Simbolismo e Modernismo Português

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  • 7/24/2019 Simbolismo e Modernismo Portugus

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    Sumrio

    1.0 Estudos sobre o Simbolismo......................................................................................................3

    1.1 Questes tericas..................................................................................................................3

    1.2 Interpretao de poemas.....................................................................................................12

    1.2.1 Eugnio de !astro........................................................................................................12

    1.2.2 !amilo "essan#a.........................................................................................................13

    1.3 !onsideraes $inais............................................................................................................1%

    1.& 'e$erncias bibliogr$icas....................................................................................................20

    2.0 ( poesia de )rio de S*!arneiro............................................................................................22

    2.1 Questo terica...................................................................................................................22

    2.2 !onsideraes $inais............................................................................................................31

    2.3 'e$erncias bibliogr$icas....................................................................................................33

    3.0 Estudo sobre o )odernismo.....................................................................................................3+

    3.1 Questo terica...................................................................................................................3+

    3.2 Interpretao de poemas.....................................................................................................+1

    3.2.1 Impresses do crep,sculo -poesia pa,lica..................................................................+1

    3.2.2 /abacaria......................................................................................................................+1

    3.3 'e$erncias bibliogr$icas....................................................................................................+3

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    ES/1S S'E SI)4IS)

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    .0 Estudos sobre o Simbolismo

    . Questes tericas

    1.1.1 Escre5a sobre a est6tica do Simbolismo destacando e comentando as suas caracter7sticasbsicas. (borde aspecto da origem e e5oluo da literatura simbolista e diga se e8istem ou norelaes entre ela e mo5imentos literrios anteriores. Indi9ue os pontos de maior apro8imao ouruptura entre o Simbolismo e outros estilos de 6poca. Sobre o Simbolismo em "ortugal: mencioneos principais autores situando a import;ncia de cada um em $ace desse mo5imento literrio.

    surgimento do Simbolismo est atrelado a uma crise social: pol7tica: e8istencial e

    cultural instaurada no $im do s6culo

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    contrria ao 'ealismo*aturalismo e caracteri=ada pelo t6dio: pela #isteria: pelo neologismo: pelo

    preciosismo 5ocabular: pela ;nsia por no5as sensaes. ( ruptura com a mentalidade positi5ista

    buscou: $undamentalmente: retomar a prima=ia das dimenses no*racionais da e8istncia:

    redescobrir e redimensionar a subFeti5idade: o sentimento: a imaginao: a espiritualidade:des5endar o subconsciente e o inconsciente nas relaes misteriosas e transcendentes do suFeito

    #umano consigo prprio e com o mundo. Segundo )ois6s -200G: p. 20%: os decadentes

    preconi=a5am a anar9uia: o satanismo: as per5erses: as morbide=as: opessimismo: a #isteria: o #orror da realidade banal: ao mesmo tempo 9uecultua5am os neologismos e os 5ocbulos preciosos -H. Entendiam 9ue s l#esresta5a criar 9uimeras bril#antes: 5isto 9ue 5i5iam entediados e lassos numaci5ili=ao em de$initi5a decadncia.

    (pesar de s se tornar o$icial em $ins do s6culo

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    =onas mais pro$undas: iniciando uma 5iagem interior de impre5is75eis resultados.)as acontece 9ue uma to 7ntima sondagem ultrapassa5a o plano do ra=o5el-H. E ultrapassando o consciente: tomba5am no subconsciente e noinconsciente@ mergul#am no caos: no algico: no anr9uico: a 9ue se redu=: em,ltima anlise: a 5ida interior de cada um. -)ISPS: 200G: p. 20*210

    Quando se busca a sugesto e o inconsciente: as pala5ras tornam*se $initas: limitadas. "ara di=er

    o indi=75el: para e8primir estados de alma: o poeta utili=a o s7mbolo como estrat6gia da sua

    po6tica.

    espiritualismo rom;ntico: recuperado pelos simbolistas: apoiou*se nos princ7pios

    esot6ricos de Emmanuel SRedenborg: cuFa /eoria das !orrespondncias: amplamente utili=ada

    na 4iteratura desde Dilliam lae: Bonor6 de al=ac: at6 !#arles audelaire: admite a e8istncia

    de comple8as correspondncias entre o mundo celeste e o terreno de modo 9ue O alma do

    #omem se $unde a alma das coisas@

    "rimeiramente: dir*se* o 9ue 6 a !orrespondncia@ todo o )undo naturalcorresponde ao )undo espiritual: e no apenas o )undo natural -no seu aspectocomum: mas tamb6m em cada uma das coisas 9ue o compemC por isso: cadacoisa 9ue: no )undo natural: e8iste con$orme uma coisa espiritual: 6 dita!orrespondncia. -SDEE'T apud T)ES: 1%+: p. 3&.

    Essencialmente plat?nica: essa $iloso$ia supe a e8istncia do uni5erso $7sico diretamente

    relacionada a do espiritual: e a de ambos graas O i5indade. /al 5iso satis$e= o escapismo

    rom;ntico de5ido a sua 7ntima ligao com a concepo de mundo crist: uma 5e= 9ue o maior

    deseFo do poeta da 6poca era a ascenso ao para7so di5inoC por6m: entre os simbolistas: a

    unidade dos planos material e espiritual permaneceu circunscrita aos limites da nature=a terrena.

    ma outra caracter7stica comum Os duas escolas 6 a 5iso transcendental do poeta@

    en9uanto o rom;ntico 6 absor5ido por uma inspirao di5ina: o simbolista 6 deci$rador e porta*5o=

    do sentido simblico do mundo: um 5isionrio 9ue de5e re5elar aos #omens as comple8as

    relaes entre os mundos $7sico e espiritual.

    Em ambas as correntes literrias: o idealismo surge do con$lito entre a alma do indi57duo

    e a realidade material: por6m: cada uma o trata O sua maneira. (o passo 9ue o rom;ntico proFetaum mundo $antasioso: de son#os: o simbolista se dedica ao oculto e ao mist6rio: desconsiderando

    as de$inies pr65ias e as re$erncias tradicionais compartil#adas socialmente. "ara ele: as

    entidades do mundo sens75el no possuem um sentido Kem siL: como prega5am os parnasianos:

    mas e5ocam imagens de modo di$uso: sob uma cortina de $umaa atra56s da 9ual no 6 poss75el

    en8ergar claramente. Quer di=er: dos obFetos de5e ser preser5ada uma dist;ncia a $im de se

    e8trair deles apenas a essncia: o abstrato: sob pena de perder sua condio de coisa misteriosa.

    (ssim: o s7mbolo se tornou o elemento principal da po6tica simbolista: capa= de di=er o 9ue no

    podia ser dito: de estabelecer as correspondncias entre o mundo sens75el e o mundo abstrato:de e5ocar um estado de esp7rito cuFa traduo Famais 6 imediata@

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    Inimiga do ensino: da declamao: da $alsa sensibilidade: da descrio obFeti5a: apoesia simbolista procura@ re5estir a Id6ia de uma no5a $orma sens75el 9ue noseFa um $im em si mesma mas 9ue: ao ser5ir para e8primir a Id6ia: a elapermanea submissa. ( Id6ia: por sua 5e=: no de5e ser pri5ada das suntuosassamarras das analogias e8terioresC pois o carter essencial da arte simblica

    consiste em nunca conceber a Id6ia em si. -)'P(S apud T)ES: 1%+: p. G*G%

    Segundo o autor: a Ideia no pode ser e8pressa obFeti5amente por9ue isso implicaria no

    entendimento dos estados de alma atra56s da declarao: do KensinoL: da narrao obFeti5a: o

    9ue contraria a essncia sugesti5a do Simbolismo.

    epreende*se: assim: 9ue a linguagem simbolista consiste em uma 9uebra da relao

    estabelecida entre o signo e o re$erente: uma radicali=ao da arbitrariedade capa= de romper

    com as analogias e possibilitar 9ue o signo permanea circunscrito em si mesmo. !omo se

    de$inem dentro do prprio poema: os signi$icados podem ser amb7guos: di$erentes para um

    mesmo signi$icante. Essa no5a lgica lingu7stica permite leituras m,ltiplas: inesgot5eis.

    ( esta e8presso polissmica: cuFo obFeti5o 6 sugerir estados e mist6rios da alma de

    modo ene5oado: d*se o nome de s7mbolo@

    -H el s7mbolo resulta de la e5ocacin de un obFeto -H. o es el obFeto como talel 9ue desencadena el s7mbolo: es su e5ocacin por el poeta@ lo 9ueconsideramos no es el obFeto em s7: en su concrecin o: digamos: en su#istoricidad: sino la e5ocacin 9ue #ace de 6l el poeta. U como esta se presentamulti$ac6tica: no pocas 5eces rodeada de una niebla intemporal: su e8presin slo

    puede ser el s7mbolo: el s7mbolo original: est6tico. Este: aun9ue 5ago: nebuloso:de l7neas inciertas: identi$ica con nitide= la e5ocacin del obFeto: no importa se estasituado em la realidad $7sica o en la on7rica. -)ISPS: 200: p. 20*21

    (inda em relao a este conceito: o autor -200: p. 1% a$irma a e8istncia de dois tipos@ um

    con5encional: denotati5o: 9ue di= respeito O realidade concreta e no precisa ser necessariamente

    lingu7stico: como as bandeiras e os mapasC e um Ks7mbolo originalL ou Kest6ticoL: caracteri=ado por

    uma multiplicidade sem;ntica.

    e acordo com este prisma: escre5er uma poesia simbolista implica em uma tentati5a

    de e8primir uma sensao $ugidia: a 9ual merece: e5identemente: uma $orma de e8pressotamb6m 5aga e indecisa: 9ue permite a uni5ersali=ao do KeuL. "ara tanto: os poetas buscaram

    abolir a linguagem literal: 5isto 9ue seria imposs75el manter a urea de segredo atra56s da pala5ra

    obFeti5a: declarada. "or isso: optaram pela minilo9uncia: pela 5o= na surdina: sussurrada:

    contida e codi$icada. ( $im de comunicar 5erbalmente o 9ue no se di=: s l#es resta5a o camin#o

    da sugesto@ da7 de$enderem 9ue as pala5ras de5eriam e5ocar e no descre5er: sugerir e no

    de$inir@

    nomear um obFeto 6 suprimir trs 9uartos do pra=er do poema: 9ue consiste em ir

    adi5in#ando pouco a pouco@ sugerir: eis o son#o. P a per$eita utili=ao dessemist6rio 9ue constitui o s7mbolo@ e5ocar pouco a pouco um obFeto pra mostrar umestado de alma: ou in5ersamente: escol#er um obFeto e e8trair dele um estado dealma: atra56s de uma s6rie de adi5in#as. -)(44(')P apud T)ES: 1&: p. 2

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    aturalmente: para tratar um no5o conte,do: $a=*se necessrio empregar uma no5a

    maneira de e8presso. ( libertao $ormal adotada pelos simbolistas pre5 a superao da

    sinta8e lgica e do 5ocabulrio comum em prol da utili=ao de uma gramtica: sinta8e e l68ico

    psicolgicos: de arca7smos: de neologismos: de sinestesias e simbologias: promo5endo uma

    reo8igenao e8perimental na linguagem art7stica. (l6m disso: de$endem

    a prosa r7tmica: o 5erso li5re: e certos agrupamentos estr$icos no5os edesusadosC V...W surpreender o leitor pelo ineditismo delirante das imagens: peloesoterismo de um 5ocabulrio erudito col#ido em glossrios pouco manuseados ealusi5o a um mundo deslumbrante de pedrarias raras e al$aias lit,rgicas: e pelosmais 5ariados ingredientes do e8otismo. -S('(IJ( X 4"ES: 2001: p. 1030

    5ocabulrio rebuscado e o rigor $ormal #erdado do "arnasianismo: rede$inido no sentido de

    o$erecer ao leitor uma multiplicidade de sentidos: te5e como $inalidade produ=ir uma poesia

    ele5ada: KpuraL: isenta de contgio do mundo material. plano $ormal tamb6m re5erbera na

    musicalidade dos 5ersos: uma 5e= 9ue: longe de ser espont;nea e 9uase instinti5a: surge de uma

    inesgot5el procura pela e8presso.

