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CENTRO DE ESTUDOS EM MEDICINA FETAL – FETUS 2010 PROJETO YEAR BOOK – CENTRO DE ESTUDOS EM MEDICINA FETAL. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA FETAL – FETUS. TAQUIARRITMIAS FETAIS Leonardo Carlos da Silveira Falcão São Paulo – SP 2011

TAQUIARRITMIAS FETAIS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2011/leonardo-falcao.pdf · 10 a 20% dos casos e incluem a taquicardia supraventricular, o flutter atrial e a taquicardia ventricular

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CENTRO DE ESTUDOS EM MEDICINA FETAL – FETUS 2010

PROJETO YEAR BOOK – CENTRO DE ESTUDOS EM MEDICINA FETAL.

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA FETAL – FETUS.

TAQUIARRITMIAS FETAIS

Leonardo Carlos da Silveira Falcão

São Paulo – SP

2011

LEONARDO CARLOS DA SILVEIRA FALCÃO

TAQUIARRITMIAS FETAIS

Trabalho de Conclusão de Curso em Pós-Graduação em Medicina Fetal, Projeto Year Book – FETUS 2010, Centro de Estudos em Medicina Fetal – FETUS.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Isfer.

São Paulo – SP

2010

LEONARDO CARLOS DA SILVEIRA FALCÃO

TAQUIARRITMIAS FETAIS

Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação em Medicina Fetal, Projeto Year Book – FETUS 2010, Centro de Estudos em Medicina Fetal – FETUS. São Paulo.

São Paulo, 19 de fevereiro de 2011.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________ Prof. Dr. Sang Choon Cha

Curso de Pós-Graduação em Medicina Fetal

__________________________________ Prof. Dr. Eduardo Isfer

Curso de Pós-Graduação em Medicina Fetal

AGRADECIMENTOS

A Deus, que nos deu tudo e esteve sempre presente permitindo a realização e

concretização deste trabalho.

Aos nossos pais que nos momentos de sucesso ou de dificuldades sempre nos

proporcionam o incentivo e a segurança para continuar lutando pelos nossos objetivos.

A Emanuelle, minha esposa pela paciência, incentivo e companheirismo.

Aos meus filhos pelos momentos ausentes.

Ao nosso professor orientador, que com boa vontade, compartilhou seus

conhecimentos e suas experiências, possibilitando chegar ao final de cada etapa deste

estudo.

Aos colegas pelo convívio fraternal.

A todos que de uma forma ou outra contribuíram para que esse trabalho fosse

realizado com êxito.

“Não confunda derrotas com fracasso nem vitórias com sucesso. Na vida de um campeão

sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre haverá

vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores

se acomodam nas vitórias.”

Roberto Shinyashiki

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... 07

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 08

LISTA DE TABELAS ................................................................................................. 10

RESUMO ................................................................................................................. 11

ABSTRACT .............................................................................................................. 12

1- INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

2- OBJETIVOS ........................................................................................................ 16

2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 16

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 16

3- METODOLOGIA ................................................................................................... 17

4- TAQUIARRITMIAS FETAIS .................................................................................. 18

4.1 TAQUICARDIA SINUSAL.......................................................................... 24

4.2 TAQUICARIDA SUPRA-VENTRICULAR ................................................. 28

4.3 FLUTTER ATRIAL..................................................................................... 37

4.4 TAQUICARDIA VENTRICULAR ............................................................... 43

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 48

6- REFERÊNCIAS .................................................................................................... 50

7 LISTA DE ABREVIATURAS

� BCF: Batimentos Cárdio-Fetais.

� Bpm: Batimentos por minuto

� USG: Ultrassonografia

� ECG fetal: Eletrocardiograma fetal

� BVS: Biblioteca Virtual em Saúde

� ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva

� AV: Átrio-Ventricular

� ECG: Eletrocardiograma

� TS: Taquicardia Sinusal

� TSV: Taquicardia Supra-Ventricular

� FA: Flutter Atrial

� TV: Taquicardia Ventricular

8 LISTA DE FIGURAS:

� Figura 1: Sistema de condução dos estímulos elétricos cardíacos.

� Figura 2: Mecanismos etiopatológicos das arritmias cardíacas.

� Figura 3: Classificação das taquiarritmias fetais conforme a condução AV.

� Figura 4: Traçado de avaliação das ondas P e complexos QRS-T obtidas pela

magnetocardiografia.

� Figura 5: Representação do Doppler Tecidual com obtenção das relações

entre as velocidades de contração miocárdica, atriais e ventriculares.

� Figura 6: Ecocardiograma MODO- M com obtenção dos traçados dos

movimentos das paredes atriais e ventriculares ao longo do tempo.

� Figura 7: Etiopatogenia da taquicardia sinusal.

� Figura 8: Representação esquemática da taquicardia atrial -condução AV 1:1.

� Figura 9: Conduta pré-natal frente a evidência de taquicardia sinusal.

� Figura 10: Representação gráfica da TSV x Outras arritmias cardíacas fetais.

� Figura 11: Representação esquemática da taquicardia supra-ventricular com

9

condução AV 1:1, geralmente com freqüência cardíaca superior a 240 bpm.

� Figura 12: Esquema de tratamento para a TSV não sustentada.

� Figura 13: Tratamento para a TSV sustentada / sinais de hidropisia.

� Figura 14: Esquema representando a conduta obstétrica conforme evolução

da TSV sustentada ou com hidropisia fetal não imune.

� Figura 15: Esquema representando a conduta obstétrica conforme evolução

da TSV intermitente ou com reversão total para o ritmo sinusal.

� Figura 16: Esquema representando a etiopatogenia do Flutter Atrial.

� Figura 17: Representação esquemática do flutter atrial com bloqueio parcial

dos estímulos para os ventrículos, resultando numa condução A-V 2:1.

� Figura 18: Tratamento do Flutter Atrial - via transplacentária.

� Figura 19: Taquicardia ventricular com dissociação da condução AV.

� Figura 20: Tratamento da taquicardia ventricular persistente

� Figura 21: Tratamento da taquicardia ventricular persistente com sinais de

hidropisia fetal não imune.

10 LISTA DE TABELAS:

� Tabela 1: Fatores etiológicos associados a taquicardia sinusal.

� Tabela 2: Drogas antiarrítmicas utilizadas no tratamento de taquiarritmias

fetais.

