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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS Estrangeirismos: Os anglicismos em língua portuguesa SANTOS – 2007 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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Page 1: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO

UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS

Estrangeirismos

Os anglicismos em liacutengua portuguesa

SANTOS ndash 2007

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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO

UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS

Estrangeirismos

Os anglicismos em liacutengua portuguesa

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau

de Letras agrave Universidade Catoacutelica de Santos

Orientador Prof Me Joseacute Martinho Gomes

SANTOS ndash 2007

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MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO

UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS

Estrangeirismos

Os anglicismos em liacutengua portuguesa

Banca Examinadora

_____________________________________________________Prof Me Joseacute Martinho Gomes Universidade Catoacutelica de Santos

_____________________________________________________Profordf Ms Elita Cezar Argemon Universidade Catoacutelica de Santos

SANTOS ndash 2007

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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Resumo

O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as

liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos

estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas

formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e

apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as

causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as

mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros

idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas

embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos

Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo

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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Abstract

The goal of the present paper is to verify the exchange process among

languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign

words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to

introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the

natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for

such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts

to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all

languages although we consider some linguistic abuses inadequate

Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism

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Agradecimentos

Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante

dedicaccedilatildeo

Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo

deste trabalho

Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu

lado e incentivarem meus estudos

Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa

Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava

horas redigindo o trabalho

Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo

imensuraacuteveis

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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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19

disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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46

vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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47

respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 2: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

2

MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO

UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS

Estrangeirismos

Os anglicismos em liacutengua portuguesa

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do grau

de Letras agrave Universidade Catoacutelica de Santos

Orientador Prof Me Joseacute Martinho Gomes

SANTOS ndash 2007

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3

MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO

UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS

Estrangeirismos

Os anglicismos em liacutengua portuguesa

Banca Examinadora

_____________________________________________________Prof Me Joseacute Martinho Gomes Universidade Catoacutelica de Santos

_____________________________________________________Profordf Ms Elita Cezar Argemon Universidade Catoacutelica de Santos

SANTOS ndash 2007

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4

NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Resumo

O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as

liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos

estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas

formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e

apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as

causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as

mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros

idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas

embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos

Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo

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5

NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Abstract

The goal of the present paper is to verify the exchange process among

languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign

words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to

introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the

natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for

such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts

to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all

languages although we consider some linguistic abuses inadequate

Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism

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6

Agradecimentos

Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante

dedicaccedilatildeo

Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo

deste trabalho

Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu

lado e incentivarem meus estudos

Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa

Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava

horas redigindo o trabalho

Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo

imensuraacuteveis

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7

Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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8

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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10

World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 3: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

3

MARCELLA CASCIONE CERQUEIRA NETTO

UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SANTOS

Estrangeirismos

Os anglicismos em liacutengua portuguesa

Banca Examinadora

_____________________________________________________Prof Me Joseacute Martinho Gomes Universidade Catoacutelica de Santos

_____________________________________________________Profordf Ms Elita Cezar Argemon Universidade Catoacutelica de Santos

SANTOS ndash 2007

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4

NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Resumo

O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as

liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos

estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas

formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e

apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as

causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as

mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros

idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas

embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos

Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo

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5

NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Abstract

The goal of the present paper is to verify the exchange process among

languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign

words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to

introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the

natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for

such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts

to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all

languages although we consider some linguistic abuses inadequate

Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism

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6

Agradecimentos

Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante

dedicaccedilatildeo

Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo

deste trabalho

Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu

lado e incentivarem meus estudos

Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa

Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava

horas redigindo o trabalho

Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo

imensuraacuteveis

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7

Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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8

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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10

World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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14

compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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16

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 4: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

4

NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Resumo

O intuito do presente trabalho eacute constatar o processo de trocas entre as

liacutenguas e mostrar este fenocircmeno em liacutengua portuguesa por meio dos

estrangeirismos especificamente os anglicismos Apresentamos as diversas

formas de incorporaccedilatildeo de vocaacutebulos estrangeiros em nosso vernaacuteculo e

apontamos os reflexos que se sucedem no portuguecircs Tambeacutem indicamos as

causas da invasatildeo de palavras de origem inglesa em nosso leacutexico e citamos as

mais relevantes tentativas de coibiccedilotildees do uso de termos oriundos de outros

idiomas Fomentamos nosso estudo no dinamismo inerente aos idiomas

embora consideremos inadequados alguns abusos linguumliacutesticos

Palavras-chave estrangeirismo empreacutestimo anglicismo liacutengua inglesaliacutengua portuguesa e neologismo

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NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Abstract

The goal of the present paper is to verify the exchange process among

languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign

words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to

introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the

natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for

such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts

to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all

languages although we consider some linguistic abuses inadequate

Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism

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Agradecimentos

Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante

dedicaccedilatildeo

Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo

deste trabalho

Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu

lado e incentivarem meus estudos

Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa

Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava

horas redigindo o trabalho

Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo

imensuraacuteveis

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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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19

disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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45

Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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46

vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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47

respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 5: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

5

NETTO Marcella Cascione Cerqueira Estrangeirismos os anglicismos emliacutengua portuguesa Santos 2007 55 p (Trabalho de Conclusatildeo de Curso)Universidade Catoacutelica de Santos

Abstract

The goal of the present paper is to verify the exchange process among

languages and present this phenomenon in Portuguese by analyzing foreign

words especially those originated in English the anglicisms Thus we aim to

introduce the different ways foreign words phrases are absorbed and the

natural consequences that follow in Portuguese We also identify the causes for

such invasion in our lexicon as well as mentioning the most important attempts

to restrain their use We base our work on the dynamism inherent to all

languages although we consider some linguistic abuses inadequate

Key-words foreign words and phrases loanwords anglicism Englishlanguage Portuguese language and neologism

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6

Agradecimentos

Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante

dedicaccedilatildeo

Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo

deste trabalho

Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu

lado e incentivarem meus estudos

Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa

Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava

horas redigindo o trabalho

Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo

imensuraacuteveis

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7

Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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8

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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10

World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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13

Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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14

compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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16

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 6: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

6

Agradecimentos

Ao meu professor lsquoPepersquo pela impecaacutevel orientaccedilatildeo e constante

dedicaccedilatildeo

Aos meus avoacutes Haroldo e Denise por tornarem possiacutevel a realizaccedilatildeo

deste trabalho

Aos meus pais Maria Flaacutevia e Luis Paulo por estarem sempre ao meu

lado e incentivarem meus estudos

Ao meu amigo Jailson Gomes da Silva pelos materiais de pesquisa

Agrave minha irmatilde Fernanda pela compreensatildeo nos dias em que eu passava

horas redigindo o trabalho

Ao meu amor Luigi DiVaio pela forccedila incentivo e compreensatildeo

imensuraacuteveis

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7

Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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8

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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10

World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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12

Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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16

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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17

Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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41

dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 7: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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Dedico este trabalho ao meu avocirc Haroldo Netto

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Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 8: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

8

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 09

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira 111 Os neologismos 112 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes 13

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos 1622 Releituras dos estrangeirismos 17

3 Os galicismos 18

II A liacutengua inglesa e os anglicismos no Brasil e no mundo 201 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo 202 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo 20

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs como liacutenguadominante 2122 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial 2323 O inglecircs hoje como liacutengua imperial 2424 O inglecircs hoje como liacutengua franca em um mundoglobalizado 26

241 Pidgin e Pidgin English 26242 World English 28243 O globecircs 28

3 Os anglicismos 2931 Como os anglicismos satildeo incorporados em nosso leacutexico 3032 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo 3233 Razotildees carecircncia status e auto-estima 3334 Anglicization 3435 Os anglicismos em Portugal 35

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo 371 O que eacute uma liacutengua legiacutetima 37

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa 3812 O predomiacutenio da linguagem oral 39

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos 4021 Os excessos 43

3 A xenofobia 4531 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos 46

4 A ponderaccedilatildeo do uso 4841 O acolhimento 48

Conclusatildeo 50

Referecircncias Bibliograacuteficas 51

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9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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10

World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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12

Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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13

Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 9: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

9

Introduccedilatildeo

Os anglicismos vertente predominante de estrangeirismo no Brasil e no

mundo embora nem sempre notados em nossa comunicaccedilatildeo diaacuteria estatildeo

invariavelmente e para alguns irremediavelmente presentes em nosso

cotidiano O uso de vocaacutebulos estrangeiros entretanto gera um grande leque

de discussotildees e criacuteticas mesmo havendo razotildees que justifiquem a penetraccedilatildeo

de tais termos na liacutengua portuguesa

O presente trabalho assim visa a um estudo pormenorizado acerca do

processo linguumliacutestico que envolve a sua introduccedilatildeo e seu desenvolvimento em

nosso idioma Este trabalho seraacute sustentado por opiniotildees de diversos

estudiosos como Yves Lacoste Carlos Alberto Faraco Francisco da Silva

Borba Maacuterio Eduardo Viaro Joaquim Mattoso Camara Junior Marcos Bagno e

David Crystal

Iniciaremos mencionando que todos os idiomas se constroem em

processos de trocas Isto significa que a formaccedilatildeo de um idioma se deve entre

outros fatores ao contato constante entre as liacutenguas Tal processo estaacute

relacionado com os seguintes termos importaccedilatildeo estrangeira empreacutestimos e

estrangeirismos vertentes neoloacutegicas presentes em todos os idiomas

Elucidaremos tambeacutem as distinccedilotildees feitas por alguns autores acerca das

nomenclaturas referidas Aleacutem disso haveraacute a explanaccedilatildeo de outros termos

intriacutensecos a este estudo Apresentaremos tambeacutem a significativa presenccedila

dos galicismos em nosso vernaacuteculo

O segundo capiacutetulo tem o intento de mostrar a importacircncia atual da

liacutengua inglesa no mundo comparando-a em um primeiro momento com a

liacutengua portuguesa Evidenciaremos a ascensatildeo do inglecircs desbancando a

liacutengua francesa como liacutengua dominante Polarizaremos a liacutengua inglesa em

duas circunstacircncias essenciais a de liacutengua imperial e a de liacutengua globalizada

desenvolvendo esta uacuteltima fenocircmenos como o globecircs o Pidgin English e o

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World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

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DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

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PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

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SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 10: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

10

World English Aleacutem disso discorreremos sobre o Anglicization processo

inverso em que haacute incorporaccedilatildeo de palavras oriundas de outros idiomas

inclusive o portuguecircs para a liacutengua inglesa

Trataremos ainda da forte presenccedila do inglecircs nos diversos meios de

comunicaccedilatildeo na informaacutetica e em outras aacutereas em que eacute perceptiacutevel o seu

domiacutenio Apontaremos alguns motivos que demonstram esta notaacutevel e

inevitaacutevel realidade Tambeacutem procuraremos elucidar como esta influecircncia se daacute

em outros paiacuteses e no Brasil pois noacutes brasileiros utilizamos um nuacutemero

consideraacutevel de vocaacutebulos de origem inglesa com uma breve incursatildeo em

Portugal

Verificaremos entretanto que nem sempre a ascendecircncia de uma

liacutengua sobre outra eacute vista de uma maneira positiva Esta questatildeo tambeacutem seraacute

o cerne de uma anaacutelise mais detalhada no segundo capiacutetulo quando

apresentaremos os agentes e as razotildees do uso especiacutefico dos anglicismos

Observaremos ainda os processos de formaccedilatildeo de palavras assim como

citaremos outras nomenclaturas essenciais para a fomentaccedilatildeo de nosso

estudo

O terceiro capiacutetulo abrangeraacute a questatildeo da legitimidade de um idioma

incluindo a forccedila atual da oralidade proporcionada pela aceleraccedilatildeo do mundo

globalizado que muitas vezes natildeo permite a sistematizaccedilatildeo graacutefica dos

anglicismos Salientaremos que estes uacuteltimos resultam entre outros fatores de

fatos histoacutericos intriacutensecos ao mundo linguumliacutestico Acrescido a isso

mostraremos seus inconvenientes e excessos assim como exporemos certas

circunstacircncias nas quais os estrangeirismos se inserem tais como alguns

esforccedilos para coibir o seu uso por um lado e sua aceitaccedilatildeo por outro

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I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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40

televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 11: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

11

I Tipologia em importaccedilatildeo estrangeira

1 Os Neologismos

Para que possamos discorrer sobre os estrangeirismos ao longo deste

trabalho faz-se essencial partirmos da definiccedilatildeo de neologismos como

ldquopalavras ou expressotildees novas que se introduzem ou tentam introduzir-se na

liacutengua Considera-se tambeacutem neologismo o uso de uma palavra antiga com

acepccedilatildeo novardquo (COUTINHO 1984 p 215)

Podemos classificar os neologismos em intriacutensecos criados a partir do

proacuteprio idioma e extriacutensecos relacionados agrave adoccedilatildeo de palavras oriundas de

qualquer outra liacutengua que natildeo seja a nossa liacutengua portuguesa (ibid1 p 218)

Essa adoccedilatildeo pode servir para suprir uma carecircncia isto eacute quando a liacutengua que

importa o vocaacutebulo natildeo possui uma palavra equivalente em seu leacutexico

Os neologismos intriacutensecos e extriacutensecos subdividem-se em dois tipos

sintaacuteticos e lexicais ou de palavras O primeiro grupo refere-se agraves novas

maneiras de se construir uma frase Jaacute o segundo o dos lexicais abrange os

termos cientiacuteficos literaacuterios e populares Os termos cientiacuteficos remetem agraves

palavras que com o desenvolvimento tecnoloacutegico vatildeo sendo acrescentadas agrave

liacutengua para designar coisas antes inexistentes ou desconhecidas Os termos

literaacuterios satildeo aqueles criados por escritores particularmente os poetas Os

populares associam-se agraves palavras novas criadas pelo povo (GOULART

SILVA 1975 p 104) Como mencionado em Estudo Dirigido de Gramaacutetica

Histoacuterica e Teoria da Literatura os neologismos originam-se principalmente

da giacuteria da nomenclatura teacutecnica e da importaccedilatildeo estrangeira (ibid p 217

grifo do autor)

1 Por questatildeo de clareza e padronizaccedilatildeo optamos pelo uso de ibid para indicar mesmo autor emesma publicaccedilatildeo e ibidem para mesmo autor mesma publicaccedilatildeo e mesma(s) paacutegina(s)

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Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 12: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

