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A 6ª edição da Revista Informe do Grupo de Educação Tutorial - PET Letras presta homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano e ao seu país. Prestigiem!

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Sumário

Pág. 6

Pág. 7

Pág. 18

Pág. 8

Pág. 10

Pág. 18

Eduardo Galeano

Suas Obras

O Autor

Uruguai, que país é esse?

Intercâmbio

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Sumário

Pág. 28 Pág. 24

Pág. 30

Pág. 38

Pág. 46

A imagem de Galeano no Exterior O Autor das Américas

A Obra

A Língua

Os Uruguaios

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Expediente

Publisher: Carlos H. Silva

Editora-chefe: Carolina Fernandes

Redatores: Carlos H. Silva, Éder Lupe, Fernanda Gra-

nato, Francielle Hambrecht, Greice Kelly Jorge, Helena

Acosta, Raquel Miranda.

Revisora-Geral: Carolina Fernandes

Revisora: Luana Pires

Contato: [email protected]

Colaboradores: Ana Paula Seixas, Anderson Neves,

Clara Dornelles, Clarisse Ismério, Cristina Cardoso, Sara

dos Santos Mota, Valesca Brasil Irala, Vando Castro, Ca-

ren Albanio, Maria da Graça Souza, Camila Goulart, Bár-

bara Machado, Emanuel Cruz.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem auto-

rização prévia e escrita.

Revista Informe 6ª Edição—Vol. I - Ano IV

ISSN 2447-1895 - Julho/ Dezembro de 2015

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Caro Leitor,

A revista Informe Letras é uma produção do grupo de Letras do Pro-grama de Educação Tutorial (PET-Letras) da Universidade Federal do Pampa, campus Bagé, RS. Para esta 6ª edição, a revista faz uma home-nagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano e ao seu país. A partir de pesquisas sobre o autor e sobre a história de nosso país vizinho, os bol-sistas do programa elaboraram reportagens e entrevistas com pesquisa-dores, estudantes e uruguaios residentes em Bagé. A experiência de aprender mais sobre o país que está a 67 km de nossa cidade foi enri-quecedora, visto que podemos conhecer mais sobre os hábitos de seu povo, sua história e sua língua, inclusive o portunhol é que um dialeto tí-pico de nossa fronteira. Sobre a obra e a vida de Galeano, ganhamos com a aprendizagem de sua história e de sua reflexão sobre a identidade da América Latina. Falecido em 13 de abril deste ano, Galeano imortaliza-se como um íco-ne latino, um símbolo de resistência à exploração que nos deixa um le-gado de esperança por nossas nações tão próximas em território e em sua história de sofrimento e luta. É de Galeano a autoria de “Veias Aber-tas da América Latina”, obra que impulsiona ainda muitos trabalhos na academia como mostram as reportagens da revista sobre leitura da obra em curso superior. Será que as veias da América seguem abertas? O que faz estancar seu sangue? Alguns comentários de pesquisadores e professores de diferentes áreas mostram que sua obra resiste ao tempo. De Galeano também jorram as palavras sobre o território americano, em “Memórias de Fogo”, o escritor percorre o trajeto histórico de cons-trução da identidade latina, o que nesta revista podemos recuperar um pouco. Habitante das Américas, Eduardo Galeano não se ocupou em re-tratar apenas seu país, mas o continente latino-americano com seus mi-tos, lendas, batalhas, vencedores e vencidos. A emoção de suas obras nos contagia e faz dessa edição especial o início de um caminho que o grupo PET-Letras já vem construindo através de leituras de escritores das Américas e elaboração de ações extensionistas a partir dessas obras. Assim, conhecer o escritor, sua obra e seu país também é conhecer a nós mesmos, nossas origens e fazer uma autorreflexão sobre nossa constituição identitária latina. Convidamos você leitor a fazer conosco esse percurso e reflexão. Boa leitura!

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Éder Lupe

Eduardo Hughes Galeano nasceu em

Montevidéu, Uruguai, em 1940. Jornalista

e escritor, esteve exilado na Argentina e

na Espanha entre 1973 e 1985. É autor

de mais de quarenta livros, traduzidos em

mais de vinte línguas e de uma ampla

obra jornalistíca. Recebeu diversos pêmios, sendo um dos mais

importantes o American Book Award (Washington University, US)

em 1989.

Eduardo Galeano

Sua obra-prima, As veias

abertas da América Latina,

narra a história da América

Latina, desde seu período

colonial até o momento

contemporâneo, com um viés

no qual considera como

exploração econômica e política

do povo latino-americano

primeiro pela Europa e depois

pelos Estados Unidos.

Fator este que fez em 2009

Hugo Chaves, então presidente

da Venezuela (esquerdista

latino-americano) entregar ao

atual presidente dos Estados

Unidos, Barack Obama uma

cópia da obra.

Curiosidade

Em Brasília, 40 anos após o

lançamento da sua obra, durante

a 2ª Bienal do Livro e da Leitura,

Galeano admitiu ter mudado de

ideia sobre o que escrevera.

Disse ele: “'Veias Abertas’

pretendia ser um livro de

economia política, mas eu não

tinha o treinamento e o preparo

necessário".

Ele acrescentou que "eu não

seria capaz de reler esse livro;

cairia dormindo. Para mim, essa

prosa da esquerda tradicional é

extremamente árida, e meu físico

já não a tolera."

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Suas Obras As Veias Abertas da América Latina (1971) O livro que se tornou um clássico entre os membros de esquerda de toda américa-latina, onde analisa o a ex-ploração econômica e a dominação política na América

Dias e Noites de Amor e Guerra (1975) Crônica novelada das ditaduras de Argentina e Uru-

guai, um relato autobiográfico, uma memória íntima, con-vertida em memória coletiva junto ao horror de amigos que desapareceram.

Memória do fogo (1982-1986) Publicado em forma de trilogia (Os Nascimentos; As

Caras e as Máscaras; e O Século do Vento), combina elementos de poesia, história e conto. Os livros trazem poemas, trans-crição de documentos, descrição dos fatos e interpreta-ção de movimentos sociais e culturais, que compõem uma cronologia de acontecimentos, proporcionando uma visão de conjunto sobre a identidade latino-americana. Mulheres (1997)

Coletânea de textos publicados em diversos de seus livros, onde de forma lírica e poética, o autor traz relatos de mulheres célebres,

anônimas que com sua vivência, deixaram marcas no dia a dia das pessoas com as quais conviveram e, assim, fo-ram lembradas. Os filhos dos dias (2012) Inspira na sabedoria maia e traz 366 relatos que com-põem a história, desde a Antiguidade até o

presente. É baseado em uma versão do Gênesis que Galeano escutou em uma comunidade maia da Guate-mala.

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Sobre Galeano e suas contribuições além da estética política

Carlos H. Silva

Eduardo Hughes Galeano, fora um ícone da literatura latino-

americana, em suas obras, ele pensava na América Latina como parte

de nossa identidade, e esta, no

sentido mais amplo da palavra.

Serviu como aporte para nossas

raízes, bem como, chave para as

respostas de nossas angústias, en-

quanto latinos. Galeano contribuiu

de forma direta para o processo de

criação de uma nova ideologia polí-

tica, onde esta fez com que o seu

povo, pudesse (se) enxergar frente

à realidade em que estavam inseri-

dos.

Galeano deu vez, e voz, a sua gente, as suas percepções. Ade-

mais, ao ser perseguido durante a ditadura, mostrou-se polivalente, e,

em seu exílio, produziu obras, que sem sombra de dúvida, fomentaram

ainda mais sua grandiosidade estilística, bem como, sua maturidade

poética.

Em suas obras, o autor, personificava e enaltecia o seu povo, de

certa forma, humanizava, o que fora tratado como escoria, em uma so-

ciedade voltada ao capitalismo desenfreado. Em sua obra mais mar-

cante, “As Veias Abertas da América Latina”, o uruguaio, analisa a his-

tórica exploração econômica do continente, o que causou revolta em

sua época, por deflagrar em seu povo, um sentimento de repulsa, pois,

de forma poética, ele era mais um cidadão, que acompanhava de perto

o martírio que fora a ditadura militar.

Las venas abiertas de América Latina, título original, de sua obra,

merece destaque, pois quando nos referimos ao atual cenário político

O Autor

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mundial, é notório que estas “veias”, continuam pulsando, tanto quanto a

gana que o povo tem por mudanças, de forma utópica, talvez, mas ja-

mais deixemos de acreditar; quer seja na nossa mudança, quer seja, ao

nosso redor.

