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Universidade Federal do Rio de Janeiro Aluna: Suellen Pereira de Souza DRE: 112123027 Matéria: Direção VI PROJETO DIREÇÃO VI Azul! Jacob El-Mokdisi Sugestão de Orientação Adriana Schneider Alcure Jacyan Castilho Eleonora Fabião

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Aluna: Suellen Pereira de Souza DRE: 112123027 Matéria: Direção VI

PROJETO DIREÇÃO VI

Azul! Jacob El-Mokdisi

Sugestão de Orientação Adriana Schneider Alcure Jacyan Castilho Eleonora Fabião

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SUMÁRIO

Introdução 03

Objetivos 05

Justificativa 06

Metodologia 07

Cronograma de Atividades 10

Referências Bibliográficas 11

Referências Audiovisuais 12

Anexos 13

Texto “Azul!” 15

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INTRODUÇÃO

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.” 1

Escolher uma peça para encenar, de qualidade, com uma viés crítica à

sociedade moderna e que leve o espectador a refletir sobre os problemas sociais que o

afligem, não é uma tarefa fácil.

Em Direção V apresentei a peça “A Patente” (1917) de Luigi Pirandello

(1867-1936) e percebi que cometi um erro ao escolher esta peça que foi escrita para

uma sociedade de cultura e época diferentes da que vivemos. Obviamente isto

resultou em um erro de direção que só foi percebido ao apresentar “A Patente” ao

público. Neste aspecto, ao fazer um “mea culpa”, percebi que deveria ter usado

referências nacionais e atuais nesta obra. Isto me fez perceber que tenho preferência

por textos que esmiúcem a minha realidade, que atendam a minha visão crítica da

sociedade contemporânea. Como resultado, decidi que em Direção VI apresentaria

uma peça ou adaptação de um autor brasileiro.

Na busca pela peça, li as seguintes obras: “Valsa Nº6” (1951) de Nelson

Rodrigues (1912-1980), “Orfeu da Conceição” (1954) de Vinicius de Moraes (1913-

1980), “Calabar: O Elogio à Traição” (1973) de Chico Buarque de Holanda (1944-) e

Ruy Guerra (1931-), “Barrela” (1958) e “Navalha na Carne” (1967) de Plinio Marcos

(1935-1999) e “O Pagador de Promessas” (1960) de Dias Gomes (1922-1999).

À medida que ia lendo, fui descartando cada uma delas. Cada qual por seu

motivo particular, como o machismo exacerbado de “Orfeu da Conceição”, a

tediosidade de “Valsa Nº6” e a linguagem violenta de “Barrela” e “Navalha na

Carne”. Restaram “Calabar: O Elogio à Traição” e “O Pagador de Promessas” que

falam exatamente o que eu queria discutir em cena: A sociedade contemporânea e

suas mazelas. Neste aspecto, “O Pagador de Promessas” mostrou-se melhor que

“Calabar: O Elogio à Traição”, pois também discute o sincretismo religioso e a

liberdade religiosa. Ao iniciar o projeto, percebi que “O Pagador de Promessas”

exigiria mais estrutura do que possuirei em Direção VI, tornando-se assim, uma

excelente escolha para a Direção VII. O mesmo se dá com relação a “Calabar: O

Elogio à Traição”.

1 Declaração Universal de Direitos Humanos.

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Em busca de uma peça que atendesse as minhas expectativas de críticas à

sociedade, acabei por encontrar a peça “Azul!” de Jacob El-Mokdisi (1965-), escritor,

ganhador do “Prêmio Nacional de Novelas Históricas” (2012), concedido pelo

Governo da Bahia.

Ninguém melhor que o próprio autor para apresentar a obra. O texto abaixo

faz parte da apresentação da peça a quem for encená-la:

“A peça “Azul!”, se apresenta sob dois momentos distintos. No primeiro mostramos

os seres humanos como sendo todos azuis. A idéia de serem todos da mesma cor não faz

menção apenas à cor da pele, mas apresenta a utopia de não existirem diferenças entre as

pessoas. A metáfora de serem todos azuis é aplicada com relação à religião (é apenas uma e

o único Deus é Azul), às diferenças sociais, políticas e o que mais o valha. A proposta é de

que, ao fim do primeiro ato, o espectador sinta-se dentro de um mundo sem diferenças

raciais, sociais ou filosóficas. É por isso que o primeiro ato apresenta a história humana

recontada sem estas diferenças: Somos todos azuis. Neste ponto, o trecho da Carta de Pero

Vaz de Caminha é complementar. É importante observar que na carta original o autor não se

refere à cor da pele dos índios. Com a finalidade de obter o efeito desejado, ao representar a

peça, os atores devem estar caracterizados pintados de azul.

No segundo ato surge a trama de suspense: um cadáver sem cor, ou seja, o ator que

representa o morto está sem a pintura azul. É neste ato que se apresenta o representante da

política e das religiões, com o nome de Tiner, referência à marca de solvente de tintas

Thinner. É ele o responsável pela perda de cor das pessoas, ou seja, a percepção de que

somos todos diferentes. Note-se que apesar de causar a perda de cor em seus seguidores,

Tiner mantém a sua. Ele próprio não encampa a idéia de que somos todos diferentes, mas a

vende, como um produto. ”2

Enquanto analisava a peça “Azul!”, observei que há nela um final alternativo,

em um o Detetive Bleu opta por salvar sua filha e se corromper, e outro em que

prende os culpados e tem que viver com o fato de não ter feito tudo para salvar a filha.

Consequentemente, me veio a idéia de elaborar uma maneira de apresentar os dois

finais, mediante a escolha do espectador e, a partir daí, elaborar um estudo cujo o foco

seja descobrir a relação Moral e Ética de quem assiste ao espetáculo. Será que fatores

como: idade, religião, onde mora e etc. podem influenciar na escolha final do

espetáculo? Tal estudo pode resultar em um projeto de iniciação cientifica, do curso

de Direção Teatral da UFRJ.

Outro fato primordial para a escolha é que, enquanto lia a peça, ocorreu o

atentado na França ao jornal “Charlie Hebdo” e consequentemente, o povo europeu

apresentou maior intolerância religiosa em relação aos muçulmanos, como se todos os

praticantes da religião fossem responsáveis pelo atentado, o que não é diferente do

que ocorre no Brasil em relação à Cultura Afro. A perseguição religiosa dos

neopentecostais à Cultura Afro Brasileira beira ao absurdo. Por eu ser alguém que

nasceu no meio protestante, tenho lembranças de inúmeros discursos de incitação à

violência contra os templos e praticantes de outras religiões. E a observar figuras

politicas da bancada religiosa com discurso segregacionista, machista e homofóbico, é

bem provável que o teatro seja a única forma de educar o cidadão comum com relação

às liberdades individuais.

É minha pretensão que a peça “Azul!” ajude a conscientizar a sociedade de

que somos todos iguais, independente das diferenças individuais, como consta na

“Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

2 Nota de apresentação da peça Azul, por Jacob El-mokdisi.

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OBJETIVOS

Segundo o filósofo Horácio “O Teatro precisa tanto entreter quanto educar.”

Em particular, creio que nos dias atuais o teatro precisa mais educar. Vivemos em um

iminente caos que só tende a piorar. Esta montagem propõe uma reavaliação dos

conceitos de ética e moral da sociedade contemporânea. Desta forma em “Azul!”

tenho como objetivos:

Elaborar um training para ser praticado durante os ensaios e a partir

dele oferecer base para criação de movimentos corporais e investigar a

relação que intercede o corpo com a presença cênica, baseando nos

conceitos de moral e ética;

Estudar notícias, depoimentos, relatos pessoais dos atuantes,

entrevistas, dados históricos, para auxiliar na construção da cena,

tornando a peça mais pessoal para os participantes do projeto.

