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O CENÁRIO ATUAL DO BRASIL E A VISÃO DE NOSSOS ALUNOS SOBRE OS SETE PRINCIPAIS TEMAS DEBATIDOS DURANTE O PERÍODO ELEITORAL, QUE AGORA SÃO COLOCADOS DIANTE DE NOSSO GOVERNANTE. OS 7 PILARES DA ADMINISTRAÇÃO BRASILEIRA VS 1 NOVO PRESIDENTE ELEITO TECNOLOGIA Menos fila na hora de buscar seu filho MISSÃO RURAL Experiência de vida NOTURNO Tardes de cinema Revista Pilotis # 28 - novembro/dezembro de 2014 Produção interna dos alunos e educadores do Colégio São Luís

Revista Pilotis número 28

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Publicação interna do Colégio São Luís (SP) . Mais sobre o CSL no site www.saoluis.org

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Page 1: Revista Pilotis número 28

O cenáriO atual dO Brasil e a visãO de nOssOs alunOs sOBre Os sete principais temas deBatidOs

durante O períOdO eleitOral, que agOra sãO cOlOcadOs diante de nOssO gOvernante.

os 7 pilares da administração brasileira vs 1 novo presidente eleito

TECNOLOGIAMenos fila na

hora de buscar seu filho

MISSÃO RURAL

Experiênciade vida

NOTURNOTardes de

cinema

Revista Pilotis # 28 - novembro/dezembro de 2014

Produção interna dos alunos e educadores

do Colégio São Luís

Page 2: Revista Pilotis número 28

A capa deste número da Pilotis não é de brincadeira. Brinca, sim, é verdade,

com um placar que certamente ficará engasgado para sempre na memória do

País do Futebol. Mas, no fundo, é só isto: um placar de uma partida de uma

Copa do Mundo. Folclore...

7 x 1, aqui, aponta para a seriedade que é o desafio de continuar construindo

o Brasil. Assim, pode-se argumentar que o evento mais importante do ano fo-

ram as eleições de outubro passado. Politicamente, não há nada mais univer-

sal no nosso País do que eleger os representantes do Poder Executivo federal

e estadual, além de Senadores e dos Deputados Federais. O bem que se pode

fazer por meio desses cargos tem incidência sobre todos os brasileiros, além

das repercussões internacionais inerentes ao mundo globalizado.

E a Pilotis vai mais além: da zona rural de Montes Claros, MG, ao Oriente

Médio e suas complexidades. De uma reflexão profunda sobre o processo de

avaliação dentro da Pedagogia Inaciana ao testemunho de um antigo aluno

sobre o seu trabalho com a NASA.

Encerrando este “ano que vale 200”, celebrando o bicentenário da restaura-

ção universal da Companhia de Jesus (1814-2014), a Pilotis é uma vitrine do

CSL: fiel à sua história, reverente para com a sua memória, dinâmico, inova-

dor, buscando excelência e qualidade em tudo o que faz, “antenado”, conec-

tado e aberto ao mundo e à sociedade em que está inserido.

Obrigado por mais este ano a todos vocês que fazem o São Luís tornar-se o

que é chamado a ser por vocação!

Boa leitura!

Pe. Eduardo Henriques, SJ

Diretor-Geral do Colégio São Luís

Edição/Jornalista rEsponsávElMarcia Guerra - DECOM

Departamento de Comunicação (MTB 2435)

diagramação E proJEto gráficoAndré Cantarino - DECOM

rEvisãoDepartamento de Publicações

rEportagEmAdriana Messias Alves – Prof.ª de Redação do EFCarolina P. Graziano – Prof.ª de Redação do EM

Daniela A. Cury Rojas – Prof.ª de Geografia do EFDenise Krein – Ex-assessora técnico pedagógica

Fábio Olliani – Coordenador da Ed. Física e EsportesGilberto Teixeira – Professor de História do EM

Noturno e Coord. do Centro de Memória do CSLIracy Gomes – Assessora de Formação Cristã

Julia Braun – Estagiária do DECOMJussane Pavan – Prof.ª de Redação do EM NoturnoKely Cristina Pasquali – Prof.ª de Matemática do EF

Marcelo Martins – Coordenador do DTAMarcia Guerra – Coordenadora do DECOM

Margarete da Penha Sevilha – Prof.ª de Ciências do EFMoacyr Nogueira – Professor de Geografia do EM

Nilza Guimarães – Professora de ArtesPilar Baptista – Ex-estagiária e colaboradorado DECOM

Rafael Facchini – Aluno da 3.ª série EMTuna Serzedello – Assessor do DECOM

colaboração Tuna Serzedello - DECOM

dirEção-gEralPe. Eduardo Henriques, SJ

dirEçãoBenedita de Lourdes Massaro

Jairo Nogueira Cardoso Luiz Antonio Nunes Palermo

Rua Haddock Lobo, 400 - Cerqueira César

CEP 01414-902 / São Paulo, SP

Tel.: 11 3138 9600 / www.saoluis.org

A Revista Pilotis é uma publicação

interna do Colégio São Luís.

Page 3: Revista Pilotis número 28

Revista Pilotis # 28 - novembro/dezembro de 2014

Os 7 pilares da administração

brasileira vs 1 novo

presidente eleito

32 artigoOriente Médio: Um breve

relato da situação atual e

dos conflitos da região.

48antigo alunoAo infinito e além!

22

Leia mais matérias completas no site

www.issuu.com/revistapilotis

na web

projeto interdisciplinarVai chover?

interaMiZadePrazer em “vestir a camisa”

estudo do MeioNovos olhares no contexto da educação

tecnologiaMenos fila na hora de buscar seu filho

sisteMa de qualidadeDe Miami a Antofagasta em busa da qualidade

Missão ruralExperiência de vida

língua inglesaTOEFL no Colégio São Luís

bienal de artesAsas do Tempo: Arte, memória em movimento

eventoSINU na veia

teatroConexões 2014. Uma edição bem-temperada

ensino Médio noturnoTardes de cinema

históriaPadre Guy

Faça você MesMoUma coruja pra lá de útil!

cultura

4

7

8

11

12

14

17

21

29

30

38

40

44

46

18

avaliaçãoAvaliar para quê?

Page 4: Revista Pilotis número 28

Os impactos gerados pelo constante aumento das emissões mundiais de gases

de efeito estufa podem ser cada vez mais graves e até irreversíveis. Essa é a

conclusão do estudo mais recente feito pelo Painel Intergovernamental sobre

Mudanças Climáticas (IPCC), que será divulgado oficialmente neste mês.

As mudanças climáticas pelas quais o planeta passa inspiraram a criação do projeto

interdisciplinar Estação Meteorológica no ano de 2007, realizado com as turmas do 6.º

ano EF. Esse projeto tem por objetivo despertar o interesse dos alunos pelas questões

meteorológicas por meio da observação do céu, da realização de medidas das condi-

ções do tempo, do tratamento dos dados e das discussões sobre esse importante tema.

Entendemos que o projeto Estação Meteorológica contempla as etapas do Paradigma

Pedagógico Inaciano e o conteúdo programático das disciplinas envolvidas.

O tema mudanças ClimátiCas inspirOu a CriaçãO dO prOjetO interdisCiplinar estaçãO meteOrOlógiCa, que envOlve as disCiplinas de

CiênCias, geOgrafia, matemátiCa e redaçãO.

Por AdriAnA MessiAs Alves, ProfessorA de redAção;dAnielA AnselMi Cury rojAs, ProfessorA de GeoGrAfiA;

Kely CristinA PAsquAli, ProfessorA de MAteMátiCA eMArGArete dA PenhA sevilhA, ProfessorA de CiênCiAs.

vai chover?

PROJETO INTERDISCIPLINAR

4 | Revista Pilotis

Page 5: Revista Pilotis número 28

contextoA contextualização realizada nas aulas

de Ciências e Geografia iniciou-se com o

levantamento de questões do cotidiano:

Vai chover? A umidade do ar está baixa?

A amplitude térmica de hoje será inverti-

da? A qualidade do ar está ruim? As con-

dições da atmosfera estão favoráveis à

dispersão dos poluentes? A temperatura

da Terra está aumentando?

Se a Terra continuar se aquecendo no pa-

drão atual, os cientistas preveem um ce-

nário devastador para as próximas déca-

das. A hipótese é de que haja destruição

em massa de plantas e animais, déficit na

produção de alimentos, inundações cos-

teiras, aumento da pobreza e fome, além

de perdas econômicas em todo o mundo.

experiênciaA experiência foi realizada por meio da

utilização de diferentes instrumentos de

medida das condições do tempo, como

barômetro (pressão atmosférica), higrô-

metro e psicrômetro (umidade do ar),

termômetro ambiental, termômetro de

máxima e mínima e termômetro de solo

(temperaturas), além de pluviômetro

(quantidade de chuva). Em caso de chuva,

media-se seu grau de acidez. Os alunos

utilizaram a biruta e a rosa-dos-ventos

(GPS) para identificar a direção e a Escala

Beaufort para estimar a velocidade dos

ventos. Além disso, eles observaram o céu

para avaliar seu grau de cobertura e iden-

tificaram os diferentes tipos de nuvens. A

altitude foi avaliada por um altímetro.

As medições foram realizadas no período

de 18 a 29 de agosto de 2014, durante o

recreio, obedecendo a uma escala de 15

alunos por dia. Elas resultaram em mo-

mentos de aprendizado significativo. Os

alunos se mostraram muito interessados

e motivados porque puderam aplicar,

em uma situação real, os conteúdos que

aprenderam no Laboratório de Ciências.

Durante as aulas teóricas, os alunos pude-

ram compreender os fatores geográficos

que interferem no clima, como a latitude, a

altitude, a maritimidade, a continentalida-

de e a transpiração dos vegetais. Propomos

a eles situações práticas e exercícios de

aplicação para que identificassem de que

maneira esses fatores interferem na dinâ-

mica climática de várias regiões do planeta.

A avaliação levou em consideração os seguintes aspectos:

• Envolvimento no processo de coleta de dados.

• Organização das informações e confecção dos gráficos.

• Análise dos dados coletados e apresentação dos resultados.

• Respeito e colaboração no trabalho em equipe.

Acreditamos que esse projeto tenha contribuído para a formação integral do/a

aluno/a, mostrando-lhe que as ações humanas interferem na vida do planeta Terra:

“Escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” Deuteronômio 30,19.

avaliação:

“Os alunos se mostraram muito interessados

e motivados porque puderam aplicar, em uma

situação real, os conteúdos que aprenderam

no Laboratório de Ciências.”

PROJeTO InTeRDISCIPLInaR

Revista Pilotis | 5

Page 6: Revista Pilotis número 28

Foram trazidas para as aulas várias curio-

sidades sobre as questões climáticas no

mundo. Informações sobre a previsão do

tempo para o dia também foram pesquisa-

das e apresentadas pelos próprios alunos.

Após a coleta dos dados na Estação Me-

teorológica e seu registro na apostila de

laboratório, chegou o momento de se

trabalhar com o tratamento dessas infor-

mações nas aulas de Matemática. Com

as informações organizadas em tabelas,

e tendo algumas noções básicas da pla-

nilha eletrônica Excel, os gráficos foram

construídos em duplas no Laboratório de

Informática. Os alunos construíram gráfi-

cos comparativos de barras múltiplas e de

linhas, escolheram o layout e nomearam

adequadamente cada um dos elementos

dos gráficos (eixo horizontal e eixo verti-

cal, título e legenda).

reFlexãoA análise dos dados coletados permitiu a

reflexão sobre a relação entre as condições

da atmosfera e a previsão do tempo. Am-

pliando o tema, discutimos a intensificação

do efeito estufa, correlacionando as ques-

tões climáticas às atividades humanas.

A partir dessas atividades, as crianças po-

derão realizar várias ações individuais e/

ou coletivas com o objetivo de reduzir a

poluição do ar. Entre elas, podemos citar:

andar mais a pé e de bicicleta, dar prefe-

rência ao transporte coletivo e às fontes

alternativas de energia, organizar caro-

nas, plantar árvores, entre outras.

Para finalizar do projeto, todas essas ques-

tões e também os dados coletados e ana-

lisados foram utilizados para a produção

de um texto jornalístico, gênero estudado

nas aulas de Redação. Os estudantes, or-

ganizados em duplas, foram protagonistas

da situação vivenciada, mas se colocaram

na posição de redatores em 3.ª pessoa,

relatando de forma imparcial os principais

fatos, transformando-os em notícia.

Por meio da elaboração de um título cha-

mativo e de um lead (primeiro parágrafo

da notícia) bem elaborado, os alunos in-

formaram à comunidade do Colégio São

Luís o que o 6.º ano realizou, quem fo-

ram as pessoas envolvidas no fato, como

o fato se deu, onde e quando ocorreu, e

por que se constituiu dessa forma.

Confira as fotos do projeto em um

álbum especial no Flickr do Colégio:

www.flickr.com/photos/saoluis/sets

VeJa MaIS nO FLICKR

PROJETO INTERDISCIPLINAR

“A partir dessas

atividades, as

crianças poderão

realizar várias ações

individuais e/ou

coletivas, com o

objetivo de reduzir

a poluição do ar.”

6 | Revista Pilotis

Page 7: Revista Pilotis número 28

Os JOgOs InteramIzade dO dIurnO acOnteceram entre Os dIas 26 de setembrO e 02 de OutubrO e dO nOturnO entre Os dIas 17 e 19 de OutubrO, nO csL.

Mais um Interamizade chegou

e nós, como professores,

sentimos o mesmo “frio na

barriga” que os alunos sentem todo ano.

Como não se envolver com um grupo

que se reúne semanalmente, no meio de

provas, trabalhos, viagens de Estudo do

Meio, e que, ao mesmo tempo, trabalha

a sua modalidade, aprofundando sua

técnica, aprendendo mais um pouco so-

bre tática e, principalmente, entendendo

o que é ser para o outro? Pois é exata-

mente isso que as modalidades esportivas

coletivas fazem com os alunos. Quantos

jogos, campeonatos, vitórias, derrotas,

quantos momentos inesquecíveis viven-

ciamos com esses grupos! Como é bom,

num tempo em que o mundo pede pres-

sa e as coisas boas passam depressa,

poder ter a lembrança de um gol ines-

quecível, uma cesta no último segundo,

aquele bloqueio que decide uma partida.

Sendo assim, não tem como não sentir

esse “friozinho na barriga”.

De roupa novaFoi o XXIV Interamizade do CSL e nossa

torcida, que se autoproclamou a QUA-

DRICULADA, fez com que o uniforme

não perdesse aquele desenho. Os alunos

que jogaram seu primeiro Interamizade

– que durante as Escolinhas de Esporte

viviam nos perguntando quando chega-

ria a sua vez e sonhando com esse mo-

mento – e os alunos que jogaram seus

últimos jogos – aqueles que sempre re-

presentaram o Colégio com a “alma”,

levaram a Tocha e as Bandeiras e estive-

ram estampados nos banners são verda-

deiros exemplos do Esporte no São Luís.

Assim como tantos ex-alunos que hoje

dirigem as Associações Atléticas de suas

respectivas universidades e que sempre

aparecem para nos lembrar do sentido

de nosso trabalho.