Uma certeza nós pode-

mos ter, por mais que Galea-

no, não esteja fisicamente,

entre nós, suas obras serão

eternizadas, e, continuarão

dividindo opiniões, assim,

como o fizeram desde a sua

origem. Que Galeano des-

canse em paz, e suas obras

continuem ecoando pelos

quatro cantos do mundo, contando histórias, pensamentos e emoções.

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois

passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez pas-

sos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu

caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia?

Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Eduardo Galeano

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Uruguai

Éder Lupe

O Uruguai é um país pequeno, muito

charmoso, com cidades arborizadas,

campos extensos, praias limpas e um cli-

ma muito agradável; possui um clima

bem definido, sendo os verões quentes e

seus invernos extremamente frios.

Montevidéu, capital, conta com um milhão de habitantes. O

país faz fronteira com apenas dois países, o Brasil e a Argentina.

Existem mais duas cidades secundárias de grande procura por tu-

ristas do mundo todo: Maldonado, onde existe a praia de Punta del

Este e Colônia Del Sacramento, esta considerada Patrimônio da

Humanidade (UNESCO).

O Castelhano, língua utilizada em cidades fronteiriças, é um

dos idiomas do Uruguai, assim como o espanhol, ultimamente o in-

glês vem ganhando espaço nas suas ruas, tudo motivado pelo turis-

mo.

Uruguai, que país é esse?

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O Uruguai tem origens indígenas, mais precisamente os Char-

ruas, cuja cultura predomina no país até os dias de hoje. A influên-

cia do espanhol como língua oficial vem desde o início do século

XVI, quando o país esteve sob seu domínio. Traços destes domí-

nios estão expostos em sua arquitetura e construções históricas, co-

mo exemplo a cidade Colonia del Sacramento.

O país, assim como vários países da América, também passou

por uma ditadura militar, em 1973, onde as forças militares mantive-

ram-se no governo até 1985, sempre sob constante terror e opres-

são.

Após restabelecer seus alicerces, muito disto com a exportação

de softwares e carne para a América do Norte e Europa, o país pas-

sou por uma nova crise econômica, entre 2001 e 2002, umas das

piores crises de sua história, causando um desemprego desenfrea-

do e fechamento de pequenas e médias empresas. Em 2004, o país

conseguiu se reerguer e lentamente sair do poço.

Reerguido, o país direcionou suas forças para as exportações

agrícolas, desenvolvimento e exportação de softwares. O país, ho-

je, é sede do Mercosul, possui uma economia estável com um dos

maiores PIB per capita da América. O índice de pobreza é conside-

rado baixo e a taxa de analfabetismo não chega a 2%.

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O turismo ainda é um ponto forte do país, oferecendo ótimas

praias, campos, cidades históricas entre outros modos de diversão,

como ecoturismo e aventuras; É modelo de hotelaria e possui uma

excelente rota de vinhos. Montevidéu, por exemplo, possui um visu-

al europeu, com suas ruas repletas de árvores, hipódromo de Maro-

ñas (segundo esporte do país). Outro ponto turístico obrigatório da

cidade é o Museu do Futebol, inaugurado em 1975 foi um dos pri-

meiros museus de futebol do mundo.

Punta del Leste, apenas 134 km de Montevidéu é o balneário

mais famoso do país. Recebe, no verão, turistas de todas as partes

do mundo.

Um ponto turístico bastante visitado é o Monumento ao Afogado,

conhecido também como La Mano ou Los Dedos, um dos mais co-

biçado de Punta del Este. Tirar uma foto junto aos “dedinhos que

saem da areia é obrigatório para todo mundo que passeia na cida-

de.

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Quanto à educação, podemos dizer que o país é exemplo de

qualidade na América, totalmente gratuita, e tem em sua filosofia a

formação de um estudante politicamente engajado, pensante e de-

fensor de um estado laico. Muitos brasileiros participam de inter-

câmbio com o país vizinho, e ambos países possuem um convênio

com a finalidade de oferecer cursos específicos para estudantes

que desejam aprender ou aperfeiçoar o idioma.

Após teste de proficiência o estudante recebe o curso ideal pa-

ra cada tipo de situação. Estes cursos possuem um alto nível de ex-

celência acadêmica, com professores qualificados e materiais de

ensino personalizados.

Quanto à hospedagem existe três tipos, todos acessíveis ao es-

tudante. O principal é a hospedagem em casa de família, onde o es-

tudante tem contato direto (imersão) com a língua. Outra opção é a

hospedagem dentro da própria escola, com quartos individuais; e a

mais comum é a hospedagem em Hostels (dormitórios com preços

mais acessíveis).

A moeda do Uruguai é chamada de “peso uruguaio”. Existem

moedas de 1, 2, 5, 10 e 50 pesos; e notas de 20, 50, 100, 200, 500,

1000 e 2000 pesos. Como o país trabalha com produtos importados

uma segunda moera é o dólar. Para fins de referência, um dólar é

equivalente a vinte e seis pesos. Um real é equivalente a oito pesos

(informação datada de junho de 2015).

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A Ditadura Militar Raquel Miranda

A Ditadura Militar no Uruguai teve como marco de seu início o dia 27 de julho de 1973 com a transmissão de rádio e televisão do discurso do presidente Juan Maria Bordaberry, que com o apoio das Forças Armadas fechou o Senado a Câmara de Deputados e criou o Conselho de Estado substituindo o parlamento. Uma das marcas deste período é a Doutrina de Segurança Nacio-nal, que visava defender a nação de inimigos internos e externos que criou uma política de combate e terror aos chamados "subversivos", comunistas e socialistas que se opuseram ao governo totalitário. Com relação ao ta-manho do país e ao número de habitantes, que neste período residiam em sua maioria na capital, foi expressiva a contagem de presos e torturados na "Política de Reféns". Homens e mulheres mantidos em cárcere em con-dições mais desumanas imagináveis, já que não podiam ser "eliminados" eram levados ao limite da resistência humana para que adquirissem as se-quelas físicas e mentais mais profundas possíveis. No ano de 1978 pode-se começar a vislumbrar uma pequena abertura no regime, e, com a rejeição da nova constituição feita pelos mili-tares, as Forças Armadas anunciam planos para o retorno do governo civil, assim reuniões e debates começam a ser feitos por país. Depois de fortes protestos, em 1984, foi realizada a eleição presidencial, quando Julio Ma-ría Sanguinetti do Partido Colorado foi eleito.

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Em 1º de março de 1985 o Uruguai retorna ao governo civil e em

1986 é aprovada a “Lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado", que proíbe a investigação os crimes que foram cometidos, tanto pelos mili-tares quanto pelos presos e ativistas políticos, entre 1973 e 1985. A partir do ano de 2007 foi publicado no site da Presidência do pa-ís, sob o nome de Investigación Histórica sobre Detenidos Desaparecidos, em cinco tomos as fichas sobre os desaparecidos, detalhes sobre as pri-sões, transcrições de textos originais dos arquivos militares, comissões, decretos e sentenças entre outras informações relevantes sobre o período. Todos os direitos são reservados, não sendo possível aqui a reprodução, se quer em parte, do conteúdo, mas podem ser acessados nos links infor-mados no final deste texto. Em 2011 o Senado, e posteriormente a Câmara de Deputados, anularam a “Lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado” com ba-se no tribunal de Haia, passando os crimes cometidos durante a ditadura de crimes comuns a crimes contra a humanidade, assim não há mais a prescrição destes. (Maiores informações no site http://archivo.presidencia.gub.uy/)

Tribunal de Haia: Tribunal de Justiça Internacional, principal órgão judiciário da

ONU. Localizado em Haia, nos Países Baixos e sua cede é o Palácio da Paz. Veio pa-ra suceder a Corte Permanente de Justiça Internacional. É formado por juízes de 15 países diferentes, julga crimes de estado e contra a humanidade, desenvolve o direito internacional, aborda a responsabilidade e a supremacia de Estado e direitos de nacio-nalidade de pessoas físicas e jurídicas.

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Uruguai, relações internacionais

Éder Lupe

Na política, o país vem de uma república democrática re-

presentativa, ou seja, com um sistema presidencial, com dura-

ção de cinco anos. O sistema de votação é chamado de

“sufrágio universal” (direito de voto a todos os adultos, sem

distinção de raça, sexo, crença social e posição econômica).

Investe na justiça, educação, saúde, segurança externa, políti-

ca e defesa.

Durante a maior parte da história política o país foi gover-

nado pelo Partido Colorado, sua oposição é o Partido Blanco.