12

Eacute difiacutecil identificarmos o modo como uma palavra passa a surgir em uma

liacutengua Tanto no caso da criaccedilatildeo de um vocaacutebulo do mesmo idioma como na

importaccedilatildeo de um termo proveniente de um idioma alheio satildeo variadas as

origens de formaccedilatildeo Dentre as inuacutemeras possibilidades de viabilizaccedilatildeo de um

novo termo ldquoa palavra sai do idioleto (linguagem individual) ou da giacuteria e passa

para a liacutengua comumrdquo (VIARO 2006a p 55)

O idioleto eacute uma variante de uma liacutengua exclusiva a um ser humano

Sua manifestaccedilatildeo se daacute por meio da seleccedilatildeo de vocaacutebulos frases e metaacuteforas

que satildeo proacuteprias de um determinado indiviacuteduo (IDIOLETO2)

Dentre as terminologias mencionadas acima acerca das fontes mais

comuns de neologismos lexicais a giacuteria figura como ldquolinguagem especial

usada pelos indiviacuteduos que abraccedilam uma mesma carreira ou profissatildeordquo

(COUTINHO 1984 p 217) Sendo um registro informal de linguagem a giacuteria

se prende agrave expressatildeo oral e nos dias de hoje qualquer grupo determinado de

pessoas como estudantes esportistas e operaacuterios utiliza esse estilo de

linguagem em determinadas circunstacircncias (BORBA 1984 p 60)

Eacute possiacutevel concluirmos que tanto o idioleto quanto a giacuteria satildeo meios de

manifestaccedilatildeo e propagaccedilatildeo de neologismos podendo estes uacuteltimos ser

oficialmente incorporados a um idioma

As nomenclaturas teacutecnicas satildeo palavras formadas de elementos gregos

Curiosamente contra essa praacutetica na liacutengua francesa Remy de Gourmont

proclamou a necessidade de substituir sempre que possiacutevel tais compostos

por palavras nativas (COUTINHO 1984 p 217)

No caso especiacutefico da liacutengua portuguesa eacute vaacutelido apresentarmos a

definiccedilatildeo de corrente estrangeira presente nas gramaacuteticas histoacutericas

estudadas como sendo ldquoas liacutenguas estranhas que de algum modo exercem

influecircncia sobre a nossa Esta influecircncia manifesta-se comumente no

vocabulaacuteriordquo (ibid p 201 grifo do autor)

Para maior clareza atribuiacutemos mais uma definiccedilatildeo indispensaacutevel

2 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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18

A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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19

disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 13: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

13

Existem vaacuterias palavras introduzidas no portuguecircs atraveacutes de liacutenguasestrangeiras principalmente no seacuteculo XIII devido ao maior contactoque houve entatildeo entre Portugal e Provenccedila Espanha e Itaacutelia Taispalavras constituem a corrente estrangeira Muitas vezes um termoque penetrava no portuguecircs atraveacutes de uma liacutengua estrangeira jaacuteencontrava termo correspondente formado diretamente doportuguecircs (GOULART SILVA 1975 p 94)

Apesar de contextualizado podemos conferir a este termo uma

denotaccedilatildeo mais atual Este fenocircmeno que ocorria nos seacuteculos passados ainda

eacute presenciado nos dias de hoje Poreacutem satildeo institucionalizados nomes

diferentes para designar este contato inevitaacutevel existente entre as liacutenguas

Originados a partir de termos populares resultado da evoluccedilatildeo natural

do latim vulgar e eruditos os latinismos trazidos diretamente do latim claacutessico

pelos estudiosos os vocaacutebulos latinos constituem mais de oitenta por cento do

leacutexico portuguecircs Formam ainda o nosso vernaacuteculo os lexemas preacute-latinos e os

poacutes-latinos Os primeiros abrangem as seguintes origens ibeacutericas celtas

feniacutecias e gregas Os termos poacutes-latinos compotildeem os de origem germacircnica

aacuterabe provenccedilal francesa espanhola italiana inglesa e asiaacutetica Em minoria

ainda encontramos elementos russos poloneses turcos e africanos (ibid p

122-25)

Os termos natildeo-latinos que fazem parte do vocabulaacuterio portuguecircs satildeo

classificados como palavras hereditaacuterias empreacutestimos e estrangeirismos

Constituem o primeiro grupo aqueles vocaacutebulos que jaacute pertenciam agrave liacutengua

portuguesa quando ela comeccedilou a adquirir fisionomia proacutepria ou seja das

origens da liacutengua ateacute o seacuteculo XII Incluem-se nesse grupo os arabismos e os

elementos ibeacutericos ceacutelticos e gregos entre outros (ibid p 125)

2 Importaccedilatildeo estrangeira e suas diversas vertentes

De linhagem direta da corrente estrangeira descrita acima o termo

abrangente importaccedilatildeo estrangeira que engloba algumas das nomenclaturas a

serem estudadas posteriormente eacute visto em Gramaacutetica Histoacuterica como

[] outra fonte natildeo menos fecunda de neologismos Os vocaacutebulosimportados enquanto se natildeo adaptam ao gecircnio da liacutengua e natildeoestatildeo em franca circulaccedilatildeo devem ser usados com reservaConstituem os chamados barbarismos ou peregrinismos que

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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41

dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 14: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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compreendem vaacuterias espeacutecies o galicismo o italianismo oespanholismo o latinismo o anglicismo o germanismo etc(COUTINHO 1984 p 21 grifo do autor)

Duas vertentes da importaccedilatildeo estrangeira satildeo os estrangeirismos e os

empreacutestimos No caso dos primeiros eacute importante ressaltarmos que alguns

autores divergem sobre seu conceito Para Goulart e Silva (1975 p 125) os

estrangeirismos satildeo ldquoos vocaacutebulos que a partir do seacuteculo XVI entraram para o

portuguecircs jaacute na sua fase modernardquo Jaacute segundo Garcez e Zilles (apud

FARACO 2004 p 15) eles se referem ao ldquoemprego na liacutengua de uma

comunidade de elementos oriundos de outras liacutenguasrdquo

As definiccedilotildees de estrangeirismo referidas ratificam o conceito de que eacute

impossiacutevel existir uma liacutengua pura isto eacute livre de contato com outras liacutenguas

Vejamos mais uma importante definiccedilatildeo

O estrangeirismo eacute um fenoacutemeno natural que revela a existecircnciaduma certa mentalidade comum europeacuteia Os povos que dependemeconoacutemica e intelectualmente de outros natildeo podem deixar deadoptar com os produtos e ideacuteias vindos de fora certas formas delinguagem que natildeo lhes satildeo proacuteprias [] O estrangeirismo temvantagens aumenta o poder expressivo das liacutenguas esbate adiferenccedila dos idiomas tornando-os mais compreensivos e facilitapor isso mesmo a comunicaccedilatildeo das ideacuteias gerais (LAPA 1945 p51-2)

Estrangeirismos e empreacutestimos satildeo muitas vezes tidos como sinocircnimos

poreacutem alguns autores os distinguem pelo fato de os primeiros serem as

palavras que conservam a forma original natildeo se incorporando fonetica

ortografica e sintaticamente agrave liacutengua receptora Jaacute os empreacutestimos satildeo

assimilados praticamente sem impedimento estrutural fazendo com que

normalmente suas origens natildeo sejam notadas

Da mesma forma Domiacutecio Proenccedila Filho (2000) aponta uma curiosa

diferenccedila entre os termos mencionados ldquoO estrangeirismo que continua com a

sua forma na liacutengua eacute estrangeirismo mesmo Aquele que se veste de verde-e-

amarelo passa a ser empreacutestimo e se incorpora agrave liacutenguardquo

Haacute tambeacutem os chamados empreacutestimos semacircnticos em inglecircs

conhecidos como semantic borrowings ou designados como translation-loans

por Otto Jespersen e loanshifts por Einar Haugen Satildeo palavras que quando

apresentadas por meio da liacutengua que fez o empreacutestimo natildeo remetem aos

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vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 15: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

15

vocaacutebulos de origem embora elas contenham material de discurso nativo

(SANTOS 2004 p 30) Ao proferi-las em liacutengua portuguesa os falantes natildeo

percebem que elas satildeo de origem inglesa Bons exemplos satildeo os vocaacutebulos

tecnicalidade (technicality) e casual (casual)

Sinocircnimo de lsquotecnicidadersquo e lsquotecnicismorsquo lsquotecnicalidadersquo segundo o

dicionaacuterio Houaiss (2001 p 2683) aleacutem de indicar ldquoqualidade ou condiccedilatildeo do

que eacute teacutecnicordquo como no exemplo lsquoA excessiva tecnicalidade de uma

abreviaccedilatildeorsquo tambeacutem denota ldquosentido especializado dentro do jargatildeo proacuteprio de

um ofiacutecio uma arte induacutestria ou ciecircnciardquo ilustrado em lsquoEle fala utilizando

tecnicalidades de computaccedilatildeo que natildeo dominorsquo Entretanto essas natildeo satildeo as

uacutenicas definiccedilotildees originais do termo importado do inglecircs Conforme consta do

dicionaacuterio Oxford (2000 p 1334) o vocaacutebulo tem a acepccedilatildeo juriacutedica de um

pequeno detalhe em uma lei principalmente aquele que natildeo parece justo

exemplificado em She was released on a technicality em que o termo equivale

a uma lsquobrecha da leirsquo Esse uacuteltimo sentido natildeo eacute previsto pelos dicionaacuterios de

liacutengua portuguesa mas jaacute foi assimilado na praacutetica como podemos observar

no trecho abaixo retirado de um site juriacutedico

Em outros casos os tribunais rejeitaram os argumentosapresentados pelos autores baseados em certas tecnicalidades ena falta de provas suficientes de que realmente houve concorrecircnciadesleal (DANIEL 2007)

Eacute importante ressaltarmos que em liacutengua inglesa casual significa um

ldquocomportamento descontraiacutedo e natural informalrdquo (MCCARTHY 2007 p 105)

Mesmo usado com o sentido referido em liacutengua portuguesa o mesmo vocaacutebulo

tambeacutem denota ldquoeventual acidentalrdquo (PRIBERAM)

Evanildo Bechara (SANTOS 2004 p 30) chama os empreacutestimos

semacircnticos (ou indiretos) de decalque calque ou calco como em lsquocachorro-

quentersquo contrapondo-se a hot dog que considera um empreacutestimo do inglecircs

(VIARO 2006b p 62) Notamos aqui uma inconsistecircncia entre este conceito

de empreacutestimo e aqueles estabelecidos por outros teoacutericos que julgariam este

uacuteltimo termo um caso de estrangeirismo

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21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

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SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

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Page 16: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

16

21 Os viacutecios de linguagem barbarismos e peregrinismos

Como descreve Rodrigues Lapa os estrangeirismos satildeo considerados

um fenocircmeno natural Contudo a definiccedilatildeo a seguir vai de encontro agrave

explanaccedilatildeo do autor citado

Estrangeirismo eacute considerado um viacutecio de linguagem isto eacutedenominaccedilatildeo geral que se daacute aos erros graves cometidos comrelativa frequumlecircncia pelos que falam e escrevem uma liacutengua Refere-se a todo e qualquer emprego desnecessaacuterio de palavras eexpressotildees estrangeiras Entretanto natildeo se considera viacutecio delinguagem o emprego de palavras de uma outra liacutengua desde que jaacutese encontrem incorporadas ao vocabulaacuterio da liacutengua portuguesatendo sido consagradas pelo uso (RUSSO)

Se entendermos viacutecios de linguagem segundo Napoleatildeo Mendes de

Almeida como sendo ldquopalavras ou construccedilotildees que deturpam desvirtuam ou

dificultam a manifestaccedilatildeo do pensamentordquo (ALMEIDA apud VIacuteCIO) os

estrangeirismos assim ganham um aspecto pejorativo adquirindo sinocircnimos

como barbarismos e peregrinismos (ALMEIDA apud VIacuteCIO) Evidenciamos

por exemplo que Russo natildeo propotildee um outro termo para as palavras

provenientes de outras liacutenguas jaacute consagradas pelo uso

Eacute muito importante que especifiquemos alguns significados do termo

barbarismo sinocircnimo de estrangeirismo Os latinos consideravam os povos

estrangeiros baacuterbaros (VIacuteCIO) Conveacutem revelarmos tambeacutem que a

designaccedilatildeo baacuterbaro foi cunhada pelos gregos (MIGRACcedilAtildeO)

Contemporaneamente o termo tem a acepccedilatildeo de crueldade como mostra a

definiccedilatildeo do dicionaacuterio Michaelis ldquoaccedilatildeo de gente baacuterbara barbaridade

barbaacuterierdquo (MICHAELIS) Consultando outro dicionaacuterio online de liacutengua

portuguesa deparamo-nos com as seguintes definiccedilotildees

Viacutecio contra as regras e purezas de uma liacutengua estrangeirismo nalinguagem erro contra a significaccedilatildeo na composiccedilatildeo ou naderivaccedilatildeo das palavras erro ortograacutefico silabada e condiccedilatildeo dospovos baacuterbaros (PRIBERAM)

Analogicamente peregrinismo nasce dos sentidos construiacutedos em torno

do sujeito peregrino ou seja aquele que caminha por terras estranhas o

estrangeiro

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

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DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

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NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

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REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 17: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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Eacute possiacutevel ratificar entatildeo que estes termos carregam um teor negativo

baseado no contexto em que foram cunhados embora atualmente um

peregrino ou seja um romeiro natildeo seja mal visto

Haacute ainda uma definiccedilatildeo que resume o conservadorismo acerca dos dois

termos referidos Vejamos ldquoPeregrinismo ou Barbarismo eacute o emprego na

liacutengua de palavras estranhas na forma ou na ideacuteia ou inteiramente

desnecessaacuterias ou contraacuterias agrave iacutendolerdquo (ALMEIDA 1963 p 426 grifo do autor)

22 Releituras dos estrangeirismos

Atualmente podemos dizer que o barbarismo mudou seu significado

Hoje natildeo chega a ser um viacutecio mas apenas a necessidade de usar apalavra estrangeira [] Parece que o barbarismo estaacute na contramatildeoAs pessoas antigamente evitavam a palavra estrangeira Atualmentepassou a ser sinocircnimo de bom tom de condiccedilatildeo social diferenciadacondiccedilatildeo social melhorada o uso de palavras estrangeiras(SANTOS)