11

RESUMO

A avaliação fetal sob o ponto de vista cardiovascular: aspecto

estrutural e funcional são extremamente importantes para o prognóstico

fetal e podem influenciar diretamente na morbimortalidade perinatal. As

alterações do ritmo cardíaco fetal avaliadas neste trabalho são definidas

como taquiarritmias. Nestas circunstâncias, a freqüência cardíaca fetal,

normalmente é superior a 180 batimentos por minuto. O diagnóstico de

arritmia cardíaca fetal exige a investigação de alterações estruturais do

coração através da ecografia e do ecocardiograma. As taquiarritmias

benignas transitórias são freqüentes. Já as arritmias malignas ocorrem em

10 a 20% dos casos e incluem a taquicardia supraventricular, o flutter atrial

e a taquicardia ventricular. Quanto a etiologia das arritmias malignas,

relacionam-se à presença de vias de condução anômalas ou acessórias ou

de focos ectópicos autônomos. As arritmias benignas estão associadas

normalmente a fatores maternos ou a fatores fetais, tais como mecanismos

auto-imunes, alterações hormonais ou compressão do pólo cefálico ou

cordão umbilical. O manejo especializado das taquiarritmias fetais,

incluindo a terapia farmacológica intra-uterina, diminuem a morbidade

relacionada à hidropisia fetal, prematuridade e complicações neonatais.

Sendo assim é importante o conhecimento das características clínicas das

principais taquiarritmias fetais os medicamentos utilizados no tratamento

transplacentário ou através da cordocentese, seu prognóstico e a evolução

clínica de tais taquiarritmias.

12 ABSTRACT

Fetal evaluation under the cardiovascular point of view: structural and

functional aspects are extremely important for fetal prognosis and can directly

influence perinatal mortality. The changes in fetal heart rate evaluated in this work

are defined as tachyarrhythmias. Under these circumstances, the fetal heart rate is

usually above 180 beats per minute. The diagnosis of fetal cardiac arrhythmia

requires the investigation of structural changes of the heart using ultrasound and

echocardiography. Tachyarrhythmias are frequent benign transient. Since the

malignant arrhythmias occur in 10 to 20% of cases and include supraventricular

tachycardia, atrial flutter and ventricular tachycardia. As the etiology of malignant

arrhythmias, are related to the presence of anomalous conduction pathways or

accessory or ectopic autonomous. The benign arrhythmias are usually associated

with the maternal or fetal factors, such as autoimmune mechanisms, hormonal

changes or compression of the head or umbilical cord. The specialist management of

fetal tachyarrhythmias, including intrauterine drug therapy, reduce morbidity related

to fetal hydrops, prematurity and neonatal complications. Therefore it is important to

know the clinical characteristics of fetal tachyarrhythmias main drugs used to treat or

through transplacental cordocentesis, their prognosis and clinical outcome of these

tachyarrhythmias

13 1-INTRODUÇÃO

O processo gestacional é uma situação que gera inúmeras expectativas para

uma família, e a ocorrência de uma patologia congênita e suas conseqüências,

podem acarretar uma desestruturação, principalmente quando diagnosticadas no

período pós-natal. (Muller, 2005).

Nas últimas décadas a medicina tem demonstrado um considerável avanço

técnico-científico. A evolução dos conhecimentos e sua imediata aplicação prática

proporciona benefícios diretos ao verdadeiro beneficiário do processo, o paciente.

De uma forma em geral, as especialidades médicas têm conseguido transformar

com grande esforço e sucesso, a luta pela saúde em uma situação mais próxima do

atingível. Nesse processo evolutivo, a cardiologia fetal vem conquistando inúmeros

avanços que se sucedem em uma velocidade crescente, assim como os métodos

complementares de diagnóstico e terapêuticos, sendo incorporados rapidamente na

prática médica diária.

As possibilidades de detecção de anormalidades cardíacas estruturais e

funcionais intra-útero permitiram uma revolução na terapêutica médica dessas

anormalidades. Há algumas décadas, a dinâmica do coração fetal e outros aspectos

da vida intra-uterina era algo desconhecido para a medicina, porém o advento da

ecocardiografia fetal associada à evolução da ultrassonografia ( USG) e da medicina

fetal, estão proporcionando um “novo descobrimento” do coração fetal. Cardiopatias

graves com necessidade de atendimento de emergência logo após o nascimento

passaram a ter o diagnóstico ainda na vida intra-uterina, permitindo assim, um

melhor planejamento das ações médicas no pós-parto imediato.

O interesse nas arritmias cardíacas fetais vem aumentando nos últimos anos,

14 conseqüente à maior utilização dos métodos de monitorização fetal, proporcionando

uma mudança na avaliação e conduta frente às arritmias fetais que por sua vez está

deixando de ter cunho exclusivamente acadêmico, para alcançar aplicabilidade

clínica (Vergani et al., 2005).

Trabalhos recentes demonstram a precisão diagnóstica das arritmias pela

ecocardiografia fetal, bem como os resultados animadores em termos de tratamento

com drogas antiarrítmicas. As intervenções terapêuticas intra-uterina é uma área da

medicina fetal em grande desenvolvimento, permitindo tratar e diminuir a

morbimortalidade fetal.

As arritmias cardíacas fetais constituem em torno de 2 - 5 % das

complicações gerais de todas as gestações. A grande maioria das arritmias fetais,

cerca de 80 a 90%, são benignas e 10 a 20% são consideradas malignas, ou seja,

requerem tratamento e apresentam prognóstico ruim para evolução pós-natal

(Crosson & Scheel, 1996; Strasburger, 2000; Kleiman & Neghme, 2004).

No decorrer das últimas décadas, observou-se que o feto tem uma freqüência

cardíaca variável, podendo apresentar períodos de bradicardia ou taquicardia de

duração variável, dependendo da idade gestacional. Sendo assim, estabeleceu-se

que apenas freqüências persistentes menores que 100 batimentos por minuto (bpm)

ou maiores ou iguais a 200 bpm necessitariam de uma melhor avaliação (Allan et al.

1997, Tanel & Rhodes, 2001).

