. Quando al-

guma doença ou ferimento

ameaça nossa saúde, rapida-

mente procuramos restabelecê-la.

No mundo da medicina, existem várias

abordagens para cura: medicina convencio-

nal, complementar, e alternativa.

Pastores podem se beneficiar com pesqui-

sas de várias abordagens para cura e suas pos-

síveis implicações espirituais quando procu-

rarem manter sua própria saúde enquanto su-

prem as necessidades dos membros da igreja

que precisam de cura.

Medicina Convencional:

Pontos fortes e fracos

A forma dominante de medicina praticada nos

Estados Unidos e em outras nações ociden-

tais é chamada de medicina convencional.

Aqueles que são licenciados para praticar a me-

dicina convencional são médicos, enfermeiras

registradas, e outros profissionais da área de

saúde como, terapeutas, nutricionistas, e psi-

cólogos.

Outro nome para medicina convencional

é medicina alopática, criada por Dr. Samuel

Hahnemann no século XVIII. O termo alopatia

é derivado do grego allo que significa outro e é

baseado na teoria de que sintomas devem ser

tratados por substâncias que suprimem sinto-

mas. Hahnemann então fundou homeo-

patia, um sistema de medicina alternativa ba-

seado na teoria de que semelhante cura se-

melhante.

O foco no tratamento de sintomas e o diag-

nóstico preciso de sua causa é um dos maiores

pontos fortes da medicina convencional.

Os testes de diagnósticos usados na medi-

cina convencional – raios X, tomografia

computadorizada, EEC, ECG, e vários outros

testes sanguíneos – podem revelar a presença

de uma doença antes mesmo que o paciente

comece a apresentar sintomas. Estes testes de

diagnósticos podem salvar vidas.

A medicina convencional também têm de-

senvolvido armas poderosas contra doenças in-

fecciosas, como, antibióticos e vacinas. Exce-

lentes ferramentas para ajudar a recuperação

de uma vítima de acidentes também se inclu-

em em medicina convencional – técnicas para

fixação óssea, prevenção de hemorragias, e ci-

rurgia plástica que recupera a aparência física

de uma pessoa.

Ainda, a abordagem que faz da medicina

Ministério&Ética Médica / CHRISTINA M. H. POWEL

Abordagem Convencional,Complementar e Alternativa para Cura

Medicinaconvencional

tende se focarmais em curar

doenças do queem manter a

saúde.

CHRISTINA M.H. POWEL, Ph.D., ministra norte-americana ordenada e cientista de pesquisas

médicas, prega em igrejas e conferências em todos os EUA. Ela é pesquisadora na Escola de

Medicina de Harvard e no Hospital Geral de Massachussets, assim como fundadora do

Life Impact Ministries.

Page 25: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 25

convencional um sucesso no tratamento de

doenças baseadas em patógenos, desequilíbrio

químico e lesão aguda pode ser um ponto fra-

co no tratamento de muitas doenças crônicas

como artrite, fibromialgia, e mal de Alzheimer.

Em geral, a medicina convencional foca-

se mais em curar doenças e menos em man-

ter a saúde. As principais ferramentas desse

tipo de medicina são drogas, cirurgias, e radia-

ção.

Medicina convencional tende a se focar

em partes individuais que não estão funcio-

nando ao contrário de focar a pessoa como um

todo.

Em contraste, medicina alternativa se foca

mais em previnir doenças e manter a saúde

através de mudanças de hábitos, como a die-

ta, exercícios, e o uso de suplementos nutri-

cionais.

Medicina Alternativa:Capacidade e CautelaMedicina alternativa é uma abordagem para

a cura usada no lugar de medicina conven-

cional.

A medicina complementar, por outro lado,

é usada juntamente com a medicina conven-

cional. Por exemplo, se uma dieta especial é

usada no tratamento de câncer no lugar de

uma cirurgia recomendada por um médico

convencional, a dieta pode servir como uma

terapia alternativa. Porém, se uma dieta espe-

cial foi usada para combater colesterol alto em

um paciente com doença de coração, além da

cirurgia de revascularização, a dieta pode vir a

ser como uma terapia complementar.

Uma vez que a mesma terapia pode servir

tanto como complementar ou alternativa, as

outras terapias fora da medicina convencional

são geralmente agrupadas sob o termo terapi-

as MCA (medicina complementar e alterna-

tiva).

A National Center for Complementary and

Alternative Medicine, do National Institute

of Health, classifica terapias MCA em 5 ca-

tegorias:

a) Sistema médico alternativo

b) Intervenção corpo/mente

c) Terapias com bases biológicas

d) Métodos baseados em manipulação

corporal

e) Terapias de energia.

Os sistemas médicos alternativos são sis-

temas completos de teoria e prática que se

desenvolveram independentemente da me-

dicina convencional. Homeopatia e naturo-

patia são dois sistemas médicos que se desen-

volveram nas culturas ocidentais, enquanto a

medicina tradicional chinesa e Ayurveda são

exemplos de sistemas médicos desenvolvidos

nas culturas não ocidentais. Ambos sistemas

são baseados em crenças religiosas orientais.

A teoria por trás da medicina chinesa é ba-

seada na filosofia Taoísta e no dualismo yin

yang. Yin representa o princípio frio, lento ou

passivo, enquanto o yang representa o princí-

pio quente, agitado ou ativo.

A saúde tem resultados quando o corpo

possui as forças de yin e yang balanceadas. A

doença acontece devido ao desequilíbrio in-

terno de yin e yang que levam à um bloqueio

do fluxo da energia vital (qi ou chi) pelas vias

do corpo conhecidas como meridianos. Atra-

vés do uso da acupuntura, preparações com

ervas, e massagem, o praticante da medicina

tradicional chinesa tenta restaurar o equilíbrio

entre yin e yang.

Ayurveda significa conhecimento da vida em

Sânscrito. Os princípios da Ayurveda destinam-

se a capacitar uma pessoa a se encarregar de

sua própria vida e cura. A teoria por trás de

Ayurveda é baseadas na Vedas, ou escrituras

Hindus. Assim como a medicina tradicional

chinesa, Ayurveda reconhece energias básicas.

Nesta abordagem para a cura, existem 3

energias básicas que devem estar equilibra-

das:

a) Vata (vento)

b) Pitta (fogo)

c) Kapha (barro ou terra).

Através do uso de ervas, nutrição, proces-

so de limpeza, massagem de acupressura, e

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Os sistemasmédicosalternativos sãosistemascompletos deteoria e práticaque sedesenvolveramindependente-menteda medicinaconvencional.

Page 26: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

26 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

yoga, o praticante da Ayurveda tenta restaurar

o equilíbrio entre as três energias da pessoa.

Os pontos fortes do sistema médico alter-

nativo é a integração da mente, corpo, e espí-

rito que é geralmente deficiente na medicina

convencional.

Para os cristãos, porém, a ligação entre es-

sas abordagens da medicina e antiga religião

oriental é motivo de cautela. As teorias de ener-

gia da vida por trás desses sistemas não possu-

em base científica ou bíblica.

Alguns médicos que rejeitam as teorias

Taoístas de acupuntura, têm desenvolvido

teorias fisiológicas que podem justificar o uso

limitado da acupuntura como analgésico. Em

alguns casos, o motivo da preocupação espiri-

tual é minimizado.

