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CURSOS ON-LINE – PORTUGUÊS PARA O SENADO FEDERAL TEORIA E EXERCÍCIOS COMENTADOS PROFESSOR ALBERT IGLÉSIA AULA 1 www.pontodosconcursos.com.br 1 Olá, prezado(a) aluno(a)! Como foram para você esses dias que antecederam a nossa aula? Para mim não foram fáceis. Alguns contratempos me impediram de enviar esta aula na data que havíamos combinado. Por isso quero me desculpar com você. Espero poder contar com sua compreensão. Hoje, então, estudaremos o que está discriminado abaixo. AULA CONTEÚDO 1 Texto e discurso Significação contextual de palavras e expressões Leitura, análise e interpretação Coesão e coerência Tipologia textual Adequação da linguagem Paráfrase e paródia Discurso direto e indireto Como já estamos atrasados, vamos logo ao que mais nos interessa aqui. SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRESSÕES É prudente iniciarmos tratando das relações lexicais que podem influenciar a análise e interpretação de um texto. São elas: a) Sinonímia – Palavras que indicam o mesmo objeto/referente. Exemplo: Longo e comprido era o corredor. As palavras destacadas são termos sinônimos, pois têm o mesmo referente: a dimensão do corredor. É possível, portanto, haver um objeto (referente) com várias denominações: carro, veículo, meio de transporte etc. Ocorre que também é possível que palavras como cara, rosto e face designem, conforme o contexto, referentes distintos. Veja os exemplos abaixo:

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Olá, prezado(a) aluno(a)! Como foram para você esses dias que

antecederam a nossa aula? Para mim não foram fáceis. Alguns contratempos

me impediram de enviar esta aula na data que havíamos combinado. Por isso

quero me desculpar com você. Espero poder contar com sua compreensão.

Hoje, então, estudaremos o que está discriminado abaixo.

AULA CONTEÚDO

1

Texto e discurso

Significação contextual de palavras e expressões

Leitura, análise e interpretação

Coesão e coerência

Tipologia textual

Adequação da linguagem

Paráfrase e paródia

Discurso direto e indireto

Como já estamos atrasados, vamos logo ao que mais nos interessa

aqui.

SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRESSÕES

É prudente iniciarmos tratando das relações lexicais que podem

influenciar a análise e interpretação de um texto. São elas:

a) Sinonímia – Palavras que indicam o mesmo objeto/referente.

Exemplo: Longo e comprido era o corredor. As palavras destacadas são

termos sinônimos, pois têm o mesmo referente: a dimensão do corredor. É

possível, portanto, haver um objeto (referente) com várias denominações:

carro, veículo, meio de transporte etc. Ocorre que também é possível que

palavras como cara, rosto e face designem, conforme o contexto, referentes

distintos. Veja os exemplos abaixo:

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Tem a cara de pau de sustentar a mentira.

Seus rosto se enrubesceu.

Cristo deu a outra face.

Isso se dá porque sinônimos perfeitos não existem. E Embora

se fale em palavras sinônimas, também existem frases sinônimas.

Joana é a mulher de Marcelo.

Marcelo é o marido de Joana.

b) Antonímia – Vocábulos de significados opostos: dizer e

desdizer; amar e odiar. Nem sempre é fácil detectar o grau de antonímia.

Vejamos o caso de quente e frio, eles são antônimos? Sim, em princípio, mas

o significado depende do contexto. Vejam os exemplos:

A cerveja estava quente/fria.

A sopa estava quente/fria.

Não se serve cerveja como sopa; logo cerveja quente (não

gelada) não equivale necessariamente à quentura de uma sopa (a 70 graus,

por exemplo). Há gradações entre as características que nem sempre

recobrem os mesmos referentes, pois seu emprego depende de um contexto

situacional.

Tanto na sinonímia quanto na antonímia existem gradações

entre os sentidos ou nem tanto em assim.

c) Homonímia – São palavras diferentes no sentido, tendo a

mesma escrita ou a mesma pronúncia. É o caso dos:

Homônimos perfeitos

(mesma grafia e pronúncia)

Manga (tecido)

Manga (fruta)

Banco (móvel para assento de pessoas)

Banco (instituição financeira)

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Homônimos homógrafos

(mesma grafia)

Esse (pronome)

Esse (nome da letra S)

Ele (pronome pessoal)

Ele (letra do alfabeto)

Homônimos homófonos

(mesma pronúncia)

Cela (aposento; mesmo que cadeia)

Sela (arreio acolchoado que se coloca no

dorso da cavalgadura e sobre o qual

monta o cavaleiro)

Não se devem confundir os casos de homonímias com os de

polissemia semântica. No primeiro caso, há duas entradas distintas no

dicionário. No segundo, trata-se de uma entrada apenas no dicionário e várias

acepções derivadas, que vão se encaixando nos vários contextos, como os

exemplos do uso de linha, a seguir:

A linha era azul

Dizem que a única mulher que andou na linha o trem matou.

Esse ônibus faz a linha Norte-Sul.

Pela polissemia, um mesmo vocábulo pode ter seu sentido

estendido, por conotação (sentido figurado). Exemplo: Lia o livro de cabo a

rabo (expressão que significa do começo ao fim – “cabo” remete a cabeça, a

parte do alto; “rabo”, ao final do corpo). Essa noção ficou cristalizada na

língua, como outras tantas: Até aí morreu o Neves; Inês é morta. Novamente

o contexto é responsável pela definição do significado, que é

atualizado em diferentes situações de uso.

d) Paronímia – É a relação entre palavras que têm formas

parecidas, mas cujos significados diferem, pois têm origens diferentes, como

por exemplo: descrição e discrição; eminente e iminente, tráfico e tráfego,

emigrar e imigrar.

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e) Hiperônimo e Hipônimo – Palavras como “computador”,

“monitor”, “impressora” e “teclado” apresentam certa familiaridade de sentido

pelo fato de pertencerem ao mesmo campo semântico, ou seja, ao universo

da informática. Já a palavra “equipamento” possui um sentido mais amplo, que

engloba todas as outras. Nesse caso, dizemos que “computador”, “monitor”,

“impressora” e “teclado” são hipônimos de “equipamento”. Por sua vez,

“equipamento” é um hiperônimo das outras palavras.

Vamos analisar um texto (um cartoon do humorista Feifer) e

perceber, por exemplo, como a noção de sinonímia das palavras nem sempre

se recobre totalmente.

“Eu pensava que era pobre. Aí, disseram que eu não era pobre, eu

era necessitado. Aí, disseram que era autodefesa eu me considerar

necessitado, eu era deficiente. Aí, disseram que deficiente era uma

péssima imagem, eu era carente. Aí, disseram que carente era um

termo inadequado. Eu era desprivilegiado. Até hoje eu não tenho

um tostão, mas tenho já um grande vocabulário.”

(In: SOARES, Magda. Linguagem e escola –

uma perspectiva social. São Paulo, Ática, 1986. P. 52)

Comentário – No fragmento dado, podemos ver que o gênero textual já

indica uma leitura político-ideológica para o texto. Trata-se de um texto

humorístico, com uma finalidade de crítica social: enumerar os vários nomes

(só aparentemente sinônimos) com que se costuma definir uma classe

social (pobre, necessitado, carente, desprivilegiado etc.) não vai resolver o

problema da pobreza no país. O único ganho para o pobre foi o aumento de

seu vocabulário, o que não deixa de ser também uma crítica ao palavrório

inútil daqueles que tentam resolver o problema das diferenças sociais no país,

apenas com denominações eufemísticas; utilizam apenas novos nomes para os

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processos, que são desacompanhados das ações sociais. O texto humorístico

presta-se a uma crítica social sobre o fato de haver “muitas palavras e pouca

ação”.

(...)

A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa

liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo

axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade

a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.

Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a

consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,

pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o

melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras

possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está

dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto

significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação

normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.

(...)

(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)

1. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A escolha, a decisão, que é

manifestação de nossa liberdade, só é possível tendo por fundamento o

mundo axiológico.

Considerando o contexto da frase, o vocábulo sublinhado tem significado

equivalente a:

(A) das normas.

(B) dos mercados.

(C) dos indivíduos.

(D) das liberalidades.

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(E) das verdades.

Comentário – o adjetivo “axiológico” (de axiologia = teorias, avaliações,

análises e estudos que abordam a questão dos valores, especialmente valores

morais). Segundo o contexto, seu melhor significado aproxima-se do

significado da expressão das normas. Releia o final do segundo parágrafo

transcrito: “Isto significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação

normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.”

Resposta – A

2. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) De acordo com o contexto,

observa-se emprego não-literal de vocábulo ou expressão em:

(A) Isso não ocorre com os animais brutos.

(B) supõe a avaliação de múltiplos fatores.

(C) Na escolha não pode haver indiferença.

(D) o caminho escolhido mata outras possibilidades.

(E) O fenômeno ético não é um acontecimento individual.

Comentário – Emprego de linguagem não-literal é o mesmo que linguagem

CONOTATIVA (o contrário seria linguagem DENOTATVA, literal). Não

precisamos ir ao texto para percebermos que a letra D contém dois vocábulos

com

Resposta – D

(...)

A economia é um nível essencial da realidade histórica;

nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam

iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.

Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações

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75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a

debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.

(...)

(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)

3. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) A palavra inexorável (L.73) só

não pode ser substituída, no texto, sob pena de alteração de sentido, por:

(A) implacável.

(B) indelével.

(C) inelutável.

(D) perituro.

(E) sempiterno.

Comentário – O vocábulo inexorável pode ser substituído por: rigoroso,

indelével (= indestrutível), inflexível, inelutável, implacável; também pode

ser trocado por sempiterno (= inesgotável, que não teve princípio nem

jamais terá fim; eterno, perpétuo). Já o vocábulo perituro denota aquilo que é

perecível, que há de acabar.

Resposta – D

(...)

Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também

exercida por esferas de influência superiores. Quando uma

autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",

45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,

buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma

sanção.

(...)

(Jeitinho. In: www.wikipedia.org – com adaptações.)

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4. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Observando a frase “buscará dissuadir a

autoridade ‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção” (L.46-47), assinale a

alternativa em que a substituição da palavra sublinhada mantenha o

sentido que se deseja comunicar no texto.

(A) obrigar.

(B) desaconselhar.

(C) persuadir.

(D) convencer.

(E) coagir.

Comentário – A frase integra o texto intitulado Jeitinho, que aparecerá na

íntegra mais abaixo.

Eis o significado contextual do vocábulo “dissuadir”: fazer

alguém mudar de ideia, opinião ou intenção; tirar de um propósito;

despersuadir, desaconselhar: Queria fazer a viagem, mas a mulher o

dissuadiu.

Resposta – B

Todas as noções vistas até aqui tratam da complexa relação de

significados que existe entre os vocábulos de uma língua. Vamos examinar, a

seguir, o conceito de texto e textualidade, que também ajudará a compreender

melhor as intrincadas redes de relação de sentidos atualizados nos textos.

Antes, porém, apresento a você uma singela relação de homônimos e

parônimos. Confira!

acender = atear fogo ascender = subir acerca de = a respeito de, sobre cerca de = aproximadamente há cerca de = faz aproximadamente

coser = costurar cozer = cozinhar deferir = conceder diferir = adiar descrição = representação

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afim = semelhante, com afinidade a fim de = com a finalidade de amoral = indiferente à moral imoral = contra a moral, libertino, devasso apreçar = marcar o preço apressar = acelerar arrear = pôr arreios arriar = abaixar bucho = estômago de ruminantes buxo = arbusto ornamental caçar = abater a caça cassar = anular cela = aposento sela = arreio censo = recenseamento senso = juízo cessão = ato de doar seção ou secção = corte, divisão sessão = reunião chá = bebida xá = título de soberano no Oriente chalé = casa campestre xale = cobertura para os ombros cheque = ordem de pagamento xeque = lance do jogo de xadrez comprimento = extensão cumprimento = saudação concertar = harmonizar, combinar consertar = remendar, reparar conjetura = suposição, hipótese conjuntura = situação, circunstância infligir = aplicar pena ou castigo infringir = transgredir, violar, desrespeitar intemerato = puro, íntegro, incorrupto intimorato = destemido, valente, corajoso intercessão = súplica, rogo interse(c)ção = ponto de encontro de duas linhas laço = laçada

discrição = ato de ser discreto descriminar = inocentar discriminar = diferençar, distinguir despensa = compartimento dispensa = desobrigação despercebido = sem atenção, desatento desapercebido = desprevenido discente = relativo a alunos docente = relativo a professores emergir = vir à tona imergir = mergulhar emigrante = o que sai imigrante = o que entra eminente = nobre, alto, excelente iminente = prestes a acontecer esperto = ativo, inteligente, vivo experto = perito, entendido espiar = olhar sorrateiramente expiar = sofrer pena ou castigo estada = permanência de pessoa estadia = permanência de veículo flagrante = evidente fragrante = aromático fúsil = que se pode fundir fuzil = carabina fusível = resistência de fusibilidade calibrada incerto = duvidoso inserto = inserido, incluso incipiente = iniciante insipiente = ignorante indefesso = incansável indefeso = sem defesa suar = transpirar sortir = abastecer surtir = originar sustar = suspender suster = sustentar tacha = brocha, pequeno prego taxa = tributo tachar = censurar, notar defeito

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lasso = cansado, frouxo ratificar = confirmar retificar = corrigir soar = produzir som

em taxar = estabelecer o preço vultoso = volumoso vultuoso = atacado de vultuosidade

LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

• Texto, textualidade e contexto

Você sabe o que realmente é um texto? Bem, a noção de texto

recobre sempre a de um instrumento transmissor de mensagens, isto é, uma

forma de comunicar uma intenção qualquer, por meio de uma ou mais

palavras em sequência. Qualquer usuário de uma língua sabe identificar o que

é e o que não é um texto, mas defini-lo torna-se um problema, pois sua

realização envolve fatores de vários campos: linguísticos, pragmáticos e

comunicativos. E isso envolve o contexto e os usuários da linguagem.

