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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÃO CIVIL “SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO DE RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA ATACADOS POR CLORETOS” Autor: Rodrigo César Rissari Bissa Orientador: Prof. José Eduardo de Aguiar, Msc. Dezembro/2008

“SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO DE …cecc.eng.ufmg.br/trabalhos/pg1/Monografia%20Rodrigo%20C%E9sar.pdf · “SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO DE ESTRUTURAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÃO CIVIL

“SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO DE ESTRUTURAS DE

CONCRETO ARMADO DE RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA ATACADOS

POR CLORETOS”

Autor: Rodrigo César Rissari Bissa

Orientador: Prof. José Eduardo de Aguiar, Msc.

Dezembro/2008

Autor: Rodrigo César Rissari Bissa

“SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO DE ESTRUTURAS DE

CONCRETO ARMADO DE RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA ATACADOS

POR CLORETOS”

Monografia apresentada a Escola de Engenharia da UFMG como requisito final para a obtenção do título de Especialista no Curso de Especialização em Construção Civil. Orientador: Prof. José Eduardo de Aguiar, Msc.

Dezembro/2008

“Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que

plantamos."

Provérbio Chinês.

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos mestres pelo conhecimento compartilhado, em especial ao Professor

e orientador José Eduardo de Aguiar, pela disponibilidade e orientação durante o

desenvolvimento desta monografia. Obrigado UFMG.

Aos meus amigos e colegas pelo incentivo e torcida constantes. Aos novos amigos

do curso de especialização, pela companhia no decorrer dessa jornada, espero que

a amizade possa continuar mesmo longe das salas de aula.

Aos meus pais e demais familiares pelo apoio e oportunidade. Estiveram sempre

torcendo para que eu pudesse alcançar essa vitória.

À CESAN pela oportunidade de concluir esta especialização e por contribuir com

dados relevantes para o desenvolvimento do tema proposto.

À ARCELOR MITTAL pelo patrocínio, contribuindo para uma formação acadêmica

especializada e de qualidade.

Ao meu amor, Bel, pela paciência e companheirismo durante toda a essa

caminhada.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................13

2 FUNDAMENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA ............................................................16

3 OBJETIVO .........................................................................................................20

4 CORROSÃO DE ARMADURA...........................................................................21

4.1 MECANISMO DA CORROSÃO ..................................................................25

4.2 CONSEQÜÊNCIAS DA CORROSÃO DO AÇO..........................................29

5 AÇÃO E INGRESSO DE CLORETOS ...............................................................31

5.1 MECANISMOS DE CORROSÃO INDUZIDA POR CLORETOS.................34

5.2 TEORES LIMITES DE ÍONS CLORETOS ..................................................35

5.3 FATORES INFLUENTES NA VELOCIDADE E PROFUNDIDADE DOS

ÍONS CLORETOS .................................................................................................39

5.3.1 COMPOSIÇÃO, TIPO E QUANTIDADE DE CIMENTO ..........................40

5.3.2 RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO, ADENSAMENTO E CURA.......................41

5.3.3 GRAU DE SATURAÇÃO DOS POROS, CONCENTRAÇÃO DE ÍONS

CLORETOS E TEMPERATURA............................................................................43

5.3.4 FISSURAS ..............................................................................................43

5.3.5 CARBONATAÇÃO ..................................................................................44

5.4 AMBIENTE EXTERNO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA ....47

5.5 AMBIENTE INTERNO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA .....50

5.6 CUIDADOS VISANDO À MELHORIA DA DURABILIDADE DO CONCRETO

ARMADO...............................................................................................................54

6 CAUSA EXTRÍNSECAS DE DETERIORAÇÃO .................................................56

6.1 CONSIDERAÇÕES ESTRUTURAIS ..........................................................58

6.2 PROCEDIMENTO DE VERIFICAÇÃO DE ABERTURA DE FISSURAS ....61

7 SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO....................................71

7.1 SISTEMAS DE CRISTALIZAÇÃO...............................................................71

7.2 REVESTIMENTOS A BASE DE CIMENTO POLIMÉRICO.........................71

7.3 REVESTIMENTO DE ALTA RESISTÊNCIA QUÍMICA À BASE DE

CIMENTO ..............................................................................................................73

8 CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E TRABALHOS FUTUROS ..................76

9 REFERÊNCIAS..................................................................................................79

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Interrelacionamento entre conceitos de durabilidade e desempenho –

C.E.B – Boletim 183 (1989) apud (SOUZA, 1998). ...................................................14

Figura 2 – Esquema do processo de tratamento de água (SABESP). ......................16

Figura 3 - POURBAIX (1987) apud FORTES & ANDRADE (2000)...........................22

Figura 4 – Escala de energia.....................................................................................25

Figura 5 – Processo de corrosão eletroquímica do aço (Catálogos SIKA, 2006)......27

Figura 6 - Representação da deterioração resultante da corrosão (NEVILLE,1997).29

Figura 7 – Aumento de volume devido à oxidação e expansão da armadura – Interior

de reservatório em operação no município da Serra - (CESAN)...............................30

Figura 8 – Esquematização da corrosão eletroquímica (Catálogos SIKA, 2006). .....35

Figura 9 – Efeito da relação água/cimento na penetração de cloretos......................42

Figura 10 – Pilar em indústria com corrosão das armaduras devido à carbonatação

(AGUIAR, 2006). .......................................................................................................45

Figura 11 – Pilar sobre o mar após 10 anos de construção – efeito sinérgico da ação

de carbonatação e íons cloretos (AGUIAR, 2006). ...................................................46

Figura 12 – Localização litorânea – Guarapari – ES. ................................................48

Figura 13 – Reservatório elevado de água tratada (CESAN)....................................49

Figura 14 - Teor total de íons cloretos em relação à massa de cimento com

molhagem e secagem alternadas (Neville, 1997). ....................................................50

Figura 15 – Escamamento e delaminação do concreto. Reservatório em operação.51

Figura 16 – Escamamento e delaminação do concreto. Reservatório desativado. ...52

Figura 17 – Manifestação de fissuras conforme cada tipo de esforço atuando.........57

Figura 18 – Representação sistema estrutural de cálculo.........................................59

Figura 19 – Forma da laje de tampa .........................................................................60

Figura 20 – Corte A-A reservatório 300 m3. ..............................................................60

Figura 21 – Diagrama de momentos fletores – cobertura .........................................65

Figura 22 – Seção fissurada no estádio 2 puro. ........................................................65

Figura 23 – Área de envolvimento Acr. ......................................................................67

Figura 24 – Exame microscópico do concreto aos 28 dias. ......................................74

Figura 25 – Estrutura de concreto típica com umidade. ............................................75

Figura 26 – Penetração da formação cristalina. ........................................................75

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – NBR 6118 – 2003. ..................................................................................23

Quadro 2 - Classes de agressividade ambiental (HELENE, 1997). ..........................24

Quadro 3 – Teor limite de cloreto para diversas normas:..........................................37

Quadro 4 – Quantidade de cloretos livres em relação a diversos teores de C3A. .....40

Quadro 5 – Concentração de Cloretos nos Reservatórios do Município da Serra ....53

Quadro 6 - Fatores intervenientes no processo de corrosão e contaminação

(HELENE, 1993)........................................................................................................55

Quadro 7 - Coeficiente de conformação superficial do aço (NBR 6118/2003). .........67

Quadro 8 – Adaptação dos quadros 6.1 e 13.3 da NBR 6128-2003. ........................70

LISTA DE EQUAÇÕES

Fe → Fe++ + 2 e- (Equação 1)....................................................................................27

4 e- + O2 + 2 H2O → 4 (OH-) (Equação 2) .................................................................27

Fe++ + 2 (OH-) → Fe (OH)2 (Equação 3) ...................................................................28

Fe(OH)2 + 2 H2O + O2 → 4 Fe(OH)3 (Equação 4).....................................................28

Fe++ + 2 Cl- → FeCl2 (Equação 5) .............................................................................34

FeCl2 + 2 H2O → Fe(OH)2 + 2 HCl (Equação 6) .......................................................34

Ca(OH)2 + CO2→CaCO3+H2O (Equação 7)..............................................................44

LISTAS DE COMPOSTOS E ELEMENTOS QUÍMICOS

4Fe(OH)3 Hidróxido férrico - ferrugem

C3A Aluminato tricálcico

Cl- Cloro

Fe(OH)2 Hidróxido ferroso

Fe++ Ferro

Fe2O3 Óxido férrico

Fe3O4 Óxido ferroso - Magnetita

FeCl2 Cloreto ferroso

H2O Água

HCl Ácido clorídrico

O2 Oxigênio

OH- Hidroxila

RESUMO

Atualmente, o concreto armado é um dos materiais mais difundidos na construção

de obras de saneamento em se tratando de instalações de produção de água. Isso

se deve à facilidade de compor formas e dimensões, que são de grande importância

para produzir detalhes arquitetônicos e estruturais. Nesse grupo se enquadram à

construção de grandes reservatórios de água tratada, que são partes integrantes

dos sistemas de abastecimentos das grandes cidades.

A indústria de produção de água faz uso de produtos químicos durante seu processo

de tratamento visando o atendimento dos padrões de potabilidade e consumo

humano. No entanto, muitos desses produtos são nocivos à estrutura de concreto

armado. Essa monografia dará ênfase aos mecanismos deletérios que envolvem

íons cloretos presentes no processo de cloração da água, como fator importante

para o início de um processo corrosivo da armadura.

A limitação desta obra está em analisar os efeitos deletérios dos íons cloretos de

forma isolada, o que na prática não é observado, pois agentes externos atuam de

forma sinérgica na estrutura de concreto armado: carbonatação e íons cloretos, por

exemplo.

Em seguida, trataremos da importância de se verificar os limites de fissuração para

estruturas de concreto aramado, apresentando o procedimento de cálculo de uma

laje de tampa do reservatório construído no município de Viana-ES. Esse

procedimento de cálculo, mesmo que não muito preciso, deve servir de parâmetro

para a elaboração de projetos comprometidos com durabilidade e vida útil.