A segunda categoria de teoria MCA é in-

tervenção corpo/mente, onde uma variedade

de técnicas é usada para realçar a capacidade

da mente afetar o corpo. Algumas técnicas

nessa categoria são consideradas parte de uma

terapia convencional, como grupo de suporte

a pacientes. Outras técnicas são também con-

sideradas alternativas, incluindo meditação,

oração, biofeedback, terapias baseadas em arte,

música e dança.

Resultados de pesquisas relacionados com

interação corpo-mente incluem estudos que

revelam a importância de interações sociais,

relacionamentos saudáveis, e o compareci-

mento nos cultos em manter uma saúde am-

bos mental e física. Esses resultados compõem

um material excelente para ilustrações durante

as pregações. Por outro lado, outras terapias

nesta categoria derivam de pensamentos de

Nova Era, por isso deve-se ter cautela.

A terceira categoria de terapias MCA é a

terapia com bases biológicas. Estas terapias

utilizam substâncias encontradas na nature-

za, como produtos à base de ervas, suplemen-

tos minerais e vitamínicos, e antioxidantes de-

rivados de frutas e vegetais.

Ervas são a forma mais antiga de cuidados

com a saúde e são a base de muitas drogas

usadas frequentemente na medicina conven-

cional. Na verdade, aproximadamente 25%

de prescrições médicas dispensadas nos EUA

contém pelo menos um ingrediente derivado

de material sintetizado para imitar um com-

posto de planta natural.

Portanto, medicamentos à base de ervas

podem ser eficazes no tratamento de várias

doenças. Além disso, algumas ervas, assim

como drogas usadas na medicina convencio-

nal, podem causar efeitos colaterais e toxici-

dade em altas doses.

A pureza e a dosagem são pontos impor-

tantes relacionados à medicamentos à base de

ervas. Ervas podem conter uma mistura com-

plexa de ingredientes ativos.

As drogas derivadas de ervas são prepara-

ções puras do componente ativo mais impor-

tante de uma determinada planta. Portanto, é

mais fácil estabelecer corretamente a dose (am-

bos segura e eficaz) de um componente puri-

ficado de uma erva do que a dose correta da

própria erva. Além disso, alguns componen-

tes podem ser tóxicos. A purificação permite

o componente medicinal ser separado de qual-

quer componente tóxico.

Por outro lado, a eficácia de algumas ervas

pode vir de alguns constituintes, fazendo com

que a erva não purificada seja mais eficaz que

um ou dois componentes de uma erva puri-

ficada.

Alguns cuidados devem ser observados

para as terapias com bases biológicas.

1. Natural não significa não tóxico. Al-

guns componentes de plantas, como alcalóides

pirrolizidínicos são carcinogênicos. Por exem-

plo, a erva Confrei, cujas folhas e raízes curam

feridas, segundo herbalistas modernos, tem

esta capacidade derivada de seu componente

alantoína, que promove a proliferação de cé-

lulas. Porém, já que Confrei também contém

alcalóides pirrolizidínicos carcinogênicos, a

alantoína purificada poderia ser uma escolha

mais segura que a própria erva.

2. A erva e os suplementos podem

interagir com drogas comuns e causar efeitos

colaterais sérios. Por exemplo, vegetais ver-

Uma boapesquisa científica

é a chave paradiscernir a

diferença entretratamentos

eficazes etratamentos

inúteis eperigosos

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Page 27: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 27

des folhosos e brócolis, que possuem vitami-

na K, não devem ser consumidos em grande

quantidades enquanto estiver ingerindo

Coumadin, um anticoagulante (afinador de

sangue). Estes vegetais podem causar a inefi-

cácia da droga, resultando na coagulação do

sangue. Assim, é importante informar a seu

médico qualquer planta medicinal ou suple-

mento que você esteja tomando ou qualquer

mudança de dieta que você tenha feito.

A quarta categoria de terapias MCA inclui

métodos baseados em manipulação corporal,

como manipulação osteopática e quiroprática,

e massagem. Estes métodos focam-se em

manter e restaurar a saúde através do alinha-

mento da estrutura do músculo esquelético

para melhorar a função do corpo.

A ênfase está na saúde ao invés de na do-

ença e na restauração da habilidade natural

do corpo de se curar.

Alguns problemas podem acontecer quan-

do esses métodos são usados na tentativa de

tratar doenças além da capacidade comprova-

da. Enquanto a quiroprática pode ser útil para

problemas no músculo esquelético, tenha cau-

tela com afirmações de que ajustes da coluna

podem tratar órgãos doentes e curar infecções.

Além disso, a manipulação da coluna cervical

(pescoço) em raras ocasiões podem causar

AVC pelo fato de rasgar as paredes arteriais.

Por essa razão, a manipulação do pescoço não

deve ser feita em pacientes idosos.

Uma preocupação espiritual relacionada a

terapia quiroprática é o conceito de inteligên-

cia inata exposta pelo fundador da quiroprá-

tica, David Daniel Palmer (1845-1913). Ele

descreveu uma inteligência inata dentro de

nossos corpos que estava conectada a inteli-

gência universal através de nosso sistema ner-

voso.

Esses conceitos espirituais são compatíveis

a visão panteísta e não a verdade bíblica. Po-

rém hoje, existem muitos cristãos que prati-

cam a quiroprática que anularam os conceitos

de Palmer e pensam em inteligência inata sim-

plesmente como uma energia bioelétrica que

flui do cérebro para o resto do corpo através

do sistema nervoso.

A categoria final das terapias de MCA é a

terapia de energia, a qual envolve o uso de

campos energéticos. Existem dois tipos: tera-

pias do biocampo e terapias bioeletromag-

néticas. Enquanto a existência de biocampos

– campos energéticos ao redor e dentro do

corpo humano – não foi cientificamente pro-

vada, terapias como qi gong, Reiki, e toque tera-

pêutico pretendem manipular esses campos

para restaurar e manter a saúde.

Qi gong é baseada no conceito de energia

vital da medicina chinesa e filosofia Taoísta.

Reiki foi desenvolvida pelo Japanese Tendai

Buddhist Mikao Usui que afirmou que obte-

ve conhecimento dessa terapia através de uma

revelação mística.

O ki em Reiki é a pronúncia japonesa da

palavra chinesa qi, a força da vida Taoísta. Uma

enfermeira e professora de enfermagem da

New York University, Dolores Krieger,

Ph.D., enfermeira registrada, seguidora da

Teosofia, criou o toque terapêutico no início

da década de 70. Cristãos fariam bem se evi-

tassem terapias sem fundamentos bíblicos ou

científicos.

As terapias bioeletromagnéticas envolvem

o uso não convencional de campos eletromag-

néticos para tratar uma série de doenças no

músculo esquelético. Estão inclusas nesta ca-

tegoria: shoe insert, knee wrap, e outros tipos de

bandagens que aliviam dores nas juntas e

músculos por causa de ferimentos causados

por esportes.

Existem duas explicações possíveis para a

eficácia da terapia magnética.

– A primeira teoria postula que os ímãs

simulam as finalizações dos nervos na super-

fície da pele liberando substâncias químicas

naturais do corpo chamados endorfina que

funcionam como analgésicos.

– A segunda sustenta que os ímãs pro-

movem a cura através do aumento do fluxo

sanguíneo pela atração dos íons (moléculas car-

regadas com elétrons) presentes no sangue.

Seja cuidadosocom asafirmações queparecem sermuito boas paraser verdadeporque taisafirmaçõesprovavelmentenão são.