Podemos ter uma infinidade de textos, desde uma pequena

sequência, na forma de um pedido de socorro, ou um bilhete, por exemplo, ou

sequências maiores, como uma notícia jornalística, um relatório, uma ata, um

sermão ou um romance de mais de seiscentas páginas, ou ainda uma novela,

um conto, uma sentença proferida por um juiz etc.

Façamos um pequeno exercício de leitura e resumo da ideia

central de cada fragmento abaixo.

1. “O guarda-noturno caminha com delicadeza, para não assustar,

para não acordar ninguém. Lá vão seus passos vagarosos, cadenciados,

cosendo sua própria sombra com a pedra da calçada (...).”

(Crônica de Cecília Meireles intitulada O anjo da noite)

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2. “A Polícia militar entrou ontem em choque de mnhã com os

moradores do bairro de Realengo (zona norte do Rio) que obstruíam, das 9h às

11h, duas pistas da Avenida Brasil, principal via de acesso ao Rio. Eles

protestavam contra os atropelamentos perto do CIEP Thomas Jefferson, na

margem da Avenida e pediam a construção de uma passarela para pedestres

(...).”

(Folha de São Paula)

Então, será que você compreendeu a ideia principal do que

acabou de ler? Embora incompletos, os fragmentos dão a noção dos textos

como um todo significativo e de sua intencionalidade, característica principal

de um texto como uma unidade de sentido. O fragmento de Cecília fala da

passagem do guarda-noturno pelas ruas desertas; o segundo trata de uma

notícia de um confronto entre polícia e a população de um bairro no Rio

(Realengo) com protestos por causa de atropelamentos na Avenida Brasil.

Pela leitura dos fragmentos anteriores, você observou que todos

pertencem a textos, elaborados como partes de uma unidade de comunicação

intencional. E para se tornarem uma unidade de sentido, possuem uma

característica fundamental, que é a textualidade.

Chama-se textualidade ao conjunto de propriedades que uma

manifestação verbal deve possuir para construir um texto. Pode-se dizer que é

a textualidade que transforma qualquer sequência linguística em uma unidade

de sentido; é ela que lhe dá coerência.

Que tal examinarmos, por exemplo, a sequência abaixo e vermos

se ela constitui um texto? Vamos lá?

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João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são

caríssimos. Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no

espaço. Segundo a teoria da relatividade, o espaço é curvo. A geometria

Rimaniana dá conta desse fenômeno.

Percebeu como a sequência anterior não constitui um texto? E por

quê? Porque, embora apareçam nela todos os elementos necessários à ligação

entre os termos, não é possível estabelecer entre eles uma continuidade

responsável pela unidade de sentido; dizemos, então, que a passagem não é

um texto, por lhe faltar textualidade.

A textualidade atrela-se à noção de contexto ou situação. Qualquer

falante sabe que a comunicação verbal não se realiza por meio de palavras ou

frases isoladas, desligadas da situação em que são produzidas. Se alguém

perguntar a um passante:

– Você sabe onde fica a rua X?

a pergunta feita naquela situação determinada deve indicar que o interpelante

não quer apenas indagar se o outro sabe a localização da rua, mas que ele

está lhe pedindo informação sobre como chegar até lá. Nessa situação, a

pergunta torna-se um pedido de informação, ou auxílio. Se o inquiridor obtiver

do transeunte simplesmente a resposta:

– Sei.

e este continuar o seu caminho, pode-se dizer que a sequência não constituiu

o texto desejado, já que não comunicou a intenção específica. Dizemos que,

nesse caso, não houve um texto interativo no sentido que estamos

considerando aqui.

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As categorias da ética

A vida humana se caracteriza por ser fundamentalmente

ética. Os conceitos éticos "bom" e "mau" podem ser predicados a

todos os atos humanos, e somente a estes. Isso não ocorre com

os animais brutos. Um animal que ataca e come o outro não é

5 considerado maldoso, não há violência entre eles.

Mesmo os atos de caráter técnico podem ser qualificados

eticamente. Esses atos sempre servem para a expansão ou

limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o que importa

nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou

10 eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética

desses resultados.

A eficiência técnica segue regras técnicas, relativas aos

meios, e não normas éticas, relativas aos fins. A energia nuclear

pode ser empregada para o bem ou para o mal. Na verdade, ela

15 é investigada, apurada e criada para algum resultado, que lhe

confere validade. Não vale por si mesma, do ponto de vista ético.

Pode valer pela sua eventual utilidade, como meio; mas o uso de

energia nuclear, para ser considerado bom ou mau, deve referir-

se aos fins humanos a que se destina.

20 Vê-se, pois, que o plano ético permeia todas as ações

humanas. Isso ocorre porque o homem é um ser livre,

vocacionado para o exercício da liberdade, de modo consciente.

Sem liberdade não há ética. A liberdade supõe a operação sobre

alternativas; ela se concretiza mediante a escolha, a decisão, a

25 consciência do que se faz. Isso implica refugir à determinação

unilinear necessária, à determinação meramente causal. É a

afirmação da contingência, da multiplicidade. Diante da

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multiplicidade de caminhos a nossa disposição, avaliamos e

escolhemos.

30 Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados

a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,

paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações

humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação

de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana

35 complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera

do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,

entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,

mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.

Sob o ângulo especificamente ético, não haverá escolha,

40 exercício da liberdade, definição ética quando não houver

avaliação, preferência a respeito das ações humanas. Eis por

que na base da ética, como dissemos, encontram-se

necessariamente a liberdade e a valoração; a ética só se põe no

mundo da liberdade, da escolha entre ações humanas avaliadas.

45 A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa

liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo

axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade

a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.

Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a

50 consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,

pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o

melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras

possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está

dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto

55 significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação

normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.

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O mundo oferece resistências e determinações necessárias

e, por meio destas, as ações éticas se realizam precisamente

enquanto as contrariam. As ações éticas brilham justamente

60 quando se opõem às tendências "naturais" do homem. Assim, a

liberdade não só se contrapõe à necessidade, como sua

negação, mas também existe em função desta. Não há liberdade

sem necessidade. Não há ética sem impulsão, sem desejo.

A melhor prova da liberdade é o esforço de superação da

65 necessidade, afirmando-a e negando-a dialeticamente, a um só

tempo. Então, o mundo ético só é possível no meio social, no

bojo das determinações sociais.

O fenômeno ético não é um acontecimento individual,

existente apenas no plano da consciência pessoal. Isso porque o

70 ente singular do homem só se manifesta, como ser autêntico, em

suas relações universais com a sociedade e com a natureza.

Esse fenômeno é resultante de relações sociais e históricas,

compreendendo também o mundo das necessidades, da

natureza. A ética só existe no seio da comunidade humana.

75 e os meios de circulação econômica dos bens possuem maior

liberdade do que aqueles que não têm o poder desse controle.

Por aí se vê também que a liberdade e a ética não se reduzem a

fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre dimensões

sociais, históricas e objetivas.

80 Há, assim, um grande esforço, um esforço ético-político para

se obter uma distribuição igualitária dos direitos entre os

homens, quer dentro das comunidades, quer entre as

comunidades. Na verdade existe uma ética sobre a ética, uma

meta-ética. A meta-ética é utópica, crítica, subversiva e

85 transcende as condições mais imediatas da vida social. No

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entanto, ela precisa ser possível no mundo dos fatos sociais, sob

pena de se perder como uma utopia de meros sonhos.

(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. In: www.centrodebate.org)

5. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A partir da tese defendida pelo

autor, é correto afirmar que:

(A) a ética é condicionante da existência humana e fundamenta qualquer tipo

de ação que envolva uma escolha entre “certo” e “errado”.

(B) o conceito de ética aplica-se sobretudo aos seres humanos que praticam

atos de natureza técnica e atuam profissionalmente.

(C) a violência entre animais brutos decorre da inexistência de uma noção

ética que regule suas relações.

(D) as noções de “bom” e “mau” estão na base das organizações sociais,

sejam elas humanas ou não.

(E) o princípio ético que orienta os atos técnicos está menos nos seus

resultados e mais na própria concepção desses atos.

Comentário – Alternativa A: a tese (ou ideia central) de um texto

normalmente surge logo no primeiro parágrafo (parágrafo introdutório). De

acordo com ela, a ética é a característica fundamental da vida humana e,

consequentemente, é nela que os atos humanos devem estar baseados. Item

certo.

Alternativa B: o conceito de ética aplica-se a todos os seres

humanos, inclusive nos que são caracterizados conforme esta assertiva. Item

errado.

Alternativa C: ainda de acordo com o primeiro parágrafo,

“não há violência entre eles”, pois estão destituídos de qualquer concepção

ética. Item errado.

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Alternativa D: essas noções dizem respeito exclusivamente

às organizações humanas (não há como relacionar essas noções a

organizações não humanas). Item errado.

Alternativa E: o segundo parágrafo é fundamental para

respondermos adequadamente. Segundo ele, os resultados têm grande

importância do ponto de vista ético: “Sob a perspectiva ética, o que importa

nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou

eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética

desses resultados. Item errado.

Resposta – A

6. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Com relação aos terceiro e

quarto parágrafos, analise as afirmativas a seguir.

I. O objetivo principal do terceiro parágrafo é conceituar regras técnicas e

normas éticas.

II. O plano do terceiro parágrafo inclui uma exemplificação para sustentar a

tese anteriormente explicitada.

III. O início do quarto parágrafo apresenta uma conclusão acerca das ideias

apresentadas no terceiro.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

(B) se somente a afirmativa II estiver correta.

(C) se somente a afirmativa III estiver correta.

(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

Comentário – É impossível que as afirmativas I e II sejam corretas, pois elas

se excluem. Portanto você deve imediatamente descartar a letra D. A leitura

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atenta do terceiro parágrafo nos fará entender que nele existe um exemplo do

que foi dito sobre “os atos de caráter técnico”. Conclui-se com isso que: se a

afirmativa II é correta, a I é incorreta e também deve ser desprezada. Exclua,

então, a letra A.

Eis abaixo um exemplo1 de parágrafo desenvolvido com o

objetivo de conceituar algo:

Cespe/TRT 10ª Região/2005 – Tipologia: dissertação argumentativa

Tema: o aperfeiçoamento dos procedimentos é fator prescindível para a

democratização efetiva da justiça.

“A necessidade da desburocratização da justiça

Entende-se por democratização da justiça a possibilidade de

que a todos seja prestada, de fato, a junção jurisdicional tal qual na

Constituição Federal: com celeridade e qualidade. (...)”

Breve comentário – O candidato iniciou o parágrafo com um conceito,

explicando o ponto-chave do tema: a democratização da justiça.

Vamos analisar o item III para decidirmos entre as letras B, C

e E. A afirmativa está correta e o autor deixou uma dica ao candidato: a

conjunção “pois”. Quando surge isolada por vírgulas e após o verbo da oração

que integra, essa conjunção constitui segmento de caráter conclusivo. Item

correto, assim como o item II.

Resposta – E

1 O exemplo foi extraído de uma redação de candidato a concurso público. Por questões óbvias, a identidade dele será preservada.

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7. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da compreensão adequada de

conceitos apresentados pelo texto, analise as afirmativas a seguir.

I. O senso-comum de liberdade é reconstruído e passa a incluir a noção de

que nem todos são livres na mesma medida.

II. O conceito de ética fundamenta-se numa perspectiva naturalista e põe em

segundo plano seu viés social.

III. As ideias de liberdade e obrigação não são concepções excludentes; ao

contrário, envolvem implicação necessária.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

(B) se somente a afirmativa II estiver correta.

(C) se somente a afirmativa III estiver correta.

(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.

(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

Comentário – Afirmativa I: está sustentada na seguinte passagem: “Os

homens ou grupos de homens que controlam a produção e os meios de

circulação econômica dos bens possuem maior liberdade do que aqueles que

não têm o poder desse controle.” Afirmativa correta.