Em 2014, mais de quarenta colégios par-

ticiparam de nossos jogos. De 26 de se-

tembro a 19 de outubro, mais de cem

partidas foram jogadas. Ainda parece

que escuto: “O São Luís que vai jogar.

Quadriculada vai estar lá!”.

Por Fabio oliani,coordenador de educação Física e esPortes

Os Jogos Interamizade contaram, neste ano,

com um novo hotsite, para que todos pudessem

acompanhar a tabela de jogos e as fotos do evento.

Acesse: www.saoluis.org/interamizade

nOVO SITe

InTeRaMIzaDe

O prazer em

“vestir a camisa”

Revista Pilotis | 7

Page 8: Revista Pilotis número 28

ESTUDO DO MEIO

no contexto da educação

novos olhares

Alunos dA 2.ª série do ensino médio viAjAm pArA omAhA, usA.

Por Carolina ProsPero Graziano,Professora de redação da 2.ª série eM.

8 | Revista Pilotis

Page 9: Revista Pilotis número 28

Meio-dia de um domingo. Dia

dos Pais. No portão E7 do gi-

gantesco aeroporto de Atlan-

ta, um grupo de trinta e quatro ado-

lescentes ouvia, sentado em roda, que

nenhum de nós sairia dos Estados Unidos

naquele dia. Estavam todos sem banho

havia mais de vinte e quatro horas, além

de cansados pela noite passada ali. Mas

nenhuma palavra de revolta foi ouvida.

Esse foi um momento marcante na via-

gem realizada por um grupo de alunos da

2.ª série do Ensino Médio do Colégio São

Luís para a Universidade de Creighton,

em Omaha. Caso os dias anteriores não

tivessem causado grande impacto, esse

ocorrido talvez tivesse sobrepujado to-

dos os outros. Felizmente, não foi isso o

que aconteceu.

A proposta desse Estudo do Meio era

conhecer de perto a vida em um outro

país, entrando em contato com hábitos

diferentes, entendendo um outro mo-

delo de pensamento, comunicando-se

em uma língua que não a materna. Por

isso, foram evitados os destinos turísticos

americanos, muitas vezes já desbravados

por alguns dos nossos alunos. O objetivo

era ter uma experiência autêntica, não só

dentro de uma instituição jesuíta, como é

a bela Universidade de Creighton, mas no

interior de uma nova comunidade.

Convidada para fazer parte da equipe

que acompanharia os estudantes, eu não

sabia bem o que esperar. Já havia ouvido

falar, em algumas reuniões, das ativida-

des que eram realizadas por lá. Mas ou-

vir não esclarecia o suficiente. Somente

quando vivenciei o programa, dia após

dia, tive a real dimensão do que ele signi-

ficava em termos humanos e cognitivos.

A programação é elaborada de forma que

os alunos possam ter uma compreensão

global da vida em Omaha - a passada, a

presente e a futura. Assim, conhecemos

uma fazenda viva, que recria a vida na

região em tempos passados, com pes-

soas da comunidade assumindo o papel

de atores; fomos ao principal museu da

cidade, localizado em uma antiga estação

de trem, tendo como guia um simpático

velhinho cuja própria história se mistura

com a do lugar; conhecemos os prin-

cipais departamentos da Universidade,

entendendo como funciona o modelo de

ensino superior norte-americano; vimos

um jogo de beisebol ao lado de muitas

famílias da região; dançamos jazz no par-

que, apesar de o tempo não ter colabora-

do como gostaríamos; conhecemos em-

presas da região, que deram aos nossos

jovens perspectivas de quem eles podem

vir a ser amanhã. Todas essas atividades

somaram-se às aulas de inglês frequenta-

das diariamente, focadas em expressões e

“Todas essas atividades

somaram-se às aulas

de inglês frequentadas

diariamente.”

eSTUDO DO MeIO

Revista Pilotis | 9

Page 10: Revista Pilotis número 28

estruturas úteis ao acompanhamento de

cada um desses eventos. Um programa,

como se pode observar, bastante amplo e

interessante, que certamente contribuiu

para o desenvolvimento intelectual, cul-

tural e linguístico dos nossos alunos.

No entanto, os efeitos não foram apenas

acadêmicos. É preciso destacar o quanto

a experiência trouxe de amadurecimento

aos estudantes, devido a todas as novi-

dades envolvidas. Na Universidade, por

exemplo, os quartos e banheiros eram

compartilhados, o que exigia paciência

e muito jogo de cintura. Os cartões e as

chaves eram de responsabilidade dos alu-

nos, e perdê-los implicaria arcar com as

consequências. Os horários eram rígidos

- um elemento cultural do País - e pre-

cisavam ser seguidos, sem que ninguém

tivesse de lembrá-los disso. Lidar com es-

sas questões não foi fácil, mas certamen-

te ajudou os nossos meninos e meninas a

crescer. Ajudou-os a olhar para si sem o

apoio de terceiros; a resolver os próprios

problemas, a pensar em soluções cabíveis

para o grupo. Ali, eles se descobriram ca-

pazes de tomar conta da sua própria vida,

e descobriram também que essa vida só

existe e faz sentido dentro de uma coleti-

vidade. Lições preciosas para o presente e

o futuro de cada um.

Além disso, as amizades e experiências

compartilhadas estimularam a prática do

inglês em contexto, desinibindo-os de

forma geral. Qual não foi meu espanto

ao ouvir vozes (até então quase inaudí-

veis na sala de aula) conversando com

segurança em um idioma estrangeiro!

Ou ao ver o rosto sempre sério sorrindo,

ou os olhos sempre distraídos focados

no empacotamento de comida para os

mais necessitados. Tantas e gratas sur-

presas, que só a convivência diária pôde

me propiciar. Um novo olhar sobre alu-

nos que, sem querer, muitas vezes asso-

ciamos apenas ao desempenho em nos-

sa disciplina.

Depois dessa descrição, acredito que fica

mais fácil entender a cena que abre este

artigo. Diante de um grupo unido e ama-

durecido, que experimentou inúmeros

momentos de aprendizado e alegria, o

atraso do voo, embora incômodo e ines-

perado, resumiu-se apenas a um contor-

nável desvio de percurso.

É claro que uma experiência tão marcante

não poderia deixar de ter seus desdobra-

mentos na rotina escolar. A disciplina de

Redação se beneficiará profundamente

dela, já que os alunos produzirão jornais

ao longo do terceiro bimestre, nos quais

incluirão textos sobre o Estudo do Meio.

Além disso, uma exposição de fotografias

artísticas está em processo de produção,

após oficina do professor Paulo Sutti,

como forma de valorizar um olhar mais

apurado sobre essa outra realidade. Isso

sem contar o blog escrito durante a via-

gem, que nos ajudou a promover a refle-

xão sobre o que foi vivido por meio do

relato constante. Todos esses trabalhos

atestam a validade e a importância desse

tipo de proposta, que extrapola os muros

escolares e prepara os nossos estudantes,

integralmente, para o mundo.

ESTUDO DO MEIO

Saiba um pouco mais sobre como foi

a viagem no blog escrito pelos alunos:

www.10daysomaha.wordpress.com

O bLOg Da TURMa

10 | Revista Pilotis

Page 11: Revista Pilotis número 28

O Colégio São Luís, buscando

aprimorar seus serviços, trouxe

uma inovação para toda sua co-

munidade em agosto deste ano: o aplica-

tivo Filho sem Fila.

Esse aplicativo determina um raio de

distância de 300 m do CSL, a partir do

qual os pais podem avisar o Colégio de

sua chegada, acessando o aplicativo pelo

celular. Dessa maneira, o auxiliar que está

na galeria recebe o comunicado e pode

chamar o filho, que fica em uma área re-

servada para o embarque.

O intuito dessa ferramenta é ratificar as

ações de educação no trânsito que o Co-

légio exerce há algum tempo em nossa

região e com a nossa comunidade.

Em 2013, instalamos o sistema de som

na galeria, o que diminuiu consideravel-

mente o tempo de espera dos pais. Ago-

ra, o Filho sem Fila vem complementar

esse trabalho, pois agiliza a organização

no momento do embarque dos alunos na

rua interna.

O aplicativo funciona no horário de sa-

ída do período da manhã, entre 12h e

13h15, e do período da tarde, entre 18h

e 19h15.

na hOra de Buscar seu filhOMenOS FILa O aplicativO FiLhO sem FiLA está sendO utilizadO cOm sucessO pelOs pais dO csl desde agOstO deste anO.

Por Marcelo Martins,coordenador do dta

TeCnOLOgIa

Revista Pilotis | 11

Page 12: Revista Pilotis número 28

de miami a

antOfagasta,

em Busca da

Na indústria, repetir os mesmos

procedimentos na elaboração de

um produto garante a sua qua-

lidade. Mas, o que garante a qualidade

na escola?

Em uma escola, a repetição de certas

práticas com alunos diferentes não leva

necessariamente ao mesmo resultado.

O ideal de uma escola é que todos os

seus alunos tenham o máximo de apro-

veitamento e que eles sejam desafiados

a aprender em sua capacidade máxima,

o que, sabemos, varia de aluno para alu-

no. Uma escola de qualidade deve estar

comprometida com a formação integral

de todos os seus alunos.

educação jesuítaPara uma escola ligada à Companhia de

Jesus, essa formação passa por uma visão

integral da pessoa, pelo desenvolvimento

de suas faculdades espirituais (memória,

entendimento e vontade), pessoais (tra-

dição e cultura) e pelo fortalecimento do

indivíduo enquanto ser livre, para que

ele possa desenvolver ao máximo suas

potencialidades a serviço dos outros, em

busca do bem comum.

gestão escolarTraçar as estratégias não é uma tarefa

simples. Para facilitar o desafio vivido

diariamente pelos educadores do Colé-

gio São Luís, a FLACSI (Federação Latino-

-americana dos Colégios Jesuítas) criou

um Sistema de Qualidade na Gestão Es-

colar para ser aplicado a todos os colégios

jesuítas, de Miami a Antofagasta, Chile.

Esse sistema, criado sob encomenda para

ser aplicado em colégios da Companhia

de Jesus, começou a ser desenvolvido em

2011 por especialistas da Universidade

Por Tuna Serzedello,deParTamenTo de ComuniCação

SiStema de Qualidade

qUaLIDaDe

12 | Revista Pilotis

Page 13: Revista Pilotis número 28

Alberto Hurtado do Chile e da Univer-

sidade Católica do Uruguai. Sua imple-

mentação começou em 2013, em colé-

gios da América espanhola.

Agora, em 2014, o sistema começa a ser

testado em colégios brasileiros e três são

os pioneiros: Colégio Medianeira de Curi-

tiba, Colégio Diocesano de Teresina e o

Colégio São Luís em São Paulo.

passo a passoA primeira etapa da implantação do

sistema já está em andamento. Foram

criadas quatro equipes, uma para cada

âmbito do projeto: pedagógico curricu-

lar; clima escolar; organização, estrutura

e recursos; e família e comunidade. Todas

elas com foco na aprendizagem integral

do estudante.

O objetivo desta primeira etapa é fazer

uma autoavaliação e identificar os ob-

jetivos conquistados na aprendizagem.

Em seguida, na etapa 2, serão definidas

metas para a elaboração dos planos de

melhoria, cuja implantação deverá ocor-

rer em um prazo de 20 meses. Ao final

de 20 meses, uma auditoria da FLACSI

virá conferir os frutos desse processo.

Depois disso, o ciclo recomeça com uma

nova autoavaliação.

O sistema foi criado com base no pedido

dos diretores dos colégios, visando ga-

rantir o cumprimento da missão jesuítica

na educação. O CSL foi escolhido como

um dos pioneiros no Brasil por já ter in-

corporado em sua cultura a realização

de planejamentos estratégicos de metas,

autoavaliações, pesquisas com institutos

externos, e por ser um centro curioso,

interessado em novas práticas, que au-

mentem a eficácia dos nossos métodos

inacianos de educação.

SISTeMa De qUaLIDaDe

FOCOAPRENDIZAGEM

INTEGRAL

40%25%

10%25%

CLIMA ESCOLAR

FAMÍLIA ECOMUNIDADE

ORGANIZAÇÃO,ESTRUTURA E RECURSOS

PEDAGÓGICO CURRICULAR

Mais informações sobre o “Sistema de

Calidad en la Gestión Escolar” podem ser

obtidas no site da FLACSI: www.flacsi.net

SaIba MaIS

“Uma escola de

qualidade deve estar

comprometida com a

formação integral de

todos os seus alunos.”

Revista Pilotis | 13

Page 14: Revista Pilotis número 28

A Missão RuRAl fAz os Alunos MeRgulhAReM eM uMA ReAlidAde difeRente

dAquelA eM que eles viveM e pRopoRcionA-lhes

MoMentos inesquecíveis.

MISSÃO RURAL

A Experiência de Comunhão e Participação

– Missão Rural – é uma experiência de

inserção para acolher e se deixar acolher,

uma oportunidade de comunhão com pessoas

que, na simplicidade, trabalham e confiam na ge-

nerosidade da natureza, um apelo à participação

nos afazeres do dia a dia e à solidariedade, pro-

motora de uma sociedade igualitária; enfim, um

convite a valorizar as pequenas coisas, porque na

verdade elas são grandes.

incrível é poucoPor Victor Sá – 2.ª série EM, turma 3

Desde pequeno, já ouvia falar da chamada Missão

Rural. Lembro-me de uma vez, se não me enga-

no no 9.º ano, quando alguns colegas e eu fomos

chamados para ouvir relatos de alunos que tinham

acabado de voltar da Missão. Nessa reunião, além

de ouvir as histórias daquele lugar simples e má-

gico, conheci aquele café extremamente doce e

aquele pão de queijo parecido com um biscoito de

polvilho que hoje me são tão familiares. A partir de

então, decidi que iria.

por Iracy Gomes, assessora deFormação crIstã do 6.º ano eFFotos carolIne FarIa lamaIta

experiência de vida

14 | Revista Pilotis

Page 15: Revista Pilotis número 28

MISSÃO RURAL

No segundo ano do EM veio o convite, logo me

inscrevi e me certifiquei de que meus amigos fi-

zessem o mesmo. Chegado o dia da ida, nos di-

rigimos ao Colégio, para depois, na rodoviária,

pegarmos o ônibus e enfrentarmos as 15 horas na

estrada. A ansiedade era grande: aquela viagem

tinha gosto de aventura; mas o frio na barriga e a

dúvida também eram. Muitas vezes me vi questio-

nando se deixar o conforto de casa para me meter

no meio do nada realmente valia a pena.

Ao chegar em Montes Claros, fomos acolhidos em

mais uma das casas dos jesuítas. Lá tomamos café

da manhã e fomos divididos em dois grupos para

que fôssemos encaminhados para as comunidades

rurais em que ficaríamos. No meu grupo, havia

duas amigas que ficariam na mesma comunidade

que eu: Mavi e Clara. Nós ficaríamos em Chapadi-

nha. Pegamos uma van e partimos para deixar as

10 pessoas de meu grupo em suas famílias. Fui o úl-

timo a ser deixado, o que significou mais 5 horas de

viagem. Mas foi bom, ia conhecendo as novas fa-

mílias e as casas de meus amigos, o que só aumen-

tava a curiosidade para saber como seria a minha.