Propor uma crítica na diferença entre Ética e Moral, levantando a idéia

de que somos todos iguais (independente de classe social, etnia ou

religião), mostrando como seria a humanidade se não fôssemos

divididos em castas ou grupos;

Iniciar um trabalho de pesquisa relacionando os conceitos de Ética e

Moral ao ambiente em que o espectador vive (o senso comum nos diz

que uma pessoa é tanto mais ética quanto maior for sua cultura,

entretanto, conhecemos exemplos de mães analfabetas denunciando

seus filhos criminosos e pais extremamente cultos acobertando crimes

de seus filhos). A pesquisa pretende fornecer dados que possam

responder a questão: Afinal, o conceito de ética está relacionado à

cultura do cidadão?

Levar o espectador a refletir sobre a manipulação das massas por

lideres religiosos e políticos de ideais segregacionistas. Levantar a

hipótese de que somos apenas marionetes nas mãos destes lideres.

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JUSTIFICATIVA

O que é ser Azul? Este pode parecer um conceito utópico, mas há pelo menos

dois mil anos esta é a pregação e o ensinamento dado por diversas religiões pelo

mundo o que pode ser resumida na máxima cristã: “Amai-vos uns aos outros, assim

como Eu vos amei” 3. Fui nascida e criada na Igreja Universal do Reino de Deus, e ao

longo dos doze anos que segui esta religião, por orientação de minha mãe, vi

inúmeros casos que me dão horror. Lembro-me de um episódio em que eram

entregues aos fiéis bombas fedorentas à base de enxofre e arruda, que eram jogadas

nas casas de umbanda. Eu me questionava ainda na infância: “Será que não estamos

incomodando os moradores desta casa? Não haverá idosos ou pessoas doentes neste

lar?” E por mais que me fosse ensinado que eles eram o mal, a única coisa que me

parecia era que nós que fazíamos o mal.

Ao ler “Azul!”, este episódio me veio à mente. Nos noticiários vimos cada dia

o mal se propagar em nome de causas infundadas. Não me refiro ao Mal bíblico, mas

ao desamor e maldades humanas. Todos os dias vemos líderes e representantes do

poder público incitando uns contra os outros por interesses financeiros ou em

benefício próprio e, por outro lado, pessoas deixando-se manipular, graças à

interferência da mídia, resultando em manifestantes lutando por causas que muitas das

vezes desconhecem ou desacreditam. “Cura gay”, discriminação religiosa,

preconceito social e racial, são apenas alguns exemplos de discursos que não

existiriam, se as pessoas seguissem o que é pregado há dois milênios. Algumas

pessoas que se horrorizam com as atrocidades cometidas por Hitler, são as mesmas

que levantam discursos contra negros, gays e todos que julgam diferentes, sem notar

que estão se igualando à sua maior referência do mal. Qual a diferença entre colocar

homossexuais na câmara de gás ou submetê-los às torturas psicológicas, chamando-as

de “tratamento”. Setores cada vez mais significativos da sociedade usam o discurso de

erradicar da humanidade aquilo que parece errado. Afinal, o que é certo ou errado,

quem pode falar com propriedade o que é certo ou errado? Na idade média, canhotos

eram jogados na fogueira.

A peça faz uma crítica a essa incoerência moral: quem seriamos ou como

estaríamos, se não houvesse segregação na humanidade? Este é um momento em que

3 João cap.13 v. 34, in: Bíblia Sagrada.

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percebemos que pessoas são manipuladas por informações distorcidas que beiram o

absurdo (às vezes, a distorção é tão bem engendrada que chega a ser necessário ter um

profundo conhecimento do assunto para compreender a mentira. Como exemplo,

pode-se usar a falta de água em São Paulo que agora já afeta outros estados, entre eles

Rio de Janeiro e Espirito Santo). Resumindo, esta peça também faz um alerta sobre a

manipulação midiática, politica e religiosa. A trama central reflete sobre conceitos

que são necessários serem debatidos na sociedade brasileira atual. Para isso, uma

linguagem contemporânea e empática será eficaz no processo de mudança de

paradigmas que pretendo apresentar.

Pretendo montar a peça de forma a aprofundar bastante na questão da crítica

social, mantendo contudo, o momento de entretenimento.

Em suma, escolhi a peça “Azul!” porque além de debater a manipulação das

massas, é uma peça de baixo custo, fácil montagem, cenário reduzido, figurino

simples e poucos atores. “Azul!” é uma peça que proporcionará bons momentos de

diversão ao público.

METODOLOGIA

“(...) E eu, sem conhecer ainda a Estética da Recepção, estava consciente de

que nestes dez ou quinze minutos me interessava desorientar o espectador, fazê-lo

abandonar suas certezas, suas expectativas, seus preconceitos, suas suposições, fazer

com que ele ficasse um pouco inerte de antes da poética que o espetáculo estabelecia

e que se deixasse levar aos territórios que me interessava explorar. (...) Creio que se

pode dizer que todo o problema da dramaturgia e/ou encenação consiste

fundamentalmente em transformar o espectador real (...) no receptor implícito, no

espectador ideal que havíamos desenhado no trabalho da escrita e/ou da

encenação.” 4

Podemos dizer que “Azul!” não contém dois atos, isso porque, o Ato I é uma

pré-cena introdutória. A função deste ato está em colocar o espectador na atmosfera

de um mundo igualitário, longe dos pré – conceitos, como cita explica Sinisterra ne

dramaturgia da recepção. Por considerar esse pensamento um ponto de partida,

imagino dividir o trabalho com os atores em dois momentos.

4 Sinisterra. José Sanchis. Dramaturgia da Recepção. In: Folhetim Teatro do Pequeno Gesto, n. 13,

abr./jun. 2002.

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No primeiro momento buscarei doutrinar os atores a ponto de que ao final da

semana de estudos eles tenham a consciência de que são azuis, e como tal, podem

iniciar o trabalho corporal com total consciência do que será proposto. Esse estudo

abordará diversos pontos de pesquisa, que passará desde Arthur de Gobineau

(importante teórico do racismo do século XIX, que influenciou diversas

personalidades entre elas, Adolf Hitler), até a contraposição de Martin Luther King e

Nelson Mandela. Muitos filmes, documentários e reportagens serão assistidos e

debatidos, tudo que possibilite e auxilie os atores na segunda parte do processo.

Em seguida, pretendo fazer levantamento para a descoberta e construção de

personagem através do corpo. Até porque, só determinarei as personagens após este

trabalho. Não me interessa o perfil do ator para definir a personagem, já seguindo o

conceito “AZUL”, busco que essa escolha seja definida através da personalidade e das

características mínimas que fazem cada indivíduo um ser único. Características

individuais, seus deslocamentos, suas qualidades de movimento, me farão definir qual

melhor ator para desempenhar tal trabalho com êxito. Para isso pretendo descobrir

fisicalidade através da dança, exercícios pessoais, adaptações de Laban, passando por

exercícios corporais propostos desde Lume até Augusto Boal. Em determinado

momento, pretendo possibilitar maior autonomia ao ator, fazendo uma pesquisa de

corporeidade e estado, permitindo ao ator seu momento criador, e assim conseguindo

como diretora identificar as alteridades produzidas pelo corpo estimulado.

“O corpo é sólido, pastoso, gelatinoso, fibroso, gasoso, elétrico, líquido. O corpo

acontece em densidades cambiantes. Estamos permanentemente vibrando, uma vibração

mínima. O adjetivo “vibrátil” nomeia não apenas essa condição de combinarmos e

cambiarmos densidades permanentemente, mas também um tremular contínuo, a oscilação

entre ser e não ser, entre vida e morte, entre arbítrio e determinismo que encarnamos. A cena

exacerba a condição vibrátil do corpo. Porque hiper-atento, o corpo cênico torna-se

radicalmente permeável. Contra a ideia de corpos autônomos, rígidos e acabados, o corpo

cênico se (in)define como campo e cambiante. Contra a noção de identidades definidas e

definitivas, o corpo-campo é performativo, dialógico, provisório. Contra a certeza das formas

inteiras e fechadas, o corpo cênico dá a ver “corpo” como sistema relacional em estado de

geração permanente. O estado cênico acentua a condição metamórfica que define a

participação do corpo no mundo. A cena mostra, amplifica e acelera metamorfose, pois

intensifica a fricção entre corpos, entre corpo e mundo, entre mundos.”5

5 FABIÃO, Eleonora. Corpo Cênico, Estado Cênico. In: Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 10 –

n.3, set./dez. 2010.

