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1 Cidade do Futuro

Revista Questões - Ano 9 – Número 7 - Junho de 2012

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QUESTÕES é a Revista-Laboratório do Curso de Comunicação Social do INESP, instituto mantido pela FUNEDI/UEMG, publicado em ambiente web, de forma impressa e ainda em formato televisivo, veiculado semanalmente, aos domingos, na TV Alterosa. O Blog QUESTÕES é um espaço de experimentação dos alunos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda do Curso de Comunicação Social do INESP, um espaço onde, além de publicarem suas produções acadêmicas, os alunos interferem nos rumos do desenvolvimento local. Revista Laboratório do curso de Comunicação Social da FUNEDI/UEMG - Ano 9 – Número 7 - Junho de 2012.

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PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS (FUNEDI), UNIDADE ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS (UEMG) – Professor Gilson Soares - COORDENADORA GERAL DO INSTITUTO DE ENSINO SUPE-RIOR E PESQUISA (INESP) – Professor Fabrízio Furtado de Souza - COORDENADORA DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA FUNEDI/UEMG – Professora Janaina Visibeli - CORPO DOCENTE DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA FUNEDI/UEMG: Ana Paula Martins, André Flávio C. Rabelo, Batistina Corgozinho, Célia Pedrosa, Cristina Silva Gontijo, Elisângela Reis, Fabrízio Furtado de Souza, Fernando Oliveira, Flávia Lemos, Gerlice Teixeira Rosa, Gilson Raslan Filho, Janaina Visibeli, Márcia Helena Batista, Paulo César Pereira, Renata Loyola, Max Miller, Karine Mileib, Clara Alves Teixeira, Sânia Mascarenhas. DIAGRAMAÇÃO – Rafael Moreira (7º período) CAPA – Rafael Moreira (7º período) - EDITORIAL – Rafael Moreira (7º perío-do) - EDITORA – Professora Gerlice Teixeira Rosa - FOTOLITOS E IMPRESSÃO – Fumarc (Belo Horizonte – MG) - TIRAGEM – Mil exemplares (distribuição gratuita).

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIAAvenida Paraná, 3001, Bairro Jardim BelvedereCEP 35501–170 – Divinópolis (MG)E-mail:[email protected]:www.revistaquestoes.blogspot.com

Divinópolis, a cidade do futuro

Em meio às montanhas de Minas, no Centro-Oeste do Estado, ela surge imponente ditando as tendências da moda, acolhendo nos hospitais os adoentados da região e exportando força através do ferro fundido nas siderúrgicas da cidade. Divinópolis, que já foi conhecida como a “Princesinha do Oeste mineiro” já é centenária.

Em seus 100 anos de vida, a cidade que hoje tem cerca de 220 mil habitantes, tem milhares de faces e histórias. Quem hoje vê seus prédios altos e a multidão que frenética circula nas ruas do centro quase não consegue imaginar uma Divinópolis que, antes, tinha aproximadamente 50 famílias que viviam às margens do Rio Itapecerica e Pará.Nesta época, próximo à data de 1770, Divinópolis era chamda de Espírito Santo do Itapecerica. A maior potência do Centro-Oeste já foi distrito e demonstra como a cada dia é possível crescer e tornar-se referência. Somente em 1912 conseguiu sua emancipação política e administrativa.Como uma mãe, com seus braços abertos, Divinópolis sempre acolheus seus filhos, naturais, ou adotivos, pois são muitos os que escolheram esta terra como lar.

Pessoas que vieram para a cidade do Divino e cresceram junto com ela, como o empresário e líder industrial, Jovelino Rabelo que se mudou para Divinópolis em 1915 ou o Dr. Sebastião Gomes Guimarães, médico que na década de 1940 instalou seu consultório na cidade e salvou milhares de pessoas.Olhando para este berço cercado de crescimento e este passado marcado pela personalidade de seus homens e mulheres, não é difícil imaginar um futuro pleno.

A Divinópolis de 2012 tem em sua população seu maior legado, assim como no passado. O desejo de crescer e o sonho de ter um futuro melhor é o que se enxerga nos olhos de milhares de pessoas que andam em passos largos e firmes rumo a um novo horizonte. É o que se escuta quando chora uma criança que acaba de nascer pronta para carregar em sua identidade a marca de uma cidade.Divinópolis é assim feita de pessoas que às vezes estão longe dos holofotes da mídia, mas traçam metas revolucionárias para novas gerações pelo simples fato de terem uma boa ideia na mesa de uma bar.“Ah”e como não falar dos bares, são tantos e com tantas histórias. O ponto de encontro da boemia divinopolitana, lugar de onde surgiram os grandes amores que geraram os frutos que hoje permeam esta terra.Divinópolis é assim, cosmopolita. Não dá pra ser diferente. Porque a cidade do futuro aprendeu a ser irreverente. Seja noite, seja dia, o pequeno povoado do Espírito Santo do Itapecerica desconhece a força do tempo, pois imortaliza seu passado como fez com Antônio Olímpio de Morais, Ivan Silva, Halim Souki. O que resta a esta Divinópolis é esperar os novos nomes que vão traçar um novo futuro.

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A Princesa do oeste no turbilhão da modernidade5Olhar empreendedor. Forasteiros avistam em Divinópolis um

lugar propício para se começar um negócio.

Em busca do Novo: Um recorte do cenário musical de Divinópolis

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O desamparado bugre:

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Milhares de fiéis se reúnem semanalmente no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no bairro Bom Pastor, em

busca de momentos de oração e fé.

Cresce a procura de idosos por atividades voltadas para a conservação da saúde e aumento da expectativa de vida

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Faber Clayton Barbosa¹ Karine Mileibe de Souza² Victor Pereira Nunes³

O centenário de emancipação política de Divinópolis representa um marco histórico importante para pensar-mos a cidade e sua relação com o núcleo urbano ante-rior a 1912, o Arraial do Espírito Santo do Itapecerica. O crescimento de Divinópolis é sempre associado à ferro via e a ferrovia é associada ao imaginário da modernidade. A modernidade era a palavra de ordem do fim do século XIX e início do XX, a chamada Belle Époque (bons tem-pos). Os avanços tecnológicos e as descobertas científicas modernas trariam conforto e longevidade à vida moderna, anulariam as fronteiras unindo os seres humanos. A moderni-dade acenava com a promessa de progresso material, ansiado e perseguido. E a ferrovia seria capaz de tirar o Brasil do atraso e levá-lo ao progresso vivido pelos países europeus. Em 1890 a ferrovia chegou ao Espírito Santo do Itapecerica e o trânsito de pessoas deu mais mobilidade ao comércio. Novas relações sociais e econômicas se fizeram presentes. A população, exclusivamente católica e ligada a atividades agrícolas, passou a conviver com pessoas de outras crenças e ideias . O desenvolvimento econômico teria animado a elite política local a trabalhar pela emancipação do Arraial, o que aconteceu em 1912. Divinópolis é lançada no turbilhão da modernidade , perseguindo o ideal de progresso. Prova disso é o traçado da parte nova da cidade, com ruas largas e plano cartesiano, inspirados nas capitais brasileiras e europeias. A pedido do presidente da Câmara, Antônio Olímpio de Mo-raes, O Dr. José Berredo, engenheiro-chefe da ferrovia e sua equipe, levantaram a planta e traçaram a cidade do modo que ainda se vê hoje. O fato de aplicar-se à Divinópolis uma or-ganização urbanística passou a gerar na época a ideia de mo-vimento e atrair pessoas de diversas regiões. Como destacou Maria Veloso “A cidade como espaço público, ou seja, como lugar de comunicação de diferentes grupos sociais, apre-senta mutações, já que esses diferentes grupos estão fazen-do apropriações distintas desse espaço” (VELOSO, 2001). A cidade parecia encantar os viajantes, especialmente

os que conheceram o antigo arraial. O jornal da ci-dade comenta um artigo escrito no jornal Itapecerica:

Todo mineiro que vê com ufania o progresso e o desenvolvi-mento do seu Estado, sente verdadeiro prazer em tocar, ao me-nos rapidamente, em cidades como Divinópolis. (...) É uma ci-dade que se fez como que por encanto. Ha 12 annos conheci o velho arraial de Espírito Santo do Itapecerica com ruas tortuo-sas, mal tratadas, casas de architectura sem esthetica (...).; pois bem, elevado a villa, ligado à capital e ao “hinterland” pelas paralellas de aço, a metamorphose foi rapida, a mudança as-sombrosa. Surgiu esta vasta e moderna cidade, de ruas largas, bem alinhadas (...). Construiram optimo Grupo Escolar, Fórum, Theatro, casa para Cinema, Templo Methodista, e está em con-strucção imponente predio para collegio sob a direcção dos frades franciscanos, fabrica de banha, de doces, de sabonetes, serraria a vapor, machinas de beneficiar arroz e café. Além das importantes officinas da Oeste onde trabalham para mais de 600 operarios. (...). O commercio é muito movimentado. Há casas atacadistas de 1ª ordem e muitas de varejo, nas quaes se encon-tram todos os artigos usados por pessoas de tratamento. (...). (A ESTRELLA DA OESTE, 1924. N ° 83, ano III, pg. 01/02). A cidade precisava se livrar do passado de arraial de ruas tortas. Nos primeiros anos, a cidade cresceu aparatada do arraial, que somente na década seguinte começou a sofrer alterações urba-nas. Em 1925, o jornal Estrella da Oeste traz em sua primeira página uma reportagem intitulada “Na vertigem do progresso – as muitas construções da parte velha – o chafariz do Largo da Matriz – pela Divinópolis a cidade-capital do Oeste de Minas!” O autor se admira com o crescimento da cidade na chamada parte velha e não apenas na parte planejada e construída após 1912. A parte velha da cidade “parece não dormir mais sobre a tradição que vem do remoto Espírito Santo do Itapecerica, esquecida da protecção – remoça-se ella hoje milagrosamente, sob um céo mineiro que fala á alma e ao coração!” (A ES-TRELLA DA OESTE, 1925. N ° 115, ano III, pg. 01/02). Aos olhos do pensamento moderno que dominava a cidade, o Arraial passou a ser visto como o símbolo do atraso, em con-

Foto: Rafael Moreira

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traponto à parte nova da cidade, que representava o progresso. É esta representação do arraial que chegou até nossos dias.