Estruturas fissuradas são pontos preferenciais para a entrada de águas

contaminadas por cloretos e instalação de um processo corrosivo na armadura.

Por fim, faremos menção a sistemas de impermeabilização e proteção de estruturas

que se proponham a criar barreiras de entrada dos íons cloreto, dissolvidos na água,

pelas fissuras do concreto.

1 INTRODUÇÃO

Os tempos modernos ditaram a certeza de que o concreto e o aço, como materiais

de construção, são instáveis ao longo do tempo, alterando suas propriedades físicas

e químicas em função das características de seus componentes e das respostas

destes às condicionantes do meio ambiente. Às conseqüências destes processos de

alteração que venham a comprometer o desempenho de uma estrutura, ou material,

costuma-se chamar deterioração. Os agentes agressores, em si, são designados

agentes de deterioração (SOUZA, 1998).

Na realidade a deterioração do concreto ocorre muitas vezes como resultado de

uma combinação de diferentes fatores externos e internos. São processos

complexos, determinados pelas propriedades físico-químicas do concreto e da forma

como está exposto. Os processos de degradação alteram a capacidade de o

material desempenhar as suas funções, e nem sempre se manifestam visualmente.

Os três principais sintomas que podem surgir isoladamente ou simultaneamente são

a fissuração, o destacamento e a desagregação (AGUIAR, 2006).

Cada material ou componente reage de uma forma particular aos agentes de

deterioração a que é submetido, sendo a forma de deterioração e a sua velocidade

função da natureza do material ou componente e das condições de exposição aos

agentes de deterioração (SOUZA, 1998).

A concepção de uma construção durável implica a adoção de um conjunto de

decisões e procedimentos que garantam a estrutura e os materiais que a compõem

um desempenho satisfatório ao longo da vida útil da construção. Assim, serão a

quantidade de água no concreto e a sua relação com a quantidade de ligante o

elemento básico que irá reger características como densidade, compacidade,

porosidade, permeabilidade, capilaridade e fissuração, além de sua resistência

mecânica, que, em resumo, são os indicadores de qualidade do material, passo

primeiro para classificação de uma estrutura durável ou não. O outro lado da

equação é justamente o que aborda a agressividade ambiental, ou seja, a

capacidade de transporte dos líquidos e gases contidos no meio ambiente para o

interior do concreto (SOUZA, 1998).

Figura 1 – Interrelacionamento entre conceitos de durabilidade e desempenho – C.E.B – Boletim 183 (1989) apud (SOUZA, 1998).

Da figura 1 infere-se que a combinação dos agentes ambientais (temperatura,

umidade, chuva, vento, salinidade e agressividade química ou biológica)

transportados para a massa de concreto, assim como a resposta dessa massa a tal

ação, constituem os principais elementos do processo de caracterização da

durabilidade, sendo a água o elemento principal de toda a questão, considerando

adequados os mecanismos de resistência. A essência destes conceitos estará, pois,

na execução de uma obra que apresente desempenho satisfatório, por um período

suficientemente longo e com custos de manutenção razoáveis (SOUZA, 1998).

A manutenção de uma estrutura se resume ao conjunto de atividades necessárias à

garantia do seu desempenho satisfatório ao longo do tempo, ou seja, o conjunto de

rotinas que tenham por finalidade o prolongamento da vida útil da estrutura. Dentre

essas rotinas estão enquadrados os sistemas de proteção e impermeabilização de

estruturas.

2 FUNDAMENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA

A história do abastecimento de água para consumo humano surge inicialmente para

satisfazer demandas relacionadas à captação, transporte e armazenamento, como

conseqüência do aumento do consumo a partir do crescimento das cidades. O

tratamento nasce primeiramente para satisfazer uma demanda estética em relação

aos aspectos organolépticos (cor, turbidez, ferro, manganês, alcalinidade, dureza,

pH, cloretos, sulfatos, cloro residual e flúor) presentes nas águas impuras, e

posteriormente aspectos de natureza sanitária (microorganismos e metais pesados).

Até a disposição nas residências, a água bruta captada no corpo hídrico passa por

uma série de processos que visam adequá-la aos padrões de consumo humano. A

água é levada por adutoras à estação de tratamento onde se inicia as adições de

produtos químicos tornando-a própria para o consumo e finalmente distribuída para

o consumidor final. A figura 2 mostra a esquematização do processo de tratamento

que torna a água própria para o consumo.

Figura 2 – Esquema do processo de tratamento de água (SABESP).

1. Represamento

2. Captação e Bombeamento: Após a captação, a água é bombeada para as

Estações de Tratamento de água onde passará por diversas etapas explicadas a

seguir.

3. Tratamento Químico:

Pré-cloração: Adição de cloro assim que a água chega à estação para facilitar a

retirada de matéria orgânica e metais;

Pré-alcalinização: Adição de cal ou soda à água para ajustar o pH aos valores

exigidos para as fases seguintes do tratamento;

Coagulação: Adição de sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro coagulante,

seguido de uma agitação violenta da água para provocar a desestabilização elétrica

das partículas de sujeira, facilitando sua agregação.

4. Floculação: É o processo onde a água recebe uma substância química chamada

de sulfato de alumínio. Este produto faz com que as impurezas se aglutinem

formando flocos para serem facilmente Removidos.

5. Decantação: Na decantação, como os flocos de sujeira são mais pesados do que

a água, eles se depositam no fundo do decantador.

6. Filtração: Nesta fase, a água passa por várias camadas filtrantes onde ocorre a

retenção dos flocos menores que não ficaram na decantação. A água então fica livre

das impurezas. Estas três etapas: floculação, decantação e filtração recebem o

nome de clarificação. Nesta fase, todas as partículas de impurezas são removidas

deixando a água límpida.

7. Cloração: Consiste na adição de cloro. Este produto é usado para destruição de

microorganismos presentes na água.

8. Fluoretação: O produto aplicado tem a função de colaborar para redução da

incidência da cárie dentária.

9. Reservatório: Após o tratamento, a água tratada é armazenada inicialmente em

reservatórios de distribuição e depois em reservatórios de bairros, espalhados em

regiões estratégicas das cidades.

10. Distribuição: Desses reservatórios a água vai para as tubulações maiores

(denominadas adutoras) e depois para as redes de distribuição até chegar aos

domicílios.

11. Redes de distribuição: Depois das redes de distribuição, a água geralmente é

armazenada em caixas d'água. A responsabilidade da concessionária é entregar

água até a entrada da residência onde estão o cavalete e o hidrômetro.

As adições de produtos químicos têm como objetivo adequar a água aos padrões

exigidos pela portaria do Ministério da Saúde número 518/2004 que estabelece os

procedimentos e responsabilidades relativas ao controle e vigilância da qualidade da

água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

Muitos reservatórios de água de concreto armado apresentam patologias de

concreto decorrentes principalmente da gestão (projeto), execução ou,

posteriormente, durante a vida útil da estrutura (conservação e manutenção). Esses

últimos são fatores primordiais para a integridade da estrutura de concreto armado,

uma vez que as contribuições de íons cloretos totais envolvidos no processo de

tratamento da água nas etapas de pré-cloração e cloração, elevam a oferta de

agentes deletérios juntamente com condições ambientais internas favoráveis

(umidade e calor) a degradação do aço.

Portanto, é necessário o uso de materiais de recuperação adequados para criar

barreiras na estrutura e impedir a percolação de águas contaminadas pela rede de

poros da estrutura de concreto armado.

3 OBJETIVO

Este projeto dará ênfase às contribuições deletérias de íons cloretos envolvidos nas

etapas de cloração da água, às estruturas de concreto armado destinadas a

reservação de água tratada, tais como tampas de reservatórios, onde existe uma

atmosfera favorável a degradação.

Será abordada importância da verificação dos Estados limites Últimos de Fissuração

ELS-W (Abertura e formação de fissuras) nas lajes de fechamento dos reservatórios,

como fatores facilitadores de penetração de íons cloretos na estrutura.

Será apresentado o procedimento de cálculo e verificação de abertura de fissuras

como parâmetro para elaboração de projetos estruturais que visem durabilidade e

vida útil da estrutura de concreto armado.

Posteriormente será feito um estudo sobre sistemas de impermeabilização e

proteção, visando garantir maior estanqueidade, durabilidade e resistência à atuação

dos íons cloretos na estrutura de concreto.

4 CORROSÃO DE ARMADURA

O concreto é um material que possui como principal característica a sua elevada

resistência à compressão, porém sua resistência à tração é baixa (em torno de 10%

da resistência à compressão). O uso do aço fornece essa resistência ao concreto,

criando assim, o concreto armado. Este material é largamente empregado, pois

fornece condições para execução de estruturas de várias formas e tamanhos

(MATTOS, 2002).

Por muito tempo, o concreto foi especificado para as obras simplesmente pela sua

resistência característica à compressão aos 28 dias (Fck), contudo a agressividade

do meio não era avaliada, ou não se tinha como avaliá-la, e a durabilidade da

estrutura ficava então em segundo plano, ocasionando assim vários problemas

patológicos (MATTOS, 2002).

Um dos principais reflexos da preocupação com a durabilidade foi a atenção dada

pela comunidade técnica internacional, nos últimos 25 anos, aos problemas de

corrosão de armaduras, buscando melhores caminhos para a especificação de

projetos de novas obras, execução de reparos, reforços e reconstruções (HELENE,

1993).

O aço ficará bem protegido quando o concreto for bem executado, levando-se em

conta dois aspectos: físico e químico. A proteção física é devida à qualidade e à

espessura do cobrimento. E a proteção química é resultante do pH elevado

proporcionado pelo concreto, permitindo assim a formação de uma fina película

protetora, conhecida como camada de passivação (FORTES & ANDRADE, 2000

apud MATTOS, 2002).