Finalmente cheguei em minha casa: era uma fa-

zenda bem afastada das demais e a casa em si

tinha muitos cômodos bem espaçosos, mas todos

simples, somente com o necessário. Nilza, uma

mulher muito simpática, logo veio me receber.

Depois ia conhecer seus dois filhos, Felipe, de 16

anos, e Thiago, de 17. No começo é estranho,

você se sente um pouco deslocado, vai testando

sua liberdade dentro da família e tentando conhe-

cer um pouco mais de cada um. Mas essa estra-

nheza passa rápido, acontece de forma natural,

você logo se sente parte daquela família e à von-

tade com eles.

Descobri que Thiago já estava na faculdade, fazia

Agronomia e adorava andar a cavalo. Já Felipe ain-

da estava no EM, gostava de ler e, melhor de tudo,

ouvia Legião e Engenheiros do Havaí, duas bandas

de que eu gosto muito, o que rendeu muita con-

versa. Nilza se mostrou uma mulher muito bata-

lhadora e sempre aberta para conversa, era só me

sentar à mesa da cozinha que ela logo começava

a puxar assunto, além de tudo era ótima cozinhei-

ra. Eles me trataram muitíssimo bem, mas tive de

“No começo

é estranho,

você se sente

um pouco

deslocado,

mas essa

estranheza

passa rápido,

acontece de

forma natural.”

Revista Pilotis | 15

Page 16: Revista Pilotis número 28

implorar para ajudar, não queriam me dar nenhum

trabalho. Mas, depois de muito esforço, consegui

ajudar na horta, colher laranjas, limpar o engenho

de farinha e cuidar dos sete cachorros de lá.

Vivi momentos incríveis. Num deles, estava mon-

tado num cavalo no topo de uma colina, olhando

aquela paisagem linda e árida, com Skank tocando

no celular de Felipe, e naquele instante me senti

infinito. Outro momento foi a ida à feira para ven-

der farinha, também com o Felipe. Na feira, eu co-

nheci uma realidade muito diferente, muita gente

parava para conversar comigo e saber de onde eu

era, e também ficou clara a rivalidade entre atleti-

canos e cruzeirenses. Ainda na feira, tive a sorte de

encontrar mais 5 amigos da Missão e então pude-

mos compartilhar nossas experiências, saber como

cada um estava e renovar as energias.

Houve também uma festa de forró, na qual pude

encontrar mais amigos do CSL com suas famílias

rurais, e me diverti muito, além de conhecer mais

daquela cultura, mesmo brasileira, bem diferente

da nossa: a festa junina deles deixa a nossa no chi-

nelo. Se eu fosse contar tudo o que aconteceu lá,

teria de escrever um livro, e não um texto, mas es-

ses foram os momentos que mais marcaram.

Muitas vezes me pego pensando nessa viagem e

a saudade vem forte. Ainda converso com Nilza,

Thiago e Felipe e não vejo a hora de voltar. Ela

me fez perceber que é possível ser feliz com muito

pouco, mas também me fez dar valor a, por exem-

plo, um mercado próximo de casa ou ao forro do

telhado. Agora, não tenho dúvidas de que esse

“meio do nada” é mágico e o recomendo a todos.

superaçãoPor Marina Saraiva – 2.ª série EM, turma 3

Confesso que tive de pensar muito antes de acei-

tar ir para Montes Claros, tinha muito medo de

não me acostumar com outro estilo de vida, de

sentir falta da minha família e do meu dia a dia.

Então eu pensei: “De que adianta eu me isolar no

mundo que já conheço enquanto milhares de pes-

soas vivem uma realidade totalmente diferente?”

E não me arrependi de minha decisão, agora não

só visitei uma nova realidade, como conheci pes-

soas que me trataram com muito carinho e vivem

bem mais felizes com muito menos do que eu te-

nho em casa. Isso me ensinou a respeitar o pouco

e a dar valor a tudo que tenho. Foi uma experiên-

cia indescritível, realmente recomendo!

“Conheci

pessoas que

me trataram

com muito

carinho e

vivem bem

mais felizes

com muito

menos do

que eu tenho

em casa.”

MISSÃO RURAL

16 | Revista Pilotis

Page 17: Revista Pilotis número 28

Por Julia Braun,estagiária do deCoM.

LÍngUa IngLeSa

A cada ano, cerca de um milhão de pessoas

em todo o mundo avalia seus conheci-

mentos da língua inglesa com o TOEFL.

Desde o mês de agosto, o Colégio São Luís passou

a integrar o grupo de instituições autorizadas a

aplicar essa prova, após receber a Certificação do

ETS – Educacional Testing Service, uma conceitua-

da instituição americana.

o testeO TOEFL - Test of English as a Foreign Language -

é o maior exame destinado a comprovar o nível de

proficiência em língua inglesa, e é obrigatório para

quem deseja ingressar em universidades americanas.

Aceito no mundo todo, em mais de 9000 insti-

tuições, o certificado é concedido àqueles que

possuem competência para usar e compreender o

inglês de nível universitário.

A prova é composta por quatro partes: compreen-

são de texto, compreensão auditiva, exame oral e

exame escrito. Todas essas habilidades requeridas

são necessárias para comprovar a capacidade do

candidato de realizar atividades de nível acadêmi-

co na língua estrangeira.

O resultado varia de 0 a 120 pontos e é composto

pela soma dos pontos obtidos em cada uma das

quatro partes, que variam de 0 a 30. Quem define

a nota mínima necessária no teste é a instituição de

ensino na qual os futuros alunos desejam ingressar.

Segundo o ETS, as notas são divulgadas cerca de 15

dias após a realização do exame e podem ser visu-

alizadas por meio do cadastro de cada participante.

o colégioInteiramente realizada no computador, a prova

será sempre ministrada nos laboratórios do sexto

andar do São Luís, aos sábados de manhã. Alunos,

ex-alunos, pais, professores e funcionários podem

prestar o TOEFL. A avaliação também será destina-

da ao público externo.

Essa conquista concretiza mais um pouco a inten-

ção do Colégio de internacionalizar o ensino ofere-

cido. Projetos como o Estudo do Meio em uma ci-

dade de Nebraska, nos Estados Unidos, e parcerias

com universidades da Rede Jesuíta de Educação

já anunciam o desejo de abrir os horizontes dos

alunos e de inseri-los no mundo da globalização.

quero prestar!Os interessados em realizar o teste devem se ins-

crever diretamente no site do Educacional Testing

Service (www.ets.org) e selecionar o Colégio São

Luís como local da prova. O recomendável é que

o cadastramento seja feito com um mês e meio

de antecedência. O valor da prova é de U$ 215,

pagos diretamente ao ETS.

Para saber mais basta entrar em contato

pelo e-mail [email protected].

MaIS InFORMaÇÕeS

DesDe agosto, o CsL tornou-se uma Das instituições autorizaDas a apLiCar a prova.

Revista Pilotis | 17

Page 18: Revista Pilotis número 28

avaliação

avaliar

PaRa qUê?

Por Denise Krein

18 | Revista Pilotis

Page 19: Revista Pilotis número 28

O que impulsiona e inspira os ide-

ais educativos do Colégio São

Luís é a Pedagogia Inaciana, pro-

posta pedagógica da Companhia de Je-

sus explicitada em diversos documentos.

A Pedagogia Inaciana é mais do que uma

metodologia de ensino, ela nos apresenta

uma perspectiva quanto à pessoa que se

pretende formar em um colégio jesuíta

e nos sugere um caminho para que os

valores inacianos sejam incorporados no

processo de ensino e aprendizagem.

A Pedagogia Inaciana propõe-nos que a

construção do conhecimento pelo aluno,

mediada pelo professor, ocorra em cinco

momentos que se inter-relacionam: contex-

to, experiência, reflexão, ação e avaliação.

Pode-se verificar que a avaliação é um

dos momentos da ação educativa de um

colégio jesuíta. De acordo com o Projeto

Pedagógico do Colégio São Luís, a avalia-

ção é uma ação educativa que proporcio-

na ao aluno e ao professor a possibilidade

de um permanente diagnóstico dos pon-

tos positivos e negativos do processo de

ensino e aprendizagem, indicando as ne-

cessidades de novas intervenções. Assim,

a avaliação fornece subsídios para que a

excelência, inspiração do Magis Inaciano,

seja alcançada.

Dentro de uma instituição jesuíta, a ava-

liação não assume um caráter classificató-

rio, mas promove a consciência individual

do que foi possível alcançar. O professor

tem a oportunidade de refletir sobre o tra-

balho desenvolvido, e o aluno, de verificar

os avanços e as dificuldades na sua apren-

dizagem, para que, juntos, busquem me-

lhores resultados, não no sentido da com-

paração de um aluno com outro, mas no

sentido da comparação do aluno consigo

mesmo, tendo como desafio a autossu-

peração. O aluno é sempre incentivado a

dar o melhor de si, a superar seus próprios

limites e a desenvolver ao máximo suas

potencialidades individuais.

A avaliação tem muitas finalidades. Ela

orienta a ação do professor, proporcio-

na elementos para a reflexão constante

sobre a prática docente, permite a veri-

ficação das competências e habilidades

desenvolvidas pelos alunos, incentiva a

revisão e reconstrução das formas de en-

sinar e dos instrumentos pedagógicos e

fornece subsídios para a tomada de cons-

ciência dos sujeitos envolvidos no proces-

so de ensino e aprendizagem. Quanto ao

aluno, ele tem a possibilidade de identifi-

car o que deve melhorar e de rever suas

atitudes em relação à construção do co-

nhecimento, assumindo um papel ativo

na sua aprendizagem, o que é muito im-

portante em um colégio jesuíta, já que a

proposta é formar pessoas competentes,

conscientes, reflexivas e comprometidas,

impelidas a agir com liberdade e por op-

ções pessoais, mas sempre assumindo a

responsabilidade sobre as próprias ações.

Além de tudo isso, a avalição também

é um momento privilegiado de aprendi-

zagem. Isso porque ela permite que os

alunos aprendam com o erro, descubram

aVaLIaÇãO

AV

ALI

ÃO

CONTEXTO EXPERIÊN

CIA

AÇÃO REFLEXÃO

PARADIGMAPEDAGÓGICO

INACIANO

Revista Pilotis | 19

Page 20: Revista Pilotis número 28

formas de lidar com suas próprias emo-

ções, gerenciem o tempo, desenvolvam

autonomia. Ainda propicia a construção

de competências e habilidades importan-

tes na sociedade moderna, pois, depen-

dendo do tipo de avaliação, ela favorece

que os alunos aprendam a expor seus

pontos de vista, ouçam e respeitem opini-

ões diferentes da sua, trabalhem de forma

colaborativa e cooperativa, convivam com

os colegas, busquem informações, produ-

zam conhecimento e resolvam problemas

complexos, entre tantas outras coisas.

Para que atinja seus fins, a avaliação precisa

ser processual, sistemática e dinâmica, de

forma a favorecer ajustes constantes para

o efetivo trabalho educativo. Essa visão,

portanto, não reduz a avaliação a provas,

embora elas sejam de grande importância.

É por isso que outras formas de avaliação

estão presentes no Colégio São Luís.

A elaboração de qualquer instrumento

de avaliação não é uma tarefa simples e

fácil, pois ele precisa ser coerente e com-

patível com o trabalho pedagógico rea-

lizado, adequado às situações didáticas

propostas e ao nível de desenvolvimento

dos alunos, levando-se em conta sua fai-

xa etária. A avaliação deve ser clara, pre-

cisa, de modo a comunicar exatamente

sua proposta, com comandos adequa-

dos. Além disso, necessita de parâmetros

claros para atribuição de valor, pois, sen-

do um diagnóstico, uma constatação, ela

qualifica o que está sendo avaliado pela

comparação entre os resultados alcança-

dos e um padrão esperado, o que permi-

te uma quantificação desses resultados.

Para que a avaliação seja efetiva, ela tam-

bém precisa ser focada no que é essencial

e relevante para a aprendizagem do alu-

no. Assim, o professor deve ter clareza do

que é importante e fundamental naquele

momento da vida escolar do aluno, para

que a profundidade e complexidade do

que é avaliado sejam apropriadas.

Por saber que a avaliação é um tema que

exige estudo e aprofundamento constan-

te por parte do corpo docente, o Colégio

São Luís desenvolve um trabalho formati-

vo com os seus professores. No início des-

te ano, por exemplo, durante a Semana

Pedagógica, o professor Cipriano Luckesi,

renomado doutor em Educação e espe-

cialista em avaliação da aprendizagem,

ministrou uma palestra aos professores,

na qual se refletiu sobre o papel da avalia-

ção. Ao terminar a palestra, Cipriano Lu-

ckesi afirmou que a avaliação é um ato de

amor. Um ato de amor, pois o professor,

ao avaliar o aluno, dispõe-se a acolhê-lo,

em oposição a excluí-lo e puni-lo.

A ideia de que a avaliação é um ato de

amor e de acolhimento está totalmente

em consonância com a proposta pedagó-

gica de um colégio jesuíta. O professor

precisa dispor-se a conhecer o que o alu-

no aprendeu, o que o aluno conseguiu

atingir naquele estágio particular de de-

senvolvimento, e, sobretudo, dispor-se a

assumir a sua contribuição para a apren-

dizagem, revendo suas ações, na busca

do que é melhor para o processo forma-

tivo do aluno. Desse modo, o professor

também assume a parte que lhe cabe no

processo de ensino e aprendizagem, e a

avaliação assume o caráter de construção

desse processo, e não de finalização dele.

avaliação

“O aluno é sempre incentivado a dar o

melhor de si, a superar seus próprios

limites e a desenvolver ao máximo

suas potencialidades individuais.”

20 | Revista Pilotis

Page 21: Revista Pilotis número 28

A sétima edição da Bienal de Artes

dos Colégios Jesuítas aconteceu

nos dias 08, 09, 10 e 11 de outubro,

no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro.

O evento é mais que um encontro para

a produção intensa da Arte. Ele é um

dos inúmeros frutos de um trabalho com

o qual a equipe se fortalece e aprende

constantemente junto aos nossos alu-

nos. Essa edição da Bienal de Artes teve

em vista a futura Província Brasil da Com-

panhia de Jesus e se situou em “dois

períodos de uma mesma história, num

mesmo espírito”.

Neste ano, em que a Companhia de Jesus

celebra os 200 anos de sua Restauração,

a Bienal de Artes teve como tema Asas

do Tempo: arte, memória em movimen-

to, e fez parte da história de integração

de nossos alunos com a Arte e a Cultura,

que é proposta do projeto educativo da

Companhia de Jesus.