Afirmativa II: não! Esse conceito se opõe a essa perspectiva,

repare: “As ações éticas brilham justamente quando se opõem às tendências

‘naturais’ do homem”. Além disso, o viés social é o que possibilita a

manifestação da ética, tendo, portanto, importância significativa: “o mundo

ético só é possível no meio social, no bojo das determinações sociais”.

Afirmativa incorreta.

Afirmativa III: é verdade, conforme se depreende do seguinte

trecho: “Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados

a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,

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paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações

humanas para atender as nossas demandas”. Item correto.

Resposta – D

8. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da leitura do quarto parágrafo,

deduz-se que o autor:

(A) afirma-se perplexo ante a unilateralidade das escolhas.

(B) contraria a ideia de liberdade como ação racionalmente concebida.

(C) opõe-se à aceitação do determinismo como fonte das ações humanas.

(D) defende a vocação como forma de realização pessoal.

(E) situa na determinação causal a origem da infelicidade humana.

Comentário – Alternativa A: o autor se posiciona contrariamente à

unilateralidade das escolhas sem demonstrar perplexidade. Item errado.

Alternativa B: não, o autor defende essa liberdade, para cujo

exercício ele está vocacionado. Item errado.

Alternativa C: sim, essa é linha argumentativa do autor.

Releia, por exemplo, o seguinte trecho: “A liberdade supõe a operação sobre

alternativas; ela se concretiza mediante a escolha (...). Isso implica refugir à

determinação unilinear necessária, à determinação meramente causal.” Item

certo.

Alternativa D: não está presente no quarto parágrafo

argumento favorável ou contrário à realização pessoal. Item errado.

Alternativa E: também não é tratada no quarto parágrafo a

origem da infelicidade humana; esta alternativa e a anterior são descabidas.

Resposta – C

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Esquerda e direita no Brasil, hoje

Ninguém pode pretender negar diversos progressos no

movimento da história. A humanidade, hoje, se beneficia de

conquistas importantes na área da medicina, por exemplo.

Podemos ser operados com anestesia, suavizar dores com

5 analgésicos. Dispomos de meios de transporte rapidíssimos,

helicópteros, aviões. Nossas casas têm luz elétrica, água

encanada, esgoto. Vemos filmes, acompanhamos seriados na

TV, ouvimos rádio. E, cada vez mais, utilizamos os

computadores, a internet.

10 Tal como está organizada, a sociedade gira em torno do

mercado, de acordo com um sistema que alguns chamam de

"economia de mercado", e outros, de "capitalismo". Até hoje,

não surgiu nenhum sistema tão capaz de fazer crescer a

economia. As experiências feitas em nome do socialismo não

15 manifestaram força própria suficiente para competir, no plano

do crescimento econômico, com o capitalismo.

O modo de produção capitalista não tem vocação suicida,

e nada indica que ele esteja a ponto de morrer de morte

natural. Seus representantes na arena política recorrem à

20 repressão quando necessário e fazem concessões quando

conveniente. Os trabalhadores têm feito conquistas

significativas, do século 20 para cá; visivelmente não sentem

saudades do tempo em que eram obrigados a jornadas de

trabalho de 12 horas.

25 Parte dos trabalhadores – mais que no passado – chega

mesmo a integrar-se à burguesia. Esse, porém, é um caminho

que só pode ser percorrido por poucos. Alguns progridem. Faz

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parte da lógica do sistema, contudo, que as massas

permaneçam excluídas. A cooptação de setores da

30 representação política das classes médias está sendo mais

resoluta, mais eficiente. O individualismo característico dessas

confusas camadas intermediárias as torna muito vulneráveis à

sedução das classes dominantes.

Temos uma situação histórica favorável ao bloco

35 conservador. Nas atuais condições, a direita vem

administrando suas contradições internas. A política

econômica do governo do PT, as posições neoliberais do

PSDB e as diferentes tendências reunidas no PMDB

tranqüilizaram a direita nos últimos anos. Tanto no PT como no

40 PSDB e no PMDB os líderes posicionados um pouco mais à

esquerda (não quer dizer que eles sejam de esquerda) foram

marginalizados.

A esquerda está desarticulada. O naufrágio da União

Soviética não arrastou só os partidos comunistas: mais de 15

45 anos se passaram, e o estilhaçamento ainda afeta

dolorosamente diversas organizações socialistas.

No Brasil, o quadro é complexo, angustiante. Há pessoas

de esquerda no PT, no PC do B, no PSB, no PDT e até no

PSDB. Há muita gente de esquerda circunstancialmente sem

50 partido. E há a valente iniciativa da senadora Heloísa Helena, o

PSOL. Mas ainda não há um programa alternativo maduro que

se contraponha à euforia do programa conservador, aplicado

por gente que foi de esquerda e aplaudido pela direita.

Nas atuais condições em que exerce a sua hegemonia, a

55 direita "moderada" conseguiu infiltrar seus critérios no discurso

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da esquerda "moderada". Os "moderados" dão o estilo. O

conteúdo é dado pela "leitura" oficial da economia.

Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em

torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".

60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".

Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda

que os empurrava inexoravelmente para adiante, para

promover a transformação das relações de produção e o

crescimento das forças produtivas.

65 A fé determinista na dinâmica da economia contribuiu

para que a esquerda tradicional, despreparada, sofresse contundentes

derrotas. Duras lições da história política

convenceram a esquerda a conviver com sua diversidade

interna, em sua luta pela ampliação das liberdades e pela

70 superação das desigualdades.

A economia é um nível essencial da realidade histórica;

nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam

iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.

Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações

75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a

debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.

Curiosamente, no momento em que os marxistas (e, com

eles, a esquerda em geral) sublinhavam a significação crucial

dos valores, da ética, a direita assumia a centralidade da

80 economia e passava a acreditar que possuía a chave da

compreensão correta (e da solução) dos problemas que nos

afligem no presente.

Essa chave é o instrumento simbólico mais eficiente da

ideologia dominante (que, como dizia Marx, é sempre a

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85 ideologia das classes dominantes): é ela que insiste em nos

convencer que as desigualdades sociais são naturais, que não

há alternativa para o capitalismo, que o socialismo já foi

tentado e fracassou. É ela que sustenta que as liberdades

precisam se enraizar nas elites para depois, lentamente,

90 chegar ao povão. Empunhando a chave, com a costumeira

cara-de-pau, a direita pede paciência aos trabalhadores e

promete que, com o tempo, eles vão se beneficiar de

melhores condições materiais de cidadania, tal como

aconteceu com as conquistas da medicina, os aviões e os

95 computadores, que demoraram, mas vieram.

Permito-me perguntar: vieram mesmo?

(Leandro Konder. Folha de São Paulo, 13/04/2006)

9. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa que

apresente comentário pertinente ao texto

(A) O texto apresenta um desabafo a respeito da situação política do Brasil,

apontando, perspicazmente, por comparação, os motivos por que não

teria êxito a instauração de um regime socialista.

(B) O texto discorre sobre a situação histórico-política internacional,

objetivando analisar especificamente o caso brasileiro no tocante à falta

de espaço para o surgimento de partidos políticos renovadores, capazes

de revelar o discurso falho da extrema direita.

(C) O texto reafirma a ineficácia do socialismo como forma de governo e

aponta, no capitalismo, tanto no cenário internacional quanto no

doméstico, a supremacia dos blocos moderados, de esquerda e direita,

ditando falaciosamente a democracia ao povão.

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(D) O texto aponta, no cenário político doméstico, o processo de

desarticulação da esquerda, como resultado do fim do modelo socialista e

da supremacia da direita ao ditar a interpretação da economia.

(E) O texto questiona se os valores apontados como conquistas pela direita de

fato aconteceram, observando que a interpretação falaciosa da realidade

atraiu antigos esquerdistas a sobejarem teorias que explicassem as falhas

no processo democrático historicamente.

Comentário – Alternativa A: O desabafo e a comparação existem, mas a

perspectiva em relação ao socialismo é sobre os fatos passados que não

sustentaram esse regime, e não sobre uma possibilidade futura de implantação

dele: “As experiências feitas em nome do socialismo não manifestaram força

própria suficiente para competir, no plano do crescimento econômico, com o

capitalismo.” (l. 14-16)

Alternativa B: a crítica feita no texto não é à “extrema

direita”, mas sim à “direita moderada”. Observe: “Nas atuais condições em que

exerce a sua hegemonia, a direita ‘moderada’ conseguiu infiltrar seus critérios

no discurso da esquerda ‘moderada’. Os ‘moderados’ dão o estilo.” (l. 54-56)

Alternativa C: a supremacia é da direita moderada, como se

lê no fragmento apresentado no comentário acima.

Alternativa E: o verbo sobejar significa suprir-se com

superabundância. A explicação não é sobre as falhas no processo democrático;

é sobre a falha de “diversas organizações socialistas”.

O que achou do texto? E das alternativas? Vamos ser

sinceros: tudo muito extenso, complexo, difícil..., não é mesmo? Mas é bom

você se acostumar, pois a FGV não perdoa ao escolher seus textos. É claro que

ela pode facilitar as coisas, mas não se surpreenda ao se deparar com um

texto e uma questão como estes.

Resposta – D

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10. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) O nono parágrafo, em relação

ao oitavo, apresenta-se como:

(A) explicação.

(B) exemplificação.

(C) complemento.

(D) desdobramento.

(E) oposição.

Comentário – A relação estabelecida entre eles é de oposição. Contrastam-se

os discursos atuais e antigos sobre a economia. Hoje em dia, os moderados

dão o estilo; antigamente, eram os marxistas.

Resposta – E

(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)

11. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Ao associar-se a charge com o

seu título, percebe-se que a interpretação é possível pela via:

(A) alegórica.

(B) fática.

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(C) lúdica.

(D) metonímica.

(E) sofística.

Comentário – Charge é um desenho caricatural com ou sem legenda,

publicado em jornal, revista ou afim, que se refere diretamente a um fato atual

ou a uma personalidade pública e os satiriza ou critica ironicamente. A

associação dela com seu título permite-nos interpretar o texto pela via

alegórica, que é a expressão do pensamento ou da emoção muito comum por

meio da pintura e da escultura.

Resposta – A

Jeitinho

O jeitinho não se relaciona com um sentimento revolu-

cionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo.

O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e

sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também

5 definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar

bem" em uma situação "apertada".

Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o antropólogo

Roberto DaMatta compara a postura dos norte-americanos e a

dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude

10 formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa

admiração e espanto aos brasileiros, acostumados a violar e a

ver violadas as próprias instituições; no entanto, afirma que é

ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de

educação adequada.

15 O antropólogo prossegue explicando que, diferente das

norte-americanas, as instituições brasileiras foram desenhadas

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para coagir e desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é

naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é inadequada

à realidade individual. Um curioso termo – Belíndia – define

20 precisamente esta situação: leis e impostos da Bélgica, realidade

social da Índia.

Ora, incapacitado pelas leis, descaracterizado por uma

realidade opressora, o brasileiro buscará utilizar recursos que

vençam a dureza da formalidade se quiser obter o que muitas

25 vezes será necessário à sua sobrevivência. Diante de uma

autoridade, utilizará termos emocionais, tentará descobrir alguma

coisa que possuam em comum - um conhecido, uma cidade da

qual gostam, a “terrinha” natal onde passaram a infância – e

apelará para um discurso emocional, com a certeza de que a

30 autoridade, sendo exercida por um brasileiro, poderá muito bem

se sentir tocada por esse discurso. E muitas vezes conseguirá o

que precisa.

Nos Estados Unidos da América, as leis não admitem

permissividade alguma e possuem franca influência na esfera

35 dos costumes e da vida privada. Em termos mais populares, diz-

seque, lá, ou “pode” ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que

é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples:

acredita-se que a exceção a ser aberta em nome da cordialidade

não constituiria pretexto para outras exceções. Portanto, o

40 jeitinho jamais gera formalidade, e essa jamais sairá ferida após

o uso desse atalho.

Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também

exercida por esferas de influência superiores. Quando uma

autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",

45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,

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buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma

sanção.

A fórmula típica de tal atitude está contida no golpe

conhecido por "carteirada", que se vale da célebre frase "você

50 sabe com quem está falando?". Num exemplo clássico, um

promotor público que vê seu carro sendo multado por uma

autoridade de trânsito imediatamente fará uso (no caso, abusivo)

de sua autoridade: "Você sabe com quem está falando? Eu sou

o promotor público!". No entendimento de Roberto DaMatta, de

55 qualquer forma, um "jeitinho" foi dado.

(In: www.wikipedia.org – com adaptações.)

12. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) De acordo com o texto, é correto

afirmar que:

(A) o jeitinho brasileiro é um comportamento motivado pelo descompasso

entre a natureza do Estado e a realidade observada no plano do indivíduo.

(B) as instituições norte-americanas, bem como as brasileiras, funcionam sem

permissividade porque estão em sintonia com os anseios e atitudes do

cidadão.