POURBAIX (1987) apud FORTES & ANDRADE (2000) apud MATTOS (2002),

mostra, em seu diagrama potencial x pH, Figura 3, que o aço encontra-se em um

estado passivo para um pH entre 10,5 a 12,5, considerando-se potenciais de

corrosão entre +0,1 e -0,5V (relativo ao potencial normal de hidrogênio). Nesta

condição de alcalinidade, que o concreto proporciona, o filme de óxido formado

sobre o aço é aderente e estável, impedindo o prosseguimento da corrosão.

Figura 3 - POURBAIX (1987) apud FORTES & ANDRADE (2000).

Contudo, para a execução de uma estrutura durável de concreto armado, existe a

necessidade de um estudo do local e do ambiente da edificação, para se fazer a

análise de quanto a corrosão será significativa durante a vida útil da estrutura.

Dentre os itens que devem ser analisados destacam-se (SERRA, 1992) apud

(MATTOS, 2002):

� Solo (natural ou aterro; ácido ou alcalino; resistividade elétrica);

� Água (doce, salobra, variações do nível do lençol freático, zonas de respingo

ou névoa, grau de poluição);

� Clima (temperatura, umidade, vento predominante);

� Atmosfera (industrial, urbana, marinha);

� Outros (correntes de fuga, exposição a agentes químicos);

Já em 1997, HELENE realizou uma síntese sobre a agressividade ambiental,

definindo classes de agressividade, visando a sua utilização na elaboração de

projetos (Quadro 1). Propôs, também, a utilização do Quadro 2 para avaliação da

agressividade do meio ambiente em relação à estrutura ou de suas partes, conforme

seu grau de exposição.

Quadro 1 – NBR 6118 – 2003.

Classe de Agressividade Agressividade Risco de Deterioração da Estrutura

l Fraca Insignificante

ll Média Pequeno

lll Forte Grande

lV Muito forte Elevado

Quadro 2 - Classes de agressividade ambiental (HELENE, 1997).

Micro-clima Macro-clima

Interior das edificações Exterior das edificações

Seco (1)

UR≤ 65%

Úmido ou ciclos (2)

de molhagem e

secagem

Seco (3)

UR≤ 65%

Úmido ou ciclos

(4) de molhagem

e secagem

Rural I I I II

Urbano I II I II

Marinho II III - III

Industrial II III II III

Específico II III ou IV III III ou IV

Respingo de maré - - - IV

Submerso ≥ 3 m - - - I

Solo - - Não agressivo, I

Úmido e

agressivo, II, III ou

IV

1Salas, dormitórios ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura; 2 Vestiários, banheiros, garagens, lavanderias; 3 Obras no interior do Nordeste do País, partes protegidas em ambientes predominantemente secos; 4 Incluindo ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, branqueamento em indústrias de papel e celulose, armazém de fertilizantes, indústrias químicas.

Tendo em vista que a corrosão gera conseqüências desastrosas, o estudo do

processo de corrosão é importante para os projetistas saberem a maneira como ela

atua e terem condições de evitá-la.

4.1 MECANISMO DA CORROSÃO

O aço sofre corrosão visto que não é um material encontrado em seu estado natural.

O minério de ferro da natureza sofre processo de fundição e melhora na sua

composição química, transformando-se em aço. Sob determinadas condições, o aço

perde esta energia e volta ao seu estado natural. O nome dado a essa perda de

energia é corrosão, como é mostrado na figura 4 (MATTOS, 2002).

Esc

ala

de E

nerg

ia

Metal

Composto (Minério)

Met

alur

gia

Cor

rosã

o

ENERGIA

E2

E1

Figura 4 – Escala de energia.

A corrosão pode ser dividida em dois tipos de processos: o denominado de corrosão

eletroquímica, o qual será evidenciado neste trabalho, e o de oxidação direta

(HELENE, 1993).

No processo de corrosão eletroquímica, o fenômeno ocorre como resultado da

formação de pilhas ou células de corrosão devido à presença de umidade. Neste

estágio existe a necessidade de quatro condições básicas: existência de um

eletrólito, diferença de potencial de eletrodo entre áreas anódicas e catódicas,

umidade e a presença de oxigênio. Ao iniciar o processo de corrosão, vai existir: um

ânodo, um cátodo, um eletrólito e a presença de um condutor elétrico. Nas regiões

catódicas, o ataque à armadura pode ser considerado desprezível, porém, nas

regiões anódicas, ocorre a dissolução do aço (HELENE, 1993; CASCUDO, 1997

apud MATTOS, 2002).

Com relação à oxidação direta, esta ocorre quando o ar atmosférico reage

diretamente com o aço. Este tipo de corrosão é lento à temperatura ambiente,

podendo ser significativo somente em altas temperaturas. Normalmente provoca

uma corrosão uniforme em toda a superfície da armadura (HELENE, 1993).

Segundo NEVILLE apud MATTOS (2002), o processo da corrosão eletroquímica

pode ser resumido como segue: existindo uma diferença de potencial entre 2 pontos

da armadura (aço) no concreto, gera-se uma célula eletroquímica. Neste momento

existe, então, uma região anódica e uma região catódica ligadas pelo eletrólito na

forma de água (H2O) nos poros da pasta de cimento endurecida. Os íons de ferro,

Fe++, com cargas elétricas positivas no ânodo, passam para a solução (concreto),

enquanto os elétrons livres, e-, com carga elétrica negativa, passam pelo aço para o

cátodo. No cátodo, os elétrons são combinados com a água e o oxigênio e formam

íons de hidroxila (OH-). Estes íons migram para o ânodo, através do eletrólito, onde

vão combinar com os íons ferrosos, formando hidróxido ferroso, que por outra

oxidação vai se transformar em hidróxido férrico (ferrugem). A figura 5 mostra

esquematicamente o processo de corrosão eletroquímica do aço.

Figura 5 – Processo de corrosão eletroquímica do aço (Catálogos SIKA, 2006).

Algumas reações do processo de corrosão podem ser descritas como se segue

(CASCUDO, 1997 apud MATTOS, 2002):

Zonas anódicas (reações de dissolução do ferro – oxidação):

Fe → Fe++ + 2 e- (Equação 1)

Zonas catódicas (reações de redução do oxigênio):

4 e- + O2 + 2 H2O → 4 (OH-) (Equação 2)

Zonas intermediárias entre o ânodo e o cátodo, inclusive podendo ocorrer em

regiões próximas do cátodo. Isto devido ao OH- possuir menor mobilidade iônica que

o Fe++, resultado de seu maior tamanho e massa comparado ao íon de ferro:

Fe++ + 2 (OH-) → Fe (OH)2 (Equação 3)

Zonas iguais a anterior, porém em locais mais aerados:

Fe(OH)2 + 2 H2O + O2 → 4 Fe(OH)3 (Equação 4)

Analisando as reações, verifica-se a necessidade da água para a continuidade do

processo de corrosão, portanto não há corrosão no concreto seco, provavelmente

com umidade relativa abaixo de 60%. E também não existe corrosão em concretos

completamente imersos, exceto quando a água pode reter ar (oxigênio), como por

exemplo, pela ação de ondas. Umidades relativas entre 70% e 80% são ótimas para

a corrosão. Em umidades relativas mais altas, a difusão do oxigênio através do

concreto é consideravelmente mais reduzida (NEVILLE, 1997 apud MATTOS, 2002).

As diferenças de potencial eletroquímico podem ser geradas por diferenças de

ambiente a que o concreto armado está exposto. Cita-se, por exemplo, para o caso

de macrocélulas ou macropilhas, quando o concreto possui uma parte

permanentemente imersa em água do mar e outra exposta a molhagem e secagem

alternadas. Outra situação semelhante a essa é quando a armadura, conectada

eletricamente, estiver com diferenças de espessura de cobrimento ao longo da peça

estrutural. As células eletroquímicas também podem ser formadas por causa de

diferenças de concentração salina na água dos poros ou por causa do acesso não

uniforme do oxigênio na estrutura (NEVILLE, 1997 apud MATTOS, 2202).

4.2 CONSEQÜÊNCIAS DA CORROSÃO DO AÇO

A transformação do aço metálico para ferrugem é acompanhada por um aumento no

volume, o qual, dependendo do estado de oxidação, pode chegar a ser de até 600%

do metal original, causando assim, fissuras nas peças de concreto armado (MEHTA

& MONTEIRO, 1994 apud MATTOS, 2002). Esse processo pode ser demonstrado

esquematicamente pela figura 6 abaixo:

Figura 6 - Representação da deterioração resultante da corrosão (NEVILLE,1997).

Figura 7 – Aumento de volume devido à oxidação e expansão da armadura – Interior de reservatório

em operação no município da Serra - (CESAN).

Tal fato torna a entrada de agentes agressivos em direção ao aço, como um

conseqüente aumento da velocidade de corrosão. O processo da corrosão no anodo

reduz a área da seção transversal do aço, reduzindo a sua capacidade de suporte

de solicitações. No caso particular da corrosão induzida por cloretos, ela é muito

localizada em um pequeno anodo, causando uma escarificação do aço (NEVILLE,

1997).

Os produtos de corrosão, menos volumosos do que as circunstâncias normais,

podem se deslocar para os vazios do concreto sem fissuração ou escamamento

progressivos (NEVILLE, 1997).

5 AÇÃO E INGRESSO DE CLORETOS

O ataque por cloreto é diferente em que a ação principal é a corrosão do aço e,

somente como conseqüência dessa corrosão é que se danifica o concreto em torno

da armadura (NEVILLE, 1997).

A corrosão da armadura devido à ação dos íons cloretos é apontada como um dos

mais sérios problemas à durabilidade das estruturas de concreto armado (HELENE,

1986; TREADWAY et al.; FUGIWARA; MINOSAKU, 1990 apud FIGUEIREDO,

2005).