As arritmias cardíacas fetais normalmente são detectadas através do exame

auscultatório rotineiro ou através de monitorizações eletrônicas fetais. Nesses casos,

inicialmente tentou-se utilizar o eletrocardiograma fetal ( ECG fetal), porém este se

mostrou tecnicamente limitado e falho devido a interferência materna. Sendo assim,

o diagnóstico preciso exigiu o surgimento e o desenvolvimento de métodos

15 diagnósticos mais avançados tais como o ecodopplercardiograma fetal, com a

introdução do ecocardiograma modo-M, a magnetocardiografia e o doppler tecidual.

(Kleiman & Neghme, 2004; Strasburger et al, 2008).

16 2- OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Realizar revisão literária mundial sobre as principais taquiarritmias fetais.

2.2 Objetivos Específicos:

Revisar na literatura as principais taquiarritmias fetais definindo o conceito,

incidência, etiopatogenia, classificação, anomalias associadas, diagnóstico pré natal,

diagnóstico diferencial, conduta pré-natal, conduta obstétrica, assistência neonatal e

prognóstico das principais taquiarritmias fetais.

17 3-METODOLOGIA

O presente trabalho de monografia visa uma revisão literária de cunho

exploratório, tendo como palavras-chave: feto, cardiopatias, ecocardiografia, arritmia

cardíaca, taquiarritmias, etiopatogenia, diagnóstico, tratamento. Expressões-chaves:

cardiopatias + fetal; taquiarritmias fetais + ecocardiograma; taquiarritmias fetais +

tratamento + condutas; taquiarritmias fetais + prognóstico; taquicardia atrial + fetal;

flutter atrial + fetal; taquicardia ventricular + fetal.

Foi realizado um levantamento, seleção e revisão bibliográfica de acervos

públicos e privados, selecionando livros, artigos e periódicos em bancos de dados

da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Pubmed e Bireme.

A revisão literária seguiu as seguintes etapas: definição prévia do tema através

de “sorteio”, revisão bibliográfica preliminar, busca das fontes, revisão literária do

material, organização do material e redação do trabalho sobre as principais

taquiarritmias encontradas na vida fetal.

.

18 4- TAQUIARRITMIAS FETAIS

Segundo Lopes & Zugaib 1997, o sistema de condução do coração fetal está

funcionalmente maduro por volta da 16ª semana. O nó sinusal encontra sua própria

artéria para irrigação na 10ª semana e apresenta um pouco menos de colágeno em

comparação ao nó sinusal do indivíduo adulto.

O nó atrioventricular (AV) é formado na 10ª semana, separadamente do feixe

de Hiss. A fusão de ambos é feita secundariamente.

O sistema de condução cardíaco é formado pelos elementos: nó sinusal; vias

preferenciais atriais; nó AV; bifurcação dos ramos do feixe de Hiss em direito e

esquerdo; rede ou fibras de Purkinje; miocárdio ventricular.

Figura 1: Representação do sistema de condução dos estímulo elétricos cardíacos.

Fonte: http://geocities.ws/equipecv/fisiologia/figuraconducao.html

19

As cardiopatias congênitas que apresentam defeitos septais determinam o

deslocamento do sistema de condução, porém não o interrompem. As fibras

miocárdicas que constituem o sistema de condução apresentam uma característica

fisiológica determinante que é a automaticidade, responsável pelo surgimento de

mecanismos de arritmia. A automaticidade deve ser compreendida como uma

característica apenas das fibras miocárdicas especializadas, que formam o sistema

de condução e não do miocárdio contráctil. Refere-se à origem rítmica espontânea

dos impulsos que são conduzidos para todas as partes do coração. O miocárdio

contráctil, por sua vez, apresenta como característica, o período refratário relativo e

absoluto. O período refratário absoluto é quando a fibra miocárdica, uma vez

contraída, apresenta um intervalo de tempo finito durante o qual não pode ser

estimulada novamente. Ao final desse tempo, começa o período refratário relativo,

quando volta a apresentar, porém não completa resposta frente a um estímulo. O

período refratário absoluto é o período responsável pela proteção do coração em

relação às arritmias.

Figura 2: Mecanismos etiopatológicos das arritmias cardíacas.

Mecanismos Etiopatológicos:

Fonte: o autor

Automaticidade anormal Condução anormal dos estímulos

20

Sendo assim, a arritmia cardíaca resulta de uma automaticidade anormal,

uma condução anormal ou da combinação de ambos.

Figura 3: Classificação das taquiarritmias fetais conforme a condução AV.

Fonte: o autor

Quando há dissociação AV, os mecanismos mais prováveis são a reentrada

intra-atrial e a taquicardia atrial automática (Naheed et al,1996).

Os métodos de avaliação das arritmias cardíacas fetais apresentaram

evolução significativa nas últimas décadas. Sendo assim, essas arritmias podem ser

analisadas através da magnetocardiografia, método não-invasivo e teoricamente

capaz de realizar uma avaliação das ondas P e complexos QRS-T a partir de 20

semanas de gestação ( Kähler et al, 2001; Maeno et al, 2009; Strasburger et al,

2008).

1- Condução AV 1:1

2- Dissociação AV

TS

TSV

FA

TV

21 Figura 4: Avaliação das ondas P e complexos QRS-T - magnetocardiografia.

Fonte: Strasburger JF, Cheulkar B, Wakai RT. Magnetocardiography for fetal arrhythmias. Heart

Rhythm. 2008; 5:1073–1076.

O Doppler Tecidual é o método mais recente a ser utilizado para avaliação

das arritmias cardíacas fetais, descrevendo relações entre as velocidades de

contração miocárdica, atriais e ventriculares. (Maeno et al, 2009; Strasburger et al,

2008; Matta & Cuneo, 2010).

Figura 5: Representação do Doppler Tecidual com obtenção das relações entre as

velocidades de contração miocárdica, atriais e ventriculares.

Fonte: www.echotalk.blogspot.com

22

A ecocardiografia M-MODE, método mais utilizado na prática clínica,

caracteriza-se por ser um exame realizado em tempo real, onde a imagem

bidimensional cardíaca pode orientar a posição da linha de foco, sendo assim,

obtém-se traçados dos movimentos das paredes atriais e ventriculares ao longo do

tempo. As informações orientam sobre a cronologia dos eventos mecânicos do ciclo

cardíaco, os quais refletem eventos elétricos prévios (Devore,1983; Carvalho, 1997;

Maeno et al 2009; Callen, 2010).