(C) a falta de educação do brasileiro deve ser atribuída à incapacidade de o

indivíduo adequar-se à lei, uma vez que ele se sente desprotegido pelo

Estado.

(D) a famosa “carteirada” constitui uma das manifestações do jeitinho

brasileiro e define-se pelo fato de dois poderes simetricamente

representados entrarem em tensão.

(E) nos Estados Unidos da América, as leis influem decisivamente apenas na

vida pública do cidadão, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde as leis

logram mudar comportamentos no plano dos costumes e da vida privada.

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Comentário – Alternativa A: encontra apoio sobretudo na seguinte passagem:

“A natureza do Estado é naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é

inadequada à realidade individual.” (terceiro parágrafo)

Alternativa B: no terceiro parágrafo está a explicação de

Roberto DaMatta que esclarece que as instituições norte-americanas e as

brasileiras são diferentes. Estas “foram desenhadas para coagir e desarticular

o indivíduo” e são inadequadas à realidade do indivíduo. Item errado.

Alternativa C: a relação de causa e consequência foi invertida,

observe: “é ingênuo creditar a postura brasileira [consequência] apenas à

ausência de educação adequada [causa]. Item errado.

Alternativa D: os poderes não são simétricos; o princípio da

“carteirada” está bem explicado no penúltimo parágrafo: “Quando uma

autoridade ‘maior’ vê-se coagida por uma ‘menor’, imediatamente ameaça

fazer uso de sua influência; dessa forma, buscará dissuadir a autoridade

‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção.” Item errado.

Alternativa E: lê-se no antepenúltimo parágrafo que “Nos

Estados Unidos da América, as leis não admitem permissividade alguma e

possuem franca influência na esfera dos costumes e da vida privada”. Item

errado.

Resposta – A

13. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Com relação à estruturação do texto e

dos parágrafos, analise as afirmativas a seguir.

I. O primeiro parágrafo introduz o tema, discorrendo sobre a origem

histórica do jeitinho.

II. A tese, apresentada no segundo parágrafo, encontra-se na frase iniciada

por no entanto.

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III. O quarto parágrafo apresenta o argumento central para a sustentação da

tese.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

(B) se somente a afirmativa II estiver correta.

(C) se somente a afirmativa III estiver correta.

(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

Comentário – Afirmativa I: tema é o assunto sobre o qual discorreremos.

Assim sendo, a primeira parte da afirmativa está correta. O erro surge na

segunda parte, pois não existe esse discurso sobre a origem histórica. No

primeiro parágrafo, o texto tratou de caracterizar o “jeitinho”, dizer o que ele é

e o que não é. Item errado.

Afirmativa II: tese é a ideia central (tese ou tópico frasal

principal) do texto, formulada a partir do tema e seguida pelos argumentos

que a sustentam. Item certo.

Afirmativa III: aqui está o argumento: “incapacitado pelas leis,

descaracterizado por uma realidade opressora, o brasileiro buscará utilizar

recursos que vençam a dureza da formalidade se quiser obter o que muitas

vezes será necessário à sua sobrevivência”. Item certo.

Resposta – D

• Pressuposições e inferências (implícitos e subentendidos)

“Fiz faculdade, mas aprendi algumas coisas.”

A frase acima transmite duas informações: ele frequentou um

curso superior e aprendeu algumas coisas.

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No entanto, essas duas informações transmitem de forma implícita

uma crítica ao sistema de ensino vigente. Essa crítica se dá através do uso da

preposição “mas”.

Assim, percebemos que um dos aspectos mais intrigantes que pode

ser apresentado por um texto é o fato de ele dizer aquilo que parece não dizer,

ou seja, é a presença de enunciados pressupostos ou inferidos.

Um leitor é considerado perspicaz quando consegue ler as

entrelinhas do texto, isto é, quando capta as mensagens implícitas.

Para não “cair” na exploração maliciosa de alguns textos que

abusam dos aspectos pressupostos ou inferidos, devemos saber que:

a) pressupostos são ideias não expressas de maneira explícita,

mas que podem ser percebidas a partir de certas palavras ou expressões

utilizadas.

“O tempo continua chuvoso.” (informação implícita: estava

chovendo antes)

“Pedro deixou de fumar.” (informação implícita: fumava antes)

b) inferências são insinuações escondidas por trás de uma

declaração e dependem do contexto e do conhecimento de mundo que o

ouvinte ou o leitor têm. Quando um fumante com o cigarro pergunta:

– Você tem fogo?,

por trás dessa pergunta se infere:

– Acenda-me o cigarro, por favor.

Caso você encontre alguém correndo na rua e gritando

– Pega ladrão! Pega ladrão!”,

você subentenderá que esse alguém foi (ou está sendo) assaltado e clama por

socorro, não é mesmo?

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Detectar o pressuposto durante uma leitura é fundamental para a

interpretação textual, uma vez que esse recurso argumentativo não é

posto em discussão pelo autor do texto e, por isso mesmo, pode levar o

leitor a interpretar o texto erroneamente.

Os pressupostos são marcados por:

a) advérbios: “Os resultados da pesquisa ainda não chegaram

até nós.” (pressuposto: os resultados já deviam ter chegado ou vão chegar

mais tarde.)

b) verbos: “O caso do contrabando tornou-se público.”

(pressuposto: o caso não era público.)

c) orações adjetivas: “Os candidatos a prefeito, que só

querem defender seus interesses, não pensam no povo.” (pressuposto:

todos os candidatos a prefeito têm interesses individuais.)

d) adjetivos: “Os partidos radicais acabarão com a

democracia no Brasil.” (pressuposto: existem partidos radicais e não radicais

no Brasil.)

Enquanto o pressuposto é um dado apresentado como

indiscutível para o falante e o ouvinte, não permitindo contestações; a

inferência é de responsabilidade do ouvinte, uma vez que o falante

esconde-se por trás do sentido literal das palavras.

A inferência pode ser uma maneira encontrada pelo falante para

transmitir algo sem se comprometer com a informação.

14. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Mesmo os atos de caráter

técnico podem ser qualificados eticamente. Esses atos sempre servem

para a expansão ou limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o

que importa nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou

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eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética desses

resultados.

No trecho acima, está implícita uma posição contrária à concepção de

neutralidade atribuída aos atos de caráter técnico. O instrumento

linguístico que permite a construção desse implícito é o emprego do

vocábulo:

(A) qualificados.

(B) limitação.

(C) mesmo.

(D) não.

(E) mas.

Comentário – A palavra denotativa de inclusão “Mesmo” (= inclusive, até)

permite pressupor que “os atos de caráter técnico” também podem se revestir

de determinada característica (“qualificados eticamente”) que os torne avessos

à concepção de neutralidade comumente atribuída a eles.

Resposta – C

COESÃO E COERÊNCIA

Primeiramente, vamos diferenciar os dois conceitos. A coesão

refere-se aos vínculos que se estabelecem entre as partes de um enunciado ou

de uma sequência maior. A noção de coerência, embora muito ligada à de

coesão, diz respeito mais ao processo de compreensão e de interpretabilidade

de um texto. Podemos nos valer do quadro abaixo para melhor entender esses

conceitos:

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Coesão Coerência

Articulação entre palavras e

enunciados do texto.

Manutenção da sequência lógica de

argumentação.

Elementos coesivos (advérbios,

conjunções, preposições, pronomes

etc.).

Não deve haver contradições e

mudanças bruscas no rumo do

pensamento.

Relação sintática. Relação semântica.

Observem o exemplo abaixo.

Comprei três laranjas e coloquei-as no freezer, pois tencionava

fazer uma salada de frutas bem geladinha com elas; mas, como

fui à rua e me demorei muito, não pude aproveitá-las na salada

porque ficaram todas congeladas.

Nesse pequeno texto, há vários elementos que estabelecem

ligação entre as partes dele, além do jogo verbal e da sequência de ações;

enfim, são elementos reconhecíveis e que formam os elos entre os termos.

Na próxima passagem, no entanto, há uma carência de elementos

sintáticos de ligação entre os períodos que compõem o texto.

Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de

vida humana. Tentava recordar alguma coisa. Nada.

Como você pode perceber, o que permite dar um sentido ao

texto é a possibilidade de se estabelecer uma relação semântica

(SENTIDO) ou pragmática (INTERACIONAL) entre os elementos da

sequência. Assim sendo, é possível admitir que a coerência é mais relevante

do que a coesão para a construção de um texto, embora os dois fatores sejam

características importantes de todo bom texto.

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• Processos de coesão textual

Existem determinados vocábulos na língua que não devem ser

interpretados semanticamente por seu próprio sentido, mas sim em

função da referência que estabelecem com outros itens. Um item

referencial tomado isoladamente é vazio e significa apenas: procure a

informação em outro lugar. Observem o exemplo seguinte:

João é o maior empresário daqui. No Distrito Federal, não há

outro que o supere.

Repare que “João” é retomado no segundo período pelo pronome

“o”; enquanto o advérbio “aqui”, no primeiro período, antecipa a circunstância

de lugar indicada por “Distrito Federal”. No caso da retomada, temos uma

anáfora. No caso de sucessão, uma catáfora.

Observa-se na coesão a propriedade de unir termos e orações por

meio de conectivos. A escolha errada desses conectivos pode ocasionar

a deturpação do sentido do texto.

Que tal treinarmos o emprego dos mecanismos de coesão a partir

do texto abaixo? Vamos lá?

Oito pessoas morreram (cinco passageiros de uma mesma família e dois

tripulantes, além de uma mulher que teve ataque cardíaco) na queda de um

avião (1) bimotor Aero Commander, da empresa J. Caetano, da cidade de

Maringá (PR). O avião (1) prefixo PTI-EE caiu sobre quatro sobrados da Rua

Andaquara, no bairro de Jardim Marajoara, Zona Sul de São Paulo, por volta

das 21h40 de sábado. O impacto (2) ainda atingiu mais três residências.

Estavam no avião (1) o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que

foi candidato a prefeito de Maringá nas últimas eleições (leia reportagem nesta

página); o piloto (1) José Traspadini (4), de 64 anos; o co-piloto (1) Geraldo

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Antônio da Silva Júnior, de 38; o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur

Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (4) filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e

Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro de

Andrade (7), de 53 anos.

Izidoro Andrade (7) é conhecido na região (8) como um dos maiores

compradores de cabeças de gado do Sul (8) do país. Márcio Ribeiro (5) era

um dos sócios do Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1).

Isidoro Andrade (7) havia alugado o avião (1) Rockwell Aero Commander

691, prefixo PTI-EE, para (7) vir a São Paulo assistir ao velório do filho (7)

Sérgio Ricardo de Andrade (8), de 32 anos, que (8) morreu ao reagir a um

assalto e ser baleado na noite de sexta-feira.

O avião (1) deixou Maringá às 7 horas de sábado e pousou no aeroporto de

Congonhas às 8h27. Na volta, o bimotor (1) decolou para Maringá às 21h20

e, minutos depois, caiu na altura do número 375 da Rua Andaquara, uma

espécie de vila fechada, próxima à avenida Nossa Senhora do Sabará, uma das

avenidas mais movimentadas da Zona Sul de São Paulo. Ainda não se

conhecem as causas do acidente (2). O avião (1) não tinha caixa preta e a

torre de controle também não tem informações. O laudo técnico demora no

mínimo 60 dias para ser concluído.

Segundo testemunhas, o bimotor (1) já estava em chamas antes de cair em

cima de quatro casas (9). Três pessoas (10) que estavam nas casas (9)

atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos

graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Elídia Fiorezzi, de 62 anos,

Natan Fiorezzi, de 6, e Josana Fiorezzi foram socorridos no Pronto Socorro de

Santa Cecília.

1. REPETIÇÃO: o elemento (1) foi repetido diversas vezes durante o texto.

Observem que o vocábulo “avião” foi muito usado, principalmente por ter sido

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o veículo envolvido no acidente, que é a notícia propriamente dita. A repetição

é um dos principais elementos de coesão do texto jornalístico, que, por sua

natureza, deve dispensar a releitura por parte do receptor (o leitor, no caso). A

repetição pode ser considerada a mais explícita ferramenta de coesão.

2. REPETIÇÃO PARCIAL: na retomada de nomes de pessoas, a repetição

parcial é o mais comum mecanismo coesivo do texto jornalístico. Costuma-se,

uma vez citado o nome completo de um entrevistado - ou da vítima de um

acidente, como se observa com o elemento (7), na última linha do segundo

parágrafo e na primeira linha do terceiro -, repetir somente o(s) seu(s)

sobrenome(s). Quando os nomes em questão são de celebridades (políticos,

artistas, escritores, etc.), é de praxe, durante o texto, utilizar a nominalização

por meio da qual são conhecidas pelo público. Exemplos: Nedson (para o

prefeito de Londrina, Nedson Micheletti); Farage (para o candidato à

prefeitura de Londrina em 2000 Farage Khouri); etc. Nomes femininos

costumam ser retomados pelo primeiro nome, a não ser nos casos em que os

sobrenomes sejam, no contexto da matéria, mais relevantes e as identifiquem

com mais propriedade.