Referências:AZEVEDO, Francisco Gontijo. AZEVEDO, Antonio Gon-tijo. Da história de Divinópolis. Divinópolis, Graphilivros Editores, 1988.BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar:

a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Le-tras, 1986. CORGOZINHO, Batistina Maria de Sousa. Nas linhas da modernidade: a passagem do tradicional ao moderno no cen-tro-oeste de Minas Gerais. Divinópolis: MG, 2003.VELOSO, Mariza. Espaço público, estética, política e memória. Texto apresentado no GT Cultura e Arte Contem-porânea, Caxambu, Anpocs, 2001.

¹Historiador da Prefeitura Municipal de Divinópolis.²Historiadora da prefeitura Municipal de Divinópolis. Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais pela FUNEDI/UEMG. Docente da FUNEDI/UEMG.³Estudante do 4º período de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Itaúna. Estagiário da Gerência de Memória e Patrimônio da Prefeitura Municipal de Divinópolis.Sobre o assunto, ver: CORGOZINHO, Batistina Maria de Sousa. Nas linhas da modernidade... . Ver BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar:...

Foto: Rafael Moreira

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Muitos forasteiros avistam em Divinópolis um lugar propício para se começar um negócio. Quais os impactos desses empreendimentos na economia de Divinópolis? E como a cidade acolhe esses estrangeiros?

Por Juliana Faria e Marina Alves

A origem de Divinópolis se deve aos imigrantes que vieram em busca de tra-balho na ferrovia. A Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) inaugurou sua primeira estação em 30 de abril de 1890 no, até então, Arraial do Divino Espírito Santo. A partir desse momento o ideal de um novo mundo motiva a ch-egada de estrangeiros à cidade. Graças à instalação do entroncamento férreo da EFOM em 1910 no Arraial, o pov-oado viu aumentar suas possibilidades de emancipação política. Essa eman-cipação foi adquirida em 1º de junho de 1912. Divinópolis emancipou-se e cresceu graças àqueles que deixaram suas terras e vieram trabalhar aqui. “Se não fossem estas pessoas vindas de fora, não teríamos Divinópolis, uma ci-dade formada por imigrantes. A maior parte da população acima de 50 anos é de fora da cidade,” explicou o Secre-tário de Desenvolvimento Econômi-co de Divinópolis, Rodrigo Resende.Divinópolis cresceu ao redor da via fér-rea e a maioria dos trabalhadores que de lá tiravam seu sustento, foram recrutados ou vieram por conta própria em busca de uma nova vida. Nesta época, pode-se dizer que não receberam a devida hospi-talidade dos moradores locais, uma vez que os imigrantes possuíam emprego e renda fixa, além de hábitos mais lib-erais e uma alegria característica. Já os naturais da cidade eram predominant-emente do meio rural, o que não lhes garantia um ordenado fixo e caracter-izavam-se por relações pessoais frias, paternalistas e com grande influência da Igreja Católica. Dentro da cidade, os

trabalhadores depararam-se com muito trabalho a fazer, e o fizeram. Com or-gulho imprimiram sua marca na cidade que hoje é um grande mosaico de Minas.Hoje, Divinópolis é uma das cidades pólo do centro-oeste mineiro, e po-demos notar que 100 anos depois, a influência dos imigrantes ainda é

grande, e o mais importante, as pes-soas continuam deixando suas cidades, acreditando que existe um bom futuro para elas aqui, tanto para os estudos quan-

to para o trabalho, e alguns inclusive para gerar emprego. São os empreendedores forasteiros. E ao contrário do que se via antes, hoje esses imigrantes são bem recebidos pelos habitantes originários.Alessandro Firmino Mascarenhas deix-ou a cidade de Oliveira no centro-oeste mineiro, há seis anos, para atuar em sua área de formação, ministrando aulas de nutrição esportiva no campus da Unife-nas em Divinópolis e também para ad-ministrar uma academia de ginástica já tradicional na cidade. Ele que já pos-suía uma academia em Oliveira, en-carou o desafio de assumir a direção e coordenação da Academia Debian Fit-ness. “Eu vim para Divinópolis em bus-ca de novas oportunidades de mercado, tendo em vista que nossa empresa em

Alessandro Firmino Mascarenhas há 5 anos deixou Oliveira para empreender na cidade de Divinópolis.

Foto: Juliana Faria

“O fato de aplicar-se à Divinópolis uma organizaçãourbanística passou a gerar na época a ideia de movimentoe atrair pessoas de diversas regiões”

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Oliveira não ia muito bem na ocasião”, contou Alessandro. E completa. “É um mercado muito promissor. O seguimen-to do fitness está em crescimento com vários empreendedores investindo na área de equipamentos, tecnologia (soft-wares), academias e clubes com modal-idades esportivas diversificadas, aten-dendo a um público bastante amplo”.

Manuel Ernesto Guzman sempre teve gosto pelo desconhecido, deixando seu país de origem, o Chile, ainda jovem para trabalhar em São Paulo. Mudando-se para o Brasil, Manuel teve que lidar com dificuldades ainda maiores como o clima do novo país e a língua, já que na época, ele ainda não dominava o por-tuguês. Porém se encantou mesmo foi por Minas Gerais e por Divinópolis, onde fez muitas amizades e alianças. Com o apoio destas alianças, da comu-nidade e com muita força de vontade de fazer crescer, Sr. Manuel fundou a Somasa, e hoje é um dos maiores fab-ricantes nacionais de Ferramentas para perfuração de solo (FPS). “Eu deixei o Chile em 1975 e trabalhei em uma empresa americana por dez anos. Após esses dez anos eu fiz uma escolha: Eu não gosto de rotina. E assim decidi sair da empresa”, contou o senhor Manuel. Tanta mudança implica também difi-culdades. “A mudança, se eu falar que foi fácil é mentira. Em nenhum mo-mento foi fácil. Imagina você sair de uma cidade e ir pra outra, muda tudo. Agora, imagina sair de um país? Eu não tinha noção nenhuma de portu-guês. A única palavra que sabia falar era ‘obrigado’”, explicou o chileno.Divinópolis é conhecida por seu po-tencial em siderurgia, confecções e prestação de serviços, além de ter o comércio aquecido. A partir dessa re-alidade, várias pessoas como o Ales-sandro e o Sr. Manuel, enxergam a cidade como um meio lucrativo de se

De uma cidade à outra. De um país a outro.

abrir uma empresa. Assim, esses imi-grantes contribuem para o crescimento do município ao gerar emprego e renda. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Di-vinópolis possui um PIB anual superior a 500 milhões de reais com a partici-pação de empreendimentos cujos do-nos são provenientes de outras cidades. “Além da explosão demográfica que Divinópolis experimentou nas últimas décadas, graças ao desenvolvimento da siderurgia, capitaneada pela Ger-dau, a cidade transformou-se, ape-sar de jovem, em cidade-pólo de uma vasta região do Centro-Oeste de Minas Gerais”, apontou o Economista e Espe-cialista em Gestão Estratégica em Fi-nanças, Professor Paulo César Pereira.No entanto, o economista indica que para se fazer crescer e expandir sua economia, uma cidade necessita de uma política pública e organização do espaço urbano que facilite a criação e ampliação de empreendimentos. “A construção de sinergia entre políticas é

um dos requisitos mais importantes das boas políticas regionais. Governo, so-ciedade civil e setor privado devem, por-tanto, caminhar juntos neste esforço”.A frente da secretaria de Desenvolvi-mento Econômico, Rodrigo Resende, falou das ações públicas no sentido de viabilizar o empresariado, inclu-indo os estrangeiros: “A secretaria de Desenvolvimento Econômico junto à prefeitura possui diversos projetos para incentivar a vinda de empreend-edores, entre eles a ampliação dos dis-tritos industriais, tanto de Ermida/Santo Antônio dos Campos quanto do bairro Icaraí, além do plano de criação de no-vos distritos.”, elucidou o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Di-vinópolis e emendou: “A prefeitura é parceira destes empresários tanto que quando os distritos foram construídos, ela repassou os terrenos para as em-presas como dação em pagamento, por isso hoje temos tantas grandes empre-sas instaladas no centro industrial”.Infraestrutura é um assunto importante

A Academia Debian Fitness está há 5 anos sob o comando do oliveirense Alessandro e conta com um quadro de 19 funcionários.

Foto: Juliana Faria

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ma quantidade de hospitais e escolas”.Mas é justamente daí que vem a von-tade de empreender e melhorar uma cidade e é nisso que Guzman acredita: “Todos os lugares têm seus problemas, eu sou uma pessoa que gosta muito de trabalhar, de atender muito o so-cial. Metade da população do bairro Pedregal, próximo a comunidade de Santa Cruz, trabalha na Somasa e isso ajuda a cidade, pois gera emprego, gera renda, o mercado vende, o açougue vende, o boteco vende, então movi-menta a economia”, explicou o chileno.