Quanto à ação dos cloretos, quando estes são adicionados à mistura, tendem a se

distribuir uniformemente, possuindo assim menor tendência à formação de pilhas de

concentração. Por outro lado, no caso da penetração de íons cloretos a partir da

superfície dos concretos endurecidos, a concentração junto ao aço não é uniforme

devido às diferenças de permeabilidade do concreto. Esse fato propicia a formação

de macrocélulas de concentração, com o agravante de existir uma relação

desfavorável entre as áreas anódicas e catódicas (SERRA, 1992 apud MATTOS,

2002).

As vias que podem seguir os íons cloretos até o concreto podem ser assim

resumidas nas seguintes formas (FIGUEIREDO, 2005):

� Uso de aceleradores de pega que contém CaCl²;

� Na forma de impurezas indesejadas dos agregados e da água de

amassamento;

� Atmosfera marinha;

� Água do mar (estruturas “off shore”);

� Uso de sais de degelo;

� Processos industriais (etapa de branqueamento de indústria de celulose e

papel e produção de água).

O mecanismo de penetração dos íons cloretos através do concreto, para que uma

certa quantidade chegue até a armadura, na forma de cloretos livres, e consiga

desencadear o processo de corrosão, depende de uma série de fatores

relacionados, por exemplo, com o tipo de cátion associado aos cloretos, tipo de

acesso ao concreto (antes ou depois de endurecido), tipo de cimento empregado na

produção do concreto, condições de produção e cura do concreto, umidade

ambiental (condições de saturação dos poros) e quantidade de cimento por metro

cúbico de concreto (FIGUEIREDO, 2005).

Os cloretos agressivos podem ser encontrados na natureza, dissolvidos em água.

Quando sólidos, podem depositar-se na superfície do concreto. Em dissolução

aquosa, por intermédio de chuvas ou umidade e através da rede de poros, os

agentes agressivos, tanto para o concreto como para a armadura, atingem as

regiões mais internas do concreto armado.

Os cloretos transportados pelo ar podem percorrer grandes distâncias, sendo já

observado casos de transporte de até 2 quilômetros, dependendo do vento a da

topografia (NEVILLE, 1997).

Qualquer que seja a origem, os cloretos penetram no concreto pela movimentação

da água contendo os cloretos, bem como por difusão dos íons na água e por

absorção. O ingresso prolongado e repetido pode, com o tempo, resultar altas

concentrações de íons cloretos junto à superfície do aço da armadura (NEVILLE,

1997).

Segundo CASCUDO (1997) apud MATTOS (2002), os cloretos podem ser

transportados para dentro do concreto através dos mecanismos de absorção capilar,

difusão, permeabilidade e migração.

Quando o concreto permanece constantemente submerso, os cloretos penetram até

profundidades consideráveis, mas não haverá corrosão, a menos que haja oxigênio

presente no catodo.

Sabendo que os processos de produção de água tratada envolvem etapas de adição

de produtos químicos à água (cloração), contribuindo para a oferta de íons cloretos à

estrutura de concreto armado, fica evidente a importância de se especificar métodos

de impermeabilização e proteção das estruturas de concreto criando barreiras que

bloqueiem parcial/total a entrada de íons cloretos para o interior da estrutura de

concreto armado e impedido que se inicie um processo corrosivo da armadura.

5.1 MECANISMOS DE CORROSÃO INDUZIDA POR CLORETOS

O filme que se forma logo após o início da hidratação do cimento, consiste de γ-

Fe2O3, firmemente aderente ao aço. Enquanto esta película de óxido estiver

presente, o aço permanece intacto. No entanto, os íons cloretos destroem a película

e, com a presença de água e oxigênio, ocorre corrosão (NEVILLE, 1997).

De acordo com Fortes e Andrade (2001), os íons cloreto (Cl-), em contato com a

armadura, produzem uma redução do elevado pH do concreto, que é formado por

valores entre 12,5 a 13,5, para valores de até 5. Tais íons atingem a armadura de

forma localizada, destruindo a camada passivadora, resultando na corrosão que,

depois de formado, permanece ativo sempre reduzindo o diâmetro da barra.

Para que se inicie a corrosão, a camada de passivação deve ser atravessada. Os

íons cloretos ativam a superfície do aço formando o anodo, sendo catodo a

superfície passivada. As reações são as seguintes:

Fe++ + 2 Cl- → FeCl2 (Equação 5)

FeCl2 + 2 H2O → Fe(OH)2 + 2 HCl (Equação 6)

Assim o Cl- é regenerado de modo que a ferrugem não contém cloreto, embora se

forme cloreto ferroso no estágio intermediário. A figura 8 mostra a corrosão

eletroquímica na presença de cloretos.

Figura 8 – Esquematização da corrosão eletroquímica (Catálogos SIKA, 2006).

.

Como a célula eletroquímica necessita uma conexão entre anodo e o catodo pela

água dos poros, bem como pela própria armadura, o sistema de poros na pasta de

cimento endurecida é um fator importante influenciando a corrosão. Em termos

elétricos, é a resistência da conexão pelo concreto que controla a passagem da

corrente. A resistividade elétrica do concreto é fortemente influenciada pelo seu teor

de umidade, pela composição iônica da água dos poros e pela continuidade do

sistema de poros da pasta de cimento endurecida (NEVILLE, 1997).

5.2 TEORES LIMITES DE ÍONS CLORETOS

Normalmente os cloretos penetram no concreto por duas maneiras: são levados com

seus componentes (aditivos, água, brita ou areia) ou provenientes do exterior, por

penetração, através da rede de poros, como no caso de ambientes marinhos

(maresia ou névoa salina) (ANDRADE, 1992; CASCUDO, 1997 apud. MATTOS,

2002).

HELENE (1993) resumiu a presença dos cloretos no concreto de três formas: como

cloretos livres (na forma de íons na água dos poros), combinados quimicamente

formando o cloroaluminato de cálcio, conhecido por sal de Friedel:

(C3A.CaCl2.10H2O) ou retidos por adsorção física às paredes dos poros capilares. A

soma dos “livres” e “retidos” é denominada cloretos totais.

A medição de cloretos é feita em amostras de pó retiradas do concreto, em

diferentes profundidades da estrutura, e a análise quantitativa é feita por via química

(ASTM C 1152- 1992) ou por análise de fluorescência de Raio-X (FIGUEIREDO,

2005 apud AGUIAR, 2006).

Uma certa quantidade de íons cloreto pode ser tolerada sem risco de corrosão, uma

vez que, após reagirem com aluminatos, provenientes do clinquer, esses íons não

estarão livres para atacar o filme passivante. No entanto existe um valor limite de

concentração no qual os íons cloreto podem romper a camada de óxidos passivante

e iniciar o processo de corrosão da armadura (FIGUEIREDO, 2005).

FIGUEIREDO (2005) apresentou alguns valores (Quadro 3) normalizados por

diferentes países, que podem ser tomados como referência na quantidade máxima

de cloretos totais, pois praticamente todas as normas estabelecem o limite de

cloretos em termos de cloretos totais.

A NBR 6118 (2003) não se reporta ao teor de cloretos, chamando somente a

atenção quanto ao uso de aditivos contendo cloretos. As Normas Européias CEB

(1991), ENV 206 (1991) e a BS 8110:1 (1985) recomendam um limite de 0,40% em

relação à massa de cimento, enquanto a ACI 318-21 (2003) limitam em 0,15% em

ambientes com cloretos, 0,3% em ambientes normais, 1% em ambientes secos e

0,06% em concreto protendidos (FIGUEIREDO, 2005 , apud AGUIAR, 2006).

Quadro 3 – Teor limite de cloreto para diversas normas:

Norma País Ano Teor de cloretos recomendado

NBR (6118)

ABNT

Brasil 2003 Não se reporta ao teor de cloretos 5

ACI 3118-

21 USA 2001

≤0,15% em relação à massa de cimento, em ambiente com

cloretos.

≤0,30% em relação à massa de cimento, em ambiente normal.

≤1% em relação à massa de cimento, em ambiente seco.

≤0,06% em relação à massa de cimento (concreto protendido).

CEB

ENV 206

BS 8110:1

Europa

Portugal

Inglaterra

1991

1991

1985

0,4% em relação a massa de cimento

JCSE-SP2 Japão 1986 ≤ 0,60 Kg/m3 de concreto

A necessidade de se saber a quantidade de cloretos (totais ou livres) os quais

podem causar corrosão na armadura é muito importante, porém estabelecer um

limite único é extremamente difícil. A quantidade de cloretos depende de vários

5 A ABNT-NBR 6118:2003 não se reporta ao teor de cloretos, mas enfatiza que não é permitido

utilizar aditivos contendo cloretos em sua composição, tanto em estruturas de concreto armado,

quanto em protendidos.

fatores como, por exemplo, tipo de cimento, alcalinidade, teor de C3A - aluminato

tricálcico, finura, teor de gesso, traço do concreto e relação água/cimento (a/c).

Segundo ANDRADE (1992) apud MATTOS (2002), um valor médio aceito,

geralmente, para o teor de cloretos é de 0,4% em relação à massa de cimento ou

0,05% a 0,1% em relação à massa de concreto.

Vale lembrar que uma quantidade excessiva de cloretos na mistura inicial do

concreto, resulta uma ação mais agressiva e, portanto, uma corrosão mais rápida,

do que a mesma quantidade de cloretos tiver ingressado no concreto já em serviço

(NEVILLE, 1993).

Já os cloretos que tenham ingressado no concreto, ainda é mais difícil estabelecer

um limite de concentração de íons cloretos abaixo do qual não haja corrosão. Esse

limite depende de muitos fatores, dos quais ainda não são bem conhecidos. Para

efeitos práticos, a prevenção da corrosão é feita pelo controle do ingresso de

cloretos, pela espessura do cobrimento da armadura e pela penetrabilidade do

concreto do cobrimento (NEVILLE, 1997).

Enquanto, em quaisquer circunstancias, possa haver um limite para que se inicie a

corrosão, o seu prosseguimento depende da resistividade da pasta de cimento, que

varia com a umidade, e a disponibilidade de oxigênio, influenciada pela imersão do

concreto (NEVILLE, 1997).