3. ELIPSE: é a omissão de um termo que pode ser facilmente deduzido

pelo contexto da matéria. Veja-se o seguinte exemplo: Estavam no avião (1)

o empresário Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito

de Maringá nas últimas eleições; o piloto (1) José Traspadini (4), de 64 anos; o

co-piloto (1) Geraldo Antônio da Silva Júnior, de 38. Perceba que não foi

necessário repetir-se a palavra “avião” logo após as palavras “piloto” e “co-

piloto”. Numa matéria que trata de um acidente de avião, obviamente o piloto

será de aviões; o leitor não poderia pensar que se tratasse de um piloto de

automóveis, por exemplo. No último parágrafo ocorre outro exemplo de elipse:

Três pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1)

ficaram feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos graves. (10) Apenas

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escoriações e queimaduras. Note que o (10) antes de “Apenas” é uma omissão

de um elemento já citado: Três pessoas. Na verdade, foi omitido, ainda, o

verbo: (As três pessoas sofreram) Apenas escoriações e queimaduras.

4. SUBSTITUIÇÕES: uma das mais ricas maneiras de se retomar um

elemento já citado ou de se referir a outro que ainda vai ser mencionado é a

substituição, que é o mecanismo pelo qual se usa uma palavra (ou grupo de

palavras) no lugar de outra palavra (ou grupo de palavras). Confira os

principais elementos de substituição:

4.1 Pronomes: a função gramatical do pronome é justamente substituir ou

acompanhar um nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda a

idéia contida em um parágrafo ou no texto todo. Na matéria-exemplo, são

nítidos alguns casos de substituição pronominal: o sogro de Name Júnior (4),

Márcio Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (4) filhos Márcio Rocha Ribeiro

Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6),

João Izidoro de Andrade (7), de 53 anos. O pronome possessivo seus retoma

Name Júnior (os filhos de Name Júnior...); o pronome pessoal ela, contraído

com a preposição de na forma dela, retoma Gabriela Gimenes Ribeiro (e o

marido de Gabriela...). No último parágrafo, o pronome pessoal elas retoma as

três pessoas que estavam nas casas atingidas pelo avião: Elas (10) não

sofreram ferimentos graves.

Vejamos outros casos de substituições indicadas por pronomes:

a) Muitos brasileiros estavam assistindo à corrida, mas isso não bastou para

que Rubinho vencesse a prova (o pronome demonstrativo isso retoma a ideia,

expressa anteriormente, de que muitos brasileiros estavam assistindo à

corrida);

b) Em época de fim de ano, as pessoas que trabalham com carteira assinada

recebem o 13º salário, o que aquece a economia do país (o pronome

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demonstrativo o retoma o fato de as pessoas trabalharem com carteira

assinada);

c) (...) Sérgio Ricardo de Andrade (8), de 32 anos, que (8) morreu ao

reagir a um assalto e ser baleado na noite de sexta-feira (o pronome relativo

que retoma Sérgio Ricardo de Andrade - Sérgio Ricardo de Andrade morreu

ao reagir a um assalto...);

d) A Jonas Ricardo foram atribuídas atitudes violentas. Segundo sua esposa,

ele a agrediu na última segunda-feira... (o pronome pessoal ele retoma Jonas

Ricardo; o pronome pessoal a retoma sua esposa).

4.2 Epítetos: são palavras ou grupos de palavras que, ao mesmo tempo em

que se referem a um elemento do texto, qualificam-no. Essa qualificação pode

ser conhecida ou não pelo leitor. Caso não seja, deve ser introduzida de modo

que fique fácil a sua relação com o elemento qualificado.

a) (...) foram elogiadas pelo por Fernando Henrique Cardoso. O

presidente, que voltou há dois dias de Cuba, entregou-lhes um certificado...

(o epíteto presidente retoma Fernando Henrique Cardoso; poder-se-ia

usar, como exemplo, sociólogo);

b) Edson Arantes de Nascimento gostou do desempenho do Brasil. Para o

ex-Ministro dos Esportes, a seleção... (o epíteto ex-Ministro dos Esportes

retoma Edson Arantes do Nascimento; poder-se-iam, por exemplo, usar as

formas: jogador do século, número um do mundo).

4.3 Sinônimos ou quase sinônimos: palavras com o mesmo sentido (ou

muito parecido) dos elementos a serem retomados. Exemplo: O prédio foi

demolido às 15h. Muitos curiosos se aglomeraram ao redor do edifício, para

conferir o espetáculo (edifício retoma prédio. Ambos são sinônimos).

4.4 Nomes deverbais: são derivados de verbos e retomam a ação expressa

por eles. Servem, ainda, como um resumo dos argumentos já utilizados.

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Exemplos: Uma fila de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida

Higienópolis, como sinal de protesto contra o aumento dos impostos. A

paralisação foi a maneira encontrada... (paralisação, que deriva de

paralisar, retoma a ação de centenas de veículos de paralisar o trânsito da

Avenida Higienópolis). O impacto (2) ainda atingiu mais três residências (o

nome impacto retoma e resume o acidente de avião noticiado na matéria-

exemplo).

4.5 Elementos classificadores e categorizadores: referem-se a um

elemento (palavra ou grupo de palavras) já mencionado ou não por meio de

uma classe ou categoria a que esse elemento pertença: Uma fila de centenas

de veículos paralisou o trânsito da Avenida Higienópolis. O protesto foi a

maneira encontrada... (protesto retoma toda a idéia anterior - da paralisação

-, categorizando-a como um protesto); Quatro cães foram encontrados ao

lado do corpo. Ao se aproximarem, os peritos enfrentaram a reação dos

animais (animais retoma cães, indicando uma das possíveis classificações

que se podem atribuir a eles).

4.6 Advérbios: palavras que exprimem circunstâncias, principalmente as de

lugar. Em São Paulo, não houve problemas. Lá, os operários não aderiram...

(o advérbio de lugar lá retoma São Paulo). Exemplos de advérbios que

comumente funcionam como elementos referenciais, isto é, como elementos

que se referem a outros do texto: aí, aqui, ali, onde, lá, etc.

Bem, creio que devem estar cansados. Mas não parem agora, pois

já estamos chegando ao final desta aula introdutória. Aprenderemos agora a

diferenciar vários tipos de textos e a identificar suas respectivas

características.

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(...)

Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados

a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,

paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações

humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação

de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana

complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera

do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,

entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,

mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.

(...)

(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)

15. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) O advérbio Aí, no quinto

parágrafo, refere-se ao processo compreendido nas etapas assim

apresentadas pelo autor.

(A) situação humana / múltiplos fatores / demandas

(B) liberdade / decisão / avaliação

(C) decisão / possibilidade / liberdade

(D) decisão / possibilidade / avaliação

(E) múltiplos fatores / demandas / ações humanas

Comentário – Esta é uma questão que trata da coesão referencial

estabelecida entre elementos textuais. O advérbio “Aí” retoma a ideia anterior,

em que estão contidas as seguintes etapas: decisão possibilidade e

necessidade de estimar avaliação. Entendo que a segunda etapa está mal

representada, mas não vejo motivo para que alguém brigasse com a banca e

exigisse a anulação da questão. Afinal, a letra D traz, mesmo resumidamente,

a indicação dessa etapa

Resposta – D

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16. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas alternativas a seguir,

ambas as expressões servem essencialmente à articulação sequencial das

ideias do texto, à exceção de uma. Assinale-a.

(A) pois / porque (4º parágrafo).

(B) assim / entretanto (5º parágrafo).

(C) quando / eis por que (6º parágrafo).

(D) mas também / então (9º parágrafo).

(E) por aí / sempre (11º parágrafo).

Comentário – Outra vez estamos às voltas com elementos (conjunções,

advérbio e palavra de designação) que promovem a coesão entre segmentos

do texto intitulado As categorias da ética e expressam explicação, tempo,

conclusão, oposição, adição. A única exceção é o advérbio “sempre”. Leia a

passagem em que ele foi empregado: “Por aí se vê também que a liberdade e

a ética não se reduzem a fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre

dimensões sociais, históricas e objetivas.” Esse advérbio de tempo é

meramente para indicar que o processo designado pelo verbo ter é contínuo,

não se interrompe.

Resposta – E

17. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas atuais condições em que

exerce a sua hegemonia, a direita "moderada" conseguiu infiltrar seus

critérios no discurso da esquerda "moderada". (L.54-56)

A palavra seus no trecho acima tem valor:

(A) anafórico.

(B) anastrófico.

(C) catafórico.

(D) hiperbólico.

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(E) paragramático

Comentário – O pronome possessivo “seus” retoma a expressão anterior

“direita moderada” e lhe atribui a posse dos “critérios” (= critérios da direita

moderada). Portanto não há dúvidas: a função coesiva do pronome tem valor

anafórico.

Resposta – A

TIPOLOGIA TEXTUAL

Tipologia Textual designa uma espécie de sequência teoricamente

definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais,

sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).

Ex.: descrição, narração, exposição, argumentação e injunção.

Para efeito de prova, usaremos as terminologias: texto expositivo e

texto argumentativo (ou dissertação expositiva e dissertação

argumentativa).

Veja com mais detalhes cada um deles.

Texto descritivo (“retrato” verbal)

É o tipo de redação na qual se apontam as características que compõem um

determinado objeto, pessoa, animal, ambiente ou paisagem. Apresenta

elementos que, quando juntos, produzem uma “imagem”.

Exemplo: Sua estatura era alta, e seu corpo, esbelto. A pele morena refletia o

sol dos trópicos. Os olhos negros e amendoados espalhavam a luz interior de

sua alegria de viver e jovialidade. Os traços bem desenhados compunham uma

fisionomia calma, que mais parecia uma pintura.

Despertem para as características desse tipo de texto:

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1) Predomínio de adjetivos.

2) Descrição objetiva (expressionista): limita-se aos aspectos reais e

visíveis; não há opinião do autor sobre o tema.

3) Descrição subjetiva (impressionista): o autor emite sua opinião sobre o

assunto.

4) Descrição física: limita-se à descrição dos traços externos e visíveis, tais

como altura, cor da pele, tipo de nariz e cabelo, etc.

5) Descrição psicológica: está relacionada a aspectos do comportamento da

pessoa descrita: se é carinhosa, agressiva, calma, comunicativa, egoísta,

generosa, etc.

6) Não há uma sucessão de acontecimentos ou fatos, mas sim a

apresentação pura e simples do estado a ser descrito em um

determinado momento.

7) Aqui, a matéria é o objeto.

Texto narrativo

É a modalidade de redação na qual contamos um ou mais fatos que ocorrem

em determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens.

Exemplo: Em uma noite chuvosa do mês de agosto, Paulo e o irmão

caminhavam pela rua mal-iluminada que conduzia à sua residência.

Subitamente foram abordados por um homem estranho. Pararam,

atemorizados, e tentaram saber o que o homem queria, receosos de que se

tratasse de um assalto. Era, entretanto, somente um bêbado que tentava

encontrar, com dificuldade, o caminho de sua casa.

Note as características do tipo narrativo:

1) O fato narrado pode ser real ou fictício.

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2) A descrição insere-se na narração, dada a importância de se

caracterizarem os personagens envolvidos na trama e o cenário em que

ela se desenvolve.

3) Narração em 1ª pessoa: ocorre quando o fato é contado por alguém que

se envolve nos acontecimentos ao mesmo tempo em que conta o caso

(uso dos pronomes nós, eu).

4) Narração em 3ª pessoa: o narrador conta a ação do ponto de vista de

quem vê o fato acontecer na sua frente (narrador onisciente); ele não

participa da ação (uso dos pronomes ele(a), eles(as)).

5) Narração objetiva: o narrador apenas relata os fatos, sem se deixar

envolver emocionalmente com o que está noticiado. É de cunho

impessoal e direto.

6) Narração subjetiva: leva-se em conta as emoções, os sentimentos

envolvidos na história. São ressaltados os efeitos psicológicos que os

acontecimentos desencadeiam nos personagens.

7) A progressão temporal (exposição, complicação, clímax e desfecho) é

essencial para o desenvolvimento da trama.

8) O tempo predominante é o passado, cronológico (um minuto, uma hora,

uma semana, um ano etc.) ou psicológico (vivido por meio de flashback,

é a memória do narrador).

Texto argumentativo (dissertação argumentativa)

É o tipo de composição na qual expomos ideias seguidas da apresentação

de argumentos que as comprovem. Tem por objetivo a defesa de um

ponto de vista, por meio da persuasão.

Exemplo: Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema

educacional brasileiro. Argumenta-se que ele deve ter por objetivo despertar

no estudante a capacidade de absorver informações dos mais diferentes tipos e

relacioná-las com a realidade circundante. Um sistema de ensino voltado para

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a compreensão dos problemas socioeconômicos e que despertasse no aluno a

curiosidade científica seria por demais desejável.