Seguindo essa trilha com relaccedilatildeo agrave nossa liacutengua podemos dizer que o

termo estrangeirismo eacute mais moderno e aleacutem disso condizente com o cenaacuterio

linguumliacutestico atual Martins (1988 p 29) os vecirc por exemplo como resultado

natural da influecircncia cultural estrangeira principalmente a partir do seacuteculo XIX

por meio da literatura da eacutepoca

Tambeacutem de suma importacircncia os empreacutestimos satildeo tidos como os

ldquovocaacutebulos que entre os seacuteculos XII e XVI foram acrescentados ao leacutexico

portuguecircs para suprir as deficiecircncias do idioma que apesar de jaacute formado era

ainda incipienterdquo (GOULART SILVA 1975 p 125) Hoje em dia satildeo tambeacutem

vistos como um fenocircmeno indispensaacutevel na formaccedilatildeo de um idioma Vejamos a

seguinte citaccedilatildeo

Haacute empreacutestimo linguumliacutestico quando um falar A usa e acaba porintegrar uma unidade ou um traccedilo linguumliacutestico que existiaprecedentemente num falar B e que A natildeo possuiacutea a unidade ou otraccedilo emprestado satildeo por sua vez chamados de empreacutestimo Oempreacutestimo eacute o fenocircmeno soacutecio-linguumliacutestico mais importante em todosos contatos de liacutenguas (DUBOIS apud NEVES)

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A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

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DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 18: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

18

A necessidade de suprir carecircncias de uma liacutengua eacute preenchida pelos

empreacutestimos Como dissemos nem sempre satildeo constatadas divergecircncias

entre as acepccedilotildees de estrangeirismo e empreacutestimo Embora jaacute tenhamos

mostrado algumas contradiccedilotildees entre os termos eacute vaacutelido que apontemos uma

convergecircncia inerente ao fato de serem fenocircmenos constantes no contato

entre comunidades linguumliacutesticas sendo assim muitas vezes tidos como

sinocircnimos (GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 15)

Ora vistos como um fenocircmeno natural ora chamados de viacutecios de

linguagem qual seria o porquecirc dessa divergecircncia de opiniotildees sobre os

estrangeirismos Talvez essa discussatildeo abranja o uso indiscriminado de

palavras provenientes de outras comunidades linguumliacutesticas quando haacute

vernaacuteculos correlatos na liacutengua que o toma emprestado conforme

observaremos mais adiante no terceiro capiacutetulo

Embora forccedila motriz de tal abuso nos dias de hoje o inglecircs como

sabemos natildeo foi o primeiro idioma moderno a contribuir e se fazer presente

com um nuacutemero significativo de vocaacutebulos Dentre as liacutenguas formadoras do

portuguecircs a tiacutetulo de comparaccedilatildeo analisemos a influecircncia do francecircs sobre o

nosso vernaacuteculo nos seacuteculos anteriores

3 Os galicismos

Conhecidos como galicismos ou francesismos os termos de origem

francesa incorporados ao acervo linguumliacutestico portuguecircs tiveram grande

notoriedade entre os seacuteculos XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Tal influecircncia remete

agrave posiccedilatildeo destacada em que a Franccedila se encontrava no periacuteodo referido ldquoPor

volta de 1920 era o francecircs liacutengua de alto prestiacutegio entre nossos intelectuais

que para alguns representava ameaccedilardquo (COSTA)

Eacute notaacutevel a saliecircncia da liacutengua francesa neste periacuteodo como liacutengua

universal de cultura e por conseguinte a sua grande contribuiccedilatildeo de

empreacutestimos para outros idiomas (MARTINS 1988 p 29)

No que se refere aos aspectos linguumliacutesticos a liacutengua francesa influenciou

estruturas sintaacuteticas do nosso idioma As frases que possuem algum elemento

de sintaxe do francecircs satildeo chamadas construccedilotildees afrancesadas Um reflexo

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19

disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 19: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

19

disso eacute a presenccedila de preposiccedilotildees em determinadas oraccedilotildees (FILHO 2000)

Mostremos pois dois exemplos que confirmam tal fenocircmeno

Ensaio sobre a liacutengua portuguesa

Fogatildeo a gaacutes

Em relaccedilatildeo ao leacutexico que segundo Faraco (2005 p 42) ldquoeacute um dos

pontos em que mais se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e

culturardquo podemos citar alguns exemplos de palavras perfeitamente inseridas

na liacutengua portuguesa avalanche crachaacute buquecirc bijuteria assassinato emoccedilatildeo

e chance (COUTINHO 1984 p 195)

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20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 20: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

20

II A liacutengua inglesa e os anglicismos

no Brasil e no mundo

1 A posiccedilatildeo da liacutengua portuguesa no mundo

A liacutengua portuguesa eacute oficial em oito paiacuteses Brasil Portugal Angola

Moccedilambique Guineacute-Bissau Timor Leste Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e as Ilhas de

Cabo Verde Os dados a seguir satildeo recenseados de 1995 a 2000 e projetados

em 2002 Nos quatro primeiros paiacuteses mencionados temos um total

aproximado de cento e noventa e sete milhotildees de falantes nativos Jaacute nos

quatro uacuteltimos haacute um menor nuacutemero de pessoas que se expressam em

portuguecircs (SCHUumlTZ) Vejamos

Nas ilhas de Cabo Verde a populaccedilatildeo eacute de apenas 435 milhabitantes dentre os quais a maioria fala crioulo Em Guineacute-Bissaucom populaccedilatildeo de 1 milhatildeo e 300 mil apenas 2 falam portuguecircsEm Satildeo Tomeacute e Priacutencipe a populaccedilatildeo eacute de apenas 140 mil NoTimor Leste cuja populaccedilatildeo eacute de 750 mil de 15 a 20 falamportuguecircs (Ibid grifo do autor)

2 A posiccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo

Os paiacuteses que tecircm o inglecircs como primeira liacutengua satildeo os Estados

Unidos Reino Unido Canadaacute Austraacutelia Nova Zelacircndia e Irlanda O total de

falantes nativos nestas naccedilotildees chega a aproximadamente trezentos e quarenta

e oito milhotildees Se incluirmos paiacuteses como Aacutefrica do Sul Iacutendia Nigeacuteria

Filipinas entre outros em que o inglecircs eacute segunda liacutengua estima-se que esse

nuacutemero alcance quinhentos e oitenta milhotildees (SCHUumlTZ)

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21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 21: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

21

Se ainda considerarmos o inglecircs falado pelo mundo afora torna-se

praticamente inviaacutevel estabelecer o nuacutemero exato de falantes da liacutengua e sua

distribuiccedilatildeo geograacutefica embora David Crystal sugira um nuacutemero que ultrapassa

um bilhatildeo de falantes (SCHUumlTZ) O trecho a seguir reitera tal fato

O inglecircs estaacute um pouco presente em todos os lugares do mundo Osprincipais nuacutecleos estatildeo na Europa (Reino Unido) na Ameacuterica doNorte (Estados Unidos e Canadaacute) na Austraacutelia na Nova Zelacircndiana Aacutefrica do Sul Esses nuacutecleos agrupam populaccedilotildees para os quais oinglecircs eacute a liacutengua materna Para outros - ex-colocircnias em sua grandemaioria - o inglecircs natildeo eacute a liacutengua materna seguramente natildeo a liacutenguamaterna da grande maioria da populaccedilatildeo Em compensaccedilatildeo ele eacutede facto a liacutengua do poder - nas instituiccedilotildees poliacuteticas mas tambeacutemnos negoacutecios no comeacutercio na induacutestria e na cultura (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 16 grifo do autor)

Percebemos assim que eacute significantemente superior o nuacutemero de

angloacutefonos (pessoas que se exprimem em inglecircs) em relaccedilatildeo ao de lusoacutefonos

(pessoas que falam o portuguecircs)

Definitivamente a liacutengua inglesa assume uma importacircncia inigualaacutevel

nos dias atuais e este destaque vem ocorrendo desde o seacuteculo XIX Os

Estados Unidos datildeo as cartas nos setores econocircmicos e culturais por todo o

mundo (SCHUMACHER apud DIEFENTHAELER)

Segundo David Crystal (apud BUCK) o inglecircs tornou-se o siacutembolo da

opulecircncia e da modernidade pois os Estados Unidos detecircm uma tecnologia

altamente superior Para as pessoas comuns essa liacutengua eacute sinocircnimo de

prestiacutegio Em diversos lugares no mundo a liacutengua inglesa estaacute na moda

Como se percebe o inglecircs ocupa no mundo a posiccedilatildeo da liacutengua

hegemocircnica e de dominaccedilatildeo ou como muitos preferem liacutengua franca

Estudaremos pois os fatores que contribuiacuteram para que esta liacutengua atingisse

tal grau de prestiacutegio e como isto se reflete no Brasil

21 A substituiccedilatildeo do francecircs pelo inglecircs

como liacutengua dominante

Conforme mencionamos no seacuteculo XIX o francecircs por excelecircncia a

liacutengua de cultura passa a ter uma importacircncia muito grande Eacute entretanto

neste mesmo seacuteculo que o inglecircs comeccedila aos poucos a se tornar influente por

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22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

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LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

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MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 22: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

22

conta da Revoluccedilatildeo Industrial que nasce e se desenvolve na Inglaterra Satildeo

por exemplo inglesas as primeiras grandes empresas que vatildeo instalar os

serviccedilos puacuteblicos brasileiros tais como o transporte urbano e interurbano e as

comunicaccedilotildees (SANTOS)

Na deacutecada de 60 a liacutengua francesa considerada liacutengua franca no iniacutecio

do seacuteculo XX tem sua posiccedilatildeo enfraquecida perante o mundo uma vez que vai

sendo substituiacuteda pelo inglecircs O entatildeo presidente da Franccedila Charles de

Gaulle cria um novo oacutergatildeo intitulado Haut comiteacute pour la deacutefense et

lacuteexpansion de la langue franccedilaise a fim de zelar pela promoccedilatildeo da liacutengua

francesa no mundo A este acontecimento nomeamos francofonia

(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 142 grifo do autor)

Natildeo obstante com relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees internacionais como a OCDE

(Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e de Desenvolvimento Econocircmico) sediada em

Paris a liacutengua inglesa tambeacutem tem se destacado atualmente (GADRIOT-

RENARD apud LACOSTE 2005 p 27) ldquoas duas liacutenguas oficiais satildeo o inglecircs e

o francecircs mas o inglecircs vem se tornando hegemocircnico tanto mais porque se

exige dos francoacutefonos que falem corretamente o inglecircsrdquo (ibidem)

No prefaacutecio de seu livro Negrinha Monteiro Lobato (1988) constata sob

a oacutetica da linguumliacutestica que uma das causas da decadecircncia da liacutengua francesa

foi o excesso de acentos nesse idioma pois enquanto os franceses ocupavam

o tempo acentuando as palavras a liacutengua inglesa ia contagiando o mundo Eacute

possiacutevel afirmar que a ausecircncia de acentuaccedilatildeo em vocaacutebulos ingleses eacute um

dos fatores que contribuiu para a eminecircncia deste idioma entre outras culturas

Atentemos a um posicionamento especial de Lobato ldquoPois natildeo vecirc que a maior

das liacutenguas modernas a mais rica em nuacutemero de palavras a mais falada de

todas a de mais opulenta literatura ndash a liacutengua inglesa ndash natildeo tem um soacute

acentordquo (ibid) Podemos ainda lembrar de outros aspectos relevantes como a

facilidade da conjugaccedilatildeo dos verbos em inglecircs contrapondo-se agrave complexidade

dos franceses

Indubitavelmente hoje em dia o inglecircs se sobressai em relaccedilatildeo ao

francecircs Garcez e Zilles (apud FARACO 2004 p 22) sugerem que se o inglecircs

eacute hoje ldquoa tal liacutengua franca do contato internacional isso se deve ao sucesso da

empresa imperial britacircnica e norte-americana da qual o Brasil sempre foi

cliente servilrdquo

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23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 23: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

23

22 O periacuteodo poacutes-Segunda Guerra Mundial

Focaremos na influecircncia que sofremos da liacutengua inglesa sobretudo a

norte-americana a partir da Segunda Grande Guerra que representa um novo

estaacutegio nas posiccedilotildees geopoliacuteticas da liacutengua inglesa A guerra faz com que a

forccedila norte-americana se acentue solidificando a condiccedilatildeo de potecircncia do paiacutes

em detrimento da ateacute bem pouco tempo poderosa Europa agora devastada O

progresso da economia estadunidense eacute arrebatador pois os quatro anos de

guerra proporcionaram o dobro das produccedilotildees americanas agrave custa justamente

do flagelo europeu As induacutestrias culturais musical e cinematograacutefica satildeo a

partir daiacute dominadas pela superpotecircncia (LE BRETON apud LACOSTE 2005

p 20)

Ateacute os anos vinte a economia brasileira era de base essencialmente

agriacutecola A partir de 1930 inicia-se a industrializaccedilatildeo em nosso territoacuterio Eacute

entretanto somente apoacutes a guerra que o idioma dominante vai influenciar

diretamente o portuguecircs O periacuteodo poacutes-guerra foi sem duacutevida o grande

propulsor para que a forccedila norte-americana invadisse e penetrasse

demasiadamente nosso paiacutes com o seu destaque tecnoloacutegico A propagaccedilatildeo

hegemocircnica dos Estados Unidos por meio das multinacionais eacute o que leva agrave

sua aceleraccedilatildeo econocircmica tecnoloacutegica e linguumliacutestica (SANTOS)

A invasatildeo americana assim designada por alguns autores remete agrave

expansatildeo da liacutengua inglesa no mundo diretamente associada com o avanccedilo e

sucesso tecnoloacutegico dos paiacuteses angloacutefonos O ecircxito desse idioma se deu pelo

fato de naccedilotildees como os EUA e a Inglaterra gozarem do poder no mundo poacutes-

Segunda Guerra Mundial Por isso natildeo podemos dizer que o avanccedilo

internacional do idioma mencionado se deu pelo fato de que a globalizaccedilatildeo

exigisse uma liacutengua para facilitar a transmissatildeo comunicativa entre os mais

diversos povos do planeta (RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 146-7)

A juventude de um modo geral cheia de esperanccedilas e objetivos vecirc

como padratildeo a cultura anglo-saxocircnica e eacute por meio dela que se identifica

ideologicamente (GIBLIN apud LACOSTE 2005 p 127)

