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Stanislas DEHAENE, Les neurones de la lecture, Odile Jacob, 2007. Para uma pequena introdução a este livro, clicar sobre «intro.leitura». Introdução : A ciência da leitura 1.Como lemos? 2.O cérebro em si 3.Os neurónios da leitura 4.A invenção da leitura 5.Aprender a ler 6.O cérebro disléxico 7.Leitura e simetria 8.Para uma cultura dos neurónios Conclusão : O futuro da leitura ÍNDICE : E agora vamos descobrir, de forma breve, o processo de leitura no seu aspecto neuropsicológico.

Stanislas DEHAENE , Les neurones de la lecture , Odile Jacob, 2007

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Stanislas DEHAENE , Les neurones de la lecture , Odile Jacob, 2007. Para uma pequena introdução a este livro, clicar sobre «intro.leitura». ÍNDICE :. Introdução : A ciência da leitura 1.Como lemos? 2.O cérebro em si 3.Os neurónios da leitura 4.A invenção da leitura 5.Aprender a ler - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: Stanislas DEHAENE , Les neurones de la lecture ,  Odile Jacob, 2007

Stanislas DEHAENE,

Les neurones de la lecture, Odile Jacob, 2007.

Para uma pequena introdução a este livro, clicar sobre «intro.leitura».

Introdução : A ciência da leitura1.Como lemos? 2.O cérebro em si 3.Os neurónios da leitura4.A invenção da leitura 5.Aprender a ler 6.O cérebro disléxico 7.Leitura e simetria8.Para uma cultura dos neurónios Conclusão : O futuro da leitura

ÍNDICE :

E agora vamos descobrir, de forma breve, o processo de leitura no seu aspecto neuropsicológico.

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Como lemos ?

Stanislas DEHAENE, Les neurones de la lecture, Odile Jacob, 2007.

Tudo começa na retina, onde vêm projectar-se os fotões reenviados pela página (p.36).

A retina é a membrana que cobre todo o fundo do globo ocular: é composta por várias camadas de células sobrepostas e que têm funções diferentes.

A retina recebe as imagens captadas pelo olho, transforma-as em sinais ou impulsos eléctricos e transmite-os ao cérebro por meio do nervo óptico.

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Ela não é homogénea, no sentido em que só a zona central da retina, chamada fóvea, é rica em células fotoreceptivas de muito alta resolução, os cones. Esta zona, que ocupa aproximadamente 15 graus do campo visual, é a única zona da retina realmente útil à leitura. Só ela capta as letras com os detalhes suficientes para as poder reconhecer (p.36).

Podemos ilustrar tudo isto com o seguinte esquema :

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« Se os meses e dias são eternos passageiros, os anos que se sucedem viajam. Que se navegue toda a nossa vida num barco ou que se puxe o freio de um cavalo até ao limiar da velhice, cada dia em viagem, da viagem fazemos o nosso domicílio. Já não sei mais em que ano uma nuvem solitária me convidou no vento. (...).

Bashô, poeta japonês do Séc. 17 nervo óptico

retinacristalino

córnea

pupila

íris

humor vítreo fóvea

O olho humano e uma parte dos seus constituintes

Mensagem lida

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A estreiteza das fóveas obriga-nos a mexer constantemente os olhos ao longa da leitura.

E ainda, não percorremos o texto de forma contínua. Os nossos olhos deslocam-se por etapas. Isto é devido ao facto de, no seio da fóvea, a informação visual não estar representada em todo o lado com a mesma precisão. (…) A precisão é máxima ao centro e diminui para na periferia (p.37).

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O nosso olho impõe, portanto, à leitura enormes constrangimentos e … inamovível. Podemos demonstrar que são as sacadas oculares que limitam a velocidade de leitura (p.42).

Esta assimetria provém da direcção da leitura. No leitor de árabe ou de hebreu, quando o olhar percorre a linha da direita para a esquerda, a assimetria do campo visual inverte-se (p.41).

Conseguimos identificar 10 ou 12 letras por etapas : 3 ou 4 à esquerda do centro do olhar e 7 ou 8 à direita. É o que se chama habitualmente de campo da percepção visual das letras.