    "or6m: de maneira geral: ao #omem comum no era poss75el compreender esta

    mani$estao. Separado da ature=a por9ue desen5ol5eu a racionalidade e se distanciou da sua

    capacidade sensiti5a: ele acaba por se tornar um ser $ragmentado e desligado do mundo. ,nico

    modo de superar esta condio 6 atra56s de uma recone8o do indi57duo com a sua conscincia

    mais primiti5a e intuiti5a: 9ue intermedeia a relao #omem*mundo atra56s dos sentidos. (oeleg*los como aspecto principal da mani$estao: o poeta deseFa representar o instante da

    percepo de um obFeto: sem a inc?moda inter5eno da inteligncia: 9ue tende a separar em

    sensaes em blocos distintos. esta $orma: o poema mergul#a num uni5erso de impresses

    sensoriais: construindo imagens ideais: ine8istentes no mundo $7sico. Essa $uso de imagens e

    sensaes labir7nticas de nature=as di5ersas: por se suceder em um s instante: de maneira

    arrebatadora e ,nica: produ= um e$eito sinest6sico capa= de potenciali=ar ainda mais a

    caracter7stica essencialmente subFeti5a do mo5imento.

    Em con$ormidade com os preceitos tericos: o m6todo mais ade9uado para se pro5ocar

    esse Kturbil#o sensiti5oL 6 por meio da apro8imao entre poesia e m,sica. !ontudo: cada um a

    de$endeu segundo uma perspecti5a di$erente@ para audelaire: as pala5ras e5oca5am

    sentimentos como as notas musicais: isto 6: a sonoridade da pala5ra de5eria ser capa= de:

    sinestesicamente: reportar a imagens 5isuais e at6 mesmo a sensaesC Jerlaine concebia a

    m,sica em poesia de modo literal: ou seFa: as aliteraes: os ecos: as asson;ncias: etc.: de5eriam

    reprodu=ir a sonoridade de determinado instrumento musical para instituir a melodiaC F )allarm6:

    o 5erdadeiro re5olucionrio: admitia a relao poesiaYm,sica atrelada a uma 9uesto estrutural:tanto por imaginar o poema como uma 5erdadeira sin$onia 9uanto por associar as pala5ras Os

    notas musicais. (mbas as relaes o le5aram a um no5o entendimento do espao em branco no

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    poema: 9ue poderia: ento: ser comparado a uma partitura. ( ousadia do $rancs l#e permitiu uma

    maior liberdade sinttica: 9ue seria determinante para consolidar o carter simblico: sonoro:

    polissmico e #erm6tico do poema simbolista.

    (o reFeitar tudo o 9ue 6 imediato em todos os n75eis dos sentidos: a po6tica domo5imento permitiu ao leitor partil#ar ati5a e responsi5amente do processo criati5o de modo a

    preenc#er os Kespaos em brancoL do poema: penetrando e complementando o te8to. ( no5a

    poesia: obscura e de espessa densidade emocional: pe por terra a imagem antiga do leitor

    passi5o: acostumado com o con5encional. P $undamental assinalar 9ue o #ermetismo po6tico e o

    Kdespre=oL do leitor constituem muito mais do 9ue simples agressoC so: na 5erdade: tentati5as

    de e5itar 9ue a obra seFa trans$ormada em obFeto de consumo. "or isso: o poeta tenta reordenar o

    uni5erso: 5oltando*se para dentro de si e re$ugiando*se nas c#amadas Ktorres de mar$imL: uma

    met$ora 9ue designa o espao -$7sico ou mental distante da realidade e do cotidiano.

    Simbolismo em "ortugal

    P arriscado analisar o mo5imento simbolista portugus en9uanto proposta art7stica sem

    antes considerar a in$luncia dos 5rios $atores 9ue contribu7ram para o $lorescimento desta

    corrente: como as concepes est6ticas anteriores: os acontecimentos pol7ticos: as ideologias:

    esperanas e $rustraes 9ue permea5am o esp7rito do #omem lusitano O 6poca. s estudiosos

    elencam 5ariados $atos 9ue impactaram e contribu7ram para a trans$ormao do pensamento

    portugus: como o ltimato Ingls de 1%0: a crise $inanceira de 1%0*1%1: o regic7dio de .!arlos: a represso O re5olta popular do "orto: a ditadura e a 'e5oluo Industrial: 9ue trou8e

    consigo no apenas a crena na ra=o e no progresso: mas tamb6m o inc#amento das grandes

    cidades: a iluso e a certe=a de 9ue o uni5erso era regido por $oras incontrol5eis e

    descon#ecidas.

    (s crescentes tenses sociais intensi$icaram a negao do modelo progressista burgus

    e instauraram uma pro$unda crise e8istencial no 7ntimo do #omem portugus: 9ue se posicionou

    contra uma realidade catica e $ragmentada. ( desiluso era de tal $orma generali=ada 9ue at6 a

    Terao 'ealista: em $ins de 1%%0: passou a despre=ar a obFeti5idade dos rigorosos estudos

    cient7$icos acerca das corrupes morais e das ma=elas sociais para incorporar temticas

    repudiadas at6 ento: como o esoterismo: o ocultismo: o misticismo: a 5aguidade: o e8tico e a

    espiritualidade. tempo e as concepes #a5iam mudado: e com eles: o gosto. Esse mo5imento

    de distanciamento dos princ7pios norteadores do 'ealismo e -re apro8imao dos pressupostos

    rom;nticos caracteri=a o ad5ento do Simbolismo em "ortugal en9uanto reno5ao literria e

    est6tica.

    Em "ortugal: o introdutor da est6tica simbolista $oi Eugnio de !astro: escritor degrande import;ncia #istrica: mas de pouca rele5;ncia art7stica: de5ido O sua produo 9uase

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    ma9uinal. Encantado pela obra de )allarm6: o poeta portugus regressou da Arana decidido a

    aderir ao mo5imento dos poetas malditos e: ainda carregado do rigor $ormal dos parnasianos:

    lanou 2aristos: em 1%0: cuFo pre$cio re5ela $orte teor pedaggico no sentido de apresentar

    proposies para os $uturos seguidores e estabelecer pro$undas discusses acerca dos aspectos$ormais: como rima: ritmo: 5ocabulrio rebuscado: aliteraes: re$res: ecos: emprego de

    mai,sculas e atmos$era rare$eita. (pesar de apresentar as ino5aes estruturais tipicamente

    simbolistas: o escritor no demonstrou capacidade de criar s7mbolos de resson;ncia: contribuindo

    mais para um orgul#oso culto da Karte pela arteL: ou KesteticismoL: do 9ue para uma radicali=ao

    po6tica. (caba por escre5er um te8to $rgil en9uanto doutrina est6tica: uma 5e= 9ue no

    demonstra preocupao com uma concepo de mundo mais ampla. "ara )ois6s -200G: p. 21:

    Kapesar de alguns momentos de reali=ao simbolista: pela presena do 5ago: do on7rico e da

    musicalidade: o poeta e5olui $rancamente no rumo do neoclassicismo parnasianoL.

    o inter5alo entre o $inal do s6culo

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    (o seu neogarrettismo Funta5a*se a presena das no5idades tra=idas pelo Simbolismo: como as

    5aguidades: as sinestesias: o mist6rio: o oculto: a superstio: as atmos$eras nebulosas e

    ene5oadas: etc.

    Joltado para o passado: na re$erncia de um para7so in$antil: obre carrega5a consigo

    os es9uemas ideolgicos de uma burguesa rural 9ue #a5ia se deslocado para a cidade em busca

    de mel#ores condies. "or6m: como a decadncia alcanou todos os segmentos -econ?mico:

    social e cultural: o poeta no 5islumbra5a 9ual9uer soluo: apenas o t6dio. (o debruar*se sobre

    o seu mundo interior: este poeta reali=a uma penosa a5aliao da prpria 5ida > a 9ual 6 encarada

    como uma 5ia crucis . "or isso: tenta a$astar o desgosto atra56s da ideali=ao de um passado

    m7tico perdido: pro5inciano.

    Seu incon$ormismo e sua incapacidade de adeso Os normas po6ticas o tornam um

    precursor da poesia moderna: 5isto 9ue sua escrita Kgan#a um O*5ontade prprio de 9uem

    obedecia ao pulsar da emoo.L -)ISPS: 1%: p. &01. Seu colo9uialismo 5alori=a o natural e o

    espont;neo do 5erso: no 9ual a sinta8e despoFada e a musicalidade se $undem para tradu=ir as

    memrias. (nt?nio obre 6 uma sensibilidade rom;ntica: e8pressa de $orma: ao mesmo tempo:

    simbolista e moderna.

    !ontudo: a essncia da escola simbolista encontra*se: de $ato: na obra de !amilo

    "essan#a. Aoi por meio da sua produo 9ue o mo5imento se desligou das aderncias realistas e

    de retardatrias $ormas de 'omantismo sentimental. !onsiderado o KJerlaine portugusL:

    sobretudo de5ido ao uso 9ue $a= das estruturas t6cnico*estil7sticas: $ormais: sem;nticas e

    sintticas 9ue con$erem musicalidade aos poemas: buscou a e8presso $luida: recorrendo

    $re9uentemente ao elemento gua para e8pressar a sugesti5idade dos seus 5ersos. Sua po6tica

    re5ela uma pala5ra transparente: redu=ida aos sons e O prpria sensao abstrata: 5aga: di$usa.