“A caminhada de nossos alunos no mun-

do da Arte e da Cultura se ampliará para

além de nossos olhos e corações. Acre-

ditamos que a experiência da Bienal de

Artes contribuirá com a nova Província

Brasil e com outros projetos que surgirão,

fomentando cada vez mais a sensibiliza-

ção e a educação do olhar dos nossos

educadores e alunos para aquilo que é

Belo e Divino.” (Texto retirado do docu-

mento oficial da VII Bienal de Arte – RJ)

arte, memória em mOvimentOaSaS DO TeMPO:

Confira as fotos da VII Bienal

de Artes em um álbum

especial no Flickr do Colégio:

www.flickr.com/saoluis/sets

SaIba MaIS

Por NILZA GUIMArÃES,ProFESSorA DE ArTES.

bIenaL De aRTeS

Revista Pilotis | 21

Page 22: Revista Pilotis número 28

CaPa

22 | Revista Pilotis

Page 23: Revista Pilotis número 28

Vamos fazer um pequeno teste. Você já pas-

sou 24 horas sem reclamar de alguma coisa

em relação à nossa cidade, ao nosso estado

ou ao nosso País?

O trânsito sempre carregado pela manhã, a falta

de placas indicativas ou a rua esburacada certa-

mente são motivos diários de descontentamento.

Contas de luz, de água ou do supermercado, caras

demais, com impostos embutidos, não dão trégua.

O medo ao sair de casa, estamos sempre olhando

para todos os lados, sem abrir os vidros do carro

e rezando para que nem nós nem nossa família

sejamos vítimas de assalto ou de outra violência.

O nariz, constantemente trancado pela poluição e

pela falta de chuva.

A revista Pilotis conversou com alguns alunos de

diversas faixas etárias sobre a situação atual de São

Paulo e do Brasil e pediu a eles que comentassem

e indicassem algumas soluções possíveis para cada

item lembrado. Até o fechamento da revista, os

estudantes ainda não sabiam quem seria o próxi-

mo presidente brasileiro.

Saiba mais o que pensam nossos alunos sobre o

mundo em que vivemos e o que as próximas gera-

ções querem realizar para mudar os principais pro-

blemas e as deficiências da nossa sociedade.

O cenáriO atual dO Brasil e a visãO de nOssOs alunOs sOBre Os sete principais temas deBatidOs durante O períOdO eleitOral, que agOra sãO cOlOcadOs diante de nOssO gOvernante.

por Marcia Guerra e Julia Braun,departaMento de coMunicação.

os 7 pilares da administração brasileira vs 1 novo presidente eleito

CaPa

Revista Pilotis | 23

Page 24: Revista Pilotis número 28

O Brasil, em 2013,

registrou 13 milhões

de analfabetos com 15

anos ou mais, segundo

dados divulgados re-

centemente pela PNAD

(Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicí-

lios), do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia

e Estatística).

A taxa de desemprego,

em 2013, teve seu pri-

meiro aumento desde

2009. De 6,1% passou

para 6,5% de brasi-

leiros sem trabalho,

segundo a PNAD.

De acordo com dados

do ano de 2010 do

IBGE, estão preser-

vados apenas 12%

da área original da

Mata Atlântica, o

bioma mais devastado

do País. Já o Pampa

Gaúcho e o Cerrado

perderam, respectiva-

mente, 54% e 49,1%

da sua área original.

Segundo o TSE, o

índice de abstenção

nas eleições de 2014

subiu de 19,39% no

primeiro turno para

21,1% no segundo.

Em números absolu-

tos, 30,14 milhões de

eleitores deixaram de

ir às urnas no segun-

do turno.

a atual situação do brasil

“A saúde pública é uma questão emergencial. Há

necessidade de maior número de hospitais pú-

blicos para que as pessoas sejam atendidas mais

rapidamente e não em macas nos corredores.”

Michaela – 2.1

“Já aconteceu comigo de ir no único hospital da cidade e não ter nem soro,

e não dá para fazer nada sem soro. Não vejo como um hospital pode estar

aberto sem materiais básicos. Para mudar isso, temos que investir em saúde,

investir em lugares como o que eu falei, que só têm um hospital e têm um

déficit de saúde muito grande. Sem essas condições básicas nenhum médico

quer trabalhar, não adianta muito contratar médicos de outros países se você

não tiver hospitais para eles trabalharem.” Luiza, 3.1

SAÚDE1capa

24 | Revista Pilotis

Page 25: Revista Pilotis número 28

O índice que mede a

concentração de renda

no País piorou para

0,498 (quanto mais

perto do zero, menor

a desigualdade) em

2013. De acordo com

o jornal O Estado de

São Paulo, “o esgota-

mento do crescimento

econômico desde 2011

torna ainda mais difícil

seguir distribuindo

renda. Para piorar, as

razões desse esgota-

mento (baixa qualifica-

ção da mão de obra,

infraestrutura defi-

ciente, burocracia, má

regulação, custo fiscal)

atingem em cheio a

distribuição de renda”.

No início deste ano, o

CFM (Conselho Federal

de Medicina) apresen-

tou um relatório após

visitar oito hospitais de

urgência da rede públi-

ca, indicando proble-

mas estruturais no SUS

que ferem a dignidade

e os direitos da popu-

lação. Pacientes em

macas e em colchões

pelo chão, demora

para o atendimento no

PS e falta de água nos

banheiros são alguns

dos muitos cenários de

caos encontrados.

O trânsito – conside-

rado por 70% dos

paulistanos como

“ruim” ou “péssimo”

em pesquisa realizada

pelo Ibope – tende a

ficar ainda pior com o

aumento do núme-

ro de pessoas que

possuem carro. Em

2013, somavam 52%

e, neste ano, são 62%.

Em contrapartida,

o governo facilita a

compra de automóveis

e, ao mesmo tempo,

aumenta o número de

ciclofaixas pela capital.

Frotas de ônibus con-

tinuam com número

estagnado, assim

como obras do Metrô

e de trens.

Segundo dados do

IBGE, São Paulo está

entre os oito muni-

cípios detentores do

maior número de

favelas no Brasil, com

612, seguido pelo

Rio de Janeiro, com

513. As favelas são

uma alternativa para

pessoas carentes, e as

ocupações indevidas

aumentam a cada ano

na capital.

Mais de 50 mil pessoas

foram assassinadas em

nosso país em 2012,

segundo o Relatório

Global sobre Homicí-

dios (Global Study on

Homicide 2013). Esse

número equivale a 11%

do total mundial. O

Brasil está em 7.º lugar

no ranking de países

com maior número de

assassinatos. O que

deveria ser obrigação do

Estado – cuidar da segu-

rança pública dos seus

cidadãos – não acontece

e as pessoas estão

cada vez mais expostas

à violência urbana.

“A segurança pública é uma questão do Brasil e a

demora da polícia e da justiça em resolver os casos,

além das pessoas que saem da cadeia sem terem

mudado e já cometem novos crimes. Outra ques-

tão é o preconceito, não só de cor, mas também

de religião e de opção sexual. Cada pessoa tem

direito de escolher o que quer ser.” Pedro – 6.4

capa

sEGuraNça

“Eu prenderia todas as pessoas que fizessem coi-

sas ruins, melhoraria todas elas e depois liberta-

ria.” Maria Eduarda – 3.5

Revista Pilotis | 25

Page 26: Revista Pilotis número 28

“A divulgação e o compartilhamento de informa-

ções sobre a política brasileira é importante para

que a nossa geração conheça, se envolva e enten-

da que política faz parte da vida de todos. Even-

tos como o que aconteceu no final de setembro,

o qual foi realizado por iniciativa dos alunos do

Ensino Médio e que trouxe, com a ajuda dos pro-

fessores e convidados, a história e a situação da

política no País, são um bom exemplo. Outros pro-

jetos que o Colégio incentiva e promove, como o

de realizar ações em instituições carentes, também

conseguem desenvolver os valores morais e éticos

que faltam em nossa sociedade.” Victor – 2.3

“Deveria haver na escola uma educação política desde cedo para que as crian-

ças e depois os jovens pudessem entender a real importância do voto, para

que acabasse esse distanciamento entre as pessoas e a política.” Marina – 2.3

“A questão da moradia no Brasil poderia ser re-

solvida com a expansão de algumas cidades do in-

terior que estão em ascensão. O governo poderia

oferecer ou facilitar o trabalho e a moradia nesses

locais para que as pessoas saíssem das grandes ci-

dades.” Ottavio Augusto – 9.2

“O aumento das favelas, que acontece pelo fato

de as pessoas estarem mais pobres e não consegui-

rem comprar as suas casas, é um problema para as

cidades grandes. E também a falta de água, que

pode ser melhorada com ações simples como o

que fazemos em casa: enquanto a água do chu-

veiro esquenta, você pode guardar em um balde

para usar no lugar de dar a descarga.” Sofia – 6.5

Moradia

cidadania

capa

26 | Revista Pilotis

Page 27: Revista Pilotis número 28

“O investimento na educação é a chave para tudo, pois é um processo lento,

mas que ‘conserta’ vários outros problemas da sociedade. Lembrando que

não só a construção de mais escolas é importante, mas também, principal-

mente, o investimento na formação de professores.” Luís Felipe – 9.2

“Eu construiria mais creches, hospitais e escolas e

também mudaria policiais para eles trabalharem

melhor. Não roubaria dinheiro e ia diminuir os as-

saltos.” Paola – 3.5

EduCação“Educação é a base de tudo. A pessoa que tem mais informações consegue

mais e melhores empregos, ganha um salário e faz a economia girar. É impor-

tante dizer que a educação não se resume somente à formal, de conteúdo

ensinado na escola. Há também a formação de valores morais. Atualmente,

a nossa sociedade está totalmente distorcida em relação à ética. O governo

deveria ter uma política mais rigorosa em relação à educação pública brasilei-

ra. Outra boa ação seria a obrigatoriedade de todos os funcionários públicos

colocarem seus filhos em escolas públicas. Seriam obrigados a olhar por elas

e melhorar a qualidade do ensino. Para isso também seria necessário o envol-

vimento da comunidade como um todo, as pessoas teriam de deixar o como-

dismo e o individualismo de lado e se aproximar mais da política. O sistema de

avaliação também deveria mudar, pois o vestibular avalia somente um dia da

capacidade do aluno de fazer prova e não o seu real conhecimento. O sistema

que deveria ser adotado seria o de avaliação do histórico escolar do aluno e

entrevistas para conhecer a sua capacidade.” Léo – 2.2

“As universidades, como a USP, precisam se atualizar. Há necessidade de um

incentivo por parte do governo para que os currículos e os professores sejam

atualizados. Um bom exemplo disso é a Engenharia da USP.” Paulo – 2.1

capa

Revista Pilotis | 27

Page 28: Revista Pilotis número 28

TRANSPORTE

MEIO AMBIENTE

“Eu não deixaria nin-

guém poluir nem gastar

água. Construiria escolas

e cuidaria da natureza.”

Gabriela – 3.6

“Eu não deixaria poluírem rios.” João Pedro – 3.6

“Eu mandaria melhorar a poluição e também não

fumarem, senão iriam todos presos.”

Carlos Eduardo – 3.6

“O maior problema de

São Paulo é a poluição.

Tem muita propaganda

sobre o que se pode fa-

zer, mas a solução é fácil

e pode ser feita por qual-

quer um: uma carona

solidária ou a reciclagem

de lixo, por exemplo.”

Giovana – 6.5

“O desmatamento das

florestas contribui com

o aquecimento global

e pode ser combatido

com a ajuda do gover-

no em patrulhar as áre-

as verdes, e também de

cada um de nós, plan-

tando novas árvores.”

Felipe – 6.4

“Eu acho que o transporte no Brasil não é muito

bom, mas também não é muito ruim. Ajuda as pes-

soas a se locomoverem, mas é ruim nas horas que

está muito cheio. Como tem pouco, lota demais

e aí é muito complicado. Mas nos horários mais

vazios ajuda bastante. Para melhorar podiam in-

cluir mais linhas e aumentar o número de metrôs.”

Júlia – 8.2

“Na Linha Amarela do metrô a qualidade é muito

boa, só que na linha vermelha a qualidade é dife-

rente. Eu acho que existe um pouco dessa dife-

rença entre as condições das linhas e isso deveria

se estabilizar, de forma que deixasse todas iguais.

Deveria ter mais assentos e ser mais rápido.”

Giovanna – 9.3

“O transporte público atualmente é bem cheio,

não tem cadeira para todo mundo. Acho que o

governo tinha que investir no transporte.”

Mateus – 8.2

capa

28 | Revista Pilotis

Page 29: Revista Pilotis número 28

Aconteceu nos dias 12, 13 e 14

de setembro a VIII Simulação In-

terna das Nações Unidas (SINU),

que contou com 150 participantes dos

três anos do Ensino Médio do São Luís e

do Colégio São Francisco Xavier, e alunos

a partir do 9º ano do Ensino Fundamen-

tal, de ambos os colégios, como staff.

organiZação reconhecidaA SINU vem sendo aperfeiçoada pelos

organizadores há oito anos e se tornou

um dos principais eventos do colégio, re-

conhecido entre as escolas de São Paulo

tanto por sua organização quanto por sua

qualidade acadêmica. Nesse sentido, para

elevar ainda mais o nível do evento, este

ano a equipe organizadora apresentou

duas novidades: a presença de duas se-

cretárias acadêmicas e de secretários ge-

rais e administrativo-financeiros adjuntos,

que contribuíram enormemente para a

preparação da simulação. No total, foram

seis secretários e 16 diretores, estes distri-

buídos por cinco comitês: o Conselho de

Segurança das Nações Unidas (CSNU), o

Conselho de Direitos Humanos (CDH), o

Grupo dos 20 (G-20), o Tribunal de Nu-

remberg (TN) e o Comitê de Imprensa (CI).

uM só tiMeUma das marcas do São Luís, a SINU é

um evento que, embora organizado por

alunos do terceiro ano, envolve todos os

setores do Colégio, passando pelo Almo-

xarifado, pelos Departamentos de Comu-

nicação e de Tecnologia, pela Tesouraria,

pelas Coordenações e pela Direção. São

oito meses de preparação, que incluem

a escolha dos comitês e temas, inúmeras

reuniões, a preparação dos guias de estu-

do, a busca incansável por patrocinadores,

a compra de todos os materiais e brindes,

o aviso nas salas de aula e muito mais,

para que tudo esteja pronto na hora certa.

vivência e aprendiZadoTambém pelo fato de ser organizada por

alunos, a SINU é uma possibilidade única.

Tanto para quem participa quanto para

quem organiza, ela representa vivenciar

uma experiência ímpar. Por um lado, os

delegados fazem contato com o mundo

diplomático e com a realidade da ONU, à

qual a SINU procura ser o mais fiel possí-

vel; exercitam a oratória, a argumentação

e o diálogo; estudam temas históricos e

atualidades importantes para o vestibular,

para a compreensão do nosso contexto

atual e para a formação como cidadãos,

e exercitam o lado humanitário, tão valo-

rizado pelo colégio. Por outro lado, os or-

ganizadores enfrentam enormes desafios,

uma vez que ter a SINU nas mãos é uma

enorme responsabilidade, que exige com-

prometimento e dedicação incansáveis.

#vaisinuQuando a gente é menor e ouve no

Colégio que “a SINU é top”, desconfia,

porque acha que não deve ser tão le-

gal estudar e ficar lá um fim de semana

debatendo um assunto que, aparente-

mente, não tem nada a ver com a nos-

sa vida. Mas, quando a gente participa

pela primeira vez, se encanta. A SINU

tem muito disto: ela encanta as pessoas.