Tanto Alessandro quanto Manuel tiveram suas dificuldades, mas hoje se sentem em casa em Divinópolis. “Hoje me sinto um divinopolitano, me adapt-ei a sua cultura, ciclo de crescimento econômico, atividades de lazer e criei um laço de amizade muito grande com meus fornecedores que hoje se tor-naram amigos”, contou o oliveirense. Já o chileno se vê dentro da cidade “como uma pessoa realizada” e disse defender a cidade de comparações in-justas: “Divinópolis é uma cidade que eu adoro. Eu acho que sou mais divi-nopolitano que muita gente aqui. Vem gente de fora pra cá, pra Divinópolis,

Divinopolitanos de coração.

quando se fala de investimento em uma cidade o que pode por vezes desacredi-tar o empresariado, “Um dos fortes obs-táculos que prejudicam esse ciclo virtu-oso em nossa economia como um todo, com reflexos nos vários municípios brasileiros, é a ausência de “infraestru-tura adequada” para um desempenho favorável do crescimento e desenvol-vimento econômico, como a precar-iedade em todos os níveis do setor de transportes, energia insuficiente para atender a demanda do setor produtivo, mão de obra desqualificada, carga tribu-tária excessiva, dentre outros”, emen-dou o economista Paulo César Pereira.Senhor Manuel chegou a Divinópolis na virada da década de 70 para 80, em um momento crítico, quando as empresas de energia, telefonia e saneamento esta-vam se instalando na cidade. “Aqui tava uma zona”, disse. A cidade começava a se estruturar para poder crescer, porém, se a cidade cresceu em um sentido, aponta-se a precariedade em outros: “Eu acho que Divinópolis é uma das cidades que mais crescem no Brasil a nível de população, porque na infraestrutura não cresceu muito não. Falta escola, hos-pital, moradia. Tem 37 anos que moro aqui, naquela época a população era 70.000, hoje triplicou e temos a mes-

que fala mal da cidade, aí eu defendo, compro briga mesmo!”, exclamou o chileno declarando seu amor à cidade.Gostar de um lugar é querer bem aque-le local. A forma encontrada por estes dois personagens para declarar seu bem-querer pela cidade foi investir em Divinópolis, desse modo, ambos os empresários atingem suas metas finan-ceiras e acabam por ajudar no cresci-mento do município. Mas não basta apenas querer para chegar aonde estes forasteiros chegaram, para o chileno senhor Manuel, o segredo da empresa e do empreendedor está na persever-ança, na constância, honestidade e se-riedade. “Você tem que fazer sua parte para depois ter a recompensa”, afirmou. O oliveirense Alessandro aponta a intu-ição e foco em suas crenças para chegar ao seu objetivo. “Empreender é enxer-gar nos problemas as oportunidades, é captar pessoas certas para as tarefas es-senciais e aprender a delegar e liderar sem o poder nas mãos”. E finalizou. “O empreendedor sempre estará exposto, não pode ter medo de errar e ser criti-cado, porém, tem que aprender a aceitar o erro como um processo de apren-dizado e evoluir com a ajuda das pes-soas certas, com pensamentos positivos, atitudes positivas e muito, muito suor”.

Ilustração: Jéssica Lemos.

Sr. Manuel deixou o Chile para viver no Brasil há mais de 30 anos e se encantou pela cidade do Divino.

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#futurodigital

Divulgação

Hoje pela manhã uma cena me roubou a atenção e me fez refletir. Vi o prefeito de Divinópolis, Vladimir Azevedo, visitando uma escola infantil e as crianças curio-sas perguntavam: “o senhor estudou aqui?” Os olhos brilhavam. “Sim, estudei”, respondeu o líder municipal.

A Escola Municipal Bom Pastor tem mais de 40 anos de estrada, uma história de sucesso por oferecer uma qualidade de ensino e ter um ex-aluno prefeito. As curiosas crianças lançaram-me uma questão: que futuro elas iram oferecer para a centenária Divinópolis? Questionei.

Para mim, um futuro digital.

Recentemente fiz um curso em Brasília e o palestrante italiano, representante do Vaticano, padre Antônio Spadaro, foi categórico em afirmar que a internet não é uma ferramenta, mas um ambiente onde vivemos e nos relacionamos. Ele nos levou a perceber que a diferença entre o real e o virtual é inexistente pois estamos naturalizando a vivência dos atos do cotidiano na internet e na vida propriamente dita. Complicado? Vamos juntos!

As crianças da escolinha lá no bairro Bom Pastor ganharam um presente do gov-erno municipal, uma super sala de informática. Detalhe: as crianças matriculadas lá têm entre quatro e oito anos!!!

Eu não sei se é porque relembro agora minha época de pré-escolar e neste período computador era algo tão surreal, já que o tempo na escola era recheado de educação física, cantigas, brincadeiras, e confusões de criança (confesso: eu era terrível).

Ver crianças de cinco, seis, sete anos frequentando na escola infantil aulas de informática, me impulsiona a perceber que aquele ditado antigo “o hábito faz o monge” levou as crianças a crescer num mundo digital, onde se relacionar com as máquinas é algo natural, e isso com certeza impulsionará o futuro delas e conse-quentemente de Divinópolis a se virtualizar. Se no pré-escolar elas têm acesso à informática, imagine na idade adulta?

Que Divinópolis teremos daqui a 20 anos?

Se depender de crianças conectadas teremos uma sociedade cada dia mais online, tecnológica. Será que isso é bom? Bem, aí outro dia conversamos.

Até a próxima!

Por Fabio Machado

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No cenário múltiplo da cidade passagem Divinópolis, muitos jovens nativos ou forasteiros, transitam, discutem e produzem sempre novas ideias, discursos e conteúdos. A Princesinha do Oeste sempre foi ligada à juventude, que passa por suas ruas em busca de novas oportunidades profissionais, estudo e capacitação. Cidade ligada à juventude, cidade conectada à música, por consequência.

O país do futebol pode ser considera-do também o país da música, afinal o Brasil é marcado por belas notas mu-sicais. Em Divinópolis esta realidade não é diferente, a cultura musical re-cebe a cada ano novas vozes, grupos, bandas, duplas e trabalhos individuais com produção autoral ou simples re-produção de um gosto musical. Mani-festar-se através da música pode signifi-car diversão ou uma busca profissional. Um personagem que surge nessa história de envolvimento com a música é Erik Rizzatto. Jovem músico, nascido em uma família de apreciadores da músi-ca, faz dela parte essencial em todas as horas do dia. A paixão pela música sur-giu desde cedo e foi sendo aprimorada através do estudo de seu primeiro in-strumento, o violão. Aos 13 anos mon-tou sua primeira banda, The Hivers. Ele já se arriscava no segundo instru-mento, o teclado, e fazia backing vocal.“A gente fez alguns shows e era bem legal. A gente se empenhava muito, ensaiava muito, mas não deu certo...”, lembra o músico o seu primeiro pro-jeto. Erik diz que o grupo enfrentou muitas dificuldades de formação, pois

era difícil encontrar na cidade bateris-tas, baixistas e guitarristas, em um mo-mento em que o violão estava em alta. Rizzatto sempre gostou de compor. Aos 14 anos já arriscava suas primeiras letras e melodias, tudo registrado em cadernos até hoje guardados como lembrança e termômetro de sua evolução musical. Foi na banda Trevos, seu segundo pro-jeto, que o músico teve a oportunidade de participar do desenvolvimento de trabalhos autorais pela primeira vez. A timidez, segundo ele, foi seu primeiro empecilho. Ao rompê-la pode incluir no repertório da banda uma de suas com-posições, “Me render”. Também na Trevos, Erik encontrou a oportunidade de se tornar cantor. “Era bem precário, desgastava bastante a voz, era mais na raça, não tinha muita técnica...”. Com o tempo a Trevos também acabou.Foi então que em meados de 2010 ini-ciou sua trajetória com a banda Jokie. O nome surgiu de uma longa discussão en-tre Erik e o baterista Diego, inspirada no personagem Jocker, do filme Batman. A escolha Jokie se deu pensando no futuro. O nome da banda seria a única resposta quando fosse procurada na internet. A

Por André Camargos e Josiele de Souza

Foto: André Camargos

Erik, assim como outros músicos, encontrou na internet um jeito mais

fácil e barato de promover o trabalho de sua banda. Ele divulga seu trabalho musical na internet, principalmente nas redes sociais

como Twitter e Facebook.

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singularidade deu certo. Os demais in-tegrantes da banda Jokie também par-ticipavam de outro projeto antes de se unirem a Erik. A banda recebia o nome de Djavu “bandinha de trabalhos auto-rais, só de cover, e de garagem mesmo”. A bagagem de Erik na banda Trevos foi decisiva para que a Jokie não se tornasse apenas mais uma no cenário de covers de Divinópolis, uma cidade marcada por este estilo. Nas décadas de 80 e 90, Divinópolis atravessou um intenso processo produtivo. Algumas bandas e seus protagonistas foram ex-tremamente presentes durante a passa-gem da primeira para a segunda metade da década de 1990, como conta Guil-herme Leonel, professor e músico, que acompanhou este desenvolvimento.

Das antigas

Guilherme Leonel, mais conhecido como Guite, nasceu em Divinópolis em 1978 e ficou na cidade até o ano de 1996. Durante a década de 90 ele ini-ciou alguns projetos musicais na cidade. Na infância e adolescência gostava de rock, punk rock e pós-punk. O tempo passou e a sua base musical continua a mesma, mas a sua discoteca foi am-pliada. “Com o passar do tempo min-has referências foram se ampliando de forma exponencial, sendo impossível definir a quantidade e qualidade de informação musical por mim mane-jada em termos de ‘estilos’”, diz Guite.Entre 1996 e 2004 viveu em Belo Hor-izonte e depois em Ouro Preto - sem-pre à frente de projetos musicais. Re-tornou a Divinópolis em 2004, onde se instalou até o ano de 2009. “Foi o período mais profícuo da minha produção musical, decorrente de uma certa maturidade artística/intelectual/musical, atuando em projetos como Vó Cabocla, Modal e Gravatório”, conta.Guite relembra algumas dificuldades que vivenciou em Divinópolis. “Não tín-hamos nenhum apoio. Com a falta de ca-

sas de shows, tocávamos de graça quase sempre em festas, festivais precariamente organizados por nós e nossos pares”.“Na década de 90 nos promovíamos através dos zines (xerocados), vendía-mos demos (em tape); participávamos de alguns programas de TV - de vida curta - na TV Candidés, e da famigerada rádio pirata Ablué. Já nos anos 2000, a divulgação se dava inicialmente com a venda de CDs produzidos pelas bandas, e posteriormente com a distribuição gratuita de seus trabalhos através da crescente rede da internet”, diz Guite. Alguns destes músicos obtiveram grande destaque neste período como a Usina Gravatá. A formação de bandas/projetos, como o Lupe (guitar band ex-celente, com duas demos registradas de alta qualidade para a época) e o projeto Habitantes (do artista plástico Gedley Belchior). Paralelamente, outros jovens - associados a este mesmo grupo de colegas - desenvolviam outras bandas, como a guitar band Flower, a banda do gênero psychobilly, The Catchup Boys, além do artista Jubarba, que já ensaia-va um pop rock com acento brasileiro.