Porém em 2004 a Frente Ampla (coalizão de socialistas, co-

munistas, tupamaros, ex-comunistas entre outros) tomaram o

governo, entre eles Tabaré Vázquez atual presidente, substi-

tuiu o famoso José Mujica (famoso por doar 90% de seu salá-

rio para ONGs, morar em sua pequena fazenda nos arredores

de Montevidéu, dirigir um velho Fusca como carro oficial, lega-

lizar o uso da maconha e autorizar o casamento gay entre ou-

tros temas polêmicos como o aborto).

Em se tratando de relações internacionais o país em no-

vembro de 2010 ratificou o Tratado Constitutivo da UNASUL

(União das nações sul-americanas), unificando assim o traba-

lho de aduanas em doze nações sul-americanas, deixando-as

com o mesmo molde de fiscalização.

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Com o Brasil, o

país mantém

uma longa fi-

cha de rela-

ções bilaterais,

onde ambos

assinaram

acordos de co-

operação em

temas diversos, como ciência e tecnologia, energia, trans-

porte fluvial e pesca. Tudo com a esperança de acelerar a

integração política e econômica entre as duas nações.

Com os Estados Unidos, o país mantém relações ami-

gáveis desde a sua transição da ditadura para a democra-

cia. O pais também possui tropas militares no Haiti

(MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para estabiliza-

ção no Haiti) sob o comando indireto do exército america-

no.

O ex-presidente José Mujica apoiou a candidatura da

Venezuela para participar do Mercosul, e assim a Venezu-

ela se comprometeu de vender ao Uruguai até 40 000 bar-

ris de petróleo por dia em condições preferenciais.

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As impressões de uma intercambista no país de Galeano

Fernanda Granato

Ana Paula Seixa, é acadêmica do Curso

de Licenciatura em Letras – Português e Es-

panhol, pela Universidade Federal do Pampa

(Unipampa), e está em mobilidade acadêmi-

ca na Universidade de La República (Udelar),

pelo Programa de Bolsas Ibero-Americanas,

uma parceria entre o Santander Universida-

des e a Unipampa. Tendo em vista, que Ana

está realizando seu intercâmbio em Montevi-

déu, cidade natal de Galeano, convidamos a

intercambista para fazer um relato sobre sua

experiência e impressões sobre cultura do país, sua história, a importância

das obras de Galeano na Universidade, entre outros. A seguir, o relato:

Eu diria que, em termos de cultura, o povo uruguaio tem costumes

muito marcados, que até nos assemelham, em certa medida. Andam com

o chimarrão (mate, aqui) para todos os lados. Os professores dão aula to-

mando chimarrão naturalmente, assim como os alunos (muitos!) levam sua

bebida para sua jornada de estudos na faculdade. Ao longo das aulas, há

discussões fervorosas sobre questões sociais de diversas naturezas, o

que demonstra diversos posiciona-

mentos e troca de conhecimentos

que estão além da gramática e da

literatura. Fora da sala de aula, te-

ço laços de amizade com pessoas

excelentes e acolhedoras. Presen-

cio eventos culturais de várias ins-

tâncias, sejam musicais, teatrais,

linguísticas, etc. Sempre tem um

bom evento gratuito para quem

quer lazer e conhecimento ao

mesmo tempo.

Intercâmbio

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No que tange ao quesito história do país,

percebi que os uruguaios conhecem a história

de seu povo, sua literatura, seus usos e costu-

mes e é algo que se fomenta muito nas esco-

las. Reverenciam ao General José Artigas, eu

diria que é um deus uruguaio, pois há está-

tuas por todas as partes. Bom, estátuas e mo-

numentos é o que mais se vê em Montevidéu.

Para falar sobre o modo de vida do povo mon-

tevideano, remeto-me à casa onde estou mo-

rando. Somos quatorze pessoas, nem todas

são universitárias, pois não escolhi morar em

uma residência universitária. A maioria traba-

lha em ramos diferentes, com diferentes for-

mações e horários. Notei que comem muita massa, como macarrão, pizza e

pão. Algo característico na hora da refeição é não comer mais que duas vari-

edades de comida. Para mim, isso foi impactante e para elas, o fato de que

eu comia três ou quatro variedades ao mesmo tempo, chocou-lhes: “Ay, co-

més todo mezclado. ¿Para qué tanta variedad?”. Obviamente, eu respondia

com outra pergunta: “¿Y por qué comer solo un tipo de comida?”, enfim, me-

ros contrastes.

Morando no centro da cidade, a dezessete quadras da faculdade, tive o

prazer de ir e voltar caminhando pela Avenida 18 de Julio, a avenida principal

da cidade. É muito bom poder disfrutar desse ambiente de letramento. Pon-

tos turísticos, comércios, transporte, gente diferente (e muito semelhante

também), sons da capital, marketing, etc. Tudo muito comum, mas com um

toque de magia por se tratar de um intercâmbio.

Algo desse novo cotidiano me impactou: os altos preços. Tudo é muito

caro, o custo de vida é altíssimo, se comparado aos salários. Comida, roupas

são caras (até que se pode encontrar preços mais baixos, mas obviamente a

qualidade é pior), teatro, cinema e outras atrações artísticas são caras tam-

bém. A única coisa que eu acredito ser barato aqui é o transporte, principal-

mente para os estudantes, que possuem meia tarifa, e também porque po-

dem usar duas linhas de ônibus dentro do período de uma hora. O táxi tam-

bém não é caro e vale a pena, por questões de agilidade e qualidade. Desco-

nheço o serviço de “moto-táxi” aqui, acredito que não exista.

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Em termos gerais, eu diria que Monte-

vidéu tem seus agitos de capital, mas

em termos estatísticos é muito calma

e segura, se comparada a outras lati-

no-americanas. Possui praias lindíssi-

mas, parques incrivelmente lindos e

naturais, mais de sessenta museus,

galerias de arte e cinemas. Há uma

programação cultural intensa, muitas

esculturas e monumentos que reve-

renciam personagens e entidades lo-

cais ou mundiais, povo acolhedor, cos-

tumes parecidos aos dos gaúchos, atividades para toda família grátis e pagas.

Durante o intercâmbio, recebi a notícia, ou melhor li sobre a morte do escri-

tor Eduardo Galeano. O velório seria realizado no Palacio Legislativo e aberto

ao público em geral. Conversando com alguns colegas, decidimos que estaría-

mos lá, já que não pudemos prestigiá-lo pessoalmente em vida. Confesso que

me supreendi ao chegar no local. Havia gente de todas as idades, grupos de jo-

vens, senhores e senhoras já de bastante idade, até mesmo crianças. Todos em

um sublime silêncio, despedindo-se tristemente de Galeano. Fui impactada por

aquelas imagens, muitas coroas estavam dispostas ao redor do caixão, eram de

embaixadas, instituições, órgãos públicos e privados, meios de comunicação,

todos prestando suas homenagens. Uma gama de jornalistas e fotógrafos se

concentrava ao lado esquerdo do corpo. Em um determinado momento, por vol-

ta das 18h, chega a viúva de Galeano, de roxo, óculos escuros, mas já não cho-

rava. A repercussão da perda foi grande por alguns longos dias.

Ainda que eu não tivesse grandes conhecimentos sobre o escritor, já havia

lido trechos de algumas de suas obras. Não me recordo de ter lido obrigatoria-

mente por conta de alguma disciplina da graduação, mas no segundo semestre

li um texto seu, no livro Relatos del Río de la Plata, o qual a professora de espa-

nhol básico II me emprestou. Nesse livro, li o poema “Los Nadies”, muito lindo,

por sinal e impactante. Descobri que ele era montevideano e que esteve exilado

na Argentina e na Espanha durante a ditadura no Uruguai, além de ter recebido

vários prêmios. No ano passado, juntamente com o professor de literatura espa-

nhola, usei um fragmento de sua obra para dialogar/ilustrar meu relato pessoal

sobre a relação existente entre educação e utopia. Texto que eu escrevi para

participar de um evento acadêmico, na UFSCAR, “Rodas de Conversa Bakhtini-

ana”, cujos eixos temáticos eram: “Praça Pública. Multidão. Revolução. Utopia.”