Quando você está lá, naquele ambiente

especial, com seus amigos, vendo toda

aquela gente preparada e interessada,

querendo mudar o mundo para melhor,

você realmente vê que sim, estamos no

caminho certo. E isso não tem preço. Este

é o verdadeiro legado da SINU: mostrar

que tudo dá para fazer, mostrar que nós

podemos, sim, fazer a diferença. Porque,

como me disse certa vez o Rodolfo Uras,

um dos organizadores da VII SINU, da

qual eu participei, “a SINU é como um

filho”. #vaiSINU

Oitava ediçãO dO eventO OrganizadO e divulgadO pelOs alunOs dO Csl para Os própriOs alunOs.

por rafael lourenço facchini, aluno da 3.ª série eM

na veiaSInU

eVenTO

Revista Pilotis | 29

Page 30: Revista Pilotis número 28

Há oito anos acontece o Projeto Conexões de Teatro para Jovens, com textos

inéditos da nova dramaturgia. Esse trabalho, realizado por meio da parceria

entre o Colégio São Luís, o British Council, a Cultura Inglesa, a Escola Superior

de Artes Célia Helena e o National Theatre de Londres, é uma preciosidade e tem fo-

mentado um pequeno tremor de terra no campo do teatro estudantil.

Nos oito anos do projeto, observamos como os estudantes são transformados pelo

contato com o teatro. É contagiante. Grupos que trazem outros grupos, que lotam o

teatro nas apresentações da Mostra, que indicam, que leem, que pesquisam, que se

assistem, que se orgulham.

colhendo FrutosJá temos História, e, neste ano, comemoramos algumas conquistas. Espetáculos da

Mostra do Conexões de 2013 (A Estática, Celular: o show e Submarino) estiveram em

cartaz na cidade de São Paulo, com ótimo público. A autora Claudia Schapira ganhou

o prêmio Shell de dramaturgia com o texto escrito para o Conexões em 2011 (Con-

uma edição

Por Tuna Serzedello,deParTamenTo de ComuniCação

teatro

bem temperada

30 | Revista Pilotis

Page 31: Revista Pilotis número 28

tos que cantam sobre pousospássaros). O

coletivo Apoena continua excursionando

por festivais de teatro no estado de SP

com a peça Flor da Pele, encenada por

ele em 2012 e escrita por uma ex-aluna

do projeto, Mariana Marteleto.

Além disso, temos a inauguração do

novo site do Projeto Conexões (www.

conexoes.org.br), no qual são disponi-

bilizados os textos impressos aqui e nos

livros de outras edições (dos autores que

autorizaram), para leitura e download em

português e em inglês. Isso certamente

amplia ainda mais os limites do projeto.

ex-aluno escritorNesta edição, temos o orgulho de apresen-

tar outra prata da casa: José Arthur Ridolfo,

ex-aluno do Colégio São Luís e participante

do Conexões entre 2008 e 2011, é um dos

autores deste portfólio. Sua peça, A Voz do

Silêncio, trata sobre jovens inconformados

com o sistema e que traçam um plano para

mudá-lo. Inspirado nas manifestações de

junho de 2013, o nosso Zé – do alto dos

seus 20 anos – apresenta uma apaixona-

da visão sobre a sua fé na capacidade de

mudança dos jovens. Essa visão é compar-

tilhada pela equipe do projeto, que tem o

prazer de publicar a sua primeira peça.

Realidade das escolas, presente na rea-

lidade dos grupos e nos palcos do pro-

jeto, a voz dos jovens poderá ser ouvida

também por meio do texto escrito por

um coletivo de jovens escoceses, o gru-

po Junction25 de Glasgow, que escreveu

a peça Anoesis. O título faz referência à

palavra grega que significa “um estado

de pura emoção sem nenhum significado

cognitivo”. Na peça, feita para ser adap-

tada às vozes dos integrantes dos grupos

que a escolherem, o alvo é o sistema edu-

cacional. Avaliações, políticas públicas,

currículos, nada escapa a essa torrente de

sensações proposta pelo texto.

Mais históriasJovens são críticos, rebeldes, têm opiniões

fortes e, é claro, são muito divertidos. A

edição 2014 do Projeto Conexões nos traz

dois exemplos muito distintos de comé-

dias jovens. O parlapatão e palhaço Hugo

Possolo escreveu Cérebro à vinagrete, que

“tempera” muito bem humor e mistério.

Um casal de namorados tem de desvendar

o roubo dos gabaritos de uma prova e aca-

ba se envolvendo com uma estranha seita.

Uma deliciosa confusão que mistura fil-

mes de ação com personagens de Gógol.

O autor escocês Gregory Burke escreveu

Mentiroso para o National Theatre de

Londres em 2006. Essa foi uma das peças

mais populares daquele ano do projeto

Connections. Por aqui, não poderia ter

sido diferente. A combinação dos perso-

nagens e situações que levam o protago-

nista a mentir compulsivamente são sim-

plesmente hilárias.

Um dos acontecimentos muito celebra-

dos em 2014 foi o 450º aniversário de

nascimento do mais importante dra-

maturgo de todos os tempos: William

Shakespeare. Fiel aos seus princípios, o

Conexões convidou o brasileiro Marcos

Barbosa para adaptar para o projeto uma

peça, inédita no Brasil, de Shakespeare:

Cimbelino. Desse encontro entre Marco,

Shakespeare e Cimbelino, nasceu o tex-

to Cimbelino XXI: um ensaio, que nos

mostra a essência de um grupo de jovens

que tenta montar uma peça e nos sugere

como entender esse clássico nos dias de

hoje. Uma peça engraçada, poética e que

faz uma importante reflexão sobre o pa-

pel do artista em sua época.

Um portfólio entusiasmante para um gru-

po de jovens entusiasmado pelo teatro e

que realizará, com certeza, espetáculos

que marcarão a história. A história de

vida de cada um deles.

Mais informações sobre o projeto e a Mostra

encontram-se no site www.conexoes.org.br.

SaIba MaIS

TeaTRO

Revista Pilotis | 31

Page 32: Revista Pilotis número 28

ORIenTeMÉDIO

um Breve relatO da situaçãO atual e dOs cOnflitOs da regiãO.

POR MOaCyR nOgUeIRa,PROFeSSOR De geOgRaFIa.

aRTIgO

32 | Revista Pilotis

Page 33: Revista Pilotis número 28

Oriente Médio é a denomina-

ção que os europeus deram à

porção ocidental do continen-

te asiático, diferenciando-a do extremo

Oriente, situado às margens do Oceano

Pacífico. A área compreende o Levante

Mediterrâneo1, as Penínsulas da Anató-

lia e Arábica, a Planície da Mesopotâmia,

o Irã e o Afeganistão; abrangendo uma

área de aproximadamente 7 milhões de

km² – menor que o território brasileiro,

com 8,5 milhões de Km² – dividida em

18 países.

Seu ambiente natural é diverso. Predomi-

nam formações planálticas e desérticas. O

clima árido é o elemento mais marcante,

com chuvas escassas, e é determinante de

uma vegetação estépica2, composta por

arbustos secos, e de uma rede hidrográfi-

ca pobre, com inúmeros rios temporários,

ueds3, exceto os rios Tigre e Eufrates, na

Mesopotâmia, e o rio Jordão, endorreico4,

na Palestina, que deságua no Mar Morto.

Sua população constitui um mosaico de

culturas e nacionalidades. Caracteriza-se

por grande diversidade étnica – com pre-

dominância dos semitas5 –, linguística (o

árabe é a língua com maior número de

falantes) e religiosa – com predomínio do

islamismo6, e suas várias denominações

(sunitas, xiitas, alauitas etc.), além de ju-

deus e inúmeras comunidades cristãs, de

diversas denominações.

No que se refere à economia, é uma re-

gião periférica. Têm grande importância

as atividades comerciais e o turismo. Há

pouca industrialização. Embora existam

várias áreas de agricultura irrigada, per-

sistem práticas tradicionais, como a agri-

cultura mediterrânea7 e o pastoreio nô-

made8. No entanto, é no Oriente Médio

que estão as maiores reservas mundiais

de petróleo. No Golfo Pérsico, especifica-

mente, está mais da metade das reservas

mundiais desse combustível fóssil que se

constitui na principal matriz energética

mundial. Daí a importância dessa região

para a economia mundial.

Sob o ponto de vista político, é uma re-

gião instável. São inúmeros os conflitos

e diversas suas motivações. Em muitos

momentos, sobretudo na história recente

da região, a instabilidade política regional

dissemina-se pelo mundo todo.

Os cOnflitOs – uma breve história da instabilidade pOlítica regiOnalAo se tratar dos conflitos no Oriente Mé-

dio, muitas vezes parte-se de algumas

ideias amplamente disseminadas, por

exemplo: a ideia de que esses conflitos

são generalizados, de que eles sempre

existiram ou, ainda, de que é impossível

entendê-los. Pode-se ainda atribuir-lhes

generalizações, como a afirmação de que

eles estão relacionados ao petróleo ou às

diferenças étnicas e religiosas.

Não se pode dizer que essas ideias sejam

de todo incorretas, mas são generaliza-

ções e, portanto, são imprecisas. Essas

generalizações têm a função de explicar

os acontecimentos no Oriente Médio de

uma forma mais simples, o que contribui

para reforçar, muitas vezes, uma visão

preconceituosa e excessivamente ociden-

aRTIgO

Revista Pilotis | 33

Page 34: Revista Pilotis número 28

tal acerca das questões daquela região.

Atualmente, podem ser identificadas no

Oriente Médio as seguintes áreas de ten-

são: a Palestina, o Golfo Pérsico, o Afega-

nistão, a Síria e o norte do Iraque.

A PAlestinAOs conflitos na região da Palestina têm

como pivô o Estado de Israel.

Em 1947, a ONU – Organização das Na-

ções Unidos – propôs uma partilha para

a região da Palestina, visando acomodar

dois povos sem Estado9 – árabes pales-

tinos e judeus. A Palestina passara a ser

mandato britânico em 1922, como parte

dos entendimentos relativos ao Tratado

Sikes-Picot, de 1918, formalizado entre a

Inglaterra e a França para dividir o espólio

do Império Turco-Otomano, derrotado na

Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

A proposta feita foi recusada pelos vizi-

nhos árabes desses novos Estados, Egito,

Líbano, Síria, Transjordânia – atual Jordâ-

nia –, entre outros, pois estes entendiam

que os palestinos árabes seriam prejudi-

cados com a partilha e que um Estado

judeu se constituiria como um corpo

estranho na região, onde predominavam

árabes e muçulmanos. Vale lembrar que

a ONU, que começou a operar em 24 de

outubro de 1945, não tinha a autoridade

que tem hoje.

Estabeleceu-se uma situação de impasse

que chegou ao fim em 15 de maio de

1948, quando o Sr. David Ben Gurion de-

clarou, em Tel Aviv, a criação do Estado

de Israel, pondo fim à diáspora judaica10

de quase 2000 anos.

A criação do Estado de Israel deu início

às guerras11 árabe-israelenses. Foram

quatro: a primeira, a Guerra de Indepen-

dência, entre 1948 e 1949; a Guerra do

Suez, em 1956; a Guerra dos Seis Dias,

em 1967; e a Guerra do Yom Kippur12,

em 1973. Esta última foi o estopim para

a Primeira Crise do Petróleo13.

Em 1982, Israel invadiu o Líbano – Ope-

ração Paz na Galileia –, mas essa ação

não pode ser considerada uma guerra,

pois teve a anuência do governo, então

cristão, libanês. Nessa operação, os obje-

tivos de Israel eram desarmar grupos de

palestinos que atacavam o norte de Israel

a partir do Líbano e combater a OLP –

Organização para a Libertação da Pales-

tina14 –, liderada por Yasser Arafat, que

acabou expulso do País.

Em 1987, teve início a Intifada, a revolta

popular palestina nos territórios da Faixa

de Gaza e da Cisjordânia. Reivindicavam-

-se esses territórios para a formação de

um Estado Palestino.

A revolta palestina gradativamente ganhou

apoio internacional e seu relativo sucesso

levou representantes palestinos e o Estado

de Israel às negociações na década de 90.

Em 1993, com o Acordo de Paz de Oslo,

foi criada a Autoridade Palestina, e vários

outros acordos se seguiram.

aRTIgO

34 | Revista Pilotis

Page 35: Revista Pilotis número 28

Apesar desse avanço, o Estado Palestino

autônomo e soberano não se efetivou.

Os maiores obstáculos para a sua con-

solidação são: o status de Jerusalém15, o

controle dos mananciais hídricos, o esta-

belecimento de fronteiras defensáveis, a

retirada dos assentamentos israelenses, o

retorno dos refugiados e, principalmente,

as ações terroristas.

Diante desse impasse, em 2000, teve iní-

cio a Intifada Al Aqsa. Nessa nova etapa

do movimento emancipacionista pales-

tino, estes lutam pelo cumprimento dos

acordos firmados na década de 90.

Em 2004, os palestinos passaram a ter au-

tonomia sobre a Faixa de Gaza, e a Cisjor-

dânia passaria gradativamente ao contro-

le palestino, conforme os assentamentos

israelenses e suas tropas fossem retirados.

Foram essas ações terroristas, sobretudo

as atribuídas ao Hamas16, que levaram

Israel, em julho de 2014, a iniciar a Ope-

ração Limite Protetor, que consiste em

bombardeios a alvos ligados ao grupo ter-

rorista (principalmente a túneis utilizados

por milicianos) e na invasão terrestre para

localizar e neutralizar grupos hostis, cap-

turar armas e, principalmente, mísseis que

são lançados contra o território israelense.

Além dos danos materiais, tanto os aten-

tados do Hamas quanto a operação is-

raelense fazem inúmeras vítimas civis, a

despeito dos pedidos internacionais por

um cessar-fogo definitivo.

O GOlfO PérsicOA Revolução Islâmica no Irã, de 1979,

pode ser indicada como um marco para

se entenderem os conflitos modernos na

região do Golfo Pérsico.

Naquele ano, os muçulmanos xiitas17, li-

derados pelo Aiatolá18 Khomeini, toma-

ram o poder no País, derrubando o Xá

Mohammad Reza Pahlevi, governante

autoritário que era um dos maiores alia-

dos dos Estados Unidos no Oriente Médio

e que tentara reduzir a influência dos reli-

giosos xiitas, ocidentalizando o País.

O combate à influência ocidental e, prin-

cipalmente, à dos Estados Unidos, consi-

derados o Grande Satã, serviu como mo-

tivação para a derrubada do regime do

Xá e trouxe um grande temor à economia

mundial, pois os xiitas – agora no poder

– ameaçaram fechar o Estreito de Ormuz,

impedindo o escoamento de petróleo do

Golfo Pérsico, o que levou o mundo à Se-

gunda Crise do Petróleo19.

Um paliativo para a crise desencadeada

pela Revolução Iraniana foi a Guerra do

Golfo, 1980-1988, entre o Irã dos funda-

mentalistas xiitas e o Iraque, liderado pelo

ditador Saddam Hussein.

Em 1988, com o fim da Guerra Irã x Ira-

que, 1 milhão de mortos depois, os xiitas

permaneciam no poder no Irã, mas não

eram mais uma ameaça tão grande. Sa-

ddam Hussein enfrentava uma crise sem

precedentes – economia destruída, gran-

de endividamento, oposição crescente.