Em qualquer caso, não é o teor total de cloretos que é importante para a corrosão.

Uma parte dos cloretos está quimicamente retida, sendo incorporada aos produtos

da hidratação do cimento. Outra parte dos cloretos está fisicamente retida por

absorção à superfície dos poros de gel. É somente uma terceira parte dos cloretos,

isto é, os cloretos livres, que está disponível para a reação agressiva com o aço. No

entanto, a distribuição dos íons cloreto entre as três formas não é fixa, pois existe

uma situação de equilíbrio tal que sempre alguns íons cloretos livres estão presentes

na água dos poros (NEVILLE, 1997).

5.3 FATORES INFLUENTES NA VELOCIDADE E PROFUNDIDADE DOS

ÍONS CLORETOS

Basicamente os fatores que mais influenciam a penetração de íons cloretos são:

� Composição do cimento;

� Tipo do cimento;

� Quantidade de cimento;

� Relação água cimento;

� Adensamento;

� Cura;

� Grau de Saturação dos poros;

� Concentração de íons cloretos;

� Fissuras;

� Carbonatação;

� Temperatura.

5.3.1 COMPOSIÇÃO, TIPO E QUANTIDADE DE CIMENTO

A quantidade de C3A do cimento determina a capacidade de combinação com os

íons cloreto. Cimentos com baixos teores de aluminato tricálcico possuem pouca

capacidade de imobilizar os íons cloreto, através da formação de uma sal complexo

insolúvel, o cloro aluminato de cálcio hidratado (Sal de Friedel), que reduz a

concentração de íons cloretos livres na solução aquosa dos poros do concreto

(PAGE et al., 1986) citado por FIGUEIREDO (2005).

Rasheeduzzafar et al. (1990) citado por FIGUEIREDO (2005) trabalhando com

cimentos com diferentes teores de C3A verificaram que aqueles com teores mais

elevados de C3A podem ter um desempenho muito superior àqueles cimentos com

baixos teores conforme quadro 4. Page at al. (1986) apud Figueiredo (2005),

encontraram que a adição de escoria e cinza volante levava a uma diminuição da

difusibilidade dos cloretos em relação ao cimento portland puro.

Quadro 4 – Quantidade de cloretos livres em relação a diversos teores de C3A.

Teor de C3A % de cloretos Livres Acréscimo de tempo para iniciar a corrosão

2% 86% Referência

9% 58% 1,75 vezes

11% 51% 1,93 vezes

14% 33% 2,45 vezes

Estes ensaios revelam que os cimentos com adições, quando submetidos aos

cloretos, agem de forma a frear a penetração desses íons.

Nos experimentos realizados por ZANG&GJORV (1991), citado por Figueiredo

(2005), a introdução de sílica ativa em pastas de cimento reduziu a difusividade dos

íons cloretos. Os autores associaram este desempenho à diminuição da porosidade

total e a distribuição dos poros da argamassa com sílica ativa.

Mangat&Molloy (1992), citado por Figueiredo (2005), estudando os fatores que

influenciam a corrosão da armadura devido à ação dos cloretos, concluíram que a

quantidade de cimento possui uma insignificante influencia sobre a despassivação.

5.3.2 RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO, ADENSAMENTO E CURA

Gjorv&Vennesland (1979), citado por Figueiredo (2005), estudando a difusão de íons

cloreto em concretos de diferentes relação água/cimento e diferentes tipos de

cimento, verificaram que para curtos períodos de exposição o efeito da relação

água/ cimento foi limitado a camada superficial do concreto. Em longos períodos de

exposição, o tipo de cimento apresentou uma maior influência sobre a profundidade

de penetração dos cloretos que a relação água/cimento. A figura 9 apresenta os

resultados da profundidade de penetração de cloretos a diferentes relações a/c.

Efeito da relação a/c na penetração de cloretos

0

0,5

1

1,5

2

1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5Profundidade (cm)

CL-

(%

Cob

rimen

to)

a/c=0,75

a/c=0,60

a/c=0,5

a/c=0,4

Figura 9 – Efeito da relação água/cimento na penetração de cloretos.

Segundo Page et al. (1981), citado por Figueiredo (2005), as condições de cura

possuem um marcado efeito sobre as propriedades de transporte de pastas de

cimento endurecidas e, por conseguinte, sobre a difusibilidade efetiva dos íons

cloreto. Segundo esses pesquisadores, as condições de cura modificam a estrutura

dos poros da pasta e, por conseguinte, alteram a porosidade final.

Devido a isso, um concreto com um período de cura mais curto apresenta mais

cloretos que um concreto com cura mais prolongada. No entanto, essa diferença é

menos expressiva à medida que se passa para camadas mais internas, já que a

difusidade interna é menos afetada pelas propriedades da pele (JAERGERMAM,

1990, apud FIGUEIREDO, 2005).

5.3.3 GRAU DE SATURAÇÃO DOS POROS, CONCENTRAÇÃO DE

ÍONS CLORETOS E TEMPERATURA

O transporte de íons cloretos somente ocorre em presença de água. Nas situações

onde a água que contém os cloretos encontra-se estagnada, a penetração ao

interior do concreto ocorre através de difusão. Os íons cloretos também podem

penetrar por sucção capilar da água que os contém. Essa última situação ocorre

quando a estrutura de concreto está submetida a ciclos de umedecimento, com água

que contém os íons cloreto, e posterior secagem. Com o aumento da quantidade de

cloretos, nos poros do concreto, a possibilidade de secagem do concreto é

diminuída devido ao efeito higroscópico característico dos sais (FIGUEIREDO,

2005).

O aumento da temperatura aumenta a mobilidade molecular e favorece o seu

transporte pela microestrutura. Quando a temperatura cai, pode ocorrer

condensação e aumento da umidade do material (FIGUEIREDO, 2005).

5.3.4 FISSURAS

Quando uma fissura de concreto está exposta à água, vapor ou solo, que contém

íons cloreto, a quantidade necessária de cloretos para que se inicie o processo o

processo de corrosão será primeiramente atingido nas regiões fissuras

(FIGUEIREDO, 2005). Quadro 8 mostra os limites máximos de abertura de fissuras

de acordo com o grau de agressividade e natureza de utilização da estrutura.

As fissuras no concreto favorecem a penetração dos cloretos, sendo que velocidade

depende da abertura das fissuras e da qualidade do concreto.

5.3.5 CARBONATAÇÃO

A ação do CO2 sobre os constituintes do cimento hidratado é complexa, pois não se

limita ao hidróxido de cálcio, mas ataca e degrada todos os produtos da hidratação

do cimento. O concreto é um material poroso e o CO2 do ar penetra pelos seus

poros. A reação mais simples e importante é a combinação com o hidróxido de

cálcio liberado pela hidratação do cimento (AGUIAR, 2006).

Ca(OH)2 + CO2→CaCO3+H2O (Equação 7)

O concreto possui um pH da ordem de 12,5, principalmente por causa do Ca(OH)2.

O desaparecimento do hidróxido de cálcio do interior dos poros da pasta de cimento

hidratado e sua transformação em carbonato de cálcio faz baixar o pH da solução

em equilíbrio de 12,5 para 9,4, fator importante para o início da corrosão das

armaduras (AGUIAR, 2006). A figura 10 mostra pilar de concreto de uma indústria

que sofreu corrosão devido à carbonatação.

Figura 10 – Pilar em indústria com corrosão das armaduras devido à carbonatação (AGUIAR, 2006).

A concentração de cloretos necessária para promover a corrosão é fortemente

afetada pelo pH do concreto. Foi demonstrado que é necessário um nível de 8.000

ppm de íons cloretos para iniciar o processo quando o pH é de 13,2, mas quando o

pH cai para um patamar de 11,6, a corrosão se inicia com somente 71 ppm de íons

cloretos (EMMONS, 1993 apud AGUIAR, 2006).

A figura 11 mostra o resultado da ação conjunta da carbonatação e ataque de íons

cloretos sobre a estrutura de um pilar de concreto sobre o mar após 10 anos de

construção, mostrando claramente que a ação de agentes deletérios dificilmente

ocorre de maneira única e isolada.

Figura 11 – Pilar sobre o mar após 10 anos de construção – efeito sinérgico da ação de carbonatação

e íons cloretos (AGUIAR, 2006).

Considerando um concreto que possua uma certa quantidade de cloretos

combinados e outra livre, embora inferior à necessária para despassivar a armadura.

Quando esse concreto começa a carbonatar, parte dos cloretos combinados passam

a condição de livres. Desta forma a quantidade de íons livres pode atingir o limite

crítico de rompimento da camada passivada da armadura com uma quantidade de

cloretos totais mais baixa (TUUTTI, 1982 apud FIGUEIREDO, 2005). Esse efeito

sinérgico dos dois ataques são responsáveis por severos problemas de corrosão,

pois causam a aceleração do processo quando comparado de forma independente.

5.4 AMBIENTE EXTERNO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA

O micro clima e a atmosfera em que a estrutura está inserida influenciam a

profundidade de penetração e o teor de cloretos. Normalmente as regiões de

variação e respingos de maré são as mais afetadas, pois têm cloretos, água e

oxigênio suficientes para manter o processo de corrosão (HELENE, 1993).

De acordo com HELENE (1993), ciclos de molhagem e secagem, característicos de

zonas de respingos de maré, concentram os cloretos dentro da estrutura, ao mesmo

tempo em que essas zonas mostram-se mais atacadas por corrosão. Isso é avaliado

tanto por observação visual quanto por mapeamento a partir dos potenciais de

corrosão.

Nas regiões litorâneas, as direções preferenciais do vento caracterizam, de forma

diferenciada, as fachadas as quais são abrangidas pelo mesmo. O vento carreia

partículas de água do mar, contendo sais dissolvidos (inclusive cloretos), e as

depositam por impacto nas superfícies das estruturas de concreto. Esta ação causa

maior grau de ataque nessas fachadas. A evaporação da água do mar não carreia

cloretos, porém águas agitadas e ventos favorecem a suspensão na atmosfera de

partículas de água e névoa salina, colaborando com o seu transporte (HELENE,

1993).