Podemos dizer que alguns fatores como a muacutesica e o cinema ajudaram

a disseminar a liacutengua inglesa em diversos paiacuteses do mundo Iniciando-se

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24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 24: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

24

especialmente nos Estados Unidos as novidades dessas aacutereas reanimam

internamente o paiacutes e despontam mundo afora Conforme menciona Giblin

(apud LACOSTE 2005 p 127-8) a populaccedilatildeo sente desejo de sair renovar as

ideacuteias e principalmente sonhar A juventude vecirc a Ameacuterica como paiacutes ideal

uma vez que a cinzenta Europa ainda estaacute se reconstruindo

Estilos musicais como o jazz o rockacuten roll o blues e o country aleacutem das

produccedilotildees cinematograacuteficas de Hollywood satildeo alguns elementos culturais que

contribuiacuteram fortemente para a penetraccedilatildeo da liacutengua inglesa no mundo A

citaccedilatildeo a seguir retrata o cenaacuterio mencionado

O jazz oferece uma real alternativa agrave muacutesica francesa que nadamudara durante a guerra O jazz eacute novo inventivo complexodanccedilante ou melancoacutelico enervante para uns e fascinante paraoutros Aleacutem disso faz parte do mito americano veiculado porHollywood que mostra um paiacutes pleno de opulecircncia onde todomundo parece poder alcanccedilar o sucesso e onde a juventude pareceviver uma fase dourada [] Em termos musicais o rockacuten rollrepresentaraacute para a juventude uma ruptura por meio da liacutengua e doestilo que a nova muacutesica francesa natildeo oferece De 1954 ateacute hoje orockacuten roll foi dominado pelos americanos e pelos britacircnicos (GIBLINapud LACOSTE 2005 p 128 grifo do autor)

Assim torna-se faacutecil perceber as razotildees pelas quais apoacutes 1950

acentuou-se a preponderacircncia da liacutengua inglesa na vida brasileira Aleacutem do

avanccedilo de que o Brasil carecia a tecnologia trouxe sobretudo uma linguagem

peculiar que acompanhou o seu conhecimento teoacuterico e praacutetico (SANTOS)

23 O inglecircs hoje como liacutengua imperial

Hoje em dia o inglecircs eacute a liacutengua oficial dos computadores dos negoacutecios

e da comunicaccedilatildeo global (HOLDEN ROGERS 2002 p 8) e isso se deve em

grande parte agrave crescente expansatildeo tecnoloacutegica da informaacutetica e

consequumlentemente da internet Observemos a seguinte citaccedilatildeo

O inglecircs ocupa o campo do digital A densidade dos internautasacompanha os avanccedilos do inglecircs A internet eacute um iacutendice reveladorda potecircncia cultural americana - isto eacute da liacutengua inglesa Realmenteo inglecircs se impotildee como a liacutengua da inovaccedilatildeo [] O inglecircs goza deuma posiccedilatildeo dominante nos setores da pesquisa cientiacutefica dacomunicaccedilatildeo da imageacutetica da cultura de massa Ele dispotildee de umquase-monopoacutelio no setor da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (LE BRETONapud LACOSTE 2005 p 23)

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25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

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DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

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SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

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VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 25: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

25

Sendo o inglecircs a liacutengua da nova sociedade da informaccedilatildeo eacute admissiacutevel

que os valores gerados por essa cultura sejam associados agrave economia do paiacutes

sobressalente no caso os Estados Unidos ldquoA ascendecircncia cultural ou mais

especificamente a idiomaacutetica tem a ver com ascendecircncia econocircmica Numa

perspectiva mais ciacutenica diria que dinheiro eacute culturardquo (BALEIRO)

Com o advento da internet entre os anos oitenta e noventa a alta

tecnologia acaba lsquoobrigando-nosrsquo a entender e usar a liacutengua inglesa para

podermos assim compreender o funcionamento dos aparelhos eletrocircnicos e

principalmente o computador pois eacute norte-americano o jargatildeo tecnoloacutegico que

domina a informaacutetica (LACOSTE 2005 p 11)

Podemos afirmar que a liacutengua inglesa representa um imperialismo

poliacutetico social econocircmico e linguumliacutestico Francisco da Silva Borba vecirc no inglecircs

um imperativo cultural Machado e Junior (apud Borba 2005 p 29) chegam a

dizer que ldquoo inglecircs norte-americano eacute a liacutengua universal queiram ou natildeordquo

Como jaacute mencionamos o imperialismo de uma liacutengua estaacute associado

aos valores do paiacutes que difunde tal idioma A expansatildeo mundial do inglecircs fez

com que notaacutessemos o fenocircmeno de uma liacutengua nacional tornar-se imperial e

caminhar para um acircmbito universal natildeo soacute geograficamente (LE BRETON

apud LACOSTE 2005 p 21) Eacute possiacutevel veicular aos Estados Unidos por

exemplo uma imagem de sucesso pois o que percebemos eacute a ldquoextensatildeo

progressiva do inglecircs como liacutengua de ascensatildeo de prestiacutegio ou liacutengua da

moda fenocircmeno que se passa tambeacutem em todos os paiacuteses que natildeo satildeo

oficialmente angloacutefonosrdquo (LACOSTE 2005 p 8)

Referentes agrave liacutengua inglesa vejamos a seguir os valores que podem ser

indissociaacuteveis a este idioma

O inglecircs aspira manifestamente a se tornar a liacutengua do progresso daciecircncia da pesquisa a liacutengua da inovaccedilatildeo da conquista material aliacutengua da riqueza a liacutengua dos homens que satildeo seguros de si e quepodem ser tomados como modelo sem deixar de ser a liacutengua donatildeo-conformismo e da liberdade de espiacuterito Essa eacute a nova fase daprogressatildeo do inglecircs (LE BRETON apud LACOSTE 2005 p 21)

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26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 26: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

26

24 O inglecircs hoje como liacutengua franca

em um mundo globalizado

Esse novo estaacutegio da progressatildeo da liacutengua inglesa a que se refere Le

Breton nos sugere uma nova visatildeo acerca do seu posicionamento e da sua

funccedilatildeo

Eacute possiacutevel asseverarmos que ldquoo inglecircs se mundializou efetivamente

como liacutengua franca na conjuntura econocircmica da globalizaccedilatildeordquo (VOGT) Ou

como jaacute previa Francisco Knoumlpfli quando apontava para a nova condiccedilatildeo

globalizante da liacutengua em questatildeo (2000)

O paraacutegrafo acima constata que a adjetivaccedilatildeo imperial ou da

superpotecircncia daacute lugar agrave da globalizaccedilatildeo jaacute presente e evidente em nossos

dias levando a fenocircmenos como o pidgin English o globecircs e o World English

Knoumlpfli ainda afirma que natildeo se pode contornar a globalizaccedilatildeo linguumliacutestica

referente agrave liacutengua inglesa (SCHMITZ apud FARACO 2004 p 89)

241 Pidgin e Pidgin English

Para entendermos um desses fenocircmenos o pidgin faz-se necessaacuteria a

definiccedilatildeo de liacutengua crioula ou creole na liacutengua inglesa

Liacutenguas crioulas satildeo por uma definiccedilatildeo mais ampla linguagensoriginaacuterias da necessidade de comunicaccedilatildeo forccedilada entre povosfalantes de duas ou mais liacutenguas diferentes Desse contatooriginalmente surge o chamado pidgin liacutengua formada normalmentea partir de uma base (entenda-se por isso a liacutengua de maior prestiacutegiosocial) e geralmente composta de uma estrutura simples adaptadaapenas agraves necessidades de comunicaccedilatildeo entre esses povos Nesseestaacutegio os falantes usam-na apenas como meio de comunicaccedilatildeoentre os dois ou mais povos [] O processo pelo qual se transformaum pidgin em um crioulo eacute a crioulizaccedilatildeo (LIacuteNGUAS CRIOULASgrifo nosso)

O pidgin eacute assim ldquouma liacutengua de contato uma mistura de duas ou mais

liacutenguas e eacute usado para a comunicaccedilatildeo entre grupos que falam liacutenguas

diferentes Natildeo eacute falado como primeira liacutengua ou liacutengua nativardquo (THE FREE

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27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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47

respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

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NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

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REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 27: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

27

DICTIONARY traduccedilatildeo nossa)3 Em muitos aspectos esse fenocircmeno se

materializa por exemplo no teacutetum em Timor Leste

Bondia (= Bom dia)

Obrigadu (= Obrigado)

Haacuteu komprende (= Compreendo)

e no crioulo cabo-verdiano (criol kriolu)

Keacute tal Manegravera (= Como estaacute Tudo bem)

Tudacutekool Tudacutenice (= Tudo legal Tudo bem)4

Haacute tambeacutem o chamado pidgin English que ldquoeacute uma criaccedilatildeo nacional ou

regional que mescla ao inglecircs usual termos e pronuacutencias indiacutegenas criando

uma liacutengua franca proacutepria do paiacutes ou de uma certa aacuterea geograacuteficardquo (SEacuteBILLE-

LOPEZ apud LACOSTE 2005 p 107)

Este tipo de pidgin eacute encontrado entre outros lugares em alguns paiacuteses

africanos como Camarotildees e Nigeacuteria sendo falado sobretudo no sul deste

uacuteltimo paiacutes em uma grande aacuterea costeira e principalmente nas aacutereas urbanas

Como exemplos do pidgin nigeriano podemos citar

Wetin dey happen (= What is happening)

I no no I no know Me no no e Me no know (= I donacutet know)

Conveacutem enfatizarmos que no plano puramente linguumliacutestico natildeo haacute uma

unidade-padratildeo de pidgin e os dialetos podem ser muito distintos uns dos

outros (ibidem)

3 ldquoItacutes a contact language Mixture of two or more languages It is used for communicationbetween groups speaking different languages and is not spoken as a first or native languagerdquo4 Nota-se aqui a fusatildeo das liacutenguas portuguesa e inglesa em ambientaccedilatildeo cabo-verdiana

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28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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47

respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

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COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

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LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

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OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

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TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

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FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 28: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

28

242 World English

Similar poreacutem com uma nomenclatura diferente o World English eacute o

inglecircs que eacute falado por outros povos que natildeo sejam aqueles que tecircm este

idioma como liacutengua materna Atentemos a uma definiccedilatildeo mais apurada

O World English natildeo eacute simplesmente a liacutengua inglesa que se tornouuma lingua mundi [] A liacutengua inglesa que circula no mundo queserve como meio de comunicaccedilatildeo entre os diferentes povos domundo de hoje natildeo pode ser confundida com a liacutengua que se falanos Estados Unidos no Reino Unido na Austraacutelia ou onde quer queseja A liacutengua inglesa tal qual vai se expandindo no mundo inteiro (aque chamo de World English) eacute um fenocircmeno linguumliacutestico poissegundo as estimativas nada menos que dois terccedilos dos usuaacuteriosdesse fenocircmeno linguumliacutestico satildeo aqueles que segundo os nossoscriteacuterios antigos e ultrapassados seriam considerados natildeo-nativos(RAJAGOPALAN apud LACOSTE 2005 p 150-1 grifo do autor)

Conveacutem ressaltarmos tambeacutem que o World English eacute um fenocircmeno que

pode ser facilmente observado ao redor do mundo como nos aeroportos em

eventos esportivos ou congressos acadecircmicos internacionais (RAJAGOPALAN

apud LACOSTE 2005 p 152)

Um exemplo bem usual e que ocorre em diversos lugares eacute o fato de

que ldquotodos os pilotos do mundo falam mais ou menos inglecircs para conversar

com as torres de controle de diferentes paiacuteses assim como o pessoal das

companhias aeacutereas para falar com passageiros de outros paiacutesesrdquo (LACOSTE

2005 p 10) O fato natural mencionado consolida a imprescindiacutevel

necessidade de diversos grupos de pessoas nos mais distintos setores

expressarem-se em inglecircs mesmo natildeo o tendo como liacutengua materna Natildeo se

trata mais de consideraacute-lo imperial O inglecircs desse modo passa a ser global

243 O globecircs

O inglecircs do mundo globalizado tem tambeacutem uma designaccedilatildeo peculiar

o globecircs ou globish Trata-se de um neologismo criado por Jean-Paul Nerriegravere

a partir dos termos global e English O globecircs condiz com um inglecircs

simplificado e internacional falado por pessoas que natildeo tecircm este idioma como

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29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

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LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

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TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

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FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

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PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

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VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 29: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

29

liacutengua materna (GLOBISH) Nesse sentido podemos consideraacute-lo uma

ramificaccedilatildeo artificial do World English

Eacute uma expressatildeo recente e que vigorou a partir dos anos 1990 quando

um grande nuacutemero de artigos da imprensa angloacutefona incluindo jornais como

The Economist e The New York Times abordou o assunto (RENARD apud

LACOSTE 2005 p 28)

Suscetiacutevel a criacuteticas Nerriegravere compilou um mil e quinhentos termos

baacutesicos do inglecircs como um kit de sobrevivecircncia e estabeleceu regras para seu

uso como a clareza da pronuacutencia o emprego de frases curtas e a eliminaccedilatildeo

de expressotildees idiomaacuteticas aleacutem daquelas que contenham humor

O criador do termo considera o globecircs apenas uma ferramenta ou um

meio de comunicaccedilatildeo e natildeo um idioma (ENTENDEU 2005) A ideacuteia eacute que

pessoas por todo o mundo se utilizem dessa inovaccedilatildeo para conseguirem se

expressar Um fato interessante apontado por Nerriegravere eacute que os angloacutefonos

natildeo entendem o globecircs Aleacutem do uso de expressotildees inexistentes em liacutengua

inglesa como por exemplo the children of my brother (lsquoos filhos do meu irmatildeorsquo)

como substituto de niece e nephew (lsquosobrinharsquo e lsquosobrinhorsquo) os usuaacuterios do

globecircs devem se utilizar de muita miacutemica para se fazerem compreendidos

(ibidem)

3 Os anglicismos

Os termos em inglecircs que utilizamos corriqueiramente em liacutengua

portuguesa satildeo chamados anglicismos A posiccedilatildeo dos Estados Unidos como

superpotecircncia contribuiu para a invasatildeo dessas palavras em nosso

vocabulaacuterio Assim como no iniacutecio do seacuteculo XX quando passamos a utilizar

um nuacutemero significativo de palavras francesas hoje eacute a liacutengua inglesa que nos

empresta um nuacutemero altamente expressivo de vocaacutebulos

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30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

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SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 30: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