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Acredito que numa graduação em Letras, no Brasil, a qual habilita o li-cenciando a graduar-se como professor de espanhol, ter contato com obras e textos de escritores latino-americanos é essencial. Em nosso caso, temos o privilégio de estar próximos à fronteira com o Uruguai e é lindo poder usufruir dessa riqueza literária que está a nossa disposição. Temos o direito de ir e vir, como integrantes do Mercosul, de um país a outro. Mais que isso, como professores de língua espanhola, devemos permitir ao nosso aluno conhecer o que há de rico do outro lado da fronteira. Talvez nem todos irão cruzá-la, mas poderão, ao menos, manusear ou acessar online uma obra (ou muitas) de nossos países vizinhos, ou se não quiserem chegar a esse nível, pelo me-nos poderão saber o que se produz ao nosso redor. Digo isso não só por es-tar aqui no Uruguai e apreciar este país, ao ponto de tomá-lo como minha se-gunda casa, mas também porque temos a Argentina, o Paraguai e todos os demais países latino-americanos que são ricos em cultura e que merecem um lugar muito especial nas aulas de língua espanhola. Digo também, por-que, para mim, língua e cultura estão fortemente entrelaçadas e não há uma sem a outra. Quem quer aprender uma língua estrangeira/adicional terá que se permitir mergulhar na cultura que está atrelada a ela. Para terminar meu relato, cabe dizer que nasci na fronteira Brasil-Uruguai, Aceguá, e apesar de ter vivido sempre no lado brasileiro, sempre admirei o “paisito” por ter tantas coisas em comum com nosso estado, Rio Grande do Sul. Escolhi o Uruguai por ter crescido ouvindo meu padrasto, uruguaio, falar em espanhol rioplatense comigo, também porque meu TCC é fruto de um convite recebido aqui em Montevideo durante o 5º Foro de Len-guas - ANEP (FLA 2013). E, por último, escolhi o Uruguai porque “¡Soy loca por ti, América!” e quero viver um pouco de cada país latino. Juntei todas es-sas motivações e aqui estou. Sinto-me realizada por ter tido o privilégio de confirmar muitas das coisas que eu sabia sobre o Uruguai, por me aperfeiçoar muito mais no espanhol e por concretizar cada um dos meus objetivos. A repercussão disto tudo se da-rá lá na frente, quando eu puder compartilhar com meus alunos o que viven-ciei e instigá-los a fazer o mesmo ou muito melhor. Porque afinal:

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." Eduardo Galeano

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Éder Lupe e Fernanda Granato

Eduardo Galeano, após ultrapassar as fronteiras de seu país ga-

nhou destaque em vários lugares do mundo, como em 2005, onde

aceitou o convite para integrar o comitê consultivo Telasur (emissora de

televisão pan-latino-americana com sede em Caracas, Venezuela). Em

julho de 2008, foi agraciado com o primeiro título de Cidadão Ilustre do

Mercosul. Entre outros, o prêmio de liberdade cultural, “Cultural Free-

dom Prize” oferecido pela Lannan Foundation nos Estados Unidos, con-

quistados com a sua trilogia de Memórias de Fogo e a obra Veias aber-

tas da América Latina.

Citado no The New York times, Galeano aparece como a “Voz do

anti-capitalismo”, possui referencia ainda de expor seus pensamentos

sobre a exploração da América contra os domínios dos Estados Unidos

e países da Europa.

O jornal ainda cita outra obra sua, Os filhos dos dias, onde narra

uma página para cada dia do ano citando a memória de coragem e bele-

za em meio à carnificinas existente du-

rante a escravidão e o colonialism eu-

ropeu.

Na tentativa de melhorar os tra-

balhos na conciliação de opostos, Ga-

leano mostra a admiração que possui

por Karl Marx, que adaptando seus

“mecanisnos internos de capitalismo”

cita que a “A esquerda é a Universidade

do Direito" e insinua que a história não tende a se mover na direção que

ele gostaria.

A imagem de Galeano no exterior

Page 23: Revista informe 6ª edição pub

23

Tais palavras tornava canônico seu livro “veias abertas”, tanto que

Hugo Chaves, ex-presidente da Venezuela, já falecido, fez dele suas

palavras e presenteou o atual presidente e dos Estados Unidos, Barack

Obama, com uma cópia.

No livro, ele relata uma análise da história da América Latina sob

o ponto de vista da exploração econômica e da dominação política,

desde a colonização europeia até a contemporaneidade da época em

que foi lançado. A obra chegou a ser banida nos países vizinhos du-

rante o período da ditadura, o que fez o escritor pedir exílio na Espa-

nha, fator este que pode ter influenciado em seus últimos e tão polêmi-

cos comentários durante a 2ª Bienal do Livro de Brasília, realizada en-

tre 11 e 21 de abril de 2014. Neste

momento, Galeano assumiu um tom

mais flexível para analisar a política.

Citando que as margens dos par-

tidos políticos, tanto de esquerda

quanto de direita, às vezes erram e

que nisto também se incluíam golpes

de estado, ditaduras militares e inclu-

sive crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progres-

so. "Em alguns períodos, é a esquerda que comete erros gravíssimos",

disse o escritor.O livro foi publicado quando o escritor tinha 31 anos e,

segundo o próprio escritor, “naquela época ele não tinha formação sufi-

ciente para realizar essa tarefa”.

“Vivemos em plena cultura da

aparência: o contrato de casamento

importa mais que o amor, o funeral mais

que o morto, as roupas mais que o corpo e

a missa mais que Deus.”

GALEANO, E.

Page 24: Revista informe 6ª edição pub

24

Eduardo Galeano e seu legado no Reino Unido

Greice Kelly O. Jorge

O site inglês The Guardian UK traz em uma de suas matérias sobre a

morte de Eduardo Galeano, um olhar de admiração e respeito ao escritor uru-

guaio Eduardo Galeano que é visto pelo jornal como um dos grandes escrito-

res da América Latina (He was one of the great writers of Latin America). Se-

gundo o jornal The Guardian as obras de Galeano eram inusitadas e idiossin-

cráticas e serviam para iluminar a história e a política de todo o continente (his

unusual and idiosyncratic works served to illuminate the history and politics of

the entire continent.).

No título da matéria, o jornal descreve Galeano como o escritor e jorna-

lista que foi inspirado pela revolução cubana, segundo o jornal o escritor uru-

guaio “ajudou a fazer história a América Latina e aos leitores em todo o mun-

do” (Uruguayan writer and journalist who, inspired by the Cuban revolution,

helped give Latin American fiction a worldwide readership).

Citando que as margens dos partidos políticos, tanto de esquer-

da quanto de direita, às vezes erram e que nisto também se incluíam

golpes de estado, ditaduras militares e inclusive crimes horrorosos

cometidos em nome da paz social e do progresso. "Em alguns perío-

dos, é a esquerda que comete erros gravíssimos", disse o escritor.

O livro foi publicado quando o escritor tinha 31 anos e, segundo

o próprio escritor, “naquela época ele não tinha formação suficiente

para realizar essa tarefa”.

Em 2009, durante a 5ª Cúpula das Américas, o ex-presidente da

Venezuela Hugo Chávez deu uma cópia do livro de presente ao pre-

sidente dos Estados Unidos Barack Obama. Na época, o livro saiu da

posição 54.295 da lista dos livros mais populares do site Ama-

zon.com, para a segunda posição em apenas um dia.

A imagem de Galeano no exterior

Page 25: Revista informe 6ª edição pub

25

Galeano foi questionado sobre esse episódio, no que respon-

deu que "Nem Obama e nem Chávez" entenderiam o livro. "Ele

(Chávez) entregou a Obama com a melhor intenção do mundo,

mas deu a Obama um livro em uma língua que ele não conhece.

Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel", ressaltou o

autor.

O jornal The Guardian também

descreve Eduardo Galeano como

uma figura ou pessoa carismática,

popular em plataformas políticas e

na imprensa. O jornal ainda comen-

ta que Galeano como jornalista en-

trevistou, quando exilado na Espa-

nha, várias figuras famosas do con-

tinente que inclui Fidel Castro, Pe-

rón, Chávez e Salvador Allende,

que era um amigo próximo.

Já em outra matéria do mes-

mo jornal, Eduardo Galeano é retratado como a principal voz da esquerda

latino-americana e anticapitalista (the Uruguayan writer and journalist was

one of the region’s noted anti-capitalist voices). Segundo o The Guardian,

Galeano ficou mais conhecido devido ao seu livro “Veias Abertas da Améri-

ca Latina, o livro disparou nas vendas e entrou para o topo da lista dos mais

vendidos nos Estados Unidos, depois que o presidente da Venezuela Hugo

Chávez presenteou o presidente dos Estados Unidos Barack Obama com o

livro em 2009. (Galeano was best known for his 1971 book Open Veins of

Latin America, which rocketed to the top of US bestseller lists after the Ve-

nezuelan leader Hugo Chávez presented a copy to President Barack Oba-

ma in 2009.)

Page 26: Revista informe 6ª edição pub

26

De acordo com o

jornal, o livro Veias

Abertas da América

Latina tornou Galea-

no um dos escritores

mais proeminentes da

região, o livro “tornou-se um grito de guerra entre os círculos de es-

querda, e foi proibido durante os períodos de liderança militar no

Chile, Argentina e Uruguai.” (The book, which established Galeano

as one of the region’s most prominent writers, became a rallying cry

among leftist circles, and was banned during periods of military lea-

dership in Chile, Argentina and Uruguay.)