Nesse contexto, buscou um inimigo ex-

terno. Invadiu o Kuwait em 02 de agosto

de 1990, sob o pretexto de que o País,

durante a guerra, explorara petróleo em

uma zona de fronteira, prejudicando o

Iraque. Além disso, Saddam Hussein ar-

gumentava que o Kuwait foi parte do ter-

ritório iraquiano e que sua incorporação

era uma questão de soberania.

A ONU determinou a imediata retirada

de tropas iraquianas do Kuwait. Saddan

Hussein recusou-se a retirar suas tropas

do País e desafiou a ONU, que determi-

nou a criação de uma força multinacional

aRTIgO

“Os conflitos na região da

Palestina têm como pivô

o estado de israel.”

Revista Pilotis | 35

Page 36: Revista Pilotis número 28

para libertar o Kuwait. Essa força foi for-

mada e liderada pelos Estados Unidos e

o processo para a libertação do Kuwait

começou em 16 de janeiro de 1991.

Ao Iraque derrotado foram impostas

duas condições: primeiro, duas zonas de

exclusão aérea ao Norte e ao Sul, para a

proteção de curdos e de xiitas, respecti-

vamente, que eram comumente atacados

por Saddan Hussein; a segunda condição

era a obrigatoriedade do País permitir,

sempre que a ONU solicitasse, inspeções

de seu arsenal, devido ao fato de o Iraque

ter usado armas químicas contra minorias

curdas durante a guerra contra o Irã. A

recusa de Saddan Hussein em permitir

tais inspeções e a suspeita de que o País

mantinha estoques de armas químicas le-

varam à invasão do Iraque, em 2003, pela

coalizão anglo-americana, que depôs o

ditador, o qual foi julgado e condenado

à morte em seu País.

O AfegAnistãOOs conflitos no Afeganistão intensificam-

-se em 1979, quando a então URSS20 in-

vade o País para apoiar o governo socia-

lista de lá, o qual enfrentava uma revolta

muçulmana. Durante uma década, os

soviéticos tentaram, em vão, destruir os

mujahedins21. O conflito interno destruiu

o País, que já era um dos mais pobres do

mundo. E foi durante esse conflito que

surgiu a Al Qaeda22.

Os soviéticos retiraram-se em 1989 e o

Afeganistão mergulhou em uma guerra

interna entre suas inúmeras etnias. Em

1990, o País voltou-se contra os Estados

Unidos, que instalavam tropas na Arábia

Saudita – terra santa islâmica, onde está

Mecca23. Durante esse conflito interno, o

Talebã24 ascendeu ao poder.

Em 2001, o Talebã governava o Afega-

nistão e seu líder, mulah25 Omar, declarou

apoio irrestrito à Al Qaeda e ao seu líder,

Osama Bin Laden, inclusive valorizando

os feitos de 11 de setembro daquele ano

nos Estados Unidos.

Esse apoio serviu como pretexto para a

invasão de uma coalizão anglo-america-

na no Afeganistão. Com isso, a precária

estrutura do Talebã foi destruída e foi

eleito um presidente; mas, até hoje, o go-

verno pós-Talebã não teve competência

para neutralizar os mujahedins que até

hoje afrontam o governo.

A SíriAA guerra civil na Síria teve início com as

manifestações populares, em janeiro

de 2011 – no contexto da denominada

Primavera Árabe26 – contra o regime de

Bashar Al Assad, ditador que herdara o

poder de seu pai, Hafez Assad, em 2000.

Em março do mesmo ano, após severa

repressão, a revolta popular transformou-

-se numa guerra civil, fazendo inúmeras

vítimas civis e levando milhões a abando-

narem suas casas e a buscarem refúgio

em países vizinhos.

O conflito intensificou-se quando a Ir-

mandade Islâmica passou a apoiar os

rebeldes. Bashar Al Assad foi acusado de

utilizar armas químicas contra os rebeldes.

Em 2014, foram realizadas eleições e o

ditador obteve quase 90% dos votos, o

que gerou protestos da oposição, que o

acusou de fraude. Porém, o ditador per-

manece no poder.

Rússia e China são contrárias a uma in-

tervenção internacional no País, o que

na prática possibilitaria aos Estados Uni-

dos inserirem-se ainda mais na região.

Por isso, as duas potências ameaçam

vetar quaisquer propostas intervencio-

nistas na Síria por intermédio do Conse-

lho de Segurança da ONU27, do qual são

membros permanentes.

O EstadO IslâmIcOEstado Islâmico do Iraque e do Levante

autoproclamado califado28 jihadista suni-

ta. Formado por membros remanescentes

dos grupos Estado Islâmico do Iraque, Al-

-Qaeda no Iraque e Shura Mujahideen,

além de outros grupos insurgentes meno-

res. Criado em 29 de junho de 2014, seu

líder – califa – é Abu Bakr al-Baghdadi.

Nas áreas dominadas pelo Estado Islâmi-

co, a conversão ao islamismo é obrigató-

ria e vigora a charia – o código de leis

islâmico. Além disso, o Estado Islâmico

persegue minorias, como os muçulmanos

xiitas, os cristãos armênios e os drusos29.

Em setembro de 2014, ele iniciou o exter-

mínio sistemático de uma minoria cristã

que fala o aramaico, considerado patri-

mônio da humanidade.

“A Revolução islâmica no irã, de 1979,

pode ser indicada como um marco para

se entenderem os conflitos modernos

na região do Golfo Pérsico.”

aRTIgO

36 | Revista Pilotis

Page 37: Revista Pilotis número 28

1Levante Mediterrâneo corresponde à região do

litoral do Mar Mediterrâneo que compreende o nor-

te da Península do Sinai, o litoral da Faixa de Gaza,

de Israel, do Líbano, da Síria e da Península da Ana-

tólia, Turquia.

2Estepe: vegetação arbustiva com poucas formações

arbóreas. A denominação deriva do russo: степи step.

3Ueds são rios temporários, que existem apenas em

épocas de chuva. A denominação deriva da pala-

vra francesa oued, que é uma derivação do árabe

.wadi يداولا

4Drenagem endorreica: diferente da drenagem

exorreica, que corre para os oceanos e mares, ela

termina no continente, numa lagoa ou mar fechado.

5Semita: conjunto etnolinguístico composto por

vários povos que compartilham as mesmas origens

culturais, com destaque para os árabes e os hebreus.

A acepção bíblica da expressão tem sua origem no

Gênesis, que faz referência aos descendentes de Sem

ou, do hebraico, םש Shem, filho de Noé.

6Islamismo: religião monoteísta surgida no século

VII da Era Cristã. Tem Maomé, ou Mohammed, como

profeta, e seu livro sagrado é o Corão.

7Agricultura mediterrânea: sistema de cultivo tra-

dicional que se caracteriza por pequenas proprieda-

des e mão de obra abundante devido à natureza dos

cultivos (oliveiras, figueira e videiras).

8Pastoreio nômade é uma prática de criação rudi-

mentar bastante antiga, disseminada por áreas desér-

ticas e semidesérticas e que consiste no deslocamen-

to constante de um rebanho, geralmente pequeno,

em busca de recursos como alimentos e água. É uma

atividade que antecede a pecuária moderna e está

associada a espécies mais rústicas de gado, como ca-

prinos, ovinos e o dromedário.

9Estado: organismo político-jurídico constituído

por um território, população, autogoverno, leis

e soberania.

10Diáspora judaica: período histórico iniciado no sé-

culo I da Era Cristã, com o processo de desjudaização

da Judeia pelos romanos, no qual os judeus viveram

fora da Palestina – Terra Prometida.

11Guerra: conflito armado entre Estados.

12Yom Kippur: o mais sagrado dos feriados judaicos

- Dia do Perdão.

13Primeira Crise do Petróleo: elevação abrupta dos

preços do barril do petróleo, em setembro de 1973,

decorrente de um boicote feito pelos países do Golfo

Pérsico, devido ao apoio ocidental a Israel na Guerra

do Yom Kippur.

14OLP – Organização para a Libertação da Palestina:

organização criada em 1964 com o objetivo de re-

presentar a população palestina no processo de rei-

vindicação de um Estado nacional. Foi admitida na

ONU em 1982.

15Jerusalém: cidade sagrada para judeus, cristãos

e muçulmanos, situada na Cisjordânia, à margem

oeste do rio Jordão, considerada capital por Israel e

reivindicada pelos palestinos para ser a capital de seu

futuro país.

16Hamas ou “Movimento de Resistência Islâmica”:

organização palestina sunita que atua nas áreas polí-

tica e filantrópica. Por meio de facções armadas, pro-

move ações terroristas contra Israel.

17Xiita: ramo do islamismo cujos seguidores acredi-

tam ser descendentes do profeta Maomé – Muham-

mad. Os xiitas não fazem distinção entre vida religio-

sa e a secular. Entendem que o líder político deve ser

o líder religioso.

18Aiatolá: para os muçulmanos xiitas, é o mais alto

dignitário na hierarquia religiosa.

19Segunda Crise do Petróleo: ocorreu em 1979,

após a chegada dos xiitas ao poder no Irã, o que

trouxe um grande temor – sobretudo entre os países

ocidentais – de que o novo governo do País bloque-

asse o Estreito de Ormuz e, assim, impedisse o esco-

amento do petróleo dessa região, a maior produtora

mundial de petróleo.

20URSS: Estado socialista que existiu entre 1922 e

1991, formado por 15 repúblicas: Rússia, Bielorrús-

sia, Ucrânia, Moldávia, Lituânia, Letônia, Estônia,

Armênia, Geórgia, Azerbaijão, Turcomenistão, Ca-

zaquistão, Quirquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão.

Constituiu-se na 2.ª economia mundial. Superpotên-

cia militar e nuclear, fez oposição ao poder dos Esta-

dos Unidos durante o período da Guerra Fria.

21Mujahedins: guerreiros de Allah que lutam pelo

islamismo, admitindo inclusive o martírio.

22Al Qaeda: organização fundamentalista islâmica

internacional que luta contra a influência ocidental,

principalmente, sobre assuntos islâmicos.

23Mecca: a mais sagrada cidade para os islâmicos,

situada na Arábia Saudita.

24Talebã: grupo fundamentalista sunita que luta pelo

poder no Afeganistão e contra a influência ocidental

no País, considerada impura.

25Mulah: homem/líder islâmico instruído na teologia

islâmica e na lei sagrada – a charia.

26Primavera Árabe: série de movimentos de origem

popular que teve início na Tunísia, em 2010, e que

rapidamente se espalhou pelo norte da África – Líbia

e Egito – e por países do Oriente Médio, principal-

mente os de regime autoritário – Síria e Iêmen.

27Conselho de Segurança da ONU: organismo da

ONU responsável por resolver questões relativas aos

conflitos entre os países. Formado por 15 países, sen-

do 5 membros permanentes, com poder de veto so-

bre as decisões do organismo – o P5 e dez membros

temporários (2 anos), o T10.

28Califado: forma de governo tipicamente islâmica.

O califa fundamenta sua autoridade política na do

profeta Maomé.

29Drusos: comunidade religiosa composta por apro-

ximadamente 1 milhão de indivíduos, que se disse-

minou por territórios do Líbano, Israel, Síria, Turquia

e Jordânia. Falantes do árabe, não são considerados

muçulmanos pelos praticantes do islamismo.

glossário

aRTIgO

Revista Pilotis | 37

Page 38: Revista Pilotis número 28

O projeto Tardes de Cinema é um

encontro quinzenal em que

assistimos (Professora Jussane

Pavan, de Redação, Professor Gilberto

Teixeira, de História, e alunos do EM No-

turno) a filmes que estão fora do circuito

convencional de cinema.

o antesProcuramos apresentar aos alunos filmes

desconhecidos deles, que tragam junto

ao seu enredo reflexões que nos façam

entender um pouco melhor o mundo e o

ser humano.

Esse encontro é iniciado com uma discus-

são sobre o filme a que iremos assistir, uma

breve biografia do diretor da obra e tam-

bém algumas características marcantes que

devem ser salientadas para melhor com-

preensão e apreciação da obra artística.

e o depoisApós a sessão, fazemos uma discussão

sobre tudo o que envolve a arte do ci-

nema: a direção, a atuação, a direção de

arte, a trilha sonora, entre outras coisas.

Isso tudo tem como objetivo formar um

público ativo e interessado pela sétima

arte, que consiga perceber e desvendar

pequenos detalhes das obras mais mar-

cantes que já foram criadas e também

daquelas que ainda serão.

uM pouco de tudo – coM qualidadeO primeiro tema do projeto foi a adoles-

cência e aqueles que estão à margem do

comum. Assistimos a filmes como Mary

e Max, Conte comigo e Ghost world.

Depois, começamos a fazer uma mostra

de diretores famosos. Nesse momento,

conhecemos um pouco melhor a vida e

a obra de algumas figuras de destaque,

como Hitchcock, Roman Polanski e Ta-

rantino. Mais à frente, iniciamos um tour

pelo mundo, passamos pelo cinema lati-

no-americano e agora estamos vendo o

cinema europeu.

É sempre um prazer o momento do cine-

ma. É nele que conseguimos nos esque-

cer um pouco do cotidiano e mergulhar

na liberdade da arte.

Tardes de

CIneMapor Jussane pavan, professora de redação.

enSInO MÉDIO nOTURnO

38 | Revista Pilotis

Page 39: Revista Pilotis número 28

o que os alunos têM a diZer?“O Cineminha não é só um ‘extra’ que o

Colégio nos proporciona, é algo mais. Ele

muda seu olhar cinematográfico. Sabe

quando você vai ao cinema sozinho e de

repente percebe que ir acompanhado é

mil vezes melhor? O Cineminha é algo

como ir acompanhado ao cinema, só que

melhor (acredite!), porque a sala está lo-

tada de amigos cinéfilos!

Lembro com perfeição da primeira vez que

fui ao Cineminha. Também lembro quan-

do me peguei indicando metade dos filmes

que conheci no Cineminha e comentando

os diretores que nos foram apresentados

como se fôssemos amigos íntimos.

É gratificante poder participar desse pro-

jeto. Quando vi, estava até fazendo um

curso de cinema e pensando em entrar

nesse maravilhoso mundo cinemato-

gráfico! É uma ótima quebra de rotina,

chegando a deixar seu dia mais colorido,

porque não vemos filmes como em um

domingo tedioso, nós os comentamos

como um todo, tiramos deles o seu me-

lhor e o melhor de nós também.”

(Gabrielle Neves, 2.2)

“O cinema é uma arte que sempre me

interessou, devido a sua grandiosa com-

plexidade. Muitos não percebem a difi-

culdade e todo o trabalho envolvido para

fazer um filme de qualidade.

O Cineminha é um ótimo projeto criado

por dois professores que admiro muito: a

Jussane e o Giba. Esse projeto, além de

mostrar filmes que não são muito vistos

normalmente, nos faz analisá-los de for-

ma reflexiva, tentando entender o que

queriam dizer com o filme e interpretan-

do os detalhes que passam despercebi-

dos pela maioria. Depois de frequentar

o Cineminha, passei a ver os filmes com

outros olhos, não mais só como uma for-

ma de entretenimento.