As ilustrações abaixo caracterizam claramente o ambiente marinho que está inserido

a estrutura de concreto armado da figura 12. Trata-se de um reservatório elevado de

água tratada na forma de “guarda-chuva”, integrante do sistema de abastecimento

de água da Companhia Espírito Santense de Saneamento – CESAN.

Figura 12 – Localização litorânea – Guarapari – ES.

A figura 13 é uma vista sob a estrutura do reservatório. Nota-se claramente a ação

dos mecanismos de corrosão nas bordas da estrutura, onde já dá sinais de

lascamento ou delaminação da estrutura de concreto, tornando mais fácil a entrada

de agentes agressivos em direção ao aço aumentando a velocidade de corrosão.

Figura 13 – Reservatório elevado de água tratada (CESAN).

De acordo com NEVILLE (1997), Uma descrição frequentemente encontrada no

litoral em climas quentes, o concreto seco vai sendo embebido por água do mar por

absorção e, em certas condições até saturação. Se as condições externas passarem

a mais secas, inverte-se o movimento da água e ela evapora pelas extremidades

dos poros capilares abertas ao ar. No entanto, é a água pura que se evapora pelas

extremidades da superfície do concreto. O gradiente de concentração que se origina

faz com que o sal da região superficial se desloque para dentro por difusão.

Portanto, fica evidente o ingresso progressivo de sais em direção da armadura com

a molhagem e secagem alternadas. A figura 14 mostra o aumento na concentração

de cloretos em relação a massa de cimento com ciclos de molhagem e secagem.

TEOR TOTAL DE ÍONS CLORETOS EM RELAÇÃO À MASSA DE CIMENTO

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0 20 40 60 80 100

DISTÃNCIA DA SUPERFÍCIE (mm)

TE

OR

DE

CL

OR

ET

O -

%

Figura 14 - Teor total de íons cloretos em relação à massa de cimento com molhagem e secagem

alternadas (Neville, 1997).

LIAM et al (1992) apud HELENE (1993) verificaram que a temperatura também tem

papel muito importante no processo de penetração de cloretos. Sendo constatado

que um aumento de temperatura de 15°C para 30°C praticamente dobra o

coeficiente efetivo de difusão de cloretos.

5.5 AMBIENTE INTERNO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA TRATADA

Os íons cloretos podem chegar até o concreto através de diversas formas, como uso

de aceleradores de pega que contêm CaCl2, impureza na água de amassamento e

nos agregados, água do mar e maresia, sais de degelo e processos industriais

(AGUIAR, 2006).

Em ambientes industriais de produção de água, a concentração de cloretos ao longo

dos anos de utilização da estrutura, associada como outros mecanismos de

degradação já citados, é considerada como a principal causa de deterioração de

armaduras. Em estruturas de reservação de água tratada tais como lajes de tampa,

associado às condições internas de temperatura e umidade, os cloretos encontram

condições favoráveis para o sucesso do processo de deterioração. As figuras 14 e

15 mostram detalhes de processos expansivos de armadura na laje de cobertura no

interior de um reservatório de água tratada.

Figura 15 – Escamamento e delaminação do concreto. Reservatório em operação.

Figura 16 – Escamamento e delaminação do concreto. Reservatório desativado.

A seguir, o quadro 5 mostra os teores de cloretos aferidos ao longo de dez meses

pelo setor de qualidade da água da Companhia Espírito Santense de Saneamento –

CESAN. Esses valores são referentes à análise da água de um reservatório situado

no município da Serra – ES.

Conhecendo os mecanismos de penetração de cloretos nas estruturas de concreto e

corrosão de armadura, fica claro que a maior preocupação é para as estruturas de

cobertura dos reservatórios. Essas estruturas sofrem com as concentrações de

vapores contaminados sob a laje de tampa e ciclos de molhagem e secagem de

acordo com o consumo de água processado durante as 24 horas de abastecimento.

Caso a estrutura esteja totalmente submersa, apesar de ocorrer a contaminação por

cloretos a grandes profundidades, a corrosão não ocorrerá a menos que haja um

suprimento de oxigênio nos poros. Por outro lado, não ocorrerá corrosão em

concretos secos.

Quadro 5 – Concentração de Cloretos nos Reservatórios do Município da Serra

Data Componente Elemento Cl mg/l

07/01/08 Reservatório Água Tratada 6,8

04/02/08 Reservatório Água Tratada 5,9

07/04/08 Reservatório Água Tratada 4,9

22/04/08 Reservatório Água Tratada 5,9

05/05/08 Reservatório Água Tratada 5,0

02/06/08 Reservatório Água Tratada 4,7

07/07/08 Reservatório Água Tratada 6,0

04/08/08 Reservatório Água Tratada 6,3

01/09/08 Reservatório Água Tratada 5,1

06/10/08 Reservatório Água Tratada 5,9

Fonte: CESAN – Companhia Espírito Santense de Saneamento

5.6 CUIDADOS VISANDO À MELHORIA DA DURABILIDADE DO

CONCRETO ARMADO

A durabilidade das estruturas de concreto armado está vinculada a diversos fatores,

sendo estes em função das etapas de construção da edificação e, por fim, dos

critérios de manutenção. Durante a execução da obra, é necessário um controle

mínimo dos seguintes itens:

� Escolha do tipo de cimento adequado ao meio ambiente ao qual a obra será

inserida, dentre os tipos existentes no mercado da região;

� Relação água/cimento (a/c) adequada à agressividade do ambiente;

� Água de amassamento e agregados isentos de agentes agressivos;

� Trabalhabilidade do concreto adequada para o tipo de concretagem a ser

efetuada, resultando assim em um concreto bem compactado e menos

heterogêneo;

� Cura bem feita, evitando a secagem superficial do concreto por ventos;

� Cobrimento adequado às condições do ambiente em que a peça ficará

exposta.

No quadro 6 é apresentado um resumo dos fatores determinantes da corrosão, bem

como maneiras de evitá-los (HELENE, 1993).

Quadro 6 - Fatores intervenientes no processo de corrosão e contaminação (HELENE, 1993). O tempo necessário à

despassivação pode ser

aumentado com:

A taxa de corrosão pode ser

reduzida com:

A penetração de cloretos no

concreto pode ser reduzida

com:

Aumento da espessura de

cobrimento

Aumento da espessura de

cobrimento

Aumento da espessura de

cobrimento

Redução da relação a/c Redução da relação a/c Redução da relação a/c

Secagem do concreto Secagem do concreto Secagem do concreto

Redução da umidade relativa

do ambiente

Redução da umidade relativa

do ambiente

Redução da umidade relativa do

ambiente

Redução da temperatura Redução da temperatura Redução da temperatura

Aumento do tempo de cura Aumento do tempo de cura Aumento do tempo de cura

- - Aumento do teor de escória de

alto forno

- - Aumento do teor de pozolana

- - Aumento do teor de sílica ativa

Aumento do teor de C3A Aumento do teor de C3A Aumento do teor de C3A

Saturação do concreto Saturação do concreto -

6 CAUSA EXTRÍNSECAS DE DETERIORAÇÃO

A fissuração em elementos estruturais de concreto armado é inevitável, devido a

grande variabilidade e a baixa resistência do concreto a tração; mesmo sob as

ações de serviço, valores críticos de tensões de tração são atingidos. Visando obter

um bom desempenho relacionado à proteção das armaduras quanto à corrosão e

aceitabilidade sensorial dos usuários, busca-se controlar a abertura dessas fissuras

(NBR 6118-2003).

Estruturas bem projetadas que respeitem métodos construtivos e cargas previstas

em projeto, a abertura de fissura não representa perda de durabilidade. No entanto,

é importante salientar que a abertura de fissuras pode ter outras origens como a

retração térmica ou química que ocorre nas primeiras idades do concreto, devendo

ser limitadas com outros procedimentos tecnológicos como cura e traço adequado

do concreto.

A caracterização da fissuração como deficiência estrutural dependerá sempre da

origem, intensidade e magnitude do quadro de fissuração existente, posto que o

concreto por ser um material com baixa resistência à tração, fissurará por natureza,

sempre que as tensões trativas, que podem ser instalados pelos mais diversos

motivos, superem a sua resistência última à tração.

As falhas de projetos estruturais, com influência direta na formação de fissuras,

podem ser as mais diversas, assumindo as correspondentes fissuras configuração

própria, função do tipo de esforço a que estão submetidas às várias peças

estruturais como está exemplificado na figura 17.

PAREDEPAREDE

Figura 17 – Manifestação de fissuras conforme cada tipo de esforço atuando.

São conhecidas como causas extrínsecas de deterioração da estrutura, que

independem do corpo estrutural em si, assim como da composição interna do

concreto, ou de falhas inerentes ao processo de execução, podendo, de outra forma,

ser vistas como os fatores que atacam a estrutura “de fora para dentro”, durante as

fases de concepção ou ao longo da vida útil desta.

As falhas humanas na faze de projeto podem ter diversas origens descritas baixo:

� Modelização inadequada da estrutura;

� Má avaliação das cargas;

� Detalhamento errado ou insuficiente da estrutura;

� Inadequação ao ambiente;

� Incorreção na interação solo-estrutura;

� Incorreção na consideração de juntas de dilatação.

Nos procedimentos seguintes, será feita uma análise quanto à abertura de fissuras

de uma laje de tampa de concreto armado do reservatório de água tratada semi-

enterrado situado no município de Viana-ES. O objetivo dessa análise é enfatizar a

importância da execução de projetos estruturais visando verificar a abertura de

fissuras. Neste caso abordado, o tanque destinado a reservação de água, está

sujeito à ação de cloretos livres provenientes do tratamento da água, além de

possuir uma atmosfera interna (calor e umidade) que garante o sucesso de sua

penetração na estrutura de concreto e início prematuro da corrosão do aço.