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Buscarei a provocação dos estados pretendidos, através da exaustão, da

repetição, da máscara neutra, de jogos espaciais, da música, da luz. Estimulando

novas sensações para compreender o que muda, ou o que fica, ou ainda o que

atravessa. Esses exercícios buscarão composições que dialogarão com a atualidade,

para que o espectador, ao estar defronte ao que é proposto, entenda que faz parte e

que, portanto está saindo de sua realidade e entrando no meio onde todos são iguais.

Só a partir do êxito desde trabalho passaremos para o Ato II.

Nesse intervalo entre o levantamento dos atos, irei dividir as personagens e

fazer o trabalho de mesa com eles, onde iremos conhecer um pouco mais das

características e da personalidade das personagens, separar as unidades cênicas e

eliminar quaisquer dúvidas que possa haver do texto.

Para Ato II, será um trabalho de levantamento, preparação e marcação da cena.

Nesse momento entrará o cenário e o figurino, fazendo com que os atores tenham

mais alguns elementos de trabalho. É importante salientar que será trabalhando as

transições das cenas, que serão dados os tempos cênicos necessários ao ajuste entre

atores e cenário.

De acordo com este projeto e o planejamento dado a ele, acredito que a

encenação da peça “Azul!” não trará grande dificuldade, mas requer atenção e,

justamente por isso, ideal para a disciplina Direção VI. Deve-se levar em

consideração que todo ensinamento obtido por mim até o momento na universidade,

me habilita a produzir este espetáculo em tempo hábil e sem maiores problemas.

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CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

DATAS ATIVIDADES A SEREM REALIZADAS

09/03 a 14/03 Estudo do conceito AZUL, com vídeos, leituras direcionadas e

discussões sobre: “O que é Moral e Ético?”.

16/03 a 18/04 Levantamento e construção de personagem a partir do corpo,

focando o ATO I com mentalidade de coletivo.

20/04 a 25/04 Distribuição das personagens, leitura e trabalho de mesa.

26/04 Aniversário da Diretora (bebemorar)

27//04 a 16/05 Levantamento e construção da cena, focando o trabalho no ATO II.

18/05 a 30/05

Entrada do cenário e figurino, construção das transições cênicas a

partir da movimentação, buscando o tempo cênico, através da

mobilidade das personagens.

01/06 a 13/06 Marcação da peça, aperfeiçoamento e ajustes das marcações

levantadas.

15/06 a 30/06 Ensaios gerais

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Bíblia Sagrada.

Declaração Universal dos Direitos Humanos.

SINISTERRA. José Sanchis. Dramaturgia da Recepção. In: Folhetim

Teatro do Pequeno Gesto, n. 13, abr./jun. 2002.

FABIÃO, Eleonora. Corpo Cênico, Estado Cênico. In: Revista

Contrapontos - Eletrônica, Vol. 10 – n.3, set./dez. 2010.

Referencias bibliográfica que serão utilizadas no processo

Dominio Do Movimento – Rudolf Laban

Corpo Poético: O movimento Expressivo – Rudolf Laban

Lume Teatro – Naomi Silman

Jogos Para Atores e Não-Atores - Augusto Boal

Essai Sur L’inégalité des Races Humaines – Arthur de Gobineau

Eu Tenho Um Sonho - Martin Luther King

Longa Caminhada Até a Liberdade - Nelson Mandela

Discurso Sobre A Origem e os Fundamentos da Desigualdade

Entre Os Homens – Jean-Jacques Rousseau

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REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS

ATO I:

Referência corporal:

Pilobolus: A performance merging dance and biology

https://www.youtube.com/watch?v=FOZ6KnVPvIU

Pilobolus Dance Theatre

https://www.youtube.com/watch?v=1Y38bUumNak

Filmografia:

2001 – Uma Odisseia no Espaço

10.000 A.C

Náufrago

ATO II:

Referencias Cênicas:

Théâtre du Parc Bruxelles 2013 : Le Mystère Sherlock https://www.youtube.com/watch?v=rRU-8bqAY6A

THE WIND-UP BIRD CHRONICLE

https://www.youtube.com/watch?v=-YkCB4Z5GG8

Filmografia:

Avatar

Gandhi

Malcolm X

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ANEXOS

Referencias de estética-corporal para o Ato I

Fonte das imagens: http://www.pilobolus.com/home.jsp

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Referencias de recortes de jornal para estudo de atualidades

Fonte: Imagens da internet

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Azul!

Peça Teatral

Jacob El-mokdisi

Apresentação

Esta é uma obra ficcional que se apresenta sob dois momentos distintos. No

primeiro mostramos os seres humanos como sendo todos azuis. A idéia de serem

todos da mesma cor não faz menção apenas à cor da pele, mas apresenta a utopia de

não existirem diferenças entre as pessoas. A metáfora de serem todos azuis é aplicada

com relação à religião (é apenas uma e o único Deus é Azul), às diferenças sociais,

políticas e o que mais o valha. A proposta é de que, ao fim do primeiro ato, o

espectador sinta-se dentro de um mundo sem diferenças raciais, sociais ou filosóficas.

É por isso que o primeiro ato apresenta a história humana recontada sem estas

diferenças: Somos todos azuis. Neste ponto, o trecho da Carta de Pero Vaz de

Caminha é complementar. É importante observar que na carta original o autor não se

refere à cor da pele dos índios. Com a finalidade de obter o efeito desejado, ao

representar a peça, os atores devem estar caracterizados pintados de azul.

No segundo ato surge a trama de suspense: um cadáver sem cor, ou seja, o ator

que representa o morto está sem a pintura azul. É neste ato que se apresenta o

representante da política e das religiões, com o nome de Tiner, referência à marca de

solvente de tintas Thinner. É ele o responsável pela perda de cor das pessoas, ou seja,

a percepção de que somos todos diferentes. Note-se que apesar de causar a perda de

cor em seus seguidores, Tiner mantém a sua. Ele próprio não encampa a idéia de que

somos todos diferentes, mas a vende, como um produto.

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Prólogo – Ato I

Cena I

Cenário: Palco nu. A um canto, encontra-se uma fogueira de cenário de cor laranja

ou vermelha, desligada. Entra um homem das cavernas com a pele de cor azul, com

uma pedra em cada mão. Seus cabelos e barba são emaranhados; está vestido com

uma pele, como o clássico Piteco de Maurício de Souza.

O Homem das Cavernas abaixa-se próximo à fogueira apagada e começa a bater

uma pedra na outra. Em dado momento, a fogueira se acende.

Homem das Cavernas (apontando para a fogueira): Azul!

Luzes se apagam.

Cena II

Acendem-se as luzes. Entra um homem (o Construtor) puxando uma corda amarrada

a uma réplica de pirâmide. Entra outro, vestido como um faraó.

Construtor (apontando a pirâmide): Azul!

Faraó (erguendo as mãos aos céus): Azul!

Apagam-se as luzes.

Cena III

Cenário: Palco nu, sem iluminação.

Ouve-se o martelar de um malho e uma bigorna. As luzes se acendem e um homem

azul, vestido como um ferreiro, mostra uma roda de ferro.

Ferreiro Medieval (erguendo a roda com ambas as mãos): Azul!

Luzes se apagam.

Cena IV

Cenário: Fundo representando o céu estrelado e a estrela de Belém.

Entram os Reis Magos. Entreolham-se e apontam para a estrela.

Reis Magos (juntos, apontando a Estrela de Belém): Azul!

Belchior (para a plateia, em tom de confidência): Nasceu Jezul!:

Luzes se apagam.

Cena V - A Santa Inquisição

Cenário: Apenas uma estaca no centro do palco, onde a vítima será amarrada e

posteriormente queimada.