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Page 28: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

28 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Medicina Complementar:O Melhor dos Dois Mundos?Possivelmente, uma abordagem para a cura

que faz uso de forças de ambas medicina con-

vencional e medicina alternativa poderia ca-

pacitar uma pessoa a experimentar o melhor

dos dois mundos da medicina.

As formas de medicina alternativa com su-

porte científico poderiam ser usadas para man-

ter a saúde e aumentar a aptidão física, en-

quanto a medicina convencional poderia ser

usada para diagnosticar precisamente e

erradicar uma doença. Alguns cuidados, po-

rém, devem ser observados.

Primeiro, um caminho não convencional

para a cura não é necessariamente o caminho

mais bíblico ou espiritual. Uma boa pesquisa

científica é a chave para discernir a diferença

entre tratamentos eficazes e tratamentos inú-

teis e perigosos.

Os praticantes que assumem uma relação

contraditória com a o estabelecimento médi-

co estão tentando evitar a responsabilidade de

fazer com que sua cura pareça uma revisão

científica e médica.

Infelizmente, os cristãos que possuem uma

visão negativa da ciência como um domínio

dos ateístas podem ser vítimas das abordagens

que usam linguagem espiritual. Porém, de-

vemos ter cuidado para discernir as aborda-

gens bíblicas dos outros conceitos espirituais.

Segundo, seja cuidadoso com as afirma-

ções que parecem ser muito boas para ser ver-

dade porque tais afirmações provavelmente

não são. Curas miraculosas não existem inde-

pendentemente de milagres bíblicos genuí-

nos. Suspeite se um produto ou abordagem

estiver sendo usado como tratamento de uma

variedade de doenças.

Finalmente, um sistema que explica os

processos do corpo usando teorias fora do en-

tendimento médico de anatomia e filosofia

deve ser suspeito. Como cristãos, acreditamos

que a verdade é estabelecida através da Pala-

vra revelada de Deus e através da observação

cuidadosa da criação dEle. Teorias místicas

que não podem ser validadas através de pes-

quisas não devem ser confiadas.

Implicações para CuidadosPastoraisO aumento do interesse pela medicina alter-

nativa, o qual tenta tratar corpo, mente e espí-

rito de um paciente, pode ser visto como a

intensidade da fome espiritual em nossa soci-

edade de alta tecnologia.

O desejo dentro da comunidade médica

em integrar tratamentos para as necessidades

espirituais do paciente assim como as neces-

sidades físicas valida a importância dos cuida-

dos pastorais em um hospital. Estas tendênci-

as podem ser vistas como portas de oportuni-

dades para ministros do evangelho.

O aumento do uso de terapias alternativas

baseadas em filosofias da Nova Era e religiões

antigas significa que os ministros devem estar

preparados para educar seu rebanho em im-

plicações espirituais de tais sistemas de cren-

ças do mesmo modo que podem fornecer

ensinamentos sobre o perigo de rituais. Por

exemplo, o modelo bíblico para a cura grifado

em Tiago 4:14, 15 não deve ser confundido

com a imposição de mãos para equilibrar a

energia vital.

Embora um pastor não esteja em posição

de julgar cientificamente a eficácia de uma

terapia alternativa, ele está em posição de for-

necer insight da importância de usar o discer-

nimento quando procurar cuidados médicos.

Além disso, o pastor é também qualificado para

falar sobre as necessidades espirituais de um

membro que esteja procurando por respostas

espirituais e conforto emocional por causa de

fontes questionáveis.

Minha oração para cada pastor é que eles

possam voltar seus corações ao Médico dos

médicos e proteger o rebanho de danos espi-

rituais disfarçados de cuidados médicos.

Curas miraculosasnão existem

independente-mente de

milagres bíblicosgenuínos.

Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas

Page 29: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 29

Girolamo Savonarola

(1452-98) foi o João Ba-

tista de Deus para a

Reforma. Morreu ape-

nas 19 anos antes de Martinho

Lutero afixar suas 95 teses na porta

da igreja de Wittenberg. O ministé-

rio de Savonarola foi um chamado

ao arrependimento.

Tragicamente, ninguém o reco-

nhece. Por haver, sem medo e com

vigor, repreendido o papa, pedindo

reforma moral nos níveis mais altos,

a Igreja Romana o repudiou. Como

a maioria dos protestantes, ele ama-

va e pregava a Bíblia, mas como pré-

reformista não via claramente a jus-

tificação pela fé somente, então os

historiadores protestantes não sa-

bem o que fazer com ele. Deus o

conhecia; é isso o que importa. Foi

um profeta, ungido com grande po-

der espiritual, um dos líderes espiri-

tuais mais monumentais da história.

Savonarola foi um nome muito

conhecido na Europa do século 16.

Sua MEDITAÇÃO DO SALMO 51, escri-

to durante o período de tortura, foi

um campeão de vendas. Superou o

IMITAÇÃO DE CRISTO, de Thomas à

Kempis, que na época era o mais

vendido na Europa. Sua meditação

ainda era impressa até o ano de 1958.

Suas obras influenciaram Lutero e

muitos outros grandes nomes. Em

sua velhice, Michelângelo, um dos

admiradores de Savonarola, disse

ainda poder ouvir o som da sua voz.

Quem era este homem e porque é

importante para nós nos dias de

hoje?

Nascimento e FormaçãoSavonarola nasceu em Ferrara, Itá-

lia, em 1452. Seu avô piedoso o criou

na disciplina e instrução do Senhor

e, em uma época em que a Bíblia

era ignorada e desprezada, o ensi-

nou a lê-la e a amá-la. Eventualmen-

te, sua paixão pelas Escrituras foi o

segredo de seu grande poder espiri-

tual.

Inspirado pela Palavra de Deus,

Savonarola ansiava pregar.

Como os dominicanos eram de-

dicados à pregação, ingressou nessa

ordem quando ainda jovem. Era um

fracasso em oratória. Seu ensina-

mento era tão ruim que as pessoas

saíam no meio de seu sermão. Co-

meçava com a congregação cheia e

terminava com um punhado de pes-

soas. Para acabar com a angústia e o

constrangimento do jovem, seu su-

perior o transferiu para o Monastério

de San Marco, em Florença. Lá, po-

deria ser útil para alguma outra tare-

fa que não fosse a pregação.

A Renascença, um movimento

intelectual que eventualmente ten-

tou substituir a religião revelada pela

razão humana, estava em pleno

auge. Florença era sua capital.

A cidade era um antro de imora-

lidade sexual, corrupção política e

impiedade. A riqueza e poder domi-

nante da família Médici atraía artis-

tas como Michelângelo, Leonardo

da Vinci e Botticelli para praticar

seus ofícios. Foi nesse ambiente

imoral que Savonarola iniciou seu

grande ministério.

Pregação TransformadaFrustrado com seu fracasso,

Savonarola desistiu da ambição de

tornar-se um pregador. Havia che-

gado ao fim de si mesmo. Era uma

humilhação arquitetada por Deus.

Sem o saber, estava agora prepara-

Girolamo Savonarola

História

Savonarola foi um profeta, ungido com grande poder espiritual,um dos líderes espirituais mais monumentais da História.

P O R W I L L I A M P . F A R L E Y

O Profeta de Florença

Savonarola foi um nome na Europa do séculoXVI. Sua meditação no Salmo 51, escrito duranteo período de tortura, foi um sucesso de venda.