Figura 6: Ecocardiograma MODO- M com obtenção dos traçados dos movimentos

das paredes atriais e ventriculares ao longo do tempo.

Fonte: www.impaedcard.com

A avaliação da ecocardiografia do M-MODE por ser realizada também pelo

doppler pulsátil que caracteriza-se pela utilização da imagem ultrassonográfica

bidimensional para direcionar o transdutor do Doppler pulsátil para dentro das

câmaras cardíacas ou grandes vasos, fornecendo informações relacionadas à

cronologia dos eventos mecânicos e sua influência no enchimento ventricular e fluxo

arterial. A utilização do Doppler colorido em associação com a ecocardiografia M-

23 MODE na avaliação estrutural e dinâmica do coração fetal trouxe uma melhor

acurácia ao diagnóstico estrutural pré-natal, pois oferece simultaneamente dados

sobre o fluxo sangüíneo, apesar da perda da resolução temporal nesse mapeamento

colorido do fluxo. Essa limitação pode ser amenizada com a realização de um ECG

ao nascer, que fornece essa informação temporal e cronológica dos eventos.

(Kovalchin, 2004; Kohl, 2002; Isfer, 1996; Pastore; 2010).

Dentre as principais taquiarritmias fetais destacam-se: a taquicardia sinusal

(TS), a taquicardia supra-ventricular (TSV), o flutter atrial (FA) e a taquicardia

ventricular (TV). Estas, por apresentarem maior incidência, importância clínica

devido ao fato de determinarem maiores dúvidas ao pré-natalista quanto a sua

evolução, tratamento e prognóstico serão analisadas no decorrer deste trabalho.

24 4.1- TAQUICARDIA SINUSAL:

Conceito:

A taquicardia sinusal caracteriza-se pela presença de um ritmo de condução

AV 1:1. Geralmente, a freqüência cardíaca apresenta-se de forma variável. Sendo

assim, observamos na maioria dos casos de taquicardia sinusal freqüências

cardíacas basais entre 180 e 190 bpm, com variações normais em resposta à

atividade fetal (Zielinsky, 1996).

Incidência:

É uma arritmia fetal freqüente em decorrência de sua associação com

situações maternas que determinam e se caracterizam por apresentar uma

estimulação adrenérgica fetal.

Etiopatogenia:

A taquicardia sinusal muitas vezes não apresenta etiopatogenia definida, mas

geralmente decorre de uma estimulação adrenérgica do nó sinusal fetal.

Figura 7: Representação esquemática da etiopatogenia da taquicardia sinusal.

Fonte: o autor

Estimulação Adrenérgica

Taquicardia Sinusal

25

Foram enumeradas diversas causas dessa estimulação adrenérgica.

Segundo Gymosky et al, 2004; as principais causas da taquicardia sinusal estão

associadas a fatores maternos e fetais.

Tabela 1: Fatores etiológicos associados a taquicardia sinusal.

Maternos Fetais

Infecções maternas / Hipertermia materna Hipoxemia fetal

Ingesta de drogas Acidose

Ingesta de hormônios Infecção fetal

Hipertireoidismo Miocardites

Fonte: o autor

Diagnóstico Pré-Natal:

A taquicardia sinusal é evidenciada geralmente ao exame físico da gestante,

através da ausculta dos batimentos cardiofetais, onde constata-se a o aumento da

freqüência cardíaca fetal acima de 160 batimentos por minuto. Normalmente, a

taquicardia sinusal está associada à intensa movimentação fetal. Quando persistente

deve-se indicar o ecocardiograma fetal para uma melhor avaliação desta situação.

O ecocardiograma fetal utilizado para avaliação complementar permite a

identificação da seqüência temporal entre a sístole atrial e ventricular, sendo seu

registro realizado no modo M e mensurado em milissegundos. Espera-se encontrar

um ritmo com condução AV 1:1, com freqüência cardíaca variável, acima de 160

batimentos por minuto.

26 Figura 8: Representação esquemática da taquicardia atrial com condução AV 1:1. (A)

(V)

( A) Triângulo vermelho representa a contração atrial

( V) Triângulo azul representa a contração ventricular

Fonte: o autor

Diagnóstico Diferencial:

Nos casos de taquicardia sinusal deve-se fazer o diagnóstico diferencial com

outras taquiarritmias supraventriculares: tais como a taquicardia atrial, flutter atrial e

a taquicardia supra-ventricular.

Conduta Pré-Natal:

Os casos de taquicardia sinusal são geralmente benignos e associados a

situações de estimulação adrenérgica, como por exemplo a própria movimentação

fetal. Sendo assim, a conduta para esses casos consiste no acompanhamento do

crescimento fetal, sua vitalidade e também no tratamento de situações que podem

estar desencadeando o estímulo adrenérgico (Strasburger, 1997).

27 Figura 9: Conduta pré-natal frente a evidência de taquicardia sinusal.

Fonte: o autor

Conduta Obstétrica:

O obstetra deve acompanhar o pré-natal, observando a evolução clínica do

feto. Como a taquicardia sinusal geralmente apresenta-se de forma benigna, sem

comprometimento da vitalidade fetal, deve-se conduzir a gestação até o mais

próximo do termo, a não ser em casos de risco materno ou fetal.

Conduta Neonatal / Prognóstico:

A taquicardia sinusal por apresentar-se na maioria das vezes como uma

arritmia fetal benigna, apresenta prognóstico neonatal favorável e poucas vezes

exige cuidados intensivos ou tratamento neonatal diferenciado. Porém é importante

que o neonatologista seja informado sobre o diagnóstico obstétrico e esteja atento a

sinais clínicos de possíveis complicações com descompensação clínica

(Emmanouilides, et al. 1995).

TAQUICARDIA SINUSAL FETAL

AVALIAÇÃO MATERNA Anamnese

Exame físico Ex. laboratoriais

AVALIAÇÃO FETAL USG Obstétrica USG Doppler

Cardiotocografia Ecocardiograma

28 4.2-TAQUICARDIA SUPRA-VENTRICULAR:

Conceito:

No feto, a taquicardia supra-ventricular (TSV) é definida por um aumento

persistente da freqüência cardíaca acima de 200 batimentos por minuto, estando

geralmente entre 240 – 290 batimentos por minuto.