    "essan#a: simbolista nato e de um temperamento ultra*sens75el: se sente inadaptado O

    e8istncia: 9ue somente l#e causa desengano e dor. "or isso: deseFa $ugir: aplacar a dor 9ue a

    pouco e pouco se transmuta em or.

    Simbolismo portugus mani$estou*se essencialmente em poesia: mas tamb6m em

    prosa e em teatroC toda5ia: con$orme )ois6s -200G: p. 22G: estas ,ltimas e8presses de5em ser

    encaradas como possibilidades da primeira@

    -H se aceitarmos um conceito de poesia 9ue atente para a essncia e no para a$orma do poema: $icar claro 9ue pouca di$erena $a= 9ue seFa em 5erso ou emprosa o meio e8pressi5o escol#ido pelo poeta para a comunicao de seu mundoemocional. "ortanto: o poema em prosa 6 ainda poesia: e poesia simbolista.

    1.1.2 P comum a$irmar 9ue o Simbolismo est na origem de toda a literatura da modernidade.!omente essa a$irmao citando autores de 9ual9uer literatura ou nacionalidade e mo5imentos

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    literrios do s6culo

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    poeta: em uma recusa Os normas preestabelecidas da 5ida social: e: conse9uentemente: a uma

    distino com relao ao KoutroL. ( partir do Simbolismo o #omem empen#ou*se em um

    autocon#ecimento libertador. P neste sentido 9ue os poetas ligados ao mo5imento $orneceram

    condies para o apro$undamento de uma e8presso literria 9ue se a$irmou nas 5riase8perimentaes est6ticas reali=adas ao longo do s6culo

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    lentosL: Koites mornas de (morL e Knome aos 9uatro 5entosLC de outro lado: a KSombraL: a penosa

    realidade 9ue a 5ida l#e proporciona: 6 representada por Ka $alta de uroL: Kda mul#er os $alsos

    FuramentosL e KoceFos sonolentosL. s termos re$erentes O utopia mesclam os uni5ersos

    espiritual e $7sico: o 9ue poderia ser um indicati5o de tentar abranger a dualidade #umana.os tercetos2: o poeta constata a impossibilidade da reali=ao dos son#os do primeiro

    9uarteto no plano concreto: mas a$irma 9ue a alma est $adada ao de5aneio: isto 6: a

    intangibilidade das coisas no consiste em uma Fusti$icati5a para o abandono das 5ontades.

    !om a $inalidade de absoluti=ar a pala5ra e ampliar sua signi$icao: sua carga

    emocional: o poeta utili=a*se de letras mai,sculas em substanti5os comuns: como se obser5a em

    KuroL: K4u8oL: K(morL: KSombraL: K(=arL. Este recurso acaba por personi$icar os obFetos:

    estabelecendo uma conotao transcendente. ( pala5ra (4)(: gra$ada por inteiro com letras

    mai,sculas: tem sua e8pressi5idade dilatada: e8pandida.

    Em relao O musicalidade: tanto as rimas nos $inais dos 5ersos 9uanto as aliteraes

    -Kson#amos sempre um son#oL constroem a cadncia r7tmica.

    este soneto de Eugnio de !astro percebem*se algumas tendncias $ormais t7picas do

    Simbolismo: no entanto: outras caracter7sticas: como o #ermetismo: a polissemia e a sinestesia:

    esto ausentes.

    .2.2 !amilo "essan#a

    "ara os simbolistas: como o mundo e8iste s como representao: a misso do poeta 6

    deci$rar o mist6rio do uni5erso e tradu=i*lo para os #omens comuns atra56s dos s7mbolos. ma

    5e= 9ue a sua alma consiste em um espel#o em 9ue se re$lete a aparncia super$icial das coisas:

    s l#e resta a sugerir seus estados de alma de modo ene5oado de modo a permitir leituras

    5ariadas por parte do leitor. esse modo: a musicalidade: com seu poder e5ocati5o: corresponde

    O proFeo das correspondncias uni5ersais e ao instrumento de sondagem do oculto: ser5indo de

    relao entre o suFeito e o obFeto: entre a mat6ria e a ideia: entre a realidade e o son#o.

    !amilo "essan#a estrutura os poemas(o longe os barcos de $lorese Jiola !#inesano

    es9uema m6trico do rondel: caracteri=ado por uma estrutura circular em 9ue os dois primeiros

    5ersos da primeira 9uadra se repetem no $inal da segunda: e o primeiro 5erso da 9uadra inicial

    repete no $ec#o da 9uintil#a. Estas repeties acabam por recriar o som de instrumentos

    musicais@ uma $lauta e uma 5iola: respecti5amente. s aspectos sonoros e5ocam imagens e se

    so ressaltados por meio de 5rios recursos: como ritmo de 5ersos: sucesso medida de s7labas

    rimas e aliteraes YsY -KsL: KincessanteL: KsomL e Y$lY -K$lautaL: K$l6bilL: Kdes$loraL: em(o longe os

    2 Son#amos sempre um son#o 5ago e d,bio\ Y !om o. (=ar 5i5emos em con,bio: Y E apesar disso: a(4)( continua Y ( son#ar a Jentura\ > Son#o 5o\ Y /al um menino: com a rsea mo: Y Quer agarrar ale5antina 4(\

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    1&

    barcos de $lorese YlY -KlongoL: K5iolaL: KparlendaL: KlengalengaL: no Jiola !#inesa. e acordo com

    'odrigues -10 apud AE''EI'(: 2011: p.

    ( poesia de !amilo "essan#a: alis: pela insistncia nas aliteraes: nasan$oras: nas rimas interiores: e 6 F de si eminentemente musical: de umimpressionismo $ormal 9ue se estende Os sinestesias: Os interrogaes perdidas:Os reticncias: Os $rases intercalares: massa 5erbal di$usa: l79uida: cambiante: desugestes on7ricas: onde a cor $inal resulta de Fustaposies inslitas: onde osecos graciosos e os pungentes se combinam com mgica: 5elada nostalgia: numprocesso de disperso do ser a 9ue ao abandono da 5ontade correspondetamb6m o da estrita ordem gramatical.

    utra caracter7stica digna de desta9ue nas duas produes 6 a presena da sinestesia:

    capa= de e8pressar imagens e sensaes atra56s das combinaes dos sentidos: como o som da

    $lauta 9ue Kc#oraL e a parlenda 9ue KadormeceL en9uanto a 5iola 6 tocada: re$erindo*se a uma

    animao antropomr$ica dos obFetos.o 9ue di= respeito ao primeiro poema: segundo !abrini M,nior -200: p. %: os Kbarcos

    de $loresL eram bord6is 9ue e8istiram no sul da !#ina desde o s6culo J a !.: at6 1+. (inda de

    acordo com o autor:

    aspecto e8terior das embarcaes: para al6m da lanterna de papel colorido: 9ueas anuncia5a O dist;ncia: marca5a*se pela ornamentao e8uberante: carregadade $lores multicoloridas > pe?nias: dlias e cris;ntemos: s7mbolos de amor:$ertilidade e $elicidade >: entrelaadas em $risos: en5ol5endo toda a na5e: eemoldurando*l#e as Fanelas. Aamosas por sua educao e cultura: as mul#eresdos barcos $loridos o$ereciam: aos poetas: o 5in#o: o pio: e inspirao para suas

    obras.

    te8to acaba por desen5ol5er um contraponto entre os barcos: um espao $7sico

    ruidoso: $esti5o: repleto de pra=er: e a indi5idualidade do 5oNeur: 9ue se encontra distante da

    orgia: na escurido tran9uila. a9uela paisagem resplandecente: cintilante: apenas o som c#oroso

    e ininterrupto da $lauta persiste em atra5essar a noite: 9ue a tudo absor5e: e c#egar aos ou5idos

    do eu l7rico3. 4ogo: 6 percept75el uma esp6cie de identi$icao entre o poeta e a $lauta@ ao passo

    9ue o som do instrumento Kse perdeL 9uando 6 tocado entre os 9ue se di5ertem: o eu l7rico

    mani$esta um sentimento de inade9uao perante a cena: e: portanto: se KperdeL em si mesmo.

    esse modo: seu contato e sua relao com o mundo ocorre atra56s do e87lio: do isolamento: da

    $uga: e no do pertencimento: em uma declarada negao do uni5erso tang75el.

    Jiola !#inesase ser5e da onomatopeia do som da 5iola: caracteri=ada pelos sons

    nasalados: para sugerir 9ue 6 imposs75el $icar al#eio ao apelo inebriante da m,sica: 5isto 9ue ela

    6 capa= de Kadormecer a parlendaL&C de sensibili=ar o suFeito po6tico: 9ue se encontra5a aptico e

    3 S: incessante: um som de $lauta c#ora: Y Ji,5a: grcil: na escurido tran9uila: Y * "erdida 5o= 9ue deentre as mais se e8ila: Y * Aestes de som dissimulando a #ora. Y a orgia: ao longe: 9ue em clarescintila Y E os lbios: branca: do carmim des$lora... Y S: incessante: um som de $lauta c#ora: Y Ji,5a:

    grcil: na escurido tran9uila. Y E a or9uestra] E os beiFos] /udo a noite: $ora: Y !auta: det6m. Smodulada trila Y ( $lauta $l6bil... Quem #*de remi*la] Y Quem sabe a dor 9ue sem ra=o deplora] Y S:incessante: um som de $lauta c#ora...

    & (o longo da 5iola morosa Y Jai adormecendo a parlenda Y Sem 9ue amadornado eu atenda Y (

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    1+

    indi$erente ao som do instrumentoC e: por $im: de despertar*l#e um estado de alma ignorado at6

    ento: tendo em 5ista 9ue descon#ece o moti5o pelo 9ual seu corao se o$ende com o som

    moroso da 5iola e sente uma Kagitao dolorosaL ao ou5i*lo +.

    /atuagens complicadas do meu peitoGapresenta uma s6rie de s7mbolos #erldicos 9ueesto KtatuadosL no corpo do eu l7rico@ tro$6us: emblemas: lees alados: coraes: guias: lis e

    amor*per$eito. Em relao O tatuagem: Santos -200 a$irma 9ue era utili=ada na antiga !#ina em

    rituais de iniciao e 9ue esta5a impregnada de um potencial mgico e m7stico: uma 5e= 9ue

    Ktende a dar ao suFeito as 5irtudes e as $oras do ser*obFeto ao 9ual se assimilaC mas tende

    tamb6m a imuni=ar o primeiro contra as possibilidades mal6$icas do segundo.L -!BEJ(4IE' X

    TBEE''(/: 13 apud S(/S: 200: p. 1

    essa maneira: como membro de uma lin#agem nobre: o eu l7rico #erda no apenas o

    nome: as armas e os 5alores: como liderana: $ora: 5alentia: amor: mas tamb6m as des5enturas

    #eroicas da sua $am7lia@ Kum ai: * 9ue insiste noite e dia Y 4embrando ru7nas: sepulturas rasas...L.