Page 30: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

30 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Deus demonstrou a imensidade de Seu poderatravés de Savonarola.

do para ser usado por Ele.

Foi nesse momento que come-

çou uma série de palestras no jardim

do monastério sobre o livro do

APOCALIPSE. Nem ele e nem seus su-

periores esperavam muito, porém,

no propósito soberano de Deus, um

novo poder soprava através dele.

Deus estava lá e o efeito foi eletri-

zante. As pessoas começaram a afluir

às suas palestras. Dentro de poucas

semanas o único assento disponível

era o muro do jardim. Tamanha foi

a procura para ouvir sua pregação

que foi finalmen-

te transferido pa-

ra o Duomo, uma

catedral enorme

no centro de Flo-

rença.

A presença de Deus atrai. Milha-

res de pessoas vinham para ouvir

esse jovem monge. Sua mensagem,

como a de João Batista – seu herói

favorito na bíblia, era sobre arrepen-

dimento e autonegação, não uma

mensagem para a qual os homens

são naturalmente atraídos. A Bíblia

era sempre seu texto. Sem medo

proclamava a necessidade de con-

trição, alertando os homens sobre a

chegada do julgamento de Deus.

Exortava os cidadãos de Florença a

confirmar seu arrependimento com

atos de justiça. Somente a presença

do Deus vivo explicaria os resulta-

dos. Um biógrafo escreveu:

“A catedral já não podia acomodar asmultidões que acorriam de perto e de lon-ge... Galerias de madeira tiveram que serconstruídas na parte de dentro da cate-dral na forma de anfiteatro para acomodaro povo. E mesmo assim não era suficien-te... Era uma visão desconcertante veraquela massa de gente chegando com jú-

bilo e regozijando com o sermão como seestivesse indo a uma festa de casamento.”

A experiência de Bettucio, uma

pessoa devassa, não cristã, fala por

muitas. Uma testemunha ocular es-

creveu: “Assim que Savonarola subiu aopúlpito tudo mudou em Bettucio... Não con-seguia mais tirar os olhos do pregador. Suamente estava cativa, sua consciênciatocada pelas palavras do frade e disse:´Enfim me conheci como alguém que es-tava morto em vez de vivo´”. Bettucio en-

tregou sua vida a Cristo e nunca mais

olhou para trás.

Algumas vezes as pessoas esta-

vam tão transpassadas pela realida-

de de seus pecados que Savonarola

tinha que esperar o pranto diminuir

para poder continuar. Pelo menos 10

vezes, enquanto transcrevia seus

sermões, o monge sentiu-se tão to-

mado pela presença e pelo poder de

Deus que não conseguia continuar

por causa das lágrimas.

Jacob Burckhardt, historiador

Renascentista, escreve: “O instrumen-to com o qual Savonarola transformou ereinou sobre a cidade de Florença foi suaeloquência. Os poucos relatos que temos,anotados no local, não nos dão uma no-ção exata desta eloquência. Não é que elepossuía alguma vantagem externa notá-vel, pois a voz, sotaque e habilidade retó-rica eram precisamente seus pontos fra-cos... A eloquência de Savonarola estavaem sua personalidade dominante... Ele criaque sua eloquência era o resultado da ilu-minação divina.”

Deus transformou Florença atra-

vés da pregação do monge. Essa ci-

dade cética, lasciva e orgulhosa tor-

nou-se crente, arrependida e humil-

de. Eles alimentavam os pobres, par-

ticipavam da igreja com entusiasmo,

limparam a corrupção do governo, e

cantavam hinos nas ruas. É uma das

memoráveis ocorrências na história

da Igreja. Através de Savonarola,

Deus provou que a Renascença e

seus ideais eram impotentes diante

do poder do Espírito Santo.

Sua Perseguição Deus havia

mostrado ao fra-

de, em sua ado-

lescência, que

haveria de sofrer

uma morte vio-

lenta a serviço de Cristo. Alexandre

VI era o papa. Típico da família Bor-

gia, possuía muitas amantes e filhos

ilegítimos. Era opulento, sensual e

ganancioso. Não representava Cris-

to.

Na medida em que a influência

moral e espiritual de Savonarola

crescia – não somente em Florença,

assim como em toda a Itália e Euro-

pa – um confronto com a corrupção

de Borgia era inevitável. Savonarola

desafiou publicamente Alexandre

VI a se arrepender de sua imorali-

dade. Até mesmo o chamou de “Re-

presentante de Satanás em vez de

Cristo”.

O pequeno frade foi longe de-

mais. Alexandre VI valendo-se do

grande poder do papado, fez o cora-

joso monge passar por um julgamen-

to forjado, torturou-o por 30 dias e o

enforcou perante grande multidão

na praça principal de Florença.

Savonarola tudo sofreu com grande

HistóriaSavonarola – um dos líderes espirituais mais monumentais da História

Page 31: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 31

coragem e dignidade. A religião ins-

tituída havia, com sucesso, apagado

uma luz acesa e brilhante no cora-

ção de Florença e da Itália.

Sua ImportânciaPor que Savonarola é importante?

Primeiramente, ele foi precursor

da Reforma. Essa expressão sempre

nos traz à mente homens como

Wycliffe (1330-84) e Huss (1373-

1415). Mas, assim como João Batis-

ta, Savonarola veio “no espírito e po-

der de Elias” (Lc 1:17). Seu ministé-

rio chamou a atenção da Europa para

o arrependimento, preparando-a

para a Reforma.

Em segundo lugar, o que acon-

teceu em Florença foi um dos pri-

meiros avivamentos da história mo-

derna. Durante 10 anos, o Espírito

Santo moveu profundamente e

transformou aquela cidade corrupta

e imoral. Foi um dos primeiros avi-

vamentos registrados depois do Li-

vro de Atos e precedeu muitos ou-

tros movimentos semelhantes no

mundo Pós-Reforma.

Em terceiro lugar, Deus demons-

trou Seu imenso poder através de

Savonarola. Florença era a capital

Europeia da corrupção moral.

Apesar disso, no auge do minis-

tério do pequeno frade, um obser-

vador descreveu a mudança na ci-

dade: “Nenhuma blasfêmia foi ouvida nosferreiros, nas padarias e nos armazéns. Àsvezes, o mercado local se transformavaespontaneamente em festival de músicareligiosa ao ar livre... Os sacerdotes anda-vam tão ocupados... que Savonarola...pediu aos fiéis uma suspensão, de duassemanas, de todas as atividades... [por-que] os monges estavam fisicamenteexaustos.”

Quando você se sentir tentado

pela falta de esperança, lembre-se de

que nenhuma cidade ou nação pode

resistir ao poder do Espírito Santo.

Espere em Deus em arrependimen-

to e fé. Sempre existe esperança para

nossa situação. Servimos um Deus

grande e Onipotente. O que Ele fez

no século XV em Florença, Ele pode

fazer em Nova York ou Los Angeles.

Savonarola foi um vaso de barro

cheio do tesouro do poder de Deus.

Foi modelo de fraqueza e medo,

como da demonstração do poder do

Espírito, tão proeminentes no minis-

tério de Paulo (1Co 2:1-5).

Em quarto lugar, para desgosto

de muitos historiadores da arte, sua

pregação influenciou profundamen-

te homens como Michelângelo e

Botticelli. Diz-se que Michelângelo

pintou cenas do julgamento na Ca-

pela Sistina de sua lembrança dos

sermões do monge. Botticelli foi tão

profundamente transformado que

deixou de pintar por vários anos.