Ainda que de forma sutil, defende-se aqui uma mudança no atual

sistema de ensino do país. Como forma de convencer o leitor a respeito dessa

necessidade, o autor sustenta que ela é compartilhada por outras pessoas, que

já discutem o assunto.

Texto expositivo (informativo; dissertação expositiva)

O objetivo do texto é passar conhecimento para o leitor. Nesse tipo textual,

não se faz, categoricamente, a defesa de uma ideia. Encontrado em

livros didáticos e paradidáticos (material complementar de ensino),

enciclopédias, jornais, revistas (científicas, informativas, etc.).

Exemplo: A história do celular é recente, mas remonta ao passado – e às

telas de cinema. A mãe do telefone móvel é a austríaca Hedwig Kiesler (mais

conhecida pelo nome artístico Hedy Lamaar), uma atriz de Hollywood que

estrelou o clássico Sansão e Dalila (1949).

Hedy tinha tudo para virar celebridade, mas pela inteligência. Ela foi casada

com um austríaco nazista fabricante de armas. O que sobrou de uma relação

desgastante foi o interesse pela tecnologia.

Já nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, ela soube que

alguns torpedos teleguiados da Marinha haviam sido interceptados por

inimigos. Ela ficou intrigada com isso, e teve a idéia: um sistema no qual duas

pessoas podiam se comunicar mudando o canal, para que a conversa não fosse

interrompida. Era a base dos celulares, patenteada em 1940.

Repare agora que, diferentemente da intenção do autor do texto

acima, este aqui não tem a presunção de convencer ninguém a respeito de

algo. Limita-se apenas a transmitir ao leitor uma informação sobre o

surgimento do aparelho celular, de forma imparcial e objetiva.

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Texto injuntivo (instrucional)

Indica como realizar uma ação; aconselha. É também utilizado para

predizer acontecimentos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e

simples. Há predomínio da função conativa ou apelativa (o emissor procura

influenciar o comportamento do receptor; como o emissor se dirige ao

receptor, é comum o uso de tu, você, nós, ou o nome da pessoa, além dos

vocativos e imperativos; usada nos discursos, sermões e propagandas que

se dirigem diretamente ao consumidor – instruções de uso de um aparelho;

leis; regulamentos; receitas de comida; guias; regras de trânsito).

Exemplo: "Coloque a tampa e a seguir pressione." (verbo no imperativo)

"Coloca-se a tampa e a seguir pressiona-se." (verbo no presente do indicativo)

"Colocar a tampa e a seguir pressionar." (verbo no infinitivo)

Agora, tenta-se, por meio de uma linguagem persuasiva, fazer com

que o leitor execute certas ações a fim de obter o efeito desejado.

18. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Assinale a alternativa que identifique a

composição tipológica do texto “Jeitinho”.

(A) Descritivo, com sequências narrativas.

(B) Expositivo, com sequências argumentativas.

(C) Injuntivo, com sequências argumentativas.

(D) Narrativo, com sequências descritivas.

(E) Argumentativo, com sequências injuntivas

Comentário – Os teóricos argumentam que dificilmente haverá um texto

homogêneo, ou seja, puramente descritivo, expositivo, argumentativo,

narrativo e injuntivo. A característica que mais sobressai é a que determina o

tipo de texto.

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Falando especificamente do texto intitulado Jeitinho, o que

se observa acentuadamente são passagens que transmitem ao leitor

informações sobre o que o antropólogo Roberto DaMatta escreveu sobre o

jeitinho. As sequências argumentativas ficam por conta do ponto de vista dele

sobre o tema. Por exemplo: “Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é

também exercida por esferas de influência superiores.”; “No entendimento de

Roberto DaMatta, de qualquer forma, um ‘jeitinho’ foi dado.”

Resposta – B

ADEQUÇÃO DE LINGUAGEM

• Modalidades linguísticas

Você já percebeu que a língua é um código de que se serve o

homem para elaborar mensagens, para se comunicar. Interessante ainda é

perceber que, para realizar seu objetivo, a língua utiliza modalidades

diferentes. São basicamente duas modalidades:

Língua culta ou língua-padrão: compreende a língua literária. Utilizada pelas emissoras de rádio e televisão; jornais, revistas, empresas, órgãos públicos, etc. Está associada à escola (gramática).

Língua popular ou língua cotidiana: é mais espontânea e dinâmica. Usada muitas vezes em situações informais: conversa entre amigos ou em família. São exemplos as gírias, os dialetos e os jargões.

• Tô preocupado. • Fiquei grilado. • E aí, beleza? • Gelinho, sacolé, chup-

chup

• Abrir o bico • Peticionar • Deletar • Câmbio

• Estou preocupado. • Fiquei pensativo. • E aí, tudo bem? • Suco de frutas

congelado dentro de um saco plástico

• Contar a verdade • Pedir ao juiz • Apagar • Negociação de moeda

estrangeira

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• O conceito de erro

Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos

de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da norma

culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: "Ninguém

deixou ele falar", não comete propriamente erro; na verdade, transgride a

norma culta.

Importa considerar, assim, o momento do discurso:

No momento íntimo, a informalidade prevalece sobre a

norma culta, deixando mais livres os interlocutores.

O momento formal é o do uso da língua-padrão, que é a língua da Nação. Tomam-se por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:

O momento íntimo (informal) é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais construções do tipo:

a) Eu não vi ela hoje.

b) Ninguém deixou ele falar.

c) Deixe eu ver isso!

d) Eu te amo, sim, mas não

abuse (você)!

e) Não assisti o filme nem vou

assisti-lo.

f) Sou teu pai, por isso vou

perdoá-lo.

a) Eu não a vi hoje.

b) Ninguém o deixou falar.

c) Deixe-me ver isso!

d) Eu te amo, sim, mas não

abuses (tu)!

e) Não assisti ao filme nem vou

assistir a ele.

f) Sou seu pai, por isso vou

perdoar-lhe.

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Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal,

qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em

que a maioria absoluta o comete, passando, assim, a constituir fato linguístico,

registro de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda que não

tenha amparo na rigidez gramatical.

O vocábulo têxtil, que significa rigorosamente aquilo que se pode

tecer, em virtude do seu significado, não poderia ser adjetivo associado à

indústria, já que não existe indústria que se pode tecer. Hoje, porém, temos

não só a indústria como também o operário têxtil, em vez da indústria de fibra

têxtil e do operário da indústria de fibra têxtil.

Uma frase “correta”, portanto, não é aquela que se

contrapõe a uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada

conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma padrão.

Importante é sabermos que o nível da linguagem, a norma

linguística, deve variar de acordo com a situação em que se

desenvolve o discurso.

O ambiente sócio-cultural determina o nível da linguagem a

ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a entoação

variam segundo esse nível. Um padre não fala com uma criança como se

estivesse dizendo missa, assim como uma criança não fala como um adulto.

Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível de fala,

para colegas e para pedreiros, assim como nenhum professor utiliza o mesmo

nível de fala no recesso do lar e na sala de aula.

• A Gíria

Ao contrário do que muitos pensam, a gíria não constitui um

flagelo da linguagem. Quem, um dia, já não usou “bacana”, “bizu”, “cara”,

“cuca”? O mal maior da gíria reside na sua adoção como forma permanente de

comunicação, desencadeando um processo não só de esquecimento, como de

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desprezo do vocabulário oficial. Usada no momento certo, porém, a gíria é um

elemento de linguagem que denota expressividade e revela grande

criatividade, desde que, naturalmente, adequada à mensagem, ao meio e ao

receptor.

Veja esta tira:

Agora me responda:

a) qual nível de linguagem é utilizado pelo locutor? Justifique sua

resposta com elementos do texto.

b) que modificações podem ser feitas para transformar a

linguagem empregada em culta ou popular, conforme o caso?

Acertou se respondeu, primeiramente, “nível popular”, com base

nas expressões “filar” (segundo quadrinho) e “né” (último quadrinho).

Poderíamos reescrever o texto e alterar as palavras destacadas

para comer e não é, por exemplo.

(...)

Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em

torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".

60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".

Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda

que os empurrava inexoravelmente para adiante, para

promover a transformação das relações de produção e o

crescimento das forças produtivas.

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(...)

(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)

19. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A expressão na crista de uma

onda (L.61) tem origem no registro:

(A) burocrático.

(B) culto.

(C) inculto.

(D) informal.

(E) regional.

Comentário – A expressão é um exemplo de gíria, que se enquadra no

registro informal da língua e que pode significar na moda, em momento de

sucesso ou evidência, no ápice de uma situação.

Resposta – D

PARÁFRASE E PARÓDIA

E por falar em “reescrever o texto”, esclareço que toda vez que

uma obra faz alusão à outra, ocorre a intertextualidade. Isso se concretiza

de várias formas. Aqui, abordarei aquela que costuma aparecer em provas, só

que com uma outra “roupagem”: a paráfrase. Também farei distinção entre

ela e a paródia (outra forma de intertextualidade). Inicialmente, darei a

vocês um exemplo de cada umas dessas manifestações. Depois, comentarei as

características que as distinguem.

Texto Original

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá,

As aves que aqui gorjeiam

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Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).

Paráfrase

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos

Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.

Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?

Eu tão esquecido de minha terra...

Ai terra que tem palmeiras

Onde canta o sabiá!

(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”).

Paródia

Minha terra tem palmares

onde gorjeia o mar

os passarinhos daqui

não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).

Na paráfrase, as palavras são mudadas, porém a ideia do

texto original é confirmada pelo novo texto; a alusão ocorre para

atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer

com outras palavras o que já foi dito. E não apenas com outras palavras,

mas também com outra estruturação sintática.

Normalmente, as bancas indagam se, nesse processo, a

coesão (correção gramatical) e a coerência (significado original do

texto) foram mantidas. É muito importante que esses dois aspectos sejam

respeitados na hora de parafrasear o texto original.

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Em nossa primeira reescritura (paráfrase) acima, note que não há

mudança do sentido principal do texto, que é a saudade da terra natal. Mas em

relação à paródia, há uma mudança significativa na coerência. O nome

“palmares”, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras. Há um

contexto histórico, social e racial neste texto. Palmares é o quilombo liderado

por Zumbi, foi dizimado em 1695. Há uma inversão do sentido do texto

primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil.

Outro exemplo de paródia é a propaganda que faz referência à obra prima de Leonardo Da Vinci, Mona Lisa:

Finalmente, entraremos na parte final da aula de hoje. Você deve

estar ainda mais cansado. Mas não desista agora, pois estamos no último

tópico deste encontro. Falta só um pouquinho. Trataremos de tipos de

discurso.

DISCURSOS DIRETO E INDIRETO

• Discurso Direto

No discurso direto, o narrador transcreve as palavras da

própria personagem. É comum aparecerem neste tipo de discurso os

chamados verbos de elocução, ou “de dizer” (dicendi) – falar, dizer,

responder, retrucar, indagar, declarar, exclamar etc. Além disso, usam-se

algumas notações gráficas que marquem tais falas:

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a) travessão;

b) dois pontos,

c) aspas.

Exemplos:

1. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria: “Às

vezes, sinto morosidade por parte da Justiça”. (por encerrar todo o período, o

ponto final deve ficar fora das aspas)

2. O advogado disse: “Às vezes, sinto morosidade por parte da Justiça”.

(esta forma deve ser evitada, sendo preferível a que se segue)

3. O advogado disse:

– Às vezes, sinto morosidade por parte da Justiça.

4. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria. “Às

vezes, sinto morosidade por parte da Justiça.” (repare que agora o ponto final

está dentro das aspas, pois encerra apenas a fala do personagem)

5. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria. “Às

vezes, sinto morosidade por parte da Justiça”, declarou ele.

6. Para o advogado, o processo não vem correndo como deveria. Segundo

ele, “Ás vezes, nota-se morosidade por parte da Justiça”.

• Discurso Indireto

O discurso indireto apresenta as palavras das personagens

através do narrador, que reproduz o que ouviu, podendo suprimir ou

modificar o que achar necessário. A estruturação desse discurso não carece

de marcações gráficas especiais, uma vez que sempre é o narrador que

detém a palavra. Usualmente, a estrutura traz verbo dicendi e oração

subordinada substantiva com verbo num tempo passado em relação à

fala da personagem.

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Exemplos:

1. Fala do personagem: – Preciso estudar mais.

Discurso indireto: Disse que precisava estudar mais.

2. Fala do personagem: – Não quebrei nada desta sala.

Discurso indireto: A criança afirmou à mãe que não tinha quebrado

(quebrara) nada daquela sala.

Atenção! Note as alterações feitas nas estruturas gramaticais da transcrição

indireta do discurso, como no tempo verbal (preciso, precisava; quebrei, tinha

quebrado ou quebrara), nos pronomes (desta, daquela).

Confira a tabela de transposição do discurso direto para o indireto:

Discurso Direto Discurso Indireto

1. Enunciado em primeira ou em

segunda pessoa: "Eu não confio

mais na Justiça"; "Delegado, o

senhor vai me prender?"