Guite destaca ainda em seu relato a figura de Jeferson Kaspar, que coman-dava o Kaspar Zine em Divinópolis, com repercussão no Brasil e no exte-rior. “Ele foi um dos protagonistas do principal festival de rock independente organizado em Divinópolis, o P.O.D. Mais tarde, em Belo Horizonte, seria um dos responsáveis pelo selo, loja e produtora, Motor Music, uma das maiores agitadoras culturais de Minas e do Brasil nos fins da década de 1990 e início dos anos 2000, promovendo zilhares de shows de bandas alternati-vas internacionais no Brasil, festivais, distribuição de discos de gravadoras underground americanas, e publicação de alguns títulos como Tortoise e Sea-weed no mercado de discos nacional”. Guilherme Leonel ressalta a mudança de cenário frente à chegada dos anos 2000, período em que a cena já era bastante diversa. “A internet e a am-pliação do acesso à mídia e bens de consumos duráveis, como os instru-mentos, alteraram de forma poten-cial o cenário. A produção cresceu em quantidade, com incontáveis bandas”.

Foto: André Camargos

“Divinópolis estava muito pobre de eventos voltado para o rock, mas graças a Secretaria de Cultura temos a rua do rock, que é um apoio para as bandas de Divinópolis e região”,

diz o Erik, vocalista da Banda Jokie.

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Segundo o músico, a cultura cover e a falta de interesse da juventude e dos produtores culturais da cidade repre-sentam um problema no contexto mu-sical. “Como consequência disso, te-mos uma frágil cadeia de divulgação e de espaços (principalmente públicos) para dar publicidade a esta produção genuína. Acredito, em suma, que se há bandas fazendo um trabalho au-toral, numa cidade impregnada pela cultura cover, já está valendo. O que cada um pensa destas bandas é irrele-vante, cada uma achará o seu público.”Em 2005 Guite, com o apoio de alguns companheiros de projetos musicais, cri-ou um selo virtual, chamado Gravatório, para que fosse possível a distribuição de seus discos e outros projetos na inter-net, divulgando informações adicionais sobre os trabalhos e seus integrantes.

Selo Gravatório: uma alternativa de divulgação

Lançado em 2005 pelo músico e his-toriador Guilherme Leonel (Guite), o selo musical Gravatório é um exem-plo de que iniciativas independentes podem ser bem sucedidas e, também, duráveis com o passar dos anos. O selo foi lançado para divulgar em um único espaço virtual os trabalhos musicais pessoais de Guite e de seus amigos com a finalidade de manter públicos e com livre acesso os arquivos de músicas. “Pensamos que a forma mais inteli-gente de facilitar a localização de tais conteúdos na net era centralizando to-dos estes sites em um só. O Gravatório veio, no meu entender, como uma forma de agregar valor em termos de uma identidade mais local. Desta for-

ma, uma vez que o internauta se interesse por qualquer uma das bandas dali, terá obrigatoriamente que “trombar” com os outros trabalhos ali ex-istentes e poderá eventualmente se interessar por eles”, explica Guite.Entre os estilos que o Gravatório divulga, não existe um segmento espe-cífico. Os trabalhos divulgados variam entre música eletrônica, música brasileira, rock experimental, punk rock, pop rock e post hardcore. “Os únicos critérios são: fazer um trabalho autoral e fazer um trabalho com singularidade estética, ou seja, que não seja derivativo de nenhum out-ro artista, gênero e estilo”, explica Guite sobre a divulgação no site.Por volta de 2008 o selo chegou a um impasse: profissionalizar-se e crescer como business, ou ser apenas uma plataforma de publicação dos trabalhos. “Optamos pela segunda alternativa em função de nossas atribuladas vidas profissionais, acadêmicas e artísticas”, diz Guite.Mesmo sendo um projeto inovador para a época em que foi lan-çado, o selo nunca contou com apoio financeiro vindo de fora. Mesmo sendo poucos os gastos, são os próprios fundadores quem viabilizam o projeto. “O selo é totalmente indepen-dente e bancado pelos nossos empregos e vontades. A via-bilização está no fato de termos feito algo ao mesmo tem-po minimalista, mas extremamente funcional. Os custos são mínimos. Basicamente o custo anual do domínio e da hospedagem. O site foi produzido por um dos sócios na empreitada, dono de um dos projetos mu-sicais ali divulgados, Cristian Romanelli (do pro-jeto eletrônico Dois mil anos para isso). Usamos o que há de melhor em nossas capacidades: pro-gramação de web, produção de conteúdos jor-

nalísticos intelectuais, produção musical e, claro, uma boa dose de boa vontade e seriedade pra manter o site no ar inin-terruptamente há sete anos”, comemora.Atualmente, são 12 bandas com trabalhos publicados no site. Há bandas de outras cidades mineiras e aquelas que já não continuam suas atividades, mas deixam lá seus registros. Bandas como Dois mil anos pra isso, Modal, Vó Cabocla, Seu Juvenal e Desmanche fazem parte do acervo musical do selo que inclui 18 álbuns para download, além de reporta-gens e vídeos. Para conhecer o selo Gra-vatório acesse: www.gravatorio.com.A banda Jokie enfrentou e ainda en-frenta dificuldades de divulgação. Erik ressalta que uma das principais bar-reiras é a falta de capital. O problema persiste, mas é combatido com o auxílio da internet. A banda divulga seus shows e convida o público para as apresenta-ções através das mídias sociais, sendo o

Guilherme Leonel (Guite) idealizador do selo Gravatório.

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facebook e o twitter os principais alia-dos. O grupo possui também um blog. As postagens ficam principalmente por conta de Erik, também apaixonado pela rede. Nele, o autor escreve sobre os trabalhos da Jokie, divulga as grava-ções das composições autorais, além de discutir temas relacionados a bandas e composições de autores já consagrados. Para Erik, a falta de capital impossi-bilita que o grupo gere ações para além do campo virtual, como a produção de camisas e a inserção das músicas em rá-dios da cidade. Neste aspecto, o cantor ressalta um antigo hábito que as emisso-ras possuem: a cobrança do “jabá”. Sem condições de pagá-lo, as bandas inici-antes, como a Jokie, são descartadas das rádios e assim não conseguem levar sua música ao público ouvinte. Uma ação que gera uma reação. A escassa ou ausente inserção destes artistas nas emis-soras de rádio dificulta - ou até mesmo

impossibilita – a realização de shows completos com músicas próprias, pois por não conhecer as músicas, o público não consegue interagir com a banda. Neste cenário é que surgem os coleti-vos culturais: organização de artistas diversos em busca de promover a cul-tura local. Os coletivos organizam ofi-cinas, apresentações de arte e vídeo e, principalmente, festivais de músi-ca. Os eventos são modestos, sem grandes estruturas, geralmente local-izados em propriedades particulares, montados a partir da colaboração dos músicos envolvidos, no empréstimo de instrumentos e aparelhos de som. Os coletivos angariam a cada dia mais adeptos, pois dão oportunidade para muitos curtirem o som de bandas, mui-tas vezes excluídas dos grandes eventos da cidade, como afirma Leandro, mais conhecido como Mulambo. “Não con-sidero que Divinópolis tenha muitos

eventos culturais. Para o meu estilo (alternativo) são ilusórios. Lembro-me apenas dos eventos feitos pelo Cole-tivo Pulso, Coletivo anti-herói e Ponto de Cultura. Esses sim trouxeram ban-das de peso para o cenário alternativo da cidade. Nos eventos que aconte-cem eu percebo uma predominância do estilo POP, um tédio para mim”. Outra alternativa que se busca atual-mente para a divulgação de trabalhos culturais é a lei de incentivo à cultura. Erik chegou a participar de uma re-união, organizada no ano passado pela secretaria de cultura, para esclarecer dúvidas sobre a Lei de incentivo e es-tabelecer as metas da Prefeitura fr-ente aos investimentos do governo estadual. Para a Jokie, uma tentativa frustrada. A banda já tentou participar, mas não foram contemplados pela lei.

Lei de Incentivo A lei de incentivo à cultura é uma lei que oferece benefício fiscal à pessoa física ou jurídica, como atrativo para investi-mentos em cultura. Hoje, existem leis de incentivo federais, municipais e es-taduais. Cada lei, em seu âmbito region-al, tem um funcionamento específico.“O principal problema enfrentado neste aspecto é o fato de que os proje-tos planejados pelas bandas e grupos musicais, em sua maioria, são consid-erados como promoção pessoal, o que inviabiliza a aprovação dos mesmos”, como informa o secretário de cul-tura, Bernardo Rodrigues Espíndola. Erik reclama do fato das bandas de sam-ba e MPB possuírem mais acesso a esse tipo de recurso e considera que os avali-adores de projetos culturais excluem o rock, pop e outros gêneros de sua de-scrição, o que impede o desenvolvimen-to de projetos destes estilos. Outro em-pecilho é a falta de indicação. Para ele, as bandas de destaque da cidade possuem

Leandro Mulambo Viana, educador social e bonequeiro, classifi-ca o cenário musical divinopolitano como portador da voz de bons músicos, no entanto, ainda embasados no formato de banda cover. “Os músicos precisam assumir uma identidade mais autentica”, diz Leandro.

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Erik continuará caminhando em busca de seus objetivos.

Foto: André Camargos

apadrinhamento de nomes importantes por posição política ou econômica. Em meio a tantos problemas, despon-tam perspectivas de novos tempos, com sentimentos de esperança. “Eu sou muito otimista, pro Rock, pro Pop Rock e para as vertentes aí, para o metal. Porque a gente tenta melhorar mais, está sempre criando, coisa que o sertanejo e os outros tipos, pensam muito mais no lucro, e a gente visa mais a este trabalho bom. Divinópolis cada vez mais tem isso, esse tipo de trabalho autoral, o pessoal está dando oportunidade e essa abertura”, diz Erik.Há aqueles que acreditam no trabalho desenvolvido pela administração munic-

ipal, o que gera expectativas. “A gestão atual da secretaria municipal de cultura tem feito um bom trabalho para bandas alternativas. Na verdade, essa gestão é talvez a que mais privilegiou os artistas da cidade. Claro, ainda trouxe bons ar-tistas de outras cidades, o que era quase impossível em Divinópolis. Tais even-tos são importantíssimos para o cenário cultural da cidade. Precisamos dar à juventude uma oportunidade de lazer grátis, afinal, “buteco” é quase a única opção de lazer em Divinópolis. Temos poucos espaços destinados ao lazer em Divinópolis e os que existem, conven-hamos, são precários ou em lugares afastados”, pontua Mulambo. O músi-

co completa que algumas coisas ainda precisam mudar. “Divinópolis precisa melhorar em muitas coisas: educação e oportunidade de lazer grátis e com qualidade. Workshops, palestras, cur-sos de formação de artistas, valorização dos artistas que têm trabalho autoral são os primeiros passos para a melhora do cenário musical da nossa Divinópolis”.Como já cantou Adriana Calcanhoto, “Minha música não quer estar certa... Minha música quer só ser uma música, Minha música”. Assim segue Erik e a banda Jokie, em busca do reconheci-mento de sua música. Afinal, como afir-ma Guilherme Leonel, “os gostos são variados, cada um achará o seu espaço”.