O Jornal The Guardian, nessa matéria, citou ainda uma entre-

vista feita com Eduardo Galeano no ano de 2013 no qual o autor fa-

lou sobre o seu livro “Filhos dos Dias”. Segundo o jornal, “Galeano

detalhou um mundo onde o poder e a riqueza estavam cada vez

mais concentrados nas mãos de poucos, tecendo exemplos do sé-

culo XV até os dias atuais. "A história nunca diz adeus", disse ele na

época. "A história diz, vejo você mais tarde.".” (Galeano detailed a

world where power and wealth were becoming increasingly concen-

trated in the hands of a few, wea-

ving in examples from the 15th

century to the present day.

“History never really says good-

bye,” he said at the time. “History

says, see you later.”)

Page 27: Revista informe 6ª edição pub

27

Podemos concluir a par-

tir da imagem que o jornal

The Guardian faz de Eduar-

do Galeano, que o escritor

deixou um legado de cora-

gem, história de luta contra

o capitalismo, com o livro

“Veias Abertas da América

Latina” trouxe não somente visibilidade para a América Latina, mas

também fez com quem lesse a obra refletisse sobre os processos

de exploração sofridos pela América Latina diante dos países da

América do Norte e Europa. Eduardo Galeano, um jornalista e es-

critor uruguaio que com sua história e coragem deixou um legado

por toda a Europa e países da América através de sua obra mais

impactante e reconhecida “Veias abertas da América Latina”.

Page 28: Revista informe 6ª edição pub

28

O retrato das Américas pela perspectiva das obras de Galeano

Com a morte do autor, suas obras ganharam maior notoriedade, visto que a partir de suas contribuições literárias Galeano apresentou o Uruguai ao mun-do. A partir disso, ponho-me a pensar o porquê da obra de Galeano se constitu-ir tão importante para a memória geral da América. E como isso ocorreu?

Ao pesquisar sobre a história do Uruguai, não encontrei um livro teórico sobre os fatos históricos deste país, mas a trilogia Memórias do Fogo de Eduar-do Galeano, que retrata a memória histórica do Uruguai e, ao ler encontro nesta obra, não apenas retratada a história, mas também a cultura, o folclore, músi-cas indígenas, mitos e trechos de documentos junto às reflexões do autor so-bre cada um deles em um turbilhão de acontecimentos como que apresentados em um fluxo de pensamento. Tudo é escrito em pequenos contos que respei-tam o tempo cronológico dos acontecimentos misturando a história e cultura dos países americanos a cada página. Esse modo de escrever de Galeano traz a idéia da heterogeneidade e fusão de culturas, etnias e origens e da própria mis-cigenação da América onde todas suas vozes são representadas com a plurali-dade das relações interamericanas ao longo da história mostrando ao leitor a identidade do continente americano como um só.

Notei também, em minha pesquisa, que a história uruguaia, especifica-mente, confunde-se com sua produção literária, já as primeiras manifestações da literatura ocorrem simultaneamente aos processos de independência. Essas primeiras produções irão traçar a identidade e a cultura deste território na épo-ca rio-platense composto das atuais Montevidéu e Buenos Aires que deixou de ser apenas uma porção de terra e passou a ter suas próprias características.

A identidade e a história do Uruguai é apresentada a partir de sua primeira manifestação literária, o seu hino, composto por Bartolomé Hidalgo que trouxe para a literatura a poesia militante nascida dos fatos históricos. Essa poesia era marcada pelo sentimento de emancipação e independência, pelo qual o autor não apenas lutou no campo cultural como também se fez presente nas batalhas junto ao seu contemporâneo e chefe da revolução José Artigas.

Com tudo,observo que as características do Uruguai vão sendo compos-tas a partir de sua produção literária, o período inicial de formação do país apresenta uma literatura que não está presa ou pautada no modelo de seus co-lonizadores, como os outros países da mesma época estão, por exemplo, o Bra-sil que parte da produção literária do ponto de vista do velho mundo de seus colonizadores para a construção da base de sua cultura e literatura. O Uruguai, ao contrário, trouxe nas suas primeiras produções literárias a origem da cultura do país, os charruas, que precederam e caracterizaram a população rio-platense, a cultura deste povo é valorizada e apresentada pelo importante poeta Juan Zorrilla Martin em suas duas obras Tabaré e La Leynda Pátria.

Outro autor que marcou a literatura foi José Enrique Rodó com sua

O autor das Américas

Francielle Hambrecht

Page 29: Revista informe 6ª edição pub

29

obra Ariel, um ensaio que criou e apresentou pela primeira vez a consciência dos intelectuais fazendo uma indagação sobre a origem, a realidade e o futu-ro da identidade da América. Outros autores importantes para a memória his-tórica do Uruguai e que revolucionaram a literatura foi geração de 45, com-posta por Mario Benedetti, Idea Vilariño e Juan Carlos Onetti. Essa geração formou uma corrente crítica de escritores uruguaios sobre literatura e rom-peu com as estruturas antigas e tradicionais por meio da crítica-literária-jornalística.

Mais uma vez no contexto histórico e literário do Uruguai apresentam-se críticas políticas e sociais os escritores responsáveis por tais críticas são levados ao exílio, porém isto não os contém, já que eles continuam a produ-zir e trazem o realismo em suas obras pautadas no cotidiano.

Sob a influencia desses escritores que constituíram a literatura Uru-guaia com suas críticas e reflexões que tinham como objetivo modificar o ce-nário social e político, é que se formam as obras de Galeano que se caracte-rizam por uma literatura crítica e engajada em mostrar a história de seu país e de sua América pelos olhos de seu povo, um exemplo dessa afirmação é a trilogia Memórias do Fogo, onde o autor resgata a memória histórica de seu país apresentando desde o surgimento do Uruguai construído por renega-dos, escravos, estrangeiros e índios tachados como invasores de sua pró-pria terra passando pela a luta por independência e a batalha territorial entre o Uruguai, Paraguai e Brasil até chegar ao período ditatorial, quando o autor critica a tortura e a submissão de seu povo.

A obra de Galeano não pode ser simplesmente classifica-da como política, historiográfica ou jornalística, pois seu valor não pode ser mesurado, Galeano criou com suas obras uma antologia que abrange políti-ca, crítica, história, geografia e cultura, não só do Uruguai como de toda América, não reduzindo esta em apenas América latina, mas sim apresentan-do as Américas como uma unidade, que se originou e se constituiu ao mes-mo tempo e da mesma forma e que ao longo do tempo formou sua própria identidade e construiu suas próprias memórias e apresenta hoje uma enorme riqueza cultural .

Portanto, a obra de Galeano está e estará sempre presente, pois nos re-

vela e nos apresenta a história viva das Américas, o autor e sua obra serão

sempre lembrados no presente e no futuro das Américas e a morte ou o fim

será uma ilusão como o próprio afirma: “A morte, muitas vezes, mente –

quando se imagina que uma pessoa morreu, ela continua viva na memória,

nas conversas, nas decisões”.(GALEANO,1940-2015)

Page 30: Revista informe 6ª edição pub

30

A obra

“As Veias Abertas da América Latina” :

O seu impacto no curso de Letras e no Ensino de Línguas Adicionais

Greice Kelly Oliveira Jorge

Em 2013, mais precisamente no mês de

outubro foi realizada a 1º Feira de Línguas

Adicionais. O evento teve por objetivo apre-

sentar trabalhos da primeira turma do Curso

de Letras Línguas Adicionais. Os trabalhos ti-

veram temáticas relacionadas à obra de Edu-

ardo Galeano “As veias abertas da América

Latina”.

Pensando no impacto e na importância da

língua no ensino de Línguas no curso de Le-

tras Línguas Adicionais da Universidade Federal do Pampa – Uni-

pampa, campus Bagé, resolvemos saber mais sobre como foi esse

processo de aprendizagem e aproximação da obra por parte dos

alunos e professores. Os alunos foram divididos em grupos e eles

mesmos escolheram suas temáticas e seus professores orientado-

res, as apresentações finais foram baseadas de acordo com o tema

escolhido e a criatividade dos gru-

pos, contando com apresentações

em slides, teatro, apresentação de

um curta metragem, vídeo com tre-

chos do livro aliados a imagens e

uma música do Maná.