1. Enunciado em terceira pessoa:

O detento disse que (ele) não

confiava mais na Justiça; Logo

depois, perguntou ao delegado se

(ele) iria prendê-lo.

2. Verbo no presente: "Eu não

confio mais na Justiça"

2. Verbo no pretérito imperfeito

do indicativo: O detento disse que

não confiava mais na Justiça.

3. Verbo no pretérito perfeito:

"Eu não roubei nada".

3. Verbo no pretérito mais-que-

perfeito (simples ou composto)

do indicativo: O acusado defendeu-

se, dizendo que não tinha roubado

(que não roubara) nada.

4. Verbo no futuro do presente:

"Faremos justiça de qualquer

4. Verbo no futuro do pretérito:

Declararam que fariam justiça de

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maneira". qualquer maneira.

5. Verbo no imperativo: "Saia da

delegacia", disse o delegado ao

promotor”.

5. Verbo no pretérito imperfeito

do subjuntivo: O delegado ordenou

ao promotor que saísse da delegacia.

6. Pronomes este, esta, isto,

esse, essa, isso: "A esta hora não

responderei nada".

6. Pronomes aquele, aquela,

aquilo: O gerente da empresa

tentou justificar-se, dizendo que

àquela hora não responderia nada à

imprensa.

7. Advérbio aqui: "Daqui eu não

sairei tão cedo".

7. Advérbio ali: O grevista

certificou os policiais de que dali não

sairia tão cedo.

(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)

20. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa em que

se encontre a melhor redação da transposição da fala do primeiro balão

para o discurso indireto.

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(A) O homem rico disse ao homem pobre que o filho daquele era o com a

fitinha azul. E perguntou ao pobre qual era o deste.

(B) O homem rico disse ao homem pobre que o seu era aquele com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual era o dele.

(C) O homem rico disse ao homem pobre que seu filho era o com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.

(D) O homem rico disse ao homem pobre que o dele era aquele com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual filho era seu.

(E) O homem rico disse ao homem pobre que o filho dele era o com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.

Comentário – Quanto aos elementos gramaticais, não se percebe erro. As

transposições estão adequadas.

O problema surge em relação ao aspecto discursivo. Com

exceção da letra A, em todas as demais há ambiguidade causada pelo

emprego dos pronomes possessivos “seu” e/ou “dele” após dois referentes

capazes de satisfazerem a coesão textual (o filho com fitinha azul é do rico ou

do pobre?). Como o examinador exigiu a melhor resposta, esse aspecto deve

ser observado.

Para desfazer a tal ambiguidade, devemos utilizar outro

recurso coesivo: os demonstrativos aquele e este. Aquele retoma o primeiro

elemento mencionado, o que está mais distante (o homem rico); este retoma

o último elemento, o que está mais próximo (o homem pobre).

Resposta – A

Um grande abraço e fique com Deus!

Professor Albert Iglésia

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QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

(...)

A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa

liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo

axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade

a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.

Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a

consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,

pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o

melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras

possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está

dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto

significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação

normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.

(...)

(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)

1. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A escolha, a decisão, que é

manifestação de nossa liberdade, só é possível tendo por fundamento o

mundo axiológico.

Considerando o contexto da frase, o vocábulo sublinhado tem significado

equivalente a:

(A) das normas.

(B) dos mercados.

(C) dos indivíduos.

(D) das liberalidades.

(E) das verdades.

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2. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) De acordo com o contexto,

observa-se emprego não-literal de vocábulo ou expressão em:

(A) Isso não ocorre com os animais brutos.

(B) supõe a avaliação de múltiplos fatores.

(C) Na escolha não pode haver indiferença.

(D) o caminho escolhido mata outras possibilidades.

(E) O fenômeno ético não é um acontecimento individual.

(...)

A economia é um nível essencial da realidade histórica;

nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam

iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.

Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações

75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a

debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.

(...)

(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)

3. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) A palavra inexorável (L.73) só

não pode ser substituída, no texto, sob pena de alteração de sentido, por:

(A) implacável.

(B) indelével.

(C) inelutável.

(D) perituro.

(E) sempiterno.

(...)

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Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também

exercida por esferas de influência superiores. Quando uma

autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",

45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,

buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma

sanção.

(...)

(Jeitinho. In: www.wikipedia.org – com adaptações.)

4. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Observando a frase “buscará dissuadir a

autoridade ‘menor’ de aplicar-lhe uma sanção” (L.46-47), assinale a

alternativa em que a substituição da palavra sublinhada mantenha o

sentido que se deseja comunicar no texto.

(A) obrigar.

(B) desaconselhar.

(C) persuadir.

(D) convencer.

(E) coagir.

As categorias da ética

A vida humana se caracteriza por ser fundamentalmente

ética. Os conceitos éticos "bom" e "mau" podem ser predicados a

todos os atos humanos, e somente a estes. Isso não ocorre com

os animais brutos. Um animal que ataca e come o outro não é

5 considerado maldoso, não há violência entre eles.

Mesmo os atos de caráter técnico podem ser qualificados

eticamente. Esses atos sempre servem para a expansão ou

limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o que importa

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nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou

10 eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética

desses resultados.

A eficiência técnica segue regras técnicas, relativas aos

meios, e não normas éticas, relativas aos fins. A energia nuclear

pode ser empregada para o bem ou para o mal. Na verdade, ela

15 é investigada, apurada e criada para algum resultado, que lhe

confere validade. Não vale por si mesma, do ponto de vista ético.

Pode valer pela sua eventual utilidade, como meio; mas o uso de

energia nuclear, para ser considerado bom ou mau, deve referir-

se aos fins humanos a que se destina.

20 Vê-se, pois, que o plano ético permeia todas as ações

humanas. Isso ocorre porque o homem é um ser livre,

vocacionado para o exercício da liberdade, de modo consciente.

Sem liberdade não há ética. A liberdade supõe a operação sobre

alternativas; ela se concretiza mediante a escolha, a decisão, a

25 consciência do que se faz. Isso implica refugir à determinação

unilinear necessária, à determinação meramente causal. É a

afirmação da contingência, da multiplicidade. Diante da

multiplicidade de caminhos a nossa disposição, avaliamos e

escolhemos.

30 Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados

a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,

paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações

humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação

de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana

35 complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera

do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,

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entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,

mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.

Sob o ângulo especificamente ético, não haverá escolha,

40 exercício da liberdade, definição ética quando não houver

avaliação, preferência a respeito das ações humanas. Eis por

que na base da ética, como dissemos, encontram-se

necessariamente a liberdade e a valoração; a ética só se põe no

mundo da liberdade, da escolha entre ações humanas avaliadas.

45 A escolha, a decisão, que é manifestação de nossa

liberdade, só é possível tendo por fundamento o mundo

axiológico, tanto quanto este tem por condição de possibilidade

a liberdade. Não se pode estimar sem alternativas possíveis.

Na medida em que se escolhe, se avalia para obter a

50 consciência do que é preferido. Ao escolher um caminho,

pondera-se que, de algum modo ou sob algum prisma, é o

melhor em relação a outro; o caminho escolhido mata outras

possibilidades. Na escolha não pode haver indiferença. Ela está

dirigida à ação, à exteriorização, à tomada de posição. Isto

55 significa que a escolha, a decisão, nos leva à determinação

normativa ou imperativa de uma via em detrimento de outra.

O mundo oferece resistências e determinações necessárias

e, por meio destas, as ações éticas se realizam precisamente

enquanto as contrariam. As ações éticas brilham justamente

60 quando se opõem às tendências "naturais" do homem. Assim, a

liberdade não só se contrapõe à necessidade, como sua

negação, mas também existe em função desta. Não há liberdade

sem necessidade. Não há ética sem impulsão, sem desejo.

A melhor prova da liberdade é o esforço de superação da

65 necessidade, afirmando-a e negando-a dialeticamente, a um só

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tempo. Então, o mundo ético só é possível no meio social, no

bojo das determinações sociais.

O fenômeno ético não é um acontecimento individual,

existente apenas no plano da consciência pessoal. Isso porque o

70 ente singular do homem só se manifesta, como ser autêntico, em

suas relações universais com a sociedade e com a natureza.

Esse fenômeno é resultante de relações sociais e históricas,

compreendendo também o mundo das necessidades, da

natureza. A ética só existe no seio da comunidade humana.

75 e os meios de circulação econômica dos bens possuem maior

liberdade do que aqueles que não têm o poder desse controle.

Por aí se vê também que a liberdade e a ética não se reduzem a

fenômenos meramente subjetivos; elas têm sempre dimensões

sociais, históricas e objetivas.

80 Há, assim, um grande esforço, um esforço ético-político para

se obter uma distribuição igualitária dos direitos entre os

homens, quer dentro das comunidades, quer entre as

comunidades. Na verdade existe uma ética sobre a ética, uma

meta-ética. A meta-ética é utópica, crítica, subversiva e

85 transcende as condições mais imediatas da vida social. No

entanto, ela precisa ser possível no mundo dos fatos sociais, sob

pena de se perder como uma utopia de meros sonhos.

(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. In: www.centrodebate.org)

5. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A partir da tese defendida pelo

autor, é correto afirmar que:

(A) a ética é condicionante da existência humana e fundamenta qualquer tipo

de ação que envolva uma escolha entre “certo” e “errado”.

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(B) o conceito de ética aplica-se sobretudo aos seres humanos que praticam

atos de natureza técnica e atuam profissionalmente.

(C) a violência entre animais brutos decorre da inexistência de uma noção

ética que regule suas relações.

(D) as noções de “bom” e “mau” estão na base das organizações sociais,

sejam elas humanas ou não.

(E) o princípio ético que orienta os atos técnicos está menos nos seus

resultados e mais na própria concepção desses atos.

6. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Com relação aos terceiro e

quarto parágrafos, analise as afirmativas a seguir.

I. O objetivo principal do terceiro parágrafo é conceituar regras técnicas e

normas éticas.

II. O plano do terceiro parágrafo inclui uma exemplificação para sustentar a

tese anteriormente explicitada.

III. O início do quarto parágrafo apresenta uma conclusão acerca das ideias

apresentadas no terceiro.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

(B) se somente a afirmativa II estiver correta.

(C) se somente a afirmativa III estiver correta.

(D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

7. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da compreensão adequada de

conceitos apresentados pelo texto, analise as afirmativas a seguir.

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I. O senso-comum de liberdade é reconstruído e passa a incluir a noção de

que nem todos são livres na mesma medida.

II. O conceito de ética fundamenta-se numa perspectiva naturalista e põe em

segundo plano seu viés social.

III. As ideias de liberdade e obrigação não são concepções excludentes; ao

contrário, envolvem implicação necessária.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

(B) se somente a afirmativa II estiver correta.

(C) se somente a afirmativa III estiver correta.

(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.

(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

8. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Da leitura do quarto parágrafo,

deduz-se que o autor:

(A) afirma-se perplexo ante a unilateralidade das escolhas.

(B) contraria a ideia de liberdade como ação racionalmente concebida.

(C) opõe-se à aceitação do determinismo como fonte das ações humanas.

(D) defende a vocação como forma de realização pessoal.

(E) situa na determinação causal a origem da infelicidade humana.

Esquerda e direita no Brasil, hoje

Ninguém pode pretender negar diversos progressos no

movimento da história. A humanidade, hoje, se beneficia de

conquistas importantes na área da medicina, por exemplo.

Podemos ser operados com anestesia, suavizar dores com

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5 analgésicos. Dispomos de meios de transporte rapidíssimos,

helicópteros, aviões. Nossas casas têm luz elétrica, água

encanada, esgoto. Vemos filmes, acompanhamos seriados na

TV, ouvimos rádio. E, cada vez mais, utilizamos os

computadores, a internet.

10 Tal como está organizada, a sociedade gira em torno do

mercado, de acordo com um sistema que alguns chamam de

"economia de mercado", e outros, de "capitalismo". Até hoje,

não surgiu nenhum sistema tão capaz de fazer crescer a

economia. As experiências feitas em nome do socialismo não

15 manifestaram força própria suficiente para competir, no plano

do crescimento econômico, com o capitalismo.

O modo de produção capitalista não tem vocação suicida,

e nada indica que ele esteja a ponto de morrer de morte

natural. Seus representantes na arena política recorrem à

20 repressão quando necessário e fazem concessões quando

conveniente. Os trabalhadores têm feito conquistas

significativas, do século 20 para cá; visivelmente não sentem

saudades do tempo em que eram obrigados a jornadas de

trabalho de 12 horas.

25 Parte dos trabalhadores – mais que no passado – chega

mesmo a integrar-se à burguesia. Esse, porém, é um caminho

que só pode ser percorrido por poucos. Alguns progridem. Faz

parte da lógica do sistema, contudo, que as massas

permaneçam excluídas. A cooptação de setores da

30 representação política das classes médias está sendo mais

resoluta, mais eficiente. O individualismo característico dessas

confusas camadas intermediárias as torna muito vulneráveis à

sedução das classes dominantes.