Entram duas pessoas com o rosto coberto por capuzes, arrastando uma pessoa

amarrada.

Inquisidor 1 (amarrando a vítima ao poste): Você foi condenado à fogueira, porque

é azul!

Vítima: Mas somos todos azuis!

Os inquisidores se olham. Um tira o capuz do outro.

Inquisidor 1: Você é azul!

Inquisidor 2: Você também é azul!

Vítima (soltando-se das cordas): Bem, já que há um impasse, e os senhores estão

cobertos de razão em queimar todos os azuis, acho que devem começar se queimando

primeiro.

Um inquisidor olha para o outro.

Inquisidor 1: Ele tem razão. Vou queimar você primeiro.

Inquisidor 2: Agradeço a honra, excelência, mas acho que devo queimar o senhor

primeiro.

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Vítima: Se os senhores quiserem, eu posso queimar vocês dois juntos. Aí não vai ter

discórdia.

Inquisidor 1: E quem vai queimar você?

Vítima: Eu mesmo me amarro e me queimo depois. Eu juro pela Santa Igreja.

Inquisidor 2: Eu, por mim, deixava tudo como está.

Inquisidor 1: Mas é uma ordem de Sua Santidade!

Vítima: Foi o Papa quem ordenou? Como assim?

Inquisidor 2: Ele disse assim : “Pelo poder conferido a mim por Azul (faz o sinal da

cruz), todos aqueles que forem azuis devem ser enviados à fogueira.”

Entra um mensageiro.

Mensageiro: Parem, parem! A ordem Papal foi revogada!

Inquisidor 1: O Papa revogou a própria ordem? Por quê?

Mensageiro: Bem, excelência, se eu fosse dado a ouvir boatos, diria que foi porque

os inquisidores quiseram primeiro queimar o próprio Papa, que também é azul. Mas

como não sou dado a mexericos, o Papa disse que o próprio Azul (todos se benzem)

apareceu e disse que não era para queimar ninguém azul. Só os vermelhos.

Vítima: Mas não existe ninguém vermelho!

Inquisidor 1 (estalando a corda que amarrava a vítima): Mas se existir, vai ser por

pouco tempo...

Todos saem e luzes se apagam.

Cena VI

Cenário: céu estrelado e uma mesa no centro do palco.

Galileu entra, segurando um astrolábio e uma luneta. Olha para o céu, ora com um,

ora com outro. Depois vai até os papeis na mesa e faz anotações.

Depois de alguns instantes, Galileu olha surpreso para a platéia. Tem dificuldades de

falar. Aponta para o céu e para suas anotações.

Galileu (caminhando pelo palco): A Terra... a Terra... (olha de frente para a platéia)

É! A Terra... é... Azul!

Entram os inquisidores.

Inquisidor 1: O que você está dizendo, Galileu?

Galileu (eufórico): A Terra... a Terra é Azul!

Inquisidor 2: Vai pra fogueira!

Galileu: Eu disse azul? Não, não...

Inquisidor 1: Ajoelhe-se e confesse, diante do grande Azul (os inquisidores se

benzem) que a Terra não é azul!

Galileu (ajoelhando): A Terra não é azul! (Vira-se para a platéia, em tom de

confidência) Mas que ela é azul, ela é!

Apagam-se as luzes e os atores saem.

Cena VII

Cenário: luzes apagadas. Ouve-se o marulhar das ondas do oceano. Um narrador

em off faz a leitura de um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha.

Narrador (sotaque português): Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e

quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem.

Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não

pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a

nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra

trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas

vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso

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desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo

de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura

preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um

papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para

a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.

Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão.

Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe

cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase

nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em

uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.

Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não

beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de

rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao

pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e

novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.”

Enquanto o narrador cita este trecho da carta de Caminha, as luzes vão-se

acendendo aos poucos e surge um homem, vestido como um navegador português.

Cabral (abaixando-se e tocando o solo): Azul! (ergue-se) Em nome do Rei de

Portugal, batizo esta terra como sendo Terra de Vera Azul!

Entra a índia azul.

Índia (examinando Cabral): Azul!

Cabral (olhando a índia de cima a baixo): Hmmmm... Azul!

Índia (acariciando o peito de Cabral): Quer azul?

Cabral: Ô!

Os dois saem de cena.

Entra o marinheiro.

Marinheiro: Cabral? Cabral? Onde está você?

Cabral (Entrando, ajeitando as roupas): Aqui!

Marinheiro: Cabral, precisamos voltar a Portugal e avisar o Rei sobre as novas

terras.

Cabral: Eu estava pensando em ficar mais um pouquinho, conhecer mais algumas...

(faz uma pausa, como se estivesse tentando não dizer “índias”) pessoas daqui...

Índia (entra com um bebê no colo): Cabral! Olha, você é papai!

Cabral (segurando o braço de Marinheiro): Vamos embora!

Cabral e Marinheiro saem.

Índia: Cabral, desgraçado! Volta aqui, seu miserável! Vou pedir pensão, tá?

Cabral (só a voz): Vou querer o exame de DNA!

A Índia sai de cena.

Cena VIII

Entram o Governador-Geral e um Conde.

Governador: Vamos precisar de muitos escravos nestas terras, para extrair o ouro, as

pedras preciosas e trabalhar nas fazendas.

Conde: Mas quem serão os escravos, Governador?

Governador: Ora, meu caro Conde! Quem não for azul...

Conde: Mas somos todos azuis!

Governador: Droga! Então vamos ter que trabalhar nós mesmos.

Apagam-se as luzes.

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19

Cena IX – Santos Dumont

Cenário: Céu azul. Torre Eiffel ao fundo. Santos Dumont entra com seu chapéu

característico, um papel enrolado como um projeto e uma caixa de ferramentas.

Abaixa-se e trabalha. A sonoplastia apresenta sons de martelos e serrotes. De

repente, Dumont ergue-se e joga uma gaivota de papel no ar.

Santos Dumont (apontando a gaivota): Azul!

Apagam-se as luzes.

Cena X – Hitler

Acendem-se as luzes. Um púlpito com um microfone. Entra um homem azul, com o

indefectível bigodinho de Hitler.

Hitler (gestual exagerado, como Hitler em seus inflamados discursos): Azaftas

ardem doem, er morroidas ziden... (estaca, olha para os lados e fala, mais calmo)

Quem não estiver entendendo, aperte a tecla SAP aí... (prossegue inflamado) Como

eu ia dizendo, precisamos de uma raça azul pura, nada de amarelos, vermelhos, (faz

cara de nojo) verdinhos...

Voz (como se fosse um homem na multidão que ouve Hitler): Mas já somos todos

azuis!

(Hitler ergue a mão como na sua famosa saudação, espalmada para baixo,

ignorando a voz) Quando eu era deste tamanho...

Voz: Era de outra cor?

Hitler: (balançando a mão espalmada para esquerda e para a direita) Não! (vira a

palma para cima) Dá pé de deixar eu terminar?

Voz: Só se você disser se existe alguém de outra cor, sem ser azul!

Hitler (confuso): Não, mas...

Voz: Então vá à merda!

Hitler faz uma cara de desanimado e sai do púlpito.

Luzes se apagam.

Cena XI – Einstein e a Bomba Atômica

Cenário: Uma mesa com vários livros e papeis. Ao lado, um quadro negro.

Einstein azul entra, com sua cabeleira característica. Debruça-se sobre a mesa,

consulta os livros e faz vários cálculos na lousa.

Einstein (eufórico): É isso! (Escreve a famosa fórmula E = mc² no quadro. Após uma

pequena pausa, projeta-se uma imagem da explosão de uma bamba atômica no fundo

do palco). Ops! Não é azul. (Triste) Não é azul mesmo...

Apagam-se as luzes.

Ato II

Cena I

Cenário: Palco nu. Um cadáver no centro. O cadáver não tem maquiagem. É um

rapaz branco. Ao lado do cadáver, de pé, está o policial Marinho.