30

31 Como os anglicismos satildeo incorporados

em nosso leacutexico

Podemos considerar dois grandes grupos de manifestaccedilatildeo de palavras

de origem inglesa em nosso leacutexico as adaptaccedilotildees ou aportuguesamento

correspondentes aos empreacutestimos e os xenismos relacionados aos

estrangeirismos (SANTOS)

A primeira forma de incorporaccedilatildeo eacute comum e acontece

permanentemente em todas as liacutenguas pois como jaacute apresentamos em nosso

estudo os idiomas estatildeo sempre em contato Vejamos alguns exemplos de

palavras de origem inglesa adaptadas ao nosso vocabulaacuterio

- beef agrave bife

- club agrave clube

- football agrave futebol

- hamburger agrave hambuacuterguer

- leader agrave liacuteder

- test agrave teste

- tourist agrave turista

Os xenismos satildeo as palavras que conservam a grafia original do inglecircs

ou seja ainda natildeo foram assimiladas em nosso vernaacuteculo mas satildeo

empregadas constantemente na comunicaccedilatildeo oral e escrita no Brasil

(SANTOS) Consultando um dicionaacuterio observamos que xenismo significa

ldquoabuso do que eacute estrangeirordquo (PRIBERAM) Coerentemente eacute por isso que

serve para designar as palavras de origem inglesa cuja utilizaccedilatildeo eacute excessiva

em liacutengua portuguesa Consequumlentemente vecircm ocorrendo diversas criacuteticas e

ponderaccedilotildees quanto ao seu uso

Entretanto o seu dinamismo se daacute entre outras razotildees pela velocidade

de nosso mundo globalizado ao passo que os aportuguesamentos tecircm um

ritmo mais lento de inserccedilatildeo em nossa liacutengua seja em dicionaacuterios ou na

linguagem oralizada

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31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 31: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

31

A seguir uma pequena amostra dos numerosos xenismos high tech

free shop squash snowboard talk show telemarketing delivery coffee-break

country diet outdoor home page personal trainer upgrade workaholic top

model upgrade mouse e notebook

Haacute tambeacutem um outro tipo de manifestaccedilatildeo de anglicismos que deve ser

mencionado Satildeo os neologismos criados a partir de palavras inglesas e que

constituem uma mescla dos aportuguesamentos e xenismos Mesmo alguns

ainda natildeo sendo reconhecidos em dicionaacuterios de liacutengua portuguesa satildeo

usados com frequumlecircncia Para melhor elucidaccedilatildeo exemplificaremos a seguir

deletar estartar logar printar Os quatro verbos citados satildeo derivados de to

delete to start to log e to print respectivamente Coincidentemente satildeo

ligados agrave aacuterea da informaacutetica talvez aquela que mais traga tentativas de

aportuguesamento neste sentido Aleacutem de termos vocaacutebulos em liacutengua

portuguesa que perfeitamente substituem estes neologismos como lsquoapagarrsquo

para deletar lsquocomeccedilarrsquo ou lsquoiniciarrsquo para estartar e lsquoimprimirrsquo para printar o que eacute

vaacutelido apurar natildeo eacute o julgamento do uso mas sim o processo pelo qual estas

palavras passam

Podemos dizer que a forma de incorporaccedilatildeo dessas palavras foi a

mesma ou seja a analogia Todos os verbos citados satildeo terminados em lsquoarrsquo o

que denota a primeira conjugaccedilatildeo dos verbos em liacutengua portuguesa Portanto

ldquonenhum verbo importado eacute defectivo ou simplesmente irregular e todos satildeo

da primeira conjugaccedilatildeo e se conjugam como os verbos regulares da classerdquo

(POSSENTI 2005 p 32)

Analogia eacute pois ldquoo princiacutepio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-

se reduzindo as formas irregulares e menos frequumlentes a outras regulares e

frequumlentesrdquo (COUTINHO 1984 p 150) Este processo linguumliacutestico que vem

sendo observado desde os vocaacutebulos do latim incorporados agrave liacutengua

portuguesa eacute notado tambeacutem nos exemplos dos referidos verbos porque a

analogia resulta ldquoda influecircncia de um vocaacutebulo sobre o outro determinando

igualdade ou aproximaccedilatildeordquo (ibid p 151)

Aleacutem disso todos os ramos da atividade humana visam agrave simplificaccedilatildeo

dos processos no campo da Linguumliacutestica natildeo poderia ser diferente Daiacute a

pertinecircncia da denominaccedilatildeo ldquolei do menor esforccedilo ou da economia fisioloacutegicardquo

uma das trecircs leis foneacuteticas que presidiram agrave evoluccedilatildeo das palavras

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32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 32: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

32

portuguesas (COUTINHO 1984 p 137) Um exemplo comum eacute o verbo

lsquochecarrsquo emprestado da liacutengua inglesa (to check) e jaacute incorporado em nosso

leacutexico Em vez de utilizarem lsquoaveriguarrsquo ou lsquoverificarrsquo as pessoas de um modo

geral optam por lsquochecarrsquo Este fato foi ironizado por Joseacute Saramago em uma

vinda ao Brasil ldquoOra pois natildeo se pode mais verificar averiguarrdquo

(PIACENTINI)

32 Agentes de inserccedilatildeo e difusatildeo

Sabemos que eacute muito difiacutecil identificar quem introduz vocaacutebulos

estrangeiros em nossa liacutengua Entretanto natildeo podemos desconsiderar que os

jornalistas os escritores e os tradutores podem muitas vezes ser a ponte

principal de inserccedilatildeo de palavras advindas de outros idiomas

Os meios de comunicaccedilatildeo utilizam anglicismos nos veiacuteculos em que

transmitem as notiacutecias Nos exemplos a seguir atentemos agraves notiacutecias retiradas

de alguns jornais na cidade de Satildeo Paulo (SCHMITZ apud FARACO 2004 p

95)

lsquoSites organizam a vida do internautarsquo

lsquoEUA vatildeo sobretaxar accedilatildeo por dumpingrsquo

lsquoTasso lidera ranking Covas eacute o piorrsquo

lsquoTrekking eacute utilizado para reforccedilar trabalho de equipersquo

Entretanto a imprensa vem sendo alvo de criacuteticas pelo fato de

normalmente usaacute-los indiscriminadamente sem criteacuterio ortograacutefico algum

Segundo a nossa ortografia oficial eacute recomendado que se use aspas ou

marcaccedilotildees em itaacutelico (SANTOS)

A tiacutetulo de exemplo notemos a falta de qualquer realce nos vocaacutebulos

underground e Beat no trecho a seguir de um artigo jornaliacutestico publicado pela

Uol News sobre a obra On the Road de Jack Kerouac

Ambos foram marcos culturais Peyton Place como um precursorda moderna novela de televisatildeo e On the Road como conclamaccedilatildeoagrave Geraccedilatildeo Beat e mais tarde como a biacuteblia underground dasdeacutecadas de 1960 e 1970 (RICH RYZIC 2007)

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33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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39

Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

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HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

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MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

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VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

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BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 33: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

33

Unido a este fato Paulo Brossard (2000) acredita que ldquoo jornalista em

causa tem a missatildeo de dar certa uniformidade agrave linguagem do jornal hoje

invadida pelas mais variadas expressotildees estrangeiras principalmente

inglesasrdquo

Como se viu os jornalistas recebem muitas criacuteticas pois lidam

diretamente com a linguagem Eles precisam redigir uma gama enorme de

textos em um espaccedilo relativamente curto de tempo Haacute de se considerar

tambeacutem outras questotildees igualmente relevantes como certos procedimentos

jornaliacutesticos impostos por guias de estilo e o perfil dos leitores

A moda o entretenimento a alta tecnologia e o ambiente empresarial

representam certas aacutereas em que tambeacutem notamos mais comumente essas

palavras A seguir vejamos alguns exemplos que justificam a argumentaccedilatildeo

mencionada car wash best seller fashion know-how free lance full time

office boy self-service drive-in happy hour in out clean design home

theater royalty playboy meeting folder flyer e offshore

33 Razotildees carecircncia status e auto-estima

O empreacutestimo de um vocaacutebulo estrangeiro pela loacutegica deve estar

associado agrave necessidade de suprir uma carecircncia isto eacute quando natildeo

possuiacutemos em nosso leacutexico um termo correspondente ao emprestado

A despeito desse fato usual a importaccedilatildeo de palavras oriundas da

liacutengua inglesa para o nosso vocabulaacuterio pode estar fortemente ligada agrave questatildeo

do status Ou seja utilizamos palavras do inglecircs porque a liacutengua carrega em si

a imagem do sucesso e do desenvolvimento de paiacuteses desenvolvidos

especialmente os Estados Unidos ldquoO Brasil o paiacutes pobre mais metido a besta

do mundo comeccedilou a achar que pra ser lsquoglobalizadorsquo lsquocivilizadorsquo ou lsquoprimeiro-

mundistarsquo tem que importar cacoetes verbais de grandes naccedilotildeesrdquo (MEDAGLIA

grifo do autor)

Eacute perceptiacutevel o uso de anglicismos quando estes estatildeo relacionados ao

status principalmente em nomes de estabelecimentos Mesmo quando haacute

vocaacutebulos correspondentes em liacutengua portuguesa os de origem inglesa satildeo

utilizados Chicoacutes Bar soa muito mais lsquochiquersquo do que lsquoBar do Chicorsquo

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34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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45

Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

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FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

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PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

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PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

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SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 34: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

34

Foquemos em uma citaccedilatildeo que reforccedila o argumento mencionado abrangendo

o uso geral dos estrangeirismos

Parece que o estrangeirismo vira elemento de diferenciaccedilatildeo Quem ousa parece acreditar-se num ciacuterculo ou em um patamar socialsuperior Mesmo se natildeo dominam a liacutengua fazem uma trocircpegamistura (ou mix como preferem dizer) de pedantismo cominseguranccedila temperada por maldisfarccedilada ignoracircncia (MACHADOJUNIOR 2005 p 29)

O domiacutenio tecnoloacutegico cultural e poliacutetico estadunidense nos faz pensar

que tudo o que vem de fora eacute melhor O grande nuacutemero de expressotildees que

atualmente utilizamos emprestadas do inglecircs reflete-se em uma questatildeo de

baixa auto-estima (MASSINI-CAGLIARI apud ALMANAQUE 2001)

Segundo Sonia Costa ldquoa verdadeira e lamentaacutevel submissatildeo a valores

estrangeiros natildeo se funda certamente na liacutengua que eacute apenas um reflexordquo

(COSTA) O discurso da autora citada possui um tom mais radical quando

afirma que noacutes brasileiros estamos mudando nosso estilo de vida em favor de

haacutebitos americanos e ainda critica por exemplo o fato de que o Halloween tem

sido mais festejado que as comemoraccedilotildees de Satildeo Joatildeo (ibid)

34 Anglicization

Assim como noacutes tomamos emprestadas e convertemos palavras

oriundas da liacutengua inglesa os nativos desta liacutengua tambeacutem o fazem

transformando vocaacutebulos de outras liacutenguas em inglecircs Este processo inverso eacute

conhecido como anglicization isto eacute ldquoum processo de tornar algo inglecircs O

termo frequumlentemente refere-se ao processo de alteraccedilatildeo de pronuacutencia ou

ortografia de uma palavra estrangeira quando emprestada para o inglecircsrdquo

(ANGLICIZATION traduccedilatildeo nossa)5

Atentemos a alguns exemplos que demonstram esse fato

bull A palavra dodo que daacute nome agrave ave das ilhas Seicheles tem sua

origem no vocaacutebulo lsquodoudorsquo versatildeo antiga de lsquodoidorsquo (FARACO

2004 p 20 grifo do autor)

5 ldquoItacutes a process of making something English The term most often refers to the process ofaltering the pronunciation or spelling of a foreign word when it is borrowed into Englishrdquo

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35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 35: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

35

bull Apartheid fruto do movimento de segregaccedilatildeo racial originado na

Aacutefrica do Sul foi importado para o inglecircs a partir do Afrikaans

liacutengua sul-africana derivada do holandecircs e significa

conceptualmente lsquoprocesso ou estado de separaccedilatildeorsquo

(AFRIKAANS)

bull Banana do portuguecircs e guava do espanhol mesclado com a

liacutengua nativa das Iacutendias Ocidentais satildeo dois casos de frutas

tropicais (banana e goiaba) importadas para territoacuterios que ateacute

entatildeo natildeo havia o cultivo

bull O termo pickaninny ou picaninny eacute derivado da liacutengua portuguesa

lsquopequeninorsquo e foi bastante utilizado para denominar crianccedilas afro-

americanas no sul dos Estados Unidos por volta de um seacuteculo

atraacutes (de 1831 a 1930) Ainda hoje o vocaacutebulo faz parte do leacutexico

americano poreacutem natildeo eacute comumente usado por ser considerado

etnicamente incorreto (PICKANINNY)

35 Os anglicismos em Portugal

Como natildeo poderiacuteamos deixar de mencionar a realidade em Portugal

perante os anglicismos citaremos um trecho de um texto de Marcos Bagno em

que comprova que apesar de na maioria das vezes os portugueses natildeo

utilizarem os mesmos anglicismos que noacutes usamos como em qualquer outra

liacutengua os estrangeirismos estatildeo tambeacutem fortemente presentes neste paiacutes

Um exemplo muito citado eacute o mouse o pequeno aparelho usado noscomputadores que em Portugal eacute chamado tranquumlilamente de ratoOra isso nada a tem a ver com o fato de um povo ser maisldquocolonizaacutevelrdquo do que o outro e sim com as vicissitudes queacompanham o aparecimento e incorporaccedilatildeo (ou natildeo) das palavrasestrangeiras no vocabulaacuterio da liacutengua A tese se mostra enganosaquando nos lembramos por exemplo de que o que noacutes brasileiroschamamos de tela (de cinema) os portugueses chamam de ecratilde queeacute simplesmente o francecircs eacutecran escrito agrave portuguesa No caso demouserato os portugueses simplesmente atribuiacuteram um significadoa mais agrave jaacute existente palavra rato ao passo que noacutes aqui preferimosreservar rato para designar o animal e usar mouse especificamentepara o equipamento de informaacutetica (apud FARACO 2004 p 76 grifodo autor)

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O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

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HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

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MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

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TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 36: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

36

O nosso trabalho tem como foco o uso dos anglicismos no Brasil

entretanto natildeo podiacuteamos omitir a presenccedila de estrangeirismos na terra de

nossos colonizadores

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37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 37: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