6.1 CONSIDERAÇÕES ESTRUTURAIS

O reservatório mostrado nas figuras 19 e 20 foi construído no município de Viana,

zona rural da Grande Vitória do estado do Espírito Santo. Essa estrutura de concreto

armado é destinada a reservação 300 m³ de água tratada sendo parte constituínte

da ampliação do sistema de abastecimento de água deste mesmo município.

Apesar de estar situado na zona rural da Grande Vitória, ele é parte importante no

processo industrial de produção de água. Portanto, segundo o quadro 1, ele está

enquadrado na classe de agressividade IV com elevada possibilidade de

deterioração da estrutura de concreto devido a características específicas inerentes

do processo, ciclos de molhagem e secagem, alta umidade interna e calor.

O reservatório possui uma circunferência de cerca de 11,40 metros e pé-direito

estrutural de 4,10 metros de altura conforme figuras 19 e 20. Suas paredes possuem

uma espessura de 20 cm assim como sua laje de tampa. Apresenta uma laje circular

em estrutura convencional apoiada sobre pilar central com capitel de mesma

espessura da laje. As cargas envolvidas para o cálculo da laje de tampa durante a

concepção do projeto estrutural estão assim distribuídas: 100 Kgf/m² de

revestimento, 200 Kgf/m² de carga variável e 500 Kgf/m² de peso próprio.

A laje de tampa encontra-se engastada nas paredes do reservatório e apoiada sobre

pilar único central. Esquematicamente, o modelo de cálculo segue representado na

figura 18.

Figura 18 – Representação sistema estrutural de cálculo.

PLANTA DE FORMA - TAMPA

1200

15 15

R55

0

50

1

A

A

Figura 19 – Forma da laje de tampa

48

0

3040

20

20

390

2040 6015

20 20

CORTE - AA

A

5

Figura 20 – Corte A-A reservatório 300 m3.

6.2 PROCEDIMENTO DE VERIFICAÇÃO DE ABERTURA DE FISSURAS

O valor da abertura de fissuras pode sofrer a influência de restrições às variações

volumétricas da estrutura, difíceis de serem consideradas nessa avaliação de forma

suficientemente precisa. Além disso, essa abertura sofre também a influência das

condições de execução da estrutura (NBR 6118-2003).

Por essas razões, os critérios apresentados a seguir devem ser encarados como

avaliações aceitáveis do comportamento geral do elemento, mas não garantem

avaliação precisa da abertura de uma fissura especifica (NBR 6118-2003).

Cálculo do Momento de Fissuração ( rM ) é definido como o momento fletor que

teoricamente produz a primeira fissura numa seção de concreto simples, supondo

que a resistência à tração do concreto seja ctmf .

Dados a serem considerados no procedimento de verificação:

→h altura da seção

mh 20,0=

→b largura da seção

mb 0,1=

→c Cobrimento da Amadura

→ckf Resistência Característica do Concreto

mc 04,0=

2

40000000m

Nfck =

→csE Módulo de Elasticidade Secante do Concreto

→cγ Coeficiente de Ponderação da Resistência do Concreto

4,1=cγ

→ctmf Resistência à Tração do Concreto

→crA Área da Região de Envolvimento

→sγ Coeficiente de Ponderação da Resistência do Aço

15,1=sγ

→yde Deformação Especifica de Escoamento do Aço

→ydf Tensão Limite do Aço

→ykf Resistência Característica do Aço ao Escoamento

²500000000

m

Nf yk =

→sE Módulo de Elasticidade do Aço

MPaEs 210000=

→sA Área de Aço da Armadura Longitudinal Tracionada

→'sA Área de Aço da Armadura Longitudinal Comprimida

→rρ Taxa de Armadura na Região de Envolvimento crA

→1x Profundidade da Linha Neutra

→2x Profundidade da Linha Neutra na Seção Fissurada

→rM Momento de Fissuração

→sM Momento Fletor de Cálculo

→cI Momento de Inércia da Seção Bruta

→2I Momento de Inércia na Seção Fissurada

→ty Ordenada das Fibras mais Tracionadas

→kw Abertura de Fissura

→sM Momento Fletor de Cálculo

→kw Abertura de Fissura

→1η Coeficiente de Conformação Superficial

²29,3508821400000003,03,0 3/23/2

m

Nff ckctm =×=×=

)%%5,3(

%%5,3max

ydEd

x

+=

²70,434782608

15,1

500000000

m

Nff

s

yk

yd ===γ

CA-50

00207,0002100000000

70,434782608==yde

Na fronteira entre os domínios 3 e 4, a profundidade da linha neutra é maxxx = :

628,0)07,25,3(

5,3

000

000

000

max =+

=d

x

mx 10021,0max =

433

00067,012

20,01

12m

hbI c =

×=

×=

cmyt 0997,0)10021,02,0( =−=

mNM r ×=×

= 232330997,0

00067,029,3508821

Para que não ocorra fissuração da estrutura de concreto devido somente aos

esforços envolvidos na laje de tampa do reservatório, a seção fissurada deverá

encontrar-se no Estádio 1 )( owk = . Para isso, o momento fletor de cálculo )( sM

deverá ser necessariamente menor que o momento de fissuração )( rM calculado

anteriormente ).( rs MM <

Para verificação dos momentos solicitantes )( sM , foi utilizada uma modelagem

estrutural com o auxílio do software de cálculo estrutural (TQS V11.9.09) da TQS

informática. Os resultados obtidos são mostrados no diagrama de momento fletor da

figura 21 abaixo, onde se observa que o maior valor em módulo para o momento

fletor de cálculo foi de .²

26200m

N

Figura 21 – Diagrama de momentos fletores – cobertura

Portanto, o momento de fissuração )( rM calculado anteriormente é menor que o

momento fletor de cálculo )( sM . A seção fissurada está enquadrada no Estádio 2

logo, será necessária a verificação dimensional da abertura de fissura )( kw e

posteriormente comparada com o quadro 4 de acordo com a classe de

agressividade, finalidade da estrutura e limite máximo de abertura )( limw .

Seja a figura 22 representando a seção Fissurada no Estádio 2 puro. A seqüência

seguinte tem como objetivo de calcular a linha neutra na seção fissurada )( 2x e seu

momento de inércia ).( 2I

Figura 22 – Seção fissurada no estádio 2 puro.

1

31

2

22

22

]4[

a

aaaax

×

××−+−=

mb

a 5,02

0,1

21 ===

')1(2 AsnAna s ×−+×=

mmcAA ss /000785,010/10 2

' →→= φ

MPafE ckcs 88,30104404760560085,0 =×=×=

975,688,30104

210000===

cs

s

E

En unidades em MPa

²0102,0000785,0)19751,6(000785,0975,62 ma =×−+×=

')1( '3 dAndAna ss ××−+××−=

³0011,004,0000785,0)1975,6(1595,0000785,0975,63 ma −=××−+××−=

2

'

23

2 )'()1()(3

dxAnxdAnxb

I ss −××−+−××+×

=

mx 04,05,02

0011,05,04)²0102,0(00102,0[=

×

−××−+−=

22

2 )04,004,0(000785,0)1975,6()04,01595,0(000785,0975,63

³04,00,1−××−+−××+

×=I

4

2 0000991,0 mI =

A figura 23 mostra a região de envolvimento na seção de concreto, cujo valor de

cálculo adotado deverá seguir o seguinte critério:

bhyAcr ××+= ]2/);5,7min[( φ

Figura 23 – Área de envolvimento Acr.

0,1]2/2,0);01,05,704,0min[( ××+=crA

²1,0log]1,0;115,0min[ moAA crcr =→=

);min( 21 wwwk =

ctms

ss

fEw

×××

×××=

1

15,12

3

η

σσφ

××

×= 45

4

5,12 1

2

rs

s

Ew

ηη

σφ

Quadro 7 - Coeficiente de conformação superficial do aço (NBR 6118/2003).

Tipo de Barra η1

Lisa (CA-25) 1,00

Entalhada (CA-60) 1,40

Alta Aderência (CA-50) 2,25

Calculado a tensão do aço tracionado na seção fissurada )( sσ , serão determinadas

as aberturas de fissuras segundo as equações de )( 1w e ).( 2w A aço utilizado para o

projeto do reservatório é do tipo de alta aderência, portanto será adotado o valor do

Coeficiente de conformação superficial do aço conforme o quadro 4.

)( 2

2

xdI

Mnn sd

cs −××=×= σσ

²37,225904427

0000991,0

)04,01595,0(26200975,6

m

Ns =

−××=σ

mmmw 1,000007300,029,350882100210000000025,25,12

37,225904427337,22590442701,01 ≈=

×××

×××=

mmmw 2,0000212,045000785,0

4

00210000000025,25,12

37,22590442701,01 ≈=

××

×=

De acordo com o critério de cálculo de abertura de fissuras, o valor de referência a

ser considerado na estrutura da laje de tampa do reservatório é de mm1,0 uma vez

que .21 ww <

A verificação da segurança quanto ao estado limite de abertura das fissuras

)( WELS − foi atendida, pois o valor calculado é inferior ao exigido pela norma como é

mostrado no quadro 8. A norma se reporta a valores da ordem de 0,2 mm para

classe de agressividade IV.

Embora as estimativas de abertura de fissuras devam respeitar os limites do quadro

8, não se deve esperar que as aberturas reais correspondam estritamente aos

valores estimados, isto é, fissuras reais podem eventualmente ultrapassar esses

limites (NBR 6118-2003). Entretanto, devido ao estágio atual dos conhecimentos e

da alta variabilidade das grandezas envolvidas, esses limites devem ser vistos

apenas como critérios para um projeto adequado de estruturas.

No caso de as fissuras afetarem a funcionalidade da estrutura, como, por exemplo,

no caso da estanqueidade de reservatórios, devem ser adotados limites menores

para as aberturas das fissuras. Para controles mais efetivos da fissuração nessas

estruturas, é conveniente a utilização da protensão mesmo que exista a

possibilidade de corrosão da armadura sob tensão.