Quando retornou, suas pinturas ti-

nham abordagem espiritual, o que

antes não acontecia. Um grande

efeito na mente do jovem artista

(Michelângelo) deve ter sido exer-

cido por Savonarola, cuja pregação

influenciou Botticelli tão profunda-

mente. “Michelângelo, em sua velhice,ainda lia as obras do pregador martirizadoe se lembrava do som da sua voz.” Mes-

mo os inimigos de Savonarola confes-

sam com relutância sua influência.

E por último, quando Deus quer

mudar uma cidade ou nação ele le-

vanta um líder, não um programa,

organização ou comitê. Este sempre

foi seu método. É por isso que Je-

sus nos exortou: “A seara, na verda-

de, é grande, mas os trabalhadores são

poucos. Rogai, pois, ao Senhor da sea-

ra que mande trabalhadores para a sua

seara.” (Mt 9:37-38). Oremos com

diligência e, como Isaías, esperemos

em Deus: “Oh! Se fendesses os céus e

descesses! Se os montes tremessem na tua

presença, como quando o fogo inflama

os gravetos, como quando faz ferver as

águas, para fazeres notório o teu nome

aos teus adversários, de sorte que as na-

ções tremessem da tua presença! Quan-

do fizeste coisas terríveis, que não espe-

rávamos, desceste, e os montes tremeram

à tua presença.” (Is 64:1-3).

Procure um bom livro escrito por

Savonarola. Há muitos deles impres-

sos. Você não irá se arrepender. Re-

comendo UMA COROA DE FOGO, de

Pierre Van Paasen.

“Michelângelo, em sua velhice, ainda lia asobras do pregador martirizado e se

lembrava do som da sua voz.”

WILLIAM P. FARLEY é pastor daGrace Christian Fellowship(Comunidade Cristã da Graça ) emSpokane, Washington (EUA).É autor de FOR HIS GLORY (PARA SUA

GLÓRIA), Editora Pinacle, eOUTRAGEOUS MERCY (MISERICÓRDIA

EXTRAVAGANTE), Baker Books.Você pode contatá-lo pelo fone:509-448-3979 ou pelo e-mail:

[email protected]

HistóriaSavonarola – um dos líderes espirituais mais monumentais da História

Page 32: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

32 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Introdução

Nos últimos anos, a pregação so-

bre a maldição hereditária tem

se tornado bastante popular nos

círculos pentecostais e carismáticos, sendo

ensinada por alguns dos líderes de maior evi-

dência destes movimentos. A natureza da ver-

dade absoluta e da interpretação correta das

Escrituras, no entanto, não pode ser determi-

nada pelo número de pessoas que abraçam

uma doutrina ou pela popularidade daqueles

que a promovem. Questões de fé (o que cre-

mos) e prática (como vivemos a vida cristã) só

podem ser determinadas por uma compreen-

são correta das Escrituras.

Enriquecimento Teológico / W.E. NUNNALLY

Os Pecados da Maldição Hereditária

W.E. NUNNALLY, Ph.D.

Professor de Judaísmo Primitivo e Origens Cristãs na Universidade EvangelSpringfield, Missouri (EUA)

Page 33: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 33

A Base para o Ensino daMaldição HereditáriaA maioria dos que ensinam a maldição here-

ditária baseiam seus ensinamentos em uma

combinação de passagens de Êxodo 20:5,6;

34:6,7; Números 14:18 e Deuteronômio

5:9,10. Cada um destes textos contém as pa-

lavras “que visito a iniquidade dos pais nos fi-

lhos... até a terceira e quarta geração.”

Aqueles que ensinam a maldição heredi-

tária interpretam esses versos para dizer que a

culpa de uma pessoa é transmitida genetica-

mente a todos os seus descendentes. As pes-

soas não só herdam a natureza pecaminosa de

seus ancestrais (a tendência que todos têm de

se rebelar contra Deus), mas também adqui-

rem a culpa acumulada de seus antepassados.

Dessa forma, Deus os vê como culpados, não

só pelos seus próprios pecados, mas também

pelos pecados de seus ancestrais. Além disso,

Satanás tem o direito de continuar a manter

reivindicação legal contra os cristãos que não

tenham efetivamente tratado sua maldição he-

reditária, resultando em fracasso, violência,

impotência, profanação, obesidade, pobreza,

vergonha, doença, tristeza, medo e até mes-

mo a morte física.

Assim, os proponentes da maldição here-

ditária levam seu ensino ao próximo passo ló-

gico. Concluem que o sangue de Jesus foi der-

ramado pelos pecados do indivíduo, porém

um passo adicional deve ser tomado para re-

mover a culpa herdada dos antepassados. Esta

etapa é necessária para que a pessoa se liberte

das amarras que a mantém cativa aos pecados

de seus antepassados. Este processo envolve

uma cerimônia elaborada que consiste em

listar os pecados de seus ancestrais até quatro

gerações, confessando os pecados por eles, re-

citando as orações e declarações recomenda-

das e quebrando pessoalmente essas supos-

tas maldições.

Em Suas Próprias PalavrasUm website dedicado a maldição hereditária

declara: “O reino de Deus e as trevas operam total-mente sobre os ́ direitos legais´. Jesus veio para con-firmar o AT, não para apagar as leis de Deus. ... Afamília inteira paga pelos pecados cometidos porseus antepassados”.

“Satanás vem diante do trono e mostra os direi-tos legais para atacar o seu corpo ou suas finanças.Decida se as alegações são válidas... se a ele é per-mitido fazer o que foi requerido contra você oucontra sua família”.

“Maldição hereditária: Tenho visto mui-tas pessoas que não foram curadas dasdoenças, mesmo depois de toneladas deoração... embora elas tenham fé! Pasto-res não entendem a razão e culpam aspessoas pela sua falta “de fé”. ... Depoisde aprender sobre a quebra de maldi-ção hereditária ... tenho visto a maioriadessas pessoas totalmente curadas. Paranunca mais voltar!!! Leva duas semanas paraensinar isso a uma igreja e mostrar-lhes asorações”.

“Deus está levantando hoje um exércitopara trazer uma unção poderosa paralibertar a igreja... mas ela deve ter oconhecimento.”

Com base em Êxodo

20:4,5, Neil Anderson ensina

que os demônios são passados

de geração a geração e que es-

tes possuem uma brecha na vida

dos cristãos por causa dos pecados he-

reditários. Para expulsar as forças demoní-

acas de suas vidas, os cristãos precisam desco-

brir quais são esses redutos e realizar cerimô-

nias de libertação para quebrá-las. Conselhei-

ros com conhecimentos específicos dos redu-

tos demoníacos são necessários se o caso for

grave. Um teste diagnóstico especial é admi-

nistrado e as palavras de ordem a serem repe-

tidas são repassadas, tais como: “Eu repreendotodas as obras demoníacas que me foram passadaspelos meus ancestrais.”

Derek Prince declara: “Pode haver forças tra-balhando em nossas vidas que têm origem nas gera-ções anteriores. Consequentemente, podemos serconfrontados com situações ou padrões recorrentesde comportamento que não podem ser explicadosapenas em termos do que aconteceu em nossa vidaou através de experiências pessoais. A causa originalpode vir de um longo tempo atrás, até mesmo de mi-lhares de anos.” Ele continua: “A maioria dos cris-tãos que deveriam estar desfrutando de bênçãos es-tão na verdade sofrendo maldições... não entendemo fundamento sobre o qual podem ser libertos”.