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Por Rafael Moreira

Muito já se disse de Minas Gerais, até cantaram que “Quem te conhece não esquece jamais”. Se estas “Minas” já são tão inesquecíveis, imaginem só uma princesa!

Trocadilhos à parte, me perdoe se não foi bom, pois é difícil falar destas meninas de Minas. Ainda mais de uma princesa! E é sobre isso que tive a ousadia de es-crever... sobre as mulheres de Divinópolis... Vai entender! Queria poder explorar ao máximo a beleza do artigo feminino: (a).

Afinal, muito já se disse sobre Divinópolis. Pólo confeccionista, siderúrgico, hospitalar. Blá...blá...blá. Agora, é preciso falar da princesa! Aí você pensa: Da “Princesinha do Oeste”, Divinópolis, e todo aquele papo? Também, afinal de con-tas, a CIDADE é terra de musas... Exporta beleza. Se isso pudesse ser incluído no Produto Interno Bruto divinopolitano, o PIB, nossa balança comercial estaria em alta.

Até porque, já reparou? O Estado reverencia este privilégio e pega emprestado nossas pérolas para mostrarem ao Brasil. As meninas de Divinópolis são Miss Minas, sinônimo de Miss Brasil. Todo concurso “tá”no papo.

Por isso, hoje, caminhando pela rua cheguei à conclusão de que Divinópolis tem um ar diferente!Em minha opinião é o perfume exalado pelas mulheres da cidade. As verdadeiras princesinhas do oeste. Aí meu amigo, só me resta lembrar que se Minas não tem mar, o mar não tem nossas meninas.

E por falar em andar pelas ruas...ah e se essas ruas pudessem falar! Seria assim: A Goiás gritaria...“Que beldade!”, a São Paulo talvez teria inveja e a Rio de Janeiro também, porque é na 1º de junho que elas gostam de desfilar.

Em meio às ruas dessa Divinópolis desenvolvida estão estas belas mulheres. Como não falar delas? Afinal, elas tornam o dia mais bonito, mais poético... até encantado. A mulher de Divinópolis é muita parecida com Divinópolis. Indepen-dente, forte, desenvolvida e de uma grandeza que não pode ser medida. Afinal, por trás de uma grande cidade existem, sempre, grandes mulheres.

Divulgação

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O Guarani, que se via obrigado a desistir da sua vaga na Série D do Campeonato Brasileiro por falta de incentivo da cidade de Divinópolis, voltou atrás e participará da competição. Mas não por conta de Divinópolis. Esse descaso, porém, não é

novidade na cidade do divino.Por Lucas Carrano e Renato Mesquita

“Você e sua mulher planejam durante anos, preparam tudo para o filho que virá. Decidem tentar e ela finalmente engravida. Você chega ao fim da gesta-ção e, de repente, um aborto.” Essas foram as duras e sinceras palavras do supervisor de futebol do Guarani Es-porte Clube, Ricardo Parreira Soares antes do início da coletiva de imprensa que anunciou de maneira oficial a de-sistência do Guarani da disputa da Série D do Campeonato Brasileiro no final de abril. Era esse realmente o clima no es-tádio Waldemar Teixeira de Faria, onde foi realizada a coletiva. Ao entrar nas dependências do Farião, parecia que ali estava sendo realizado um velório. E o diretor de futebol, Renato Montak, con-cordou com a afirmação, quando disse que ali estavam sendo velados “três anos

de sonhos e muito trabalho, além de parte da grandeza do próprio Guarani”. Quando a atual gestão, presidida pelo Sr. Edílson De Oliveira, assumiu o Gua-rani, em 2010, a equipe se encontrava no Módulo II do Campeonato Mineiro – equivalente à segunda divisão estadual. Um projeto de ascensão fez com que o Bugre deixasse o Módulo II no mesmo ano e que na volta à elite do futebol mi-neiro garantisse sua permanência nessa divisão para o ano do centenário de Di-vinópolis. E mais: no ano do próprio centenário o Guarani fez uma campanha de superação e, na última rodada, contra todos os prognósticos, conseguiu uma vaga à Série D do Campeonato Brasil-eiro – a quarta divisão do futebol nacio-nal brasileiro. Oportunidade para levar o nome de Divinópolis para o cenário esportivo nacional. Um presente e tanto

para sua centenária cidade. Apesar de tudo, na sexta-feira, 27 de abril de 2012, o clube anunciou em entrevista coletiva que por falta de apoio financeiro, par-cerias e investimentos, abriria mão da vaga à competição nacional. Um duro golpe para os amantes do clube, do esporte e da história de Divinópolis.

A relação de Divinópolis com sua história

Sim, o Guarani representa parte signifi-cativa da história de Divinópolis. O Gua-rani Esporte Clube foi fundado no dia 20 de setembro de 1930, poucos meses depois que Divinópolis completou sua “maioridade” (18 anos desde sua eman-cipação política no dia 1º de junho de 1912). Esse fato, porém, é desconhecido pela maioria dos moradores da cidade,

Foto: Rafael Moreira

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assim como sua história em geral. O professor da rede estadual Roberto Vaz observa que há pouca presença dela, dos seus símbolos e personalidades no ensi-no local. “É um tipo de conteúdo que está mais presente nos primeiros anos do ensino fundamental, no decorrer da vida escolar o aluno tem mais contato através dos tais atos cívicos, que tem um tom quase que de obrigação”, expõe o pro-fessor. Para ele não há um sentimento de afeto e pertencimento entre a cidade e seus moradores, mas uma relação fria.Pontos que despertam esse afeto na população sempre existiram, a questão é como eles são tratados e com qual im-portância são vistos. O estudante de en-genharia Luiz Paulo Almeida Campos lembra-se com muito carinho do Cine Alhambra. “É uma tremenda sacana-gem o que fizeram com o prédio. Ele era parte da história de Divinópolis, e hoje está completamente abandonado”, disse. O Cine Alhambra encerrou suas atividades no ano de 2005, e desde en-tão está definhando pouco a pouco. Luiz Paulo ainda lembra que, com o passar do tempo, a arquitetura do lugar foi se de-teriorando e que a fachada hoje é quase inexistente, dando lugar a lojas dos mais variados segmentos e comprometen-do até mesmo a possibilidade de que o prédio seja restaurado futuramente. A aposentada Efigênia Alves Pereira se recorda bem de quando se mudou para Divinópolis, em 1965, e afirma que essa negação à história não é novidade na cidade. “Logo quando me mudei, já reparava que os prédios históricos e construções que datavam da fundação eram quase inexistentes. Ali mesmo na 1º de junho, o que realmente mar-cava era o Joaquim Nabuco (Escola Es-tadual), as demais casas com fachadas históricas foram sumindo rapidamente ou ficando abandonadas e destruídas.” E se desde esse tempo a vocação da ci-dade sempre foi para um certo desleixo com seu passado, muitas outras marcas da história sofreram até os dias atuais.

As praças, a maioria das igrejas da ci-dade – nesse caso o Santuário de Santo Antônio é a excessão, que preserva boa parte de suas características originais em pleno centro de Divinópolis– e prin-cipalmente prédios históricos, como o extinto Colégio São Tarcísio ou mesmo o centro de distribuição da antiga Rede Ferroviária. Uma das transformações mais marcantes para Efigênia foi à da antiga Praça da Estação. “Era muito bo-nito a chegada em Divinópolis, porque você já via de cara a Praça da Estação, mas depois acabaram com ela para que fosse erguida uma rodoviária em seu lugar. E hoje em dia, lá funciona o Pronto Socorro”, contou. “Divinópolis mudou muito. E como não saio muito de casa, a cada nova vez que dou um

passeio me surpreendo, mudo e conti-nua mudando”, completou resignada.

O “efeito Divinópolis” chega ao Guarani

Por representar a principal referência esportiva no âmbito de alto rendimento e por se tratar de uma instituição do es-porte mais popular do país, conforme já foi dito, o Guarani é parte integrante e constituinte da história divinopo-litana. Não só por isso, mas também ser um lugar de encontros de grupos sociais, políticos e econômicos dis-tintos e - é claro - por ser um grande catalisador de afetos. Mesmo assim, o “efeito Divinópolis”, esse que passa por cima das tradições em busca de constante renovação, afetou o Guarani.

Foto: Lucas Carrano

Anos após o fechamento da sala, a fachada do Cine Alhambra está quase escondida e bastante deteriorada

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Mas não foi a primeira vez. O repórter esportivo Oliveira Lima lembra que o Guarani já desistiu da disputa de com-petições nacionais por outras três vezes pelo menos em sua história recente por motivos muito semelhantes aos atuais. “Que eu me lembre, já foram duas Séries C, que na época eram a última divisão do futebol nacional, e uma Copa do Brasil. Todas as vezes por falta de apoio dos empresários, suporte finan-ceiro e das forças políticas da cidade”. Mesmo que o decorrer dessa história tenha sido diferente - uma campanha de superação, que culminou em uma go-leada histórica por 4x0 sobre o América-MG em plena Arena do Jacaré, no dia 22 de fevereiro. Além de uma improvável e rara vitória sobre o Cruzeiro no percur-so, também fora de casa -, o final dela foi o mesmo das outras. Perguntado se Divinópolis havia virado as costas para o Guarani, o presidente do clube, Edil-son de Oliveira, sem pestanejar respon-deu: “Divinópolis abandonou o Guarani. Em todas as suas instâncias. Eu só não culpo o torcedor, o torcedor fiel. Mas os empresários, nossas forças políticas e

a cidade de um modo geral, deixaram o clube”. Opinião que de certo repre-senta o sentimento de uma história que aparenta que não seja permitido escrever.