37

III Estrangeirismos uma questatildeo de legitimaccedilatildeo

1 O que eacute uma liacutengua legiacutetima

Para que nos aprofundemos propriamente na questatildeo dos

estrangeirismos e consequumlentemente anglicismos eacute vaacutelido que analisemos

primeiramente as definiccedilotildees de linguagem e liacutengua

Segundo Coutinho (1984 p 21) a ldquolinguagem eacute o conjunto de sinais de

que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas ideacuteias e

pensamentosrdquo A definiccedilatildeo remete aos fatores que tornam viaacutevel a

comunicaccedilatildeo entre os homens Francisco da Silva Borba (1984 p 2) afirma

que trata-se da mais eficaz ferramenta ldquode accedilatildeo e interaccedilatildeo socialrdquo que o ser

humano possui

Jaacute a liacutengua eacute uma forma de linguagem restrita a um paiacutes ou a um

acircmbito social (FILHO apud GOULART SILVA 1975 p 36) Por meio de um

idioma o ser humano eacute capaz de expressar informaccedilotildees sentimentos e

ideologias

Complementando a referecircncia citada Carlos Alberto Faraco declara

Significa isto sim reconhecer a liacutengua como uma realidadeessencialmente social que correlacionada com a multifacetadaexperiecircncia econocircmica social e cultural dos falantes apresenta-seem qualquer situaccedilatildeo como uma realidade heterogecircnea como umconjunto de diferentes variedades (2005 p 67)

O que de fato nos serviraacute de sustentaccedilatildeo a este trabalho eacute que a

mudanccedila eacute contiacutenua e se daacute em todas as liacutenguas que por sua vez rdquonatildeo

degeneram [] nem progridem [] elas apenas mudam e o fazem

obedientes a uma forccedila que estaacute em seu proacuteprio interiorrdquo (ibid p 81 grifo

nosso)

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Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

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PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

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REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 38: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

38

Esta noccedilatildeo de movimento inerente a um idioma eacute confirmada pela

historiadora Beatriz Protti Christino quando declara que a liacutengua natildeo eacute

paralisada mas fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica da cultura (CHRISTINO apud

SOUZA) Reiterando a ideacuteia de que uma liacutengua natildeo eacute inerte acrescentamos

um depoimento do cantor Tom Zeacute ldquoLiacutengua eacute dinamismo e impurezardquo

(ALMANAQUE 2001 grifo nosso)

A afirmaccedilatildeo acima vai de encontro com aqueles que acreditam no

purismo de um idioma Conforme Camara Junior (1997 p 123) ldquoo purismo

consiste em imaginar a liacutengua como uma espeacutecie de aacutegua cristalina e pura que

natildeo deve ser contaminadardquo A teoria purista eacute invaacutelida se considerarmos as

constituiccedilotildees de todos os idiomas Vejamos uma importante citaccedilatildeo de Marcos

Bagno

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato a ciecircncia linguumliacutesticajaacute demonstrou fartamente que as liacutenguas natildeo se desenvolvem natildeoprogridem natildeo decaem natildeo evoluem nem agem conforme qualqueruma dessas metaacuteforas que implicam um ponto final especiacutefico e umniacutevel de excelecircncia as liacutenguas simplesmente mudam (apudFARACO 2004 p 70)

Segundo Aldo Rebelo (2001) a liacutengua eacute meio de comunicaccedilatildeo eacute meio

de expressatildeo e eacute instrumento para decifrar conhecer e transformar o mundo

aleacutem do que natildeo eacute a liacutengua que vive em noacutes mas somos noacutes que vivemos na

liacutengua

Para Faraco (2006 p 20) a liacutengua eacute ldquodinacircmica plaacutestica aberta em

contiacutenuo movimento e natildeo haacute dicionaacuterio ou gramaacutetica que consiga congelaacute-lardquo

Levando em consideraccedilatildeo que a liacutengua eacute um produto social ela seraacute

sempre uma forma de expressatildeo dos usos e costumes da sociedade que a

utiliza pois um idioma se constroacutei num processo de trocas portanto

apresentando variaccedilotildees

11 O estrangeirismo como consequumlecircncia e natildeo causa

Baseados nesse conceito de que os idiomas se formam por meio de

trocas parece-nos claro que a ocorrecircncia de estrangeirismos em uma liacutengua eacute

um fato natural

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 39: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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Os anglicismos no caso satildeo muitas vezes consequumlecircncias da

globalizaccedilatildeo ou da posiccedilatildeo imperial jaacute descritas nesse trabalho do inglecircs no

mundo

Os empreacutestimos recentes que presenciamos no contato diaacuterio com a

liacutengua portuguesa satildeo mais notaacuteveis por natildeo terem finalizado o processo de

incorporaccedilatildeo a nossa liacutengua pela padronizaccedilatildeo escrita (GARCEZ ZILLES apud

FARACO 2004 p 19)

12 O predomiacutenio da linguagem oral

Conveacutem mencionarmos a existecircncia das duas formas de linguagem a

oral e a escrita Conforme eacute assinalado por Carlos Alberto Faraco (2005 p 24)

ldquoa liacutengua escrita eacute normalmente mais conservadora que a liacutengua falada e o

contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenocircmenos inovadores em

expansatildeo na fala e que natildeo entrariam na escritardquo

Como as liacutenguas estatildeo em constante mutaccedilatildeo as constataccedilotildees das

transformaccedilotildees satildeo mais perceptiacuteveis na linguagem escrita A comparaccedilatildeo

entre textos antigos e mais recentes ajuda a revelar alteraccedilotildees pelas quais uma

liacutengua tenha passado

Contudo a liacutengua falada geralmente tende a apontar as primeiras

mudanccedilas que venham a ocorrer em uma liacutengua Poreacutem podem ser

percebidas mais tardiamente na liacutengua escrita quando passam a ser

oficialmente incorporadas no idioma Em uma dimensatildeo de permanecircncia isto

nos leva a assegurar que a fala eacute mais dinacircmica enquanto que a escrita mais

estaacutetica Garcez e Zilles apontam que ldquoa fala eacute dotada de vitalidade

incontrolaacutevelrdquo (apud FARACO 2004 p 28)

No entanto eacute necessaacuterio salientar uma ressalva Como aponta Faraco

(2005 p 26-7) algumas diferenccedilas entre a fala e a escrita natildeo satildeo indiacutecios de

mudanccedilas Uma parte significante delas decorre de peculiaridades da

linguagem oral que se oposicionam agraves caracteriacutesticas da escrita

Para muitos a predominacircncia da oralidade no final do seacuteculo passado e

iniacutecio do seacuteculo XXI causa um empobrecimento do idioma pois as pessoas de

um modo geral preferem falar pelo telefone a mandar cartas assistirem agrave

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 40: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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televisatildeo a lerem romances E quando se comunicam via internet fazem

normalmente transcriccedilatildeo da linguagem oral

A constante aceleraccedilatildeo da linguagem oral evita a sistematizaccedilatildeo da

grafia de estrangeirismos que acabam sendo usados por noacutes na sua forma

original (SANTOS) Natildeo eacute portanto apenas coincidente a criacutetica que se faz

tanto agrave oralidade quanto ao uso de vocaacutebulos estrangeiros

Soma-se a isso o processo demorado de aportuguesamento de palavras

oriundas de outros idiomas e por consequumlecircncia a lenta inserccedilatildeo desses

vocaacutebulos nos dicionaacuterios de liacutengua portuguesa fatos esses jaacute elucidados

2 Os inconvenientes dos estrangeirismos

Para Mattoso Camara Junior (1997 p 123) os trecircs inconvenientes

concernentes ao emprego de vocaacutebulos estrangeiros estatildeo relacionados ao

sentido das palavras agrave construccedilatildeo das frases e aos sons elementares distintos

ou fonemas

Um exemplo bem usual do primeiro inconveniente discriminado acima eacute

o uso da palavra disk Evidentemente de origem inglesa o termo significa

lsquodiscorsquo (HOUAISS 1982 p 214) todavia em liacutengua portuguesa utilizamos a

palavra mencionada no sentido de lsquoligar telefonarrsquo Eacute comum encontrarmos

esse vocaacutebulo em estabelecimentos comerciais que fazem entregas de

determinados produtos em domiciacutelios por meio de ligaccedilotildees O verbo

correspondente a lsquodiscarrsquo em inglecircs entretanto eacute dial (ibid p 208)

A fim de ilustrarmos esse fenocircmeno vejamos outro exemplo de um

vocaacutebulo que quando utilizado na nossa liacutengua diverge completamente do

original Outdoor que na liacutengua inglesa significa lsquoao ar livrersquo (ibid p 548) eacute

usado em portuguecircs como um lsquoquadro para fixar cartazes ou anuacutenciosrsquo Para

esta definiccedilatildeo em inglecircs utilizamos billboard (ibid p 71)

Outro inconveniente que devemos ressaltar relaciona-se ao plural das

palavras estrangeiras ainda natildeo aportuguesadas O primeiro impulso eacute

acrescentarmos a desinecircncia lsquosrsquo Alguns plurais coincidem com os da liacutengua de

origem como por exemplo o vocaacutebulo leads ldquoOutros apresentam flexatildeo

diferente os de fonte inglesa dandy lady penny sportsman fazem o plural

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dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 41: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

41

dandies ladies pennies ou pence sportsmenrdquo (BECHARA 2006 p 44) Vale

mencionarmos que a questatildeo do plural tambeacutem diverge em outros idiomas

Usados corriqueiramente em liacutengua portuguesa especificamente no

Brasil mouse e lsquomiacutediarsquo sintetizam alguns exemplos de plural incorreto Quando

nos referimos a mais de um mouse como dispositivo manual de comando para

computadores atribuiacutemos a marca de plural lsquosrsquo sendo assim o vocaacutebulo torna-

se mouses Contudo em liacutengua inglesa a mesma palavra possui plural

irregular e a maneira correta de indicarmos mais de uma quantidade eacute mice

lsquoMiacutediarsquo eacute outro exemplo interessante Embora de origem latina

importamos esse termo do inglecircs lsquoMiacutediarsquo em nossa liacutengua eacute tida como uma

palavra no singular para designar os meios de comunicaccedilatildeo ou a imprensa de

um modo geral assim como cds ou dvds disponiacuteveis para gravaccedilotildees e seu

plural eacute lsquomiacutediasrsquo Haacute inclusive um livro do francecircs Patrick Charaudeau cuja

traduccedilatildeo eacute lsquoO discurso das miacutediasrsquo Na liacutengua inglesa media jaacute indica plural

Medium corresponde a sua forma no singular

A esse respeito Eugecircnio Trivinho na apresentaccedilatildeo de seu livro A

Dromocracia Cibercultural inclui uma nota-de-rodapeacute explanando sobre sua

opccedilatildeo em usar media em seu texto

A utilizaccedilatildeo na presente obra do termo media (meacutedium no singular)e de seus derivados mediaacutetico(a) e mediatizado(a) atende aoimperativo ndash incondicional e a priori ndash de consideraccedilatildeo agrave heranccedilalatina de nossa liacutengua O procedimento que natildeo cumpre senatildeoprinciacutepios baacutesicos de poliacutetica teoacuterica e epistemoloacutegica tem avantagem loacutegica e estrateacutegica de evitar dois enganos um histoacuterico-cultural ndash jaacute socialmente consagrado no Brasil - o de fixar emportuguecircs o termo media por influecircncia direta da prosoacutedia da liacutenguainglesa (ldquomiacutediardquo) outro etimoloacutegico-gramatical o de converter para osingular o que em latim jaacute era plural (2007 p 19 grifo do autor)

Mais um fenocircmeno que deve ser mencionado diz respeito agraves palavras

estrangeiras que contecircm uma carga de costumes e ideacuteias de sua origem

fazendo com que muitas vezes elas sejam intraduziacuteveis (JUNIOR 1997 p

126) Eacute o caso de uma festa tipicamente norte-americana o Halloween jaacute

comentado anteriormente

Com relaccedilatildeo agraves frases podemos citar a influecircncia de estruturas

sintaacuteticas Sentenccedilas como lsquosemana passadarsquo (last week) em vez de lsquona

semana passadarsquo refletem bem essas alteraccedilotildees Frases como lsquovou estar

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chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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47

respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

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BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

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LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

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MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

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PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

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PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

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RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 42: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

42

chamandorsquo e lsquovocecirc vai estar recebendorsquo parecem inspiradas em estruturas da

liacutengua inglesa Esses uacuteltimos viacutecios ganharam nome especial gerundismo e

satildeo alvos constantes de criacuteticas dos linguumlistas

Outras expressotildees como Iacutell do my best (lsquoFarei o meu melhorrsquo) satildeo

traduzidas eventualmente de forma literal em filmes dublados (MACHADO

JUNIOR 2005 p 31 grifo do autor)

Facilmente encontramos nomes de estabelecimentos comerciais em

liacutenguas estrangeiras Muitas dessas denominaccedilotildees quando traduzidas satildeo

errocircneas Optamos em apresentar Beauty Car a fim de exemplificarmos esse

acontecimento constante Beauty que significa lsquobelezarsquo eacute um substantivo

assim como car A ideacuteia possivelmente era qualificar o objeto no caso o carro

A construccedilatildeo errada faz com que tenhamos uma traduccedilatildeo sem sentido lsquoo carro

da belezarsquo Nesse mesmo caso os nomes apropriados seriam Beautiful Car

(lsquocarro bonitorsquo) ou The Beauty of the Car (lsquoa beleza do carrorsquo)

Concernente aos fonemas percebemos uma distorccedilatildeo dos sons pelos

usuaacuterios do idioma causando estranheza Contrariando as leis foneacuteticas da

nossa liacutengua que apresentam um caraacuteter de constacircncia e inflexibilidade as

palavras estrangeiras satildeo pronunciadas similarmente ao som da liacutengua original

embora quase sempre esta sonoridade seja imperfeita Como exemplo

podemos citar o vocaacutebulo diet Noacutes brasileiros pronunciamos o vocaacutebulo agrave

maneira inglesa com o fonema ai6 para a letra i poreacutem apresentando uma

caracteriacutestica tipicamente brasileira a letra lsquotrsquo acrescida de vogal criando

como consequumlecircncia uma siacutelaba final originalmente inexistente algo como

tchi tornando-se assim uma espeacutecie de pidgin Vejamos o que relata Marcos

Bagno

Nossa pronuacutencia dessas palavras estrangeiras se faz de acordo comas caracteriacutesticas foneacutetico-fonoloacutegicas do portuguecircs brasileiro ouseja elas satildeo tratadas foneticamente como se natildeo fossemestrangeiras Eacute bem provaacutevel que a palavra email pronunciada agravebrasileira ndash [i-mey-yu] - trissiacutelaba ndash seja irreconheciacutevel para umfalante nativo de inglecircs que a pronuncia [i-megravel] dissiacutelaba Pode serque daqui a pouco tempo quando a coisa a que se refere deixar deser uma novidade o vocaacutebulo jaacute apareccedila escrito imeio ou imecirciu enatildeo seja mais percebido como um estrangeirismo exatamente comoaconteceu com sinuca (gt snooker) panqueca (gt pancake) e