Dentro daquela sala pequena, junto de

pessoas que também apreciam o cinema

e gostam desse projeto, talvez até mais

do que eu, me sinto muito bem, como

se nada mais importasse, só aqueles mo-

mentos durante os filmes e as discussões

sobre eles. Me sinto vivo.”

(Vinícius Borges, 2.2)

“Eu me lembro da primeira vez que fui

ao Cineminha, e o filme era Conta comi-

go (Stand by Me). Não poderia explicar

em palavras o quão importante esse fil-

me foi para mim ou o quão importante

o Cineminha se tornou pra mim a partir

daquele momento.

O mais interessante sobre as discussões é

o quanto elas nos mostram o melhor da

vida e o melhor de nós. Nos torna mais

críticos em relação à arte e em relação a

tudo o que nos cerca. Análises que vão

além de luz e movimentação de câmera.

Analisamos o sentimento que a história

quer passar.

Tenho muitas dúvidas sobre o futuro. Não

sei se quero Exatas, Humanas ou Bioló-

gicas. A minha única certeza, que tenho

graças a essa maravilhosa iniciativa, é que

o cinema... ah, o cinema, eu quero para

sempre comigo.”

(Juliana de Almeida, 2.2)

“Bem... O que dizer do Cineminha? Ou

melhor, o que não dizer do Cineminha?

Segundo o Dicionário Brasileiro da Língua

Portuguesa (Jornal da Tarde), cinema sig-

nifica ‘arte ou ciência da cinematografia’.

Se analisarmos o significado de arte no

mesmo dicionário, teremos: o ‘conjun-

to de regras para fazer ou dizer alguma

coisa com perfeição’. Logo, o cinema é

arte, busca a perfeição e, quando entro

no Cineminha do Colégio São Luís, sinto

como se estivesse entrando num mundo

perfeito, onde tenho acesso a toda a per-

feição que envolve a arte do cinema. Lá,

eu consigo esquecer qualquer problema,

simplesmente desligar minha mente do

mundo real, e ligá-la no mundo fictício.

Tantas discussões e reflexões sobre os te-

mas abordados nos filmes exibidos, pro-

postas pelos professores – maravilhosos

professores, aliás –, fazem com que mi-

nha cabeça trabalhe direito e expandem

meus conhecimentos. O Cineminha me

proporciona uma eterna aprendizagem e

sei que, a cada filme que é exibido, me

torno um pouco mais culto e, para mim,

isso é muito importante. É um projeto

maravilhoso, que me traz conhecimento,

alegria e cultura. Só tenho a agradecer

aos meus queridos mestres, Jussane e

Gilberto, por criarem esse lindo, grande

e excelente projeto.”

(Vinícius Vieira M. Lima, 2.2)

enSInO MÉDIO nOTURnO

Revista Pilotis | 39

Page 40: Revista Pilotis número 28

HISTÓRIA

p a d r e

Por Gilberto teixeira,Professor de História e coordenador

do centro de MeMória do csl.

40 | Revista Pilotis

Page 41: Revista Pilotis número 28

Quem quer que se aproxime do

centro de Nova Friburgo não

pode deixar de notar a presença

imponente da fileira de palmeiras impe-

riais que se distribuem, no alto do morro,

diante do majestoso prédio do Colégio

Anchieta. De bem longe, elas atraíram

minha atenção na manhã ensolarada do

dia 28 de maio de 2014. Naquela oca-

sião, subi a longa rampa que dá acesso

ao prédio chamado carinhosamente de

Château pelos antigos moradores do lu-

gar. Meu propósito ali era encontrar-me

com um homem que, do alto de seus

83 anos de idade, e em plena atividade

como reitor daquele colégio, pode ser

considerado um dos mais importantes

dirigentes de colégios no seio da comu-

nidade jesuíta: o padre Guy Jorge Ruffier.

O objetivo do encontro era realizar uma

entrevista – talvez a última grande entre-

vista concedida por ele – para um projeto

de História Oral de vida dos ex-reitores

do Colégio São Luís, que se encontra em

fase de elaboração.

Naquela ocasião, ao encontrá-lo tão so-

lícito, gentil e disposto, absolutamente

nada me faria supor que o caprichoso

destino não permitiria que ele vislumbras-

se o produto final de sua generosa dis-

posição: uma das mais belas entrevistas

que tive a honra de colher. A realização

de um trabalho como esse nos revela a

um só tempo a transitoriedade da vida

e a importância de agirmos com diligên-

cia e celeridade quando nosso objetivo é

capturar e compartilhar a sabedoria da

experiência de longas vidas dedicadas a

um ideal.

Durante quase duas horas, à luz quen-

tinha do sol de maio que entrava pelo

janelão da sala, conversamos sobre sua

vida, infância, primeiros anos de novicia-

do, e sobre os desafios de dirigir grandes

colégios por todo o País. A mais viva im-

pressão que a conversa deixou em mim

foi a de um homem absolutamente de-

terminado e firme, mas compassivo e, so-

bretudo, profundamente coerente.

a origeM e a inFânciaPadre Guy era de uma família de imigran-

tes franceses que foi muito profícua em

relação a padres. Três de seus irmãos mais

velhos, antes dele, abraçaram a vocação

sacerdotal e jesuítica. As cartas por eles es-

critas à família, segundo o padre Guy, fo-

ram as sementes de sua própria vocação:

“Lembro-me de que o correio deixava as

cartas e eu ia correndo para recolhê-las,

passava pela cozinha para preparar um

copo de água com açúcar e ia para sala

para abri-las e lê-las com a minha mãe. O

copo de açúcar, claro, era para ela, que

invariavelmente desmanchava-se em lá-

grimas... Mas havia tanta ternura, e ao

mesmo tempo tanta esperança naquelas

belas missivas, e tal cumplicidade entre

mim e minha mãe no sentimento pela

ausência de meus irmãos que esses mo-

mentos inesquecíveis de minha infância

foram decisivos na descoberta de minha

própria vocação. (...)”

Desde muito cedo, ele demonstrou um

olhar atento às injustiças e disposição e

coragem para combatê-las. A despeito de

sua ascendência francesa, ele lembrava

com revolta o tratamento que os brasilei-

ros deram, em sua terra natal (a cidade de

Rio Grande), aos cidadãos de origem ale-

mã durante a Segunda Guerra Mundial:

“Eu era apenas um garotinho quando os

destinos do mundo estavam se decidin-

do na Segunda Guerra Mundial. Vivi este

ambiente francófilo lá em Rio Grande.

Havia muitos alemães vivendo ali, muitos

eram comerciantes de casas que traziam

seus nomes e quando as coisas engros-

saram vi coisas que me marcaram muito.

Não podia entender, ainda criança, como

homens pudessem virar animais selva-

gens! Vi pessoas invadindo casas comer-

ciais alemãs e atirando pela janela coisas

preciosas, arruinando vidas de vizinhos,

pessoas da comunidade, pelo simples

fato de serem alemãs. O povo aplaudia

HISTÓRIa

“eu era apenas um garotinho quando os

destinos do mundo estavam se decidindo

na segunda Guerra mundial.”

Revista Pilotis | 41

Page 42: Revista Pilotis número 28

aqueles atos de selvageria como se es-

tivessem numa tourada! E eu, francês

de origem, muitas vezes envolvi-me em

brigas defendendo alemães, às vezes ao

custo de um nariz quebrado!”

experiências e vocaçãoDurante toda a sua formação nos pri-

meiros anos, a experiência que mais o

marcou e com a qual teve mais prazer foi

a do magistério, fase obrigatória da for-

mação de jesuítas, cumprida no mesmo

Colégio Anchieta, do qual muitos anos

depois seria reitor. Experimentando as di-

ferentes facetas do trabalho no Colégio,

convivendo e trabalhando com alunos,

professores e pais, o padre Guy parece

ter encontrado aquilo que mais o fascina-

va. Mas, antes de assumir definitivamen-

te essa vocação, ele lembrou com muita

gratidão que seus superiores na ordem

ainda o destinaram a estudar Teologia na

Universidade Gregoriana em Roma. Além

de Roma, ele também estudou catequese

em Bruxelas e lá descobriu sua profunda

vocação para o trabalho com os jovens.

No Brasil, ele desenvolveu muito essa vo-

cação sendo animador de pastoral nos

primeiros anos de retorno ao País. Padre

Guy trabalhou com jovens no Rio de Ja-

neiro, nos duros anos da ditadura militar.

Junto com muitas lembranças de lutas e

enfrentamento contra os poderosos, ele

lembrou também uma bela história de

concórdia e entendimento naqueles tem-

pos em que tais coisas foram tão raras:

“Mas naqueles anos havia uma sede de

justiça e o povo pensante estava muito

presente, de forma que comecei a dar

aulas de catequese para os pais dos alu-

nos. Foi um sucesso danado, em pouco

tempo tínhamos uma sala cheia de pais e

nos reuníamos uma vez por semana. Isso

foi um divisor de águas no trabalho de

pastoral do Santo Inácio, pois a adesão

dos pais deu muito mais força ao traba-

lho com os alunos. Inclusive, entre esses

pais, havia um coronel do exército e esse

coronel, que tinha uma cabeça muito

boa, começou a se entusiasmar. Ele di-

zia aos pais mais próximos dele: ‘Esse

padre, afinal, não é tão perigoso quanto

estão dizendo!’ Então um dia ele me dis-

se: ‘Padre, venha comigo!’ Então fomos

juntos ao Campo dos Afonsos, onde es-

tava sediado o CINEMAR (Centro de In-

formações da Marinha). Chegando lá, ele

apresentou as patentes dele, era superior

aos outros, foi lá no arquivo e tirou todas

as fichas em que havia alusões a mim e

me mostrou. Olhei espantado para toda

aquela informação coletada a meu res-

peito. Isso abriu um canal de confiança

entre nós. Naquele momento histórico,

isso foi muito importante, pois havia mui-

ta incompreensão e falta de diálogo entre

as diferentes formas de pensamento, o

que, naquele cenário, estava se tornando

perigoso para muita gente.”

história e trabalhoComo reitor de colégio, a primeira expe-

riência do padre Guy foi no Colégio An-

tônio Vieira de Salvador, onde ele atuou

de 1980 a 1988. Suas memórias desse

tempo são muito felizes, repletas de his-

tórias sobre a bondade e a fé do povo

baiano. Sem nenhum preconceito, com a

mente aberta que sempre o caracterizou,

ele disse:

“Havia um jesuíta que trabalhava comigo

no Colégio, creio que ele ainda está lá,

cuja mãe era uma Mãe de Santo de um

terreiro próximo. O filho era muito devo-

to, um jesuíta fervoroso, mas a sua mãe

nos convidava a ir às festas umbandistas

no terreiro dela e lá íamos nós! Havia um

HISTÓRIA

“As diferenças entre

as religiões muitas

vezes são muito mais

de caráter cultural

do que religioso.”

42 | Revista Pilotis

Page 43: Revista Pilotis número 28

profícuo diálogo inter-religioso naquela

cidade e, como se sabe, isso é cada vez

mais raro... As diferenças entre as religi-

ões muitas vezes são muito mais de cará-

ter cultural do que religioso propriamen-

te. Claro que se nascesse na Índia seria

hindu e não católico, mas provavelmente

teria os mesmos valores...”

no são luísDepois desse colégio, o padre atuou

como reitor em sete dos catorze colé-

gios jesuítas no Brasil, contando inclusi-

ve com sua inesquecível passagem pelo

CSL (1999-2005). Foram anos de intenso

aprendizado para ele e de grande benefí-

cio para os colégios por onde ele passou.

Ao mesmo tempo em que dirigia esses

colégios, ele ainda encontrou tempo para

ser presidente de uma entidade nacional,

a AEC (Associação de Educação Católica),

o que lhe deu uma ampla visão da educa-

ção praticada no País por todas as escolas

católicas e não apenas pelas jesuítas. As

histórias da sua atuação nessas institui-

ções são fonte inspiradora. Em cada uma

delas, revela-se o homem paciente, mas

decidido; aberto a sugestões, mas muito

convicto de seus princípios. Seu grande

pragmatismo combinado com uma len-

dária parcimônia fez com que ele ficasse

conhecido como um reitor cuja especiali-

dade era recuperar colégios em dificulda-

des. Ele mesmo, com um sorriso irônico,

admitia essa característica, afirmando:

“Acho que sou isso mesmo, mas não te-

nho grandes méritos em ser assim. Isso

tem tudo a ver com a minha própria for-

mação. Meu pai me mandava lustrar os

sapatos da casa e, se faltava um único

centavo no troco do que foi pago pelo

serviço, ele me chamava à sua presença

de noite: ‘Onde está o troco?’ e tinha que

dar conta de tudo. Exatidão, coerência e

honestidade. Esses valores se adquirem

no início da vida, quando se vive numa

família que acredita neles e os cultiva.”

Posso afirmar que as quase duas horas

que durou a entrevista passaram tão rapi-

damente que eu nem me dei conta. Cada

uma de suas histórias me transportava a

um tempo diferente, a um conjunto de

problemas, desafios, e a um conjunto de

soluções nascidas do discernimento ina-

ciano de um experimentado educador.

Amarrando todas elas, destacava-se se a

personalidade daquele que as viveu com

coerência e no serviço aos demais.

A notícia de seu falecimento chegou até

mim apenas no dia 2 de agosto, embora

tenha acontecido no dia 23 de julho. No

dia de sua morte, fazia exatos 55 dias que

eu tinha mergulhado na história daquela

vida tão rica e cheia de lições. Desde en-

tão, vinha trabalhando no seu depoimen-

to e dando-lhe a forma definitiva com a

qual figurará no produto final de nosso

trabalho. Ansiava pelo momento em que

ele pudesse ler seu depoimento e pudés-

semos discutir os seus detalhes. Esse dia

jamais chegará...

Por mais tristeza que possa ter causado

a todos nós o falecimento do padre Guy,

ela não se compara à alegria de termos

sido todos testemunhas da vida plena de

realizações que ele compartilhou conos-

co. Nas palavras de seu depoimento ele

está mais vivo do que nunca e como sem-

pre foi em vida, sua experiência continu-

ará sendo uma eterna inspiração àqueles

que virão.

HISTÓRIa

“exatidão, coerência e honestidade. esses valores

se adquirem no início da vida, quando se vive

numa família que acredita neles e os cultiva.”

Revista Pilotis | 43

Page 44: Revista Pilotis número 28

faça você mesmo

Para visualizar todas as fotos do passo a passo, acesse

o álbum “Marcador de página de Coruja” no nosso

Flickr: www.flickr.com/photos/saoluis/sets

PaSSO a PaSSO DeTaLHaDO nO FLICKR

Quer aprender a fazer um marcador de página diferente e muito fofo? Acompanhe

o nosso passo a passo e deixe os seus momentos de leitura muito mais divertidos e

bonitos. É fácil de fazer e com certeza será uma ótima atividade familiar!

1Recorte os moldes do corpo, das asas,

dos olhos, do bico e das patas da coruja.

Com um lápis, risque os pedaços colori-

dos de EVA, contornando os moldes.