Uma virada inesperada: Guarani consegue apoio fora de Divinópolis

Surpreendentemente, apenas 10 dias após a desistência e o mesmo período

após o fechamento desta matéria, as coisas mudaram de figura para o Gua-rani. A CBF, agora sob nova gestão (do paulista José Maria Marin, que sucedeu o afastado Ricardo Teixeira), resolveu apoiar as equipes que disputam a Sé-rie D, custeando viagens (passagens de ônibus para distâncias de até 700 km, e 25 passagens aéreas para distâncias su-periores), mais o translado, alimentação

Campeonato Mineiro 2012, Guarani vence o Democrata de Governador Valadares

Jogadores do Guarani comemoram a goleada sobre o América-MG, em plena Arena do Jacaré, que deu ao bugre o direito à disputa da Série D do Campeonato Brasileiro

Foto: Lucas Carrano

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e estadia nos jogos fora de casa – algo que até o ano de 2012 nunca havia acon-tecido no país. Com essa notícia, o Gua-rani precisaria de menos investimen-tos para se garantir na disputa, porém a desistência já havia sido enviada à Federação Mineira de Futebol (FMF). Começava uma corrida contra o tempo.Ligações para a FMF deram conta de que o presidente da Federação, Paulo Schettino, ainda não havia oficializado junto à CBF, que é de fato a organiza-dora do evento, que o Guarani havia desistido da vaga mineira. O fato é que apenas o Villa Nova, de Nova Lima, havia se interessado pela lacuna deixada pelo Guarani, mas a Federação relutava em lhe conceder o direito de disputa já que a equipe havia ficado apenas uma posição acima da zona do rebaixamento no campeonato mineiro – logo, seria a

última equipe com índice técnico para a disputa da Série D. Por conta disso, a FMF ainda insistia em não enviar os documentos oficiais até os prazos limite. Um golpe de sorte em favor do bugre.Aproveitando dessa conveniência im-prevista, o Guarani partiu atrás de in-vestidoras, buscando uma quantia bem menor do que a que necessitava anterior-mente, uma soma que giraria em torno dos 500 mil reais. Mas ainda assim não conseguiu esse apoio em Divinópolis. O presidente do clube, Edilson de Olivei-ra, conseguiu de maneira isolada, inclu-sive sendo único representante do clube nas reuniões, uma parceria na cidade de Belo Horizonte, com um famoso banco de crédito mineiro que ultimamente tem investido pesado no futebol. O banco investirá os 500 mil reais necessários, mais o empréstimo de alguns atletas

que tem em sua carteira de agenciados.Isso mesmo, Divinópolis perdeu, pela segunda vez em menos de 10 dias, uma segunda chance, e até mais simples - observando que os valores foram re-duzidos sensivelmente - de valorizar o Guarani, clube e instituição histórica divinopolitana, que levaria o nome da cidade para todo o Brasil. E foi preciso que um empresário belo-horizontino, que não tem a menor relação afetiva com o clube, fizesse o investimento para que o Guarani continuasse assu-mindo o papel de clube divinopolitano de futebol profissional e de instituição histórica da cidade. E então, surpreen-dendo a todos, Divinópolis escapou do vexame de não ter seu clube na Série D, depois de ter conseguido a vaga dentro de campo, no ano do seu centenário.

Jogadores do Guarani foram reunidos para o comunicado de que, após a desistência, o time voltaria atrás e disputaria a Série D. Porém, a maioria deles não deve ficar para a competição.

Foto: Lucas Carrano

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De manhã cedo, ao som do despertador ela levanta da cama, espreguiça e vai direto para o banheiro. Escova os dentes en-quanto observa as marcas das noites mal dormidas estampadas ao redor de seus olhos em formas de olheiras. Enxágua o creme dental, seca o rosto e as mãos, e corre para a cozinha. Tempo é o que lhe falta.

No corredor entre o banheiro até a cozinha, ela esbarra em alguns jornais que foram espalhados pelo seu cachorro. Reflete sobre a sua concretização de todo o seu trabalho. Pensa em xingar, mas prefere seguir resmungando até a cozinha. Ela pre-cisava de um café bem forte.

Café coado, pão “engolido”, banho tomado, é hora de correr para a redação. Ela deve estar a posto antes das 9h. Para não cair no sedentarismo, ela prefere ir a pé. O jornal está a alguns quarteirões de sua casa. Assim ela se distrai.

Chegando à redação, cumprimenta os colegas de trabalho e automaticamente pega uma pasta com as pautas diárias.

Aquilo parecia ser impossível de cair na rotina, por incrível que pareça, hoje nada mais é do que uma obrigação. Lamentável. Quatro anos de curso, vinte horas aula por semana, ônibus lotado e, em meio a essa jornada, a queda da obrigatoriedade do diploma. Um passado intenso cercado por acontecimentos, abdicações e muito esforço. Realmente valeu a pena? A rotina não lhe permite refletir.

Vai para a rua, faz as devidas apurações e volta para a redação com as matérias já elaboradas em sua mente. Não é só uma, são no mínimo três por dia. Ela senta-se em frente ao computador com o seu copo de café e começa a escrever. A cobrança é muita, as contas a pagar também. O seu salário parecer ser o oposto. Ela não tem muito tempo, nem muito dinheiro.

Já são 19h e o almoço passou despercebido enquanto ela comia algumas barrinhas de cereais. Todas as tarefas concluídas. É hora de ir para casa.

Se não acontecer algum factual, ou alguém ligar para ela, antes de 2h da madrugada ela talvez consiga dormir para que, no outro dia logo cedo, ela possa ser despertada para uma nova jornada exaustiva de trabalho. Mas fazer o que? O amor à profis-são ela já tem. O reconhecimento, quem sabe um dia. Foi ela quem optou por essa vida cheia de doses de café, apurações e novas histórias.

Por: André Camargos e Josiele Salera

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Milhares de fiéis se reúnem semanalmente no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no bairro Bom Pastor, em busca de momentos de oração e fé.

Por Fábio Machado

Quarta-feira, 18h! Santuário de Nossa Senhora Aparecida lotado. Já estamos em outubro, mês dedicado à padroeira do Brasil? Não! Alguma comemoração especial? Também não. É simplesmente um ato cotidiano. Toda quarta-feira o santuário recebe milhares de pessoas para a celebração eucarística. A missa tem colocado Divinópolis como refer-ência religiosa para o Brasil e o mundo.A missa da família é uma cerimônia católica cujo diferencial é a forma oran-te pela qual é conduzida. Em diversos momentos o celebrante Padre Crystian Shankar leva os fiéis a rezarem por suas intenções, e também a louvar ao som de músicas alegres, com muitas palmas e coreografias. A pregação é um momento à parte, a ela é dedicado sempre um tema específico, amplamente divulgado pelas redes sociais do sacerdote. Em média são direcionados 40 minutos para a escuta do sermão, momentos de aprendizado e também de alegria. Com exemplos e lin-guagem do dia a dia, o padre consegue gargalhadas e é sucesso entre o público.De acordo com Inês de Fátima, co-ordenadora do conselho pastoral da paróquia de Nossa Senhora Aparecida, a missa da família possui 300 volun-tários por semana. Alguns se encarre-gam das funções litúrgicas – detalhes do ritual da missa – são as pessoas que

ficam próximas ao altar (ministros da eucaristia, acólitos, coroinhas, músi-cos). Há também aqueles que atuam em infraestrutura nas atividades da praça de alimentação, na limpeza e na comunica-ção. A missa é transmitida de forma si-multânea em três telões, dois ao lado da Igreja e um no Centro de Evangelização João Paulo II, trata-se de uma quadra co-berta ao lado do Santuário, com capaci-dade para centenas de pessoas. Também são gravadas as pregações que são ven-didas em CDs e DVDs. Em média, 70 cópias são comercializadas por missa.O uso da mídia e da internet para di-vulgar as palavras, direcionamentos e ações do padre parece coerente com a grande demanda tida pelos fiéis. Segun-do o padre, na paróquia eles recebem cerca de 30 a 40 ligações por dia. “Ap-enas na segunda-feira são mais de 230 ligações, por isso estou trabalhando as pessoas para terem a minha presença pela mídia, pois é impossível fisica-mente. Para você ter uma ideia um dia eu dei recado, na missa da família, que quem quisesse atendimento poderia vir sem agendar; na quinta-feira à tarde, compareceram mais de 400 pessoas”. Esse montante de fiéis que estão à pro-cura deste novo modelo de fé lotam o santuário. Diante da multidão, ama dúvida paira no ar. Devido à alta con-

centração de pessoas para a missa da família, é possível manter o local se-guro? De acordo com o sargento Aline de Oliveira Gracioso, da Polícia Militar, a missa da família é tranquila. “Nossa atuação aqui é com a questão do fluxo de veículos, temos uma viatura que fica circulando aos arredores, é muito tranquilo aqui”. O soldado Mauro Dias explica que o “povo é tranquilo, não tem ‘bebum’. Uma grande dificuldade é que muitos romeiros deixam o carro aberto, então procuramos orientá-los a tomar medidas de segurança, e nun-ca tivemos problemas mais graves”.

Os membros do corpo de Cristo Mas e o povo? Quem são os par-ticipantes que estão na mis-sa da família todas as semanas?Os gêmeos Flaviano Saldanha e Fabiano Saldanha são assíduos. Fabiano explica que foi convidado pelo irmão. “Rece-bi o convite do meu irmão quesempre veio, e há seis meses estou aqui. Tam-bém escuto o programa de rádio. Na verdade é a palavra, é a sabedoria que me atrai.” Questionado se ele possui al-gum engajamento pastoral participando de outras atividades na Igreja ele afirma que não. “É somente a missa, só de ter a iniciativa de vir é um bom começo.