6 Optamos por uma transcriccedilatildeo foneacutetica pessoal por questotildees de adaptabilidade linguumliacutesticapeculiar ocasionada pelo seu caraacuteter hiacutebrido

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maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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47

respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

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ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 43: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

43

maxambomba (gt machine-pump) (apud FARACO 2004 p 75 grifodo autor)

Com relaccedilatildeo aos termos jaacute citados mouse e lsquomiacutediarsquo haacute tambeacutem

distorccedilatildeo foneacutetica se comparados a suas formas originais Pronunciamos em

portuguecircs algo como mauzi com forte entonaccedilatildeo no lsquoirsquo enquanto no inglecircs haacute

uma uacutenica siacutelaba com lsquosrsquo forte maus Sabemos que lsquomiacutediarsquo eacute um termo

importado da liacutengua inglesa por causa da pronuacutencia Como jaacute mencionado o

vocaacutebulo eacute de origem latina e se pronunciaria com lsquoersquo Poreacutem incorporamos a

pronuacutencia agrave inglesa uma vez que na liacutengua dos angloacutefonos o lsquoersquo de media tem

o som do nosso lsquo i rsquo Vale notarmos que a palavra lsquomeacutediumrsquo de mesmo radical

foi introduzida em nosso leacutexico diretamente do latim evidenciando assim dois

caminhos distintos de importaccedilatildeo foneacutetica

21 Os excessos

Acreditamos que os excessos de neologismos oriundos do inglecircs satildeo

prejudiciais Vejamos por quecirc ldquoMuitos satildeo usados por preguiccedila mental aliada

agrave influecircncia do cinema e da informaacutetica Eacute a cultura de um povo sobrepondo-se

agrave de outro mais fraacutegil e receptivordquo (BORBA apud MACHADO JUNIOR 2005

p 30)

Segundo Barreto haacute algumas condiccedilotildees para que os neologismos

sejam aceitos

1ordf ldquoHatildeo de satisfazer uma necessidade da liacutengua designandoobjetos expressando ideacuteias ou matizes duma ideacuteia que careccedilam depalavra apropriada para serem significados2ordf Hatildeo de observar-se na sua formaccedilatildeo as leis morfoloacutegicasrelativas agrave estrutura das palavras simples e primitivas e agrave construccedilatildeodas derivadas compostas e justapostas3ordf Finalmente hatildeo de estar autorizados pelo uso dos bonsescritores (apud GOULART SILVA 1975 p 103-4)

Analisaremos a partir delas algumas criaccedilotildees de palavras que estatildeo

sendo usadas indiscriminadamente por pessoas que trabalham em diversos

setores especialmente em empresas multinacionais Vejamos algumas frases

que exemplificam esse assunto

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Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 44: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

44

Eles natildeo tecircm commitment com a gente(sentido comprometimento ndash pronuacutencia corsquomiacutetchimentchi)

O customer service natildeo vai entender isso(sentido serviccedilo ao consumidor ndash pronuacutencia coacutestumer seacutervici)

Natildeo precisa setar a maacutequina para fazer o tryout e estartar oprocesso para aprovar o concern(sentidos preparar experimentaccedilatildeo comeccedilar e preocupaccedilatildeo-objetivo ndashpronuacutencia cetar traiaoutchi istartar conccedilacircrne)

Todos esses anglicismos possuem palavras correspondentes em liacutengua

portuguesa Logo nesses casos especiacuteficos natildeo haacute necessidade de suprir

uma lacuna existente na liacutengua que se apropria de tais termos Esta questatildeo jaacute

confronta a primeira condiccedilatildeo anteriormente citada para que os neologismos

sejam aceitos

O acolhimento dessas novas palavras natildeo serve para preencher uma

necessidade da liacutengua portuguesa pois como mostrado haacute termos

correspondentes aos ingleses em nosso idioma Julgamos pois coerente

considerar excessivo o uso de tais palavras inglesas

Tambeacutem notamos a inobservacircncia da segunda condiccedilatildeo que diz

respeito agrave formaccedilatildeo das palavras pois os anglicismos acima natildeo foram

aclimatados a nossa morfologia Podemos observar ainda que os verbos

importados tendem a regularizar-se na primeira conjugaccedilatildeo como eacute o caso do

neologismo estartar

Sintaticamente eacute interessante mencionarmos que mesmo usando

palavras oriundas de outros idiomas de maneira exagerada o entendimento

para um falante de liacutengua portuguesa eacute claro pois as palavras se dispotildeem de

um modo perfeitamente concebiacutevel em nossa liacutengua Vejamos um exemplo

O office boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center

Segundo afirma Marcos Bagno a sintaxe e a morfologia dessa sentenccedila

satildeo indubitavelmente portuguesas como observamos pela desinecircncia dos

verbos pelos artigos e preposiccedilotildees Sendo assim as palavras no enunciado

referido aclimatam-se agrave nossa ordem sintaacutetica (apud FARACO 2004 p 74-5)

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45

Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 45: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

45

Poreacutem tendo por base a citaccedilatildeo acima noacutes brasileiros temos a

tendecircncia de pronunciar apenas shopping para o referido local eliminando o

uacuteltimo item lexical O resultado eacute completamente distinto de seu sentido

original pois o termo isoladamente corresponde agrave accedilatildeo de fazer compras

Assim o seu uso em portuguecircs torna-se ininteligiacutevel a um nativo da liacutengua

inglesa Isso se daacute porque shopping em shopping center funciona como

adjetivo em posiccedilatildeo atributiva Jaacute em portuguecircs a tendecircncia eacute que o adjetivo

venha apoacutes o seu substantivo

3 A xenofobia

Natildeo eacute apenas linguumliacutestico o preconceito gerado por pessoas que se

posicionam severamente contra os estrangeirismos em uma liacutengua

Juntamente com a aversatildeo aos vocaacutebulos podem surgir outros sentimentos

xenoacutefobos como por exemplo um posicionamento contra a cultura e os

paiacuteses dos quais a liacutengua estrangeira faccedila parte

A criacutetica ao uso de palavras advindas de outro idioma pode ter raiacutezes

ideoloacutegicas Devido agraves atitudes e posiccedilotildees que os paiacuteses representantes de

uma liacutengua tecircm perante o mundo pode existir uma repulsa por tudo que eacute

produzido e oriundo desses lugares No caso particular da liacutengua inglesa

devem ser levados em consideraccedilatildeo alguns acontecimentos que ocorreram

especificamente nos Estados Unidos haacute alguns anos e que se refletem ateacute os

dias de hoje O antiamericanismo eacute um sentimento comum em determinados

povos Observemos

Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meiosintelectuais por outro lado suscitaram uma certa satisfaccedilatildeo (ldquo bemfeito para elesrdquo) nos meios populares de numerosos paiacuteses da Aacutesiae da Ameacuterica Latina especialmente e mais ainda no mundomuccedilulmano A guerra do Iraque evidentemente em nada diminuiuesse antiamericanismo assim como natildeo conseguiu frearminimamente a moda de seguir tudo o que seja americano(LACOSTE 2005 p 11)

O paradoxo evidenciado acima se reproduz no campo linguumliacutestico sob a

forma dos anglicismos causando esses uacuteltimos uma reaccedilatildeo contraacuteria e muitas

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

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SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

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Page 46: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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vezes xenoacutefoba mas por outro lado indicando os valores positivos associados

a uma cultura

Ao mesmo tempo em que a utilizaccedilatildeo de anglicismos pode simbolizar

status criar uma imagem elitista e ateacute esnobe ela tambeacutem pode se tornar alvo

de criacuteticas e coibiccedilotildees sendo um dos motivos o fato de associarmos os

vocaacutebulos ingleses a caracteriacutesticas dos Estados Unidos reprovadas pelos

brasileiros particularmente como ldquoprogressismo consumo grosseria

conservadorismo retroacutegrado artificialidade insensiacutevel e poder nocivordquo

(GARCEZ ZILLES apud FARACO 2004 p 16)

A liacutengua do rock seja ele cantado por franceses japoneses ourussos e pouco importa que o sentido das palavras natildeo sejacompreendido Ele contribuiu para manter na moda tudo o que eacuteamericano E tudo isso tem consequumlecircncias geopoliacuteticas e participadas rivalidades de poderes e de influecircncias em niacutevel mundial e noquadro de todos os paiacuteses O paradoxo ndash que eacute sobretudogeopoliacutetico ndash eacute que o papel e a influecircncia dos Estados Unidos nuncaforam tatildeo grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tatildeoclaramente na opiniatildeo puacuteblica de todos os paiacuteses [] A guerra doIraque evidentemente em nada diminuiu esse antiamericanismoassim como natildeo conseguiu frear minimamente a moda de seguirtudo o que seja americano (LACOSTE 2005 p 11)

31 Tentativas de impedimento dos estrangeirismos

Algumas pessoas jaacute tentaram coibir o uso dos estrangeirismos em

liacutengua portuguesa Brevemente em nosso estudo citaremos o latinista Antocircnio

de Castro Lopes e o deputado Aldo Rebelo

Jaacute no final do seacuteculo XIX Castro Lopes propocircs uma lista de neologismos

formados de elementos latinos para substituir os estrangeirismos mais usuais

em liacutengua portuguesa Os novos termos sugeridos pelo latinista foram

majoritariamente recusados pelo povo (COUTINHO 1984 p 217)

Vejamos a seguir algumas palavras criadas pelo erudito preconiacutecio

(reacuteclame) runimol (avalanche) ludacircmbulo (tourist) e ludopeacutedio (football) Os

dois primeiros exemplos passiacuteveis de substituiccedilatildeo satildeo de palavras francesas e

os dois uacuteltimos de inglesas Com relaccedilatildeo aos anglicismos vale ressaltarmos

que tourist e football tecircm formas aportuguesadas lsquoturistarsquo e lsquofutebolrsquo

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

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BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

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7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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Page 47: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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respectivamente Apesar do insucesso de suas novas nomeaccedilotildees Lopes

consagrou a palavra lsquocardaacutepiorsquo no lugar da francesa menu (COUTINHO 1984

p 217)

Recentemente foi a vez do poliacutetico Aldo Rebelo tentar impedir por meio

do projeto de lei 16761999 o uso de estrangeirismos em liacutengua portuguesa A

intenccedilatildeo do deputado federal do PCdoB era aleacutem de coibir o uso multar

pessoas e estabelecimentos que utilizassem palavras estrangeiras

especialmente os anglicismos tatildeo presentes nas aacutereas do comeacutercio e da

informaacutetica (ZILLES apud FARACO 2004 p 144)

Se Machado de Assis ainda vivesse ele ironizaria o lsquobom intentorsquo do

deputado como o fez em seus textos contra a posiccedilatildeo antiestrangeirista do

meacutedico Castro Lopes no final do seacuteculo XIX (FARACO 2004 p 44)

Para Machado e Junior (2005 p 29) o projeto do poliacutetico natildeo eacute uma

ideacuteia interessante pois os idiomas se transpotildeem reciprocamente e se

enriquecem portanto com criaccedilotildees de palavras e absorccedilotildees

O projeto de Rebelo foi alvo de criacuteticas de personalidades envolvidas no

mundo linguumliacutestico Vejamos

O escritor Luiacutes Fernando Veriacutessimo [] considerou-o improcedente exenoacutefobo A escritora Lya Luft [] considerou absurdo interferirdesse modo na vida e no direito das pessoas qualificando o projetode fascista O humorista Millocircr Fernandes [] chamou-o de umaidioletice (um misto de idioleto e idiotice) enquanto o gramaacutetico damiacutedia (Pasquale Cipro Neto) destacou ser inviaacutevel tentar proibir porlei o uso linguumliacutestico (FARACO 2004 p 10-1 grifo do autor)

Ironiza Marcos Bagno ldquoA quem confessarei meu pecado por ter

pensado em comer num self-service Ou por ficar ansioso durante uma

palestra pelo coffee-break Ou por gostar de viajar de vanrdquo (apud FARACO

2004 p 54)

O fracasso das tentativas de privaccedilatildeo do uso de estrangeirismos

confirma a teoria de que eacute inexequumliacutevel restringir o usufruto de um idioma Em

relaccedilatildeo agraves liacutenguas as leis natildeo funcionam ldquoA uacutenica lei que funciona na liacutengua eacute

a proacutepria lei linguumliacutestica Por exemplo a lei do menor esforccedilo Essa liacutengua vai

funcionar porque vai facilitar a comunicaccedilatildeordquo (SANTOS)

As liacutenguas natildeo devem ser legisladas pois o proacuteprio idioma eacute um sistema

auto-regulador que supre suas necessidades acolhendo o que lhe eacute

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48

imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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50

Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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54

GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 48: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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imprescindiacutevel e eliminando o que eacute dispensaacutevel Assevera Bagno que natildeo eacute a

liacutengua que existe mas sim seres humanos que fazem parte de contextos

soacutecio-histoacutericos caracteriacutesticos e que querem sobretudo comunicar-se (apud

FARACO 2004 p 82-3)

Monteiro Lobato (1988) eacute enfaacutetico ao afirmar que ldquonatildeo haacute lei nenhuma

que dirija uma liacutengua porque liacutengua eacute um fenocircmeno natural como a oferta e a

procura como o crescimento das crianccedilas como a senilidade etcrdquo

4 A ponderaccedilatildeo do uso

Frequumlentemente natildeo notamos que palavras usadas em nosso leacutexico

corrente satildeo formas aportuguesadas de estrangeirismos A condenaccedilatildeo do uso

de vocaacutebulos alheios ao nosso idioma estaacute normalmente associada agraves palavras

que mantecircm a grafia original e que satildeo usadas no lugar das de liacutengua

portuguesa Devemos ser muito cautelosos em apontarmos criacuteticas ao termo

abrangente estrangeirismos

Quando utilizados para suprir uma carecircncia isto eacute caso natildeo existam

termos correlatos no idioma que os utiliza satildeo altamente vantajosos para o

enriquecimento e manifestaccedilatildeo expressiva das linguagens oral e escrita

(JUNIOR 1997 p 125)