Entra o detetive Bleu. Dá uma olhada no ambiente e abaixa-se para examinar o

cadáver.

Dirige-se ao policial.

Detetive Bleu: Boa noite, Marinho.

Policial Marinho: Boa noite, Detetive Bleu.

Detetive Bleu: O que temos?

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Policial Marinho: Homem jovem, aparentando vinte e poucos anos. Parece que caiu

de uma das janelas do prédio.

Detetive Bleu: Ou foi jogado. (Pausa, olhando o chão) Veja a quantidade de cacos de

vidro.

Policial Marinho: E daí?

Detetive Bleu: Suicidas abrem a janela antes de pular. Este parece que atravessou a

vidraça.

Policial Marinho (olhando para cima): Hmmm... entendo...

Detetive Bleu: Vamos dar uma olhada no lugar de onde ele pulou.

Policial Marinho: O porteiro disse que o escritório está vazio, para alugar. Ele se

identificou como possível locador e subiu.

Detetive Bleu: Ele já foi identificado?

Marinho: Ainda não. Estava sem documentos.

Detetive Bleu: Alguém viu alguma coisa?

Marinho: O senhor sabe como é. Ninguém nunca vê nada. Exceto pela cor de pele

estranha. O senhor já viu alguém assim?

Detetive Bleu: Nunca. (Faz uma pausa) Pode ser algum tipo de câncer. Entre em

contato com os hospitais próximos. Ele deve ser paciente de algum deles. (Olha em

torno) Vale a pena verificar se as câmeras pegaram alguma coisa estranha. (Abaixa-se

ao lado do corpo, examina mais um pouco e ergue-se) Já pode dizer para os legistas

levarem o corpo.

Luzes se apagam.

Cena II

Cenário: É a sala da delegacia onde o Detetive Bleu trabalha. Uma mesa de

escritório e duas cadeiras. Sobre a mesa, um telefone.

Detetive Bleu encontra-se sentado em uma das cadeiras e o Policial Marinho entra.

O policial traz um jornal nas mãos.

Detetive Bleu: Foi nos hospitais?

Marinho: Fui, mas ninguém o conhecia.

Detetive Bleu: E as câmeras?

Policial Marinho: Nada de mais. Ele chega sozinho, entra no prédio. Minutos depois,

desce direto na calçada.

Detetive Bleu: Tem uma coisa estranha no resultado da autópsia...

Policial Marinho: O quê?

Detetive Bleu: Ele foi envenenado. Se não tivesse sido jogado do prédio, teria

morrido em cerca de uma hora ou menos.

Policial Marinho: Então foi suicidio, né?

Detetive Bleu: Ou não. O cara toma chumbinho e depois resolve pular de um prédio?

Para quê? Para ter certeza de que vai morrer mesmo? Não, meu amigo. Foi

assassinato.

Policial Marinho: Mas quem o jogou pela janela então? As câmeras mostram que ele

entrou sozinho...

Detetive Bleu: Nada mais?

Policial Marinho: Tem uma coisa estranha. Antes de chegar no prédio, ele estava

falando no celular. Pouco antes de passar na portaria, colocou o celular no bolso.

Detetive Bleu: Já analisou as ligações?

Policial Marinho: Aí é que está. Não havia nenhum celular no corpo dele.

Detetive Bleu: O que significa que o assassino roubou o telefone dele. Achando o

celular, encontraremos o assassino. Mas primeiro precisamos descobrir quem é ele.

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Policial Marinho: Isso é um problema. Ninguém no prédio se lembra de tê-lo visto

antes.

Detetive Bleu (Faz uma pausa, pensativo): Saiu alguma coisa nos jornais?

Marinho: Saiu (entregando o jornal ao detetive).

Detetive Bleu (abrindo o jornal): Escreveram meu nome certo? Eles sempre

escrevem “blue”.

Marinho: E seu nome não é Blue?

Detetive Bleu: É Bleu, do francês.

Marinho: Puxa! Sempre pensei que fosse do inglês. (Pausa) De toda forma, não tem

nota alguma sobre os investigadores. Só o caso do cadáver sem cor.

Detetive Bleu: Hum. (pausa) Você viu o que esse deputado está fazendo?

Marinho: Que deputado?

Detetive Bleu: Esse que diz que não somos todos iguais.

Marinho: Ah! Minha mulher é que fala muito nele. Discurso estranho o dele. Diz que

o Azul não nos fez todos iguais.

Detetive Bleu: Não me interessam esses discursos religiosos, mas esse sujeito ainda

vai causar sérios problemas.

Marinho: Por quê? Ele só fala asneira...

Detetive Bleu: Mas tem sempre um asno para levar asneiras a sério... (folheia o

jornal) viu a bomba que colocaram na banca de jornais?

Policial Marinho: Coisa de doido!Ainda bem que não foi na nossa jurisdição.

Detestaria ter que lidar com um incendiário.

Detetive Bleu: É isso o que acontece quando as pessoas se acham melhores que

outras.

O telefone sobre a mesa toca. Policial Marinho atende.

Policial Marinho: Alô. Está aqui, só um instante. (passa o telefone para o Detetive

Bleu) É para o senhor. Acho que é sua esposa.

Detetive Bleu (pegando o telefone): Oi. Oi, querida! (Pausa) Entendo... vou

conversar com o pessoal da Assistência Social e ver o que pode ser feito. Deixa

comigo. (Pausa) Outro para você (desliga o telefone e fica pensativo).

Policial Marinho: O que houve, chefe?

Detetive Bleu: Minha mulher levou nossa filha ao médico e ele pediu um exame caro

que o plano de saúde não cobre.

Policial Marinho: O que ela tem?

Detetive Bleu: Não sabemos. Ela tem dores de cabeça tão fortes que volta e meia

desmaia.

Policial Marinho: Puxa! Espero que não seja nada.

O telefone sobre a mesa toca outra vez. Desta vez quem atende é o Detetive Bleu.

Detetive Bleu: Alô. (Pausa) É ele. Que bom! Finalmente vamos andar nessa

investigação! Manda subir. (Para o Policial Marinho) Tem um homem na delegacia

que diz conhecer o morto.

Policial Marinho (erguendo-se): Como ele ficou sabendo do caso?

Detetive Bleu (ergue-se também): Leu no jornal.

Apagam-se as luzes.

Cena III

Cenário: Um púlpito com uma bíblia azul aberta sobre ele. Junto à bíblia, um

microfone de pedestal. Entra o Deputado Tiner e aproxima-se do microfone. Pega a

bíblia azul e a folheia por alguns instantes.

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Deputado Tiner (erguendo a bíblia azul): “E o Grande Azul fez todos à sua imagem

e semelhança, mas há de vir os tempos em que um grande profeta vai perceber que

nem todos são iguais.” (pausa) Ora, meu amigos. Ninguém é igual a ninguém! Você

(aponta para alguém da platéia) Prefere hambúrguer de carne de boi ou de frango? E

você (aponta outro) prefere praia ou montanha? Sim! Somos todos diferentes! Somos

azuis, sim! Mas cada um é diferente do outro. Alguns preferem quebrar o ovo pelo

meio, outro pelas pontas. Assim somos todos: diferentes! Aquele que crê no Azul e

segue o Grande Profeta, sabe que somos diferentes uns dos outros.

Detetive Bleu aproxima-se.

Detetive Bleu: O senhor é o Deputado Tiner?

Deputado Tiner: Sim.

Detetive Bleu (esticando a mão): Prazer, sou o Detetive Bleu. Estou investigando a

morte de um rapaz.

Deputado Tiner (ignorando a mão estendida do Detetive Bleu): Desculpe, mas sou

um homem ocupado. Pode ir direto ao assunto?

Detetive Bleu: O morto ao que parece era membro de sua igreja.

Deputado Tiner: Sério? Quem?

Detetive Bleu: Aí é que está! Não sabemos o nome dele. (Mostra uma fotografia) Por

isso viemos até aqui. O senhor o conhece?