Page 31: Revista informe 6ª edição pub

31

Para o aluno Vando Castro, cujo trabalho intitulado Tudo nos

é permitido, exceto cruzar os braços, a sua principal experiência

foi a possibilidade de ter reforçado suas “ideologias anti-

imperialistas” que afetam principalmente sua área, as Línguas

Adicionais que pri-

vilegia certas lín-

guas e desvaloriza

outras. Segundo o

aluno que ainda es-

tava no primeiro

semestre, até o

momento não havia

presenciado “algo relevante” (em termos de abrangência de pú-

blico) nas aulas de Língua Espanhola, diz ele: “gostaria que ocor-

ressem mais eventos culturais produzidos por alunos e professo-

res nesse sentido”.

Segundo o aluno Emanuel Cruz, cujo projeto intitulado Um

olhar sobre as veias abertas de Bagé, a leitura da obra o levou a

refletir sobre determinados comportamentos que todo ser huma-

no tem, “especialmente em situações nas quais há dominação e

subordinação.”. Para Emanuel o projeto proporcionou uma visão

história, pois de acordo com ele “a língua envolve a cultura e a

cultura é fruto das mudanças históricas em que determinado po-

vo passou”.

Page 32: Revista informe 6ª edição pub

32

Já para a ex- aluna do Curso de Línguas Adicionais, Maria da

Graça, a obra trouxe contribuições, pois traduz “perfeitamente o ce-

nário político atual na América latina e no mundo”. Para ela, através

do projeto a língua espanhola foi contemplada. De acordo com Ma-

ria da Graça o projeto trouxe uma importante relevância para o cur-

so já que despertou nos alunos recém- apresentados à língua es-

panhola assim

como ela, um

maior interesse

para com a lín-

gua.

Segundo a

aluna isto se

deu, já que al-

guns leram a

obra em espa-

nhol, possibilitando desta forma, “a proximidade de nossa região

com o país vizinho falante dessa língua, trazendo uma maior impor-

tância para o Curso naquela

ocasião, no sentido de marca-

ção cultural da nossa região

extremo-sul.”

Page 33: Revista informe 6ª edição pub

33

Para a professora do Curso de Letras Línguas Adicionais Drª.

Clara Dornelles, a sugestão da leitura da obra partiu dela, pois havia

lido pela primeira vez na graduação quando era caloura do Curso

de Letras da UFSC. Para Clara, “discutir essa história política e re-

conhecer a América Latina mudou minha perspectiva de mundo, e a

criação do curso de Letras/Línguas Adicionais trouxe de volta a ne-

cessidade de repensar quem fomos, somos e queremos ser, parti-

cularmente na região de fronteira, em um curso de graduação que

se constitui como uma política de multilinguismo. Viver ao lado do

Uruguai foi logicamente um fator a mais para a reaproximação com

Galeano.” Segundo relata a professora, a 1ª Feira de Línguas Adici-

onais mostrou o quanto o livro possibilita a sensibilização para a

identidade latino-americana. Porém, segundo ela o projeto mostrou

também “o quanto é difícil

mediar o trabalho com obras

de cunho político e explicita-

mente mobilizadoras de ideo-

logias que sustentam identi-

dades e nacionalidades. Tal-

vez a leitura dessa obra não

tenha sido a adequada para

o primeiro momento do cur-

so, já que colaborou para

justificar, por exemplo, uma oposição política à língua inglesa por

ser vista por muitos dos alunos, prioritariamente, como língua do im-

perialismo norte-americano.”

Page 34: Revista informe 6ª edição pub

34

Clara acredita “que em relação ao espanhol, à fronteira e à

vivência latino-americana o projeto tenha alcançado seu propósito

e mobilizado todos para a compreensão de como (não) nos cons-

truímos como latino-americanos ou mesmo fronteiriços. No entan-

to, o projeto não teve im-

pactos positivos na rela-

ção com a língua inglesa,

muito embora tenhamos

tentado mostrar que esta

língua é também nossa;

uma língua adicional que

pode nos constituir como

sujeitos e deixar de ser língua estrangeira, língua do outro.”

Já a professora Sara Mota afirma que o projeto trouxe uma

mobilização do espanhol, língua em que a obra originalmente foi

publicada, porém além do Espanhol, trouxe a língua Inglesa e

Portuguesa, já que os alunos também tiveram acesso às tradu-

ções do livro e puderam escolher em que língua gostariam de ler,

as produções também mobilizaram as três línguas. Ainda para

ela: O evento foi muito produtivo no sentido de integrar os estu-

dantes do primeiro semestre entre si, promover reflexões e deba-

tes sobre a América Latina, seus aspectos políticos, sociais, histó-

ricos, culturais, etc. a partir das leituras e apropriações da obra”.

Page 35: Revista informe 6ª edição pub

35

Podemos perceber, portanto, a

relevância que o projeto da 1ª Feira

de Línguas Adicionais trouxe para

todos os envolvidos no curso de Le-

tras Línguas Adicionais. Através

dos relatos aqui descritos podemos notar a importância e o impacto

que a obra de Eduardo Galeano, Veias abertas da América Latina

proporcionou no curso de Línguas Adicionais da Unipampa, campus

Bagé, através de seus aspectos culturais, políticos, históricos e prin-

cipalmente linguísticos.

Fotos: Valesca

Brasil Irala, Carén Albanio e Greice Kelly.

Page 36: Revista informe 6ª edição pub

36

Los senderos de las “Venas Abiertas”, de Galeano

Profa. Dra. Cristina Cardoso (Coordenadora do Curso de

Letras - Línguas Adicionais: Inglês, Espanhol e Respectivas Li-

teraturas — UNIPAMPA - Bagé)

Meu primeiro contato com Eduardo Galeano e com as Veias

abertas de América Latina se deu nos tempos de universidade, a

meados dos 90, no curso de Letras Espanhol da UFSM. Uma de

nossas professoras trouxe a referência que me fez arregalar os olhos e abrir

a alma para uma nova maneira de ver o mundo (eu, que havia nascido sob a

égide da ditadura, que sempre tinha desfilado nos 7 de setembro e que acos-

tumara a ver por todos os lados o verde militar – pois nascera na cidade que

congregava o segundo maior contingente do país). Assim, que o que havia

sido “normal” até então, começava a produzir um certo desconforto. A ceguei-

ra induzida por eu ter nascido com largas possibilidades de (sobre)vivência

começou a desvanecer. A leitura dessa obra me fez olhar para os lados, para

o outro, para o desconhecido, para o invisível social. Olhar de verdade, dar-

me conta. Também me trouxe a consciência de que eu sou responsável

(também) pelo mundo que me cerca. Que minhas decisões podem afetar ou-

tras tantas pessoas – particularmente a população fantasma, invisível para

tantos.

O ano de 2015 marca a morte do Galeano que escreveu “Venas Abier-

tas” do alto dos seus parcos 31 anos e que, autocriticamente, afirmava que

não voltaria a ler o livro – pois estava seguro que não tinha formação sufici-

ente à época para escrever o texto que lhe deu fama mundial. Atualmente,

considero a obra importante sob o ponto de vista de ter marcado uma época

em que revoluções se faziam em âmbitos vários. Leitura necessária, também

e especialmente para quem vive às fronteiras – como não conhecer um dos

escritores mais famosos do mundo, sendo ele do país vizinho ao nosso?

Mas, claro, é necessário que se faça uma leitura atenta aos mitos propaga-

dos pelo texto. De qualquer maneira, esta foi a obra de cabeceira da esquer-

da latino-americana e sua importância histórica não deve ser relegada a se-

gundo plano.

Comentários sobre a obra de Galeano

Page 37: Revista informe 6ª edição pub

37

Profa. Dra. Clarice Ismério (Coordenadora e professora do

Curso de História — URCAMP/Bagé)

É um clássico de extrema importância. Li na adolescência e

quando estava na faculdade. E, certamente, estará presente na

bibliografia da Disciplina de História da América, do Curso de

História da URCAMP. Por muito tempo a história foi vista pelo lado europeu

e "Veias Abertas da América Latina" mostrou outro lado, um lado marcado

pela exploração econômica e pelo predomínio do capitalismo imperialis-

ta. Através desse livro Galeano influenciou toda uma geração que acreditava

numa mudança social e política.

Prof. Me. Anderson S. Neves (Mestre em Ciências Sociais pe-

la UFSM e professor de Geografia na E.E.E.M. Manuel Ribas,

Santa Maria-RS).