A TSV é uma arritmia geralmente mal tolerada, com freqüente evolução para

insuficiência cardíaca diastólica e hidropisia fetal secundária. Quando a seqüência

atrioventricular é mantida, as manifestações de sofrimento são geralmente mais

tardias e menos intensas. (Bergmans,1985; Hallak et al, 1991; M, Zielinsky, 1996)

Incidência:

É uma arritmia pouco freqüente, porém é a forma mais comum de

taquiarritmia fetal.

Numa análise de 1379 fetos realizada por Kleinman e colaboradores (2004),

observou-se que os fetos encaminhados à sua instituição para avaliação de arritmias

cardíacas fetais, 1213 (88%) apresentavam um ritmo sinusal normal ou

extrassístoles isoladas, as quais se resolveram com a evolução da gestação ou nos

primeiros dias de vida; dos 166 fetos que apresentavam arritmias cardíacas

sustentadas, a maioria (69) caracterizava-se por apresentar TSV.

29 Figura 10: Representação gráfica da TSV x Outras arritmias cardíacas fetais.

Análise de 166 fetos com arritmias sustentadas.

TSV43%

Outras57%

TSVOutras

Fonte: O autor

Etiopatogenia:

Há dois mecanismos propostos para definir a etiopatogenia da TSV, podendo

ambos apresentarem-se de forma contínua ou intermitente.

1) Reentrância com conexão átrio-ventricular acessória: apresenta uma pequena

variabilidade batimento a batimento, de início e término súbitos, sustentado ou

não, havendo concordância átrio-ventricular em 1:1 com início e resoluções

espontâneas súbitas (Tanel & Rhodes, 2001). Geralmente, caracteriza-se por

ser secundária ao aumento da automaticidade do foco atrial sinusal ou não,

apresentando uma alta associação com cardiomiopatias. (Jones & Garmel,

2001).

2) Foco ectópico: caracteriza-se por apresentar foco ectópico com

características de marcapasso, normalmente com freqüência cardíaca muito

elevada (Tanel & Rhodes, 2001; Jones & Garmel, 2001).

30 Diagnóstico Pré-Natal:

O diagnóstico de TSV caracteriza-se pela presença de uma freqüência

cardíaca onde as taxas variam entre 200-300 bpm. Normalmente a freqüência

cardíaca é superior a 240 bpm, embora índices fisiológicos também possam ser

observados em determinados momentos. O diagnóstico deve ser realizado através

do ecocardiograma fetal Modo-M.

Segundo Zielinsky, 1998 foram revisados os registros médicos de 3117

gestantes encaminhadas para um centro terciário de cardiologia fetal, de janeiro/89 a

outubro/97, neste trabalho o diagnóstico baseou-se na análise da seqüência

temporal da contração atrial e ventricular ao ecocardiograma uni-bidimensional.

Foram diagnosticados 25 casos (0,83%) de taquiarritmias fetais, sendo 17 casos de

TSV.

Figura 11: Representação esquemática da taquicardia supra-ventricular com

condução AV 1:1, geralmente com freqüência cardíaca superior a 240 bpm.

(A)

(V)

( A) Triângulo vermelho representa a contração atrial

(V) Triângulo azul representa a contração ventricular

Fonte: o autor

31 Diagnóstico Diferencial:

Nos casos de taquicardia sinusal deve-se fazer o diagnóstico diferencial com

outras taquiarritmias supraventriculares: taquicardia atrial e o flutter atrial.

Conduta Pré-Natal:

Segundo Crosson & Scheel, 1996, a decisão em tratar a TSV depende de

alguns critérios que necessitam ser avaliados:

1) Idade gestacional no momento do diagnóstico da TSV;

2) Presença de sinais de insuficiência cardíaca;

3) Duração dos episódios de taquicardia;

4) Opinião dos pais sobre o tratamento a ser instituído.

Confirmado o diagnóstico de TSV é necessário hospitalizar a gestante, pois

há um grande risco de instalação de insuficiência cardíaca congestiva com hidropisia

fetal não-imune, determinando uma piora significativa no prognóstico fetal.

(Sharland, 2001, Hallak et al., 1991).

O tratamento medicamentoso utiliza drogas que apresentam ação de

supressão da condução elétrica cardíaca e prolongam os períodos refratários no

nódulo AV ou no tecido acessório. O tratamento deve ser iniciado com antiarrítmicos

administrados de forma transplacentária, preferencialmente em esquema de

monoterapia. A digoxina é a droga de escolha:

- Dose de ataque: 1,0 – 1,5 mg via oral (VO) / dia durante 03 dias.

- Dose de manutenção: 0,5 – 0,75 mg VO / dia até o parto.

32 Figura 12: Esquema de tratamento para a TSV não sustentada.

Digoxina

ManutençãoAtaque

1 – 1,5 mg / d 0,5 - 0,75 mg / d

Fonte: o autor

Nos casos de TSV sustentada ou com evolução para hidropisia fetal não-

imune deve-se indicar a terapêutica fetal de ataque via cordocentese e a terapêutica

de manutenção via transplacentária:

- Dose de ataque (Cedilanide): 0,04 mg/Kg/feto

- Dose de manutenção (Digoxina): 0,5 – 0,75 mg VO / dia até o parto

33 Figura 13: Esquema de tratamento para a TSV sustentada ou sinais de hidropisia.

TSV SustentadaHidropisia

Ataque

Cordocentese Transplacentária

Cedilanide0,04 mg/Kg

Digoxina0,5 / 0,75 mg/d

Manutenção

Fonte: o autor

A digoxinemia materna deve ser monitorizada a cada dois dias quando se

está na fase de dose de ataque, sabendo-se que a dose terapêutica fetal é atingida

quando a digoxinemia materna atinge 1,5 - 2,0 ng/ml. A possibilidade de intoxicação

digitálica materna é real, sendo aconselhável que se faça todo este tratamento com

monitorização materna em ambiente hospitalar (Bergmans, 1985; Hallak et al,1991;

Gimosky et al, 2004;) .

Outras opções de tratamentos utilizam drogas alternativas: beta-bloqueadores

(propanolol); bloqueadores de canais de cálcio (verapamil); antiarrítmicos tipo IA

(quinidina, procainamida); e antiarrítmicos tipo III (amiodarona, sotalol). O flecainide

também é muito efetivo no tratamento de taquicardia supraventricular fetal, porém

seu uso é limitado devido seus possíveis efeitos pró-arrítmicos. A amiodarona pode

34 ser utilizada no tratamento das taquicardias supraventriculares, porém sua baixa

tolerabilidade restringe seu uso como droga de primeira linha, principalmente por

estar associada à supressão da função tireoidiana (Oudijk et al., 2002, Jouannic et

al., 2003).