Deputado Tiner (pegando a foto nas mãos): Certamente é um membro da minha

igreja. Veja o tom da pele dele. Isso é um sinal dos nossos milagres. Apenas os

verdadeiramente convertidos adquirem este tom de pele.

Detetive Bleu: Então, o conhece?

Deputado Tiner: Talvez, não tenho certeza. (Aponta para o fundo do palco) Olha, ali

naquela porta é o nosso escritório. Converse com a Dona Celeste, que é nossa

administradora. Ela tem um registro de todos os membros de nossa igreja, com

endereço, filiação e tudo o mais.

O Detetive Bleu vira-se para sair. Estaca e volta.

Detetive Bleu: Fiquei com uma dúvida: se todos os fiéis verdadeiramente convertidos

mudam de cor, porque o senhor ainda é azul?

Deputado Tiner (sorrindo): Eu não preciso ser convertido. Eu sou a conversão!

Detetive Bleu sai e o Deputado Tiner tira um aparelho celular do bolso. Após alguns

instantes alguém atende do outro lado.

Deputado Tiner: É! Sou eu. Você não me disse que o caso do Índigo não me traria

problemas? Estou com um policial aqui. (Pausa) Sei lá! Parece que ainda não

identificaram o corpo e veio aqui saber quem é ele. (Pausa) Espero. (Desliga o

telefone, guarda-o e sai).

Luzes se apagam.

Cena IV

Cenário: Escritório do Detetive Bleu. Ele e o Policial Marinho estão sentados nas

cadeiras.

Policial Marinho: Então, conseguiu a identificação do morto?

Detetive Bleu: Sim. O nome dele era Índigo. Além do número do telefone, a

secretária da igreja me deu uma informação importante: Índigo tinha uma noiva

chamada Safira. Eu pedi que ela viesse até aqui.

Policial Marinho: Ah! Então estamos perto de resolver o mistério e prender o

assassino.

Detetive Bleu: Certamente.

O telefone toca. Detetive Bleu atende.

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Detetive Bleu: Fala! (pausa) Certo. Pode mandar entrar (coloca o fone no gancho).

Entra Safira. Ela também não tem cor. Traz um lenço de papel nas mãos.

Safira (esticando a mão para o Policial Marinho): Detetive Bleu?

Detetive Bleu: Sou eu. Este é o Policial Marinho.

Marinho aperta a mão da moça e levanta da cadeira, oferecendo-lhe o lugar. Safira

senta.

Detetive Bleu: Então, conte-nos tudo sobre a morte de Índigo.

Policial Marinho: Mas cuidado que já sabemos de tudo. Só queremos ouvir sua

versão primeiro.

Safira (chorando): Não vou mentir. Índigo andava muito preocupado com a perda da

cor. Ele entendeu que somos todos diferentes, mas queria voltar a ser igual. Só que

esta é uma condição permanente, o senhor entende? Depois que compreendemos que

somos todos diferentes, nunca mais voltamos à ignorância.

Policial Marinho: A senhora está nos enrolando...

Enquanto o Policial Marinho fala, o Detetive Bleu disca o telefone e toca o celular

dentro da bolsa de Safira.

Detetive Bleu: Sabemos que a senhora estava na sala em que o rapaz foi jogado pela

janela.

Safira (chorando): O senhor não entende! Ele... ele... se matou!

Policial Marinho: Pulando pela janela fechada?

Safira: Não. Isso foi acidente.

Detetive Bleu: Explica.

Safira: Ele me ligou, marcando um encontro naquele escritório. Estávamos querendo

abrir um negócio...

Policial Marinho (irritado): A senhora está enrolando de novo...

Safira: Desculpe. Ele marcou o encontro e quando cheguei lá, ele me contou que

tinha tomado veneno.

Detetive Bleu: Por que ele tomou veneno?

Safira: Porque ele queria se matar, ué...

Policial Marinho: Enrolando...

Safira: Ele queria se matar porque... porque... não conseguia mais deixar de ser

diferente.

Detetive Bleu: E por que diabos resolveu pular pela janela?

Safira (chorando): Foi um acidente. Quando me contou que tinha tomado veneno, eu

peguei meu celular para ligar para a emergência, mas ele me tomou o celular e o

jogou no chão. Eu o abracei e coloquei a mão em seu bolso e peguei o telefone dele.

Eu queria ligar para a emergência. Ele tentou me tomar o telefone, mas dessa vez

segurei firme e resisti. Eu... eu... o empurrei e ele... e ele bateu de costas na janela que

quebrou e ele... caiu (prantos)...

Policial Marinho: Por que não chamou a polícia?

Safira: Fiquei com medo de ser acusada pela morte dele (chorando). Desculpe...

desculpe...

Policial Marinho: Como entrou e saiu do prédio sem ser vista?

Safira: Aquele prédio tem uma entrada na rua de trás.

Policial Marinho: Como sabia disso?

Safira: Eu já tinha ido ali antes.

Detetive Bleu: Está bem. Vamos anotar seu depoimento e depois entraremos em

contato.

Safira se ergue da cadeira para sair.

Detetive Bleu: Espera! Deixe o telefone do morto.

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Safira tira o telefone da bolsa e o coloca sobre a mesa. Em seguida, sai.

Policial Marinho: Caso resolvido?

Detetive Bleu: Talvez.

Policial Marinho: O que falta? Já temos o culpado e o motivo.

Detetive Bleu: Vamos dar uma olhada nas ligações que Índigo fez. (Pausa) Só para

amarrar as pontas soltas. (Tira o fone do gancho e disca) Fala, meu amigo! Tudo, e

você? (pausa) Olha, estou com um telefone aqui que preciso que você cheque.

(Coloca o celular em um envelope) Coisas como ligações apagadas, fotos... (pausa)

Sei lá, o que tiver. Eu quero tudo o que já teve nesse aparelho. (Pausa) Já estou

mandando. Até mais (coloca o fone no gancho).

Policial Marinho: Chefe e como vai a saúde de sua filha? Conseguiu autorização

para o exame?

Detetive Bleu (entristecendo): Nada bem. Estamos aguardando a autorização do

exame, mas acho que estão nos enrolando.

Policial Marinho: Já pediu ao Comandante para interceder?

Detetive Bleu: Já. Ele disse que vai ver o que pode fazer.

Policial Marinho: Ele vai conseguir, se Azul quiser, você vai ver...

Detetive Bleu: Tenho lá minhas dúvidas. Ele anda muito ocupado com o caso das

bombas nas bancas de jornal.

Policial Marinho: Bombas? Teve mais alguma?

Detetive Bleu: Mais duas. Não se preocupe que não foram em nossa região.

Policial Marinho: Ainda bem. Detestaria...

Detetive Bleu (sorrindo): Ter que lidar com um incendiário.

Policial Marinho: Mais alguém se machucou?

Detetive Bleu: Um jornaleiro morreu e temos quatro vítimas em estado grave.

Policial Marinho: Puxa! Não é a toa que o Comandante anda tão nervoso.

Detetive Bleu: Bem, não é da nossa alçada. (Levanta da cadeira) Vamos dar uma

outra olhada no local do nosso crime. Quero ver a tal rua de trás do prédio.

Policial Marinho levanta-se. = Luzes se apagam.

CENA V

Cenário: Palco nu. A um canto, o púlpito. No fundo do palco são projetadas imagens

de passeatas racistas e homofóbicas. São mostradas fotografias de pessoas brancas

portando cartazes de “Fora Negros”, “Não ao Casamento Gay” e “Pela volta da

Ditadura”. O deputado Tiner circula no palco “dirigindo” as passeatas. Nesta cena

demonstra-se que as pessoas que protestam o fazem sob o comando dele. Para

evidenciar este comando, Tiner gesticula e dá ordens pelo palco, com frases como

“Você! Ergue mais esse cartaz.” “Vamos lá, pessoal! Mais alto!”

Deputado Tiner aproxima-se do púlpito.