Como uma das grandes referências jornalísticas e literárias da América Latina, Eduardo Galeno, com seu posicionamento crí-tico, expresso muitas vezes de maneira irônica, nos ajuda a exer-citar o pensamento crítico acerca dos múltiplos acontecimentos

que nos cercam e que, direta ou indiretamente, interferem em nossas vidas. Suas obras são excelentes convites à reflexão, sendo um bom subsídio para mediar os debates da área das Ciências Humanas. Atuando como professor de Geografia, costumo utilizar alguns textos e livros no planejamento das aulas sobre Globalização e Sociedade de Consu-mo. É indispensável o livro: De pernas para o ar: a escola do mundo ao aves-so. Obra que recomendei, pela primeira vez, a leitura na íntegra, por apre-sentar linguagem acessível, sem muitas terminologias técnicas. A obra teve uma boa aceitação dos alunos que encararam o desafio. Confesso que os re-sultados foram melhores do que esperava. Ao solicitar como avaliação o fichamento da obra pude perceber o quanto os alunos são subestimados, pois a maioria conseguiu abstrair a ideia principal da obra, expressando com suas palavras e vivências. Uma obra que também recomendo a leitura é As Veias Abertas da Améri-ca Latina, pois acredito ser uma obra bastante relevante, um clássico das Ci-ências Sociais como um todo. Para a Geografia e Sociologia é um bom sub-sídio para compreender alguns momentos históricos perpassados na Amé-rica Latina e que repercutem nos dias atuais, seja na dimensão política como na econômica. Penso ser um convite inicial para aprofundar o estudo sobre nosso continente, mas sempre com apoio de outros autores, tendo em vista algumas limitações encontradas na obra reconhecidas pelo próprio autor em entrevista.

Page 38: Revista informe 6ª edição pub

38

Greice Kelly O. Jorge

Existem várias discus-

sões populares e linguísticas

sobre “qual língua é falada no

Uruguai”. Alguns dizem que é

o Castelhano, outros dizem

que é o Portunhol e ainda

existem aqueles que falam

que é o Espanhol, porém como podemos saber de fato qual língua é

falada? Já que na própria constituição do país não é especificado

em nenhum momento qual é o idioma oficial.

Para deixarmos claro essas questões linguísticas traremos os

conceitos e designações de cada Língua, de modo simples que aju-

dará você leitor a compreender de fato conceitos dessas línguas.

Para isso, contaremos com a ajuda da professora Dr.ª Sara Mota do

Curso de Letras - Línguas Adicionais da Universidade Federal do

Pampa - Unipampa, campus Bagé, cujos temas de pesquisas são:

línguas de fronteira, línguas em contato, fronteira, enunciação, ensi-

no de língua espanhola.

O castelhano é um dos nomes da língua usado para denominar

o Espanhol ou a Língua Espanhola. O Castelhano está vinculado a

sua origem da língua, isto é, é uma língua que surgiu do latim e per-

tencia ao Reino de Castela antes da Espanha se formar como Es-

tado, depois quando a Espanha se constituiu como Estado ela ado-

tou o Castelhano como uma língua, apesar da Espanha ter outras

línguas oficiais ou co-oficiais como (Galego, Basco, Espanhol Cas-

telhano e Catalão).

Uruguai e suas Línguas

A Língua

Page 39: Revista informe 6ª edição pub

39

Dessa forma, pensando no Castelhano como nome de língua,

ele vai nos levar para a sua origem e o seu passado, isto é, a lín-

gua é proveniente do Reino de Castela, ou seja, ele é chamado de

Castelhano, pois refere-se à origem da língua. Porém, segundo a

professora Sara Mota, o Castelhano também pode remeter ao

Castelhano ou o Espanhol trazido pelos colonizadores para a Amé-

rica Latina, que foi tomando diferentes formas já que a língua foi

tendo contato com outras línguas (línguas indígenas).

O processo dessa língua na América, portanto se distingue do

Castelhano da Espanha, pois muitos especialistas que estudam a

história, evolução e o processo dessa língua sofrido na América

estabelecem uma diferença entre o Espanhol e o Castelhano, ou

seja, eles consideram o Castelhano “a língua que foi trazida para a

América” e usam o termo Espanhol para a língua que é falada na

Espanha. Essas diferenças se estabelecem no sentido de diferen-

ciar as línguas, isto é, alguns consideram o Espanhol falado na Es-

panha como mais puro ou original do que o Castelhano falado na

América Latina, pois para eles o Castelhano presente na América

teria sofrido muitas mudanças devido à influência de outras lín-

guas.

Page 40: Revista informe 6ª edição pub

40

Porém, segundo Mo-

ta, “essas concepções

pela visão linguística não

procedem, já que a língua

que ficou na Espanha so-

freu outro processo de

evolução, diferente do

nosso, por exemplo, há

certas regiões e peculiari-

dades do Espanhol falado

na América que podem

ser consideradas mais ar-

caicas do que os usos da língua que existem na Espanha, pois os

processos de evoluções foram diferentes.” Isto é, um uso que era

feito na Espanha, no século XVI é usado ainda hoje aqui pelos fa-

lantes latinos, porém na Espanha caiu em desuso, pois lá ocorreram

outros processos de evolução linguística.

Portanto, podemos pensar no caste-

lhano sob duas perspectivas: O Caste-

lhano originado do Reino de Castela, ou

seja, vinculado ao seu passado e ori-

gem, ou pode ser chamado dessa forma

também para diferenciar o Castelhano

enquanto língua que veio para a Améri-

ca que adotou outras características

próprias, ou seja, no sentido de língua

que se diferencia da língua falada na

Espanha ou em outros países.

Page 41: Revista informe 6ª edição pub

41

Para Sara, podemos falar que no Uruguai é falado o Espa-

nhol, porém esse Espanhol (Língua Espanhola) terá determinadas

características que não vão ser as mesmas das línguas faladas na

Argentina, no Peru ou em outros países. Já que cada língua tem

sua particularidade e suas variações linguísticas que dependem

tanto dos interlocutores quanto das regiões, cidades, ou estados

em que são faladas.

De acordo com

Sara, podemos

partir de uma no-

menclatura oficial

e dizer que no Uru-

guai é falado Es-

panhol, Espanhol

do Uruguai, ou Lín-

gua Espanhola

(falada) do Uru-

guai, pois não pre-

cisamos necessariamente chamar de Castelhano. Sara diz que:

“Enquanto nome oficial não se nomeia no Uruguai uma língua ofici-

al, por exemplo, no Brasil, tu vais ter essa nomeação dada na

constituição, existe uma língua oficial no Brasil (Língua Portugue-

sa, Libras e algumas línguas indígenas).

Já no caso do Uruguai, em sua constituição não existe em ne-

nhum momento uma nomeação da língua que se fala no país, ape-

sar da própria constituição ter sido escrita em Espanhol, traz-se

uma referência ao ‘Idioma Nacionale’ do Uruguai, porém não tem

algo que determine que a língua oficial do país Uruguaio seja o Es-

panhol, Portunhol ou Castelhano.

Page 42: Revista informe 6ª edição pub

42

De acordo com Mota, apenas na lei de educação de 2008 (nova

lei) é citada essa questão de nomeação e determinações de lín-

guas, por exemplo, é questionado, qual língua é falada e onde é fa-

lada, pois a lei de educação é voltada para a questões de multilin-

guismo, línguas adicionais e educação no ensino de línguas.

Em relação ao Portu-

nhol precisamos ter muita

atenção ao conceituá-lo,

pois depende do interlocutor,

do lugar de onde é falado e

da relação implicada desse

sujeito com a língua. Pode-

mos dizer que existe duas

concepções de Portunhol,

um é o Portunhol de interlíngua, ou seja, aquele que ocorre com fa-

lantes de português que estão aprendendo espanhol como língua

estrangeira e nesse processo de aprendizagem mistura-se as lín-

guas, ou seja, podemos caracterizar esse processo como interlín-

gua, pois o falante não fala nem espanhol nem português, portanto,

podemos chamar esse processo de Portunhol.

Entretanto, vale salientar que esse Portunhol não é o mesmo

usado por um falante de português do Uruguai, pois além de serem

processos diferentes, os falantes não estão em situações de apren-

dizagens formais no que tange o ensino de línguas, no entanto, es-

tamos falando de uma língua que é originada de um processo histó-

rico, isto é, um contato entre duas línguas (espanhol e português)

na região que originou uma terceira língua que foi o Portunhol, ou

seja, que o resultado do contato do português e do espanhol. Para

compreender melhor esses conceitos de Portunhol resgatamos uma

entrevista da professora Sara concedida à Rádio Web do Jornal

Universitário do Pampa – Junipampa em dezembro de 2014.