Conduta Obstétrica:

Deve-se monitorar a evolução da gestação nos casos de reversão total para o

ritmo sinusal. Nos casos de não reversão da taquiarritmia supraventricular ou em

fetos hidrópicos com maturidade pulmonar atingida, a resolução da gestação deve

ser formalizada e o tratamento realizado pós-natal, pois ocorre um grande prejuízo

na transferência transplacentária de drogas devido ao edema placentário.

Figura 14: Esquema representando a conduta obstétrica conforme evolução da TSV

sustentada ou com hidropisia fetal não imune.

( + ) ( - )

TSV Sustentada Hidropisia Fetal

Maturidade pulmonar

Interrupção Corticóide + Interrupção

Tratamento Neonatal

Fonte: o autor

35 Figura 15: Esquema representando a conduta obstétrica conforme evolução da TSV

intermitente ou com reversão total para o ritmo sinusal.

Fonte: o autor

Assistência Neonatal:

O tratamento da TSV no neonato tem como principal objetivo a manutenção

do ritmo sinusal e a prevenção da ICC, promovendo alívio dos sinais e sintomas da

congestão venosa sistêmica e pulmonar; melhorar o desempenho do miocárdio;

melhorar a perfusão periférica e aumentar o suprimento tecidual de oxigênio. (Buck,

2005; Emmanouilides, et al. 1995).

A TSV intermitente ou quando apresenta reversão completa para o ritmo

sinusal durante a gestação costuma apresentar um prognóstico neonatal favorável e

eventualmente exige cuidados intensivos. Nestes casos, deve-se manter o

antiarrítmico por um período de 6 – 12 meses.

Nos casos de fetos com TSV persistente ou com sinais de hidropisia, o

prognóstico torna-se reservado e o neonatologista deve estar atento para uma

descompensação clínica e uma evolução desfavorável.

TSV Intermitente / com reversão

total

Ecocardiograma controle

2 -2 semanas

Ritmo Sinusal

36

O neonatologista deve estar atento a sinais clínicos de insuficiência cardíaca

congestiva (ICC) no neonato: cardiomegalia, taquicardia, taquipnéia e

hepatomegalia. O conjunto desses sinais é tão importante que, na ausência de um

deles, devemos questionar o diagnóstico de ICC. Alguns exames podem ser úteis

para avaliação complementar:

1) Radiografia do tórax: observar se há alterações na área cardíaca e sinais

de congestão venocapilar pulmonar.

2) Eletrocardiograma: importante para avaliação diagnóstica e evolutiva da

TSV no neonato.

3) Ecocardiograma: é fundamental para confirmação do diagnóstico,

possibilitando uma avaliação estrutural do coração (outras possíveis cardiopatias

congênitas, miocardiopatias, valvulopatias) e avaliação funcional (dimensão das

cavidades ventriculares, função sistólica e diastólica ventricular).

4) Exames laboratoriais: Hemograma, VHS, eletrólitos, glicemia, urina e

gasometria arterial. (Braunwald, et al. 2001; Sharland 2001).

37 4.3- FLUTTER ATRIAL:

Conceito:

A terminologia foi usada inicialmente em adultos para descrever os traçados

eletrocardiográficos que apresentavam despolarizações atriais regulares numa

freqüência de 260 – 340 batimentos por minuto.

No feto, o flutter atrial é definida como uma freqüência regular atrial rápida de

300-600 bpm acompanhada por graus variáveis de bloqueio da condução AV,

resultando em uma menor freqüência ventricular. (Lisowski,2000; Tanel & Rhodes,

2001.)

Quando a freqüência atrial apresenta essas características, o nó AV realiza

um bloqueio fisiológico do estímulo elétrico numa proporção 2:1 (Bloqueio átrio-

ventricular de segundo grau).

Incidência:

O flutter atrial representa um terço das taquiarritmias fetais (26,2%), sendo a

mais comum taquicardia atrial primária (Tanel & Rhodes, 2001; Matta & Cuneo,

2010). A maioria dos fetos e recém-nascidos com flutter atrial apresentam o coração

estruturalmente normal. No entanto, há uma maior incidência do flutter atrial quando

presente algumas anomalias cardíacas estruturais, tais como anomalia de Ebstein

de valva tricúspide e defeitos septais AV (Naheed et al, 1996; Porat et al, 2003).

Segundo Southall et al (1981), em 3383 nascidos, apenas 1 recém nascido

apresentava flutter atrial, isso porque o flutter atrial geralmente apresenta conversão

espontânea para o ritmo sinusal no parto e a sua recorrência é pouco freqüente.

38 Etiopatogenia:

A etiopatogenia do flutter atrial está relacionado a um circuito de arritmia

reentrante restrita as câmaras atriais, não envolvendo o nódulo AV, o qual transmite

com graus de bloqueio variáveis os estímulos aos ventrículos. A diminuição ou

bloqueio do nódulo AV não acaba com a arritmia. Essa situação, apenas diminui a

resposta ventricular, mantendo um assincronismo atrioventricular e altas pressões

atriais, pois os átrios mantêm-se contraídos contra válvulas atrioventriculares

fechadas durante a sístole ventricular. (Lisowski,2000)

Figura 16: Esquema representando a etiopatogenia do Flutter Atrial.

Fonte: o autor

Circuito de Arritmia Reentrante - AD

Restrita aos ÁtriosNão envolve nódulo AV

Bloqueio AV variável

Assincronismo A-V

Como regra geral, o flutter atrial origina-se no átrio direito, enquanto que na

fibrilação atrial, que é mais freqüente em adultos, tem origem no átrio esquerdo. Um

circuito de flutter envolve:

1) barreira anatômica ou funcional;

2) zona de condução lenta (ou condução sobre um circuito alargado);

3) área de bloqueio unidirecional.