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Ao entrar na retina, a palavra desfaz-se em mil fragmentos: cada porção de imagem da página é reconhecida por um fotoreceptor distinto.

Toda a dificuldade consiste depois em juntar esses fragmentos a fim de descodificar as letras; trata-se da ordem pela qual são apresentadas, da palavra em questão(p.35).

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Num determinado lugar do cérebro, no sistema de reconhecimento visual das palavras: em todos os indivíduos, em todas as culturas do mundo, a mesma região cerebral, com diferença de alguns milímetros, intervém para descodificar as palavras escritas. Seja em francês ou em chinês, a aprendizagem da leitura passa sempre por um circuito idêntico (p. 27).

Onde tudo isso se passa ?

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O nosso sistema de reconhecimento visual das palavras identifica o que não varia, apesar das formas muito variadas que podem ter as palavras (tamanho, tipo de letra, maiúsculas/minúsculas, negrito ou não, sublinhadas ou não, …) : é o que chamamos de reconhecimento invariável das palavras.

Aprende-se assim a descurar todas as variações não pertinentes para a leitura e, em contrapartida, a identificar e a ampliar as diferenças pertinentes, mesmo as mais pequenas.

Exemplos : Dois, dois, dois, Dois, Dois, …

R, R, R, r, r, r

Exemplo : a diferença entre « dois » e « dais », (e)

entre «trou » e « tour », …

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Como tudo acontece ?

O nosso sistema visual decompõe automaticamente as palavras em constituintes elementares. A natureza desses constituintes continua um tema de pesquisa muito actual (p.51).

Letras Grafemas Sílabas Morfemas Palavras

desabotoar

des aboto ar

des a bo to ar

d e s a b o t o a r

Exemplo :

É provável que múltiplos níveis de análise coexistam (p. 51) :

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Assim decompostos, estes elementos vão poder ser utilizados pelo cérebro para dar o som e o sentido.

Existem duas vias :

- a via fonológica ou via dos sons (= oralização ou leitura silenciosa : não se trata nem de articular nem de mexer os lábios, mas de transformar as letras em sons, de aceder à pronúncia das palavras). Também chamada conversão grafema-fonema.

- a via lexical, ou via directa, que dá acesso directo ao sentido.

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As opiniões são muito controversas entre os investigadores :

- para uns, há uma passagem obrigatória pela via fonológica antes de se aceder ao sentido;

- para outros, a passagem pela via fonológica é uma característica do leitor principiante e não do leitor hábil.

Posição do autor Actualmente, existe um consenso : no adulto, as duas vias da leitura existem e são activadas simultaneamente. (…) funcionam em paralelo, uma sustentando a outra (p.53).

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Via fonológica : a única possível para ler as palavras novas ou raras na ortografia regular, os neologismos, …

Via lexical : utilizada para as palavras frequentes e indispensável, inicialmente, para as palavras irregulares (numerosas em francês e mais ainda em inglês).

≠ do italiano onde não há praticamente palavras irregulares – cada letra corresponde a um som resultados de leitura das crianças, nitidamente melhores que nos francófonos e quase nenhum disléxico !).

Línguas muito ricas em fonemas !

Descodificação das letras, depois procura de uma possível pronúncia, depois do sentido.

Descodificação das letras, procura de sentido, depois de uma pronúncia.

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Nenhuma destas duas vias, por si só, é suficiente para ler todas as palavras (p.70).

Quando lemos em voz alta, as duas vias conspiram e colaboram uma com a outra (p.70).

A maioria dos modelos psicológicos contemporâneos concorda que a leitura hábil e fluente resulta de uma estreita coordenação das duas vias de leitura (p. 71).

Nota: seria mesmo mais sensato falar de vias múltiplas de leitura.

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Nota a propósito da via lexical :

Assenta no armazenamento de dezenas de milhares de palavras num« léxico mental » ou talvez em vários léxicos : ortografia, fonologia, gramática e semântica.

E todos estes léxicos agem em paralelo e de forma alguma por séries grande eficácia e rapidez ! (ver página 74 e seguintes a metáfora).