2Em seguida, recorte os desenhos. Não se

esqueça de desenhar e recortar as asas e

as patas duas vezes, para formar os pa-

res; e o corpo azul também, para cobrir

os dois lados do CD.

3Com a cola colorida branca, desenhe bo-

linhas nas asas e na parte de cima da ca-

beça. Com a cola verde, faça o mesmo na

barriga e com a preta desenhe os olhos.

Espere secar.

uma

pra lá de útil!Coruja

44 | Revista Pilotis

Page 45: Revista Pilotis número 28

faça você mesmo

4No CD, cole as duas pontas do elástico,

uma em cada extremidade oposta. O

elástico de 35 cm é usado para marcar

livros e cadernos médios, mas, caso a in-

tenção seja usar o marcador em um livro

maior, o seu comprimento deve aumen-

tar também.

5Utilizando a cola instantânea, cole um

dos círculos azuis do corpo da corujinha

no CD, cobrindo as pontas do elástico.

No verso do CD, cole o segundo círculo.

6Cole a parte de cima da cabeça próxima

a uma das pontas do elástico, para que o

centro do corpo da coruja fique alinhado

com o livro que você irá marcar. Em se-

guida, cole as asas, a barriga, as patas, os

olhos e o bico da corujinha.

Você Vai precisar de:- 1 CD velho;

- EVA azul, verde, vermelho e branco;

- 1 tesoura sem ponta;

- 1 lápis grafite

- 35 cm de elástico chato;

- 1 embalagem de cola instantânea;

- cola colorida branca, verde e preta;

- folha de moldes (disponível no Flickr).

Revista Pilotis | 45

Page 46: Revista Pilotis número 28

CULTURa

a ondaO professor Rainer Wenger é escolhido para lecio-

nar autocracia em uma escola na Alemanha. Logo

na primeira aula, decide, para exemplificar melhor

aos alunos o conceito de governo totalitário, criar

um modelo do governo fascista dentro da sala de

aula. O movimento recebe o nome de “A Onda”,

e ganha uniforme e saudação própria. À medida

que vai crescendo, Rainer passa a perder o contro-

le daquilo que iniciou. Os alunos se tornam mais

disciplinados, porém, também violentos. Baseado

em um caso real, que aconteceu em 1967, na Ca-

lifórnia, o longa demonstra que a linha entre a

ideologia e a dominação é bastante tênue.

Título original: Die Welle

Gênero: Drama

Classificação: 16 anos

a trocaVocê trocaria um baú cheio de ouro por um copo

de água e um alfinete? Não, né? Mas o Joaquim

trocou! Afinal, quando se está em um deserto

morrendo de sede, um pouco d’água vale muito

mais que um grande tesouro.

É assim que começa o livro A Troca, que conta a

história de uma coisa que é trocada pela outra, e

depois por outra. “Quanto vale um amor? Depen-

de de quanto dura? Ou depende de quem procu-

ra?”, pergunta a escritora. No final dessa brinca-

deira, após termos solucionado todas as dúvidas,

passamos a entender o verdadeiro valor das coisas

e a pensar mais sobre o que é importante.

Autor: Bia Hetzel

Ilustração: Jean-Claude R. Alphen

Editora: Manati

Como surgiu

o Chapéu de

Cozinheiro?

Durante a Idade

Média, na França, o

trabalho de cozinheiro

era visto com tanta

importância que eles

recebiam um título

militar, o de officiel

de bouche (oficial

da boca). Dentro da

hierarquia da cozinha,

os chapéus brancos

de alturas variáveis

foram adotados para

identificar o posto

exercido por cada um.

Enquanto o chef usava

sempre o mais alto de

todos, os auxiliares

mais simples vestiam

apenas um boné.

46 | Revista Pilotis

Page 47: Revista Pilotis número 28

CULTURa

coM a Mão na Massa!Criança adora entrar na cozinha procurando guloseimas. Mas quem disse que

criança também não pode aprender a cozinhar? A escola de gastronomia

Minichefs oferece diferentes cursos para ensinar a molecada a preparar vários

pratos. O cardápio muda a cada semana e varia de cozinha mexicana ao menu

que tem a banana como ingrediente principal. A idade mínima para se tornar

um minichef é de 4 anos, e os pais podem assistir às aulas junto com os filhos.

A intenção da escola é propor uma revolução por meio da cozinha, envolven-

do as crianças em uma atmosfera de descoberta e experimentação. Tudo isso

sempre levando em conta a segurança dos pequenos, é claro.

MINICHEFS ESCOLA DE GASTRONOMIA

Horários de aula variados durante a semana e aos sábados pela manhã. O

calendário é divulgado no site: www.minichefs.com.br. Rua Fiandeiras, 828 -

Vila Olímpia. Os preços variam de R$ 90,00 a R$ 427,00 por curso.

uM novo olhar sobre a históriaDentro do Parque Ibirapuera, em um edifício projetado por Oscar Niemeyer,

funciona desde 2004 o Museu Afro Brasil. Ele possui um acervo de mais de

6 mil obras, entre elas, pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e peças

etnológicas que ajudam a contar a história dos afrodescendentes no Brasil.

O grande objetivo do curador Emanoel Araújo é que o próprio olhar negro

reconstrua sua história. Assim, ele procura abordar temas como escravidão,

religião, arte, trabalho e até mesmo futebol, porém, sempre buscando fugir

do tradicional ponto de vista triste e estereotipado da trajetória dos negros no

Brasil. O museu possui um acervo permanente, um auditório e uma biblioteca,

e realiza exposições temporárias ao longo do ano.

MUSEU AFRO BRASIL (MAB)

De terça a domingo, das 10h às 17h. Parque do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares

Cabral – Portão 10. Gratuito. Evento permanente.

Revista Pilotis | 47

Page 48: Revista Pilotis número 28

Ivan Aragona certamente não é um antigo aluno comum. Com muita coragem e

garra, em 2008, com apenas 19 anos, conquistou uma vaga na universidade ame-

ricana Indiana Institute of Technology, transferindo-se, após um certo tempo, para

a Colorado State University. Porém, seus sonhos não pararam por aí: Ivan, que se gra-

duou em Engenharia de Produção, Química e minors em Matemática e Italiano, teve

um projeto aprovado e financiado por nada mais, nada menos do que a NASA. Em sua

pesquisa, estudava e propunha formas de como lidar com a questão do transporte de

combustível de outros planetas (como Marte) para a Terra. Hoje, Ivan trabalha junto

ao governo norte-americano, em uma empresa chamada Transportation Technology

Center Inc, que lida com formas de transporte ferroviário – e que tem como clientes,

por exemplo, o Metrô de São Paulo e a companhia Vale do Rio Doce.

Em entrevista à Revista Pilotis, Ivan conta-nos sobre a sua experiência de estudar no

exterior, sobre seu trabalho junto à NASA e sobre a escolha profissional.

anTIgO aLUnO

antigO alunO dO cOlégiO sãO luís fala

sOBre Os pOntOs negativOs e pOsitivOs

da OpçãO pOr uma universidade nO

exteriOr e cOnta sOBre a sua incrível

trajetória, que O levOu a traBalhar na nasa.

Por Pilar BaPtista

aO infinitO E aléM!

48 | Revista Pilotis

Page 49: Revista Pilotis número 28

isso, desde que cheguei lá, comecei a tra-

balhar como tutor na faculdade e dava

aulas de reforço de Química em um co-

légio da cidade. Esses primeiros traba-

lhos me ajudaram muito a crescer como

pessoa, pois passei a dar valor ao meu

próprio dinheiro, algo que não acontecia

enquanto morei no Brasil, já que, como

eu morava com meus pais, não precisava

me preocupar em pagar as minhas con-

tas. Porém, ao estudar fora do meu país,

tive que enfrentar algumas dificuldades,

como o preconceito por ser estrangeiro

– no começo muitas pessoas davam risa-

da do meu sotaque –, o frio (o inverno

chegava a -30°C), as saudades da comida

brasileira, da família e de meus amigos.

RP - Como começou a sua trajetória

profissional na NASA?

IA - Meu trabalho com a NASA é uma

pesquisa que comecei no meu segundo

ano de faculdade. Tudo começou com

um projeto especial na faculdade e, como

a NASA tem grande interesse por proje-

tos do gênero, eu e meu grupo viajamos

em 2010 para o Alabama para fazer

nossa apresentação em uma conferência

com vários especialistas e astronautas.

Tratava-se de uma pesquisa relacionada

a combustíveis: é possível ir a Marte, po-

rém, carregar o combustível de volta ao

planeta Terra é praticamente impossível.

Nossa ideia era produzir o combustível

em Marte devido às altas concentrações

de gás carbônico. Fomos vencedores do

concurso de melhor projeto do ano e

recebemos uma bolsa para dar continui-

dade à proposta. Como passei a receber

essa ajuda de custo, acabei deixando o

tênis de lado e passei a me dedicar à vida

de pesquisador. Esse momento foi funda-

mental para me ajudar a me tornar quem

sou, além de possibilitar a abertura de

diversas portas em empresas americanas.

Hoje, estou em processo de cidadania

americana, já que, por conta de meus

trabalhos realizados, acabei me tornando

um candidato, com grande potencial, a

cidadão. Além disso, também estagiei na

NASA por três meses, durante o summer

break – as férias de verão – e pude apren-

der muito.

RP - Qual foi, na sua opinião, o maior

desafio de trabalhar em uma empre-

sa desse porte?

IA - Para mim, o momento mais desafia-

dor foi encarar pessoas altamente qua-

lificadas. Não acredito que eu seja alta-

mente inteligente, mas sou uma pessoa

batalhadora, estudei muito para estar ali

Revista Pilotis: Como se deu o proces-

so para que você pudesse estudar em

uma universidade no exterior?

Ivan Aragona: Eu joguei tênis a minha

vida toda, e conseguia conciliar os estu-

dos com os torneios federados e confe-

derados. Eu sempre tive o sonho de me

tornar um tenista profissional, mas infe-

lizmente é muito difícil, e não dependia

somente do meu esforço. Sempre falavam

que, mesmo que eu não conseguisse, eu

poderia estudar no exterior com uma ex-

celente bolsa de estudos. Uma frase que

me marcou, de um técnico espanhol, foi:

“O tênis tem muito a oferecer, não só

uma carreira no profissional”. Existem

empresas qualificadas que auxiliam essa

transição, ajudam a divulgar seu currícu-

lo no tênis e na tradução de documentos

escolares para poder ser aceito em uma

faculdade americana. Foi através desse

procedimento que consegui essa oportu-

nidade de estudar fora do Brasil.

RP - Como você descreveria a experi-

ência de estudar fora do Brasil?

IA - Foi um aprendizado incrível, que

ajudou muito a acelerar meu amadureci-

mento. Nos EUA, existe uma cultura que,

depois dos 16 anos, você deve trabalhar

para ajudar a pagar os seus estudos. Por

anTIgO aLUnO

“Nossa ideia era

produzir o combustível

em marte devido às

altas concentrações

de gás carbônico.”

Revista Pilotis | 49

Page 50: Revista Pilotis número 28

e com certeza não foi fácil. Por exemplo,

desde o começo, quando fui apresentar

meu projeto, tive muito medo, principal-

mente na hora das perguntas, pois sabia

que estava perante pessoas altamente

qualificadas. Mesmo mais para frente,

em algumas reuniões, confesso que não

entendia absolutamente nada do que

meu chefe estava falando, mas concorda-

va com ele, fingindo saber. Porém, logo

após uma dessas reuniões, eu ia estudar

e procurar entender absolutamente tudo

que havia sido apresentado. Às vezes, de-

morava muito para conseguir entender,

mas, como disse, com muita luta a gente

consegue atingir nossos objetivos.

RP - O Colégio São Luís influenciou de

alguma forma essa sua trajetória? Se

sim, de que maneira?

IA - Se eu voltar a morar no Brasil, o Co-

légio São Luís certamente será o colégio

onde meus filhos irão estudar. Tive uma

base muito importante que, somada à

educação que recebi dos meus pais, foi

determinante para meu amadurecimento

e minhas conquistas. Eu tive professores

extremamente qualificados e respon-

sáveis – e faço questão de citar alguns,

como Denise Krein, Miguel Zein, Eliane

Person, o nosso querido (e já falecido)

professor Martinho – que não somente

foram professores, mas foram também

amigos. Pessoas que me ajudaram e me

aconselharam durante a minha traje-

tória. Não acredito que o professor seja

somente responsável por ensinar a sua

disciplina, acredito que eles sejam tam-

bém verdadeiros mentores para a vida.

Infelizmente, acredito que não tive ma-

turidade suficiente na época para saber

aproveitar tudo o que eles tinham para

me oferecer. Sempre fui um aluno brinca-

lhão, que gostava muito de fazer piadas,

e acho que isso pode ter me prejudicado

um pouco durante minha vida escolar.

RP - Quais lembranças e saudades

você tem do tempo em que estudava

no CSL?

IA - Tenho muita saudade dos meus ami-

gos, da época da escola, momento em

que tudo era muito tranquilo e que mi-

nha maior preocupação era somente es-

tudar. Também tenho saudade de vários

professores e funcionários do Colégio.

Foi, com certeza, minha segunda casa

por três anos. Sempre que venho ao Bra-

sil, visito o CSL para relembrar esses bons

momentos ao ver os professores ensinan-

do e os alunos brincando, levando a vida

que eu levava há quase nove anos.

RP - Você tem algum recado para pas-

sar aos alunos que estão em momen-

to de escolha profissional?

IA - Acredito que tive de me esforçar

muito mais durante esses anos do que

meus amigos que se prepararam melhor

durante o ensino médio e ingressaram

em faculdades brasileiras – batalhei mui-

to, talvez algo que não teria de fazer se

tivesse levado os anos do colegial mais

a sério. Quanto à escolha profissional,

acabei optando pelo curso de Engenha-

ria, baseando-me nas disciplinas de que

mais gostava na escola: Química, Física e

Matemática. A partir daí, fui eliminando

carreiras que jamais faria, para, depois,

quanto àquelas em que tinha interesse,

conversar com pessoas formadas na área,

para que eu começasse a me imaginar

trabalhando naquele determinado ramo.

Quanto à opção de “estudar fora”, acre-

dito que seja uma grande experiência –

e quando digo “fora”, não quero dizer

necessariamente no exterior. Meu irmão,

Marcio Pagano Aragona (formado no Co-

légio São Luís em 2010), por exemplo,

estuda na Universidade Federal de Pelotas

(no curso de Engenharia Hídrica) e, as-

sim como eu quando me mudei para os

Estados Unidos, está aprendendo a lidar

com o fato de cuidar da própria casa e de

sua vida financeira, além de, ao mesmo

tempo, estudar e acreditar que isso é im-

portante. Tais aprendizados são ricos para

o amadurecimento de cada um e, muitas

vezes, não são apreendidos em opções

dentro da própria cidade e universo. Acre-

dito que seja necessário expandir nossos

horizontes quanto ao leque de opções de

universidades, de forma a não nos ater-

mos à USP como única alternativa de ex-

celência, como acontecia antigamente.

“sempre que venho ao Brasil, visito o CsL para

relembrar esses bons momentos ao ver os

professores ensinando e os alunos brincando.”

anTIgO aLUnO

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