39 Diagnóstico Pré-Natal:

O flutter atrial geralmente é suspeitado pela ausculta dos batimentos

cardíacos fetais. Ecocardiograficamente caracteriza-se por uma freqüência atrial em

torno de 400 – 500 batimentos por minuto, com condução átrio-ventricular variável,

mais freqüente numa proporção 2:1; sendo a freqüência ventricular entre 200 – 250

batimentos por minuto. O flutter atrial é uma taquiarritmia fetal que quando

diagnosticada exige providências terapêuticas imediatas devido ao alto risco de IC e

hidropisia (Tanel & Rhodes, 2001; Matta & Cuneo, 2010).

Figura 17: Representação esquemática do flutter atrial com bloqueio parcial dos

estímulos para os ventrículos, resultando numa condução A-V 2:1.

(A)

(V)

( A) Triângulo vermelho representa a contração atrial

(V) Triângulo azul representa a contração ventricular

Fonte: o autor

40 Diagnóstico Diferencial:

Nos casos de flutter atrial com condução 1:1, é necessário o diagnóstico

diferencial com a taquicardia atrial sustentada. Esse diagnóstico diferencial pode ser

feito através da administração de adenosina ao feto. Observa-se então o

desencadeamento de um bloqueio AV nos fetos que apresentam o flutter atrial.

(Leiria, et al 2000).

Conduta Pré-Natal:

A conduta pré-natal requer inicialmente a confirmação diagnóstica da arritmia

cardíaca fetal através da realização do ecocardiograma fetal.

A terapêutica do flutter atrial assemelha-se as outras taquiarritmias

supraventriculares fetais. Inicia-se o tratamento com a administração materna de

digital. A passagem do digital através da barreira placentária é em torno de 50 –

70%. Sendo assim, são necessárias doses maiores do que as que habitualmente

seriam administradas a mãe.

Inicia-se a digitalização com uma dose de ataque: 2,0 – 2,5 mg em um

período de 24 horas, dividida em 3 doses.

Figura 18: Tratamento do Flutter Atrial - via transplacentária.

Fonte: o autor

41

Importante a monitorização eletrocardiográfica materna contínua e a

realização de dosagem diária dos níveis de digoxina sérica materna. Após a

reversão do flutter atrial, a dose de manutenção deve ser ajustada para 0,25 – 0,5

mg/dia.

Nos casos de persistência da arritmia após a obtenção de níveis séricos de

digoxina, indica-se o uso do sotalol por via materna. A dose inicial do sotalol é de 80

– 160 mg / dia, podendo aumentar em períodos de 03 dias até no máximo de 480

mg / dia. O uso de sotalol deve ser monitorado através de ECG materno diário. A

eficácia do uso do sotalol é superior a 80%, com reversão para ritmo sinusal.

Quando a resposta terapêutica ao tratamento via transplacentária não for

satisfatório, pode ser realizada a cordocentese e realizar a terapêutica fetal direta.

Inicialmente indica-se a digitalização com digoxina numa dose de 0,03 mg / Kg de

peso. No insucesso dessa droga, pode-se utilizar ainda: amiodarona 15 mg / Kg.

Segundo Krapp et al, 2003, o flutter atrial é uma arritmia de difícil reversão

intra-uterina e necessita de criatividade terapêutica para o seu manejo.

Oudijk et al, 2000, defendem que o tratamento inicial do flutter atrial deva ser

iniciado diretamente com o sotalol, devido ao mal resultado obtido com o uso do

digital.

Conduta Obstétrica:

A conduta obstétrica deve levar em consideração alguns aspectos

importantes:

1) Idade gestacional no momento do diagnóstico do flutter atrial;

2) Presença de sinais de insuficiência cardíaca / hidropisia;

3) Presença ou ausência da maturidade pulmonar.

42

Nos casos em que se constata a maturidade pulmonar, a gestação deve ser

interrompida e o tratamento de deve ser realizado pós-natal. (Krapp, 2003)

Assistência Neonatal:

O atendimento neonatal de um recém nascido com diagnóstico de flutter atrial

preenche os mesmos princípios básicos do atendimento de um recém nascido com

TSV: manutenção do ritmo sinusal; prevenção da IC; promovendo o alívio dos sinais

e sintomas da congestão venosa sistêmica e pulmonar; melhorar o desempenho do

miocárdio; melhorar a perfusão periférica e aumentar o suprimento tecidual de

oxigênio. (Buck, 2005; Emmanouilides, et al. 1995).

43 4.4- TAQUICARDIA VENTRICULAR:

Conceito:

A taquicardia ventricular caracteriza-se pela presença de três ou mais extra-

sístoles ventriculares consecutivas. Nesses casos, a freqüência ventricular é variável

entre 100 – 400 bpm e a atividade atrial é independente, porém menor que a

ventricular( Kleiman et al, 2004; Maeno et al, 2009).

Incidência:

É uma arritmia cardíaca fetal extremamente rara, apresenta um diagnóstico

difícil e na maioria das vezes não necessita de tratamento, sendo geralmente bem

tolerada. (Lopes & Zugaib, 1997)

Etiopatogenia:

O mecanismo fisiopatológico da taquicardia ventricular decorre de um

mecanismo de competição com o ritmo sinusal, apresentando dissociação átrio-

ventricular. Observa-se uma dissociação atrioventricular com perda da relação 1:1

entre contrações atriais e ventriculares, mas sem uma freqüência cardíaca muito

elevada ( Zielinsky, 1996).

Diagnóstico Pré-Natal:

O diagnóstico dessa arritmia é realizada pelo ecocardiograma fetal que

demonstra uma freqüência ventricular variável entre 100 – 400 bpm, com atividade

atrial independente – dissociação átrio-ventricular. Nesses casos, a arrritmia

caracteriza-se por apresentar uma freqüência atrial independente e menor que a

44 ventricular. ( Kleiman et al, 2004; Maeno et al, 2009).

Figura 19: Representação esquemática da taquicardia ventricular com dissociação

da condução AV. A freqüência atrial é independente e menor que a ventricular.

(A)

(V)

( A) Triângulo vermelho representa a contração atrial

(V) Triângulo azul representa a contração ventricular

Fonte: o autor

Diagnóstico Diferencial:

Deve-se distinguir a taquicardia ventricular dentre as principais taquiarritmias

fetais, já que esta apresenta características próprias que a diferenciam das demais

taquiarritmias fetais.