    Essa comunicao entre o eu l7rico e o seu grupo con$ere um carter uni5ersalista: 9ue integra o

    cosmo: o grupo e o KeuL.

    Estruturalmente: o poema remonta ao blason: gnero po6tico em 5oga no s6culo representadopela met$ora das Kimagens 9ue passam diante das retinasL e da Kgua cristalina 9ue passa por

    lengalenga $astidiosa.+ Sem 9ue o meu corao se prenda: Y En9uanto: nasal: minuciosa: Y (o longo da 5iola morosa: Y Jai

    adormecendo a parlenda. Y )as 9ue cicatri= melindrosa Y B nele: 9ue essa 5iola o$enda Y E $a= 9ue asasitas distenda Y uma agitao dolorosa]

    G /atuagens complicadas do meu peito@ Y /ro$6us: emblemas: dois lees alados... Y )ais: entre coraesengrinaldados: Y m enorme: soberbo: amor*per$eito... Y E o meu braso... /em de oiro: num 9uartel YJermel#o: um lisC tem no outro uma don=ela: Y Em campo a=ul: de prata o corpo: a9uela Y Que 6 no meubrao como 9ue um bro9uel. Y /imbre@ rompante: a megalomania... Y i5isa@ um ai: * 9ue insiste noite e

    dia Y 4embrando ru7nas: sepulturas rasas... Y Entre castelos serpes batal#antes: Y E guias de negro:des$raldando as asas: Y Que reala de oiro um colar de besantes\ Y /imbre@ rompante: a megalomania... Yi5isa@ um ai:[9ue insiste noite e dia Y 4embrando ru7nas: sepulturas rasas... Y Entre castelos serpesbatal#antes: Y E aguias de negro: des$raldando as asas: Y Que reala de oiro um colar de besantes\

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    1G

    uma $onteL>: cabendo*l#e apenas contemplar essa passagem irre5ers75el: o 9ue torna a sua

    e8istncia um grande so$rimento. s $ragmentos da realidade e do tempo so percebidos como

    imagens desarticuladas e $luidas: 9ue se sucedem sem paragem: num mo5imento incessante

    dominado pelas leis da analogia e no da lgica. e acordo com Spaggiari -1%2: p. &+: o tempo:na obra de "essan#a:

    d 5ida ao s7mbolo recorrente da gua 9ue escorre ine8or5el e sem paragens@nos rios: nos mares: e: naturalmente: na clepsidra. Querer7amos parar o tempo:$icar como 9ue suspensos para recuperar o passado: a memria de si@ mas opresente no e8iste: 6 F passado ou F $uturo: amargo concentrado de nostalgiase temores: de saudades e iluses. (s imagens sobrepem*se: os sonscon$undem*se: os planos da percepo interseccionam*se num tecido analgicocuFa trama pode ser des5endada em 9ual9uer momento por um lampeFo de ironial,cida.

    ( in6rcia do KeuL e a impossibilidade de apreenso do real trans$ormam o ato de 5er ede estar no mundo em uma completa inutilidade@ KSem 5s o 9ue so meus ol#os abertos] Y *

    espel#o in,til: meus ol#os pagos\L: con$orme assinala Aranc#etti -2001: p. G%@

    -H 6 poss75el: no decorrer do poema: 9ue o suFeito lamente como 7ndice de5acuidade a pura capacidade re$le8i5a dos ol#os 9ue F no produ=em ati5amenteas imagens. espro5idos do poder de interagir: de aFuntar O sensao algoprprio: passam a ser espel#os in,teis. M no re$letem: no acrescentam nada Osimagens: no geram a 5ida an7mica a partir dos est7mulos e8teriores: e por isso setornam agora eles mesmos: como todo o mundo circundante: 9ue F nada recebedeles: ridos desertos.

    ,nico modo 5i5el de lidar com este $ato 6 atra56s da transcendncia: da integrao com o

    cosmo e consigo mesmo. "or isso o suFeito deseFa ser le5ado para onde KdesguaL essa $onte %:

    pois esse t6rmino representa tamb6m o $im do so$rimento e da 5ida. ( met$ora do ani9uilamento

    reside na caracteri=ao do mo5imento das mos: 9ue dei8am de ser percebidas como uma

    realidade concreta: e: conse9uentemente: na transmutao do KeuL em uma Kestran#a sombra em

    mo5imentos 5osL.

    Estruturalmente: o poeta organi=a o te8to no es9uema de rimas (( (( !! !.

    (l6m disso: $a= uso de recursos como reticncias: tra5esso e enFambements para romper a

    linearidade do tempo cont7nuo: discursi5o: pro5ocando 9uebras nos 5ersos e: conse9uentemente:

    a suspenso temporal. ( apresentao das imagens soltas $ornece ao leitor a possibilidade de

    complementar: pela intuio: o sentido das imagens. "or $im: a desarticulao sinttica dos dois

    5ersos da primeira e da segunda 9uadra $ormam: na 5erdade: um 5erso de cator=e s7labas

    po6ticas e um 5erso de seis: e dotam o soneto de uma comple8idade estrutural comum ao

    "arnasianismo.

    Em Jioloncelo: !amilo "essan#a se utili=a de 5ariados recursos para en5ol5er o poema

    Imagens 9ue passais pela retina Y os meus ol#os: por9ue no 5os $i8ais] Y Que passais como a guacristalina Y "or uma $onte para nunca mais\...

    % u para o lago escuro onde termina Y Josso curso: silente de Funcais: Y E o 5ago medo angustiosodomina: Y *"or9ue ides sem mim: no me le5ais]

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    1

    em uma aura musical: como as aliteraes YsY: Y5Y: Y=Y: Yc#Y: 9ue sugerem a 5ibrao das cordas do

    5ioloncelo: as rimas per$eitas -KsoluamL: KouamL: KdebruamL: os ecos -KarcosL: KbarcosL e as

    rimas gra5es -KarcadasL: KaladasL Y KlacustresL: Kbala,stresL. (l6m disso: o ritmo $ragmentado se

    d por meio do metro curto: em estro$es de cinco 5ersos com es9uema de rimas (((.s dois primeiros 5ersose5ocam: por meio do instrumento: a ang,stia e8istencial do

    suFeito atra56s das imagens criadas pelo som gra5e do 5ioloncelo. os 5ersos seguintes 10: a

    5ibrao cont7nua dos arcos trans$orma o obFeto nas arcadas de uma ponte suspensa: alada:

    incapa= de conectar dois lugares. (ssim: o eu l7rico 6 transportado para outro estado de

    conscincia: e passa a ocupar um no*lugar. ( respeito dessa transio: Spaggiari -1%2: p. 10G

    a$irma 9ue a Kdimenso l79uida do uni5erso de "essan#a -H conFuga se com uma 5iso da

    realidade 9ue no 6 menos $lutuante: $ugidia e inde$in75el: por9ue em perp6tuo mo5imento.L

    (inda em relao aos con$litos do suFeito po6tico: 6 poss75el a$irmar 9ue as imagens

    relati5as O ideia de altura -Kpontes aladasL: Kes5oaamL seguidas de noes de super$7cie >

    9uando no de pro$undidade > -Kcaudais de c#oroL: Kru7nasL: Ksor5edouroL re$letem uma certa

    perturbao do inconsciente do eu l7rico: liberto das normas lgicas da conscincia.

    "or bai8o da ponte passa um rio cuFas guas so to 5olumosas e pro$undas 9ue se

    trans$ormam em um redemoin#o capa= de destruir os barcos: arruinando no s os mastros e os

    lemes11: mas tamb6m a alma do poeta: 9ue $ica imerso na solido.

    o soneto Aloriram por engano as rosas bra5as: o eu l7rico e8plicita a sua 5iso acerca

    da condio #umana: marcada pela e$emeridade: e do amor: precrio e ilusrio: atra56s de uma

    se9uncia de imagens soltas: encadeadas apenas por meio das analogias entre o mundo $7sico e

    o 7ntimo do poeta.

    (s rosas bra5as $loriram no in5erno: na estao errada: 9uase 9ue por desli=e: e: por

    isso: no resistiram ao 5ento12.Esta $ragilidade da realidade e8terior ao poeta corresponde ao

    interior do prprio: $rustrado com o amor d,bio e $rgil da $igura $eminina: posto 9ue ela o iludiu

    di5ersas 5e=es13

    . (s pala5ras da amada: sedutoras: podem ser comparadas aos castelos: repletosde $antasias e $alsas promessas. 5erso 9ue inicia o segundo 9uarteto re$ora a imagem de

    destruio F mencionada pela $igura das rosas despetaladas.

    aspecto 9uebradio do uni5erso do eu l7rico permanece e5idente no restante da

    segunda estro$e: uma 5e= 9ue: apesar de estar unido $isicamente: por meio das mos: a amada:

    !#orai arcadas Y o 5ioloncelo10 !on5ulsionadas Y "ontes aladas Y e pesadelos Y e 9ue es5oaam: Y rancos: os arcos11 "or bai8o passam: Y Se despedaam: Y o rio: os barcos. Y Aundas: soluam Y !audais de c#oro... Y Que

    ru7nas: -ouam\ Y Se se debruam: Y Que sor5edouro\... Y /rmulos astros: Y Soides lacustres... Y 4emes

    e mastros... Y E os alabastros12 Aloriram por engano as rosas bra5as Y o In5erno@ 5eio o 5ento des$ol#*las...13 Em 9ue cismas: meu bem] "or 9ue me calas Y (s 5o=es com 9ue # pouco me engana5as] Y !astelos

    doidos\ /o cedo ca7stes\

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    cada c?nFuge encontra*se espiritualmente desconectado do outro: com os pensamentos al#eios e

    os ol#ares desencontrados: 9ue se esbarram apenas por um momento. essa $orma: considera*

    se 9ue a unio do casal no 6 slida: construiu*se por engano: tal 9ual o $lorescer das rosas

    bra5as. Isto 6: a 5ida des$a= tudo a9uilo 9ue 6 $rgil: os son#os: as iluses: con$orme 4emos -1+Gapud S(/S: 200: p. +2@ Kas rosas bra5as $lorescidas no in5erno e des$ol#adas pelo 5ento so

    a transposio po6tica dos son#os des$eitos: da alegria e$mera: imposs75el: logo es5a7da >

    alegria 9ue bril#ou apenas Zpor enganoZ para 9uem nunca pode t*laL.

    os tercetos1&: pre5alece a ideia da KnupcialL ne5e a cair de maneira a se assemel#ar a

    um 56u em torno da amada. Essa imagem permite ao leitor conceber o ritual do casamento: mas

    ciente de 9ue 6 baseado na iluso: con$orme a primeira parte do poema. branco sugerido de

    5ariadas $ormas -KnupcialL: Kne5eL: Kacrpole de gelosL: K56uL pode simboli=ar uma saudade do

    9ue no e8istiu: do casamento $racassado: do amor no correspondido: do imaginrio a dois com

    9ue o prprio poeta engana -ou no a sua solido. Em con$ormidade com Spaggiari -1%2: p. &&@

    /amb6m o son#o se torna cruel: 9uando a racionalidade do adulto destruiu todasas iluses: pondo a nu a incomensuralidade entre o deseFo e o obFecto real."essan#a 5i5e suspenso entre a memria dolorosa do passado e o temor in9uietodo $uturo: pois a ra=o nega*l#e a e5aso pelo son#o: e a $alta de $6 retira*l#e9ual9uer suporte meta$7sico.