A estrutura projetada atende aos quesitos exigidos pela norma NBR 6118/2003

assinalados no quadro 5. Contudo, não podemos deixar de avaliar que reservatórios

de água tratada estão sujeitos a concentrações altíssimas de cloretos no seu interior

devido ao processo de tratamento da água, além dos cloretos transportados pelo ar.

Portanto, se a estrutura do reservatório encontra-se fissura, a água que contém íons

cloreto irá difundir e dar início a um processo corrosivo na estrutura de concreto

armado preferencialmente nessas regiões.

O cálculo de abertura de fissuras não é muito preciso. No entanto, serve como

parâmetro para a elaboração de projetos adequados que levem em conta a vida útil

e durabilidade da estrutura. Fissuras originadas por falhas de dimensionamento

estrutural são apenas a pequena parte de um problema complexo que pode ter

outras origens como já foi mencionado. Por isso é imprescindível a adoção de

sistemas complementares de impermeabilização que atuem como barreiras

impedindo a entrada de agentes por vias aquosas assim como o cloreto.

Quadro 8 – Adaptação dos quadros 6.1 e 13.3 da NBR 6128-2003.

Abertura de fissura limite Wlim

Classe de agressividade

Ambiental

Agressividade Tipo de Ambiente Wlim

I Fraca Rural ou submerso 0,4

II Moderada Urbano

III Forte Marinho 0,3

IV Muito forte Indústrias químicas ou respingos de maré 0,2

7 SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO E PROTEÇÃO

Atualmente os principais sistemas de impermeabilização e proteção de estruturas

minerais estão divididos em Sistemas de cristalização, Revestimentos a base de

cimento polimérico, Revestimentos de alta resistência química à base de cimento e

Revestimentos minerais de alta resistência química isentos de cimento (PINTO e

TAKAGI, 2008).

7.1 SISTEMAS DE CRISTALIZAÇÃO

Os sistemas de cristalização são conhecidos e vêm sendo aplicados mundialmente

com sucesso durante as últimas décadas. Tratam-se de sistemas que tornam o

concreto menos permeável devido a reações de formações de cristais nos poros e

capilares do concreto. Diversos sistemas estão disponíveis, sendo os atuais

manuseados da forma monocomponente e aplicados por pintura sobre o concreto

em não mais do que duas camadas. Suas propriedades permitem sua aplicação em

áreas de água potável e também de efluentes, pois sua resistência química

encontra-se numa faixa de pH entre 3 e 11. Porém cuidados devem ser tomados,

pois estes sistemas não possuem resistência à abrasão (PINTO e TAKAGI, 2008).

7.2 REVESTIMENTOS A BASE DE CIMENTO POLIMÉRICO

Os revestimentos à base de cimento polimérico consistem normalmente em produtos

bicomponentes, sendo um pó a base de cimento e um líquido a base de polímeros.

Como nos sistemas cristalizantes, os produtos mais atuais utilizam em sua

formulação polímeros em pó e são manuseados da forma monocomponente, o que

diminui a possibilidade de erros na dosagem. Suas propriedades permitem

normalmente sua aplicação em estruturas de água, não sendo recomendados para a

aplicação em estruturas de efluentes devido à sua baixa resistência química e falta

de resistência à abrasão (PINTO e TAKAGI, 2008).

Porém este sistema tem sido contestado na Alemanha onde recentemente foi

publicado o resultado de um estudo da VDZ, associação alemã dos fabricantes de

cimento. O estudo foi feito com base em uma pesquisa em diversos reservatórios e

testes de laboratórios que mostraram a formação de pontos de corrosão nos

revestimentos. Esta corrosão deve-se principalmente a presença de metil-celulose e

um alto fator água cimento nos produtos. Com base neste estudo a DVGW –

“Associação Científica e Técnica Alemã para Gás e Água - Comitê de

Armazenamento de Água”, publicou um manual de requerimentos básicos para o

uso de revestimentos cimentíceos em reservatórios de água potável, sendo os

principais requerimentos os seguintes (PINTO e TAKAGI, 2008):

� Fator água cimento equivalente < 0,5;

� Ar incorporado na argamassa fresca < 5 %;

� Volume total de poros 90 dias < 10 %;

� Resistência a compressão > 45 MPa

� Aderência > 1,5 MPa;

� Espessura mínima 5 mm.

7.3 REVESTIMENTO DE ALTA RESISTÊNCIA QUÍMICA À BASE DE

CIMENTO

Os revestimentos minerais de alta resistência à base de cimento atendem aos

requerimentos da DVGW e preferencialmente utilizam cimentos isentos de C3A em

função da necessária resistência a sulfatos. Podem ser aplicados de maneira

manual ou projetado e são recomendados para aplicação em estruturas que

armazenam água potável e em estruturas que contenham efluentes devido à sua

grande resistência química (pH 3 a 14).

Um exemplo é o sistema PENETRON, que é um produto de impermeabilização por

cristalização capilar que consiste de cimento comum, areia de quartzo e produtos

químicos. Possui a propriedade de penetrar profundamente nos capilares do

concreto por pressão de osmose e forma cristais que vedam os caplilares e as

fissuras. Em testes, seu crescimento capilar foi observado a profundidades de 1

metro no concreto. A figura 24 mostra a fotografia de um exame microscópico do

concreto aos 28 dias.

Dentre os benefícios apontados são citados os seguintes:

� Penetra profundamente e veda os capilares e fissuras de retração do

concreto;

� Propriedades de impermeabilização e resistência química permanecem

intactas mesmo se a superfície for danificada;

� Facilidade de aplicação;

� Veda fissuras de até 0,4 mm.

� Permite que o concreto respire evitando a formação de vapor d’água;

� Resiste ao ataque químico (pH 3-11 contato constante, pH 2-12 contato

periódico) e proporciona uma ampla gama de proteção contra ciclos de

congelamento/degelo, águas subterrâneas agressivas, água do mar,

carbonatos, cloretos, sulfatos e nitratos;

� Aprovado para o uso em água potável.

Figura 24 – Exame microscópico do concreto aos 28 dias.

As figuras 25 e 26 mostram o processo de atuação do sistema PENETRON na

estrutura de concreto. Na ausência de umidade os componentes permanecem

inativos e retomam sua ação caso a umidade reapareça.

Figura 25 – Estrutura de concreto típica com umidade.

Figura 26 – Penetração da formação cristalina.

8 CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E TRABALHOS FUTUROS

Certamente a garantia de uma estrutura de concreto durável quanto aos agentes de

deterioração, não passa por uma medida isolada. São várias e passeiam desde a

fase de concepção (arquitetura e estrutura), execução e escolha de materiais até a

sua a forma de utilização a qual foi projetada. O desafio é enorme a julgar pelo

grande número de variáveis envolvidas. A elaboração de um projeto estrutural que

não sofra problemas com fissuração não existe, uma vez que as razões e causas

também são inúmeras para ocorrências dessas anomalias. Portanto, fica claro que a

adoção de procedimentos complementares são necessários, à medida que se queira

obter uma estrutura estanque e impermeável aos mecanismos deletérios da

estrutura de concreto armado.

No âmbito da recuperação estrutural, na qual não foi foco desse trabalho, mas que

está implicitamente ligado, pois é motivada pela deterioração do concreto armado, a

adoção de materiais que alterem a característica alcalina do concreto, pode

significar a instalação de um severo processo corrosivo à estrutura de concreto

armado. Isso é observado quando se adota a utilização de convertedores de

ferrugem de composição ácida (ácido tânico, ácido fosfórico e álcool isopropílico)

que afetam a alcalinidade do concreto do núcleo exposto da peça, quando dos

procedimentos de recuperação estrutural. A melhor proteção para o aço é a própria

alcalinidade do concreto ou argamassa de reparo.

Os sistemas de tratamento de água, que foram discutidos nesse trabalho, estão são

cada vez mais agressivos a estrutura de concreto armado destinadas ao

saneamento básico. Devido a grandes dificuldades de se tratar águas impuras, é

necessária a adoção de métodos e produtos químicos cada vez mais agressivos ao

concreto. A adoção de sistemas complementares de impermeabilização das

estruturas de concreto armado, tanto novas como em estruturas existentes, são

fundamentais para garantir durabilidade e prolongamento de sua vida útil.

Diversos sistemas de proteção estão disponíveis, principalmente orgânicos à base

de resinas e inorgânicos à base de cimento ou não. Características como a abertura

a difusão de vapor de água, possibilidade de aplicação em substratos úmidos e a

execução de reparos pontuais diminuem os riscos da utilização de sistemas minerais

tanto durante a aplicação como na operação e manutenção. Portanto, por sua

natureza, similar ao concreto, a aplicação de revestimentos minerais para a

impermeabilização e proteção de estruturas parece uma tendência e a mais

apropriada para estruturas de saneamento.

O desenvolvimento e aplicação de materiais cimentíceos de impermeabilização que

possuam similaridade química a do concreto, são uma vertentes dos trabalhos

atuais e futuros. Estudos dessa natureza, que visem garantir a estanqueidade de

estruturas de concreto armado e impedir o ingresso de agentes químicos

responsáveis pela degradação do aço e do concreto, devem atender características

importantes tais como:

� Similaridade química entre o material de impermeabilização e o substrato

onde está sendo empregado;

� Resistência aos ataques de produtos químicos utilizados no tratamento de

água;

� Penetração e vedação dos capilares mais profundos;

� Neutralidade quando em contato com a água potável evitando contaminações

e prejudicando o abastecimento;

� Inatividade dos produtos químicos na ausência de umidade e re-vedação com

o seu surgimento;

� Materiais de impermeabilização com adições que em contato com o concreto

diminuam a quantidade de cloretos livres.

� Controle tecnológico do concreto observando detalhes básicos como cura,

cobrimento da armadura e dosagem.

9 REFERÊNCIAS

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Pini, 2000. 667p.

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Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro. Versão corrigida, 2004.

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