Deputado Tiner (erguendo a bíblia azul): Está aqui! Se Azul quisesse o

homossexualismo não teria feito Adão e Eva, mas Adão e Ivo! Azul fez todas as

espécies com macho e fêmea!

Voz (na multidão): E as espécies hermafroditas?

Deputado Tiner: Não são obras de Azul, que fez todas as coisas boas.

Voz: Então o Azul não criou tudo?

Deputado Tiner: Azul criou tudo, inclusive o Mal, que nós percebemos que está em

você irmão! Por isso, nós vamos expulsar o demônio de você, em nome de Azul.

(Sussurra como se para alguém a seu lado) Enfia a porrada nesse descrente! Tira o

demônio dele! (Prossegue o discurso) Eu sei que é um assunto polêmico, mas

precisamos lembrar que Azul fez o homem a cabeça e a mulher, o pescoço. É o

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pescoço que sustenta a cabeça, mas o pescoço não é a cabeça. Lugar de mulher é na

cozinha, em casa, cuidando dos filhos, arrumando a casa, lavando roupa, mantendo-se

bonita para seu marido.

Voz Feminina (na multidão): Ô, Glória! Amém, pastor, amém!

Outra Voz Feminina: Ah, vá à merda!

Deputado Tiner: Eu sei irmãs! Eu sei que é um assunto polêmico, que as moças

moderninhas têm dificuldade de aceitar a idéia, mas pensem em quantas crianças se

tornaram bandidos por que foram criados longe de suas mães! Venham à nossa igreja

e vamos conversar um pouco mais, vamos ler a Palavra de Azul (mostra a bíblia azul)

a este respeito. (Fecha o semblante) Agora precisamos conversar algo muito sério,

irmãos. (Faz uma pausa) Eu sei que algumas revistas e jornais de mau gosto estão

desvirtuando os preceitos de nossa igreja, fazendo denúncias falsas, sobre desvio de

dinheiro dos fieis. (Inflama-se) É tudo mentira! Não leiam essas revistas e jornais,

porque é tudo obra do Diabo! Não comprem essas publicações, porque quem compra

esse lixo alimenta o Mal! (Ergue a bíblia azul) Está escrito, não sou eu quem fala, é o

próprio Azul: ‘Quem não está comigo, está contra mim!’

Deputado Tiner desce do púlpito e tira o telefone celular do bolso do paletó.

Deputado Tiner: Alô? Boa tarde, meu governador! Escuta, estou aqui na passeata.

(Pausa) Sim, isso aqui está fervendo. (Pausa) Obrigado. Quando é que o senhor vai

mandar a polícia? (Pausa) Claro que precisa! Tem que ter violência, gente sangrando.

Tem que sair nos jornais do mundo todo. Pode deixar que já conversei com o pessoal

da imprensa e o senhor não vai ser responsabilizado. (Pausa) Não. Ninguém vai ser

responsabilizado. Só os próprios manifestantes. (Pausa) Faz isso e o senhor vai ver a

quantidade de deputados que o nosso partido vai eleger. Mas a polícia tem que descer

a porrada mesmo. Está bem. Vou esperar. Um grande abraço. (Desliga o telefone e

volta a guardá-lo no bolso.

Luzes se apagam.

Cena VI

Cenário: Escritório do Detetive Bleu. Ele está sozinho, verificando uma pasta com

papéis. Policial Marinho entra com papéis na mão.

Policial Marinho: Boa tarde, Detetive. Chegaram os primeiros resultados da perícia

do telefone do Índigo.

Detetive Bleu: Novidades?

Policial Marinho: Sim. A primeira é que há um arquivo de vídeo que foi apagado,

que ainda não foi possível recuperar. Mas as fotos foram recuperadas.

Detetive Bleu: E são de alguma valia?

Policial Marinho: Aparentemente são apenas fotos de ruas, mostrando o comércio.

Parece que ele estava procurando um local para abrir algum negócio.

Detetive Bleu (mostrando-se muito interessado, estica a mão para pegar as folhas da

mão do Policial Marinho): Deixa eu ver. (Examina as folhas) Hmmmm... Olha isso

(devolve uma folha para o Policial Marinho). O que vê?

Policial Marinho: Nada de mais. Uma rua e suas atividades comerciais.

Detetive Bleu: Quais as atividades comerciais?

Policial Marinho: Algumas lojas de roupas, uma lanchonete, um bar... Uma banca de

jornal!

Detetive Bleu: Sabe que banca é essa? A primeira que foi explodida. (Entrega outra

folha) Esta foi a segunda; Esta (entrega mais uma folha ao Policial Marinho) É a

terceira.

Policial Marinho: Será que o Índigo era o incendiário?

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Detetive Bleu: Não, porque as duas últimas ocorreram após a morte dele. Mas

certamente ele fazia parte do esquema, o que significa que não é apenas um

incendiário, mas um grupo orquestrado.

Policial Marinho: Então, qual seria o papel dele?

Detetive Bleu: Ele só tirou as fotos, inocentemente. Acredito que assim que a

primeira bomba explodiu, Índigo percebeu no que estava metido e tentou sair. Foi

queima de arquivo. As outras imagens que ainda não foram recuperadas vão

confirmar isso.

O telefone sobre a mesa toca. Detetive Bleu atende.

Detetive Bleu: Alô (pausa). É ele (pausa). Sim senhor, obrigado. Nem sei como

agradecer. Minha esposa vai ficar muito contente. (Pausa). Sim, estamos bastante

avançados na investigação. Inclusive descobrimos algo que... (interrompe-se e fica

calado). Entendo, senhor. Mas o que faço com o relatório? (Pausa) Mas não foi

suicídio! (Pausa). Entendo. Eu já fiz alguns relatórios que foram arquivados no

sistema... O senhor pode me dar algum tempo para pensar como vou resolver isso?

Obrigado, senhor. (Pausa). Outro (desliga o telefone e fica pensativo).

Policial Marinho: O que houve detetive?

Detetive Bleu: Algo muito preocupante. O Comandante me disse que o próprio

Governador autorizou o exame da minha filha. Além disto, qualquer outro

procedimento necessário ao tratamento da minha filha, mesmo que o plano de saúde

não cubra, está previamente autorizado.

Policial Marinho: Que bom!

Detetive Bleu: Mas exigiu que eu encerre a investigação da morte do Índigo. Em

outras palavras, o tratamento da minha filha está autorizado, desde que as

investigações da morte do rapaz sejam encerradas. Ele quer que seja declarado como

suicídio.

Policial Marinho: Mas por quê?

Detetive Bleu: Bem, é isso o que estou pensando se quero saber a resposta. É a vida

da minha filha que está em jogo.

Luzes se apagam.

Cena Final

Cenário: Palco nu.

Detetive Bleu e Policial Marinho entram por um lado e Safira pelo outro. Encontram-

se no meio.

Detetive Bleu: Dona Safira. Estávamos à sua procura.

Safira: Boa tarde senhores.

Policial Marinho: Para nós a tarde está a mesma, mas para a senhora o tempo fechou.

Eu avisei que era para não mentir (enquanto fala, algema os pulsos de Safira).

Safira (nervosa): Por que isso?

Detetive Bleu: Já sabemos que não foi acidente coisa nenhuma. Foi a senhora quem

envenenou seu noivo e o jogou pela janela do escritório. Mais uma vez lhe daremos a

chance de contar sua versão e, quem sabe, ajudar sua defesa.

Safira: Eu não envenenei meu noivo!

Detetive Bleu: Descobrimos as cápsulas de vitaminas que seu noivo tomava e

encontramos chumbinho dentro de uma delas. Ele tomou apenas uma e encontramos

suas digitais em outra, o que nos leva a crer que a senhora colocou chumbinho em

duas cápsulas. Além de tudo isso, já sabemos que a senhora está envolvida nos

atentados a bomba nas bancas de jornal. Acredite: será melhor se cooperar.

Safira (recompondo-se): Quero um advogado.

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Policial Marinho: Na delegacia a senhora liga para ele.