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Sem a acção do nosso léxico mental, a palavra escrita tornar-se-ia numa «letra morta». A identificação das letras e das palavras é um processo activo de descodificação no qual o cérebro acrescenta a informação ao sinal visual (p.80).

O reconhecimento de uma palavra exige que múltiplos sistemas cerebrais se conciliem numa interpretação unívoca da entrada visual. O tempo que demoramos a ler uma palavra depende portanto mais das suas propriedades intrínsecas que dos conflitos ou das coligações que induzem no seio da nossa arquitectura cerebral (p. 82).

O nosso léxico é uma arena onde a competição é difícil e onde a vantagem pertence aos « habituados », ou seja, às palavras mais frequentes (p. 82).

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Em resumo, no cérebro:

VISÃO

PALADAR OLFACTO AUDIÇÃO

Cada lóbolo é especializado numa ou várias funções sensoriais.

Hemisfério esquerdo : face externa

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As informações (palavras, rostos, objectos, …) percebidas, pelos olhos activam as áreas visuais do lóbolo occipital de cada hemisfério.

Estas regiões efectuam uma primeira análise da imagem, provavelmente para dela extrair as formas elementares (traços, curvas, superfícies,…). Neste estádio do tratamento da informação, o cérebro ainda não sabe a que obedece (p. 115).

G D

G D

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Depois (50 milésimos de segundos mais tarde), a informação começa a ser seleccionada e as palavras suscitam uma activação da área do reconhecimento visual das palavras de que acabámos de falar (no hemisfério esquerdo sobretudo, na região occipito-temporal central.

Tudo isto acontece automaticamente, em menos de um quinto de segundo !

E depois do reconhecimento visual, por onde caminha a leitura? Como acedemos ao sentido e à sonoridade das palavras ?

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A região occipito-temporal de que já falámos anteriormente distribui então a informação a numerosas regiões corticais.

Estas regiões já não são específicas para a leitura.

E estas duas vias da leitura (que dão acesso ao sentido e à sonoridade das palavras) activam áreas cerebrais distintas.

Em dois circuitos principais :

um converte-os em sons, o outro dá-lhe sentido.

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o lóbolo temporal esquerdo está amplamente implicado, nomeadamente uma região superior deste lóbulo temporal chamada planum temporal.

Conversão das letras em sons :

Porque permite o encontro das informações visuais e auditivas, o planum temporal tem verdadeiramente um papel de encruzilhada essencial à aprendizagem da leitura (p. 152).

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Via de acesso ao sentido:

Várias regiões são activadas; no entanto, nenhuma é específica para as palavras escritas.

A complexidade destes mecanismos é impossível de resumir em poucas linhas !

Encontramo-nos ainda e só, no balbuciamento da neurologia do sentido. (…) no domínio do sentido, a humildade é de bom tom porque ninguém, presentemente, pode pretender ter um modelo neurológico preciso/exacto deste misterioso raio de compreensão que faz com que a actividade de uma rede de neurónios, num determinado instante, «faça sentido» (p.155).

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Sabemos ao menos uma coisa: seria ingenuidade pensar que o sentido se limita a um pequeno número de regiões cerebrais. Pelo contrário, a semântica recorre a uma vasta população de neurónios distribuídos em todas as regiões do córtex (p.156).

No 5º capítulo, intitulado «Aprender a ler», o autor mostra como a aprendizagem da leitura modifica o cérebro da criança; descreve as fases desta aprendizagem e propõe pistas para optimizar o ensino da leitura.

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Também nesse capítulo demonstra a ineficácia do método global:

Em resumo, actualmente não há qualquer dúvida: o contorno global das palavras não apresenta praticamente nenhum papel na leitura. O reconhecimento visual das palavras não assenta numa apreensão global do seu contorno, mas na sua decomposição em elementos simples, as letras e os grafemas. A região cortical da forma visual das palavras trata todas as letras da palavra em paralelo, o que, historicamente, é responsável pela impressão da leitura global. Mas a espontaneidade da leitura não é mais do que uma ilusão, suscitada pela extrema automatização das suas etapas, que se desenvolvem fora da nossa consciência (p. 297).