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Temos uma situação histórica favorável ao bloco

35 conservador. Nas atuais condições, a direita vem

administrando suas contradições internas. A política

econômica do governo do PT, as posições neoliberais do

PSDB e as diferentes tendências reunidas no PMDB

tranqüilizaram a direita nos últimos anos. Tanto no PT como no

40 PSDB e no PMDB os líderes posicionados um pouco mais à

esquerda (não quer dizer que eles sejam de esquerda) foram

marginalizados.

A esquerda está desarticulada. O naufrágio da União

Soviética não arrastou só os partidos comunistas: mais de 15

45 anos se passaram, e o estilhaçamento ainda afeta

dolorosamente diversas organizações socialistas.

No Brasil, o quadro é complexo, angustiante. Há pessoas

de esquerda no PT, no PC do B, no PSB, no PDT e até no

PSDB. Há muita gente de esquerda circunstancialmente sem

50 partido. E há a valente iniciativa da senadora Heloísa Helena, o

PSOL. Mas ainda não há um programa alternativo maduro que

se contraponha à euforia do programa conservador, aplicado

por gente que foi de esquerda e aplaudido pela direita.

Nas atuais condições em que exerce a sua hegemonia, a

55 direita "moderada" conseguiu infiltrar seus critérios no discurso

da esquerda "moderada". Os "moderados" dão o estilo. O

conteúdo é dado pela "leitura" oficial da economia.

Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em

torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".

60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".

Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda

que os empurrava inexoravelmente para adiante, para

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promover a transformação das relações de produção e o

crescimento das forças produtivas.

65 A fé determinista na dinâmica da economia contribuiu

para que a esquerda tradicional, despreparada, sofresse contundentes

derrotas. Duras lições da história política

convenceram a esquerda a conviver com sua diversidade

interna, em sua luta pela ampliação das liberdades e pela

70 superação das desigualdades.

A economia é um nível essencial da realidade histórica;

nela, os seres humanos agem, fazem escolhas, tomam

iniciativas. Não há nada de inexorável em seus movimentos.

Os marxistas se dispuseram, então, a discutir as motivações

75 dos sujeitos que modificam a realidade objetiva. Passaram a

debater idéias extraídas de Gramsci, Lukács, Adorno.

Curiosamente, no momento em que os marxistas (e, com

eles, a esquerda em geral) sublinhavam a significação crucial

dos valores, da ética, a direita assumia a centralidade da

80 economia e passava a acreditar que possuía a chave da

compreensão correta (e da solução) dos problemas que nos

afligem no presente.

Essa chave é o instrumento simbólico mais eficiente da

ideologia dominante (que, como dizia Marx, é sempre a

85 ideologia das classes dominantes): é ela que insiste em nos

convencer que as desigualdades sociais são naturais, que não

há alternativa para o capitalismo, que o socialismo já foi

tentado e fracassou. É ela que sustenta que as liberdades

precisam se enraizar nas elites para depois, lentamente,

90 chegar ao povão. Empunhando a chave, com a costumeira

cara-de-pau, a direita pede paciência aos trabalhadores e

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promete que, com o tempo, eles vão se beneficiar de

melhores condições materiais de cidadania, tal como

aconteceu com as conquistas da medicina, os aviões e os

95 computadores, que demoraram, mas vieram.

Permito-me perguntar: vieram mesmo?

(Leandro Konder. Folha de São Paulo, 13/04/2006)

9. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa que

apresente comentário pertinente ao texto

(A) O texto apresenta um desabafo a respeito da situação política do Brasil,

apontando, perspicazmente, por comparação, os motivos por que não

teria êxito a instauração de um regime socialista.

(B) O texto discorre sobre a situação histórico-política internacional,

objetivando analisar especificamente o caso brasileiro no tocante à falta

de espaço para o surgimento de partidos políticos renovadores, capazes

de revelar o discurso falho da extrema direita.

(C) O texto reafirma a ineficácia do socialismo como forma de governo e

aponta, no capitalismo, tanto no cenário internacional quanto no

doméstico, a supremacia dos blocos moderados, de esquerda e direita,

ditando falaciosamente a democracia ao povão.

(D) O texto aponta, no cenário político doméstico, o processo de

desarticulação da esquerda, como resultado do fim do modelo socialista e

da supremacia da direita ao ditar a interpretação da economia.

(E) O texto questiona se os valores apontados como conquistas pela direita de

fato aconteceram, observando que a interpretação falaciosa da realidade

atraiu antigos esquerdistas a sobejarem teorias que explicassem as falhas

no processo democrático historicamente.

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10. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) O nono parágrafo, em

relação ao oitavo, apresenta-se como:

(A) explicação.

(B) exemplificação.

(C) complemento.

(D) desdobramento.

(E) oposição.

(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)

11. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Ao associar-se a charge com o

seu título, percebe-se que a interpretação é possível pela via:

(A) alegórica.

(B) fática.

(C) lúdica.

(D) metonímica.

(E) sofística.

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Jeitinho

O jeitinho não se relaciona com um sentimento revolu-

cionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo.

O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e

sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também

5 definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar

bem" em uma situação "apertada".

Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o antropólogo

Roberto DaMatta compara a postura dos norte-americanos e a

dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude

10 formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa

admiração e espanto aos brasileiros, acostumados a violar e a

ver violadas as próprias instituições; no entanto, afirma que é

ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de

educação adequada.

15 O antropólogo prossegue explicando que, diferente das

norte-americanas, as instituições brasileiras foram desenhadas

para coagir e desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é

naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é inadequada

à realidade individual. Um curioso termo – Belíndia – define

20 precisamente esta situação: leis e impostos da Bélgica, realidade

social da Índia.

Ora, incapacitado pelas leis, descaracterizado por uma

realidade opressora, o brasileiro buscará utilizar recursos que

vençam a dureza da formalidade se quiser obter o que muitas

25 vezes será necessário à sua sobrevivência. Diante de uma

autoridade, utilizará termos emocionais, tentará descobrir alguma

coisa que possuam em comum - um conhecido, uma cidade da

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qual gostam, a “terrinha” natal onde passaram a infância – e

apelará para um discurso emocional, com a certeza de que a

30 autoridade, sendo exercida por um brasileiro, poderá muito bem

se sentir tocada por esse discurso. E muitas vezes conseguirá o

que precisa.

Nos Estados Unidos da América, as leis não admitem

permissividade alguma e possuem franca influência na esfera

35 dos costumes e da vida privada. Em termos mais populares, diz-

seque, lá, ou “pode” ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que

é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples:

acredita-se que a exceção a ser aberta em nome da cordialidade

não constituiria pretexto para outras exceções. Portanto, o

40 jeitinho jamais gera formalidade, e essa jamais sairá ferida após

o uso desse atalho.

Ainda de acordo com DaMatta, a informalidade é também

exercida por esferas de influência superiores. Quando uma

autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor",

45 imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma,

buscará dissuadir a autoridade "menor" de aplicar-lhe uma

sanção.

A fórmula típica de tal atitude está contida no golpe

conhecido por "carteirada", que se vale da célebre frase "você

50 sabe com quem está falando?". Num exemplo clássico, um

promotor público que vê seu carro sendo multado por uma

autoridade de trânsito imediatamente fará uso (no caso, abusivo)

de sua autoridade: "Você sabe com quem está falando? Eu sou

o promotor público!". No entendimento de Roberto DaMatta, de

55 qualquer forma, um "jeitinho" foi dado.

(In: www.wikipedia.org – com adaptações.)

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12. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) De acordo com o texto, é correto

afirmar que:

(A) o jeitinho brasileiro é um comportamento motivado pelo descompasso

entre a natureza do Estado e a realidade observada no plano do indivíduo.

(B) as instituições norte-americanas, bem como as brasileiras, funcionam sem

permissividade porque estão em sintonia com os anseios e atitudes do

cidadão.

(C) a falta de educação do brasileiro deve ser atribuída à incapacidade de o

indivíduo adequar-se à lei, uma vez que ele se sente desprotegido pelo

Estado.

(D) a famosa “carteirada” constitui uma das manifestações do jeitinho

brasileiro e define-se pelo fato de dois poderes simetricamente

representados entrarem em tensão.

(E) nos Estados Unidos da América, as leis influem decisivamente apenas na

vida pública do cidadão, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde as leis

logram mudar comportamentos no plano dos costumes e da vida privada.

13. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Com relação à estruturação do texto e

dos parágrafos, analise as afirmativas a seguir.

I. O primeiro parágrafo introduz o tema, discorrendo sobre a origem

histórica do jeitinho.

II. A tese, apresentada no segundo parágrafo, encontra-se na frase iniciada

por no entanto.

III. O quarto parágrafo apresenta o argumento central para a sustentação da

tese.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

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(B) se somente a afirmativa II estiver correta.

(C) se somente a afirmativa III estiver correta.

(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

14. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Mesmo os atos de caráter

técnico podem ser qualificados eticamente. Esses atos sempre servem

para a expansão ou limitação do ser humano. Sob a perspectiva ética, o

que importa nas ações técnicas não é a sua trama lógica, adequada ou

eficiente para obter resultados, mas sim a qualificação ética desses

resultados.

No trecho acima, está implícita uma posição contrária à concepção de

neutralidade atribuída aos atos de caráter técnico. O instrumento

linguístico que permite a construção desse implícito é o emprego do

vocábulo:

(A) qualificados.

(B) limitação.

(C) mesmo.

(D) não.

(E) mas.

(...)

Na verdade, somos obrigados a escolher. Somos obrigados

a exercer a liberdade. Assim, a decisão supõe a possibilidade e,

paradoxalmente, a necessidade de estimar as coisas e as ações

humanas para atender as nossas demandas; supõe a avaliação

de múltiplos fatores que perfazem uma situação humana

complexa. Aí, portanto, temos também compreendida a esfera

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do valor. Não há liberdade sem valoração. Essa esfera,

entretanto, é muito ampla, pois envolve não só o mundo da ética,

mas também o da utilidade, da estética, da religião etc.

(...)

(Adaptado de ALVES, Alaôr Caffé. As categorias da ética. In: www.centrodebate.org)

15. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) O advérbio Aí, no quinto

parágrafo, refere-se ao processo compreendido nas etapas assim

apresentadas pelo autor.

(A) situação humana / múltiplos fatores / demandas

(B) liberdade / decisão / avaliação

(C) decisão / possibilidade / liberdade

(D) decisão / possibilidade / avaliação

(E) múltiplos fatores / demandas / ações humanas

16. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas alternativas a seguir,

ambas as expressões servem essencialmente à articulação sequencial das

ideias do texto, à exceção de uma. Assinale-a.

(A) pois / porque (4º parágrafo).

(B) assim / entretanto (5º parágrafo).

(C) quando / eis por que (6º parágrafo).

(D) mas também / então (9º parágrafo).

(E) por aí / sempre (11º parágrafo).

17. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) Nas atuais condições em que

exerce a sua hegemonia, a direita "moderada" conseguiu infiltrar seus

critérios no discurso da esquerda "moderada". (L.54-56)

A palavra seus no trecho acima tem valor:

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(A) anafórico.

(B) anastrófico.

(C) catafórico.

(D) hiperbólico.

(E) paragramático

18. (FGV/BADESC/ADVOGADO/2010) Assinale a alternativa que identifique a

composição tipológica do texto “Jeitinho”.

(A) Descritivo, com sequências narrativas.

(B) Expositivo, com sequências argumentativas.

(C) Injuntivo, com sequências argumentativas.

(D) Narrativo, com sequências descritivas.

(E) Argumentativo, com sequências injuntivas

(...)

Antigamente, eram os marxistas que polemizavam em

torno da economia, apoiados no "materialismo histórico".

60 Alguns chegaram a falar num "materialismo econômico".

Tinham a convicção de que estavam na crista de uma onda

que os empurrava inexoravelmente para adiante, para

promover a transformação das relações de produção e o

crescimento das forças produtivas.

(...)

(Leandro Konder. Esquerda e direita no Brasil, hoje. Folha de São Paulo, 13/04/2006)

19. (FGV/SEFAZ-RJ/FISCAL DE RENDAS/2010) A expressão na crista de uma

onda (L.61) tem origem no registro:

(A) burocrático.

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(B) culto.

(C) inculto.

(D) informal.

(E) regional.

(Angeli. www2.uol.com.br/angeli)

20. (FGV/SEFAZ-MS/FISCAL DE RENDAS/2006) Assinale a alternativa em que

se encontre a melhor redação da transposição da fala do primeiro balão

para o discurso indireto.

(A) O homem rico disse ao homem pobre que o filho daquele era o com a

fitinha azul. E perguntou ao pobre qual era o deste.

(B) O homem rico disse ao homem pobre que o seu era aquele com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual era o dele.

(C) O homem rico disse ao homem pobre que seu filho era o com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.

(D) O homem rico disse ao homem pobre que o dele era aquele com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual filho era seu.

(E) O homem rico disse ao homem pobre que o filho dele era o com a fitinha

azul. E perguntou ao pobre qual era o seu.