O Policial Marinho sai levando Safira. Entra o Deputado Tiner.

Deputado Tiner (irritado): O que está fazendo na minha igreja?

Detetive Bleu: Só umas perguntinhas, deputado.

Deputado Tiner: Embora eu não seja obrigado, vou responder.

Detetive Bleu: Que seja. Por que esteve no escritório onde o Índigo morreu?

Tiner: De onde tirou isso?

Detetive Bleu: Suas digitais estão em toda parte.

Tiner: Não vou responder isto. Sou um Deputado Federal e não posso ser interrogado

sem a autorização do Congresso. (Faz menção de sair, mas o Detetive Bleu o segura

pelo braço).

Detetive Bleu: Não tem importância. Espera só para ouvir o que apurei. O senhor é o

dono do escritório. Usava-o para comer a noiva do rapaz. De algum modo ele ficou

sabendo e deu um flagra em vocês dois. Ele já havia descoberto e ia denunciar todo o

esquema de vocês dos atentados às bancas de jornal. Foi até lá a pedido de Safira.

Coitado, pensou que era uma proposta de reconciliação.

Tiner (dando um safanão para soltar o braço): Prove.

Detetive Bleu: As minhas provas eu já tenho. O celular do rapaz gravou tudo. Vocês

apagaram o vídeo, mas a perícia técnica recuperou as imagens. Viemos prendê-lo.

Pela conspiração no assassinato de Índigo e pela responsabilidade nos atentados a

bomba em bancas de jornal.

Deputado Tiner: O senhor está louco?

Detetive Bleu: Louco estava o senhor ao convencer pessoas a praticarem crimes e

pensar que não seria preso.

Deputado Tiner: Sou um Deputado Federal e não posso ser preso sem a autorização

do Congresso.

Detetive Bleu: Depois o senhor me processa.

Deputado Tiner: Não se preocupa com o destino de sua filha? (O Detetive Bleu fica

desconcertado e se cala) Ah! Não fazia idéia de que a liberação do exame partiu de

mim, não é? Pois fique sabendo que o Governador só autorizou porque eu pedi. Sou

eu quem vai pagar o tratamento dela. Sem mim, sua filha morre.

Detetive Bleu (algemando o Deputado Tiner): Se a minha filha morrer, você morre.

(Gritando) Ouviu? Você morre! Não vai existir um buraco no inferno onde você

consiga se esconder de mim!

O Detetive Bleu sai arrastando o Deputado Tiner. Luzes se apagam.

Epílogo

Cenário: Palco nu. Policial Marinho e o Detetive Bleu conversam. Durante esta

cena, o Detetive Bleu vai retirando a maquiagem azul. Quando termina a última

frase, seu rosto está limpo.

Policial Marinho: O senhor disse que o assassino roubou o telefone da vítima. Estava

certo. Só fiquei com uma dúvida: Por que resolveu examinar o telefone do rapaz?

Detetive Bleu: Ela chorava como uma mulher arrependida. Depois que descobri que

o escritório pertencia ao Deputado, examinei as imagens das câmeras da rua de trás do

prédio e percebi que o Deputado sempre ia lá com a Safira. O caso deles era antigo.

Policial Marinho: O corno pensava que era diferente. Era só mais um.

Detetive Bleu (com a maquiagem removida): De certo modo, somos todos diferentes.

Não é errado ser diferente. Errado é achar que somos superiores a quem é diferente de

nós.

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Cena Final Alternativa

Cenário: Palco nu.

Detetive Bleu e Policial Marinho entram por um lado e Safira pelo outro. Encontram-

se no meio.

Detetive Bleu: Dona Safira. Estávamos à sua procura.

Safira: Boa tarde senhores.

Policial Marinho: Para nós a tarde está a mesma, mas para a senhora o tempo fechou.

Eu avisei que era para não mentir (enquanto fala, algema os pulsos de Safira).

Safira (nervosa): Por que isso?

Detetive Bleu: Já sabemos que não foi acidente coisa nenhuma. Foi a senhora quem

envenenou seu noivo e o jogou pela janela do escritório. Mais uma vez lhe daremos a

chance de contar sua versão e, quem sabe, ajudar sua defesa.

Safira: Eu não envenenei meu noivo!

Detetive Bleu: Descobrimos as cápsulas de vitaminas que seu noivo tomava e

encontramos chumbinho dentro de uma delas. Ele tomou apenas uma e encontramos

suas digitais em outra, o que nos leva a crer que a senhora colocou chumbinho em

duas cápsulas. Além de tudo isso, já sabemos que a senhora está envolvida nos

atentados a bomba nas bancas de jornal. Acredite: será melhor se cooperar.

Safira (recompondo-se): Quero um advogado.

Policial Marinho: Na delegacia a senhora liga para ele.

O Policial Marinho sai levando Safira. Entra o Deputado Tiner.

Deputado Tiner (irritado): O que está fazendo na minha igreja?

Detetive Bleu: Só umas perguntinhas, deputado.

Deputado Tiner: Embora eu não seja obrigado, vou responder.

Detetive Bleu: Que seja. Por que esteve no escritório onde o Índigo morreu?

Tiner: De onde tirou isso?

Detetive Bleu: Suas digitais estão em toda parte.

Tiner: Não vou responder isto. Sou um Deputado Federal e não posso ser interrogado

sem a autorização do Congresso. (Faz menção de sair, mas o Detetive Bleu o segura

pelo braço).

Detetive Bleu: Não tem importância. Espera só para ouvir o que apurei. O senhor é o

dono do escritório. Usava-o para comer a noiva do rapaz. De algum modo ele ficou

sabendo e deu um flagra em vocês dois. Ele já havia descoberto e ia denunciar todo o

esquema de vocês dos atentados às bancas de jornal. Foi até lá a pedido de Safira.

Coitado, pensou que era uma proposta de reconciliação.

Tiner (dando um safanão para soltar o braço): Prove.

Detetive Bleu: As minhas provas eu já tenho. O celular do rapaz gravou tudo. Vocês

apagaram o vídeo, mas a perícia técnica recuperou as imagens. Viemos prendê-lo.

Pela conspiração no assassinato de Índigo e pela responsabilidade nos atentados a

bomba em bancas de jornal.

Deputado Tiner: O senhor está louco?

Detetive Bleu: Louco estava o senhor ao convencer pessoas a praticarem crimes e

pensar que não seria preso.

Deputado Tiner: Sou um Deputado Federal e não posso ser preso sem a autorização

do Congresso.

Detetive Bleu: Depois o senhor me processa.

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Deputado Tiner: Não se preocupa com o destino de sua filha? (O Detetive Bleu fica

desconcertado e se cala) Ah! Não fazia idéia de que a liberação do exame partiu de

mim, não é? Pois fique sabendo que o Governador só autorizou porque eu pedi. Sou

eu quem vai pagar o tratamento dela. Sem mim, sua filha morre.

Detetive Bleu: Foi o senhor quem conseguiu a autorização do exame?

Deputado Tiner: E posso conseguir muito mais. Daremos de tudo até que sua filha

esteja a salvo em casa, abraçada à mãe. (Pausa) Coitada da sua esposa. Imagino como

anda sofrendo.

Detetive Bleu (começa a tirar a maquiagem): Como sabe disso?

Deputado Tiner: Isso não importa. O que realmente importa é preparar uma festa

para o retorno de sua filha para casa. Outra coisa: conversei com o Governador e ele

quer criar um grupo de investigadores de elite, que ficará sob o seu comando. Vamos

triplicar o seu salário e você terá acesso direto ao meu gabinete e ao do Governador.

Detetive Bleu (Com a maquiagem removida): Não sei se posso...

Deputado Tiner: Claro que pode! Converse com sua esposa. Imagine uma vida

melhor, em um bairro mais adequado à sua nova condição social. Casa nova, carro

novo, emprego novo. Sua vida vai ficar muito melhor! (Passa o braço sobre o ombro

do Detetive Bleu e saem juntos do palco). Luzes se apagam.

FIM.