Conduta Pré-Natal:

A maioria dos casos de taquicardia ventricular apresentam uma freqüência

cardíaca abaixo de 200 bpm, sendo assim, são bem toleradas e muitas vezes

apresentam reversão expontânea e não necessitam de tratamento (Maeno et al,

45 2009).

Nos casos de persistência da taquicardica ventricular ou freqüências acima de

200 bpm, a terapêutica básica é a utilização materna de mexiletine ou procainamida.

A digoxina deve ser evitada nesta circunstâncias. Indica-se também a

monitoração ecográfica e ecocardiográfica para avaliação freqüente do feto. (Fouron,

2004)

Figura 20: Tratamento da taquicardia ventricular persistente.

�Conduta Pré-Natal:

(Fouron, 2004)

FC > 200 bpm

Procainamida3 – 6 g VO ao dia

Mexiletine100 – 200 mg 8/8

horas

Tranplacentária

Fonte: o autor

Situações onde a freqüência cardíaca fetal apresenta-se superior a 200 bpm,

ou ainda, o feto apresenta alterações ecográficas sugestivas de hidropisia fetal não

imune, exigem intervenções mais agressivas. Nesses casos, indica-se a

cordocentese com a utilização de drogas como a lidocaína ou ainda o propranolol

(Fouron, 2004).

46 Figura 21: Tratamento da taquicardia ventricular persistente com sinais de hidropisia

fetal não imune.

�Conduta Pré-Natal:

Propranolol80 – 320 mg/d

Licocaína1mg/Kg/dose

Cordocentese

FC > 200 bpmHidropisia Fetal

Fonte: o autor

Conduta Obstétrica:

A conduta obstétrica deve basear-se na evolução clínica da gestação. Nos

casos em que o feto apresenta reversão espontânea da arritmia ou ainda a tolera

bem, deve-se monitorar a evolução do quadro pelo menos até que se alcance a

maturidade pulmonar. Fetos com maturidade pulmonar, a resolução da gestação

deve ser ultimada e o tratamento realizado pós-natal (Maeno et al, 2009; Kleiman &

Neghme, 2004).

Assistência Neonatal

O tratamento está relacionado às condições do nascimento, fetos com sinais

eminentes de insuficiência cardíaca ou hidropisia necessitam de atenção e manejo

47 cuidadoso. Na maioria das vezes, o neonato não necessita de qualquer tratamento,

o que mostra o bom prognóstico desse tipo de arritmia. (Sharland,2001)

Tabela 2: Drogas antiarrítmicas utilizadas no tratamento das taquiarritmias fetais.

Droga Dosagem Efeitos Colaterais

Digoxina 0,5 – 1 mg/dia Bradicardia, BAV

Amiodarona Ataque: 600 mg VO 6/6h

Manutenção: 800 mg/d

Trombocitopenia,disfunção tireoidiana,

RCIU, prolongamento de QT.

Quinidina 300 mg 6/6 horas

Máx. 3 g/dia

Trombocitopenia

Flecainide 100 – 400 mg/d Anormalidades de condução, óbito

fetal, distúrbios visuais.

Propranolo l 80 – 320 mg/dia Bradicardia, RCIU

Procainamida 600 mg EV / 20 min.

3.000 – 6.000 mg VO / dia

TPP, prolongamento QT

Sotalol 40 – 180 mg/d Prolongamento de QT

Verapamil 80 – 160 mg 8/8 horas Bradicarida, óbito fetal

Lidocaína 1 mg/Kg/dose Alterações neurológicas maternas

Fonte: o autor

48 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O advento da ultrassonografia, o aprimoramento dos equipamentos e a

utilização do Doppler, proporcionou um benefício significativo a obstetrícia. Nos dias

de hoje, a realização de ultra-sonografia obstétrica no acompanhamento pré-natal é

rotina obrigatória, e sempre que possível realizada no primeiro, segundo e terceiro

trimestres. A evolução da propedêutica biofísica fetal viabilizou o surgimento e o

desenvolvimento de uma especialidade recente, a Medicina Fetal. Ao longo dessa

última década, houve amadurecimento tanto na importância quanto na utilização

desses métodos na assistência pré-natal, criando rotinas e desenvolvendo novas

técnicas e aplicações, auxiliando a boa prática clínica.

As cardiopatias congênitas constituem um conjunto de anomalias do

desenvolvimento do sistema cardiovascular fetal, que assumem importância visto

corresponderem à cerca de 10% das anomalias congênitas diagnosticadas no

recém-nascido. O diagnóstico intra-uterino precoce de anomalias cardíacas fetais,

anatômicas ou funcionais, nos permite em alguns casos o tratamento intra-uterino do

concepto possibilitando adequado planejamento do parto, com equipe especializada

para prestar adequado atendimento ao recém-nascido.

O estudo do coração fetal deve ser realizado por volta da 20° semana de

gestação, através da ecocardiografia fetal. Esta por sua vez, deve ser utilizada para

o diagnóstico preciso das anormalidades cardíacas fetais. Sendo assim, utilizamos

primeiramente a ultra-sonografia bidimensional (Modo-B), seguindo-se com o modo-

M, com o Doppler-pulsátil, e finalmente com o Doppler-colorido. A utilização dessas

quatro técnicas é fundamental para o completo exame do coração fetal, tanto em

termos morfológicos quanto funcionais.

49

As taquiarritmias fetais caracterizam-se por elevar a morbimortalidade fetal

em decorrência do desenvolvimento de IC fetal e hidropsia. A maioria dos casos são

diagnosticados durante o último trimestre da gestação, pois é a fase onde há maior

probabilidade de ocorrer processos destrutivos no sistema de condução cardíaca e

também o período onde mais se realiza a monitorização da freqüência cardíaca fetal

(Kleiman & Neghme, 2004).

A terapêutica fetal também em constante evolução seja via transplacentária

ou de forma invasiva através da cordocentese, tem a finalidade de melhorar a

função cardíaca, mantendo o ritmo sinusal, prevenindo o desenvolvimento da IC,

promover o alívio dos sinais e sintomas da congestão venosa sistêmica e pulmonar,

melhorando as condições fetais e favorecendo uma boa evolução clínica para o

neonato.

Sendo assim, este trabalho permitiu uma revisão sobre as principais

características das taquiarrtimias fetais, proporcionando a formação de condutas e

opções terapêuticas para uma boa assistência fetal, obstétrica e neonatal.

50 6- REFERÊNCIAS

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