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Para Mota, o Portunhol Fronteiriço

que surge nas regiões de fronteira do

Uruguai “é umas das práticas origina-

das do contato do Espanhol e do Por-

tuguês nas áreas de fronteira, norte e

nordeste do Uruguai. É uma língua

que historicamente está presente há

muito tempo nessas regiões. Sara diz que “é importante esclarecer

que os falantes fronteiriços, ou seja, que o que os falantes que re-

sidem nessa região fronteiriça do Uruguai com o Brasil nomeiam

muitas vezes informalmente de Portunhol é nomeado por pesqui-

sadores da área da linguagem como: Português Uruguaio, antiga-

mente como Dialetos Portugueses Uruguaios. Dessa forma, a de-

signação mais atual utilizada para nomear este Portunhol é Portu-

guês do Uruguai.

Para maiores informações

ou ouvir a entrevista na integra

acesse:https://

www.mixcloud.com/

WebRadioJunipampa/2o-

programa-piloto-da-r%C3%

A1dio-web-do-jornal-universit%

C3%A1rio-do-pampa-

junipampa/

Através desses conceitos podemos ver as diferenças e similari-

dades das línguas, o que serve para esclarecer alguns conceitos e

desmistificar algumas concepções populares propagadas em nos-

sa sociedade.

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Portuñol/Portunhol: variação do Português ou do Espanhol?

Helena Severo Acosta

Quando falamos sobre o portunhol, encontramos várias interpre-

tações. Teóricos que dizem que é uma língua e outros que irão di-

zer que é um dialeto resultante da miscigenação cultural entre Brasil

e o Uruguai. Já sabemos que o Brasil faz fronteira com uma boa

parte desses países de língua espanhola, e o portunhol nasce nes-

se lugar de fronteira.

Alguns autores dizem que são es-

paços desterritorializados e por isso

nele encontramos diversas línguas,

culturas, modos de vida, gastronomia

variada etc. O que podemos dizer é

que a língua oficial do Uruguai é o Es-

panhol, e do Brasil, o Português. Em

se tratando do Uruguai, a língua espa-

nhola apesar de ser a oficial daquele

país, não é a língua dominante.

É importante ressaltar como já dis-

seram Reis (2010) e Mota (2012),o

portunhol não é uma língua porque é difícil definir

seus sentidos que foram construídos pelo senso comum e não é

visto com bons olhos, tendo assim uma carga negativa, visto que

muitas vezes é caracterizado como dialeto português do espanhol.

Essa seria uma “ terceira língua” ou uma “interlíngua” que está

relacionada com a aquisição do espanhol pelos brasileiros, como

se fosse uma fase intermediária entre o português (língua nati-

va dos brasileiros e o espanhol/castelhano como sen-

do língua nativa do Uruguai).

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Como cita Sturza (2005), “a

política das línguas está nesse

espaço das práticas linguísticas

que não se resume à dualidade

português-espanhol, mas que

se enunciam nesse espaço con-

figurado pela diversidade lin-

guística”.

Então podemos concluir que

o portunhol como língua de

fronteira não é nem portuguesa, nem espanhola e vemos que não

há uma homogeneidade linguística nessa região de fronteira.

Para saber mais:

STURZA, Eliana Rosa. Línguas de fronteira: O desconhecido território das

práticas linguísticas nas fronteiras brasileiras. Ciência e Cultura. v. 57, n.2.

São Paulo, 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?

pid=S0009-67252005000200021&script=sci_arttext> acesso em 09 de julho

de 2015.

ZOLIN-VESZ, Fernando. Como ser feliz em meio ao portunhol que se pro-

duz na sala de aula de espanhol: por uma pedagogia translíngue. Trabalhos

em linguística aplicada. v.53, n.2. Campinas, 2014. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

18132014000200004&lng=pt&nrm=iso> acesso em 09 de julho de 2015.

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O Sonho do Retorno

Raquel Miranda

Voltar ao país de origem é o sonho de muitos imigrantes, é o retorno

às origens. Uma forma de resgatar sentimentos, o que encontramos pre-

sentes nas conversas com a uruguaia Mariela e o brasileiro Gavino, que

foi morar no Uruguai aos seis anos de idade e considera esse o seu pa-

ís.

Mariela e Gavino mesmo tendo vivido em momentos político-

econômicos diferentes do país conservam o mesmo sentimento saudo-

sista, considerado o Uruguai um país melhor para se viver.

Gavino, após perder o pai, mudou-se com a mãe e cinco irmãos pa-

ra o Uruguai no ano de 1956, e relata as diferenças encontradas no pa-

ís que os recebera. Em suas palavras diz :

" Eu me admirava muito porque eu ia com uma moedinha, naquela

época era um dez centavos e a gente olhava parecia de prata a moeda,

as moedas que tinha lá, tinha de dez de vinte. Eu levava uma moedinha

de dez centavos na padaria e trazia pão pra aquele dia, aquele final de

tarde e o outro dia de manha e trazia dois ou três litros de leite e ainda

me davam troco e eu me apavorava de ver isso aí, porque eu digo não

pode ser."

Conta também que aqui no Brasil já se vivia uma situação difícil. Na-

tural de Bagé, Rio Grande do Sul, mesmo criança já sentia as dificulda-

des econômicas e via como um milagre adquirir tanto alimento com o

que considerava tão pouco valor. Neste período o Uruguai era conside-

rada a Suíça sul-americana devido as condições de desenvolvimento do

país.

Mariela relata momentos mais difíceis que passou no país, nascida

em 1965, vivia uma vida simples que veio a ser diretamente abalada pe-

la Ditadura Militar. Ainda criança morava com a mãe, já viúva, e o irmão,

policial da Interpol. Após problemas com os Direitos Humanos seu irmão

foi preso e começa o ano mais difícil para ela, já que este é o principal

provedor da familiar.

Os uruguaios

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"Depois passamos a época de não ter as coisas, faltava os manti-

mentos a mãe tinha que ir a um departamento chamado 25 de

Agosto comprar a carne, o leite, muitas vezes ela vinha aqui no Bra-

sil levava as coisas daqui pra lá e como ela era pensionista militar

ela tinha mais oportunidade dela não ser tão revisada, tanto é que

eu era pequena e eu vinha com ela e nós levávamos muitas coisas,

mas não era coisas pra gente vender era pra poder se alimentar, pra

nós poder se manter lá, porque a vida lá no Uruguai ela é uma vida

muito boa, mas é uma vida muito cara e a gente vivia de aluguel"

Gavino quando adulto e com família constituída voltou a residir

em Bagé no ano de 1976 e Mariela veio se estabelecer coma a fa-

mília na mesma cidade no ano de 1983. A situação econômica do

Uruguai foi o principal motivador da mudança das famílias.

Neste ponto as visões de Gavino e Mariela se encontram, admi-

tem que hoje a vida no Uruguai é difícil e cara, mas ainda assim

consideram um lugar melhor para se viver.

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Os autores da revista

Carolina Fernandes é professora Adjunta do cur-

so de Letras da Universidade Federal do Pampa,

campus Bagé, RS. Doutora em Letras pela Univer-

sidade Federal do Rio Grande do Sul. Tutora PET

desde maio de 2015.

Éder Lupe Rodrigues, graduando do curso de

Letras Português/Inglês e suas respectivas litera-

turas na Universidade Federal Do Pampa–

UNIPAMPA.

Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET-

Letras desde de Maio de 2015.

Carlos H. Silva é graduando em Licenciatura

em Letras—Português e suas respectivas licencia-

turas, pela Universidade Federal do Pampa

(UNIPAMPA) e simultaneamente acadêmico em

Bacharelado em Ciências Jurídicas, pela Universi-

dade da Região da Campanha (URCAMP).

Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET-

Letras desde de Maio de 2015.

Fernanda Granato é acadêmica do curso de Le-

tras Português/ Inglês da Universidade Federal do

Pampa, campus Bagé, RS. Bolsista do Programa de

Educação Tutorial—PET desde maio de 2015.

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Raquel Miranda é graduanda do 6º semestre

do curso de Letras – Português e Literaturas de

Língua Portuguesa na Universidade Federal do

Pampa. Bolsista PET desde maio de 2015.

Greice Kelly O. Jorge é acadêmica do curso de

Letras Português/ Inglês da Universidade Federal do

Pampa, campus Bagé, RS. Bolsista do Programa de

Educação Tutorial—PET desde maio de 2015.

Francielle Largue Hambrecht é acadêmica do

curso de Letras - Português e Literaturas de Lín-

gua Portuguesa da Universidade Federal Do Pam-

pa– UNIPAMPA.

Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET-

Letras desde de Maio de 2015.

Helena Severo Acosta acadêmica do curso de

Letras - Português e Literaturas de Língua Portu-

guesa da Universidade Federal Do Pampa–

UNIPAMPA.

Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET-

Letras desde de Maio de 2015.

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