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Para terminar esta breve análise, sublinhamos ainda o capítulo 6 no qual o autor fala de dislexia:

Na maioria dos casos, a dislexia está ligada a um defeito de manipulação mental dos fonemas. O cérebro das crianças disléxicas apresenta várias anomalias características : (…).

Estas anomalias implicam que a dislexia seja incurável ? De forma alguma. (…) (p.309)

Documento realizado e apresentado em Microsoft Power Point 2003 por Hélène Delvaux d’IF Belgique

Para o projecto europeu Signesetsens

Imagens : clipart http://office.microsoft.com

2009

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Algumas palavras para introduzir:

Atrás de cada leitor esconde-se uma mecânica neuronal admirável, tanto na precisão como na eficácia, da qual começamos a compreender a organização.Nos últimos anos nasceu uma autêntica ciência da leitura (p.21). Neste livro apaixonante e de uma considerável clareza, o autor tenta partilhar esta ciência da leitura assim como os avanços experimentais que a sustentam. A sua esperança é ver aparecer uma verdadeira neurociência da educação que permitirá optimizar as estratégias de ensino (pondo definitivamente de lado, por exemplo, certos métodos de leitura como o método global do qual demonstra a sua ineficácia porque inadaptado à organização cerebral da criança).

Dois modelos opõem-se para « explicar » o cérebro : o antigo modelo, o da plasticidade generalizada e do relativismo cultural, e do o novo, defendido pelo autor, o da reciclagem neuronal.

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O antigo modelo desenvolve as seguintes ideias:

• O cérebro é um órgão totalmente flexível e maleável; portanto, não constrange em nada a extensão das actividades humanas (p.26). • O cérebro humano é, de alguma maneira, uma tábua rasa na qual são impressos os dados do meio ambiente natural e cultural. Não há portanto natureza humana biológica, mas uma construção progressiva desta, por imersão numa dada cultura.• Só a capacidade de aprender seria a característica da nossa natureza humana (p.26-27).

Este modelo foi recusado devido aos dados recentes da ressonância magnética cerebral e da neuropsicologia. Veremos até que ponto é falsa a imagem de um cérebro virgem, infinitamente maleável, e que se contentaria em absorver os dados do seu meio ambiente cultural (p.27).

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O autor desenvolve um outro modelo, o da reciclagem neuronal. O nosso cérebro, segundo ele, é evidentemente capaz de aprender e faz prova de plasticidade e de uma capacidade de adaptação ao meio ambiente, mas a sua arquitectura está estreitamente enquadrada por fortes constrangimentos genéticos (p.27). Esta aprendizagem é por isso limitada. Por exemplo, em todos os indivíduos, em todas as culturas do mundo, a mesma região cerebral, com diferença de alguns milímetros, intervém para descodificar as palavras escritas. Quer se leia em francês ou em chinês, a aprendizagem da leitura passa sempre por um circuito idêntico (p. 27).

Este modelo assenta na grande ideia que os circuitos corticais, herdados do nosso passado evolutivo, se reconvertem ou melhor ou pior à leitura: a aprendizagem da leitura impõe profundas modificações nos circuitos do cérebro (p. 22-23). É um órgão fortemente estruturado que faz do velho novo. Para aprender novas competências, reciclamos os nossos antigos circuitos cerebrais de primatas - na medida em que estes toleram um mínimo de mudança (p.28).

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O paradoxo da leitura sublinha o facto indubitável de que os genes não evoluíram para nos permitir aprender a ler. Só se verifica uma única solução. Se o cérebro não teve tempo de evoluir sob os constrangimentos da escrita, então foi a escrita que evoluiu, para de tomar em conta os constrangimentos do nosso cérebro (p.29). E uma pouco mais adiante, o autor vê a vestígio de um incessante «bricolagem» evolutivo que adapta sem descanso os objectos da escrita aos constrangimentos do nosso cérebro.

Nota: a leitura é, neste livro, orientada unicamente para a leitura das palavras e não das imagens.

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