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Deus tem me mostrado que vale a pena vir, não tenho a idolatria nenhuma ao padre, venho pela sabedoria dele” .Encontramos três amigas que todas as quartas-feiras estão na quadra, são elas: Leidiane Martins Tavares, Renata Regina Pereira Souza, e Nicolede Mo-rais Lacerda. Todas são unânimes em dizer “faz parte da minha vida vir aqui toda as quartas-feiras, é como comer e beber água, é algo natural”,expressa Renata que ainda completa: “eu ven-ho há muitos anos desde que era com Monsenhor Eustáquio. Eu nunca sai daqui como cheguei, sempre a fé me transforma”. Questionei: “e se o Pa-dre Crystian mudar de Divinópolis?”. Foi Nicole quem respondeu: “sabemos que o padre é de Deus, e que ele um

dia pode nos abandonar. Pedimos força a Deus caso isso aconteça e também compramos CDs e DVDs que estão aí para isso, assim poderemos matar a sau-dade”. Leidiane explica que o fato de o padre ser muito bonito, sempre gera co-mentários maldosos. “Em meu serviço, às vezes percebo que algumas amigas falam da beleza do Padre Crystian sem-pre com muita maldade. Eu respeito muito ele, e essa postura faz com que pouco a pouco elas respeitem também”.Mas e o que o padre Crystian Shankar acha desse sucesso? Essa foi a questão dirigida a ele, que de maneira tranqui-la respondeu: “ eu vejo o sucesso com muita naturalidade...tudo é fruto de um trabalho sério de anos e anos, não surgiu de agora. Eu tenho certeza de que Deus

me usa para levá-lo a todos os lugares”.Para Cristiany Veloso Lucas, uma das coordenadoras da acolhida, conviver com quem é de outra religião ou que não tinha hábito da de ir à missa faz parte da rotina. “Muitos vêm aqui por ter essa marca: é evangelizar quem não era da Igreja”. De acordo com Cris-tiany, ela era uma das pessoas que es-tava afastada e precisava de um refúgio e encontrou na missa da família o local ideal. Com o passar do tempo, ela foi convidada para fazer um retiro e par-ticipar da pastoral da acolhida. “Hoje as pessoas me param na rua e me cumpri-mentam. Há pessoas que sempre sentam no mesmo lugar, ficamos até amigas”. Para Layana Santana que também par-ticipa da acolhida, “as pessoas que estão

Missa de domingo com ministração da palavra do padre Chrystian Shankar.

Foto: Rafael Moreira

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Vida pastoral: Pároco no Santuário de Nos-sa Senhora Aparecida, fundador e diretor espiri-tual da Comunidade CatólicaLírio do Vale, de Itaúna; conselheiro espiritual da equipe Nossa Senhora Rain-ha dos Apóstolos, em Divinópolis. Desenvolve o projeto Luz & Vida,com palestras de relacionamento e motivação pessoal

Rádio:Programa Alegrai-vos no Senhor, na Rádio Divinópolis AM 720 KHZ, todos os dias, de 9:00 às 10:00.

TV: Programa Católicos em Missão na TV Candidés, toda segunda quinta-feira do mês.

Programa Alegrai-vos no Senhor, toda segunda-feira, no canal 20 da MasterCabo (reprise na quinta-feira às 21:00)

Mídia impressa: colunista no Jornal Agora, de Divinópolis (aos sábados); é diretor do jornal paroquial Igreja em Notícia do Santuário Nossa Senhora Aparecida de Divinópolis; escreve para a revista da CCLV de Itaúna (Comunidade Lírio do Vale); colaborador do jornal “Folha da Diocese” de Divinópolis.

Missa da família : Acolhe cerca de 8.000 pessoas toda semana. Mais de 70 títulos de pregações em CDs e DVDs já foram vendidos.

Internet: www.padrechrystianshankar.com.br, F: padrechrystianshankar eT: @pechrystian

aqui são pessoas de fé, que trazem seus desafios e encontram soluções na oração, temos muitos testemunhos!”, exclamou.De acordo com o jovem Lucas Viegas Morato, romeiros da região valorizam muito mais a missa da família do que o próprio povo da paróquia. “Muitas pessoas de fora dão mais valor ao padre e àmissa do que as pessoas da própria paróquia”. O jovem partilha que após par-ticipar quatro anos da missa, tempercebido mudanças em sua vida. “Vamos nos transformando em instrumento de Deus, tentando afastar do pecado, sendo um bom irmão,

tenho metransformado sim, ouvindo as pregações do padre”.Ao ver a rotina de Divinópolis, acolhendo esse novo fenôme-no, lançamos um questionamento: e o futuro da missa? E o futuro do Padre Crystian? Com sorrisso, que é sua marca registrada, ele responde: “eu não sei, pois ainda o futuro vai chegar.Estou surpreso com tudo que aconteceu até ag-ora...há ainda muitos projetos. Estão me convidando inclu-sive para emissoras de televisão fora do país...enfim, va-mos ver o que Deus providenciará”. Só nos resta esperar!

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A revista Questões entrevistou Ana Maria Oliveira, mãe do Padre Crystian Shankar. Participante ativa da Renovação Carismática Católica (RCC) na cidade de Itaúna, ela concedeu essa entrevista no restaurante popular de Divinópolis, durante uma reunião do Conselho diocesano da RCC. Confira os principais tópicos.

Gravidez Eu não tive um namoro santo, quando eu recebi o resultado positivo eu percebi o tanto que eu tinha pecado, eu rezei: que o fruto do meu pecado se converta em uma grande benção, eu quero que o Senhor aceite ele como sacerdote, mas um sacerdote diferente.

Conheça o padre Crystian Shankar

Foto: Fabio Machado

Ana Maria Oliveira com o filho, Padre Crystian Shankar.

Nascimento Quando a enfermeira me entregou, depois do parto, eu novamente o entreguei para o Senhor para ser um sacerdote diferente. A origem do nome foi de perceber que o Dr. Crystian Barnard, cirurgião famoso estava muito em auge, e eu li numa revista o nome indiano Crystian Shankar e achei lindo! Depois descobri que o nome expressa tudo que ele é: significa Crystian seguidor de Cristo, Shankar aquele que leva alegria, ou seja, aquele que leva Cristo com alegria.

InfânciaDesde pequeno ele brincava de celebrar a missa, os salgadinhos eram as hóstias, e suco de uva era o vinho. Seu irmão mais novo comia o salgadinho e tomava o suco escondido e na hora da missa era uma pancadaria (risos). Eu o vi crescendo com a dedicação com as coisas de Deus, eu nunca falei nada de minha entrega para não influenciar. O Crystian desde que nasceu era um bebê lindo, um menino muito bonito. Eu tinha medo quando ele ia brincar de que-brar o braço de tão magrinho que ele era. (...) Ele foi super levado, ganhou muitas varinhas de marmelo, eram só duas (risos). Eu o criei com amor, mas com correção.

VocaçãoCom 14 anos ele, me disse: “mamãe decidi o que quero ser, desejo ser padre” (choro). O Senhor falava forte no meu coração: isso é apenas um gota d´água no oceano diante daquilo que eu vou fazer na vida dele.

Curiosidades

Ele já trabalhou no estúdio de filmagem com José Coelho e a Vilma. Desde novinho ele era comunicativo. Ele teve um traço fortíssimo de liderança, no tiro de guerra ele foi cabo, exercia uma liderança muito positiva lá no tiro de guerra; é muito lapidado espiritualmente.Às vezes as meninas falam comigo: Nossa Senhora ouvir pregação olhando para um rosto daquele vale a pena. Muitas meninas já falaram comigo eu fui à missa para ver o Padre Crystian, mas Deus é danado demais e me fisgou. (risos) eu brinco assim: ele é uma minhoquinha no anzol de Deus. Nosso relacionamento é ótimo, tanto quando eu peço a ele conselho como padre, eu sempre falo “padre Crystian” e “senhor”. Eu penso que isso é uma graça de Deus, nós humanos sempre temos alguém ou algo em que espelhar e eu como mãe tenho um filho em que as cri-anças se espelham para ser padre. Para mim isso é apenas louvor.

Oração Sempre quando o Crystian me conta seus projetos eu respondo: meu filho isso para mim não é surpresa, quantas vezes o Senhor já me mostrou, quando ele ainda estava no seminário, ele celebrando na Canção Nova. Sei que tem muita missão pela frente ainda.

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Bela frase de Clarice Lispector. E resume muito do “porquê eu escrevo”. Por que escrevo? Para quê escrevo? Para quem escrevo? São mistérios quase insolúveis, mas que, diante dessa frase, começo a entender. Escrevo para mim. Escrevo por mim. Para tentar entender o que se passa dentro de mim e também com o mundo. Na maioria das vezes, quando leio o que está escrito, percebo que ex-ternei o que se passa dentro de mim.Aconteceu mesmo agora, quando com-ecei a redigir esta crônica e só entendi o que queria dizer quando pensei em escrevê-la e neste momento sinto as ideias se organizando e tomando forma através destes caracteres aqui digitados.Escrevo para me libertar, para tirar o que me pesa a alma, para desob-struir a entrada e saída dos pensamen-tos, para me livrar dos desesperos. Mas escrevo também porque amo.

Porque acho que não sei fazer outra coisa e por isto escolhi esta profissão.Em suma, escrevo para me encon-trar. E eis-me aqui, eis-nos aqui, cur-sando o sétimo período de Jornalismo. Nestes quatro anos incompletos desco-brimos que o fazer jornalístico é algo além de escrever, é contar histórias, é perder noites de sono para tentar en-tender a pirâmide invertida, é discutir ética e como ser ético em uma área onde a ética nem sempre está presente, onde o que vigora é a lei do manda quem pode e obedece quem tem juízo.E isso é totalmente reforçado quando encaramos o mercado de trabalho. O que vemos nas redações é um ambiente onde há muito trabalho e pouca remu-neração e isto afeta diretamente a deter-minação do profissional na hora de apu-rar os fatos e produzir uma reportagem relevante e verdadeira. Além da con-

corrência com estagiários e profission-ais não diplomados. Afinal de contas, alguém aí tem diploma de jornalismo? Tudo isso afeta o jornalismo nacio-nal de uma maneira considerável. Se a imprensa representa o quarto poder, onde está esse poder? Em que mãos ele se encontra? Quem nos con-trola? Quem controla a verdade?E aqui estamos nós, no último ano do Curso de Jornalismo, talvez com mais dúvidas do que quando começamos. E a maior dúvida continua sendo “para quê escrevo?” ou “para quem escre-vo?”. Só sabemos que escrevemos e quem sabe através da escrita, encon-tremos essas e outras respostas. E para encerrar, recorramos novamente a já citada nesta crônica, Clarice Lispector:“Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.Provavelmente minha própria vida.”