Os Pecados da Maldição Hereditária

Aqueles queensinam amaldição here-ditária interpre-tam esses ver-sos para dizerque a culpa deuma pessoa étransmitidageneticamentea todos os seusdescendentes.

Page 34: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

34 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

Rebecca Brown explica: “Eu mesma achavaque cristãos não poderiam ser possuídos por um de-mônio. Isso foi até quando Deus me chamou paraesse ministério”. Ela continua: “Jesus nos purificade nossos pecados. ... mas nós temos de usar o po-der e a autoridade que temos hoje através de JesusCristo e “nos purificar” de “imundície” ou demônios.Assim que aceitamos a Cristo, os demônios são con-siderados invasores e não têm o direito de permane-

cer em nós, a menos que lhes demos direito parafazê-lo através do pecado e /ou da ignorância.”6

Em outro lugar ela descreve crianças

que “haviam herdado os demônios atravésdos pais,” dizendo que aconselhou-as a

“pedir ao Senhor que quebrasse a linha deherança e selasse seus filhos dessa fontede demônios.”

Teresa Castleman também fornece

instruções detalhadas de como expulsar

demônios de cristãos: “Repreenda as maldiçõesque foram autorizadas através das gerações por meiode um espírito familiar – quebramos as amarras eordenamos no Nome de Jesus que fujam! Ordena-mos que vão para lugares áridos e dizemos à maldi-ção [sic] que ela não está autorizada a entrar em ne-nhuma geração futura. Seu poder e laço estão que-brados para sempre.”

Promotores de MaldiçãoHereditária Fornecem umProcedimento Passo-a-Passopara LibertaçãoPromotores dessa doutrina geralmente ofere-

cem aos seus leitores testes diagnósticos ela-

borados, checklists e até mesmo palavras exatas

para serem proferidas durante as cerimônias

de libertação. Um website sugere: “Faça uma lis-ta detalhada de todos os pecados que seus familia-res têm cometido por até quatro gerações anteriores.Se os membros da família continuarem a pecar nopresente, os pecados devem ser confessados todosos dias. ... É importante estar arrependido em favor desua família. Depois de ter confessado todos os peca-dos de cada lista, renuncie a quaisquer alegações deSatanás sobre sua vida em nome de Jesus Cristo. ...Em seguida, passe um tempo em adoração e louvorao Senhor. ... O Senhor revelará a você novas liberda-des nos dias que se seguirão.”

Um exemplo representativo da formula-

ção de tais orações pode ser encontrado no

mesmo site: “Pai Celestial, em nome de Jesus Cris-to de Nazaré, eu venho diante de Ti e me humilhopara confessar o pecado de __________. Peço per-dão pelo meu pecado e por aqueles de qualquer mem-bro da minha família de ambos os lados da minhalinhagem por até 4 gerações. Eu libero o precioso san-gue de Jesus sobre este pecado e ele será lavado eretirado de mim. Por favor, perdoe-me Pai, para queeu possa ser liberto do cativeiro de Satanás no qualfui colocado por este pecado. Eu peço isso em nomede Jesus.”

Outra oração recomendada para os cristãos

recitarem é a seguinte: “Jesus, peço-lhe primeiroque me perdoe pelos meus pecados e purifique qual-quer área onde eu tenha permitido que Satanás e osespíritos malignos tenham entrado em minha vida. ...Eu agora repreendo toda maldição e demônio queforam designados para me destruir. ... Repreendo todoo mal que foi dito contra mim.”

Qual Deve Ser Nossa Resposta?Examine os textos bíblicos nos quaisesse ensinamento é baseadoEm primeiro lugar, precisamos considerar o

contexto do antigo Oriente Próximo dos tex-

tos bíblicos utilizados para ensinar a maldição

hereditária. Em Êxodo 20 e 34, Moisés falava

aos filhos de Deus rodeados pelo paganismo.

Os pagãos acreditavam que os que cometiam

infrações de culto, esqueciam-se do aniversá-

rio do seu deus, ofereciam sacrifício errado,

ou que prometiam fidelidade a outro deus que

oferecesse assistência em alguma área especi-

al (chuva, fertilidade, ou na guerra) morreri-

am. (Observe que no paganismo a questão

nunca é doutrina ou moralidade). O principal

deus adorado emitiria uma sentença de mor-

te contra o transgressor e contra toda a sua fa-

mília até que eles fossem totalmente elimina-

dos.

Como em grande parte do Pentateuco,

Moisés escreve corretivamente. Declara aos

israelitas supersticiosos que seu Deus é dife-

rente. Está interessado na obediência que vem

do coração e não meramente na observância

correta dos rituais. Aqueles cujas vidas são uma

constante ofensa a Ele serão julgados em con-

formidade. Além disso, se persistirem na re-

belião contra Deus e à Sua Palavra, correm o

risco de afetar negativamente seus descenden-

Os Pecados da Maldição Hereditária

Ospropo-

nentes damaldição

hereditáriaconcluem

que o sanguede Jesus foiderramado

pelos pecadosdo indivíduo,

porém um passoadicional deve ser

tomado pararemover a culpa

herdada dosantepassados.

Page 35: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 35

tes imediatos – e não por qualquer percepção

coletiva de culpa biologicamente transferida,

mas por seu péssimo exemplo (ver ponto se-

guinte).

Em segundo lugar, precisamos considerar

o ponto de referência de Moisés. As crianças

sendo julgadas exibiam um comportamento

aprendido e não uma culpa herdada e as mal-

dições que vêm com ela.

Os resultados ou efeitos do pecado não são

repassados aos descendentes genética ou le-

galmente. Os efeitos negativos do pecado são

repassados como comportamento aprendido.

A frase “até a quarta geração” remete ao bisa-

vô e indica que a influência que um homem

tem sobre seu filho, neto e bisneto se estende

somente enquanto estiver vivo. Sua capaci-

dade de transmitir os seus caminhos ímpios

aos seus descendentes cessa quando morre.

Durante sua vida, entretanto, seus descenden-

tes podem escolher se querem seguir seus

maus caminhos ou se voltarem para o Senhor.

Portanto, não somos nem responsáveis pelos

pecados dos nossos avós, nem estamos con-

denados a repeti-los. Além disso, não temos a

culpa legal ou a tendência genética que os

defensores da maldição hereditária ensinam.

Em terceiro lugar, é preciso ler em sua to-

talidade os textos usados para apoiar a maldi-

ção hereditária. Inúmeros estudiosos do AT,

comprometidos com a Bíblia, têm destacado

que o juízo de Deus cai apenas sobre os mem-

bros da segunda, terceira e quarta gerações “que

me odeiam.” (Êx 20:5, Dt 05:09; compare tam-

bém com Dt 7:10; 32:41).12 Esses especialis-

tas notam que estas palavras (que aparecem

no final das passagens citadas pelos defenso-

res da maldição hereditária) ainda identificam

aqueles a quem cabe o julgamento – as pesso-

as que têm voluntariamente seguido os mo-

delos de rebeldia dos mais velhos. Essas pala-

vras da Escritura explicam que o julgamento

de Deus está reservado para pessoas que per-

sistem na rebelião contra Deus, escolhendo

perpetuar os pecados de seus antepassados.