    "or $im: destaca*se a musicalidade do poema graas Os aliteraes das sibilantes e da

    $ricati5a Y5Y: Os rimas e Os asson;ncias: re5eladoras de uma sonoridade rica: sugesti5a.

    .3 !onsideraes $inais

    e acordo com )assaud )ois6s: os ,ltimos momentos do 'ealismo em "ortugal so

    caracteri=ados por uma metamor$ose das caracter7sticas $ormais e temticas da produo literria:

    5isto 9ue # um claro distanciamento dos princ7pios norteadores do primeiro momento da escola

    realista e uma -re apro8imao com os ideais de nature=a transcendental: condi=entes com a

    perspecti5a rom;ntica e simbolista: como por e8emplo um ol#ar mais m7stico e espirituali=ado

    sobre o mundo. Sobre esta atmos$era de KtransioL: o autor -200G: p. 20 a$irma@

    -H as ,ltimas caracteri=aes do 'ealismo: a partir de 1%0: coincidem: inclusi5enalguns aspectos intr7nsecos de 5iso da 4iteratura: com os postulados dagerao 9ue inaugura5a o mo5imento simbolista. ( di$iculdade em 5er nitidamenteas lin#as mestras do $im do s6culo passado reside: sobretudo: na simbiose: meio$ortuita e meio O re5elia: 9ue e8istiu entre realistas e simbolistas.

    ( concepo do da no5a po6tica: ao propor a superao dos conceitos e $ormatos passadistas:

    estabeleceu uma no5a sensibilidade est6tica e alin#ou os princ7pios da produo art7stica aos

    ideais de liberdade: e8perimentao e e8erc7cio da criati5idade. ( m7mese realista $oi substitu7da

    1& E sobre ns cai nupcial a ne5e Y Surda: em triun$o: p6talas: de le5e Y Muncando o c#o: na acrpole degelos... Y Em redor do teu 5ulto 6 como um 56u\ Y Quem as espar=e > 9uanta $lor\ > do c6u: Y Sobre nsdois: sobre os nossos cabelos]

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    por um uni5erso ilimitado de representaes: desencadeando um tipo de poesia em 9ue o

    sens75el 6 mais importante do 9ue o entendimento.

    o obstante o mo5imento ten#a con5i5ido com outras e8presses literrias e ten#a

    sido de curta durao: representou um es$oro de recuperar a essncia da poesia na medida em9ue proporcionou ao #omem 5oltar*se para dentro de si em busca da satis$ao da alma: do

    pra=er do e8tico: do mundo espiritual: da e8istncia. Em conse9uncia desse subFeti5ismo

    abarcado pela busca da essncia: 6 not5el a 5alori=ao do esoterismo: do inconsciente: a busca

    do 5ago: do di$ano: do son#o e da loucura.

    !onsiderando*se 9ue o mo5imento emerge: sobretudo: a partir da crise da linguagem

    literal: os escritores simbolistas mani$estaram seu so$rimento: ainda 9ue inerente O condio

    #umana: de $orma contida e: $re9uentemente: codi$icada. essa $orma: cabia ao leitor partil#ar o

    papel de autor com o poeta: penetrando a densidade da pala5ra e descortinando a n65oa

    e8istente por trs do s7mbolo. Este era considerado o recurso mais ade9uado para e8primir a

    e5ocao: as aspiraes e os estados do esp7rito do poeta: 5isto 9ue atra56s dele 6 poss75el uma

    sugesto da realidade em 5e= de sua retratao $iel e obFeti5a.

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    2.0 ( poesia de )rio de S*!arneiro

    2. Questo terica

    2.1.1 /omando como ponto de partida e de apoio a leitura de alguns poemas de )rio de S*!arneiro: produ=a um te8to sobre a sua poesia destacando caracter7sticas est6ticas e traostemticos 9ue possam de$inir a 5iso de mundo do poeta: sua maneira de estar na Jida e na (rte.

    )rio de S*!arneiro nasceu em 4isboa em 1%0: ano marcado pelo ltimatum Ings:

    9ue e8igia a retirada de "ortugal de certas regies da _$rica. r$o de me aos dois anos:

    recebeu os cuidados de toda a sua $am7lia: principalmente dos seus a5s: respons5eis por sua

    educao. (inda Fo5em: presenciou o suic7dio do amigo /oms !abreira M,nior: com 9uem

    escre5era a pea (mi=ade e a 9uem dedicou o poema ( um suicida. e maneira geral: sua

    perspecti5a pessimista $oi alimentada por uma 5ida atormentada pela solido e pela perda de

    entes 9ueridos.

    e $ato: os acontecimentos trgicos da sua 5ida podem ser retomados em muitas de

    suas obras: se no em todas: e se adaptaram aos preceitos simbolistas de busca pela ra=o da

    e8istncia #umana. !om $re9uncia: 6 poss75el recon#ecer determinadas caracter7sticas > como o

    pessimismo e a tenso entre o #omem e o mundo moderno > em suas cartas pessoais e

    produes literrias. P: pois: bem pro55el 9ue a biogra$ia do autor ten#a contribu7do para o

    adensamento e a pro$undidade de sua literatura de maneira a in$luenci*lo a perder*se dentro de

    si mesmo: tornando o suic7dio ine5it5el em 11G. e acordo com )ois6s -1%: p. &G+: na

    poesia de S*!arneiro: Ko racionalismo no tem maior presena: e dei8a o campo li5re para a

    emoo reinar discricionariamente. Mogado por suas emoes: destitu7do de alicerces $ilos$icos

    ou de ordem semel#ante: 6 natural 9ue res5alasse para os pro$undos abismos do ZeuZ.L Em 5ista

    dessa ang,stia e8istencial: o escritor despediu*se da 5ida de maneira dramtica: 5estindo traFes

    $ormais e ingerindo $rascos de estricnina na $rente de um amigo. Sua morte pode ter sido

    planeFada: esperada e at6 um al75io para o peso 9ue seu corpo: KEs$inge TordaL: impun#a O sua

    alma $ragmentada: mas constituiu uma grande perda para a produo literria moderna de

    "ortugal.

    ( sensao de ser al#eio O 5ida e de esta l#e ser totalmente estran#a acaba por

    desencadear um processo de reFeio do mundo: uma pro$unda melancolia: e:

    conse9uentemente: um posicionamento egocntrico perante a realidade. Essa tenso entre

    #omem e uni5erso apresenta o mundo como um lugar 9ue gera insatis$ao: onde o poeta: em

    constante decl7nio: se sente e8ilado: como um estran#o 9ue 5em ou 5ai para outro espao. Em

    carta en5iada a Aernando "essoa: S*!arneiro a$irma@

    E eu cada 5e= mais me con5eno de 9ue no saberei resistir ao temporal des$eito

    > O 5ida: em suma: onde nunca terei lugar. -H o creio em mim: nem no meucurso: nem no meu $uturo. E so$ro ainda tamb6m: meu 9uerido amigo: por coisasestran#as e re9uintadas > pelas coisas 9ue no $oram. -AI4B: 2002: p. 1+0

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    Quando a estran#e=a atinge um n75el mais a5anado: S*!arneiro se 5olta

    angustiadamente para si mesmo em busca de um con$orto interior para compensar a ausncia de

    um ambiente e8terno apropriado O sua e8istncia: e e8pressa te8tualmente essa busca para tentar

    e8purgar suas desiluses. "or isso e5oca o son#o como estrat6gia para alcanar o inating75el:mas a cruel realidade l#e o$erece apenas a dor e o sentimento de $racasso como resultado.

    esencadeia*se: ento: um processo c7clico: no de repetio: mas de buscar codi$icar: sempre

    de uma outra maneira: os anseios 9ue perpassam o suFeito po6tico.

    Essa autoanlise le5a a uma irremedi5el desintegrao da sua personalidade: 5isto

    9ue o progressi5o des5endamento 7ntimo re5ela os desertos em 9ue se erra seu desespero@

    K)rio de S*!arneiro -...: dispersou*se no labirinto do prprio ZeuZ e acabou por desintegrar*se e

    desintegr*lo. (ssim: o 9ue se obser5a como nota inde$ect75el 6 um doentio solipsismo: condu=ido

    ao e8tremo da neurtica $ragmentao do egoL -)ISPS: 1%: p. &G+. "or6m: 6 importante

    $risar 9ue esse processo no consiste em um Kde5aneio desgo5ernado: mas em uma disperso

    consciente@ despersonali=a* se conscientemente: mesmo 9ue buscando a ausnciaL. -(_:

    2010: p. 3G: ou seFa: o poeta no se $ec#a em si mesmo em uma escrita puramente con$essional:

    na 5erdade: ele re$ina e intelectuali=a sua produo art7stica.

    (ssim: o escritor insere arti$iciosamente o leitor em uma 5iso solipsista de mundo:

    atra56s de um eu*l7rico $adado Os perdas: Os ru7nas: O inade9uao do 9ue sente em relao ao

    9ue deseFaria sentir e O crise de personalidade: trao caracter7stico de sua po6tica. !omoe8emplo: 6 poss75el citar o poema isperso: cuFas duas primeiras 9uadras1+ e5idenciam um

    uni5erso interior destru7do: despedaado. ( autode$inio imag6tica de ser labirintoanuncia uma

    comple8idade taman#a na 9ual o KeuL mergul#a para dentro de si: tentando Kancorar*seL em si:

    procurando o sentido de sua e8istncia: sem nada encontrar.

    suFeito sente saudades de si: ou seFa: sente uma nostalgia em relao a um passado

    pro5a5elmente marcado pela plenitude em algum momento > a in$;ncia: tal5e=] > rea$irmada

    pelas pala5ras son#ar: ;nsia e ultrapassar. ( ideia de ausncia de si retorna ao longo da 9uarta

    9uadra1G: na 9ual o Kmoo das ;nsiasL: o prprio eu*l7rico: ressalta a autocomiserao por ele

    mesmo atra56s do pronome KtuL num tom de con$isso introspecti5a ou como se mirasse sua

    imagem re$letida num espel#o: de modo a procurar um KoutroL no seu prprio interior. Essa

    estrat6gia para se de$inir pode ser 5ista como um distanciamento do eu em relao a si mesmo:

    re$orando a ideia da disperso 9uando: em busca da transcendncia: se abismou nas prprias

    ;nsias. e acordo com andon -200%: p. 23:

    o poeta encobre: com mscaras: suas personagens e eus*l7ricos: con5ertidos em

    1+ "erdi*me dentro de mim Y "or9ue eu era labirinto Y E #oFe: 9uando me sinto Y P com saudades de mim Y"assei pela min#a 5ida Y m astro doido a son#ar Y a ;nsia de ultrapassar: Y em dei pela min#a 5ida...