“Escrevi procurando com muita atenção o que se estava organizando em mim e que só depois da quinta paciente cópia é que passei a perceber.” Clarice Lispector

Por Juliana Faria e Marina Alves

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Divinópolis comemorou em 1º de junho seus 100 anos de fundação. Para um município com o porte de Divinópo-lis, chegar a essa idade significa a ne-cessidade de investir para que os próxi-mos 36.500 dias sejam tão produtivos quanto os anteriores. Já para uma pes-soa, atingir o centenário pode signifi-car saúde, qualidade de vida, sucesso e experiência. Na cidade centenária, cada vez mais idosos buscam meios para conservar a vida e encontrar dis-posição para soprar 100 velinhas. Para contar histórias de senhores e senhoras que já ultrapassaram meio século de vida e agora correm atrás da outra metade, a reportagem de Questões foi conhecer dois programas que acolhem, gratuitamente, qualquer idoso disposto a viver mais e melhor.

Unibiótica

Todas as manhãs, de segunda à sexta, uma turma de senhores e senhoras se reúne para praticar uma modalidade de exercícios chamada unibiótica. Felizes, eles afirmam não ter medo da velhice. Em uma aconchegante casa na Vila Ideal, perto da Avenida Sete de Setem-bro, na região central, funciona o grupo de unibiótica “Dr. Yum” (nome de um simpático médico coreano radicado no Brasil, precursor da técnica medicinal). Diariamente, dezenas de “vovôs” e

“vovós” se exercitam em colchonetes in-dividuais e relaxam pescoço e ombros em um travesseiro de madeira. A atividade estimula a mobilidade dos pacientes. De olhar sempre atento, a jornalista apos-entada Zózima Guimarães de Salles é a coordenadora geral dos 28 grupos de unibiótica espalhados por Divinópolis. De acordo com ela, os grupos de unibióti-ca em Divinópolis são programas gratu-itos que promovem a saúde por meio de atividades físicas de alongamento e re-

laxamento. Procurados por quem deseja saúde para a vida inteira, são diferentes da medicina tradicional por usarem um método que trata o corpo para que ele próprio evite as doenças. Quem pratica unibiótica aprende que para viver bem é preciso dar atenção especial a quatro partes do corpo: pele, nutrição, mem-bros e mente. Apesar de também ser recomendada a jovens e adultos, são os idosos quem mais procuram as sessões. A aposentada Célia Fonseca, de 66 anos,

Cresce a procura de idosos por atividades voltadas para a conservação da saúde e aumento da expectativa de vida

Ricardo Welbert

Foto: Ricardo Welbert

Idosos praticam exercícios em grupo de unibiótica no Centro

Divulgação

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pratica unibiótica há 14 anos e vê bons resultados. “É uma técnica completa. Fiz yoga por muitos anos, mas depois de ler os livros do Dr. Yum (precursor da un-ibiótica), vi que são exercícios comple-tos, com técnicas de nutrição, tranquili-dade e cuidados com a pele”, afirma. A comerciante Aurélia Fernandes, 45, trocou a academia pela unibióti-ca. “Aqui não tem ninguém buscan-do beleza, apenas saúde”, explica. Apesar de ter mais mulheres que homens, também há senhores entre os seguidores de Dr. Yum. O aposentado Antônio Car-los Batista, 54, tem 12 anos de prática. “Não consigo mais viver sem unibióti-ca. É um remédio natural e bastante benéfico, sem efeito colateral”, avalia.Beraldo Ferreira é advogado aposenta-do. Ele diz que as sessões de unibiótica influenciaram até mesmo em sua so-cialização. “Sou uma pessoa difícil de socializar, mas percebi melhoras. Tenho problemas nos joelhos, reumatismo e pressão alta. Percebo que todos esses males estão desaparecendo a cada ses-são de unibiótica”, diz o aposentado. A vontade de estender a vida é tamanha que os idosos do grupo simplesmente não se preocupam com os sinais do tempo – coisa que muita gente nova tem feito ao apelar para cirurgias plásticas.

Convivência

Outro local que se dispõe a receber idosos dispostos a prolongar a vida em Divinópolis é o Centro Municipal de Convivência do Idoso, que funciona na avenida Martin Cyprien, 1.100, no bair-ro Bela Vista. Coordenado pela sociólo-ga e gerontóloga Cida Faria, o local é fruto de uma política pública realizada em parceria com o Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), que sedem o espaço físico. “Os idosos atendidos aqui recebem orientações so-bre aposentadoria, aprendem sobre cui-dados necessários para a manutenção da

saúde, praticam ginástica, hidroginásti-ca, fisioterapia, terapia oriental e teatro, salão de beleza voluntário, oficinas de artesanato e de memória, participam de grupos de convivência, coral musical, rodas de conversas e do projeto O Idoso na Escola e na Comunidade, no qual eles próprios comparecem a escolas e faculdades para contar suas experiên-cias aos jovens. Além disso, o Centro de Convivência tem um coral e uma re-vista institucional publicada anualmente e distribuída a consultórios geriátricos pelo mundo, na qual divulgam suas atividades”, explica a coordenadora. O Centro de Convivência é considerado pelo setor de Desenvolvimento Social como um laboratório de experiência científica, pois estudantes vão ao local para produzir estudos acadêmicos (como monografias e TCCs) e aplicar question-ários. Especialistas de saúde orientam a alimentação dos idosos, ensinam a atuar no trânsito, possibilitam a prática de

esportes como o basquete, boliche e si-nuca, adaptados para idosos. Os dados pessoais dos idosos são armazenados em arquivos e podem ser consultados pelos especialistas em caso de necessidade. “Hoje atendemos a 246 idosos. Ofer-ecemos café da manhã, almoço e café da tarde. Os grupos vão ao local de manhã e à tarde. De 8h às 11h e de 13h às 17h. A prefeitura, por meio da sec-retaria de Desenvolvimento Social, di-sponibiliza funcionários, alimentação, materiais de limpeza, estrutura física adequada, equipamentos, aparelha-gem), com suporte do Conselho Mu-nicipal do Idoso, que acompanha nos-sas atividades”, explica a coordenadora.

Avaliações

A costureira aposentada Ana da Cunha Ferreira, de 63 anos, mora no Sítio do Maracujá, perto de Ermida. Para fre-quentar o Centro do Idoso de segun-

Usuária do Centro de Convivência do Idoso comemora pontuação em brincadeira

Foto: Ricardo Welbert

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Centro de Convivência do Idoso oferece alimentação balanceada a 246 idosos

da a sexta-feira, ela sai de casa às 7h, acompanhada do marido, o comerciante aposentado Sebastião José Elídio, de 67 anos. O casal tem cinco filhos. Todos já se casaram e não moram mais com os pais. Ana frequenta o local há cerca de seis anos. Sebastião, há quatro. Ela afirma que se sente acolhida no lugar e aconselha outros idosos a frequentá-lo. “A pessoa que fica parada dentro de casa perde totalmente seu tempo. Quando entrei, ainda não era idosa. Por isso, cheguei como voluntária. Hoje, já sou usuária e gosto muito”, conta.

O marido, Sebastião, também diz que gosta de aproveitar o dia livre para ir ao Centro de Convivência. “É bom demais. Gosto muito das danças e dos jogos de sinuca. Minha saúde melhorou demais. Passei a ter mais disposição e meus filhos adoraram. Eles dizem que, quando tiver-em minha idade, farão o mesmo”, conta. O metalúrgico aposentado Ernesto Pin-heiro de Jesus é viúvo e mora com suas irmãs no bairro Esplanada. Ele frequen-ta o espaço há seis anos. Ao ser pergun-tado sobre sua idade, ele brinca. “Tenho 74 anos, por enquanto (risos). Espero

ter mais”. De acordo com Ernesto, pro-longar a vida é possível quando se tem acesso a atividades físicas como ginás-tica e hidroginástica, tudo com acom-panhamento de instrutores qualificados. Para ingressar no grupo, o idoso pre-cisa ter disponibilidade para frequentar todas as atividades programadas para cada semana, apresentar seu histórico médico e receber Benefício de Presta-ção Continuada ou Bolsa Família. “Ex-ecutamos um trabalho preventivo. Por isso, atendemos apenas idosos ativos. Os dependentes de cuidados básicos

Foto: Ricardo Welbert

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devem procurar asilos ou instituições particulares devidamente adaptados para recebê-los”, explica Cida Faria.

Confirmação

O geriatra Luis Fernando Campos, for-mado pela Universidade Federal de Mi-nas Gerais (UFMG), elogia os progra-mas sociais existentes em Divinópolis e afirma que a população de pessoas com

idades acima de 60 anos está mesmo au-mentando em todo o Brasil e, por isso, é preciso discutir novas políticas públi-cas para melhorar a vida dessas pessoas. “Existem várias formas diferenciadas de auxiliar para que essas pessoas en-velheçam com qualidade. O envelheci-mento é um processo natural e que pro-voca uma perda progressiva das aptidões funcionais do organismo, aumenta o risco do sedentarismo e essas alterações

nos domínios biopsicossociais põem em risco a qualidade de vida do idoso, pois restringem sua capacidade para a real-ização de atividades rotineiras”, explica. Para o especialista, a falta de ativi-dade física leva a um envelhecimento mais rápido, pois gera perdas impor-tantes no sistema cardiovascular, na força, e no equilíbrio. Por isso, pes-soas idosas sentem dificuldades ao se exercitarem do jeito tradicional. “A

hidroginástica oferecida neste Centro de Convivência é extremamente reco-mendada aos idosos, pois a água aux-ilia na melhor execução do exercício e reduz os impactos ao corpo”, explica.

Previsão

A socióloga, doutora em Educação e professora da Fundação Educacinal de Divinópolis/Universidade do Estado

de Minas Gerais, Batistina Maria de Sousa Corgosinho, comenta um estudo recentemente divulgado pela Fundação João Pinheiro que aponta um significa-tivo crescimento da população de ido-sos na cidade nos próximos 20 anos. “Hoje a cidade pulsa com a juventude que turbina o mercado de trabalho e aquece a economia. Porém, com jovens cada vez mais apressados e envolvidos em seus projetos profissionais, estão

caindo os índices de nascimentos, ao mesmo tempo em que os avanços na medicina permitem acesso cada vez mais fácil a remédios que combatem doenças que até pouco tempo eram in-curáveis. Isso fará com que, em duas décadas, Divinópolis tenha uma popu-lação de idosos muito maior. Para tanto, serão necessárias políticas públicas ad-equadas para essa demanda”, acredita.

O casal Ana da Cunha e Sebastião José deixa a tranquilidade do sítio, perto de Ermida, em busca de movimentação no Centro de Convivência do Idoso

Foto: Ricardo Welbert

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