Indique a Falta de Provas Bíblicaspara a Maldição HereditáriaA expressão maldição hereditária nunca apa-

rece nas Escrituras. Esta ou qualquer outra

expressão congênere não pode ser encontra-

da em qualquer um dos Testamentos. Isto

em si não é suficiente para repudiar o ensino

como antibíblico. A palavra trindade tam-

bém não aparece nas Escrituras, mas re-

flete exatamente o ensino da Bíblia.

Entretanto, o fato de a expressão mal-

dição hereditária não ser encontrada nas

Escrituras deve alertar os cristãos ze-

losos a tomarem cuidado nessa área. A

prova conclusiva deve surgir quando

todo o conselho de Deus é pesqui-

sado.

O conceito de maldição he-

reditária é estranho às Es-

crituras. Quando Êxodo

20:5 e 34:6, 7, etc., são li-

dos no contexto do anti-

go Oriente Próximo e in-

terpretados de forma apro-

priada, a possibilidade des-

ses textos apoiarem o ensino da

maldição hereditária é completa-

mente eliminada.

Os testes diagnósticos, rituais e orações

recomendados por aqueles que ensinam mal-

dição hereditária não são encontrados nas Es-

crituras. Tais medidas não existem na Bíblia,

que é a nossa única regra de fé e prática. Se a

maldição hereditária fosse uma realidade,

Deus teria dado instruções apropriadas nas Es-

crituras a respeito de como lidar com o pro-

blema.

Considere o Que Outros Textosdas Escrituras DizemConsiderar todas as evidências bíblicas é sem-

pre uma medida apropriada antes de se con-

cluir qualquer questão de interpretação bíbli-

ca. Como em muitas outras questões, quando

toda a Escritura é considerada, resta pouca dú-

vida sobre a conclusão adequada. Olhe nova-

mente para as palavras de Moisés, cujas pala-

vras são frequentemente utilizadas para apoi-

ar a doutrina da maldição hereditária. Moisés

também escreveu que “Os pais não serão mor-

tos em lugar dos filhos, nem os filhos, em lugar dos

pais; cada qual será morto pelo seu pecado” (Dt

24:16). A inspiração e a natureza não contradi-

tória das Escrituras, junto com o princípio de

Os Pecados da Maldição Hereditária

AsEscriturasexplicam que ojulgamento deDeus está reserva-do para pessoasque persistem narebelião contraDeus, escolhendoperpetuar ospecados de seusantepassados.

Page 36: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

36 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

que as Escrituras interpretam as Escrituras,

requerem que interpretemos as palavras de

Moisés em Deuteronômio 5:9, 10 à luz

de sua clara afirmação no capítulo 24.

2 Reis 14:6 e 25:4 e 2 Crônicas

são passagens paralelas: “Porém os

filhos dos assassinos não matou, segun-

do o que está escrito no Livro da Lei de

Moisés, no qual o Senhor deu ordem,

dizendo: Os pais não serão mortos por

causa dos filhos, nem os filhos por cau-

sa dos pais; cada qual será morto pelo

seu próprio pecado” (2Re 14:6). Estas

passagens indicam que o ensino de

Moisés em Deuteronômio 24 foi cla-

ramente compreendido e praticado por

Israel naquele tempo.

Na época dos profetas, os

israelitas haviam se esquecido

da correção que Moisés fez so-

bre as ideias pagãs. Os profe-

tas viram-se enfrentando o

mesmo problema. Durante o

exílio na Babilônia, Ezequiel re-

gistra: “Veio a mim a palavra do SE-

NHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que,

acerca da terra de Israel, proferis este provérbio,

dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes

dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu

vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este pro-

vérbio em Israel. Eis que todas as almas são mi-

nhas; como a alma do pai, também a alma do

filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá.”

(Ez 18:1-4).

Ezequiel continua: “Eis que, se ele gerar um

filho que veja todos os pecados que seu pai fez, e,

vendo-os, não cometer coisas semelhantes, não co-

mer carne sacrificada nos altos, não levantar os

olhos para os ídolos da casa de Israel e não conta-

minar a mulher de seu próximo; não oprimir a

ninguém, não retiver o penhor, não roubar, der o

seu pão ao faminto, cobrir ao nu com vestes; desvi-

ar do pobre a mão, não receber usura e juros, fizer

os meus juízos e andar nos meus estatutos, o tal

não morrerá pela iniquidade de seu pai; certamen-

te, viverá. Quanto a seu pai, porque praticou ex-

torsão, roubou os bens do próximo e fez o que não

era bom no meio de seu povo, eis que ele morrerá

por causa de sua iniquidade. Mas dizeis: Por que

não leva o filho a iniquidade do pai? Porque o

filho fez o que era reto e justo, e guardou todos os

meus estatutos, e os praticou, por isso, certamente,

viverá. A alma que pecar, essa morrerá; [parafra-

seando Deuteronômio 24] o filho não levará a ini-

Os Pecados da Maldição Hereditária

Sevocê procurar

no Google aexpressão “maldi-

ção hereditária”,vai achar que esse

ensino é aindamais comumentre a rede

mediúnica e omundo do

ocultismo do queno Cristianismo.

Aqui está uma lista parcial dos efeitos prejudiciais do ensino sobre os Pecadosda Maldição Hereditária.O ensino...1. ... nega a suficiência das Escrituras e exige testes humanos, ritos e fórmulas

para serem adicionados à Palavra de Deus (ver 2Tm 3:15-17; 2Pe 1:3-8).2. ... nega a obra completa de Cristo na cruz.3. ... cria um evangelho de Jesus-plus (Gl 1:6-9).4. ... nega o ensinamento bíblico da responsabilidade

pessoal.5. ... nos leva um passo mais perto do paganismo, fora

do qual fomos chamados.6. ... coloca uma ênfase indevida sobre as obras dos

homens, flertando, assim, novamente com umarelação baseada em obras para Deus.

O Ensino sobre os Pecados da Maldição Hereditária

W.E. NUNNALLY

Springfield, Missouri (EUA)

Page 37: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 37

quidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; ajustiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade doperverso cairá sobre este.” (Ez 18:14-20).

Jeremias, um contemporâneo de Ezequiel,

disse aos judeus em Jerusalém: “Naqueles dias,já não dirão: Os pais comeram uvas verdes, e osdentes dos filhos é que se embotaram. Cada um,porém, será morto pela sua iniquidade; de todohomem que comer uvas verdes os dentes se embota-rão.” (Jr 31:29, 30).

Essas passagens são claras. Na verdade,

este é o princípio Escrituras-Interpretam-as-Es-crituras: passagens difíceis devem ser interpre-

tadas à luz de passagens mais claras, como es-

sas de Ezequiel e de Jeremias.