41 O acolhimento

Curioso eacute o fato de que as pessoas contraacuterias aos estrangeirismos

muitas vezes nem se datildeo conta de que as palavras que pronunciam

diariamente e inuacutemeras vezes natildeo satildeo genuinamente da liacutengua portuguesa

lsquoDetalhes tatildeo pequenos de noacutes doisrsquo eacute um bom exemplo Poucas

pessoas sabem que lsquodetalhesrsquo eacute um galicismo Mesmo aqueles que se julgam

contra os estrangeirismos natildeo utilizariam lsquominuacuteciasrsquo em seu lugar (FILHO

2000)

Outro fenocircmeno interessante abrange os termos relacionados ao

futebol Muitas pessoas tambeacutem natildeo reparam que o esporte tatildeo apreciado

pelos brasileiros conteacutem vaacuterias palavras procedentes da liacutengua inglesa lsquoGolrsquo

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49

(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 49: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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(goal) lsquopecircnaltirsquo (penalty) lsquochutersquo (shoot) e lsquotimersquo (team) satildeo alguns dos termos

futeboliacutesticos que foram incorporados ao leacutexico da liacutengua portuguesa

(LUTIBERGUE) Ainda assim eacute possiacutevel encontrar algumas palavras que

mantecircm a forma original como o tatildeo usual play-off tambeacutem utilizado em outros

esportes como o lsquobasquetebolrsquo (basketball)

Um ponto importante diz respeito ao tempo Talvez daqui a alguns anos

os xenismos da atualidade se tornem vocaacutebulos aportuguesados e as pessoas

poderatildeo natildeo perceber a verdadeira origem dos termos Eacute o que confirmam

Garcez e Zilles

Eacute importante notar que embora pareccedila faacutecil apontar hoje homebanking e coffee break como exemplos claros de estrangeirismosningueacutem garante que daqui a alguns anos natildeo estaratildeo sumindo dasbocas e mentes como o match do futebol e o rouge da moccedila assimcomo ningueacutem garante que natildeo teratildeo sido incorporadosnaturalmente agrave liacutengua como o garccedilom e o sutiatilde o esporte e o clube(apud FARACO 2004 p 18 grifo do autor)

Luis Adonis Valente Correia acredita ser uma perda de tempo traduzir

palavras como software por exemplo (2006) Possenti faz uma constataccedilatildeo

veemente e que serviraacute de desfecho para o nosso trabalho

Para mostrar que nossa liacutengua estaacute viviacutessima nada melhor que umagrande invasatildeo que a muitos parece linguumliacutestica mas que eacute soacute lexicalndash e perifeacuterica O que certamente estaacute mal das pernas eacute nossaeconomia Talvez tambeacutem nossa cultura (2005 p 32)

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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51

Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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53

Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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55

RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 50: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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Conclusatildeo

Baseando-nos na linha mestra desse trabalho que se fundamentou no

dinamismo e na mobilidade das liacutenguas podemos reafirmar que os

estrangeirismos presentes na liacutengua portuguesa satildeo decorrentes de um

processo natural Haja vista que eles satildeo fruto de uma situaccedilatildeo permanente eacute

ineficaz a tentativa de bani-los de nosso vernaacuteculo Ainda mais pelo fato de

nosso leacutexico consistir em palavras originadas de diferentes liacutenguas ratificando

a condiccedilatildeo inerente de trocas entre diversos idiomas

Entretanto natildeo devemos ser plenamente favoraacuteveis a qualquer

substituiccedilatildeo de termo alheio ao portuguecircs a partir do momento que este jaacute

possua um vocaacutebulo correlato instituiacutedo Evitar os excessos eacute o que propomos

no presente trabalho embora consideremos vaacutelida a adoccedilatildeo de palavras

estrangeiras a fim de suprir necessidades e carecircncias dentro de uma liacutengua

Devemos partir do pressuposto de que a integraccedilatildeo dos idiomas eacute

enriquecedora e inoacutecua A mutaccedilatildeo existe e sempre existiraacute As liacutenguas natildeo

satildeo estanques e tentar impor restriccedilotildees denota atitudes inconsistentes

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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52

JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Page 51: TCC - Marcella Cascione Cerqueira Netto

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Referecircncias Bibliograacuteficas

Material impresso

ALMEIDA Napoleatildeo Mendes de Gramaacutetica metoacutedica da liacutengua portuguesa16 ed Satildeo Paulo Saraiva 1963

BECHARA Evanildo Gramaacutetica dos estrangeiros como uma palavraimportada danccedila conforme a muacutesica do nosso idioma Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 5 p 44-5 2006

BORBA Francisco da Silva Introduccedilatildeo aos estudos linguumliacutesticos 8 ed SatildeoPaulo Nacional 1984

CORREIA Luis Adonis Valente O inglecircs de cada um Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 6 p 54 2006

COUTINHO Ismael de Lima Gramaacutetica histoacuterica 7 ed Rio de Janeiro Aolivro teacutecnico SA 1984

ENTENDEU VALEU Veja Satildeo Paulo ano 38 p 124-5 4 maio 2005

FARACO Carlos Alberto Ningueacutem segura a liacutengua Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 2 p 20 Fev 2006

FARACO Carlos Alberto Estrangeirismos guerra em torno da liacutengua 3 edSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2004

FARACO Carlos Alberto Linguumliacutestica histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo dahistoacuteria das liacutenguas Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

GOULART Audemaro Taranto SILVA Oscar Vieira da Estudo dirigido degramaacutetica histoacuterica e teoria da literatura Satildeo Paulo Editora do Brasil 1975

HOLDEN Susan ROGERS Mickey O ensino da liacutengua inglesa Traduccedilatildeo deSBS 2 ed Satildeo Paulo SBS 2002

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva2001

HOUAISS Antocircnio Dicionaacuterio Inglecircs-Portuguecircs Rio de Janeiro Record 1982

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

LAPA Rodrigues Manuel Estiliacutestica da liacutengua portuguesa Lisboa Serra Nova1945

LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

MACHADO Josueacute JUNIOR Luiz Costa Pereira A gestaccedilatildeo do portinglecircs ainvasatildeo inexoraacutevel do idioma imperial transformaraacute a liacutengua no Brasil LiacutenguaPortuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 26-31 2005

MARTINS Nilce Santacuteanna Martins Histoacuteria da liacutengua portuguesa Satildeo PauloAacutetica 1988

MCCARTHY Michael Cambridge Word Routes Satildeo Paulo Martins Fontes2007

OXFORD ADVANCED LEARNERacuteS DICTIONARY OF CURRENT ENGLISH6 ed Oxford Oxford University Press 2000

POSSENTI Siacuterio Os equiacutevocos sobre estrangeirismos Liacutengua PortuguesaSatildeo Paulo ano 1 n 3 p 32 2005

SANTOS Agenor Soares do English words in Portuguese New Routes SatildeoPaulo n 22 p 30 2004

TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

BUCK Vincent One world one language Disponiacutevel emlthttpwwwaiicnetViewPagecfmpage732htmgt Acesso em 02 de out 2007

COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

PIACENTINI Maria Tereza de Queiroz Deletar protocolar penalizar e outrosverbos Disponiacutevel emlthttpkpluscosmocombrmateriaaspco=14amprv=Gramaticagt Acesso em 07de abr 2007

PICKANINNY Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiPickaninnygt Acesso em 28 de out 2007

PRIBERAM Liacutengua portuguesa on-line Disponiacutevel emlthttpwwwpriberamptdlpodlpoaspxgt Acesso em 13 de mar 2007

REBELO Aldo Cultura liacutengua e soberania Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=421gt Acesso em 15de fev 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

RUSSO Lilian De olho na liacutengua portuguesa Uso de palavras estrangeiras ndash eagora Disponiacutevel emlthttpwwwsbppcorgbrartigo_interface_palavras_estrangeirasphpgt Acessoem 27 de jun 2007

SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

SCHUumlTZ Ricardo A presenccedila do inglecircs e do portuguecircs no mundo Disponiacutevelem lt httpwwwskcombrsk-stathtmlgt Acesso em 08 de mar 2007

SOUZA Raquel Estrangeirismo jaacute irritava estudiosos na deacutecada de 20Disponiacutevel emlthttpwww2uolcombraprendizn_noticiasacademiaid040402htmgtAcesso em 20 de fev 2007

THE FREE DICTIONARY Disponiacutevel em ltwwwthefreedictionarycomgtAcesso em 19 de ago 2007

VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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JUNIOR Joaquim Mattoso Camara Manual de expressatildeo oral amp escrita 14ed Petroacutepolis Vozes 1997

LACOSTE Yves (org) A geopoliacutetica do inglecircs Traduccedilatildeo de Marcos MarcioniloSatildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2005

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LOBATO Monteiro Negrinha 28 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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TRIVINHO Eugecircnio A dromocracia cibercultural loacutegica da vida humana nacivilizaccedilatildeo mediaacutetica avanccedilada Satildeo Paulo Paulus 2007

VIARO Maacuterio Eduardo O nascimento das palavras Discutindo liacutenguaportuguesa Satildeo Paulo ano 1 n 3 p 55 Abr 2006a

VIARO Maacuterio Eduardo Para entender outras liacutenguas Liacutengua Portuguesa SatildeoPaulo ano 1 n 4 p 62 2006b

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AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

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ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

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COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

IDIOLETO Wikipedia Disponiacutevel em lthttpptwikipediaorgwikiIdioletogtAcesso em 12 de abr 2007

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LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

LUTIBERGUE Laeacutercio A liacutengua do futebol Disponiacutevel emlthttpjcuolcombr20060601not_113239phpgt Acesso em 10 de out 2007

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MICHAELIS Moderno dicionaacuterio da liacutengua portuguesa Disponiacutevel emlthttpmichaelisuolcombrgt Acesso em 13 de out 2007

MIGRACcedilAtildeO DOS POVOS BARBAROS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiMigraC3A7C3B5es_dos_povos_bC3A1rbarosgt Acesso em 19 de set 2007

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RICH Motoko RYZIK Melena Ainda fundamental ldquoOn the Roadrdquo faz 50 anosUol News Traduccedilatildeo de Uol News Ago 2007 Disponiacutevel emlthttpnoticiasuolcombrmidiaglobalnytimes20070815ult574u7674jhtmgtAcesso em 27 de out 2007

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SANTOS Volnyr Empreacutestimos linguumliacutesticos tradiccedilatildeo e atualidade Disponiacutevelem lt httpwwwcamaragovbraldorebelobonifaciolinguaportvolnyr2htmgtAcesso em 15 de fev 2007

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VICIO DE LINGUAGEM Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiVC3ADcio_de_linguagemgt Acesso em 23 defev 2007

VOGT Carlos Portuguecircs e esperanto - inglecircs Disponiacutevel emlthttpwwwcomcienciabrcartalinguagemhtmgt Acesso em 02 de out 2007

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Material Eletrocircnico

AFRIKAANS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAfrikaansgt7 Acesso em 30 de out 2007

ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR Que tal falar portuglecircs Jun2001 Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

ANGLICIZATION Wikipedia Disponiacutevel emlthttpenwikipediaorgwikiAnglicizationgt Acesso em 12 de out 2007

BALEIRO Zeca Liacutengua eacute a carteira de identidade de um povo Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=405gt Acesso em 15 defev 2007

BROSSARD Paulo A dolarizaccedilatildeo da liacutengua Maio 2000 Disponiacutevel emlthttpwwwnovomilenioinfbridioma20000524htmgt Acesso em 07 de abr2007

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COSTA Socircnia Bastos Borba Globalizaccedilatildeo e cultura em lugar de temorconscientizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwprohporufbabrestrangdocgtAcesso em 25 de fev 2007

DANIEL Denis Allan Aacuterea nebulosa tribunais relutam em reconhecerconcorrecircncia desleal Operadores do direito 27 mar 2007 Disponiacutevel emlthttplawyer48wordpresscom20070327area-nebulosagt Acesso em 02de nov 2007

DIEFENTHAELER Guilherme Entrevista - Cristina Schumacher Disponiacutevelemlthttpcarreirasempregoscombrcarreiraadministracaoentrevistasentrevistas051001-cristina_amanhashtmgt Acesso em 01 de out 2007

FILHO Domiacutecio Proenccedila Junho 2000 Videoconferecircncia Brasil-Portugal LiacutenguaPortuguesa Globalizaccedilatildeo estrangeirismos purismo ou acolhimentoDisponiacutevel emlthttpwwwportrasdasletrascombrpdtl2imprimirphp20item=artigosdocsglobalizacaoeestrangeirismogt Acesso em 20 de out 2007

7 Embora cientes das reservas quanto agrave confiabilidade da referida fonte por se tratar de umaenciclopeacutedia livre e sujeita a modificaccedilotildees optamos pelo seu uso por oferecer subsiacutediosterminoloacutegicos e linguumliacutesticos praacuteticos que de outro modo natildeo nos seria possiacutevel obterUtilizamos apenas conteuacutedos de conhecimento consolidado

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GLOBISH Wikipedia Disponiacutevel em lthttpenwikipediaorgwikiGlobishgtAcesso em 02 de nov 2007

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KNOumlPFLI Francisco Liacutengua portuguesa e globalizaccedilatildeo Mar 2000 Disponiacutevelem lt httpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=408gt Acesso em16 de fev 2007

LIacuteNGUAS CRIOULAS Wikipedia Disponiacutevel emlthttpptwikipediaorgwikiLC3ADnguas_crioulasgt Acesso em 27 de set2007

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MEDAGLIA Juacutelio Bissilaacutebico Brasil Disponiacutevel emlthttpwwwaldorebelocombrnoticiaasppIDNoticia=407gt Acesso em 14 demar 2007

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NEVES Luiz Euclides da Silva Estrangeirismo ou empreacutestimo uma questatildeolinguumliacutestica socioeconocircmica cultural e poliacutetica Disponiacutevel emlthttpwwwneadunamabrsitebibdigitalpdfartigos_revistas96pdfgt Acessoem 15 de fev 2007

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