    1G pobre moo das ;nsias... Y /u: sim: tu eras algu6m\ Y E $oi por isso tamb6m Y Que te abismaste nas;nsias.

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    2&

    utros. Aa= isso a partir de uma proFeo de sentimentos no 5i5enciados: mas$ingidos ou supostamente sentidos pelo eu*l7rico. (7 se encontra a mscara do$ingimento -...: pro5ocando inde$inidamente relaes estabelecidas entre o eu*l7rico e seu outro*eu mascarado -H. poeta: $ingidor por e8celncia: $inge [ cria[ e $inge*se ao VreWcriar*se VemW outroVsW.

    (ssim: o indi57duo sempre est desnorteado e: por isso: permanentemente insatis$eito com o 9ue

    alcana: con$orme a imagem da a5e dourada 9ue $ec#a suas asas 9uando c#ega os c6us1: numa

    clara aluso O insatis$ao sc#open#auriana: de acordo com a 9ual sempre #a5er o sentimento

    de irreali=ao e de descontentamento diante do 9ue se deseFa: pois: uma 5e= atingido: o ideal

    no mais o 6. "ortanto: diante da $alncia dos deseFos > representada na traio de si mesmo 1%e

    na saudade da suposta compan#eira 9ue se9uer 5iu: mas ainda assim recorda1 >: resta ao

    suFeito po6tico a autopiedade20: a $rustrao: a saudade do son#o no son#ado21:o c#oro: em

    5ida: pela morte da prpria alma.

    ( ang,stia e8istencial: acompan#ada da sensao de no*pertencimento ao mundo

    $7sico: se intensi$ica nas ,ltimas 9uadras22: 9uando o eu*l7rico identi$ica a c#egada do crep,sculo

    na sua alma: isto 6: o s7mbolo do decl7nio: da decadncia: Funto O inconscincia e dormncia do

    lcool: o 9ue resulta na perda: ao mesmo tempo: da morte e da 5ida. ( estro$e termina com a

    conscincia da $ugacidade do tempo contrapondo*se O prostrao do poeta.

    e maneira similar: a poesia Quaseretoma a noo de incompletude ao declarar 9ue a

    dor maior no 6 a do indi57duo comum: 9ue se9uer son#a com a ele5ao: mas a da9uele 9ue:

    iniciando um mo5imento de ascenso: no alcana a sua meta e: por isso: passa a desacreditar

    na 5ida. ( $rustrao e a sensao do K9uaseL podem ser 5istas logo nos trs primeiros 5ersos23:

    nos 9uais se 5eri$ica um #iato entre o deseFo e o 9ue de $ato o eu*l7rico reali=a. "or $altar*l#e um

    ,ltimo Kbater de asasL: no alcanou os obFeti5os pretendidos: Ko grande son#o 9uase 5i5idoL.

    9ue l#e restou $oi apenas a regio intermediria entre a aspirao e a concretude > o K9uaseL.

    Sobre isso: S*!arneiro a$irma@

    )uitas 5e=es sinto 9ue para atingir uma coisa 9ue anseio -isto em todos oscampos $alta*me s um pe9ueno es$oro. Entanto no o $ao. E sinto bem a

    1 ( grande a5e doirada Y ateu asas para os c6us: Y )as $ec#ou*se saciada Y (o 5er 9ue gan#a5a os c6us.1% !omo se c#ora um amante: Y (ssim me c#oro a mim mesmo@ Y Eu $ui amante inconstante Y Que se traiu

    a si mesmo. Y o sinto o espao 9ue encerro Y em as lin#as 9ue proFeto@ Y Se me ol#o a um espel#o:erro > Y o me ac#o no 9ue proFeto.

    1 Saudosamente recordo Y ma gentil compan#eira Y Que na min#a 5ida inteira Y Eu nunca 5i... masrecordo Y ( sua boca doirada Y E o seu corpo esmaecido: Y Em um #lito perdido Y Que 5em na tardedoirada.

    20 Eu ten#o pena de mim: Y "obre menino ideal... Y Que me $altou a$inal] Y m elo] m rastro]... (i de mim\21 -(s min#as grandes saudades Y So do 9ue nunca enlacei. Y (i: como eu ten#o saudades Y os son#os

    9ue no son#ei\...22 esceu*me nZalma o crep,sculo Y Eu $ui algu6m 9ue passou. Y Serei: mas F no me sou Y o 5i5o:

    durmo o crep,sculo Y _lcool dum sono outonal Y )e penetrou 5agamente Y ( di$undir*me dormente Y Em

    uma bruma outonal. Y "erdi a morte e a 5ida: Y E: louco: no enlou9ueo... Y ( #ora $oge 5i5ida: Y Eu sigo*a: mas permaneo...

    23 m pouco mais de sol * eu era brasa: Y m pouco mais de a=ul * eu era al6m. Y "ara atingir: $altou*me umgolpe de asa... Y Se ao menos eu permanecesse a9u6m...

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    agonia de me ser*9uase. )ais 5alia no ser nada. P a perda: 5endo*se a 5itriaC amorte: prestes a encontrar a 5ida: F ao longe a5istando*a. -S_*!('EI':1+apud ()'(: 200: p. G+

    ( repetncia do ad56rbio na terceira estro$e2& mani$esta de maneira intensa o

    sentimento de ang,stia e $rustrao 5i5enciado pelo poeta@ 9uase 5i5eu o amor: o triun$o: a

    c#ama. ( grande melancolia pro5eniente de tudo o 9ue poderia ter sido mas no $oi se acentua na

    $ragilidade de todos os proFetos ideali=ados. uso do 5erbo $al#ei com o pronome meempresta

    ao 5erbo um 5alor re$le8i5o2+: o 9ue engrandece ainda mais a $alncia do eu*l7rico > tanto em

    relao aos outros 9uanto a si mesmo.

    ( imagem do imposs75el ressurge na se8ta estro$e2G: tradu=ida no desnorteamento do

    KeuL: 9ue 5agueia em si mesmo: em busca de alguma essncia 9ue d sentido O sua e8istncia:

    por6m: encontra apenas 5est7gios. Em sua incessante busca pela plenitude: pelo superior: o eu*

    l7rico se depara com s7mbolos relacionados ao cerceamento@ as ogi5as para o sol esto $ec#adas:

    as mos dos #eris so destitu7das de $6. (o eu*l7rico no 6 poss75el nem se9uer se abandonar O

    9ueda total: pois at6 para isso # empecil#os: uma 5e= 9ue os precip7cios possuem grades. (

    sensao de impotncia 9ue atra5essa o e8istir do poeta 6 absoluta. "ouco a pouco: )rio de S*

    !arneiro constri cenrios imposs75eis: destri cenrios poss75eis. epois de con#ecer o

    imposs75el: o suFeito se 5 ainda mais limitado pela 5ida mediana: na 9ual F no era $eli= e: agora:

    se 5 aprisionado.

    P $undamental ressaltar 9ue o desencanto se re$ere Os coisas 9ue o suFeito a$irma ter

    beiFado: ou seFa: roado de le5e: 9uase sem tocar: mas no ter 5i5ido plenamente 2: o 9ue

    con$irma a sensao de ser*9uase 9ue perpassa todo o poema.

    "or $im: a ,ltima estro$e2%surge como uma repetio 9uase literal da primeira: reiterando

    a incompletude e a $rustrao presentes ao longo do te8to: por6m: apresenta uma di$erena@ o

    5erbo ser: 9ue na primeira estro$e aparecia no imper$eito do indicati5o: surge agora no mais*9ue*

    per$eito: sugerindo uma dist;ncia ainda maior entre o deseFo e a sua reali=ao.

    Joltados para a construo de um suFeito po6tico 9ue oscila entre o plano ideali=ado e:em contraposio: a ad5ersidade do mundo real: os 5ersos de S*!arneiro se apoiam em uma

    #erana da est6tica simbolista > como o culto O or e ao uni5erso interior: o uso de imagens e de

    densa linguagem meta$rica atra56s de sinestesias: s7mbolos e demais recursos cromticos >

    para elaborar uma dico emocional prpria: caracteri=ada por uma subFeti5idade dedicada ao

    2& Quase o amor: 9uase o triun$o e a c#ama: Y Quase o princ7pio e o $im * 9uase a e8panso... )as namin#Zalma tudo se derrama... Y Entanto nada $oi s iluso\

    2+ Eu $al#ei*me entre os mais: $al#ei em mim: Y (sa 9ue se elanou mas no 5oou...2G Se me 5agueio: encontro s ind7cios... Y gi5as para o sol * 5eFo*as cerradasC Y E mos de #eri: sem $6:

    acobardadas: Y "useram grades sobre os precip7cios...

    2 um 7mpeto di$uso de 9uebranto: Y /udo encetei e nada possu7... Y BoFe: de mim: s resta o desencanto Yas coisas 9ue beiFei mas no 5i5i...

    2% m pouco mais de sol * e $ora brasa: Y m pouco mais de a=ul * e $ora al6m. Y "ara atingir $altou*me umgolpe de asa... Y Se ao menos eu permanecesse a9u6m...

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    2G

    5a=io da alma: ao al6m: no 5islumbre de outra realidade: Os impresses 5agas e di$usas: aos

    pontos de suspenso: Os paisagens ene5oadas e crepusculares: O e8presso do t6dio: da

    melancolia e do absurdo. e acordo com "essoa -1GG apud )ISPS: 200&: p. 3&+: essa

    tendncia: denominada "alismo: Kpertence O corrente cuFa primeira mani$estao n7tida $oi oSimbolismoL: mas corresponde a Kum enorme progresso sobre todo o simbolismo e o neo*

    simbolismoL.