Vale observar que nem todos os judeus da-

quela época estavam tentando transferir a res-

ponsabilidade para outros. Apesar de confron-

tados com as mesmas provações do cativeiro

da Babilônia, o profeta Daniel exibiu atitude

oposta à de seus contemporâneos em Judá e

na Babilônia. Ao invés de culpar seus ante-

passados, como fizeram os ouvintes de

Jeremias e de Ezequiel, Daniel aceitou a sua

responsabilidade pessoal e a de seus contem-

porâneos pelo julgamento que lhes havia

sobrecaído. Ele escreveu: “Orei ao SENHOR,meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus gran-de e temível, que guardas a aliança e a misericór-dia para com os que te amam e guardam os teusmandamentos; temos pecado e cometido iniquidades,procedemos perversamente e fomos rebeldes, apar-tando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos;... A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, ocorar de vergonha, como hoje se vê; aos homens deJudá, os moradores de Jerusalém, todo o Israel,quer os de perto, quer os de longe, em todas as terraspor onde os tens lançado, por causa das suas trans-gressões que cometeram contra ti. Ó SENHOR, anós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis,aos nossos príncipes e aos nossos pais, porque te-mos pecado contra ti. Ao Senhor, nosso Deus, per-tence a misericórdia e o perdão, pois nos temos re-belado contra ele.” (Dn 9:4, 5, 7-9).

Não há, na oração de Daniel, qualquer

menção de que o motivo para o exílio tenha

sido os pecados dos pais. Isso é ainda mais sur-

preendente quando lembramos que Daniel

estava consciente de que por gerações Deus

havia enviado os profetas para advertir Israel

de tal julgamento, se não se arrependessem.

Na época de Jesus, os judeus haviam se

esquecido novamente das correções do

paganismo expressas por meio de

Moisés e dos profetas. Jesus enfren-

tou os mesmos problemas. Em

João 9:1-3 lemos: “CaminhandoJesus, viu um homem cego de nas-cença. E os seus discípulos per-guntaram: ́ Mestre, quem pecou,este ou seus pais, para que nas-cesse cego?' Respondeu Jesus:´Nem ele pecou, nem seuspais; mas foi para que semanifestem nele as obras deDeus.”. Enquanto os dis-

cípulos estavam fixados

na antiga cosmovisão pagã

de que a culpa pelo pecado

podia ser herdada, Jesus tinha

a intenção de enfatizar a glória e a

graça de Deus.

Jesus também disse: “Vá e nãopeques mais.” (Jo 8:11). As palavras de

Jesus sugerem que o perdão de Deus

é suficiente para realizar um certo

grau de transformação espiritual su-

ficiente para produzir uma mu-

dança de vida. Jesus acreditava

que a mulher a quem acabara de

perdoar era livre para escolher se iria

permanecer no pecado ou afastar-se

dele. Não se faz qualquer referência a uma

oração adicional, cerimônia ou fórmula de re-

núncia necessárias para completar a oferta gra-

ciosa de Deus de perdão.

As palavras de Paulo: “... Deus, que retribui-rá a cada um segundo o seu procedimento.” (Rm

2:5,6) e “Pois todos compareceremos perante o tri-bunal de Deus ... pois, cada um de nós dará contasde si mesmo a Deus.” (Rm 14:10-12, ênfase acres-

centada) claramente afirmam a prioridade do

NT sobre a responsabilidade individual. Es-

sas passagens devem ser vistas como refletin-

do o ensino unificado das Escrituras, come-

çando por Moisés (Dt 24:16), continuando com

os profetas (Jr 31:29, 30; Ez 18:1-4, 14-16, 18-

20; Dn 9:4, 5, 7-9) e culminando com os

ensinamentos de Jesus (Jo 8:11; 9:1-3).

Moisés tentou corrigir o paganismo de sua

Os Pecados da Maldição Hereditária

A morte de Jesusrealizou tanto operdão dospecados como alibertação daopressão epossessãodemoníacasdaqueles que seapropriam dosacrifício para simesmos.

Page 38: Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais

38 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010

época, mas até o tempo dos profetas o povo

havia voltado para seus caminhos pagãos. Os

profetas tentaram corrigir o paganismo de seus

dias, mas até o tempo de Jesus as pessoas já

haviam voltado ao pensamento pagão.

A Igreja de hoje tem o testemunho de

Moisés, dos profetas, de Jesus e dos apósto-

los, juntamente com o NT, a plenitude do

Espírito e os dons do Espírito – incluin-

do o dom de discernimento – e mes-

mo assim uma parcela da igreja

pentecostal ou carismática tem

voltado ao paganismo.

Por não termos ouvido

Jesus nem consultado toda

a Escritura, somos novamen-

te atingidos com uma visão

mágica do mundo de Deus.

Neste mundo, o sacrifício

definitivo de Deus tem poder e

efeitos limitados e deve ser comple-

mentado por nossas próprias fórmulas de exor-

cismo e esforços humanos. Na verdade, se

você procurar no Google a expressão maldiçãohereditária, vai achar que esse ensino é ainda

mais comum entre a rede mediúnica e o mun-

do do ocultismo do que no Cristianismo. São

companheiros estranhos, para se dizer o míni-

mo. Isso nos leva à pergunta: Quem está se-

guindo quem?

Declare a Suficiência da CruzA igreja do século XXI precisa afirmar a sufi-

ciência do sacrifício de Jesus da mesma forma

que o fez a Igreja Primitiva.

Paulo declarou, sem medo de contradição:

“Quando vocês estavam mortos em pecados e naincircuncisão da sua carne, Deus os vivificou jun-tamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as trans-gressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistiaem ordenanças, e que nos era contrária. Ele a re-moveu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado ospoderes e as autoridades, fez deles um espetáculopúblico [a referência é a do espetáculo romano ondeos imperadores e generais conquistadores desfila-vam os despojos de guerra e os prisioneiros venci-dos pelas ruas de Roma para demonstrar tanto aocidadão quanto ao inimigo o poder do império],triunfando sobre eles na cruz.” (Cl 2:13-15 – NVI)

As palavras de Paulo demonstram clara-

Os Pecados da Maldição Hereditária

mente que qualquer dívida do pecado que

tínhamos acumulado foi efetivamente cance-

lada em virtude da morte vicária de Jesus.

Além disso, Paulo afirma que os principados e

potestades que nos mantinham na servidão

do pecado não só foram derrotados e desar-

mados, como também foram totalmente hu-

milhados no processo.

A morte de Jesus realizou tanto o perdão

dos pecados como a libertação da opressão e

possessão demoníacas daqueles que se apro-

priam do sacrifício para si mesmos.

Horatio Spafford experimentou isto pes-

soalmente e em seu hino “IT IS WELL WITH

MY SOUL” (traduzido como “SOU FELIZ COM

JESUS”), embelezou a metáfora que Paulo usou

ao escrever aos Colossenses.

“Meu pecado, oh, a felicidadedesse pensamento glorioso!Meu pecado, não em parte,mas em sua totalidade,Está pregado na cruz e não ocarrego mais.Louvado seja o Senhor, louvaiao Senhor, ó minha alma!”

Semelhantemente, Charles Wesley ex-

pressou em “OH FOR A THOUSAND TONGUES

TO SING” (“OH, PARA MIL LÍNGUAS CANTAR”)

a mesma mensagem comunicada pelo após-

tolo dois milênios atrás:

“Jesus! O nome que acalma osnossos medos,Que faz cessar nossas angús-tias;É música para os ouvidos dopecadorÉ vida, saúde e paz.Ele quebra o poder do pecadoperdoado,Ele liberta o encarcerado;Seu sangue pode limpar o maisvil pecador,Seu sangue venceu por mim.”

ConclusãoO que podemos então concluir? Quando Je-

sus disse: “Se o Filho vos libertar, verdadeira-

mente sereis livres.” (Jo 8:36, grifo meu), é isso

mesmo que Ele quis dizer!

“Se o Filhovos libertar,

verdadeiramentesereis livres.”