    (l6m da pro8imidade em relao O temtica: a representao dos e$eitos sensoriais:

    atingida atra56s de uma linguagem sinest6sica: rica em plasticidade: constitui em outro e8emplo

    dos preceitos simbolistas 9ue $oi: de alguma maneira: continuado por S*!arneiro. ( sua

    concepo de poesia $undamenta*se na necessidade de uma e8presso repleta de cores:

    mo5imentos: lu=es e sons: 9ue seFa capa= de dar 5a=o O din;mica $ebril das sensaes. Sob

    essa tica: a$irma "ai8o -2003: p. 1%: Kno cabe aos 5ersos apenas registrar os sentimentos do

    poeta: mas sim oper*los de modo a 9ue os poemas representem: na $orma e no conte,do: um

    mo5imento leg7timo diretamente relacionado Os percepes do suFeito l7rico.L

    utra caracter7stica 9ue apro8ima a po6tica deste escritor portugus da corrente

    simbolista 6 a 5iso da arte como instrumento de ele5ao do suFeito em relao aos seus pares:

    no sentido de di$erenciar os Kseres in$erioresL: 9ue se contentam com a 5ida med7ocre do dia a

    dia: dos Kseres superioresL: deseFosos de ultrapassar as limitaes do real: do tempo e do espao

    con#ecidos: de serem criadores: en$im -()'I): 2010: p. . a7 se pode compreender arelao de dependncia 9ue S*!arneiro nutria pela sua produo literria. bser5a*se: assim:

    mais uma estrat6gia adotada pelo poeta para distanciar*se do plano terreno: pois Kno 6 o

    pensamento 9ue de5e ser5ir a arte > a arte 6 9ue de5e ser5ir o pensamento: $a=endo*o 5ibrar:

    resplandecer > ser lu=: al6m de esp7rito. )esmo na sua e8presso m8ima: a (rte 6 "ensamentoL.

    -S_*!('EI': 13 apud "(I $re9uentemente atribu7da O obra isperso>: por outro: estabelece

    7ntima relao com os mo5imentos 5anguardistas da modernidade art7stica europeia. /endo em

    5ista sua pro$unda ami=ade com Aernando "essoa: com 9uem compartil#ou ang,stias e escritos:

    $oi um dos respons5eis pela publicao da re5ista 2rp#eu-11+: marco do primeiro momento

    modernista lusitano: cuFo obFeti5o era alin#ar a produo cultural portuguesa com o restante da

    Europa: superando o saudosismo e assimilando as no5as tendncias est6tico*$ilos$icas

    emergentes: 9ue prega5am uma arte alucinada: c#ocante: irre5erente: incon$ormista: pro5ocati5a

    e antiburguesa. o entanto: o peridico s publicou duas edies > de5ido ao suic7dio do

    $inanciador S*!arneiro > e $oi: muito $re9uentemente: considerado de mau gosto. (l6m deste: o

    poeta contribuiu para uma re5ista di$usora do $uturismo estrangeiro: com transcrio de te8tos de

    (pollinaire: laise !endrars e )arinetti. (penas o primeiro n,mero da "ortugal Auturista $oi

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    5eiculado: em 11: sendo apreendido pela pol7cia logo aps seu lanamento.

    S*!arneiro tamb6m e8perimentou os outros KismosL teori=ados por "essoa@ o

    Interseccionismo: caracteri=ado pela $uso de planos m,ltiplos: e o Sensacionismo: orientado

    esteticamente pela sensao. e acordo com "essoa -13 apud )ISPS: 200&: p. 2&3: osadeptos da primeira corrente deseFa5am Km,sica 8 pintura 8 poesiaL: de modo 9ue #ou5esse: na

    obra po6tica: interseces entre os obFetos -paisagens: estados de alma: etc e as sensaes

    proporcionadas por eles. esta maneira: 6 e5idente a e8istncia de uma e$eti5a inter*relao entre

    as propostas pal*interseccionistas: ambas consideradas estgios e5oluti5os deste mo5imento

    mais amplo: o Sensacionismo. Aa= parte desse momento a poesia istante melodia: publicada no

    li5ro Ind7cios de 2iro: de 13.

    4ogo nos 5ersos iniciais2: o poeta e5oca o passado com a $inalidade de estabelecer um

    embate entre este: o Ktempo*(saL: passageiro: e o presente. En9uanto o KontemL: o K/empo a=ulL:

    cuFa cor $acilmente se associa O ideia de son#o: 9uimera ou melancolia: o K#oFeL e9ui5ale ao

    momento de K7ris mortasL: destitu7do de cores: o 9ue reitera a imagem de uma e8istncia atual

    despre=75el. (inda em relao ao cromatismo: 6 importante assinalar 9ue esse recurso se $a=

    presente em muitas passagens da poesia e contribui para a mani$estao de uma caracter7stica

    marcante do Simbolismo@ a sinestesia. /al5e= insatis$eito com as cores e8istentes: 5endo*se

    limitado pelo ordinrio: )rio de S*!arneiro compe sensaes de cores: sugestes cromticas

    ,nicas e raras: dei8ando ao leitor o le5e sabor do ine8istente.s pensamentos regressam a um passado irreal e: em seguida: acontecimentos

    estran#os so relatados ingenuamente: como se $ossem e5entos absolutamente naturais@ os

    sentidos so cores: as ;nsias nascem no Fardim: cai ouro 9uando o poeta pensa estrelas: o luar

    bate sobre o seu al#ear*se30. e $orma caleidoscpica: sucedem*se as a$irmaes com o intuito

    de apro8imar realidade e sentimentosYsensaes por meio de relaes diretas: de e9uiparao.

    $ato de os Ksentidos serem coresL re5ela a $uso de sensaes como uma tentati5a de superar as

    limitaes sensoriais comuns. s sentidos assumem grande import;ncia: posto 9ue so eles os

    respons5eis por interpretar uma esp6cie de inteligncia intuiti5a 9ue no consegue seu

    e9ui5alente em compreenso racionali=ada.

    (o menos aparentemente: mesmo tendo 5oltado ao son#o31: marcado por uma pro$uso

    de imagens 9ue remetem ao uni5erso e8tico: o suFeito po6tico continua a sentir saudades do

    2 um son#o de ris morto a oiro e brasa: Y Jm*me lembranas doutro /empo a=ul Y Que me oscila5aentre 56us de tule * Y m tempo esguio e le5e: um tempo*(sa.

    30 Ento os meus sentidos eram cores: Y asciam num Fardim as min#as fnsias: Y Ba5ia na min#a almautras ist;ncias * Y ist;ncias 9ue o segui*las era $lores... YY !a7a iro se pensa5a Estrelas: Y luarbatia sobre o meu al#ear*me... Y > oites*lagoas: como 6reis belas Y Sob terraos*lis de recordar*)e...

    31 /apetes de outras "6rsias mais riente...Y !ortinados de !#inas mais mar$im... Y _ureos /emplos de ritosde cetim... Y Aontes correndo sombra: mansamente... YY imbrios*pantees de nostalgias: Y !atedrais deser*Eu por sobre o mar... Y Escadas de #onra: escadas s: ao ar... Y o5as i=;ncios*(lma: outras/ur9uias...

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    passado.32 (o retornar ao presente: percebe*se 9ue uma enorme $rustrao33 o in5ade:

    corroborada pela imagem de Krei e8ilado de si prprioL. Essa caracteri=ao 6 bastante

    signi$icati5a para se entender o sentimento do poeta: tendo em 5ista 9ue a autoridade deste rei

    no se con$igura como poder sobre os s,ditos -ine8istentes e nem sobre si mesmo: e5idenciandouma solido inesgot5el. essa $orma: admite*se 9ue a $elicidade s poderia ser encontrada $ora

    da realidade: $ora: at6 mesmo: do prprio son#o. Entre as possibilidades de ameni=ar o

    descontentamento cr?nico e superar a ang,stia e8istencial: encontram*se alternati5as mais

    radicais: como a loucura: o on7rico e a morte: sendo esta ,ltima o grande des$ec#o da sua

    passagem.

    )erece ateno ainda o emprego da pontuao subFeti5a: repleta de reticncias para

    e8pressar os de5aneios do eu*l7rico. e acordo com )ois6s -200G: p. 2+0: S*!arneiro ino5ou

    nos aspectos te8tuais na medida em 9ue

    5iolentou a ine$ica= e espartil#ante gramtica tradicional e passou a usar umasinta8e e um 5ocabulrio no5os: 9ue l#e permitissem manipular $rmulase8pressi5as pessoais: plsticas: male5eis e aptas a surpreender o $lu8o dasondas on7ricas: o 5ago: o alucinado: as $ebres: o incndio dos sentidos: adesmateriali=ao das coisas: a materiali=ao das sensaes: os sentimentosmais abstrusos e sutis: as sinestesias mais inusitadas: as associaes maisinesperadas.

    (l6m da 7ntima relao com "essoa: 6 necessrio ressaltar 9ue a mudana de 4isboa

    para "aris em 112: aos 22 anos de idade: $oi de e8trema import;ncia para sua po6tica. Aoi a

    partir de ento 9ue S*!arneiro acompan#ou de perto a e$er5escncia 5anguardista:

    principalmente as discusses e polmicas en5ol5endo o cubismo de "icasso e o $uturismo de

    )arinetti. e acordo com r6c#on -1 apud (_: 200%: p. &0:

    P em "aris 9ue S*!arneiro se 5ai tornar no 9ue 6C e le5ar ao amigo VAernando"essoaW: atra56s das cartas: Kos tempos 9ue corremL@ o cubismo: o $uturismo: osbal6s russos: tudo o 9ue 5ai ser em bre5e o dada7smo: o Kesp7rito no5oL de(pollinaire: o surrealismo. ar*l#e* igualmente conscincia cosmopolita europ6ia:9ue transcende as duas culturas entre as 9uais "essoa se di5ide. )as S*!arneiro: na busca $ebril do segredo do seu ser: o$erecer*l#e* sobretudo omodelo de poeta em 9ue ele prprio gostaria de se tornar: empen#o semcompromisso: na busca do absoluto: at6 a loucura e a morte.

    !omo e8emplo de poesia 5anguardista: pode*se citar )anucure: b5io pastic#e Os

    cartas de )arinetti: de in$luncia interseccionista: $uturista e cubista. P importante salientar 9ue

    esta constitui uma e8ceo perante o conFunto da obra do autor. "rodu=ido especialmente para o

    segundo 5olume da 2rp#eu: esse poema retrata com e8uber;ncia o progresso industrial atra56s

    de di5ersos recursos gr$icos: sintticos e $?nicos@ inicialmente: obser5am*se di5ersi$icados

    arti$7cios 9ue do ao te8to um ar bastante pro5ocador: como a gra$ia de al$abetos soltos na

    32 ala,stres de som: arcos de (mar: Y "ontes de bril#o: ogi5as de per$ume... Y om7nio ine8prim75el dpioe lume Y Que nunca mais: em cor: #ei*de #abitar...

    33 4embranas $luidas... cin=a de brocado... Y Irrealidade anil 9ue em mim ondeia... Y > (o meu redor eu sou'ei e8ilado: Y Jagabundo dum son#o de sereia...

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    pginaC b an,ncios de propagandaC c colagensC d nomes de Fornais $amosos da Europa: como

    4e MournalC e 5ersos compostos de n,merosC $ 5ersos em lin#as onduladasC g 5ersos

    irregulares3&C # ruptura com a unidade da linguagem e com a sinta8eC i onomatopeias: cadncia e

    ritmoC F inusitada e8plorao dos arranFos tipogr$icos: e: por $im: an$oras.e maneira geral: 6 poss75el di5idi*lo em trs partes. ( primeira comporta as primeiras

    estro$es: 9ue ser5em para ambientar o leitor. (tra56s desta: 5eri$ica*se 9ue o suFeito po6tico se

    encontra em um ca$6: so=in#o: em meio a uma 5ida cotidiana: num dia ensolarado de maio.

    )esmo os seus amigos: como ele: encontram*se distantes de sua personalidade. ( uma realidade

    en$adon#a: o indi57duo dedica o seu despre=o3+: mostrando*se al#eio ao mundo. ( e8perincia

    po6tica tem in7cio 9uando o suFeito mergul#a em si mesmo: num processo de autoternura 9ue

    comea sutil: mas depois se intensi$ica de tal modo a $a=er a KeuL 5oltar*se para si. 3G(inda neste

    primeiro trec#o: c#ama a ateno o embaral#amento dos di$erentes planos temporais -passado:

    presente e $uturo3: 9ue pode signi$icar a presena do inconsciente.

    o segundo e8certo: 6 poss75el identi$icar a 5ibrao: a e8panso e o mo5imento 3%

    t7picos do mudo moderno: cosmopolita: em oposio ao lugar*comum da 5ida cotidiana@ a imagem

    da locomoti5a: sua estrutura: seus sons e sua 5elocidade possibilitam um rpido deslocamento:

    atra56s do 9ual cru=am*se as super$7cies e8perimentadas a partir de uma percepo 5isi5elmente

    alterada3. Aica e5idente como a alterao da percepo est associada O noo de

    e8pansoYampliao: a 9ual implica na trans$igurao da realidade. (o longo do poema: de5ido Orecepo mais a$lorada por parte do eu*l7rico: uma simples c#5ena de porcelana Kascende num

    56rtice de espirais Y 9ue o seu rebordo $risado a ouro emiteL: en9uanto o som da 9ueda de uma

    bandeFa d origem a Kum no5o turbil#o de ondas prateadas V9ueW Y se alarga em ecos circulares:

    r,tilos: $ar$al#antesL.

    Essa e8perincia de alterao dos sentidos: 9ue corresponde ao anseio de ultrapassar

    uma realidade limitada pelo tang75el: relaciona*se O busca de uma no5a bele=a&0: a bele=a

    3& S*!arneiro: 9ue nunca abandonara 5ersos rimados e 9uase sempre medidos: $a= uso de 5ersos 9ue se

    assemel#am a eti9uetas de embalagem@ A'(TI4\ A'(TI4\3+ /oda a min#a sensibilidade Y Se o$ende com este dia 9ue #*de ter cantores Y Entre os amigos com 9uem

    ando Os 5e=es > Y /rigueiros: naturais: de bigodes $artos > Y Que escre5em: mas tm partido pol7tico Y Eassistem a congressos republicanos: Y Jo Os mul#eres: gostam de 5in#o tinto: Y e peros ou desardin#as $ritas...

    3G a sensao de estar polindo as min#as un#as: Y S,bita sensao ine8plic5el de ternura: Y /odo meincluo em )im > piedosamente -H YY Jou*me mais e mais enternecendo Y (t6 c#orar por )im...

    3 P l: no grande Espel#o de $antasmas Y Que ondula e se entregol$a todo o meu passado: Y Sedesmorona o meu presente: Y E o meu $uturo 6 F poeira...

    3% )il cores no (r: mil 5ibraes lateFantes: Y rumosos planos des5iados: Y (batendo $lec#as: listas5ol,5eis: discos $le875eis.

    3 Inating75el deslocamento... Y Jelo= $a,l#a atmos$6rica... YY E tudo: tudo assim me 6 condu=ido no espao Y"or in,meras interseces de planos Y ),ltiplos: li5res: res5alantes

    &0 E solto meus ol#os a enlou9uecerem de (r\ Y #\ poder e8aurir tudo 9uanto nele se incrusta: Y Jarar asua ele=a > sem suporte: en$im\ > Y !antar o 9ue ele re5ol5e: e amolda: impregna Y (lastra e e8pandeem 5ibraes Subtili=ado: sucessi5o > perp6tuo ao In$inito\... YY Que calotes suspensas entre ogi5as deru7nas: Y Que tri;ngulos slidos pelas na5es partidos\ Y Que #6lices atrs dum 5oo 5ertical\

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    atmos$6rica do (r: onde tudo paira@ a Kpala5ra em liberdadeL de )arinetti: as no5idades re5eladas

    pela modernidade -como o a5ano dos sistemas comunicacionais atra56s da radio$re9uncia. e

    alguma $orma: toda tecnologia e todo $uturismo se re$erem ao (r: espao para digresses da

    (lma: numa condensao de energia ps79uica. ( utili=ao do ar como suporte para acomunicao consiste na grande descoberta s6culo: e por isso: 6 celebrada. e acordo com o eu*

    l7rico: as trans$ormaes t6cnicas s podem ser acessadas por 9uem ti5er os Kol#os ungidos de

    o5oL: ou ainda ol#os K$uturistas: cubistas: interseccionistasL: ou seFa: sintoni=ados com o

    progresso tecnolgico.

    "or6m: o suFeito se considera derrotado por no poder cantar a Kbele=a inating75elL: a

    Kbele=a puraL&1do (r: e por isso lamenta. (ps o de5aneio 7ntimo: 5olta a si: ao ambiente do ca$6:

    e dei8a o recinto com Kos dentes a ranger: os ol#os des5iados: Y sem c#ap6u: como um possessoL:

    Kaos pinotes e aos gritosL&2: F incapa= de articular pala5ras: como 9ue al#eio no5amente O

    realidade: Os con5enes: aos limites da identidade: do mundo e da linguagem.

    2.2 !onsideraes $inais

    !ontempor;neo dos primeiros 5entos modernistas 9ue c#ega5am a "ortugal no in7cio

    do s6culo: )rio de S*!arneiro apresenta uma $orte relao com o Simbolismo no sentido de

    produ=ir uma escrita compulsi5amente preocupada com a $orma: codi$icada: sugesti5a e dotada

    de comple8idade sonora. Esses $atores: em combinao: potenciali=aram o #ermetismo da suaproduo literria. (s cores e construes sinest6sicas: $re9uentes nas suas produes: surgem

    com uma intensidade 7mpar: bem como a ousadia 9ue #erdou dos e8perimentos de )allarm6@

    o 5erso li5re: a destruio da sinta8e: a abolio do adFeti5o: do ad56rbio: dapontuao: a imaginao sem $ios: as pala5ras em liberdade acabaram por $irmar[ e a$irmar [ o 9ue se con5encionou c#amar por )odernismo: dentre osper7odos literrios: imprimindo o carter de mudana de rumos: ou ruptura com atradio estabelecida. -(J_: 200%: p. &1

    (l6m das 9uestes te8tuais: 6 poss75el identi$icar uma apro8imao no 9ue di= respeito

    aos aspectos temticos: uma 5e= 9ue o sentimento de inadaptao e de irreali=ao: o estar

    sempre a meio camin#o de um ideal inating75el e a tentati5a de ascender O plenitude: prprios do

    #omem simbolista: encontram*se recorrentemente em sua obra. sentimento de ser*9uase

    respons5el por um pro$undo tormento: le5a o poeta O comple8a sensao de estar nem a9u6m

    nem al6m: mas nas =onas interm6dias. "or $im: o autodespre=o e o a5iltamento de si mesmo

    condu=em*no ao limiar da mediocridade da 5ida: e o triun$o da morte 6 escol#ido como a soluo

    para o seu grande pesar. e acordo com andon -200%: p. G0: a emoo e8pressa por S*

    &1 > son#o desprendido: luar errado: Y unca em meus 5ersos poderei cantar: Y !omo ansiara: at6 ao

    espasmo e ao iro: Y /oda essa ele=a inating75el: Y Essa ele=a pura\&2 !orro ento para a rua aos pinotes e aos gritos@ Y * Bil\ Bil\ Bil*#?\ E#\ E#\... Y /um... tum... tum... tum

    tum tum tum... Y J4III)IIII) ... Y '_*hB... '_*hB... '_*hB\... Y A/S!B\ A/S!B\... Y IT*/(T...IT*/(T... Y /(T... /(T... /(T... Y "'_ _ \...

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    !arneiro corresponde O melancolia em tom de derrota: de entrega: de Kser 5encidoL: e a perda

    no 6 necessariamente de$inida ou corpori$icada: Ko 9ue # 6 esse sentimento de no pertencer e

    de no ter: prprio do ser melanclicoL.

    (l6m dessa perspecti5a: 6 poss75el apontar*l#e o camin#o do interseccionismo:caracteri=ado por uma #ipersensibilidade l7rica acompan#ada de entrecru=amentos e

    combinaes de es$eras distintas -estados de alma: paisagens: planos mentais: $7sicos: etc e

    solues $uturistas > tais como a desproporo: a abolio da sinta8e: a 5alori=ao da linguagem

    n,merica: geom6trica e tipogr$ica: etc.

    o 9ue di= respeito Os publicaes: S*!arneiro despre=ou as duas primeiras@(mi=ade

    e "rinc7pio: ambas de 112. !oube ao amigo Aernando "essoa a tare$a de organi=ar sua obra:

    de$inindo a K/bua ibliogr$ica de )rio de S*!arneiroL. (s selecionadas e recon#ecidas so@(

    con$isso de 4,cio -11&:isperso -11& e !6u em Aogo -11+. as pstumas: elencam*se

    Ind7cios de 2iro -13: !artas a Aernando "essoa -2 5ols.: 1+%*1+: !artas de )rio de S*

    !arneiro a 4u7s de )ontal5or: !;ndia 'amos: (l$redo Tuisado e Mos6 "ac#eco -1 e: por $im:

    !orrespondncia In6dita de )rio de S*!arneiro a Aernando "essoa-1%0.

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    2.3 'e$erncias bibliogr$icas

    ()'(: (ndr6 4ui= (l5es !aldas. ( irreali=ao do eu@ o ser*9uase na l7rica de )rio de S*

    !arneiro. 200. 3 $. issertao -)estrado > "!*'io: 'io de Maneiro. 200.

    ()'I): ernardo ascimento de.( m7ngua e o e8cesso@ )rio de S*!arneiro: (rt#ur 'imbaude o comple8o de caro. 2010. 20 $. /ese -outorado em 4etras > A)T: )inas Terais. 2010.

    AI4B: Moo Mos6 atista. 4abirinto e busca em )rio de S*!arneiro. In@ JI((: (nt?nio -org..!ru=amentos po6ticos@ "ortugal > rasil. 'eci$e@ o5a "resena: 2002.

    )ISPS: )assaud.( literatura portuguesa.3&. ed. So "aulo@ !ultri8: 200G.

    ``````.( 4iteratura "ortuguesa atra56s dos te8tos. 2. ed. So "aulo@ !ultri8: 1%.

    ``````.icionrio de termos literrios. 12. ed. So "aulo@ !ultri8: 200&.

    "(Irasil. 'eci$e@ o5a "resena: 2002.